Baixe o app do Guru IA
Android e iOS

Aluno
Leia a seguinte definição de Literatura Infantil, proposta p...
Leia a seguinte definição de Literatura Infantil, proposta por Nelly Novaes Coelho, (1991):
Literatura Infantil é “abertura para a formação de uma nova mentalidade, que objetiva a educação integral da criança, propiciando-lhe a educação humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo, além de ser um instrumento de emoções, diversão ou prazer, desempenhado pelas histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro, etc., criadas pela imaginação poética, ao nível da mente infantil”.
O pôr do sol de hoje é de trombeta — disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas — "quero ver se tem saci dentro". E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas.
O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr de sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol "tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso". Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.
— Que maravilhoso fenômeno é o pôr do sol! — disse ela.
Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele "fenômeno", e resolveu encrencar.
— Por que é que se diz "pôr do sol", Dona Benta? — perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. — Que é que o Sol põe? Algum ovo?
Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta-armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso "então" da Emília.
— O Sol não põe nada, bobinha. O sol põe-se a si mesmo.
— Então ele é o ovo de si mesmo. Que graça!
Dona Benta teve a pachorra de explicar.
— “Pôr do sol" é um modo de dizer. Você bem sabe que o Sol não se põe nunca; a Terra e os outros planetas é que se movem em redor dele. Mas a impressão nossa é de que o Sol se move em redor da Terra — e portanto nasce pela manhã e põe-se à tarde.
— Estou cansada de saber disso — declarou Emília. — A minha implicância é com o tal de pôr. "Pôr" sempre foi botar uma coisa em certo lugar. A galinha põe o ovo no ninho. O Visconde põe a cartola na cabeça. Pedrinho põe o dedo no nariz.
— Mentira! — gritou Pedrinho desapontado, tirando depressa o dedo do nariz.
— Mas o Sol — continuou Emília — não põe cartola na cabeça, nem tem o péssimo costume de tirar ouro do nariz.
— É um modo de dizer, já expliquei — repetiu Dona Benta.
— Estou vendo que tudo que a gente grande diz são modos de dizer, continuou a pestinha. Isto é, são pequenas mentiras — e depois vivem dizendo às crianças que não mintam! Ah! Ah! Ah!... Os tais poetas, por exemplo. Que é que fazem senão mentir? Ontem à noite a senhora nos leu aquela poesia de Castro Alves que termina assim:
Andrada! Arranca esse pendão dos ares1
Colombo! Fecha a porta dos teus mares!
Tudo mentira. Como é que esse poeta manda o Andrada, que já morreu, arrancar uma bandeira dos ares, quando não há nenhuma bandeira nos ares, e ainda que houvesse, bandeira não é dente que se arranque? Bandeira desce-se do pau pela cordinha. E como é que esse poeta, um soldado raso, se atreve a dar ordens a Colombo, um almirante? E como é que manda Colombo fechar a "porta" dos "teus" mares, se o mar não tem porta e Colombo nunca teve mares — quem tem mares é a Terra?
Dona Benta suspirou.
— Modos de dizer, Emília. Sem esses modos de dizer, aos quais chamamos "imagens poéticas", Castro Alves não podia fazer versos.
— Mas é ou não é mentira? (LOBATO, Monteiro. A chave do Tamanho, 1942)
Sabemos que a Monteiro Lobato coube a fortuna de ser, na área da literatura infantil e juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o Brasil de hoje. Assim, sua obra mais conhecida, “O Sítio do Picapau Amarelo”, tem características inovadoras para a literatura de época e continua a ser estudada hoje por sua riqueza poética, política e pedagógica.
Sobre o trecho transcrito acima, do livro “A Chave do Tamanho”, é CORRETO afirmar:
A)
O narrador expressa coloquialidade no texto, uma linguagem inovadora para a época em que o texto foi escrito.
B)
O texto se insere na categoria de linguagem narrativa metafórica, criado pelo processo de fábula.
C)
A história tratada no texto é ambientada em espaço urbano.
D)
O narrador é um dos personagens presentes na cena, visto que, algumas vezes, refere-se aos outros personagens e/ou a suas falas com diminutivos carinhosos.
