Criptomoedas: Devido a urgência em controlar o aquecimento global, principalmente resultante das atividades humanas, tornou-se meio que obrigatório pensar em um futuro verdadeiramente sustentável. Apesar dos esforços globais em andamento desde o Acordo de Paris em 2015, onde foi defenido metas ambiciosas, ainda enfrentamos um caminho desafiador.
O crescente interesse nas criptomoedas, desde a ascensão do Bitcoin em 2009, trouxe consigo uma preocupante tendência de aumento nas emissões de gases de efeito estufa! Sim, isso mesmo, a área possum um elevado consumo de energia elétrica.
Um Estudo, revelou que o consumo de energia é na ordem de 26,41 TWh a 176,98 TWh (para o Bitcoin no ano de 2021). Esses números são equivalentes ao consumo de energia da Suécia e Tailândia.
Calma vamos entender a problemática
O propósito original do Bitcoin, definido no início, no white paper do fundador Nakamoto, era possibilitar transações rápidas e sem fronteiras.
Entretand, mais de uma década após sua criação, é inegável que o Bitcoin alcançou uma popularidade significativa, mesmo que não da forma imaginada por Nakamoto. Em vez de simplificar as transações do dia a dia, as criptomoedas tornaram-se, em grande medida, ativos especulativos, assemelhando-se a uma forma de “ouro digital”. E isso atraiu investidores que acreditam na possibilidade de obter grandes lucros ao revender suas participações no futuro.
Contudo, a corrida pelo ouro digital trouxe consigo um desafio significativo: o consumo massivo de eletricidade. Em uma análise da pegada de carbono pelo Bitcoin, a Digiconomist estimou emissões de 64,18 MtCO2 em julho de 2021, aproximando-se das emissões totais de países como Grécia e Omã. Porém é importantíssimo ressaltar que o Bitcoin não está sozinho em termos de impacto ambiental entre as criptomoedas. Entretanto sua popularidade e seu “mecanismo” ineficiente o tornam um alvo fácil. Enquanto isso, a tecnologia blockchain pode representar a chave para um futuro mais sustentável.
Por que o Bitcoin (criptomoedas) consome tanta energia?
Talvez esteja se perguntando como algo que é digital, pode consumir tanta energia? Primeiramente, do ponto de vista conceitual, não parece ser necessário que o Bitcoin demande enormes quantidades de energia. Basta apontar e clicar, ou tocar no smartphone, para comprar ou vender a criptomoeda. E é uma tecnologia para realizar esse tipo de transações existe há décadas.
Entretanto, é a estrutura descentralizada do Bitcoin que faz com que exista essa considerável pegada de emissões de carbono. Uma vez que, para verificar as transações, o Bitcoin requer computadores para resolver problemas matemáticos cada vez mais complexos. Esse mecanismo de consenso, conhecido como prova de trabalho, consome muito mais energia do que se poderia imaginar.
Já que no caso do Bitcoin, essa conferência é feita por muitos concorrentes. E isso cria uma corrida para ver quem consegue empacotar as transações e resolver um pequeno problema matemático mais rápido. O “mineiro” que resolve a equação mais rapidamente não apenas certifica a transação, mas também recebe uma recompensa em Bitcoin.
No início…
Do Bitcoin, esse processo não consumia quantidades de energia de escala nacional. No entanto, é próprio da tecnologia da criptomoeda que os quebra-cabeças matemáticos se tornem muito mais difíceis à medida que mais pessoas competem para resolvê-los, intensificando-se quando há mais indivíduos tentando adquirir Bitcoin.
E dessa maneira, mesmo que centenas de milhares de computadores estejam em operação para resolver o mesmo problema, apenas um irá receber as recompensas do Bitcoin. E é óbvio que isso é um desperdício, visto que 99,99% de todas as máquinas simplesmente descartam o resultado, não vencendo a corrida. Embora esse processo assegure um resultado justo e seguro, também gera uma quantidade significativa de emissões de carbono, uma vez que há grandes sevidores em funcionamento. O que leva ao questionamento: Será que os fundadores do Bitcoin previram um sucesso tão grande e a previram essa demanda de energia? Ou será que grandes Big Techs, se aproveitaram e criaram esse problema?
Pequena comparação entre os tempos de operação
Esse processo de “mineração” é tido como demorado, podendo levar mais de 10 minutos por transação Bitcoin. O que contrasta com outras transações digitais, como as da Visa, que são mais rápidas e consomem menos energia. Uma vez que a Visa pode executar cerca de 1.700 transações por segundo (TPS), em comparação com as 4 TPS do Bitcoin.
No cenário de mineração de criptomoedas, os EUA possuem a maior parte do mercado global de mineração de Bitcoin, com quase 38%. E mesmo com a proibição de Pequim à mineração de Bitcoin, a China permanece como o segundo maior centro, com mais de 20% do mercado global.
