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Engenharia de Computação ·

Metodologia da Pesquisa

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Antônio Carlos Gil Como Elaborar Projetos de u i sã Como Elaborar Projetos de Pesquisa f ASSOCIAÇÃO SERÁ tffi Offl0TQS Antônio Carlos Gil Como Elaborar Projetos de Pesquisa Edição SÃO PAULO EDITORA ATLAS SA 2002 1987 by EDITORA ATLAS SA 1 ed 1987 2 ed 1989 3 ed 1991 4 ed 2002 7a tiragem Capa Leonardo Hermano Composição Style Up Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Gil Antônio Carlos 1946 Como elaborar projetos de pesquisaAntônio Carlos Gil 4 ed São Paulo Atlas 2002 Bibliografia ISBN 8522431698 1 Pesquisa 2 PesquisaMetodologia I Título 911515 CDD0014 00142 índices para catálogo sistemático 1 Metodologia da pesquisa 00142 2 Pesquisa Metodologia 00142 3 Pesquisa Projetos 0014 4 Projetos de pesquisa 0014 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio A violação dos direitos de autor Lei nB 961098 é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto n 1825 de 20 de dezembro de 1907 Impresso no BrasilPrmted m Brazil S3UJ BUB 3 SO3lBy OIUOJUV cOpUBUJ3J V BIJUIUI CBTJB BUUV V sred snsui BIJBJM a oiuoiuy ap Buçuiauí y Sumario Prefácio 15 l COMO ENCAMINHAR UMA PESQUISA 17 11 Que é pesquisa 17 12 Por que se faz pesquisa 17 13 Que é necessário para fazer uma pesquisa 18 131 Qualidades pessoais do pesquisador 18 132 Recursos humanos materiais e financeiros 18 14 Por que elaborar um projeto de pesquisa 19 15 Quais os elementos de um projeto de pesquisa 20 16 Como esquematizar uma pesquisa 21 Leituras recomendadas 22 Exercícios e trabalhos práticos 22 COMO FORMULAR UM PROBLEMA DE PESQUISA 23 21 O que é mesmo um problema 23 22 Por que formular um problema 24 23 Como formular um problema 26 231 Complexidade da questão 26 232 O problema deve ser formulado como pergunta 27 2 8 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 233 O problema deve ser claro e preciso 27 234 O problema deve ser empírico 28 235 O problema deve ser suscetível de solução 28 236 O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável 29 Leituras recomendadas 29 Exercícios e trabalhos práticos 29 3 COMO CONSTRUIR HIPÓTESES 31 31 Que são hipóteses 31 32 Como podem ser classificadas as hipóteses 31 321 Algumas hipóteses são casuísticas 31 322 Algumas hipóteses referemse à freqüência de acontecimen tos 32 323 Algumas hipóteses estabelecem relação de associação entre variáveis 32 324 Algumas hipóteses estabelecem relação de dependência entre duas ou mais variáveis 33 33 Como chegar a uma hipótese 35 331 Observação 35 332 Resultados de outras pesquisas 35 333 Teorias 36 334 Intuição 36 34 Características da hipótese aplicável 36 341 Deve ser conceitualmente clara 36 342 Deve ser específica 37 343 Deve ter referências empíricas 37 344 Deve ser parcimoniosa 37 345 Deve estar relacionada com as técnicas disponíveis 37 346 Deve estar relacionada com uma teoria 38 35 As hipóteses são necessárias em todas as pesquisas 38 Leitura recomendada 39 Exercícios e trabalhos práticos 39 SUMÁRIO 9 COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 41 41 Como classificar as pesquisas com base em seus objetivos 41 411 Pesquisas exploratórias 41 412 Pesquisas descritivas 42 413 Pesquisas explicativas 42 42 Como classificar as pesquisas com base nos procedimentos técnicos utilizados 43 43 Que é pesquisa bibliográfica 44 44 Que é pesquisa documental 45 45 Que é pesquisa experimental 47 46 Que é pesquisa expost facto 49 47 Que é estudo de coorte 50 48 Que é levantamento 50 49 Que é estudo de campo 52 410 Que é estudo de caso 54 411 Que é pesquisaação 55 412 Que é pesquisa participante 55 Leituras recomendadas 56 Exercícios e trabalhos práticos 56 COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 59 51 Etapas da pesquisa bibliográfica 59 52 Escolha do tema 60 53 Levantamento bibliográfico preliminar 61 54 Formulação do problema 62 55 Elaboração do plano provisório de assunto 63 56 Identificação das fontes 64 561 Livros de leitura corrente 64 562 Obras de referência 65 563 Periódicos científicos 66 564 Teses e dissertações 66 565 Anais de encontros científicos 66 566 Periódicos de indexação e resumo 67 10 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 57 Localização das fontes 68 571 Em biblioteca convencional 68 572 Em bases de dados 70 573 Pesquisa com sistemas de busca 74 58 Obtenção do material 76 59 Leitura do material 76 591 Leitura exploratória 77 592 Leitura seletiva 78 593 Leitura analítica 78 594 Leitura interpretativa 79 510 Tomada de apontamentos 80 511 Confecção de fichas 81 5111 Objetivos das fichas 81 5112 Composição das fichas 81 5113 Classificação e armazenamento 84 512 Construção lógica do trabalho 84 513 Redação do relatório 85 Leituras recomendadas 85 Exercícios e trabalhos práticos 85 6 COMO DELINEAR UMA PESQUISA DOCUMENTAL 87 61 Da pesquisa documental 87 62 Da determinação dos objetivos à obtenção do material 87 63 Tratamento dos dados 88 64 Confecção das fichas e redação do trabalho 90 65 Construção lógica e redação do trabalho 90 Leituras recomendadas 91 Exercícios e trabalhos práticos 91 7 COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPERIMENTAL 93 71 Etapas do planejamento da pesquisa experimental 93 72 Formulação do problema 93 73 Construção das hipóteses 94 SUMÁRIO 11 74 Operacionalização das variáveis 94 75 Definição do plano experimental 94 76 Determinação dos sujeitos 98 77 Determinação do ambiente 99 78 Coleta de dados 100 79 Análise e interpretação dos dados 100 710 Apresentação das conclusões 101 Leituras recomendadas 101 Exercícios e trabalhos práticos 102 8 COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPOS FACTO 103 81 Etapas do planejamento da pesquisa exposfacto 103 82 Localização dos grupos para investigação 104 83 Coleta de dados 104 84 Análise interpretação dos dados e apresentação das conclusões 105 Leituras recomendadas 105 Exercícios e trabalhos práticos 106 9 COMO DELINEAR UM ESTUDO DE COORTE 107 91 O problema as hipóteses e as variáveis 107 92 Seleção dos participantes 108 93 Acompanhamento dos participantes e verificação dos efeitos 108 94 Análise e interpretação dos dados e apresentação dos resultados 108 Leituras recomendadas 109 10 COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 111 101 Fases do levantamento 111 102 Especificação dos objetivos 111 103 Operacionalização dos conceitos e variáveis 113 104 Elaboração do instrumento de coleta de dados 114 1041 Instrumentos usuais 114 1042 Elaboração do questionário 116 12 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 1043 Condução da entrevista 117 1044 Aplicação do formulário 119 105 Préteste dos instrumentos 119 106 Seleção da amostra 121 1061 Necessidade da amostragem nos levantamentos 121 1062 Tipos de amostragem 121 1063 Determinação do tamanho da amostra 124 107 Coleta e verificação dos dados 125 108 Análise e interpretação dos dados 125 109 Apresentação dos resultados 126 Leituras recomendadas 126 Exercícios e trabalhos práticos 127 11 COMO DELINEAR ESTUDOS DE CAMPO 129 111 Etapas do estudo de campo 129 112 Elaboração do projeto inicial 129 113 Etapa exploratória 130 114 Elaboração do projeto de pesquisa 131 115 Préteste dos instrumentos de pesquisa 132 116 Coleta de dados 132 117 Análise dos dados 133 1171 Redução dos dados 133 1172 Categorização dos dados 134 1173 Interpretação dos dados 134 118 Redação do relatório 135 Leituras recomendadas 135 Exercícios e trabalhos práticos 135 12 COMO DELINEAR UM ESTUDO DE CASO 137 121 Etapas do estudo de caso 137 122 Formulação do problema 137 123 Definição da unidadecaso 138 124 Determinação do número de casos 139 SUMÁRIO 13 125 Elaboração do protocolo 140 126 Coleta de dados 140 127 Análise dos dados 141 128 Redação do relatório 142 Leituras recomendadas 142 13 COMO DELINEAR UMA PESQUISAACÃO 143 131 Etapas da pesquisaação 143 132 Fase exploratória 144 133 Formulação do problema 144 134 Construção de hipóteses 144 135 Realização do seminário 144 136 Seleção da amostra 145 137 Coleta de dados 145 138 Análise e interpretação dos dados 146 139 Elaboração do plano de ação 146 1310 Divulgação dos resultados 147 Leitura recomendada 147 Exercícios e trabalhos práticos 147 14 COMO DELINEAR UMA PESQUISA PARTICIPANTE 149 141 Etapas da pesquisa participante 149 142 Montagem institucional e metodológica da pesquisa participante 150 143 Estudo preliminar da região e da população pesquisadas 150 144 Análise crítica dos problemas 151 145 Elaboração do plano de ação 152 Leitura recomendada 152 Exercícios e trabalhos práticos 152 15 COMO CALCULAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO 155 151 Dimensão administrativa da pesquisa 155 152 Cronograma da pesquisa 155 153 Orçamento da pesquisa 157 Leitura recomendada 159 Exercícios e trabalhos práticos 159 14 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 16 COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 161 161 Estruturação do texto 161 1611 Introdução 161 1612 Metodologia 162 1613 Cronograma de execução 163 1614 Suprimentos e equipamentos 163 1615 Custo do projeto 163 162 Estilo do texto 164 1621 Impessoalidade 164 1622 Objetividade 164 1623 Clareza 164 1624 Precisão 164 1625 Coerência 165 1626 Concisão 165 1627 Simplicidade 165 163 Aspectos gráficos do texto 166 1631 Digitação e paginação 166 1632 Organização das partes e titulação 166 1633 Disposição do texto 167 1634 Citações 168 1635 Ilustrações 168 1636 Notas de rodapé 169 1637 Referências bibliográficas 169 Leituras recomendadas 170 Bibliografia 173 Prefácio O propósito deste livro é auxiliar estudantes e profissionais na elaboração de projetos de pesquisa Embora focalize alguns aspectos teóricos que envolvem o processo de criação científica sua preocupação central é de natureza prática Após sua leitura cuidadosa o estudante de nível universitário bem como o profissional envolvido em trabalhos de investigação nos mais diversos campos do conhecimen to estará apto a elaborar projetos de pesquisa de acordo com os princípios da Me todologia Científica Ao escrever este livro fui guiado por dupla preocupação Primeiramente apresentar aos iniciantes de maneira simples e acessível os princípios básicos para a elaboração de um projeto de pesquisa científica Em segundo lugar garantir ao profissional de pesquisa bem como ao estudante dos níveis mais avançados inclusive de pósgraduação elementos para a organização de conhecimentos dis persos obtidos ao longo da vida acadêmica ou do contato direto com a prática da pesquisa Este livro pode ser apresentado como um manual prático de elaboração de projetos de pesquisa Ao longo de suas páginas são descritos os procedimentos adotados nas diversas modalidades de pesquisa científica inclusive naquelas tidas como alternativas pesquisaação e pesquisa participante Não pode entretanto este livro ser considerado um receituário pois um assunto tão complexo como a criação científica não seria suscetível de tal redução Antônio Carlos Gil Como Encaminhar uma Pesquisa 11 QUE É PESQUISA Podese definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos A pesqui sa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponí veis e a utilização cuidadosa de métodos técnicas e outros procedimentos científi cos Na realidade a pesquisa desenvolvese ao longo de um processo que envolve inúmeras fases desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apre sentação dos resultados 12 POR QUE SE FAZ PESQUISA Há muitas razões que determinam a realização de uma pesquisa Podem no entanto ser classificadas em dois grandes grupos razões de ordem intelectual e razões de ordem prática As primeiras decorrem do desejo de conhecer pela pró pria satisfação de conhecer As últimas decorrem do desejo de conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais eficiente ou eficaz Tem sido comum designar as pesquisas decorrentes desses dois grupos de questões como puras e aplicadas e discutilas como se fossem mutuamente exclusivas Essa postura é inadequada pois a ciência objetiva tanto o conhecimento em si mesmo quanto as contribuições práticas decorrentes desse conhecimento 18 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Uma pesquisa sobre problemas práticos pode conduzir à descoberta de princípios científicos Da mesma forma uma pesquisa pura pode fornecer conhecimentos passíveis de aplicação prática imediata Procurase neste livro apresentar estratégias e táticas de pesquisa adequadas aos objetivos tanto das pesquisas puras quanto das aplicadas Daí por que será dedicada idêntica atenção aos requisitos básicos tanto das pesquisas acadêmicas quanto das pesquisas elaboradas para a solução de problemas práticos 13 QUE E NECESSÁRIO PARA FAZER UMA PESQUISA 131 Qualidades pessoais do pesquisador O êxito de uma pesquisa depende fundamentalmente de certas qualidades intelectuais e sociais do pesquisador entre as quais são a conhecimento do assunto a ser pesquisado b curiosidade c criatividade d integridade intelectual e atitude autocorretiva f sensibilidade social g imaginação disciplinada h perseverança e paciência i confiança na experiência 132 Recursos humanos materiais e financeiros É muito difundida a visão romântica de ciência que procura associar as inven ções e descobertas exclusivamente à genialidade do cientista Não há como deixar de considerar o papel capital das qualidades pessoais do pesquisador no processo de criação científica mas é também muito importante o papel desempenhado pelos recursos de que dispõe o pesquisador no desenvolvimento e na qualidade dos resultados da pesquisa Ninguém duvida de que uma organização com amplos recursos tem maior probabilidade de ser bemsucedida num empreendimento de pesquisa que outra cujos recursos sejam deficientes Por essa razão qualquer empreendimento de pesquisa para ser bemsuce dido deverá levar em consideração o problema dos recursos disponíveis O pes quisador deve ter noção do tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizálo em COMO ENCAMINHAR UMA PESQUISA 19 termos pecuniários Deve proverse dos equipamentos e materiais necessários ao desenvolvimento da pesquisa Deve estar também atento aos gastos decorrentes da remuneração dos serviços prestados por outras pessoas Em outras palavras isso significa que qualquer empreendimento de pesquisa deve considerar os re cursos humanos materiais e financeiros necessários a sua efetivação Para fazer frente a essas necessidades o pesquisador precisa elaborar um orçamento adequado De certa forma isso implica atribuir ao pesquisador certas funções adminis trativas Pode ser que isso cause certo constrangimento a alguns pesquisadores No entanto a consideração destes aspectos extracientíficos é fundamental para que o trabalho de pesquisa não sofra solução de continuidade 14 POR QUE ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA Como toda atividade racional e sistemática a pesquisa exige que as ações desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas De modo geral concebese o planejamento como a primeira fase da pesquisa que envolve a formulação do problema a especificação de seus objetivos a construção de hipó teses a operacionalização dos conceitos etc Em virtude das implicações extracien tíficas da pesquisa consideradas na seção anterior o planejamento deve envolver também os aspectos referentes ao tempo a ser despendido na pesquisa bem como aos recursos humanos materiais e financeiros necessários a sua efetivação A moderna concepção de planejamento apoiada na Teoria Geral dos Sistemas envolve quatro elementos necessários a sua compreensão processo eficiência prazos e metas Assim nessa concepção o planejamento da pesquisa pode ser definido como o processo sistematizado mediante o qual se pode conferir maior eficiência à investi gação para em determinado prazo alcançar o conjunto das metas estabelecidas O planejamento da pesquisa concretizase mediante a elaboração de um projeto que é o documento explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa O projeto deve portanto especificar os objetivos da pesquisa apresentar a justificativa de sua realização definir a modalidade de pesquisa e determinar os proce dimentos de coleta e análise de dados Deve ainda esclarecer acerca do cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a indicação dos recursos humanos financeiros e materiais necessários para assegurar o êxito da pesquisa O projeto interessa sobretudo ao pesquisador e a sua equipe já que apresenta o roteiro das ações a serem desenvolvidas ao longo da pesquisa Interessa também a muitos outros agentes Para quem contrata os serviços de pesquisa o projeto constitui documento fundamental posto que esclarece acerca do que será pesqui sado e apresenta a estimativa dos custos Quando se espera que determinada en 20 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA tidade financie uma pesquisa o projeto é o documento requerido pois permite sa ber se o empreendimento se ajusta aos critérios por ela definidos ao mesmo tempo em que possibilita uma estimativa da relação custobenefício Também se pode riam arrolar entre os interessados no projeto os potenciais beneficiários de seus efeitos e os pesquisadores da mesma área Alguns pesquisadores possivelmente consideram que a elaboração de um projeto com relações minuciosas de resultados aferíveis e de atividades correlatas específicas poderá limitar a pesquisa tornandoa um processo mais mecanizado e menos criativo Entretanto a elaboração de um projeto é que possibilita em mui tos casos esquematizar os tipos de atividades e experiências criativas 15 QUAIS OS ELEMENTOS DE UM PROJETO DE PESQUISA Não há evidentemente regras fixas acerca da elaboração de um projeto Sua estrutura é determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e também pelo estilo de seus autores É necessário que o projeto esclareça como se processará a pesquisa quais as etapas que serão desenvolvidas e quais os recursos que devem ser alocados para atingir seus objetivos É necessário também que o projeto seja sufi cientemente detalhado para proporcionar a avaliação do processo de pesquisa Os elementos habitualmente requeridos num projeto são os seguintes a formulação do problema b construção de hipóteses ou especificação dos objetivos c identificação do tipo de pesquisa d operacionalização das variáveis e seleção da amostra f elaboração dos instrumentos e determinação da estratégia de coleta de dados g determinação do plano de análise dos dados h previsão da forma de apresentação dos resultados i cronograma da execução da pesquisa j definição dos recursos humanos materiais e financeiros a serem alocados A elaboração de um projeto depende de inúmeros fatores o primeiro e mais importante deles referese à natureza do problema Por exemplo para uma pes quisa que tem por objetivo verificar intenções de voto em determinado momento a elaboração do projeto é bastante simples Nesse caso é possível determinar com COMO ENCAMINHAR UMA PESQUISA 21 bastante precisão as ações que se farão necessárias bem como seus custos Já para uma pesquisa que visa conhecer os fatores que determinam os níveis de participa ção política de uma população a elaboração do projeto constitui algo bastante complexo tornandose muito difícil determinar com precisão os procedimentos que serão adotados para a obtenção de respostas significativas É previsível nesse caso que de imediato não seja possível elaborar um projeto Talvez se possa defi nir um plano bastante amplo ou um anteprojeto que deverá passar por alterações significativas até chegar à elaboração definitiva do projeto Rigorosamente um projeto só pode ser definitivamente elaborado quando se tem o problema claramente formulado os objetivos bem determinados assim como o plano de coleta e análise dos dados 16 COMO ESQUEMATIZAR UMA PESQUISA Como já foi lembrado a elaboração de um projeto é feita mediante a conside ração das etapas necessárias ao desenvolvimento da pesquisa Para facilitar o acom panhamento das ações correspondentes a cada uma dessas etapas é usual a apre sentação do fluxo da pesquisa sob a forma de diagrama conforme a Figura 11 É conveniente lembrar que a ordem dessas etapas não é absolutamente rígi da Em muitos casos é possível simplificála ou modificála Essa é uma decisão que cabe ao pesquisador que poderá adaptar o esquema às situações específicas Formulação do problema Elaboração dos instrumentos de coleta de dados 7 Construção de hipóteses Préteste dos instrumentos Análise e interpretação dos dados r Determinação do plano Seleção da amostra Redação do relatório da pesquisa Operacionalização das variáveis Coleta de dados r Figura l l Diagramação da pesquisa 22 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA LEITURAS RECOMENDADAS RICHARDSON R J Pesquisa social métodos e técnicas 3 ed São Paulo Atlas 1999 O segundo capítulo deste livro trata do roteiro de um projeto de pesquisa Cada uma das partes da pesquisa é detalhada em capítulos específicos Anexa é feita a apresentação esquemática das etapas e dos principais erros cometidos nas pesquisas CONTRANDIOPOULOS AndréPierre et ai Saber preparar uma pesquisa defi njção estrutura e financiamento Rio de Janeiro Hucitec Abrasco 1994 Esse livro foi elaborado com o propósito explícito de esclarecer as etapas pelas quais deve passar um pesquisador para elaborar um projeto de pesquisa convincente e realizável Seu conteúdo envolve tanto as indicações do que deve conter um projeto de pesquisa quanto as noções elementares de metodologia necessárias a sua preparação EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Indique a relevância teórica e prática de uma pesquisa que tenha por objetivo investigar a predisposição que as pessoas possam ter para sofrer acidentes no trabalho 2 Analise em que medida as atitudes enunciadas abaixo podem ser prejudiciais ao desenvolvimento de pesquisas científicas dogmatismo desinteresse por problemas sociais impaciência 3 Localize um relatório de pesquisa e identifique as fases seguidas em seu desenvolvimento 4 Estimase que cerca de 95 das verbas destinadas à pesquisa nos países desenvolvidos são aplicados no campo das ciências naturais Analise as impli cações sociais dessa situação 5 Procure exemplos de pesquisas que possam ser classificadas como puras ou aplicadas Como Formular um Problema de Pesquisa 21 O QUE É MESMO UM PROBLEMA Conforme já foi assinalado toda pesquisa se inicia com algum tipo de proble ma ou indagação Todavia a conceituaçâo adequada de problema de pesquisa não constituí tarefa fácil em virtude das diferentes acepções que envolvem este termo O Novo Dicionário Aurélio indica os seguintes significados de problema questão matemática proposta para que se lhe dê a solução questão não solvida e que é objeto de discussão em qualquer domínio do conhecimento proposta duvidosa que pode ter numerosas soluções qualquer questão que dá margem à hesitação ou perplexidade por ser difícil de explicar ou resolver conflito afetivo que impede ou afeta o equilíbrio psicológico do indivíduo A segunda acepção é a que será considerada ao longo deste livro pois é a que mais apropriadamente caracteriza o problema científicõT Fica claro que nem todo problema é passível de tratamento científico Isso significa que para se realizar uma pesquisa é necessário em primeiro lugarveri ficar se o problema cogitado se enquadra na categoria de científico Como fazer isso 24 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Para um dos mais respeitados autores no campo da metodologia das ciências sociais a maneira mais prática para entender o que é um problema científico consiste em considerar primeiramente aquilo que não é Kerlinger 1980 Sejam os exemplos Como fazer para melhorar os transportes urbanos O que pode ser feito I para melhorar a distribuição de renda Como aumentar a produtividade no tra l 7 balho Nenhum destes constitui rigorosamente um problema científico pois sob M a forma em que são propostos não possibilitam a investigação segundo os méto w jos próprios da ciência Estes problemas são designados por Kerlinger como problemas de engenha ria pois referemse a como fazer algo de maneira eficiente A ciência pode forne cer sugestões e inferência acerca de possíveis respostas mas não responder direta mente a esses problemas Eles não indagam como são as coisas suas causas e con seqüências mas indagam acerca de como fazer as coisas Também não são científicos estes problemas Qual a melhor técnica psico terápica É bom adotar jogos e simulações como técnicas didáticas Os pais devem dar palmadas nos filhos São antes problemas de valor assim como todos aqueles que indagam se uma coisa é boa má desejável indesejável certa ou errada ou se é melhor ou pior que outra São igualmente problemas de valor aqueles que indagam se algo deve ou deveria ser feito Embora não se possa afirmar que o cientista nada tenha a ver com esses pro blemas o certo é que a pesquisa científica não pode dar respostas a questões de engenharia e de valor porque sua correção ou incorreção não é passível de veri ficação empírica Com base nessas consideragõeSjDodese dizer que um problema é de nature za científica quando envolveayiáyeisq ue podem ser tidas como testáveis Em que medida a escolaridade determina a preferência políticopartidária A desnu trição determina o rebaixamento intelectual Todos esses problemas envolvem variáveis suscetíveis de observação ou de manipulação É perfeitamente possível por exemplo verificar a preferência políticopartidária de determinado grupo bem como seu nível de escolaridade para depois determinar em que medida essas variáveis estão relacionadas entre si 22 POR QUE FORMULAR UM PROBLEMA Como já foi visto no capítulo anterior o problema de pesquisa pode ser deter minado por razões de ordem prática ou de ordem intelectual Inúmeras razões de ordem prática podem conduzir à formulação de problemas Podese formular um COMO FORMULAR UM PROBLEMA DE PESQUISA 25 problema cuja resposta seja importante para subsidiar determinada ação Por exemplo um candidato a cargo eletivo pode estar interessado em verificar como se distribuem seus potenciais eleitores com vistas a orientar sua campanha Da mesma forma uma empresa pode estar interessada em conhecer o perfil do consu midor de seus produtos para decidir acerca da propaganda a ser feita Podemse formular problemas voltados para a avaliação de certas ações ou programas como por exemplo os efeitos de determinado anúncio pela televisão ou os efeitos de um programa governamental na recuperação de alcoólatras Também é possível formular problemas referentes às conseqüências de várias alternativas possíveis Por exemplo uma organização poderia estar interessada em verificar que sistema de avaliação de desempenho seria o mais adequado para seu pessoal Outra categoria de problemas decorrentes de interesses práticos referese à predição de acontecimentos com vistas a planejar uma ação adequada Por exem plo a prefeitura de uma cidade pode estar interessada em verificar em que medida a construção de uma via elevada poderá provocar a deterioração da respectiva área urbana É possível ainda considerar como interesses práticos embora mais próximos dos interesses intelectuais aqueles referentes a muitas pesquisas desenvolvidas no âmbito dos cursos universitários de graduação É freqüente professores sugerirem aos alunos a formulação de problemas com o objetivo de treinálos na elaboração de projetos de pesquisa Também são inúmeras as razões de ordem intelectual que conduzem à for mulação de problemas de pesquisa Pode ocorrer que um pesquisador tenha inte resse na exploração de um objeto pouco conhecido Por exemplo quando Freud iniciou seus estudos sobre o inconsciente este constituía uma área praticamente inexplorada Um pesquisador pode interessarse por áreas já exploradas com o objetivo de determinar com maior especificidade as condições em que certos fenômenos ocorrem ou como podem ser influenciados por outros Por exemplo podese estar interessado em verificar em que medida fatores não econômicos agem como moti vadores no trabalho Várias pesquisas já foram realizadas sobre o assunto mas pode haver interesse em verificar variações nesta generalização Podese indagar se fatores culturais não interferem intensificando ou enfraquecendo as relações entre aqueles dois fatores Pode ocorrer que um pesquisador deseje testar uma teoria específica Como fez por exemplo Wardle 1961 com a teoria da carência materna de Bowlby Este pesquisador estudou crianças que freqüentavam uma clínica de orientação infantil e constatou que os que furtavam ou apresentavam outros comportamentos antisociais provinham com freqüência significativa de lares desfeitos apresen tavam incidência mais elevada de separação da mãe e com maior freqüência tinham pais que provinham também de lares desfeitos 26 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Pode ainda um pesquisador interessarse apenas pela descrição de determi nado fenômeno Como por exemplo verificar as características socioeconômicas de uma população ou Os interesses pela escolha de problemas de pesquisa são determinados pelos mais diversos fatores Os mais importantes são os valores sociais do pesquisador e os incentivos sociais Um exemplo do primeiro fator está no pesquisador que é contrário à segregação racial e por isso mesmo vêse inclinado a investigar sobre esse assunto Um exemplo do segundo está nos incentivos monetários que são conferidos à investigação sobre comunicação de massa propiciando o desenvol vimento de grande número de pesquisas assim como a sofisticação das técnicas empregadas 23 COMO FORMULAR UM PROBLEMA 231 Complexidade da questão Formular um problema científico não constitui tarefa fácil Para alguns isso implica mesmo o exercício de certa capacidade que não é muito comum nos seres humanos Todavia não há como deixar de reconhecer que o treinamento desem penha papel fundamental nesse processo Por se vincular estreitamente ao processo criativo a formulação de proble mas não se faz mediante a observação de procedimentos rígidos e sistemáticos No entanto existem algumas condições que facilitam essa tarefa tais como imersão sistemática no objeto estudo da literatura existente e discussão com pessoas que acumulam muita experiência prática no campo de estudo Selltíz 1967 A experiência acumulada dos pesquisadores possibilita ainda o desenvolvi mento de certas regras práticas para a formulação de problemas científicos tais como a o problema deve ser formulado como pergunta b o problema deve ser claro e preciso c o problema deve ser empírico d o problema deve ser suscetí vel de solução e e o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável Essas regras serão detalhadas adiante Com muita freqüência problemas propostos não se ajustam a essas regras Isso não significa porém que o problema deva ser afastado Muitas vezes o me lhor será proceder a sua reformulação ou esclarecimento o que poderá mesmo exigir a realização de um estudo exploratório que será objeto de atenção especí fica nos capítulos seguintes COMO FORMULAR UM PROBLEMA DE PESQUISA 27 232 O problema deve ser formulado como pergunta Esta é a maneira mais fácil e direta de formular um problema Além disso facilita sua identificação por parte de quem consulta o projeto ou o relatório da pesquisa Seja o exemplo de uma pesquisa sobre o divórcio Se alguém disser que vai pesquisar o problema do divórcio pouco estará dizendo Mas se propuser que fatores provocam o divórcio ou quais as características da pessoa que se divor cia estará efetivamente propondo problemas de pesquisa Este cuidado é muito importante sobretudo nas pesquisas acadêmicas De modo geral o estudante inicia o processo da pesquisa pela escolha de um tema que por si só não constitui um problema Ao formular perguntas sobre o tema provocase sua problematização 233 O problema deve ser claro e preciso Um problema não pode ser solucionado se não for apresentado de maneira clara e precisa Com freqüência são apresentados problemas tão desestruturados e formulados de maneira tão vaga que não é possível imaginar nem mesmo como começar a resolvêlos Por exemplo um iniciante em pesquisa poderia indagar Como funciona a mente etc Esses problemas não podem ser propostos para pesquisa porque não está claro a que se referem É pouco provável que pessoas com algum conhecimento de metodologia proponham problemas desse tipo Nessa eventualidade porém devese reformular o problema de forma a ser respondível Talvez se possa reformular a pergunta Como funciona a mente para Que mecanismos psicológicos podem ser iden tificados no processo de memorização Claro que esta é uma das muitas reformu lações que podem ser feitas à pergunta original Nada garante que corresponda exatamente à intenção de quem a formulou Essa certeza só poderá ser obtida após alguma discussão Pode ocorrer também que algumas formulações apresentem termos defini dos de forma não adequada o que torna o problema carente de clareza Seja por exemplo a pergunta Os cavalos possuem inteligência A resposta a essa ques tão depende de como se define inteligência Muitos problemas desse tipo não são solucionáveis porque são apresentados numa terminologia retirada da linguagem cotidiana Muitos termos utilizados no diaadia são bastante ambíguos Tomese o exemplo de um problema que envolva o termo organização Só poderia ser adequadamente colocado depois que aquele termo tivesse sido definido de forma rigorosamente não ambígua Um artifício bastante útil consiste em definir operacionalmente o conceito A definição operacional é aquela que indica como o fenômeno é medido Nas ciên 28 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA cias físicas e biológicas a definição operacional tende a ser bantante simples pois geralmente se dispõe de instrumentos precisos de medida Por exemplo o termo temperatura pode ser definido como aquilo que o termômetro mede Nas ciên cias humanas todavia as definições operacionais nem sempre são satisfatórias Por exemplo em algumas pesquisas definese como católica a pessoa que se de clara como tal Daí poderão surgir intermináveis discussões Entretanto não há como negar que tal definição confere precisão ao conceito Qualquer pessoa que busque informarse acerca da pesquisa logo saberá qual o significado que é atribuí do ao termo O mesmo não ocorreria se a determinação da religião do pesquisado ficasse por conta de considerações subjetivas do pesquisador 234 O problema deve ser empírico Foi visto que os problemas científicos não devem referirse a valores Não será fácil por exemplo investigar se filhos de camponeses são melhores que filhos de operários ou se a mulher deve realizar estudos universitários Estes problemas conduzem inevitavelmente a julgamentos morais e conseqüentemente a conside rações subjetivas invalidando os propósitos da investigação científica que tem a objetividade como uma das mais importantes características E verdade que as ciências interessamse também pelo estudo dos valores Todavia estes devem ser estudados objetivamente como fatos ou como coisas segundo a orientação de Durkheim Por exemplo a formulação de determinado problema poderá fazer referência a maus professore Essa expressão indica valor mas o pesquisador poderá estar interessado em pesquisar professores que seguem práticas autoritárias não preparam suas aulasõu adotam critérios arbitrários de avaliação Tratase portanto de transformar as noções iniciais em outras mais úteis que se refiram diretamente a fatos empíricos e não a percepções pessoais 235 O problema deve ser suscetível de solução Um problema pode ser claro preciso e referirse a conceitos empíricos porém não se tem idéia de como seria possível coletar os dados necessários a sua reso lução Seja o exemplo ligandose o nervo óptico às áreas auditivas do cérebro as visões serão sentidas auditivamente Essa pergunta só poderá ser respondida quando a tecnologia neurofisiológica progredir a ponto de possibilitar a obtenção de dados relevantes Para formular adequadamente um problema é preciso ter o domínio da tecnologia adequada a sua solução Caso contrário o melhor será proceder a uma investigação acerca das técnicas de pesquisa necessárias COMO FORMULAR UM PROBLEMA DE PESQUISA 29 236 O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável Em muitas pesquisas sobretudo nas acadêmicas o problema tende a ser formulado em termos muito amplos requerendo algum tipo de delimitação Por exemplo alguém poderia formular o problema em que pensam os jovens Seria necessário delimitar a população dos jovens a serem pesquisados mediante a especificação da faixa etária da localidade abrangida etc Seria necessário ainda delimitar o que pensam já que isto envolve múltiplos aspectos tais como per cepção acerca dos problemas mundiais atitude em relação à religião etc A delimitação do problema guarda estreita relação com os meios disponíveis para investigação Por exemplo um pesquisador poderia ter interesse em pesqui sar a atitude dos jovens em relação à religião Mas não poderá investigar tudo o que todos os jovens pensam acerca de todas as religiões Talvez sua pesquisa tenha de se restringir à investigação sobre o que os jovens de determinada cidade pensam a respeito de alguns aspectos de uma religião específica LEITURAS RECOMENDADAS BEAUD Michel Arte da tese como preparar e redigir uma tese de mestrado uma monografia ou qualquer outro trabalho universitário Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1997 Este livro elaborado sob a forma de um manual de pesquisa dedica seus primeiros capítulos a algumas questões cruciais para as pessoas envolvidas na elabo ração de teses e monografias como escolher um bom assunto e um bom orientador LAVILLE Christian DIONNE Jean A construção do saber manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas Porto Alegre Artes Médicas 1999 A segunda parte desse livro é dedicada ao trajeto científico que se inicia com a escolha do problema até a formulação das hipóteses O texto auxilia na escolha de bons problemas e boas perguntas EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Classifique os problemas a seguir segundo problemas científicos C de va lor V ou de engenharia E a O que determina o interesse dos psicológicos brasileiros pela orientação psicanalítica 30 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA b Que fatores estão associados à intenção de voto em candidatos conser vadores c Qual a melhor técnica psicoterápica l d Qual o procedimento mais prático para o armazenamento de milho em pequenas propriedades rurais e É lícito fazer experiências com seres humanos V 2 Verifique se os problemas abaixo estão formulados de acordo com as normas apresentadas neste capítulo a Qual a preferência políticopartidária dos habitantes da cidade de BeloHorizonte b Como são os habitantes da Europa c As donasdecasa de classe média baixa preferem fazer suas compras em feiras livres pois os preços são mais acessíveis d Como se comportam os ratos após intenso período de privação e Como evoluiu o nível de emprego na construção civil nos últimos dez anos 3 Dê exemplos de problemas elaborados para atingir os seguintes propósitos a Predição de acontecimentos b Análise das conseqüências de alternativas diversas c Avaliação de programas d Exploração de um objeto pouco conhecido 4 Com base no tema preconceito racial formule um problema sociológico um psicológico e um econômico 3 Como Construir Hipóteses 31 QUE SÃO HIPÓTESES No capítulo anterior foi dito que a pesquisa científica se inicia sempre com a colocação de um problema solucionável O passo seguinte consiste em oferecer uma solução possível mediante uma proposição