Reaproveitamento da Água: Soluções sustentáveis para o futuro

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reaproveitamento da agua

Bom dia, tarde e noite, gurunauta! Você sabe por que é importante falarmos de reaproveitamento da água? Mesmo que o Brasil tenha uma das maiores reservas hídricas do mundo as crises (hídricas e energéticas) nos assolam de tempos em tempos. Afinal, temos muita água? Sim, mas a distribuição geográfica não é igualitária, além da grande influência das mudanças climáticas. Além disso, o Brasil está entre os maiores produtores de alimentos do mundo, com crescimento extensivo e intensivo na produção agrícola. 

Nesse sentido, a agricultura (que é totalmente dependente da água) é uma das atividades econômicas mais importantes do país em termos de produção, geração de emprego e renda, exportação e desenvolvimento técnico da cadeia produtiva. O consumo hídrico é extremamente alto, uma vez que de 30% de todo consumo de água da indústria tem como destino a produção de alimentos. Além disso, esse tipo de indústria gera um alto volume de efluentes que precisam de soluções, que sejam práticas, eficientes e economicamente viáveis. 

Gestão Hídrica e Economia Circular

Antes de entrarmos na questão de reuso, é importante termos um uso racional, economizar o consumo sempre será um passo fundamental. Afinal, a minimização do uso de água pode reduzir custos na aquisição de água potável e tratamento de efluentes. Assim, é possível adotar estratégias para fechar o ciclo hídrico em escala industrial e atrair investimentos para o gerenciamento de águas residuais. Além de ser uma obrigação ambiental, investir em tratamento de água pode gerar altos retornos financeiros.

As indústrias devem adotar práticas de redução, reuso, reaproveitamento da água e reciclagem para minimizar o consumo de recursos naturais e reduzir os impactos ambientais. Uma das principais estratégias é incorporar o conceito de economia circular. Porém, isso exige um esforço sistemático em diferentes níveis, uma vez que, a estratégia da economia circular adotada em vários países busca reformar o sistema econômico linear baseado na extração, produção e descarte, construindo um sistema complexo e auto sustentável.

Tratamento de Efluentes 

Os tipos de tratamento de efluentes são muito diversos e estão relacionados à geração de efluentes e dependem do tipo de indústria (uma empresa de suco gera um efluente totalmente distinto de uma usina nuclear por exemplo). A indústria alimentícia gera efluentes altamente poluentes (grande carga orgânica, que pode levar um recurso hídrico a eutrofização e o tratamento  faz parte da  mitigação ou eliminação de impactos ambientais. 

Infelizmente, sabemos que no Brasil, muitos rios e lagos recebem esgotos domésticos e efluentes industriais sem tratamento, comprometendo a qualidade da água. 

O tratamento necessário para recuperar efluentes está diretamente ligado às especificações para o reuso da água, considerando onde essa água será utilizada e a qualidade exigida para essa aplicação.

O principal objetivo do tratamento desses efluentes, apesar de ser complexo, é obter efluentes de alta qualidade, em um mundo perfeito, a qualidade deveria ser melhor que o qualidade do afluente, mas não estamos em Nárnia, então, se conseguirmos uma qualidade onde a depuração natural seja eficiente já é aceitável. 

reaproveitamento de água

Fiscalização

Nesse sentido, a forma do tratamento envolve vários fatores, como o tipo de poluente, a infraestrutura para tratamento, a qualidade desejada do efluente e os custos operacionais do sistema, e o que eu julgo ser algo de extrema importância, a FISCALIZAÇÃO (tanto pela sociedade, quanto pelos órgãos competentes).

E novamente, num mundo ideal, o reuso para fins de consumo pode ser ambientalmente correto, porém na maioria dos casos é inviável financeiramente. Esse tipo de abordagem pode fornecer água segura – dentro do padrão de potabilidade definidos pelas resoluções CONAMA n°  357/2005 e CONAMA n° 396/2008 e possíveis modificações em resoluções posteriores  – o que não é fornecido atualmente pelos sistemas de tratamento convencionais que lidam com a água poluídas (não só por grandes cargas orgânicas, como por microplásticos e fármacos). 

