·

Medicina Veterinária ·

Histologia

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer Pergunta
Equipe Meu Guru

Prefere sua atividade resolvida por um tutor especialista?

  • Receba resolvida até o seu prazo
  • Converse com o tutor pelo chat
  • Garantia de 7 dias contra erros

Texto de pré-visualização

Arq Bras Med Vet Zootec v59 n5 p11321136 2007 Pênfigo foliáceo em eqüino relato de caso Equine pemphigus foliaceous case report JP Oliveira Filho¹ RC Gonçalves¹ SB Chiacchio¹ RM Amorim¹ LG Conceição² AS Borges¹ ¹Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP Distrito de Rubião Junior sn 18618000 Botucatu SP ²Departamento de Veterinária UFV Viçosa MG RESUMO Diagnosticouse pênfigo foliáceo em um eqüino macho castrado quatro anos de idade da raça Árabe apresentando dermatite generalizada caracterizada por placas escamocrostosas e presença de dermatite pustular acantolítica subcorneal Palavraschave eqüino pênfigo foliáceo dermatite ABSTRACT Pemphigus foliaceus was diagnosed in a fouryearold Arabian equine gelding with generalized dermatitis characterized by scaling and crusting plaques and acantholytic subcorneal pustular dermatitis Keywords equine pemphigus foliaceus dermatitis INTRODUÇÃO Pênfigo é uma doença autoimune descrita em humanos e em várias espécies de animais domésticos Stannard 2000 Pappalardo et al 2002 Vandenabeele et al 2004 Em humanos existem cerca de oito variedades de pênfigo contudo em cavalos só foram descritas três variedades pênfigo foliáceo pênfigo paraneoplásico e pênfigo vulgar Williams et al 1995 Scott e Miller 2003 As duas últimas são raras em eqüinos enquanto que a primeira é a dermatopatia autoimune mais comum em cavalos nos Estados Unidos corresponde a 189 dos casos de doenças cutâneas atendidas na Universidade de Cornell Scott e Miller 2003 Existem descrições dessa enfermidade em cavalos nos Estados Unidos Europa e Austrália Laing et al 1992 Vandenabeele et al 2004 Stahli et al 2005 Zabel et al 2005 Recebido em 10 de fevereiro de 2006 Aceito em 20 de setembro de 2007 Autor para correspondência corresponding author Email asborgesfmvzunespbr O pênfigo foliáceo PF em eqüinos caracteriza se clinicamente por lesões erosadas ou crostosas anulares com ou sem a presença de colarinho epidérmico alopecia e variado grau de exsudação e descamação Scott e Miller 2003 Vandenabeele et al 2004 Zabel et al 2005 Edema abdominal ventral dor e prurido podem estar presentes Scott e Miller 2003 Zabel et al 2005 Manifestações sistêmicas como depressão letargia hiporexia perda de peso e febre estão presentes em 50 dos casos descritos Scott e Miller 2003 Vandenabeele et al 2004 Eqüinos com PF apresentam anticorpos contra as moléculas de adesão na superfície dos ceratinócitos levando à perda da coesão intracelular e acantólise Pfeiffer et al 1988 Stannard 2000 Ceratinócitos acantolíticos podem ser observados nos exames citológico e histológico das lesões pustulares ou crostosas Messer e Knight 1982 Mullowney 1985 Vandenabeele et al 2004 Zabel et al 2005 Pênfigo foliáceo em eqüino Arq Bras Med Vet Zootec v59 n5 p11321136 2007 1133 O diagnóstico de PF é obtido por meio da história clínica achados clínicos e histológicos A identificação dos anticorpos por imunofluorescência direta pode colaborar com o diagnóstico Rothwell et al 1985 Scott e Miller 2003 Stahli et al 2005 mas não é recomendado o uso da imunofluorescência indireta para o diagnóstico de PF em eqüino Scott et al 1984 Johnson et al 1981 descreveram o primeiro caso de PF em cavalos nos Estados Unidos da América Estudos retrospectivos foram publicados em 1987 Scott et al 1987 2004 Vandenabeele et al 2004 e em 2005 Zabel