ou seja uma expressão verbal suscetível de ser declarada verdadeira ou falsa A essa proposição dáse o nome de hipótese Assim a hipótese é a proposição testável que pode vir a ser a solução do problema Como ilustração considerese o seguinte problema Quem se interessa por parapsicologia A hipótese pode ser a seguinte Pessoas preocupadas com a vida alémtúmulo tendem a manifestar interesse por parapsicologia Suponhase que mediante coleta e análise dos dados a hipótese tenha sido confirmada Nesse caso o problema foi solucionado porque a pergunta formulada pôde ser respondida Pode ocorrer no entanto que não se consiga obter informações claras que indi quem ser aquela qualidade fator determinante no interesse por parapsicologia Nesse caso a hipótese não terá sido confirmada e conseqüentemente o problema não terá sido solucionado 32 COMO PODEM SER CLASSIFICADAS AS HIPÓTESES 321 Algumas hipóteses são casuísticas Há hipóteses que se referem a algo que ocorre em determinado caso afirmam que um objeto uma pessoa ou um fato específico tem determinada característica 32 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Por exemplo podese como fez Freud 1973 formular a hipótese de que Moisés era egípcio e não judeu Ou então a de que Cristóvão Colombo nasceu em Portu gal e não em Gênova Barreto 1988 As hipóteses casuísticas são muito freqüentes na pesquisa histórica em que os fatos são tidos como únicos 322 Algumas hipóteses referemse à freqüência de acontecimentos Hipóteses deste tipo são muito freqüentes na pesquisa social De modo geral antecipam que determinada característica ocorre com maior ou menor freqüência em determinado grupo sociedade ou cultura Por exemplo podese formular a hipótese de que é elevado o número de alunos de uma universidade que tocam algum instrumento musical ou então a hipótese de que a crença em horóscopo é muito difundida entre os habitantes de determinada cidade 323 Algumas hipóteses estabelecem relação de associação entre variáveis O termo variável é dos mais empregados na linguagem utilizada pelos pes quisadores Seu objetivo é o de conferir maior precisão aos enunciados científicos sejam hipóteses teorias leis princípios ou generalizações O conceito de variável referese a tudo aquilo que pode assumir diferentes valores ou diferentes aspectos segundo os casos particulares ou as circunstâncias Assim idade é uma variável porque pode abranger diferentes valores Da mesma forma estatura peso temperatura etc Classe social também é uma variável Embora este conceito não possa assumir valores numéricos pode abranger catego rias diversas como alta média e baixa Muitas das hipóteses elaboradas por pesquisadores sociais estabelecem a existência de associação entre variáveis Sejam por exemplo as hipóteses a alunos do curso de administração são mais conservadores que os de ciências sociais Variáveis curso e conservadorismo b o índice de suicídios é maior entre os solteiros que os casados Variáveis estado civil e índice de suicídios c países economicamente desenvolvidos apresentam baixos índices de analfabetismo Variáveis desenvolvimento econômico e índice de analfabetismo COMO CONSTRUIR HIPÓTESES 33 Convém notar que as hipóteses deste grupo apenas afirmam a existência de relação entre as variáveis Podem até indicar a força ou o sentido desta relação mas nada estabelecem em termos de causalidade dependência ou influência 324 Algumas hipóteses estabelecem relação de dependência entre duas ou mais variáveis As hipóteses deste grupo estabelecem que uma variável interfere na outra Por exemplo A classe social da mãe influencia no tempo de amamentação dos filhos Neste caso estabelecese uma relação de dependência entre as variáveis Classe social é a variável independente x e tempo de amamentação é a variável dependente y Variável independente Variável dependente classe social x y tempo de amamentação Veja outro exemplo O reforço do professor tem como efeito melhoria na leitura do aluno Neste caso temse Variável independente Variável dependente reforço do professor x y melhoria na leitura do aluno É usual dizer que as hipóteses deste grupo estabelecem a existência de rela ções causais entre as variáveis Como porém o conceito de causalidade é bastante complexo convém que seja analisado É comum tentar atribuir a um único acontecimento a condição de causador de outro Todavia na ciência moderna especialmente nas ciências sociais tende se a acentuar a multiplicidade de condições que reunidas tornam provável a ocorrência de determinado fenômeno Assim enquanto uma pessoa movida apenas pelo senso comum espera que um único fator seja suficiente para explicar determinado fato o pesquisador planeja seu trabalho no sentido de verificar em que medida determinadas condições atuam tornando provável a ocorrência do fato O que geralmente o pesquisador busca é o estabelecimento de relações assi métricas entre as variáveis As relações assimétricas indicam que os fenômenos não são independentes entre si relações simétricas e não se relacionam mutua mente relações recíprocas mas que um exerce influência sobre o outro Rosenberg 1976 p 27 classifica as relações assimétricas em seis tipos que são apresentados a seguir 34 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA a associação entre um estímulo e uma resposta Por exemplo Adolescen tes filhos de pais viúvos ou divorciados passam a ter autoestima em menor grau quando seus pais se casam novamente Estímulo Resposta novo casamento x y rebaixamento da autoestima b associação entre uma disposição e uma resposta Essas disposições podem ser constituídas por atitudes hábitos valores impulsos traços de personalidade etc Por exemplo Pessoas autoritárias manifestam preconceito racial em grau elevado Disposição Resposta autoritarismo x y preconceito racial c associação entre uma propriedade e uma disposição Essas proprieda des podem ser constituídas por sexo idade naturalidade cor da pele religião etc Por exemplo Católicos tendem a ser menos favoráveis ao divórcio que os protestantes Propriedade Resposta religião x y favorabilidade ao divórcio d associação entre prérequisito indispensável e um efeito Por exemplo O capitalismo só se desenvolve quando existem trabalhadores livres Prérequisito Efeito existência de desenvolvimento do trabalhadores livres x y capitalismo Nesse caso a existência de trabalhadores livres é prérequisito indispensável para o desenvolvimento do capitalismo mas não suficiente para que isso ocorra e relação imanente entre duas variáveis Por exemplo Observase a exis tência de relação entre urbanização e secularização urbanização x y secularização Esta relação indica que à medida que as cidades crescem e se desenvolvem estímulos urbanos de vida as explicações religiosas do mundo cedem lugar a ex plicações racionais Não é que uma variável cause outra mas que a secularização nasce da urbanização COMO CONSTRUIR HIPÓTESES 35 f relação entre meios e fins Por exemplo O aproveitamento dos alunos está relacionado ao tempo dedicado ao estudo tempo dedicado aproveitamento ao estudo x y dos alunos Relações deste tipo são tratadas criticamente por muitos autores por apresen tarem caráter finalista o que dificulta a verificação empírica 33 COMO CHEGAR A UMA HIPÓTESE O processo de elaboração de hipótese é de natureza criativa Por essa razão é freqüentemente associado a certa qualidade de gênio De fato a elaboração de certas hipóteses pode exigir que gênios como Galileu ou Newton as proclamem Todavia em boa parte dos casos a qualidade mais requerida do pesquisador é a experiência na área Não é possível no entanto determinar regras para a elabo ração de hipóteses Nesse sentido cabe lembrar o que escreveu De Morgan há mais de um século Uma hipótese não se obtém por meio de regras mas graças a essa sagacidade impossível de descrever precisamente porque quem a possui não segue ao agir leis perceptíveis para eles mesmos Citado por Trujillo Ferrari 1982 p 131 A análise da literatura referente à descoberta científica mostra que as hipó teses surgem de diversas fontes Serão consideradas aqui as principais 331 Observação Este é o procedimento fundamental na construção de hipóteses O estabe lecimento assistemático de relações entre os fatos no diaadia é que fornece os indícios para a solução dos problemas propostos pela ciência Alguns estudos valemse exclusivamente de hipóteses desta origem Todavia por si sós essas hipóteses têm poucas probalidades de conduzir a um conhecimento suficiente mente geral e explicativo 332 Resultados de outras pesquisas As hipóteses elaboradas com base nos resultados de outras investigações geralmente conduzem a conhecimentos mais amplos que aquelas decorrentes da simples observação À medida que uma hipótese se baseia em estudos anteriores e 36 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA o estudo em que se insere a confirma o resultado auxilia na demonstração de que a relação se repete regularmente Por exemplo se uma pesquisa realizada nos Estados Unidos confirma que empregados de nível elevado são menos motivados por salários que por desafios e pesquisa posterior a confirma no Brasil esses resul tados passam a gozar de significativo grau de confiabilidade 333 Teorias As hipóteses derivadas de teorias são as mais interessantes no sentido de que proporcionam ligação clara com o conjunto mais amplo de conhecimentos das ciências Todavia nem sempre isso se torna possível visto muitos campos da ciência carecerem de teorias suficientemente esclarecedoras da realidade 334 Intuição Também há hipóteses derivadas de simples palpites ou de intuições A história da ciência registra vários casos de hipóteses desse tipo que conduziram a importantes descobertas Como porém as intuições por sua própria natureza não deixam claro as razões que as determinaram tornase difícil avaliar a priori a qualidade dessas hipóteses 34 CARACTERÍSTICAS DA HIPÓTESE APLICÁVEL Nem todas as hipóteses são testáveis Com freqüência os pesquisadores elaboram extensa relação de hipóteses e depois de detida análise descartam a maior parte delas Para que uma hipótese possa ser considerada logicamente aceitável deve apresentar determinadas características A seguir são considerados alguns re quisitos baseados principalmente em Goode e Hatt 1969 e McGuigan 1976 mediante os quais se torna possível decidir acerca da testabilidade das hipóteses 341 Deve ser conceitualmente clara Os conceitos contidos na hipótese particularmente os referentes a variáveis precisam estar claramente definidos Devemse preferir as definições operacio nais isto é aquelas que indicam as operações particulares que possibilitam o es clarecimento do conceito Por exemplo uma hipótese podese referir ao nível de religiosidade que será definido operacionalmente pela freqüência aos cultos reli giosos COMO CONSTRUIR HIPÓTESES 37 342 Deve ser específica Muitas hipóteses são conceitualmente claras mas são expressas em termos tão gerais e com objetivo tão pretensioso que não podem ser verificadas Por exemplo o conceito dastatus é claro entretanto não existe atualmente definição operacional capaz de determinar satisfatoriamente a posição dos indivíduos na sociedade Por essa razão são preferíveis as hipóteses que especificam o que de fato se pretende verificar Poderá mesmo ser o caso de dividir a hipótese ampla em subhipóteses mais precisas referindose à remuneração ocupação ao nível educacional etc 343 Deve ter referências empíricas As hipóteses que envolvem julgamentos de valor não podem ser adequada mente testadas Palavras como bom mau deve e deveria não conduzem à verifica ção empírica e devem ser evitadas na construção de hipóteses A afirmação Maus alunos não devem ingressar em faculdades de medicina pode ser tomada como exemplo de hipótese que não pode ser testada empiricamente Poderia ser o caso de se apresentála sob a forma Alunos com baixo nível de aproveitamento escolar apresentam maiores dificuldades para o exercício da profissão de médico Neste caso a hipótese envolve conceitos que podem ser verificados pela observação 344 Deve ser parcimoniosa Uma hipótese simples é sempre preferível a uma mais complexa desde que tenha o mesmo poder explicativo A lei de Lloyd Morgan constitui importante guia para a aplicação do princípio da parcimônia à pesquisa psicológica Nenhuma atividade mental deve ser interpretada em termos de processos psicológicos mais altos se puder ser razoavelmente interpretada por processos mais baixos na escala de evolução e desenvolvimento psicológico citado por McGuigan 1976 p 53 Um exemplo esclarece esse requisito Se uma pessoa adi vinhou corretamente o símbolo de um número maior de cartas do que seria prová vel casualmente podese levantar uma série de hipóteses para explicar o fenôme no Uma delas poderia considerar a percepção extrasensorial e outra que o sujeito espiou de alguma forma É lógico que a última é a mais parcimoniosa e deve ser a preferida pelo menos num primeiro momento da investigação 345 Deve estar relacionada com as técnicas disponíveis Nem sempre uma hipótese teoricamente bem elaborada pode ser testada empiricamente É necessário que haja técnicas adequadas para a coleta dos dados exigidos para seu teste Por essa razão recomendase aos pesquisadores o exame 38 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA de relatórios de pesquisa sobre o assunto a ser investigado com vistas ao conheci mento das técnicas utilizadas Quando não forem encontradas técnicas adequadas para o teste das hipóteses o mais conveniente passa a ser a realização de estudos voltados para a descoberta de novas técnicas Ou então a reformulação da hipóte se com vistas a seu ajustamento às técnicas disponíveis 346 Deve estar relacionada com uma teoria Em muitas pesquisas sociais este critério não é considerado Entretanto as hipóteses elaboradas sem qualquer vinculação às teorias existentes não possibi litam a generalização de seus resultados Goode e Hatt 1969 p 63 citam o exem plo das hipóteses que relacionam raça e nível intelectual que foram testadas nos Estados Unidos no período compreendido entre as duas guerras mundiais Me diante a aplicação de testes de nível intelectual verificouse que filhos de imigran tes italianos e negros apresentavam nível intelectual mais baixo que os americanos de origem anglosaxônica Essas hipóteses porém embora confirmadas são bas tante críticas quanto a sua generalidade Há teorias sugerindo que a estrutura inte lectual da mente humana é determinada pela estrutura da sociedade Com base nessas teorias foram elaboradas várias hipóteses relacionando o nível intelectual às experiências por que passaram os indivíduos Essas hipóteses foram confirma das e por se vincularem a um sistema teórico consistente possuem maior poder de explicação que as anteriores 35 AS HIPÓTESES SÃO NECESSÁRIAS EM TODAS AS PESQUISAS Rigorosamente todo procedimento de coleta de dados depende da formula ção prévia de uma hipótese Ocorre que em muitas pesquisas as hipóteses não são explícitas Todavia nesses casos é possível determinar as hipóteses subjacentes mediante a análise dos instrumentos adotados para a coleta dos dados Seja o caso de uma pesquisa em que tenha sido formulada a seguinte questão Onde você compra suas roupas Está implícita a hipótese de que a pessoa compra suas roupas não as confeccionando em sua própria casa Seja o caso de outra pesquisa em que apareça a seguinte questão com as possíveis alternativas Em que área da psicologia você pretende atuar Clínica Escolar COMO CONSTRUIR HIPÓTESES 39 Organizacional Outra Está implícita a hipótese de que entre todas as áreas possíveis clínica escolar e organizacional correspondem à maioria das escolhas Assim em algumas pesquisas as hipóteses são implícitas e em outras são formalmente expressas Geralmente naqueles estudos em que o objetivo é o de descrever determinado fenômeno ou as características de um grupo as hipóteses não são enunciadas formalmente Nesses casos as hipóteses envolvem uma única variável e o mais freqüente é indicála no enunciado dos objetivos da pesquisa Já naquelas pesquisas que têm como objetivo verificar relações de associação ou dependência entre variáveis o enunciado claro e preciso das hipóteses cons titui requisito fundamental LEITURA RECOMENDADA Como construir hipóteses LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia científica 3 ed São Paulo Atlas 1999 O Capítulo 4 desse livro trata da importância e da função das hipóteses na pesquisa esclarece acerca de suas principais modalidades e das características das hipóteses bem construídas EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Analise o significado do termo hipótese a partir de sua etimologia Hipótese deriva dos étimos gregos hipo posição inferior e thesis proposição 2 Formule 10 hipóteses que envolvam relações entre variáveis A seguir classi fique essas relações segundo sejam simétricas assimétricas ou recíprocas 3 Entre as hipóteses formuladas relacione as que envolvem relações assimétri cas e classifiqueas de acordo com o tipo de relação 4 Verifique se essas hipóteses são aplicáveis de acordo com os requisitos consi derados neste capítulo 4 Como Classificar as Pesquisas 41 COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS COM BASE EM SEUS OBJETIVOS É sabido que toda e qualquer classificação se faz mediante algum critério Com relação às pesquisas é usual a classificação com base em seus objetivos gerais Assim é possível classificar as pesquisas em três grandes grupos exploratórias descritivas e explicativas 411 Pesquisas exploratórias Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a tornálo mais explícito ou a constituir hipóteses Podese dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições Seu planejamento é portanto bastante flexível de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado Na maioria dos casos essas pesquisas envolvem a levantamento bi bliográfico b entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e c análise de exemplos que estimulem a compreensão Selltiz et ai 1967 p 63 Embora o planejamento da pesquisa exploratória seja bastante flexível na maioria dos casos assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso tipos que serão detalhados nos Capítulos 5 e 12 respectivamente 42 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 412 Pesquisas descritivos As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das carac terísticas de determinada população ou fenômeno ou então o estabelecimento de relações entre variáveis São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados tais como o questionário e a observação sistemática Entre as pesquisas descritivas salientamse aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo sua distribuição por idade sexo procedência nível de escolaridade estado de saúde física e mental etc Outras pesquisas deste tipo são as que se propõem a estudar o nível de atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade as condições de habitação de seus habitantes o índice de crimi nalidade que aí se registra etc São incluídas neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões atitudes e crenças de uma população Também são pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis como por exemplo as pesquisas eleitorais que indicam a relação entre preferência políticopartidária e nível de rendimentos ou de escolaridade Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existên cia de relações entre variáveis e pretendem determinar a natureza dessa relação Nesse caso temse uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa Há porém pesquisas que embora definidas como descritivas com base em seus objeti vos acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema o que as aproxima das pesquisas exploratórias As pesquisas descritivas são juntamente com as exploratórias as que habitual mente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática São também as mais solicitadas por organizações como instituições educacionais empresas comerciais partidos políticos etc Geralmente assumem a forma de levan tamento tipo de pesquisa a ser detalhado no Capítulo 10 413 Pesquisas explicativas Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos Esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão o porquê das coisas Por isso mesmo é o tipo mais complexo e delicado já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente Podese dizer que o conhecimento científico está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos Isso não significa porém que as pesquisas exploratórias e descritivas tenham menos valor porque quase sempre constituem etapa prévia indispensável para que se possa obter explicações científicas Uma COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 43 pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva posto que a identi ficação dos fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficiente mente descrito e detalhado As pesquisas explicativas nas ciências naturais valemse quase exclusivamen te do método experimental Nas ciências sociais a aplicação deste método reveste se de muitas dificuldades razão pela qual se recorre também a outros métodos sobretudo ao observacional Nem sempre se torna possível a realização de pesquisas rigidamente explicativas em ciências sociais mas em algumas áreas sobretudo da psicologia as pesquisas revestemse de elevado grau de controle chegando mesmo a ser chamadas quase experimentais A maioria das pesquisas deste grupo pode ser classificada como experimen tais e expostfacto que serão detalhadas nos Capítulos 7 e 8 42 COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS COM BASE NOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS UTILIZADOS A classificação das pesquisas em exploratórias descritivas e explicativas é muito útil para o estabelecimento de seu marco teórico ou seja para possibilitar uma aproximação conceituai Todavia para analisar os fatos do ponto de vista empírico para confrontar a visão teórica com os dados da realidade tornase neces sário traçar um modelo conceituai e operativo da pesquisa Na literatura científica da língua inglesa esse modelo recebe o nome de design que pode ser traduzido como desenho designo ou delineamento Desses três termos o mais adequado é delineamento já que bem expressa as idéias de modelo sinopse e plano O delineamento referese ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla que envolve tanto a diagramação quanto a previsão de análise e interpretação de coleta de dados Entre outros aspectos o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados e as formas de controle das variáveis envolvidas Como o delineamento expressa em linhas gerais o desenvolvimento da pesqui sa com ênfase nos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados tornase possível na prática classificar ás pesquisas segundo o seu delineamento O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados Assim podem ser definidos dois grandes grupos de delineamentos aqueles que se valem das chamadas fontes de papel e aqueles cujos dados são fornecidos por pessoas No primeiro grupo estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental No segundo estão a pesquisa expe rimental a pesquisa expostfacto o levantamento e o estudo de caso Neste último grupo ainda que gerando certa controvérsia podem ser incluídas também a pesquisaação e a pesquisa participante 44 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Esta classificação não pode ser tomada como absolutamente rígida visto que algumas pesquisas em função de suas características não se enquadram facilmente num ou noutro modelo Entretanto na maioria dos casos tornase possível classi ficar as pesquisas com base nesse sistema 43 QUE E PESQUISA BIBLIOGRÁFICA A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza há pesquisas de senvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas As pesquisas sobre ideologias bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema também costumam ser desenvolvidas quase exclusiva mente mediante fontes bibliográficas As fontes bibliográficas são em grande número e podem ser assim classificadas Fontes Bibliográficas J obras literárias de leitura corrente obras de divulgação L r livros dicionários f informativa J enciclopédias l anuários almanaques de referência L remissiva publicações f jornais periódicas l revistas impressos diversos Os livros constituem as fontes bibliográficas por excelência Em função de sua forma de utilização podem ser classificados como de leitura corrente ou de referência Os livros de leitura corrente abrangem as obras referentes aos diversos gêneros literários romance poesia teatro etc e também as obras de divulgação isto é as que objetivam proporcionar conhecimentos científicos ou técnicos Os livros de referência também denominados livros de consulta são aqueles que têm por objetivo possibilitar a rápida obtenção das informações requeridas ou então a localização das obras que as contêm Dessa forma podese falar em dois tipos de livros de referência livros de referência informativa que contém a informação que se busca e livros de referência remissiva que remetem a outras fontes COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 45 Os principais livros de referência informativa são dicionários enciclopédias anuários e almanaques Os livros de referência remissiva podem ser globalmente designados como catálogos São constituídos por uma lista ordenada das obras de uma coleção pública ou privada Há vários tipos de catálogos que podem ser clas sificados de acordo com o critério de disposição de seus elementos os tipos mais importantes são alfabético por autores alfabético por assunto e sistemático Neste último as obras são ordenadas segundo as referências lógicas de seu conteúdo Publicações periódicas são aquelas editadas em fascículos em intervalos regulares ou irregulares com a colaboração de vários autores tratando de assuntos diversos embora relacionados a um objetivo mais ou menos definido As principais publicações periódicas são os jornais e as revistas Estas últimas representam nos tempos atuais uma das mais importantes fontes bibliográficas Enquanto a matéria dos jornais se caracteriza principalmente pela rapidez a das revistas tende a ser muito mais profunda e mais bem elaborada A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente Essa vantagem tornase particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço Por exemplo seria impossível a um pesquisador percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre população ou renda per capita todavia se tem a sua disposição uma bibliografia adequada não terá maiores obstáculos para contar com as informações requeridas A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos Em muitas situações não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos Essas vantagens da pesquisa bibliográfica têm no entanto uma contrapartida que pode comprometer em muito a qualidade da pesquisa Muitas vezes as fontes secundárias apresentam dados coletados ou processados de forma equivocada Assim um trabalho fundamentado nessas fontes tenderá a reproduzir ou mesmo a ampliar esses erros Para reduzir essa possibilidade convém aos pesquisadores asseguraremse das condições em que os dados foram obtidos analisar em profun didade cada informação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas cotejandoas cuidadosamente 44 QUE É PESQUISA DOCUMENTAL A pesquisa documental assemelhase muito à pesquisa bibliográfica A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontesEnquanto a pesquisa biblio gráfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto a pesquisã documental yalese de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa 46 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica Apenas cabe considerar que enquanto na pesquisa biblio gráfica as fontes são constituídas sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas na pesquisa documental as fontes são muito mais diversificadas e dispersas Há de um lado os documentos de primeira mão que não receberam nenhum tratamento analítico Nesta categoria estão os documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições privadas tais como associações científicas igrejas sindicatos partidos políticos etc Incluemse aqui inúmeros outros documentos como cartas pessoais diários fotografias gravações memorandos regulamentos ofícios boletins etc De outro lado há os documentos de segunda mão que de alguma forma já fo ram analisados tais como relatórios de pesquisa relatórios de empresas tabelas estatísticas etc Nem sempre fica clara a distinção entre a pesquisa bibliográfica e a documental já que a rigor as fontes bibliográficas nada mais são do que documentos impressos para determinado público Além do mais boa parte das fontes usualmente consul tada nas pesquisas documentais tais como jornais boletins e folhetos pode ser tratada como fontes bibliográficas Nesse sentido é possível até mesmo tratar a pesquisa bibliográfica como um tipo de pesquisa documental que se vale especial mente de material impresso fundamentalmente para fins de leitura A maioria das pesquisas realizadas com base em material impresso pode ser classificada como bibliográfica As que se valem de outros tipos de documentos são em número mais restrito Todavia há importantes pesquisas elaboradas exclusiva mente mediante documentos outros que não aqueles localizados em bibliotecas Podemse identificar pesquisas elaboradas baseadas em fontes documentais as mais diversas tais como correspondência pessoal documentos cartoriais registros de batismo epitáfios inscrições em banheiros etc A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens Primeiramente há que se considerar que os documentos constituem fonte rica e estável de dados Como os documentos subsistem ao longo do tempo tornamse a mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica Outra vantagem da pesquisa documental está em seu custo Como a análise dos documentos em muitos casos além da capacidade do pesquisador exige apenas disponibilidade de tempo o custo da pesquisa tornase significativamente baixo quando comparado com o de outras pesquisas Outra vantagem da pesquisa documental é não exigir contato com os sujeitos da pesquisa É sabido que em muitos casos o contato com os sujeitos é difícil ou até mesmo impossível Em outros a informação proporcionada pelos sujeitos é preju dicada pelas circunstâncias que envolvem o contato É claro que a pesquisa documental também apresenta limitações As críticas mais freqüentes a esse tipo de pesquisa referemse à nãorepresentatividade e à COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 47 subjetividade dos documentos São críticas sérias todavia o pesquisador expe riente tem condições para ao menos em parte contornar essas dificuldades Para garantir a representatividade alguns pesquisadores consideram um grande número de documentos e selecionam certo número pelo critério de aleatoriedade O problema da objetividade é mais crítico contudo esse aspecto é mais ou menos presente em toda investigação social Por isso é importante que o pesquisador considere as mais diversas implicações relativas aos documentos antes de formular uma conclusão definitiva Ainda em relação a esse problema convém lembrar que algumas pesqui sas elaboradas com base em documentos são importantes não porque respondem definitivamente a um problema mas porque proporcionam melhor visão desse problema ou então hipóteses que conduzem a sua verificação por outros meios 45 QUE É PESQUISA EXPERIMENTAL De modo geral o experimento representa o melhor exemplo de pesquisa científica Essencialmente a pesquisa experimental consiste em determinar um objeto de estudo selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciálo definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto O esquema básico da experimentação pode ser assim descrito seja Z o fenômeno estudado que em condições não experimentais se apresenta perante os fatores A B C e D A primeira prova consiste em controlar cada um desses fatores anulando sua influência para observar o que ocorre com os restantes Seja o exemplo A B e C produzem Z A B e D não produzem Z B C e D produzem Z Dos resultados dessas provas podese inferir que C é condição para a produção de Z Se for comprovado ainda que unicamente com o fator C excluindose os demais Z também ocorre podese também afirmar que C é condição necessária e suficiente para a ocorrência de Z ou em outras palavras que é sua causa Claro que o exemplo aqui citado é extremamente simples pois na prática verificamse condi cionamentos dos mais diferentes tipos o que exige trabalho bastante intenso tanto para controlar a quantidade de variáveis envolvidas quanto para mensurálas Quando os objetos em estudo são entidades físicas tais como porções de líquidos bactérias ou ratos não se identificam grandes limitações quanto à possi bilidade de experimentação Quando porém se trata de experimentar com obje tos sociais ou seja com pessoas grupos ou instituições as limitações tornamse bastante evidentes Considerações éticas e humanas impedem que a experimenta ção se faça eficientemente nas ciências humanas razão pela qual os procedimentos 48 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA experimentais se mostram adequados apenas a um reduzido número de situações Todavia são cada vez mais freqüentes experimentos nas ciências humanas sobre tudo na Psicologia por exemplo aprendizagem na Psicologia Social por exemplo medição de atitudes estudo do comportamento de pequenos grupos análise dos efeitos da propaganda etc e na Sociologia do Trabalho por exemplo influência de fatores sociais na produtividade A pesquisa experimental constitui o delineamento mais prestigiado nos meios científicos Consiste essencialmente em determinar um objeto de estudo selecionar as variáveis capazes de influenciálo e definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto Tratase portanto de uma pesquisa em que o pesquisador é um agente ativo e não um observador passivo A pesquisa experimental ao contrário do que faz supor a concepção popular não precisa necessariamente ser realizada em laboratório Pode ser desenvolvida em qualquer lugar desde que apresente as seguintes propriedades a manipulação o pesquisador precisa fazer alguma coisa para mani pular pelo menos uma das características dos elementos estudados b controle o pesquisador precisa introduzir um ou mais controles na situação experimental sobretudo criando um grupo de controle c distribuição aleatória a designação dos elementos para participar dos grupos experimentais e de controle deve ser feita aleatoriamente Em muitas pesquisas procedese à manipulação de uma variável indepen dente Nem sempre porém verificase o pleno controle da aplicação dos estímulos experimentais ou a distribuição aleatória dos elementos que compõem os grupos Nesses casos não se tem rigorosamente uma pesquisa experimental mas quase experimental Campbell Stanley 1979 Por exemplo em populações grandes como as de cidades indústrias escolas e quartéis nem sempre se torna possível selecionar aleatoriamente subgrupos para tratamentos experimentais diferenciais mas tornase possível exercer por exemplo o completo controle experimental sobre esses subgrupos Esses delineamentos quaseexperimentais são substancial mente mais fracos porque sem a distribuição aleatória não se pode garantir que os grupos experimentais e de controle sejam iguais no início do estudo Não são no entanto destituídos de valor O importante nestes casos é que o pesquisador apre sente seus resultados esclarecendo o que seu estudo deixou de controlar Há ainda pesquisas que embora algumas vezes designadas como experi mentais não podem a rigor ser consideradas como tal É o caso dos estudos que envolvem um único caso sem controle ou que aplicam préteste e pósteste a um único grupo Essas pesquisas apresentam muitas fraquezas e melhor será caracte rizálas como préexperimentais Campbell Stanley 1979 COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 49 As pesquisas experimentais constituem o mais valioso procedimento disponí vel aos cientistas para testar hipóteses que estabelecem relações de causa e efeito entre as variáveis Em virtude de suas possibilidades de controle os experimentos oferecem garantia muito maior do que qualquer outro delineamento de que a variável independente causa efeitos na variável dependente A despeito porém de suas vantagens a pesquisa experimental apresenta várias limitações Primeiramente existem muitas variáveis cuja manipulação experimental se torna difícil ou mesmo impossível Uma série de características humanas tais como idade sexo ou histórico familiar não podem ser conferidas às pessoas de forma aleatória Outra limitação consiste no fato de que muitas variáveis que poderiam ser tecnicamente manipuladas estão sujeitas a considerações de ordem ética que proíbem sua manipulação Não se pode por exemplo submeter pessoas a atividades estressantes com vistas a verificar alterações em sua saúde física ou mental Ou priválas de convívio social para verificar em que medida esse fator é capaz de afetar sua autoestima 46 QUE É PESQUISA EXPOST FACTO A tradução literal da expressão expostfacto é a partir do fato passado Isso significa que neste tipo de pesquisa o estudo foi realizado após a ocorrência de variações na variável dependente no curso natural dos acontecimentos O propósito básico desta pesquisa é o mesmo da pesquisa experimental veri ficar a existência de relações entre variáveis Seu planejamento também ocorre de forma bastante semelhante A diferença mais importante entre as duas modali dades está em que na pesquisa expostfacto o pesquisador não dispõe de controle sobre a variável independente que constitui o fator presumível do fenômeno porque eleja ocorreu O que o pesquisador procura fazer neste tipo de pesquisa é identificar situações que se desenvolveram naturalmente e trabalhar sobre elas como se estivessem submetidas a controles Uma importante modalidade de pesquisa expostfacto muito utilizada nas ciências da saúde é a pesquisa casocontrole Esta é baseada na comparação entre duas amostras A primeira é constituída por pessoas que apresentam determinada característica casos e a segunda é selecionada de forma tal que seja análoga à primeira em relação a todas as características exceto a que constitui objeto da pesquisa Por exemplo numa pesquisa para verificar a associação entre toxoplas mose e debilidade mental determinado número de crianças com diagnóstico de debilidade mental é submetido a teste sorológico com o intuito de inferir se tive ram ou não infecção prévia pelo Toxoplasmagondü O mesmo exame é realizado em igual número de crianças sem debilidade mental do mesmo sexo e idade que fun cionam como controle 50 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Apesar das semelhanças com a pesquisa experimental o delineamento ex post facto não garante que suas conclusões relativas a relações do tipo cau saefeito sejam totalmente seguras O que geralmente se obtém nesta modalidade de delineamento é a constatação da existência de relação entre variáveis Por isso é que essa pesquisa muitas vezes é denominada correlacionai 47 QUE E ESTUDO DE COORTE O estudo de coorte referese a um grupo de pessoas que têm alguma caracte rística comum constituindo uma amostra a ser acompanhada por certo período de tempo para se observar e analisar o que acontece com elas Assim como o estudo de casocontrole é muito utilizado na pesquisa nas ciências da saúde Os estudos de coorte podem ser prospectívos contemporâneos ou retrospectivos históricos O estudo de coorte prospectívo