El Niño e efeitos: Previsões indicam chegada do fenômeno nos próximos meses. A probabilidade de ocorrência do El Niño em junho, julho e agosto deste ano é de 75% devido ao aquecimento significativo do Oceano Pacífico.
Um evento El Niño de aquecimento pode se desenvolver nos próximos meses após três anos consecutivos de um La Niña. Esse, último La Niña, foi teimoso e prolongado que influenciou os padrões de temperatura e chuva em diferentes partes do mundo, de acordo com uma nova atualização da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Lembrando que o El Niño e a La Niña são partes de um mesmo fenômeno atmosférico-oceânico. Sendo que esse ocorre no oceano Pacífico Equatorial, denominado de El Niño Oscilação Sul (ENOS). O ENOS refere-se às situações nas quais o oceano Pacífico Equatorial está mais quente (El Niño) ou mais frio (La Niña) do que a média histórica. A mudança na temperatura do oceano Pacífico Equatorial acarreta efeitos globais na temperatura e precipitação.
O que é El Niño?
O El Niño é um fenômeno climático natural — não causado pela atividade humana — do qual há referências desde, pelo menos, o final do século 19. Esse é responsável por elevar as temperaturas globais e agravar eventos climáticos extremos. Causada por temperaturas oceânicas e ventos no Pacífico que oscilam entre o aquecimento do El Niño e o resfriamento do La Niña.
Faz parte de uma oscilação natural impulsionada pelas temperaturas do oceano e ventos no Pacífico. Estem alternam entre El Niño, sua contraparte mais fria, La Niña, e condições neutras. Nos últimos três anos, houve uma sequência incomum de eventos La Niña consecutivos.
El Niño e efeitos
O retorno do El Niño no final deste ano fará com que as temperaturas globais subam “fora do gráfico” e causem ondas de calor sem precedentes, alertaram os cientistas. As primeiras previsões sugerem que o El Niño retornará no final de 2023, trazendo o clima extremo em todo o mundo e tornando “muito provável” que o aquecimento global exceda 1,5°C. O ano mais quente registrado na história, 2016, foi impulsionado por um grande El Niño.
As chances de desenvolvimento do El Niño, embora baixas na primeira metade do ano (15% em abril-junho), aumentam para 35% em maio-julho. As previsões para junho-agosto indicam uma chance muito maior (55%) de El Niño se desenvolver, mas estão sujeitas a alta incerteza associada às previsões nesta época do ano (a chamada barreira de previsibilidade da primavera).
No entanto, embora o retorno do El Niño seja considerado provável, isso será seguido por um período de condições ENSO neutras (90% de probabilidade) durante março-maio. A probabilidade de as condições neutras do ENSO continuarem além de maio diminui ligeiramente, mas permanece alta (80% em abril-junho e 60% em maio-julho).
A última vez em que o mundo enfrentou um forte El Niño foi entre 2015 e 2016. Aquele foi o segundo El Niño mais poderoso desde 1950, atrás apenas do ocorrido em 1997 e 1998. Sob influência do fenômeno e das mudanças climáticas, o ano de 2016 foi o mais quente já registrado na história.
No Brasil, o El Niño naquele biênio intensificou a seca no Nordeste e provocou estiagem prolongada no Norte, centro-norte de Minas e de Goiás e no Distrito Federal. Além disso, houve fortes inundações no Sul, e impactos sobre o setor elétrico e a produção de alimentos.
Principais efeitos
As altas temperaturas oceânicas são mais propícias a fortes chuvas e inundações. E isso tem consequências para o ciclo hidrológico na costa oeste da América do Sul, especialmente no Peru e no Equador. Há inclusive efeitos diretos na circulação atmosférica. Assim, provocam mudanças nas condições climáticas e no clima em geral tanto na América do Norte quanto na América do Sul e também em outras partes do mundo.
Durante os anos de El Niño, há um risco maior de furacões para a costa oeste do México e para o Havaí. Frequentemente vemos furacões ou tufões que atravessam o oceano, e ocorrem furacões mais intensos na região mais ao sul do Oceano Pacífico ocidental. Em contrapartida, a atividade de furacões no Oceano Atlântico diminui.