et al 2005 contudo existem ainda poucas descrições da doença no mundo Vandenabeele et al 2004 Este artigo tem como objetivo descrever o primeiro caso de PF em eqüino no Brasil já que não há relatos na literatura nacional consultada RELATO DO CASO Um eqüino macho castrado da raça Árabe com quatro anos de idade foi encaminhado para atendimento clínico por apresentar lesões cutâneas distribuídas por todo o corpo edema na região ventral apatia e perda de aproximadamente 100kg de peso vivo pv O proprietário relatou que esses sinais clínicos apareceram há 30 dias na região da face e que a terapia com antibióticos sistêmicos e antifúngicos tópicos não resultou em melhora clínica Nesse período houve piora progressiva das manifestações com disseminação das lesões por todo o corpo Ao exame físico o eqüino mostravase apático anoréxico e relutante em se locomover apresentava edema na região ventral do abdômen e nos quatro membros As freqüências cardíaca e respiratória e a temperatura retal estavam dentro da normalidade para a espécie Observaramse placas cutâneas de circulares policíclica e serpiginosa recobertas por crostas melicéricas espessas e bem aderidas à lesão As lesões freqüentemente apresentavam margem mais elevada em relação à região central dolorosas ao toque e sem prurido com distribuição generalizada embora com maior envolvimento do tronco e da região cervical Fig 1 e 2 A interpretação do hemograma revelou anemia volume globular de 26 fibrinogênio de 400mgdl leucocitose 19500celsµl neutrofilia 17745celsµl e linfopenia 1365celsµl Os perfis bioquímicos séricos hepático renal e muscular estavam inalterados A proteína sérica total foi 91gdl com 152gdl de albumina e 808gdl de globulina O fracionamento eletroforético revelou hipergamaglobulinemia Realizaramse esfregaços sangüíneos para pesquisa de hemoparasitas pesquisa de células Lupus eritematoso LE e imunodifusão em gel ágar para anemia infecciosa eqüina obtendose resultados negativos Nenhum achado significante foi obtido em cultivos bacterianos contudo fungos das espécies Aspergillus sp Fusarium sp e Penicillium spp foram isolados de raspados das lesões Biopsias da lesão foram submetidas ao exame histológico e coradas pelo ácido periódico de Schiff PAS e por hematoxilina e eosina HE Nenhuma estrutura fúngica foi identificada nas amostras coradas pelo PAS Os achados histopatológicos demonstraram dermatite pustular acantolítica subcorneal A epiderme apresentavase discretamente acantótica com áreas de discreta a moderada hiperceratose ortoceratótica e áreas com pústula subcorneal com acúmulo de neutrófilos e numerosos ceratinócitos acantolíticos A base da pústula na camada granulosa e espinhosa exibia ceratinócitos se desprendendo das células epidérmicas vicinais Fig 3 e 4 A derme superficial apresentava discreto infiltrado misto neutrofílico e macrofágico nas regiões perivascular e intersticial Os anexos sudoríparos sebáceos e foliculares não apresentaram alterações dignas de nota A terapia instituída foi enrofloxacina 5mgkgpv uma vez ao dia por sete dias e dexametasona 01mgkgpv uma vez ao dia por 14 dias Com a melhora do quadro clínico a dose de dexametasona foi seqüencialmente reduzida pela metade a cada duas semanas até atingir a dose de 00125mgkgpv uma vez ao dia dose de manutenção Nenhum efeito adverso à corticoterapia foi evidenciado e o animal recebeu alta 45 dias após o início do tratamento com completa remissão dos sinais clínicos A dose de manutenção foi mantida por mais 45 dias na propriedade Oliveira Filho et al Arq Bras Med Vet Zootec v59 n5 p11321136 2007 1134 Figura 1 Eqüino portador de pênfigo foliáceo apresentando dermatopatia