O que significa ser cidadão? Essa pergunta atravessa séculos e sistemas jurídicos, moldando sociedades e influenciando direitos e deveres. De fato, no Brasil e nos Estados Unidos, o conceito de cidadania evoluiu de maneiras distintas, refletindo contextos históricos, sociais e legais.
Nessa perspectiva, Aristóteles definia o cidadão como “aquele que participa do poder deliberativo e judicial da pólis”.
Com o passar do tempo, as democracias contemporâneas expandiram esse conceito para incluir elementos como inclusão, igualdade e diversidade. Nesse sentido, essas características fazem parte de uma visão mais atual sobre o que é ser “cidadão”.
Portanto, em tese, ser cidadão pode ser definido como ser um indivíduo portador de direitos e deveres perante a sociedade. No entanto, o que isso significa na prática? E mais, como esse conceito foi evoluindo ao longo dos tempos?
A Cidadania no Brasil e Estados Unidos: Caminhos Históricos Diferentes
A história da cidadania nos Estados Unidos é profundamente marcada pelo princípio do jus soli — o direito de ser cidadão pelo local de nascimento. Em outras palavras, é cidadão americano aquele que nasce em solo americano. Desde a independência, a cidadania americana tornou-se um símbolo de pertencimento e direitos iguais. Contudo, essa trajetória não isenta de contradições.
Por exemplo, o caso Dred Scott v. Sandford (1857) negou direitos básicos aos afro-americanos, expondo as fragilidades do conceito no contexto de exclusão racial. Nesse caso, a Suprema Corte dos EUA negou a liberdade a Dred Scott, um escravizado que buscava sua emancipação após viver em territórios livres. Na ocasião, o tribunal declarou que afro-americanos não podiam ser cidadãos e reforçou a escravidão, intensificando as tensões que levariam à Guerra Civil futuramente.
Somente depois, com a promulgação da 14ª Emenda, que o país começou a consolidar a ideia de cidadania universal, garantindo que o direito à cidadania fosse estendido a todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, independentemente de raça. Assim, a 14ª Emenda representou um marco fundamental na redefinição da cidadania americana.
Já no Brasil, o conceito de cidadania esteve, desde o início, intrinsecamente ligado ao colonialismo e à desigualdade. Durante o Império, ser cidadão era privilégio de poucos, restrito a homens livres, alfabetizados e proprietários. Entretanto, a Constituição de 1988, considerada um marco, redefiniu a cidadania brasileira ao incorporar direitos sociais amplos, refletindo a busca por justiça social. Apenas depois desse momento, todos os brasileiros passaram a ser considerados cidadãos de forma efetiva, portadores de direitos e deveres. Como dizia Rui Barbosa, “a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem uma instituição: é a reunião de todos os laços da família brasileira”.
Direitos e Deveres: O que significa ser cidadão?
Nos Estados Unidos, a cidadania é sinônimo de direitos amplos, como o acesso irrestrito à liberdade de expressão e ao porte de armas, garantidos pela Constituição. Por outro lado, o sistema enfatiza deveres como o pagamento de impostos e o serviço no júri, considerados pilares da democracia.
Essa construção do conceito de “cidadania” reflete a filosofia de John Locke, que defendia o contrato social como base das sociedades: um acordo em que os cidadãos cedem parte de sua liberdade para garantir a proteção de direitos e a ordem. De maneira ilustrativa, pense nisso como os Vingadores trabalhando em equipe — cada herói abre mão de algo individual em prol de um bem maior. Por exemplo, o serviço no júri é uma maneira de os americanos participarem diretamente do sistema de justiça, ajudando a decidir o destino de seus pares.
Assim, o equilíbrio entre direitos e deveres nos Estados Unidos exemplifica como a cidadania pode ser vivida de forma ativa. Afinal, não basta ter o escudo; é preciso saber como usá-lo.
No Brasil, a cidadania vai além do individualismo. Sob a influência de ideias coletivistas, os direitos sociais — como saúde, educação e moradia — ganharam destaque. Dessa forma, tal diferença reflete visões contrastantes de justiça: enquanto os EUA priorizam direitos individuais, o Brasil busca equilibrar liberdades individuais com bem-estar coletivo.
Nesse sentido, tal discrepância gera muita discussão no plano teórico e filosófico. Afinal, a cidadania é apenas um conjunto de direitos ou também uma forma de construir o futuro?
Desafios Contemporâneos e Interseções Globais
Atualmente, em um mundo globalizado, tanto Brasil quanto Estados Unidos enfrentam desafios semelhantes. Entre eles, a inclusão de imigrantes, o combate ao racismo e a luta por igualdade de gênero são questões que testam os limites do conceito de cidadania em ambos os países. É nesse ponto que a filosofia política de Hannah Arendt nos ajuda: a cidadania, ela dizia, é o “direito a ter direitos”.
Por exemplo, nos Estados Unidos, o debate sobre imigração e o tratamento de dreamers (jovens imigrantes trazidos ilegalmente quando crianças) reflete tensões entre identidade nacional e direitos humanos. Enquanto isso, no Brasil, os desafios incluem garantir que os direitos constitucionais se tornem realidade para populações historicamente marginalizadas, como os povos indígenas e comunidades periféricas.
Assim, talvez a pergunta não seja “o que é cidadania?”, mas sim “como garantir que ela seja para todos?”. Mesmo que em contextos culturais diferentes, é certo que a cidadania – em sua essência envolvendo direitos e deveres – deve ser reconhecida a todos, para que o acesso à Justiça e às instituições estatais sejam garantidos. Afinal, os direitos individuais de todos devem ser protegidos.
Uma Visão Futura sobre Cidadania
Comparar o conceito de cidadania no Brasil e nos Estados Unidos é mais do que uma análise histórica; é um convite à reflexão. Em tempos de crescente polarização, entender as raízes e os desafios da cidadania nos ajuda a criar um futuro mais justo. Como diria Dumbledore, “são as escolhas que fazemos que mostram quem realmente somos, muito mais do que nossas habilidades”.
Por isso, que escolhas faremos para garantir que a cidadania seja sinônimo de inclusão e igualdade? Talvez, a resposta seja o verdadeiro teste de nossas democracias.