E)
O título e a figura contradizem a temática abordada no texto.
Leia a seguinte definição de Literatura Infantil, proposta por Nelly Novaes Coelho, (1991):
Literatura Infantil é “abertura para a formação de uma nova mentalidade, que objetiva a educação integral da criança, propiciando-lhe a educação humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo, além de ser um instrumento de emoções, diversão ou prazer, desempenhado pelas histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro, etc., criadas pela imaginação poética, ao nível da mente infantil”.
O pôr do sol de hoje é de trombeta — disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas — "quero ver se tem saci dentro". E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas.
O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr de sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol "tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso". Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.
— Que maravilhoso fenômeno é o pôr do sol! — disse ela.
Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele "fenômeno", e resolveu encrencar.
— Por que é que se diz "pôr do sol", Dona Benta? — perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. — Que é que o Sol põe? Algum ovo?
Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta-armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso "então" da Emília.
— O Sol não põe nada, bobinha. O sol põe-se a si mesmo.
— Então ele é o ovo de si mesmo. Que graça!
Dona Benta teve a pachorra de explicar.
— “Pôr do sol" é um modo de dizer. Você bem sabe que o Sol não se põe nunca; a Terra e os outros planetas é que se movem em redor dele. Mas a impressão nossa é de que o Sol se move em redor da Terra — e portanto nasce pela manhã e põe-se à tarde.
— Estou cansada de saber disso — declarou Emília. — A minha implicância é com o tal de pôr. "Pôr" sempre foi botar uma coisa em certo lugar. A galinha põe o ovo no ninho. O Visconde põe a cartola na cabeça. Pedrinho põe o dedo no nariz.
— Mentira! — gritou Pedrinho desapontado, tirando depressa o dedo do nariz.
— Mas o Sol — continuou Emília — não põe cartola na cabeça, nem tem o péssimo costume de tirar ouro do nariz.
— É um modo de dizer, já expliquei — repetiu Dona Benta.
— Estou vendo que tudo que a gente grande diz são modos de dizer, continuou a pestinha. Isto é, são pequenas mentiras — e depois vivem dizendo às crianças que não mintam! Ah! Ah! Ah!... Os tais poetas, por exemplo. Que é que fazem senão mentir? Ontem à noite a senhora nos leu aquela poesia de Castro Alves que termina assim:
Andrada! Arranca esse pendão dos ares1
Colombo! Fecha a porta dos teus mares!
Tudo mentira. Como é que esse poeta manda o Andrada, que já morreu, arrancar uma bandeira dos ares, quando não há nenhuma bandeira nos ares, e ainda que houvesse, bandeira não é dente que se arranque? Bandeira desce-se do pau pela cordinha. E como é que esse poeta, um soldado raso, se atreve a dar ordens a Colombo, um almirante? E como é que manda Colombo fechar a "porta" dos "teus" mares, se o mar não tem porta e Colombo nunca teve mares — quem tem mares é a Terra?
Dona Benta suspirou.
— Modos de dizer, Emília. Sem esses modos de dizer, aos quais chamamos "imagens poéticas", Castro Alves não podia fazer versos.
— Mas é ou não é mentira? (LOBATO, Monteiro. A chave do Tamanho, 1942)
Sabemos que a Monteiro Lobato coube a fortuna de ser, na área da literatura infantil e juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o Brasil de hoje. Assim, sua obra mais conhecida, “O Sítio do Picapau Amarelo”, tem características inovadoras para a literatura de época e continua a ser estudada hoje por sua riqueza poética, política e pedagógica.
Sobre o trecho transcrito acima, do livro “A Chave do Tamanho”, é CORRETO afirmar:
A) O narrador expressa coloquialidade no texto, uma linguagem inovadora para a época em que o texto foi escrito.
B) O texto se insere na categoria de linguagem narrativa metafórica, criado pelo processo de fábula.
C) A história tratada no texto é ambientada em espaço urbano.
D) O narrador é um dos personagens presentes na cena, visto que, algumas vezes, refere-se aos outros personagens e/ou a suas falas com diminutivos carinhosos.
E) O título e a figura contradizem a temática abordada no texto.