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ENSINO A DISTÂNCIA MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Copyright 2021 by Editora Faculdade Avantis Direitos de publicação reservados à Editora Faculdade Avantis e ao Centro Universitário Avantis UNIAVAN Av Marginal Leste 3600 Bloco 1 88339125 Balneário Camboriú SC editoraavantisedubr Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10994 de 14 de dezembro de 2010 Nenhuma parte pode ser reproduzida transmitida ou duplicada sem o consentimento da Editora por escrito O Código Penal brasileiro determina no art 184 dos crimes contra a propriedade intelectual Projeto gráfico e diagramação Ana Lúcia Dal Pizzol Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca do Centro Universitário Avantis UNIAVAN Maria Helena Mafioletti Sampaio CRB 14 276 CDD 21ª ed 61601 Microbiologia Fundamentos básicos Savi Daiani S267m Microbiologia parasitologia e imunologia EAD Caderno pedagógico Daiani Savi Balneário Camboriú Faculdade Avantis 2021 139 p il Inclui Índice ISBN 9786559011476 ISBNe 9786559011520 1 Microbiologia Fundamentos básicos 2 Parasitologia 3 Sistema imunológico humano 4 Vacinas e mecanismos de imunização 5 Microbiologia Ensino a Distância I Centro Universitário Avantis UNIAVAN II Título PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DA DISCIPLINA Reconhecer os fundamentos básicos da Microbiologia Analisar as principais características da Parasitologia Humana Identificar as características morfológicas fisiológicas e genéticas dos organismos Conhecer os mecanismos imunológicos de proteção contra as patogenias nas doenças infecciosas e parasitárias O PAPEL DA DISCIPLINA PARA A FORMAÇÃO DO ESTUDANTE Seja muito bemvindoa à disciplina de Microbiologia Parasitologia e Imunologia Para estudantes e profissionais da área da saúde é imprescindível entender os processos biológicos envolvidos em infecções assim como os mecanismos utilizados pelo nosso Sistema Imune para combatêlas As atividades as quais serão realizadas ao longo da disciplina buscam desenvolver a capacidade de análise e resposta crítica perante situações que necessitem de conhecimentos básicos de microbiologia parasitologia e imunologia em diferentes áreas de nossa sociedade Com este entendimento será possível reconhecer os principais tipos de infecções assimilando como são transmitidas os mecanismos de profilaxia os possíveis tratamentos e também a prevenção No campo da Imunologia você terá o conhecimento sobre como nosso Sistema Imunológico reage diante das infecções microbiológicas e parasitárias e de que modo funcionam os mecanismos de imunização com as vacinas PROFESSORA APRESENTAÇÃO DA AUTORA DAIANI SAVI Pósdoutorado em Farmácia pela Universidade de Kentucky 2017 e em Genética pela Universidade Federal do Paraná UFPR 20152020 Doutora 20112015 e Mestre 20102011 em Microbiologia Parasitologia e Patologia pela UFPR Biomédica com habilitação em Patologia Clínica pela Universidade Paranaense UNIPAR 2007 Possui experiência em Microbiologia e Parasitologia Atualmente é tutora do curso de Biomedicina da Faculdade Avantis no polo de Joinville Lattes httplattescnpqbr4248513854738310 SUMÁRIO UNIDADE 1 MORFOLOGIA FISIOLOGIA GENÉTICA E CULTIVO DE MICRORGANISMOS VÍRUS BACTÉRIAS E FUNGOS E PROCEDIMENTOS PARA CONTROLE DE POPULAÇÕES MICROBIANAS 11 INTRODUÇÃO À UNIDADE 12 11 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 12 12 BACTÉRIAS 13 121 Morfologia e Genética Bacteriana 14 1211 Parede Celular 16 1212 Coloração de Gram 18 1213 Membrana Plasmática 19 1214 Citoplasma 20 1215 Nucleoide 21 1216 Ribossomos 21 1217 Estruturas Externas à Parede Celular 22 1218 Esporos 23 122 Crescimento e Fisiologia Bacteriana 24 123 Divisão Bacteriana 26 124 Fases do Crescimento 26 125 Controle do Crescimento Microbiano 27 126 Ações dos Agentes de Controle Microbiano 28 127 Métodos Físicos de Controle Microbiano29 128 Métodos Químicos de Controle Microbiano 30 13 FUNGOS 31 131 Morfologia 32 132 Crescimento Genética e Fisiologia 34 133 Posição Sistemática dos Fungos 35 14 VÍRUS 38 141 Morfologia Viral 39 142 Crescimento Genética e Fisiologia 41 143 Transmissão Viral 44 144 Infecção Viral 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46 EXERCÍCIO FINAL 47 REFERÊNCIAS 48 UNIDADE 2 RELAÇÃO PARASITOHOSPEDEIRO E PRINCIPAIS ASPECTOS DAS PARASITOSES CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS HELMINTOS E ARTRÓPODES 49 INTRODUÇÃO À UNIDADE 50 21 RELAÇÃO PARASITOHOSPEDEIRO 51 22 PROTOZOÁRIOS 52 221 Parasitoses Intestinais 53 2211 Giardia lamblia 53 2212 Entamoeba 55 222 Parasitoses Sanguíneas ou Sistêmicas 56 2221 Doença de Chagas Trypanosoma cruzi 56 2222 Leishmanioses Leishmania sp 59 2223 Malária Plasmodium sp 60 2224 Toxoplasmose Toxoplasma gondii 64 23 HELMINTOS 67 231 Teníase e Cisticercose Taenia solium e Taenia saginata 67 232 Esquistossomose Schistosoma mansoni 71 233 Ascaridíase Ascaris lumbricoides 73 234 Enterobiose Enterobius vermiculares 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77 EXERCÍCIO FINAL 78 REFERÊNCIAS 80 UNIDADE 3 INTRODUÇÃO À IMUNOLOGIA E RESPOSTA IMUNE 81 INTRODUÇÃO À UNIDADE 82 31 CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNE 83 311 Leucócitos e Células de Defesa 84 32 RESPOSTA IMUNE 86 321 Imunidade Inata 86 3211 Barreiras Físicas e Químicas 87 322 Imunidade Adaptativa 93 33 IMUNIDADE E VACINAÇÃO 102 331 Imunidade Natural 103 332 Imunidade Passiva 103 333 Vacinas 104 334 Práticas de Imunização 105 CONSIDERAÇÕES FINAIS 106 EXERCÍCIO FINAL 107 REFERÊNCIAS 109 UNIDADE 4 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE E DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO 111 INTRODUÇÃO À UNIDADE 112 41 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE 113 411 Reação de Hipersensibilidade Tipo I 113 412 Reação de Hipersensibilidade Tipo II 115 413 Reação de Hipersensibilidade Tipo III 118 414 Reação de Hipersensibilidade Tipo IV 119 42 DIANÓSTICO IMUNOLÓGICO 120 421 Reações de Precipitação 121 422 Separação Eletroforética122 423 Técnicas que usam Dispersão da Luz 124 424 Reações de Aglutinação 125 425 Ensaios utilizando Marcadores Fluorescentes 127 426 Ensaios de Imunohistoquímica 130 427 Ensaios Baseados em Marcadores Reativos 130 428 Ensaios Luminescentes 131 428 Ensaios com Marcadores Enzimáticos Enzimaimunoensaio 132 429 Ensaios Baseados em Imunoeletrotransferência 134 4210 Imunocromatografia 134 CONSIDERAÇÕES FINAIS 136 EXERCÍCIO FINAL 137 REFERÊNCIAS 139 1 UNIDADE MORFOLOGIA FISIOLOGIA GENÉTICA E CULTIVO DE MICRORGANISMOS VÍRUS BACTÉRIAS E FUNGOS E PROCEDIMENTOS PARA CONTROLE DE POPULAÇÕES MICROBIANAS 12 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA INTRODUÇÃO À UNIDADE Seja bemvindoa ao fascinante mundo da microbiologia no qual você aprenderá sobre criaturas tão pequenas que não podem ser vistas a olho nu embora sejam incrivelmente versáteis Você sabia que seu corpo contém mais células bacterianas do que células humanas E que há trilhões de bactérias à sua volta É verdade Trilhões de bactérias vírus e fungos habitam o nosso organismo e manter uma relação boa e balanceada com eles só nos traz vantagens Na pele os microrganismos podem estimular o Sistema Imunológico na boca eles podem refrescar o hálito ou não e o fundamental é que os nossos ecossistemas pessoais interagem com os ecossistemas de tudo o que tocamos Então por exemplo quando se toca um cachorro ocorre a troca de microrganismos Na Unidade 1 descobriremos os efeitos destes minúsculos seres no nosso cotidiano e no meio ambiente em que vivemos e também por que conhecêlos é de grande importância para os profissionais da área da saúde pois alguns deles são nossos amigos enquanto outros inimigos A microbiologia serve de base para entender os microrganismos a fim de que melhor se compreenda a vida Os principais objetivos de aprendizagem desta unidade são conhecer as bactérias seu tamanho e sua morfologia diferenciar bactérias Grampositivas de Gramnegativas e conhecer os fungos e os vírus bem como suas principais características 11 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA O planeta é composto por milhares de seres vivos os quais têm em comum serem formados por células que são a unidade fundamental da vida Há dois tipos de células as Células Procariontes que foram as primeiras a surgirem na Terra e apresentam uma estrutura mais simplificada sem organelas nem núcleo constituindo as bactérias e as Células Eucariontes que compõem a maioria dos seres vivos como protozoários 13 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA plantas fungos e animais A grande pergunta é o que é Microbiologia A palavra Microbiologia deriva do grego mikros pequeno bios vida e logos ciência sendo a ciência que estuda os microrganismos e sua relação com o ambiente e corpo humano TORTORA et al 2017 Assim o estudo da microbiologia visa entender bactérias fungos vírus entre outros microrganismos microscópicos É de extrema importância conhecermos as características morfológicas bioquímicas metabolismo fisiológicas necessidades nutricionais específicas e condições necessárias para crescimento e reprodução e genéticas material nucleico e forma de reprodução dos microrganismos além da relação dos microrganismos com seu hospedeiro potencial de patogenicidade e classificação taxonômica dos microrganismos para saber identificálos manipulálos e também controlar seu crescimento SUGESTÃO DE VÍDEO Quer compreender um pouco mais sobre a História da Microbiologia Acesse o link e confira httpswwwyoutubecomwatchvuMdBrOed4u AlistPL711S5tSWyEcVt9hhQ8iyBOFcSo60dV 12 BACTÉRIAS As bactérias são organismos procariotos ou seja não possuem núcleo e nem organela envolta por membrana além de serem organismos unicelulares Possuem uma região nuclear onde se encontra seu material de núcleo que é formado por DNA dupla fita em forma circular BROOKS et al 2014 Acreditase que as bactérias sejam os seres vivos mais antigos na Terra Elas existem há bilhões de anos e em sua maioria são seres microscópicos que ocupam uma ampla 14 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA variedade de nichos ecológicos Apesar de algumas serem relacionadas a processos patológicos as bactérias atuam de forma benéfica ao nosso organismo agindo na maturação do Sistema Imune na digestão de alimentos e formando nossa microbiota disputando espaço e nutrientes com microrganismos patogênicos SUGESTÃO DE VÍDEO Acesse o link e confira um breve vídeo falando sobre as bactérias https wwwyoutubecomwatchvWqrkP7QTDQQ 121 Morfologia e Genética Bacteriana Existe um grande número de bactérias no ambiente Para que uma bactéria seja diferenciada da outra diversos parâmetros devem ser analisados como aspectos morfológicos composição química necessidades nutricionais atividades bioquímicas e fisiológicas A maior parte das bactérias são seres incrivelmente pequenos ou seja é necessário ter um microscópio para vêlas medindo entre 02 μm a 50 μm de diâmetro e de 2 μm a 8 μm de comprimento Quanto à morfologia existem três formas morfológicas básicas cocos bacilos e espirilos as quais podem ser observadas na Figura 1 Os cocos possuem formato esférico ou ovalado os bacilos possuem formato cilíndrico e os espirilos apresentam formas espiraladas BROOKS et al 2014 15 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 1 Formas Bacterianas Fonte Shutterstock 2021 Ao se multiplicarem as bactérias podem permanecer livres ou unidas e os arranjos formados a partir desta união são utilizados para a classificação bacteriana Usemos como exemplo os cocos aqueles que permanecem aos pares são denominados diplococos os que ficam ligados em cadeia dividindose em um único plano são denominados estreptococos os que se dividem em dois planos formam grupos em formato de cubo e são denominados de tétrades já aqueles que se dividem em múltiplos planos são chamados de estafilococos apresentando formato de cacho de uva Os bacilos como se dividem somente ao longo do seu eixo curto formam estruturas em cadeia sendo caracterizados como diplobacilos ou estreptobacilos TORTORA et al 2017 SAIBA MAIS Que tal entender um pouco mais sobre a Morfologia bacteriana Acesse o link httpswwwyoutubecomwatchvei6Z7orCpPk 16 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Como já mencionado anteriormente as bactérias são seres procariotos sendo desprovidas de membrana nuclear e também de organelas envoltas por membranas como mitocôndrias complexo de Golgi etc Nos próximos subitens apresentaremos os principais componentes bacterianos 1211 Parede Celular A parede celular está localizada externamente à membrana plasmática possuindo função de proteção e conexão da bactéria com o ambiente É a parede celular que determina a forma bacterina embora algumas bactérias como os Micoplasmas não apresentem esta estrutura Elas são chamadas de bactérias móveis tendo capacidade de locomoção devido à presença de flagelos para os quais a parede celular serve de ancoragem A parede celular tem importância clínica uma vez que é usada para a diferenciação bacteriana e também é alvo de alguns antibióticos como a penicilina A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromolecular denominada peptideoglicano O peptideoglicano por sua vez é formado por cadeias de dissacarídeo repetitivo de Nacetilglicosamina NAG e ácido Nacetilmurâmico NAM ligadas por polipeptídeos Moléculas alternadas de NAM e NAG são ligadas em filas de 10 a 65 açúcares e formam a porção glicana do peptideoglicano As filas adjacentes são ligadas por polipeptídeos a porção peptídica de peptideoglicano Apesar de alguma variação na estrutura da porção peptídica ela sempre inclui cadeias laterais de tetrapeptídeos ligados ao NAM no esqueleto de açúcares Os aminoácidos pertencentes à porção peptídica ocorrem em um padrão alternado de formas D e L As paredes celulares das células bacterianas não são estruturas homogêneas pois apresentam camadas de diferentes substâncias que podem variar de acordo com o tipo de bactéria diferindo em espessura e em composição Um dos aspectos iniciais da classificação bacteriana é a diferença quanto à coloração de Gram permitindo a divisão das bactérias em dois grandes grupos Grampositivas e Gramnegativas com base na estrutura da parede celular das mesmas TORTORA et al 2017 17 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Parede Celular de Grampositivas É composta por uma camada espessa de peptideoglicano em contraste com as gramnegativas que contêm somente uma camada fina de peptideoglicano Além do peptideoglicano a parede celular das bactérias grampositivas também contêm ácidos teicoicos que consistem principalmente de um álcool como o glicerol ou ribitol e fosfato Figura 2 9 Parede Celular de Gramnegativas Possui uma camada fina de peptideoglicano porém apresenta uma membrana externa à parede celular O espaço entre a membrana externa e a membrana celular onde se encontra o peptideoglicano é denominado periplasma No periplasma encontrase um grande número de enzimas responsáveis pela degradação de diversos componentes incluindo antibióticos Fazendo parte da membrana externa da célula gramnegativa está o lipopolissacarídeo LPS O LPS é composto pelo lipídeo A cerne polissacarídico e um polissacarídeo O A porção do lipídeo A é uma endotoxina bacteriana que é liberada quando ocorre a lise da bactéria levando a quadros febris dilatação de vasos venosos choque e formação de coágulos sanguíneos O polissacarídeo O atua como um antígeno sendo utilizado para diferenciar espécies de bactérias gramnegativas Por não possuírem ácidos teicoicos as bactérias gramnegativas são mais susceptíveis a rupturas que as bactérias grampositivas MURRAY et al 2009 Figura 2 Paredes Celulares de Bactérias Gramnegativas e Grampositivas Fonte Shutterstock 2021 18 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 1212 Coloração de Gram A coloração de Gram possibilita diferenciar as bactérias com base nas diferenças das propriedades químicas e físicas da parede celular Este método de coloração foi desenvolvido em 1884 pelo médico dinamarquês Christian Gram O passo a passo para a coloração é 1 Fazer um esfregaço com a cultura bacteriana em uma lâmina 2 Cobrir o esfregaço com o corante violetademetila e deixar agir por 1 minuto 3 Escorrer o corante e lavar a lâmina com água corrente 4 Cobrir o esfregaço com lugol diluído 120 e deixar agir por aproximadamente 1 minuto 5 Escorrer o lugol e lavar a lâmina com água corrente 6 Adicionar álcool etílico 995º GL sobre a lâmina descorandoa até que não desprenda mais corante 7 Lavar a lâmina em um filete de água corrente 8 Cobrir a lâmina com safranina e deixar agir por aproximadamente 30 segundos 9 Lavar com um filete de água corrente 10 Deixar a lâmina secar ao ar livre e visualizar em microscópio utilizando a objetiva de imersão 100 X 9 Interpretando a Técnica O corante violetademetila cora tanto as células grampositivas quanto as gram negativas de roxo pois tem capacidade de passar por ambas as paredes e chegar no citoplasma O lugol se liga ao violetademetila formando cristais os quais são muito grandes para passar pela parede celular A aplicação do álcool atua desidratando o peptideoglicano das células grampositivas e torna as mesmas impermeáveis ao cristal violetaiodo Já nas células gramnegativas o álcool dissolve a membrana externa além de causar poros na fina camada de peptideoglicano Assim o cristal violetaiodo sai da célula deixando as bactérias gramnegativas incolores após a lavagem com álcool Neste sentido o corante safranina torna as células gramnegativas corderosa Embora 19 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA as células grampositivas e gramnegativas absorvam a safranina a coloração rosa da safranina é mascarada pelo corante roxoescuro previamente absorvido pelas células grampositivas TRABULSI 2004 1213 Membrana Plasmática A membrana plasmática também chamada de membrana citoplasmática ou membrana interna está localizada na porção interior da parede celular delimitando o citoplasma A composição da membrana plasmática é principalmente uma bicamada de fosfolipídios e alguns carboidratos e proteínas As cabeças polares dos fosfolipídios formadas pelo grupo fosfato e glicerol estão nas duas superfícies da bicamada lipídica enquanto as caudas apolares formadas por ácidos graxos estão no interior da bicamada A fração proteica da membrana plasmática tem diversas funções Proteínas periféricas estão localizadas na superfície da membrana atuando principalmente de forma estrutural e como enzimas Proteínas integrais penetram a membrana completamente e elas podem ser chamadas de proteínas transmembranas Algumas proteínas integrais possuem poros pelos quais substâncias podem entrar e sair da célula MURRAY et al 2009 A membrana plasmática desempenha diversas funções dentre elas a produção de energia pela fosforilação oxidativa uma vez que células procariotas não possuem mitocôndrias Entre as principais funções da membrana plasmática está a permeabilidade seletiva através da qual os materiais entram e saem da célula por possuírem permeabilidade seletiva ou seja apenas certas moléculas e íons são capazes de passar através da membrana plasmática Os materiais se movem através da membrana por processos passivos e ativos Nos processos passivos ocorre a passagem de sustâncias de uma área de alta concentração para uma área de baixa concentração não havendo gasto de energia Já nos processos ativos acontece a passagem de substâncias de uma área de baixa concentração para área de alta concentração isto é contra o gradiente de concentração o que exige gasto de energia Dentre os processos passivos estão a difusão simples a difusão facilitada e a osmose O transporte ativo normalmente ocorre de fora para dentro da célula e depende 20 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA de proteínas transportadoras sendo que parece ter um transportador diferente para cada substância ou grupo de substâncias relacionadas Um exemplo de transporte ativo exclusivo de procariotos é a translocação de grupo onde a substância é alterada quimicamente durante o transporte através da membrana Uma vez que a substância seja alterada e esteja dentro da célula a membrana plasmática se torna impermeável a ela impedindo a saída da mesma que permanece dentro da célula TORTORA et al 2017 SUGESTÃO DE VÍDEO Para saber mais sobre transporte através da membrana acesse o link e assista ao vídeo httpswwwyoutubecomwatchvp5DJanknzWwabchannelMar celoFNC 1214 Citoplasma Citoplasma é o termo usado para designar a substância gelatinosa que está localizada no interior da membrana plasmática É composto principalmente por água proteínas carboidratos lipídeos e íons Por não possuírem membrana nuclear as células procariotas têm em seu citoplasma uma área nuclear denominada Nucleoide na qual está localizado o DNA bacteriano No citoplasma também estão dispersos ribossomos e inclusões que servem como reservas de substâncias necessárias para a célula BROOKS et al 2014 21 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 1215 Nucleoide Nucleoide é onde se localiza o cromossomo bacteriano que é composto por uma molécula única e circular de DNA fita dupla Diferente dos eucariotos o DNA bacteriano não está associado a histonas O cromossomo bacteriano carrega todas as informações indispensáveis para a formação das estruturas e o crescimento bacteriano O cromossomo bacteriano está fixado à membrana plasmática a qual coordena a replicação do DNA e a segregação do cromossomo para as célulasfilhas durante a divisão celular Além do cromossomo bacteriano algumas bactérias adquirem material genético externo denominados de plasmídeos Este material genético extracromossômico não é indispensável para a sobrevivência bacteriana no entanto confere às bactérias capacidades extras principalmente para a sobrevivência em ambientes hostis como na presença de antibióticos ou metais pesados Os plasmídeos são transmitidos de uma célula para outra através de um processo chamado de conjugação MURRAY et al 2009 1216 Ribossomos Os Ribossomos são estruturas em