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EDWARD W SAID 1UFRGSBCBSCSH l n r 1 C So3 e J vA Jtj2 19Iso l r 2 1 PilQO1 2 O 0 tIi9 O DatazlZ5Yl I H5 r 1 ORIENTALISMO o ORIENTE COMO INVENfAO DOOCIDENTE Traducáo TOMÁS ROSA BUENO la reimpressao CoMPANHIA DAs LETRAs Dados de Catalogaeao na Publícacáo CIP Internacional Cámara Brasileira do Livro SP Brasil Said Edward W Orientalismo o Oriente como invenego do Ocio dente Edward W Said traducáo Tomás Rosa Bueno Sao Paulo Companhia das Letras 1990 ISBN 8571641331 L Asia Estudo e ensino 2 Ásia Opiniác estrangeira Ocidente 3 Imperialismo 40rien te e ocidente S Oriente Médio Estudo e ensíno 6 Oriente Médio Opiniáo estrangeira Ocí dente l Título Para Janet e Ibrahim 1 901367 CDD9500n lndíces para catálogo sistemático l Aste História Pesquisa 950072 Copyright 1978 by Edward W Saíd Proibida a venda em Portugal Título original Orientutísm Indícacño editorial Miton Hatoum Capa Ettore Bottini sobre A morte de Sardanapalo 1827 óleo sobre tela de Eugéne Delacroix detalhe Preparaeáo Márcia Copola Índice remisslvo Beatriz Calderari de Miranda Revisáo Pauto Céztlr de Mello Denise Pegorim Todos os direitos desta edicéo reservados a EDITORA SCHWARCZ LIDA Rua Bandeira Paulista 702 ej 72 04532002 Sáo Paulo SP Telefone 011 8660801 Fax 011 8660814 ÍNDICE Agradecimentos 9 Introducáo 13 1 O ámbito do orientalismo 41 Conhecer O oriental 41 A geografía imaginativa e suas representacóes orientalizar o oriental 60 Projetos 82 Crise 102 2 Estruturas e reestruturas orientalistas 121 Fronteiras retracadas questóes redefinidas religiáo seculari zada 122 Silvestre de Sacy e Ernest Renan antropologia racional e labo ratório filológico 132 Residencia e erudicáo no Oriente os requisitos da lexicografia e da imaginacáo 157 Peregrinos e peregrinacóes ingleses e franceses 174 3 O orientalismo hoje 207 Orientalismo latente e manifesto 207 Estilo pericia visáo a secularizacáo do orientalismo 232 O orientalismo anglofrancés moderno em pleno vigor 260 A fase mais recente 289 Notas 333 lndiee remissivo 355 AGRADECIMENTOS Venho lendo sobre o orientalismo por alguns anos mas a maior parte deste livro foi escrita em 19756 período que passei como bolsista no Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences Centro de Estudos Avancados nas Ciéncias do Cornportamento em Stanford Califórnia Nesta instituicáo singular e generosa tive a sorte de me ter agradavelmente beneficiado nao só da companhia de vários colegas como também da ajuda de Joan Warmbrunn Chris Hoth Jane Kiels meier Preston Cutler e do diretor do centro Gardner Lindzey A lista de amigos colegas e estudantes que leram ou escutaram partes deste manuscrito ou todo ele é tao longa que me deixa ernbaracado e agora que ele finalmente aparecen na forma de livro é capaz de embaracar a eles também Mesmo assim tenho de mencionar coro gratidáo o sem pre prestimoso encorajamento de Janet e fbrahim AbuLughod Noam Chomsky e Roger Owen que acompanharam este projeto do inicio até o final Tenho de reconhecer agradecidamente o interesse prestativo e crítico dos colegas amigos e estudantes de vários lugares cujas ques toes e discussáo esclareceram consideravelmente o texto André Schif frin e Jeanne Morton da Pantheon Books foram o editor e a revisora ideais e tornaram a experiencia penosa pelo menos para o autor de preparar o manuscrito uro processo instrutivo e genuinamente inteli gente Mariam Said ajudoume enormemente com a sua pesquisa sobre os primórdios da história moderna das instituicóes orientalistas Além disso porém o apoio amoroso dela foi o que tornou grande parte do trabalho neste livro nao apenas agradável mas possível E WS Nova York Setembrooutubro de 1977 9 Nao podem representar a si mesmos devem ser repre sentados Karl Marx O dezoito brumário de Luís Bonaparte O Leste é uma carreira Benjamin Disraeli Tancredo INTRODUrAO 1 Em urna visita a Beirute durante a terrível guerra civil de 19756 uro jornalista francés escreveu coro pesar sobre a devastada área cen tral da cidade que ela parecera outrora pertencer ao Oriente de Chateaubriand ou Nerval Ele tinha razáo sobre o lugar é claro especialmente no que dizia respeitoa uroeuropeu O Oriente eraQJ1ªiie urna inven5ao euro12éia e fora desde a Antigüidade um lugar de ro seres exóticos de memórias e paisagens obsessivas de expe notáveis Estava agoradesaparecendo acontecera de urocerto modo o seu tempo havia passado Talvez parecesse irrelevante que os próprios orientais tivessem alguma coisa ero jogo nesse processo que mesmo no tempo de Chateaubríand e Nerval houvesse orientais vivendo lá e que agora erarn eles que estavam sofrendo o principal para uro visitante europeu era urna representacáo européia do Oriente e da sua ruina contemporánea tanto uro como a outra coro uro significado ca mum privilegiado para o jornalista e seus leitores franceses Os americanosnao sentem exatamentea mesma coisa pelo Orien te quepara elesestá 3ssoCiadomüIto Ex tremo Oriente China e Japáo principalmente Ao contrário dos ame ricanos os franceses e os britanicos e em menor medida os alemáes os russos espanhóis portugueses italianos e suícos tiveram urna lóngatridí9iío daquIIoquédeverei chamar de orientalismo um modo de resolver Oriente 1ue está baseado no lugar especial ocupado pelo Oriente na experiencia ocidental européia O Oriente nao está apenas adjaceiite á Europa também onde estáo localizadas as mais c16nias européias a fonte das suas e línguas seu c0lcorrente cultural e urna das suas mais profundas recorrentes imagens do Outro Além disso o Oriente ajudou a definir a 13 lz 1 1 li 1 1 Europa ou o Ocidente imagem idéia personalidade e experiencia de nada desse Oriente é meramente imaginativoOOfÍeIfté é parte integrante da civilizacáo e da cultura materiais da Europa O Oriente esse papel cul tara e até mesmo como COI119 apoio de instituioes vocabulário erudicáo imagístca doutrina e até burocracias e Ero comparacáo o entendimento ame rICanodoOriél1te parecerá consideravelmente menos denso embora as nossas recentes aventuras japonesa coreana e indochinesa deveriam agora estar criando urna percepcáo oriental mais sóbria mais rea lista Mais ainda o grande aumento da importancia do papel econó mico e politico dos americanos no Oriente Próximo o Oriente Médio assume urna grande POr9aO do nosso entendimento desse Oriente Ficará claro para o leitor e ainda mais claro ao longo das muitas páginas que seguern que por orientalismo eu entendo diversas coisas todas elas na minha opiniáo interdependentes A designacáo mais prontamente aceita para o é académica e com efeito essa etiqueta ainda é adequada em algumas instituicóes académicas Qualquer um que de aulas escreva ou pesquise sobre o Oriente e isso é válido seja a pessoa antropóloga socióloga historiadora ou filóloga nos aspectos específico ou geral é um orientalista e aquilo que ele ou ela faz é orientalismo Comparado com estudos orientais ou estudos de área é verdade que o termo orientalismo hoje em dia vem caindo na preferencia dos especialistas tanto por ser vago e geral de mais quanto por ser conotativo da arrogante atitude executiva do colo nialismo europeu do século XIX e inicio do século XX Mesmo assim sao escritos livros e organizados congressos com o Oriente como foco principal e com o orientalista em sua versáo nova ou antiga como a principal autoridade A questáo é que mesmo que nao antigamente o a de suas doutrinas e teses sobre o Oriente e o oriental alcfetnTca cujos destinos transmi gracóes especíalizacóes e transrnissóes sao em parte o tema deste es tudo está um sentido mais geral para o orientalismo O orientalismo é um estilo de pensamento baseado em urna distincáo ontológica e epis temológica feita entre o Oriente e a maior parte do tempo o Oci dente Desse modo urna enorme massa de escritores entre os quais estáo poetas romancistas filósofos teóricos políticos economistas e administradores imperiais aceitou a dístincáo básica entre Oriente e Ocidente como o ponto de partida para elaboradas teorias épicos ro mances descricóes sociais e relatos políticos a respeito do Oriente dos seus pOYOS costumes mente destino e assim por diante Este orien 14 talismo pode acomodar Esquilo digamos e Victor Hugo Dante e Karl Marx Um pouco mais adiante nesta introducáo tratarei dos problemas metodológicos que encontramos em um campo tao amplamente in terpretado quanto este a intercambio entre os sentidos académico e mais ou menos ima ginativo do orientalismo é constante e desde o final do século XVIII havido um comércio considerável totalmente disciplinado tal vez até regulado entre os dois Neste ponto eu chego ao terceiro sentido do orientalismo que é algo mais histórica e materialmente defi riídoquequalquer dos outros dois TomaiidO ofirial do séculoxvm comoum definido o orienta lismo pode ser discutido e analisadocomo a instituicáo organizada para negociar negociar com ele fazendo declaracñes a seu respeito autorizando opinióes governandoo emresumoo um estilo ocidental para dominar reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente Descobri que neste caso é útil empregar a n09aO de discurso de MichelFoucault tal como é descrita por ele naArqueologia do saber e em para identificar o orientalismoAminha alegacáo é que sem examinar o orientalismo como um discuw nao se pode entender a disciplina enormemente sistemática por meio da qual a cultura européia conse guiu administrar e até produzir o Oriente política sociológica ideológica cientifica e imaginativamente durante o período pósIlumi nísmo Alérn do mais o orientalismo tinha urna posicáo de tal autori dade que eu acredito que ninguém que escrevesse pensasse ou atuasse sobre o Oriente podia fazélo sem levar em conta as límítacóes ao peno samento e aacáo impostas pelo orientalismo Em resumo por causa do orientalismo o Oriente nao era e nao é um tema livre de pensamento e de acáo Isso nao quer dizer que o orientalismo determine de modo unilateral o que pode ser dito sobre o Oriente mas que ele é toda a rede faz valer seu prestigio e portanto sempre se envolve toda vez que aquela entidade peculiar o Oriente esteja em questáo Como riso acontece é o que este demons Trar1ntatambém mostrar que a cultura européia ganhou em forca e identidade comparandose com o Oriente como umaespécíe ele identi dadesuosntUtae suitrrfura clandestina Histórica e culturalmente há urna diferenca quantitativa e qua litativa entre o envolvimento francobritánico no Oriente e até o período de ascendencia americana após a Segunda Guerra o envol vimento de todas as demais potencias européias e atlánticas Portanto falar de orientalismo é falar principalmente embora nao exclusiva mente de urna empresa cultural francesa e británica um projeto cujas 15 j dimensóes abarcam reinos tao díspares quanto a própria imaginacáo toda a Índia e o Levante os textos biblicos e as terras bíblicas o co mércio de especiarias exércitos coloniais e urna longa tradicáo de admi nistradores coloníaís uro formidável corpus académico inúmeros ritos e trabalnadores orientais um professorado oriental um com plexo aparato de idéias orientais despotismo oriental esplendor oriental crueldade sensualidade orientáis diversas seitas filosofias e sabedorias orientais domesticadas para uso europeu local a lista pode ser estendida mais ou menos indefinidamente O que quero mos trar é que o orientalismo deriva de urna proximidade particular que se deu entre a Inglaterra e a Franca e o Oriente que até o início do século passado significara apenas a Índia e as terras bíblicas A partir do inicio do século XIX até o final da Segunda Guerra a Franca e a Inglaterra dominaram o Oriente e o orientalismo desde a Segunda Guerra os Estados Unidos tém dominado o Oriente e o abordam do mesmo modo que a Franca e a Inglaterra o fizeram outrora Dessa proximidade cuja dinámica é enormemente produtiva mesmo que sempre demonstre a forca comparativamente maior do Ocidente britá nico francés ou americano vem o grande corpo de textos que eu chamo de orientalistas Deve ser dito imediatamente que mesmo com o generoso número de livros e autores que eu examino há um número muito maior que tive simplesmente de deixar de fora Meu argumento contudo nao de pende nem de um exaustivo catálogo de textos que tratam do Oriente nem de um conjunto claramente delimitado de textos autores e idéias que juntos formam o cánone orientalista Baseeime em vez disso em urna alternativa metodológica diferente cuja espinha dorsal de certo modo é o conjunto de generalizacées históricas que estive até agora fazendo nesta Introducáo Sao essas generalizacóes que quero agora discutir com mais detalhe analítico JI Comecei com a suposicáo de que o Oriente nao é um fato inerte da natureza Nao está meramente lá assim como o próprio Ocidente nao está apenas lá Devemos levar a sério a notável observacáo de Vico segundo a qual os homens fazem sua própria história e que só podem conhecer o que fízeram e aplicála a geografía como entidades geo gráficas e culturais para nao falar das entidadeshist6ricas fugares reglOese setores geográficostaís como otOrjente e o Oci feítos pelo homem Portante como o Qci 16 dente o Oriente é urna idéiatelll 1Jmahistóriae urna tradicáo de pensamento imagística e vocabulário que lhe deram realidade e PJi epara XSdlJasentidades modo apóiam e em certa medida refletem urnaa Issoposto elevemosprosseguírdeclarando urna soma de qualifi razoáveis Em primeiro lugar seria um erro concluir que o Onente era seID urna reali dade correspondente Quando Disraeli disse em seu romance que o Leste era urna carreíra queria dizer que interessarse pelo Leste era urnacoisa que os jovens ocidentais brilhantes descobririam ser Urna paixáo avassaladora nao se deve interpretar que ele disse que o Leste era apenas Urna carreira para ocidentais Existiam e existem cul turas e nacóes localizadas no Leste e suas vidas histórias e costumes tém urna realidade croa obviamente maior que qualquer coisa que pu desse ser dita a respeito no Ocidente Sobre esse fato este estudo do orientalismo tem muito pouco a contribuir além de reconhecélo taci tamente Maso fenómeno do orientalismo tal como eu oestudo aquí traUlprillcipalmente nao de urna correspondencia entre o orientalismo e o Orientejnasda consistencia interna do orientalismo e suas idéias sobre oQriente o Leste como carreira a despeito ou além de qualquer correspondencia ou falta de com uro Oriente real Quero mostrar que a declaracáo de Disraeli referese principalmente a essa consisten cía criada essa constelacáo regular de idéias como a coisa proeminente em relacáo ao Oriente e nao ao seu mero ser como coloca a frase de Wallace Stevens Urna segunda qualificacáo é que as idéias culturas ehistórias nao a sua dedr Achar que o Orienre orientalizado e necessidade é de e o Oriente é urna relacáo de dorninacáo de graus variados de urna complexa hege monia e é indicada com total precisáo no título do clássico de K M Panikkar Asia and Western dominance A dominaciio ocidental na Asia O Oriente foi orientalizado nao só porque se descobriu que ele era oriental ern todos aqueles aspectos considerados camo lugares cornuns por um europeu tnédio do século XIX mas também porque podia ser isto é permitia ser Jeito oriental Há muito pouca anuencia por exemplo no fato de que o encontro de Flaubert cornurna cortesá egípcia tenha produzído um modelo amplamente ínfluente da mulher oriental ela nunca íalou de si mesma nunca representou suas emocóes presenca ou história Ele falou por ela e a representou Ele 17 era estrangeiro comparativamente rico homem e estes eram fatos his tóricos de dominacáo que permitiram nao apenas que ele possuísse Kuchuk Hanem físicamente como também que ele falasse por ela e contasse aos seus leitores de que rnaneiraela era típicamente oriental Mínha argumentacáo é que a situacáo de íorca de Flaubert em relacáo a Kuchuk Hanem náo é um exemplo isolado É urna representacáo passável do padráo de forca relativa entre o Leste e o Oeste e do dis curso sobre o Oriente que esse padráo permitía Isso nos leva aterceíra qualíficacáo Nao se deve nunca supor que a estrutura do orientalismo nao passaºjOJlmªejtlUtura dimitos que caso fosse dítaa verdade vntoEU meSníoacredíto que o orialisJ1lQé rnaíspartícularmente válido CoIDOUmslnTao podereQIeuatlantico sobre o Orienteque comoumdiscürso Oriene que é o que em sua forma académica Apesar disso o que ternos de respeitar e tentar apreender é a fora nua e sólida do discurso orienta ísta sseus muito íntimos com as instituioes políticas capacitantes e a sua temível durabilidade Minal sistema de idéias que possa permanecer inalterado como sabedofle sépode ensínar em íns titutos de relacóes exteriores desQeo período de Emest Renan no final dadécadadeI840 atéopresente nos Estados Unidos deveser algo maís formidável que urna mera coie9iíode mentiras O orientalismo por tanto iiAoé ilrna fantasía avoada da Europa sobre o Oriente masum corpocriado de teoría e prafiCaem que houve por multas considerável ínvestímento material O investimento continuado fez do orientalismo como sistema de conhecimento sobre o Oriente urna tela aceitável para filtrar o Oriente para a consciencia ocidental assim como esse mesmo investimento multiplicou na verdade tornou real mente produtivas a partir doQrien te para a cultura geral Gramsci fez a proveitosa distincáo entre as sociedades civil e polí tica em que a primeira é feita de afiliacóes voluntárias ou pelo menos racionais e naocoercitivas como escolas familias e sindicatos e a úl tima de instituicóes estatais exército policía burocracia central cujo papel na entidade política é a dominacáo direta A cultura é claro será vista operando nos marcos da sociedade civil onde a influencia das ídéías ínstituicóes e outras pessoas nao atua por meio da domina cáo mas por aquilo que Gramsci chama de consenso Em qualquer sociedade náototalitária entáo certas formas culturais predominam sobre outras do mesmo modo que certas idéias sao mais infiuentes que outras a forma dessa lideranca cultural é o que Gramsci identificou 18 rl como hegemonía um conceito indispensável para qualquer entendi mento da vida cultural no Ocidente industrial É a hegemonía ou me lhor o resultado da hegemonia em acáo que confere ao orientalismo a durabilidade e a íorca sobre as quais estive falando até agora O oríen está longe daquilo que Denys Hay chamou de idéjada 3 uma coletiva que líñ6s emcon traste com todos aqueles náoeuropeusiedaatopdeserargiimen rillilaI colllPonente na cultura européiaépredsamente o que toiiiaessa cultura hegemónica tanto na Europa quanto fora dela identidade européia como sendo superior em comparacáo com todos os POyOS e culturas náoeuropeus AIém disso está a hege monia das idéias européias sobre o Oriente que por sua vez reiteravam a superioridade européia sobre o atraso oriental desconsiderando nor malmente a possibilidade de que um pensador mais independente ou mais cético pudesse ter opiníóes diferentes sobre a questáo De maneira bastante constante o orientalismo depende para a sua estratégia dessa superioridade posicional flexível que púe o oei em toda urna possfyeis coro o Oriente jamais a vantagem relativa E por que deveria ter sido dife rente especialmente durante o período de extraordinária ascendencia européia do final da Renascenca até o presente O cientista o erudito o missionário o negociante ou o soldado estavam no Oriente ou pensa vam nele porque podiam estar tú ou podiam pensar sobre ele com muito pouca resistencia da do Oriente Sob o titulo geral de co nhecimento do Oriente e com a cobertura da hegemonia ocidental sobre o Oriente durante o período que comeca no final do século XVIII surge um complexo Oriente adequado para estudos na academia para exposicáo no museu para reconstrucáo no departamento colonial para ílustracáo teórica em teses antropológicas biológicas lingüísticas ra ciais e históricas sobre a humanidade e o universo para exemplos de teorias económicas e sociológicas de desenvolvimento revolucáo per sonalidade cultural e caráter nacional ou religioso Além dísso o exame imaginativo das coisas orientais estava baseado mais ou menos exclusi vamente em urna consciencia européia soberana de cuja inconteste centralidade surgiu um mundo oriental primeiro de acordo com idéias gerais sobre quem e o que era oriental depois segundo urna lógica deta lhada governada nao apenas pela realidade empírica mas por um con junto de desejos repressóes investimentos e projecóes Se podemos indicar grandes obras orientalistas de genuína erudicáo tais como a Chrestomathie arabe Crestomatia árabe de Silvestre de Sacy OU o Account of the manners and customs ofthe modem egyptians Relato das maneiras e costumes dos modernos egipcios de Edward William 19 Lane ternos de observar também que as idéias raciais de Renan e Go bineau tiveram a mesma origem assim como uro grande número de novelas pornográficas vitorianas ver a análise de The lustful turk O turco luxurioso de Steven Marcus E contudo devemos perguntarnos repetidamente se o que im porta no orientalismo é o grupo geral de idéias atropelando a massa de material o qua nao se pode negar está permeado de doutrinas de superioridade européia vários tipos de racismo imperialismo e afins vísóes dogmáticas do oriental como um tipo de abstracáo ideal e inalterável ou o trabaho muito mais variado produzido por quase incontáveis escritores individuais que podem ser tomados como exem plos individuais de autores tratando do Oriente De certo modo as duas alternativas geral e particular sao na verdade duas perspectivas sobre o mesmo material nos dois exemplos teriamos de tratar com pioneiros no ramo como William Jones coro grandes artistas como Nerval ou Flaubert E por que nao seria possivel usar ambas as perspectivas jun tas ou urna após a outra Nao haveria uro óbvio perigo de distorcáo precisamente do mesmo tipo para o qua o orientalismo sempre teve inclinacáo se um nivel de descricáo gera demais ou específico demais fosse mantido sistematicamente Meus dais temores sao a distorcáo e a falta de precisáo OU antes o tipo de distorcáo produzido por urna generalidade dogmática demais e por um foco localizado positivista demais Ao tentar lidar com esses problemas tentei lidar com tres aspectos principais da minha própria realidade contemporánea que me parecem apontar a saida das dificul dades metodológicas ou de perspectiva que estive discutindo dificul dades que nos poderiam forcar no primeiro exemplo a escrever urna polémica grosseira em um nível de descricáo tao inaceitavelmente geral que nao valeria o esíorco OU no segundo exemplo a escrever urna série tao detalhada e atomística de análises que perderia totalmente de vista as linhas gerais de íorca que informam o campo dandolhe a sua espe cial irrefutabilidade Como entáo reconhecer a individualidade e reconciliála com o seu contexto geral e hegemónico inteligente e de modo algum passivo ou meramente ditatorial III Mencionei tres aspectos da minha realidade contemporánea tenho agora de explicáIos e discutiIos brevemente de maneira que se possa ver como cheguei a um curso determinado de pesquisa e escrita 20 1 A distinciio entre conhecimento puro e conhecimento político É muito fácil argumentar que o conhecimento sobre Shakespeare ou Wordsworth nao é político enquanto o conhecimento sobre a China ou a Uniáo Soviética contemporáneas o é A minha própria designacáo for mal e profissional é humanista um título que indica as humanidades como o meu campo e portanto a improvável eventualidade de que haja qualquer coisa de político no que eu íaco nesse campo É claro que todas essas etiquetas e termos quase nao tém matizes quando os uso aqui mas a verdade geral do que estou assinalando é acredito eu amplamente aceita Urna das razóes para que se diga que um huma nista que escreve sobre Wordsworth ou um editor cuja especialidade é Keats nao está envolvido em nada de político é que o que ele faz nao parece ter qualquer efeito direto sobre a realidade em um sentido cor rente Um erudito cujo campo é a economia soviética trabalha em urna área altamente carregada em que há muito interesse do governo e o que ele possa produzir em materia de estudos ou propostas será apro veitado por quem toma decisñes por funcionários do governo por eco nomistas institucionais e por peritos em inforrnacáo A distincáo entre humanistas e pessoas cujo trabalho tem implicacóes políticas ou significacáo política pode ser ampliada pela afirrnacáo de que a cor ideológica do primeiro é urna questáo de importancia incidental para a política embora possivelmente de grande importancia para os seus co legas no mesmo campo que podem ter objecóes ao seu stalinismo ou fascismo ou liberalismo tranqüilo demais ao passo que a ideologia do último está diretamente implicada no seu material de fato na mo derna academia a economia a política e a sociologia sao ciencias ideo lógicas e portanto é considerada como inequivocamente política Mesmo assim a imposicáo determinante sobre a maior parte do conhecimento produzido no Ocídente contemporáneo e aquí estou fa lando principalmente sobre os Estados Unidos é de que ele seja apolí tico ou seja erudito académico imparcial e acima de qualquer crenca doutrinária engajada ou limitada Nao se pode objetar com essa ambi cáo em teoría talvez mas na prática a realidade é muito mais proble mática Ninguém nunca descobriu um método para separar o erudito das circunstáncias da vida do fato do seu envolvimento consciente ou inconsciente com urna classe com um conjunto de crencas urna po sicáo social ou da mera atividade de ser um membro da sociedade Tudo isso continua a ter influencia no que ele faz profissionalmente ainda que naturalmente a sua pesquisa e os frutos dela tentem alean car um nível de relativa liberdade com respeito as inibicóes e restricóes da crua realidade cotidiana Pois existe um conhecimento que é menos em vez de mais parcial que o indivíduo com as circunstancias emba 21 j racosas e perturbadoras de sua vida que O produz Mas nem por isso esse conhecimento é automaticamente apolítico Se as discussóes de literatura ou de filologia c1ássica estáo ou nao carregadas de significado político ou o tém indiretamente é uma questáo muito ampla que eu tentei tratar com algum detalhe ernoutra parteiO que me interessa agora é sugerir como o consenso geral djue o verdadeiro conheciento é apoh tico e de que ao contrário o conhecirnento abertamente político nao e conhecimento verdadeiro obscurece as circunstancias politicas ex tremamente organizadas ainda que de modo obscuro que predomi nam quando o conhecimento é produzido Ninguém ganha em entendi mento disso hoje ero dia quando o termo político é usado como urna etiqueta para desacreditar qualquer trabalho que ouse o colo de pretensa objetividade suprapolítica dlZer que a sociedade civil reconhece uma graduacáo de nos vários campos de conhecimento Ero certa medida a importancia política atribuida a um campo vem da possibilidade sua ta ducáo ero termos económicos mas ero urna escala maior a importan cia política vem da proximidade de um campo em relacáo a fontes ve ficáveis de poder na sociedade política Desse modo um estudo econo mico do potencial energético a longo prazo da Uniáo Soviética e os seus efeitos sobre a capacidade militar tem probabilidades de ser encomen dado pelo Departamento de Defesa adquirindo com isso um tipo de categoria politica impossivel para um estudo dos primeiros trabalhos de ñccáo de Tolstoi parcialmente financiado por No entanto ambos os estudos pertencem ao que a sociedade civil reco nhece como uro campo similar estudos russos embora uro dos traba lhos possa ser feíto por uro economista muito e o outro por um historiador literário radical O que dizer ue Rússia como tema geral tem prioridade política sobre distincóes mais sutis como economia ou história literária porque a sacie dade política no sentido de Gramsci infiltrase em da socie dade civil tais como a academia e saturaos com signiíicacóes que lhe dizem respeito diretamente Nao quera continuar a sublinhar isso ero niveis teóricos gerais pareceme que o valor e a credibilidade da minha argumentacáo podem ser demonstrados se forem muito mais específicos do mesmo modo por exemplo como Noam Chomsky estudou a conexác entre a Guerra do Vietná e a nocáo de erudicáo objetiva tal como f01 aplicada na pesquisa militar patrocinada pelo Estado Ora posto que a Inglaterra a Franca e mais recentemente os Estados Unidos sao poderes imperiais suas sociedades políticas transmitem as suas socie 22 dades civis um sentimento de urgencia como se fosse urna infusáo poli tica direta onde e quando quer que quest5es relativas aos seus interes ses imperiais estejam em jogo Duvido que seja controverso por exem plo dizer que um ingles na India ou no Egito no final do século XIX tinha por estes paises um interesse que nunca estava muito afastado da sua condicáo na mente dele de col8nias británicas Dizer isso pode parecer muito diferente de dizer que todo conhecimento académico sobre a india e o Egito está de algum modo marcado e violado pelo fato político vulgar e no entanto isso é o que estou dizendo neste estudo do orientalismo Pois se for verdade que nenhuma producáo de conhecimento nas ciencias humanas pode jamais ignorar ou negar o envolvimento de seu autor como sujeito humano em suas pr6prias cir cunstancias deve entáo ser verdade também que para um europeu ou um americano que esteja estudando o Oriente nao pode haver negacáo das círcunstáncias mais importantes da realidade dele que ele chega ao Oriente primeiramente como um europeu ou um americano e de pois como individuo E ser um europeu ou um americano nessa situa 9ao nao é de modo algum um fato inerte Queria e quer dizer estar consciente ainda que vagamente de se fazer parte de urna potencia com interesses definidos no Oriente e mais importante de que se per tence a uma parle da terra com uma hist6ria definida de envolvimento no Oriente quase desde os tempos de Homero Colocadas desse modo essas realidades políticas sao ainda inde finidas e gerais demais para serem realmente interessantes Qualquer um estaria de acordo com elas sem necessariamente estar de acordo que elas eram muito importantes por exemplo para Flaubert quando ele estava escrevendo Salammb6 ou para H A R Gibb quando ele escreveu Modern trends in Islam ICorrentes modernas do islá O pro blema é que há uma distancia grande demais entre o grande fato domi nante tal como o descrevi e os detalhes da vida cotidiana que gover nam a disciplina minuciosa de um romance ou de um texto erudito quando estáo sendo escritos Se desde o comeco porém eliminarmos qualquer nocáo de que os grandes fatos podem ser mecánica e deter ministicamente aplicados a questóes tao complexas como a cultura e as idéias comecaremos entáo a abordar um tipo interessante de estudo A minha idéia é que o interesse europeu e depois americano pelo I Oriente era político de acordó com alguns de seus históricos 6bvios que masque Ioi criou esse interesse I que agiu dinamiámente emtz com as indisfar9adas fundamen tacóes políticas económicas e militares para fazer do Oriente o lugar variado e complicado que ele obviamente era no campo qúéeu chamo de orientalismo 23 Portanto o orientalismo nao é um mero tema político de estudos ou campo refletido passivamente pela cultura pela erudicáo e pelas instituicñes nem é uma ampla e difusa colecáo de textos sobre o Oriente nem é representativo ou expressivo de algum nefando compló imperialista ocidental para subjugar o mundo oriental É antes uma distribuiciio de consciencia geopolítica em textosestéticos erudi toso sociológicos históricos e umaelaboraao nao só de urna distincáo geográfica básica o mundo é feito de duas metades o Ocidente e o Oriente como também de toda uma série de interesses que através de meios como a deseoberta erudita a recons trucáo filológica a análise psicológica e a descricáo paisagística e socio lógica o orientalismo DaD apenas cria como mantém ele é ero vez de expressar urna certa vontade ou intenciio de entender e ero alguns casos controlar manipular e até incorporar aquilo que é uro mundo 