generalizada Figura 2 Lesões cutâneas recobertas por crostas espessas e aderidas Figuras 3 Epiderme discretamente acantótica com trechos de discreta a moderada hiperceratose ortoceratótica presença de pústula subcorneal com acúmulo de neutrófilos e numerosos ceratinócitos acantolíticos HE100x Figura 4 Base da pústula na camada granulosa e espinhosa com ceratinócitos se desprendendo da epiderme derme superficial com discreto infiltrado perivascular a intersticial misto neutrofílico e macrofágico HE400x Após 70 dias do final do tratamento o animal voltou a apresentar o mesmo quadro clínico sendo novamente encaminhado à clínica Novos exames histológicos das lesões foram realizados e foi novamente diagnosticado PF A corticoterapia com dexametasona foi reinstituída Durante o tratamento o animal apresentou gastrite confirmado por exame gastroscópico e foi instituído o tratamento com omeprazol 4mgkgpv uma vez ao dia por 28 dias Após 52 dias de corticoterapia o animal recebeu alta com total remissão das lesões cutâneas foi recomendado o uso contínuo da dose de manutenção de dexametasona DISCUSSÃO Pênfigo foliáceo é a doença autoimune mais comum na espécie eqüina contudo seu relato é pouco freqüente Vandenabeele et al 2004 Esse caso é o primeiro a ser relatado na literatura brasileira consultada Pênfigo foliáceo em eqüino Arq Bras Med Vet Zootec v59 n5 p11321136 2007 1135 A enfermidade não tem predileção por sexo ou por faixa etária podendo acometer animais desde poucos meses até 25 anos de idade Laing et al 1992 Vandenabeele et al 2004 Zabel et al 2005 Segundo Scott et al 1987 a raça Appaloosa é a mais afetada contudo Vandenabeele et al 2004 em um estudo retrospectivo não observaram predileção da doença por nenhuma raça Em ambos os relatos os animais da raça Árabe representavam respectivamente 20 n9 e 10 n20 dos casos estudados A exposição prévia a insetos como os Simuliidae que desencadeia uma reação de hipersensibilidade e produção cruzada de anticorpos contra os ceratinócitos e o uso de anti helmínticos já foram relatados com o desenvolvimento da doença Vandenabeele et al 2004 A associação de sulfas com trimetoprim aumenta o risco da doença em seres humanos e cães e possivelmente também em cavalos Brenner et al 1998 Vandenabeele et al 2004 Estresse e doenças sistêmicas concomitantes podem desencadear PF em eqüinos Vandenabeele et al 2004 Neste caso não foram usados antimicrobianos e nenhuma doença sistêmica foi relatada pelo proprietário antes do aparecimento das manifestações clínicas A localização inicial e a velocidade com que as lesões se disseminaram neste eqüino são semelhantes às descritas por Scott e Miller 2003 As lesões erosadas e alopécicas com presença de crostas edema e descamação descritas neste trabalho são as principais lesões observadas em eqüinos acometidos pelo PF Scott 1987 Vandenabeele et al 2004 Stahli et al 2005 Edema na região ventral depressão e perda de peso observadas também neste caso são encontrados em diversos relatos de PF em eqüinos Peter et al 1981 Stannard 2000 Scott e Miller 2003 Assim como neste relato Peter 1981 Emonnd e Frevert 1986 Laing et al 1992 Vandenabeele et al 2004 também observaram anemia leucocitose com neutrofilia hiperproteinemia e hiperglobulinemia Nesse relato a hiperglobulinemia foi conseqüência da hipergamaglobulinemia sugerindo o aumento de anticorpos Scott 1987 também observou hipoalbuminemia contudo em sua descrição havia hiperfibrinogenia diferente dos achados aqui citados Talvez a reação inflamatória cutânea possa contribuir para explicar estas variações já que no presente caso havia pouca ou nenhuma infecção bacteriana importante Os gêneros de fungos