Ilhas de calor, a vegetação no espaço urbano representa uma das variáveis responsáveis pela amenização do microclima das cidades, servindo de delimitador de espaços, absorvendo os ruídos, purificando o ar com absorção das partículas tóxicas e de poeiras e diminuindo a refletância de energia solar, promovendo assim um ambiente adequado à moradia.
Estas características têm impacto direto no cotidiano das pessoas, pois interfere tanto no estado de ânimo do indivíduo quanto na sua saúde, podendo ocasionar problemas cardiovasculares, respiratórios e psíquicos.
Os espaços verdes devem ser analisados, entendidos e estudados de acordo com a função que exercem, pois assim podem ser implementados em praças, corredores viários, bosques, parques, canteiros e calçadas, proporcionando um ambiente favorável a um bom modo de vida, que também é fundamental para o equilíbrio do ecossistema urbano.
Dentre os estudos de clima urbano, destaca-se o fenômeno denominado “ilha de calor”, que resulta da combinação de diversos fatores urbanos específicos, tais como: efeito da transferência de energia nas construções urbanas com formas especiais (estruturas verticais); evaporação reduzida e consequentemente falta do efeito refrescante a ele associado, pouco revestimento vegetal e rápido esgotamento das águas pluviais por canalizações; produção de energia antropogênica pelos processos realizados nas indústrias, trânsito e residências.
A ilha de calor atmosférica denuncia as modificações de certos parâmetros da camada basal da troposfera por meio da diferença dos tipos de uso da terra e cobertura entre as paisagens urbanas e rurais. A qualidade da vida humana está diretamente relacionada com a interferência da obra do homem no meio natural urbano. A natureza humanizada, através das modificações no ambiente, alcança maior expressão nos espaços ocupados pelas cidades, criando um ambiente artificial.
Ilhas de calor, como arborização beneficia?
A manutenção ecológica, a permeabilidade e as propriedades do solo, a regulação da temperatura, o abrigo e a produção de alimento para determinadas espécies, devem ser levados em consideração no ordenamento das cidades e no seu no plano diretor, tentando ultrapassar a fronteira do paisagístico e do estético, no qual os responsáveis são as Secretarias de Meio Ambiente de cada município.
Nas cidades, as áreas verdes são elementos da paisagem que prestam serviços ecossistêmicos fundamentais. Além de promoverem a manutenção da biodiversidade, estes espaços auxiliam na regulação do ciclo hidrológico e da temperatura do ar, além de atenuar a poluição atmosférica e sonora, trazendo benefícios para a saúde física e mental dos habitantes da região.
Circundando as cidades, as áreas periurbanas formam, muitas vezes, cinturões verdes que ajudam a garantir a segurança hídrica e alimentar da população. Para ultrapassar a fronteira do paisagístico e do estético deve-se dar preferência as espécies arbóreas e arbustivas, que para este ambiente possuem uma maior representatividade nos benefícios gerados pela vegetação.
Visto que, tais espécies por serem caracterizadas por um porte maior conseguem proporcionar uma melhor atividade natural no recinto urbano, oferecendo sombra, uma melhor configuração espacial do meio e outras funções citadas anteriormente
A vegetação é um dos componentes mais importantes da paisagem por sua contribuição para o equilíbrio entre os outros elementos da natureza. A vegetação apresenta pequena diversidade em relação à extensão territorial, discriminando seis tipos de formações vegetais: florestas, cerrados, babaçuais, campos, manguezais, dunas e restingas, que, por volta do século XVIII, era densa e com relativo equilíbrio.
Regulação microclimática
A relação entre o clima e a vegetação é bastante próxima. Pensando em escala global, o clima pode influenciar a presença de vegetação, a distribuição de determinadas espécies, a composição dos ecossistemas, etc. Por outro lado, em escala local, o balanço de calor entre o espaço construído e a vegetação, é responsável por alterar as características do clima. Todos nós já sentimos o efeito que a sombra de uma árvore pode proporcionar no dia a dia. Por exemplo: quem nunca escolheu o lado mais arborizado da rua para andar em um dia quente? Ou então, na hora de estacionar o carro, buscou aquela vaga embaixo de uma árvore?
Nos centros urbanos é comum a ocorrência de ilhas de calor. A saber, essas ilhas são formadas pela união das construções com materiais de alta capacidade térmica, impermeabilização do solo e aquecimento pela queima de combustíveis fósseis. Nesses locais existe uma grande absorção e emissão de calor e baixa dissipação. Assim, a presença de vegetação nessas áreas tem a capacidade de: dissipar o calor, pela reflectância das folhas; reduzir a incidência da radiação no solo, pela sombra; absorver materiais poluentes, por meio da fotossíntese; e regular a umidade do ar, pela evapotranspiração; gerando um microclima mais agradável aos seres humanos.