é elaborado no presente com previsão de acompanhamento determinado segundo o objeto de estudo Sua principal vantagem é a de propiciar um planejamento rigoroso o que lhe confere um rigor científico que o aproxima do delineamento experimental O estudo de coorte retrospectivo é elaborado com base em registros do passado com seguimento até o presente Só se torna viável quando se dispõe de arquivos com protocolos completos e organizados Suponhase uma pesquisa que tem como objetivo verificar a exposição passiva à fumaça de cigarro e a incidência de câncer no pulmão Basicamente a pesquisa começa pela seleção de uma amostra de indivíduos expostos ao fator de risco e de outra amostra equivalente de não expostos A primeira amostra eqüivale ao grupo experimental e a segunda ao grupo de controle A seguir fazse o seguimento de ambos os grupos e após determinado período verificase o quanto os indivíduos expostos estão mais sujeitos à doença do que os não expostos A despeito do amplo reconhecimento pela comunidade científica os estudos de coorte apresentam diversas limitações Uma das mais importantes referese à nãoutílização do critério de aleatoriedade na formação dos grupos de participantes Outra limitação referese à exigência de uma amostra muito grande o que faz com que a pesquisa se torne muito onerosa 48 QUE E LEVANTAMENTO As pesquisas deste tipo caracterizamse pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer Basicamente procedese à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida mediante análise quantitativa obteremse as conclusões corres pondentes aos dados coletados COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 51 Quando o levantamento recolhe informações de todos os integrantes do universo pesquisado temse um censo Pelas dificuldades materiais que envolvem sua realização os censos só podem ser desenvolvidos pelos governos ou por insti tuições de amplos recursos São extremamente úteis pois proporcionam informa ção gerais acerca das populações que são indispensáveis em boa parte das investi gações sociais Na maioria dos levantamentos não são pesquisados todos os integrantes da população estudada Antes selecionase mediante procedimentos estatísticos urna amostra significativa de todo o universo que é tomada como objeto de inves tigação As conclusões obtidas com base nessa amostra são projetadas para a tota lidade do universo levando em consideração a margem de erro que é obtida me diante cálculos estatísticos Os levantamentos por amostragem gozam hoje de grande popularidade entre os pesquisadores sociais a ponto de muitas pessoas chegarem mesmo a considerar pesquisa e levantamento social a mesma coisa Na verdade o levantamento social é um dos muitos tipos de pesquisa social que como todos os outros apresenta vantagens e limitações Entre as principais vantagens dos levantamentos estão a conhecimento direto da realidade à medida que as próprias pessoas in formam acerca de seu comportamento crenças e opiniões a investiga ção tornase mais livre de interpretações calcadas no subjetivismo dos pesquisadores b economia e rapidez desde que se tenha uma equipe de entrevistadores codificadores e tabuladores devidamente treinados tornase possível a obtenção de grande quantidade de dados em curto espaço de tempo Quando os dados são obtidos mediante questionários os custos tornam se relativamente baixos c quantificação os dados obtidos mediante levantamento podem ser agrupados em tabelas possibilitando sua análise estatística As variáveis em estudo podem ser quantificadas permitindo o uso de correlações e outros procedimentos estatísticos À medida que os levantamentos se valem de amostras probabilísticas tornase possível até mesmo conhecer a margem de erro dos resultados obtidos Entre as principais limitações dos levantamentos estão a ênfase nos aspectos perceptivos os levantamentos recolhem dados refe rentes à percepção que as pessoas têm acerca de si mesmas Ora a per cepção é subjetiva o que pode resultar em dados distorcidos Há muita diferença entre o que as pessoas fazem ou sentem e o que elas dizem a 52 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA esse respeito Existem alguns recursos para contornar este problema É possível em primeiro lugar omitir as perguntas que sabidamente a maioria das pessoas não sabe ou não quer responder Também se pode mediante perguntas indiretas controlar as respostas dadas pelo infor mante Todavia esses recursos em muitos dos casos são insuficientes para sanar os problemas considerados b pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais me diante levantamentos é possível a obtenção de grande quantidade de dados a respeito dos indivíduos Como porém os fenômenos sociais são determinados sobretudo por fatores interpessoais e institucionais os levantamentos mostramse pouco adequados para a investigação pro funda desses fenômenos c limitada apreensão do processo de mudança o levantamento de modo geral proporciona visão estática do fenômeno estudado Oferece por assim dizer uma espécie de fotografia de determinado problema mas não indica suas tendências à variação e muito menos as possíveis mudanças estruturais Como tentativa de superação dessas limitações vêm sendo desenvolvidos com freqüência crescente os levantamentos do tipo painel que consistem na coleta de dados da mesma amostra ao longo do tempo Muitas informações importantes têm sido obtidas mediante esses proce dimentos particularmente em estudos sobre nível de renda e desempre go Entretanto os levantamentos do tipo painel apresentam séria limita ção que é a progressiva redução da amostra por causas diversas tais como mudança de residência e fadiga dos respondentes Considerando as vantagens e limitações acima expostas podese dizer que os levantamentos tornamse muito mais adequados para estudos descritivos que explicativos São inapropriados para o aprofundamento dos aspectos psicológicos e psicossociais mais complexos porém muito eficazes para problemas menos deli cados como preferência eleitoral e comportamento do consumidor São muito úteis para o estudo de opiniões e atitudes porém pouco indicados no estudo de problemas referentes a relações e estruturas sociais complexas 49 QUE E ESTUDO DE CAMPO O estudo de campo apresenta muitas semelhanças com o levantamento Dis tinguese porém em diversos aspectos De modo geral podese dizer que o levan tamento tem maior alcance e o estudo de campo maior profundidade Em termos práticos podem ser feitas duas distinções essenciais Primeiramente o levanta mento procura ser representativo de universo definido e oferecer resultados carac COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 53 terizados pela precisão estatística Já o estudo de campo procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis Como conseqüência o planeja mento do estudo de campo apresenta muito maior flexibilidade podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo da pesquisa Outra distinção é que no levantamento procurase identificar as caracterís ticas dos componentes do universo pesquisado possibilitando a caracterização precisa de seus segmentos Já no estudo de campo estudase um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social ou seja ressaltando a interação entre seus componentes Dessa forma o estudo de campo tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de interrogação O estudo de campo constitui o modelo clássico de investigação no campo da Antropologia onde se originou Nos dias atuais no entanto sua utilização se dá em muitos outros domínios como no da Sociologia da Educação da Saúde Pública e da Administração Tipicamente o estudo de campo focaliza uma comunidade que não é neces sariamente geográfica já que pode ser uma comunidade de trabalho de estudo de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana Basicamente a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo Esses procedimentos são geralmente conjugados com muitos outros tais como a análise de documentos filmagem e fotografias No estudo de campo o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoal mente pois é enfatizada importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo Também se exige do pesquisador que permaneça o maior tempo possível na comunidade pois somente com essa imersão na realidade é que se podem entender as regras os costumes e as convenções que regem o grupo estudado O estudo de campo apresenta algumas vantagens em relação principalmente aos levantamentos Como é desenvolvido no próprio local em que ocorrem os fenô menos seus resultados costumam ser mais fidedignos Como não requer equipa mentos especiais para a coleta de dados tende a ser bem mais econômico E como o pesquisador apresenta nível maior de participação tornase maior a probabilidade de os sujeitos oferecerem respostas mais confiáveis O estudo de campo apresenta no entanto algumas desvantagens De modo geral sua realização requer muito mais tempo do que um levantamento Como na maioria das vezes os dados são coletados por um único pesquisador existe risco de subjetivismo na análise e interpretação dos resultados da pesquisa 54 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 410 QUE É ESTUDO DE CASO O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciências biomedicas e sociais Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados Nas ciências biomedicas o estudo de caso costuma ser utilizado tanto como estudopiloto para esclarecimento do campo da pesquisa em seus múltiplos aspectos quanto para a descrição de síndromes raras Seus resultados de modo geral são apresentados em aberto ou seja na condição de hipóteses não de conclusões Nas ciências durante muito tempo o estudo de caso foi encarado como procedi mento pouco rigoroso que serviria apenas para estudos de natureza exploratória Hoje porém é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos Yin 2001 Ora nas ciên cias sociais a distinção entre o fenômeno e seu contexto representa uma das grandes dificuldades com que se deparam os pesquisadores o que muitas vezes chega a impedir o tratamento de determinados problemas mediante procedimentos carac terizados por alto nível de estruturação como os experimentos e levantamentos Daí então a crescente utilização do estudo de caso no âmbito dessas ciências com diferentes propósitos tais como a explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos b preservar o caráter unitário do objeto estudado c descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação d formular hipóteses ou desenvolver teorias e e explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos A despeito de sua crescente utilização nas Ciências Sociais encontramse muitas objeções a sua aplicação Uma delas referese à falta de rigor metodológico pois diferentemente do que ocorre com os experimentos e levantamentos para a realização de estudos de caso não são definidos procedimentos metodológicos rígidos Por essa razão são freqüentes os vieses nos estudos de caso os quais acabam comprometendo a qualidade de seus resultados Ocorre porém que os vieses não são prerrogativa dos estudos de caso podem ser constatados em qual quer modalidade de pesquisa Logo o que cabe propor ao pesquisador disposto a desenvolver estudos de caso é que redobre seus cuidados tanto no planejamento quanto na coleta e análise dos dados para minimizar o efeito dos vieses COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 55 Outra objeção referese à dificuldade de generalização A análise de um único ou de poucos casos de fato fornece uma base muito frágil para a generalização No entanto os propósitos do estudo de caso não são os de proporcionar o conheci mento preciso das características de uma população mas sim o de proporcionar uma visão global do problema ou de identificar possíveis fatores que o influenciam ou são por ele influenciados Outra objeção referese ao tempo destinado à pesquisa Alegase que os es tudos de caso demandam muito tempo para serem realizados e que freqüentemen te seus resultados tornamse pouco consistentes De fato os primeiros trabalhos qualificados como estudos de caso nas Ciências Sociais foram desenvolvidos em lon gos períodos de tempo Todavia a experiência acumulada nas últimas décadas mostra que é possível a realização de estudos de caso em períodos mais curtos e com resultados passíveis de confirmação por outros estudos Convém ressaltar no entanto que um bom estudo de caso constitui tarefa difícil de realizar Mas é comum encontrar pesquisadores inexperientes entusias mados pela flexibilidade metodológica dos estudos de caso que decidem adotálo em situações para as quais não é recomendado Como conseqüência ao final de sua pesquisa conseguem apenas um amontoado de dados que não conseguem analisar e interpretar 411 QUE E PESQUISAAÇÃO A pesquisaação pode ser definida como Thiollent 1985 p 14 um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo A pesquisaação tem sido objeto de bastante controvérsia Em virtude de exigir o envolvimento ativo do pesquisador e a ação por parte das pessoas ou grupos envolvidos no problema a pesquisaação tende a ser vista em certos meios como desprovida da objetividade que deve caracterizar os procedimentos científicos A despeito porém dessas críticas vem sendo reconhecida como muito útil sobre tudo por pesquisadores identificados por ideologias reformistas e participativas 412 QUE É PESQUISA PARTICIPANTE A pesquisa participante assim como a pesquisaação caracterizase pela interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas Há autores 56 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA que empregam as duas expressões como sinônimas Todavia a pesquisaação geralmente supõe uma forma de ação planejada de caráter social educacional técnico ou outro Thiollent 1985 A pesquisa participante por sua vez envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante Esta última tende a ser vista como uma atividade que privilegia a manutenção do sistema vigente e a primeira como o próprio conhecimento derivado do senso comum que permitiu ao homem criar trabalhar e interpretar a realidade sobretudo a partir dos recursos que a natureza lhe oferece A pesquisa participante envolve posições valorativas derivadas sobretudo do humanismo cristão e de certas concepções marxistas Tanto é que a pesquisa parti cipante suscita muita simpatia entre os grupos religiosos voltados para a ação co munitária Além disso a pesquisa participante mostrase bastante comprometida com a minimização da relação entre dirigentes e dirigidos e por essa razão temse voltado sobretudo para a investigação junto a grupos desfavorecidos tais como os constituídos por operários camponeses índios etc LEITURAS RECOMENDADAS FESTINGER Leon KATZ Daniel A pesquisa na psicologia social Rio de Janeiro FGV 1974 caps 14 A primeira parte desse livro é direcionada aos ambientes de pesquisa Aí dedi case um capítulo para cada um destes tipos de pesquisa levantamento de amostra gem estudo de campo experimentos de campo e experimentos de laboratório KIDDER Louise H Org Métodos de pesquisa nas relações sociais delineamentos de pesquisa São Paulo EPU 1987 v 1 Esse volume é inteiramente dedicado aos delineamentos de pesquisa mais comuns nas ciências sociais experimentos delineamentos quaseexperimentais levantamentos pesquisas de avaliação e observação participante EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Analise a expressão Pesquisas descritivas referemse ao quê e ao como e as explicativas ao porquê 2 Analise alguns relatórios de pesquisa e procure classificála em exploratória descritiva e explicativa COMO CLASSIFICAR AS PESQUISAS 5 7 3 Elabore uma relação de objetos que possam ser considerados fontes docu mentais 4 Identifique o delineamento mais adequado para a solução dos problemas relacionados a Qual o perfil socioeconômico dos leitores da revista X b Qual a técnica didática mais favorável para proporcionar a memoriza ção de conceitos abstratos dramatização ou exposição c Como se processou a industrialização na Região do Grande ABC paulista Como Delinear uma Pesquisa Bibliográfica 51 ETAPAS DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA A pesquisa bibliográfica como qualquer outra modalidade de pesquisa desenvolvese ao longo de uma série de etapas Seu número assim como seu enca deamento depende de muitos fatores tais como a natureza do problema o nível de conhecimentos que o pesquisador dispõe sobre o assunto o grau de precisão que se pretende conferir à pesquisa etc Assim qualquer tentativa de apresentar um modelo para desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica deverá ser entendida como arbitrária Tanto é que os modelos apresentados pelos autores que tratam desse assunto diferem significativamente entre si Neste capítulo procurase apresentar o desenvolvimento da pesquisa biblio gráfica com base na identificação de etapas sucessivas Logo o que se segue deve ser entendido não como um roteiro rigoroso que se deva seguir sob pena de com prometer irremediavelmente o trabalho mas sim como um roteiro entre outros elaborado com base na experiência de seu autor cotejada com a experiência de outros autores nesse campo A pesquisa bibliográfica pode portanto ser entendida como um processo que envolve as etapas a escolha do tema b levantamento bibliográfico preliminar c formulação do problema d elaboração do plano provisório de assunto e busca das fontes f leitura do material 60 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA g fichamento h organização lógica do assunto e i redação do texto 52 ESCOLHA DO TEMA A pesquisa bibliográfica como qualquer outra modalidade de pesquisa inicia se com a escolha de um tema É uma tarefa considerada fácil porque qualquer ciência apresenta grande número de temas potenciais para pesquisa No entanto a escolha de um tema que de fato possibilite a realização de uma pesquisa bibliográ fica requer bastante energia e habilidade do pesquisador É muito comum a situação de estudantes que se sentem completamente deso rientados ao serem solicitados a escolher o tema de sua monografia de conclusão de curso ou dissertação de mestrado É claro que o papel do orientador nesta etapa é de fundamental importância Com base em sua experiência ele é capaz de suge rir temas de pesquisa e indicar leituras que auxiliem o aluno no desenvolvimento dos primeiros passos Além disso é capaz de advertir quanto às dificuldades que poderão decorrer da escolha de determinados temas No entanto por mais capaci tado que seja o orientador o papel mais importante nesta etapa do trabalho assim como nas demais é desempenhado pelo próprio estudante Primeiramente devese considerar que a escolha de um tema deve estar rela cionada tanto quanto for possível com o interesse do estudante Muitas das dificul dades que aparecem neste momento decorrem simplesmente do fato de não apre sentarem interesse pelo aprofundamento em qualquer dos temas com que tiveram contato ao longo do curso de graduação ou mesmo de pósgraduação Para escolher adequadamente um tema é necessário ter refletido sobre diferentes temas Assim algumas perguntas poderão auxiliar nessa escolha tais como Quais os campos de sua especialidade que mais lhe interessam Quais os temas que mais o instigam De tudo o que você tem estudado o que lhe dá mais vontade de se aprofundar e pesquisar O estudante não pode para seu próprio bem esperar que o orientador deter mine o tema da pesquisa A tarefa de realizar uma monografia ou dissertação por si só é bastante árdua mesmo para os que estão motivados pela busca do conhecimento Logo pesquisar a respeito de um assunto pelo qual se tenha pouco ou nenhum interesse pode tornarse uma tarefa altamente frustrante Não basta no entanto o interesse pelo assunto É necessário também dispor de bons conhecimentos na área de estudo para que as etapas posteriores da mono grafia ou dissertação possam ser adequadamente desenvolvidas Quem conhece pouco dificilmente faz escolhas adequadas Isso significa que o aluno só poderá escolher um tema a respeito do qual já leu ou estudou COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 61 Cabe ressaltar também que é muito freqüente a escolha de temas amplos e complexos que exigem volume de trabalho muito superior ao que será possível realizar no tempo proposto É uma postura muito comum que em geral decorre de certa dose de onipotência dos pesquisadores iniciantes ou da falta de conheci mento da literatura da área Assim o papel do orientador tornase decisivo nesse momento 53 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO PRELIMINAR A escolha do tema constitui importante passo na elaboração de uma pesquisa bibliográfica Isso não significa porém que o pesquisador de posse de um tema já esteja em condições de formular seu problema de pesquisa Como foi visto no capí tulo anterior esse processo é bastante complexo muito mais do que geralmente se imagina Por isso logo após a escolha do tema o que se sugere é um levanta mento bibliográfico preliminar que facilite a formulação do problema Esse levantamento bibliográfico preliminar pode ser entendido como um estudo exploratório posto que tem a finalidade de proporcionar a familiaridade do aluno com a área de estudo no qual está interessado bem como sua delimitação Essa familiaridade é essencial para que o problema seja formulado de maneira clara e precisa O tema de pesquisa de modo geral é formulado de maneira muito ampla não favorecendo portanto a definição de um problema em condições de ser pesqui sado O levantamento bibliográfico preliminar é que irá possibilitar que a área de estudo seja delimitada e que o problema possa finalmente ser definido O que geralmente ocorre é que ao longo desta fase o estudante acaba selecionando uma subárea de estudo que por ser bem mais restrita irá possibilitar uma visão mais clara do tema de sua pesquisa e conseqüentemente o aprimoramento do problema de pesquisa Pode ocorrer também que esse levantamento bibliográfico venha a determinar urna mudança nos propósitos iniciais da pesquisa já que o contato com o material já produzido sobre o assunto poderá deixar claro para o aluno as dificul dades para tratálo adequadamente O levantamento bibliográfico preliminar depende de muitos fatores tais como a complexidade do assunto e o nível de conhecimento que o estudante já dispõe a respeito Não se pode definir de imediato que material deverá ser consul tado A experiência porém demonstra que é muito importante buscar esclarecer se acerca dos principais conceitos que erivolvem o tema de pesquisa procurar um contato com trabalhos de natureza teórica capazes de proporcionar explicações a respeito bem como com pesquisas recentes que abordaram o assunto 62 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 54 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Esperase que ao final do levantamento bibliográfico preliminar o estudante esteja em condições de formular o problema de pesquisa O que como já foi consi derado não constitui tarefa das mais simples Cabe entretanto fazer algumas considerações de ordem prática que são bastante relevantes Numa Tese de Dou torado requerse originalidade Isto significa que o problema identificado deve corresponder a uma lacuna no conhecimento da área e que o trabalho deve ser inédito O mesmo não é requerido numa Dissertação de Mestrado e muito menos numa Monografia de conclusão de curso Qualquer que seja porém a natureza do trabalho requerse a tomada de uma série de cuidados na formulação do problema Já foi ressaltado no capítulo anterior que não existem regras claras que possam ser aplicadas invariavelmente nesse processo de formulação do problema Algumas perguntas no entanto poderão ser úteis para avaliar em que medida o problema proposto está em condições de ser investigado O tema é de interesse do pesquisador O problema apresenta relevância teórica e prática A qualificação do pesquisador é adequada para seu tratamento Existe material bibliográfico suficiente e disponível para seu equaciona mento e solução O problema foi formulado de maneira clara precisa e objetiva O pesquisador dispõe de tempo e outras condições de trabalho necessárias ao desenvolvimento da pesquisa Somente a partir do momento em que o pesquisador tem uma idéia clara daquilo que pretende fazer a respeito do assunto escolhido é que está em condições de iniciar seu trabalho Não basta por exemplo pretender estudar o desemprego nem mesmo o desemprego no Brasil ou em determinado estado É preciso definir com clareza o que se quer saber acerca do desemprego como ocorre onde ocorre quando ocorre quais suas causas ou quais suas conseqüências Qualquer tema pode ser estudado por diferentes perspectivas Considerese por exemplo o trabalho feminino Esse tema pode ser estudado por diferentes enfoques econômico político social antropológico jurídico biológico psicológico etc Suponhase então que um pesquisador tenha decidido estudar o trabalho feminino do ponto de vista social identificar reações de grupos organizados de mulheres às barreiras impos tas para a ascensão a essas funções A formulação do problema assim como a especificação dos objetivos pode representar uma longa etapa no processo de pesquisa Embora tenha sido definido COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 63 que esta etapa seguese ao levantamento bibliográfico preliminar nem sempre se observa a nítida separação entre as duas etapas O que geralmente ocorre é que em algum momento um problema é provisoriamente formulado mas uma posterior consulta à literatura poderá contribuir para sua reformulação É possível mesmo que sejam feitas diversas revisões até que o problema se apresente adequado à investigação Fica claro que o levantamento bibliográfico é de fundamental importância para a formulação do problema de pesquisa Todavia por si só ele é insuficiente Requerse a reflexão crítica acerca dos assuntos estudados de forma tal que seja possível identificar controvérsias entre os diferentes autores identificar abordagens teóricas relevantes para o estudo de fenômeno e se possível optar por uma abordagem teórica capaz de fundamentar o trabalho Nesse sentido tornase importante discutir esses assuntos com o orientador com pessoas mais experientes no assunto e também com os colegas já que estão envolvidos com problemas semelhantes Os se minários nos cursos de pósgraduação são eventos privilegiados para isso 55 ELABORAÇÃO DO PLANO PROVISÓRIO DE ASSUNTO Após a formulação clara do problema e de sua delimitação elaborase um plano de assunto que consiste na organização sistemática das diversas partes que compõem o objeto de estudo Construir um plano significa pois definir a estrutura lógica do trabalho de forma que as partes estejam sistematicamente vinculadas entre si e ordenadas em função da unidade de conjunto Salvador 1982 Não se pode com propriedade elaborar logo de início um plano definitivo pois nessa fase não se conhece suficientemente a matéria Partese pois de um plano provisório tão completo quanto permitam os conhecimentos nesta fase mas que provavelmente passará por diversas reformulações ao longo do processo de pesquisa O plano provisório constitui portanto apenas a primeira etapa O plano definitivo só poderá ser elaborado ao fim da coleta de dados Esse plano de trabalho geralmente apresenta a forma de itens e subitens ordenados em seções correspondentes ao desenvolvimento que se pretende dar à pesquisa Uma pesquisa por exemplo que tenha como objetivo analisar o mercado de trabalho do economista no Brasil poderia ser norteada pelo seguinte plano 1 A profissão de administrador de empresas 11 Características da profissão 12 Requisitos pessoais e técnicos para o exercício da profissão 13 Formação profissional do administrador de empresas 14 Regulamentação da profissão 64 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 2 Áreas de atuação do administrador de empresas 21 No setor público 22 Em empresas industriais 23 No comércio 24 Em bancos 25 No magistério 26 Em atividades de consultoria 3 A remuneração do administrador de empresas 31 Formas de remuneração 32 Níveis de remuneração 4 Perspectivas de trabalho do administrador de empresas 41 Alterações estruturais no mercado de trabalho 42 Interfaces do administrador de empresas com outros profissionais 43 O papel do administrador num mundo sem empregos 56 IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES Após a elaboração do plano de trabalho o passo seguinte consiste na identi ficação das fontes capazes de fornecer as respostas adequadas à solução do proble ma proposto Parte desta tarefa já foi desenvolvida na revisão bibliográfica preli minar que só difere desta etapa por não ser considerada definitiva Para identificar as fontes bibliográficas adequadas ao desenvolvimento da pesquisa a contribuição do orientador é fundamental Recomendase também a consulta a especialistas ou pessoas que já realizaram pesquisas na mesma área Essas pessoas podem fornecer não apenas informações sobre o que já foi publicado mas também apreciação crítica do material a ser consultado As fontes bibliográficas mais conhecidas são os livros de leitura corrente No entanto existem muitas outras fontes de interesse para a pesquisa bibliográfica tais como obras de referência teses e dissertações periódicos científicos anais de encontros científicos e periódicos de indexação e de resumo 561 Livros de leitura corrente Estes livros abrangem tanto as obras referentes aos diversos gêneros literários tais como o romance a poesia e o teatro quanto as obras de divulgação isto é as que objetivam proporcionar conhecimentos científicos e técnicos Estas últimas são as que mais interessam à pesquisa bibliográfica Mas obras literárias também COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 65 podem ser muito importantes Uma pesquisa referente à obra de determinado au tor se fundamentará naturalmente em obras dessa natureza Mas pesquisas de cunho sociológico histórico ou antropológico também poderão valerse de livros dessa natureza Por exemplo alguns dos livros escritos por Jorge Amado poderão interessar a um pesquisador interessado no estudo do ciclo econômico do cacau As obras de divulgação podem ser classificadas em obras científicas ou técnicas e em obras de vulgarização Nas primeiras a intenção do autor é comunicar a espe cialistas de maneira sistemática assuntos relacionados a determinado campo do conhecimento científico ou apresentar o resultado de pesquisas Já nas obras de vulgarização o autor dirigese a um público não especializado utilizando linguagem comum As obras didáticas podem ser consideradas de divulgação já que objetivam transmitir de forma clara e concisa as informações científicas evitando detalhes especializados Nos trabalhos de pesquisa devese dar preferência às obras científicas evitan dose as de vulgarização Isso não significa porém que compêndios tratados e mesmo livros de introdução a determinada disciplina devam ser sumariamente descartados 562 Obras de referência São obras destinadas ao uso pontual e recorrente ao contrário de outras que são destinadas a serem lidas do princípio ao fim Exemplo típico desta modalidade é o dicionário de língua que ninguém lê do começo ao fim mas a que se recorre para obter o significado de palavra específica Nas pesquisas científicas são de grande valor os dicionários temáticos que incluem termos dificilmente encontrados nos dicionários de língua e que proporcionam informações mais completas em relação ao significado do termo na especialidade Outra modalidade de obra de referência é constituída pelas enciclopédias que podem ser gerais ou especializadas As primeiras podem ser consideradas adequadas apenas para trabalhos escolares Já as especializadas podem ser de grande valor para uma pesquisa científica pois seu âmbito é claramente definido psicologia direito finanças por exemplo Além disso o nível de tratamento dado ao assunto costuma ser altamente técnico já que os verbetes são escritos por espe cialistas que geralmente os assinam Também são consideradas obras de referência os manuais que são obras compactas que tratam concisamente da essência de um assunto É nas áreas de ciência e tecnologia que essas obras aparecem em maior número embora também sejam encontradas em outras áreas do conhecimento Grande parte da informação contida nos manuais é apresentada por meio de tabelas gráficos símbolos equa ções ou fórmulas Cabe considerar contudo que os manuais incluem os conheci mentos já sedimentados e não constituem portanto fontes muito adequadas para informações referentes a avanços ou progressos recentes 66 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 563 Periódicos científicos Os periódicos constituem o meio mais importante para a comunicação cientí fica Graças a eles é que vemse tornando possível a comunicação formal dos resul tados de pesquisas originais e a manutenção do padrão de qualidade na investiga ção científica Com a disseminação do uso dos computadores e o desenvolvimento da Internet muitos periódicos científicos vêmse tornando disponíveis em meio eletrô nico Alguns desses periódicos são disponíveis em CDROM não diferindo dos pe riódicos impressos em papel já que mantêm o formato em fascículos a numeração e a periodicidade Outros periódicos estão disponíveis nas redes eletrônicas Muitos de les constituem apenas uma versão on Une do periódico tradicional mas há os que não apresentam equivalente em papel e que oferecem recursos como imagens em movimento acesso aos documentos citados no texto por meio de links de hiper texto e possibilidade de contato com o autor também por meio de links Cerca de 200 periódicos brasileiros e de outros países latinoamericanos nas áreas de ciências sociais psicologia engenharia química materiais saúde bio logia botânica veterinária microbiologia estão disponíveis na Internet graças ao Modelo SciELO Scientific Electronic Library Online 564 Teses e dissertações Fontes desta natureza podem ser muito importantes para a pesquisa pois muitas delas são constituídas por relatórios de investigações científicas originais ou acuradas revisões bibliográficas Seu valor depende no entanto da qualidade dos cursos das instituições onde são produzidas e da competência do orientador Requerse portanto muito cuidado na seleção dessas fontes 565 Anais de encontros científicos Os encontros científicos tais como congressos simpósios seminários e fóruns constituem locais privilegiados para apresentação de comunicações cientí ficas Seus resultados são publicados geralmente na forma de anais que reúnem o conjunto dos trabalhos apresentados e as palestras e conferências ocorridas durante o evento Esses anais muitas vezes são publicados em forma de livros e distribuídos pelos canais normais de venda Na maioria dos casos porém os anais são publicados pela própria entidade que organiza o evento já que conta com as facilidades da editoração eletrônica onde a impressão é feita diretamente dos originais dos próprios autores enviados por meio de disquetes COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 67 566 Periódicos de indexação e resumo Estas obras listam os trabalhos produzidos em determinada área do conheci mento com a finalidade de facilitar a identificação e o acesso à informação que se encontra dispersa em grande número de publicações Constituem instrumentos valiosos para os pesquisadores que têm necessidade de obter informações acerca da produção científica mais recente Esses periódicos são chamados abreviada mente de índices quando listam apenas as referências bibliográficas e de abstracts quando incluem seus resumos das publicações Muitos desses periódicos são veiculados eletronicamente por meio das bases de dados algumas das quais contêm não apenas as referências e os resumos mas também o texto completo dos trabalhos Existem periódicos de indexação e resumo que cobrem as mais variadas áreas do conhecimento Algumas no entanto são melhor servidas do que outras É o caso das áreas de engenharia medicina e ciências agrícolas que são cobertas por periódicos de indexação desde meados do século XIX No entanto com o ingresso de empresas comerciais nesse setor um número cada vez maior de áreas vem sendo contemplado com periódicos dessa natureza Alguns dos principais periódicos internacionais de indexação e de resumos vêm apresentados a seguir Agricultura Agrindex Bibliography of agriculture Biologia Biological abstracts BIOSIS Previews Ciências ambientais Pollution abstracts Enviroline Ciências da computação Computer control abstract Ciências espaciais Aerospace database Economia e Administração Economic literature index Business periodical index e ABIinform Education Education abstracts Energia Energia ciência e tecnologia INIS Atomindex Filosofia Philosophers index Medicina Excerpta medica Psicologia PsicINFO Psycological abstracts Química Chemical abstracts Sociologia Sociological abstracts 68 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 57 LOCALIZAÇÃO DAS FONTES Tradicionalmente o local privilegiado para a localização das fontes biblio gráficas tem sido a biblioteca No entanto em virtude da ampla disseminação de materiais bibliográficos em formato eletrônico assume grande importância a pesquisa feita por meio de bases de dados e sistemas de busca que também serão considerados aqui 571 Em biblioteca convencional Para localizar material adequado para a pesquisa é necessário que a biblioteca disponha de um bom acervo Lamentavelmente nem todas as bibliotecas das faculdades são adequadas para pesquisa bibliográfica sobretudo em relação aos periódicos científicos que constituem importantes fontes de dados O primeiro procedimento a ser desenvolvido na biblioteca é a consulta a seu catálogo que possibilita a localização das fontes por autor título ou assunto O processo mais eficaz é a localização por assunto embora para os pesquisadores ini ciantes possa constituir trabalho difícil Nem sempre o caminho da busca é linear e direto Dependendo do tema é preciso explorar seus subtemas ou mesmo temas paralelos para localizar fontes significativas Algumas bibliotecas especializadas dispõem de catálogos de livros e periódicos referentes a determinados assuntos que podem facilitar muito este processo A consulta ao catálogo é eficaz quando se trata da localização de livros O mesmo não acontece em relação aos periódicos cujos artigos de modo geral não são catalogados Conhecendose porém os periódicos potencialmente interessantes em relação ao assunto convém procederse a sua consulta de forma retrospectiva isto é partindo dos mais recentes para os mais antigos A consulta aos artigos mais recentes mostrase particularmente interessante porque com base em sua biblio grafia tornase possível localizar outros artigos de interesse As bibliotecas mais adequadas para pesquisa são aquelas em que o consulente tem acesso direto às estantes Como o acervo é classificado de acordo com um sistema fica fácil localizar as obras que tratam de determinado assunto Desses sistemas o mais utilizado nas bibliotecas brasileiras é o Sistema de Classificação Decimal de Dewey que agrupa as várias áreas do conhecimento em 10 classes cada uma das quais subdividida em outras 10 e assim subseqüentemente Quadro 51 COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 69 Quadro 51 Sistema de Classificação Decimal de Dewey 000 Obras Gerais 010 020 030 040 050 060 070 080 090 Bibliografias Biblioteconomia e ciências da in formação Enciclopédias gerais Obras não assinadas Jornais revistas e periódicos Associações organizações e museo logia Jornalismo editoração e novas mídias Coleções gerais Manuscritos e obras raras 100 Filosofia e