Partenogênese, sim, um crocodilo fêmea engravida sozinha,isso mesmo! Não é clickbait. Pois, em um estudo recente, publicado na revista científica The Royal Society em 07/06/2023, cientistas de um Instituto Politécnico da Virgínia e da Universidade de Tulsa, nos Estados Unidos, identificaram o fenômeno em uma fêmea de crocodilo no zoológico da Costa Rica, que engravidou a si mesma.
Calma, vamos primeiro entender o que é partenogênese
Vamos, primeiro, entender o que é partenogênese. Trata-se de uma estratégia reprodutiva que envolve o desenvolvimento de um gameta feminino (raramente masculino), ou seja, uma célula sexual, sem a necessidade de fertilização. Assim, esse fenômeno, comumente observado em plantas inferiores e animais invertebrados, em particular rotíferos, pulgões, formigas, vespas e abelhas, e raramente entre vertebrados superiores.
Um óvulo produzido por partenogênese pode ser haploide, ou seja, conter um conjunto de cromossomos diferente, ou diploide, com um conjunto pareado de cromossomos. Espécies partenogênicas classificadas como obrigatórias, ou seja, incapazes de reprodução sexual, ou facultativas, capazes de alternar entre partenogênese e reprodução sexual dependendo das condições ambientais.
O termo partenogênese, derivado das palavras gregas “parthenos”, que significa “virgem”, e “gênese”, que significa “origem”. Acredita-se que mais de 2.000 espécies se reproduzam por partenogênese.
Como ocorre a partenogênese?
Considera-se a partenogênese como uma forma assexuada de reprodução. No entanto, pode ser mais precisamente descrita como uma “forma incompleta de reprodução sexual”, uma vez que a descendência das espécies se desenvolve a partir de gametas.
Os gametas são células reprodutivas que resultam da meiose, um processo em que uma célula especializada com um conjunto duplo (diploide) de cromossomos sofre duas divisões nucleares. A meiose resulta em quatro gametas, ou células sexuais, que são haploides, pois cada uma contém metade do número de cromossomos da célula original (consulte meiose).
A partenogênese pode ocorrer em uma célula haploide ou diploide. Na haploide, uma forma rara que ocorre em algumas espécies de abelhas, nematóides e plantas, a prole se desenvolve a partir de ovos haploides e resulta em adultos haploides. Por outro lado, o processo de partenogênese diploide, que é mais comum e variado, pode ocorrer de duas maneiras.
A automixia (partenogênese automática) é um processo pós-meiótico em que uma célula haploide pode duplicar seus cromossomos ou se fundir com outra célula haploide. Em ambos os casos, os zigotos diploides se desenvolvem e se tornam adultos diplóides. No entanto, esses organismos não são clones perfeitos da mãe, uma vez que o processo de meiose separa e recombina o material genético.
Entretanto, existe uma segunda forma de partenogênese diploide, chamada apomixia (partenogênese apomítico), que evita completamente a meiose. Pois, ao invés disso, dois óvulos diplóides geneticamente idênticos produzidos a partir de uma célula-mãe por meio de mitose, o processo de duplicação celular. Portanto, uma ou mais dessas células-filhas, que são diplóides e clones geneticamente idênticos à célula pai original, se desenvolvem em uma prole diplóide. A partenogênese diploide ocorre em insetos, como pulgões, e também em alguns rotíferos e plantas com flores.
Voltando ao crocodilo e a partenogênese
No zoológico da Costa Rica, uma surpreendente descoberta foi feita: uma crocodilo fêmea conseguiu engravidar sem qualquer envolvimento masculino, reproduzindo incríveis 99,9% do seu próprio DNA.
A fêmea do crocodilo americano colocou 14 ovos dentro de seu recinto em 2018, como é comum entre os répteis em cativeiro. No entanto, o fato mais intrigante ocorreu após três meses de incubação, quando um dos ovos revelou um crocodilo bebê natimorto, completamente formado.
Essa ocorrência inédita tem despertado o interesse de cientistas e entusiastas do reino animal, lançando luz sobre a capacidade única de reprodução dessa espécie. Uma vez que essa descoberta desafia conceitos pré-estabelecidos na biologia e no campo da reprodução animal. Até então, acreditava-se que essa forma de reprodução assexuada fosse inexistente entre os crocodilos.
O que implica esse caso?
A equipe de pesquisadores do Instituto Politécnico da Virgínia e da Universidade de Tulsa, dos Estados Unidos, se debruçou sobre o estudo desse caso peculiar. Os cientistas buscaram entender os mecanismos biológicos e genéticos que possibilitaram essa gravidez sem envolvimento masculino.
A análise do DNA revelou um processo fascinante. A reprodução assexuada ocorreu por meio de partenogênese automítica, um tipo de partenogênese pós-meiótica. Nesse caso, uma célula haploide duplicou seus cromossomos, resultando em um embrião diploide. Essa forma de reprodução, considerada mais comum em insetos e plantas, e sua ocorrência em crocodilos tem intrigado a comunidade científica.
Embora a prole resultante desse processo seja quase idêntica à mãe em termos genéticos, não é considerada um clone perfeito. Durante a meiose, que é o processo de divisão celular responsável pela produção de gametas, ocorre a recombinação do material genético, o que resulta em alguma diversidade genética nos descendentes partenogenéticos.
Essa descoberta tem implicações significativas não apenas para a compreensão da biologia e evolução dos crocodilos, mas também para o campo da reprodução animal em geral. A capacidade de uma fêmea produzir descendentes sem a necessidade de um macho pode ter implicações importantes em programas de conservação e manejo de espécies ameaçadas.
Além disso, o estudo desse fenômeno também pode ter implicações em outras áreas, como a medicina e a biotecnologia. A compreensão dos mecanismos por trás da partenogênese pode abrir caminho para avanços na clonagem e na manipulação genética, trazendo novas possibilidades e desafios éticos para a ciência.
Por fim…
A descoberta de que um crocodilo fêmea conseguiu engravidar sem qualquer envolvimento masculino, dando origem a uma prole com 99,9% de seu próprio DNA, é um marco na história da zoologia. Esse fenômeno desafia conceitos estabelecidos sobre a reprodução animal e nos leva a questionar as fronteiras da capacidade reprodutiva de diferentes espécies.
Em suma, os estudos aprofundados sobre a partenogênese em crocodilos têm o potencial de trazer avanços científicos significativos e abrir novas perspectivas em diversas áreas do conhecimento. À medida que desvendamos os mistérios da natureza, somos constantemente lembrados de quão fascinante e complexo é o mundo ao nosso redor.
Referências:
- https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsbl.2023.0129
- https://www.britannica.com/science/parthenogenesis
- https://www.ctvnews.ca/sci-tech/scientists-find-crocodile-virgin/
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