Seca? Geralmente, no Brasil, quando pensamos em seca lembramo-nos do Sertão Nordestino, as queimadas no centro-oeste, crises hídricas no sul/sudeste, problemas graves no Pantanal… e por ai vai, mas seca na amazônia? Não me parece ser comum, entretanto, é a realidade. Afinal, o nível de água no porto da Amazônia, localizado no Brasil, atingiu o ponto mais baixo em 121 anos. Tudo isso em meio à severa seca que assola a região. E isso, pouco tempo após a uma onda de calor que trouxe notícias “Morte em massa de botos amazônicos gera temores sobre espécies vulneráveis”, onde mais de 100 animais foram encontrados com sinais de estresse térmico.
Vamos entender!
Com efeito, o nível da água em um importante porto fluvial na floresta amazônica brasileira atingiu o seu ponto mais baixo em pelo menos 121 anos. E Todavia, isso ocorre à medida que uma seca histórica está afetando a vida de centenas de milhares de pessoas e causando danos ao ecossistema da floresta.
Contudo, os afluentes do poderoso rio Amazonas secam rapidamente, deixando barcos encalhados e interrompendo o abastecimento de alimentos e água em aldeias remotas. O porto de Manaus, localizada na confluência do rio Negro com o rio Amazonas, registrou um nível de água de 13,59 metros na segunda-feira . Esse é o nível mais baixo desde que os registros começaram em 1902, ultrapassando o nível mais baixo de todos os tempos estabelecido em 2010.
Origem do problema? Sabemos?
Com efeito, a seca severa que assola a Amazônia está causando uma tragédia humana e ambiental na região, e a situação pode piorar devido a uma combinação climática preocupante.
O aquecimento anormal do Oceano Atlântico (lembrando que o El ñino é o aquecimento do Oceano Pacífico) antecipou o início da estação seca. Assim, resultando em uma estiagem extrema que está secando rapidamente alguns dos principais rios amazônicos, multiplicando os incêndios florestais e elevando as temperaturas acima do normal. Esta estiagem é mais pronunciada na Amazônia Ocidental, que inclui os estados do Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas.
Simultaneamente, a forte previsão de El Niño para este ano deve se intensificar a partir de meados de outubro, agravando e prolongando os efeitos da seca. Isso tem o potencial de se espalhar para outras partes do bioma. Se o aquecimento anômalo do Atlântico persistir, especialistas afirmam que a seca extrema na Amazônia pode estender-se até a metade de 2024.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem alertado durante anos sobre o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como a seca que está afetando a Amazônia. Assim, a combinação de mudanças climáticas e o desmatamento descontrolado contribuem para o agravamento e prolongamento da seca. Isso, por sua vez, resulta em um aumento nos incêndios florestais, o que tende a agravar ainda mais os efeitos da estiagem. Essa situação impacta não apenas a vida das populações locais, mas também a economia e a segurança hídrica de outras regiões, uma vez que o que ocorre na Amazônia afeta diretamente outros biomas.
Ok! Outubro é mês de estiagem (seca), mas será ainda pior?
Caso as previsões se concretizem e a seca se agrave em outubro, os rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas podem testemunhar a maior seca de sua história ainda em 2023. Essa situação superaria a seca de 2005, quando escassearam alimentos, combustíveis, energia e água em inúmeras localidades. Embora tenham ocorrido estiagens severas em 2010, 2015 e 2016, em nenhuma delas o aquecimento do Atlântico foi tão pronunciado como agora.
Esse cenário catastrófico já está se desenhando na Amazônia, com cidades inteiras que só podem ser acessadas por via fluvial correndo o risco de isolamento. Em várias localidades, os rios já se tornaram intransitáveis, impedindo o transporte de alimentos, medicamentos e o fornecimento de água.
Cerca de 500 mil pessoas já estão sendo afetadas na região. A situação mais crítica é a do Amazonas, onde 55 dos 62 municípios declararam estado de emergência. O governo do estado está avaliando a possibilidade de realocar comunidades inteiras que dependem da agricultura familiar. Pricipamente, aqueles que vivem nas áreas de várzea dos principais rios, devido às mudanças climáticas na região.