que ocorre a síntese proteica Células em crescimento ou divisão apresentam altas taxas de síntese proteica e por isso possuem milhares de ribossomos em seu citoplasma Os ribossomos são compostos de duas subunidades cada qual consistindo de proteína e de um tipo de RNA denominado RNA ribossômico rRNA Os ribossomos de procariotos diferem dos ribossomos de eucariotos em estrutura e tamanho O ribossomo bacteriano é formado por uma subunidade 30S a qual é composta por uma molécula de rRNA e uma subunidade maior 50S contendo duas moléculas de Rrna Quando as duas subunidades se associam formam uma estrutura 70S O ribossomo bacteriano 70S difere do ribossomo eucariótico 80S A letra S é referente às unidades Svedberg que indicam a velocidade relativa de sedimentação durante a centrifugação 22 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA em alta velocidade Vários antibióticos inibem a síntese proteica nos ribossomos procarióticos Antibióticos como a estreptomicina e a gentamicina fixamse à subunidade 30S Outros antibióticos como a eritromicina e o cloranfenicol interferem na síntese proteica pela fixação à subunidade 50S Devido às diferenças nos ribossomos procarióticos e eucarióticos a célula microbiana pode ser morta pelo antibiótico enquanto a célula do hospedeiro eucariótico permanece intacta TORTORA et al 2017 1217 Estruturas Externas à Parede Celular Os procariotos possuem diversas estruturas que estão localizadas externamente à parede celular entre as quais se incluem glicocálice flagelos filamentos fímbrias e pili Glicocálice é um polímero viscoso e gelatinoso composto por polissacarídeos e polipeptídeos que é secretado e envolve as células procarióticas Quando o glicocálice é organizado e está firmemente aderido à parede celular recebe o nome de cápsula A cápsula tem grande importância para a resistência bacteriana à fagocitose pelas células de defesa do hospedeiro Já quando o glicocálice não é firmemente aderido à parede será chamado de camada viscosa a qual contribui fortemente para a formação dos biofilmes bacterianos como acontece na cárie Flagelos estruturas especializadas para locomoção estão presentes em bactérias móveis São estruturas helicoidais semirrígidas que movem a célula por rotação À medida que os flagelos giram formam um feixe o qual empurra o líquido circundante e propele a bactéria processo este dependente de energia A movimentação celular depende de estímulos atrativos e repulsivos os quais são denominados de taxia Assim a célula bacteriana é capaz de se mover em direção a um ambiente favorável ou para longe de um ambiente adverso Os estímulos são recebidos por receptores em várias localizações na célula que em resposta encaminham a informação aos flagelos para direcionarem a migração bacteriana 23 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Filamentos Axiais são estruturas utilizadas pelas espiroquetas para sua movimentação Os filamentos axiais são feixes de fibrilas que se originam nas extremidades das células sob uma bainha externa e formam um espiral em torno da célula A rotação dos filamentos produz um movimento da bainha externa que faz com que a bactéria se mova como se fosse um sacarolhas Fímbrias e Pili estão presentes principalmente em bactérias gramnegativas São mais curtos retos e finos que os flagelos tendo a função de fixação e transferência de plasmídeos respectivamente As fímbrias podem variar em número de algumas unidades a muitas centenas por célula e estão relacionadas à formação do biofilme Já o pili normalmente é único ou em par na célula Ele faz contato com a superfície ou com outras células então retraise e aproxima as células para a passagem de material genético TRABULSI 2004 1218 Esporos Algumas bactérias principalmente grampositivas têm capacidade de formar endósporos em condições adversas quando os nutrientes como fontes de carbono e nitrogênio são escassos Dois gêneros possuem grande importância clínica devido a esta habilidade Bacillus e Clostridium que causam entre outras patologias o antraz e o botulismo Os endósporos são estruturas metabolicamente inativas mas que carregam o DNA ribossomos e outros componentes bacterianos essenciais A importância clínica dos esporos reside em sua extraordinária resistência ao calor e a compostos químicos Em condições de estresse uma célula vegetativa será utilizada para a formação do esporo em um processo denominado esporulação Na parte mais externa do esporo encontrase um envoltório proteico abaixo dele temos um corpo de peptideoglicano formando o córtex e no interior do córtex encontrase o cerne composto por parede membrana citoplasmática citoplasma nucleoide ribossomos e ácido dipicolínico necessário para a estabilização do DNA emergidos em uma concentração muito baixa de água TORTORA et al 2017 24 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 122 Crescimento e Fisiologia Bacteriana Diferente de seres superiores o crescimento bacteriano se refere ao aumento no número de células e não no tamanho das mesmas Para que este processo ocorra diferentes fatores de crescimento são necessários entre os quais estão fatores físicos e químicos Os fatores físicos incluem temperatura pH e pressão osmótica Os fatores químicos incluem fontes de carbono nitrogênio enxofre fósforo oxigênio elementos traços e fatores orgânicos de crescimento a Fatores Físicos Temperatura a maioria das bactérias de importância clínica cresce em temperatura ideal próxima à temperatura do corpo humano No entanto alguns microrganismos podem crescer em temperaturas extremas como em icebergs ou vulcões Assim as bactérias e outros microrganismos são classificados com base na temperatura em que crescem em três grupos psicrófilos crescem em temperaturas baixas mesófilos crescem em temperaturas moderadas e os termófilos crescem em temperaturas elevadas No entanto cada bactéria apresenta uma temperatura de crescimento mínima ótima e máxima específica A temperatura mínima de crescimento é a menor temperatura na qual a espécie pode crescer a temperatura ótima é aquela em que a espécie apresenta crescimento máximo e a temperatura máxima é a maior temperatura na qual o microrganismo é capaz de crescer pH a maioria das bactérias cresce melhor em uma faixa estreita de pH perto da neutralidade entre pH 65 e 75 Algumas bactérias chamadas de acidófilas crescem em pH ácido abaixo de 4 Quando bactérias são cultivadas no laboratório com frequência elas produzem ácidos que às vezes interferem no seu próprio crescimento por acidificar muito o pH sendo adicionadas soluções tampões nos meios de cultura Pressão Osmótica os microrganismos requerem água para o crescimento e 25 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA sua composição é de 80 a 90 de água Assim pressões osmóticas elevadas podem levar à remoção de água de dentro da célula e impedir assim o crescimento bacteriano Esta é a base para a conservação de alimentos pela adição de sais e açúcares No entanto alguns microrganismos chamados de halófilos extremos são tão adaptados a concentrações elevadas de sais que acabam de fato requerendo sua presença para ocorrer seu crescimento como os que crescem no Mar Morto Porém a maioria das bactérias cresce em meio constituído quase que somente de água MURRAY et al 2009 b Fatores Químicos Carbono é o esqueleto estrutural da matéria orgânica que constitui as células vivas ocupando metade do peso seco de uma bactéria Existem diferentes fontes de carbono que as bactérias podem utilizar bactérias quimioheterotróficas obtêm a maior parte de seu carbono e energia da decomposição de matéria orgânica carboidratos lipídios e proteínas já bactérias quimioautotróficas e fotoautotróficas obtêm carbono do dióxido de carbono Nitrogênio Enxofre e Fósforo são necessários para a síntese de proteínas e material nucleico DNA e RNA assim como a energia em forma de ATP O nitrogênio ocupa 14 do peso seco da célula enquanto o enxofre e o fósforo aproximadamente 4 Elementos traços são elementos que as bactérias requerem em quantidades muito pequenas Ex ferro cobre zinco etc mas que são indispensáveis para o seu crescimento Oxigênio apesar de pensarmos no oxigênio como um elemento necessário para a vida algumas bactérias não conseguem crescer na presença deste elemento Assim as bactérias são classificadas como aeróbias utilizam o oxigênio molecular e anaeróbias não toleram oxigênio Ainda existem bactérias que conseguem crescer na presença ou ausência de oxigênio as quais são denominadas de anaeróbias facultativas TORTORA et al 2017 26 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 123 Divisão Bacteriana As bactérias normalmente se reproduzem por fissão binária mas algumas podem se reproduzir por brotamento O tempo necessário para a divisão de uma bactéria em duas é chamado tempo de geração Assim o número de células em cada geração é expresso na potência de 2 cujo expoente reflete o número de duplicações gerações que ocorreram O tempo de geração varia consideravelmente entre os organismos e com as condições ambientais embora na maioria das bactérias tenha variação de 1 a 3 horas Algumas bactérias têm tempo de geração de aproximadamente 30 minutos como a Escherichia coli e outras requerem mais de 24 horas por geração como as bactérias do gênero Mycobacterium 124 Fases do Crescimento Quando uma bactéria é inoculada colocada em um novo meio de cultivo podemos dividir o crescimento bacteriano em quatro fases distintas Fase Lag Fase Log Fase Estacionária e Fase de Morte Celular Figura 3 Fase Lag é também conhecida como fase adaptativa na qual ocorre pouco crescimento celular pois a população passa por uma intensa atividade metabólica para adaptação ao novo meio e para iniciar o crescimento celular Fase Log a bactéria passa por intensa divisão celular ou seja entra em um período de crescimento com aumento logarítmico Fase Estacionária é designada por um grande número de divisão e morte celular sendo que o número de mortes microbianas é equivalente ao número de células novas não apresentando grandes mudanças no número de bactérias viáveis Fato que se deve principalmente pelo esgotamento dos nutrientes acúmulo de resíduos e mudanças no pH danosas à célula 27 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Fase de Morte Celular é quando o número de mortes ultrapassa o número de novas células e a população entra em declínio BROOKS et al 2014 Figura 3 Curva de Crescimento Bacteriano Fonte Shutterstock 2021 125 Controle do Crescimento Microbiano Para entendermos o controle do crescimento bacteriano primeiramente precisamos entender alguns termos em especial o termo esterilização que se refere à remoção ou à destruição de todas as formas de vida microbiana Ainda hoje o aquecimento é o método mais comumente utilizado para controlar e matar bactérias incluindo as formas esporuladas Entre os equipamentos mais utilizados estão a autoclave e fornos de esterilização No entanto a esterilização completa pode não ser necessária e sim a destruição de bactérias altamente patogênicas uma vez que as defesas normais do corpo podem eliminar alguns microrganismos Um copo ou um garfo em um restaurante necessita apenas de um controle microbiano suficiente para prevenir a transmissão de microrganismos possivelmente patogênicos de uma pessoa para outra BROOKS et al 2014 O controle microbiano voltado à destruição de microrganismos patogênicos é chamado de desinfecção podendo ser realizado com a utilização de substâncias 28 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA químicas radiação ultravioleta água fervente ou vapor Se o ambiente que deseja ser desinfetado é um tecido vivo o termo a ser empregado é antissepsia e o produto químico é denominado antisséptico Sobre a nomenclatura os tratamentos que causam a morte direta dos microrganismos recebem o sufixo cida significando morte por exemplo biocida germicida fungicida Tratamentos que apenas inibem o crescimento microbiano recebem o sufixo stático por exemplo antibióticos bacteriostáticos 126 Ações dos Agentes de Controle Microbiano Alteração na permeabilidade da membrana resulta no extravasamento do conteúdo celular para o meio circundante interferindo seriamente no metabolismo e crescimento celular Danos às proteínas e aos ácidos nucleicos o funcionamento celular é baseado em ações enzimáticas sendo elas vitais à sobrevivência celular Para a desnaturação de enzimas várias técnicas baseadas em calor são utilizadas além de certos produtos químicos que levam à quebra das pontes de hidrogênio da proteína Os ácidos nucleicos DNA e RNA são responsáveis por transportar a informação genética e também por direcionar a síntese proteica sendo que danos aos mesmos são obtidos pela aplicação de calor radiação ou substâncias químicas TORTORA et al 2017 29 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 127 Métodos Físicos de Controle Microbiano 9 Calor Meios de cultura e vidrarias de laboratório assim como muitos instrumentos hospitalares além de alimentos são normalmente esterilizados pelo calor O calor mata os microrganismos principalmente pela desnaturação enzimática A resistência ao calor varia entre diferentes microrganismos Entre as formas de esterilização por calor temos a esterilização por calor úmido ou seco A esterilização por calor úmido mata os microrganismos principalmente pela coagulação proteica Um tipo de esterilização por calor úmido é a fervura a qual mata as formas vegetativas dos patógenos bacterianos quase todos os vírus os fungos e seus esporos dentro de cerca de 10 minutos A esterilização confiável com calor úmido requer temperaturas mais elevadas que a da água fervente as quais são alcançadas utilizandose pressão associada Este cenário pode ser obtido com o uso de uma autoclave método para esterilizar meios de cultura instrumentos vestimentas equipamento intravenoso aplicadores soluções seringas equipamento de transfusão entre outros A esterilização por calor seco mata principalmente por oxidação de membrana Um dos mais simples métodos de esterilização com calor seco é a utilização da chama direta o qual será muito utilizado em aulas práticas de microbiologia quando você for inocular bactérias Outra forma de esterilização por calor seco é a esterilização em ar quente usando um forno de esterilização no qual é empregada uma temperatura de 170C por aproximadamente duas horas 9 Filtração É a passagem de material líquido por um filtro com poros extremamente pequenos os quais retêm bactérias e fungos Devido ao custo a filtração é mais usada para esterilizar materiais que são sensíveis ao calor como enzimas vacinas e antibióticos Além disso alguns ambientes críticos em hospitais recebem ar filtrado para garantir que nenhum microrganismo do ar entre em contato com o paciente Os filtros mais utilizados hoje têm poros do tamanho de 022 μm e 045 μm que são destinados a bactérias 9 Baixas Temperaturas O efeito das baixas temperaturas sobre os microrganismos atua principalmente 30 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA inibindo o crescimento bacteriano como é o que acontece na geladeira da nossa casa No entanto alguns microrganismos psicótrofos ainda crescem lentamente em temperaturas de refrigerador alterando o aspecto e o sabor dos alimentos após algum tempo 9 Dessecação Na ausência de água dessecação os microrganismos não conseguem crescer apesar de permanecerem viáveis Alguns alimentos passam pelo processo de congelamento dessecação para conservação Como certos microrganismos sobrevivem à dessecação a poeira as roupas os lençóis e os curativos podem conter microrganismos infecciosos 9 Radiação Possui diferentes efeitos dependendo do comprimento de onda intensidade e duração Existem dois tipos de radiação utilizados no controle do crescimento microbiano a radiação ionizante e não ionizante A radiação ionizante raios gama raios X ou feixes de elétrons de alta energia possui um comprimento de onda mais curto que o da radiação não ionizante transportando mais energia O principal efeito da radiação ionizante é a formação de radicais hidroxila reativos que reagirão principalmente com o DNA TRABULSI 2004 128 Métodos Químicos de Controle Microbiano Diferente dos agentes físicos poucos agentes químicos promovem esterilidade a maioria atuando na desinfecção Os principais desinfetantes são Fenol e Compostos Fenólicos hoje raramente são usados como antisséptico ou desinfetante Exercem atividade antimicrobiana por causar alterações nas membranas plasmáticas Bifenóis o hexaclorofeno é usado para controle microbiano cirúrgico e hospitalar atuando também em ácidos graxos de membrana 31 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Biguanidas atuam frente a bactérias e vírus esporulados Halogênios o iodo e o cloro são agentes antimicrobianos eficazes O iodo atua impedindo a síntese de algumas proteínas e o cloro por formar ácido hipocloroso em contato com a água Álcoois matam efetivamente as bactérias e os fungos mas não os endosporos e os vírus não envelopados Atuam principalmente por desnaturação de proteínas e também por romperem membranas TORTORA et al 2017 13 FUNGOS Os fungos são organismos amplamente distribuídos no ambiente com aproximadamente 100000 espécies descritas embora se acredite que existam mais de 2 milhões de espécies na natureza distribuídos no ar água plantas animais terra No entanto apenas 200 espécies são patogênicas ao homem Apesar de causarem doenças em animais e plantas os fungos muitas vezes são úteis tanto do ponto de vista econômico quanto do ecológico Ecologicamente são considerados os lixeiros do mundo pois degradam todo tipo de restos orgânicos independente da origem transformandoos em elementos assimiláveis pelas plantas Economicamente têm inúmeras aplicações na produção de vinhos cervejas e produzem diversos antibióticos utilizados na clínica médica como a penicilina que foi isolada do fungo Penicillium Os fungos passaram a ter um reino próprio reino Fungi a partir da descrição dos cinco reinos em 1969 Em 1990 os cinco reinos foram divididos em três domínios Archaea Eubacteria e Eukaria e o reino Fungi locado no domínio Eukaria que reúne todos os eucariontes MURRAY et al 2009 32 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA SUGESTÃO DE LEITURA Que tal entender mais o potencial biotecnológico dos fungos Acesse o link e leia o artigo httpswwwncbinlmnihgovpmcarticlesPMC4962027pdfmari nedrugs1400137pdf 131 Morfologia Os fungos são organismos eucariontes ou seja possuem núcleo e organelas envoltas por membranas São seres unicelulares no caso das leveduras ou multicelulares no caso de fungos filamentosos São diferenciados dos demais eucariotos por possuírem parte celular formada por quitina e glucana e membrana contendo ergosterol em vez de colesterol Estruturas Fúngicas conforme mencionado anteriormente os fungos podem crescer com duas morfologias básicas forma leveduriforme ou filamentosa também chamada de bolor Figura 4 Fungos Filamentosos o crescimento filamentoso ocorre pela produção de hifas multicelulares que são túbulos cilíndricos com diâmetro entre 2 a 10 µm ramificados os quais podem conter septos ou não As hifas que apresentam septos divisões transversais são denominadas hifas septadas e as que não possuem os septos são as hifas cenocíticas Ao conjunto de hifas observado macroscopicamente como no caso do mofo do pão dáse o nome de micélio Existem diferentes tipos de micélios Micélio Vegetativo penetra no meio e cultivo e absorve nutrientes para o crescimento do fungo Micélio Aéreo está localizado na parte aérea livre sendo formado por hifas aéreas Em alguns casos o micélio aéreo pode se diferenciar para formar estruturas de reprodução passando a se chamar Micélio Reprodutivo As estruturas especializadas provenientes da reprodução assexuada de fungos são chamadas de conídios e têm função de disseminação Os esporos sexuais 33 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA são diversos e dependem de cada filo que estudaremos nas características dos grupos de fungos Para a identificação dos fungos filamentosos características macroscópicas do micélio podem ser utilizadas mas a identificação é realizada principalmente pela observação das estruturas de reprodução que podem ser tanto sexuadas quanto assexuadas BROOKS et al 2014 Leveduras diferentemente dos fungos filamentos as leveduras são células isoladas que apresentam forma esférica a elipsoide com diâmetro variando de 3 a 15 µm A reprodução da maioria das leveduras ocorre por brotamento Em alguns casos podem produzir pseudohifas em condições específicas como ocorre com a levedura Candida albicans As leveduras produzem colônias redondas pastosas ou mucoides em meio de cultivo Dimorfismo apesar de a divisão morfológica separar os fungos entre filamentosos e leveduras alguns deles são dimórficos ou seja podem ter forma filamentosa ou leveduriforme dependendo do ambiente em que se encontram A maioria das espécies patogênicas que causam micoses sistêmicas no homem possuem dimorfismo ativado pela temperatura ou seja apresentam forma filamentosa na temperatura ambiente e forma parasitária leveduriforme quando a 36º C Figura 4 Características Morfológicas de Fungos Filamentosos Fonte Shutterstock 2021 34 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 132 Crescimento Genética e Fisiologia A maioria dos fungos apresenta respiração aeróbia porém alguns podem ser anaeróbios facultativos sendo responsáveis pelos processos de fermentação amplamente utilizado na indústria alimentícia enquanto outros podem ser estritamente anaeróbios Os fungos são heterotróficos ou seja obtêm energia e carbono a partir de componentes orgânicos produzem tanto metabólitos primários de importância como o etanol e o glicerol quanto metabólitos secundários como as penicilinas as aflatonixas causam intoxicação Comparados às bactérias os fungos têm crescimento lento com tempo de geração de horas ao invés de minutos MURRAY et al 2009 Com base no tipo de matéria orgânica que o fungo usa para seu crescimento os fungos podem ser subdivididos em grandes grupos