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Kaká
Desde as priscas eras do Orkut, em minhas perambulações pela...
Desde as priscas eras do Orkut, em minhas perambulações pelas redes sociais, noto o fenômeno. Entro
no perfil de uma moça e começo a olhar suas fotos: encontro-a ali ainda criança, vestida de odalisca, num
Carnaval do século 20; a vejo com seu cachorro, numa praia, recentemente; com uma turma na piscina de um
sítio, no final da adolescência; numa 3x4 com o namorado, espremida na mesma cabine, talvez numa viagem à
Europa.
Então, sem que eu me dê conta, um retrato puxa o meu olhar. Minha reação imediata, naquele
interregno mental em que as pupilas já captaram a imagem, mas o cérebro ainda não teve tempo de processá-
la, é de surpresa: como ela saiu bem nessa foto! Só um segundo depois percebo o engano: quem saiu bem não
foi a garota do perfil, mas a Penélope Cruz, Marilyn Monroe, Sarah Jessica Parker ou outra atriz famosa, cuja
imagem foi contrabandeada para aquele álbum por conta de alguma semelhança com sua dona. Olho as outras
fotos. Comparo. E da distância – às vezes menor, às vezes maior - entre a estrela de cinema e a mulher do
Facebook, surgem sentimentos contraditórios.
De início, topar com a destoante atriz me dava certa pena: afinal, por mais bonita que fosse a moça,
nunca alcançava a musa. “Será que ela acredita mesmo ser parecida com a Sharon Stone?”, eu pensava com
uma pitada de vergonha alheia, como se estivesse diante de uma pessoa incapaz de lidar com a realidade, uma
pessoa com delírios de grandeza, com delírios de beleza.
Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação óbvia de que todo perfil de rede social é um retrato
ideal de nós mesmos. Se ponho um link para um filme de Woody Allen, se cito uma frase de Nietzsche;
mesmo quando posto uma foto de um churrasco, não estou eu, também, editando-me? Tentando pegar esse
aglomerado de defeitos, qualidades, ansiedades, desejos e frustações e emoldurá-lo de modo a valorizar o
quadro – engraçado, profundo, hedonista?
Pensando bem, nem precisamos ir até o exagero das redes sociais – essa versão caricaturada de nós
mesmos. Toda vez que nos vestimos, que abrimos a boca para emitir uma opinião, toda vez que empurramos o
mundo pra baixo e o corpo pra frente, dando um passo, de peito aberto, ombros curvados, de nariz empinado
ou de olhos pro chão, estamos travando esta negociação entre o real e o ideal. Estamos enviando aos outros e a
nós mesmos a soma de nossos fardos e de nossas aspirações.
Há pobres que se vestem de ricos e ricos que se vestem de pobres, magrelos que andam de braços
arqueados, como se fossem musculosos, feiosos que entram em um restaurante crentes que são o George
Clooney e possíveis galãs e divas que, ignorantes ou culpados por suas belezas, caminham por aí mais
parecidos com Tims Burtons e Zezé de Macedos. No fim, acabamos sendo um meio-termo entre o ator e o
roteiro que tentamos escrever.
Hoje, portanto, admiro as moças que colocam fotos de belas atrizes entre as suas. Vejo ali um pouco de
ousadia, um pouco de esperança, e, acima de tudo, algo oposto ao que eu via antes: não um delírio, a tentativa
de fugir de si próprias, mas a capacidade de aceitarem-se na harmoniosa mistura entre o que são e o que
gostariam de ser.
O texto trata de um fenômeno que vem se difundindo bastante nos últimos tempos, em todas as faixas etárias.
a) Qual é esse fenômeno?
b) O narrador faz referência às "priscas eras do Orkut". Qual é a avaliação apreciativa que se revela no emprego da palavra priscas para caracterizar a rede social conhecida como Orkut?
Ao navegar nas redes sociais, o narrador entra no perfil de uma moça.
a) O que as fotos da moça retratam?
b) Que surpresa tem o narrador?
c) O narrador diz ter tido um sentimento de "vergonha alheia". Explique o sentido dessa expressão no contexto.
Diversas personalidades são mencionadas na crônica.
a) Você as conhece?
b) Que profissão elas exercem ou pelo que se tornaram conhecidas? Se não souber, pesquise.
Com base nas observações que faz, o narrador chega a uma conclusão sobre os perfis apresentados nas redes sociais.
a) Qual é a conclusão? Explique-a.
b) O que o narrador conclui quanto ao papel que têm as imagens, os pensamentos e os links de filmes em um perfil?
Durante o desenvolvimento do texto, o narrador expõe a mudança de suas reflexões acerca do assunto.
a) De acordo com o quinto e o sexto parágrafo, o confronto que ele vê entre o real e o ideal se restringe às redes sociais? Justifique sua resposta com exemplos.
b) Na afirmação "acabamos sendo um meio-termo entre o ator e o roteiro que tentamos escrever", quem é o ator? O que é o roteiro?
