A Homeopatia é uma das práticas alternativas de saúde que mais cresce nos últimos anos. Em verdade, com o passar dos anos vemos que na contramão da validação científica, de estudos rigorosos e do forte embasamento técnico pautado na ciência e no desenvolvimento das ciências da saúde tem-se notado diversas práticas alternativas de medicina baseadas em ideias que, muitas vezes são infundadas. Nesse sentido, uma das grandes práticas que emerge desse “movimento” é a homeopatia.
Com efeito, esse prática, apesar de ser reconhecida no Brasil como especialidade médica, farmacêutica, veterinária e odontóloga por seus respectivos Conselhos de Classe Profissional não possui fortes evidências e estudos para seu embasamento. Certamente, há homeopatia circunda-se de diversos elementos, ideias e “estudos” que permitem tais reconhecimentos. Então, tendo isso em vista, nesse artigo nós iremos buscar examinar alguns desses elementos que circundam tal prática, assim, averiguando mitos e realidades que permeiam a homeopatia, principalmente no Brasil.
Então gurunauta, vem com a gente que hoje o papo é bastante sério!, vamos adentrar então no ambiente de uma das práticas alternativas de medicina que, muitas vezes, já foi responsável por colocar diversas vidas em risco.
Entendendo o que é a homeopatia
Evidentemente, antes de tudo é imprescindível que estejamos familiarizado com o que de fato é a homeopatia. Nesse sentido, nessa seção nós iremos realizar uma cuidadosa caracterização dessa prática.
A criação da prática – A lei dos semelhantes
Em suma, a prática da homeopatia foi criada pelo médico Christian Friedrich Samuel Hahnemann. Com efeito, ele foi o responsável por desenvolver a ideia central da homeopatia: a lei dos semelhantes. Bom, antes de explicarmos exatamente o que é essa lei vamos discutir um pouco sobre alguns métodos preventivos que farão com que você a compreenda de forma mais elucidativa.
Certamente, um dos grandes métodos de prevenção que conhecemos é a vacina, a qual, algumas, baseiam-se na concepção de introduzir em indivíduos saudáveis certas partes de um determinado patógeno ou mesmo um patógeno enfraquecido, isto é, algumas vacinas introduzem partes de algum agente que pode causar determinada patologia só que enfraquecido. Consequentemente, ao passo que introduz-se uma parte, um patógeno fraco ou afins em nossos corpos nos tornamos capazes de desenvolver anticorpos e então atualizamos nosso sistema imunológico para que o mesmo se torne capaz de combater tal patologia mesmo que essa venha em grandes doses/quantidades.
Então, podemos esquematizar o processo dessa forma:
- Organismo/partes de um organismo fraco -> Introduz-se em seres humanos saudáveis -> estímulo para o sistema imunológico -> Indivíduo desenvolve anticorpos relacionados a patologia.
Em suma, nós falamos dessa ideia pois ela é de fundamental importância na medicina. Ademais, seguindo uma distorção dessa, Hahnemann desenvolveu lei dos semelhantes, em que ele propôs que uma determinada substância que cause sintomas em uma pessoa saudável pode ser usada para tratar pessoas doentes.Esquematicamente teríamos:
- Pessoa saudável – > exposta a substâncias -> reação a substância e desenvolvimento de sintomas -> passar as substâncias para pessoa doente – > cura.
Experimentos da lei de semelhantes e os remédios homeopatas
Então, com base em sua tese da lei de semelhantes Hahnemann seguiu seu desenvolvimento realizando diversos experimentos. Em verdade, o mesmo chegou a realizar diversos experimentos até mesmo em sí próprio. Consequentemente, ao passar a desenvolver vários sintomas frente a ter introduzido substâncias possivelmente associadas a patologias o médico iniciou a realização de um processo de diluição, o que se assemelharia a ideia de enfraquecer organismos que citamos no processo de vacinas.
Assim, inicia-se os processos de diluição de substâncias para minimizar os efeitos tóxicos. Além disso, é importante ressaltar que um dos argumentos que embasavam o médico a prosseguir com essa prática era a concepção de que a “energia vital” da substância permanecia e tinha um efeito terapêutico. Por conseguinte, além da diluição o mesmo também desenvolveu os processos de “dinamização” ou “potencialização”, que envolve a diluição da substância seguida de agitação vigorosa. Com efeito, esse processo seria o início do desenvolvimento dos remédios homeopáticos.
A homeopatia como prática medicinal atual
Atualmente, a homeopatia é vista de diferentes formas tanto no Brasil quanto no mundo.
A visão do mundo sobre a homeopatia
Com efeito, há várias organizações científicas e médicas respeitadas ao redor do mundo, em particular a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália (NHMRC), a Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NAM) e o Conselho Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) que, após vários estudos científicos concluem há falta de evidências científicas para apoiar tal prática, a colocando exatamente na posição de um gerador de efeito placebo.