Saprófitos Obrigatórios fungos que vivem e se alimentam exclusivamente de matéria orgânica morta Parasitas Facultativos ou Saprófitos Facultativos fungos capazes de causar doenças ou viver em restos orgânicos de acordo com as circunstâncias Parasitas Obrigatórios fungos que vivem exclusivamente atacando organismos vivos e causando doenças A infecção por fungos em animais e humanos é denominada micose As micoses em humanos são divididas em três tipos Micoses Superficiais englobam micoses cujo fungo não penetra o tecido cutâneo crescendo na superfície da pele por exemplo o pano branco Micoses Subcutâneas o fungo é inserido geralmente por ferimento com material orgânico como galhos e espinhos no tecido subcutâneo e ali se desenvolve ao formar abcessos e úlceras que não cicatrizam como na Cromoblastomicose Micoses Sistêmicas são causadas por fungos patogênicos os quais entram no organismo geralmente por inalação e se replicam primeiramente nos pulmões podendo se espalhar para outras partes do corpo ou não por exemplo a Histoplasmose Fungos Oportunistas dependem da debilidade do Sistema Imune para que consigam causar doença por exemplo micoses oportunistas como a Criptococose MURRAY et al 2009 35 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA A maioria dos fungos têm necessidades nutricionais simples precisando de elementos C O H N P e oligoelementos para seu crescimento Muitas espécies não necessitam de luz para o desenvolvimento mas outras necessitam para formar suas estruturas de reprodução podendo ser consideradas fototróficas A temperatura ideal para o crescimento dos fungos fica entre 0 a 35º C mas o a temperatura ótima é entre 20º C a 30º C Assim como as bactérias os fungos podem ser classificados em termófilos mesófilos e psicrófilos com base na temperatura de crescimento O ciclo de vida dos fungos compreende duas fases Uma fase somática caracterizada por atividades alimentares e outra reprodutiva em que os fungos podem realizar reprodução sexuada ou assexuada Em ambos os casos um grande número de estruturas é formado dependendo da espécie Tanto as estruturas assexuadas quanto as sexuadas podem ser formadas isoladamente ou em grupos neste caso formando corpos de frutificação BROOKS et al 2014 133 Posição Sistemática dos Fungos O reino Fungi é dividido nos filos Glomeromycota Ascomycota Basidiomycota e Microspora A taxonomia dos fungos é tradicionalmente baseada em caracteres morfológicos No entanto atualmente com o desenvolvimento de técnicas moleculares PCR e sequenciamento de DNA foram adicionados como auxílio na identificação das espécies fúngicas 9 Filo Ascomycota Compreende o maior grupo do reino Fungi constituindo 80 de todos os fungos de importância médica A reprodução sexual leva ao desenvolvimento de ascósporos que são produzidos em estrutura especializada sacular chamada de asco O asco é formado em uma estrutura denominada ascocarpo podendo ser encontrado nas seguintes formas apotécio ascocarpo em forma de taça cleistotécio 36 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA ascocarpo totalmente fechado que se rompe com a maturidade e peritécio ascocarpo em forma de balão com um poro na sua ponta Figura 5 A reprodução assexuada consiste na produção de conídios a partir de uma célula condiogênica na qual serão formados os conídios vindos da reprodução assexual Seus representantes são considerados cosmopolitas e são encontrados na natureza como saprófitos parasitas ou formando os líquens Exemplos de fungos pertencentes a este grupo são Aspertillus e Penicillium Figura 5 Estruturas de Reprodução Sexual de Fungos pertencentes ao filo Ascomycota Fonte Shutterstock 2021 9 Filo Basidiomycota Os representantes do filo Basidiomycota são considerados cosmopolitas e saprófitos São comumente denominados cogumelos embora alguns possam ter forma de levedura A reprodução sexual forma basidiósporos na parte externa de uma célula germinativa denominada de basídio 37 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA O basídio é formado a partir de um basidiocarpo sendo este basicamente constituído por píleo e lamela Figura 6 A reprodução assexuada por conídio também pode ser encontrada Ex Cryptococcus Figura 6 Estruturas de Reprodução Sexual de Fungos pertencentes ao Filo Ascomycota Fonte Shutterstock 2021 9 Filo Glomeromycota O filo Glomeromycota inclui fungos que formam hifas largas e cenocíticas Eles produzem zigósporos sexuais após a fusão de dois tipos de acasalamentos compatíveis Os esporos assexuais os esporangiósporos estão contidos dentro de um esporângio que cresce nas extremidades de esporangiósporos na forma de hastes as quais terminam em uma tumefação bulbosa chamada de columela Figura 7 Este filo é representado por fungos de micorrizas arbusculares os quais participam de uma associação mutualística com as raízes de algumas plantas Nesta associação a planta através da fotossíntese fornece energia e carbono para a sobrevivência e multiplicação do fungo enquanto este absorve nutriente S minerais e água do solo transferindoos para as raízes da planta No grupo incluemse os representantes do antigo filo Zygomycota 38 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 7 Estruturas de Reprodução Sexual de Fungos pertencentes ao Filo Glomeromycota Fonte Shutterstock 2021 9 Filo Microspora Microsporídios são fungos intracelulares obrigatórios que já foram classificados como protistas mas devido a estudos genéticos e por possuírem quitina em sua parede e núcleo dicariótico foram alocados dentro do reino Fungi 14 VÍRUS Os vírus são muito pequenos para serem vistos em microscópio óptico Sua característica principal é não ser capaz de se multiplicar fora de células hospedeiras o que se deve à ausência de organelas necessárias para a síntese da estrutura viral Assim não os consideramos organismos celulares mas sim partículas virais MURRAY et al 2009 Diversas patologias são causadas por vírus desde infecções simples como a herpes passando para doenças crônicas e debilitantes como o HIV 39 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Você sabia que alguns vírus têm a capacidade de induzir a formação de tumores Basta lembrarmos do câncer do colo do útero que em 999 dos casos está associado à infecção pelo Papilomavírus humano Este é só um exemplo mas existe um grande número de vírus que apresentam tal capacidade Grandes pandemias foram causadas por vírus A mais recente em pleno Século XXI é a da COVID19 causada pelo coronavírus denominado SARSCoV2 Esta doença apresenta quadro clínico variável indo desde infecções a quadro clínicos graves principalmente em pacientes com doença de base Até os primeiros dias de 2021 o coronavírus tinha causado aproximadamente 86 milhões de casos com cerca de 2 milhões de mortes em todo o mundo httpswwwwhointemergenciesdiseasesnovel coronavirus2019 Por isso é de grande importância entendermos o mundo misterioso dos vírus SUGESTÃO DE VÍDEO Que tal vermos as maiores pandemias e epidemias que acometeram a humani dade Acesse o link httpswwwyoutubecomwatchv32aLq2lpnPMabchannelFC3A1bri cadeCuriosidades 141 Morfologia Viral Os vírus são agentes infecciosos intracelulares obrigatórios pequenos com tamanho de 20 a 1000 nm que não possuem metabolismo próprio e requerem a presença de células hospedeiras para se multiplicarem Por não possuírem organelas replicam se no interior das células do hospedeiro utilizando a maquinaria de síntese da célula assim formam novas partículas e podem infectar novas células BROOKS et al 2014 Vírion é o nome dado para uma partícula viral completa O vírion é formado por 40 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA um ácido nucleico envolto por cápsula proteica denominada capsídeo que pode ou não estar associado a um envelope lipídico Figura 8 9 Material Genético O ácido nucleico da partícula viral ao contrário das células procarióticas e eucarióticas pode ser tanto DNA quanto RNA mas nunca ambos podendo estar na forma de fita simples ou dupla Temos algumas possibilidades para o material genético viral DNA de fita dupla ou fita simples ou RNA fita dupla ou fita simples Ainda o ácido nucleico pode ser linear ou circular e alguns vírus possuem o material genético segmentado Logo o tipo de material genético é a principal característica para o início da identificação viral pois determina também como e onde ocorrerá a replicação e transcrição viral TORTORA et al 2017 9 Capsídeo O Capsídeo é constituído por proteínas formando um envoltório protetor ao redor do ácido nucleico viral Entre as funções do capsídeo está a ligação a receptores celulares para que o vírus penetre na célula além de fusão com as membranas para a aquisição do envelope viral O capsídeo é composto por subunidades proteicas chamadas de capsômeros Existem três formatos de capsídeos Icosaédrico Helicoidal e Complexo Dentre os vírus de Icosaédricos estão os rotavírus adenovírus e herpesvírus Devido ao formato os mesmos estão mais propensos a adquirir envelope lipídico O capsídeo tem a forma de um icosaedro um poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 vértices Os capsômeros de cada face formam um triângulo equilátero Para a formação de um vírion com Simetria Helicoidal o capsômero se encaixa com o ácido nucleico viral adquirindo assim a forma helicoidal Entre os vírus helicoidais estão os vírus ebola influenza e hantavírus Na Simetria Complexa o ácido nucleico é envolto em um capsídeo Icosaédrico o qual adquire uma cauda proteica helicoidal que contêm fibras proteicas para aderência Entre os vírus com Simetria Complexa estão o bacteriófago T4 e o poxvírus TRABULSI 2004 41 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Envelope Viral Alguns vírus têm seu capsídeo recoberto por um envelope viral que é composto por lipídeos proteínas e carboidratos sendo chamados de vírus envelopados Os envelopes virais são adquiridos durante o processo de brotamento através de membranas tanto membrana celular ou de organelas da célula hospedeira Assim o envelope viral é formado pela membrana da célula hospedeira glicoproteínas e proteínas virais Em geral vírus envelopados são transmitidos por contato direto com sangue e fluidos corporais ao passo que vírus não envelopados podem sobreviver mais tempo no ambiente e serem transmitidos por meios indiretos como pela rota fecaloral Figura 8 Esquema demonstrando os Constituintes da Partícula Viral Fonte Shutterstock 2021 142 Crescimento Genética e Fisiologia Entre as etapas gerais para o ciclo de replicação viral estão Absorção Penetração Desnudamento Replicação Maturação e Liberação 42 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Absorção ocorre pela interação do vírion com receptores específicos na superfície da célula Estes receptores desempenham um fator determinante no tropismo celular ou seja são responsáveis por determinados vírus causarem doenças apenas em células específicas como os vírus que causam a hepatite Penetração após a ligação à célula hospedeira a partícula viral pode penetrar na célula por 3 mecanismos distintos Endocitose Penetração Direta ou Fusão de Membranas Na Endocitose a ligação do vírus à membrana celular faz com que a mesma se curve engolfando o vírus para dentro da célula Na Penetração Direta a partícula viral simplesmente passa entre a membrana celular causando uma pequena lesão na mesma Já na Fusão de Membranas que acontece apenas em vírus envelopados acontece a fusão entre o envelope viral e a membrana celular liberando o capsídeo viral no citoplasma celular Desnudamento quando o vírus entra na célula é preciso que o material genético seja liberado no citoplasma ou núcleo para o mesmo ser replicado e para ocorrer a transcrição dos genes virais A este processo da liberação do material genético do capsídeo dáse o nome de desnudamento Para vírus de DNA o processo ocorre no núcleo enquanto para vírus de RNA acontece no citoplasma Replicação para que o vírus se multiplique ele precisa invadir a célula hospedeira e assumir o comando da sua maquinaria metabólica Um único vírus após replicação pode dar origem a milhares de partículas virais iguais Vírus de DNA são replicados no núcleo e vírus de RNA são replicados no citoplasma Uma exceção a esta regra são os retrovírus vírus de RNA mas que por possuírem enzima transcriptase reversa têm capacidade de converter seu material genético em DNA e de se replicarem no núcleo O processo de replicação viral pode alterar drasticamente a célula hospedeira podendo causar sua morte Em algumas infecções virais a célula sobrevive e continua a produzir vírus indefinidamente infecções crônicas Ao penetrar na célula do hospedeiro o vírus pode seguir dois ciclos alternativos o ciclo lítico e o ciclo lisogênico Figura 9 MURRAY et al 2009 Ciclo Lítico durante o ciclo lítico o vírus penetra na célula hospedeira e vai diretamente para a replicação viral e formação de inúmeras novas partículas 43 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA viras Assim quando ocorre a liberação destas partículas virais da célula do hospedeiro elas levam à lise da membrana celular Ciclo Lisogênico em contraste aos vírus líticos alguns vírus não causam lise e morte celular quando entram na célula hospedeira Eles incorporam o seu material genético ao material genético da célula hospedeira e permanecem ligados a ele sem formar novas partículas virais Assim sempre que o DNA celular for replicado o DNA viral também será replicado Entretanto um evento espontâneo raro ou mesmo a ação da luz UV ou de determinadas substâncias químicas pode levar à excisão do DNA do viral e ao início do ciclo lítico Figura 9 Esquema do Ciclo Lítico e Ciclo Lisogênico de Bacteriófagos Fonte Shutterstock 2021 9 Maturação e Liberação A montagem do capsídeo proteico é a primeira etapa para a maturação viral Os capsômeros são formados e espontaneamente agrupamse Alguns vírus são envelopados e as proteínas do envelope são codificadas por genes virais sendo incorporadas às membranas da célula do hospedeiro para que o vírus ao brotar através delas adquira o envelope A este processo de liberação viral através da aquisição do 44 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA envelope a partir da membrana da célula do hospedeiro dáse o nome de brotamento O brotamento não leva à lise da célula hospedeira imediatamente e em alguns casos a célula sobrevive Os vírus não envelopados são liberados por meio de rupturas na membrana plasmática pela passagem do vírus diretamente através da membrana Como cada célula infectada produz milhares de partículas virais este tipo de liberação geralmente resulta na morte da célula hospedeira BROOKS et al 2014 SUGESTÃO DE VÍDEO Como ocorre a invasão viral em nosso corpo Como nosso organismo reage a esta invasão Confira nos vídeos indicados um pouco sobre tais dúvidas Link httpswwwyoutubecomwatchvlBn3SNO04UU Link httpsedtedcomlessonscellvsvirusabattleforhealthshannonstiles 143 Transmissão Viral A transmissão dos vírus depende do seu hospedeiro definitivo podendo ocorrer por transmissão direta indireta ou por vetores TRABULSI 2004 A transmissão direta ou pessoapessoa ocorre principalmente pelo contato com aerossóis de saliva como no caso do Coronavírus contato sexual como o HIV e parental como a Hepatite B A transmissão indireta é observada principalmente na forma orofecal em que indiretamente o homem acaba se contaminando com dejetos presentes em água solo e alimentos ou pela falta de higiene com as mãos como no caso do vírus da hepatite A A transmissão viral também pode acontecer através de animalanimal sendo o humano um hospedeiro acidental como no caso da raiva ou artrópodehumano como no caso da Febre Amarela e Dengue transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti 45 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 144 Infecção Viral A infecção viral compreende quatro estágios 1 Período de Incubação é o tempo decorrido entre a exposição da pessoa ao agente viral e o aparecimento de sinais e sintomas da doença Durante este período não há doença o hospedeiro não apresenta sintomatologias mas pode estar transmitindo o vírus O período de incubação pode variar de poucos dias como no caso do coronavírus há anos como no caso do HIV 2 Período Prodrômico sucede o período de incubação no qual a pessoa infectada começa a apresentar sinais e sintomas inespecíficos tais como tosse malestar e febre o que muitas vezes dificulta o diagnóstico neste período A duração é curta de geralmente alguns dias mas a transmissibilidade é alta durante este período 3 Período Específico da Doença neste período o hospedeiro apresenta os sintomas específicos relacionados ao agente patogênico 4 Período de Recuperação após todos os períodos citados o Sistema Imune do hospedeiro consegue eliminar alguns vírus e o hospedeiro começa a melhorar Como cada pessoa tem uma resposta única à doença o período de recuperação pode variar muito de acordo com o tipo de infecção e com o hospedeiro TORTORA et al 2017 SUGESTÃO DE LEITURA TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 12ª edição Porto Alegre ArtMed 2017 Abordagem dos fundamentos da microbiologia de fácil compreensão que o auxiliará na formação do seu conhecimento sobre os microrganismos 46 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim da nossa primeira unidade da disciplina de Microbiologia Parasitologia e Imunologia Ao longo desta unidade trabalhamos com as estruturas e características das bactérias fungos e vírus enfatizando as principais diferenças entre estes grandes grupos de microrganismos Certamente após esta breve introdução ao mundo microscópico você já consegue perceber a diversidade de seres vivos que povoam o universo e que estão associados ao nosso organismo Uma vez que são capazes de habitar os mais diferentes ambientes os microrganismos têm grande importância não apenas por causarem doenças mas também para a produção de medicamentos e alimentos 47 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA EXERCÍCIO FINAL 01 CONHECIMENTO A principal técnica de coloração utilizada na microbiologia é a técnica de gram Bactérias que se coram de rosa nesta técnica possuem a sua parede composta por a Lipopolissacarídeos ácido teicoico e ácidos graxos b Peptidoglicanos e lipopolissacarídeo c Ácido teicoico e proteínas d Proteínas hidrofóbicas e Peptidoglicanos ligados uns aos outros por ligações cruzadas 02 CONHECIMENTO Fungos são microrganismos eucariotos os quais possuem similaridade com células animais e vegetais Entretanto no ano de 1969 foram classificados como pertencendo a um reino próprio o reino Fungi Entre as características que diferem os fungos dos animais e plantas estão I São organismos heterotróficos e obtêm energia da matéria orgânica II São diferenciados dos animais pelo esterol de membrana nos animais é o colesterol e nos fungos o ergosterol diferença que é usada como base da toxicidade seletiva de alguns antifúngicos III Possuem quitina e glicana em sua parede Está correto o que se afirma SOMENTE em a I b II c I e II d I e III e I II e III 48 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA REFERÊNCIAS BROOKS G F CARROLL K C BUTEL J S MORSE S A MIETZNER T A Microbiologia médica de Jawetz Melnick e Adelberg 26ª edição New York AMGH editora Ltda 2014 MURRAY P R ROSENTHAL K S PFALLER M A Microbiologia Médica 6ª edição Rio de Janeiro Elsevier Editora Ltda 2009 OLIVEIRA J C Tópicos em Micologia Médica 4ª edição Rio de Janeiro 2014 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Disponível em httpswwwwhoint emergenciesdiseasesnovelcoronavirus2019 Acesso em 05 de Janeiro de 2021 SILBER J KRAMER A LABES A TASDEMIR D From Discovery to production Biotechnology of Marine Fungi for the Production of New Antibiotics Marine Drugs 2016 14 137 doi103390md1407013 TORTORA G J FUNKE B R CASE C L Microbiologia 12ª edição Porto Alegre ArtMed 2017 TRABULSI L R Microbiologia 4ª edição São Paulo Livraria Atheneu 2004 UNIDADE2 RELAÇÃO PARASITO HOSPEDEIRO E PRINCIPAIS ASPECTOS DAS PARASITOSES CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS HELMINTOS E ARTRÓPODES 50 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA INTRODUÇÃO À UNIDADE Para entendermos o diverso mundo da Parasitologia primeiramente precisamos conhecer a relação parasitahospedeiro para depois estudar os parasitos e as principais doenças parasitárias que atingem o homem Esta unidade trabalhará a fisiopatologia das doenças parasitárias como elas são transmitidas métodos de profilaxia o tratamento e principalmente como são diagnosticadas as parasitoses de maior importância no Brasil A Unidade 2 iniciará com uma breve introdução ao estudo da Parasitologia e na sequência os parasitos estudados serão separados em dois grupos de acordo com suas características taxonômicas Protozoários e Helmintos Compreenderemos a parasitologia a ciência que estuda os parasitos eou as doenças parasitárias através do entendimento sobre a biologia e a morfologia dos mesmos Este entendimento é necessário para que conheçamos a relação parasitohospedeiro como são transmitidos como podemos combater as principais parasitoses e como elas são diagnosticadas Parasitos são seres que vivem em associação íntima duradoura com outro indivíduo de espécie diferente ou seja necessitam de outro ser vivo para manter sua vitalidade Uma característica importante do parasitismo é que o parasita necessariamente produz algum prejuízo ao seu hospedeiro O Brasil de maneira geral apresenta condições climáticas favoráveis e baixo índice de desenvolvimento sanitário fatores que propiciam condições ideais para o desenvolvimento de parasitoses Logo grande parte da rotina do patologista clínico envolve o diagnóstico das parasitoses Assim ao longo desta unidade você deverá conhecer os principais parasitos que acometem o homem bem como sua morfologia transmissão sintomatologia e patogenia reconhecer através da morfologia os principais protozoários e helmintos de importância médica identificar as formas de transmissão e determinar quais as medidas profiláticas e situarse em relação à saúde pública brasileira 