1 manifestamente diferente ou alternativo e novo é acima de tudo uro discurso que DaD está de maneiraalgumaerorelacáo direta corres pondente ao poder politico em si mesmo mas que antes é produzido e existe em um intercambio desigual com vários tipos de poder moldado em certa medida pelo intercambio com o poder politico como uma ordem colonial ou imperial com o poder intelectual como as ciencias reinantes da lingüística comparada ou anatomía ou qualquer urna das modernas ciencias ligadas a decisáo política com o poder cultural como as ortodoxias e cánones de gosto textos e valores com o poder moral como as idéias sobre o que nós fazemos e o que eles nao podem fazer ou entender como nós fazemos Coro efeito o meu verdadeiro argumento é que o orientalismo é e nao apenas repre senta uma considerável dirnensáo da moderna cultura políticointe lectual e como tal tem menos a ver com o Oriente que com o nosso lnundo Por ser o orientalismo uro fato político e cultural entáo ele nao existe em algum tipo de vácuo de arquivo muito pelo contrário acho que pode ser demonstrado que o que é pensado dito ou até mesmo feito sobre o Oriente segue e talvez ocorre dentro dos limites de certas linhas distintas e intelectualmente conhecíveis Também nesse ponto um grau considerável de matízacáo e elaboracáo pode ser visto em acáo entre as pressóes superestruturais mais amplas e os detalhes de compo sicáo os fatos de textualidade A maioria dos eruditos humanistas está perfeitamente avontade pareceme com a nocáo de que os textos exis tem em contextos que existe algo como a intertextualidade que a pres sao das convencées dos predecessores e dos estilos retóricos limitam aquilo que Walter Benjamin chamou de sobretaxacáo da pessoa pro dutiva em nome do l princípio da criatividade segundo o qual se 24 acredita que o poeta produz sua obra sozinho e tirandoa da sua mente pura Existe contudo uma resistencia em admitir que as coacóes poli tícas institucionais e ideológicas agem igualmente sobre o autor índi L vidual Um humanista considerará interessante para qualquer estu dioso de Balzac o fato de que este tenha sido influenciado na Comédia humana pelo conflito entre Geoffroy SaintHilaire e Cuvier mas o mesmo tipo de pressáo sobre Balzac exercída pelo monarquismo pro fundamente reacíonário parece diminuir de alguma maneira vaga o seu genio líterárío e portanto ter menor valor para uro estudo sé rio De maneira similar como Harry Bracken vem demonstrando incansavelmente os filósofos podem conduzir suas discussóes sobre Locke Hume e o empirismo sem jamaís levar em consideraeáo o fato de que há uma conexáo explícita nesses escritores clássicos entre suas doutrinas filosóficas e a teoria racial as justiñcacóes da escravidáo e a defesa da exploracáo colonial Estes sao meios bastante comuns pelos quais a erudicáo contemporánea se mantém pura Talvez seja verdade que a maioria das tentativas de esfregar o nanz da cultura na lama da política tenha sido rudemente iconoclasta talvez também a interpretacao social da literatura em meu próprio campo nao tenha acompanhado simplesmente os enormes avances da análise textual detalhada Mas nao há como escapar ao fato de que os estudos literários em geral e os teóricos marxistas americanos em par ticular tém evitado o esforco de fechar seriamente a brecha entre os níveis básico e superestrutural na erudicáo textual e histórica em outra ocasiáo cheguei até a dizer que o establishment literáriocultural como um todo tinha declarado estar fora dos limites o estudo sério do impe rialismo e da cultura Pois o orientalismo póenos diretamente frente a esta questáo isto é faznos perceber que o imperialismo político domina todo umcampo de estudo imagínacáo e ínstituicóes erudi L tas de tal modo que torna o fato impossível de ser ignorado inte lectual e historicamente No entanto haverá sempre o perene meca nismo de escape de dizer que um erudito literário e um filósofo por exemplo sao treinados respectivamente em literatura e em filosofia nao em politica ou análise ideológica Em outras palavras o argumento especialista pode agír com muita eficácia para bloquear a perspectiva mais ampla e na minha opiniáo mais séria intelectualmente Pareceme haver aqui uma simples resposta em duas partes a ser dada pelo menos no que diz respeito ao estudo do imperialismo e da culturaou orientalismo Em primeiro lugar quase todos os escritores do século XIX e o mesmo vale para muitos escritores de periodos ante riores estavam extraordinariamente conscientes do fato do império esse é uro tema nao muito bem estudado mas nao será preciso rnuito tempo para um moderno especialista vitoriano admitir que her6is cul turais liberais como John Stuart Mili Arnold Carlyle Newman Ma caulay Ruskín George Eliot e até Dickens tinham opinióes definidas sobre raca e imperialismo facilmente detectáveis em acáo nos seus es critos De modo que até mesmo um especialista deve enfrentar o conhe cimento que Mili por exemplo deixou claro em On liberty e em Repre sentative government Sobre a liberdade Governo representativo de que as opinióes que ele expressava nesses livros nao podiam ser apli cadas na India ele foi funcionário do India Office durante grande parte de sua vida afinal de contas porque os indianos eram inferiores em termos de civilízacáo se nao de raca a mesmo tipo de paradoxo pode ser encontrado em Marx como tento mostrar neste livro Em segundo lugar acreditar que a política na forma de imperialismo tem influencia sobre a producáo de literatura erudicáo teoria social e a escrita da hist6ria de modo algum equivale a dizer que a cultura é urna coisa diminulda oudenegrida Muito pelo contrário tudo o que eu quero éfuiréque podmos entender melhor a persistencia e a durabi lidade de sistemas hegemónicos saturantes como a cultura quando nos damos conta de que as suas coacóes internas sobre escritores e pensa dores eram produtivas e nao unilateralmente inibidoras Esta é a idéia que Gramsci Foucault e Rayrnond Williams estiveram tentando ilus trar cada um a sua maneira Até mesmo urna ou duas páginas de Williams sobre os usos do Império em The long revolution lA longa revolucáo dizemnos mais sobre a riqueza cultural do século XIX que muitos volumes de análises textuais herméticaslO Estudo o orientalismo portanto como um intercambio díná mico entre autores individuais e os grandes interesses políticos molda dos pelos tres grandes impérios británico francés americano em cujos territ6rios intelectuais e imaginativos a escrita foi produzida a que mais me interessa como estudioso nao é a verdade política nua mas o deta1he assim como na verdade o que nos interessa em alguém como Lane ou Flaubert ou Renan nao é a para ele indiscutível ver dade de que os ocidentais sao superiores aos orientais mas a evidencia profundamente trabalhada e modulada do seu trabalho detalhado nos marcos do enorme espaco aberto por essa verdade Ternos apenas de lembrarque o Manners and customs ofthe modern egyptians de Lane é um clássico da observacáo hist6rica e antropol6gica devido ao seu estilo e aos seus detalhes enormemente inteligentes e brilhantes e náo por causa da sua simples reflexáo da superíorídade racial para enten der o que estou dizendo aquí a tipo de questóes políticas colocadas pelo orientalismo por tanto é o seguinte que outros tipos de energias intelectuais estéticas 26 b e culturais participaram da formacáo de urna tradicáo impe rialista como a orientalista Como foi que a filologia a lexicografia a história a biología a teoria económica e política a criacáo de ro mances e a poesía lírica entraram para o servico da visáo amplamente imperialista que o orientalismo tern do mundo Que rnudancas modu lacóes refinamentos e até revolucóes tém lugar no interior do orienta lismo Qual é neste contexto o significado da originalidade da conti nuidade da individualidade Como é que o orientalismo se transmite e reproduz de urna época para outra Finalmente como podemos tratar o fenómeno cultural e histórico do orientalismo como uro tipo de obra humana in duzida e DaD UID mero raciocínio incondicionado em toda a sua complexidade hist6rica detalhe e valor sem ao mesmo tempo perder de vista a alianca entre o trabalho cultural as ten dencias políticas e o estado e as realidades específicas da dominacáo Governado por tais preocupacóes um estudo humanístico pode diri girse responsavelmente a política e a cultura Mas isso nao quer dizer que esse estudo estabelece urna regra firme e segura sobre a relacáo entre o conhecimento e a política O que eu afirmo é que cada investigacáo humanística deve formular a natureza dessa cone xáo no contexto específico do estudo do tema e das suas circuns tancias históricas 2 A questiio metodológica Em um livro anterior dediquei muita reflexáo e análise importancia metodológica para o trabalho nas cien cias humanas de se encontrar e formular um primeiro passo um ponto de partida um princípio inicial Urna grande licáo que eu aprendi e tentei transmitir é que nao existe nada parecido com um ponto de partida meramente dado ou simplesmente disponível para cada projeto devem ser feitos os come cos de tal modo que estes lhes permitam urna seqüéncía Em nenhum ponto da minha experiencia a dificuldade dessa licáo foi sentida mais conscientemente com que sucesso ou fracasso nao posso dizer real mente que neste estudo sobre o orientalismo A idéia de comecar de fato o ato de cornecar implica necessariamente um ato de delimitacño por meio do qual algo é cortado de urna grande massa de material separado dessa massa e transformado em urna representacáo do ponto de partida do comeco além de ser esse comeco para o estudante de textos urna tal nocáo de delimitacáo inaugural é a idéia do problemá tico de Louis Althusser urna unidade determinada específica de um texto ou grupo de textos que é algo que surge mediante a análiseF Porém no caso do orientalismo ao contrário do caso dos textos de Marx que é o que Althusser estuda nao há apenas o problema de en contrar um ponto de partida ou problemático mas também a questáo 27 I i I il 1 de assinalar quais textos autores e períodos sao os mais adequados para o estudo Pareceume urna tolice tentar urna história narrativa enciclopé dica do orientalismo primeiramente porque se a minha linha mestra fosse a idéia européia do Oriente nao haveria virtualmente nenhum limite para o material com o qual eu teria de lidar em segundo lugar porque o próprio modelo narrativo nao servia os meus interesses descri tivos e políticos terceiro porque em livros como La renaissance orien tale A renascenca oriental de Raymond Schwab Die Arabischen Studien in Europa bis in den Anfang des 20 Jahrhunderts Os estudos árabes na Europa até o início do século XX de Johan Fück e mais recentemente The matter ofAraby in medieval England A questáo da Arábia na Inglaterra medieval 13 de Dorothee Metlitzki já existem trabalhos enciclopédicos sobre certos aspectos do encontro Europa Oriente que tornam o trabalho do critico no contexto intelectual e politico geral que eu esbocei acima dilerente Havia ainda o problema de dimínuir um arquivo bem repleto para dimensóes administráveis e mais importante esbocar algo pare cido com urna ordem intelectual nesse grupo de textos sem ao mesmo tempo seguir urna ordem insensatamente cronológica O meu ponto de partida íoi portanto a experiencia británica francesa e americana no Oriente considerada como urna unidade o que fez essa experiencia possível em termos de base intelectual e histórica e qual a qualidade e o caráter dessa experiencia Por razóes que discutirei mais tarde limi tei o já limitado mas ainda desordenadamente grande conjunto de questóes relativas aexperiencia anglofrancoamericana dos árabes e do isla que durante quase mil anos representaram o Oriente Assim que isso foi leito urna grande parte do Oriente pareceu ter sido elimínada india Japáo China e outras regióes do Extremo Oriente nao porque essas regióes nao fossem importantes o que elas obviamente foram mas porque se podía discutír a experiencia européia do Oriente Próximo ou do isla separadamente de sua experiencia no Extremo Oriente Porém em certos momentos dessa história européia geral de interesse pelo Leste partes determínadas do Oriente como o Egito a Síria e a Arábia nao podem ser discutidas sem também se estudar o envolvimento europeu nas partes mais distantes das quais a Pérsia e a India eram as mais importantes relativo a isso um caso notável é a co nexáo entre o Egito e a india pelo menos no que diz respeito a Ingla terra dos séculos XVIII e XIX Igualmente o papel francés na deci fracáo do ZendAvesta a proemínéncia de Paris como um centro de estudos de sánscrito durante a primeira década do século XIX o fato de que o interesse de Napoleáo no Oriente dependía do seu sentído do 28 IIL papel británico na Índia todos esses interesses do Extremo Oriente influenciaram diretamente o interesse francés pelo Oriente Próximo pelo isla e pelos árabes A Inglaterra e a Franca dominaram o Mediterráneo oriental desde o fínal do século XVII em diante mas a mínha discussáo dessa domínacáo e desse interesse sistemático nao faz justica a a as impor tantes contribuicóes ao orientalismo da Alemanha da Itália da Espa nha e de Portugal e b o lato de que um dos ímportantes impulsos para o estudo do Oriente no século XVIII foi a revolucáo nos estudos bíbli cos estimulada por pioneiros variadamente interessantes como obispo Lowth Eichhorn Herder e Michaelis Em prímeiro lugar tive de me concentrar rigorosamente no material francobritánico e mais tarde no americano pois parecia inevitavelmente verdadeiro nao só que a Ingla terra e a Franca eram as nacóes pioneiras no Oriente e nos estudos orientais como também que essas posicóes de vanguarda foram man tidas gracas as duas maiores redes coloniais da história anterior ao século XX a posicáo oriental americana desde a Segunda Guerra adap touse bastante envergonhadamente creio aos lugares escavados pelas duas potencias européias anteriores Além disso acredito tam bém que a enorme qualidade consistencia e massa dos trabalhos britá nicos franceses e americanos sobre o Oriente erguemnos acima do trabalho sem dúvida crucial feito na Alemanha na Itália na Rússía e em outros lugares Mas acho que também é verdade que os passos mais importantes da erudicáo oriental foram dados primeiramente na Ingla terra ou na Franca e depois elaborados pelos alemáes Silvestre de Sacy por exemplo nao foi apenas o primeiro orientalista europeu mo derno e institucional que escreveu sobre o isla a literatura árabe a religiáo drusa e a Pérsia sassánida foi também o professor de Cham pollion e de Franz Bopp o fundador da lingüística comparada alemá Urna reivindicacáo semelhante de príoridade e subseqüente proemi néncia pode ser feita a respeito de William Jones e Edward William Lane Em segundo lugar e aquí as falhas do meu estudo sobre o orientalismo sáo amplamente compensadas houve alguns trabalhos recentes ímportantes sobre a base de erudicáo bíblica do surgimento daquilo que chamei de oríentalismo moderno O melhor e mais ilumi nadoramente relevante é o impressionante Kubla Khan and the fall ofJerusalem Kubla Khan e a queda de Jerusalém de E S Shaffer um estudo indispensável sobre a origem do romantismo e a atividade íntelectual que sustenta grande parte do que acontece em Coleridge Browning e George Eliot Em certa medida a obra de Shaf fer é urn refinamento dos esbocos encontrados em Schwab mediante a 29 articulacáo do material relevante que se encontra nos estudiosos bíbli cos alernáes e o uso desse material para interpretar de modo inteli gente e sempre interessante o trabalho de tres grandes escritores britá nicos Mas falta no liVTO urna indícacáo do viés politico assim como ideológico dado ao material oriental pelos escritores franceses e britá nicos coro os quais me ocupo principalmente além disso ao contrário rde Shaffer eu tento elucidar os desenvolvimentos subseqüentes do orientalismo académico e também literário que tem a ver com a cone Kilo entre o orientalismo británico e francés por uro lado e o surgi mento de um imperialismo de orientacáo explicitamente colonial pelo outro Queratambém mostrarcomo todas essas primeiras questóes sao mais ou menos reproduzidas pelo orientalismo americano depois da Segunda Guerra Há no entanto um aspecto possivelmente enganador no meu estudo quando além de alguma referencia ocasional nao discuto exaustivamente os desenvolvimentos alemáes posteriores ao período inaugural dominado por Sacy Qualquer trabalho que tente prover um entendimento do orientalismo académico e de pouca atencáo a eruditos como Steinthal Mül1er Becker Goldziher Brockelmann Noldeke para mencionar só UDS quantos deve ser censurado e eu mesmo me censuro liberalmente Lamento particularmente nao ter dado mais im portancia ao grande prestigio cientifico atribuido aerudicáo alemá por volta de meados do século XIX o desconhecimento desse prestigio foi transformado em uma denúncia dos estudiosos insulares británicos por George Eliot Tenho em mente o inesquecível retrato do sr Casaubon emMiddlemarch Uma das razóes pelas quais Casaubon náoconsegue terminar a sua Chave para Todas as Mitologias é segundo o seu primo Will Ladislaw que ele desconhece a erudicáo alemá Pois nao só Ca saubon escolheu um tema tao mutável quanto a química novas des cobertas estáo constantemente criando novos pontos de vista ele está assumindo uma tarefa semelhante a uma reíutacáo de Paracelsus porque sabe como é ele nao é um orientalista 15 Eliot nao estava errado ao insinuar que por volta de 1830 época em que Middlemarch é ambientado a erudicáo alemá atingira a sua plena proeminéncia européia Contudo em nenhum momento na eru dicáo alemá durante os primeiros dois tercos do século XIX poderia ter se desenvolvido urna parceria íntima entre os orientalistas e um interesse nacional prolongado e sustentado pelo Oriente Nao havia nada na Alemanha que correspondesse a presenca anglofrancesa na India no Levante na África do Norte Mais ainda o Oriente alemáo era quase exc1usivamente um Oriente erudito ou pelo menos c1ássico era tema lírico fantástico novelesco até mas nunca real da maneira como o Egito e a Síria eram reais para Chateaubríand Lane Lamar tine Burton Disraeli ou Nerval Há um certo siguificado no fato de que dois dos mais renomados trabalhos alemáes sobre o Oriente o Westóstlicher Diwan Diva orientalocidentall de Goethe e o Über die Sprache und Weisheit der Indier Da lingua e sabedoria dos hindusl de Friedrich Schlegel eram baseados respectivamente em uma vía r gem pelo Reno e em horas passadas em bibliotecas parisienses O que a erudicáo oriental alerná fez foi refinar e elaborar técnicas que seriam aplicadas a textos mitos idéias e linguas literalmente colhidas no LOriente pela Inglaterra e pela Franca imperiais O que o orientalismo alemáo tinha em comum com o orienta lismo anglofrancés e mais tarde com o americano era urna espécie de autoridade sobre o Oriente no interior da cultura ocidental Essa auto ridade deve ser tema em grande parte de qualquer descricáo do orien 1 talismo e o é neste estudo Até o nome orientalismo sugere um estilo de especíalízacáo séria pesada até quando eu o aplico aos cientistas so ciais americanos de hoje visto que eles nao chamam a si mesmos de orientalistas o meu uso da palavra é anómalo é com o fim de chamar a atencáo para a maneira como os peritos no Oriente Médio ainda podem nutrirse dos vestigios da posicáo intelectual do orientalismo l na Europa do século XIX Nao natural na Elaé i rradiada disseminada e mstrumental e persuasiva tern epadr5es e valor é virtualmenteincisti1 guível de certas idéias que dignifica como verdadeiras e das tradi Y 90esperep90es e juízos que forma transmite reproduz Acima de tudo a autoridade pode e realmente deve ser analisadá Todos esses atributos da autoridade sao válidos para o orientalismo e muitodou eu faco neste estudo é descrever tanto a autoridade histórica quanto as autoridades pessoais do orientalismo Os meus principais dispositivos metodológicos para o estudo da autoridade sao o que se pode chamar de localizaciio estratégica que é do autorem um texto com relacáo ao oriental sobre o qualeteesereve e e formaciio estratégica que 2 é uma maneira de analisar a relacáo entre textos e o modo pelo qual 0C V tipos de textos e até géneros textuais adquírem massa Y jensldade referencial entre si e depois na cultura mais geral Euuso a nocáo de estratégia simplesmentepraJdentificaro que tem de enfrentar todo escritor sobre o Oriente comQªilleendelo nao ser derrotado ouesmagado sua nelassuasaterradoras dimensñes ºual eessoa que escreva sobre o Oriente 30 31 ao Oriente traduzida para o seu texto essa localizacáo inclui o de voz narrativa que ela adota o tipo que constroí tipos de imagens temas que circulam no seu texto tudo resu mindose amodos deliberados de dirigirse ao leitor de dominar o Oriente e linalmenféderepresentálo ou de lalar no seu lugar Nada DO abstrato todavía Todo aquele que escreve sobre Oriente e isso vale até para Homero presume algum antecedente algum conhecimentoprévio do Oriente ao qual ele se relere e no qual ele se baseia Além disso cada trabalho sobre o Onente s filia a outros trabalhos audiencias ínstituícóes e ao próprio O conjunto de rela90eselltre obras audiencias e parti culares do Oriente portanto constitui urna formacáo anahsavel por exemploos estudos filológicos asantologias de de literatura oriental de livros de viagens de fantasias orientais tempo no discurso e nas escolas bibliotecas servicos di autoridade Está claro esperoque minha preocupa9ao com a nao implica urna análise do que está oculto no mas ntes urna análise da superficie do texto sua extenondade com relacáo que descreve Nao acho que essa idéia possa ser enfatizada dernais O orientalismoterosuas premissas na exterioridade ou seja no fato de que o orientalista poeta ou erudito faz coro que o Oriente des creve o Oriente torna os seus mistérios simples por e para o Ele nunca se preocupacoroo Orientea DaD sercomo causapnmerra do que ele diz O que ele diz e escreve devido ao lato de ser dilo eescno quer indicar que o orientalista está fora do Oriente tanto como moralmente O principal produto dessa extenondade e claro a representa9ao já na peca de Esquilo Os persas o Oriente transfor mado de um distante e muitas vezes ameacador Outro ero sao relativamente familiares no caso de Esquilo mullieres orientats aflitas A dramática imediaticidade da representacáo em Os persas obscurece o fato de que a audiencia está assistindo a urna demonstra cáo altamente artificial daquilo que um naooriental em um simbolo de todo o Oriente A minha análise do texto orientalista portanto enfatiza a evidencia que de modo algum é de representacóes comoreErfsentOffies e náo como descricées naturais do Oriente Essa evidencia pode ser encontrada com exatamente a mesma no chamada texto verdadeiro filológicas tratados politicos como no texto abertamente artístico cía ramente imaginativo O que se deve sao os e linguagem os cenários mecanismos narrativos S tóricas e sociais e niio a correcáo da nem a sua fideli 32 dade a algum grande original A exterioridade da representacáo é sem pre governada por alguma versáo do truísmo segundo o qual se o Oriente pudesse representar si mesmo ele o faria visto que nao pode a representacáo cumpre a tarefa para o Ocidente e faute de mieux para o pobre Oriente Sie konnen sich nicht vertreten sie müssen vertreten werden Nao podem representar a si mesmos devem ser representados como escreveu Marx ero O dezoito brumário de Luís Bonaparte Outra razáo para insistir na exterioridade é que eu acho que é preciso esclarecer sobre o discurso cultural e o intercambio no interior de urna cultura que o que costuma circular nao é verdade mas repre sentacáo Nao é necessário demonstrar de novo que a própria lingua gem é um sistema altamente organizado e codificado que emprega muitos dispositivos para exprimir indicar intercambiar mensagens e inforrnacáo representar e assim por diante Em qualquer exemplo pelo menos da linguagem escrita nao existe nada do genero de urna presenca recebida mas sim urna represenca ou urna representacáo O valor a eficácia a forca e a aparente veracidade de urna declaracáo escrita sobre o Oriente portanto baseiamse muito pouco no próprio Oriente e nao podem instrumentalmente depender dele como tal Ao contrário a declaracáo escrita é urna presenca para o leitor em virtude de ter excluído deslocado e tornado supérfluo qualquer tipo de coisa autentica como o Oriente Desse modo todo o orientalismo está fora do Oriente e alastado dele que o orientalismo tenha qualquer sentido depende mais do Ocidente que do Oriente e esse sentido é diretamente tributário das várias técnicas ocidentais de representacáo que tornam o Oriente visível claro e lá no discurso sobre ele E essas representacóes utilizamse para os seus eleitos de instituicóes tradi cóes convencóes e códigos consentidos e nao de um distante e amorfo Oriente A diferenca entre as representacóes do Oriente anteriores ao úl timo terco do século XVIII e as posteriores a esse período isto é as que pertencem ao que chamo de orientalismo moderno é que o alcance da representacáo aumentou enormemente no último período É verdade que depois de William Jones e AnquetilDuperron e depois da expedí 9ao egípcia de Napoleáo a Europa ficou conhecendo o Oriente mais cientificamente para nele viver com mais autoridade e disciplina como nunca antes Mas o que importava para a Europa era a maior esfera de acáo e o refinamento muito maior que dava as suas técnicas para rece ber o Oriente Quando por volta do final do século XVIII o Oriente revelou definitivamente a idade das suas linguas ultrapassando assim as datas do pedigree divino do hebraico foi um grupo de europeus que 33 fez a descoberta passoua amante para outros estudiosos e preservoua na nova ciencia da filologia indoeuropéia Nasceu assim urna nova e poderosa ciencia para ver o Oriente lingüístico e coro ela como mos trou Foucault eroA ordem das coisas toda urnaredede interesses cien tíficos correlatos Do mesmo modo William Beckford Byron Goethe e Hugo reestruturaram o Oriente coro a sua arte e tornaram as suas luzes cores e pessoas visíveis por meio das suas imagens ritmos e mo tivos Na melhor das hipóteses o Oriente real provocou a visáo no escritor raramente ele a guían orientalismo reagiu mais acultura que o produziu que ao seu objeto putativo que também foi produzido pelo Ocidente Desse modo a história do orientalismo tem urna consistencia interna e um conjunto altamente articulado de relacóes com a cultura dominante que o ro deia Conseqüentemente minha análise tenta mostrar o formato e a organízacáo interna do campo seus pioneiros suas autoridades pa triarcais textos canónicos idéias doxológicas figuras exemplares se guidores elaboradores e novas autoridades tento também explicar como o orientalismo tomou emprestado e foi freqüentemente informado por idéias fortes doutrinas e tendencias dominantes da cultura Houve assim e há um Oriente lingüístico um Oriente freudiano um Oriente spengleriano uro Oriente darwiniano uro Oriente racista e assim por diante Mas nuncahouve nadaparecidoccmumOriente puro ou incondicionado 90 mesmo modonunca houve urna forma imaterial de Oriente e finito menos algo tao inocente corno idéia do Oriente É nessa conviccáo subjacente e nas suas conseqüén cias metodológicas que estáa minha diferenca em relacáo aos estudio sos dedicados ahistória das idéias Pois a enfase e a forma executiva e acima de tudo a efetividade material das afirrnacóes do discurso orientalista sao possíveis em modos que qualquer história hermética das idéias tende completamente a reduzir Sem essas énfases e sem essa efetividade material o orientalismo seria apenas mais urna idéia quan do é e foi muito mais que isso Decidi portanto examinar nao sóos tra balhos eruditos mas também as obras literárias as passagens políticas os textos jornalísticos livros de viagens estudos religiosos e filológicos Em outras palavras minha perspectiva híbrida é amplamente histó rica e antropológica considerando que eu acredito que todos os tex tos sao materiais e circunstanciais em maneiras que variam é claro de genero a genero e de período histórico a período histórico 1 Ao contrário porém de Michel Foucault a cujo trabalho devo muito acredito que existe urna marca determinante dos escritores indi viduais sobre o qué de outro modo seria um anónimo corpo coletivo de textos que constituem urna formacáo discursiva como o orientalismo 34 L A unidade do amplo conjunto de textos que eu analiso é em parte de vida ao fato de que freqüentemente eles se referem uns aos outros afinal de contas o orientalismo é um sistema feito para citar obras e autores O livro Manners and customs 01 the modern egyptians foi lido e citado por figuras tao variadas como Nerval Flaubert e Richard Burton Era urna autoridade de uso imperativo para qualquer um que escrevesse ou pensasse sobre o Oriente nao apenas sobre o Egito quando Nerval toma passagens emprestadas verbatim do Modern egyp tians é COm o propósito de usar a autoridade de Lane para ajudáIo a descrever Cenas de aldeias na Siria nao no Egito A autoridade de Lane e as oportunidades para citálo discriminada ou indiscriminadamente estavam lá porque o orientalismo podia conferir ao seu texto o tipo de aceitacáo distributiva que ele teve Nao há modo contudo de entender a aceitacáo de Lane sem entender também as caracteristicas peculiares do texto dele isso é igualmente válido para Renan Sacy Lamartine e Schlegel e um grupo de outros escritores influentes Foucault acha que em geral o texto ou autor individual conta muito pouco empiri camente no caso do orientalismo e talvez em nenhuma outra parte considero que nao é assim Conseqüentemente a minha análise ern prega leituras textuais detalhadas cuja meta é revelar a dialética entre o texto ou autor individual e a complexa forrnacáo coletiva para a qual a sua obra é urna contribuicáo Embora porém essa análise inclua urna ampla selecáo de escri tores este livro ainda está longe de urna história completa ou um relato geral do orientalismo A trama de um discurso tao espesso como o orientalismo sobreviveu e funcionou na sociedade ocidental devido a sua riqueza tudo o que fiz foi descrever partes dessa trama em certos momentos e meramente sugerir a existencia de um todo maior deta lhado interessante semeado de figuras textos e acontecimentos fasci nantes Consoleime acreditando que este livro é um entre vários e esperando que haja estudiosos e críticos que queiram escrever outros Há ainda um ensaio geral a ser escrito sobre imperialismo e cultura outros estudos examinaráo mais profundamente a conexáo entre orien talismo e pedagogia ou o orientalismo italiano holandés alernáo ou suíco ou a dinámica entre erudicáo e escrita imaginativa ou a relacáo entre idéias administrativas e disciplina intelectual Talvez a tarea mais importante de todas seria o estudo das alternativas contemporá neas para o orientalismo que investigue como se podem estudar outras culturas e outros POyOS desde urna perspectiva libertária ou náorepres siva e náomanipulatíva Nesse caso porém teríamos de reestudartodo o complexo problema de conhecimento e poder Essas sao todas tareas deixadas embaracosamente incompletas neste estudo 35 A última e talvez autoadulante observacáo sobre o método que quera fazer aquí é que escrevi este livro pensando ero vários públicos Para estudantes de literatura e crítica o orientalismo oferece um mara vilhoso exemplo de interrelacáo entre a sociedade a história e a tex tualidade além disso o papel cultural do Oriente no Ocidente liga o orientalismo aideología apolítica e alógica do poder questñes de im portancia acho para a comunidade literária Para os estudantes con temporáneos do Oriente das universidades aos centros de decisáo poli tica escrevi com dais objetivos em mente um apresentarlhes sua pró pria genealogía intelectual em um modo que ainda nao foi feíto dais criticar com a esperanca de provocar a discussáo as suposicóes muitas vezes inquestionadas