Psicologia 110 120 130 140 150 160 170 180 190 Metafísica Epistemologia Fenômenos paranormais Escolas filosóficas Psicologia Lógica Ética Filosofia antiga medieval e oriental Filosofia ocidental moderna 200 Religião 210 220 230 240 250 260 270 280 290 Teologia natural Bíblia Teologia cristã Teologia moral e devocional Ordens religiosas cristãs e igrejas locais Teologia social cristã História da igreja cristã Denominações cristãs e seitas Outras religiões e estudos compa rativos 300 Ciências Sociais 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 Sociologia e antropologia Estatística geral Ciência Política Economia Direito Administração pública e ciência mi litar Serviço social Educação Comércio comunicações e trans porte Costumes etiquetas e folclore 400 Linguagem 410 420 430 440 450 460 470 480 490 Lingüística Língua inglesa Língua alemã Língua francesa Línguas italiana e romana Línguas espanhola e portuguesa Línguas itálicas latim Línguas helênicas grego clássico Outras línguas 500 510 520 530 540 550 560 570 580 590 Ciências Naturais e Matemática Matemática Astronomia Física Química Ciências da terra Paleontologia Biologia e ciências da vida Botânica Zoologia 70 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 600 600 610 620 630 640 650 660 670 680 690 Tecnologia Ciências Aplicadas Tecnologia geral Medicina Engenharia Agricultura Economia doméstica Administração Engenharia química Manufatura Manufatura para usos específicos Construções 700 Artes 710 720 730 740 750 760 770 780 790 Paisagismo Arquitetura Artes plásticas escultura Desenho e artes decorativas Pintura Artes gráficas impressão e selos postais Fotografia Música Esportes jogos e recreações 800 Literatura e Retórica 810 820 830 840 850 860 870 880 890 Literatura americana Literatura inglesa Literatura alemã Literatura francesa Literatura italiana e romena Literatura espanhola e portuguesa Literatura latina Literatura grega Literaturas de outras línguas 900 Geografia e História 900 910 920 930 940 950 960 970 980 990 História mundial Geografia Biografia genealogia insígnias Histórias do mundo antigo História geral da Europa História geral da Ásia História da África História geral da América do Norte História geral da América do Sul História geral de outras regiões 572 Em bases de dados Muitas bibliotecas dispõem de assinaturas de bases de dados que armazenam informações em CDROM ou possibilitam seu acesso via Internet Nelas o usuário pode fazer buscas por assunto por periódico ou por meio de palavraschave Algu mas dessas bases contêm apenas referências bibliográficas e resumos não se dis tinguindo portanto dos periódicos de indexação e resumo a não ser pelo suporte eletrônico Outras oferecem textos completos de livros teses artigos de periódi cos relatórios de pesquisa e outras fontes bibliográficas As bases internacionais mais conhecidas são COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 71 BIOSIS Ciências Biológicas Com mais de 5 milhões de resumos de artigos publicados em mais de 5 mil periódicos e de outros documentos é a mais completa e importante fonte de informação na área de ciências bioló gicas cobrindo agricultura bioquímica biotecnologia botânica ecologia e meio ambiente genética microbiologia neurologia farmacologia saúde pública e toxicologia patologia e medicina veterinária CAB Abstracts Ciências Agrárias Base de dados com resumos de mais de 35 milhões de documentos publicados em mais de 11 mil periódi cos e ainda livros trabalhos de congressos relatórios de pesquisa e outros tipos de literatura internacional Cobre as áreas de agronomia solos fíto tecnia genética florestas e engenharia florestal zootecnia medicina vete rinária ecologia e meio ambiente fertilizantes nutrição humana e desen volvimento rural COMPENDEX Engenharia e Tecnologia Indexa artigos publicados em mais de 2600 títulos de periódicos trabalhos de congressos e confe rências e relatórios técnicos É a maior base de dados interdisciplinar na área de engenharia e tecnologia cobrindo engenharia mecânica engenha ria civil e estrutural engenharia elétrica e eletrônica aeronáutica e enge nharia aeroespacial ciência dos materiais estado sólido e supercondutivi dade bioengenharia energia engenharia química óptica poluição do ar e da água tratamento de resíduos engenharia sanitária e ambiental transporte terrestre e segurança de transportes ECONLIT Economia e Administração A American Economic Asso ciation mantém essa base com referências bibliográficas e resumos selecio nados de artigos de periódicos livros teses e trabalhos de congressos In clui Abstracts of Working Papers in Economics da Cambridge University Press Index of Economic Articles in Journals e o texto completo das resenhas de livros publicadas no Journal of Economic Literature Cobre as áreas de desenvolvimento econômico previsões história teoria fiscal teoria monetá ria instituições financeiras finanças públicas e privadas economia inter nacional regional agrícola e urbana estudos sobre países específicos tra balho demografia e assistência à saúde FSTA Ciência e Tecnologia dos Alimentos Resumos de mais de 560 mil artigos patentes livros trabalhos de congressos teses relatórios téc nicos normas e legislação publicados nas áreas de ciência e engenharia de alimentos nutrição microbiologia bioquímica marketing e regulamentação de alimentos GEOREF Geociências Base elaborada e mantida pelo American Geological Institute com mais de 22 milhões de artigos de periódicos li vros teses mapas e relatórios de pesquisa nas áreas de geociências geolo gia engenharia energia mineralogia meio ambiente poluição e recur sos naturais 72 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA LILACS Ciências da saúde Base produzida pelas instituições que inte gram o Sistema LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde Registra a literatura técnicocientífica em saúde produzida por autores latinoamericanos e do Caribe e publicada a partir de 1982 Nessa base são descritos e indexados teses livros capítulos de livros anais de congressos ou conferências relatórios técnicocientíficos e artigos de revistas MEDLINE Base de dados de literatura internacional produzida pela National Library of Medicine NLM que reúne referências bibliográ ficas e resumos de revistas biomédicas publicadas nos Estados Unidos e em 70 outros países desde 1966 cobrindo as áreas de medicina enfermagem odontologia medicina veterinária e ciências préclínicas A atualização da base de dados é mensal MLA Lingüística e Literatura A base da Modern Language Associa tion of America indexa mais de 3100 periódicos nas áreas de línguas lin güística literatura e folclore além de livros monografias teses e trabalhos de congressos Oferece recursos para pesquisa precisa por autores obras li terárias gêneros literários e pontos de vista PsycINFO Psicologia Base de dados da American Psychological Association com resumos com mais de 17 milhão de documentos nas áreas de psicologia medicina educação serviços sociais sociologia direi to e criminologia Indexa artigos de periódicos teses capítulos de livros livros relatórios técnicos e outros documentos Proquest Direct É uma base interdisciplinar que cobre áreas como contabilidade publicidade negócios finanças saúde investimentos socio logia tecnologia e telecomunicações Contém mais de 2000 publicações periódicas e 27 periódicos dos EUA Seus anos de cobertura variam segun da a fonte Em geral as publicações periódicas estão indexadas desde 1971 e com texto completo a partir de 1988 Sociological Abstracts Sociologia e Ciência Política Referências e resumos de mais de 600 mil artigos de periódicos livros capítulos de livros filmes e outros materiais publicados nas áreas de sociologia educa ção desenvolvimento social psicologia ciência política antropologia medicina serviço social e direito Web of Science WoS Ciências Exatas e Tecnologia Ciências Sociais Artes e Ciências Humanas Base de dados com resumos e índice de citações com mais de 8400 periódicos especializados indexados pelo Institüte of Scientific Information ISI cobrindo todas as áreas do conhe cimento No Brasil também existem importantes bases de dados que possibilitam consulta on Une Os mais conhecidos são indicados a seguir com o respectivo endereço eletrônico COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 73 AcessusCPDOC Base de dados referencial com informações sobre aproximadamente um milhão de documentos manuscritos impressos fotos discos filmes e fitas do acervo do Centro de Pesquisa e Documen tação de História Contemporânea do Brasil CPDOC FGVRJ http wwwcpdocfgvbrcomumhtm Banco de Dados em Enfermagem BDENF UFMG A pesquisa pode ser feita com operadores booleanos por palavras do título pelo autor ou por todos os campos httpwwwmedicinaufmgbrbibliobdenf Bibliografia Brasileira de Odontologia Base de dados de lite ratura na área de saúde oral a partir de 1986 de responsabilidade do Ser viço de Documentação Odontológica da Faculdade de Odontologia da USP Contém livros teses folhetos separatas e publicações periódicas assim como artigos de autores nacionais publicados em revistas estrangeiras sem a preocupação de seleção com vista em obter a Memória Nacional em Odontologia a partir de 1986 httpwwwbiremebriah2homepagehtm Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas CCN Rede de unidades de informação de instituições localizadas no Brasil que atuam de forma cooperativa coordenadas pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IBICT Facilita o acesso a publica ções periódicas científicas e técnicas reunindo informações de centenas de catálogos produzidos pelas principais bibliotecas do país em um único catálogo nacional de acesso público httpwwwibictbrccnindexhtm EDUBASE Mantida pela Faculdade de EducaçãoUnicamp Base de dados de artigos de periódicos nacionais em Educação httpwwwbibli faeunicampbredubasehtm AdSaude Base de dados de literatura relativa à área de Administra ção de Serviços em Saúde de responsabilidade do Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Saúde Pública da USP em parceria com outras instituições da subrede AdSAUDE Inclui temas políticos econômi cos e sociais relacionados à administração organização planejamento e áreas afins aplicados aos sistemas e práticas de saúde Contém livros teses manuais e artigos de periódicos publicados no Brasil ou escritos por autores brasileiros e publicados em outros países a partir de 1986 httpwww biremebriah2homepagehtm ENERGYBase de Dados da CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear Direcionada a pesquisadores estudantes de pósgra duação especialistas e administradores atuantes em áreas ligadas às tec nologias de energia Disponibiliza informações bibliográficas de abrangência internacional Inclui informações sobre os impactos econômicos sociais políticos ambientais uso de diversas fontes de energia httpcincnen govbrrebie 74 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Orientador Adviser IBBA Administração JBBE Econo mia Bibliografia especializada em Economia e Administração com infor mações atualizadas mensalmente que tem como objetivo o apoio à pes quisa e aos estudos administrativos e econômicos Inclui as bases de da dos OrientadorAdviser e índice Brasileiro de Bibliografia de Administra ção IBBA e índice Brasileiro de Bibliografia de Economia IBBE http www orientadorcombr Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Despor tiva Dispõe de quatro bases de dados com acesso on Une em formato Microlsis São elas Sibra teses monografias e periódicos relacionados a esporte Decesp endereços de instituições ligadas a esportes Thes The saurus e Teses Núcleo Brasileiro de Teses http wwwsibradid eefufmgbrbaseshtml Sistema de Informações sobre Teses IBICT SITE Dissemina toda a produção científica teses e dissertações dos programas de pósgra duação produzida por brasileiros no país e no exterior das universidades conveniadas que estão com seus sistemas de informações automatizados Disponibiliza consulta e obtenção de cópias nas bibliotecas das instituições de ensino e pesquisa nas quais foram defendidas As cópias de teses defen didas no exterior são feitas pelo IBICT A consulta pode ser feita por autor título local da defesa e outros httpwwwctibictbr81siteadmin IBICT Base de Dados em Ciência e Tecnologia Mantida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia Abrange Guias de Fontes de Informações Tecnológicas Base de Dados das Federações de Indústria dos Estados Base de Dados do Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas e Base de Dados de Teses e Dissertações em Ciência e Tecnologia httpwwwibictbr SciELO Scientífic Electronic Library Online É uma biblioteca virtual piloto que abrange uma coleção selecionada de periódicos científi cos brasileiros com base hospedada na Fapesp Apresenta textos completos de artigos nas áreas de ciências sociais psicologia engenharia química materiais saúde biologia botânica veterinária e microbiologia http wwwscielobr 573 Pesquisa com sistemas de busca A Internet constitui hoje um dos mais importantes veículos de informações Não se pode deixar de lado as possibilidades desse meio Ocorre porém que existe na Internet mais do que em qualquer outro meio excesso de informações Daí a conveniência de utilização de sistemas de busca que podem ser de três categorias mecanismos de busca diretórios e mecanismos de metabusca COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 75 Os mecanismos de busca são os sistemas baseados no uso exclusivo de pro gramas de computador para a indexação das páginas da Web Nesses mecanismos a pesquisa é feita por palavraschave Para isso escrevese a palavra no quadro de busca e clicase no ícone ou botão de busca que fica ao lado do quadro A seguir aparecem os sites cujos conteúdos referemse às palavraschave Pode ocorrer que para uma única palavra digitada apareçam centenas de milhares de sites relaciona dos Isso significa que o pesquisador precisa valerse de múltiplos artifícios para fa zer uma boa pesquisa Nos diretórios a indexação das páginas da Web é realizada por humanos O diretório classifica o conteúdo dos sites segundo categorias e subcategorias seto res de atividade econômica ou ramos do conhecimento facilitando a busca por meio de filtros Para pesquisar em diretórios o pesquisador vai navegando desde um termo genérico até chegar a um termo mais específico Os mecanismos de metabusca vão atrás dos resultados de sua pesquisa per correndo de uma só vez vários sites de busca economizando tempo e aumentando as chances de encontrar o que se procura Seguese uma relação com os endereços dos principais mecanismos de busca diretórios e mecanismos de metabusca Mecanismos de busca HotBot wwwhotbotcom AltaVista wwwaltavistacom Lycos wwwlycoscom Cadê wwwcadecombr Achei wwwacheicombr Zeek wwwzeekcombr Diretórios Cadê wwwcadecombr Bookmarks wwwbookmarkscombr Sapo wwwsapopt Yahoo BR wwwyahoocombr MSN BR wwwmsncombr Mecanismos de metabusca Miner wwwmineruolcombr Mamma wwwmammacom Profusion wwwprofusioncom 76 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA SawySearch wwwsawysearchcom Dogpile wwwdogpilecom Metacrawler wwwcrawlercom 58 OBTENÇÃO DO MATERIAL Após a identificação das obras procedese a sua localização Isso pode ser feito por meio dos fichados das bibliotecas Quando bem organizados os fichados possibilitam a localização das obras pelo nome do autor pelo título da obra e pelo assunto A localização das fichas exige treino mas à medida que o pesquisador domina essa técnica seu trabalho fica altamente facilitado A obtenção do material pode ser feita por empréstimo ou por consulta privativa A maioria das bibliotecas dispõe de certo número de títulos que podem ser retirados e de outros que só podem ser consultados no local Quando a biblioteca é dotada de sistema de reprodução xerox microfilme etc cópias do material podem ser obtidas imediatamente a preços reduzidos Claro que também é possível adquirir certos livros e revistas em livrarias Isso pode ser feito quando a obra não é muito cara ou é de interesse potencial para trabalhos futuros Todavia quando a pesquisa se refere a um campo bastante especializado é pouco provável que as obras sejam encontradas em livrarias Um mecanismo bastante eficiente de acesso à informação é proporcionado pelo Programa de Comutação Bibliográfica Comut criado em 1980 pelo Ministé rio da Educação por meio da Capes O Comut permite às comunidades acadêmica e de pesquisa o acesso a documentos em todas as áreas do conhecimento mediante cópias de artigos de revistas técnicocientíficas teses e anais de congressos exclusivamente para fins acadêmicos e de pesquisa respeitandose rigorosamente a Lei de Direitos Autorais Para isso atua por meio de uma rede de bibliotecas denomi nadas bibliotecasbase com recursos bibliográficos humanos e tecnológicos adequa dos para o atendimento às solicitações de seus usuários O Comut está disponível via Internet para usuários cadastrados no sistema com código e senha de acesso Para tanto o usuário deverá de posse das referências bibliográficas do material preencher o formulário de pedido pagar antecipadamente e aguardar pelo recebimento 59 LEITURA DO MATERIAL De posse do material bibliográfico tido como suficiente passase a sua leitura Embora seja tarefa das mais corriqueiras no mundo contemporâneo convém que sejam feitas algumas considerações sobre este tópico COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 77 Primeiramente há que se considerar que a leitura de um livro ou qualquer outro impresso se faz por razões diversas Pode ocorrer que a leitura se dê por sim ples distração Ou com objetivo de aprender seu conteúdo com vista na aplicação prática ou avaliação Ou ainda para a obtenção de respostas a problemas Como os objetivos das diversas leituras variam naturalmente também variam os procedimentos e as atitudes requeridas A leitura que se faz na pesquisa bibliográfica deve servir aos seguintes objetivos a identificar as informações e os dados constantes do material impresso b estabelecer relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto c analisar a consistência das informações e dados apresentados pelos autores Muito já se escreveu acerca dos procedimentos e das atitudes a serem adotadas na leitura do material para pesquisa bibliográfica Alguns autores chegaram mesmo a elaborar alentadas taxionomias dos tipos de leitura Como porém essas taxio nomias são derivadas fundamentalmente da experiência sem o suporte de teorias suficientemente abrangentes o melhor será considerar apenas alguns tipos bási cos de leitura que caracterizam a pesquisa bibliográfica Cabe lembrar que estes tipos aqui apresentados não são mutuamente exclusivos nem exaustivos Pode ocorrer que determinada leitura ao se iniciar seja identificada como de determi nado tipo e em seu desenvolvimento passa a assumir características de outro O que precisa ficar claro é que embora seja desejável certo grau de sistematização do processo de leitura esta não pode ser prejudicada por normas muito rígidas sobre tudo quando a justificativa das normas não considera adequadamente as diferenças individuais A classificação dos tipos de leitura aqui proposta é a que considera cinco tipos cuja ocorrência se dá em função do avanço do processo de pesquisa bibliográfica 591 Leitura exploratória Esta é uma leitura do material bibliográfico que tem por objetivo verificar em que medida a obra consultada interessa à pesquisa A leitura exploratória pode ser comparada à expedição de reconhecimento que fazem os exploradores de uma região desconhecida É feita mediante o exame da folha de rosto dos índices da bibliografia e das notas de rodapé Também faz parte deste tipo de leitura o estudo da introdução do prefácio quando houver das conclusões e mesmo das orelhas dos livros Com esses elementos é possível ter uma visão global da obra bem como de sua utilidade para a pesquisa 78 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Embora a leitura exploratória anteceda às demais no tempo isso não significa que exija habilidade em menor nível Pelo contrário só é capaz de realizar uma leitura exploratória adequada quem possuir sólidos conhecimentos acerca do assunto tratado Além do mais a pesquisa exploratória exige bastante traquejo no manuseio de publicações científicas Para isso é necessário que o pesquisador seja capaz de identificar imediatamente a organização interna das obras consultadas Caso contrário a leitura exploratória se confundirá com outro tipo de leitura o que a tornará rigorosamente inútil 592 Leitura seletiva Após a leitura exploratória procedese a sua seleção ou seja à determinação do material que de fato interessa à pesquisa Para tanto é necessário ter em mente os objetivos da pesquisa de forma que se evite a leitura de textos que não contribuam para a solução do problema proposto A leitura seletiva é mais profunda que a exploratória todavia não é definitiva É possível que se volte ao mesmo material com propósitos diferentes Isso porque a leitura de determinado texto pode conduzir a algumas indagações que de certa forma podem ser respondidas recorrendose a textos anteriormente vistos Da mesma forma é possível que determinado texto eliminado como não pertinente venha a ser objeto de leitura posterior em decorrência de alterações dos propósitos do pesquisador 593 Leitura analítica l z i A leitura analítica é feita com base nos textos selecionados Embora possa f ocorrer a necessidade de adição de novos textos e a supressão de outros tantos a postura do pesquisador nesta fase deverá ser a de analisálos como se fossem j definitivos j A finalidade da leitura analítica é a de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes de forma que estas possibilitem a obtenção de respostas ao problema da pesquisa A leitura seletiva é de natureza crítica porém deve ser desenvolvida com bas tante objetividade É importante que se penetre no texto com a profundidade sufi ciente para identificar as intenções do autor porém qualquer tentativa de jul gálas em função das idéias do pesquisador deve ser evitada Isso significa que na leitura analítica o pesquisador deve adotar atitude de objetividade imparcialidade e respeito É importante que o pesquisador procure compreender antes de relutar Nem sempre essa tarefa é simples sobretudo quando o objetivo do pesquisador é o de testar uma hipótese de cuja veracidade esteja convencido antes de iniciar o tra balho de leitura analítica COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 79 Em termos práticos podese estabelecer que uma leitura analítica adequada passa pelos seguintes momentos a leitura integral da obra ou do texto selecionado para se ter uma visão do todo Será conveniente valerse de um dicionário para esclarecer o signi ficado de palavras desconhecidas Poderá também ser interessante em alguns casos apelar para trabalhos correlates para se obter melhor com preensão da obra ou do texto b identificação das idéiaschaves Ao ler atentamente uma frase identificam se algumas palavraschaves Da mesma forma num parágrafo é possível escolher uma frase que o sintetiza Ao longo do texto por fim podemse selecionar alguns parágrafos que são os mais significativos Por meio da junção inteligente entre os parágrafos do texto é possível identificar as idéias mais importantes c hierarquização das idéias Após a identificação das idéias mais importantes contidas no texto passase a sua hierarquização ou seja a organização das idéias seguindo a ordem de importância Isso implica distinguir as idéias principais das secundárias e estabelecer tantas categorias de idéias quantas forem necessárias para a análise do texto d sintetização das idéias Esta é a última etapa do processo de leitura analí tica Consiste em recompor o todo decomposto pela análise eliminando o que é secundário e fixandose no essencial para a solução do problema proposto A habilidade para sintetizar exige bastante treino e é funda mental na pesquisa bibliográfica Quando esta habilidade não se encontra bem desenvolvida o pesquisador tende a depararse com grande con junto de informações de difícil manuseio que podem comprometer o adequado desenvolvimento da pesquisa 594 Leitura interpretatíva Esta constitui a última etapa do processo de leitura das fontes bibliográficas Naturalmente é a mais complexa já que tem por objetivo relacionar o que o autor afirma com o problema para o qual se propõe uma solução Na leitura interpretativa procurase conferir significado mais amplo aos resultados obtidos com a leitura analítica Enquanto nesta última por mais bem elaborada que seja o pesquisador fixase nos dados na leitura interpretativa vai além deles mediante sua ligação com outros conhecimentos já obtidos O que tende a ocorrer com pesquisadores pouco experientes é a interpretação ser feita com base em posições pessoais conferindo ao trabalho caráter subjetivo terminando por comprometer sua validade científica Para que isso não ocorra é necessário que a interpretação se faça pela ligação dos dados com conhecimentos 80 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA significativos originados de pesquisas empíricas ou de teorias comprovadas Suponhase por exemplo que após a leitura de várias obras sobre protestantes no Brasil tenha sido verificado que os adeptos desta religião freqüentam menos cinemas clubes teatros bares e salões de bailes que os católicos Um pesquisador apressado poderá concluir que os protestantes são mais rígidos em matéria de moral que os católicos Já um pesquisador com maiores conhecimentos teóricos sobre o assunto não se arriscará a uma generalização desse tipo À medida que conheça o fenômeno da moral das minorias poderá preferir outro tipo de expli cação Considerará que os protestantes no Brasil constituem um grupo religioso minoritário e como tal tenderão a manifestar padrões de comportamento moral mais rígidos Considerará também que em outros países onde os católicos são minoria como na Inglaterra este grupo é que poderá ser considerado de maior rigidez quanto à moral 510 TOMADA DE APONTAMENTOS Um dos grandes problemas referentes à leitura referese a sua retenção É sabido que apenas parte do que se lê fica retida na memória Por essa razão convém que se tomem notas do material lido Para que a tomada de notas seja eficiente deve ser sempre realizada levando em consideração o problema da pesquisa Isso é importante para evitar que se tomem notas em demasia Apenas aquilo que potencialmente representa algum tipo de solução ao problema deve ser registrado Não é conveniente iniciar a tomada de notas juntamente com a primeira lei tura do texto Só depois de ler integralmente a obra geralmente na fase de leitura analítica é que se está em condições de fazer os apontamentos pertinentes Convém à medida que se vai lendo o livro sublinhar os pontos principais Quando o livro foi obtido por empréstimo o melhor é fazer anotações numa folha à parte É recomendável que esta folha tenha maior comprimento que as do livro No alto registrase o número das páginas anotadas no anverso as anotações refe rentes à página esquerda e no reverso as anotações da página direita Freqüentemente se indaga acerca do quão exaustivas devem ser as anotações Como resposta cabe lembrar que a decisão acerca do que será anotado deve levar em consideração os objetivos que se pretende alcançar com a pesquisa bem como a natureza da obra pesquisada e sua importância em relação àqueles objetivos Convém lembrar ainda que não é conveniente acumular grande número de ano tações Devem ser anotadas as idéias principais e os dados potencialmente impor tantes As formas de ligação entre as idéias podem ser deixadas de lado exceto quando essas formas de ligação são importantes para situar as idéias num contexto mais geral É o caso das pesquisas de natureza filosófica por exemplo COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 81 As anotações devem ser feitas preferencialmente com frases próprias Isso porque à medida que alguém se torna capaz de expressar um pensamento alheio com termos próprios tal fato indica que realmente entendeu o que o autor pretendia dizer Há casos porém em que a transcrição deve ser feita ipsis litteris e de forma a se identificar imediatamente a fonte original Devese portanto separar com clareza o material citado das anotações pessoais Isso é importante para se evitarem acusações de plágio 511 CONFECÇÃO DE FICHAS 5111 Objetivos das fichas Após a leitura e a tomada de apontamentos procedese à confecção das fichas de leitura Esse procedimento serve a vários objetivos a saber a identificação das obras consultadas b registro do conteúdo das obras c registro dos comentários acerca das obras d ordenação dos registros Embora haja casos em que os pesquisadores passam diretamente dos aponta mentos para a redação do trabalho é bastante conveniente a confecção de fichas Sua necessidade tomase tão mais evidente quanto maior for a dimensão do trabalho Distinguemse dois tipos de fichas bibliográfica e de apontamentos a primeira para anotar as referências bibliográficas e a última para o registro de idéias hipóteses etc 5112 Composição das fichas As fichas são elaboradas com base em retângulos de cartão pautado espe cialmente fabricados para esse fim Há tamanhos universalmente definidos para as fichas que são Tipo grande 125 x 205 cm Tipo médio 105 x 155 cm Tipo pequeno 75 x 125 cm Também é possível confeccionar as fichas eletronicamente Para tanto basta dispor de um programa de processamento de textos ou de um banco de dados As fichas tanto bibliográficas quanto de apontamentos compreendem três partes principais cabeçalho referência bibliográfica e texto 82 COMO ELABORARPROJETOS DE PESQUISA CABEÇALHO O cabeçalho é constituído pelos elementos de identificação das fichas que são de acordo com Salvador 1982 p 113117 título genérico título específico e número de classificação Estes são colocados em três campos situados na parte superior da ficha Estes elementos são obtidos por meio do plano de trabalho Tomese por exemplo uma pesquisa que tenha por objetivo analisar historicamente os objetivos educacionais mediante o seguinte plano 23 Formulações modernas 3 Argumentos em relação ao uso de objetivos 3 l Argumentos favoráveis 32 Argumentos contrários 4 Objetivos educacionais no Brasil 41 Histórico 42 Resistências 43 Situação atual 431 Ensino superior 432 Ensino de le e 2Q graus 433 Outras áreas Com base nesse plano podem ser feitos diversos cabeçalhos para as fichas Sejam os exemplos a Os objetivos educacionais Introdução 1 Os objetivos educacionais tema geral da pesquisa constituem neste caso o tí tulo genérico Introdução o título e o algarismo l o número de classificação deste b Argumentos em relação ao uso de objetivos Argumentos favoráveis 31 Neste exemplo argumentos em relação ao uso de objetivos constitui o título genérico e argumentos favoráveis o título específico Notese que o título genérico não corresponde ao título da pesquisa mas àquele que se encontra mais próximo do título específico que se refere à terceira seção da pesquisa COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 83 Quanto ao código o algarismo 3 corresponde à terceira seção da obra e o l à primeira subdivisão da seção c Situação atual Ensino superior 431 Neste exemplo o título genérico é situação atual que corresponde a uma subdivisão da quarta seção da pesquisa Ensino superior por sua vez corresponde ao título específico No código por fim o algarismo 4 corresponde à quarta seção do tra balho o 3 à terceira subdivisão da seção e o l à primeira parte da terceira divisão Algumas vezes aparecem apontamentos cuja classificação se torna difícil de imediato Nesses casos elaboramse as fichas deixando em branco o espaço reser vado ao cabeçalho a fim de ser preenchido quando se tiver uma idéia clara de sua adequada localização REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS As referências bibliográficas são constituídas pelos elementos indicadores da obra que geralmente constam da folha de rosto ou da ficha catalográfica Os elementos constantes dessas referências são organizados segundo critérios diversos O mais utilizado no País é o da Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 6023 TEXTO O texto ou seja o corpo das fichas varia segundo sua finalidade Como já visto as fichas podem ser classificadas de diversas maneiras sendo o mais usual classificálas em fichas bibliográficas e fichas de apontamento Nas fichas biblio gráficas o texto é constituído pelos comentários e nas fichas de apontamentos pelas citações resumos e observações pessoais Salvador 1982 p 117 Os comentários têm como objetivo apresentar uma síntese da obra bem como uma apreciação crítica da mesma Um comentário bem elaborado deve indicar sumariamente o desenvolvimento da obra bem como sua importância tanto em relação às outras que tratam do mesmo assunto quanto aos objetivos do trabalho que ora se desenvolve As citações feitas nas fichas são constituídas pela transcrição ipsis titteris do pensamento do autor Neste caso a ficha deve conter a frase do autor palavra por palavra inclusive erros de grafia se houver 84 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Os resumos devem expressar o pensamento do autor de forma abreviada Podem assumir a forma de esboço quando acompanha a estrutura de exposição seguida pelo autor ou de sinopse quando procura conter a essência do texto sem obedecer a sua estrutura original 5113 Classificação e armazenamento As fichas podem ser armazenadas verticalmente num fichado de madeira ou de plástico Também podem ser armazenadas eletronicamente Programas de processamento de texto ou de banco de dados possibilitam não apenas a confecção de fichas e seu armazenamento como também a fácil localização de cada uma e do assunto a que se referem por meio de palavraschave 512 CONSTRUÇÃO LÓGICA DO TRABALHO É comum pensarse que logo após o fichamento do material compulsado partese para a redação do relatório Todavia entre essas duas etapas situase a construção lógica do trabalho que consiste na organização das idéias com vista em atender aos objetivos ou testar as hipóteses formuladas no início da pesquisa Assim cabe nesta etapa estruturar logicamente o trabalho para que ele possa ser entendido como unidade dotada de sentido Embora de certa forma essa tarefa já tenha sido desenvolvida na elaboração do plano provisório de assunto é bastante provável que ao longo do desenvolvimento da pesquisa esteja tenha sido reformu lado e nesta etapa mais que em qualquer outra tornase necessária sua reformu lação para o estabelecimento do plano definitivo As fichas de leitura constituem os elementos mais importantes nesta etapa Não são porém os únicos Toda a documentação selecionada ao longo do processo de pesquisa precisa estar disponível neste momento recortes de jornais e revistas cópias de textos consultados folhetos anotações etc Mais do que disponíveis precisam estar organizada Para tanto sugerese a abertura de tantas partes quan tos forem os capítulos definidos no plano de trabalho Em cada pasta será coloca do folha por folha o conjunto de documentos referentes ao capítulo Esse trabalho poderá ser visto como muito cansativo mas é indispensável É o trabalho do artesão intelectual Beaud 1997 p 104 Quanto melhor estiverem organizados os documentos melhor estará o trabalho em condições de ser redigido Vale a pena portanto perder algum tempo neste trabalho COMO DELINEAR UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 85 513 REDAÇÃO DO RELATÓRIO A última etapa de uma pesquisa bibliográfica é constituída pela redação do relatório Não há regras fixas acerca do procedimento a ser adotado nesta etapa pois depende em boa parte do estilo de seu autor Há no entanto alguns aspectos relativos à estruturação do texto estilo e aspectos gráficos que precisam ser consi derados e serão abordados no Capítulo LEITURAS RECOMENDADAS DENEGA Marcos Antônio Como pesquisar na Internet São Paulo Berkeley 2001 Esse livro apresenta de forma prática o que se deve fazer para elaborar uma pesquisa por conteúdo na Internet Para tanto são descritas as estratégias que devem ser utilizadas para obter maior eficiência nos principais sistemas de busca nacionais e internacionais MEDEIROS João Bosco Redação científica a prática de fichamentos resumos e resenhas 4 ed São Paulo Atlas 2000 O autor trata entre outros assuntos do uso da biblioteca das estratégias de leitura da elaboração de fichamentos e das técnicas de elaboração de resumos SEVERINO Antônio Joaquim Metodologia do trabalho científico 21 ed São Paulo Cortez 2001 Obra clássica no campo da Metodologia Científica esse livro de Antônio Joaquim Severino apresenta em sua última edição as principais diretrizes para a elaboração de uma monografia científica com o auxílio dos recursos fornecidos pela Informática EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Formule problemas de pesquisa que possam ser investigados com base em fontes bibliográficas 2 Escolha um dos problemas formulados e elabore um plano de trabalho de pesquisa bibliográfica 3 Faça uma visita à biblioteca de sua faculdade e com o auxílio do bibliote cário identifique o sistema de organização das fichas catalográficas 86 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 4 Escolha um problema de pesquisa e a seguir mediante leitura exploratória selecione alguns livros de interesse potencial para essa investigação 5 Elabore fichas bibliográficas correspondentes aos livros selecionados 6 Leia cuidadosamente um livro de interesse para pesquisa científica procu rando atingir o nível de leitura interpretativa A seguir elabore uma ficha de apontamentos desse livro 7 Acesse algumas bases de dados e localize material potencialmente importante para determinado tipo de pesquisa 8 Selecione uma das áreas do conhecimento definidas pela Classificação Decimal de Dewey Dirijase então às estantes de uma biblioteca e com base na numeração identifique o conjunto de obras referentes a essa área 6 Como Delinear uma Pesquisa Documental 61 DA PESQUISA DOCUMENTAL Como já foi visto a pesquisa documental muito se assemelha à pesquisa bi bliográfica Logo as fases do desenvolvimento de ambas em boa parte dos casos são as mesmas Entretanto há pesquisas elaboradas com base em documentos as quais em função da natureza destes ou dos procedimentos adotados na interpre tação dos dados desenvolvemse de maneira significativamente diversa É o caso das pesquisas elaboradas mediante documentos de natureza quantitativa bem como daquelas que se valem das técnicas de análise de conteúdo Assim podem ser definidas as seguintes fases na pesquisa documental a determinação dos objetivos b elaboração do plano de trabalho c identificação das fontes d localização das fontes e obtenção do material e tratamento dos dados f confecção das fichas e redação do trabalho g construção lógica e redação do trabalho 62 DA DETERMINAÇÃO DOS OBJETIVOS À OBTENÇÃO DO MATERIAL O desenvolvimento dos primeiros passos do planejamento da pesquisa docu mental é muito semelhante ao da pesquisa bibliográfica Algumas diferenças con tudo podem ser assinaladas 88 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA a a pesquisa bibliográfica costuma ser desenvolvida como parte de uma pesquisa mais ampla visando identificar o conhecimento disponível sobre o assunto a melhor formulação do problema ou a construção de hipóteses Já a pesquisa documental de modo geral constitui um fim em si mesma com objetivos bem mais específicos que envolve muitas vezes teste de hipóteses b a pesquisa bibliográfica realizase quase exclusivamente com material disponível em