No Brasil, em anos de El Niño, a corrente de jato subtropical (ventos que sopram na região subtropical de oeste para leste, se posicionando a 10 km de altitude) é intensificada. Dessa maneira, bloqueando as frentes frias sobre a Região Sul do País e causando excessos de chuva nos meses de inverno e primavera.
Durante o inverno, também existe uma tendência de aumento moderado das temperaturas médias na parte central do País e possibilidade de redução do número de geadas de forte intensidade na Região Sul, restringindo a ocorrência em áreas pontuais e de maior altitude.
Assim, as regiões Norte e Nordeste tendem a ficar menos chuvosas durante a ocorrência do El Niño, enquanto as chuvas ficam mais frequentes no Sul. Outra característica do El Niño e efeitos no Brasil é deixar as temperaturas mais quentes no inverno no Sudeste e na segunda metade do ano no Centro-Oeste.
Como El Niño afeta o clima no Brasil
El Niño traz tempo mais quente em todo o Brasil, principalmente entre o final do inverno e o verão. E, nas chuvas, o sinal se inverte. No Norte e Nordeste, a chuva tende a ficar abaixo da média, enquanto no Sul, fica acima.
Problemas para o Café?
Os analistas são cautelosos em apontar possíveis impactos do El Niño na produção agrícola brasileira. Uma vez que ainda não é possível saber qual será a intensidade do fenômeno que pode ter início esse ano. Entretanto, com base na ocorrência do evento climático no passado, é possível obter algumas dicas. E uma delas é que o cultivo do café podem ser afetados.
Essa é uma possível má notícia para os apreciadores da bebida, já que o café moído chegou a acumular alta de preços de mais de 60% em 12 meses em meados de 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sob efeito de secas e geadas que afetaram a safra.
Desde então, a inflação do café perdeu força, mas o produto nunca retomou o patamar anterior de preços, com o pacote de 500g vendido a um preço médio de R$ 15,48 ao fim de 2022, de acordo com a Fundação Procon-SP.
E a cana-de-açúcar e etanol?
Já a cultura de cana-de-açúcar, o pico da safra no Brasil ocorre entre abril e agosto. Em ocorrência de um El Niño forte, nessa época, pode levar a um inverno mais úmido, o que prejudica o ritmo da safra de açúcar, porque, se chove demais, as usinas não conseguem moer. Afeta também, a concentração de sacarose, porque, nessa etapa do desenvolvimento da cana, se chove muito, ela fica com menor concentração de açúcar.
Grãos e proteína animal também podem ser influenciados?
Já com relação aos grãos e proteína animal, que um inverno mais úmido pode ser benéfico para a safra de milho de inverno no Mato Grosso e Goiás. Também pode favorecer a safra de soja no Sul do país, com maior volume de chuvas, embora possa prejudicar o grão no Centro-Oeste, devido ao tempo mais seco.
Setor Elétrico?
No Brasil, os principais reservatórios hidrelétricos ficam nas regiões Sudeste e central do país. O El Niño favorece um tempo mais quente e seco na porção centro-norte do país e, por isso, não costuma ser positivo para a manutenção dos reservatórios de energia.
Por regiões, os reservatórios de Norte, Nordeste e Minas Gerais prejudicados por um El Niño forte, enquanto o Sul é beneficiado – mas a região tem poucos reservatórios. O fenômeno também costuma elevar as temperaturas nas capitais, pressionando a demanda, já que o ar condicionado se tornou o principal fator de pico do consumo elétrico nacional.
A ciência pode nos alertar sobre El Niño e efeitos, e como esses acontecerão e com meses de antecedência. Portanto, realmente precisamos usá-lo e estar mais preparados, desde a prontidão dos serviços de emergência até as culturas a serem plantadas.
Referências:
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/ckmzrke06lxo
- https://public.wmo.int/en/media/press-release/wmo-update-el-ni%C3%B1o-may-return
- https://portal.inmet.gov.br/noticias/
- http://enos.cptec.inpe.br/
- https://www.euronews.com/green/2023/04/12/el-nino-is-forecast-to-return-in-2023-heres-what-it-means-for-extreme-weather-and-global-w
- https://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/ensodisc.shtml