Estudos realizados em Curitiba pela UFPR encontraram uma redução na temperatura de 1,8 a 3,9 °C, comparando áreas arborizadas e não arborizadas. Também, estudos na Argentina e Alemanha comprovaram uma regulação de 5% da umidade relativa do ar em áreas arborizadas.
Redução da frequência e intensidade de enchentes
Um dos grandes problemas nas cidades são as enchentes. Estes eventos ocorrem quando há um volume muito grande de chuva e as galerias pluviais não dão conta de escoar toda a quantidade de água. Tal fato ocorre tanto por entupimento das galerias pluviais quanto pelo mau planejamento ou eventos climáticos extremos.
Em centros urbanos com grandes níveis de impermeabilização, o problema das enchentes pode ser ainda pior. A impermeabilização do solo é causada principalmente pelo asfalto ou outros materiais que impedem a infiltração da água no solo. Quando a água não encontra locais para infiltrar no solo, ela escoa superficialmente até encontrar um bueiro. Se ocorrer desse bueiro estar entupido ou saturado, a água continua escoando para os locais mais baixos até encontrar o rio, podendo causar as enchentes.
Um bom planejamento de praças, parques e a presença de árvores nas calçadas com um canteiro permeável, compatível com o seu desenvolvimento, pode atenuar os problemas de enchentes em uma cidade. Isso porque a vegetação auxilia na absorção e infiltração de água de diferentes formas. No caso das chuvas, o primeiro contato entre a vegetação e a água se dá na copa, pela intercepção da água da chuva nas folhas. Em um segundo momento, ocorre também, a infiltração da água no solo e absorção da água pelas raízes. Quanto maior a quantidade de árvores nas ruas, menor será a quantidade de água escorrida superficialmente e menor a intensidade e frequência de enchentes.
Redução da poluição atmosférica
A poluição do ar nas cidades ocorre pelos gases emitidos durante a queima de combustíveis fósseis e pelo material particulado disperso, chamado de fuligem. A arborização urbana pode melhorar a qualidade ambiental retendo o material poluente disperso e também fixando carbono e convertendo outros gases poluentes.
O processo de retenção do material particulado ocorre pela deposição da fuligem na folha ou na casca das árvores. Quando depositada na árvore, a fuligem é lixiviada pela chuva, reduzindo a quantidade de material suspenso na atmosfera. Já a absorção dos gases poluentes ocorre durante a fotossíntese, pela fixação/estoque do carbono (CO2), e também absorção de outros gases poluentes como ozônio (O3), dióxido de enxofre (SO2), entre outros.
Aspectos econômicos associados
A melhoria ambiental proporcionada pela arborização urbana também impacta nos fatores econômicos das cidades. Isso porque a melhoria do microclima, resultante da evapotranspiração, fotossíntese e da redução da radiação incidente no solo pela sombra, apresenta grande influência sobre o consumo de energia elétrica, já que em locais com microclima equilibrado, a necessidade de resfriadores artificiais, como os ventiladores e aparelhos de ar condicionado, é menor. Nesse sentido, pesquisas confirmam que arborização urbana é responsável pela economia de US$101 milhões de dólares em refrigeração por ano na Califórnia. Além disso, no verão, espaços arborizados apresentam uma redução de 40% no consumo de energia elétrica.
Outro fator econômico influenciado pela arborização urbana é a valoração imobiliária. Como as áreas arborizadas apresentam melhor qualidade de vida para população, elas influenciam diretamente o valor dos imóveis. Imóveis em bairros arborizados tem maior valor agregado, quando comparado à bairros não arborizados. Por exemplo, na Califórnia, a arborização dos bairros contribuem com um aumento de US$838 milhões de dólares sob o valor dos imóveis . De modo geral quanto maior o número de árvores por habitantes, maior o valor dos imóveis.
A melhoria na qualidade de vida
Além dos aspectos de melhoria ambiental citados anteriormente, outros aspectos sociais estão atrelados à melhoria da qualidade de vida proporcionada pela arborização. A arborização urbana, principalmente em praças e parques, incentiva a prática de atividades físicas ao ar livre. Essas práticas, por consequência, reduzem a ocorrência de doenças causadas pelo sedentarismo, por exemplo, as doenças cardiovasculares e respiratórias.
Outras pesquisas também associam à qualidade psicológica, em que pacientes expostos frequentemente a ambientes arborizados, apresentam menor índice de depressão. Outro fator associado foi a redução da dosagem de medicamentos para o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade para pacientes expostos à arborização.
Referências:
- https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/36198/30224/398940
- https://www.itr.ufrrj.br/sigabi/
- https://www.sustenere.co/index.php/rica/article/download/CBPC2179-6858.2018.001.0019/1070/6515
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