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Jake
CAPÍTULO II O emplasto Com efeito, um dia de manhã, es...
CAPÍTULO II
O emplasto
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se- me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possí vel crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, esten- deu os braços e as pernas, até tomar a forma de um x: decifra-me ou devoro-te Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento subli me, un emplasto anti-hipocondriaco, destinado a aliviar a nossa melan- cólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mos- tradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do re remédio, estas trës palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do ar- ruido, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguan esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis.
Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos:-amor da glória.
Um tio meu, conego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de in- fantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuina feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.
(530 Paulo: Globo, 2008. p. 43-4)
- Alegoria é um modo de expressão que utiliza imagens, figuras, objetos, animais, etc. para representar uma ideia. No início do texto, Brás Cubas emprega urna alegoria para descrever a maneira como se deu a ideia do emplasto anti-hipocondriaco.
a. Em que consiste essa alegoria?
b. Que efeito de sentido o emprego dessa alegoria cría no texto? Explique.
c. No final do primeiro parágrafo, Brás Cubas emprega outra imagem: "[a ideia] esten- deu os braços e as pernas, até tomar a forma de um x: decifra-me ou devoro-te"
Nesse contexto, o que essa imagem representa?
- A prosa realista retrata os traços psicológicos das personagens, explorando seus an- seios, contradições, desejos, reflexões, etc.
a. O que Brás Cubas desejava, verdadeiramente, obter com seu emplasto? Esse dese- jo revela quais traços de caráter da personagem? Justifique sua resposta com ele- mentos do texto.
CAPÍTULO II
O emplasto
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se- me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possí vel crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, esten- deu os braços e as pernas, até tomar a forma de um x: decifra-me ou devoro-te Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento subli me, un emplasto anti-hipocondriaco, destinado a aliviar a nossa melan- cólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mos- tradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do re remédio, estas trës palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do ar- ruido, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguan esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis.
Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos:-amor da glória.
Um tio meu, conego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de in- fantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuina feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.
(530 Paulo: Globo, 2008. p. 43-4)
- Alegoria é um modo de expressão que utiliza imagens, figuras, objetos, animais, etc. para representar uma ideia. No início do texto, Brás Cubas emprega urna alegoria para descrever a maneira como se deu a ideia do emplasto anti-hipocondriaco.
a. Em que consiste essa alegoria?
b. Que efeito de sentido o emprego dessa alegoria cría no texto? Explique.
c. No final do primeiro parágrafo, Brás Cubas emprega outra imagem: "[a ideia] esten- deu os braços e as pernas, até tomar a forma de um x: decifra-me ou devoro-te"
Nesse contexto, o que essa imagem representa?
- A prosa realista retrata os traços psicológicos das personagens, explorando seus an- seios, contradições, desejos, reflexões, etc.
a. O que Brás Cubas desejava, verdadeiramente, obter com seu emplasto? Esse dese- jo revela quais traços de caráter da personagem? Justifique sua resposta com ele- mentos do texto.