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A percepção representa um dos fenômenos psíquicos mais complexos. Ela não pode ser reduzida a um processo eminentemente fisiológico e, nem tampouco, ser considerada independente desta atividade. Portanto, a compreensão deste fenômeno exige uma análise dos processos fisiológicos envolvidos, da influência da cultura e do conjunto de experiências e aprendizagens efetivadas pelo indivíduo até um dado momento. O assunto constitui-se de suma importância para quem atua em educação, visto que, qualquer troca que se estabele ce entre pessoas, e entre o aprendiz e o conhecimento, sofre a influência da percepção. Para diferenciar e dimensionar o âmbito fisiológico e psicológico, fazemos distinção entre sensação e percepção. Distinção entre sensação e percepção Denominamos sensação o processo envolvido na recepção do estímulo, de origem interna ou externa, sua trans formação em impulso elétrico e sua transmissão ao córtex sensorial correspondente. Portanto, ela compreende basi camente a atividade dos sentidos, e pode ser frequentemente associada ao início do processo de percepção. Contudo, deve salientar que a maior parte da atividade sensorial não se converte em percepção e nem toda percepção depende de atividade sensorial. Já a percepção compreende geralmente a interpretação pessoal dada aos estímulos que nos chegam através de algu gum ou do conjunto de canais sensoriais. Logo, o que perce bemos não se constitui apenas numa decodificação efetuada pelo cérebro dos estímulos sensoriais. Toda a informação que nos chega através dos sentidos não pode ser neutra, mas vem carregada de significados que não se limitam à experiência imediata, mas resulta de ati vidade mental que engloba a influência do conjunto de apren dizagens efetivadas pela pessoa. A ausência de neutralidade na percepção pode ser ilus trada comparando a visão que duas pessoas podem ter em 50 RIES, B. E. & RODRIGUES, E. W. (Orgs.) relação a um estranho comum: um deles pode considerá-lo simpático, charmoso, cordial, etc., e o outro pode descre vê-lo como antipático e feio. Logo, nós percebemos a realidade não como ela é, mas como acreditamos ou desejamos que ela seja. A percepção, portanto, está intimamente ligada à estru tura e dinâmica da personalidade de um indivíduo. Por esta razão nós não vemos as coisas como elas são e, sim, como nós somos. Existem, por isso, grandes diferenças individuais na per cepção, já que o mesmo objeto, pessoa, grupo, idéia ou cren ça pode ser percebido de modo completamente diferente por diferentes pessoas. Isto explica, por exemplo, porque a ca misa que eu adorei na vitrina foi julgada horrorosa por meu amigo. As questões afetivas também afetam a percepção. Acei ta-se quase universalmente o dito popular afirmando que quem ama o feio bonito lhe parece. O conhecimento e as crenças que temos em relação a pessoas ou objetos afetam nossa forma de percebê-los. Tam bém as expectativas que alimentamos em relação a pessoas ou grupos afetam nossas percepções. Quando, por exemplo, um professor acredita que esteja diante de um aluno inteli gente, presta atenção apenas a seus atos inteligentes e não toma consciência das “asneiras" que diz ou faz. O mesmo pode ser dito em relação a um caso de aluno visto pelo pro fessor como indisciplinado; nesta situação existe a tendên cia a prestar atenção nos atos de indisciplina deste aluno e não seus momentos de envolvimento e comprometimento na tarefa escolar. Analisaremos mais adiante este aspecto da percepção. O processo de sensação (aspectos sensoriais da percepção) O sentido vulgar de “sensação" pode nos induzir a um erro de compreensão do sentido psicológico do termo. Quan do o leigo diz que teve uma sensação, ele está se referindo a Psicologia e Educação: fundamentos e reflexões 51 uma impressão que lhe foi causada ou mesmo a uma intui ção. Quando fizemos acima a distinção entre sensação e percepção nos referimos à sensação como fenômeno eminente mente fisiológico, isto é, à recepção de algum tipo de es tímulo através de algum receptor especializado, manifesto através da atividade dos sentidos. Quando nos referimos a sentidos faz-se necessário ain da fazer a distinção entre sentidos conhecidos e também à percepção extra-sensorial. Convencionalmente são citados a visão, a audição, o gosto, o olfato e o tato como sentidos conhecidos. Porém, a atividade sensorial-perceptiva extra pula a estes cinco. De acordo com