Realidade da pesquisa brasileira: Resiliência. Essa tem sido a principal característica da ciência brasileira nos últimos anos. Nesse sentido, o relatório especial da ONU para Educação, mostrou que, mesmo com uma redução dos orçamentos destinados a ciência Brasil, a produção do País continuou crescendo.
O brasileiro em geral está acostumado, por força das circunstâncias, a fazer muito com pouco; mas não existe milagre, especialmente na ciência. Assim, a redução do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no período 2014-2018 foi da ordem de 50%. Sendo que, de lá para cá, a situação só piorou. De 2012 para 2021, a redução é de dramáticos 84% — de R$ 11,5 bilhões para R$ 1,8 bilhão, em valores atualizados pela inflação.
Por fim, uma das tendências mais preocupantes é a redução de bolsas de pós-graduação. Estas, que sustentam a maior parte da mão de obra da produção científica nacional.
Pesquisa e desenvolvimento, realidade
A produção cientídica é medida, principalmente, pelo número de trabalhos científicos publicados em revistas internacionais. Nesse ínterim, tais números vem aumentando linearmente há muitos anos no Brasil (e no mundo).
Apesar de todas as dificuldades, o País se mantém como o 13º maior produtor de conhecimento científico no mundo, com participação em 372 mil trabalhos publicados internacionalmente no período 2015-2020, segundo um relatório recente do MCTI.
Nesse sentido, isso equivale a 3% da produção científica mundial acumulada no período. Os principais temas abordados pela ciência brasileira nesses últimos cinco anos, segundo o relatório, foram educação, biodiversidade, nanopartículas, pecuária e agricultura.
Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
Primeiramente, para o cenário global, os dados da Unesco mostram que houve um aumento significativo, de 19%, nos investimentos globais em pesquisa e desenvolvimento no período 2014-2018, além de um aumento de quase 14% no número de cientistas no mundo. Entretanto, o relatório destaca que esse crescimento se deu de forma bastante desigual pelo mundo — puxado em grande parte pela China, Estados Unidos e União Europeia.
No Brasil, os dados mostram uma descentralização regional importante dos gastos com pesquisa e desenvolvimento nos últimos anos. O Estado de São Paulo permanece como o grande polo de produção científica e tecnológica brasileiro, concentrando cerca de 70% dos gastos com P&D no Brasil em 2017; um número ainda alto, porém menor do que os 83% de 2002.
Do ponto de vista temático, a Unesco chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas voltadas para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), envolvendo assuntos como mudanças climáticas, segurança hídrica, segurança alimentar, energias limpas, justiça social e pobreza.
Apesar do aumento global do número de publicações científicas nos últimos anos, muito desse crescimento foi mais direcionado para áreas como Inteligência Artificial e robótica, e muito menos para temas urgentes de sustentabilidade, como sequestro de carbono da atmosfera e substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis.
Realidade da pesquisa brasileira: Ciência em desespero
O aperto orçamentário no MCTI deve agravar a situação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Seu orçamento este ano será de R$ 1,15 bilhão, 12% menor que em 2020. No entanto, o Ministério da Economia publicou em maio uma portaria liberando 88% desse valor como crédito suplementar.
A ciência brasileira sofre e sobrevive por meio de aparelhos, muitos locais estão prestes a colapsar, e acabam por incentivar a Fuga de cérebros. Esse é um tipo bastante específico de emigração que acontece quando trabalhadores com elevado nível de qualificação. No qual os profissional deixam seus países em busca de melhores oportunidades de emprego.
Esses profissionais são pesquisadores, professores de Ensino Superior, médicos, engenheiros e outros especialistas que têm um conhecimento amplo em suas respectivas áreas de atuação. A falta de oportunidades e a desvalorização profissional fazem com que busquem uma chance de atuar no exterior, onde geralmente encontram melhores condições.
No médio e longo prazo, a evasão de um grande número desses profissionais implica consequências para a economia e está é a realidade da pesquisa brasileira.
Referências:
- https://jornal.usp.br/universidade/
- https://revistapesquisa.fapesp.br/ciencia-a-mingua/
- https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377250_por