Outros centros de mineração incluem o Cazaquistão, com uma participação global de 13%. O Canadá, com mais de 6%, e a Rússia, com quase 5%, o restante está distribuído pelo mundo. E conforme a mineração de Bitcoin enfrenta críticas – cada vez mais intensas – pelo aumento no consumo de energia, é usuários procuram uma forma de enfretar esse indicativo de que a operação está próximo de um ponto crítico. E assim, para a área se destacar como uma revolução transformadora (ideia do criado), a criptografia precisa de uma transição para práticas mais sustentáveis.
O que pode ser feito em relação ao problema energético das criptomoedas?
Enfrentar o desafio do consumo de energia do Bitcoin não implica necessariamente a um retorno aos sistemas centralizados, como a infraestrutura da Visa. Afinal, a essência fundamental do Bitcoin reside na eliminação de intermediários, como as redes de cartões, e seu controle concentrado sobre as transações financeiras. Em vez disso, os defensores do Bitcoin possuem à disposição diversas opções para abordar essa questão.
Transição Energética
A mineração de Bitcoin alimentada por energia renovável sofreu um declínio significativo quando a China implementou medidas para erradicar a prática dentro de suas fronteiras, levando a mineração no país a operar clandestinamente. Desde a repressão chinesa (2021) a parcela de energia renovável utilizada na mineração de criptomoedas caiu de aproximadamente 42% em 2020 para 25% em agosto de 2021.
Diversas startups estão abordando a pegada de carbono do Bitcoin, cada uma buscando novas abordagens para incorporar fontes de energia mais ecológicas à mineração. Por exemplo, a LiquidStack procura reduzir de maneira mais eficiente a temperatura nas plataformas de mineração, enquanto a Genesis Mining adota exclusivamente fontes de energia limpa.
No entanto, apesar desses esforços de redução de carbono, especialistas alertam que as emissões de carbono associadas ao Bitcoin aumentaram rapidamente, alcançando níveis comparáveis aos da Grécia, uma nação com mais de 10 milhões de habitantes.
Transição para Sistemas “Proof-of-Stake”
O “Proof-of-Stake” (prova de aposta – tradução livre) não requer a mesma corrida louca que a prova de trabalho para resolver quebra-cabeças complexos e usa menos recursos. De maneira simplificada, a Proof-of-Stake exige que os participantes da rede paguem uma pequena quantidade de criptomoeda para ser inserida em uma loteria para ter a chance de verificar as transações. A ideia é que, se você estiver oferecendo uma certa quantia de valor como garantia, será menos provável que você aprove transações fraudulentas que desvalorizariam a moeda e custariam sua aposta.
Como os sistemas de Proof-of-Stake eliminam o elemento computacional competitivo, irá, por conseguência economizar energia e permite que cada máquina em uma [Proof-of-Stake] trabalhe em um problema de cada vez, ao contrário de um sistema PoW, no qual uma série de máquinas estão correndo para resolver o mesmo problema, desperdiçando assim energia. Deu para entender? Se não, vou tentar simplicar ainda mais. Em resumo, enquanto o sistema PoW (Bitcoin) centenas de milhares de computadores tentam minerar apenas UM único problema para o Bitcon, no Proof-of-Stake cada computador irá ficar responsável por APENAS um “problema” que nenhum outro computador estará tentando fazer o mesmo, ou seja, não existe competição.
O Ethereum, a segunda maior criptomoeda em valor de mercado depois do Bitcoin, está em processo de conversão para Proof-of-Stake a partir de prova de trabalho como parte do Ethereum 2.0. Isto reduzirá drasticamente o consumo de energia de tokens e blockchains baseados em Ethereum em cerca de 99,95%.
Pré-mineração
Algumas criptomoedas introduziram a pré-mineração para evitar desperdício de computação. A pré-mineração é um sistema que funciona funcionalmente como moeda fiduciária ou ações. Uma autoridade central cria uma determinada quantidade de um item e depois libera-o cuidadosamente na economia, dependendo do que está acontecendo no mundo ou nos seus negócios.
Vários outros criptoativos como o XRP [também conhecido como Ripple] não foram extraídos, mas produzidos por algoritmos o que elimina a necessidade de equipamentos dedicados de mineração de alta velocidade (afinal no Bitcoin, ganha quem for mais rápido).
Nestes sistemas, as transações ainda são verificadas por uma rede descentralizada de validadores antes de serem adicionadas ao registro blockchain da moeda, mas os envolvidos na transação podem ter que pagar uma pequena taxa de transação para compensar os validadores pelo seu esforço, uma vez que o sistema monetário em si nem sempre os recompensa. No caso do XRP, essa taxa é uma fração de centavo.