Desde as priscas eras do Orkut, em minhas perambulações pelas redes sociais, noto o fenômeno. Entro no perfil de uma moça e começo a olhar suas fotos: encontro-a ali ainda criança, vestida de odalisca, num Carnaval do século 20; a vejo com seu cachorro, numa praia, recentemente; com uma turma na piscina de um sítio, no final da adolescência; numa 3x4 com o namorado, espremida na mesma cabine, talvez numa viagem à Europa. Então, sem que eu me dê conta, um retrato puxa o meu olhar. Minha reação imediata, naquele interregno mental em que as pupilas já captaram a imagem, mas o cérebro ainda não teve tempo de processá- la, é de surpresa: como ela saiu bem nessa foto! Só um segundo depois percebo o engano: quem saiu bem não foi a garota do perfil, mas a Penélope Cruz, Marilyn Monroe, Sarah Jessica Parker ou outra atriz famosa, cuja imagem foi contrabandeada para aquele álbum por conta de alguma semelhança com sua dona. Olho as outras fotos. Comparo. E da distância – às vezes menor, às vezes maior - entre a estrela de cinema e a mulher do Facebook, surgem sentimentos contraditórios. De início, topar com a destoante atriz me dava certa pena: afinal, por mais bonita que fosse a moça, nunca alcançava a musa. “Será que ela acredita mesmo ser parecida com a Sharon Stone?”, eu pensava com uma pitada de vergonha alheia, como se estivesse diante de uma pessoa incapaz de lidar com a realidade, uma pessoa com delírios de grandeza, com delírios de beleza. Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação óbvia de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós mesmos. Se ponho um link para um filme de Woody Allen, se cito uma frase de Nietzsche; mesmo quando posto uma foto de um churrasco, não estou eu, também, editando-me? Tentando pegar esse aglomerado de defeitos, qualidades, ansiedades, desejos e frustações e emoldurá-lo de modo a valorizar o quadro – engraçado, profundo, hedonista? Pensando bem, nem precisamos ir até o exagero das redes sociais – essa versão caricaturada de nós mesmos. Toda vez que nos vestimos, que abrimos a boca para emitir uma opinião, toda vez que empurramos o mundo pra baixo e o corpo pra frente, dando um passo, de peito aberto, ombros curvados, de nariz empinado ou de olhos pro chão, estamos travando esta negociação entre o real e o ideal. Estamos enviando aos outros e a nós mesmos a soma de nossos fardos e de nossas aspirações. Há pobres que se vestem de ricos e ricos que se vestem de pobres, magrelos que andam de braços arqueados, como se fossem musculosos, feiosos que entram em um restaurante crentes que são o George Clooney e possíveis galãs e divas que, ignorantes ou culpados por suas belezas, caminham por aí mais parecidos com Tims Burtons e Zezé de Macedos. No fim, acabamos sendo um meio-termo entre o ator e o roteiro que tentamos escrever. Hoje, portanto, admiro as moças que colocam fotos de belas atrizes entre as suas. Vejo ali um pouco de ousadia, um pouco de esperança, e, acima de tudo, algo oposto ao que eu via antes: não um delírio, a tentativa de fugir de si próprias, mas a capacidade de aceitarem-se na harmoniosa mistura entre o que são e o que gostariam de ser.
O texto trata de um fenômeno que vem se difundindo bastante nos últimos tempos, em todas as faixas etárias. a) Qual é esse fenômeno? b) O narrador faz referência às "priscas eras do Orkut". Qual é a avaliação apreciativa que se revela no emprego da palavra priscas para caracterizar a rede social conhecida como Orkut? Ao navegar nas redes sociais, o narrador entra no perfil de uma moça. a) O que as fotos da moça retratam? b) Que surpresa tem o narrador? c) O narrador diz ter tido um sentimento de "vergonha alheia". Explique o sentido dessa expressão no contexto. Diversas personalidades são mencionadas na crônica. a) Você as conhece? b) Que profissão elas exercem ou pelo que se tornaram conhecidas? Se não souber, pesquise. Com base nas observações que faz, o narrador chega a uma conclusão sobre os perfis apresentados nas redes sociais. a) Qual é a conclusão? Explique-a. b) O que o narrador conclui quanto ao papel que têm as imagens, os pensamentos e os links de filmes em um perfil? Durante o desenvolvimento do texto, o narrador expõe a mudança de suas reflexões acerca do assunto. a) De acordo com o quinto e o sexto parágrafo, o confronto que ele vê entre o real e o ideal se restringe às redes sociais? Justifique sua resposta com exemplos. b) Na afirmação "acabamos sendo um meio-termo entre o ator e o roteiro que tentamos escrever", quem é o ator? O que é o roteiro?