das quais grande parte do trabalho deles depende Para o leitor em geral este estudo trata de questóes que sem pre atraem a atencáo todas elas conectadas nao só com as concepcóes e tratamentos ocidentais do Outro mas também com o papel singular mente importante da cultura ocidental no que Vico chamou de mundo de nacóes Por último para leitores do chamada Terceiro Mundo este estudo se propóe como um passo em direcáo a um entendimento nao tanto da política ocidental e do mundo náoocidental nessa política como daarra do discurso cultural ocidental urna íorca muitas vezes considerada erroneamente como algo decorativo ou superestrutu ral Minha esperanca é ilustrar a formidável estrutura da dorninacáo cultural e especificamente para povos outrora dominados os perigos e tentacóes de se empregar essa estrutura sobre si mesmo e sobre os outros Os tres langas capítulos e as doze unidades mais curtas em que se divide este livro tém a intencáo de facilitar a exposicáo tanto quanto possível O capítulo 1 O ámbito do orientalismo traca um amplo círculo em torno de todas as dimensóes do tema tanto em termos de tempo e experiencia históricos como em termos de temas filosóficos e políticos O capítulo 2 Estruturas e reestruturas orientalistas tenta acompanhar o desenvolvimento do orientalismo moderno mediante urna descricáo amplamente cronológica e também mediante a descri cáo de um conjunto de mecanismos comuns 11 obra de importantes poe tas artistas e eruditos O capítulo 3 O orientalismo hoje comeca ande termina o anterior por volta de 1870 Este é o periodo da grande expansáo colonial para o Oriente que culmina na Segunda Guerra A última secáo do terceiro capítulo caracteriza o deslocamento da hege monia británica e francesa para a americana nessa secáo finalmente eu tento esbocar as atuais realidades intelectuais e sociais do orienta lismo nos Estados Unidos 3 A dimensiio pessoal Nos Cadernos do cárcere Gramsci diz 36 o ponto de partida daelaboracáo crítica é a consciencia do que se é real mente e é o conhecete a ti mesmo como um produto do processo histórico até o momento que depositou em ti urna infinidade de traeos sem deixar um inventário Inexplicavelmente a única traducáo inglesa disponível deixa o comentário de Gramsci nisso quando na verdade o texto italiano con clui agregando Portanto é imperativo no início compilar tal inven tário 16 Muito do meu investimento pessoal neste estudo deriva da minha consciencia de ser um oriental como urna crianca que cresceu em duas colonias británicas Toda a minha educacáo nessas colonias Pa lestina e Egito e nos Estados Unidos foi ocidental e no entanto aquela profunda primeira impressáo permaneceu De muitas maneiras o meu estudo do orientalismo foi urna tentativa de inventariar ero mim o oriental os traeos dessa cultural cuja dorninacáo foi um fator tao poderoso na vida de todos os orientais É por isso que para miro o Oriente islámico teve de ser o centro da atencáo Se o que consegui é ou nao o inventário receitado por Gramsci nao cabe a mim julgar embora me tenha parecido importante estar consciente de estar tentando fazer um Enquanto isso tao severa e racionalmente quanto pude tentei manter urna consciencia crítica além de empregar os instrumentos de pesquisa histórica humanística e cultural de que a minha educacáo me tornou o afortunado beneficiário Em nada disso contudo perdi ja mais de vista a realidade cultural do envolvimento pessoal de ter sido constituído como um oriental As circunstancias históricas que tornaram possível tal estudo sao bastante complexas e aqui só posso enumeráIas esquematicamente Qualquer pessoa que tenha residido no Ocidente desde os anos SO particularmente nos Estados Unidos terá atravessado urna era de extraordinária turbulencia nas relacóes entre o Leste e o Oeste Nin guém terá deixado de notar de que modo Leste sempre quis dizer pe rigo e ameaca durante esse período mesmo que fosse o Oriente tradi cional além da Rússia Nas universidades um número crescente de programas e institutos de estudos de área tornou o estudo erudito do Oriente um ramo da política nacional Os negócios públicos deste pais incluem um saudável interesse pelo Oriente tanto pela sua importan cia estratégica e política quanto pelo seu tradicional exotismo Se o mundo tornouse imediatamente acessível para o cidadáo ocidental que vive na era eletróníca o Oriente também ficou mais próximo e talvez seja agora menos um mito que um lugar permeado por interesses oci dentais e especialmente americanos 37 1 1 tera de certo modo como ser humano portanto DaD é para mirourna questáo exclusivamente académica mas é urna questáo intelectual de urna importancia bastante óbvia Fui capaz de utilizar os meus interes ses políticos e humanísticos na análise e na descricáo de urna questáo bem terrena a ascensáo desenvolvimento e consolidacáo do orientalis mo Com demasiada freqüéncia supóese que a literatura e a cultura sao política e até historicamente inocentes para mím as coisas pare cem diferentes e certamente omeuestudo doorientalismoconvenceume e espero que convenca os meus colegas literários de que a sociedade e a cultura literária só podem ser entendidas e estudadas juntas Além disso e por urna lógica quase inelutável encontreime escrevendo a história de um estranho e secreto partidário do antisemitismo ociden tal Que esse antisemitismo e tal como o discuti em sua versáo isla mica o orientalismo se parecem intimamente é urna verdade histórica cultural e política que precisa apenas ser mencionada para um árabe palestino a fim de que sua ironia seja perfeitamente entendida Mas eu também gostaria de ter contribuído aqui com um melhor entendimento da maneira como a dorninacáo cultural operou Se isso estimular um novo tipo de relacóes com o Oriente se na verdade isso eliminar o Oriente e o Ocidente como um todo teremos avancado um poueo no processo daquilo que Raymond Williams chamou de desaprendí zado do modo dominativo inerente l Um aspecto do mundo eletrónico pósmoderno é que houve um reforce dos estereótipos pelos quais o Oriente é visto A televisáo os filmes e todos os recursos da mídia íorcaram a informacáo para dentro de moldes cada vez mais padronizados No que diz respeito ao Oriente a padronizacáo e a estereotipacáo cultural intensificaram o domínio da demonologia académica e imaginativa do Oriente misterioso Em lugar algum isso é mais verdadeiro que nos modos como o Oriente Próximo é compreendido Tres coisas contribuíram para transformar até mesmo a mais simples percepcáo dos árabes e do isla em urna ques tao altamente politizada quase áspera urna a história do preconceito popular antiárabe e antiislámíco no Ocidente imediatamente rene tido na história do orientalismo duas a luta entre os árabes e o sio nismo israelita e os seus efeitos sobre o judeu americano bem como sobre a cultura liberal e a populacáo em geral tres a quase total ausencia de qualquer posicáo cultural que tornasse possível seja iden tificarse com os árabes e com o isla seja discutilos com isencáo Além disso quase nao é preciso dizer que posto que o Oriente Médio está hoje identificado com a política das Grandes Potencias com a política do petróleo e com a dicotomia simplista do democrático e amante da liberdade Israel e os árabes maus totalitários e terroristas as chances de qualquer coisa parecida com urna visáo clara de sobre o que se está falando quando se está falando sobre o Oriente Próximo sao depressi vamente pequenas As minhas próprias experiencias nessas questóes sao parte do que me fez escrever este livro A vida de um árabe palestino no Ocidente especialmente nos Estados Unidos é desanimadora Existe aqui um consenso quase unánime de que politicamente ele nao existe e quando é admitido que ele existe é como uro incomodo ou como uro oriental A teia do racismo dos estereótipos culturais do imperialismo político e da ideologia desumanizante que contém o árabe ou o muculmano é realmente muito forte e é esta teia que cada palestino veio a sentir como seu destino singularmente punitivo O que tornou as coisas piores para ele foi observar que ninguém que esteja academicamente envolvido com o Oriente Próximo ou seja nenhum orientalista nos Estados Unidos identificouse convictamente com os árabes cultural e politi camente houve corocerteza identificacées eroalguns níveis mas estas nunca assumiramurnaforma aceítável como a identificacáo liberal americanacoroo sionismo e corogrande freqüéncia íoram invalidadas por sua associacáo com interesses políticos e económicos desacreditados companhias petrolíferas e arabistas do Departamento de Estado por exemplo ou com a religiáo O nexo de conhecimento e poder que cria o oriental e o obli 38 L 39 i I li 1 1 O AMBITO DO ORIENTALISMO le génie inquiet et ambitieux des Européens impa tient demployer les nouveaux instruments de leur puis sanee o genio irrequieto e ambicioso doseuropeus im paciente para empregar os novos instrumentos do seu poderío JeanBaptisteJoseph Fourier Préface historique 1809 Description de IÉgypte CONHECER O ORIENTAL No dia 13 de junho de 1910 Arthur James Balfour dissertou na Cámara dos Comuns sobre os problemas com que ternos de lidar no Egito Estes disse pertencem a yma categoria inteiramente dife rente dos que afetam a ilha de Wight ou o West Riding de York shire Falavacoroa autoridade de uroveterano parlamentar exsecre tário privado de lorde Salisbury exprimeiro secretário para a Irlanda exsecretário para a Escócia exprimeiroministro participante de vá rias erises realizacóes e mudancas no ultramar Durante o seu envol vimento nos negócios imperiais serviu urna monarca que em 1876 fora declarada imperatriz da india estivera especialmente bem colocado em posicóes de incomum influencia para acompanhar as guerras afega e zulu a ocupacáo brit1inica do Egito em 1882 a morte do general Gordon no Sudáo o Incidente Fashoda a Batalha de Omdurman a Guerra do Bóeres a Guerra RussoJaponesa Além disso a sua notável eminencia social a vastidáo do seu saber e da sua sagacidade ele podia escrever sobre temas tao variados como Bergson Hándel o teís mo e golfe a sua educacáo em Eton e no Trinity College Cam 41 r bridge e o seu aparente controle dos negócios imperiais conferiam urna considerável autoridade ao que ele contou aos Comuns em junho de 1910 Mas havia algo mais no discurso de Balfour ou pelo menos na necessidade que ele sentiu de o fazer tao didático e moralista Alguns parlamentares estavam questionando a necessidade da Inglaterra no Egito tema do entusiástico livro que Alfred Milner escreveu em 1892 mas significando nesse caso urna ocupacáo antigamente proveitosa que se tornara urna fonte de problemas agora que o nacionalismo egipcio estava ern ascensáo e a continuacáo da presenca británica no Egito DaD era mais tao fácil de defender Daí Balfour para informar e explicar Relembrando o desafio de J M Robertson o representante de Tyneside o próprio Balfour colocou novamente a questáo levantada por Robertson Que direito tero de assumir esses ares de superioridade em relacáo a um POyO que escolheu chamar de oriental A escolha de oriental era canónica o termo fora empregado por Chaucer e Man deville por Shakespeare Dryden Pope e Byron Designava a Ásia ou o Leste geográfica moral e culturalmente Era possível na Europa falar de urna personalidade oriental de urna atmosfera oriental de um conto oriental do despotismo oriental ou de um modo de producáo oriental e ser entendido Marx usara a palavra e agora Balfour a es tava usando sua escolha era compreensível e DaD merecia qualquer espécie de comentário Nao estou assumindo nenhuma atitude de superioridade Mas eu peco a Robertson e a qualquer outro que tenha até mesmo o mais super ficial conhecimento de história que olhe de frente para os fatos com os quais um estadista británicctem de lidar quando está em urna posícac de supremacia com relacáo a grandes racas como os habitantes do Egito e paises do Leste Conhecemos a civilizacño do Egito melhor queade qualquer outro país Conhecemola mais para trás no passado conhece mola mais intimamente sabemos mais sobre ela Ela vai muito além da insignificante extensáo da história da nossa raca que se perde no pe ríodo préhistórico em urna época em que a civilizacáo egípcia tinha já passado a sua plenitude Olhem para todos os países orientais Nao fa lem de inferioridade ou de superioridade Dois grandes temas dominam suas observacóes nesse ponto e no que vem a seguir saber e poder os temas de Bacon Quando Balfour jus tifica a necessidade da ocupacáo británica do Egito a supremacia para ele está associada ao nosso conhecimento do Egito e nao principal mente ao poderlo militarou económico Para Balfour o conhecimento quer dizer fazer um reconhecimento de urna civílizacáo desde as suas origens asua plenitude e declínio e é claro quer dizer poder fazer isso O saber significa erguerse acima do imediato ir alérn de si 42 t mesmo para o estranho e distante O objeto de tal saber é inerente mente vulnerável ao escrutinio este objeto é um fato que se desen volvido muda ou se transforma do mesmo modo que as civilizacóes freqüentemente se transformam mas é fundamentalmente até ontolo gicamente estável Ter um tal conhecimento de urna coisa como essa é dominála ter autoridade sobre ela E neste caso autoridade quer dizer que nós negamos autonomia para ele o país oriental posto que o conhecemos e que ele existe em certo sentido como o conhecemos O conhecimento británico do Egito para Balfour é o Egito e o péso do conhecimento faz as questóes como inferioridade e superioridade parecerem insignificantes Em nenhum momento Bal a superioridade británica e a inferioridade egipcia temnas por certas quando descreve as conseqüéncias do conhecimento Antes de mais nada considerem os fatos da questáo Assim que surgem para a história as nacóes ocidentais demonstram aquelas capacidades incipientes para o autogovemo tendo méritos próprios Podese olhar para o conjunto da história dos orientais no que é chamado fa lando de maneira geral de Leste sem nunca encontrar traeos de auto governo Todos os séculos grandiosos desses países e eles foram muito grandiosos foram vividos sob despotismos sob governos absolutos Todas as suas grandiosas contríbuicóes para as cívílízacóes e elas fa ram grandiosas foram feitas sob essa forma de governo Um conquis tador sucedia a outro conquistador urna dominacáo seguia a outra mas nunca em todas as reviravoltas da sina e da fortuna se viu urna dessas nacñes de moto próprio estabelecer o que nós de um ponto de vista ocidental chamamos de autogoverno Esse é o fato Nao é urna questáo de superioridade ou de inferioridade Suponho que um verdadeiro sábio oriental diria que o governo funcional que assumimos no Egito e em outros lugares nao é urna obra digna de um filósofo que essa obra é o trabalho sujo o trabalho inferior de desempenhar as tarefas necessárias Posto que esses fatos sao fatos Balfour conseqüentemente deve pas sar aparte seguinte da sua argumentacáo É urna boa coisa para essas grandes nacóes admito a grandeza delas que esse govemo absoluto seja exercido por nós Acho que é urna boa coisa Acho que a experiencia demonstra que sob esse govemo elas tém um governo muito melhor que qualquer outro que tenham tido em toda a história o que é um beneficio nao só para elas corno sem dúvida para o conjunto do Ocidente civilizado 1 Estamos no Egito nao apenas pelo bem do Egito apesar de estarmos lá para o bem deles estamos lá tam bém para o bem da Europa ero geral Balfour nao dá nenhuma prova de que os egipcios e as racas com que tratamos apreciam OU sequer entendem o bem que está senda 43 feito por eles por parte da ocupacáo colonial Nao lhe ocorre contudo deixar que o egípcio fale por si rnesmo visto que presumivelmente qualquer egipcio que venha a falar será antes o agitador que quer criar dificuldades do que o bom nativo que íaca vista grossa para as dificuldades da dominacáo estrangeira E assim tendo resolvido os éticos Balfour finalmente voltase para os práticos Se é nossa tarefagovernar com ou sem gratidáo com ou sem a real ege nuina mem6ria de toda a perda de que livramos a populacáo de modo algum Balfourimplica como parte dessa perda a perdaou pelo menos o adiamento indefinido da independencia egípcia e nenhuma imaginacáo vívida de todos os beneficios que trouxemos se esse é o nosso dever como devemoscumprilo A Inglaterra exporta o melhor de nós para esses paises Estes admi nistradores abnegados fazem o seu trabalho entre dezenas de milhares de pessoas que pertencem a um credo diferente urna raca diferente urna disciplina diferente e diferentes condicóes de vida O que torna possível a tarefa de governar é saberem que sáo apoiados em seu país por um governo que endossa o que eles fazem No entanto diretamente as populacbes nativas teroesse sentimento instintivo de que aqueles com quem tém de tratarnao tém por trásde si o poderio a auto ridade a solidariedade o pleno e resoluto apoio do país que os mandou paralá essas populacóes perdem todo sentido da ordem que é a pr6pria base da sua civilizacáo do mesmo modo que os nossos oficiais perdem todo sentido de podere autoridade que sao a pr6priabase de tudo o que eles podem fazer poraqueles para o seio dos quaisforam enviados A lógica de Balfour aqui é interessante e o fato de ser comple tamente consistente com as premissas de todo o discurso nao é o menos importante A Inglaterra conhece o Egito o Egito é o que a Inglaterra conhece A Inglaterra sabe que o Egito nao pode ter autogoverno con firma isso ocupando o Egito Para os egípcios o Egito é o que a Ingla terra ocupou e agora governa a ocupacáo estrangeira portanto torna se a própria base da cívilizacáo egipcia contemporánea o Egito re quer na verdade exige a ocupacáo británica Mas se a intimidade especial entre governante e governado no Egito é perturbada pelas dú vidas do Parlamento em casa entáo a autoridade daquela que oo é a raca dominante e que na minha opiniáo deve continuar sendo a raca dominante foi solapada Nao é só o prestigio británico que fica abalado é inútil para um punhado de oficiáis británicos dotemnos como qui serem déemlhes todas as qualidades de caráter e de genio que possam 44 imaginar é impossivelpara eles desempenhara grandiosa tarefa que no Egito nao apenas n6s mas todo o mundo civilizado impusemos a eles Como proeza retórica o discurso de Balfour é significativo pelo modo como ele faz o papel de e representa urna variedade de carac teres Há evidentemente os ingleses para os quais o pronome nós é usado com todo o peso de um hornern distinto e poderoso que se sente como o representante de tudo o que há de melhor na história de sua nacáo Balfour pode falar também pelo mundo civilizado o Ocidente e pelo pequeno corpo de funcionários coloniais no Egito Se nao fala diretamente pelos orientais é porque afina de contas eles falam outra língua mas ele sabe como eles se sentem visto que conhece a história deles a coníianca que depositam em pessoas como ele e as suas expec tativas Mesmo assim ele fala por eles no sentido de que o que eles podem ter a dizer se alguém lhes perguntasse e se fossem capazes de responder nao seria mais que urna inútil confirmacáo do que já é evi dente que sao urna raca submetida dominados por urna raca que os conhece e sabe o que é bom para eles melhor do que eles poderiam jamais saber por si mesmos Os seus grandes momentos estáo no pas sado sao úteis no mundo moderno apenas porque os impérios pode rosos e atualizados tiraramnos efetivamente da desgraca do pr6prio dec1ínio e transíormaramnos ero residentes reabilitados de colonias produtivas O Egito particularmente vinha muito a propósito e Balfour tinha perfeita consciencia de quanto direito tinha de falar como um membro do parlamento de seu país ero nome da Inglaterra do Oci dente da civilizacáo ocidental sobre o Egíto moderno Pois o Egito nao era apenas mais urna colonia era a legítirnacáo do imperialismo ocidental até a sua anexacáo pela Inglaterra era um exemplo quase académico do atraso oriental deveria tornarse o triunfo do conheci mento e do poder británicos Entre 1882 ano em que a Inglaterra ocu pou o Egito e pos um fim a rebeliáo nacionalista do coronel Arabi e 1907 o representante da Inglaterra o senhor do Egito foi Evelyn Baring lorde Cromer No dia 30 de julho de 1907 foi Balfour quem sustentou nos Comuns uro projeto para dar a Cromer uro premio de aposentadoria de SO mil libras como recompensa pelo que ele fizera no Egito Cromerfez o Egito disse Balfour Ele tevehito em tudo o que tocou l Os servicos de lorde Cromerdu ranteo último quarto de século ergueram o Egito do mais baixo grau de degradacáo social e económica até que estivesse entre as nacóes orien tais absolutamente sozinhoem sua prosperidadefinanceirae moral2 45 Como foi medida a prosperidade moral do Egito Balfour nao se arris cou a dizer As exportacñes británicas para o Egito igualavam as que fazia para toda a África isso certamente indicava um tipo de proseri dade financeira tanto para o Egito quanto para um pouco mais a Inglaterra Mas o que realmente importava era a ininterrupta e onipre sente tutelagem ocidental de um país oriental desde os estudiosos mis sionários homens de neg6cio soldados e professores que preparavam e depois implementavam a ocupacáo para os altos iuncionários como Cromer e Balfour que se viam como aqueles que proviam dirigiam e algumas vezes até íorcavam a ascensáo do Egito da displicencia oriental para a sua presente e solitária eminencia Se o sucesso británico no Egito fosse tao excepcional quanto disse Balfour nao era de maneira algurna uro sucesso inexplicável ou irra cional Os neg6cios británicos haviam sido controlados segundo urna teoria geral expressada tanto por Balfour em suas nocóes sobre a civi lizacáo oriental quanto por Cromer em sua administracáo do diaadia no Egito A coisa mais importante sobre a teoria na primeira década do século XX é que ela iuncionava e funcionava desconcertantemente bemÜ argumento quando reduzido a sua forma mais simples era claropreciso fácil de apreender Há ocidentais e há orientais Os pri meiros dominam os segundos devem ser dominados o que costuma querer dizer que suas terras devem ser ocupadas seus assuntos inter nos rigidamente controlados seu sangue e seu tesouro postos adispo sicáo de urna ou outra potencia ocidental Que Balfour e Cromer pu dessem tal como veremos lago reduzir a humanidade a esséncias cul turais e raciais tao cruéis nao era de modo algum urna índicacáo de urna depravacáo particular deles Era antes urna indicacáo de como urna doutrina geral se tomara dinlimica quando foi posta em uso dinámica e eficiente de Balfour cujas teses sobre os orientais tinham pretensñes a urna universalidade objetivaCromer falavasobreos orien tais específicamente como aquilo que ele tivera de governar ou como o que tivera de tratar primeiro na ndia depois por 2S anos no Egito durante os quais ele surgiu como o supremo cñnsulgeral do império da Inglaterra Os orientáis de Balfour sao as racas submetidas de Cromer que ele transformou em tópico de um longo ensaio publi cado na Edinburgh Review emjaneiro de 1908 Mais urna vez o conhe cimento das racas submetidas ou orientais é o que torna a administra ao delas fácil e proveitosa o conhecimento confere poder mais poder requer mais conhecimento e assím por diante em urna dialética eres centemente lucrativa de ínformacáo e controle A nocáo de Cromer é que o império da Inglaterra nao se dissolverá se coisas como o milita 46 rismo e o egoísmo comercial em casa e as instituicóes livres na co lónia ern comparacáo com o governo británico segundo o Código Cristáo de moralidade forem mantidas sob controle Pois se de acordo com Cromer a lógica é urna coisa cuja existencia o oriental está completamente disposto a ignorar o método de governo ade quado nao é lhe impor medidas ultracientíficas ou íorcálo fisicamente a aceitar a lógica E antes entender as suas limitacóes e esforcarse por encontrar no contentamento da raca submetida urna mais digna mais sólida uniáo entre os governantes e os gover nados A espreita por toda a parte por trás da pacificacáo da raca submetida está o poderio imperial mais efetivo pelo seu refinado enten dimento e uso pouco freqüente que pelos seus soldados seus brutais coletores de impostos e a incontinencia da sua forca Em resumo o Império deve ser sábio deve temperar a sua cupidez com abnegacáo e a sua impaciencia com disciplina flexíve1 Para ser mais explícito o que se quer dizer aqui quando se diz que o espírito comercial deve estar sob algum tipo de controle é isto que ao tratar com indianos ou com egípcios ou shilluks ou zulus a primeira questáo é considerar o que esses pOYOS que sao todos nacionalmente falando mais ou menos in statu pupillari acham que é melhor para os seus próprios interesses embora este seja um ponto que mereca séria consideracáo Mas é essencial que cada questáo especial seja decidida principalmente com referencia áquilo que aluz do conhecimento e da experiencia ocidental temperados por conslderacóes locais acharmos conscíenciosamente que é melhor para a raca submetida sem referencia a nenhuma vantagem real ou suposta que possa advir para a Inglaterra como nacáo ou o que costuma ser o caso com maior freqüéncia para os interesses especiais representados por urna ou mais classes de ingleses Se a nacao británica como um todo mantém constantemente esse princípio em mente e insiste firmemente na sua aplicacáo mesmo que nao possamos criar um patriotismo similar ao que é baseado na afi nidade de raca ou na comunidade de língua poderemos talvez patro cinar algurn tipo de fidelidade cosmopolita fundamentada no respeito sempre devido a talentos superiores e aconduta altruísta e na gratidáo derivada tanto dos favores concedidos como dos que víráo Poderá haver entác aconteca o que acontecer alguma esperanca de que os egípcios hesitem antes de juntarse a algum futuro Arabi Até mesmo o sel vagem da África central pode eventualmente aprender a cantar um hino em louvor a Astraea Redux tal como é representada pelo funcionário británico que lhe nega gim mas lhe dá justica Mais que isso o comércio ganhará A séria consideracáo que o governante deve atribuir as pro postas da raca submetida foi ilustrada na total oposicáo de Cromer ao 47 r nacionalismo egípcio Instituicóes nativas livres a ausencia de ocupa ao estrangeira urna soberania nacional autosustentada estas pro postas pouco surpreendentes foram consistentemente rejeitadas por Cromer que afirmou sem ambigüidades que o verdadeiro futuro do Egito nao está na direcáo de um nacionalismo estreíto que só incluirá os egipcios nativos mas antes na de uro cosmopolitismo ampliado As racas submetidas simplesmente nao tinham O que era preciso para saber o que era boro para elas A maior parte delas eram orientais de eujas características Cromer tinha bastante conhecimento posto que tivera experiencia coro elas tanto na India como no Egito Urna das coisas convenientes sobre os orientais para Cromer era que administrálos ernbora as circunstancias pudessem variar uro pouco aqui e ali era quase a mesma coisa ero quase toda a parte IS50 acon tecía porque é claro os orientais eram em quase todos os lugares quase os mesmos Agora estamos chegando perto finalmente do núcleo demorada mente elaborado de conhecimento essencial tanto académico como prático que Cromer e Balfour herdaram de um século de orientalismo ocidental moderno conhecimento de e sobre os orientais sobre a sua raca caráter cultura história tradicóes sociedade e possibilidades Esse conhecimento era efetivo Cromer acreditava telo utilizado ao go vernar o Egito Além do mais era um conhecimento testado e inalte rado dado que os orientais para todos os aspectos práticos eram urna esséncia platónica que qualquer orientalista ou governante de orientais podia examinar entender e expor Desse modo no 34 capí tulo da sua obra em dois volumes Modern Egypt Egito moderno1 re gistro magistral da sua experiencia e realizacóes Cromer nos deixa urna espécie de cánone de sabedoria orientalista Sir Alfred Lyall disseme urna vez Amente oriental abomina a pre císao Todo angloindiano deveria lembrar sempre essa máxima Ca rencia de precisáo que facilmente degenera em insinceridade é na ver dade a principal característica da mente oriental O europeu é um raciocinador conciso suas declaracóes de fato sao desprovidas de qualquer ambigüidade ele é um lógico natural mesmo que nao tenha estudado lógica é por natureza cético e requer provas antes de aceitar a verdade de qualquer proposicáo sua inteligencia trei nada trabalha como a peca de um mecanismo A mente do oriental por outro lado assim como suas pitorescas ruas é eminentemente carente de simetria Embora os antigos árabes tenham adquirido em um grau um tanto mais alto a ciencia da dialética seus descendentes sao singular mente deficientes de faculdades lógicas Sao muitas vezes incapazes de tirar as conclusóes mais óbvias de qualquer simples premissa cuja ver 48 dade possam admitir Tentese arrancar urna declaracáo de fato direta de qualquer egípcio normal Sua explicacáo será em geral longa e ca rente de lucidez Ele provavelmente entrará em contradicáo consigo mesmo urna dúzia de vezes antes de acabar sua história Com freqüéncia sucumbirá ao mais brando método de interrogatório Depois disso demonstrase que os orientais ou árabes sao simplórios desprovidos de energia e de iniciativa e muito dados a adulacóes de mau gasto intriga simulacáo e maus tratos aos animais os orientais sao incapazes de andar em urna estrada ou calcamento suas mentes desordenadas nao conseguem entender aquilo que o sagaz europeu apreende imediatamente que estradas e calcamentos sao feitos para andar os orientais sao mentirosos inveterados sao letárgicos e des confiados e em tudo se opóem a clareza integridade e nobreza da raca anglosaxónica ó Cromer nao faz nenhum eSfOTCrO para ocultar que para ele os orientais eram sempre e unicamente o material humano que ele gover nou nas colonias británicas Como sou apenas um diplomata e um administrador cujo estudo ade quado é também o homem mas do ponto de vista de governáIo diz ele 1contentome com observar o fato de que de um modo ou de outro o oriental geralmente fala age e pensa de urna maneira exatamente oposta ado europeu 7 As descricóes de Cromer sao é claro baseadas parcialmente em obser vacóes diretas mas aquí e ali ele faz referencia a autoridades orienta listas ortodoxas particularmente Ernest Renan e Constantin de Vol ney em apoio as suas opinióes Ele também acata essas autoridades quando se trata de explicar por que os orientais sao como sao Ele nao tem dúvida de que quaquer conhecimento do oriental confirmará as suas opinióes as quais a julgar pela sua descricáo do egípcio sucum bindo ao interrogatório consideram culpado o oriental O crime é que o oriental é oriental e é um sinal preciso da normalidade com que tal tautologia era aceita o fato de que ela podia ser escrita sem sequer um apelo á lógica ou simetria mental européia Desse modo qualquer des vio do que se acreditava ser a norma do comportamento oriental era considerado antinatural o último relatório anual de Cromer sobre o Egito por conseguinte proclamou ser o nacionalismo egípcio urna idéia inteiramente nova e urna planta de raízes antes exóticas que indígenas 8 Acho que estaríamos cometendo um erro se subestimássemos o reservatório de conhecimento autorizado os códigos de ortodoxia orien talista aos quais Cromer e Balfour fazem referencia em todos os seus 49 escritos e politicas públicas Dizer simplesmente que o orientalismo era urna racionalizacáo do domínio colonial é ignorar a extensáo em que este era justificado adiantadamente pelo orientalismo em vez de selo após o fato Os homens sempre dividiram o mundo em regióes cujas dístincóes entre si eram reais ou imaginadas A demarcacáo abso luta entre o Leste e o Oeste que Balfour e Cromer aceitam com tanta complacencia tinha demorado anos até séculos para ser feita Houve é claro inúmeras viagens de descobrimentos houve contatos através do comércio e das guerras Mais que isso porém desde meados