51 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 21 RELAÇÃO PARASITOHOSPEDEIRO Nenhum organismo vive sozinho e por isso os seres vivos na natureza apresentam grande interrelacionamento o qual varia desde uma relação de colaboração mútua até relações de predação O parasitismo provavelmente evoluiu de associações entre um organismo menor que foi beneficiado pela proteção ou obtenção de alimento a partir do organismo hospedeiro passando ao longo do tempo a ser uma relação desbalanceada REY 2011 É sabido que os indivíduos sejam humanos ou parasitas nascem crescem reproduzemse envelhecem e morrem Logo a espécie normalmente se adapta evolui e permanece como uma população ou grupo Para isso é necessário que diferentes espécies possam conviver em um ambiente comum fato que nos leva a relações de associações No entanto estas associações nem sempre são benéficas também chamadas de relações harmônicas pois em alguns casos elas levam a prejuízos a uma ou ambas as partes recebendo o nome de relações desarmônicas ou negativas NEVES et al 2005 A seguir abordaremos os diferentes tipos de relações harmônicas tais como o comensalismo mutualismo e simbiose e relações desarmônicas como a competição canibalismo predatismo e parasitismo 9 Associações Desarmônicas Competição indivíduos da mesma espécie ou espécies diferentes disputam por espaço ou alimento Canibalismo um animal se alimenta de outro da mesma espécie ocorrendo geralmente devido à superpopulação e deficiência alimentar Predatismo é quando uma espécie animal se alimenta de outra espécie isto é a sobrevivência de um depende da morte do outro Parasitismo é a associação entre seres vivos em que apenas um dos organismos envolvidos é beneficiado e o outro é prejudicado Com o passar do tempo tal associação tende a entrar em equilíbrio uma vez que a morte do hospedeiro 52 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA é prejudicial ao parasito Neste tipo de relação o prejuízo ao hospedeiro vai depender do número de parasitas virulência dos mesmos e estado imunológico do hospedeiro 9 Associações Harmônicas Comensalismo é a associação em que apenas uma das espécies obtêm vantagens habitação proteção aumento mas a outra espécie não é prejudicada Mutualismo é quando as duas espécies em associação são beneficiadas Simbiose também é uma associação benéfica às duas espécies entretanto ela é tão grande que as espécies se tornam dependentes uma da outra Neste tipo de relação as espécies realizam funções complementares indispensáveis à vida de cada uma Os principais parasitos humanos são divididos em dois grandes grupos protozoários e helmintos os quais serão abordados na sequência SAIBA MAIS Para ver mais definições importantes na parasitologia acesse o link abaixo httpswwwparasitologiaorgbrconteudoviewIDCONTEUDO429 22 PROTOZOÁRIOS Os protozoários são seres unicelulares incluídos no reino protista São divididos em quatro grupos baseados no modo de locomoção e reprodução flagelados amebas 53 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA esporozoários e ciliados Dentre os protozoários serão apresentados alguns dos principais parasitos de importância médica no Brasil como doença de chagas malária e giardíase NEVES 2011 Estas parasitoses serão divididas de forma didática em parasitoses intestinais e sanguíneas ou sistêmicas 221 Parasitoses Intestinais As parasitoses intestinais são causadas por vermes ou protozoários que se alimentam do conteúdo intestinal e causam uma série de prejuízos São muito frequentes na infância sendo considerado um problema de saúde pública principalmente nas áreas rurais e periferias das cidades dos países subdesenvolvidos 2211 Giardia lamblia É um protozoário flagelado o qual parasita o intestino delgado de humanos Possui duas formas morfológicas o cisto que é a forma infectante encontrada no meio ambiente e a forma parasitaria que é o trofozoíto encontrado no intestino de indivíduos infectados BROOKS et al 2014 O trofozoíto tem formato piriforme 20 µm por 10 µm com dois núcleos ovalados próximos à extremidade anterior 4 pares de flagelos e espaços claros ao redor dos núcleos chamados de ventosas estrutura importante para a fixação do parasita no intestino O trofozoíto é encontrado no exame de fezes principalmente em quadros de diarreia aquosa O cisto é oval contém 4 núcleos número variável de fibrilas centrais que atravessam o cisto no seu eixo longo O cisto é a principal forma usada para o diagnóstico presente tanto em fezes formadas quanto em aquosas MORAES 2008 Figura 10 54 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 10 Trofozoíto e Cisto de Giardia lamblia Fonte Shutterstock 2021 9 Giardíase A patologia causada pela Giardia lamblia recebe o nome de giardíase Os sintomas são variáveis indo desde pacientes assintomáticos a quadros de diarreia dores abdominais e deficiência na absorção de nutriente quando observado hiperparasitismo REY 2011 9 Transmissão Durante a infecção o indivíduo tanto sintomático quanto assintomático libera cistos nas fezes os quais vão contaminar o ambiente A principal forma de transmissão é através da ingestão de cistos maduros presentes na água e alimentos contaminados Os sintomas da doença surgem após uma a três semanas após a ingestão dos cistos A dificuldade para a o controle efetivo deste parasito ocorre por apresentar uma grande resistência ao processo de cloração podendo ainda resistir em condições adversas por até dois meses NEVES 2011 55 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 2212 Entamoeba Várias espécies de Entamoeba colonizam humanos entretanto apenas a espécie E histolytica é patogênica sendo as demais espécies comensais como a E coli Assim é importante o reconhecimento das características morfológicas para diferenciar uma espécie da outra NEVES et al 2005 Assim como a Giardia as entamoebas possuem duas formas cisto e trofozoíto Os cistos de Entamoeba histolytica medem de 10 µm a 20 µm apresentando formato redondo com 1 a 4 núcleos diferentemente da espécie E coli a qual apresenta de 5 a 8 núcleos O diagnóstico na maioria dos casos baseiase nas características do cisto uma vez que trofozoítos geralmente só aparecem em fezes diarreicas e eles sobrevivem por poucas horas O trofozoíto tem citoplasma dividido em ecto e endoplasma o núcleo apresenta cromatina delicada com o cariossoma pequeno e central REY 2011 Figura 11 Figura 11 Ciclo Biológico e Estruturas de Entamoeba histolytica Fonte Shutterstock 2021 56 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Amebíase A maioria das infecções é assintomática sendo os pacientes assintomáticos uma fonte de contaminação A doença surge quando os trofozoítos de E histolytica invadem o epitélio intestinal e formam úlceras de tamanho variável dependendo do número de parasitas e defesa do hospedeiro Os sintomas ocorrem dentro de 4 dias a 1 ano após a exposição e variam muito de pacientes assintomáticos à dor abdominal disenteria desidratação e incapacitação que ocorrem na doença grave BROOKS et al 2014 9 Transmissão A infecção ocorre por via orofecal na qual os cistos que foram eliminados no ambiente contaminam água e alimentos que não sendo tratados poderão ser ingeridos 222 Parasitoses Sanguíneas ou Sistêmicas As parasitoses sanguíneas ou sistêmicas são causadas por protozoários que por parte de sua vida parasitam humanos Estas patologias são em sua maioria transmitidas por vetores sendo um problema de saúde pública muitas vezes negligenciado 2221 Doença de Chagas Trypanosoma cruzi A doença foi descrita pela primeira vez em 1909 por Carlos Chagas em Minas Gerais É estimado que 3 milhões de pessoas estejam infectadas no Brasil httpsagencia fiocruzbrdoenC3A7adechagas 57 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA A doença de Chagas é transmitida por vetor o triatomíneo barbeiro A doença possui um ciclo silvestre e outro urbano No ciclo silvestre o triatomíneo transmite o T cruzi entre diferentes mamíferos A adentrada do homem no ambiente silvestre e o desmatamento fizeram com que a infecção em humanos também ocorresse MORAES 2008 O T cruzi apresenta três estágios de desenvolvimento epimastigotas encontradas no vetor tripomastigotas encontradas livres na corrente sanguínea e a forma amastigota um estágio intracelular no hospedeiro Figura 12 Tripomastigotas medem de 12 µm a 30 µm de comprimento com cinetoplasto grande fornece energia para o flagelo localizado na região anterior ao núcleo e flagelo com membrana ondulante É a forma observada no diagnóstico microscópico Amastigotas apresentam forma arredondada ou oval com núcleo cinetoplasto e flagelo curto que não se exterioriza São encontradas no músculo cardíaco no fígado e no cérebro Os amastigotas se multiplicam nos tecidos para formar uma colônia intracelular após a invasão da célula hospedeira ou fagocitose do parasito Epimastigotas apresentam forma alongada com cinetoplasto aparente e uma pequena membrana ondulante disposta lateralmente forma encontrada exclusivamente no vetor NEVES 2011 Figura 12 Ciclo de Vida do Trypasoma cruzi Fonte Shutterstock 2021 58 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Transmissão A forma mais comum de contaminação é através da liberação de tripomastigotas nas fezes ou na urina de triatomíneos durante o repasto sanguíneo Os triatomíneos mais importantes como vetores da doença pertencem aos gêneros Triatoma Panstrongylys e Rhodnius Os tripomastigotas penetram na pele ou mucosas e são convertidos na forma amastigotas que se multiplicam por divisão binária simples Após essa primeira replicação ocorre a transformação dos amastigotas em tripomastigotas novamente que irão para a corrente sanguínea atingirão outros tecidos e se transformarão novamente em amastigotas O triatomíneo se contamina ao ingerir sangue com tripomastigotas No estômago do vetor os tripomastigotas se transformam em epimastigotas que se multiplicarão no intestino No reto as formas epimastigotas são convertidas em tripomastigotas e são liberadas nas fezes do vetor REY 2011 Além da forma clássica de disseminação a doença pode ser transmitida com menor frequência através de transfusões sanguíneas transmissão congênita coito transplantes acidentes laboratoriais e transmissão oral A transmissão oral foi observada pela ingestão de caldo de cana de açúcar no litoral norte de Santa Catarina região endêmica para o T cruzi e pela ingestão de polpa de açaí na região norte do país Em ambos acreditase que o vetor estava na planta e foi moído junto com o produto que foi ingerido logo após o processamento NEVES 2011 9 Doença de Chagas A doença é dividida em fase aguda e fase crônica Durante a fase aguda ocorre a lesão primária no local de inoculação também chamada de chagoma que tem aspecto de furúnculo levando à formação de edema localizado e febre Após a disseminação do T cruzi para outros locais iniciase a fase crônica que possui um período assintomático e outro sintomático A fase assintomática normalmente dura muitos anos sem sintomas clínicos Apesar da ausência de sintomas o parasita pode ser detectado na corrente sanguínea em exames específicos O principal órgão atingido na fase crônica é o coração sendo a miocardite intersticial a condição mais comum e grave na doença de Chagas Entre sintomas clássicos também estão o megacólon e megaesôfago Outros órgãos afetados são o fígado o baço e medula óssea BROOKS et al 2014 59 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 2222 Leishmanioses Leishmania sp O gênero Leishmania representa um grupo diverso de protozoários hemoflagelados que acometem humanos através da picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas principalmente Phlebotumus spp e Lutzonyia spp Assim as medidas profiláticas incluem o controle da replicação do inseto além do impedimento do repasto sanguíneo utilizando telas de proteção O parasita possui duas formas principais promastigota que é a forma infectante encontrada no vetor e amastigota que é a forma parasitária em humanos Figura 13 A forma promastigota 1015 µm x 235 µm é encontrada no tubo digestivo do vetor sendo também a forma infectante Apresenta estrutura fusiforme flagelo externo na porção anterior e cinetoplasto além do núcleo celular A forma amastigota é intracelular obrigatória parasitando células do sistema imunológico humano principalmente macrófagos Ela tem estrutura ovalada não possui flagelo externo e mede 36 µm O diagnóstico principal é realizado pela observação das formas amastigotas nos tecidos MORAES 2008 Figura 13 Formas Amastigota e Promastigota Leishmania sp Fonte Shutterstock 2021 60 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Transmissão A transmissão ocorre quando um flebotomíneo fêmea infectado pica o hospedeiro vertebrado e acaba regurgitando protozoários promastigotas na corrente sanguínea As formas promastigotas são transformadas em amastigotas ao invadirem os macrófagos onde se multiplicam e rompem a célula liberando mais amastigotas na corrente sanguínea A contaminação do flebotomíneo ocorre pela ingestão de amastigotas que estão na corrente sanguínea durante o repasto sanguíneo CIMERMAN et al 2010 Existem duas formas de Leishmaniose a Leishmaniose Tegumentar do Velho Mundo e a Leishmaniose Tegumentar Americana Como apenas a última está presente no Brasil em grande escala ela será a única abordada 9 Leishmaniose Tegumentar Americana Doença endêmica em 62 países porém aproximadamente 90 dos casos estão concentrados na Índia Bangladesh Nepal Sudão e Brasil Apesar de ser uma doença tipicamente rural ela também pode ocorrer em vilas ou periferias de grandes cidades desde que estes lugares apresentem condições para o desenvolvimento do vetor Diferentes formas clínicas podem ocorrer As lesões iniciais levam ao desenvolvimento da Leishmaniose Cutâneo Localizada LCL a qual pode se desenvolver em diferentes ritmos Outras formas clínicas incluem a Leishmaniose Cutâneo Mucosa LCM e a Leishmaniose Cutâneo Difusa LCD Na LCL são observadas lesões ulcerosas indolores únicas ou múltiplas Na LCM estão presentes lesões mucosas agressivas que afetam as regiões nasofaríngeas A LCD representa múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática NEVES 2011 2223 Malária Plasmodium sp A malária é de todas as doenças parasitárias a que mais mata Estimase que aproximadamente 1 milhão de pessoas sejam mortas pela doença a cada ano No Brasil 61 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA a região Amazônica é considerada endêmica representando 96 dos casos Quatro espécies podem causar a doença em humanos Plasmodium vivax P falciparum P malariae e P ovale sendo as duas primeiras espécies as mais frequentes A doença é transmitida através da picada da fêmea do mosquito Anopheles MORAES 2008 O Plasmodium sp apresenta uma grande diversidade de formas evolutivas que possuem variações morfológicas conforme a espécie NEVES 2011 Então entenderemos as características das principais formas e onde elas são encontradas Esporozoíto é a forma infectante inoculada pelo mosquito Anopheles e que penetra nas células hepáticas do hospedeiro Merozoítos é a forma evolutiva Após a entrada do esporozoíto nos hepatócitos são liberados tanto pelos hepatócitos quanto pelas hemácias quando estas células se rompem devido à replicação do patógeno Trofozoítos Jovens são encontrados dentro das hemácias Na infecção por P falciparum as hemácias apresentam alteração de formato e com granulações onde o trofozoíto tem a forma de anéis delicados com cromatina saliente Trofozoítos Maduros são encontrados dentro das hemácias apresentamse como forma ameboide P vivax ovalados P falciparum e faixas equatoriais P malariae Esquizontes são formados na fase eritrocitária da doença Em P vivax apresentam forma irregular vacúolo e pigmentos escuros presentes Os de P falciparum são ovoides ou arredondados geralmente não encontrados no sangue circulante enquanto os de P malariae são ovalados ou arredondados com pigmentação parda Macrogametócitos Femininos no caso do P vivax apresentam pigmentos na cor azul forte e a cromatina na periferia P falciparum tem formato de lua crescente e pigmentos centrais enquanto o P malariae possui formato arredondado cromatina periférica pigmentos grosseiros e escassos Microgametócitos Masculinos os de P vivax possuem formato arredondado cromatina clara e central hemácias dilatadas Os de P falciparum apresentam formato de lua crescente cromatina central e difusa pigmentos grosseiros Enquanto os de P malariae são arredondados e cromatina periférica Figura 14 62 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 14 Estrutura e Ciclo Biológico de Plasmodium sp Fonte Shutterstock 2021 9 Transmissão A transmissão ocorre através da picada de um mosquito Anopheles fêmea infectado que durante o repasto sanguíneo acaba injetando esporozoítos na corrente sanguínea Estes rapidamente infectam o fígado onde ocorre o estágio hepático da doença ou fase exoeritrocítica No fígado os esporozoítos se desenvolvem em esquizontes repletos de merozoítos que caem na corrente sanguínea e infectam as hemácias iniciando a fase eritrocitária Os merozoítos entram nos eritrócitos transformamse em trofozoítos esquizontes que rompem as hemácias de forma sincrônica liberando merozoítos o que leva à febre de hora marcada característica da doença Cada ciclo entre a infecção da hemácia e a destruição da mesma leva 48 horas para P vivax P falciparum e P ovale e 72 horas para P malariae Durante os ciclos eritrocíticos alguns merozoítos se diferenciam em gametócitos masculinos ou femininos Assim o ciclo sexual inicia no hospedeiro vertebrado mas os gametócitos precisam ser ingeridos pelo mosquito Anopheles para que o mesmo seja finalizado REY 2011 63 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Malária Após a picada do mosquito infectado o período de incubação da malária geralmente é de 9 a 30 dias com média de 10 a 15 dias para P vivax e P falciparum e 28 dias para P malariae Entre os sintomas paroxismos periódicos de malária estão intimamente relacionados com eventos na corrente sanguínea Febre alta que chega a 40º C ou mais de algumas horas é o sintoma mais comum e ele começa com a geração sincrônica do parasita e ruptura das hemácias Além da febre náuseas vômitos e dores de cabeça são comuns neste período Após o período febril iniciase sudorese intensa e o paciente começa a se sentir bem O intervalo entre os picos febris varia de 48 h a 72 h dependendo da espécie Com a progressão da doença esplenomegalia e em menor extensão hepatomegalia Anemia normocítica também se desenvolve especialmente em infecções por P falciparum BROOKS et al 2014 Sem tratamento as infecções por P vivax e P ovale podem persistir como recaídas periódicas por até 5 anos Infecções com duração de 40 anos por P malariae já foram relatadas SUGESTÃO DE VÍDEO A fim de que você possa entender mais sobre a malária sugiro que acesse os links abaixo e assista aos vídeos httpswwwyoutubecomwatchviwmm0dzoNo httpswwwyoutubecomwatchvkTHAVvz8YwA 64 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 2224 Toxoplasmose Toxoplasma gondii O Toxoplasma gondii é um protozoário de distribuição geográfica mundial causando doença de forma grave principalmente em crianças recémnascidas ou indivíduos com comprometimento do Sistema Imune A toxoplasmose é considerada uma zoonose tendo o gato principalmente como hospedeiro definitivo e o homem e alguns animais como hospedeiros intermediários Por ser o hospedeiro definitivo as formas sexuadas são encontradas no epitélio intestinal de gatos as formas assexuadas no gato hospedeiros intermediários e as formas de resistência no ambiente junto com as fezes do animal As formas infectantes são taquizoítos bradizoítos e esporozoítos Figura 15 As três formas apresentam apicoplasto biossíntese de componentes e complexo apical conoide dois anéis polares microtúbulos subpeliculares roptrias micronemas e grânulos densos O complexo apical tem grande importância para a penetração do parasito nas células do hospedeiro Ao entrar na célula do hospedeiro é formado o vacúolo parasitóforo derivado da membrana celular do hospedeiro invaginado no parasita É neste local que o parasita vai crescer e se multiplicar NEVES et al 2005 Taquizoíto é encontrado durante a fase aguda da infecção sendo a forma livre e móvel Apresenta forma de arco lembrando uma banana com uma das extremidades mais afilada e a outra arredondada Mede cerca de 26 µm com o núcleo na posição mais central Apresenta multiplicação rápida Bradizoíto é a forma intracelular no vacúolo parasitóforo encontrada nos tecidos musculares esqueléticos e cardíacos nervoso retina também denominado de cistozoíto ou cisto Apresenta multiplicação lenta dentro do cisto o qual isola o parasita da ação do Sistema Imune do hospedeiro Oocisto forma de resistência por possuir parede dupla É liberado nas fezes dos felinos sendo esférico e medindo cerca de 12511 µm Após esporulação no meio ambiente apresenta quatro esporozoítos internos 65 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 15 Taquizoíto de Toxoplasma gondii Fonte Shutterstock 2021 9 Transmissão A transmissão pode ocorrer de três maneiras a primeira é pela ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminada jardins ou caixas de areia outra forma é pela ingestão de cistos encontrados em carne crua ou malcozida especialmente porco ou carneiro e a última forma é a congênita ou transplacentária Neste aspecto a ingestão de oocistos maduros contendo esporozoítos presente em água ou alimentos contaminados ou cistos com bradizoítos presentes em carne crua ou em casos raros taquizoítos no leite materno leva à aquisição do parasito Cada esporozoíto bradizoíto ou taquizoíto entrará nas células e se replicará como taquizoíto produzindo novos taquizoítos e infectando novas células o que caracteriza a fase aguda da doença Com o Sistema Imune do paciente os parasitos extracelulares desaparecem diminuindo o parasitismo Alguns parasitos evoluem para a formação de cistos com bradizoítos internos Esta fase cística com a diminuição da sintomatologia