A ética e filosofia nos ajuda a entender melhor nossas decisões morais, e a razão de tomamos certas decisões, mesmo quando são contraditórias.
Você já se perguntou por que fazemos algumas escolhas, ou por que ficamos com dilemas morais profundos e com dificuldades de encontrar a decisão certa? Hoje vamos entender o que a filosofia diz sobre as razões por trás das nossas decisões, especialmente no campo da ética.
Diversos pensadores se dedicaram a entender o que guia nossas ações e diferencia o certo do errado, pois esses dilemas morais sempre existiram na mente humana.
Mas, afinal, como a ética e filosofia explicam isso?
Ética e filosofia, como elas se encontram, afinal?
Alguns pensadores clássicos também questionaram a mesma coisa. Aristóteles, por exemplo, acreditava que a virtude ocupava o centro de nossas ações. Ele afirmava que as pessoas alcançam a felicidade ao agir de acordo com a virtude, ou seja, ao buscar o equilíbrio e a moderação em tudo que fazem.
Para Aristóteles, ser ético era atingir a excelência moral, algo que se conquista com o tempo e a prática:
Preceito básico da ética aristotélica.
Para Aristóteles, o bem supremo que todos os seres humanos buscam é a Eudaimonia, que é a realização completa de uma vida vivida em conformidade com a razão e a virtude. A felicidade, segundo ele, não está em momentos isolados de prazer, mas em uma vida vivida com excelência em todas as áreas.
Antes de Aristóteles, Platão desenvolveu uma teoria ética fundamentada na Teoria das Formas, onde o Bem é a forma mais elevada.
Para ele, o conhecimento do Bem leva à ação correta, vinculando a ética platônica à ideia de que o mundo sensível é uma cópia imperfeita.
Em A República, Platão defende que a justiça é a maior virtude e que as ações morais são determinadas pelo conhecimento da verdade.
Fato é que, durante a fase clássica da Filosofia, os pensadores buscavam sempre desvincular a noção da ética da questão religiosa, voltando seu foco à pessoa humana e a forma como o homem se portava na sociedade. Mais à frente, os demais filósofos também passaram a buscar essa perspectiva, como fez Kant.
Decisões morais para Kant
Enquanto Aristóteles acreditava que a virtude era o caminho para a felicidade, Kant trouxe a visão que o desejo de alcançar felicidade ou prazer não deve guiar nossas ações, mas sim o cumprimento do dever.
Kant desenvolveu a ideia de que existe uma “lei moral” universal, que pode ser aplicada a todos, independentemente da cultura ou contexto.
O princípio central da ética kantiana afirma que devemos aplicar regras que gostaríamos de ver aplicadas universalmente. Em outras palavras, antes de tomar uma decisão, devemos nos perguntar: “E se todo mundo agisse dessa forma?” Se a resposta for negativa, então essa ação não pode ser considerada ética.
Um filosofo popular
Em The Good Place, o dilema ético de seguir regras morais rígidas (como o imperativo categórico de Kant) é explorado através de situações inusitadas. O personagem Chidi busca aplicar a ética kantiana, porém enfrenta dificuldades quando se depara com alguns dilemas.
A série também introduz o utilitarismo, destacando a moralidade das ações com base nas consequências. A narrativa aborda a complexidade de aplicar teorias filosóficas de forma prática no cotidiano moral.
Como a noção de ética e filosofia desses teóricos influenciam nossas decisões hoje?
Um aristotélico poderia argumentar que devemos buscar um equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade, enquanto um kantiano poderia afirmar que temos o dever moral de preservar o meio ambiente, independentemente dos custos econômicos imediatos.
Esses diferentes enfoques filosóficos destacam como nossos valores éticos podem moldar decisões práticas. A ética de Aristóteles propõe que o caminho para uma sociedade justa passa pelo exercício contínuo de virtudes; já Kant oferece um fundamento mais rígido, defendendo o dever ético em si mesmo como o único guia legítimo.
Decisões morais no cotidiano: como aplicar os conhecimentos de ética e filosofia?
No cotidiano, nossas decisões morais refletem valores éticos, experiências pessoais e influências culturais. Quando encontramos uma situação como achar uma carteira cheia de dinheiro, imediatamente podemos nos questionar sobre o que é correto fazer.
Para Aristóteles, devolver a carteira seria um ato de virtude, que revela respeito pelos direitos alheios e se alinha com o conceito de viver uma vida virtuosa em busca da felicidade e do bem-estar coletivo.
No entanto, do ponto de vista kantiano, devolver a carteira é um dever moral, um ato que transcende desejos ou recompensas, baseado no princípio de agir como se nossas ações pudessem ser universalizadas. Isso significa que, estaríamos contribuindo para uma regra moral universal, em que todos agiriam de forma a respeitar os bens e direitos dos outros.
Decisões morais mediante as diferenças culturais
Outro fator importante é o nível de ensino e o acesso à educação ética e moral. Indivíduos com formação em ética, filosofia ou direitos humanos tendem a ter uma compreensão mais profunda dos impactos morais de suas ações e podem estar mais inclinados a seguir princípios universais.
Já aqueles que não tiveram a oportunidade de refletir sobre esses temas de forma sistemática podem basear suas decisões morais em experiências pessoais ou normas estabelecidas em suas comunidades. Isso não significa que suas decisões sejam menos válidas, mas que a base de seu raciocínio moral pode ser diferente.
Ou seja, apesar da universalidade que as teorias éticas buscam, a prática moral é marcada pela diversidade de perspectivas.
Como funciona tomar decisões éticas na prática?
Se todos agissem de acordo com um mesmo princípio — como o dever kantiano de nunca mentir ou a busca aristotélica pela virtude equilibrada —, a sociedade poderia, de fato, alcançar um nível de previsibilidade e confiança mútua maior.
No entanto, essa uniformidade teórica encontra desafios na vida real, pois as circunstâncias individuais, o contexto e as intenções tornam as decisões mais complexas. Essa diversidade não deve ser vista como uma falha, mas sim como uma riqueza, pois ela permite que a moralidade evolua com as diferentes perspectivas e que pessoas de diversas culturas e ideologias possam contribuir com suas visões únicas.
Portanto, tomar as melhores decisões morais no cotidiano é uma tarefa que envolve reflexão contínua e uma sensibilidade às diferenças. As teorias de Aristóteles e Kant fornecem princípios gerais valiosos, mas também nos lembram que a aplicação prática da moralidade exige flexibilidade e compreensão da complexidade humana.
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