do sé culo XVIII houvera dois principais elementos na relacáo entre o Leste e o Oeste Um era o crescente conhecimento sistemático na Europa sobre o Oriente conhecimento reforcado pelo encontro colonial assim como pelo interesse disseminado a respeito do estranho e do incomum explorado pelas ciencias em desenvolvimento da etnologia anatomia comparada filologia e história e mais a esse conhecimento foi acres centado um considerável corpo de literatura produzida por romancis tas poetas tradutores e viajantes talentosos O outro aspecto das rela cóes orientaiseuropéias era que a Europa estava sempre em urna posi de forca para nao dizer domínio Nao há modo de colocar isso eufemísticamente É verdade a relacáo do forte com o fraco pode ser disfarcada ou suavizada como quando Balfour reconhece a gran deza das civilizacóes orientais Mas o relacionamento essencial em bases politicas culturais e até religiosas era considerado no Oeste que é o que nos interessa aqui como sendo uro relacionamento entre um parceiro forte e um fraco Muitos termos foram usados para expressar a relacáo Balfour e Cromer tipicamente usaram vários O oriental é irracional depravado caído infantil diferente desse modo o europeu é racional vir tuoso maduro normal Mas o modo de estimular o relacionamento era sublinhar a cada passo que o oriental vivia em um mundo próprio diferente mas totalmente organizado um mundo com seus próprios li mites nacionais culturais e epistemológicos e princípios de coeréncia interna E contudo o que dava ao mundo oriental a sua inteligibili dade e identidade náo era o resultado de seus próprios esíorcos mas era antes toda a complexa série de manipulacñes cultas pelas quais o Oriente era identificado pelo Ocidente Assim os dois aspectos do rela cionamento cultural que tenho estado discutindo sáo unidos O conhe cimento do Oriente posto que geradc da forca em um certo sentido criao Oriente o oriental e seu mundo Na linguagem de Cromer e Bal four o oriental é apresentado como algo que se julga como em um tri bunal algo que se estuda e se descreve como em um currículo algo que se disciplina como em urna escola ou prisáo algo que se ilustra 50 t como em um manual zoológico A questáo é que em cada um desses casos o oriental é contido e representado por estruturas dominantes De onde vem essas estruturas A íorca cultural nao é urna coisa que podemos discutir facilmente e um dos objetivos do presente trabalho é ilustrar analisar e refietir sobre um exercício de forca cultural Em outras palavras é melhor nao arriscargeneralizacóes sobre urna nocáo tao vaga e todavia tao importante como a de íorca cultural antes que urna boa quantidade de material tenha sido examinada Mas em principio podese dizer que no que dizia respeito ao Ocidente durante os sé culos XIX e XX fora feita a suposicáo de que o Oriente e tuda o que nele havia se nao fosse patentemente inferior ao Ocidente estava pelo menos precisando que este fizesse uroestudo corretivo a seu respeito O Oriente era visto como que delimitado pela sala de aula pelo tribunal a prisáo o manual ilustrado O orientalismo portanto é um conheci mento do Oriente que póe as coisas orientais na aula no tribunal pri sao ou manual para ser examinado estudado julgado disciplinado ou governado Nos primeiros anos do século XX os homens como Balfour e Cromer podiam dizer o que diziam do modo como diziam porque urna tradicáo ainda mais antiga de orientalismo que a do século XIX forneciaIhes vocabulário imagística e retórica além de números para ilustrar tudo O orientalismo também reforcava e era reforcado por o conhecimento seguro de que a Europa ou o Ocidente dominava a vasta maioria da superfície da terra O período de imenso avance das ínstituicóes e do conteúdo do orientalismo coincidiu exatamente com o periodo de inigualável expansáo da Europa de 1815 a 1914 o dominio colonial direto europeu cresceu de cerca de 35 para cerca de 85 de toda a superficie da terra Todos os continentes foram afetados ne nhum mais que a África e a Ásia Os dois maiores impérios eram obrita nico e o francés aliados e sócios em algumas coisas em outras eram ri vais hostis No Oriente das margens orientais do Mediterráneo iI Indo china eaMalaia suas possessóes coloniais e esferas imperiais de influen cia eram adjacentes freqüentemente sobrepostas muitas vezes disputa das Mas era no Oriente Próximo nas terras do Oriente Próximo árabe onde supostamente o isla definia as características cu1turais e raciais que británicos e franceses encontravam um ao outro e ao Oriente com maior intensidade familiaridade e complexidade Durante grande parte do século XIX como disse lorde Salisbury em 1881 a visáo do Oriente comum a ambos era intrincadamente problemática Quando se tem um fiel aliado que está empenhado em intrometer se ero um país no qual se tero profundos interesses vecé tem tres G Oe Ciencias Soej e 53 r cursos de aeáo possiveis Pode desistir ou monopolizar ou campar tilhar Renunciar teria sido por os franceses atravessados DO nosso ca minhoparaa Índia Monopolizar estariamuito próximoao risco de urna guerra De modo que resolvemos compartilhart E bem que eles compartilharam da maneira que estudaremos a seguir 9l1e eles compartilharam entretanto náo foiapenasa tena ou os lucros ou o dominio íoi o tipo de poder intelectual que velo chamando déorientalismo Este de certo modo era urna biblioteca ou arquivo de informacáo mantido em comum e em alguns de seus aspec tos unanimemente O que unificava o arquivo era urna familia de idéias 11 e um conjunto de valores que se tinha provado efetivo de vários modos Essas idéias explicavam o comportamento dos orientais forne ciam a estes urna mentalidade urna genealogia urna atmósferamais importante permitiam que os europeus lidassem coro os orientais e até que os vissem como uro fenómeno que possuía características regulares Como qualquer conluntode idéias duráveis porém asnocóes orienta listas pessoas que eram chamadas deorientais quanto as que eram chamadasde ocidentais ou européias em resumo o orientalismoé melhor entendido como um conjunto de coacóes e limi tacóes ao pensamento quecomo simplesmente umadoutrina positiva Se a esséncia do orientalismo é a distincáo inextirpável entre a superio ridade ocidental e a inferioridade oriental ternos entáo de estar prepa rados para notar de que maneira no seu desenvolvirnento e subse qüente história o orientalismo aprofundou e até endureceu a distincáo Quando durante o século XIX se tornou urna prática comum para a Inglaterra aposentar seus administradores da India e de outros lugares assim que alcancavam a idade de 55 anos foi realizado mais um refi namento do orientalismo nao se permitia que nenhum oriental jamais visse um ocidental enquanto este envelhecia e degenerava assim como nenhum ocidental nunca precisava verse espelhado nos olhos da raca submetida como algo diferente de um jovem Raj vigoroso racional e sempre alerta As idéias orientalistas assumiram diversas formas diferentes du rante os séculos XIX e XX Primeiramente havia na Europa urna vasta literatura sobre o Oriente herdada do passado europeu O notável sobre o final do século XVll1 e o inicio do XIX que é onde este livro presume que cornecou o orientalismo moderno é que teve lugar urna renascenca oriental nas palavras de Edgar Quinet Subitamente pa receu para urna ampla variedade de pensadores políticos e artistas que urna nova consciencia do Oriente estendendose da China ao Me diterráneo havia surgido Essa consciencia era em parte resultado de 52 textos orientaís ero línguas como o sánscrito o zenda e o árabe recen temente descobertos e traduzidos era também resultado da relacáo percebida entre o Oriente e o Oeste Para os meus propó aqUl a nota dominante dessa relacáo foi estabelecida para o Oriente Próximo e para a Europa pela invasáo napoleónica do Egito em 1798 urna invasáo que de muitos modos foí o próprio modelo de urna apropriacáo realmente científica de urna cultura por outra aparente mente mais forte POIS com a ocupacáo do Egito por Napoleáo foram postos em marcha processos entre o Leste e o Oeste que ainda domí nam nossas perspectivas culturais e políticas contemporáneas E a ex pedicáo com seu grande monumento coletivo de erudicáo a Description de I Egypte Descrilao do EgitoJ forneceu um cenário para o orientalismo posto que o Egito e subseqüentemente as outras terras islámicas foram considerados como a provincia viva o laborató rio o teatro do efetivo conhecimento ocidental sobre o Oriente Devo voltar aaventura napoleónica um pouco mais adiante Corn experiencias como as de Napoleáo o Oriente como um corpo de conhecimentos no Ocidente foi modernizado e esta é a se gunda forma sob a qual o orientalismo dos séculos XIX e XX existiu Desde o início do período que examinarei havia por toda a parte entre os orientalistas a ambicáo de formular suas descobertas experiencias e visees adequadamente ero termos modernos de colocar as idéias sobre o Oriente em íntimo contato coro as realidades modernas As investigaloes lingüísticas de Renan sobre o semita em 1848 por exem plo foram rendidas em um estilo que se nutria pesadamente para a sua autoridade da gramática comparada da anatomia comparada e das teorias raciais contemporáneas estas conferiam prestígio ao orien talismo e o outro lado da moeda tornaramno vulnerável como tem sido desde entáo as correntes de pensamento do Ocidente tanto as de moda quanto as seriamente influentes O orientalismo foi subrne tido ao imperialismo ao positivismo ao utopismo ao historicisrno ao darwinismo ao racismo ao freudismo ao marxismo ao spenglerismo Mas assim como muitas das ciencias naturais e sociais teve paradig mas de pesquisa suas próprias sociedades cultas seu próprio esta blishment Durante o século XIX o campo cresceu enormemente em prestígio assim como a reputacáo e a influencia de instituieóes como a Société Asiatique a Royal Asiatic Society a Deutsche Morgenlándísche Gesellschaft e a American Oriental Society Com o crescimento dessas sociedades houve também um aumento por toda a Europa do número de cátedras de estudos orientais conseqüentemente houve urna expan sao dos meios disponíveis para disseminar o orientalismo Periódicos orientalistas comecando pelo Fundgraben des Orients 1809 multi L plicaram a quantidade de conhecimento além do número de especia lizacóes Pouco dessa atividade porém e muito poucas dessas instituícóes existiram e floresceram livremente país erourna terceira forma 80b a qual existiu o orientalismo impós os seus limites sobre o pensamento a respeito do Oriente Até os escritores mais imaginativos de urna época homens como Flaubert Nerval ou Scott eram coagidos no que podiam experimentar do Oriente ou no que podiam falar sobre ele Isso porque em última análise O orientalismo era urna visáo política da realidade cuja estrutura promovia a diferenca entre o familiar Eu ropa Ocidente 068 e o estranho Oriente Leste eles De uro certo modo essa visáo criava e depois servía os dais mundos assim con cebidos Os orientaisviviam no mundodeles 068 vivíamosno nosso A visáo e a realidade material apoiavam e estimulavam urna á outra Urna certa líberdade de comunicacáo sempre foi privilégio do ociden tal posto que a cultura dele era a mais forte ele podia penetrar en frentar e dar significado e forma ao grande mistério asiático tal como Disraeli o chamou urna vez O que tem sido ignorado até aqui penso eu é o apertado vocabulário de tal privilégio e as límitacóes compa rativas de tal visáo O meu argumento afirma que a realidade orienta lista é tao desumana como persistente O seu campo de acáo tanto quanto as suas instituicées e sua onipresente influencia chega até o presente Mas como é que o orientalismo funcionava e funciona Como se pode descrevélo ero conjunto como uro fenómeno histórico uro modo de pensar um problema contemporáneo e urna realidade material Vejamos Cromer de novo uro técnico imperial consumado mas tam bém um beneficiário do orientalismo Ele nos pode dar urna resposta rudimentar Em O governo das racas subjugadas ele enfrenta o pro blema de como a Inglaterra urna nacáo de indivíduos deve adminis trar um vasto império de acordo com alguns princípios centrais Ele contrapóe o agente local que tanto tem um conhecimento especiali zado do nativo quanto urna individualidade anglosaxónica á autori dade central em Londres O primeiro pode tratar temas de interesse local de um modo calculado para danificar ou até pór em risco os interesses imperiais A autoridade central está em condicóes de prevenir qualquer perigo que tenha origem nessa causa Por que Porque essa autoridade pode garantir o funcionamento harmonioso das diferentes partes da máquina e deve esforcarse tanto quanto seja possível para se dar conta das circunstancias que afetam o governo da depen dencia 14 A linguagem é vaga e pouco atraente mas nao é difícil per ceber o que se quer dizer Cromer imagina urna sede para o poder no 54 L Ocidente e irradiandose a partir dessa sede para o Leste urna grande máquina abrangente que de sustentacáo á autoridade central mas seja comandada por ela Tudo o que é posto na máquina por suas rami ficacóes no Oriente material humano riqueza material conheci mento o que for é processado e transformado em mais poder O especialista faz a traducáo imediata do simples material oriental para urna substancia aproveitável o oriental tornase por exemplo urna raca subjugada um exemplo de mentalidade oriental tudo para O aperfeicoamento da autoridade na pátriarnáe Os interesses locais sao os interesses orientalistas especiais a autoridade central é o interesse geral da sociedade imperial como um todo O que Cromer ve com total precisáo é a admínistracáo do conhecimento pela socie dade o fato de que o conhecimento por maís especial que seja é regulado primeiramente pelos interesses locais de um especialista e mais tarde pelos interesses gerais de um sistema social de autoridade A ínterrelacáo entre os interesses locais e os centrais é intrincada mas de maneira alguma é indiscriminada No caso específico de Cromer como administrador imperial 01 0 estudo adequado é também o homem diz ele Quando Pope procla mou que o homem era o estudo adequado para o genero humano ele queria dizer todos os homens inclusive o pobre indiano enquanto Cromer nos lembra que tambérn certos homens como os orientais podem ser escolhidos como tema para um estudo adequado O estudo adequado neste sentido dos orientais é o orientalismo adequa damente separado de todas as demais formas de conhecimento mas no final aproveitável porque finito pela realidade social e material que abrange todo o conhecimento a qualquer momento apoiandoo e dandolhe usos Urna ordem de soberanía é estabelecida do Leste para o Oeste um simulacro de cadeia de ser cuja forma mais clara foi dada por Kipling Mula elefante cavalo ou boi obedecem ao condutor e o condutor ao sargento e o sargento ao tenente e o tenente ac capitáo e o capitáo ao major e o major ao coronel e o coronel ao brigadeiro que comanda tres regimentos e o brigadeiro ao general que obedece ao vicereí que é o servidorda imperatriz Tao profundamente forjado quanto essa monstruosa cadeia de co mando tao fortemente manejado quanto o funcionamento harmó nico de Cromer o orientalismo pode também expressar a forca do Ocidente e a fraqueza do Oriente tal como é vista pelo Ocidente Essa forca e essa fraqueza sao tao intrínsecas ao orientalismo quanto a qualquer visáo que divida o mundo em grandes partes gerais entidades 55 I I 1 que coexistam em um estado de tensáo produzido pelo que se acredita ser urna diferenca radical Pois essa é a principal questáo intelectual colocada pelo orienta lismo Será que podemos dividir a realidade humana como ela na ver darle parece estar dividida em culturas histórias tradicóes socieda des e até racas claramente diferentes e sobreviver humanamente as conseqüéncias Quando falo em sobreviver humanamente as con se qüéncias quera coro isso questionar se há algum modo de evitar a hos tilidade expressada pela dívisáo dos homens em digamos nós oci dentáis e eles orientais Pois essas divisóes sao generalidades cujo uso histórico e de fato foi sublinhar a importancia da distincáo entre alguns hornens e alguns outros normalmente coro intencoes DaO rnuito admiráveis Quando se usam categorías como oriental e ocidental como pontos de partida e finais da análise da pesquisa ou das políticas pú blicas tal como as utilizaram Cromer e Balfour o resultado costuma ser a polarizacáo da distincáo o oriental fica mais oriental e o oci dental mais ocidental e a limitacáo do encontro humano entre cul turas tradicóes e sociedades diferentes Em resumo desde o início de sua história moderna até o presente o orientalismo como urna forma de pensamento para tratar o que é estrangeiro demonstrou típica mente a tendencia inteiramente lamentável ao tipo de conhecimento baseado em distincóes rígidas como Leste e Oeste para canalizar o pensamento para um compartimento do Oeste ou do Leste Como essa tendencia está exatamente no centro da teoria da prática e dos valores ocidentais do orientalismo o sentido do poder do Ocidente sobre o Oriente tern COmo certa a sua condicáo de verdade científica Urna ou duas ilustracóes contemporáneas devem esclarecer per feitamente essa observacáo É natural que os homens que estejam no poder inspecionem de ternpos a ternpos o mundo com o qual térn de lidar Balíour o fazia freqüentemente O nosso contemporáneo Henry Kíssinger tarnbém raramente corn urna franqueza mais explícita que eroseu ensaio Estrutura nacional e política externa O que ele des creve é um drama real no qual os Estados Unidos térn de balancear o seu comportamento no mundo sob as pressóes de íorcas internas por um lado e das realidades estrangeiras pelo outro Unicamente poresse motivo o discurso de Kissinger deve estabelecer urna polaridade entre os Estados Unidos e o mundo além disso ele fala conscientemente como urna voz autorizada ero nome da maior potencia ocidental cuja história recente e realidade presente a colocararn frente a um mundo que nao aceita facilroente o seu poder e a sua predominancia Kissinger sente que Os Estados Unidos podem tratar menos problematicamente coro o Ocidente industrial e desenvolvido que com o mundo ero desen 56 1 volvimento Também aqui a realídade contemporánea das relacóes entre os Estados Unidos e o chamado Terceiro Mundo que inclui a China a Indochina o Oriente Próximo a África e a América Latina é manifestamente um conjunto espinhoso de problemas que nem sequer Kissinger consegue ocultar O método de Kissinger no ensaio segue o que os lingüistas cha mam de oposicáo binária mostra que há dois estilos na política externa o profético e o político dois tipos de técnica dois periodos e assim por diante Quando no final da parte histórica da sua argumentacáo ele se encontra frente a frente com o mundo contemporáneo ele o di vide conseqüenternente em duas metades os países desenvolvidos e os que estáo em desenvolvimento A primeira metade que é o Ocidente está profundamente comprometida com a nocáo de que o mundo real é exterior ao observador que o conhecimento consiste no registro e na classificacáo de dados com quanto mais precisáo melhor A prova de Kissinger para isso é a revolucáo newtoniana que nao teve lugar no mundo em desenvolvimento As culturas que nao passaram pelo primeiro impacto do pensamento newtoniano retiverarn a visáo essen cialmente prénewtoniana de que o mundo é quase completamente interno ao observador Conseqüentemente acrescenta a realidade empírica tem um significado muito diferente para vários dos novos paí ses do que tem para o Ocidente pois de um certo modo esses países nunca passaram pelo processo de a descobrir 16 Diferentemente de Cromer Kissinger nao precisa citar sir Alfred Lyall sobre a falta de habilidade do oriental em ser preciso o que afirma é suficientemente indiscutível para nao precisar de validacáo especial Tivemos a nossa revolucáo newtoniana eles nao Muito bem as linhas estáo tracadas mais ou menos da mesma maneira que Balfour e Cromer tracaram as deles No entanto sessenta ou mais anos estáo entre Kissinger e os imperialistas británicos Numerosas guerras e revo Jueces provaram sem sombra de dúvida que o estilo profético pré newtoniano que Kissinger associa tanto com os países imprecisos em desenvolvimento como corn a Europa antes do Congresso de Viena nao deixa de ter suas vitórias Também diferentemente de Balfour e Cromer Kissinger sentese na obrigacáo por essa razáo de respeitar essa perspectiva prénewtoniana posto que ela oferece urna grande flexibilidade com relacáo ao tumulto revolucionário contemporáneo Desse modo o dever dos homens do mundo real pósnewtoniano é erguer urna ordem internacional antes que urna crise a irnponha como urna necessidade em outras palavras nós ainda ternos de encontrar uro modo pelo qual o mundo em desenvolvimento possa ser contido Nao seria isso parecido coro a visáo de Cromer de urna máquina que 57 funcionasse harmoníosamente projetada em última instancia para be neficiar urna autoridade central que se opóe ao mundo em desen volvimento Kissinger pode nao ter sabido de que fundo de conhecimento coro pedigree estava sacando quando cortou o mundo nas concepcóes pré e pósnewtonianas da realidade Mas a distincáo que ele fez é idéntica ii ortodoxa feita pelos orientalistas que separam os orientais dos ociden tais E assim como a distincáo do orientalismo a de Kissinger nao é livre de valores apesar da aparente neutralidade do seu tomo Assim palavras COmoprofético precisiiointerno realidade empírica e ordem estáo espalhadas por toda a sua descricáo e caracterizam virtudes atraentes familiares e desejáveis ou defeitos ameacadores peculiares e perturbadores Tanto a tradicáo orientalista como veremos quanto Kissinger concebem a díferenca entre culturas primeiro como cria dora de urna frente de batalha que as separa e segundo como um convite ao Ocidente para que controle contenha e também governe por meio de uro conhecimento superior e de um poder acomodatício o Outro Com que efeitos e com que consideráveis custos ninguém precisa que lhe lembrem hoje em dia Outra ilustracáo se encaixa elegantemente demais talvez na análise de Kissinger Em seu número de fevereiro de 1972 o Ame rican Journal 01Psychiatry publicou um ensaio de Harold W Glidden que é identificado como um membro aposentado do Bureau de Infor macáo e Pesquisa do Departamento de Estado norteamericano o tí tulo do ensaio O mundo árabe o seu tom e o seu conteúdo revelam urna inclinacáo mental orientalista altamente característica Assim para escrever o seu retrato psicológico em quatro páginas de duas colu nas de mais de 100 rnilhóes de pessoas e cobrindo mais de 1300 anos de hist6ria Glidden cita exatamente quatro fontes para as suas opiniñes um livro recente sobre Trípoli um número do jornal egipcio AlAhram o periódico Oriente Moderno e um livro de Majid Khadduri um conhe cido orientalista Quanto ao artigo tem a intencáo de revelar o fun cionamento interno do comportamento árabe que do nosso ponto de vista é aberrante mas para eles é normal Após esse auspicioso corneco ficamos sabendo que os árabes reíorcarn a conformidade que os árabes vivem em urna cultura da desonra cujo sistema de prestígio implica a habilidade para atrair seguidores e clientes paralelamente ficamos sabendo que a sociedade árabe está e sempre esteve baseada em relacoes de clientelismo que os árabes s6 sabem funcionar em si tuacóes de conflito que o prestígio está baseado unicamente na capaci dade de dominar os demais que urna cultura da desonra e por tanto o próprio isla faz da vinganca urna virtude nesse ponto Glid 58 den cita triunfante o Ahram de 29 de junho de 1970 para mostrar que em 1969 no Egito de 1070 casos de assassinato em que os perpe tradores foram apreendidos foi descoberto que 20 deles foram ba seados em um desejo de apagar a desonra 30 em um desejo de satis fazer males reais ou imaginários e 31 em um desejo de vínganca san grenta que se de um ponto de vista ocidental a única coisa racio nal para os árabes fazerem é a paz 1 para os árabes a situacáo nao é governada por esse tipo de lógica pois a objetividade nao é um valor no sistema árabe Glidden segue em frente agora com mais entusiasmo E um fato notável que enquanto o sistema árabe de valores exige absoluta soli dariedade no seio do grupo ele ao mesmo tempo encoraja entre seus membros um tipo de rivalidade que é destrutiva dessa mesma solida riedade nas sociedades árabes apenas o sucesso conta e o íím justifica os meios os árabes vivem naturalmente em um mundo caracterizado pela ansiedade que se expressa em suspeita e descon fianca generalizadas que foram chamadas de hostilidade que flutua livremente a arte do subterfúgio é altamente desenvolvida na vida árabe bem como no próprio isla a necessidade árabe de vínganca suplanta qualquer coisa de outro modo o árabe sentiria urna desonra que destr6i o ego Portanto se os ocidentais consideram que a paz está alta na escala de valores e se ternos urna consciencia desenvol vida do valor do tempo o mesmo nao é verdade para os árabes De fato contanos ele na sociedade tribal árabe onde se originaram os valores árabes a disputa e nao a paz era o estado de coisas normal pois as incursóes a territ6rio inimigo eram um dos dois principais su portes da economia O propósito dessa culta dissertacáo é simples mente demonstrar de que maneira nas escalas de valores ociden tal e oriental a posicáo relativa dos elementos é totalmente dife rente QEDY Isso é o apogeu do orientalismo Nao se nega a nenhuma gene ralidade meramente afirmada a dignidade da verdade nenhuma lista teórica de atributos orientais é deixada sem aplicacáo para o compor tamento dos orientais no mundo real De um lado estáo os ocidentais do outro os orientaisárabes Os primeiros sao sem nenhuma ordem em especial racionais pacíficos liberais 16gicos capazes de ter valores reais sem desconfianca natural os últimos nao sao nada disso De que visáo coletiva e no entanto particularizada do Oriente surgem essas declaracóes Que técnicas especializadas que pressóes imaginativas que instituícoes e tradicoes que íorcas culturais produzem tal seme lhanca nas descricñes do Oriente encontradas em Cromer Balfour e nos nossos estadistas contemporáneos 59 A GEOGRAFIA IMAGINATIVA E SUAS REPRESENTArOES ORIENTALIZAR O ORIENTAL Estritamente falando o orientalismo é um campo de estudos eruditos No Ocidente cristáo considerase que ele cornecou a sua exis téncia formal com a decisáo do Concilio de Viena em 1312 de estabele cer urna série de cátedras de árabe grego hebraico e sírio em Paris Oxford Bolonha Avignon e Salamanca Qualquer do orientalismo deveria considerar nao apenas o orientalista profissional e sua obra como também a própria nocáo de um campo deestuds baseado em urna unídade geográfica cultural lingüística e étnica cha mada de Oriente É claro que os campos sao íeitos Eles adquirem coe réncia e integridade com o tempo porque os estudiosos se dedicam de diversas maneiras ao que parece ser uro tema decidido conjuntamente Mas nern é preciso dizer que raramente uro campo de estudos é defi nido com tanta simplicidade quanto a que afirmam até mesmo seus partidários mais fervorosos normalmente os estudiosos professores peritos e similares Além disso um campo pode mudar tao inteira mente até mesmo nas disciplinas mais tradicionais como a filología a história ou a teología que torna quase impossível urna definicáo abrangente do tema Isso é com certeza válido para o orientalismo por algumas razóes interessantes Falar de urna especializacáo erudita como um campo geográ fico é no caso do orientalismo bastante revelador posta que é pouco provável que alguém um campo que lhe seja mado de ocidentalismo iá aqui a atitude especial talvez até excen trica do orientalismo tornase aparente Pois embora muitas discipli nas cultas impliquem uma tomada de posicáo em relacáo a digamos um material humano um historiador lida com o passado humano de urna perspectiva especial no presente nao existe analogia para urna tomada de posicáo fixa quase totalmente geográfica em relacáo a uma ampla variedade de realidades sociais lingüísticas politicas e histó ricas Uro classicista um especialista románico até mesmo um ameri canista focaliza urna porcáo relativamente modesta do mundo e nao urna metade inteira dele Mas o orientalismo é um campo que temuma considerável ambicáo geográfica E posta que os orientalistas tém se ocupado tradicionalmente das coisas orientais um especialista em lei islámica nao menos que um perito em dialetos chineses ou em religóes indianas é considerado um orientalista por pessoas que chamam a si mesmas de orientalistas ternos de aprender a aceitar um tamanho enorme indiscriminado juntamente como urna capacidade quase infi nita para a subdivisáo como urna das principais características do 60 orientalismo que se evidencia no seu confuso amálgama de impre cisáo imperial e de atencáo aos detalhes Tudo isso descreve o orientalismo como urna disciplina acadé mica O ismo do orientalismo serve para sublinhar a distincáo da sua disciplina de qualquer outro ramo A regra do seu desenvolvimento histórico como urna disciplina académica tem sido o seu crescente campo de acáo nao a sua maior seletividade Os orientalistas da Re nascenca como Erpenius e Guillaume Postel eram basicamente espe cialistas nas línguas das províncias bíblicas embora Postel se vanglo riasse de poder atravessar a Ásia até a China sem precisar de intérprete De maneira geral até meados do século XVIl1 os orientalistas eram estudiosos bíblicos estudantes de idiomas semíticos especialistas isla micos ou visto que os jesuítas tinham aberto o novo estudo da China sinólogos Toda a extensáo média da Ásia nao havia sido academica mente conquistada até que no final do século XVIlI AnquetilDu perron e sir William Jones puderam revelar inteligivelmente a extraor dinária riqueza do avéstico e do sánscrito Por volta de meados do sé culo XIX o orientalismo era um tesouro de erudicáo tao vasto quanto se podia imaginar Existem duas excelentes indicacóes desse novo e triunfante ecletismo Uma delas é a enciclopédica descricáo do orien talismo desde cerca de 1765 até 1850 feita por Raymond Schwab no seu La renaissance orientaleP De modo totalmente exterior as deseo bertas científicas sobre as coisas orientais feitas por profissionais ins truidos na Europa durante aquele periodo houve a virtual epidemia de coisas orientais que afetou todos os grandes poetas ensaístas e filósofos da época A nocáo de Schwab é que oriental identificaum entu siasmo amador OU profissional por tudo o que seja asiático que era maravilhosamente sinónimo de exótico misterioso profundo seminal essa era urna transposicáo tardia em direcáo ao Leste de uro entusiasmo sernelhante na Europa pela Antigüidade grega e latina durante a Alta Renascenca Em 1829 Victor Hugo explicou assim essa rnudanca de direcáo Au siécle de Louis XIV on était helléniste maintenant on est orientaliste No século de Luis XIV a gente era helenista agora é orientalista Um orientalista do século XIX portanto podia ser tanto um erudito um sinólogo um islamista uro indoeuropeista quanto um entusiasta de talento Hugo em Les orientales Goethe em Westostlicher Diwan ou mesmo ambos Richard Burton Edward Lane Friedrich Schlegel Urna segunda indicacáo de quáo abrangente se tornara o orienta lismo desde o Concilio de Viena encontrase nas crónicas do próprio campo feitas no século XIX A mais completa do seu genero é a víngt sept ans dhistoire des études orientales Vinte e sete anos de história 61 dos estudos orientáis de Jules Mohl um diárío de bordo em dois volu mes sobre tudo quanto aconteceu no orientalismo entre 1840 e 1867 que fosse digno de nota Mohl era secretário da em Paris e por pouco mais da metade do século XIX Paris fOI a capital do mundo orientalista e segundo Walter Benjamin do século XIX A posícáo de Mohl na Société nao poderia ser mais central em relacáo ao campo do orientalismo Nao existe quase nada feito por qualquer estu dioso europeu com respeito a Ásia que