bibliotecas Já a pesquisa documental pode exigir a consulta aos mais diversos tipos de arquivos públicos e particulares c o material utilizado para o fornecimento de dados nas pesquisas biblio gráficas é constituído basicamente por livros e revistas impressos em papel ou veiculados por meio eletrônico Já o material utilizado nas pesquisas documentais pode aparecer sob os mais diversos formatos tais como fichas mapas formulários cadernetas documentos pessoais cartas bilhetes fotografias fitas de vídeo e discos 63 TRATAMENTO DOS DADOS Como em boa parte dos casos os documentos a serem utilizados na pesquisa não receberam nenhum tratamento analítico tornase necessária a análise de seus dados Essa análise deve ser feita em observância aos objetivos e ao plano da pesquisa e pode exigir em alguns casos o concurso de técnicas altamente sofisticadas O tratamento de Émile Durkheim O suicídio é sempre citado como um dos mais notáveis exemplos de como um pesquisador dotado de grande argúcia inte lectual é capaz de obter dados significativos com base em fontes documentais Durkheim havia formulado a hipótese de que as causas do suicídio são de natureza social Para tanto estudou todos os registros de suicídios disponíveis nos países europeus Após considerar as mais diversas variáveis tais como clima raça doenças mentais estado civil religião etc concluiu que o suicídio é causado principal mente pela quebra dos laços de solidariedade entre os indivíduos O exemplo citado referese a documentos estatísticos que por sua própria natureza conduzem à análise quantitativa Todavia há uma série de outros docu mentos cujo conteúdo necessita ser adequadamente preparado para possibilitar a obtenção de dados passíveis de quantificação É o caso dos documentos pessoais como cartas e diários e dos documentos referentes à comunicação de massa como jornais fitas de cinema etc Escolher um tema e definir seu enfoque não é suficiente para iniciar uma pes quisa bibliográfica É necessário que o tema seja problematizado ou seja colocado em termos de um problema a ser solucionado Essa problematização não constitui COMO DELINEAR UMA PESQUISA DOCUMENTAL 89 tarefa mecânica mas é produto da reflexão surgida por ocasião das leituras dos debates das experiências da aprendizagem enfim da vivência intelectual no meio universitário e do ambiente científico e cultural Severino 2001 Para que esse pesquisador possa avaliar em que medida dispõe realmente de um problema sugerese que este seja colocado sob a forma de pergunta Por exem plo o tema trabalho feminino a ser estudado do ponto de vista social poderá con duzir ao seguinte problema Que barreiras sociais dificultam a participação da mu lher no mercado de trabalho Temse então um problema formulado com clareza O prosseguimento da pesquisa requer no entanto que esse problema seja delimitado a uma dimensão viável É necessário determinar o universo a ser abrangido pelo estudo Referese ao país como um todo ou a uma região específica Abrange todos os setores econô micos ou apenas um segmento Envolve todos os níveis hierárquicos ou se limita a um deles Também é necessário definir o período a ser considerado Assim o pro blema proposto poderia ser redefinido da seguinte forma Com que barreiras so ciais se depararam as mulheres para ascender a funções gerenciais no setor bancário ao longo da segunda metade do século XX O problema pode também ser apresentado sob a forma de objetivos o que representa um passo importante para a operacionalização da pesquisa e também para esclarecer o público interessado acerca do que se pretende com a pesquisa Por essa razão é que as agências de financiamento à pesquisa exigem na apresentação dos projetos a apresentação clara dos objetivos pretendidos Muitas vezes até mesmo como objetivos gerais e específicos Assim o problema elaborado pode conduzir aos seguintes objetivos verificar o nível de participação das mulheres em funções gerenciais no se tor bancário do Estado de São Paulo na segunda metade do século XX identificar barreiras sociais à ascensão de mulheres a funções gerenciais nesse setor O grande volume de material produzido pelos meios de comunicação e a necessidade de interpretálo determinou o aparecimento da análise de conteúdo Essa técnica possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das comunica ções Pode ser utilizada por exemplo para examinar a ideologia política implícita nas notícias de jornal ou o preconceito de raça e de gênero subjacente aos textos escolares A análise de conteúdo desenvolvese em três fases A primeira é a préanálise onde se procede à escolha dos documentos à formulação de hipóteses e à preparação do material para análise A segunda é a exploração do material que envolve a escolha das unidades a enumeração e a classificação A terceira etapa por fim é constituída pelo tratamento inferência e interpretação dos dados Bardin s d 90 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA A análise de conteúdo pode se quantitativa ou qualitativa Para a análise quan titativa foram desenvolvidos softwares como o Sphinx que possibilitam referenciar as unidades lexicais nos textos e enumerar automaticamente suas ocorrências Dessa forma tornase possível descrever com precisão fenômenos tais como atitudes valores e representações e ideologias contidas nos textos analisados Para a análise estatística são utilizadas diferentes estratégias Uma delas é a do emparelhamento que consiste em associar os dados recolhidos a um modelo teórico com a finalidade de comparálos Essa estratégia requer a existência de uma teoria sobre a qual a pesquisa possa apoiarse para explicar o fenômeno ou a situação Assim tornase possível verificar se há verdadeiramente correspondência entre a construção teórica e os dados observados Outra estratégia é a da construção iterativa de uma explicação Laville Dionne 1999 que não requer modelo teórico prévio O processo de análise e interpretação é fundamentalmente iterativo pois o pesquisador elabora pouco a pouco uma explicação lógica do fenômeno ou da situação estudados examinando as unidades de sentido as interrelações entre essas unidades e entre as categorias em que elas se encontram reunidas 64 CONFECÇÃO DAS FICHAS E REDAÇÃO DO TRABALHO Freqüentemente nas pesquisas documentais procedese à confecção de fichas como na pesquisa bibliográfica Há casos porém em que esse procedimento não é o mais adequado Nos estudos de natureza quantitativa após o tratamento estatístico dos dados têmse geralmente tabelas elaboradas manualmente ou com o auxílio de computadores Com base na análise e na interpretação dessas tabelas é que se procede à redação do trabalho que por sua vez é feita de modo similar ao da pesquisa bibliográfica 65 CONSTRUÇÃO LÓGICA E REDAÇÃO DO TRABALHO Nas pesquisas documentais de cunho quantitativo sobretudo naquelas que utilizam processamento eletrônico os dados são organizados em tabelas e permitem o teste das hipóteses estatísticas Dessa forma a ordenação lógica do trabalho fica facilitada e podese partir facilmente para a redação do relatório Já nas pesquisas de cunho qualitativo sobretudo naquelas em que não se dispõe previamente de um modelo teórico de análise costumase verificar um vaivém entre observação reflexão e interpretação à medida que a análise progride o que faz com que a orde nação lógica do trabalho tornese significativamente mais complexa retardando a redação do relatório COMO DELINEAR UMA PESQUISA DOCUMENTAL 91 LEITURAS RECOMENDADAS BARDIN Laurence Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 sd Tratase de um manual claro concreto e operacional que permite ao leitor compreender o significado da análise de conteúdo e sua aplicação nos diversos campos das ciências humanas SELLTIZ Claire et ai Métodos de pesquisa nas relações sociais São Paulo Herder 1967 O Capítulo 7 desta obra trata da utilização de dados disponíveis especifica mente de registros estatísticos documentos pessoais e documentos de comunica ção de massa EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Formule problema de pesquisa cujos dados possam ser obtidos exclusiva mente com base em documentos 2 Localize numa biblioteca o Anuário Estatístico do Brasil Verifique a parte referente a dados sociais e a partir daí formule alguns problemas de pesquisa para os quais esses dados possam ser relevantes 3 Analise em que medida paredes de banheiro e latas de lixo podem ser utilizadas como fontes de dados em pesquisas sociais 4 Procure exemplares de jornais diferentes Relacione todos os títulos de artigos separandoos a seguir por assunto política esporte polícia etc Por fim calcule a percentagem correspondente a cada assunto Esses resultados constituirão elementos para a análise de conteúdo da matéria impressa nos jornais 7 Como Delinear uma Pesquisa Experimental 71 ETAPAS DO PLANEJAMENTO DA PESQUISA EXPERIMENTAL O planejamento da pesquisa experimental implica o desenvolvimento de uma série de passos que podem ser assim arrolados a formulação do problema b construção das hipóteses c operacionalização das variáveis d definição do plano experimental e determinação dos sujeitos f determinação do ambiente g coleta de dados h análise e interpretação dos dados i apresentação das conclusões 72 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Como toda pesquisa a experimental iniciase com algum tipo de problema ou indagação Mais que qualquer outra a pesquisa experimental exige que o problema seja colocado de maneira clara precisa e objetiva As recomendações acerca da formulação do problema feitas no Capítulo 2 assumem pois importância muito maior no caso das pesquisas experimentais 94 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 73 CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES Na pesquisa experimental as hipóteses referemse geralmente ao estabele cimento de relações causais entre variáveis Sugerese que essas relações sejam definidas pela fórmula se então Por exemplo Se um professor elogia um aluno por estar indo bem na leitura então sua produtividade aumenta Como a pesquisa experimental se caracteriza pela clareza precisão e parci mônia freqüentemente envolve uma única hipótese Esta por sua vez tende a confundirse com o próprio problema O que varia é a forma interrogativa no problema e afirmativa na hipótese 74 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS Nunca será demais enfatizar que as variáveis contidas nas hipóteses de uma pesquisa experimental devem possibilitar o esclarecimento do que se pretende investigar bem como sua comunicação de forma não ambígua Isso pode ser obtido mediante a definição operacional cujos procedimentos foram esclarecidos no capítulo anterior Na pesquisa experimental a operacionalização das variáveis exige que se considerem as condições de mensuração sobretudo para que possam ser selecionados os instrumentos apropriados 75 DEFINIÇÃO DO PLANO EXPERIMENTAL As características da pesquisa experimental já foram discutidas no Capítulo 4 ainda que superficialmente Foi esclarecido que um experimento é uma pesquisa em que se manipulam uma ou mais variáveis independentes e os sujeitos são designados aleatoriamente a grupos experimentais Com base no número de variá veis e na forma de designação dos sujeitos podem ser definidos diversos planos experimentais Serão aqui considerados os dois planos básicos plano de uma única variável independente e plano fatorial PLANO DE UMA ÚNICA VARIÁVEL Esse plano que também é designado de mão única one way implica a mani pulação de uma única variável independente Suponhase uma pesquisa que tenha por hipótese professores que utilizam técnicas de trabalho em grupo tendem a ser avaliados de forma mais positiva por seus alunos Para que o experimento possa ser realizado tomase necessário manipular a variável independente qual seja utiliza COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPERIMENTAL 95 cão de técnicas de trabalho em grupo Nesse caso a variável independente poderia ser manipulada pela utilização de técnicas de trabalho em grupo por parte dos profes sores Seria possível estabelecer que alguns professores utilizassem preferencialmente as técnicas de trabalho em grupo durante as aulas e outros professores não as utilizas sem O quadro 71 mostra como este plano poderia ser esquematizado Quadro 71 Plano de experimento sobre avaliação dos professores em função da utilização ou não de técnicas de trabalho em grupo Utilização de técnicas de trabalho em grupo Al A2 utilizam não utilizam Resultados na variável dependente avaliação dos professores pelos alunos Nesse caso são estabelecidas apenas duas situações experimentais utilizam e não utilizam técnicas de trabalho em grupo Contudo pode haver um número maior de situações Para esse mesmo experimento poderiam ser estabelecidas três condições O quadro 72 mostra como o plano seria esquematizado Quadro 72 Plano de experimento sobre avaliação dos professores em função da utilização ou não de técnicas de trabalho em grupo Utilização de técnicas de trabalho em grupo Al A2 A3 utilizam utilizam não utilizam intensamente moderadamente Resultados na variável dependente avaliação dos professores pelos alunos PLANOS FATORIAIS O modelo clássico de pesquisa experimental envolve uma variável indepen dente e duas condições experimentais Foi visto que o número de condições expe rimentais pode ser ampliado para três ou mais Contudo mesmo assim o experi mento continua a ser de uma única variável É possível no entanto introduzir mais de uma variável independente no experimento Quando isso ocorre temse um plano do tipo fatorial Este consiste basicamente em utilizar duas ou três ou mais variáveis independentes simultaneamente para estudar seus efeitos conjun tos ou separados em uma variável dependente Com isso tornase possível testar hipóteses mais complexas e elaborar teorias mais abrangentes 96 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Tomese o seguinte exemplo de aplicação do plano fatorial admitese a hipó tese de que a avaliação do professor pelos alunos tem a ver com a metodologia uti lizada Todavia também há motivos para admitir que a avaliação do professor é influenciada pelo conteúdo da disciplina Assim é possível definir um plano para a verificação experimental de cada uma dessas hipóteses conforme indicam os qua dros 73 e 74 Para o teste da primeira hipótese fazse variar a metodologia de ensino me diante a constituição de dois grupos o dos professores que utilizam técnicas de grupo e o dos que utilizam técnicas expositivas Para o teste da segunda hipótese fazse variar o conteúdo da disciplina afetivo ou cognitivo Quadro 73 Plano de experimento sobre avaliação dos professores pelos alunos em junção da metodologia de ensino adotada Metodologia de ensino Al A2 Técnicas de grupo Exposição Resultados na variável dependente avaliação dos professores pelos alunos Quadro 74 Plano de experimentação sobre avaliação dos professores pelos alunos em função do conteúdo da disciplina Conteúdo da disciplina BI B2 Afetivo Cognitivo Resultados na variável dependente avaliação dos professores pelos alunos Cada um desses experimentos pode ser feito separadamente Contudo tor nase mais interessante estudar simultaneamente os efeitos das técnicas e do con teúdo das matérias sobre a avaliação dos professores Para tanto elaborase o modelo indicado no quadro 75 baseado em Kerlinger 1980 que permite três testes num único experimento O primeiro avalia os pro fessores que utilizam técnicas de grupo ou exposição O segundo avalia o professor considerando o conteúdo afetivo ou cognitivo da matéria O terceiro por fim ava lia a interação o trabalho mútuo das duas variáveis independentes em seu efeito conjunto sobre a variável dependente COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPERIMENTAL 97 Quadro 75 Plano fatorial de experimento sobre a avaliação de professores em função da metodologia de ensino e do conteúdo da matéria Metodologia de ensino Conteúdo da Matéria Trabalho de grupo Al Exposição A2 Afetivo BI Cognitivo B2 Al BI Medidas da A2 BI variável Al B2 dependente A2 B2 O entendimento desse plano ficará facilitado se forem definidos alguns resultados fictícios Imaginese que os professores tenham sido avaliados numa escala de 10 pontos com 10 indicando a atitude mais positiva possível ela mais negativa Conside remse agora quatro possibilidades distintas de resultados como indica o quadro 76 Quadro 76 Quatro conjuntos hipotéticos de resultados obtidos em experimentos fatoriais I II Trabalho Exposição Trabalho Exposição de grupo de grupo Afetivo BI Cognitivo B2 Al A2 Al BI 7 Al B2 7 A2 BI 3 A2 B2 3 7 3 5 Afetivo BI 5 Cognitivo B2 Al A2 Al BI 7 Al B2 3 A2 BI 7 A2 B2 3 5 5 7 3 III IV Trabalho Exposição Trabalho Exposição de grupo de grupo Afetivo BI Cognitivo B2 Al A2 Al BI 7 Al B2 5 A2 BI 3 A2 B2 5 6 4 5 Afetivo BI 5 Cognitivo B2 Al A2 Al BI 7 Al B2 3 A2 BI 3 A2 B2 7 5 5 5 5 98 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Os dados contidos em I indicam que os professores que utilizam predomi nantemente trabalho em grupo recebem avaliação mais positiva em relação àque les que utilizam a exposição As médias referentes ao conteúdo das disciplinas obviamente não se alteram 5 e 5 Os dados contidos em II indicam diferença grande entre o conteúdo afetivo e cognitivo as médias são 7 e 3 e nenhuma diferença entre a aplicação de traba lhos de grupo e exposição Os dados contidos em III indicam que a avaliação de professores que utili zam trabalhos de grupo e exposição apresentam diferenças significativas unica mente em disciplinas de conteúdo afetivo 7 e 3 Nenhuma diferença é observada nessa avaliação quando o conteúdo da disciplina é de natureza cognitiva 5 e 5 Por fim os dados em IV indicam que a avaliação dos professores em função da metodologia adotada varia significativamente com disciplinas de conteúdo afe tivo ou cognitivo mas em direções opostas A avaliação dos professores que utili zam trabalhos de grupo é positiva em disciplinas de conteúdo afetivo todavia a avaliação dos professores que se valem da exposição é mais positiva em disciplinas de conteúdo cognitivo 76 DETERMINAÇÃO DOS SUJEITOS Para que se efetive um experimento tornase necessário selecionar sujeitos Essa tarefa é de fundamental importância visto que a pesquisa tem por objetivo generalizar os resultados obtidos para a população da qual os sujeitos pesquisados constituem uma amostra De modo geral população significa o número total de elementos de uma classe Isso significa que uma população não se refere exclusiva mente a pessoas mas a qualquer tipo de organismos pombos ratos amebas etc Pode ainda a população referirse a objetos inanimados como por exemplo lâm padas parafusos etc No planejamento de um experimento é necessário determinar com grande precisão a população a ser estudada Para isso devem ser consideradas as caracte rísticas que são relevantes para a clara e precisa definição da população Por exem plo ao se referir a uma população de pessoas convém que se especifique o sexo a idade a instrução e o nível socioeconômico Para uma população de ratos será conveniente considerar o sexo a idade o peso os horários de alimentação etc Com muita freqüência as populações que se pretende estudar são tão amplas que é impraticável considerálas em sua totalidade Isso significa que o pesquisador deve escolher alguns sujeitos e estudálos Para que essa escolha seja adequada o experimentador deverá utilizar a técnica da randomização que objetiva propor cionar a cada um dos sujeitos igual chance de ser escolhido Por exemplo quando se deseja uma amostra randômica de uma empresa que tenha 700 empregados COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPERIMENTAL 99 podese escrever o nome de cada um deles em pedaços de papel Esses pedaços de papel seriam então colocados num recipiente e após serem misturados seria escolhida a amostra Quando se dispõe de uma lista dos elementos da população o processo de randomização é bastante simplificado Nesse caso bastaria tomar a lista dos 700 empregados e escolher certa percentagem Se esta tivesse sido estabele cida em 10 bastaria selecionar um entre os dez primeiros nomes e contar suces sivos dez a partir daí Tão logo a amostra tenha sido determinada será necessário dividila na quantidade de grupos a serem utilizados no experimento Os grupos devem ser dispostos randomicamente Por exemplo se forem dois os grupos podese utilizar o lançamento de moeda com essa finalidade Assim considerase o primeiro sujeito e lançase uma moeda se sair cara o sujeito será colocado no grupo um e se sair coroa no grupo dois Procedese de modo semelhante até que se tenha o número suficiente de indivíduos designados para o grupo um Os demais serão indicados para o grupo dois Em certos experimentos em que há um grupo experimental e outro de controle é possível designar os sujeitos pela técnica do par igualado Para cada sujeito do grupo experimental é encontrado outro semelhante a ele em todas as variáveis relevantes sexo idade religião escolaridade etc e colocado no grupo de controle Fica claro todavia que essa forma de estabelecer os grupos nem sempre se mostra viável A designação de sujeitos observando o critério de randomização ou outro reconhecidamente válido é importante porque se deseja experimentar com grupos essencialmente iguais Quando se dispõem os grupos por exemplo olhando para cada sujeito e dizendo Você vai para o grupo tal é possível que haja um grupo mais hábil do que o outro É possível que consciente ou inconscientemente sejam selecionados os mais aptos para o grupo experimental 77 DETERMINAÇÃO DO AMBIENTE Os sujeitos de um experimento desenvolvem suas ações em determinado ambiente Esse ambiente deverá portanto proporcionar as condições para que se possa manipular a variável independente e verificar seus efeitos nos sujeitos Seja por exemplo o caso de um experimento que tenha por objetivo testar a influência das condições de iluminação sobre a produtividade Para tanto será necessário que o ambiente possibilite variar as condições de iluminação bem como verificar a produtividade dos indivíduos Já foi lembrado que as pesquisas experimentais podem ter como ambiente o laboratório ou o campo Quando é realizada em laboratório a possibilidade de controle das variáveis é bem maior já que o ambiente pode ser preparado de forma que permita a maximização do efeito das variáveis independentes sobre a 100 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA dependente Nos experimentos de campo o controle das variáveis é bastante redu zido tanto por constituir empreendimento custoso quanto por poder artificializar situações que se desejam naturais Para que o ambiente se torne o mais adequado para a realização da pesquisa uma série de cuidados devem ser tomados E preciso primeiramente assegurar que o fenômeno ocorra numa forma suficientemente pura ou notável para que se torne exeqüível a pesquisa Isso exige naturalmente apreciável conhecimento do ambiente É preciso também garantir que o pesquisador disponha de autoridade e perícia para dispor o ambiente de forma adequada Isso é muito importante quando se considera que freqüentemente as pesquisas são desenvolvidas em am bientes cuja administração é confiada a pessoas estranhas a quem a realiza Imagine se uma pesquisa desenvolvida numa fábrica com o objetivo de estudar conflitos no trabalho Essa pesquisa poderá exigir a observação dos empregados no trabalho a realização de entrevistas bem como a análise de relatórios da empresa O desem penho de atividades dessa natureza geralmente é vedado a terceiros Logo para que a pesquisa seja desenvolvida a contento é preciso ter antecipadamente a ga rantia de que o pesquisador não terá cerceado seu trabalho de coleta de dados 78 COLETA DE DADOS A coleta de dados na pesquisa experimental é feita mediante a manipulação de certas condições e a observação dos efeitos produzidos Na pesquisa psicológica o experimento geralmente envolve a apresentação de certos valores de um estímulo e o registro da resposta Essas duas funções podem ser efetuadas pelo pesquisador das mais diversas maneiras A mais simples consiste na emissão de alguma mensagem oral ou visual a um grupo de sujeitos e no registro de seu comportamento mediante anotações em folhas próprias Contudo com freqüência cada vez maior a pesquisa experimental valese de recursos mecânicos elétricos ou eletrônicos Os tipos de aparelhos usados na pesquisa experimental são tão numerosos que se torna difícil descrevêlos satisfatoriamente Apenas à guisa de exemplo pode se lembrar o uso de espelhos gravadores de som filmadoras câmaras de vídeo etc Há ainda pesquisas que se valem de eletroencefalógrafos esfigmógrafos galvanômetros etc 79 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Na pesquisa experimental geralmente se utiliza a análise estatística O desen volvimento das técnicas estatísticas tem sido notável e sua aplicabilidade na pes quisa experimental tão adequada que não se pode hoje deixar de utilizálas no pro cesso de análise dos dados COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPERIMENTAL 101 O procedimento básico adotado na análise estatística nas pesquisas experimen tais consiste no teste da diferença entre as médias Suponhase por exemplo que um plano de dois grupos seja usado e que a média obtida com o grupo experimental seja 210 e a média para o grupo de controle 188 Daí se conclui que a média do grupo experimental é superior à do grupo de controle Todavia a limitada quantidade de informações disponíveis não é suficiente para garantir essa conclusão Não se sabe se a diferença entre as duas médias é significativa não se tem a certeza de que os resulta dos não foram devidos ao acaso Daí por que é necessário utilizar um teste estatístico que indique se a diferença entre as médias dos dois grupos é significativa A Estatística dispõe de inúmeros testes de significância A utilização de cada um deles depende de conhecimentos prévios acerca da extensão distribuição e qualidade dos dados Por isso convém que todo o processo de análise estatística seja planejado antes de conduzir o experimento Está fora do alcance deste livro tratar exaustivamente dos procedimentos de análise estatística dos dados Convém portanto que o pesquisador recorra a obras que tratam especificamente da utilização de testes estatísticos na pesquisa experimental Algumas dessas obras são indicadas e comentadas ao fim deste capítulo É claro que a Estatística por si só não possibilita a interpretação dos resultados Isso exige o concurso de fundamentação teórica Isso significa que o pesquisador deverá estar habilitado a proceder à vinculação entre os resultados obtidos empiri camente e as teorias que possibilitam a generalização dos resultados obtidos 710 APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES A forma de apresentação das conclusões de uma pesquisa experimental não difere significativamente em relação a outros tipos de pesquisa cabendo portanto considerar o que foi dito a respeito da redação do relatório da pesquisa bibliográfica Não será demais entretanto ressaltar que o relatório da pesquisa experimental deve deixar claro em que medida suas conclusões derivam exclusivamente da vin culação dos dados empiricamente coletados com as hipóteses ou se também levam em consideração dados obtidos de outros estudos Tornase importante ainda o esclarecimento acerca da extensibilidade das conclusões É muito freqüente em pesquisas chegar a conclusões verdadeiras e contudo cometeremse erros em virtude de generalização precipitada LEITURAS RECOMENDADAS CAMPBELL Donald T STANLEY Julian C Delineamentos experimentais e quase experimentais de pesquisa São Paulo EPUEdusp 1979 102 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Esse livro apresenta os diferentes tipos de delineamento que podem assumir as pesquisas experimentais Os autores discutem as alternativas na montagem ou no delineamento dos experimentos com particular atenção aos problemas de controle de variáveis estranhas e de ameaças à validade KERLINGER F N Metodologia da pesquisa em ciências sociais um tratamento conceituai São Paulo EPUEdusp 1980 Nos Capítulos 6 e 7 o autor trata respectivamente do delineamento de uma só variável e do delineamento fatorial EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Identifique alguns fatores que poderão dificultar a realização de uma pesquisa experimental a respeito do tema conflitos no trabalho 2 Construa de acordo com a fórmula indicada no texto hipóteses para pesquisas experimentais relativas aos temas motivação no trabalho agressividade infantil influência da televisão 3 Formule um problema de pesquisa A seguir elabore duas hipóteses cujas variáveis independentes sejam distintas Por fim construa um plano de tipo fatorial para estudar o efeito mútuo dessas duas variáveis independentes sobre a dependente 4 Procure mediante consulta a livros de Estatística analisar o significado dos termos probabilidade aleatoriedade significância erro tipo I e erro tipo II teste paramétrico e teste não paramétrico 8 Como Delinear uma Pesquisa Expost facto 81 ETAPAS DO PLANEJAMENTO DA PESQUISA EXPOST FACTO O planejamento da pesquisa expost facto procura aproximarse ao máximo do planejamento da pesquisa experimental Contudo a manipulação de variáveis independentes não é possível nesse tipo de pesquisa o que faz com que o delinea mento dos dois tipos de pesquisa se diferenciem em diversos aspectos Com efeito na pesquisa expost facto podem ser identificados os seguintes passos a formulação do problema b construção das hipóteses c operacionalização das variáveis d localização dos grupos para investigação e coleta de dados f análise e interpretação dos dados g apresentação das conclusões O PROBLEMA AS HIPÓTESES E AS VARIÁVEIS A pesquisa expost facto pouco difere da pesquisa experimental quanto à formulação do problema à construção de hipóteses e à operacionalização das variáveis 104 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 82 LOCALIZAÇÃO DOS GRUPOS PARA INVESTIGAÇÃO Como já foi considerado na pesquisa expostfacto a manipulação de variá veis independentes não é possível Estas chegam ao pesquisador como estavam ou seja já feitas Por exemplo se um pesquisador estivesse estudando a influência do ruído industrial sobre audição e sua pesquisa fosse expostfacto não poderia sub meter grupos diferentes de indivíduos a graus diversos de ruído por certo período de tempo O que esse pesquisador poderia fazer seria procurar grupos de indiví duos que tivessem passado por intensidades diversas de exposição ao ruído e de pois mensurar seus níveis de audição Como na pesquisa expostfacto o pesquisador não pode a sua vontade mani pular as variáveis independentes necessita localizar grupos cujos indivíduos se jam bastante semelhantes entre si No caso do exemplo citado seria conveniente que todos os indivíduos tivessem aproximadamente a mesma idade as mesmas condições de saúde e pertencessem à mesma classe social Nem sempre uma tare fa desse tipo constitui coisa simples mas é necessária para controlar as chamadas variáveis intervenientes que podem intensificar reduzir ou anular o efeito da va riável independente sobre a dependente No exemplo dado se por acaso os indiví duos selecionados para compor o grupo dos expostos mais intensamente ao ruído fossem igualmente os mais velhos então a variável idade estaria interferindo na relação entre ruído e audição 83 COLETA DE DADOS Nas pesquisas desse tipo é possível identificar dois momentos na coleta de dados No primeiro o pesquisador tem por objetivo identificar as variações da variável independente nos grupos bem como o controle das variáveis intervenientes No segundo ele procura mensurar as variáveis dependentes No primeiro momento quando o pesquisador procura localizar os grupos adequados procede a um trabalho de levantamento de dados dos sujeitos Pode valerse da observação de questionários de entrevistas e mesmo de registros documentais quando estes são disponíveis Seja ainda o exemplo da pesquisa sobre os efeitos do ruído sobre a audição Para constituir os grupos o pesquisador necessitará primeiramente identificar pessoas que se submeteram a níveis diversos de ruído ao longo da vida Mediante entrevista ou análise da documentação profissional será possível verificar por quanto tempo essas pessoas trabalharam em locais com maior ou menor intensidade de ruído Será possível ainda obter informações sobre idade sexo classe social etc COMO DELINEAR UMA PESQUISA EXPOST FACTO 105 Tão logo os grupos tenham sido localizados passase à coleta de dados sobre os níveis de audição mediante testes específicos Como esses testes são realizados por médicos será possível ainda obter dados acerca das condições gerais de saúde dos indivíduos com o objetivo de controlar outras variáveis intervenientes 84 ANALISE INTERPRETAÇÃO DOS DADOS E APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES O valor de uma pesquisa expostfacto está intimamente relacionado à maneira como foram analisados e interpretados os dados Como não é possível em estudos dessa natureza controlar as variáveis independentes resta ao pesquisador o con trole das variáveis intervenientes Estas de alguma forma podem ser controladas antes da coleta dos dados Em virtude porém das dificuldades que envolvem esse processo muitas das variáveis intervenientes somente podem ser submetidas a algum tipo de controle na fase de análise dos dados Quando a análise e interpretação dos dados é feita de maneira simplista chega se a resultados simplesmente desastrosos Um exemplo bem humorado é o do pes quisador sueco que chegou à conclusão de que as crianças são trazidas pelas cego nhas Isso por ter verificado que nas regiões onde se viam muitas cegonhas regis travamse altas taxas de natalidade ao passo que nas regiões onde se viam poucas cegonhas as taxas de natalidade eram baixas Na verdade as taxas de natalidade nada têm a ver com a quantidade de cegonhas O que ocorre é que tanto o número de cegonhas quanto as taxas de natalidade têm a ver com a região na zona rural é maior o número de cegonhas assim como é mais alta a taxa de natalidade A moderna Estatística oferece inúmeros modelos de análise que permitem controlar essas relações espúrias entre variáveis tais como a análise fatorial e a análise de trajetória Todavia a análise estatística possibilita apenas determinar se certa relação existe qual sua natureza e sua força Para a efetiva interpretação dos dados tornase necessário sobretudo proceder à análise lógica das relações com sólido apoio em teorias e mediante a comparação com outros estudos Com relação à apresentação das conclusões cabe apenas dizer que é feita me diante relatório cuja elaboração se faz com os mesmos requisitos exigidos para uma pesquisa experimental LEITURAS RECOMENDADAS KERLINGER F N Metodologia da pesquisa em ciências sociais um tratamento conceituai São Paulo EPU Edusp 1980 106 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA No Capítulo 8 o autor faz comparações entre pesquisas experimental e expostfacto Com relação a esta última analisa suas limitações trata da natureza de suas variáveis e apresenta ainda vários exemplos OLIVEIRA Therezinha de Freitas Rodrigues Pesquisa biomédica da procura do achado e da escritura de tese e comunicações científicas São Paulo Atheneu 1995 O Capítulo 9 desse livro é dedicado ao delineamento de pesquisa caso controle que constitui a modalidade de estudo expostfacto mais utilizada nas ciências da saúde Parte importante desse capítulo é a que trata dos padrões meto dológicos exigidos para resguardar a validade da pesquisa casocontrole EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Formule problemas de pesquisa para os quais seja recomendável a utilização do delineamento expostfacto 2 Analise o exemplo a seguir e identifique o que determina a relação espúria entre as variáveis Em certa localidade observouse um notável crescimento da taxa de nata lidade Após uma pesquisa expost facto concluiuse que a natalidade cresce em função da implantação de estradas de ferro pois a elevação da taxa começou a ocorrer naquela localidade nove meses depois da inauguração da ferrovia 3 Identifique as variáveis intervenientes que devem ser controladas numa pesquisa que tenha este objetivo verificar em que medida determinada propaganda de televisão interferiu na elevação do consumo de um produto específico 4 Analise a importância dos estudos expostfacto no estudo dos fatos históricos e econômicos 9 Como Delinear um Estudo de Coorte O delineamento dos estudos de coorte apresenta pontos de semelhança com o dos estudos experimentais pois envolve uma amostra de indivíduos expostos a determinado fator e outra amostra equivalente de não expostos A exposição no entanto não é aplicada aleatoriamente já que as condições de seleção da amostra são muito limitadas nos estudos de coorte Com freqüência os sujeitos são selecio nados unicamente pelo critério do voluntariado Em linhas gerais o delineamento de um estudo de coorte pode ser esquemati zado nas seguintes etapas a formulação do problema b construção das hipóteses c operacionalização das variáveis d seleção dos participantes e acompanhamento dos participantes e verificação dos efeitos f análise e interpretação dos dados g apresentação dos resultados 91 O PROBLEMA AS HIPÓTESES E AS VARIÁVEIS Os estudos de coorte pouco diferem dos estudos de casocontrole e experi mentais quanto à formulação do problema à construção das hipóteses e à opera cionalização das variáveis Para o desenvolvimento desses passos observese basi camente o que foi considerado no Capítulo 7 108 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 92 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES A amostra da população num estudo de coorte é selecionada em função de apresentar características que possibilitem a investigação da influência de deter minada exposição na ocorrência de determinado fenômeno Assim numa pesqui sa cuja finalidade é verificar em que medida a exposição a um fator de risco pode ser a causa de determinada doença necessitase primeiramente selecionar um grupo de pessoas consideradas sadias em relação à doença sob investigação Esse grupo deverá ser o mais homogêneo possível em sua composição no referente a diversos fatores tais como idade ocupação local de moradia etc Por meio de observação interrogação ou exame dos integrantes da amostra determinase o nível de exposição a que estiveram submetidos Por exemplo numa pesquisa sobre os efeitos do fumo as pessoas que nela participam respon dem a um questionário cujos resultados permitam formar os grupos de expostos fumantes e de não expostos não fumantes Com vista em controlar possíveis variáveis intervenientes é preciso nessa mesma ocasião certificarse de que os indivíduos incluídos na amostra não este jam doentes Especificamente nesse caso que não sofram de bronquite crônica ou padeçam de outras afecções relacionadas ao hábito de fumar Á existência de doenças dessa natureza levaria a excluílos da amostra 93 ACOMPANHAMENTO DOS PARTICIPANTES E VERIFICAÇÃO DOS EFEITOS Mediante acompanhamento periódico ou exame final dos participantes veri ficamse os resultados No caso de pesquisas relacionadas a doenças os resultados podem ser medidos em termos de desfechos clínicos tais como incidência da doen ça severidade do processo mórbido mortalidade capacidade funcional qualida de de vida etc No exemplo do fumo especificamente esses desfechos poderiam ser por exemplo incidência de bronquite crônica alterações cardiovasculares ou neoplasias do aparelho respiratório 94 ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A