Também foi decretado estado de emergência em Rio Branco, no Acre, onde já falta água potável e a produção agrícola despencou. Porto Velho, em Rondônia, deve declarar estado de emergência nos próximos dias, a menos que ocorra uma recuperação do rio Madeira, cujo nível baixou a níveis recordes nos últimos meses. Em Rondônia e Roraima, usinas hidrelétricas já tiveram que suspender suas operações devido ao baixo nível dos rios.
Além disso…
A seca também está prejudicando a agropecuária. Pricipalmente, na região dos rios Araguaia e Tocantins, no Pará, os pastos perderam a cobertura vegetal e há registros de mortes de bovinos. De acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), 79 municípios da Região Norte tiveram mais de 80% de suas áreas agrícolas afetadas pela seca.
A seca extrema na Amazônia chamou a atenção da sociedade brasileira e do mundo após a divulgação pela imprensa da morte de pelo menos 125 botos cor-de-rosa e tucuxis no lago Tefé. Situado na região do médio rio Solimões, no Amazonas, onde as águas atingiram temperaturas de 40 graus – 10 graus acima da média histórica registrada.
E o calor só promete aumentar e a seca, onde nós vamos parar?
Primeiramente, não há previsão para o início do aumento das águas, algo que normalmente ocorre nos últimos meses do ano. Uma vez que a previsão aponta para um atraso no início das chuvas e a possibilidade de uma estação chuvosa mais seca do que o habitual. Isso pode resultar não apenas em uma vazante extrema neste ano, mas também em níveis baixos em 2024.
Entretanto, o Cemaden, uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, prevê que a seca na Amazônia deve persistir pelo menos até dezembro, quando o fenômeno El Niño atingirá sua máxima intensidade. Com efeito, em oito Estados amazônicos, o déficit de chuvas entre julho e setembro registrado no interior do Amazonas e no norte do Pará foi o mais severo desde 1980.
Entretanto, as previsões são alarmantes para o Brasil. O El Niño deste ano e a seca resultante, consistentes com as mudanças globais em curso devido ao aquecimento global causado pelo homem. Em julho, a Amazônia Real já havia alertado sobre a possibilidade do El Niño agravar os incêndios na Amazônia.
Não só isso…
O último boletim semanal da Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOAA), relatado pelo Metsul Meteorologia, mostra que a anomalia de temperatura da superfície do mar atingiu pela primeira vez a categoria de El Niño forte (+1,5ºC), com 1,5ºC. Para ser classificado como um fenômeno forte, a temperatura deve permanecer alta nas próximas semanas, conforme estima o Metsul.
O Metsul, juntamente com os dados do NOAA, não descarta a possibilidade de um “super” El Niño com anomalias acima de 2ºC por várias semanas consecutivas, originárias do Pacífico Central. A previsão é que essa situação persista até o outono de 2024. O que significa que o Brasil enfrentará o fenômeno – ou seus resquícios – até os primeiros meses do próximo ano.
Um estudo publicado pelo Washington Post e pela organização não governamental CarbonPlan sugere que Manaus será a cidade mais quente do Brasil em 2050. Daqui a 27 anos, a capital amazonense enfrentará 258 dos 365 dias do ano com temperaturas mínimas superiores a 30 graus. Manaus só ficará atrás de Pekanbaru, na Indonésia, que terá 344 dias de calor extremo.
As consequências das mudanças climáticas previstas para as próximas décadas, caso o aquecimento global não seja controlado, são de extrema gravidade para o Amazonas. Isso implica na perda da floresta amazônica e em picos de temperatura que colocarão em risco a vida humana como vimos no post Aquecimento global : Há locais que serão inabitáveis!
Referências:
https://www.theguardian.com/world/2023/oct/16/amazon-drought-manaus-lowest-water-level
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