Mohl nao inclua sob études orientales Seus verbetes é claro sao relativos a publicacñes mas a vastidáo do material de interesse para os estudiosos orientalistas que foi publicado é estarrecedora Árabe ínúmeros díaletos indianos he braico pehlevi assírio babilónio mongol chies burmes mespota mio jayanes a lista de obras filológicas consideradas orientalistas e quase íncontável Além disso os estudos aparentemente abrangem desde a edicáo e traducáo de textos ate os estudos numis máticos antropológicos arqueológicos sociológicos económicos his tóricos literários e culturais sobre cada civilizacáo conhecida asiática ou norteafricana antigas e modernas A Histoire des orientalistes de lEurope du XIIe au XIXe siécle História dos orientalistas europeus do século XII ao XIX 18687022 é urna história seletiva das figuras mats importantes mas a série representada nao é menos imensa que a de Mohl Um ec1etismo como esse tinha seus pontos cegos mesmo assrm Os orientalistasacadémicos em suamaíoria estavaminteressados pelo periodo clássico de qualquer que fosse a língua ou sociedade que esti vessem estudando Até perto do final do século com excecáo do Ins titut dÉgypte de Napoleáo nao se deu muita atencáo para o estudo do Oriente moderno ou existente Mais que isso o Oriente que seestu dava era de maneira geral um universo textual O impacto do Oriente chegava através de livros e manuscritos e nao como no caso da marca deixada pela Grécia sobre a Renascenca mediante artefatos miméticos corno escultura ou cerámica Até mesmo a relacáo entre o orientalista e o Oriente era textual de tal modo que se relata que alguns orienta listas alemáes do início do século XIX ao verem pela primeira vez urna estátua indiana de oito bracos ficaram completamente curados do seu gosto orientalista Quando um orientalista culto o da sua especializacáo ia sempre acompanhado de maximas inabaláveis sobre a civilizacáo que estudara eram raros os orientalistas que ti nham outro interesse que nao o de provar essas poeirentas verdades aplicandoas sem grande éxito a nativos que nao os entendiam portanto eram degenerados Por fim o próprio e campo de acao do orientalismo produziu nao apenas urna boa quantidade de conheci 62 mento positivo sobre o Oriente mas também um tipo de conhecimento de segunda ordem aespreita em lugares como os contos orientais a mítologia do Leste misterioso as nocóes da inescrutabilidade asiática com sua própria vida aquilo que V G Kiernan chamou adequada mente de devaneio coletivo da Europa sobre o Oriente Um resul tado feliz disso foi que um número estimável de importantes escritores durante o século XIX era entusiasta do Oriente É perfeitamente correto acho falar de um genero de escrita orientalista tal corno é exemplificado pelas obras de Hugo Goethe Nerval Flaubert Fitzge raId e similares O que acompanha inevitavelmente essas obras no en tanto é urna espécie de mitologia flutuante do Oriente um Oriente que deriva nao só de atitudes e preconceitos populares contemporáneos mas também daquilo que Vico charnou presuncáo das nacoes e dos eruditos Jáfiz alusáo aos usos que eram dados a esse material quando ele apareceu no século XX Hoje em dia é menos provável que um orientalista chame a si mesmo de orientalista que em qualquer época anterior a Segunda Guerra Mas a designacáo continua sendo útil como no caso das uni versidades que mantérn programas ou departamentos de línW1as orien tais ou civilizacées orientais Há urna faculdade oriental em Oxford e um departamento de estudos orientais em Princeton Ainda em 1959 o governo británico deu posse a urna comissáo que deveria acompa nhar os desenvolvimentos nas universidades nos campos de estudos orientais eslavónios do Leste europeu e africano e considerar e opinar sobre as propostas para futuros desenvolvimentos O Rela tório Hayter como foi chamado quando apareceu em 1961 parecia nao ter problemas com a amplidáo do termo oriental que encontrou utilmente aplicado também nas universidades americanas Isso porque até mesmo o maior nome nos modernos estudos islámicos angloame ricanos H A R Gibb preferia chamarse de orientalista e nao de ara bista O próprio Gibb c1assicista como era podia usar o feio neolo gismo estudos de área para o orientalismo como meio de demonstrar que estudos de área e orientalismo eram afinal de contas títulos geo gráficos íntercambiáveis Mas isso creio desfigura ingenuamente urnarelacáo rnuito mais interessante entre o conhecimento e a geogra fia Gostaria de considerar brevemente essa relacáo Apesar da distracáo de um grande número de vagos desejos im pulsos e imagens a mente parece formular persistentemente o que Claude LéviStrauss chamou de urna ciencia do concretoP Urna tribo primitiva por exemplo atribui lugar funcáo e significado definidos para cada espécie folhosa do seu ambiente imediato Muitas dessas er vase flores nao térn nenhuma aplicacáo prática mas o que LéviStrauss 63 1 I quer dizer é que a mente precisa de ordem e a ordem é alcancada pela discriminacáo e registro de tudo pela colocacáo de tudo aquilo de que a mente tem consciencia em um lugar seguro e fácil de achar dando assim as coisas algum papel a cumprir na economia de objetos e identi dades que formam um ambiente Esse tipo de classíñcacáo rudimentar tem urna lógica mas as regras lógicas pelas quais urna samambaia verde é um símbolo de graca em urna sociedade e é considerada malé fica ern outra nao sao nem previsivelmente racionais nem universais Há sempre urna certa medicia de puramente arbitrário na maneira corno sao vistas as entre as coisas E essas distincóes sao acompanhadas por valores cuja história se a pudéssemos desenterrar totalmente mostraría provavelmente a mesma medida de arbitrarie dade Isso é bastante evidente no caso da moda Por que é que as peru cas os colarinhos de renda e os sapatos altos de fivelas aparecem e depois desaparecem em um período de décadas Parte da resposta tem a ver com a utilidade e parte com a beleza inerente da moda Mas se estivermos de acordo em que todas as coisas na hist6ria assim como a própria história sao feitas pelos homens veremos entáo COmo é possí vel que a vários objetos ou lugares ou épocas sejam atribuídos papéis e significados dados adquirem validade objetiva só depois que essas atribuicóes acontecem Isso é especialmente válido para coisas relati vamente pouco comuns como estrangeiros mutantes ou comporta mento anormal É perfeitamente possível argumentar que alguns objetos distin tivos sao feitos pela mente e que esses objetos embora parecam existir objetivamente térn urna realidade apenas ficciona Um grupo de pes soas que vive em uns poucos hectares de terra estabelece fronteiras entre a sua terra e adjacéncias imediatas e o territ6rio além que chama de terra dos bárbaros Em outras palavras essa prática universal de designar na própria mente um espaco familiar que é nosso e um espaco desconhecido além do nosso como deles é um modo de fazer dístincóes geográficas quepode ser inteiramente arbitrário Uso a a palavra arbitrário porque a geografia imaginativa do tipo nossa terraterra bárbara nao requer que os bárbaros reconhecam a dis tincáo Para nós basta estabelecer essas fronteiras em nossa mente conseqüentemente eles ficam senda eles e tanto o territ6rio como a mentalidade deles sao declarados diferentes dos nossos Desse modo até um certo ponto as sociedades modernas e as primitivas pa recem derivar suas identidades negativamente Um ateniense do sé culo V com toda a probabilidade sentiase tao naobárbaro quanto se sentia positivamente ateniense As fronteiras geográficas acompanham as sociais étnicas e culturais de um modo previsível Mas muitas vezes 64 a alguém se sente como naoestrangeiro está baseada em urna idéia multo pouco rigorosa do que há lá fora além do ó ó pno terrít no Todo tipo de suposicóes associacóes e fic90es parece povoar o espaco que está fora do nosso próprio francés Gasten Bachelard fez a análise do que deno mmou poetIca do espaco O interior de urna casa disse adquire um sentido de segredo e seguranea real ou por causa das experiencias que parecem ser apropriadas para tal espaco O espao objetivo de casa seus cantos corredores poráo quar tos e muito menos Importante do que aquilo de que está poetíca que costuma Ser urna qualidade com um valor imagina tivo ou figurativo que podemos nomear e sentir assím urna casa pode ser assombraa ou como um lar ou como urnaprisáo ou mágica Da mesmamanerra adquire um sentido emocional ou até racional mero de um tipo de processo poético que faz a distancia ser conver tida em um significado para n6s O mesmo processo ocorre quando li damos com o tempo Grande parte das associa90es que fazemos ou até do sobre há muito ternpo ou no comeco ou no fim dos tempos e poética feita Para um historiador do do Médio Reinado há muito tempo tem um tipo bem claro de significado mas até mesmo esse significado nao dissipa totalmente a qualidade imaginativa e quase ficcional que sentimos estar a espreita em um tempo muito diferente e distante do nosso Pois nao há dúvida de que a geografía e a história imaginativas ajudam a mente a inten o sentido de si mesma mediante a dramatizacáo da distancia e a o que está próximo a ela e o que está longe Isso nao e válido para os sentimentos que muitas vezes ternos de que teriamos estado mais em casa no século XVI ou no Taiti Nilo há contudo nenhuma utilidade em pretendermos que tudo o que sabemos sobre o tempo e o espaco ou antes sobre a história e a geografía é mais que nada imaginativo Existem coisas como a história positiva ea geografia positiva que podem exibir na Europa e nos Es tados Unidos realizacóes impressionantes Os estudiosos sabem mais agora sobre o mundo o seu passado e o seu presente do que sabiam por exemplo o tempo de Gíbbon Mas isso nao quer dizer que saibam tudo o qu ha para saber nem mais importante que o que sabem desfez efelivamente o encanto do conhecimento geográfico e histórico aginativo estive considerando Nao ternos de decidir aqui se esse tipo de conhecimenro imaginativo inspira a história e a geografia ou se de modo ele as atropela Digamos apenas por enquanto que esta presente como algo a mais do que parece ser um conhecimento meramentepositivo 65 Quase desde os primórdios da Europa o Oriente era algo mais que o que era empiricamente conhecido a seu respeito Pelo menos até o início do século XVIII como demonstrou R W Southern com tanta elegancia de um tipo de islámico era ignorante 29 Pois certas associacóes com o Leste nern totalmente ignorantes nem totalmente informadas parecem ter se juntado sempre em torno da nocáo de um Oriente Con siderese primeiro a dernarcacáo entre o Oriente e o Ocidente Ela já parece ser nítida no tempo da Ilíada Duas das maís influentes qualidades associadas ao Leste aparecem na peca de Esquilo Os persas a mais antiga peca ateniense existente e nAs bacantes de Eurípedes a última delas Ésquilo retrata o sentimento de desastre que toma conta dos persas quando ficam sabendo que seus exércitos che fiados pelo rei Xerxes foram destruidos pelos gregos O coro canta a seguin te ode Ora toda aterradÁsia Geme deserta Os que Xerxes guiou ai ai Xerxes destruiu oh infortúnio Os planos todos de Xerxes malograram Em galeras ao mar Por que nao trouxe entáo Dario Nenhum dano aos seus homens Quando os guiava abatalha Esse amado guia de homens de Susay O que importa aqui é que a Ásia fala por meio e em virtude da imagi nacáo européia que é representada como vitoriosa sobre a Asía aquele outro mundo hostil do outro lado dos mares Á Ásia sáo atribuidos os sentimentos de vazio perda e desastre que desde entáo parecem recompensar os desafios orientais ao Ocidente e também o lamento de que ern algum passado glorioso a Ásia estava melhor de que ela era por sua vez vitoriosa sobre a Europa Em As bacantes talvez o mais asiático de todos os dramas áticos Dioniso é explicitamente conectado as suas origens asiáticas e aos estra nhamente ameacadores excessos dos mistérios do Oriente Penteu rei de Tebas é destruido por sua rnáe Agave e suas colegas bacantes Tendo desafiado Dioniso ao nao reconhecer nem o seu poder nem a sua divindade Penteu é assim horrivelmente punido e a peca termina com um reconhecimento geral do terrível poder do excéntrico deus Os co mentaristas modernos dAs bacantes nao deixaram de notar o extraer dinário número de efeitos intelectuais e estéticos mas nao há como escapar ao detalhe históríco adícional de que Eurípedes 66 foi com certeza afetado pelo novo aspecto que os cultos dionisiacos de vern ter assumido aluz das religióes extáticas de Bendis Cibele Sabázio Adonis e lsis que foram introduzidas a partir da Ásia Menor e do Le vante e varreram Pireu e Atenas durante os anos frustrantes e crescente mente irracionais da Guerra do Peloponeso Os dois aspectos do Oriente que o separavam do Ocidente nessas duas pecas continuaráo sendo temas essenciais da geografia imagina tiva européia É tracada urna linha entre os dois continentes A Europa é e articulada a Ásia está derrotada e distante Esquilo repre senta a Asia faz com que ela fale na pessoa da idosa rainha persa máe de Xerxes É a Europa que artícula o Oriente Essa articulacáo é a prerrogativa nao de um marionetista mas de um genuíno criador cujo poder de dar vida representa anima e constitui aquele espaco além das fronteiras que sem isso seria silencioso e perigoso Há urna analogia entre a orquestra de Ésquilo que contém o mundo asiático tal como o autor o concebe e o invólucro culto da erudicáo orientalista que tam bém manterá sobre a vasta e amorfa prostracáo asiática um escrutínio as vezes solidário mas sempre dominador Em segundo lugar está o tema do Oriente como um perigo insinuante A racionalidade é sola pada pelos excessos orientais aqueles misteriosamente atraentes con trários dos que parecem ser os valores normais A diferenca que separa o Leste do Oeste é simbolizada pela firmeza com que primeiramente Penteu rejeita as histéricas bacantes Quando mais tarde ele próprio se K toma um bacante é destruído nao tanto por ter cedido a Dioniso quanto por ter avaliado incorretamente a arneaca deste em primeiro lugar A licáo que Euripedes pretende passar é dramatizada pela pre senca na peca de Cadmo e Tirésias instruídos anciáos que se dáo conta de que só a soberanía nao governa os homens o julgamento existe dizem e consiste em avaliar corretamente a forca dos poderes externos e chegar habilmente a um acordo com eles A partir desse momento OSi mistérios orientais seráo levados a sério e a menor das razóes para isso nao será o fato de eles desafiarem o Ocidente racional a novos exercí cios da sua arnbicáo e forca Urnagrande divisáo porém como entre Ocidente e Oriente leva a outras menores especialmente quando os empreendimentos normais dacivilizacáo provocam atividades expansivas como as viagens as con quistas as novas experiencias Na Grécia e na Roma c1ássicas os geó grafos historiadores figuras públicas como César oradores e poetas contribuíam para o fundo de saber taxonómico separando racas re gióes nacóes e mentes urnas das outras grande parte disso era em benefício próprio e existia para provar que gregos e romanos eram 67 superiores a outros tipos de povos Mas a preocupaao com O Oriente tinha a sua própria tradicáo de classificacáo e hierarquia Desde pelo menos o século II aC nenhum viajante ou potentado ocidental vol tado para o Leste e ambicioso deixava de aproveitarse do fato de que Heródoto historiador viajante e cronista de inexaurível curiosidade e Alexandre reí guerreiro conquistador científico haviam estado no Oriente antes Este portanto foi dividido em domínios pre viamente conhecidos visitados e conquistados por Heródoto eAlexan dre assim como por seus epígonos e ero domínios nao conhecidos pre viamente nern visitados ou conquistados A cristandade completou o estabelecimento das esferas intraorientais mais importantes havia uro Oriente Próximo e uro Extremo Oriente uro Oriente familiar que René Grousset chama de lempire du Levant o ímpério do Le vante e um Oriente insólito O Oriente portanto oscilava na geo grafia da mente entre ser um Velho Mundo para o qual se voltav como para o Éden ou Paraíso para aí estabelecer urna nova versao do velho e ser um lugar totalmente novo ao qual se chegava como Colombo chegou aAmérica de modo a estabelecer um Novo Mundo embora ironicamente o próprio Colombo acreditasse ter encontrado urna nova parte do Velho Mundo Certamente nenhum desses Onen tes era puramente urna coisa ou a outra sao suas vacílacoes tadoras sugestividades sua capacidade para entreter e confundir mente que sao interessantes Considerese agora como o Oriente particularmente o Oriente Próximo ficou conhecido no Ocidente como um grande contrário com plementar desde a Antigüidade Houve a Bíblia e a ascensáo do cris tianismo houve viajantes como Marco Polo que mapearam as rotas cornerciais e padronizaram um sistema regulado de intercambio co mercial e depois dele Lodovico di Varthema e Pietro della Valle houve fabulistas como Mandeville houve os temíveis movimentos conquista dores orientais principalmente é claro o isla houve os peregrinos militantes especialmente os cruzados Todo um arquívo internamente estruturado é construido a partir da literatura que pertence a essas experiencias Disso se origina um número restrito de típicas encapsu lacees a jornada a história a fábula o estereótipo o confronto polé mico Sao essas as lentes através das quais o Oriente é experimentado e elas moldam a linguagem apercepcáo e a forma do encontro entre o Leste e o Oeste O que confere alguma unidade ao imenso número de encontros contudo é a vacilacáo sobre a qual falei acima Algo cla ramente estrangeiro e distante por urna ou outra razáo tornase mais e nao menos familiar Deixamos de considerar as coisas como completamente insólitas ou completamente conhecidas emerge urna 68 nova categoria média urna categoria que nos permite ver novas coisas coisas vistas pela primeira vez como versees de algo conhecido anterior mente Essencialmente tal categoría nao é tanto um modo de receber novas ínformacóes quanto um método de controlar o que parece ser urna ameaca a urna visáo estabelecida das coisas Se de repente a mente precisa lidar com algo que considera como urna forma de vida radicalmente nova como o isla aparecia para a Europa no início da Idade Média a reacáo como um todo é conservadora e defensiva O isla é visto como urna versáo fraudulenta de urna experiencia prévia no caso o cristianismo A ameaca é emudecida valores familiares se impóem e finalmente a mente reduz a pressáo acomodando as coisas a si mesma como originaís ou repetitivas A partir disso o isla é manejado a sua novidade e sugestividade sao postas sob controle de maneira que passam a ser feitas discriminacóes relativamente mati zadas que seriam impossíveis se nao se tivesse dado atencáo anovidade crua do isla O Oriente em geral portanto vacila entre o desprezo ocidental pelo que é familiar e os seus arrepios de prazer ou temor pela novidade Em relacáo ao isla porém o medo europeu senáo pelo menos o respeito era justificado Após a morte de Maomé em 632 a hegemonia militar e mais tarde cultural e religiosa do isla cresceu enormemente Primeiro a Pérsia a Siria e o Egito depois a Turquia e a África do Norte caíram nas máos dos exércitos muculmanos nos séculos VIII e IX a Espanha a Sicília e partes da Franca foram conquistadas Por volta dos séculos XIII e XIV o isla estendia o seu dominio para o leste até a India Indonésia e China E a esse extraordinário assalto a Eu ropa podia reagir com muito pouco além de medo e um certo pasmo Os escritores cristáos que testemunhavam as conquistas islámicas ti nham escasso interesse pela erudicáo alta cultura e freqüente magni ficencia dos muculmanos que eram como disse Gibbon coevos com o mais obscuro e indolente período dos anais europeus Mas com urnacerta satisfacáo ele acrescentou Desde que a suma da ciencia er gueuse no Ocidente parece que os esludos orientais definharam e de cünaramv Tipicamente o que os cristáos sentiam a respeito dos exércitos orientais era que tinham toda a aparencia de um enxame de abelhas mas com a máo pesada eles devastaram tudo assim escreveu Erchembert clérigo de Monte Cassino no século XI 3S Nao sem razáo o isla passou a simbolizar o terror a devastacáo o demoníaco as hordas de odiosos bárbaros Para a Europa o isla era urotrauma duradouro Até o fim do século XVII o perigo otomano espreitava ao lado da Europa representando para o conjunto da civi lizacáo cristá um perigo constante e com o tempo os europeus incor 69 I porararn esse perigo e seu saber seus grandes acontecirnentos figuras virtudes e vicios como algo que fazia parte da trama da vida Nada mais que na Inglaterra da Renascenca como relata Samuel Chew em seu c1ássico estudo The crescent and the rose O crescente e a rosa urn hornern de inteligencia e educacáo rnédias tinha a sua disposicáo e podia apreciar no palco de Londres um número relativamente grande de acontecimentos detalhados na história do isla otomano e os pontos em que esta se sobrepunha aEuropa cristá A questáo é que o que se tornou corrente sobre o isla era urna versáo necessariamente diminuída daquelas grandes íorcas ameacadoras que ele simbolizava para a Eu ropa Como os sarracenos de Walter Scott a representacáo européia do rnuculmano do otomano ou do árabe era sempre um modo de contro lar o temível Oriente e de urna certa maneira o mesmo é válido para os métodos dos orientalistas cultos contemporáneos cujo tema nao é tanto o Leste em si mas o Leste tornado conhecido e portanto menos ame drontador para o público leitor ocidental Nao há nada de especialmente controverso ou repreensível nessas dornesticacóes do exótico elas acontecem entre todas as culturas cer tamente e entre todos os homens O que pretendo contudo é enfati zar a verdade de que o orientalista como qualquer pessoa no Ocidente que pense ou experimente o Oriente desempenhou esse tipo de opera cáo mental Mas o que é ainda mais importante sao os vocábulos e imagens limitados que se impuseram em conseqüéncía A recepcáo do isla no Ocidente ilustra perfeitamente o caso e foi admiravelmente estudada por Norman Daniel Urna das coacóes aos pensadores cris taos que tentaram entender o isla era analógica posto que Cristo é a base da fé cristá presumiase de modo totalmente erróneo que Maomé era para o isla o mesmo que Cristo para o cristianismo Daí o polémico nome maometanismo dado ao isla e o epíteto automático de impostor aplicado a Maorné Dessas e de muitas outras concepcóes equivocadas formouse um circulo que nunca foi rompido pela exte riorizacáo imaginativa O conceito cristáo do isla era integral e autosuficiente O isla tornouse urna imagem a palavra é de Da niel mas pareceme ter notáveis implicacóes para o orientalismo em gera cuja funcáo nao era tanto representar o isla em si quanto representálo para o cristáo medieval A invariável tendencia a negligenciar o que o Coráo queria dizer ou o que o muculrnano achava que ele queria dizer ou o que os muculmanos fizessem ou pensassem em quaisquer circunstancias dadas implica neo cessariamente que a doutrina coránica e outras doutrinas islámicas era apresentada em urna forma que convencesse os cristáos e formas cada vez mais extravagantes teriam urna oportunidade de aceitacño quanto 70 maior fosse a distancia dos escritores e do público das fronteiras isla micas Era com grande relutáncía que aquílo que os muculmanos diziam que os muculmanos acreditavam era aceito como aquilo que eles acredi tavam Havia urna imagem cristá cujos detalhes mesmo sob a pressño dos fatos eram abandonados o menos possível e cujas linhas gerais nunca eram abandonadas Havia sombras de diferenca mas apenas com urnaestrutura comum Toda as correcóes feítas eram apenas urna defesa do que se tinha percebido ser vulnerável um reforce da estrutura aba lada A opiniáo cristá nao podía ser demolida nem mesmo para ser reconstruída 39 Essa rigorosa imagem cristá do isla era intensificada de diversas maneiras inclusive durante a Idade Média e o início da Renascenca por urna grande variedade de poesía controvérsia culta e supersti 9ao popular Naquele momento o Oriente Próximo estava quase intei ramente incorporado a imagem de mundo comum da cristandade la tina como na Chanson de Roland onde se retrata que a adoracáo dos sarracenos incluía Maorné e Apolo Por volta de meados do sé culo XV como demonstrou brilhantemente R W Southern ficou aparente para os pensadores europeus sérios que algurna coisa tinha de ser feita a propósito do isla que dera urna pequena volta asituacáo chegando militarmente na Europa do Leste Southern relata um dramá tico episódio entre 1450e 1460 quando quatro homens cultos Joáo de Segóvia Nicolau de Cusa lean Germain e Enéas Sílvio Pio 11 tenta ram tratar corn o isla por rneio de urna contraferentia ou conferen cia A idéia fora de Joáo de Segóvia era para ser urna conferencia montada com o isla na qual os cristáos tentariam a conversao por ata cado dos muculmanos Ele via a conferencia como um instrumento que tinha tanto urna funcáo política quanto religiosa e em palavras que tocariarn os coracóes modernos exclarnou que mesrno que ela du rasse dez anos seria menos cara e menos daninha que a guerra Nao houve acordo entre os quatro homens mas o episódio é crucial por ter sido urna tentativa bastante sofisticada parte de urna tentativa euro péia geral de Beda a Lutero de colocar um Oriente representativo frente aEuropa o Oriente e a Europa juntos de maneira coe rente corn a idéia de fazer os cristáos demonstrarem claramente aos rnuculmanos que o isla era apenas urna desencaminhada do cris tianismo A conclusáo de Southern é a seguinte É evidente para nós a incapacidade de qualquer desses sistemas de pensamento cristáos europeus para prover urna explicacáo plenamen te satisfatória do fenómeno que se tinham proposto explicar isla e muito menos influenciar o curso dos acontecimentos práticos de ma neira decisiva Em um nível prático os acontecimentos nunca eram tao 71 bons ou tao ruins quanto previam os observadores mais inteligentes tal vez valha a pena notar que nunca eram melhores do que quando os me lhores juízes esperavam confiantemente um final feliz Houve algum progresso no conhecimento crístao do isla Tenho de expressar a minha conviccáo de que houve Mesmo que a solucáo do problema tenha per manecido obstinadamente oculta a colocacáo do problema ficou mais complexa mais racional e mais relacionada aexperiencia Os estu diosos que trabalharam no problema do isla na Idade Média nao conse guiram encontrar a solucáo que buscavarn e desejavarn mas desenvol veram hábitos mentais e poderes de compreensáo que ern outros hornens e ernoutros campos podem ainda merecer sucesso A melhor parte da análise de Southern nesse ponto e em outros da sua breve história das visées ocidentais do isla é a sua demonstracáo de que no fim foi a ignorancia ocidental que ficou mais refinada e complexa e nao um corpo de conhecimento ocidental positivo que ceu em tamanho e precisáo Isso se deve as ficcóes terem sua própna lógica e sua própria dialética de crescimento ou declínio Na Idade Mé dia foi acumulado sobre o caráter de Maomé um conjunto de atributos que correspondiam ao caráter dos profetas do Livre Espirito do sé culo XII que de fato surgiram na Europa exigindo crédito e arreba nhando seguidores Do mesmo modo posto que Maomé era visto como o disseminador de urna falsa Revelacáo tornouse também o suprasumo da lascivia devassidáo sodomía e toda urna bateria de traicóes variadas todas logicamente derivadas das suas imposturas doutrinaís Dessa maneira o Oriente adquiriu representantes por as sim dizer e representacóes cada urna delas mais concreta mais inter namente congruente com alguma exigencia ocidental que a precedente É como se tendo se decidido pelo Oriente como um local adequado para encarnar o infinito em um formato finito a Europa nao conse guisse mais interromper a prática o Oriente e o oriental fosse este árabe islámico indiano chinés ou qualquer outra coisa tornaramse encarnacóes repetitivas de algum original grandioso Cristo a Europa o Ocidente que supostamente eles estavam imitando Apenas a fonte dessas idéias ocidentais um tanto quanto narcisistas sobre o Oriente mudou e nao o caráter delas Encontramos assim como urna crenca comum nos séculos XII e XIII que a Arábia era nas margens do mundo cristáo uro asilo natural para forasdalei heréticos 43 e que Maomé era uro astuto apóstata enquanto no século XX uro estudioso orientalista especialista erudito é quern demonstrará de que maneira o isla na verdade nao passa de urnaheresia ariana de segunda ordem Nossa descricáo inicial do orientalismo como um campo erudito adquire assim urna nova concretitude Vm campo muitas vezes é uro 72 espaco delimitadoA idéia de representacáo é teatral o Oriente é um palco no qual todo oLeste está confinado Nesse palco aparecem figu ras cujo papel é representar o conjunto maior do qual emanam O Oriente parece entáo ser nao urna extensáo ilimitada além do mundo europeu conhecido mas em vez disso um campo fechado um palco teatral anexo aEuropajlIm orientalista nao é mais que um especia lista particular em uní conhecimento pelo qual a Europa em geral é responsável do mesmo modo que urna platéia é histórica e cultural mente responsável por e suscetível a dramas tecnicamente montados pelo dramaturgo Nas profundezas desse palco oriental está um prodi gioso repertório cultural cujos itens individuais evocam um mundo fabulosamente rico a Esfinge Cleópatra o Éden Tróia Sodoma e Gomorra Astartéia Ísis e Osíris Sabá a Babilonia os Genios os Magos Nínive o Preste Joáo Maomé e dúzias mais cenários em al guns casos apenas nornes meio imaginários meio conhecidos mons tros demonios heróis terrores prazeres desejos A imaginacáo euro péia nutriase extensivamente desse repertórioentre a Idade Média e o século XVIII grandes escritores como Ariostó Milton Marlowe Tas so Shakespeare Cervantes e os autores da Chanson de Roland e do Poema del Cid utilizaram as riquezas do Oriente para suas producóes em modos que definiram melhor as linhas da imagistica das idéias e figuras que a povoavam Além disso muito do que era considerado como cultura orientalista erudita servíase de mitos ideológicos mesmo quando o conhecimento parecia estar genuinamente avancando Um célebre exemplo de como a forma dramática e a imagística culta se juntaram no teatro orientalista é a Bibliothéque oríentale de Barthélemy dHerbelot publicada postumamente em 1697 com prefá cio de8ntoine Galland A introducáo da recente Cambridge history 01 islam História doiSlade Cambridge considera a Bíbliothéque junta mente com o discurso preliminar de George Sale a sua traducáo do Coráo 1734 e a History 01 the Saracens História dos sarracenos de Simon Ockley 170818 muito importante para ampliar o novo entendimento do isla e transmitílo para Hum público leitor menos académico Isso descreve inadequadamente a obra de DHerbelot que nao estava restrita ao isla como as de Sale e de Ockley Com exce da Historia orientalis de Johann H Hottinger publicada em 1651 a Bibliothéque orientale foi a obra de referencia c1ássica na Eu ropa até o inicio do século XIX O seu campo de acáo cobria realmente toda urna época Galland que foi o primeiro tradutor europeu das Mil e urna noítes e um notável arabista comparou a realizacáo de DHerbelot com todas as anteriores observando o prodigioso alcance do seu empreendimento DHerbelot lia um grande número de obras 73 disse Galland em árabe persa e turco de modo que póde descobrir coisas que até entáo tinham estado ocuitas para os europeus Após ter antes de mais nada composto um dicionário dessas tres linguas DHer belot prosseguiu com o estudo da história da teologia da geografía da ciencia e da arte orientais em suas variedades fabulosa e verídica Depois disso ele decidiu cornpor duas obras urna a bibliothéque ou biblioteca e a outra um florilége ou florilégio Apenas a primeira parte foi completada A descricáo de Galland da Bibliothéque relata que orientale pla nejava incluir principalmente o