Ademais, é necessário entender que essas organizações baseiam-se em estudos e revisões sistemáticos controlados e que seguem normas rígidas permitindo assim conclusões objetivas e precisas. Essas revisões geralmente não encontraram evidências robustas de que a homeopatia seja mais eficaz do que o placebo.
A homeopatia no Brasil – Descaso com a Ciência !
Com relação ao cenário nacional vemos que o Brasil é um país que vai de contramão as perspectivas científicas. globais. Pois, essa prática é aceita em nosso país e inclusive integrada no SUS como prática integrativa da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, entre as quais a homeopatia. como também realiza em farmácias é possível realizar a manipulação de remédios homeopáticos. Não obstante, há cerca de 15000 médicos no Brasil que são especialistas em homeopatia e mais de dois mil estabelecimentos farmacêuticos que realizam manipulação homeopático sob supervisão de um farmacêutico homeopata.
Entenda por que a Homeopatia é uma Pseudociência
Em suma, a Homeopatia é uma pseudociência ao passo que sua existência não é se fundamenta no método científico, em estudos clínicos in vitro e in vivo, estudos estatísticos envolvendo grupos controles e afins. Ademais, a seguir elencamos alguns dos motivos que evidenciam fortemente por que tal prática tem cunho científico.
- Ausência de base científica e produtibilidade de experimentos: A homeopatia se baseia em princípios que são inconsistentes com as leis e os conhecimentos científicos estabelecidos. Conceitos como a diluição extremamente alta das substâncias, a crença na “energia vital” e a ideia de que a água pode “lembrar” as propriedades das substâncias diluídas não têm fundamentação científica sólida.
- Falta de evidências convincentes. A produção acadêmica da área mostra-se débil e fraca ao passo que não apresenta estudos clínicos bem conduzidos que permitam conclusões objetivas e claras sobre quaisquer possíveis benefícios da homeopatia.
- “homeopatia não é estudada na universidade’, milhares de estudos já foram realizados, em todos os cantos do planeta. A grande maioria dos estudos clínicos devidamente bem conduzidos revelou que o tratamento homeopático equivale ao tratamento com placebo, ou seja, não foi detectado nenhum efeito curativo significativo de qualquer composto homeopático a não ser aquele causado por autossugestão”. Beny Spira, professor livre-docente pela USP
- Princípio da diluição extrema. A prática da diluição extrema que segue a leis dos semelhantes desafia qualquer princípio químico e farmacológico.
- Falta de plausibilidade biológica. A homeopatia afirma que a água “memoriza” as propriedades das substâncias diluídas. Tal ideia, por sua vez, é totalmente infundada e não tem qualquer base científica em qualquer área da ciência.
Por que o homeopatia ainda persiste?
Evidentemente, esse é um dos grandes questionamentos que qualquer indivíduo que, após ler algumas horas sobre essa prática terá. Em verdade, isso decorre de alguns motivos, sendo um deles a falta de conhecimento crítico, reflexivo e científico na educação brasileira. É certo que nosso país ainda está caminhando para o letramento científico e por isso diversas pseudociências, como a homeopatia por exemplo, continuam a persistir em nosso país.
Por outro lado, o próprio marketing em cima da prática é algo a se destacar. Pois, a mesma age no sentindo de oferecer aos seus “pacientes” uma abordagem singular, assim, valorizando o indivíduo e, por conseguinte se tornando uma abordagem holística e individualizada para o tratamento de doenças com promessas significativamente audaciosas de cura.
Por fim, com toda certeza um dos grandes pontos que fazem com que haja a persistência de tal prática é a experiência pessoal frente ao efeito placebo. Certamente, ao passo que os medicamentos homeopáticos são extremamente diluídos segue que esses, por vezes podem inclusive se assemelharem a placebos. Logo, é evidente que várias pessoas podem vir a apresentar melhoras de determinados quadros e até mesmo podem vir a se curar. Todavia, tal cura já iria ocorrer de qualquer forma pelo seu próprio organismo. Entretanto, dado a desinformação e o déficit nos níveis de escolaridade científica da população muitos atribuem tal cura a prática homeopática. Assim, a experiência pessoal, confundida com placebo, muitas vezes é um álibi para que essa prática continue a persistir.
Referências
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- Shang, A., Huwiler-Müntener, K., Nartey, L., Jüni, P., Dörig, S., Sterne, J. A., … & Egger, M. (2005). Are the clinical effects of homoeopathy placebo effects? Comparative study of placebo-controlled trials of homoeopathy and allopathy. The Lancet, 366(9487), 726-732.
- Mathie, R. T., Lloyd, S. M., Legg, L. A., Clausen, J., Moss, S., Davidson, J. R., … & Ford, I. (2014). Randomised placebo-controlled trials of individualised homeopathic treatment: systematic review and meta-analysis. Systematic Reviews, 3(1), 1-19.
- National Health and Medical Research Council. (2015). NHMRC Statement: Statement on Homeopathy. Retrieved from https://www.nhmrc.gov.au/about-us/publications/statement-homeopathy.