caracteriza a fase crônica a qual pode permanecer por longos períodos ou reativação da doença REY 2011 66 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Toxoplasmose Aproximadamente 90 dos hospedeiros imunocompetentes apresentam infecção assintomática A infecção sintomática ocorre principalmente em pacientes com debilidade imunológica A gravidade da doença vai depender da resistência do hospedeiro da virulência do toxoplasma e da quantidade relativa de parasita no organismo infectado CIMERMAN et al 2010 Dividimos a toxoplasmose em duas formas a congênita e a pósnatal A forma congênita considerada a mais grave da doença pode resultar em abortos natimortos ou bebês com alterações variáveis Ela ocorre quando a mulher contrai a toxoplasmose durante o período de gestação sendo que a gravidade depende da etapa da gestação e da capacidade dos anticorpos maternos em proteger o feto A síndrome mais comum é a Síndrome de Sabin com hidrocefalia ou microcefalia coriorretinite retardo mental e calcificações cerebrais A forma pósnatal é em sua maioria assintomática identificada apenas através de exames sorológicos Em casos sintomáticos pode ocorrer linfadenopatia febril ou não No entanto em alguns casos principalmente imunocomprometidos podem levar a complicações sendo fatal Para evitar o desenvolvimento da toxoplasmose é recomentado cozinhar bem as carnes lavar bem as frutas e verduras e beber água filtrada ou fervida Outras medidas importantes para bloquear o ciclo é controlar a população de gatos em cidades ou fazendas assim como não alimentar gatos com carne crua Mulheres grávidas devem realizar o prénatal para toxoplasmose BROOKS et al 2014 SUGESTÃO DE VÍDEO Para entender melhor a toxoplasmose sugiro que acesse os links abaixo httpswwwyoutubecomwatchvKpyw5K4vKAabchannelSuaSa C3BAdenaRede httpswwwyoutubecomwatchv4dkdl0RHFcabchannelvideosINBEB httpswwwyoutubecomwatchvuWUpekaDnsabchannelvideosINBEB 67 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 23 HELMINTOS Helmintos são parasitas multicelulares pertencentes ao reino Animalia Dois filos têm importância clínica Phatyhelminthes e Nemathelminthes Phatyhelminthes têm como principal representante a Taenia popularmente chamada de solitária e o Schistosoma mansoni causador da Esquistossomose Nemathelminthes têm como principais representantes Ascaris lumbricoides mais conhecido como lombriga e Enterobius vermiculares causador da enterobiose ou oxiuríase NEVES 2011 Os principais parasitos de cada grupo serão abordados a seguir 231 Teníase e Cisticercose Taenia solium e Taenia saginata A Taenia mais conhecida como solitária pertence aos cestódeos os quais apresentam como característica o corpo achatado dorsoventralmente As espécies Taenia solium e T saginata estão associadas a infecções em humanos e causam a doença chamada complexo teníasecisticercose As taenias são hermafroditas possuindo os dois órgãos sexuais em um único parasita Por essa razão dificilmente ocorre parasitismo por mais de um parasito fato que levou ao seu nome popular solitária REY 2011 A teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da T solium ou T saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo os humanos A cisticercose é uma doença causada pela larva de T solium nos tecidos do hospedeiro T sagina e T solium apresentam corpo achatado em forma de fita de cor branca com extremidade anterior afilada O corpo é divido em escólex colo e estróbilo NEVES 2011 Escólex é formado por uma pequena dilatação situada na extremidade anterior funcionando como órgão de fixação à mucosa do intestino delgado humano 68 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Apresenta quatro ventosas formadas de tecido muscular arredondadas e proeminentes Em T solium o escólex é globuloso e apresenta rostro situado em posição central entre as ventosas com dupla fileira de acúleos com formato de foice Já o escólex da T saginata não possui rostro ou acúleos Figura 16 Figura 16 Escólex de T solium apresentando quatro ventosas com acúleos Fonte Shutterstock 2021 Colo porção mais delgada do corpo onde as células do parênquima estão em intensa atividade de multiplicação sendo a zona de crescimento do parasito ou de formação das proglotes Estróbilo está localizado após o colo sendo o restante do corpo do parasito composto por proglotes de número variado em T solium de 800 a 1000 chegando a 3 metros de comprimento já em T saginata mais de 1000 proglotes são observados pode atingir 8 metros de comprimento A partir das proglotes são formados os ovos do parasita A proglote grávida de T solium possui útero formado por 12 pares de ramificações do tipo dendrítico contendo até 80 mil ovos A proglote de T saginata apresenta 26 ramificações uterinas do tipo dicotômico com até 160 mil ovos que serão liberados nas fezes Ovos esféricos morfologicamente indistinguíveis entre as duas espécies medindo cerca de 30 mm de diâmetro São constituídos por uma casca protetora embrióforo que protege o embrião interno Figura 17 69 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 17 Ovos de Taenia sp Fonte Shutterstock 2021 Cisticerco é uma larva do parasita Apresenta uma vesícula translúcida com líquido claro contendo um escólex com quatro ventosas rostro e colo T saginata não apresenta o rostro Pode atingir até 12 mm de comprimento e no SNC pode se manter viável por vários anos O verme adulto de T solium e T saginata é encontrado no intestino delgado humano causando teníase O cisticerco de T solium é encontrado no tecido subcutâneo muscular cardíaco cerebral no olho de suínos e acidentalmente em humanos e cães causando cisticercose O cisticerco da T saginata é encontrado apenas no tecido dos bovinos não causando cisticercose em humanos 9 Transmissão A teníase ocorre a partir da ingestão de carne suína e bovina crua ou malcozida infectada por cisticercos de T solium e T saginata respectivamente Ao ingerir o cisticerco a larva será liberada no intestino no humano e irá se transformar em um verme adulto neste local A cisticercose em humanos é ocasionada pela ingestão de ovos de T solium liberados nas fezes de humano com teníase Ao passar pelo estômago o ovo liberará um embrião o qual penetrará no tecido intestinal e migrará até o SNC e outros tecidos desenvolvendo 70 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA o cisticerco CIMERMAN 2010 A contaminação com os ovos pode ocorrer através da Autoinfecção Externa quando os portadores da T solium eliminam ovos e eles mesmos o ingerem através de mãos contaminadas Autoinfecção Interna ocorre através de movimentos retroperistálticos do intestino permitindo a passagem de proglotes grávidas e ovos para o estômago o que possibilita o desenvolvimento de novos vermes Heteroinfecção humanos ingerem alimentos ou água contaminada com ovos de T solium 9 Teníase A teníase pode ser uma doença assintomática ou apresentar perturbações gastrointestinais como dores abdominais náuseas vômitos e raras vezes diarreia A fixação do verme na parede intestinal pode excitar plexos nervosos da mesma levando a perturbações nervosas ou neuropsíquicas 9 Cisticercose Humana É uma doença de grande importância médica sendo que as complicações vão depender da localização do cisticerco podendo acometer o Sistema Nervoso Central órgãos da visão e outros órgãos como o coração Por exemplo cisticercos localizados na pele são caracterizados por nódulos indolores sem maiores complicações No caso do desenvolvimento da neurocisticercose podem ocorrer convulsões hidrocefalia náuseas vômitos rigidez na nuca tonturas alterações visuais estados paranoicos entre outros Já quando a larva se localiza no globo ocular geralmente resulta na perda da visão REY 2011 71 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA SAIBA MAIS Para conhecer melhor as patologias causadas pela Taenia acesse o link e leia o artigo indicado httpsdocsbvsaludorgbiblioref201810916509282283julago20183034pdf 232 Esquistossomose Schistosoma mansoni O Schistosoma mansoni é um parasita que apresenta sexos separados e que parasita vasos sanguíneos de humanos No Brasil a esquistossomose é popularmente conhecida como xitose ou barriga dágua Várias formas evolutivas ocorrem durante o ciclo de vida do parasita tais como ovos miracídios esporocistos cercarias e verme adulto Os esquistossomos adultos apresentam dimorfismo sexual os vermes machos são robustos tuberculados medem de 6 mm a 12 mm de comprimento e apresentam canal ginecóforo que é usado para albergar a fêmea para fecundação As fêmeas são mais longas 7 mm 17 mm de comprimento e delgadas S mansoni adultos residem nos plexos venosos do cólon e do íleo inferior e no sistema porta do fígado do hospedeiro Miracídios apresentam corpo cilíndrico recoberto por cílios que auxiliam na locomoção do parasita na água Esporocistos se desenvolvem no hospedeiro intermediário o músculo do gênero Biomphilaria Cercarias apresentam o corpo cercariano e cauda bifurcada medindo 500 µm de comprimento Possuem ventosas sendo que a ventosa ventral auxilia no processo de fixação para penetrar nos humanos Esta é a forma infectante O ovo mede aproximadamente 60 µm x150 µm tendo formato oval com um epísculo em uma das extremidades e um miracídio formado no seu interior Figura 18 72 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 18 Ovo de Schistosoma Mansoni Fonte Shutterstock 2021 A fêmea do Schistosoma mansoni adulto após acasalamento nas veias mesentéricas faz a postura dos ovos na mucosa de capilares pondo aproximadamente 400 ovos por dia Os ovos chegam à luz intestinal em um período mínimo de seis dias tempo necessário à maturação do ovo para então serem eliminados nas fezes Ao chegarem na água o miracídio sai de dentro do ovo por estímulo de temperatura e oxigenação da água Os miracídios apresentam atração química pelos moluscos Os miracídios penetram nos caramujos transformamse em esporocistos e cercaria A cercaria é liberada do molusco em ambiente aquoso e vai contaminar humanos NEVES 2011 9 Transmissão Ocorre através da penetração das cercarias na pele dos humanos provocando coceira no local A maior incidência de penetração acontece nos pés e pernas pois estas ficam em contato com a água contaminada 9 Esquistossomose A doença costuma ser na maioria das vezes assintomática ou oligossintomática mas pode produzir alterações anatomopatológicas cujo caráter e gravidade abrangem uma extensa gama de situações 73 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Durante a fase inicial da infecção é observado edema eritema e em alguns casos hepatoesplenomegalia levando à distensão da barriga Na fase crônica é comum ocorrer perda de apetite surtos diarreicos anormais e irritabilidade Alguns ovos podem atingir os capilares hepáticos resultando em lesões hepáticas hepatoesplenomegalia e icterícia Como medidas profiláticas estão saneamento básico tratamento da população combate aos caramujos e controle das áreas de recreação NEVES 2011 233 Ascaridíase Ascaris lumbricoides Popularmente conhecidos com lombrigas são os nematoides mais comuns com ampla distribuição geográfica os quais causam a ascaridíase Sugerese que 70 a 90 das crianças entre 1 e 10 anos de idade serão atingidas por este parasito As formas do parasita são vermes adultos macho e fêmea e o ovo Os machos são longos robustos cilíndricos com extremidades afiladas medindo entre 20 cm a 30 cm de comprimento e apresentam cor leitosa A boca ou vestíbulo bucal está localizado na extremidade anterior e é contornado por três fortes lábios A extremidade posterior fortemente encurvada é característica do macho As fêmeas medem cerca de 30 cm a 40 cm quando adultas sendo mais robustas que os machos e com extremidade posterior retilínea Os ovos liberados nas fezes são de cor castanha com 50 µm ovais e apresentam uma cápsula espessa Podem ser liberados nas fezes também ovos inférteis os quais são mais longos e possuem cápsula mais delgada com citoplasma granuloso Figura 19 Figura 19 Ovos de Ascaris lumbricoides Fonte Shutterstock 2021 74 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA As fêmeas no intestino delgado colocam cerca de 200000 ovos por dia No ambiente os ovos tornamse embrionados em 15 dias A primeira larva L1 é formada dentro do ovo e é do tipo rabditoide Após uma semana ainda dentro do ovo esta larva sofre mudança transformandose em L2 e em seguida nova muda transformandose em L3 filarioide a qual é infectante e pode permanecer viável por meses no ambiente O ovo com larva L3 é ingerido pelo hospedeiro e eclode no intestino delgado As larvas L3 uma vez liberadas atravessam a parede intestinal caem na circulação invadem o fígado e chegam ao coração Finalmente nos pulmões evoluem para larva L4 rompem os capilares e caem nos alvéolos onde mudam para L5 Do pulmão caem na traqueia faringe e são expectoradas ou deglutidas e implantadas no intestino no qual se transformam em vermes adultos NEVES 2011 Figura 20 Figura 20 Ciclo Biológico de Ascaris lumbricoides Fonte Shutterstock 2021 75 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Transmissão Ocorre pela ingestão de ovos férteis presentes em água contaminada alimentos contaminados como verduras e legumes irrigados com água contaminada e geofagismo 9 Ascaridíase Pode ser assintomática mas alguns pacientes apresentam dor abdominal diarreia náuseas e anorexia Durante o desenvolvimento da fase pulmonar pode ocorrer o desenvolvimento de broncoespasmo e pneumonite A infecção por um número grande de vermes pode causar subnutrição obstrução intestinal e a eliminação de vermes pelo nariz e pela boca Como medida profilática é aconselhado o tratamento em massa da população saneamento básico educação em saúde e lavar bem e desinfetar verduras e legumes uma vez que os ovos apresentam grande aderência às superfícies dificultando a eliminação durante uma simples lavagem BROOKS et al 2014 234 Enterobiose Enterobius vermiculares E vermicularis têm distribuição geográfica mundial com maior incidência em regiões de clima temperado atingindo principalmente a faixa etária de 5 a 15 anos Apresenta dimorfismo sexual porém alguns caracteres são comuns aos dois sexos cor branca e filiforme Na extremidade anterior notamse expansões vesiculosas muito típicas chamadas asas cefálicas A boca é pequena seguida de um esôfago também típico é claviforme terminando em um bulbo cardíaco A fêmea mede 1 cm de comprimento por 04 mm de diâmetro com cauda pontiaguda e longa e o macho mede 5 mm de comprimento por 02 mm de diâmetro com cauda fortemente recurvada em sentido ventral O ovo mede 20 µm x 50 µm com aspecto de D possuindo membrana dupla lisa e transparente com larva infectante no seu interior já quando é liberado pela fêmea Figura 21 76 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 21 Ovos de Enterobius Vermiculares Fonte Shutterstock 2021 Machos e fêmeas vivem no ceco e apêndice Após acasalamento as fêmeas migram no período noturno para a região perianal para a postura dos ovos Os ovos eliminados já embrionados tomamse infectantes em poucas horas e são ingeridos pelo hospedeiro MORAES 2008 9 Transmissão Pode ocorrer heteroinfecção pela ingestão de ovos em alimentos ou poeira autoinfecção a própria pessoa leva os ovos à boca após o contato com a região anal autoinfecção interna as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migram até o ceco transformandose em vermes adultos NEVES 2011 9 Enterobiose Na maioria das vezes ela é assintomática mas os sintomas iniciam com o prurido anal causado pela postura dos ovos na região anal A hiperinfecção pode provocar enterite catarral por ação mecânica e irritativa Para diagnóstico o método mais utilizado é a fita gomada onde uma fita adesiva é encostada na região anal coletando ovos e larvas do parasita REY 2011 SUGESTÃO DE LEITURA REY Luís Bases da Parasitologia Médica 3ª edição Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2009 77 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade 2 de nosso estudo espero que você tenha se apaixonado pelo incrível mundo dos parasitas Foi possível entender um pouco sobre os principais parasitas que ocasionam patologias em humanos sua morfologia fisiologia e transmissão Também abordamos a relação dos seres vivos e o ser humano Na Unidade 1 estudamos os microrganismos e na Unidade 2 as principais parasitoses Assim na próxima unidade entenderemos o Sistema Imunológico e como ele trabalha quando entramos em contato com alguns dos agentes patogênicos estudados 78 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA EXERCÍCIO FINAL 01 CONHECIMENTO As parasitoses são doenças provocadas por parasitas sendo muito comuns no Brasil As parasitoses mais comuns são provocadas pela ingestão de água e alimentos contaminados Uma medida profilática simples é o melhoramento do saneamento básico e higiene pessoal Sobre o parasito que elimina cistos nas fezes humanas assinale a alternativa CORRETA a A Taenia solium b Ascaris lumbricoides c Schistosoma mansoni d Entamoeba histolytica e Trypanosoma cruzi 02 APLICAÇÃO Analise a descrição clássica adotada para o Trypanosoma cruzi no interior dos triatomíneos vetores Os triatomíneos se infectam ao ingerirem as formas presentes na corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado No estômago do inseto eles se transformam em formas arredondadas e Na porção terminal do tubo digestivo as formas se diferenciam em que são infectantes para os vertebrados Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente a afirmativa anterior a amastigotas epimastigotas amastigotas b epimastigotas amastigotas tripomastigotas c tripomastigotas amastigotas tripomastigotas d epimastigotas tripomastigotas epimastigotas e tripomastigotas epimastigotas tripomastigotas 03 CONHECIMENTO A transmissão natural da malária ao homem ocorre 79 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA quando fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles inoculam esporozoítos em humanos Os esporozoítos são encontrados a no sangue do mosquito e a infecção ocorre pela introdução do ferrão b nas fezes do mosquito e a contaminação ocorre quando ele defeca sobre a pele e a pessoa coça c na pele do mosquito e a infecção ocorre quando ele pousa sobre a pele d na saliva do mosquito e a transmissão ocorre durante o repasto sanguíneo e na larva do mosquito que penetra ativamente na pele após deposição do ovo 80 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA REFERÊNCIAS BROOKS G F CARROLL K C BUTEL J S MORSE S A MIETZNER T A Microbiologia médica de Jawetz Melnick e Adelberg 26ª edição New York AMGH editora Ltda 2014 CIMERMAN B CIMERMAN S Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais 2ed São Paulo Atheneu 2010 MORAES R G Parasitologia e Micologia Humana 5ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2008 NEVES AL LINARDI PM VITOR RWA Parasitologia Humana 11ª ed São Paulo Atheneu 2005 NEVES D P Parasitologia Humana 12ª ed São Paulo Atheneu 2011 REY L Parasitologia Parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais 4ª ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 UNIDADE3 INTRODUÇÃO À IMUNOLOGIA E RESPOSTA IMUNE 82 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA INTRODUÇÃO À UNIDADE Ao falarmos em Sistema Imune o que vem à sua mente Na Unidade 3 compreenderemos como funciona a nossa Imunidade Imunidade abrange os mecanismos utilizados pelo nosso corpo para proteção contra agentes estranhos como os microrganismos e suas consequências resolução de doenças alergias entre outras É uma ciência que estuda os órgãos células e moléculas responsáveis pelo reconhecimento e eliminação destes agentes estranhos gerando uma reação coordenada chamada de resposta imunológica Será possível entender que os mecanismos usados pelo nosso Sistema Imune para estabelecer um estado de imunidade contra as infecções e sua atuação fornece a base para a maravilhosa disciplina conhecida como Imunologia O Sistema Imunológico apresenta diferentes funções mas não resta dúvida de que a mais importante é a de prevenir o desenvolvimento das infecções e erradicar as já estabelecidas Isto fica evidente quando nos deparamos com indivíduos que apresentam uma resposta imunológica defeituosa como os imunocomprometidos os quais estão suscetíveis a infecções sérias que frequentemente colocam em risco a vida do paciente Veremos ainda que a resposta imune contra microrganismos é dividida em duas etapas as respostas iniciais chamadas de imunidade inata ou natural e as respostas tardias denominadas de imunidade adquirida A imunidade inata e a imunidade adquirida trabalham juntas sendo que a primeira ativa a segunda Porém muitos microrganismos desenvolveram estratégias de evasão da imunidade inata e sua eliminação requer os mecanismos mais elaborados da imunidade adquirida Você já pensou nas seguintes perguntas Que tipos de resposta imunológica protegem os indivíduos contra as infecções Quais são as características importantes da imunidade e que mecanismos são responsáveis por estas características Como as células e os tecidos do Sistema Imunológico são organizados para que encontrem os patógenos e respondam a micróbios de uma forma que leve à sua eliminação Na terceira unidade responderemos a estes e a outros tantos questionamentos sobre a imunidade Ao longo desta unidade você conhecerá conceitos básicos para saber como o Sistema Imunológico funciona imunidade inata e imunidade adaptativa reação antígeno x anticorpo 83 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 31 CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNE As células que fazem parte do Sistema Imune tanto na imunidade inata quanto na imunidade adaptativa desenvolvemse a partir das célulastronco As célulastronco multipotentes têm capacidade de se diferenciar em qualquer célula do sangue Elas crescem na medula óssea diferenciamse em uma variedade de células maduras sob a influência de citocinas e quimiocinas solúveis proteínas que influenciam em muitos aspectos na diferenciação das células imunes Então as células diferenciadas viajam por meio do sangue e da linfa para outras