Levante embora diz Galland com admiracáo o período coberto nao comecasse apenas com a criacáo de Adáo e acabasse com o temps oú nous sornmes DHerbelot ia ainda mais longe no passado para um tempo descrito como plus haut nas histórias fabulosas para o longo período dos solimóes pré adamitas Á medida que prossegue a descricáo de Galland ficamos sabendo que a Bibliotheque era como qualquer outra história do mundo pois tinha a intencáo de ser um compendio completo do conhe cimento disponível sobre questóes como a Criacáo o Dilúvio a des truicáo de Babel e assim por diante com a diferenca de que as fontes de DHerbelot eram orientais Ele dividiu a história em dois ti pos sagrada e profana 95 cristáos e judeus no primeiro os muculma nos no ante e pósdiluviano Desse modo DHerbelot pode discutir histórias tao amplamente divergentes como a mongol a tártara a turca e a eslavñnia inclui também todas as provín cias do império muculmano do Extremo Oriente as Colunas de Hér cules com seus costumes ritos tradicóes comentários dinastias pa lácios rios e floraEssa obra embora desse alguma atencáo a la doc trine perverse deMahomet qui a causé si grands dommages au chris tianisme a perversa doutrina de Maomé que causou prejuízos tao grandes ao cristianismo era mais completa que qualquer outra antes dela Galland concluia o seu Discours dando urna longa garantia ao leitor de que a Bíblíothéque de DHerbelot era singularmente utile et agréable outros orientalistas como Postel Scaliger Golius Pockoke e Erpenius produziram obras que erarn muito estreitamente gramati cais lexicográficas geográficas ou coisa do genero Só DHerbelot fora capaz de escrever urna obra que pudesse convencer o leitor europeu de que o estudo da cultura oriental era rnais que apenas ingrato e infru tifero só DHerbelot de acordo com Galland tentou formar na mente de seus leitores urna idéia suficientemente ampla do que significava conhecer e estudar a Oriente urna idéia que preencheria a mente e deixaria satisfeitas as nossas expectativas grandiosas e preconcebidas Mediante os esíorcos como o deDHerbelot a Europa descobriu 74 as capacidades para cingir e orientalizar o Oriente Um certo sen tido de superioridade aparece aqui e ali no que Galland tinha a dizer sobre a materia orientalia dele mesmo e de DHerbelot assim como na obra de geógrafos do século XVII como Raphael du Mans os europeus podiam perceber que o Oriente estava sendo superado e deixado para trás pela ciencia ocidental 48 Mas o que fica evidente nao é apenas a vantagem da perspectiva ocidental existe também a técnica triunfante para apreender a imensa fecundidade do Oriente e tornála sistemática e até alfabeticamente compreensível para o leigo europeu Quando Galland disse a respeito de DHerbelot que ele satisfazia as nossas expectativas ele queria dizer creio que a Bibliothéque nao tentava rever idéias sobre o Oriente que todos aceitavam Pois aquilo o orientalista faz é confirmar o Oriente aos olhos de seús leitores ele nem quer nem tenta abalar conviccóes já arraigadas Tudo o que a Biblio ihéque orientale fez foi representar o Oriente rnais plena e rnais clara mente o que podia ter sido urna colecáo dispersa de fatos adquiridos ao acaso e vagamente relacionados ahistória levantina aimagística bí blica acultura islámica a nomes de lugares e assim por diante foi transformada em um panorama oriental racional de A a Z No verbete para Maomé DHerbelot antes fornece todos os prenomes do Profeta para depois passar a confirrnacáo do valor ideológico e doutrinal de Maomé como segue Cest le fameux imposteur Mahomet Auteur et Fondateur dune hérésie qui a pris le nom de religion que nous appellons Mahometane Voyez le litre dEslam Les interpretes de lAlcoran et autres Docteurs de la LoyMusulmane ou Mahometane ont appliqué ace faux prophete tous les éloges que les Ariens Paulitiens ou Paulianistes autres Hérétiques ont attribué a JésusChrist en lui Btant sa Divinité 49 Este é o famoso impostor Maomé autor e fundador de urna heresia que assumiu o nome de religiáo que chamamos maometana Ver o ver bete isla Os intérpretes do Corzo e outros doutores da lei muculmana ou mao metana aplicaram a este falso profeta todos os elogios que os arianos paulicianos ou paulianistas e outros heréticos atribuíram a Jesus Cristo privandoo da sua divindadel Maometano é a designacáo européia relevante e insultante isla que por acaso é o nome muculmano correto é relegado para outro ver bete A heresia que chamamos de maornetana é apanhada como urna imitacáo de urna imitacáo cristá da verdadeira religiáo De pois disso no longo relato histórico da vida de Maomé DHerbelot pode recorrera urnanarrativa mais ou menos direta Mas é a colocaciio de Maomé que conta na Bibliothéque Os perigos da exuberante here sia sao removidos quando ela é transformada em urna questáo ideolo gicamente explícita para um item alfabético Maomé deixa de peram bular pelo mundo oriental como um devasso arneacador e ímoral e fica tranqüilamente sentado em seu lugar reconhecidamente proerninente no palco orientalistaso Ganha urna genealogia urna explicacáo e até mesmo uro desenvolvimento tudo isso incluído nas afirmacóes simples que impedem que ele se extravie para outra parte Irnagens do Oriente como essas sao imagens porque represen tam ou simbolizam uma entidade muito grande que de outro modo ficaria impossivelmente difusa e permitem que nós a apreendamos ou vejamos Sao também caracteres relacionados a tipos como os fanfar roes avarentos e glutóes produzidos por Teofrasto La Bruyére ou Sel den Talvez DaD seja exatamente carreta dizer que podemos ver carac teres como o miles gloriosus ou Maomé o impostor posto que o confi namento discursivo de uro caráter é supostamente mais adequado para que apreendarnos o tipo genérico sem dificuldade ou ambigüidade O caráter de Maomé segundo DHerbelot é urna imagem o falso profeta é parte de urna representacáo teatral geral chamada ientale cuja totalídade está contida na Bibliothéque A qualidade didática da representacáo orientalista nao pode ser separada do resto da peca Em urna obra culta como a Bibliothéque orientale que é o resultado de urna pesquisa e uro estudo sistemáticos o autor irnpóe urna ordem disciplinar ao material sobre o qual traba lhou além disso ele quer que fique claro para o leitor que aquilo que as páginas impressas trazern é um julgamento ordenado e disciplinado do material O que desse modo é transmitido pela Bíblíothéque é uma idéia do poder e daefetividade do orientalismo que a todo momento lembra ao leitor qle a partir de agora para chegar 30 Oriente é pre ciso que ele passe pelas malhas e códigos fornecídos pelo orientalista Nao só se acomoda o Oriente as exigencias morais da oci dental ele é também circunscrito por uma série de atitudes e julga mentos que referem a mente ocidental para verificacáo e correcáo nao as fontes orientais mas em vez disso a outras obras orientalistas O palco orientalista tornase um sistema de rigor moral e epistemológico Como uma disciplina que representa o conhecimento ocidental institu cionalizado sobre o Oriente o orientalismo comeca assim a exercer urna forca tripla sobre o Oriente sobre o orientalista e sobre o consu midor ocidental de orientalismo Acredito que seria um erro subesti mar a forca da relacáo tripla que se estabelece dessa maneira Pois o Oriente lá longe em direcáo ao Leste é corrigido e até penalizado pelo fato de estar fora das fronteiras da sociedade européia o nosso mundo O Oriente é assim orientalizado um processo que nao apenas o marca COmo a provincia do orientalista COmo também forca o leitor ocidental naoiniciado a aceitar as codificacóes orientalistas como a Bibliothéque em ordem alfabética de DHerbelot como o verdadeiro Oriente Em poucas palavras a verdade tomase urna funcáo do julga culto e nao do próprio material 911e corn o tempo deve até mesmo a sua existencia ao orientalista Todo esse processodidát1conao é dificil nem de entender nem de explicar Ternos de lembrar novamente que todas as culturas impóern correcóes a realidade crua transformandoa de objetos flutuantes em de conhecimento Que essa conversáo aconteca nao é o pro blema E perfeitamente natural para a mente humana resistir ao as salto da estranheza que nao tenha sido tratada portanto as culturas sempre estiveram inclinadas a impor transformacóes completas a ou tras culturas recebendoas nao como sao mas para benefício do que recebe como deveriam ser No entanto para o ocidental o oriental era parecido com algum aspecto do Ocidente para alguns dos ro exemplo a religiáo indiana era essencialmente umaversáo oriental do panteísmo Mas o orientalista impóese como tarefa estar sempre convertendoo Oriente de alguma coisa para outra diferente ele faz isso por ele mesmo pela sua cultura e em alguns casos pelo que ele acredita ser bom para o oriental A conversáo é um processo disciplinado é ensinado tem sociedades pe riódicos tradicóes vocabulário e retórica tudo isso conectado basica mente as normas culturais e políticas prevalecentes no Ocidente e ali mentado por elas E tal COmo demonstrarei tende a ficar cada vez mais total naquilo que tenta fazer de tal maneira que ao olharmos para o orientalismo dos séculos XIX e XX a impressáo dominante é a de urna insensível esquematizacáo de todo o Oriente Há quanto tempo comecou essa esquematizacáo fica claro com os exemplos que dei das representacóes ocidentais do Oriente na Grécia clássica Quáo fortemente articuladas foram as representacóes que se construíram sobre as primeiras quáo excessivamente cuidadosa foi a sua esquematizacáo e quáo dramaticamente efetiva foi a sua colocacáo na geografia imaginativa do Ocidente tudo isso pode ser ilustrado se nos voltarmos agora para oJnfemo de Dante A Iacanha de Dante na Divina comédia foi ter combinado impecavelmente o retrato realista da realidade mundana com um sistema de valores cristáos universal e eterno O que o peregrino Dante ve quando caminha através do In ferno do Purgatório e do Paraíso é uma singular concepcáo de julga mento Paolo e Francesca por exemplo sao vistos eternamente confi nados ao Inferno pelos seus pecados e contudo sao vistos encenando 76 77 l vivendo até os mesmos caracteres e acóes que os puseram onde ficaráo por toda a eternidade Desse modo cada urna das figuras da visáo de Dante nao apenas representa a si mesma como é também urna repre sentacáo do seu caráter e da sina que lhe tocou Maometto Maomé aparece no canto 28 do Interno Está localizado no oitavo de nove círculos do Inferno na ñOña dasdez Bol gias de Malebolge um círculo de lúgubres fossos que rodeiam a forta leza de Satá no Inferno Assim antes que Dante chegue a Maomé ele passa por círculos que contérn pessoas cujos pecados sao de urna ordem inferior os luxuriosos os avarentos osglutóes os hereges os irados os suicidas os blasfemadores Depois de Maomé estáo apenas os falsi ficadores e os traidores o que inclui Judas Bruto e Cássio antes de se chegar ao mais fundo do Inferno que é ande Satá se encontra Maomé portanto pertence a urna rígida hierarquia de males na categoria gue Dante chama de seminator di scandalo e di scisma O castigo de Mao mé e também sua eterna sina é peculiarmente repugnante ele está sendo perpetuamente rachado em dois do queixo ao ánus como se fosse diz Dante um barril cujas aduelas estáo sendo forcadas para fora O verso de Dante nesse ponto nao poupa o leitor de nenhum de talhe escatológico sobre aquilo que o castigo implica as entranhas e os excrementos de Maomé sao descritos com implacável precisáo Maomé explica seu castigo a Dante e aponta também para Ali que o precede na fila de pecadores e está sendo aberto em dois pelo demonio de plan tao pede também a Dante que avise um certo fra Dolcino um padre renegado cuja seita advogava a propriedade comum das mulheres e dos bens e que era acusado de ter urna amante sobre o que estava reser vado para ele Nenhum leitor terá deixado de perceber que Dante via um paralelo entre as revoltantes sensualidades de Maomé e de Dolcino bem como entre as suas pretensóes aeminencia teológica Mas isso nao é tudo o que Dante tero a dizer sobre o isla Em urna passagem anterior do Inferno um pequeno grupo de muculmanos apa rece Avicena Averróis e Saladino encontramse entre os pagáos vir tuosos que juntamente com Heitor Enéas Abraáo Sócrates Platáo e Aristóteles estáo confinados ao primeiro círculo do Inferno para aí so frer um castigo mínimo e até honroso por nao terem tido o beneficio da revelacáo Dante é claro admira as suas grandes virtudes e rea lizacóes mas posto que nao eram cristács tero de condenálos ainda que levemente ao Inferno A Eternidade é urna grande niveladora de distincóes é verdade mas as anomalias e os anacronismos especiais de se porem luminares précristáos na mesma categoria de danacáo paga que os muculmanos póscristáos nao incomodam Dante Mesmo que o Coráo especifique Jesus como um profeta Dante prefere considerar 78 I os grandes filósofos e O rei muculrnanos como fundamentalmente igno rantes do cristianismo Que eles possam ficar no mesmo distinto nível que os heróis e sábios da Antigüidade c1ássica é urna visáo ahistórica similar ade Rafael no seu afresco A Escola de Atenas no qual Averróis aparece lado a lado na academia com Sócrates e Platáo como e Día logue des morts 170018 de Fénelon onde há urna discussáo entre Sócrates e Confúcio As discriminacóes e refinamentos de Dante em sua poética per cepcáo do isla sao um exemplo da inevitabilidade esquemática quase cosmológica com que este e os seus representantes designados sao cria turas da percepcáo geográfica histórica e acima de tudo moral do Oci dente Os dados empíricos sobre o Oriente ou sobre qualquer das suas partes contam muito pouco o que importa e é decisivo é o que venho chamando de visáo orientalista urna visáo que de maneira alguma está confinada ao estudioso profissional mas é antes propriedade co mum de todos os que pensaram sobre o Oriente no Ocidente Os pode res de Dante como poeta intensificam tornam mais representativas e nao menos essas perspectivas sobre o Oriente Maomé Saladino Averróis e Avicena estáo fixos em urna cosmologia visionária fixos expostos empacotados aprisionados sem muita consíderacáo por nada além da sua funcáo e dos padróes que descrevem no palco em que aparecem Isaiah Berlín descreveu o efeito dessas atitudes da se guinte maneira Em tal cosmologia o mundo dos homens e em algumas versees o universo inteiro é urna única hierarquia que tudo abrange de modo que para explicar por que cada objeto nela é como é está onde e quando está e faz o que faz é eo ipso dizer qual é o seu objetivo o quanto ele o atinge com sucesso e quais sao as relacees entre os objetivos das diversas entidades que tém um objetivo na pirámide harmónica que elas formam coletivamente Caso se trate de urna imagem verdadeira da realidade entáo a explicacáo histórica como qualquer outra forma de explicaeáo deve consistir antes de mais nada em atribuir a cada um dos indiví duos grupos nacñes e espécíes o seu lugar certo no padráo universal de urna coisa ou pessoa é dizer o que esta coisa ou pessoa é efaz ao mesmo tempo por que deveria ser e fazer o queée faz Portanto ser e ter valor existir e ter umafuI19ao e cumprir essa íuncáo com mais ou menos éxito sao urna única e rnesma coisa O padráo e só ele causa o surgimento e o desaparecimento e confere um propósito quer dizer valor e sentido a tudo o que há Entenderéperceber padrees Quanto mais inevitável se possa mostrar ser um aconteci mento ou urna acáo ou um caráter melhor terso sido entendidos mais profunda será a perspicácia do pesquisador mais perto estaremos da verdade suprema Essa atitude é profundamente antiempirtcaP 79 E de fato é essa em gera a atitude orientalista Ela compartilha exemplo como a cruz que o Homem Comum carrega ou a roupa mul com a magia e com a mitologia o caráter autocontido e autoreforcado ticolorida usada por Arlequim em uma peca de commedia dellarte de um sistema fechado no qua os objetos sao o que sao porque sao o Em outras palavras nao precisamos procurar por uma correspon que sao agora e sernpre por razóes ontológicas que nenhum material déncia entre a linguagem usada para descrever o Oriente e o próprio pode remover ou alterar O encontro europeu coro o Oriente e especi Oriente nao porque a linguagem seja imprecisa mas porque eIa nao ficamente coro o isla reforcou esse sistema de representar o Oriente e está nem sequer tentando ser precisa O que ela está tentando fazer como foi sugerido por Henri Pirenne transformou o isla no próprio assim como Dante no Interno é caracterizar o Oriente como estran epítome da entidade externa contra a qual o conjunto da civilizacáo geiro eao mesmo tempo incorporálo esquematicamente a um palco européia a partir da Idade Média foi fundado O declínio do Império teatral cujas audiencia adminisfrador e atores sao para a Europa e só Romano como resultado das invasóes bárbaras teve o efeito paradoxal para ela Daí a vacilacáo entre o familiar e o estrangeiro Maomé é de incorporar maneiras bárbaras na cultura romana e mediterránea sempre o impostorIfamilíar porque ele pretende ser como o Jesus que Romanía Ero vez disso diz Pirenne a conseqüéncía das conhecemos e sempre o oriental estrangeiro pois embora ele seja em micas a partir do século VII foi o deslocamento do centro da cllUra alguns aspectos como Jesus nao é como ele no final das contas européia para longe do Mediterráneo que era entáo uma provincia Em vez de listar todas as figuras de linguagern associadas ao árabe e para o norte O germanismo comecou a ter seu papel na Oriente sua estranheza sua diferenca sua sensualidade exótica e história Até entáo a tradicáo romana nao fora interrompida Agora assim por diante podemos generalizar sobre elas do mesmo modo urna original civilizacáo rornanogermanica estava para comecar a como nos foram transmitidas pela Renascenca Todas elas sao declara desenvolverse A Europa estava fechada sobre si mesma O Oriente tivas e autoevidentes o tempo de verbo que elas usam é o eterno intem quando nao era apenas um lugar onde se comerciava estava cultural poral passam urna impressáo de repeticáo e torca sao sempre simé intelectual e espiritualmenteora da Europa e da civilizacáo européia tricas e contudo diametralmente inferiores a um equivalente euro a qual nas palavras de Pirenne urna grande comunidade peu que algumas vezes é especificado outras nao Para todas essas cristá coextensiva com a ecclesia L O Ocidente estava agora vi funcóes é com freqüéncía suficiente usar a simples cópula é Desse vendo a sua própria vida 52 No poema de Dante na obra de Pedro modo Maomé é um impostor na frase canonizada na Bibliothéque de o Venerável e de outros orientalistas de Cluny nos escritos dos pole DHerbelot e de certo modo dramatizada por Dante Nenhum embasa mistas cristáos contra o isla desde Guibert de Nogent e Beda até Roger mento é preciso as prevas para condenar Maomé estáo Bacon Guilherme de Trípoli Burchard de Monte Siáo e Lutero no contidas no é A frase nao se qualifica nem parece ser preciso dizer que Poema del Cid na Chanson de Roland e no Otelo aquele abusador Maomé joé um impostor nem considerar por um momento sequer que do mundo de Shakespeare o Oriente e o isla sempre sao represen pode nao ser necessário repetir a afirmacáo Mas esta é repetida ele é tados como entidades externas com um papel especial a cumprir dentro um impostor e cada vez que se diz isso ele fica um pouco mais impos da Europa tor e o autor da afirrnacáo adquire um pouco mais de autoridade por A geografia imaginativa dos vívidos retratos encontrados no In ter declarado isso Assim a famosa biografía de Maorné escrita por femo aos prosaicos nichos da Bibliothéque de DHerbelot legitima um Humphrey Prideaux no século XVII tem como subtítulo A verdadeíra vocabulário um universo de discurso representativo que é peculiar a natureza de uma impostura Finalmente é claro categorias como im discussáo e ao entendimento do isla e do Oriente O que esse discurso postor ou oriental neste caso implicam na verdade até requerem um considera como um fato que Maomé é um impostor por exemplo aposta que nao seja nem fraudulentamente outra coisa nem perpetua é um seu componente algo que ele nos compele a dizer cada vez que o mente necessitado de uma identificacáo explícita E esse oposto é oci nome Maorné ocorre Subjacente a todas as unidades do discurso orien dental ou no caso de Maomé Jesus talista e coro isso quero dizer apenas o vocabulário empregado cada Filosoficamente entáo o tipo de linguagero pensamento e visáo vez que se fala ou se escreve sobre o Oriente está uro conjunto de que tenho estado chamando de orientalismo é muito geralroente urna figuras representativas ou tropos Essas figuras estáo para o Oriente I forma de realismo radical qualquer pessoa que faca uso do orienta real ou isla que é o meu principal interesse aqui assim como as I liSIDO o que costuma ser o caso quando se lida com questóes objetos M estilizadas estáo para M de urna peca sao 0Le regióes0o 00 designa 00m fixa aquilo sobre o que está falando ou pensando com urna palavra ou frase que é entáo considerada como tendo adquirido ou mais simples mente como sendo realidade Falando retoricamente o orientalismo é absolutamente anatómico e enumerativo usar o seu vocabulário equi vale a ocuparse da particularizacáo e divisáo das coisas orientais em partes manejáveis Psicologicamente o orientalismo é urna forma de paranóia um conhecimento de outro tipo que nao digamos o cimento histórico ordinário Estes sao alguns dos resultados creio eu da geografia imaginativa e das dramáticas fronteiras que esta traca Existem porém algumas transrnutacóes especificamente modernas desses resultados orientalizados para os quais preciso voltarme agora PROfETaS É necessário examinar os sucessos operacionais mais bombás ticos do orientalismo quando mais nao seja para julgar o quáo exata mente errada e quño totalmente oposta averdade estava a idéia gran demente ameacadora expressada por Michelet segundo a qual o Oriente avanca invencível fatal para os deuses da luz pelo encanto de seus sonhos pela magia do seu chiaroscuro Y As relacóes culturais materiais e intelectuais entre a Europa e o Oriente passaram por inú meras fases ernbora a linha entre o Leste e o Oeste tenha deixado urna certa ímpressáo constante na Europa Mas em geral foi o Oeste que se deslocou para o Leste e nao viceversa O orientalismo é o termo gené rico que venho usando para descrever a abordagem ocidental do Orien te é a disciplina por meio da qual o Oriente é abordado sistematica mente como um tema de erudicáo de descobertas e de prática Mas além disso eu tenho usado a palavra para designar aquela colecáo de sonhos imagens e vocabulários disponíveis para qualquer urn que te nha tentado falar sobre o que está ao Leste da linha divisória Esses dais aspectos do orientalismo nao sao incongruentes pasto que me diante o uso de ambos a Europa pode avancar com metaforicamente para o Oriente Nesse ponto eu gostaria principal mente de considerar as provas materiais desse avance Com excecao do isla para a Europa o Oriente foi até o século XIX um domínio com urna história continua de incontestado contrle ocidental Isso é claramente válido para a experiencia británica na In dia a experiencia británica nas Indias Orientáis na China e no Japáo e as experiencias francesa e italiana em várias regióes do Oriente Hou ve alguns exemplos de intransigencia nativa perturbando o idilio como em 16389 quando um grupo de cristáos japoneses expulsou os portu 82 gueses da área no geral contudo apenas o Oriente árabe e islámico apresentou a Europa um desafio sem solucáo nos níveis político inte lectual e por algum tempo económico Por isso durante grande parte da sua história o orientalismo trouxe em si a marca de urna atitude européia problemática em relacáo ao isla e esse é o aspecto aguda mente sensível do orientalismo em torno do qual gira o meu interesse neste estudo Sem dúvida o isla foi de muitas maneiras urna provocacáo real Estava desconfortavelmente próximo a Europa geográfica e cultural mente Nutriase das tradicóes judeuhelénicas fazia criativos emprés timos do cristianismo e podia vangloriarse de éxitos políticos e mili tares sem paralelo Mas isso nao era tudo As terras islámicas estavam adjacentes e até mesmo sobrepostas as terras bíblicas além disso o co racáo dos domínios islámicos sempre havia sido a regiáo mais próxima da Europa a que foi chamada de Oriente Próximo O árabe e o hebreu sao línguas semíticas e juntas elas dispóern e redisp5em do materia que é urgentemente importante para o cristianismo Do final do século VII até a Batalha de Lepanto em 1571 o isla em suas formas árabe otomana norteafricana ou espanhola dominou ou arneacou efetiva mente a cristandade européia Que o isla tivesse ultrapassado Roma e brilhado mais que ela nao pode estar ausente da mente de nenhum europeu do passado ou do presente Nem mesmo Gibbon foi urna ex cecáo como fica evidente por esta passagem do Declinio e queda Nosdias vitoriosos da República romana fora intencáo do Senado con finar os seus conselhos e Iegióesa urna única guerra e suprimir comple tamente um primeiro inimigo antes de provocar as hostilidades de um segundo Essas tímidas máximas de política foram desdenhadas pela magnanimidade ou entusiasmo dos califas árabes Com o mesmo vigore hito elesinvadiram os sucessores de Augusto e de Artaxerxes e no mes mo instante as monarquias rivais caíram presas de um inimigo que se tinham há muito acostumado a desprezar Nos dez anos da adminis tracáo de Omar os sarracenos reduziram él obediencia dele 36 mil ci dades ou castelos destruíram 4 mil igrejas ou templos dos infiéis e edi ficaram 1400 mesquitas para o exercício da religiáo de Maomé Cem anos depois da sua fuga de Meca as armas e o reino dos seus sucessores seestendiam da India ao Oceano Atlántico sobre as diversase distantes 54 provmclas Quando o termo Oriente nao era simplesmente um sinónimo para o Leste asiático como um todo ou considerado como geralmente deno tativo do distante e exótico era entendido rígorosamente como passível de aplicacáo ao Oriente islámico Este Oriente militante chegou a 83 representar aquilo que Henri Baudet chamou de maré asiática55 Esse era certamente o caso até meados do século XVIII quando repo sitórios de conhecimentos orientais como a Bibliothéque orientale de DHerbelot deixaram de significar primariamente o isla os árabes ou os otomanos Até essa época a memória cultural dava urna compreen sível proeminéncia a acontecimentos relativamente distantes como a queda de Constantinopla as Cruzadas e a conquista da Sicilia e da Es panha mas se isso significava o arneacador Oriente nem por isso apa gaya ao mesmo tempo o que restava da Asia Pois sempre havia a india onde depois que Portugal foi pioneiro das primeiras bases da presenca européía no início do século XVI a Europa e principalmente a Inglaterra depois de um longo período de 1600 a 1758 de atividades essencialmente comerciais dominava poli ticarnente como urnaíorca de ocupacáo Mas a India em si nunca re presentou urna ameaca indigena a Europa Foi antes de mais nada porque lá a autoridade nativa desmoronou e abriu as terras a rivalidade intereuropéia e ao controle politico europeu indisíarcado que o Oriente indiano podia ser tratado pela Europa com tanta altivez proprietária e nunca coro o sentimento de perigo reservado para o isla 56 Mesmo assim entre essa altivez e qualquer coisa parecida coro um conheci mento positivo preciso existia urna vasta disparidade Os verbetes de DHerbelot para os temas indopersas na Bibliothéque eram todos ba seados em fontes islámicas e é verdadeiro dizer que até o início do sé culo XIX a expressáo llnguas orientais era sinónimo de línguas se míticas A renascenca oriental de que falou Quinet serviu para almgar alguns limites bastante estreitos nos quais o isla era oexemplo oriental em que tudo cabía O sánscrito a religiáo indiana e a história indiana nao adquiriram a condicáo de conhecimento científico senáo depois dos esforcos de sir William Jones no final do século XVIII e mesmo o interesse de Jones pela india chegoulhe por meio do seu conhecimento e interesse pelo isla Nao é surpreendente entáo que o primeiro grande trabalho de erudicáo oriental após a Bíbliothéque de DHerbelot tenha sido a Bis tory of the saracens de Simon Ockley cujo primeiro volume apareceu em 1708 Um recente historiador do orientalismo opinou que a atitude de Ockley com relacáo aos muculmanos que a eles era devido o que primeiro se conheceu de filosofia pelos cristáos europeus chocou dolorosamente o seu público europeu Isso porque Ockley nao só dei xou clara essa proeminéncia islámica em seu trabalho como também deu aEuropa a sua primeira e substancial visáo do ponto de vista ára be no tocante as guerras com Bizáncio e com a Pérsia 58 Contudo Ockley teve o cuidado de dissociarse da infecciosa influencia do isla e 84 ao contrário do seu colega William Whiston sucessor de Newton ern Cambridge sempre deixouclaro que o islá era urna ultrajante heresia Por seu entusiasmoislámico por outro lado Whiston foi expulso de Cambridge em 1709 Óacesso as riquezas indianas orientais tinha de ser feito sempre antes as províncias islámicas e agüentando o perigoso efeito do ISla como um sistema de crenca quase ariano E pelo menos durante a maior parte do século XVIII a Inglaterra e a Franca tiverarn éxito nisso O Império Otomano há muito se acomodara em urna con fortável para a Europa senescencia até ser considerado no século XIX como A Oriental A Inglaterra e a Franca lutaram urna contra a outra na India entre 1744 e 1748 e novamente entre 1756 e1763 até que em 1769 os británicos emergiram no controle econó mico e político prático do subcontinente O que podia ser mais inevi táel do que o fato de Napoleáo ser escolhido para fustigar o império onental da Inglaterra comecando por interceptar a sua passagem isla mica o Egito Embora tenha sido quase imediatamente precedida por pelo me dois grandes projetos orientalistas a invasáo do Egito por Napo leao em 1798 e a sua incursáo na Síria tiveram de longe as rnaiores conseqüéncias para a história moderna do orientalismo Antes de Na poleáo apenas dois grandes esforcos ambos por estudiosos haviam sido feitos para invadir o Oriente arrancandoIhe os véus e indo mais além do relativo abrigo do Oriente biblico O primeiro foi feito por AbrahamHyacinthe AnquetilDuperron 17311805 um excentrico terico do um homern que conseguía reconciliar na pró o catolicismo ortodoxo e o bramanismo 3 Asia para provar a existencia real primitiva de um e das genealogias bíblicas Ero vez disso ele excedeu a sua meta primitiva e foi para o leste até Surat onde encontrou um escon derijo de textos avésticos e onde também terminou a sua traducáo do Avesta Raymond Schwab disse a respeito do misterioso fragmento avéstico que provocou as viagens de Anquetil que enquanto osestu diosos olhavam para o famoso fragmento de Oxford e depois voltavam para os seus estudos Anquetil olhou e depois foi para a india Schwab observou também que Anquetil e Voltaire embora temperamental e ideologicamente estivessem irremediavelmente em desacordo tinham um interesse semelhante pelo Oriente e pela Biblia urn para tornar a Biblia mais indiscutível outro para tornála mais inacreditável Ironi camente as traducóes do Avesta de Anquetil serviram os propósitos de Voltaire posto que as descobertas de Anquetil lego levaram a uma crítica dos próprios textos bíblicos que até entáo tinham sido consi v 85 87 as Leis dos hindus e dos maometanos Política e geografia modernas do Indostáo Melhor modo de governar Bengala Aritmética e geometria e ciencias várias dos asiáticos Medicina química cirurgia e anatomia dos indianos Producóes naturais da India Poesia retórica e moralidade da Ásia Música das nacóes do Leste Comércio manuíatura agricultura e negócios da Índia e assim por diante No dia 17 de agosto de 1787 escreveu modesta mente para lorde Althorp que é minha intencáo conhecer a Índia me Ihor que qualquer outro europeu jamais a conheceu