Quando o “agro” e a “floresta” se juntam, o que será que pode surgir? Com certeza, mais do que uma nova palavra. Os sistemas agroflorestais (SAFs) compreendem o cultivo de espécies agrícolas de interesse econômico e a criação de animais em associação a espécies arbóreas e de arbustos. Estas espécies são de ocorrência comum em florestas e, assim, temos a origem do termo “agrofloresta”.
Contudo, os sistemas agroflorestais (SAFs) envolvem muito mais aspectos do que apenas consorciar espécies com características biológicas bem diferentes. Chega a ser uma filosofia mesmo, quando levamos em conta que alia pesquisas científicas ao conhecimento tradicional e empírico do pequeno produtor rural. Tudo isso visando ao aumento da produtividade e das condições de vida do produtor, mas utilizando-se da sustentabilidade como norteadora das ações.
A seguir, vamos compreender como um SAF se configura e quais benefícios ele proporciona ao pequeno produtor rural, ao meio ambiente e à sociedade.
Com o que se parece um sistema agroflorestal?
Para montar um SAF e para que ele funcione, é necessário planejamento – como em qualquer nova empreitada, na verdade. Contudo, o planejamento de sistemas agroflorestais envolve estudos científicos e conhecimento empírico, do dia-a-dia mesmo de quem está acostumado com a mão na terra. Geralmente, essa pessoa é o pequeno produtor rural.
Inicialmente, deve-se preparar o solo removendo espécies exóticas invasoras e plantando sementes e/ou mudas de espécies exóticas ou nativas no lugar. A seleção das espécies ocorre pensando na função que cada uma poderá exercer no sistema.
Por exemplo: existem espécies que são “adubadoras”, por devolver nutrientes importantes ao solo para que as demais espécies possam também prosperar no local. Outro grupo de espécies que exerce uma importante função no sistema é o das “sombreadoras”. Isso porque a sombra que proporcionam evita que espécies exóticas invasoras tomem conta do local e exerçam competição por espaço e nutrientes com as demais. Além disso, as folhas que caem formam a serapilheira, que melhora as condições do solo. Também é comum o uso de espécies frutíferas, que, além de produzir ganhos econômicos e de subsistência ao produtor, têm papel na atração de fauna.
Após preparar o solo e realizar a seleção das espécies de acordo com a função que exercerão no sistema, pode-se pensar em um arranjo de plantio. Uma boa sugestão é o plantio intercalando-se linhas de sombreadoras com entrelinhas de espécies de interesse econômico. Tudo adaptado às caraterísticas do local, à época do ano e à cultura local. Por exemplo: provavelmente cultivar quiabo em Minas Gerais seja mais rentável do que erva-mate…
Os Benefícios dos Sistemas Agroflorestais
Depois de bem implantado, um SAF demonstra diversos benefícios diretos e indiretos.
Ele desempenha um papel crucial na restauração ambiental, restaurando florestas em locais onde foram derrubadas há muito tempo. Esse processo recupera a biodiversidade local e, com ela, os processos abióticos e os serviços ecossistêmicos, como a polinização. O solo também se recupera, quando inicialmente degradado.
Além disso, os produtores relatam que os ganhos econômicos são visíveis, pois, com os serviços ecossistêmicos assegurados, a produtividade melhora. O fato de haver maior diversidade de espécies cultivadas também é vantajoso, por prover o sustento no ano inteiro, e não mais de forma intermitente.
Por fim, a diminuição da infestação por espécies exóticas invasoras e o uso de alternativas sustentáveis para o manejo de pragas reduzem os gastos do produtor com agroquímicos.
A saúde do produtor também melhora após a implantação do SAF, já que ele passa a consumir uma maior variedade de alimentos de melhor qualidade, com menos produtos químicos.
Como vimos, embora a implantação do SAF leve mais tempo em alguns casos do que o plantio convencional ou uma monocultura, seus benefícios no longo prazo são incontestáveis.
Convido você, leitor, para que faça um exercício de conhecer (se não conhece ainda) os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU e pensar quais deles a implantação de um SAF atende.
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