análise dos dados dos estudos de coorte é essencialmente quantitativa Para tanto utilizamse principalmente as medidas de risco que permitem repre sentar quantitativamente as relações entre os eventos A medida mais simples e a mais usada é a taxa de incidência ou seja a de ataque da doença Ela mede o risco COMO DELINEAR UM ESTUDO DE COORTE 109 absoluto de ocorrência de um evento e indica para um membro do grupo a pro babilidade que tem de ser acometido por um dado agravo à saúde em determinado período Outra medida é do risco relativo que é uma razão entre dois conceitos de incidência como por exemplo o coeficiente de letalidade nas pessoas tratadas e não tratadas com determinado medicamento A interpretação dos dados nos estudos de coorte requer muitos cuidados pois a despeito de suas semelhanças com o delineamento experimental apresen tam muitas limitações Assim o pesquisador ao procurar generalizar as observa ções deverá levar em consideração vários fatores que podem conduzir a interpre tações equivocadas Como os dados referentes aos desfechos clínicos são determi nados após o conhecimento do nível de exposição das pessoas ficam sujeitos a in fluências subjetivas no momento da aferição em decorrência desse conhecimento Nos estudos experimentais dificuldades dessa natureza podem ser superadas com avaliações mascaradas como o método duplocego onde nem os sujeitos da pes quisa nem o pesquisador sabem se o que é ministrado é um medicamento ou um placebo Já nos estudos de coorte procedimentos dessa natureza são de muito difí cil implementação Pereira 1995 p 293 A apresentação dos resultados de um estudo de coorte por sua vez observa os mesmos requisitos de uma pesquisa experimental LEITURAS RECOMENDADAS OLIVEIRA Therezinha de Freitas Rodrigues Pesquisa biomédica da procura do achado e da escritura de tese e comunicações científicas São Paulo Atheneu 1995 O Capítulo 10 deste livro trata dos estudos de coorte onde são apresentadas as etapas de seu desenvolvimento e são feitas comparações entre essa modalidade de pesquisa experimentos e estudos casocontrole PEREIRA Maurício Gomes Epidemiologia teoria e prática Rio de Janeiro Guana bara Koogan 1995 O autor trata de diferentes modalidades de pesquisa desenvolvidas no campo das ciências de saúde Apresenta as vantagens e limitações dos estudos de coorte e procede à comparação desses estudos com os de casocontrole 10 Como Delinear um Levantamento 101 FASES DO LEVANTAMENTO Os levantamentos dos mais diversos tipos socioeconômicos psicossociais etc desenvolvemse ao longo de várias fases De modo geral essas fases podem ser definidas na seguinte seqüência a especificação dos objetivos b operacionalização dos conceitos e variáveis c elaboração do instrumento de coleta de dados d préteste do instrumento e seleção da amostra f coleta e verificação dos dados g análise e interpretação dos dados h apresentação dos resultados 102 ESPECIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS Os problemas propostos para investigação geralmente o são de maneira bas tante geral Todavia para que se possa realizar a pesquisa com a precisão requeri da é necessário especificálos Os objetivos gerais são pontos de partida indicam uma direção a seguir mas na maioria dos casos não possibilitam que se parta para a investigação Logo precisam ser redefinidos esclarecidos delimitados Daí surgem os objetivos específicos da pesquisa 112 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Os objetivos específicos tentam descrever nos termos mais claros possíveis exatamente o que será obtido num levantamento Enquanto os objetivos gerais referemse a conceitos mais ou menos abstratos os específicos referemse a carac terísticas que podem ser observadas e mensuradas em determinado grupo A especificação dos objetivos é feita pela identificação de todos os dados a serem recolhidos e das hipóteses a serem testadas Por exemplo determinado levantamento tem como objetivo traçar o perfil socioeconômico de determinado grupo Esse objetivo geral de certa forma indica o que se pretende como produto final Contudo não foi formulado levando em consideração o que requerem os procedimentos de coleta de dados Logo tornase necessário formular os objetivos específicos que indicam exatamente os dados que pretende obter Assim os objetivos específicos do levantamento exemplificado poderão se verificar como os integrantes do grupo se distribuem em relação a a sexo b idade c estado civil d número de filhos e religião f nível de escolaridade g ocupação profissional h local de residência i nível de salário j posse de automóvel 1 patrimônio mobiliário Em alguns levantamentos o objetivo é testar hipóteses Pode ocorrer que se parta de uma hipótese bastante geral Daí a necessidade de subdividir essa hipóte se em certo número de hipóteses bem específicas ou subhipóteses Seja por exemplo o caso de uma pesquisa que tenha como objetivo testar a hipótese de que a preferência políticopartidária de determinado grupo relaciona se mais a fatores perceptivos que a fatores socioeconômicos Assim os objetivos es pecíficos dessa pesquisa poderão ser definidos das hipóteses Observase a existência de relação positiva entre a preferência político partidária e o sexo a idade o estado civil o nível de escolaridade COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 113 o nível de rendimentos e o nível de socialização urbana Observase a existência de relação positiva entre a preferência político partidária e o status social percebido a percepção acerca das instituições políticas do capitalismo a crença nas instituições democráticas e o conformismo em relação às desigualdades sociais Nesse caso há duas hipóteses a primeira que associa preferência políticoparti dária a fatores socioeconômicos e a segunda a fatores psicossociais Por serem muito amplas as hipóteses foram subdivididas Deve ficar claro que as hipóteses a serem testadas mediante levantamentos indicam apenas a existência de associação entre variáveis Qualquer tentativa de atribuir relação causai implicará um delineamento de tipo experimental ou quase experimental 103 OPERACIONALIZAÇÃO DOS CONCEITOS E VARIÁVEIS Muitos dos conceitos ou variáveis utilizados nos levantamentos sociais são empíricos ou seja referemse a fatos ou fenômenos facilmente observáveis e men suráveis É o caso por exemplo da idade nível de escolaridade e rendimentos Muitos outros fatos e fenômenos no entanto não são passíveis de observação ime diata e muito menos de mensuração É o caso por exemplo do status social e do nível de socialização urbana Não é possível observar uma pessoa e determinar prontamente a posição que ocupa na sociedade ou em que medida está integrada no modo de vida urbano Nesses casos tornase necessário operacionalizar esses conceitos ou variáveis ou seja tornálos passíveis de observação empírica e de mensuração Para tanto será necessário primeiramente definilo teoricamente Caso seja muito complexo será necessário determinar suas dimensões A partir daí procedese à chamada de finição operacional do conceito ou da variável ou ainda de suas dimensões Essa definição operacional fará referência aos indicadores do conceito ou da variável ou seja aos elementos que possibilitarão identificálo de maneira prática Seja o caso do status socioeconômico Podese definir teoricamente essa variável como a posição de um indivíduo na sociedade tomandose como referên cia a posição de outros indivíduos em relação à sua Naturalmente essa é uma vá 114 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA riável bastante complexa e como tal envolve diversas dimensões como a econô mica a educacional e a de prestígio ocupacional Essas três dimensões por sua vez podem ser medidas por indicadores como renda mensal grau educacional alcançado e ocupação desde que seja conhecido o grau de prestígio relativo das ocupações Esses indicadores por serem bastante concretos possibilitam sua medição conduzindo ao estabelecimento do valor da variável Deve ficar claro que as operações a serem realizadas com as dimensões de uma variável para tornála mensurável dependem de sua distância em relação ao plano empírico Assim a dimensão educacional enquanto conceito está muito mais próxima da realidade concreta que a dimensão prestígio ocupacional Tanto é que basta o conhecimento do grau de educação formal de um indivíduo para me dir a dimensão educacional Já a mensuração do prestígio ocupacional exigirá a consideração de indicadores diversos tais como denominação da ocupação posi ção na ocupação tarefas desempenhadas e escala de prestígio das ocupações no local em que se realiza a mensuração Nos casos como o do prestígio ocupacional que exigem a seleção de diversos indicadores a mensuração efetiva só se faz mediante a combinação dos valores obtidos pelo indivíduo em cada um dos indicadores propostos Essa combinação é denominada índice A tarefa de seleção dos indicadores embora simples é bastante delicada e exige do investigador muita argúcia e experiência Ocorre que muitas vezes existem numerosos indicadores para a mesma variável tornandose difícil selecio nar o mais adequado Em alguns casos os indicadores tidos como mais apropria dos não são fáceis de medir devendo ser substituídos por outros menos confiáveis todavia passíveis de medição pelos meios de que dispõe o pesquisador Também há casos em que os indicadores não se referem exatamente à variável em questão mas a um aspecto conexo de menor relevância Para bem decidir acerca dos indica dores é necessário que o investigador seja dotado de grande intuição e que possua sólidos conhecimentos sobre o tema pesquisado Caso contrário a pesquisa a des peito de revestirse de grande aparato técnico tenderá a produzir resultados bas tante equivocados 104 ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 1041 Instrumentos usuais Para a coleta de dados nos levantamentos são utilizadas as técnicas de inter rogação o questionário a entrevista e o formulário Por questionário entendese um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado Entre COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 115 vista por sua vez pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa situação face a face e em que uma delas formula questões e a outra respon de Formulário por fim pode ser definido como a técnica de coleta de dados em que o pesquisador formula questões previamente elaboradas e anota as respostas Como se pode verificar estas três técnicas apresentam muitos pontos de seme lhança entre si Por essa razão são definidas de forma diversa por alguns autores Todavia para garantir coerência as menções às técnicas de interrogação a serem feitas ao longo deste livro estarão relacionadas às definições estipuladas Qualquer que seja o instrumento utilizado convém lembrar que as técnicas de interrogação possibilitam a obtenção de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados Assim o levantamento apresentará sempre algumas limitações no que se refere ao estudo das relações sociais mais amplas sobretudo quando estas envolvem variáveis de natureza institucional No entanto essas técnicas mos tramse bastante úteis para a obtenção de informações acerca do que a pessoa sabe crê ou espera sente ou deseja pretende fazer faz ou fez bem como a respeito de suas explicações ou razões para quaisquer das coisas precedentes Selltiz 1967 p 273 Deve ficar claro que as perguntas sobre fatos são as de mais fácil obtenção Não há maiores dificuldades para obter dados referentes a sexo idade estado civil nú mero de filhos etc Em alguns casos porém as pessoas podem negarse a responder a algumas perguntas temendo conseqüências negativas tais como aumento de im postos ou desprestígio social Já as perguntas referentes a sentimentos crenças pa drões de ação bem como a razões conscientes que os determinam são mais difíceis de ser respondidas adequadamente Isso exige esforços redobrados na elaboração do instrumento e sobretudo na análise e interpretação dos dados Analisandose cada uma das três técnicas podese verificar que o questioná rio constitui o meio mais rápido e barato de obtenção de informações além de não exigir treinamento de pessoal e garantir o anonimato Já a entrevista é aplicável a um número maior de pessoas inclusive às que não sabem ler ou escrever Tam bém em abono à entrevista convém lembrar que ela possibilita o auxílio ao entre vistado com dificuldade para responder bem como a análise do seu comporta mento não verbal O formulário por fim reúne vantagens das duas técnicas mas em contrapartida algumas das desvantagens tanto do questionário quanto da en trevista Embora apresentando limitações como a de não garantir o anonimato e a de exigir treinamento de pessoal o formulário tornase uma das mais práticas e eficientes técnicas de coleta de dados Por ser aplicável aos mais diversos segmen tos da população e por possibilitar a obtenção de dados facilmente tabuláveis e quantificáveis o formulário constitui hoje a técnica mais adequada nas pesquisas de opinião e de mercado 116 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 1042 Elaboração do questionário A elaboração de um questionário consiste basicamente em traduzir os objeti vos específicos da pesquisa em itens bem redigidos Naturalmente não existem nor mas rígidas a respeito da elaboração do questionário Todavia é possível com base na experiência dos pesquisadores definir algumas regras práticas a esse respeito a as questões devem ser preferencialmente fechadas mas com alternati vas suficientemente exaustivas para abrigar a ampla gama de respostas possíveis b devem ser incluídas apenas as perguntas relacionadas ao problema proposto c não devem ser incluídas perguntas cujas respostas possam ser obtidas de forma mais precisa por outros procedimentos d devemse levar em conta as implicações da pergunta com os procedi mentos de tabulação e análise dos dados e devem ser evitadas perguntas que penetrem na intimidade das pessoas f as perguntas devem ser formuladas de maneira clara concreta e precisa g devese levar em consideração o sistema de referência do entrevistado bem como seu nível de informação h a pergunta deve possibilitar uma única interpretação i a pergunta não deve sugerir respostas j as perguntas devem referirse a uma única idéia de cada vez 1 o número de perguntas deve ser limitado m o questionário deve ser iniciado com as perguntas mais simples e finali zado com as mais complexas n as perguntas devem ser dispersadas sempre que houver possibilidade de contágio o convém evitar as perguntas que provoquem respostas defensivas este reotipadas ou socialmente indesejáveis que acabam por encobrir sua real percepção acerca do fato p na medida do possível devem ser evitadas as perguntas personalizadas diretas que geralmente se iniciam por expressões do tipo o que você pensa a respeito de na sua opinião etc as quais tendem a provo car respostas de fuga q deve ser evitada a inclusão nas perguntas de palavras estereotipadas bem como a menção a personalidades de destaque que podem influen ciar as respostas tanto em sentido positivo quanto negativo COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 117 r cuidados especiais devem ser tomados em relação à apresentação gráfi ca do questionário tendo em vista facilitar seu preenchimento s o questionário deve conter uma introdução que informe acerca da enti dade patrocinadora das razões que determinaram a realização da pes quisa e da importância das respostas para atingir seus objetivos t o questionário deve conter instruções acerca do correto preenchimento das questões preferencialmente com caracteres gráficos diferenciados 1043 Condução da entrevista É fácil verificar como entre todas as técnicas de interrogação a entrevista é a que apresenta maior flexibilidade Tanto é que pode assumir as mais diversas formas Pode caracterizarse como informal quando se distingue da simples con versação apenas por ter como objetivo básico a coleta de dados Pode ser focaliza da quando embora livre enfoca tema bem específico cabendo ao entrevistador esforçarse para que o entrevistado retorne ao assunto após alguma digressão Pode ser parcialmente estruturada quando é guiada por relação de pontos de inte resse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso Pode ser enfim to talmente estruturada quando se desenvolve a partir de relação fixa de perguntas Nesse caso a entrevista confundese com o formulário Nos levantamentos que se valem da entrevista como técnica de coleta de da dos esta assume forma mais ou menos estruturada Mesmo que as respostas possí veis não sejam fixadas anteriormente o entrevistador guiase por algum tipo de roteiro que pode ser memorizado ou registrado em folhas próprias A realização de entrevistas de pesquisa é muito mais complexa que entrevis tas para fins de aconselhamento ou seleção de pessoal Isso porque a pessoa esco lhida não é a solicitante Logo o entrevistador constitui a única fonte de motivação adequada e constante para o entrevistado Por essa razão a entrevista nos levanta mentos deve ser desenvolvida a partir de estratégia e tática adequadas A estratégia para a realização de entrevistas em levantamentos deve conside rar duas etapas fundamentais a especificação dos dados que se pretendem obter e a escolha e formulação das perguntas Com relação à primeira etapa cabe lembrar que com muita freqüência co metese o erro de colocar o problema de maneira muito ampla Por exemplo caso se deseje pesquisar a atitude da população em relação à greve não basta infor marse acerca de suas reações a esse respeito É necessário obter informações so bre a atitude em relação à greve de modo geral sobre as greves reivindicatórias sobre as greves com fins políticos sobre a conveniência de se decidir pela greve ge ral etc Isso significa estabelecer as relações possíveis entre as múltiplas variáveis que interferem no problema 118 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Com relação à segunda etapa qual seja a de escolha das perguntas convém que se considerem diversos aspectos tais como a as questões devem ser diretas por exemplo O que você acha da maconha ou indiretas por exemplo Seus amigos são favoráveis à maconha b as respostas devem ser formuladas previamente ou devem ser livres c os aspectos a que se referem as perguntas são realmente importantes d as pessoas possuem conhecimentos suficientes para responder às per guntas e as perguntas não sugerem respostas f as perguntas não estão elaboradas de forma a sugerir respostas num contexto demasiado pessoal g as perguntas não podem provocar resistências antagonismos ou ressen timentos h as palavras empregadas apresentam significação clara e precisa i as perguntas não orientam as respostas em determinadas direções j as perguntas não estão ordenadas de maneira tal que os pesquisados sejam obrigados a grandes esforços mentais Como se pode verificar muitos dos cuidados a serem tomados na preparação da entrevista são os mesmos do questionário Entretanto é necessário considerar que na entrevista o pesquisador está presente e da mesma forma como pode auxi liar o entrevistado pode igualmente inibilo a ponto de prejudicar seus objetivos Daí por que a adequada realização de uma entrevista envolve além da estratégia uma tática que depende fundamentalmente das habilidades do entrevistador O entrevistador antes de mais nada deverá ser selecionado com vista em ga rantir que possua os requisitos básicos para bem conduzir uma entrevista Algu mas das características inconvenientes para um entrevistador são problemas de dicção opinião apaixonada sobre o problema da pesquisa timidez apresentação deficiente etc Tendo sido devidamente selecionado o entrevistador deverá passar por trei namento que o capacite a bem conduzir as entrevistas É necessário que esteja de vidamente informado acerca dos objetivos da pesquisa e que saiba como formular as perguntas memorizandoas sempre que possível Quando a entrevista for padronizada deverá fazer as perguntas tal como estão redigidas Em nenhuma circunstância poderá discutir as opiniões emitidas O entrevistador deverá ser bastante habilidoso ao registrar as respostas Deverá ter a preocupação de registrar exatamente o que foi dito Deverá ainda garantir que a resposta seja completa e suficiente COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 119 Será ainda conveniente ao entrevistador ser capaz de registrar as reações do entrevistado às perguntas que são feitas A expressão não verbal do entrevistado poderá ser de grande utilidade na análise da qualidade das respostas Procedimento interessante para ser adotado no treinamento de entrevistado res é o roleplaying jogo de papéis Mediante a representação dos papéis de en trevistador e de entrevistado é possível identificar os pontos falhos do treinando e sugerir procedimentos e atitudes a serem adotados na condução da entrevista 1044 Aplicação do formulário Como já ficou claro o formulário enquanto técnica de coleta de dados situa se entre o questionário e a entrevista Logo sua adequada aplicação exige que se considerem as recomendações referentes tanto à elaboração do questionário quanto à condição da entrevista Já foi lembrado também que o formulário em virtude de suas característi cas constitui a técnica mais adequada para a coleta de dados em pesquisas de opi nião pública e de mercado Há que se considerar entretanto que em virtude de suas características o formulário tem alcance limitado não possibilitando a ob tenção de dados com maior profundidade Por outro lado em virtude do tipo de pesquisa em que é utilizado o formulário com freqüência é aplicado em condi ções não muito favoráveis como por exemplo junto a uma fila de ônibus à porta de uma residência à saída de um cinema etc Quase todas as recomendações feitas com relação à elaboração do questioná rio valem igualmente para o formulário Há que se considerar todavia que na aplicação deste o pesquisador está presente e é ele que registra as respostas Da mesma forma os cuidados a serem tomados na condução da entrevista devem ser observados na aplicação do formulário Ao fazer as perguntas o pesquisador deve ainda ter a preocupação de formulálas exatamente como se encontram redigidas Caso uma pergunta não seja entendida o melhor é repetila evitando as explica ções pessoais 105 PRETESTE DOS INSTRUMENTOS Tão logo o questionário ou o formulário ou o roteiro da entrevista estejam re digidos passase a seu préteste Muitos pesquisadores descuidam dessa tarefa mas somente a partir daí é que tais instrumentos estarão validados para o levantamento O préteste não visa captar qualquer dos aspectos que constituem os objetivos do levantamento Não pode trazer nenhum resultado referente a esses objetivos Ele está centrado na avaliação dos instrumentos enquanto tais visando garantir que meçam exatamente o que pretendem medir 120 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Qualquer que seja o instrumento o primeiro passo nessa etapa consiste em selecionar indivíduos pertencentes ao grupo que se pretende estudar Seu número pode ser bastante restrito entre 10 e 20 independentemente da quantidade de elementos que compõem a amostra a ser pesquisada É necessário que esses indiví duos sejam típicos em relação ao universo pesquisado e que aceitem dedicar mais tempo para responder às questões do que os que serão escolhidos para o levanta mento propriamente dito Caso o procedimento escolhido tenha sido o questionário os exemplares são entregues aos indivíduos selecionados que o respondem de próprio punho Proce dese à contagem do tempo despendido para responder e a seguir o questionário é analisado Por fim os indivíduos são entrevistados Na análise procurase verificar se todas as perguntas foram respondidas ade quadamente se as respostas dadas não denotam dificuldade no entendimento das questões se as respostas correspondentes às perguntas abertas são passíveis de categorização e de análise enfim tudo o que puder implicar a inadequação do questionário enquanto instrumento de coleta de dados Na entrevista procurase saber da pessoa que respondeu ao questionário que dificuldades teve para fazêlo que perguntas provocaram constrangimento que termos lhe parecem confusos etc Caso o procedimento escolhido seja a entrevista ou o formulário selecionam se alguns indivíduos representativos do universo a ser pesquisado os quais res pondem às questões propostas A seguir solicitamse do entrevistado informações acerca das dificuldades encontradas para respondêlas Qualquer que seja a técnica escolhida é necessário que os entrevistadores in cumbidos do préteste sejam pessoas qualificadas e experientes que estejam a par de todos os aspectos da pesquisa Eles deverão ser capazes não apenas de realizar a entrevista mas também de analisar as reações dos pesquisados e de discutir com eles os objetivos e a forma da entrevista Os aspectos mais importantes a serem considerados no préteste podem ser assim discriminados a clareza e precisão dos termos Os termos adequados são os que não necessitam de explicação Quando os pesquisados necessitarem de ex plicações adicionais será necessário procurar com eles termos mais adequados b quantidade de perguntas Se os entrevistados derem mostra de cansaço ou de impaciência é provável que o número de perguntas seja excessivo cabendo reduzilo c forma das perguntas Pode ser conveniente fazer uma mesma pergunta sob duas formas diferentes com o objetivo de sondar a reação dos pesquisados a cada uma delas COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 121 d ordem das perguntas No préteste podese ter uma idéia do possível contágio que uma pergunta exerce sobre outra bem como acerca do local mais conveniente para incluir uma pergunta delicada etc e introdução Mediante a análise das indagações feitas pelo entrevistado de suas inquietações e de suas resistências selecionase a melhor fórmula de introdução a ser utilizada quando ocorrer a aplicação do instrumento 106 SELEÇÃO DA AMOSTRA 1061 Necessidade da amostragem nos levantamentos De modo geral os levantamentos abrangem um universo de elementos tão grande que se torna impossível considerálos em sua totalidade Por essa razão o mais freqüente é trabalhar com uma amostra ou seja com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo Quando essa amostra é rigorosamente sele cionada os resultados obtidos no levantamento tendem a aproximarse bastante dos que seriam obtidos caso fosse possível pesquisar todos os elementos do universo E com o auxílio de procedimentos estatísticos tornase possível até mesmo calcular a margem de segurança dos resultados obtidos 1062 Tipos de amostragem A amostragem nos levantamentos sociais pode assumir formas diversas em função do tipo de população de sua extensão dar condições materiais para realiza ção da pesquisa etc Os tipos mais utilizados são os seguintes a Amostragem aleatória simples Também é conhecida por amostragem casual randômica acidental etc Con siste basicamente em atribuir a cada elemento do universo um número único para depois selecionar alguns desses elementos de maneira casual Para realizar este sorteio são utilizadas as tábuas de números aleatórios que são constituídas por números apresentados em colunas em páginas consecutivas Um fragmento de página de números aleatórios é aqui apresentado como ilustração 52024 36684 59440 14520 96111 72420 15278 21058 26635 90903 11515 04184 30985 07372 72032 89628 35622 05020 77625 78849 122 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA As tábuas podem ser utilizadas da seguinte maneira cada elemento da popu lação é associado a um número Determinase a quantidade de algarismos do maior dos números associados aos elementos da população Consultase a seguir qualquer das listas de números considerando o número de algarismos Por exem plo para uma população de 500 elementos assinalase qualquer combinação de três colunas ou conjuntos de três algarismos consecutivos ou três linhas etc Su ponhase que sejam utilizados os três últimos algarismos de cada conjunto de cin co Caminhandose de cima para baixo na coluna partindo de 024 assinalamse todos os números inferiores a 501 até que sejam alcançados tantos números quan tos forem os elementos necessários para a composição da amostra Será assim ob tida a seguinte seqüência 024 111 372 020 440 Os números dessa seqüência serão portanto escolhidos para constituir a amostra Esse procedimento embora seja o que mais se ajusta aos princípios da teo ria das probabilidades nem sempre é o de mais fácil aplicação sobretudo por que exige que se atribua a cada elemento da população um número único Além disso despreza o conhecimento prévio da população que porventura o pesqui sador possa ter b Amostragem sistemática É uma variação da amostragem aleatória simples Sua aplicação requer que a população seja ordenada de modo tal que cada um de seus elementos possa ser unicamente identificado pela posição Apresenta condições para satisfação desse requisito uma população identificada a partir de uma lista que englobe todos os seus elementos uma fila de pessoas ou o conjunto de candidatos a um concurso identificados pela ficha de inscrição Para efetuar a escolha da amostra procedese à seleção de um ponto de parti da aleatório entre l e o inteiro mais próximo à razão da amostragem o número de elementos da população pelo número de elementos da amostra Nn A seguir selecionamse itens em intervalos de amplitude Nn A composição da amostra por esse processo é bastante simples Deve ficar claro porém que só é aplicável aos casos em que se possa previamente identificar a posição de cada elemento num sistema de ordenação da população c Amostragem estratificada Caracterizase pela seleção de uma amostra de cada subgrupo da população considerada O fundamento para delimitar os subgrupos ou estratos pode ser en COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 123 centrado em propriedades como sexo idade ou classe social Muitas vezes essas propriedades são combinadas o que exige matriz de classificação Por exemplo quando se combinam homem e mulher com maior de 18 anos e menor de 18 anos resultam quatro estratos homem menor de 18 anos mulher menor de 18 anos homem maior de 18 anos e mulher maior de 18 anos A amostragem estratifícada pode ser proporcional ou não proporcional No pri meiro caso selecionase de cada grupo uma amostra aleatória que seja proporcional à extensão de cada subgrupo determinado por alguma propriedade tida como relevan te Por exemplo se uma população é formada por 70 de homens e 30 de mulhe res então a amostra deverá obedecer às mesmas proporções no que se refere ao sexo Esse tipo de amostragem tem como principal vantagem o fato de assegurar represen tatívidade em relação às propriedades adotadas como critério para estratíficação No caso da amostragem estratifícada não proporcional a extensão das amos tras dos vários estratos não é proporcional à extensão desses estratos em relação ao universo Há situações em que esse procedimento é o mais adequado particu larmente naquela em que se tem interesse na comparação entre os vários estratos d Amostragem por conglomerados É indicada em situações em que é bastante difícil a identificação de seus ele mentos É o caso por exemplo de pesquisas cuja população seja constituída por todos os habitantes de uma cidade Em casos desse tipo é possível procederse à seleção da amostra a partir de conglomerados Conglomerados típicos são quar teirões famílias organizações edifícios fazendas etc Por exemplo no levantamento da população de uma cidade podese dispor de um mapa indicando cada um dos quarteirões Tornase possível então colher uma amostra de quarteirões e fazer a contagem de todas as pessoas que residem naqueles quarteirões A partir dessa contagem é possível selecionar aleatoriamen te os elementos que comporão a amostra e Amostragem por cotas Este tipo de amostragem é muito utilizado em pesquisas eleitorais e de mer cado tendo como principal vantagem seu baixo custo De modo geral é desenvol vida em três fases I classificação da população em função de propriedades tidas como relevantes para o fenômeno a ser estudado II determinação da proporção da população a ser colocada em cada classe com base na constituição conhecida ou presumida da população e III fixação de cotas para cada entrevistador encarre gado de selecionar elementos da população a ser pesquisada de modo tal que a amostra total seja composta em observância à proporção das classes consideradas 124 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 1063 Determinação do tamanho da amostra Para que os dados obtidos num levantamento sejam significativos é necessá rio que a amostra seja constituída por um número adequado de elementos A esta tística dispõe de procedimentos que possibilitam estimar esse número Para tanto são realizados cálculos diversos Entretanto uma razoável estimativa pode ser fei ta consultandose a Tabela 71 Essa tabela fornece o tamanho da amostra adequada para um nível de confian ça de 95 que em termos estatísticos corresponde a dois desviospadrões As vá rias colunas por sua vez indicam o número de elementos a serem selecionados com as respectivas margens de erro Tabela 71 Tabela para determinar a amplitude de uma amostra tirada de uma populaçãofinita com margens de erro de 1 2 3 4 5 e 10 na hipótese de p05 Coeficiente de confiança de 955 Amplitude da população universo 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 6000 7000 8000 9000 10000 15000 20000 25000 50000 100 000 00 Amplitude da amostra com as margens de erro acima indicadas 1 5000 6000 6667 7143 8333 9091 10000 2 1 250 1364 1458 1538 1607 1667 1 765 1842 1905 1957 2000 2143 2222 2273 2381 2439 2500 3 638 714 769 811 843 870 891 909 938 949 976 989 1000 1034 1053 1 064 1087 1099 1 111 4 385 441 476 500 517 530 541 549 556 566 574 480 584 488 600 606 610 617 621 625 5 222 286 316 333 345 353 359 364 367 370 375 378 381 383 383 390 392 394 397 398 400 10 83 91 94 95 96 97 97 98 98 98 98 99 99 99 99 99 100 100 100 100 100 p proporção dos elementos portadores do caráter considerado Sep é 05 a amostra pedida é menor Nesse caso determinase o tamanho da amostra multiplicandose o dado que aparece na tabela por 4 plp Fonte ARKIN H COLTON R Apud TAGLIACARNE G Pesquisa de mercado São Paulo Atlas 1976 p 176 COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 125 107 COLETA E VERIFICAÇÃO DOS DADOS Para que os dados da pesquisa sejam livres de erros introduzidos pelos pes quisadores ou por outras pessoas é necessário supervisionar rigorosamente a equipe coletora de dados Primeiramente é preciso garantir que os pesquisadores sejam honestos e não coletem dados enviesados Seleção rigorosa dos pesquisado res realizada por profissionais poderá eliminar a maior parte dos problemas des sa natureza Também já foi lembrado que os pesquisadores devem ser devidamente trei nados No entanto é necessário também à medida que os dados sejam coligidos examinálos para verificar se estão completos claros coerentes e precisos Pode ser conveniente selecionar alguns dos elementos já pesquisados e rea plicar o instrumento À medida que se verifica alguma discrepância é conveniente discutila com o primeiro pesquisador Por meio desta discussão será possível verificar se houve lapso no preenchimento ou incapacidade do pesquisador na obtenção dos dados A medida que isso é feito tornase possível controlar muitas das deformações introduzidas durante a coleta de dados 108 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS O processo de análise dos dados envolve diversos procedimentos codificação das respostas tabulação dos dados e cálculos estatísticos Após ou juntamente com a análise pode ocorrer também a interpretação dos dados que consiste fun damentalmente em estabelecer a ligação entre os resultados obtidos com outros já conhecidos quer sejam derivados de teorias quer sejam de estudos realizados anteriormente Embora todos esses procedimentos só se efetivem após a coleta dos dados convém por razões de ordem técnica ou econômica que a análise seja minuciosa mente planejada antes de serem coletados os dados Dessa maneira o pesquisador pode evitar trabalho desnecessário como por exemplo elaborar tabelas que não serão utilizadas ou então refazer outras tabelas em virtude da nãoinclusão de dados importantes Claro que o planejamento prévio e completo da análise nem sempre é possível Entretanto num levantamento é sempre possível e desejável estabelecer os esquemas básicos de análise No referente à codificação dos dados convém que se defina se esta será reali zada antes ou depois da coleta de dados Quando se decide pela précodificação a elaboração do questionário ou do formulário exige que se considerem os campos próprios para esse fim Quando se decide pela póscodificação o que é usual quando são exigidos julgamentos complexos acerca dos dados tornase necessário definir esses critérios 126 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA É conveniente também uma definição prévia acerca do procedimento a ser utilizado para tabulação sobretudo porque o desenvolvimento dessa tarefa tem muito a ver com o orçamento da pesquisa Quando se decide pela tabulação eletrô nica os custos tendem a ser altos Por outro lado quando se tem amostra bastante numerosa e grande quantidade de dados a tabulação eletrônica tornase necessá ria para garantir sua efetiva análise num espaço de tempo razoável Por fim na análise dos dados há necessidade de cálculos estatísticos Em todos os levantamentos há que calcular percentagens médias correlações etc Esses pro cedimentos estão intimamente relacionados com os objetivos da pesquisa Por tal razão não há como deixar de considerálos quando ocorrer seu planejamento 109 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Esta é a última fase de um levantamento Logicamente só pode ser efetivada depois que se dispõe de todos os dados devidamente coletados e analisados Entre tanto é de toda conveniência durante o planejamento definirse acerca da forma como serão apresentados os dados Geralmente a apresentação dos dados é feita mediante um relatório A forma desse relatório varia porém em função dos objetivos da pesquisa Alguns relató rios são bastante simples consistindo basicamente na apresentação dos dados em tabelas além de algumas considerações acerca da forma de obtenção Outros no entanto exigem maiores cuidados quanto à elaboração sobretudo os que se refe rem à investigação estritamente científica Para esses casos cabem as recomenda ções feitas em relação à redação do relatório da pesquisa bibliográfica Seja qual for a fórmula de apresentação dos resultados convém que esta seja considerada no planejamento da pesquisa Embora constitua atividade formal à qual alguns pesquisadores tendem a atribuir menor importância implica tarefas que po dem exigir o concurso de outros profissionais como datilografes desenhistas e edito res de texto Pode ocorrer também que sejam exigidos serviços de reprodução gráfi ca o que é freqüente nas pesquisas acadêmicas Como todas essas tarefas implicam alocação de recursos humanos materiais e financeiros é necessário que estes sejam levados em conta no planejamento do levantamento Afinal o trabalho de pesquisa não é de natureza apenas intelectual e envolve múltiplos aspectos extracientíficos LEITURAS RECOMENDADAS BABBIE Earl Métodos de pesquisa de survey Belo Horizonte UFMG 1999 Uma das obras mais completas sobre levantamentos de campo Esse livro mostrase muito útil porque não se restringe a apresentar as etapas dos levanta mentos mas também expõe as razões de ser dos procedimentos utilizados COMO DELINEAR UM LEVANTAMENTO 127 