Os processos ou sistemas mais avançados comumente utilizados para o tratamento de reuso incluem: sistemas de membrana, carvão ativado biológico e o processo de oxidação avançada (POA), uma tecnologia aplicada em águas residuais industriais que contêm contaminantes orgânicos de difícil biodegradação (vale lembrar que nem tudo que é orgânico é biodegradável).

Na indústria alimentícia, os efluentes geralmente apresentam alta biodegradabilidade e, em sua maioria, não são tóxicos. Eles possuem características como elevado número de sólidos suspensos, alta DQO (Demanda Química de Oxigênio), alta DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), além de óleos e graxos. Para resíduos orgânicos, recomenda-se a adoção de vários tratamentos simultâneos, garantindo melhor desempenho econômico e ambiental.

Uso Racional: O Reaproveitamento da Água

Existem duas abordagens principais para economizar recursos hídricos. A primeira envolve mudanças no comportamento de consumo, incentivando a redução do desperdício. A segunda estratégia é o comércio virtual de água, que atribui valor à água presente nas commodities agrícolas. Países com escassez hídrica importam alimentos para economizar seus próprios recursos e garantir segurança alimentar sem agravar a crise hídrica local.

O reuso de água envolve o uso de efluentes tratados ou não para fins como irrigação, processos industriais e usos urbanos não potáveis. Essa prática substitui fontes convencionais e reduz a demanda sobre mananciais. No Brasil, o CONAMA nº 503/2021 exige que o reuso e reaproveitamento da água tenham registro junto ao órgão gestor de recursos hídricos. O registro inclui a identificação do produtor, a localização da origem e destino da água, a finalidade do reuso e a vazão diária utilizada.

A primeira regulamentação nacional sobre reuso foi a norma técnica NBR-13696, publicada em 1997. Essa norma foi respaldada pela Lei 9433 do mesmo ano, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e a cobrança pelo uso da água. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) reconhece o reuso como uma prática essencial para a racionalização do uso da água, conforme os princípios da Agenda 21.

Benefícios do Uso Sustentável da Água

A racionalização do uso da água permite otimizar a distribuição e garantir disponibilidade para múltiplos usuários. Essa prática ajuda a preservar fontes de melhor qualidade para usos prioritários e reduz custos para empresas e indústrias. Uma outra abordagem seria o aproveitamento da água da chuva que pode mitigar a escassez hídrica em diversas regiões. Embora tenha baixo nível de contaminação, essa água não é potável e requer tratamento adequado (o que depende de vários fatores, como poluição atmosférica do local, limpeza e manutenção adequada das calhas) antes do consumo humano.

Indicadores de Consumo de Água

Primeiramente os “indicadores de consumo de água” pertencem à categoria de gestão de água e se refere à quantidade de água usada para produzir bens e serviços, conceito conhecido como ‘pegada hídrica’. Esse indicador também considera a interação com a ecologia, avaliando a captação e o consumo de água nos produtos. Por isso, as normas têm incorporado a pegada hídrica como um critério essencial para a gestão sustentável. A NBR ISO 14046/2017, específica princípios, requisitos e diretrizes relacionados com a avaliação da pegada hídrica de produtos, processos e organizações com base na avaliação do ciclo de vida (ACV).

Na indústria, a água desempenha múltiplas funções. A água é utilizada para consumo humano, como matéria-prima, fluido auxiliar, na geração de energia e em processos térmicos de aquecimento e resfriamento. A quantidade e qualidade da água necessária varia conforme as características do setor, pois cada atividade industrial demanda diferentes níveis de pureza e volumes para manter sua produção eficiente.

Nesse contexto, os indicadores desempenham um papel essencial ao medir o volume de água consumido por cada organização. A análise da pegada hídrica permite avaliar o uso total de água ao longo da cadeia produtiva. Dessa forma, produtores e gestores podem calcular a apropriação de recursos hídricos e reduzir o consumo, além de adotar mecanismos de compensação quando há conflitos pelo uso da água ou impactos ambientais em bacias hidrográficas. 

