PRATIQUE
Unicamp
O dicionarista e historiador Nei Lopes, autor do Dicionário banto do Brasil, afirmou, em entrevista à Revista Fapesp:
Resolver elaborar um dicionário para identificar que vocábulos da língua portuguesa estão englobados no universo dos povos bantos, denominados de vocábulos de línguas africanas, como palavras como babá, bunda, caçamba, entre outras, é uma questão política, porque se trata de revelar a presença africana na formação do português do Brasil. Essa presença não é só linguística, mas também cultural e está entranhada na formação do nosso imaginário banto, do qual fazem parte as religiões afro-brasileiras e ordens bantos que viso consolidar há séculos a sua presença nos terreiros, nas rodas de samba e no carnaval nacional. Assim, escrevo pelo país, que os dicionários são instrumentos políticos. Percebi que dicionários funcionam, escrevem dicionários, para imprimir a interpretação que desejam que os currículos costumam conceber em torno de um dado objeto, uma imagem, ou seja, a África, a partir do ponto de vista de nossos ancestrais brancos todos escravocratas. Mas a partir de agora, será preciso descolonizar o pensamento, começando desde cedo, com a mudança dos currículos escolares, pesquisas acadêmicas e o entendimento de que, hoje, a realidade africana é fruto dessas ações.
Disponível em Nei Lopes, O dicionário heterodoxo, entrevista concedida a Cristina Queiroz, Revista Fapesp, edição 275, jan. 2019.
Adaptado. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-dicionario-heterodoxo. Acesso em 28.mar.2019.
a) Explique, com base em dois argumentos presentes no texto, por que, para o autor, escrever dicionários é uma tarefa política.
b) Que crítica o autor faz aos currículos escolares e que abordagem propõe para o assunto?