partes do corpo ABBAS et al 2011 No sangue 01 das células são leucócitos conhecidos como células de defesa que incluem neutrófilos linfócitos monócitos eosinófilos e basófilos Estas células juntamente com os eritrócitos e plaquetas estão em suspensão no plasma Além dos componentes celulares no plasma também está presente uma ampla gama de proteínas incluindo os anticorpos que se ligam a patógenos facilitando sua eliminação ROITT 2015 Além da corrente sanguínea os leucócitos também são distribuídos através do Sistema Linfático onde circula a linfa O fluido linfático é drenado a partir de tecidos extravasculares para os capilares linfáticos ductos linfáticos e então para os linfonodos nos quais está presente um grande número de linfócitos e fagócitos SILVA et al 2014 Além dos linfonodos o baço contém uma polpa branca que consiste em linfócitos e fagócitos organizados para filtrar o sangue Coletivamente os linfonodos e o baço são chamados de órgãos linfoides secundários locais onde os antígenos interagem com fagócitos apresentadores de antígeno e linfócitos para gerar uma resposta imune adaptativa que será discutida nos próximos tópicos ABBAS et al 2011 84 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 311 Leucócitos e Células de Defesa Os leucócitos também chamados de glóbulos brancos são células nucleadas encontradas tanto no sangue quanto na linfa Estas células como mencionado anteriormente participam da imunidade inata e adaptativa e são divididas em células mieloides e linfoides Figura 22 Figura 22 Origem das Células Mieloides e Linfoides Fonte Shutterstock 2021 9 Células Mieloides As células mieloides são derivadas de uma célula mieloide precursora sendo divididas em monócitos e granulócitos ROITT 2015 Monócitos quando nos tecidos transformamse em macrófagos células fagocíticas especializadas Os macrófagos são as primeiras células de defesa a interagir com um patógeno Eles são abundantes em muitos tecidos especialmente baço e linfonodos MADIGAN et al 2010 85 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Granulócitos são assim denominados por possuírem inclusões ou grânulos em seu citoplasma contendo toxinas ou enzimas que são liberadas para matar as célulasalvo Incluem neutrófilos possuem atividade fagocíticas basófilos envolvidos em processos alérgicos e o eosinófilo atua em processos alérgicos e infecções parasitárias BROOKS et al 2014 9 Linfócitos São células que atuam principalmente na resposta imune adaptativa Quando maduros circulam por meio dos Sistemas Sanguíneo e Linfático porém estão concentrados nos linfonodos e no baço onde interagem com os antígenos Existem dois tipos de linfócitos as células B linfócitos B e as células T linfócitos T MADIGAN et al 2010 Células B originamse e sofrem maturação na medula óssea Estes linfócitos atuam como células apresentadoras de antígenos APCs mas também podem se transformar em plasmócitos que são as células responsáveis pela produção de anticorpos Anticorpos ou Imunoglobulinas são proteínas que vão interagir com antígenos externos e facilitar o processo de eliminação dos mesmos ROITT 2015 Células T iniciam o seu desenvolvimento na medula óssea mas sofrem maturação no timo Ambos timo e medula óssea são considerados órgãos linfoides primários onde as célulastronco linfoides desenvolvemse em linfócitos funcionais SILVA et al 2014 Células Dendríticas Figura 23 especializadas na captura e apresentação de antígenos para os linfócitos São consideradas uma ponte entre a imunidade inata e a adaptativa por serem atraídas e ativadas por elementos da resposta inata e viabilizarem a sensibilização de Linfócitos T da resposta imune adaptativa Residem em tecidos periféricos como pele fígado e intestino nos quais capturam antígenos e se tornam ativadas migrando para os linfonodos regionais em que processam e apresentam antígenos proteicos ou lipídicos aos Linfócitos T BROOKS et al 2014 86 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 23 Célula Dendrítica e suas Funções Fonte Shutterstock 2021 32 RESPOSTA IMUNE A resposta imune engloba os mecanismos de defesa do nosso corpo a agentes estranhos Ela é dividida em Imunidade Inata e Imunidade Adaptativa sendo que ambas desempenham papel crucial na resposta imune 321 Imunidade Inata A imunidade inata é uma resposta imediata e inespecífica contra patógenos a qual não leva a memória imunológica A imunidade inata não requer exposição prévia a um patógeno ou seus produtos e é mediada principalmente pelos fagócitos Fazendo parte da imunidade inata temos barreiras físicas como a pele epitélio elementos celulares como macrófagos células 87 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA NK natural killer células matadoras naturais e componentes químicos como citocinas e o Sistema Complemento MADIGAN et al 2010 3211 Barreiras Físicas e Químicas Pele a pele atua como uma barreira física impedindo a entrada de microrganismos na parte interna do corpo humano Além disso na pele são encontrados componentes químicos protetores como ácidos graxos secretados pelas glândulas sebáceas lisozima que atua degradando as paredes celulares de algumas bactérias e a psoriasina que possui atividade antibacteriana BROOKS et al 2014 Mucosas o muco presente nas mucosas é uma barreira física contra a entrada de microrganismos Imerso no muco existem diferentes componentes com atividades antimicrobianas como a já mencionada psoriasina MADIGAN et al 2010 9 Mecanismos da Imunidade Inata Entre as células que fazem parte da imunidade inata estão os neutrófilos macrófagos e células NK que são a primeira linha de defesa contra os microrganismos O reconhecimento de patógenos por estas células leva à produção de um grande número de componentes químicos citocinas quimiocinas e à ativação das proteínas do sistema complementar Padrões Moleculares Associados a Patógenos Pamps são macromoléculas que consistem em subunidades repetitivas localizadas no interior e na superfície celular de patógenos Exemplos de PAMPs são o Lipopolissacarídeo LPS comum a todas as membranas externas de bactérias gramnegativas a proteína de flagelos bacterianos flagelina o RNA duplafita dsRNA de determinados vírus e os ácidos lipoteicoicos de bactérias grampositivas Quadro 1 Estas macromoléculas estão presentes em 88 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA grandes grupos microbianos e são reconhecidas pelo Sistema Imune para o combate aos patógenos SILVA et al 2014 Os fagócitos como macrófagos e neutrófilos possuem moléculas especializadas que interagem diretamente com os PAMPs as Moléculas de Reconhecimento de Padrão PRRs Cada PRR tem capacidade de interagir com PAMP específico para ativar o fagócito Figura 24 Como exemplo o PRR que reconhece o LPS de bactérias gramnegativas é capaz de reconhecer este componente tanto em linhagens patogênicas de Salmonella spp quanto Escherichia coli e Shigella spp Assim a interação entre um PAMP e um PRR ativa o fagócito a ingerir e destruir o patógenoalvo por fagocitose BROOKS et al 2014 Figura 24 Representação Esquemática da Interação Macrófago a um Antígeno Bacteriano Fonte Shutterstock 2021 89 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Fagocitose O esquema sobre as etapas da fagocitose está ilustrado na Figura 25 Figura 25 Etapas da Fagocitose Fonte Shutterstock 2021 A fagocitose ocorre na ausência de anticorpos mas quando eles estão presentes o processo ocorre de maneira mais efetiva e eficiente A marcação de um patógeno por anticorpos se denomina opsonização Figura 26 a qual facilita a fagocitose uma vez que os macrófagos possuem receptores em suas membranas para a porção Fc do anticorpo e para o componente C3b do complemento MADIGAN et al 2010 90 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 26 Opsonização de Microrganismo para posterior Fagocitose Fonte Shutterstock 2021 De acordo com Silva et al 2014 além das células mencionadas anteriormente as células NK que são linfócitos grandes e granulares atuam na imunidade inata principalmente contra infecções virais e patógenos intracelulares As NK têm grande capacidade para reconhecimento e eliminação de células infectadas assim como células tumorais Quando na presença de anticorpos as células NK são fundamentais para a citotoxicidade celular dependente de anticorpo AntibodyDependent Cellular Cytotoxicity ADCC 9 Sistema Complemento Outro componente chave para a resposta imune inata é o sistema complemento o qual é formado por 30 proteínas presentes no plasma ou na membrana de determinadas células O sistema complemento causa a morte do microrganismo através de lise celular ou por causar poros na membrana celular ou por opsonização facilitando assim a destruição do patógeno pelos neutrófilos ou macrófagos O sistema complemento pode ser ativado por três vias clássica alternativa e lectínica Figura 27 as quais resultam em lise do agente invasor após uma cascata de reações bioquímicas Além de atuar na imunidade inata o sistema complemento pode liberar componentes que interagirão também com linfócitos T e B MADIGAN et al 2010 91 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 27 Vias de Ativação do Sistema Complemento Fonte Abbas et al 2011 SUGESTÃO DE VÍDEO Para entender melhor o sistema complemento acesse os links abaixo e assista aos vídeos indicados httpswwwyoutubecomwatchvvHTU2afjKJMabchannelTraduzindoaImuno httpswwwyoutubecomwatchvnweFcvw7npAabchannelImunoCanal 92 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Mediadores Químicos de Inflamação Citocinas e Derivados do Ácido Araquidônico As lesões em tecidos tanto na presença quanto na ausência de microrganismos levam ao desenvolvimento de uma resposta inflamatória Tal processo inflamatório decorre da liberação de citocinas que são mediadores químicos por macrófagos e outras células envolvidas neste processo Além de citocinas as células de defesa também liberam prostaglandinas e leucotrienos derivados do ácido araquidônico que regularão o processo inflamatório Esses mediadores químicos da inflamação induzem alterações na vasculatura local iniciando com vasodilatação das arteríolas e dos capilares locais para que ocorra o extravasamento do plasma Assim é observado o acúmulo de líquido de edema na área da lesão e a fibrina proteína envolvida na coagulação forma uma rede causando a oclusão dos vasos linfáticos locais e limitando a disseminação dos microrganismos Após os mediadores também induzem a expressão de moléculas de adesão como selectina e integrinas em células endoteliais e leucócitos permitindo a fixação dos leucócitos às células endoteliais e migração através da parede do vaso A este processo de migração guiado por mediadores químicos dáse o nome de quimiotaxia a qual é estimulada principalmente por polipeptídeos chamados de quimiocinas A IL8 é um exemplo de quimiocina que estimula principalmente a migração de monócitos e neutrófilos para os locais de infecção Figura 28 Figura 28 Esquema do Processo Inflamatório Fonte Shutterstock 2021 93 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Entre os sintomas comuns da inflamação causada pelo combate a microrganismos está a febre que decorre da alteração do centro termorregulador localizado no hipotálamo por pirógenos como endotoxinas bacterianas e citocinas como a ILI e a prostaglandina E Os interferons IFNs são citocinas críticas que exercem um papelchave na defesa contra infecções virais e diferentes microrganismos intracelulares como o Toxoplasma gondii MADIGAN et al 2010 SUGESTÃO DE VÍDEO Quer entender o processo inflamatório Assista aos vídeos indicados no link httpswwwyoutubecomwatchvnlrbobhvclk 322 Imunidade Adaptativa A imunidade adaptativa é dirigida a um componente molecular específico do patógeno o qual é denominado antígeno Os receptores aos patógenos específicos são produzidos em grandes quantidades apenas após a exposição ao patógeno ou a seus produtos Quando a primeira exposição a um antígeno ocorre ela gera uma resposta imune primária estimulando o crescimento e a multiplicação de linfócitos antígenoreativos específicos criando clones idênticos que atuarão contra o agente causal específico Estes clones podem persistir por anos e conferem uma imunidade específica e duradoura Figura 29 Os linfócitos são divididos em células T e células B sendo que os linfócitos T produzem em sua superfície receptores de célula T TCRs e os anticorpos de superfície das células B são os receptores de células B BCRs 94 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 29 Representação das Etapas da Imunidade Adaptativa Fonte Shutterstock 2021 Quando uma segunda exposição ao mesmo antígeno acontece os clones já expandidos são ativados gerando uma resposta imune adaptativa secundária mais rápida e mais intensa do que a primária Os produtos da resposta secundária rapidamente marcam o patógeno para a destruição do mesmo cujo processo é chamado de memória imunológica No entanto para o processo não se tornar danoso a resposta imune adaptativa precisa apresentar tolerância a antígenos das próprias células Caso isso não ocorra teremos a chamada hipersensibilidade que será abordada na próxima unidade A tolerância garante que a imunidade adaptativa seja dirigida contra agentes externos que representem ameaças ao hospedeiro e não às proteínas do próprio hospedeiro ABBAS et al 2011 95 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Células T e Apresentação de Antígeno A imunidade adaptativa inicia com a interação dos linfócitos T com os antígenos de patógenos Para que o linfócito T reconheça antígenos em células infectadas os antígenos precisam ser apresentados através do Complexo Principal de Histocompatibilidade MHC Todas as células do hospedeiro possuem proteínas de MHC de classe I as quais apresentam antígenos como peptídeos virais e de outros patógenos intracelulares para o reconhecimento imune Já as denominadas Células Apresentadoras de Antígenos APCs macrófagos células dendríticas e células B possuem uma proteína apresentadora de antígenos adicional o MHC de classe II Figura 30 Figura 30 Apresentação de Antígenos através do Complexo Principal de Histocompatibilidade Fonte Shutterstock 2021 As APCs ao fagocitarem microrganismos como bactérias vírus e outros materiais antigênicos degradam os antígenos em pequenos peptídeos Estes antígenos são incorporados ao complexo MCH para que sejam expostos na membrana da APC sendo assim apresentados aos linfócitos e o processo é denominado de apresentação de antígeno Os linfócitos T interagem com o complexo MHCpeptídeo através do seu receptor TCR específico para um único antígeno A associação entre o complexos MHCpeptídeo e o receptor envia um sinal para a célula T crescer e se dividir produzindo clones reativos ao antígeno específico Esses linfócitos vão eliminar as células que apresentarem o mesmo antígeno ou auxiliar outras células no processo Existem três tipos de linfócitos T as células NK já estudadas os linfócitos T auxiliares e T citotóxicos 96 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Células T auxiliares Th São também chamadas de linfócitos TCD4 interagem com complexos MHC de classe II presentes em APCs Esta interação promove a diferenciação das células Th gerando basicamente três padrões de respostas denominados de Th1 Th2 e Th17 Figura 31 A resposta Th1 é uma resposta contra microrganismos intracelulares onde temos a ativação de linfócitos Tc e macrófagos além do estímulo das células B à produção de IgG Na resposta Th2 o linfócito Th leva à ativação de mastócitos e eosinófilos Esta resposta atua no combate a parasitas da classe dos helmintos e também ocorre nas doenças alérgicas As células B são estimuladas a produzirem anticorpos IgE A resposta Th17 ocorre quando temos infecção por microrganismos extracelulares como fungos e bactérias A secreção de citocinas pelo linfócito Th leva à ativação de neutrófilos e macrófagos para a fagocitose e destruição do microrganismo Ela é caracterizada por processo inflamatório intenso Figura 31 Ativação dos Linfócitos T Fonte Shutterstock 2021 97 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Células T citotóxicas Tc São também conhecidas como linfócitos TCD8 e reconhecem antígenos apresentados por MHC de classe I em uma célula infectada Figura 32 Quando ocorre a interação entre as células Tc e a célula infectada as Tcs secretam proteínas que matam a célula eliminando também o agente causal ROITT 2015 Figura 32 Ação de Linfócitos T contra Células Infectadas Fonte Shutterstock 2021 9 Linfócitos B e Anticorpos Os anticorpos são proteínas sintetizadas por células B ativadas chamadas de plasmócitos em resposta à exposição a um antígeno Cada anticorpo tem capacidade de se ligar a um antígeno específico Para que que ocorra a síntese de anticorpos os antígenos precisam ser reconhecidos pelos receptores BCRs das células B Em seguida a célula B mata e digere o patógeno produzindo um conjunto de peptídeos derivados do patógeno Esses peptídeos presentes na superfície das células B estão complexados ao 98 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA MHC de classe II e são apresentados às células Th antígenoespecíficas As células Th produzem citocinas que estimulam as células B a crescerem e formarem clones reativos ao antígeno específico Muitas destas células B ativadas vão se diferenciar em plasmócitos e produzirão anticorpos Figura 33 Figura 33 Ativação de Linfócitos B Fonte Shutterstock 2021 A resposta a uma infecção primária é observada em cinco dias após a exposição ao antígeno havendo um pico na quantidade de anticorpos em várias semanas Algumas das células B ativadas permanecerão na circulação como células B de memória Quando houver uma segunda exposição ela estimulará as células B de memória As células B ativas produzirão uma resposta secundária baseada em anticorpos mais rápida e mais efetiva Com a descoberta deste fato foi possível o desenvolvimento de vacinas serão abordadas nos próximos tópicos É importante saber que os anticorpos não interagem com o antígeno todo mas apenas com uma pequena parte dele denominada de epítopo Figura 34 99 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 34 Ligação Anticorpoepítopo Fonte Shutterstock 2021 A ligação do anticorpo ao epítopo desencadeia a neutralização ou destruição dos patógenos ou seus produtos por meio de vários mecanismos Figura 35 Alguns anticorpos impedem a ligação do patógeno ao seu receptor na célula do hospedeiro Outros se ligam a toxinas como a toxina do tétano impedindo a ação da mesma processo denominado de neutralização Ainda os anticorpos podem marcar os patógenos e estimular sua destruição por fagocitose À marcação de patógenos com anticorpos se dá o nome de opsonização Outra opção é a ligação das proteínas do sistema complemento à superfície celular atraídas por anticorpos o que leva à lise por danos na membrana ou estimulando a fagocitose BROOKS et al 2014 100 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 35 Funções dos Anticorpos Fonte Abbas et al 2011 SUGESTÃO DE VÍDEO Assista às videoaulas para saber mais sobre a imunidade inata e a imunidade adquirida Link httpswwwyoutubecomwatchvEDN5qPl9GPE Link httpswwwyoutubecomwatchv5vUGWYhWM 9 Estrutura Básica dos Anticorpos Todas as classes de anticorpos ou imunoglobulinas Ig IgG IgM lgA IgE e IgD compartilham características estruturais em comum apresentam duas cadeias leves e duas cadeias pesadas idênticas Figura 36 101 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 36 Estrutura básica de um Anticorpo Fonte Shutterstock 2021 A porção aminoterminal de cada cadeia leve L e da cadeia pesada formam a porção final da região Fab região variável onde ocorre a ligação do antígeno A porção carboxiterminal das cadeias pesadas forma o fragmento Fc região constante que exerce várias atividades biológicas como ligação a receptores de superfície celular ou ativação do sistema complemento 9 Classes de Anticorpos e suas Funções As classes de anticorpos são IgG IgM IgD IgE e IgA cada uma com função específica IgG é formada por duas cadeias L e duas cadeias H São as imunoglobulinas mais abundantes na corrente sanguínea existindo quatro subclasses de IgG IgGl IgG2 IgG3 e IgG4 que se diferenciam estruturalmente e em função De modo geral as IgGs atuam em infecções crônicas predominantemente nas 102 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA respostas secundárias levando à opsonização dos patógenos IgM encontrada nas respostas primárias de anticorpos contra microrganismos na fase aguda das infecções É constituída de cinco unidades cada qual semelhante a uma unidade da IgG e uma molécula da cadeia J junção Atua principalmente em reações de aglutinação fixação do complemento agindo frente a vírus e bactérias IgA encontrada no sangue e em altas concentrações em secreções de membranas mucosas como pulmões e intestino protegendo a entrada de patógenos nestes locais É formada por duas unidades uma cadeia J e uma molécula de componente secretor proteína que facilita o seu transporte por meio das células epiteliais da mucosa IgE encontrada ligada a mastócitos basófilos e eosinófilos e está envolvida na imunidade contra parasitas e em alergias IgD encontrada ligada à superfície em células B atuando como receptor de antígeno Até o momento as funções desta imunoglobulina não são completamente conhecidas ROITT 2015 33 IMUNIDADE E VACINAÇÃO A imunidade pode ser adquirida de duas formas natural ou artificial e ambas resultam da exposição a antígenos A imunidade natural é adquirida quando somos expostos a um microrganismo e nosso corpo o combate produzindo anticorpos Já a imunidade artificial se refere à vacinação Além dessa primeira diferenciação também podemos adquirir imunidade por via ativa ou passiva A imunidade ativa se refere ao desenvolvimento de anticorpo após exposição a antígenos que pode ser natural ou artificial já a imunidade passiva se refere à administração de anticorpos ou células imunitárias de um indivíduo imune ABBAS et al 2011 103 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 331 Imunidade Natural A