MATTAR Fauze Najib Pesquisa de marketing 4 ed São Paulo Atlas 1999 Embora voltada especificamente à pesquisa de marketing esta obra é bastante útil para pesquisadores interessados na elaboração de projetos de levantamento sobretudo no referente à definição do tipo de amostragem a ser adotado e ao cálculo da extensão da amostra EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS l Convém que os projetos de pesquisa abaixo sejam desenvolvidos como levan tamentos a Projeto de pesquisa acerca das contribuições de cientistas brasileiros na área de Microbiologia sim não Se não por quê b Projeto de pesquisa sobre a idade média dos eleitores brasileiros sim não Se não por quê c Projeto de pesquisa sobre a opinião dos professores acerca dos livros descartáveis sim não Se não por quê d Projeto de pesquisa da preferência políticopartidária dos eleitores bra sileiros sim não Se não por quê e Projeto de pesquisa acerca do ajustamento do trabalho em indústrias de migrantes oriundos da zona rural sim não Se não por quê 128 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 2 Examine diversos questionários e procure classificar as questões em dois gru pos objetivas que tratam de características concretas dos respondentes e perceptivas que se referem a suas opiniões valores etc 3 Dos cinco projetos do Exercício ns l três correspondem a levantamentos De fina para cada um destes o universo a ser pesquisado bem como o tipo de amostragem mais adequado 4 Qual dos enunciados abaixo é que menos induz a uma resposta a Você é contra a legalização do aborto b Você aprova a legalização do aborto c Qual sua opinião acerca da legalização do aborto d Você não aprova a legalização do aborto e Você é contra a legalização do aborto ou não 11 Como Delinear Estudos de Campo 111 ETAPAS DO ESTUDO DE CAMPO Embora existam procedimentos comuns a todos os estudos de campo não há como definir a priori as etapas a serem seguidas em todas as pesquisas dessa natu reza Isso porque a especificidade de cada estudo de campo acaba por ditar seus próprios procedimentos É possível no entanto definir algumas etapas que podem ser observadas na maioria dos estudos caracterizados como estudos de campo a elaboração do projeto inicial b exploração preliminar c formulação do projeto de pesquisa d préteste dos instrumentos e procedimentos de pesquisa e coleta de dados f análise do material e g redação do relatório 112 ELABORAÇÃO DO PROJETO INICIAL Os estudos de campo de modo geral apresentam objetivos muito mais am plos do que os levantamentos Por essa razão nesses estudos a formulação exata do projeto de pesquisa é deixada para um estágio avançado de seu processo A es pecificação dos objetivos a seleção dos informantes e as estratégias para coleta de dados costumam ser definidas somente após exploração preliminar da situação 130 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Por tal razão os estudos de campo na maioria das vezes iniciamse com plano bem geral que leva em consideração muito mais os objetivos da pesquisa e as limita ções materiais do que propriamente a definição de procedimentos 113 ETAPA EXPLORATÓRIA Esta etapa representa um período de investigação informal e relativamente livre no qual o pesquisador procura obter tanto quanto possível entendimento dos fatores que exercem influência na situação que constitui o objeto de pesquisa Constitui portanto uma etapa cujo objetivo é o de descobrir o que as variáveis sig nificativas parecem ser na situação e que tipos de instrumentos podem ser usados para obter as medidas necessárias ao estudo final Embora nessa etapa o pesquisador disponha de ampla liberdade para exerci tar seu próprio talento e adotar a conduta que lhe parecer mais adequada isso não significa que possa exercer a liberdade em sentido absoluto O conhecimento pro porcionado pelas ciências sociais não autoriza nos dias de hoje empreender um es tudo sem que se possa previamente antecipar o comportamento humano nas mais diversas situações É possível no entanto qualquer que seja o objetivo da pesqui sa definir um conjunto de amplas categorias relativas ao comportamento social básico Os itens a seguir recomendados por Katz op cit p 66 formam um possí vel guia para a investigação dos aspectos importantes a serem considerados num estudo de campo Não têm naturalmente igual valor para todas as pesquisas dessa natureza mas refletem muitas das principais variáveis reconhecidas como signifi cativas para o entendimento do comportamento social a estrutura social em estudo com respeito a seus principais grupos e sub grupos b sistemas de valores e objetivos básicos do sistema global e de seus sub grupos c natureza e tipos de conflitos e pontos de tensão relativos à estrutura so cial e a cada grupo particular d estruturas formal e informal e suas interrelações e meios aceitos para se atingirem as metas do grupo f grau de autonomia do funcionamento das partes integrantes da estrutu ra total e natureza das interdependências observáveis g modelos de poder ou de influência dentro da estrutura e de seus sub grupos h natureza das sanções do grupo e sua aceitação i modelos e meios de comunicação COMO DELINEAR ESTUDOS DE CAMPO 131 114 ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA Após a exploração preliminar ou mesmo no decorrer desta etapa podese elaborar um projeto de pesquisa bem mais específico Uma vez identificados os contornos aproximados da situaçãoproblema o pesquisador pode definir com mais precisão os objetivos da pesquisa e determinar as técnicas de coleta de dados a serem adotadas para o estudo total decisões que requerem considerações sobre as descobertas obtidas na exploração preliminar A primeira decisão importante para elaboração do projeto consiste em definir o nível da pesquisa exploratório descritivo ou explicativo As pesquisas do pri meiro nível têm o objetivo principal de desenvolver idéias com vista em fornecer hipóteses em condições de serem testadas em estudos posteriores Muitas das pes quisas designadas como estudos de caso encontramse neste nível Seu planeja mento revestese de muito mais flexibilidade que o dos outros tipos de pesquisa Deve no entanto conduzir a procedimentos relativamente sistemáticos para a ob tenção de observações empíricas bem como para a identificação das relações en tre os fenômenos estudados As pesquisas descritivas têm como objetivo básico descrever as características de populações e de fenômenos Muitos dos estudos de campo bem como de levan tamentos podem ser classificados nessa categoria Nos levantamentos contudo a preocupação do pesquisador é a de descrever com precisão essas características utilizando instrumentos padronizados de coleta de dados tais como questionários e formulários que conduzem a resultados de natureza quantitativa Nos estudos de campo a preocupação também é com a descrição mas a ênfase maior é coloca da na profundidade e não na precisão o que leva o pesquisador a preferir a utiliza ção de depoimentos e entrevistas com níveis diversos de estruturação As pesquisas explicativas visam basicamente testar hipóteses Poucos são os estudos de campo com objetivos nesse nível Há situações entretanto definidas como experimentos naturais em que o estudo de campo constitui o delineamen to mais recomendável É o caso por exemplo da pesquisa desenvolvida por Alex Leighton apud Katz 1974 que descreveu os efeitos das deportações de japone ses que residiam na costa do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial Esse es tudo possibilitou verificar uma alteração significativa de papéis na estrutura das famílias nipoamericanas Nos grupos que faziam parte da sociedade americana os japoneses nascidos nos Estados Unidos tendiam a assumir a posição dominante na casa e na comunidade Com a deportação no entanto a função de líder retor nou para os mais velhos conforme a tradição 132 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 115 PRÉTESTE DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA Os estudos de campo requerem a utilização de variados instrumentos de pes quisa tais como formulários questionários entrevistas e escalas de observação Tornase necessário portanto prétestar cada instrumento antes de sua utiliza ção com vista em a desenvolver os procedimentos de aplicação b testar o vo cabulário empregado nas questões e c assegurarse de que as questões ou as ob servações a serem feitas possibilitem medir as variáveis que se pretende medir É necessário que o préteste dos instrumentos seja feito com população tão si milar quanto possível à que será estudada Não se requer todavia uma amostra ri gorosamente representativa dessa população 116 COLETA DE DADOS Como os estudos de campo costumam ser prolongados e requerer contatos variados com as mesmas pessoas a cooperação da comunidade é essencial Nesse sentido Daniel Katz 1974 p 8587 sugere vários procedimentos capazes de auxiliar nesse intento a buscar apoio das lideranças locais Isto é especialmente impor tante quando se está lidando com uma estrutura hierárquica como a de uma indústria em que as pessoas situadas em níveis inferiores são sem pre dependentes dos superiores e sentemse inseguras com pesquisado res vindos de fora b aliarse a pessoas ou a grupos que tenham interesse na pes quisa Dessa forma os interessados em algum tipo de reforma na co munidade ou os dirigentes de uma empresa que procuram informações sobre deficiências de seus empregados poderão receber muito bem os pesquisadores e oferecerlhes apoio c fornecer aos membros da comunidade as informações obti das Manter as informações em segredo não é conveniente já que pode provocar rumores e suposições nem sempre favoráveis além de dificul tar eventuais contatos futuros com a comunidade O maior problema em relação a esse aspecto é que algumas revelações poderão prejudicar a pesquisa Assim o mais conveniente costuma ser a apresentação da pes quisa em suas linhas gerais fornecendo alguns exemplos de um ou ou tro item sem descer a considerações profundas d preservar a identidade dos respondentes A análise dos mate riais obtidos não deve ser conduzida a ponto de possibilitar a identifica ção dos respondentes Se as pessoas forem prevenidas de que sua identi dade será preservada deverão de fato permanecer anônimas Isso cor responde a uma importante obrigação moral dos pesquisadores COMO DELINEAR ESTUDOS DE CAMPO 133 A preservação da identidade dos respondentes constitui problema de alta re levância ética No entanto costumam surgir outros dilemas dessa natureza na co leta de dados nos estudos de campo relacionados principalmente à interação do pesquisador com as pessoas pesquisadas Um grande dilema do pesquisador con siste na decisão sobre a revelação ou não de sua identidade ao grupo Com efeito manterse incógnito pode ser vantajoso para a obtenção de determinados dados No entanto invadir a privacidade dos outros sem se declarar é sem dúvida um pro cedimento antiético A superação desse problema pode estar na solicitação do con sentimento dos informantes Tal medida no entanto não soluciona o problema ético pois a diferença de status entre o pesquisador e os informantes que ocorre com freqüência pode conduzir a alguma forma de constrangimento 117 ANÁLISE DOS DADOS Muitos estudos de campo possibilitam a análise estatística de dados sobretu do quando se valem de questionários ou formulários para coleta de dados No en tanto diferentemente dos levantamentos os estudos de campo tendem a utilizar variadas técnicas de coleta de dados Daí por que nesse tipo de pesquisa os proce dimentos de análise costumam ser predominantemente qualitativos A análise qualitativa é menos formal do que a análise quantitativa pois nesta última seus passos podem ser definidos de maneira relativamente simples A análi se qualitativa depende de muitos fatores tais como a natureza dos dados coleta dos a extensão da amostra os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação Podese no entanto definir esse processo como uma seqüência de atividades que envolve a redução dos dados a categorização desses dados sua interpretação e a redação do relatório 1171 Redução dos dados A redução dos dados consiste em processo de seleção simplificação abstra ção e transformação dos dados originais provenientes das observações de campo Para que essa tarefa seja desenvolvida a contento é necessário ter objetivos claros até mesmo porque estes podem ter sido alterados ao longo do estudo de campo Quando os objetivos não estão claros o que costuma ocorrer é o acúmulo de grande quantidade de dados e a conseqüente dificuldade para selecionar os que possam ser significativos para a pesquisa 134 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 1172 Categorização dos dados A categorização consiste na organização dos dados de forma que o pesquisa dor consiga tomar decisões e tirar conclusões a partir deles Isso requer a constru ção de um conjunto de categorias descritivas que podem ser fundamentadas no referencial teórico da pesquisa Nem sempre porém essas categorias podem ser definidas de imediato Para se chegar a elas é preciso ler e reler o material obtido até que se tenha o domínio de seu conteúdo para em seguida contrastálo com o referencial teórico Essas leituras sucessivas possibilitam a divisão do material em seus elementos componentes sem perder de vista sua relação com os demais com ponentes Outro ponto importante nesta etapa é a consideração tanto do conteúdo manifesto quanto do conteúdo latente do material É preciso portanto que a aná lise não se restrinja ao que está explícito no material mas procure desvelar conteú dos implícitos dimensões contraditórias e mesmo aspectos silenciados Lüdke André 1986 Nas pesquisas quantitativas as categorias são freqüentemente estabelecidas apriori o que simplifica sobremaneira o trabalho analítico Já nas pesquisas quali tativas o conjunto inicial de categorias em geral é reexaminado e modificado su cessivamente com vista em obter ideais mais abrangentes e significativos Por ou tro lado nessas pesquisas os dados costumam ser organizados em tabelas en quanto nas pesquisas qualitativas necessitase valer de textos narrativos matri zes esquemas etc 1173 Interpretação dos dados A categorização dos dados possibilita sua descrição Contudo mesmo que a pesquisa seja de cunho descritivo é necessário que o pesquisador ultrapasse a mera descrição buscando acrescentar algo ao questionamento existente sobre o assunto Para tanto ele terá que fazer um esforço de abstração ultrapassando os dados tentando possíveis explicações configurações e fluxos de causa e efeito Isso irá exigir constantes retomadas às anotações de campo e ao campo e à literatu ra e até mesmo à coleta de dados adicionais Para que um estudo de campo tenha valor é necessário que seja capaz de acrescentar algo ao já conhecido Isso não significa porém que deva obrigatoria mente culminar num conjunto de proposições capazes de proporcionar nova pers pectiva teórica ao problema Um estudo de campo pode ser reconhecido como váli do quando se mostrar capaz de levantar novas questões ou hipóteses a serem con sideradas em estudos futuros COMO DELINEAR ESTUDOS DE CAMPO 135 118 REDAÇÃO DO RELATÓRIO Diferentemente dos levantamentos e dos estudos experimentais os estudos de campo não conduzem a relatórios padronizados O pesquisador dispõe de mui to mais liberdade para apresentar seus resultados Como os estudos de campo bus cam descrever com certa profundidade populações e fenômenos e mesmo expla nar acerca de fatores que influenciam na ocorrência dessas características os rela tórios de campo apresentam freqüentemente grande número de páginas Convém no entanto que o pesquisador esteja consciente de certos requisitos exigidos na re dação científica tais como a clareza a concisão a precisão e a objetividade LEITURAS RECOMENDADAS LÜDKE Menga ANDRÉ Marli E D A Pesquisa em educação abordagens qualita tivas São Paulo EPU 1986 Este livro trata das abordagens qualitativas na pesquisa em educação confe rindo especial ênfase à pesquisa etnográfica e ao estudo de caso Além de tratar de aspectos relacionados ao planejamento coleta análise e interpretação de dados as autoras discutem problemas como os da ética e da objetividade na pesquisa FESTINGER Leon KATZ Daniel A pesquisa na psicologia social Rio de Janeiro Fundação Getulio Vargas 1974 O Capítulo 3 deste livro escrito por Daniel Katz é dedicado aos estudos de campo Nele são descritas com detalhes as etapas de seu desenvolvimento foca lizando exemplos clássicos dessa modalidade de pesquisa EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Compare as vantagens e as desvantagens do estudo de campo com as do le vantamento 2 Que problemas éticos decorrem do estudo de campo 3 Sugira problemas que podem ser investigados mediante estudos de campo 4 O relacionamento entre pesquisador e pesquisado é de fundamental impor tância nos estudos de campo Identifique características pessoais do pesqui sador que podem dificultar esse relacionamento 136 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 5 Identifique alguns cuidados que devem ser tomados para contornar o proble ma da subjetividade nos estudos de campo 6 A realização de um estudo de campo parece à primeira vista mais simples do que o levantamento razão pela qual mostrase muito atraente para pesquisa dores iniciantes Identifique aspectos do estudo de campo que tornam seu de senvolvimento mais complexo que o do levantamento 12 Como Delinear um Estudo de Caso 121 ETAPAS DO ESTUDO DE CASO Ao contrário do que ocorre com o levantamento não há consenso por parte dos pesquisadores quanto às etapas a serem seguidas em seu desenvolvimento Com base porém no trabalho de alguns autores que se dedicaram a essa questão como Robert K Yin 2001 e Robert E Stake 2000 tornase possível definir um conjunto de etapas que podem ser seguidas na maioria das pesquisas definidas como estudos de caso formulação do problema definição da unidadecaso determinação do número de casos elaboração do protocolo coleta de dados avaliação e análise dos dados e preparação do relatório 122 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Como em qualquer outra pesquisa a formulação do problema constitui a eta pa inicial da pesquisa Já foi considerado em capítulos anteriores que esta etapa não é simples pois não basta escolher um tema para se avançar na pesquisa A for mulação do problema geralmente decorre de um longo processo de reflexão e de imersão em fontes bibliográficas adequadas Em relação aos estudos de caso im 138 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA portante cuidado nessa etapa consiste em garantir que o problema formulado seja passível de verificação por meio desse tipo de delineamento O estudo de caso não é adequado por exemplo para promover a descrição precisa das características de uma população ou para mensurar o nível de correlação entre variáveis e menos ainda para verificar hipóteses causais Sua utilização maior é em estudos explora tórios e descritivos mas também pode ser importante para fornecer respostas rela tivas a causas de determinados fenômenos Por exemplo quando se deseja verifi car quanto uma população consome realizase um levantamento Quando po rém desejase verificar as razões que determinam a preferência por esse produto o levantamento pode mostrarse insuficiente e conseqüentemente sugerese a rea lização de um estudo de caso Nessa hipótese tal delineamento tornase recomen dável exatamente para proporcionar maior nível de profundidade para transce der ao nível puramente descritivo proporcionado pelo levantamento 123 DEFINIÇÃO DA UNIDADECASO Em sua acepção clássica a unidadecaso referese a um indivíduo num con texto definido Por exemplo um paciente de transplante de coração antes duran te e seis meses após a cirurgia no contexto de sua família e do hospital O conceito de caso no entanto ampliouse a ponto de poder ser entendido como uma família ou qualquer outro grupo social um pequeno grupo uma organização um conjunto de relações um papel social um processo social uma comunidade uma nação ou mesmo toda uma cultura Os casos também podem ser definidos do ponto de vista espacial ou tempo ral Um exemplo de caso localizado espacialmente é uma comunidade religiosa Casos definidos temporalmente podem referirse a episódios como por exemplo o que ocorre quando um empregado recebe o comunicado de sua demissão Po dem referirse a eventos como por exemplo um encontro de empresários Po dem ainda referirse a um período de tempo como por exemplo o de implanta ção de um programa de qualidade A delimitação da unidadecaso não constitui tarefa simples É difícil traçar os limites de um objeto A totalidade de um objeto seja ele físico biológico ou social é uma construção intelectual Não existem limites concretos na definição de qual quer processo ou objeto Como lembram Goode e Hatt 1969 p 423 mesmo o animal vivo é uma construção e o ponto onde termina o animal e começa o meio é arbitrariamente definido Da mesma forma o grupo de trabalho ou o conflito tra balhista são construções definidas à medida que se tornam úteis para a pesquisa Os critérios de seleção dos casos variam de acordo com os propósitos da pesqui sa Assim Stake 2000 identifica três modalidades de estudos de caso intrínseco instrumental e coletivo Estudo de caso intrínseco é aquele em que o caso constitui o próprio objeto da pesquisa O que o pesquisador almeja é conhecêlo em profundida COMO DELINEAR UM ESTUDO DE CASO 139 de sem qualquer preocupação com o desenvolvimento de alguma teoria Casos desse tipo podem ser constituídos por exemplo por um líder carismático ou por uma em presa pioneira na introdução de um sistema de avaliação de desempenho Estudo de caso instrumental é aquele que é desenvolvido com o propósito de auxiliar no conhecimento ou redefinição de determinado problema O pesquisa dor não tem interesse específico no caso mas reconhece que pode ser útil para al cançar determinados objetivos Casos desse tipo podem ser constituídos por exemplo por estudantes do ensino fundamental numa pesquisa que tenha como objetivo estudar a aplicabilidade de métodos de ensino Estudo de caso coletivo é aquele cujo propósito é o de estudar características de uma população Eles são selecionados porque se acredita que por meio deles tornase possível aprimorar o conhecimento acerca do universo a que pertencem Casos desse tipo são constituídos por exemplo por um certo número de empresá rios numa pesquisa cujo objetivo é analisar as crenças e os temores da categoria 124 DETERMINAÇÃO DO NUMERO DE CASOS Os estudos de caso podem ser constituídos tanto de um único quanto de múl tiplos casos Como já foi considerado no âmbito das pesquisas biomédicas os es tudos de caso freqüentemente envolvem um caso específico que irá entrar na cole tânea universal de casos similares possibilitando lançar mais luzes para o conheci mento da doença e por via de conseqüência descobrir as intervenções preventivas e terapêuticas adequadas para seu tratamento Oliveira 1995 p 105 Já nas pes quisas econômicas a utilização de um único caso é bem menos freqüente Justifi case quando o caso estudado é único ou extremo corno por exemplo uma em presa que apresenta características peculiares no referente à solução de seus con flitos de trabalho Também se costuma utilizar um único caso quando o acesso a múltiplos casos é difícil e o pesquisador tem possibilidade de investigar um deles Nessa hipótese a pesquisa deve ser reconhecida como exploratória A utilização de múltiplos casos é a situação mais freqüente nas pesquisas so ciais e apresenta vantagens e desvantagens De modo geral considerase que a uti lização de múltiplos casos proporciona evidências inseridas em diferentes contex tos concorrendo para a elaboração de uma pesquisa de melhor qualidade Por ou tro lado uma pesquisa com múltiplos casos requer uma metodologia mais apura da e mais tempo para coleta e análise dos dados pois será necessário reaplicar as mesmas questões em todos os casos A determinação do número de casos não pode ser feita a priori a não ser quando o caso é intrínseco O procedimento mais adequado para esse fim consiste no adicionamento progressivo de novos casos até o instante em que se alcança a saturação teórica isto é quando o incremento de novas observações não conduz a um aumento significativo de informações Embora não se possa falar em um nu 140 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA mero ideal de casos costumase utilizar de quatro a dez casos Com menos de dez casos é pouco provável que se gere uma teoria pois o contexto da pesquisa pode ser inconsistente com mais de dez casos fica muito difícil lidar com a quantidade e complexidade das informações Eisenhardt 1989 125 ELABORAÇÃO DO PRQTOCOLO Após a definição da unidadecaso e da determinação do número de casos a se rem pesquisados recomendase a elaboração do protocolo que se constitui no do cumento que não apenas contém o instrumento de coleta de dados mas também define a conduta a ser adotada para sua aplicação O protocolo constitui pois uma das melhores formas de aumentar a confiabilidade do estudo de caso e a elabora ção tornase mais importante nas pesquisas que envolvem múltiplos casos O protocolo de acordo com Yin 2001 p 89 inclui as seguintes seções a visão global do projeto para informar acerca dos propósitos e cenário em que será desenvolvido o estudo de caso Essa seção pode envolver tam bém a literatura referente ao assunto b procedimentos de campo que envolvem acesso às organizações ou infor mantes material e informações gerais sobre procedimentos a serem de senvolvidos c determinação das questões estas questões não são propriamente as que deverão ser formuladas aos informantes mas constituem essencialmen te lembranças acerca das informações que devem ser coletadas e devem estar acompanhadas das prováveis fontes de informação d guia para a elaboração do relatório esse item é muito importante pois com freqüência o relatório é elaborado paralelamente à coleta de dados 126 COLETA DE DADOS O processo de coleta de dados no estudo de caso é mais complexo que o de ou tras modalidades de pesquisa Isso porque na maioria das pesquisas utilizase uma técnica básica para a obtenção de dados embora outras técnicas possam ser utili zadas de forma complementar Já no estudo de caso utilizase sempre mais de uma técnica Isso constitui um princípio básico que não pode ser descartado Obter da dos mediante procedimentos diversos é fundamental para garantir a qualidade dos resultados obtidos Os resultados obtidos no estudo de caso devem ser prove nientes da convergência ou da divergência das observações obtidas de diferentes procedimentos Dessa maneira é que se torna possível conferir validade ao estudo evitanto que ele fique subordinado à subjetividade do pesquisador COMO DELINEAR UM ESTUDO DE CASO 141 Convém lembrar que nos experimentos e nos levantamentos antes da coleta de dados são realizados testes para garantir validade e fidedignidade aos instru mentos o que não costuma ocorrer nos estudos de caso A utilização de múltiplas fontes de evidência Yin 2001 constitui portanto o principal recurso de que se vale o estudo de caso para conferir significância a seus resultados Podese dizer que em termos de coleta de dados o estudo de caso é o mais completo de todos os delineamentos pois valese tanto de dados de gente quanto de dados de papel Com efeito nos estudos de caso os dados podem ser obtidos me diante análise de documentos entrevistas depoimentos pessoais observação es pontânea observação participante e análise de artefatos físicos Imaginese por exemplo um estudo de caso que tenha como propósito analisar a ação de sindicato de trabalhadores Seriam analisados documentos elaborados pelo sindicato tais como reuniões de diretoria e jornais Seriam entrevistados dirigentes sindicais e obtidos depoimentos de trabalhadores sindicalizados Também seria feita a obser vação dos sindicalistas em ação e se fosse possível um pesquisador poderia atuar como membro do grupo Também seria importante analisar artefatos materiais tais como bandeiras faixas posters panfletos camisetas etc 127 ANALISE DOS DADOS Entre os vários itens de natureza metodológica o que apresenta maior carên cia de sistematização é o referente à análise e interpretação dos dados Como o es tudo de caso valese de procedimentos de coleta de dados os mais variados o pro cesso de análise e interpretação pode naturalmente envolver diferentes modelos de análise Todavia é natural admitir que a análise dos dados seja de natureza pre dominantemente qualitativa O mais importante na análise e interpretação de dados no estudo de caso é a preservação da totalidade da unidade social Daí então a importância a ser confe rida ao desenvolvimento de tipologias Muitas vezes esses tipos ideais são ante cipados no planejamento da pesquisa Outras vezes porém emergem ao longo do processo de coleta e análise de dados Um dos maiores problemas na interpretação dos dados no estudo de caso de vese à falsa sensação de certeza que o próprio pesquisador pode ter sobre suas conclusões Embora esse problema possa aparecer em qualquer outro tipo de pes quisa é muito mais comum no estudo de caso Num survey por exemplo o analista tem a sua frente somente os dados obtidos por meio do formulário e sabe que não pode captar as experiências dos vários entrevistadores que o aplicaram Convém portanto que o pesquisador desenvolva logo no início da pesquisa um quadro de referência teórico com vista em evitar especulações no momento de análise 142 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 128 REDAÇÃO DO RELATÓRIO Considerando que o estudo de caso é um delineamento mais flexível que os demais é natural que a elaboração do relatório possa ser caracterizada por um grau de formalidade menor que o requerido em relação a outras pesquisas Os relatórios referentes a estudos constituídos de um único caso tradicional mente foram elaborados sob a forma de uma narrativa Estudos que envolvem múltiplos casos por sua vez muitas vezes foram apresentados individualmente como narrativas em capítulos ou tópicos separados Atualmente porém verifi case a tendência para apresentar os estudos de caso de maneira muito próxima à dos demais relatórios de pesquisa envolvendo partes destinadas à apresentação do problema à metodologia empregada aos resultados obtidos e às conclusões É uma forma de demonstrar que o estudo de caso constitui procedimento científico e não tem propósitos literários O que não tem impedido que alguns relatórios te nham sido estruturados de maneiras as mais diversas alguns preferindo mesmo a estrutura suspense própria de romances policiais LEITURAS RECOMENDADAS YIN Robert K Estudo de caso planejamento e métodos 2 ed Porto Alegre Bookman 2001 Tratase de uma das mais citadas na justificativa para a realização de estudos de caso O livro iniciase com a comparação do estudo de caso com outros delinea mentos de pesquisa ressaltando suas vantagens e limitações Apresenta de forma detalhada as principais fontes de evidências para um estudo de caso e inclui vários modelos para análise dos resultados GOODE William J HATT Paul K Métodos em pesquisa social 3 ed São Paulo Nacional 1969 Embora se trate de uma obra clássica da metodologia das ciências sociais o Capítulo 19 que é muito citado na literatura atual sobre o assunto trata dos prin cipais problemas que costumam surgir na análise e interpretação de dados obtidos por meio do estudo de caso 13 Como Delinear uma Pesquisaação 131 ETAPAS DA PESQUISAAÇÃO O planejamento da pesquisaação difere significativamente dos outros tipos de pesquisa já considerados Não apenas em virtude de sua flexibilidade mas so bretudo porque além dos aspectos referentes à pesquisa propriamente dita en volve também a ação dos pesquisadores e dos grupos interessados o que ocorre nos mais diversos momentos da pesquisa Daí por que se torna difícil apresentar seu planejamento com base em fases ordenadas temporalmente O planejamento do estudo de caso que foi analisado no capítulo anterior também é bastante flexível Todavia possibilita distinguir a ordenação cronológi ca de suas fases Já na pesquisaação ocorre um constante vaivém entre as fases que é determinado pela dinâmica do grupo de pesquisadores em seu relaciona mento com a situação pesquisada Assim o que se pode à guisa de delineamento é apresentar alguns conjuntos de ações que embora não ordenados no tempo po dem ser considerados como etapas da pesquisaação São eles a fase exploratória b formulação do problema c construção de hipóteses d realização do seminário e seleção da amostra f coleta de dados g análise e interpretação dos dados h elaboração do plano de ação i divulgação dos resultados 144 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 132 FASE EXPLORATÓRIA A fase exploratória da pesquisaação objetiva determinar o campo de investi gação as expectativas dos interessados bem como o tipo de auxílio que estes po derão oferecer ao longo do processo de pesquisa Enquanto na pesquisa clássica a fase exploratória costuma caracterizarse pela imersão sistemática na literatura disponível acerca do problema na pesquisaação essa fase privilegia o contato di reto com o campo em que está desenvolvida Isso implica o reconhecimento visual do local a consulta a documentos diversos e sobretudo a discussão com represen tantes das categorias sociais envolvidas na pesquisa 133 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Após a fase exploratória procedese à formulação do problema Procurase garantir que o problema seja definido com a maior precisão Cabe porém lembrar que enquanto na pesquisa clássica os problemas referentes a como fazer as coisas tendem a ser rechaçados na pesquisaação são privilegiados Por exemplo se uma pesquisa tem por objetivo investigar as causas da evasão escolar em determi nado bairro imediatamente a ele procurase associar um problema prático como reduzir a evasão Sem esse objetivo de solucionar problemas práticos a pesquisaação não teria sentido já que seria difícil conseguir a participação dos interessados A pesquisaação todavia não se restringe aos aspectos práticos tanto é que a mediação teóricoconceitual se torna presente ao longo de toda a pesquisa 134 CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES Ficou claro ao apresentar o desenvolvimento das fases anteriores que a pes quisaação se desenvolve de forma significativamente diversa em relação à pesqui sa clássica No que se refere à construção de hipóteses entretanto a maioria dos autores acentua que devem ser expressas com termos claros concisos sem ambi güidade gramatical e que possibilitem sua verificação empírica Apenas há a escla recer que na pesquisaação com freqüência as hipóteses são de natureza qualita tiva e na maioria dos casos não envolvem nexos causais entre as variáveis 135 REALIZAÇÃO DO SEMINÁRIO Os passos que se seguem à formulação do problema de pesquisa têm como principal ponto de referência o seminário Este reúne os principais membros da COMO DELINEAR UMA PESQUISAAÇÃO 145 equipe de pesquisadores e membros significativos dos grupos interessados na pes quisa O seminário recolhe as propostas dos participantes bem corno contribui ções de especialistas convidados De sua discussão e aprovação é que são elabora das as diretrizes de pesquisa e de ação 136 SELEÇÃO DA AMOSTRA Tão logo tenha sido delimitado o universo da pesquisa surge o problema de determinar os elementos que serão pesquisados Quando o universo de investigação é geograficamente concentrado e pouco numeroso convém que sejam pesquisados todos os elementos Isto é importante para garantir a conscientização e a mobilização da população em torno da propos ta de ação envolvida pela pesquisa Quando porém o universo é numeroso e esparso é recomendável a seleção de uma amostra Isso não significa no entanto que a amostra deva ser selecionada de acordo com procedimentos rigidamente estatísticos pois estes poderiam neu tralizar o efeito de conscientização que é pretendido nesse tipo de investigação De modo geral o critério de representatividade dos grupos investigados na pesqui saação é mais qualitativo que quantitativo Daí porque o mais recomendável nas pesquisas desse tipo é a utilização de amostras não probabilísticas selecionadas pelo critério de intencionalidade Uma amostra intencional em que os indivíduos são selecionados com base em certas características tidas como relevantes pelos pesquisadores e participantes mostrase mais adequada para a obtenção de dados de natureza qualitativa o que é o caso da pesquisaação A intencionalidade torna uma pesquisa mais rica em termos qualitativos Su ponhase uma pesquisa que tenha por objetivo identificar atitudes políticas de um grupo de operários Como a pesquisa tem como objetivo a mobilização do grupo envolvido será interessante selecionar trabalhadores conhecidos como elementos ativos em relação aos movimentos sindicais e políticos bem como trabalhadores sem qualquer participação em movimentos dessa natureza As informações que es ses dois grupos de trabalhadores podem transmitir serão muito mais ricas que as que seriam obtidas com base em critérios rígidos de seleção de amostra Claro que essas informações não são generalizáveis para a totalidade da população mas po dem proporcionar os elementos necessários para a identificação da dinâmica do movimento 137 COLETA DE DADOS Diversas técnicas são adotadas para a coleta de dados na pesquisaação A mais usual é a entrevista aplicada coletiva ou individualmente Também se utiliza 146 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA o questionário sobretudo quando o universo a ser pesquisado é constituído por grande número de elementos Outras técnicas aplicáveis são a observação partici pante a história de vida a análise de conteúdo e o sociodrama Esta última mos trase bastante adequada para a investigação de situações marcadas por relações de desigualdade patrãoempregado professoraluno homemmulher etc Diversamente das pesquisas elaboradas segundo o modelo clássico da inves tigação científica em que as técnicas se caracterizam pela padronização a pesqui saação tende a adotar preferencialmente procedimentos flexíveis Primeiramente porque ao longo do processo de pesquisa os objetos são constantemente redefini dos sobretudo com base nas decisões do seminário Isso pode implicar por exem plo mudanças significativas no conteúdo do questionário ou mesmo em sua subs tituição por outra técnica Em segundo lugar porque técnicas padronizadas como o questionário fechado proporcionam informações de baixo nível argumentativo dificultando conseqüentemente o trabalho interpretativo 138 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS A análise e interpretação dos dados na pesquisaação constitui tema bastante controvertido Há pesquisas em que os procedimentos adotados são muito seme lhantes aos da pesquisa clássica o que implica considerar os passos categoriza ção codificação tabulação análise estatística e generalização Há porém pesqui sas em que se privilegia a discussão em torno dos dados obtidos de onde decorre a interpretação de seus resultados Dessa discussão participam pesquisadores parti cipantes e especialistas convidados Muitas vezes o trabalho interpretativo é ela borado com base apenas nos dados obtidos empiricamente Há casos entretanto em que contribuições teóricas tornamse muito relevantes Por exemplo nas pes quisas sobre migração e movimentos sindicais que envolvem muitas variáveis não manifestas as contribuições teóricas são muito importantes Só com base nelas é que os dados obtidos podem ser organizados segundo um quadro de referência