A transição do Bitcoin para um sistema de Proof-of-Stake ou pré-minerado não seria fácil, já que para alterar o protocolo Bitcoin, alguém teria que convencer a maioria dos mineradores a concordar com o novo sistema, uma tarefa difícil quando bilhões estão em jogo e o sistema existente funciona, embora de forma lenta e eletricamente ineficiente, o que beneficia quem consegue construir grandes servidores dedicados (de forma bem simples, cada um quer defender o seu, o planeta não importa muito).
Créditos ou taxas de carbono
Os créditos de carbono representam a autorização governamental para que uma empresa emita uma quantidade específica de carbono no meio ambiente. Muitas vezes, esses créditos são titularizados, permitindo sua negociação entre empresas que têm necessidades distintas de emissões. Esse sistema incentiva as empresas a produzirem abaixo de sua cota, enquanto penaliza aquelas que ultrapassam os limites estabelecidos.
No contexto de uma empresa de mineração de criptomoedas, isso pode implicar a aquisição de créditos de carbono de outra empresa para compensar as emissões geradas ou a transição para fontes de energia mais sustentáveis, visando lucrar com a venda desses créditos.
Assim, esse método é comprovado e pode ser um movimento em direção à incorporação de créditos para produtos relacionados à mineração e transações de Bitcoin como forma de compensar essas emissões. E dessa maneira os consumidores poderão pagar para neutralizar suas emissões relacionadas à criptografia.
O futuro ambiental do Blockchain
Deixando de lado o impacto ambiental, os custos de eletricidade prejudicam a lucratividade da mineração de Bitcoin. Ao criar moedas digitais de forma mais eficiente, os mineradores também aumentarão a sua rentabilidade, mas poderá aumentar a probabilidade de as blockchains se tornarem populares.
A integração da tecnologia blockchain em todos os aspectos da vida econômica poderia reduzir a pegada de carbono de muitas empresas. Uma possível solução seria a utilização dos contratos inteligentes [como os habilitados pela Ethereum] onde permite que as empresas automatizem grande parte de seus sistemas de pagamentos e processos de negócios.
Dessa maneira, verificando automaticamente para garantir que um pedido de compra, por exemplo, esteja em conformidade com os termos e condições de um contrato. E assim permitir que uma empresa reduza o número de funcionários que precisam deslocar-se até um escritório para processar encomendas, resultando em menos emissões de carbono relacionadas com o transporte.
Embora possamos não conhecer todo o potencial de aplicações verdes da tecnologia blockchain nos próximos anos, já se fala em usá-la para combater grandes problemas, como ajudar as empresas a registrar melhor as emissões de carbono e para avançar para um futuro neutro em carbono.
Entretanto, para ser justo, preciso apresentar “outro” lado
No final de agosto de 2023, a universidade de Cambridge publicou um relatório que revelou uma revisão nas estimativas anteriores, indicando que o Bitcoin consome menos energia do que se presumia anteriormente. Conforme os novos dados, a estimativa para o consumo de energia do Bitcoin em 2022 foi ajustada de 105,3 TWh para 95,5 TWh. Da mesma forma, a estimativa acumulada para o ano de 2023 foi revisada de 75,7 TWh para 70,4 TWh.
Há grupos de defendem que esse valores correspondem a “apenas” 0,38% da capacidade global de produção de eletricidade, o que torna a crítica ao consumo energético da criptomoeda algo sem fundamento.
Particularmente, vejo que a variação encontrada (menos de 10TWh) pela revisão, ainda mostra um valor de consumo altíssimo. Inclusive, há a vertente (a que faço parte, é só olhar o gráfico, a mudança não é tão significativa) de que essa redução se dá em virtude das ações tomadas para diminuir o consumo.
Porém, é inegável que a revisão feita pela Cambridge tem implicações significativas para o debate sobre o impacto ambiental do Bitcoin e criptomoedas. Entretanto, podemos em 2024, iniciar a discusão em que o esse mercado deixa de ser consumidor excessivo de energia, e passa a ser um agente de inovação em fontes de energia mais eficientes e sustentáveis. Além disso, à medida que a busca por recursos sustentáveis cresce, o Bitcoin pode destacar-se como uma opção atraente. E assim pode exercer uma influência benéfica nas discussões regulatórias, possibilitando que a criptomoeda pioneira seja ainda mais aceita.
Referências:
- https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352864822001390
- https://www.forbes.com/advisor/investing/cryptocurrency/bitcoins-energy-usage-explained/
- https://news.climate.columbia.edu/2022/05/04/cryptocurrency-energy/
- https://www.statista.com/statistics/881472/worldwide-bitcoin-energy-consumption/
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