Kandel, Schwartz e Jessell (2000, p. 309), os sentidos realizam uma tarefa importante que consiste em manter o cérebro permanentemente informado sobre o mundo que o rodeia. Eles têm também a função de manter a vigília, de formação da imagem corporal e de controle dos movimentos. Se definirmos sentido como um receptor especializado em captar os estímulos ou informações do meio, vamos en contrar muito mais do que os cinco convencionais. Nesta perspectiva podemos classificar os receptores em: térmicos (frio – psicoestesia; calor – termestesia); de luz (vi são); mecânicos (audição, cinestésicos – movimentos, pres são, equilíbrio – sentido vestibular); químicos (olfato, gosto/ paladar). Também se utiliza a classificação de sentidos cutâneos (pressão, frio, calor e dor), proprioceptivos (cines tesia e equilíbrio) e exteroceptivos (visão, audição, olfato e paladar). A audição compõe-se pelo ouvido e pelas vias auditivas do cérebro. Eles permitem transduzir ondas de pressão do ar em sons e localizar as fontes dos sons. O ouvido humano capta sons que se situam num espectro que varia de 20 até 20.000 Hz. A percepção auditiva ocorre a partir de informa ções originadas nos dois ouvidos (Kandel, Schwartz e Jessell, 2000, p. 309). A olfação depende de receptores localizados na cavida de nasal, o epitélio olfatório. 52 RIES, B. E. & RODRIGUES, E. W. (Orgs.) A gustação é possibilitada por receptores localizados em várias partes da cavidade oral e agrupados em órgão sensoriais chamados corpúsculos gustativos. Estes órgãos compõem-se de quimiorreceptores especializados em quatro qualidades básicas: doce, azedo, amargo e salgado. Os demais sabores resultam da combinação destes receptores. A dor resulta de estímulos químicos, mecânicos ou térmicos nocivos que lesam os tecidos. A sensação de dor fornece informações de natureza protetora. Os deslocamentos mecânicos dos músculos e das articulações produzem a cinestesia. De todos os sentidos, a visão corresponde ao sistema sensorial melhor compreendido pela neurociência. Grande parte do conhecimento que temos do mundo, bem como o fenômeno da memória, depende basicamente da visão. A analogia da visão com o funcionamento de uma máquina fotográfica é inadequada, porque não explica seu funcionamento efetivo. A visão executa uma tarefa caracterizada por Kandel, Schwartz e Jessell (2000, p. 311) como sendo “criar uma percepção tridimensional do mundo” qualitativamente diferente das imagens bidimensionais projetadas na retina. Esta nova perspectiva da visão como um processo ativo e criativo se explica não somente através da recepção de estímulos sensoriais. A percepção visual cria a forma, e esta envolve mais do que a mera soma das diferentes partes captadas pelos olhos (Gestalt – “forma”). Os sentidos não atuam de forma isolada. Muitas percepções dependem da integração entre dois ou mais sentidos. Kandel, Schwartz e Jessell (2000, p. 307) explicam que a percepção tridimensional de um objeto (estereognosia) resulta da combinação do tato e da propriocepção; esta capacidade nos permite, por exemplo, encontrar a moeda correta, entre várias que se encontram no bolso. O ser humano sofre constantemente um bombardeio por uma multiplicidade de estímulos. Nossos receptores não são capazes de ser sensibilizados pela maioria destes estímu los, pela simples razão de que eles não dispõem de estruturas de resposta a todas as frequências sonoras, à luz ultravioleta, aos campos magnéticos e elétricos, à maioria dos odores e sabores, etc. Existem também os limiares perceptivos. De acordo com Simões e Tiedemann (1985, p. 36) limiar absoluto consiste na energia mínima (ou grandeza) que um estímulo deve ter para provocar em nós uma sensação (ser percebido). O limiar diferencial compreende a menor diferença de intensidade entre dois estímulos para que possam ser percebidos como diferentes. Além disso deve-se considerar ainda a normalidade ou anormalidade de cada receptor sensorial. Porém, mesmo deixando de lado os aspectos acima referidos, ainda assim não percebemos a maioria dos estímulos que alcançam adequadamente nossos receptores. Isto ocorre porque não nos é possível reagir simultaneamente a todos eles, razão pela qual considera-se a percepção um processo seletivo, visto que tomamos consciência de alguns em detrimento de outros. Fisiologicamente falando podemos definir a sensação como atividade das vias aferentes até o córtex sensorial e ocorre através de receptores