E aqui que Bal four encontra o primeiro prenúncio da sua alegacáo de que um ingles conhece o Oriente melhor que qualquer outro O trabalho oficial de Iones era a lei urna ocupacáo com sentido simbólico para a história do orientalismo Sete anos antes que Jones chegasse aIndia Warren Hastings decidira que os indianos deveriarn ser governados por suas próprias leis um trabalho mais dificil do que parece a primeira vista pois o código sánscrito de leis existia entáo para todo uso prático apenas ero urna traducáo persa e nenhum ingles da época sabia sánscrito bem o bastante para consultar os textos ori ginais Urn funcionário da Companhia Charles Wilkins primeiro aprendeu sánscrito depois cornecou a traduzir as Leis de Manu nesse trabalho ele logo cornecaria a ser assistido por Jones Wilkins por acaso foi o primeiro tradutor do BhagavadGita Em janeiro de 1784 Iones convocou a assembÍé1ainaugural da Sociedade Asiática de Ben gala que viria a ser para a India o que a Royal Society era para a Ingla terra Como primeiro presidente dessa entidade e como magistrado Jones adquiriu o conhecimento efetivo do Oriente e dos orientais que mais tarde faria dele o indiscutivel fundador a frase é de A J Arberry do orientalismo Governar e aprender e entáo comparar o Orientecom o Ocidente estaseram as metas de Jones que corn um impulso irre sistíveide sempre codificar de domar a infinita variedade do Oriente em um completo digesto de leis números costumes e obras acre ditase que ele tenha alcancado O seu mais famoso pronunciamento indica a extensáo em que o moderno orientalismo mesmo no seu iní cio era urna disciplina comparativa que tinha como meta principal basear as linguas européias ero urna distante e inofensiva fonte oriental O idioma sánscrito qualquer que seja a sua antigüidade tem urna mara vilhosa estrutura mais perfeito que o grego mais abundante que o la tim e mais requintadamente refinado que ambos tem contudo com eles urna afinidade mais íorte tanto nas raízes dos verbos como nas for mas gramaticais que o que poderia ter sido produzido por acidente tao forte de fato que nenhum filólogo poderia examinar os tres sem consi derálos como originários da mesma fonte comum 60 I 1 derados como textos revelados O efeito final da expedicáo de Anque til é bem descrito por Schwab 86 Pela prirneira vez o Oriente era revelado aEuropa na rnateriali dade dos seus textos linguas e civilizacóes Também pela primeira vez a Ásia adquiriu urna dimensáo histórica e intelectual precisa corn a qual podia escorar os mitos da sua distancia e vastidáo geográficas Por urna dessas inevitáveis compensacóes abreviantes de urna súbita expan sao cultural os trabalhos orientais de Anquetil foram sucedidos pelos de William Jones o segundo dos projetos prénapoleónicos que men cionei acirna Enquanto Anquetil abria amplas visees Jones as fe chava codificando tabulando comparando Antes que saisse da Ingla terra para a India Jonesjá dorninava o árabe o hebraico e o persa Isto era talvez o menos importante dos seus talentos ele era também poeta jurista polímata c1assicista e incansável estudioso cujas capa cidades o recomendariam a pessoas como Benjamin Franklin Edmund Burke William Pitt e Samuel Johnson No devido tempo foi nomeado para um posto honroso e proveitoso nas Indias e assim que chegou lá para assumir um cargo na Companhia das Indias Orientais come cou o curso de estudos pessoais que viriam a reunir isolar e domesticar o Oriente transformandoo assim em urna província da erudicáo euro péia Para o seu trabalho pessoal intitulado Objetos de inquiricáo durante a minha residencia na Asia ele enumerou entre os tópicos da sua investigacáo Em 1759 Anquetil terminou a sua traducác do Avesta ero Surat ero 1786 a dos Upanixades ero Paris ele cavara uro túnel entre os hemis férios do genio humano corrigindo e expandindo o velho humanismo da bacia do Mediterráneo Menos de cinqüenta anos antes fora colocada aos seus compatriotas a questáo de como era ser persa quando ele en sinou a eles como osmonumentos dos persas los Antes dele procuravase por iníormacoes sobre o passado remoto do nosso planeta exclusivamente entre os grandes escritores latinos gregos judeus e árabes A Bíblia era considerada urna rocha solitária uro aeró lito Uro universo de escritos estava a disposicáo mas quase ninguém parecia desconfiar da irnensidáo daquelas terras desconhecidas A per cepcáo comecou com a sua tradueáo do Avesta e atingiu alturas eston teantes devido a exploracáo na Ásia central das línguas que se multi plicaram depois de Babel Nas nossas escolas até cntáo limitadas a es treita heranca grecolatina da Renascenca grande parte da qual fora transmitida a Europa pelo isla ele introjetou urna visác de inúmeras civilizacóes de épocas passadas de urna infinidade de literaturas além disso as poucas províncias européias nao eram os únicos lugares a terem deixado sua marca na históría Grande parte dos primeiros orientalistas ingleses na india eram tal como Jones estudiosos legais ou entáo de maneira bastante inte ressante médicos com fortes inclinacóes missionárias Tanto quanto se pode dízer a maior parte deles estava imbuida do duplo propósito de investigar as ciencias e as artes da Ásia com a esperanca de facilitar os melhoramentos aqui e de avancar e aperfeicoar as artes na metró pole assim foi descrita a meta comum orientalista no Centenary volurne da Royal Asiatic Society fundada em 1823 por Henry Thomas Colebrooke Em suas relacóes com os orientais modernos os primeiros orientalistas profissionais como Jones tinham apenas dois papéis mas nao podemos hoje em dia culpálos pelas restricóes impostas ahuma nidade deles pelo caráter ocidental oficial da sua presenca no Oriente Eles eram ou juizes ou doutores Até mesmo Edgar Quinet escrevendo mais metafísica que realisticamente tinha urna vaga consciencia dessa relacáo terapéutica LAsie a les prophétes disse ele em Le génie des religions LEurope a les docteurs A Ásia tem os profetas a Europa os doutores 62 O conhecimento apropriado do Oriente comecava por um completo estudo dos textos clássicos e só depois passava a apli cacao desses textos ao Oriente moderno Em face da óbvia decrepitude e impotencia política do oriental moderno o orientalista europeu consi derava como dever dele resgatar urna parte de urna perdida grandeza c1ássica do passado oriental de maneira a facilitar os melhoramen tos no Oriente do presente O que o europeu tomava do passado clás sico oriental era urna visáo e milhares de fatos e artefatos que apenas ele podia empregar com maior vantagem para o oriental moderno ele dava íacilitacóes e melhoramentos e também o benefício do seu julgamento sobre o que era melhor para o Oriente moderno Era característico de todos os projetos orientalistas antes do de Napoleáo que muito pouca coisa podia ser feíta antes do projeto para preparar o seu sucesso Anquetil e Jones por exemplo aprenderam o que sabiam sobre Oriente só depois de chegarem lá Estavam enfren tando por assim dizer todo o Oriente e sornen te após um tempo e depois de considerável improvisacáo puderam reduziIo a urna pro víneia menor Napoleáo por outro lado nao queria nada menos que to mar todo o Egito e suas preparacóes foram de urna magnitude e de urna minuciosidade sem paralelos Mesmo assim essas preparacóes foram quase fanaticamente esquemáticas e se me permitem usar esta pa lavra textuais que sao características que pedem que as exami nemos um pouco aqui Tres coisas acima de tuda parecem ter estado na mente de Napoleáo enquanto ainda na Itália em 1797 ele se pre parava para o seu próximo lance militar Primeiramente além do ain da ameacador poderio da Inglaterra seus sucessos militares que ha 88 viam culminado no Tratado de Campoformio nao lhe deixavam outro lugar para ir em busca de glória além do Leste Além do mais Talley rand advertira recentemente sobre les avantages a retirer de colonies nouvelles dans les circonstances présentes as vantagens a se obter das novas colonias nas atuais circunstancias e essa n0930 juntamente coro a atraente perspectiva de ferir a Inglaterra empurraramno para o leste Em segundo lugar Napoleáo fora atraido pelo Oriente desde a adolescencia seus manuscritos de juventude por exemplo contérn um sumário feito por ele da Histoire des árabes de Marigny e fica evidente pelos seus escritos e conversacóes que ele estava mergulhado como diz Jean Thiry nas memórias e glórias ligadas ao Oriente de Alexandre particularmente ao Egito Desse modo a idéia de reconquistar o Egi tocomo um novo Alexandre propósse a ele aliada ao beneficio adi cional de adquirir urna nova colonia islámica acusta da Inglaterra Em terceiro lugar Napoleáo considerava o Egito como um projeto verossí mil precisamente porque o conhecia tática estratégica histórica e o que nao deve ser subestimado textualmente ou seja como algo so bre o que se le e que se conhece através dos escritos de autoridades européias recentes e clássicas A questáo nisso tudo é que para Napo o Egito era um projeto que adquiriu realidade na mente dele e mais tarde nos preparativos para a sua conquista através de expe riéncías que pertencem ao reinado das idéias e dos mitos extraídos de e nao a realidade empíricacOs planos dele para o Egito por tanto tornaramse o primeiro em urna série de encontros europeus com o Oriente nos quais a habilidade especial dos orientalistas foi posta diretamente a servico de uro ernprego colonial funcional pois no mo mento crucial em que um orientalista tinha de decidir se as suas leal dades e simpatías estavarn com o Oriente ou coro o Ocidente conquis tador ele sempre escolheu este último a partir de Napoleáo Quanto ao próprio imperador via o Oriente apenas como tinha sido codificado primeiramente pelos textos c1ássicos e depois pelos especialistas orien talistas cuja visáo baseada em textos c1ássicos parecia ser uro substi tuto útil a qualquer encontro de fato com o Oriente real O alistamento feito por Napoleáo de várias dúzias de sábios para a sua Expedicáo Egipcia é muito bem conhecido para precisar ser detalhado aqui A idéia dele era formar urna espécie de arquivo vivo para a expedicáo na forma de estudos sobre todos os temas feitos por membros do Institut dÉgypte que ele fundara O que talvez seja menos conhecido é a confianca prévia que Napoleáo depositava na obra do conde de Volney um viajante francés cuja Voyage en Égypte et en Syrie apareceu em dois volumes em 1787 Além de um curto prefácio pessoal que informava o leitor de que a súbita aquisicáo de algum di 89 nheiro tornara possível para ele a víagem para o leste em 1783 a Voyage de Volney é um documento quase opressivamente impessoal Evidente mente Volney víase como uro cientista euja tareía era sempre a de registrar o état do que quer que ele visse O clímax da Voyage OCOfTe no segundo volume um relato do isla como relígíáo As opinióes de Vol ney eram canonicamente hostis ao islacomo religiáo e como sistema de instituicóes políticas mesmo assim Napoleáo considerava essa obra e as Considérations sur la guerre actuelle des turcs de Volney publi cadas em 1788 de particular importancia Pois afinal de cantas Vol ney era uro francés sagaz e assim como Chateaubriand e Lamartine uro quarto de século depois dele vía o Oriente Próximo como uro lugar promissor para a realizacáo das ambicóes coloniais francesas O que era proveitoso para Napoleáo ern Volney eram as enumeracóes em ordem ascendente de dificuldade dos obstáculos a serem enfren tados no Oriente por qualquer forca expedicionária francesa Napoleáo referese explicitamente a Volney em suas reflexóes sobre a Expedicáo Campagnes dÉgypte et de Syrie 17981799 que ele ditou ao general Bertrand em Santa Helena Volney disse con siderava que havia tres barreiras a hegemonía francesa no Oriente e que qualquer forca francesa teria portanto de combater tres guerras urna contra a Inglaterra a segunda contra a Porta otomana e a ter ceira a mais difícil contra os muculmanosP A avaliacáo de Volney era astuta e difícil de incorrer em erro posto que estava claro para Na poleáo como estaria para qualquer um que lesse Volney que a Voyage e as Consídérations eram textos efetivos para serem usados por qual quer europeu que desejasse vencer no Oriente Em outras palavras a obra de Volney era um manual para atenuar o choque que um euro peu poderia sentir ao experimentar diretamente o Oriente Leia os li vros parece ter sido a tese de Volney e longe de ficar desorientado pelo Oriente vocéo fará curvarse diante de si Napoleáo tomou Volney quase ao pé da letra mas de modo carac teristicamente sutil Desde o primeiro momento em que a Armée dÉgyp te apareceu no horizonte egipcio nenhum esforco foi poupado para convencer os muculmanos de que nous sommes les vrais musulmans somos os verdadeiros muculmanos tal como a proclamacáo de Bona parte de 2 dejulho de 1798 colocou para o pavo em Alexandria Mu nido de urna equipe de orientalistas e a bordo de urna nau capitánia chamada Orient Napoleáo usou a inimizade egípcia para com os ma melucos e os apelos arevolucionária idéia de oportunidade igual para todos para conduzir urna guerra singularmente benigna e seletiva con tra o isla O que mais impressionou o primeiro cronista árabe da expe dicáo AbdalRahman alJabarti foi o fato de Napoleáo ter usado 90 estudiosos ern seus contatos com os nativos isso e o impacto de ver de perta urna moderna instituicáo intelectual européia Em todos os momentos Napoleáo tentou provar que estava lutando pelo isla tudoo que ele dizia era traduzido ao árabe coránico e o exército francés era estimulado pelo comando a ter sempre em mente a sensibilidade isla mica Comparese a esse respeito a tática de Napoleáo no Egito com as do Requerimiento um documento produzido em 1513 em espa nhol pelos espanhóis para ser lido em voz alta para os indios Pegaremos voces e suas esposas e seus filhos e os transformaremos em escravos e como tais os venderemos e disporemos de voces da maneira que Suas Altezas o rei e a rainha da Espanha ordenarem e levaremos embora os seus bens e taremos a voces todos os males e os danos que pudermos como vassalos que nao obedecem etc etc68 Quando pareceu óbvio a Napoleáo que a sua íorca era pe quena demais para se impar aos egipcios ele tentou fazer com que os imás cádis muftis e ulemás locais interpretassem o Coráo a favor da Grande Armée Com este fim os sessenta ulemás que ensinavam na Azhar foram convidados aos aposentos dele e recebidos com honras militares plenas para depois serem adulados pela admiracáo de Napo leño pelo isla e por Maomé e pela sua óbvia veneracáo pelo Coráo com o qua ele parecia perfeitamente familiarizado Isso funcionou e lago a populacáo do Cairo parecia ter perdido a sua desconfianca em relacáo as íorcas de ocupacño Mais tarde Napoleáo deu ao seu adjunto Kle ber instrucóes estritas para sempre administrar o Egito depois que ele partisse através dos orientalistas e dos líderes religiosos islámicos que pudessem ser ganhos qualquer outra política seria cara e tola demais 70 Hugo acreditava ter apreendido a discreta glória da expedicáo oriental de Napoleáo em seu poema Luí Au Nilje le retrouve encore LEgypte resplendit des feux de son aurore Son astre impérial se leve alorient Vainqueur enthousiaste éclatant de prestiges Prodige iI étona la terre des prodiges Les vieux scheiks vénéraient lémir jeune et prudent Lepeuple redoutait ses armes inouies Sublime il apparut aux tribus éblouies Comme un Mahomet doccident 71 Junto ao Niloeu oencontro mais urnavez O Egito brilha com o fogo da sua aurora Seu astro imperial se ergue no Oriente Vencedor entusiasta transbordando de prestígios 91 Prodigiosoespantou a terra dos prodigios Os velhos xequesveneravam o emirjoveme prudente O povotemia suas armas inauditas Sublime ele apareceu as tribos ofuscadas Comoum Maomé do Ocidentel Um triunfo como esse só poderia ter sido preparado antes de urna expedicáo militar talvez por alguém que nao tivesse nenhuma expe riencia prévia do Oriente além da adquirida através dos livros e dos estudiosos A idéia de levar junto urna academia completa é de muitas maneiras um aspecto dessa atitude textual para com o Oriente E por sua vez essa atitude foi favoreddapor decretos revolucionários espe cíficos particularmente o de 10 de Germinal do Ano 111 30 de marco de 1793 que estabelecia urna écolepublique na Bibliothéque Nationale para o en sino de árabe turco e persa 72 que tinham o objetivo racio nalista de desfazer o encanto do mistério e institucionalizar até mesmo o mais recóndito conhecimento Desse modo muitos dos tradutores orientalistas de Napoleáo eram alunos de Sylvestre de Sacy que a par tir de junho de 1796 foi o primeiro e único professor de árabe na Ecole Publique des Langues Orientales Sacy tornouse mais tarde o professor de quase todos os grandes orientalistas da Europa onde os seus alunos dominaram o campo por cerca de tres quartos de século Muitos deles foram politicamente úteis do mesmo modo que vários haviam sido para Napoleáo no Egito Mas as relacóes corrí os muculmanos eram apenas urna parte do projeto de Napoleáo para dominar o Egito A outra parte era deixálo completamente aberto tornálo totalmente acessível ao escrutínio eu ropeu De urna terra de obscuridade e parte do Oriente até entáo co nhecido de segunda rnáo através das facanhas de viajantes estudiosos e conquistadores anteriores o Egíto deveria tornarse um departamento da erudicáo francesa Nesse ponto também sao evidentes as atitudes esquemáticas e textuais O Institut coro sua equipe de químicos histo riadores biólogos arqueólogos cirurgióes e antiquários era a divisáo culta do exército A tarefa dele nao era menos agressiva traduzir o Egito ao francés moderno e diferentemente da Description de lÉgyp te de 1735 do abade Le Mascrier a de Napoleáo deveria ser um em preendimento universal Quase desde os primeiros momentos da ocu pacáo Napoleáo fez o Institut comecar as suas reunióes suas expe riencias sua missáo de encontrar fatos como diríamos hojeo O mais importante é que tudo o que fosse dito visto e estudado deveria ser registrado e foi de fato registrado naquela grande apropriacáo coletiva de um pais por outro a Description de lÉgypte publicada em 23 enor mes volurnes entre 1809 e 1828 7J 92 A singularidade da Description nao está apenas em seu tamanho nem sequer na inteligencia de seus autores mas na sua atitude para com o seu tema e é essa atitude que o torna grandemente interessante para o estudo dos projetos orientalistas modernos As primeiras poucas páginas do seu préface historique escritas por JeanBaptisteJoseph Fourier o secretário do Institut deixam claro que ao fazer o Egito os estudiosos estavam também lutando corpo a corpo com um genero de significacáo cultural geográfica e histórica nao adulterada O Egito era o ponto focal das relacóes entre a África e a Ásia entre a Europa e o Leste entre a memória e os fatos Situado entre a África e a Ásia e comunicandose facilmente com a Europa o Egito ocupa o centro do antigo continente Este país apresenta apenas grandes memórias é a pátria das artes e conserva inúmeros mo numentos seus principais templos e os palácios habitados pelos seus reis ainda exístem mesmo que os seus edifícios menos antigos tenham sidoconstruídos na época da Guerra de Tróia Homero Licurgo Sólon Pitágoras e Platáo foram todos ao Egito para estudar as ciencias a reli giáo e as leis Alexandre fundou lá urna opulenta cidade que por muito tempo gozou de supremacia comercial e que testemunhou Pompeu Cé sar Marco Antonio e Augusto decidindo o destino de Roma e de todo o mundo É portanto apropriado que este país atraia a atencáo de prín cipesilustres que governam o destino das nacóes Nenhum poder considerável foijamais acumulado por nacáo alguma no Ocidente ou na Ásia sem ter também voltado essa nacáo para o Egi to que em certa medida era vistocomoum quinháo natural 74 Posto que o Egito estava saturado de significado para as artes as cien cias e o governo o seu papel era o de ser o palco onde acóes de impor tancia histórica mundial teriam lugar Ao tomar o Egito entáo urna potencia moderna estaria naturalmente demonstrando a sua Iorca e justificando a história o destino do Egito era ser anexado de prefe rencia aEuropa Além disso essa potencia também passaria a urna história cujo elemento comum era definido por figuras nao inferiores a Homero Alexandre César Platáo Sólon e Pitágoras que honraram o Oriente com sua passagem por lá O Oriente em resumo existia como um conjunto de valores ligados nao as suas realidades modernas mas a urna série de con tatos valorizados que tivera com um distante passado europeu Este é um exemplo puro da atitude esquemática e textual a qual me venho referindo Fourier prossegue no mesmo tom por mais de cem páginas cada urna incidentalmente tem um metro quadrado como se o projeto e o tamanho da página fossem considerados como tendo urna escala com parável A partir do passado flutuante contudo ele tem de justificar a 93 1 expedicáo napoleónica como algo que precisava ser feito quando acon teceu A perspectiva dramática nunca é abandonada Consciente da sua platéia européia e das figuras orientais que estava manipulando ele escreve Lernbramonos da impressáo causada na Europa toda pela espantosa notícia de que os franceses estavam no Oriente Este grande projeto foi meditado em silencio e foi preparado com tal atividade e sigilo que a inquieta vigilancia dos nossos inirnigos foi iludida apenas no momento em que aconteceu é que eles souberam que ele fora concebido empreen dido e realizado com sucesso Um coup de théiitre tao dramático tinha as suas vantagens também para o Oriente Este país que transmitiu o seu conhecimento a tantas nacóes está hoje imerso na barbárie Apenas um herói poderia juntar todos esses fatores que é o que Fourier passa a descrever Napoleáo sabia do valor que esse acontecimento teria sobre as relacóes entre a Europa o Oriente e a África sobre a navegacao mediterránea e sobre os destinos da Ásia Napoleáo desejava oferecer um exemplo europeu proveitoso para o Oriente e finalmente tarnbérn tornar a vida dos habitantes rnais agradável alérn de proporcionarIhes todas as van tagens de urna civilizacác aperfeicoada Nada disso seria possível sern urna continua aplicacáo ao projeto das artes e das ciencias 7S Restaurar urna regiáo da sua barbárie presente a sua antiga grandeza clássica instruir o Oriente para o seu próprio benefício nas maneiras do moderno Ocidente subordinar ou diminuir o papel do poder militar de maneira a engrandecer o projeto de conhecimento grandioso adquirido no processo de dominacáo política do Oriente for mular o Oriente darlhe forma identidade e definicáo com pleno re conhecimento do seu lugar na memória da sua importancia para a estratégia imperial e do seu papel natural como um apéndice da Eu ropa dignificar todo o conhecimento recolhido durante a ocupacáo co lonial com o título de contribuicáo aerudicáo moderna quando os nativos nao haviam sido nem consultados nem tratados como qualquer coisa além de pretextos para um texto cuja utilidade nao se dirigia aos nativos sentirse como um europeu que estivesse comandando quase a vontade a história o tempo e a geografía orientais dividir distribuir esquematizar tabular indexar e registrar tudo o que estiver ou nao a vista instituir novas áreas de especializacáo estabelecer novas disci plinas fazer de cada detalhe observável uma generalizacáo e de cada generalizacáo urna lei imutável sobre a natureza temperamento men talidade costume ou tipo orientais e acima de tudo transmutar a 94 realídade viva na matéria de que se fazem os textos possuir ou acre ditar possuir a realídade principalmente porque nada no Oriente pa rece resistir aos nossos poderes essas sao as características da projecáo orientalista inteiramente realizada na Descríptíon de lÉgypte ela mesma possibilitada e reforcada pela absorcáo totalmente orientalista do Egito feita por Napoleáo com os instrumentos do conhecimento e do poder ocidentais Assim Fourier conclui o seu prefácio anunciando que a história recordará de que modo o Égypte fut le théátre de sa gloire de Napoleáo et préserve de loubli toutes les circonstances de cet événement extraordinaire O Egito foi o teatro de sua glória e preserva do esquecimento todas as circunstancias deste acontecimento extraordinário 76 A Description desse modo substitui a história egipcia ou orien tal como urna história que possui sua própria coeréncia identidade e sentido Em vez disso a história tal como é registrada na Description suplanta a história egípcia ou oriental identificandose direta e imedia tamente corn a história mundial um eufemismo para a história da Eu ropa Preservar um acontecimento do esquecimento é para o orienta lista o mesmo que transformar o Oriente em um palco para as suas representacóes do Oriente isso é quase exatamente o que Fourier diz Além disso o mero poder de ter descrito o Oriente em termos ociden tais modernos ergue este do reinado da obscuridade silenciosa em que estava esquecido salvo pelos murrnúrios incipientes de um vasto mas indefinido sentido do seu próprio passado para a claridade de mo derna ciencia européia Nesta esse novo Oriente figura por exem plo nas teses biológicas de Geoffroy SaintHilaire na Description como a confirmacáo das leis de especializacáo zoológica formuladas por Buffon Ou serve como um contraste frappant avec les habi tudes des nations Européennes contraste chocante com os hábitos das nacóes européias 78 ern que as bizarres jouissances prazeres extravagantes dos orientais servem para destacar a sobriedade e a ra cionalidade dos hábitos ocidentais Ou entáo para citar mais urna uti lidade do Oriente os equivalentes das características fisiológicas orien tais que tornaram possível embalsamar cadáveres com éxito sao procu rados nos cadáveres europeus de modo que os cavaleiros caídos no campo de honra pudessem ser preservados como relíquias naturais da campanha oriental de Napoleáo Contudo o fracasso militar da ocupacáo do Egito por Napoleáo nao destruiu também a fertilidade da sua abrangente projecáo para o Egito ou para o resto do Oriente A ocupacáo deu origem literalmente a toda a moderna experiencia do Oriente tal como é interpretado a partir do universo de discurso fundado por Napoleáo no Egito cujas 95 agencias de dorninacáo e de disserninacáo incluiam o Institut e a Des críptíon A idéia tal como foi caracterizada por CharlesRoux era que o Egito restaurado a prosperidade regenerado por urna adminis tracáo sábia e iluminada l espalharia seus raios civilizadores por todos os seus vizinhos oríentaistw E verdade que as demais potencias européias procurariam competir nessa missáo e nenhuma mais que a Inglaterra Mas o que acontecería como um legado continuado da missáo ocidental comum no Oriente apesar das querelas da cornpe ticáo indecente ou da guerra aberta no interior da Europa seria a criacáo de novos projetos novas visóes novas empreendimentos que combinassem partes adicionais do velho Oriente com o espírito con quistador europeu Depois de Napoleáo portanto a própria linguagem do orientalismo mudou radicalmente O seu realismo descritivo foi promovido e tornouse nao apenas um estilo de representacáo mas urna linguagem na verdade urn meio de criaciio Juntamente com as langues meres título recebido de Antoine Fabre dOlivet por essas es quecidas fontes adormecidas do demótico europeu moderno o Oriente foi reconstruído montado novamente moldado e em resumo nasceu dos esforcos orientalistas A Description tornouse o tipomodelo de todos os esforcos ulteriores para aproximar o Oriente da Europa para depois absorvélo inteiramente e centralmente importante can celar ou pelo menos baixar de tom e reduzir a sua estranheza e no caso do isla a sua hostilidade A partir de entáo o Oriente islámico apareceria como urna categoria que denotaria o poder dos orientalistas e nao os islamitas como seres humanos nem a história deles como his tória Desse modo da expedicáo napoleónica surgiu toda urna série de filhotes textuais do Itinéraire de Chateaubriand a Voyage en Orient de Lamartine ao Salammb6 de Flaubert e na mesma tradícáo ao Manners and customs ofthe modern egyptians de Lane e ao Personal narrative 01a pilgrimage to alMadinah and Meccah Narrativa pessoal de urna peregrinacáo a Medina e Meca de Richard Burton O que os liga nao é apenas a sua base cornum de lendas e experiencias orientais mas tambémasua do Oriente corno urna eSljEie úterodo qualjodos saíram Se por acaso paradoxalmente essas cria cóes revelararnse afinal como simulacros altamente estilizados imi tacóes elaboradamente forjadas do que se poderla crer que seria a apa rencia de um Oriente vivo isso de modo algum diminui a forca da sua concepcao imaginativa ou a forca do domínio europeu do Oriente cujos protótipos eram respectivamente Cagliostro o grande personi ficador europeu do Oriente e Napoleáo o seu primeiro conquistador moderno 96 A obra artistica ou textual nao foi o único produto da expedicáo napoleónica Houve também além disso e com urna influencia certa mente maior o projeto científico cujo exemplo principal é o Systéme comparé et histoire générale des langues sémítiques de Ernest Renan completado com bastante elegancia em 1848 para o Premio Volney e o projeto geopolítico de que o canal de Suez de Ferdinand de Lesseps e a ocupacáo británica do Egito em 1882 sao exemplos elementares A diferenca entre os dois nao está apenas na escala manifesta mas tam bérn na qualidade da conviccáo orientalista Renan acreditava de fato ter recriado o Oriente tal como ele realmente era em sua obra De Lesseps por outro lado sempre esteve de certo modo admirado pela novidade que o seu projeto tirou do velho Oriente e esse sentimento se comunicava a todos aqueles para quem a abertura do canal em 1869 nao foi um acontecimento ordinário Em Excursionist and tourist advertiser de 1 de julho de 1869 o entusiasmo de Thomas Cook era urna continuacáo do de De Lesseps No dia 17 de novembro o maior feito da engenharia do presente século terá o seu sucesso celebrado por urna magnífica festa de inauguracáo para a qual quase todas as famílias reais européias enviarác um repre sentante especial A ocasiáo será verdadeiramente excepcional A forma cáo de urna linha de comunicacao aquática entre a Europa e o Leste tem sido urna idéia de séculos ocupando urna após a outra as mentes dos gregos romanos saxóes e gauleses mas nao foi senáo nestes poucos últi mos anos que a civilizacáo moderna comecou seriamente a empreender a emulacáo dos trabalhos dos antigos faraós que há muitos séculos cons truíram um canal entre os dois mares do qual existem vestigios até hojeo Tudo o que diz respeito as obras modernas está na mais gigan tesca das escalas e a leitura cuidadosa de um pequeno folheto que des creve o empreendimento de autoria do Cavaleiro de Sto Stoess nos im pressiona poderosamente com o genio do Grande Mentor o sr Ferdi nand de Lesseps gracas a cuja perseveranca calma intrepidez e pre visee o sonho de eras tornouse finalmente um fato real e tangível o projeto de aproximar mais os países do Oeste e do Leste unindo assim as civilizacóes de diferentes épocas A combinacáo de velhas idéias com novos métodos a umao de cul turas cujas relacóes com o século XIX eram diferentes a genuina impo sicáo do poder da moderna tecnología e vontade intelectual a entidades geográficas antigamente estáveis e divididas como o Leste e o Oeste isto é o que Cook percebe e o que ern seus diários discursos pros pectos e cartas De Lesseps propagandeia Genealogicamente Ferdinand cornecou auspiciosarnente Ma thieu de Lesseps seu pai fora ao Egito e lá permanecera represen 97 tante francés oficioso diz Marlowe 82 por quatro anos depois que os franceses se retiraram em 1801 Muitos dos escritos posteriores de Fer dinand referemse ao interesse do próprio Napoleáo em abrir uro canal uro objetivo que devido a ter sido mal informado pelos especialistas ele nunca considerou realizáve1 Contagiado pela história errática dos projetos de canal que incluíam esquemas franceses alentados por Ri chelieu e pelos sansimonistas De Lesseps retornou