Aplicações da Pegada Hídrica 

A pegada hídrica divide-se em três componentes: azul, verde e cinza:

  • A pegada hídrica azul relaciona-se ao consumo efetivo de água superficial e subterrânea. E isso ocorre quando há evaporação, incorporação ao produto ou quando a água não retorna à bacia de origem, fluindo para outro local ou para o oceano. Além disso, a água pode ser deslocada temporalmente, como ocorre quando é retirada durante períodos de seca e devolvida na estação chuvosa.
  • A pegada hídrica verde é um indicador do uso humano da água da chuva. A água verde refere-se àquela que se infiltra no solo ou é absorvida pela vegetação, sem contribuir diretamente para as águas subterrâneas. Esse conceito é relevante principalmente para atividades agrícolas e florestais.
  • Já a pegada hídrica cinza mede o impacto da poluição sobre a água doce, indicando o volume necessário para diluir os poluentes até atingir padrões aceitáveis de qualidade.  

Nesse sentido, a pegada hídrica é um indicador multidimensional, pois considera o consumo de água em diferentes espaços e fontes. Uma vez que ela diferencia a água do solo (pegada verde) e a água de irrigação (pegada azul). Além disso, ajuda a medir a contaminação hídrica gerada pela poluição industrial e agrícola (pegada cinza). Setores como a produção de alimentos exigem grandes volumes de água, utilizados em processos de limpeza, refrigeração e transporte de materiais.

E tudo isso torna a pegada hídrica uma ferramenta estratégica para controlar o consumo de água na indústria. Ela permite que governos, empresas e a sociedade avaliem a demanda de água em toda a cadeia produtiva e adotem políticas de gestão hídrica mais sustentáveis.

Reaproveitamento da Água: A Cultura do Desperdício

A cultura do desperdício de água é predominante tanto entre a população quanto nas corporações, onde falta conscientização sobre a preservação e sustentabilidade dos recursos hídricos. No Brasil, a água é abundante nos grandes centros urbanos, e, apesar de alguns episódios de escassez, não há preocupação generalizada com o consumo racional. A ausência de políticas públicas eficazes e a falta de engajamento da sociedade dificultam a implementação de práticas mais sustentáveis.

Com a urbanização e industrialização, a relação entre oferta e demanda de água torna-se um desafio. A escassez de água de boa qualidade é um problema crescente e um tema de interesse global. Países como Japão já incorporaram o uso consciente da água em sua cultura por meio da educação ambiental. No Brasil, há muito espaço para políticas que incentivem a participação pública nas decisões ambientais e na governança da água.

Poluição Hídrica e Necessidade de Conscientização 

A poluição da água intensifica a crise hídrica, contaminando rios e nascentes com esgotos domésticos, efluentes industriais, defensivos agrícolas e poluição difusa, geralmente causada por águas pluviais de grandes centros urbanos. O problema não está apenas na disponibilidade de água, mas na qualidade do seu uso, reuso e tratamento. Governos, indústrias e a sociedade devem unir esforços para desenvolver programas de conscientização. Além disso, é essencial investir em tecnologias de reuso e conservação da água para minimizar os impactos ambientais e reduzir os custos operacionais dos sistemas de abastecimento.

Estudos indicam que a implantação de sistemas complexos, porém eficazes, pode ser economicamente viável a longo prazo. Comparado a sistemas simples, mas ineficientes e poluentes, um modelo bem planejado evita desperdícios e reduz o descarte inadequado de efluentes. Adotar tecnologias sustentáveis e incentivar pesquisas de baixo custo são medidas essenciais para melhorar a gestão hídrica e assegurar a segurança do abastecimento.

Perspectivas para o Reaproveitamento da Água

O reaproveitamento de água é aplicado em diversas atividades, como descargas sanitárias, lavagem de pisos, irrigação, refrigeração industrial e abastecimento de caldeiras. Para ampliar essa prática, investimentos da indústria em tecnologia e infraestrutura são fundamentais. Além disso, é essencial que o governo estabeleça normas claras e objetivas para um reaproveitamento da água eficiente.

A percepção de abundância hídrica no Brasil cria a falsa ideia de que não há risco de escassez. A falta de fiscalização e de regulamentações rigorosas compromete a gestão ambiental. É importante destacar que as resoluções do CONAMA possuem caráter normativo e vinculante, enquanto as normas NBR ISO só têm força de lei quando citadas em regulamentos específicos. No entanto, os órgãos ambientais podem exigir seu cumprimento para a concessão de licenças ambientais. – contribui para a negligência no uso dos recursos hídricos. Uma análise crítica do arcabouço legal pode impulsionar políticas mais eficazes e garantir o uso sustentável da água no país que ainda tem muita negligência.

 

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