especializados, constituindo-se num dispositivo transdutor que transforma uma energia (luz, calor, [...]) em outra (energia elétrica),isto é, o receptor recebe o estímulo, o transforma em impulso elétrico e o envia a diferentes áreas especializadas do sistema nervoso central. Um dos sentidos mais estudados e exemplificado quando se faz uma análise da sensação tem sido a visão. Tradicionalmente se localiza o córtex visual na parte posterior dos dois hemisférios. Acreditava-se que as áreas visuais dos hemisférios esquerdo e direito se limitavam a possibilitar a visão tridimensional, já que, com a fusão das imagens dos dois olhos sob ângulos diferentes, torna-se possível distinguir o que se localiza mais à frente ou mais ao fundo. No livro de Springer e Deutsch (1998, p. 69-74) aparece um material interessante sobre estudos envolvendo as funções visuoespaciais, a formação de imagens e o papel dos hemisférios cerebrais nestas funções. Estes estudos indicam que as imagens são geradas na maioria das pessoas pelo hemisfério esquerdo, ao passo que a percepção parte/todo parece ser superior no hemisfério direito. Por outro lado, sabemos que a deficiência sensorial ou parcial está ligada à lesão ou patologia do órgão receptor, pelo processo de condução ou do córtex sensorial correspondente. Existe um fenômeno perceptivo chamado agnosia, no qual o sujeito apresenta falhas no processo de reconhecimento, sem que haja comprometimento da informação sensorial. Os pacientes, neste caso, tornam-se incapazes de nomear o que estão observando, apesar de ver os objetos (Springer e Deutsch, 1998, p. 200-4). Percepção Pelo que analisamos até agora, fica evidente que a percepção envolve um processamento complexo de informações atuais com os registros de memória construídos por um sujeito em desenvolvimento. Logo, a percepção se realiza numa pessoa com personalidade própria e em contínuo processo de mudança, isto é, o que e como um objeto, pessoa, grupo, ideia ou crença vai ser percebida depende da interação de um conjunto de fatores. Torna-se difícil dimensionar a influência relativa de cada um deles. De acordo com Maturana (1998, p. 61-2), a percepção é uma abstração e não uma réplica da realidade. Ela compreende uma representação interna, uma imagem consciente do estímulo ao qual respondemos. Para Kandel, Schwartz e Jessell (2000, p. 295), as percepções humanas “não são cópias diretas e precisas do mundo à nossa volta”. Não podemos entender a visão como uma fotografia tridimensional, mas uma construção que se traduz numa representação interna de eventos externos. Neste mecanismo concorrem processos de análise envolvendo cores, formas e movimentos. Estes integrarão uma imagem que resulta de princípios inerentes à atividade ce rebral. Para ela são importantes a personalidade da pessoa que, por sua vez, também resulta de uma configuração própria que se estabelece ao longo da vida. Processo de atenção Um dos requisitos da percepção compreende o mecanismo de atenção. É impossível perceber simultaneamente todos os estímulos que incidem sobre os sentidos. Em toda percepção ignoramos a maioria destes estímulos e selecionamos outros para serem processados. Quando estamos numa festa somos capazes de isolar várias conversas paralelas, enquanto nos concentramos numa delas. Se gravássemos alguns minutos desta festa seria difícil identificar qualquer diálogo isolado. Grieve (1995, p. 58) define atenção como: "[...] Estado de alerta e despertar que nos leva a tomar consciência do que acontece à nossa volta. [...] Também envolve a capacidade para selecionar os estímulos nos quais vamos nos concentrar e selecionar as respostas que daremos numa situação ou circunstâncias particulares." Percepção da cor Segundo Grieve (1995, p. 25-7), a percepção visual atribui significado aos estímulos incorporados através dos olhos. Ela influencia significativamente na percepção global do ambiente. A cor dá significado aos objetos e suas formas. A cegueira para cores resulta de um defeito retiniano; ela afeta a discriminação visual e o mundo aparece como sombras de cor cinza. As pesquisas indicam que a percepção das cores se diferencia da percepção da forma e profundidade. Kandel, Schwartz e Jessell (2000, p. 364) assinalam que a sensibilidade do olho humano para cores (espectro visível) varia de ondas de 400 a 700 nanômetros (medida do comprimento das ondas luminosas). Nesta faixa a cor da luz monocromática muda gradualmente do azul, passando 56