Figuras de linguagem são recursos expressivos que se afastam da linguagem denotativa. Pois, elas conferem ao texto um significado que transcende o sentido literal, possibilitando uma grande variedade de interpretações para o enunciado.
Como exemplo “Fabiano azul de fome”, a expressão “azul” não se refere literalmente a cor de Fabiano (a não ser se seja um Smurf), mas sim sugere que ele está com muita fome, uma fome além do “normal”, adicionando a mensagem uma conotação “clara” porém não é o significado literário da palavra.
Dessa maneira, as figuras de linguagem se dividem em quatro categorias principais:
- Figuras de Palavras ou Semântica: Envolve o emprego de palavras de forma a atribuir-lhes significados diferentes do sentido comum, como ocorre em metáforas, metonímias e sinédoques.
- Figuras de Sintaxe ou Construção: Referem-se às alterações na estrutura da frase, na ordem ou na disposição das palavras, proporcionando ênfase ou mudança de sentido. Exemplos incluem anacronia, hipérbato e elipse.
- Figuras de Pensamento: Relacionadas à expressão de ideias com o intuito de enfatizar sentimentos, como ocorre em ironia, antítese e eufemismo.
- Figuras de Som ou Harmonia: Dizem respeito ao aspecto sonoro da linguagem, como aliteração, assonância e onomatopeia, buscando criar uma sonoridade agradável ou impactante no texto.
No entanto, essas categorias abrangem uma variedade de recursos linguísticos que enriquecem a expressão e a comunicação, proporcionando ao texto maior expressividade e complexidade.
Ok, mas o que é a figura de linguagem?
A figura de linguagem, ao desviar das normas da linguagem denotativa, adquire uma característica plurissignificativa. Isso significa que, ao utilizar uma figura de linguagem, o enunciador possibilita uma interpretação para seu enunciado que vai além do sentido original, este vinculado a uma leitura literal dos fatos, ou seja, não interpretativa.
Tomemos, por exemplo, a seguinte afirmação:
“A árvore sussurrou segredos ao vento.”
Neste caso, o sentido denotativo sugere que uma árvore literalmente compartilhou segredos com o vento. No entanto, sabemos que árvores não têm a capacidade de falar ou sussurrar. Assim, essa expressão se distancia das convenções da linguagem denotativa, assumindo um sentido figurado.
Dessa forma, o ato simbólico da árvore sussurrar revela a profundidade da situação. A metáfora destaca que a árvore, mesmo sendo um elemento inanimado, foi personificada, sendo tratada como se pudesse comunicar-se secretamente com o vento. Assim, essa personificação enfatiza a riqueza expressiva das figuras de linguagem, que transcendem a linguagem denotativa para criar significados simbólicos e metafóricos.
Hoje vamos falar apenas das figuras de linguagem ou semântica
Dessa maneira, vamos as figuras de palavras ou semântica:
Comparação:
Estabelece uma relação explícita de comparação entre dois termos, marcada pela presença de conjunção comparativa.
- O pensamento é como um diamante bruto.
- O pensamento é tal qual um diamante bruto.
- O pensamento é igual a um diamante bruto.
Figuras de linguagem: Metáfora:
Envolve uma comparação implícita, onde a relação entre os termos não é explicitada por uma conjunção comparativa.
- A razão é a luz na escuridão. Assim, observa-se que a “razão” está sendo comparada à “luz”, sem a presença de uma conjunção comparativa explícita entre os dois termos. Se a frase fosse “A razão é como a luz na escuridão”, não seria mais uma metáfora, mas sim uma comparação.
Todavia, no primeiro exemplo, temos uma metáfora impura, onde os dois elementos da comparação implícita estão explicitados – no caso, “razão” e “luz”. Já na metáfora pura, isso não ocorre.
Exemplo de Metáfora Pura:
“Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada“
Assim, no poema “A rosa de Hiroshima”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), a “rosa” é uma metáfora para a bomba atômica, sendo comparada a uma rosa. No entanto, em nenhum momento, a bomba é explicitamente mencionada no poema.
Metonímia:
Consiste na substituição de um termo por outro, desde que haja uma relação entre eles.
- Você não vai acreditar: comprei um Caravaggio.
(isto é: comprar um quadro do Caravaggio.) - Amanhã, vou ao médico e não se fala mais nisso!
(isto é: ir ao consultório do médico.) - Ela só fumava havana e nada mais.
(isto é: fumar charuto produzido em Havana.) - Aqueles líderes insuflaram a guerra no coração dos jovens.
(isto é: insuflar o ódio, causa da guerra.) - Todos os dias, bebo uma xícara de chá de boldo.
(isto é: beber o chá que está na xícara.) - Amanda é um bisturi excepcional.
(isto é: é uma cirurgiã excepcional.)
Figuras de linguagem: Catacrese
Envolve o emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido original.
- A quarentena já dura dois meses.
- Não podíamos embarcar no ônibus sem tirar aquelas fotos.
No primeiro exemplo, a palavra “quarentena”, em seu sentido original, refere-se a um período de quarenta dias. No entanto, o termo passou a ser empregado com o sentido de “isolamento”. Nesse sentido, o mesmo fenômeno acontece no segundo exemplo, em que “embarcar” deixou de ser apenas o ato de entrar em uma embarcação e teve seu sentido ampliado para o ato de entrar em qualquer veículo de transporte.
Figuras de linguagem: Perífrase ou Antonomásia:
Refere-se à substituição de um termo por outro que o caracterize, como se fosse uma espécie de apelido.
- O leão é considerado o rei das selvas.
- O rei das selvas ainda não é uma espécie em extinção.
- O Boca do Inferno não tinha papas na língua.
Com efeito, no primeiro exemplo, “rei das selvas” é uma expressão que se refere ao leão. Já “Boca do Inferno”, no segundo exemplo, era como o poeta barroco Gregório de Matos (1636-1695) era chamado.
Entretanto, é importante fazer uma distinção: a perífrase refere-se a coisas ou animais, já a antonomásia refere-se a pessoas. Nessa perspectiva, o primeiro exemplo é uma perífrase; e o segundo, uma antonomásia.
Sinestesia:
Combinação de dois ou mais sentidos, como visão, olfato, audição, paladar e tato.
- No doce caminho que percorri, ouvi cantarem os pássaros no calor da manhã.
No entanto, perceba que a palavra “doce” aciona o paladar; o verbo “cantarem”, a audição; e o substantivo “calor”, o tato. Sendo assim, essa combinação de sentidos contribui para a expressividade do texto, proporcionando uma experiência sensorial mais rica. Se desejar saber mais sobre essa figura, leia o nosso texto: sinestesia.