Imunidade Ativa Natural é decorrência de uma infecção natural por algum microrganismo como vírus ou bactéria O resultado normalmente é uma imunidade protetora conferida pela presença de anticorpos e células T Precisamos lembrar que pacientes com imunodeficiência podem apresentar dificuldades em combater e produzir memória imunológica contra diversos patógenos A Imunidade Passiva Natural ocorre quando uma pessoa não imune adquire células imunes préformadas ou anticorpos por meio da transferência natural de células ou anticorpos a partir de uma pessoa imune Isso acontece durante a gestação na qual os anticorpos maternos são passados ao feto através da placenta ou anticorpos IgA são passados durante a amamentação Em ambos os casos os anticorpos maternos vão proteger o bebê por vários meses após o nascimento Processo extremamente importante para a proteção da criança até que o Sistema Imune do recémnascido esteja maduro MADIGAN et al 2010 332 Imunidade Passiva A Imunidade Passiva Artificial se refere ao recebimento de anticorpos préformados por transfusão e não desempenha nenhum papel ativo na produção destes anticorpos Exemplo é a injeção de antissoro contendo anticorpos O efeito deste tratamento é momentâneo e não leva à imunidade duradoura É uma estratégia usada para doenças críticas como o tétano ou para picada por animais peçonhentos A preparação contendo anticorpos é conhecida como antissoro ou antitoxina se os anticorpos são dirigidos contra uma toxina ou antiveneno se os anticorpos são direcionados contra um veneno Normalmente são obtidos a partir de animais imunizados ou indivíduos com altos níveis de anticorpos A Imunidade Ativa Artificial se refere ao processo de vacinação em que o indivíduo artificialmente é exposto a antígenos de um determinado patógeno sendo a principal 104 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA arma para o tratamento e prevenção de várias doenças infecciosas Esse processo pode ser obtido pela injeção de um patógeno ou de seus produtos visando ao desenvolvimento de uma resposta imune protetora Muitas vezes a imunidade duradoura só e obtida após mais de uma exposição ao patógeno o que justifica as diferentes doses da mesma vacina Assim a introdução do antígeno primeira dose leva a uma resposta primária com anticorpos e células de memória enquanto a segunda dose reforço resulta na resposta secundária com concentrações mais elevadas de anticorpos e células T BROOKS et al 2014 333 Vacinas O material usado antígeno ou mistura de antígenos para produzir a imunidade ativa artificial são referidos como vacina ou imunógeno Existem vários tipos de vacina mas para reduzir os riscos os patógenos ou seus produtos são na maioria inativados Da mesma forma as toxinas precisam ser modificadas a fim de que não causem efeitos tóxicos retendo sua antigenicidade mas eliminando sua toxicidade Após tais modificações a toxina passa a ser denominada de toxoide Obviamente a imunização utilizando células ou vírus vivos é na maioria das vezes mais eficiente do que a utilização de organismos mortos Uma estratégia é o uso de linhagens atenuadas as quais decorrem de mutações nas quais o organismo perdeu sua virulência mas ainda possui em sua estrutura os antígenos que induzem a imunidade Uma ressalva é que vacinas com linhagens atenuadas não devem ser utilizadas em indivíduos imunocomprometidos pois devido à debilidade do Sistema Imune eles indivíduos podem adquirir a doença ativa 105 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 334 Práticas de Imunização Os recémnascidos possuem imunidade passiva natural adquirida pela passagem dos anticorpos maternos No entanto assim que possível os bebês devem ser imunizados para a aquisição de imunidade própria e duradoura prevenindo o desenvolvimento de doenças infecciosas Precisamos lembrar que uma única exposição ao antígeno na maior parte das vezes não leva à imunidade duradoura assim após uma imunização inicial uma série de imunizações secundárias ou de reforço precisam ocorrer para que tenhamos altos títulos de anticorpos e células de memória No entanto a imunidade efetiva varia consideravelmente com diferentes vacinas Por exemplo a vacinação contra o tétano produz uma imunidade de vários anos mas não é vitalícia Assim é recomendado que seja realizada a vacinação a cada 10 anos para manter a imunidade protetora Já para a vacina da gripe a duração da imunidade induzida é de 1 a 2 anos A imunidade obtida através da vacinação traz benefícios não somente ao indivíduo mas também à população Assim a imunidade coletiva se refere à dificuldade na disseminação das infecções quando a maior parte dos indivíduos de uma população são imunes Neste caso mesmo que uma pessoa se contamine como a maioria é imune o patógeno não consegue se propagar Para ver o calendário de vacinação anual aplicado no Brasil em 2020 acesse o link httpswwwsaudegogovbrfilesimunizacaocalendario CalendarioNacionalVacinacao2020atualizadopdf SAIBA MAIS Para saber mais sobre o desenvolvimento de vacinas acesse o link abaixo e leia o artigo Link httpswwwscielosporgarticlecsp2020v36suppl2e00154519pt 106 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade 3 estudamos que todos os microrganismos multicelulares apresentam vias intrínsecas da imunidade inata cuja função principal é a destruição dos microrganismos invasores e ativação dos processos imunes adaptativos Os neutrófilos eosinófilos basófilos mastócitos monócitos macrófagos células dendríticas e as células Natural Killer NK são todos componentes celulares da resposta inata Os principais fagócitos neutrófilos e monócitosmacrófagos são células sanguíneas recrutadas aos locais de infecção onde são ativadas pelo envolvimento de diferentes receptores Os macrófagos ativados destroem microrganismos e células mortas e iniciam o reparo tecidual e as células Natural Killer NK destroem as células do hospedeiro infectadas com patógenos intracelulares Compreendemos também que o Sistema Imunológico Adquirido lembra de encontros com microrganismos e reage de maneira mais intensa após cada encontro Sendo a imunidade adquirida mediada por linfócitos estimulados por antígenos microbianos ela responde de maneira mais eficaz a cada encontro sucessivo com um patógeno As células do Sistema Imunológico Adquirido são os linfócitos Na imunidade humoral os anticorpos neutralizam e erradicam os microrganismos extracelulares e toxinas e na imunidade celular os linfócitos T erradicam os patógenos intracelulares A resposta imunológica adquirida consiste em fases sequenciais 1 Reconhecimento dos antígenos pelos linfócitos 2 Ativação dos linfócitos para que proliferem e se diferenciem em células efetoras e de memória 3 Eliminação dos microrganismos 4 Declínio da resposta imunológica e memória duradoura Por fim nesta unidade foi possível entender que existem diferentes populações de linfócitos que desempenham funções distintas as quais podem ser diferenciadas pela expressão superficial de determinadas moléculas na membrana Os linfócitos produzem os anticorpos e os linfócitos T reconhecem fragmentos peptídicos dos antígenos proteicos apresentados por outras células As células apresentadoras de antígeno APC capturam os antígenos dos microrganismos que entram pelos epitélios e apresentam às células T para reconhecimento 107 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA EXERCÍCIO FINAL 01 CONHECIMENTO Como as células do Sistema Imune Inato reconhecem os antígenos Assinale a alternativa correta a Por meio dos anticorpos que são estruturas diferenciadas dos antígenos e PRRs que são os receptores de reconhecimento da célula de defesa b Por meio dos PRRs que são estruturas diferenciadas dos antígenos c Por meio dos PAMPs que são estruturas diferenciadas dos antígenos e PRRs que são os receptores de reconhecimento da célula de defesa d Por meio dos PAMPs que são estruturas diferenciadas dos antígenos e Por meio dos epitopos que são estruturas diferenciadas dos antígenos 02 CONHECIMENTO O Sistema Imunológico é constituído por uma intrincada rede de órgãos células e moléculas cuja finalidade é manter a homeostase do organismo combatendo as agressões em geral De acordo com o Sistema Imune analise as sentenças I A imunidade inata atua em conjunto com a imunidade adaptativa e se caracteriza pela resposta rápida à agressão sendo a primeira linha de defesa do organismo II A imunidade inata é representada por barreiras físicas químicas e biológicas células especializadas e não se altera qualitativa ou quantitativamente após o contato III A primeira defesa do organismo frente a um dano tecidual envolve diversas etapas intimamente integradas e constituídas pelos diferentes componentes do Sistema Imunológico Adaptativo IV A imunidade adquirida representa uma resposta específica a um antígeno específico V As principais células efetoras da imunidade inata são macrófagos neutrófilos células dendríticas e células Natural Killer NK Assinale a alternativa CORRETA a I II e III estão corretas 108 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA b I II e IV estão corretas c II III e IV estão corretas d II III e V estão corretas e I IV e V estão corretas 03 CONHECIMENTO O processo inflamatório é indispensável para a eliminação de infecções bacterianas sendo necessário o reconhecimento destes agentes invasores Sobre o processo inflamatório avalie as sentenças a seguir I Células fagocitárias possuem receptores que reconhecem componentes microbianos como componentes próprios e desencadeiam uma resposta para a eliminação destes microrganismos II Os componentes microbianos que são reconhecidos para ativação do processo inflamatório são estruturas como RNA de fita dupla peptideoglicano e LPS III Para que as células de defesa migrem para o local da infecção é preciso a produção de citocinas que entre outras coisas possibilitarão a ativação do endotélio a fim de que ocorra a diapedese Está correto o que se afirma em a I apenas b II apenas c III apenas d II e III e I II e III 109 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA REFERÊNCIAS ABBAS A K LICHTMAN AH POBER J S Imunologia celular e molecular 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 BROOKS G F CARROLL K C BUTEL J S MORSE S A MIETZNER T A Microbiologia médica de Jawetz Melnick e Adelberg 26ª edição New York AMGH editora Ltda 2014 MADIGAN M T MARTINKO J M DUNLAP P V CLARK D P Microbiologia de Brock 12ª edição Porto Alegre Artmed editora Ltda 2010 ROITT I M Imunologia básica Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2015 SILVA W D MOTA I BIER O G Imunologia básica e aplicada 5 Ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2014 110 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA UNIDADE4 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE E DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO 112 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA INTRODUÇÃO À UNIDADE Tendo entendido como funciona nosso Sistema Imune você está preparado para estudar as reações de hipersensibilidade e como fazemos o diagnóstico de doenças que ativam nosso Sistema Imune Ao longo das unidades já estudadas vimos os microrganismos as principais parasitoses e o Sistema Imunológico como ele age e qual sua principal função para o Homem Nesta unidade compreenderemos o que acontece quando o nosso Sistema Imune responde de forma exacerbada ou inadequadamente a algum antígeno além de como funcionam os principais exames imunológicos O diagnóstico imunológico das doenças transmissíveis é baseado na investigação da infecção pela detecção quantificação e caracterização de anticorpos ou antígenos presentes no plasma ou outros materiais biológicos Na Unidade 4 conheceremos as principais técnicas sorológicas utilizadas no diagnóstico imunológico das doenças infecciosas Muitas técnicas laboratoriais são baseadas no uso de anticorpos No entanto diversas técnicas baseadas em ferramentas de biologia molecular entraram para ficar no diagnóstico de infecções conforme é observado no diagnóstico da doença COVID19 em que o padrão ouro é a RTPCR Assim os princípios subjacentes aos métodos laboratoriais mais comumente usados em imunologia serão abordados sempre relacionando com o funcionamento do nosso Sistema Imune Além do estudo do diagnóstico imunológico também trabalharemos os quatro tipos de reações de hipersensibilidade Tipos I II III e IV as quais às vezes promovem um processo inflamatório ou causam lesão tecidual A reação do Tipo I é relacionada à produção de IgE por linfócitos B ativados contra antígenos ambientais como pólen ácaros e pelo de animais produzindo as chamadas reações alérgicas Já a reação do Tipo II envolve a produção de anticorpos contra a um antígeno próprio ou estranho presente nas células que leva à ativação da fagocitose A reação do Tipo III envolve a formação exacerbada de imunocomplexos que não conseguem ser eliminados pelas células do sistema retículo endotelial os quais se depositarão nos tecidos e levarão a processos inflamatórios nestes locais Por fim a reação do Tipo IV ocorre principalmente quando temos respostas exacerbadas decorrentes de células T passando a liberar citocinas que medeiam as respostas inflamatórias Portanto entenderemos as causas das reações de hipersensibilidade e como funcionam as principais técnicas sorológicas para detecção de doenças infecciosas 113 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 41 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE Hipersensibilidade se refere às reações excessivas e indesejáveis produzidas pelo Sistema Imune Para que uma reação de hipersensibilidade ocorra é necessário um estado présensibilizado imune do hospedeiro ou seja que o indivíduo já tenha tido um contato prévio com o antígeno Reações de hipersensibilidade podem ser divididas em quatro tipos tipo I tipo II tipo III e tipo IV com base nos mecanismos imunológicos presentes e também no tempo que se leva para a reação ocorrer Embora tenhamos a separação das reações de hipersensibilidade frequentemente uma única doença pode envolver mais de um tipo de reação ROITT 2015 411 Reação de Hipersensibilidade Tipo I A reação de hipersensibilidade tipo I é popularmente conhecida como reação alérgica geralmente ocorrendo em pessoas que apresentam algum histórico familiar de alergia Ela é também denominada de reação imediata devido ao início rápido dos sintomas que podem se desenvolver em diferentes locais como na pele urticária e eczema nos olhos conjuntivite na nasofaringe rinorreia rinite nos tecidos broncopulmonares asma ou no trato gastrointestinal gastroenterite SILVA et al 2014 A reação ocorre normalmente entre 15 a 30 minutos após a exposição ao antígeno no entanto em alguns casos pode demorar de 10 a 12 horas para que os sintomas tenham início A reação do tipo I envolve a produção de anticorpos IgE por linfócitos B ativados As células predominantes nesta hipersensibilidade são os mastócitos e basófilos Todavia a reação é amplificada por plaquetas neutrófilos e eosinófilos Bender et al 2008 No processo fisiopatológico da doença ocorre a produção de IgE devido à exposição a antígenos ambientais também denominados de alérgenos O IgE vai se ligar a receptores complementares FcεRI presentes em mastócitos e basófilos sensibilizando os mesmos Figura 37 114 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Quando uma segunda exposição ao alérgeno acontecer ela desencadeará a degranulação destas células ou seja ocorrerá a exocitose do conteúdo dos grânulos citoplasmáticos com a liberação de mediadores préformados Entre os principais mediadores préformados está a histamina envolvida em processos de broncoconstrição secreção de muco vasodilatação e permeabilidade vascular A ativação de mastócitos e basófilos também leva à indução da síntese de novos mediadores formados a partir do ácido araquidônico tendo como produto prostaglandinas e leucotrienos Nos pulmões estes componentes levam à broncoconstrição edema de mucosas e hipersecreção ocasionando a asma Ainda temos a produção de citocinas que levam à vasodilatação permeabilidade vascular e edema A IL5 promove o aumento do número de eosinófilos levando à eosinofilia tão característica nos processos alérgicos Figura 37 Mecanismo Fisiopatológico da reação de Hipersensibilidade Tipo I Fonte Shutterstock 2021 O tratamento sintomático é feito com a utilização de antihistamínicos que bloqueiam receptores de histamina ou medicamentos que bloqueiem a produção dos mediadores químicos envolvidos O uso de anticorpos IgG contra as porções Fc de IgE que se ligam a mastócitos é utilizado no tratamento de certas alergias pois bloqueia a sensibilização de mastócitos MALE et al 2020 115 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Testes Diagnósticos para Hipersensibilidade do Tipo I Entre os testes usados para detecção da hipersensibilidade do tipo I estão os testes de pele perfuração e intradérmico observando a resposta alérgica à exposição ao alérgeno ou realizando a medida de anticorpos IgE totais e anticorpos IgE específicos contra alérgenos específicos Anticorpos IgE totais e anticorpos IgE específicos são quantificados utilizando Ensaio Imunoenzimático ELISA que será estudado nos métodos de diagnóstico sorológico na próxima seção Em geral na hipersensibilidade do tipo I a IgE sérica está aumentada em pacientes que apresentam alergia a inalantes mas a quantidade de IgE sérica depende de fatores tais como idade sexo fumo histórico familiar e presença de processos infecciosos como parasitoses 412 Reação de Hipersensibilidade Tipo II A reação de hipersensibilidade tipo II também chamada de hipersensibilidade citotóxica acomete uma grande variedade de órgãos e tecidos normalmente contra antígenos endógenos Entretanto em alguns casos antígenos exógenos podem se ligar às membranas celulares e desencadear a hipersensibilidade tipo II Diferentemente da hipersensibilidade do tipo I que era mediada por anticorpos IgE a hipersensibilidade tipo II é mediada por anticorpos IgM ou IgG Além destes o sistema complemento fagócitos e células NK também têm papel importante A hipersensibilidade do tipo II ocorre quando anticorpos IgG ou IgM se ligam a células ou tecidos que apresentem o antígeno em sua membrana desencadeando a ativação da via clássica do complemento e atraindo macrófagos e leucócitos polimorfonucleares ao local Além disso também ativam mastócitos e basófilos que sofrerão degralunação Figura 38 A ligação do anticorpo aos fagócitos os estimula a produzirem leucotrienos e prostaglandinas responsáveis pelo aumento da resposta inflamatória no local MALE et al 2020 116 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 38 Mecanismo Fisiopatológico da Reação de Hipersensibilidade no Desenvolvimento de Lúpus Fonte Shutterstock 2021 Entre os exemplos da hipersensibilidade do tipo II estão as reações decorrentes de transfusão sanguínea incompatível Doença Hemolítica do Recémnascido Anemias Hemolíticas Autoimunes Lúpus Eritematoso Sistêmico Síndrome de Goodpasture Pênfigo e na Miastenia Gravis 117 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA SAIBA MAIS Reações Transfusionais e a hipersensibilidade Reações de hipersensibilidade podem ocorrer quando o indivíduo recebe a transfusão sanguínea com hemácias que possuem antígenos diferentes dos do receptor São conhecidos mais de 20 grupos sanguíneos os quais são classificados devido à expressão de antígenos diferentes na membrana das hemácias No sistema ABO encontramos 4 fenótipos A AB B e O que juntos correspondem aos 4 grupos sanguíneos Uma pessoa com determinado grupo sanguíneo é capaz de reconhecer eritrócitos não próprios e por isso é capaz de produzir anticorpos contra as hemácias de outro grupo sanguíneo Os grupos A B AB O e o fator Rh são fortes imunógenos Além deles temos alguns grupos menos comuns e que não são tão imunógenos A forma mais simples de se saber se o sangue de uma pessoa é compatível ou não com outro é a reação de prova cruzada Nesta reação misturamos o sangue do doador com o do receptor e se houver a presença de anticorpos para o sistema ABO alogênico será possível observar a aglutinação de hemácias A transfusão com sangue incompatível leva a uma reação imediata com sintomas clínicos como febre hipotensão náusea vômito e dor abdominal A gravidade da reação depende da quantidade de hemácias administrada Além disso a destruição das hemácias pode levar ao choque circulatório e à necrose tubular aguda do fígado SILVA et al 2014 9 Testes Diagnósticos para Hipersensibilidade do Tipo II Para o diagnóstico da hipersensibilidade do tipo II é usada a detecção de anticorpos circulantes contra tecidos envolvidos mas também pode ser realizada biópsia local para detectar a presença de anticorpos e complemento no local da lesão Ao tecido da biópsia é empregada a técnica de imunofluorescência O tratamento desta reação é normalmente realizado com o uso de antiinflamatórios e imunossupressores 118 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 413 Reação de Hipersensibilidade Tipo III A reação de hipersensibilidade tipo III também conhecida como hipersensibilidade imune complexa pode acometer o organismo de forma geral como na doença do soro ou envolver órgãos específicos como no caso do lúpus eritematoso sistêmico ou artrite reumatoide A reação é causada pela deposição de complexos imunes solúveis uma vez que os complexos antígenoanticorpo não são removidos pelas células fagocitárias e acabam se depositando nos tecidos Envolve principalmente anticorpos de classe IgG mas pode também ser causada por IgM A maior diferença entre a reação tipo II e tipo III é que na hipersensibilidade tipo III o antígeno é solúvel ou seja não está ligado à membrana de células do hospedeiro Esses imunocomplexos se depositam nas paredes dos vasos dando início a vários processos inflamatórios que levarão à ativação do sistema complemento macrófagos e à produção de diversas aminas vasoativas como a histamina e citocinas Figura 39 Os leucócitos polimorfonucleares também são atraídos para o sítio inflamatório e tentam