que lhes empresta significado 139 ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO A pesquisaação concretizase com o planejamento de uma ação destinada a enfrentar o problema que foi objeto de investigação Isso implica a elaboração de um plano ou projeto que indique a quais os objetivos que se pretende atingir b a população a ser beneficiada COMO DELINEAR UMA PESQUISAAÇÃO 147 c a natureza da relação da população com as instituições que serão afetadas d a identificação das medidas que podem contribuir para melhorar a situação e os procedimentos a serem adotados para assegurar a participação da po pulação e incorporar suas sugestões e f a determinação das formas de controle do processo e de avaliação de seus resultados 1310 DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS Na realidade a etapa dos resultados da pesquisaação confundese com a ela boração do plano de ação Ocorre porém que a informação obtida também pode ser divulgada externamente aos setores interessados por intermédio de congres sos conferências simpósios meios de comunicação de massa ou elaboração de re latórios com as mesmas formalidades dos outros tipos de pesquisa LEITURA RECOMENDADA THIOLLENT Michel Pesquisaação nas organizações São Paulo Atlas 1997 Esse livro apresenta e discute a metodologia da pesquisaação aplicada em organizações com o intuito de atualizar suas potencialidades críticas Ao longo da obra o autor apresenta os procedimentos a ser desenvolvidos na elaboração de projetos de pesquisaação EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Considere a recomendação de Durkheim segundo a qual os fatos sociais de vem ser tratados como coisas Será que na pesquisaação essa recomendação pode ser observada 2 Analise em que medida a política de pessoal de uma organização pode facili tar ou dificultar a realização de uma pesquisaação 3 Formule problemas que recomendem uma estratégia do tipo pesquisaação 14 Como Delinear uma Pesquisa Participante 141 ETAPAS DA PESQUISA PARTICIPANTE Constitui tarefa difícil se não impossível determinar com precisão as etapas de uma pesquisa participante Muito mais difícil que a determinação das etapas da pesquisaação Isso porque nesta última de modo geral existe o empenho de uma instituição governamental ou privada interessada nos resultados da investigação e como tal disposta a financiála Dessa forma tornase possível definir algum tipo de planejamento Já na pesquisa participante pelo menos da forma como é concebida no Terceiro Mundo os grupos interessados são constituídos por pes soas de parcos recursos trabalhadores rurais favelados índios etc o que dificul ta a elaboração de um plano rigoroso de pesquisa Em virtude das dificuldades para contratação de pesquisadores e assessores para reprodução de material para coleta de dados e mesmo para garantir a colaboração dos grupos presumivelmente interessados o planejamento da pesquisa tende na maioria dos casos a ser bas tante flexível Tornase difícil portanto prever com precisão os passos a serem se guidos numa pesquisa participante E também não há consenso por parte dos di versos autores em torno de um paradigma de pesquisa participante O que pode ser feito é a apresentação de um modelo que sem se pretender único indique os principais passos a serem seguidos numa investigação desse tipo Assim apresentase aqui um modelo muito adotado e bastante discutido calcado sobretudo na experiência de autores como Lê Boterf 1984 e Gajardo 1984 Esse modelo comporta quatro fases a saber a montagem institucional e metodológica b estudo preliminar e provisório da região e da população pesquisadas c análise crítica dos problemas e d programaação e aplicação de um plano de ação 150 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 142 MONTAGEM INSTITUCIONAL E METODOLÓGICA DA PESQUISA PARTICIPANTE Nesta primeira fase os pesquisadores em conjunto com representantes da população a ser pesquisada desenvolvem as seguintes tarefas a determinação das bases teóricas da pesquisa formulação dos objetivos definição de conceitos construção de hipóteses etc b definição das técnicas de coleta de dados c delimitação da região a ser estudada d organização do processo de pesquisa participante identificação dos co laboradores distribuição das tarefas partilha das decisões etc e preparação dos pesquisadores f elaboração do cronograma de atividades a serem realizadas 143 ESTUDO PRELIMINAR DA REGIÃO E DA POPULAÇÃO PESQUISADAS Esta segunda fase da pesquisa participante de acordo com Lê Boterf 1984 inclui três partes a identificação da estrutura social da população b descoberta do universo vivido pela população e c recenseamento dos dados socioeconômicos e tecnológicos A identificação da estrutura social da população implica descobrir as diferen ças sociais de seus membros as posições dos grupos e também os conflitos entre estes últimos Esse é um aspecto importante da pesquisa participante que a distin gue dos tradicionais estudos de comunidade Enquanto estes tendem a encarar os indivíduos como participantes de grupamentos relativamente homogêneos a pesquisa participante deseja colocarse a serviço dos oprimidos e necessita identi ficar com clareza quem são eles no âmbito de uma comunidade A descoberta do universo vivido pela população implica compreender numa perspectiva interna o ponto de vista dos indivíduos e dos grupos acerca das situa ções que vivem Para tanto os pesquisadores devem adotar preferencialmente téc nicas qualitativas de coleta de dados e também uma atitude positiva de escuta e de empatia Isso pode implicar conviver com a comunidade partilhar seu cotidiano ouvir em vez de tomar notas ou fazer registros ver e observar em vez de filmar sentir tocar em vez de estudar Viver junto em vez de visitar Lê Boterf 1984 p 58 COMO DELINEAR UMA PESQUISA PARTICIPANTE 151 Essa postura pode naturalmente conduzir à subjetividade Para evitar esse risco o pesquisador pode no entanto utilizar concomitantemente técnicas estru turadas e adotar quadros teóricos de análise que emprestam maior significação e generalidade aos dados obtidos A pesquisa participante necessita também de dados objetivos sobre a situação da população Isso implica a coleta de dados sócioeconômicos e tecnológicos que de modo geral são de natureza idêntica aos obtidos nos tradicionais estudos de comunidade Esses dados por sua vez podem ser agrupados em categorias tais como a dados geográficos orografia hidrografia clima etc b dados demográficos distribuição da população taxa de natalidade correntes migratórias c dados econômicos atividades econômicas produção agrícola produ ção industrial comercialização d dados sanitários saúde mortalidade infantil e dados habitacionais tipo de moradia número de cômodos por família f dados viários comunicações e transportes g dados educacionais nível de escolaridade educação extraescolar 144 ANALISE CRITICA DOS PROBLEMAS Os dados obtidos na fase anterior conduzem à formulação de problemas Estes por sua vez passam a ser discutidos pelos participantes da pesquisa Consti tuemse assim grupos de estudos para a análise crítica dos problemas conside rados prioritários Essa análise crítica objetiva promover nos grupos de estudo um conhecimen to mais objetivo dos problemas Procura ir além das representações cotidianas des ses problemas Para tanto os orientadores da pesquisa propõem o questionamen to dessas representações Por exemplo em relação ao problema da repetência es colar seria errôneo considerar que as causas seriam devidas exclusivamente à in capacidade dos alunos Nessa fase de crítica da representação do problema caberia considerar ou tros aspectos tais como o tempo que a criança dispõe para estudar os estímulos recebidos no meio familiar a maneira corno é tratada na escola o interesse que lhe desperta a matéria lecionada e também a real importância dos conhecimentos que a escola transmite Após esse questionamento passase à reformulação mais objetiva do proble ma que envolve a a descrição do problema b a identificação das causas do problema e c a formulação de hipóteses de ação 152 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 145 ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO Com base nas hipóteses formuladas na fase anterior elaborase o plano de ação que envolve de modo geral a ações que possibilitem a análise mais adequada do problema estudado b ações que possibilitem melhoria imediata da situação em nível local c ações que possibilitem melhoria a médio ou longo prazo em nível local ou mais amplo Como se pode verificar uma pesquisa participante não se encerra com a ela boração de um relatório mas com um plano de ação que por sua vez poderá ense jar nova pesquisa Daí o caráter informal e dialético dessa modalidade de pesquisa Seus resultados não são tidos como conclusivos mas tendem a gerar novos proble mas que exigem novas ações Na realidade a evolução dos conhecimentos me diante a pesquisa participante processase em espiral suas fases repetemse mas em nível superior como indica uma das leis fundamentais da dialética Em muitos meios ligados à prática da pesquisa participante notase o desenco rajamento quanto à redação de relatórios formalizados Dar prioridade à escritura seria dar poder àqueles que aprenderam seu código particulamente os que freqüen taram universidades Dessa forma seria necessário romperse com a dominação da escrita e favorecer a utilização dos próprios meios de expressão dos pesquisados Se a cultura é oral devese preferir as reuniões os debates e as narrativas LEITURA RECOMENDADA BRANDÃO Carlos Rodrigues Org Pesquisaparticipante São Paulo Brasiliense 1983 Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 São duas coletâneas de textos de autores diversos sobre as bases teóricas e aplicações práticas da pesquisa participante EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Selecione alguns temas de pesquisa tais como transportes urbanos alimen tação segurança pública prostituição toxicomania e estabilidade no empre go Discutaos com seus colegas de classe procurando a partir daí formular COMO DELINEAR UMA PESQUISA PARTICIPANTE 153 problemas de pesquisa Depois discuta esses mesmos temas com pessoas cujo status socioeconômico seja reconhecidamente baixo Por fim analise em que medida a percepção dos problemas difere em função do grupo que os analisa 2 Na coluna esquerda do quadro seguinte são indicadas algumas das caracte rísticas das pesquisas desenvolvidas segundo o modelo clássico Procure na coluna direita indicar características da pesquisa participante de forma tal que fiquem esclarecidas as diferenças entre os dois tipos de pesquisa Modelo Clássico de Pesquisa Pesquisa Participante Definição clara e precisa do fenômeno a ser investigado Etapas bem delimitadas Baixo nível de envolvimento do pesquisador com os pesquisados Emprego preferencial de técnicas padroni zadas de coleta de dados Amostra selecionada segundo princípios probabilísticos Ênfase na análise qualitativa dos dados Extrema preocupação com a objetividade Exclusiva preocupação com o conhecimento do fenômeno 15 Como Calcular o Tempo e o Custo do Projeto 151 DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA PESQUISA É muito freqüente encontraremse obras de metodologia que tratam exclusi vamente dos aspectos científicos da pesquisa deixando de lado os aspectos admi nistrativos tais como tempo e custos Todavia por melhor que seja a preparação metodológica pouca probabilidade de viabilização tem um projeto que não consi dere esses aspectos Como qualquer atividade humana pesquisa implica tempo e dinheiro E mes mo que a pesquisa não exija financiamento externo é necessário que o projeto en volva considerações acerca do cronograma e do orçamento da pesquisa Sem isso o pesquisador corre o risco de perder o controle do projeto 152 CRONOGRAMA DA PESQUISA Como a pesquisa se desenvolve em várias etapas é necessário fazer a previ são do tempo necessário para se passar de uma fase para outra Como também determinadas fases são desenvolvidas simultaneamente é necessário ter a indica ção de quando isso ocorre Para tanto convém definir um cronograma que indique com clareza o tempo de execução previsto para as diversas fases bem como os momentos em que estas se interpõem Esse cronograma numa representação bastante prática conhecida como gráfico de Gannt é constituído por linhas que indicam as fases da pesquisa e por colunas que indicam o tempo previsto A Figura 131 mostra o cronograma de uma pesquisa do tipo levantamento Etapas do Levantamento 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 01 n O O 1 Especificação dos objetivos 2 Operacionalização dos concei tos Elaboração do questionário f cn D M O Préteste do questionário Seleção da amostra Impressão dos questionários Seleção dos pesquisadores Treinamento dos pesquisadores Coleta de dados Análise e interpretação dos dados Redação do relatório Figura 131 Cronograma de uma pesquisa COMO CALCULAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO 157 É claro que o cronograma de pesquisa corresponde apenas a uma estimativa do tempo Por uma série de fatores imprevistos os prazos podem deixar de ser ob servados Contudo à medida que o pesquisador tenha ampla experiência e a orga nização a que pertence disponha dos recursos necessários o cronograma elabora do tem grandes chances de ser observado 153 ORÇAMENTO DA PESQUISA Para se ter uma estimativa dos gastos com a pesquisa convém que seja elabo rado um orçamento Para ser adequado o orçamento deverá considerar os custos referentes a cada fase da pesquisa segundo itens de despesa Esses itens por sua vez podem ser agrupados em duas grandes categorias custos de pessoal e custos de material Os custos de pessoal são geralmente calculados segundo o trabalho dos colaboradores em dias exceto no caso de consultores cujos trabalhos freqüen temente são remunerados de acordo com as horas despendidas O orçamento deve ser elaborado em bases realistas ou seja considerar com a precisão possível os vários gastos Essa tarefa entretanto pode ser dificultada quando se vive em período caracterizado por altas taxas de inflação Em qualquer circunstância porém tornase conveniente acrescer ao orçamento um suplemen to para despesas imprevistas o qual será maior ou menor de acordo com a segu rança que tem o pesquisador acerca da linearidade a ser seguida no processo de pesquisa As Tabelas 131 e 132 exemplificam a elaboração de um orçamento de pes quisa com base nos diversos itens da despesa prevista A primeira envolve os custos de pessoal e a segunda os custos de material Deve ficar claro que essa lista de itens não pretende ser completa Pode até mesmo ocorrer que seja inadequada para determinados projetos de pesquisa Con vém ainda lembrar que muitos institutos de pesquisa apresentam sofisticados sis temas de contabilidade de custos que se caracterizam pelo grande número de itens Assim os orçamentos desses institutos incluem entre outros itens referen tes ao aluguel de salas e de máquinas de escrever no período correspondente a sua utilização Itens de Custos 1 11 12 2 21 22 23 3 31 32 Planejamento Salários Honorários Coleta de dados Salários Honorários Diária e transporte Análise interpreta ção e apresentação Salários Honorários Equipe de Pesquisa 1a membro 2 membro 3S membro Consul tores Digita dores Entrevis tadores Proc de Dados Outros W oo no o dgl vi O tn ti W Cl S C5 Figura 131 Cálculo dos custos de pessoal para projetos de pesquisa COMO CALCULAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO 159 Tabela 132 Cálculo dos custos de material para projetos de pesquisa Fases Valor em Planejamento Material de escritório Livros Mapas Xerocópias Telefone cartas etc Coleta de dados Material para impressão Fitas para gravação Filmes Xerocópias Taxas p correio telefones fretes etc Cartões fichas Serviços de impressão Manutenção de veículo para transporte Análise interpretação e apresentação Material para impressão Capas Gravação LEITURA RECOMENDADA HIRANO Sedi Org Pesquisa social projeto e planejamento São Paulo T A Queiroz 1979 Essa obra apresenta vários capítulos que tratam de projetos de pesquisa sen do que o quatro de autoria de José Albertino Rodrigues referese especificamente à estimativa de custos e ao cronograma da pesquisa EXERCÍCIOS E TRABALHOS PRÁTICOS 1 Selecione alguns relatórios de pesquisas e procure identificar o tempo des pendido em cada uma de suas fases 160 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 2 Identifique fatores que podem determinar atrasos no cronograma de uma pesquisa 3 Relacione conseqüências desfavoráveis que podem advir da nãoobservância do cronograma de uma pesquisa 4 Escolha um relatório de pesquisa bem detalhado e procure fazer uma estima tiva de seus custos 16 Como Redigir o Projeto de Pesquisa Como as pesquisas diferem muito entre si não se pode falar num roteiro rígi do para elaboração de projetos de pesquisa É possível no entanto oferecer um modelo relativamente flexível mas que considere os elementos considerados es senciais e possibilite a inclusão dos itens inerentes à especificidade da pesquisa Assim o roteiro que se segue foi elaborado com base em manuais de universidades e de institutos de pesquisa e em observância às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT 161 ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO Os itens que compõem o texto de um projeto dependem de suas finalidades pois este pode referirse a uma pesquisa acadêmica ou profissional pode desti narse à qualificação de um candidato a uma dissertação de mestrado ou doutora do e pode destinarse também à solicitação de financiamento para a pesquisa Os projetos mais completos são os de teses e dissertações cujos itens são detalhados a seguir Notese porém que a ordem desses itens não precisa ser rígida 1611 Introdução A primeira seção do projeto é constituída por sua introdução que define bre vemente os objetivos do trabalho as razões de sua realização o enfoque dado ao assunto e sua relação com outros estudos Essa introdução pode ser elaborada de forma corrente ou apresentar subseções como as que são apresentadas a seguir 162 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Justificativa Tratase de uma apresentação inicial do projeto que pode incluir fatores que determinaram a escolha do tema sua relação com a experiência profissional ou acadêmica do autor assim como sua vinculação à área te mática e a uma das linhas de pesquisa do curso de pósgraduação argumentos relativos à importância da pesquisa do ponto de vista teórico metodológico ou empírico referência a sua possível contribuição para o conhecimento de alguma questão teórica ou prática ainda não solucionada Definição e delimitação do problema Nesta parte devese deixar cla ro o problema que se pretende responder com a pesquisa assim como sua delimi tação espacial e temporal Cabe também esclarecer o significado dos principais ter mos envolvidos pelo problema sobretudo quando podem assumir significados di ferentes em decorrência do contexto em que são estudados ou do quadro de refe rência adotado Revisão da literatura Esta parte é dedicada à contextualização teórica do problema e a seu relacionamento com o que tem sido investigado a seu respei to Deve esclarecer portanto os pressupostos teóricos que dão fundamentação à pesquisa e as contribuições proporcionadas por investigações anteriores Essa re visão não pode ser constituída apenas por referências ou sínteses dos estudos fei tos mas por discussão crítica do estado atual da questão Quando esta parte se mostrar muito extensa pode ser apresentada como capítulo independente logo após a Introdução Objetivos eou hipóteses Procedese nesta parte à apresentação dos objetivos da pesquisa em termos claros e precisos Recomendase portanto que em sua redação sejam utilizados verbos de ação como identificar verificar des crever e analisar Quando a pesquisa envolve hipóteses é necessário deixar explí citas as relações previstas entre as variáveis 1612 Metodologia Nesta parte descrevemse os procedimentos a serem seguidos na realização da pesquisa Sua organização varia de acordo com as peculiaridades de cada pesquisa Requerse no entanto a apresentação de informações acerca de alguns aspectos como os que são apresentados a seguir tipo de pesquisa devese esclarecer se a pesquisa é de natureza explo ratória descritiva ou explicativa Convém ainda esclarecer acerca do tipo de delineamento a ser adotado pesquisa experimental levantamen to estudo de caso pesquisa bibliográfica etc COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 163 população e amostra envolve informações acerca do universo a ser estudado da extensão da amostra e da maneira como será selecionada coleta de dados envolve a descrição das técnicas a serem utilizadas para coleta de dados Modelos de questionários testes ou escalas deverão ser incluídos quando for o caso Quando a pesquisa envolver técnicas de entrevista ou de observação deverão ser incluídos nesta parte também os roteiros a serem seguidos análise dos dados envolve a descrição dos procedimentos a serem adotados tanto para análise quantitativa p ex testes de hipótese testes de correlação quanto qualitativa p ex análise de conteúdo análise de discurso 1613 Cronograma de execução Nesta parte indicase o tempo necessário para o desenvolvimento de cada uma das etapas da pesquisa ver seção 152 1614 Suprimentos e equipamentos Nesta parte indicamse os suprimentos e equipamentos necessários para a realização da pesquisa Os itens variam de acordo com o tipo de pesquisa ver se ção 153 Entre os mais utilizados estão questionários impressos para registro manuais de instrução para pesquisadores equipamentos de registro lápis canetas etc pastas câmaras de vídeo material de laboratório 1615 Custo do projeto O projeto deve apresentar uma estimativa dos custos da pesquisa Uma forma prática consiste em reunir os gastos previstos em vários itens que por sua vez po dem ser agrupados em duas categorias gastos com pessoal e gastos com material ver seção 153 164 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 162 ESTILO DO TEXTO Os projetos de pesquisa são elaborados com a finalidade de serem lidos por professores pesquisadores incumbidos de analisar suas qualidades e limitações Esperase portanto que seu estilo seja adequado a esses propósitos Embora cada pessoa tenha seu próprio estilo ao se redigir o projeto convém atentar para certas qualidades básicas da redação que são apresentadas a seguir 1621 Impessoalidade O relatório deve ser impessoal Convém para tanto que seja redigido na ter ceira pessoa Referências pessoais como meu projeto meu estudo e minha tese devem ser evitadas São preferíveis expressões como este projeto o pre sente estudo etc 1622 Objetividade O texto deve ser escrito em linguagem direta evitandose que a seqüência seja desviada com considerações irrelevantes A argumentação deve apoiarse em dados e provas e não em considerações e opiniões pessoais 1623 Clareza As idéias devem ser apresentadas sem ambigüidade para não originar inter pretações diversas Devese utilizar vocabulário adequado sem verbosidade sem expressões com duplo sentido e evitar palavras supérfluas repetições e detalhes prolixos 1624 Precisão Cada palavra ou expressão deve traduzir com exatidão o que se quer transmi tir em especial no que se refere a registros de observações medições e análises As ciências possuem nomenclatura técnica específica que possibilita conferir precisão ao texto O redator do relatório não pode ignorálas Para tanto deverá recorrer a dicionários especializados e a outras obras que auxiliem na obtenção de precisão conceituai Devese evitar o uso de adjetivos que não indiquem claramente a proporção dos objetos tais como pequeno médio e grande bem como expressões do tipo quase todos uma boa parte etc Também devem ser evitados advérbios que não explicitem exatamente o tempo o modo e o lugar como por exemplo recente COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 165 mente antigamente lentamente algures alhures e provavelmente Devese pre ferir sempre que possível o uso de termos passíveis de quantificação já que são estes os que conferem maior precisão ao texto 1625 Coerência As idéias devem ser apresentadas numa seqüência lógica e ordenada Poderão ser utilizados tantos títulos quanto forem necessários para as partes dos capítulos sua reda ção porém deverá ser uniforme iniciandose ou com verbos ou com substantivos O texto deve ser elaborado de maneira harmoniosa Para tanto devese con ferir especial atenção à criação de parágrafos Cada parágrafo deve referirse a um único assunto e iniciarse de preferência com uma frase que contenha a idéianú cleo do parágrafo o tópico frasal A essa idéia básica associamse pelo sentido ou tras idéias secundárias mediante outras frases Devese também evitar a criação de um texto no qual os parágrafos sucedemse uns aos outros como compartimen tos estanques sem nenhuma fluência entre si 1626 Concisão O texto deve expressar as idéias com poucas palavras Convém portanto que cada período envolva no máximo duas ou três linhas Períodos longos abrangen do várias orações subordinadas dificultam a compreensão e tornam pesada a lei tura Não se deve temer a multiplicação de frases pois à medida que isso ocorre o leitor tem condições de entender o texto sem maiores dificuldades Quando os períodos longos forem inevitáveis convém colocar na primeira metade as palavras essenciais o sujeito o verbo e o adjetivo principal Isso porque as palavras da primeira parte da mensagem são mais facilmente memorizáveis Quando porém são feitas intercalações com muitas palavras separando o sujeito e o verbo principal o entendimento tornase mais difícil 1627 Simplicidade A simplicidade paradoxalmente constitui uma das qualidades mais difíceis de serem alcançadas na redação de um relatório ou monografia É comum as pes soas escreverem mais para impressionar do que para expressar Também há os que julgam indesejável empregar linguagem familiar num trabalho científico Essas posturas são injustificáveis Devem ser utilizadas apenas as palavras ne cessárias O uso de sinônimos pelo simples prazer da variedade deve ser evitado Também se deve evitar o abuso dos jargões técnicos que tornam a prosa pomposa mas aborrecem o leitor Convém lembrar que o excesso de palavras não confere au toridade a ninguém muitas vezes constitui artifício para encobrir a mediocridade 166 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 163 ASPECTOS GRÁFICOS DO TEXTO 1631 Digitação e pagínação O texto deve ser digitado em papel branco formato A4 21 x 297 cm utili zandose apenas um dos lados do papel e observandose espaço dois ou três entre as linhas Nas passagens de parágrafos podese ampliar esse espaço Nas margens devem ser observados os espaços 3 cm para a superior e a es querda e 2 cm para a superior e a direita No início do parágrafo deixase um espaço de 10 toques Devese evitar o estilo americano que alinha todo o texto à esquerda sem deixar o espaço do parágrafo Para cada página deverá ser atribuído um número mas a numeração deverá ser escrita somente a partir da segunda página do sumário 1632 Organização das partes e titulação Cada uma das partes do relatório recebe um número para facilitar sua localiza ção no texto Para a numeração das seções primárias ou capítulos são utilizados al garismos arábicos a partir de um Para a numeração das seções secundárias utili zase o número do capítulo mais o número de cada parte separados por ponto e as sim sucessivamente Recomendase que não sejam utilizados mais do que três está gios de subdivisão em virtude da quantidade de dígitos que devem ser utilizados Exemplo l Seção primária 11 Seção secundária 12 13 131 Seção terciária 132 133 Os títulos das seções primárias devem ser alinhados à esquerda e aparecer em caixa alta maiúsculas Nos demais títulos também alinhados à esquerda apenas a primeira letra e as iniciais dos nomes próprios é que deverão aparecer com letras maiúsculas O texto de cada seção pode incluir vários parágrafos e também utilizar alíneas representadas por letras minúsculas para relacionar itens de conteúdo pouco ex tenso COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 167 1633 Disposição do texto A disposição do texto depende da natureza da pesquisa e da quantidade de informações a serem apresentadas Nos projetos a disposição mais usual é a que segue capa constitui a proteção externa do trabalho Deve ser confeccionada com material duro e conter o nome do autor título local de publicação e ano folha de rosto contém os elementos essenciais para a identificação do trabalho nome do autor título subtítulo se houver instituição à qual o trabalho é submetido e título pretendido nome do orientador quando houver local e ano lista de ilustrações relação de tabelas quadros gráficos etc constan tes da obra Pode ser subdividida em lista de tabelas lista de gráficos etc sumário enumeração das principais seções do trabalho feita na ordem em que aparecem no texto introdução ver 1611 revisão bibliográfica preliminar ver 1611 metodologia ver 1612 cronograma ver 1613 suprimentos e equipamentos ver 1614 custos ver 1614 anexos eou apêndices Apêndices são documentos cujo conteúdo foi elaborado pelo próprio autor e que podem ser consultados para melhor compreensão do projeto como por exem plo questionários roteiros de entrevistas e de observação etc Anexos são consti tuídos por tabelas quadros mapas e outros documentos que não foram elabora dos pelo autor do projeto Cada apêndice ou anexo deve ser identificado por letras maiúsculas consecu tivas e seus respectivos títulos referências bibliográficas ver 1637 168 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA 1634 Citações As referências a autores ou transcrição de informações retiradas de outras fontes devem ser indicadas no próprio texto indicando o sobrenome do autor seguido do ano de publicação entre parênteses Exemplos De acordo com Weber 1978 Tripodi Fellin e Meyer 1975 classificam Almeida et ai 2000 acentuam As citações textuais devem ser indicadas pela inclusão de aspas no início e fi nal dos períodos e o número da página entre parênteses no final Citações curtas de até três linhas poderão fazer parte do próprio parágrafo em que são inseridas Já citações mais longas devem ser apresentadas em bloco próprio afastado da margem esquerda com espaço simples e em itálico Por exemplo Chalmers 1993 ressalta que A ciência é baseada no que podemos ver ouvir tocar etc Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm lugar na ciência A ciência é objetiva O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente p 23 1635 Ilustrações Ilustrações são constituídas por gráficos fotografias mapas esquemas dese nhos quadros fórmulas tabelas e outros São sempre numeradas em seqüência própria e contêm títulos escritos em letras minúsculas com exceção da inicial da frase e dos nomes próprios Com exceção das tabelas quadros e gráficos as demais ilustrações são designadas como figuras As tabelas têm o objetivo de apresentar resultados numéricos e valores com parativos e sua elaboração segue as Normas de Apresentação Tabular do IBGE Exemplo COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 169 Tabela l Utilização das terras em 31121995 segundo as regiões brasileiras Regiões Norte Nordeste CentroOeste Sudeste Sul Utilização das terras em 31121995 ha Área Total ha d 58 358 880 78 296 096 108510012 64 085 893 44 360 364 Lavouras permanentes e temporárias 1 972 056 10 345 388 6 576 652 10 594 067 12 306 291 Pastagens naturais e plantadas 24 386 622 32 076 340 62 763 912 37 777 049 20 696 549 Matas naturais e plantadas 25 756 635 19 783 078 31 316326 10221051 7 216 509 Lavouras em descanso e produtivas não utilizadas 4 498 294 12 715 177 3 282 228 2 369 554 1 804 862 Fonte IBGE Censo Agropecuário de 19951996 1 Inclusive terras não aproveitadas 1636 Notas de rodapé Servem para proporcionar explicações complementares que fogem à linha de raciocínio seguida no texto Devem ser utilizadas apenas quando indispensáveis não sendo recomendadas portanto para referências bibliográficas 1637 Referências bibliográficas Todos os trabalhos citados no texto devem ser referenciados em ordem alfa bética seguindo as normas da NBR 60232000 da ABNT Seguem exemplos de al guns tipos de referências Livro MEDEIROS João Bosco Redação científica a prática de fichamentos resumos e resenhas 4 ed São Paulo Atlas 1999 Capítulo de livro GUBA Egon G LINCOLN Yvonna S Paradigmatic controversies contradic tions and emerging confluences In DENZIN Norman K LINCOLN Yvonna Org Handbook of qualitative research 2 ed Thousand Oaks Sage 2000 Cap 6 p 163189 170 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA Artigo de periódico científico OSTINI Fátima Magro et ai O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva MedicinaRevista do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina de Ribei rão Preto da Universidade de São Paulo Ribeirão Preto v 31 ne 3 p 400411 julset 1998 Matéria publicada em revista CAETANO José Roberto Vermelho só Papai Noel Exame São Paulo ano 35 na 24 p 4043 28 nov 2001 Matéria de jornal assinada VIEIRA Fabrício Na última hora Argentina paga dívida Folha de S Paulo São Paulo 15 dez 2001 Folha Dinheiro p Bl Matéria de jornal não assinada POLICIAIS acusados de tráfico são presos Folha de S Paulo São Paulo 15 dez 2001 Folha Cotidiano p Cl Tese ou dissertação CONCEIÇÃO Jefferson José da As indústrias do ABC no olho do furacão 2001 146 p Dissertação Mestrado em Administração Centro Universi tário Municipal de São Caetano do Sul São Caetano do Sul Documento eletrônico CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA PARA AS CIÊNCIAS DA VIDA Reflexão ética sobre a dignidade humana Lisboa 5 jan 1999 Disponível em httpwwwcnecvgovptpdfsdighumpdf Acesso em 26 set 2000 LEITURAS RECOMENDADAS MEDEIROS João Bosco ANDRADE Maria Margarida de Manual de elaboração de referências bibliográficas a nova NBR 60232000 da ABNT exemplos e comen tários São Paulo Atlas 2001 COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA 171 Este texto apresenta de maneira simplificada as normas obrigatórias para a elaboração de bibliografias referências e documentação dos escritos científicos e acadêmicos MOURA Maria Lúcia Seidl de FERREIRA Maria Cristina PAINE Patrícia Ann Manual de elaboração de projetos de pesquisa Rio de Janeiro Eduerj 1998 A segunda parte deste livro é dedicada à redação de projetos e dissertações Ênfase especial é conferida às normas de apresentação e à redação dos itens Bibliografia ANGELL Robert C RONALD Freedman Utilização de documentos arquivos da dos censitários e índices In FESTINGER Leon KATZ Daniel A pesquiso na psicologia social Rio de Janeiro FGV 1974 BABBIE Earl Métodos de pesquisa de survey Belo Horizonte Editora UFMG 1999 BARDIN Laurence Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 sd BARRETO A Mascarenhas O português Cristóvão Colombo agente secreto do Rei D João II Lisboa Referendo 1988 BEAUD Michel Arte da tese como preparar e redigir uma tese de mestrado uma monografia ou qualquer outro trabalho universitário Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1997 BRANDÃO Carlos Rodrigues Org Pesquisa participante 18 ed São Paulo Brasiliense 1999 Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 CAMPBELL D T STANLEY Julian C Delineamentos experimentais e quase experimentais de pesquisa São Paulo EPU Edusp 1979 CONTRANDIOPOULOS AndréPierre et ai Saber preparar uma pesquisa defi nição estrutura e financiamento Rio de Janeiro Hucitec Abrasco 1994 DENEGA Marcos Antônio Como pesquisar na Internet São Paulo Berkeley 2001 DURKHEIM Émile El suicídio Buenos Aires Shapive 1965 EISENHARDT Kathleen M Building theories from case study research Academy of Management Journal v 14 ns 4 p 532550 1989 174 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA FERREIRA Aurélio Buarque de Holanda Novo dicionário da língua portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1975 FESTINGER Leon KATZ Daniel A pesquisa na psicologia social Rio de Janeiro FGV 1974 GAJARDO M Pesquisa participante propostas e projetos In BRANDÃO Carlos Rodrigues Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 cap 2 p 1550 GIL Antônio Carlos Métodos e técnicas de pesquisa social São Paulo Atlas 1987 GOODE William J HATT Paul K Métodos em pesquisa social São Paulo Nacional 1969 HIRANO Sedi Org Pesquisa social projeto e planejamento São Paulo T A Queiroz 1979 KERLINGER F N Metodologia da pesquisa em ciências sociais um tratamento conceituai São Paulo EPU Edusp 1980 KIDDER Louise H Org Métodos de pesquisa nas relações sociais São Paulo EPU 1987 LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia científica 3 ed São Paulo Atlas 1999 Metodologia do trabalho científico 6 ed São Paulo Atlas 2001 LAVILLE Christian DIONNE Jean A construção do saber manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas Porto Alegre Artes Médicas Sul 1999 LÊ BOTERF G Pesquisa participante propostas e reflexões metodológicas In BRANDÃO Carlos Rodrigues Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 cap 3 p 5181 LÜDKE Menga ANDRÉ Marli E D Pesquisa em educação abordagens qua litativas São Paulo EPU 1986 MATTAR Fauze Najib Pesquisa de marketing 4 ed São Paulo Atlas 1999 McGUIGAN Frank Joseph Psicologia experimental uma abordagem metodoló gica São Paulo EPU Edusp 1976 MEDEIROS João Bosco Redação científica a prática de fichamentos resumos e resenhas 4 ed São Paulo Atlas 2000 Maria Margarida de Manual de elaboração de referências bibliográficas a nova NBR 60232000 da ABNT exemplos e comentários São Paulo Atlas 2001 BIBLIOGRAFIA 175 MOURA Maria Lúcia Seidl de FERREIRA Maria Cristina PAINE Patrícia Ann Manual de elaboração de projetos de pesquisa Rio de Janeiro Eduerj 1998 OLIVEIRA Therezinha de Freitas Rodrigues Pesquisa biomédica da procura do achado e da escritura de tese e comunicações científicas São Paulo Atheneu 1995 PEREIRA Maurício Gomes Epidemiologia teoria e prática Rio de Janeiro Guanabara Koogan 1995 RICHARDSON Robert Jarry Pesquisa social métodos e técnicas 3 ed São Paulo Atlas 1999 RODRIGUES A A pesquisa experimental em psicologia e em educação Petrópolis Vozes 1975 ROSENBERG Morris A lógica da análise do levantamento de dados São Paulo Cultrix Edusp 1976 RUIZ João Álvaro Metodologia científica guia para a eficiência nos estudos 4 ed São Paulo Atlas 1996 SALVADOR Ângelo Domingos Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica 11 ed Porto Alegre Sulina 1982 SCHRADER Achim Introdução àpesquisa social empírica Porto Alegre Globo 1974 SELLTIZ Claire et ai Métodos depesquisa nas relações sociais São Paulo Herder 1967 SEVERINO Antônio Joaquim Metodologia do trabalho científico 21 ed São Paulo Cortez 2001 STAKE Robert E Case studies In DENZIN N LINCOLN Y Ed Handbook of qualitative research 2 ed Thousand Oaks Sage 2000 TAGLIACARNE Guglielmo Pesquisa de mercado São Paulo Atlas 1976 THIOLLENT Michel Metodologia da pesquisaação São Paulo Cortez 1985 Pesquisaação nas organizações São Paulo Atlas 1997 TRUJILLO FERRARI Alfonso Metodologia da pesquisa científica São Paulo McGrawHill do Brasil 1982 WARDLE C J Two generations of broken homes in the gênesis of conduct and be havioral disorders in children British Medicai Journal p 349 5 Aug 1961 YIN Robert K Estudo de caso planejamento e métodos 2 ed Porto Alegre Book man 2001 YOUNG P Métodos científicos de investigación social México Instituto de Investi gaciones Sociales de La Universidad dei México 1960 Impressão e acabamento ESCOLAS PROFISSIONAIS SALESIANAS Rua Dom Bosco 441 03105020 São Paulo SP Fone 11 32773211 Fax 11 2790329