isolados são semelhantes àqueles cultivados a partir de raspados de pele de cavalos sadios sendo considerados saprófitos para a espécie e sem significado clínico Ihrke et al 1988 Scott e Miller 2003 O cultivo bacteriano e o exame histológico descartaram respectivamente a possibilidade de dermatofilose e de dermatofitose doenças cutâneas comuns em eqüinos consideradas por vários autores em outros países como entidades a serem submetidas à diferenciação diagnóstica com o PF Stannard 2000 Scott e Miller 2003 Vandenabeele et al 2004 Dermatite pustular acantolítica subcorneal evidenciada pelo exame histológico da pele foi semelhante aos achados clássicos descritos em outros casos clínicos Pfeiffer et al 1988 Scott e Miller 2003 Vandenabeele et al 2004 Stahli et al 2005 O uso inicial de dexametasona 01mgkgpv uma vez ao dia no tratamento deste animal foi baseado nos relatos de diversos autores Geralmente a melhora clínica após o início do tratamento com dexametasona ocorre em poucos dias Contudo o tempo de tratamento é muito variado e alguns cavalos necessitam de uso contínuo da dose de manutenção para evitar recidiva Scott e Miller 2003 Em geral animais mais jovens respondem melhor à terapia e têm menos casos de recorrências quando comparados aos animais mais velhos Scott e Miller 2003 Vandenabeele et al 2004 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRENNER S BIALYGOLAN A RUOCCO V Druginduced pemphigus Clin Dermatol v16 p393397 1998 EMONND RJ FREVERT C Pemphigus foliaceus in a horse Mod Vet Pract v67 p527530 1986 IHRKE PJ WONG A STANNARD AA et al Cutaneous fungal flora in twenty horses free of skin or ocular disease Am J Vet Res v49 p770772 1988 Oliveira Filho et al Arq Bras Med Vet Zootec v59 n5 p11321136 2007 1136 JOHNSON ME SCOTT DW MANNING TO A case of pemphigus foliaceus in the horse Equine Pract v 3 p4045 1981 LAING JA ROTHWELL TLW PENHALE WJ Pemphigus foliaceus in a 2monthold foal Equine Vet J v 24 p490491 1992 MESSER NT KNIGHT AP Pemphigus foliaceus in a horse J Am Vet Med Assoc v180 p938940 1982 MULLOWNEY PC Dermatologic disease of horses Part V Allergic immunemediated and miscellaneous skin diseases Compend Cont Educ v7 p217228 1985 PAPPALARDO E ABRAMO F NOLI C Pemphigus foliaceus in a goat Vet Dermatol v13 p331326 2002 PETER JE MORRIS PG GORDON BJ Pemphigus in a thoroughbred Vet Med Small Anim Clin v76 p12031206 1981 PFEIFFER CJ SPURLOCK S BALL M Ultrastructural aspects of equine pemphigus foliaceuslike dermatitis Report of cases J Submicrosc Citol Pathol v20 p453461 1988 ROTHWELL TLW MERRIT GC MIDDLETON DJ et al Possible pemphigus foliaceus in a horse Aust Vet J v62 p429 430 1985 SCOTT DW MILLER WH Jr Equine dermatology St Louis Saunders 2003 823p SCOTT DW WALTON DK SLATER MR et al ImmuneMediated dermatoses in domestic animals ten years after part 1 Compend Cont Educ v9 p424435 1987 SCOTT DW WALTON DK SMITH CA et al Pitfalls in immunofluorescence testing in dermatology III Pemphiguslike antibodies in the horse and direct immunoflurescence testing in equine dermatolophilosis Cornell Vet v74 p305311 1984 STAHLI P GREST P FAVROT C et al Pemphigus foliaceus in a Haflinger gelding Schweiz Arch Tierheilkd v147 p213217 2005 STANNARD AA Immunologic diseases Vet Dermatol v11 p163178 2000 VANDENABEELE SIJ WHITE SD AFFOLTER VK et al Pemphigus foliaceus in the horse a retrospective study of 20 cases Vet Dermatol v15 p381388 2004 WILLIAMS MA DOWLING PM ANGARANO DW et al Paraneoplastic bullous stomatits in a horse J Am Vet Med Assoc v207 p331334 1995 ZABEL S MUELLER RS FIESELER KV et al Review of 15 cases of pemphigus foliaceus in horses and a survey of the literature Vet Rec v157 p505509 2005