fagocitar os imunocomplexos No entanto como o complexo está aderido à parede dos vasos os fagócitos não conseguem eliminar os mesmos e acabam aumentando a lesão no local pela exocitose de enzimas digestivas ROITT 2015 Figura 39 Mecanismo Fisiopatológico da Reação de Hipersensibilidade Tipo III Fonte Shutterstock 2021 119 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA A respeito do antígeno que desencadeará a resposta ele pode ser um antígeno exógeno como antígenos bacterianos virais ou parasitários ou endógeno como em algumas patologias autoimunes Assim a hipersensibilidade do tipo III pode ser dividida em três grupos com base na causa da formação dos imunocomplexos imunocomplexos formados por uma infecção persistente como hanseníase malária dengue hemorrágica e endocardite estafilocócica imunocomplexos formados por uma doença autoimune como no lúpus e imunocomplexos pela inalação de material antigênico como na Doença do Feno 9 Testes Diagnósticos para Hipersensibilidade do Tipo III O diagnóstico da reação do tipo III envolve exame de biópsias do tecido para depósitos de Ig e complemento por imunofluorescência A presença de complexos imunes no soro e a diminuição do nível do complemento também são usadas no diagnóstico O tratamento inclui agentes antiinflamatórios 414 Reação de Hipersensibilidade Tipo IV A reação de hipersensibilidade tipo IV conhecida como reação mediada por células ou reação tardia está envolvida na patogênese de muitas doenças autoimunes infecciosas tuberculose lepra toxoplasmose leishmaniose entre outras e granulomas devido a antígenos estranhos Também engloba a dermatite de contato por agentes químicos metais pesados e outros Em ambos os casos a reação é causada por linfócitos T e macrófagos O linfócito T citotóxico causa dano direto e os linfócitos T auxiliares secretam citocinas que vão atrair e ativar macrófagos os quais causarão o dano As células T responsáveis pela reação do tipo IV foram previamente ativadas e elas recrutam outras células para o sítio da reação SILVA et al 2014 Figura 40 120 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 40 Mecanismo Fisiopatológico da Reação de Hipersensibilidade tipo IV Fonte Abbas et al 2011 9 Testes Diagnósticos para Hipersensibilidade do Tipo IV O diagnóstico inclui reação cutânea tardia como o teste Mantoux e teste local para dermatite de contato Corticosteroides e outros agentes imunossupressores são usados no tratamento ABBAS et al 2011 42 DIANÓSTICO IMUNOLÓGICO As técnicas de diagnóstico imunológico ou imunoensaios são baseadas na detecção da reação antígenoanticorpo Assim estes métodos são capazes de detectar e quantificar tanto antígenos quanto anticorpos presentes em materiais biológicos do hospedeiro A seguir conheceremos os principais métodos usados no diagnóstico imunológico 121 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 421 Reações de Precipitação As reações de precipitação incluem a utilização de antígeno ou anticorpo solúvel obtendose a formação de imunocomplexos que serão analisados para expressar o resultado do exame Segundo Male et al 2020 dentre os vários fatores interferentes das reações de precipitação um dos principais é a concentração relativa do antígeno e do anticorpo Quando há concentrações equivalentes ou muito próximas temos a maior formação do precipitado No entanto essa formação vai diminuindo à medida que o antígeno ou anticorpo está em excesso efeito chamado de prózona excesso de anticorpo ou pós zona excesso de antígeno e que pode levar a um resultado falso negativo Figura 41 Figura 41 Curva da Formação de Imunocomplexo em relação à quantidade de Antígeno e Anticorpo Fonte Shutterstock 2021 Na sequência veremos os tipos de ensaios de precipitação usados em laboratórios clínicos 122 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Imunodifusão Radial Dupla A imunodifusão radial dupla é uma técnica semiquantitativa baseada na adição de um antígeno desconhecido e moléculas de um anticorpo poliespecífico em um meio que dará suporte para ocorrer a difusão dos mesmos Com a difusão dos reagentes é possível observar uma linha ou banda de precipitação A densidade da linha de precipitação e a distância em relação ao orifício onde a amostra foi colocada podem ser utilizadas para determinar a quantidade relativa da concentração do anticorpo Estas reações continuam sendo usadas mas em menor grau por sua especificidade principalmente no diagnóstico de infecções causadas por fungos 9 Imunodifusão Radial Simples A imunodifusão radial simples é uma variação da dupla na qual podemos expressar um resultado quantitativo Para isso o anticorpo é uniformemente distribuído em um gel e o antígeno amostra teste é aplicado em um orifício A amostra teste difunde radialmente no gel formando um halo de precipitação circular em torno do orifício da amostra Assim o diâmetro do halo de precipitação formado é proporcional à concentração do antígeno presente na amostra O resultado é interpretado pela comparação do diâmetro do halo da amostrateste com padrões de concentração conhecida curva padrão 422 Separação Eletroforética A separação eletroforética é uma técnica baseada na migração de partículas carregadas em um solvente condutor sob a influência de um campo elétrico Figura 42 Esta migração depende da carga elétrica e do tamanho da molécula Como as moléculas de proteínas se tornam ionizadas elas migram em direção ao eletrodo com carga oposta para o polo positivo se a carga de superfície for negativa ou viceversa O método pode ser utilizado para determinar as proteínas presentes no soro de pacientes BENDER et al 2008 123 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 42 Separação de Proteínas por Eletroforese Cada pico representa uma proteína Fonte Shutterstock 2021 9 Imunoeletroforese A Imunoeletroforese é baseada na eletroforese em gel após a imunodifusão e precipitação das proteínas Ela se divide em duas etapas 1 separação eletroforética das proteínas e 2 imunodifusão de cada componente contra o antissoro específico formando uma linha de precipitação Esta técnica é mais fácil e de menor custo quando comparada à técnica de imunofixação mas como efeito negativo não é tão sensível 9 Imunofixação A Imunofixação combina a eletroforese com a imunoprecipitação Também é realizada em dois estágios 1 a amostra é aplicada em seis posições diferentes do gel de agarose e assim por eletroforese podemos separar as proteínas 2 soros específicos para IgG IgA IgM são impregnados em uma fita de papel e colocados sobre as proteínas Se o antígeno for complementar são formados complexos antígenoanticorpo e a identificação é feita por coloração específica 124 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 423 Técnicas que usam Dispersão da Luz 9 Nefelometria Esta técnica é baseada na dispersão da luz quando um feixe de luz incidente passa por um meio contendo partículas Para isso utilizase um equipamento chamado de nefelômetro o qual aplica uma fonte de luz de alta intensidade que irá incidir em uma cubeta contendo os imunorreagentes Assim a quantidade de luz dispersa dependerá do tamanho e concentração dos imunocomplexos É uma técnica automatizada rápida e precisa Pode ser utilizada para determinar diversas proteínas importantes Figura 43 Figura 43 Diferença entre Nefelometria e Turbidimetria Fonte Bender et al 2008 9 Turbidimetria É baseada nos mesmos princípios da nefelometria porém sua base está na absorbância da luz e não na intensidade de luz dispersa Figura 44 O equipamento utilizado é um espectrofotômetro 125 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 44 Esquema do Funcionamento do Espectrofotômetro Fonte Shutterstock 2021 424 Reações de Aglutinação As reações de aglutinação são baseadas na ligação cruzada com produção de agregados a qual ocorre quando um anticorpo reage com um antígeno presente em uma partícula Essa partícula pode ser um antígeno presente em uma célula ou ele pode ser purificado e adicionado a partículas como as de látex Em comparação a outras técnicas as reações de aglutinação são de fácil análise não precisam de equipamentos podem ser observadas através de inspeção visual e apresentam boa sensibilidade Entretanto como desvantagem os resultados falso positivos podem ser observados devido à aglutinação inespecífica 9 Reação de Aglutinação Direta As técnicas de aglutinação direta são baseadas na utilização de estruturas em sua forma íntegra ou fragmentadas como por exemplo hemácias fungos protozoários ou bactérias Tais estruturas serão aglutinadas quando anticorpos específicos presentes nas amostras biológicas ligaremse a elas Para quantificar a presença dos anticorpos presentes em soro de pacientes diluições em série do soro são realizadas 126 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Assim a reação é baseada na incubação do soro do paciente com as estruturas antigênicas após o período estimado na bula do reagente sendo o resultado observado pela presença de aglutinação grúmulos na reação Figura 45 Quando feita a diluição seriada o resultado é baseado na última diluição em que ocorreu a aglutinação Entre os exames laboratoriais que utilizam esta técnica está a tipagem sanguínea e detecção de toxoplasmose Figura 45 Aglutinação Direta da Tipagem Sanguínea Fonte Shutterstock 2021 SAIBA MAIS Quer aprender o que é e como fazer uma diluição seriada Assista ao vídeo indicado abaixo Link httpswwwyoutubecomwatchvzXCVM7pGrqoabchannelProfaCristianeLopes 127 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Reação de Aglutinação Indireta A base da aglutinação indireta é a utilização de hemácias ou partículas inertes como as partículas de látex sensibilizadas ou ligadas com antígenos purificados Como diversos antígenos podem ser processados e ligados a estas partículas a utilização da aglutinação no laboratório clínico é muito variada Entre os exames que são baseados nessa técnica está a detecção de doenças infecciosas e detecção de processos inflamatórios como no teste de PCR proteína C reativa 9 Reação de Inibição da Aglutinação As reações de inibição da aglutinação têm como base a competição entre antígenos diferentes pela ligação a anticorpos Logo quando não ocorre a aglutinação teremos uma reação positiva Entre os exames laboratoriais que são baseados na inibição da aglutinação está a avaliação do Hormônio da Gonadotrofina Coriônica hCG usado para o teste de gravidez 425 Ensaios utilizando Marcadores Fluorescentes Estes ensaios são baseados na utilização de fluorocromo ou fluoróforo que é uma molécula capaz de absorver a luz de comprimento de onda menor e emitir luz de comprimento de onda maior quando excitado ou seja emite fluorescência Diferentes fluoróforos podem ser utilizados mas é preciso lembrar que cada um possui um comprimento de onda de excitação específico MALE et al 2020 9 Testes Fluorescentes Homogêneos de Modulação Direta Estes testes têm como base a emissão de luz polarizada da molécula de fluoresceína 128 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA após excitação Quando ocorre a ligação entre antígeno marcado e anticorpo o sinal emitido é modificado e pode ser quantificado Como exemplo desta técnica está o EPIA Fluorescense Polarization Immunoassay Ela é muito utilizada para a detecção e dosagem do uso de drogas de abuso 9 Reação de Imunofluorescência Direta A reação de imunofluorescência direta é usada para detectar antígenos pela utilização de anticorpo marcado com fluoróforo Ela tem grande aplicabilidade na detecção de antígenos presentes em tecidos biológicos tanto antígenos em tecidos quanto material infeccioso como vírus e bactérias No laboratório clínico é relevante para detecção de infecções virais como adenovírus influenza entre outros Figura 46 Figura 46 Diferença entre Imunofluorescência Direta e Indireta Fonte Shutterstock 2021 129 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 9 Reação de Imunofluorescência Indireta Diferentemente da imunofluorescência direta que detecta antígenos pela utilização de anticorpo marcado na imunofluorescência indireta são utilizados antígenos fixados em lâmina para detectar a presença de anticorpos em amostras biológicas do paciente Desse modo a lâmina é coberta com o material biológico a fim de avaliar a presença de anticorpos específicos Após a incubação a lâmina é lavada para descartar anticorpos que não estejam ligados aos antígenos Para a visualização do resultado é utilizado um anticorpo antiIg humano marcado com fluorescência o qual se ligará aos anticorpos que ficaram ligados ao antígeno na lamina e então a presença ou não de fluorescência pode ser avaliada em microscópio de fluorescência Com base neste exame podemos detectar anticorpos específicos como IgG IgA e IgM A técnica tem grande importância no laboratório clínico sendo a base para o diagnóstico sorológico de muitas doenças infecciosas como as causadas por Treponema pallidum e Tripanosoma cruzi e autoimunes como as vasculites sistêmicas Como vantagens apresenta elevada sensibilidade especificidade reprodutibilidade e execução simples Como fator limitante está a necessidade de um microscópio de fluorescência 9 Citometria de Fluxo A citometria de fluxo é baseada na utilização da imunofluorescência para a identificação de células em suspensão ou seja na identificação de antígenos em células vivas Assim uma suspensão de células marcadas é injetada no equipamento e será separada e quantificada pela marcação com anticorpos e fluorescência diferente Figura 47 A citometria de fluxo possibilita a determinação fenotípica dos diferentes tipos celulares bem como o isolamento de distintas populações celulares com antígenos presentes na superfície celular diferente pela utilização de marcação com diferentes anticorpos fluorescentes É uma técnica muito utilizada nos laboratórios clínicos para o diagnóstico e prognóstico de doenças tumorais transplante de órgãos e tecidos e imunodeficiências 130 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 47 Esquema do funcionamento da Citometria de Fluxo Fonte Shutterstock 2021 426 Ensaios de Imunohistoquímica 9 Imunoperoxidase A imunoperoxidase utiliza anticorpo marcado com a enzima peroxidase para detectar um substrato antigênico A peroxidase reagirá com o substrato que será adicionado na reação produzindo uma reação que pode ser observada em microscópio de luz 427 Ensaios Baseados em Marcadores Reativos 9 Radioimunoensaio 131 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Este ensaio é baseado na utilização de um dos reagentes antígeno ou anticorpo marcado com radioatividade para assim quantificar o antígeno ou o anticorpo da amostra O radioisótopo mais utilizado é o iodo125 428 Ensaios Luminescentes 9 Ensaios Quimioluminescentes Os ensaios de quimioluminescentes têm como base a emissão de luz derivada de reações químicas Isso é possível devido à utilização de agentes quimioluminescentes principalmente o luminol Figura 48 Para a detecção e quantificação da luz emitida é utilizado equipamento específico denominado de luminômetros BENDER et al 2008 Figura 48 Estrutura do Luminol Fonte Shutterstock 2021 9 Eletroquimioluminescência A eletroquimioluminescência se refere à transferência de elétron gerando um composto instável em nível excitado e possibilitando a emissão de um fóton de luz 132 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 49 O sistema mais utilizado envolve a aplicação de voltagem em um eletrodo na presença de um luminóforo eletroquimioluminescente como o rutênio em presença da tripropilamina É muito utilizada na análise de DNA dosagem de hormônios marcadores tumorais marcadores cardíacos e detecção de anticorpos em algumas doenças infecciosas Figura 49 Esquema da reação de Eletroquimioluminescência Fonte Bender et al 2008 428 Ensaios com Marcadores Enzimáticos Enzimaimunoensaio São testes qualitativos e quantitativos usados para detecção tanto de antígenos quanto de anticorpos pela alteração da cor decorrente da ação de uma enzima ligada a anticorpos ou antígenos no seu substrato BENDER et al 2008 9 Enzyme Linked Immunosorbent Assay ELISA Elisa é uma das técnicas mais utilizadas no laboratório clínico para a quantificação de antígenos ou anticorpos Para isso um dos reagentes antígeno ou anticorpo é imobilizado na fase sólida enquanto o outro pode ser ligado a uma enzima com preservação tanto da atividade enzimática quanto da imunológica do anticorpo A fase sólida consiste em placas plásticas que permitem múltiplos ensaios e automação O teste detecta quantidades extremamente pequenas de antígenos ou anticorpos 133 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Quando se faz a pesquisa de antígeno o anticorpo específico correspondente é imobilizado à fase sólida Então utilizase um segundo anticorpo contra o antígeno marcado com enzima O substrato cromogênico é adicionado após a lavagem da placa e se o antígeno estiver presente na amostra teremos a formação de cor a qual pode ser quantificada utilizando espectrofotometria Ao se pesquisarem anticorpos o antígeno é imobilizado na fase sólida e é utilizado um antianticorpo humano marcado com a enzima para a detecção da reação Os diferentes tipos de ELISA são exemplificados na Figura 50 Figura 50 Esquema da Reação de ELISA Fonte Bender et al 2008 134 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA 429 Ensaios Baseados em Imunoeletrotransferência 9 Western Blotting Técnica utilizada para a detecção de antígenos ou anticorpos em amostras biológicas Para tanto realizase a separação de proteínas por eletroforese Após a separação as proteínas são transferidas para uma membrana de nitrocelulose que será usada em um ensaio imunoenzimático Figura 51 No laboratório clínico é aplicada para o diagnóstico de doenças infecciosas e autoimunes Figura 51 Resultado de um Gel de Western Blotting Fonte Shutterstock 2021 4210 Imunocromatografia É um dos métodos mais utilizados no laboratório clínico sendo empregado para a detecção de um grande número de antígenos e anticorpos Para detecção de antígenos podemse usar anticorpos fixados na linha de captura e um segundo anticorpo conjugado a partículas coloridas principalmente ouro coloidal como revelador da interação antígenoanticorpo Figura 52 A imunocromatografia tem como vantagem a rapidez e não necessitar de equipamentos 135 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA Figura 52 Esquema da Imunocromatografia Fonte Shutterstock 2021 SAIBA MAIS Você sabia que uma doença pode ser identificada por mais de um método sorológico Para entender melhor como acontece o diagnóstico de HIV acesse o link abaixo e leia o manual sobre o tema Link httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanualtecnicodiagnosticoinfeccao hivpdf 136 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na última unidade desta disciplina entendemos que embora nosso Sistema Imune seja indispensável para uma vida normal em alguns casos quando ele responde de forma indevida ou exacerbada a determinados antígenos temos as chamadas reações de hipersensibilidade Essas reações incluem doenças simples como quadros alérgicos até doenças autoimunes sérias como o lúpus ou mesmo a rejeição de órgãos transplantados Assim para a detecção de quadros de hipersensibilidade ou mesmo de infecções exames sorológicos têm grande importância na clínica médica Foi possível compreender na Unidade 4 que o exame sorológico é baseado na sorologia ou seja na pesquisa de anticorpos ou antígenos em líquidos biológicos Também vimos que as diferentes técnicas utilizadas têm sensibilidade especificidade e necessidades de equipamentos diferentes De modo geral para garantir a qualidade dos exames e resultados é necessário um rigoroso controle de qualidade por parte da equipe técnica além da interpretação correta de cada exame Assim no decorrer de nosso estudo assimilamos quais os tipos de microrganismos e parasitas causam doenças em humanos como nosso corpo se defende destes organismos e como detectamos as doenças a fim de que possamos aplicar este conhecimento em nossa prática profissional 137 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA EXERCÍCIO FINAL 01 CONHECIMENTO A Imunofluorescência se refere a a Detecção de antígenos ou anticorpos por meio da utilização de reações enzimáticas b Detecção de antígenos ou anticorpos por meio do uso de marcadores fluorescentes c Detecção de antígenos e anticorpos por meio de aglutinação d Utilização de microscópio de luz para a detecção de antígenos e anticorpos e Nenhuma das afirmativas está correta 02 CONHECIMENTO Reações de hipersensibilidade são um grupo de doenças causadas por uma resposta exacerbada do nosso Sistema Imune Sobre as reações de hipersensibilidade avalie as afirmativas abaixo I As hipersensibilidades do tipo I II e III têm como similaridade serem causadas por anticorpos produzidos por linfócitos B embora para tipos de antígenos diferentes II A hipersensibilidade do tipo IV é causada por linfócitos T e engloba diferentes quadros patológicos indo desde doenças autoimunes a dermatites de contato III As reações de hipersensibilidade são caracterizadas pela queda do Sistema Imune Está correto o que se afirma em a I apenas b II apenas c III apenas d I e II e I II e III 03 CONHECIMENTO Entre as patologias decorrentes das reações de hipersensibilidade do tipo I estão 138 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA a Alergias a células vermelhas do nosso corpo b Doenças autoimunes c Anemias hemolíticas d Alergias a antígenos ambientais e Todas as afirmativas estão corretas 139 MICROBIOLOGIA PARASITOLOGIA E IMUNOLOGIA REFERÊNCIAS ABBAS A K LICHTMAN AH POBER J S Imunologia celular e molecular 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 BENDER A L von Muhlen C A Imunologia Clínica na Prática Médica Ebook 2008 MALE D R PEEBLES S MALE V Immunology 9 Ed Elsevier 2020 ROITT I M Imunologia básica Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2015 SILVA W D MOTA I BIER O G Imunologia básica e aplicada 5 Ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2014 uniavanedubr