ao Egito em 1854 embarcando no empreendimento que foi eventualmente concluido quinze anos mais tarde Ele nao tinha nenhuma formacáo real como engenheiro Apenas urna tremenda fé em suas habilidades quase di vinas como construtor autor e criador o movía quando seus talentos diplomáticos e financeiros granjearamlhe apoio egipcio e europeu ele parece ter adquirido os conhecimentos necessários para levar as coisas até o fimo Talvez tenhalhe sido mais útil ter aprendido a colocar os seus contribuintes em potencial no teatro da história mundíal e Iazélos ver o que realmente significava sua pensée morale como chamava o projeto Vous envisagez disselhes ele em 1860 les irnmenses services que le rap prochement de loecident ct de lorient doit rendre ala civilisation et au développement de la richesse générale Le monde attend de vous un grand progrés et vous voulez répondre alattente du monde 83 Considerem os imensos servicos que a aproximacáo do Ocidente ao Oriente prestará a civilizacáo e ariqueza geral O mundo espera de vo ces um grande progresso e voces querem corresponder as expectativas do mundo Concordando corn essas nocóes o nome da companhia de investi mentos formada por De Lesseps em 1858 era carregado de significado e refletia os planos grandiosos que ele nutria a Compagnie Universelle Em 1862 a Académie Francaise ofereceu um premio por um poema épico sobre o canal Bornier o vencedor cometeu a hipérbole que se gue em nada contraditória com a imagem que De Lesseps fazia da quilo que estava arquitetando Au travail Ouvriers que notre France envoie Tracez pour lunivers cette nouveUe voie Vos péres les héros sont venus jusquici Soyez fermes comme eux intrepides Comme eux vous combattez aux pieds des pyramides Et leurs quatre mille ans vous contemplent aussi 98 Oui cest pour lunivers Pour IAsie et pour lEurope Pour ces c1imats lointains que la nuit enveloppe Pour le Chinois perfide et lIndien deminu Pour les peuples heureux libres humains et braves Pour les peuples méchants pour les peuples esclaves Pour ceux aqui le Christ est encore ínconnus Ao trabalho Obreiros que a nossa Franca envia Tracai para o universo esta nova vial Vossos pais os heróis chegaram até aqui Sede firmes como eles intrépidos Como eles combatei ao pé das pirámides Cujos quatro mil anos vos contemplam também Sim para o universo Para a Ásia e a Europa Para os climas longínquos que a noite envolve Para o chinés traicoeiro e o índio seminu Para os povos felizes livres humanos e bravos Para os povos maldosos os povosescravos Para aqueles que o Cristo ainda nao ccnhecem De Lesseps nunca era mais eloqüente do que quando chamado a justi ficar os enormes gastos em dinheiro e em homens que o canal exigirla Ele podia derramar estatísticas para agradar a qualquer ouvido citava Heródoto e estatísticas marítimas coro a mesma desenvoltura No seu diárío em 1864 ele cítava com aprovacáo a observacáo de Casimir Leconte segundo a qual urna vida excentrica desenvolveria urna signi ficante originalídade nos homens e da originalidade viriam grandes e incomuns proezasP Apesar da sua estirpe imemorial de fracassos do seu custo ultrajante suas espantosas ambicóes de alterar a maneira como a Europa lidaria com o Oriente o canal valia o esforco Era um projeto singularmente capaz de superar as objecóes dos que eram con sultados e melhorando o Oriente como um todo de fazer o que o intri gante egipcio o pérfido chinés e o indiano seminu nunca poderiam fazer por eles mesmos As cerimónias de abertura em novembro de 1869 foram urna ocasiáo que assim como toda a históría das maquinacóes de De Les seps corporificou perfeitamente as suas idéias Durante anos os seus discursos cartas e panfletos continham um vocabulário vivamente enérgico e teatral Em busca de sucesso ele podia ser visto falando de si mesmo sempre na primeira pessoa do plural nós criamos lutamos dispusemos realizamos agimos reconhecemos perseveramos avan carnos nada repetiu ele em muitas oportunidades podia conternos nada era impossível nada importava finalmente além da realizacáo 99 do résultat final le grand but resultado final a grande meta que ele concebera definira e finalmente executara Quando o enviado do papa falou aos dignitários reunidos ero 16 de novembro o seu discurso tentou desesperadamente fazer jus ao espetáculo intelectual e imagina tivo proporcionado pelo canal de De Lesseps 11 est permis d affirmer que lheure qui víent de sonner est non seulernent une des plus solennelles de ce siécle mais encore une des plus grandes et des plus décisives quait vues lhumanité depuis quelle a une histoire cibas Ce lieu oü confinent saTIS désormais y toucher IAfrique et l Asie eette grande fete du genre humain eette assistance auguste et cosmopolite tontes les races du globe tous les drapeaux tous les pavil lons flottant oyeusement SOtiS ce ciel radieux et immense la croix de bout et de tous en tace du croissant que de merveilles que de contrastes saisissants que de réves réputés chimériques devenus de pal pables réalités et dans cet assemblage de tant de prodiges que de sujets de réflexions pour le penseur que de joies dans lheure présente et dans les perspectives de Iavenir que de glorieuses espérances Les deux extrémités du globe se rapprochent en se rapprochant elles se reconnaissent en se reconnaissant tous les hommes enfants dun seul et méme Dieu éprouvent le tressaillementjoyeux de leur mutuelle frater nité O Occidentl O Orient rapprochez regardez reconnaissez saluez étreignezvous l Mais derriere le phénomene matériel le regard du penseur découvre des horizons plus vastes que les espaces rnésurables les horizons sans bornes oú mouvent les plus hautes destinées les plus glorieuses conque tes les plus immortelles certitudes du genre humain Dieu que votre souffle divin plane sur ces eaux Quil y passe et repasse de lOccident alOrient de lOrient alOccident O Dieu Ser vezvous de cette voie pour rapprocher les hornrnes les uns des autres 86 Podese afirmar que a hora que acaba de soar é nao apenas urna das mais solenes deste século como também urna das mais grandiosas e mais deci sivas que a humanidade jamais viu desde que tem urna história aqui em baixo Este lugar onde confinam sernno entanto se tocarem a África e a Ásia esta grande festa do genero humano esta assisténcia augusta e cosmopolita todas as racas do globo todas as bandeiras todos os pa vilhóes tremulando com júbilo sob este céu radiante e imenso a cruz erguida e de todos respeitada frente ao crescente quantas maravifhas quantos contrastes cativantes quantos sonhos tidos por quimeras que se tornaram palpáveis realidades E nesta reuniác de tantos prodígios quantos temas de reílexáo para o pensador quanto júbilo na hora pre sente e nas perspectivas do porvir quantas gloriosas esperancas As duas extremidades do globo se aproximam aproximandose re conhecemse reconhecendose todos os hornens filhos de um único e mesmo Deus sentíráo o frémito jubiloso da sua mútua fraternidade O 100 Ocidente O Oriente aproximai olhai reconhecei saudai abracai vos Mais além do fenómeno material porém o olhar do pensador des cobre horizontes mais vastos que os espacos mensuráveis os horizontes sem limites onde se movem os mais altos destinos as mais gloriosas con quistas as mais imortais convíccóes do genero humano Deus que o vosso sopro divino paire sobre estas águas Que por e1as ele passe e volte a passar do Ocidente ao Oriente do Oriente ao Oci dente O Deus Servívos desta via para aproximar os hornens uns dos outros o mundo inteiro parecia ter se juntado para render urna homenagem a up esquema que Deus podia apenas abencoar e usar para si mesmo Velhas distincóes e inibicóes dissolveramse a Cruz encarava o Cres cente o Oeste viera para o Oriente para nunca mais deixálo até que em julho de 1956 Gamal Abdel Nasser ativasse a tomada de posse do canal pelo Egito pronunciando o nome de De Lesseps Na idéia do Canal de Suez vemos a conclusáo lógica do pensa mento orientalista e mais interessante do esíorco orientalista Para o Ocidente a Asia representara outrora a distancia silenciosa e a alie nacáo o isla era a hostilidade militante ao cristianismo europeu Para superar essas temiveis constantes o Oriente precisava primeiro ser co nhecido depois invadido e possuído e entáo recriado por estudiosos soldados e juizes que desenterraram línguas histórias racas e culturas esquecidas de maneira a situálas além do alcance do oriental mo derno como o verdadeiro Oriente clássico que poderia ser usado para julgar e governar o Oriente moderno A obscuridade desapareceu para ser substituida por entidades de estufa o Oriente era a palavra de um estudioso que significava aquilo que a Europa moderna fizera do Leste ainda peculiar De Lesseps e o seu canal finalmente destruíram a distancia do Oriente a sua enclausurada intimidade afastada do Oci dente o seu duradouro exotismo Assim como urna barreira terrestre podia ser transmutada ern urna artéria líquida o Oriente foi transubs tanciado de urna hostilidade resistente a urna obsequiosa e submissa parceria Após De Lesseps ninguém mais poderia falar do Oriente como algo que pertencia a outro mundo estritamente falando Havia apenas o nosso mundo um mundo unido porque o canal de Suez frustrara aqueles últimos provincianos que ainda acreditavam na dife renca entre mundos A partir de entáo a nocáo de oriental passa a ser urna nocáo administrativa ou executiva e a estar subordinada a fa tores demográficos económicos e sociológicos Para imperialistas como Balfour ou para antiimperialistas como J A Hobson o oriental como o africano é membro de urna raca subjugada e nao exclusivamente um habitante de urna regiáo geográfica De Lesseps liquidara a identi dade geográfica do Oriente arrastandoo quase literalmente para o Oeste e finalmente desfazendo o encanto da ameaca do islá Novas categorias e experiencias inclusive as imperialistas surgiriam e com o tempo o orientalismo se adaptaria a elas mas nao sem alguma dificul dade CRISE Pode parecer estranho dizer que algo ou alguém tem urna atitude textual mas um estudante de literatura entenderá a frase mais faci mente se recordar o tipo de visáo atacado por Vollaire em Candide ou até rnesmo a atitude em relacáo a realidade satirizada por Cervantes em Dom Quixote O que parece ser um inquestionável bom senso para estes escritores é que é urna falácia presumir que a imprevisível e pro blemática desordem em que os seres humanos vivem possa ser enten dida com base naquilo que os livros textos dizem Aplicar o que se aprende em um livro arealidade literalmente é arriscarse aloucura e aruína Ninguém pensaria ero usar o Amadis de Gaula para entender a Espanha do século XVI ou atual assim como nao se usaria a Biblia para entender a Cámara dos Comuns Mas claramente houve e há tentativas de usar textos de maneira tao simplória como essa pois de outro modo o Candide e o Dom Quixote nao teriam para os leitores o apelo que ainda térn hoje Parece ser urna falha humana comum pre ferir a autoridade esquemática de um texto as desorientacóes de en contros diretos com o humano Será porém que essa falha está sempre presente ou existiráo circunstancias que mais que outras tornam mais provável a prevalencia da atitude textual Duas situacóes favorecem urna atitude textual Urna é quando um ser humano enfrenta de perta algo relativamente desconhecido e ameacador e anteriormente distante Nesse caso recorrese nao ape nas áquilo com que na experiencia anterior da pessoa a novidade se parece mas também ao que se leu Livrosde viagens ou guias sao uro tipo de texto quase tao natural tao lógico em sua composicáo e utili zacáo quanto qualquer livro em que possamos pensar precisamente por causa dessa tendencia humana de recorrer a um texto quando as incertezas de urnaviagem a partes estranhas parecem arneacar a equa nimidade da pessoa Muitos viajantes sao vistos dizendo a respeito de urnaexperiencia em um país novo que nao era o que eles esperavam querendo dizer que nao era como um livro disse que seria E é claro que muitos escritores de livros de viagens cornpóem suas obras de modo a 102 dizerem que um país é assim ou melhor que ele é colorido caro inte ressante e assim por diante A idéia em todos os casos é que as ps soas lugares e experiencias podem sempre ser descritos por um livro de tal modo que o livro ou texto adquire maior autoridade e uso que a própria realidade que descreve A comédia da busca de Fabrice del Dongo pela Batalha de Waterloo nao é tanto que ele nao consiga en contrála mas que procure por ela como algo que os textos lhe dis seram Urna segunda situacáo que favorece a atitude textual é a aparen cia de sucesso Se lemos um livro que afirma que os leóes sao ferozes e depois encontramos um leáo feroz estou simplificando é claro é proeável que nos sintamos encorajados a ler mais livros do mesmo au tor e a acreditar neles Mas se além disso o livro do leáo nos instrui sobre como lidar com um leáo feroz e as instrucóes funcionam perfei tamente o seu autor nao apenas gozará de grande crédito como será também impelido a tentar a sorte em outros tipos de desempenho es crito Existe urna dialética de reforce bastante complexa pela qual as experiencias dos leitores na sao determinadas por aquilo que leram e issü porsua vez influencia os escritores a escolherem temas definidosantecipadamente pela experiencia dos leitores Um livro so bre como ferozpoderla entáo causar toda urna série de livros sobre temas tais como a ferocidade dos leóes as origens da ferocidade e assim por diante Do mesmo modo a medida que o foco do texto se concentra mais estreitamente sobre o tema nao mais os leóes mas a ferocidade deles podemos esperar que as maneiras pelas quais se recomenda que se lide com a ferocidade do leáo irá na verdade aumentar esta ferocidade forcála a ser feroz posto que é isso que ela é e é isso que essencialmente sabemos ou só podemos saber sobre ela Um texto que pretenda conter conhecimento sobre algo real e que surja de circunstancias similares as que descrevi nao é posto de lado com facilidade AtribuiseIhe conhecimento de causa A autori dade de académicos instituicóes e governos élhe acrescentada ro deandoo com um prestígio ainda maior que o que lhe é devido por seus sucessos práticos O mais importante é que tais textos podem criar nao apenas o conhecimento mas também a própria realidade que Jlrecem descrever Corn o tempo esse conhecimento e essa realidade produzem urnatradicáo ou o que Michel Foucault chama de discurso cuja pre senca ou peso material e nao a autoridade de um dado autor é real mente responsável pelos textos a que dá origem Esse tipo de texto é composto por aquelas unidades de informaao preexistentes deposi tadas por Flaubert no catálogo de idées recues 103 Consideremos Napoleáo e De Lesseps sob a luz de tudo isso Tudo o que sabiam mais ou menos sobre o Oriente vinha de livros escritos na tradicáo do orientalismo colocados em sua biblioteca de idées reques para eles o Oriente assim como o leáo feroz era algo que devia ser encontrado e tratado ero certa medida porque os textos ha viam tornado esse Oriente possível Uro Oriente como esse era silen cioso disponível para a Europa para a realizacáo de projetos que impli cavam os habitantes nativos mas nunca eram diretamente responsá veis por eles e incapaz de resistir aos projetos imagens ou meras des cricóes concebidas para ele Anteriormente oeste mesmo capítulo chamei essa relacáo entre a escrita ocidental e as suas conseqüéncías e o silencio oriental de resultado e sinal da grande íorca cultural do Oci dente sua vontade de poder sobre o Oriente Mas essa forca tem outro lado uro lado euja existencia depende das pressóes da tradicáo orien talista e da atitude textual desta para com o Oriente esse lado tem sua própria vida assim como os livros sobre leñes até que os leóes apren dam a responder A perspectiva sob a lJlªLmQleao e De Lesseps raramente sao vistos de apenas dais dentre os tlstasque esculpíram planos para o Oriente é aquela que os ve como do silencio sem dimens5es do Oriente principalmente porque o discurso orientalista além da incapacidade do OrieñIe de fazer qualquer coisa arespeito deles conferia aatividade deles sentido inteligibilidade e reaüdadeTi discursodo orientalismo ec que o tor nava possível no caso de Napoleáo um Ocidente de longe mais po deroso militarmente que o Oriente davaIhes orientais que podiam ser descritos em obras como a Description de lÉgypte e um Oriente que podia ser cortado como De Lesseps cortou o Suez Além disso o orientalismo proporcionavalhes os seus sucessos pelo menos do ponto de vista deles que nao tinha nada a ver com o dos orientais O sucesso em outras palavras tinha todo o intercambio humano real entre orientais e ocidentais do disse eu a mim mesmo disse eu de Judge em Tria by jury Julgamento por júri Urna vez que comecemos a pensar no orientalismo como um tipo de projecáo ocidental sobre o Oriente e vontade de governálo encon traremos poucas surpresas Pois se é verdade que historiadores como Michelet Ranke Tocqueville e Burckhardt panejam Suas narrativas corno urna estória de tipo particular 87 o mesmo também é verda deiro para os orientalistas que planejaram a história o caráter e o des tino orientais por centenas de anos Durante os séculos XIX e XX os orientalistas tornaramse urna quantidade mais séria pois entáo o al cance da geografia imaginativa e real havia diminuído porque a re lacáo orientaleuropéia era determinada por urna irresistível expansáo 104 européia em busca de mercados recursos e colonias e finalmente porque o orientalismo realizara a sua autometamorfose de um dis curso erudito ero urna instituicáo imperial As provas dessa metamor fose já sao aparentes no que eu disse a respeito de Napoleáo De Les seps Balfour e Cromer Seu s projetos no Oriente sao compreensíveis apenas no nível mais elementar como os esíorcos de homens de vísáo e de genio heróis no sentido de Carlyle De fato Napoleáo De Lesseps Balfour e Cromer sao muito mais regulares muito menos incomuns se recordarmos os esquemas de DHerbelot e Dante e somarmos a ambos um motor modernizado e eficiente como o império europeu do século XIX e um giro positivo visto que nao podemos obliterar ontologica mente o Oriente como DHerbelot e Dante talvez tenham percebido ternos os meios de capturálo tratálo descrevélo melhorálo alterá lo radicalmente O que estou tentando dizer aqui é que a transicáo de urna apre ensáo formulacáo ou definicáo meramente textual do Oriente a co locacáo ern prática de tudo isso no Oriente teve realmente lugar e que o orientalismo teve muito a ver com essa transicáo despropositada se eu puder usar a palavra no sentido literal No que concerne ao trabalho estritamente erudito e considero a idéia do trabalho estritamente eru dito como desinteressado e abstrato difícil de entender mesmo assim podernos admitíla intelectualmente o orientalismo fez muitas coisas Durante a sua época mais grandiosa no século XIX produziu estu diosos aumentou o número de idiomas ensinados no Ocidente e a quantidade de manuscritos editados traduzidos e comentados em muitos casos forneceu ao Oriente estudantes europeus solidários ge nuinamente interessados em questóes como a gramática sánscrita a numismática fenícia e a poesia árabe No entanto e aqui ternos de ser muito claros o orientalismo atropelou o Oriente Como um sis tema depensamento sobre o Orienteele sempre se elevou do detalhe específicamente humano para o détalhe geral transumano ullla obser vacáo sobre uro poeta árabe do século X multiplicavase em urna polí tica para e sobre a mentalidade oriental no Egito no Iraque ou na ArAbIaDomesmo modo uroversículo do Coráo seria consideradocomo áffijhor evidencia de urna inerradicável sensualidade muculmana O orientalismo presumia um Oriente imutável absolutamente diferente as razóes mudam de época a época do Oeste E em sua forma pós século XVIII ele nao podia transformarse Tudo isso torna Cromer e Balfour como observadores e administradores do Oriente inevitáveis A intimidade entre a política e o orientalismo ou para falar mais circunspectamente a grande probabilidade de que as idéias sobre o Oriente originárias do orientalismo tenham urna utilizacáo política é 105 urnaverdade importante e contudo extremamente sensivel Ela coloca questóes sobre a predisposícao ainocencia ou aculpa desinteresse eru dito ou cumplicidade de grupos de pressáo em campos como os es tudos de negros ou de muíheres Ela provoca necessariamente inquie tacáo na nossa consciencia sobre as culturais raciais ou históricas os seus usos valor grau de objetividade e intencáo funda mental Mais que qualquer outra coísa as circunstancias políticas e culturaís em que floresceu o orientalismo ocidental atraem a atencáo para a posicáo envilecida em que se encontra o Oriente ou o oriental como objeto de estudo Pode uma relacáo politica que nao seja a de senhor e escravo produzir o Oriente orientalizado perfeitamente carac terizado por Anwar Abdel Malek a No plano do problema e da problemática o Oriente e os orientáis sao considerados pelo orientalismo como um objeto de estudo carimbados com urna diferenca como tuda o que é diferente seja sujeito ou objeto mas urna diferenca constitutiva um cará ter essencialista l Esse objeto de estudo será como de hábito passívo náoparticipatívo dotado de urna subjetividade histórica e acima de tudo nªºatiYQonaQaJJJQIlº11l9 naosoberano com relacao a si mesmo o único Oriente ou oriental ou sujeito que poderia ser admi tido em um limite extremo é o ser alienado filosoficamente ou seja outro quenap si relacáo a si mesmo posta entendido defi nido e atuado por outros b No plano da temática os orientalistas adotam urna concepcáo essencialista dos países nacóes e pavos do Oriente que estáo senda estu dados urna concepcgo que se expressa através de urna tipologia etnista caracterizada l e logo a conduzem em dírecáo ao racismo De acordo com os orientalistas tradicionais deve existir urna esséncia as vezes até mesmo claramente descrita em termos metafísicos que constituí a base comum e inalienável de todos os seres considerados essa esséncía é histórica poste que data da aurora da história e funda mentalmente ahistórica posta que transfixa o ser o objeto de estudo nos quadros da sua especificidade inalienável e naoevolutiva em vez de definílo como todos os demaís seres estados nacóes povos e culturas como um produto lima resultante da veceáo de torcas que operam no campo da evolucáo histórica Assím acabamos com urna tipologia baseada em uma especifi cidade real mas separada da história e conseqüentemente concebida como senda intangivel essencial o que faz do objeto estudado outro ser com relacáo ao qual o sujeito que estuda é transcendente ternos um Horno sinicus um Horno arabicus e por que nüov uro Horno aegyp ticus etc umHomo africanus e o homem o homem normal bem entendido ñca senda o homem europeu do período histórico istc é 106 desde a Antigüidade grega Vemos de que maneira do século XVIII ao século XX O hegemonismo das minorias possuidoras desvendado por Marx e Engels e O antropocentrismo desmontado por Freud sao acom panhados pelo eurocentrismo na área das ciencias sociais e humanas e mais particularmente naquelas que estavam em relacáo direta com povos náoeuropeusP Abdel Malek considera que o orientalismo tem uma história que segundo o oriental do final do século XX o levou para o impasse descrito acima Facamos agora um breve esboce dessa história tal como ela atzavessou o século XIX para acumular peso e poder o hegemo nisrno das minorías possuidoras e o antropocentrismo aliado ao euro centrismo A partir das últimas décadas do século XVIII e durante pelo menos um século e meio a Inglaterra e a Franca dominaram o orientalismo como disciplina As grandes descobertas filológicas na gramática comparativa feitas por Jones Franz Bopp Jakob Grimm e outros foram devidas originariamente a manuscritos trazidos do Leste para Paris ou Londres Quase sem excecáo todo orientalista comecou a carreira como filólogo e a revolucáo na filologia que produziu Bopp Sacy Burnouí e seus estudantes era urna ciencia comparativa baseada na premissa de que as linguagens pertencem a famílias de que o indo europeu e o semítico sao dois grandes exemplos Desde o inicio por tanto o orientalismo trazia dois traeos 1 autoconsciéncia cientí fica recentemente encontrada baseada na importancia lingüística do Oriente para a Europa e 2 uma inclinacáo a dividir subdividir e redividiro seu tema sem nunca mudar de opiniáo sobre o Oriente como algo que é sempre o mesmo objeto imutável uniforme e radicalmente peculiar Friedrich Schlegel que aprendeu sánscrito em Paris ilustra esses dois traeos ao mesmo tempo Embora na época em que publicou o seu Über die Sprache und Weisheit der Indier em 1808 Schlegel houvesse praticamente renunciado ao orientalismo ele ainda mantinha que o sánscrito e o persa por um lado e o grego e o aiemáo pelo outro tinham mais afinidades um com o outro do que com as Iinguas semi ticas chinesas americanas ou africanas Além disso a familia indo européia era artisticamente simples e satisfatória de um modo que a semítica por exemplo nao era Abstracóes como essa nao incomo davam Schlegel para quem as nacóes racas mentes e povos como coisas sobre as quais se podia falar apaixonadamente na perspectiva cada vez mais estreita que Herder foi o primeiro a esbocar foram uma fascinacáo para toda a vida Contudo em parte alguma Schlegel fala sobre o Oriente vivo contemporáneo Quando ele disse em 1800 É no Oriente que devemos procurar pelo mais alto Romantísmo 107 quería dizer o Oriente dos Sakuntala do ZendAvesta e dos Upani xades Quanto aos semitas euja língua era aglutinante naoestética e mecánica eram diferentes inferiores atrasados As conferencias de Schlegel sobre a línguagem e sobre a vida a história e a literatura estáo cheias dessas discriminacóes que ele fazia sem a menor qualificacáo O hebraico disse ele foi feíto para a expressáo profética e a adivi nhacáo mas os muculmanos adotaram um teísmo vazio e morto urna téunitáriameramentenegativa89 Grande parte do racismo nas restricóes de Schlegel aos semitas e outros baixos orientais estava amplamente difundida na cultura eu ropéia Mas ero nenhum DutTO momento a nao ser mais tarde no sé culo XIX entre os antropólogos e frenólogos darwinianos esse racismo foi transformado ero base de uro tema científico como foi o caso da lin güística comparada ou da filología A linguagern e a raca pareciam indissoluvelmente ligadas e o bom Oriente era invariavelmente um periodo clássico em algum lugar de urna Índia havia muito desapare cida enquanto o Oriente ruim pairava na Ásia atual em partes da África do Norte e no isla por toda a parte Os arianos estavam con finados a Europa e ao antigo Oriente tal como foi demonstrado por Léon Poliakov sem mencionar sequer urna vez porém que os se mitas eram nao só os judeus mas também os muculmanos o mito ariano dominou a antropologia histórica e cultural a custa dos povos menores A genealogía intelectual oficial do orientalismo incluiria certa mente Gobineau Renan Humboldt Steinthal Burnouf Remusat Palmer Weil Dozye Muir para mencionar alguns nomes famosos quase ao acaso do século XIX Incluiria também a capacidade difu sora das sociedades cuitas a Société Asiatique fundada em 1822 a Royal Asiatic Society fundada em 1823 a American Oriental Society fundada em 1842 e assim por diante Mas ela desprezaria necessaria mente a grande contribuicáo da literatura imaginativa e de viagens que reforcararn as divisóes estabelecidas pelos orientalistas entre os di versos departamentos geográficos temporais e raciais do Oriente Tal desprezo seria incorreto visto que para o Oriente islámico essa litera tura é especialmente rica e faz urna significativa contribuicáo a cons trucáo do discurso orientalista com obras de Goethe Hugo Larnar tine Chateaubriand Kinglake Nerval Flaubert Lane Burton Scotl Byron Vigny Disraeli George Eliot Gautier e outros Mais tarde no final do século XIX e no inicio do XX podemos agregar Doughty Bar res Loti T E Lawrence Forster Todos esses escritores dáo um tra cado mais nítido ao grande mistério asiático de Disraeli Esse em preendimento recebe um considerável apoio nao só da exumacáo de ci 108 vilizacóes orientais mortas feítas por escavadores europeus mas tam bém dos grandes reconhecimentos geográficos feitos por todo o Oriente Por voIta do final do século XIX essas realizacóes foram mate rialmente instigadas pela ocupacáo européia de todo o Oriente Próximo com excecáo de partes do Império Otomano que foi tragado após 1918 As principais potencias coloniais mais urna vez eram a Franca e a Inglaterra embora a Rússia e a Alemanha tivessem tido a sua parti cipacáo também Colonizar queria dizer em primeiro lugar a iden tificacáo na verdade a criacáo dos interesses estes podiam ser cornerciais comunicacionais religiosos militares culturais Com re lacáo ao isla e aos territórios islámicos por exemplo a Inglaterra acre ditava ter interesses legítimos como urna potencia cristá para salva guardar Desenvolveuse um complexo aparato para atender a esses interesses Organizacóes pioneiras como a Sociedade para a Promocáo do Conhecimento Cristáo 1698 e a Sociedade para a Propagacáo do Evangelho em Partes Estrangeiras 1701 foram sucedidas e mais tarde favorecidas pela Sociedade Missionária Batista 1792 a Sociedade Missionária da Igreja 1799 a Sociedade Bíblica Británica e Estran geira 1804 e a Sociedade Londrina para a Prornocáo do Cristianismo entre os Judeus 1808 Essas missóes aliaramse abertamente a ex pansáo da Europa 92 Adicionemse a elas as sociedades comerciais as sociedades cuitas os fundos de exploracáo geográfica os fundos de traducáo a implantacáo no Oriente de escolas missóes escritórios consulares fábricas e algumas vezes grandes comunidades européias e a nocáo de interesse terá um sentido bem claro Depois disso os interesses foram defendidos com muito zelo e despesas Até aqui o meu esboce é grosseiro Onde estáo as típicas emocóes e experiencias que acompanham tanto os avancos eruditos do orienta lismo como as conquistas políticas que este auxiliou Antes de mais nada está o desapontamento devido ao fato de o Oriente moderno nao ser em nada como os textos Eis o que escreveu Gérard de Nerva a Théophile Gautier no final de agosto de 1843 Jáperdi reino após reino província após província a metade mais bo nita do universo e lago nao saberei de nenhum lugar em que possa en contrar um refúgio para os meus sonhos mas é o Egito que eu maís lamento ter afastado da minha ímaginacáo agora que o coloquei triste mente na memória Issoé do autor de urna grande Voyage en Orient O lamento de Nerval é um tópico cornum do Romantismo o sonho traído tal como descrito por Albert Béguin em L áme romantique et le réve A alma romántica e o sonho e dos que viajavam ao Oriente biblico de Chateaubriand a 109 Mark Twain Qualquer experiencia direta do Oriente mundano é um comentário irónico a valorizacóes a seu respeito como as que se encon tram em Mahometsgesang de Goethe ou em Adieux de Ihñtesse arabe de Hugo A memória do Oriente moderno disputa a imagi nacáo mandanos de valía a imaginacáo como uro lugar preferível para a sensibilidade européia ao Oriente real Para alguém que nunca viu o Oriente disse Nerval a Gautier um lótus é sempre um lótus para mim é apenas um tipo de cebola Escrever sobre o Oriente moderno é ou revelar urna perturbadora desmistíficacáo das imagens extraidas dos textos ou confinarse ao Oriente de que falou Hugo em seu prefácio a Les orientales o Oriente como image ou pensée símbolos de une sorte de préocupation générale 94 Se ero uro primeiro momento o desencanto pessoal e a preocu pacáo geral mapeiam adequadamente a sensibilidade orientalista acarretam também certos hábitos de pensamento sentimento e per cepcáo mais familiares A mente aprende a separar urna apreensáo geral do Oriente de urna experiencia especifica do mesmo cada urna segue o seu próprio camínho por assim dizer No romance de Scott O talismii de 1825 sir Kenneth do Leopardo Agachado luta contra um único sarraceno até chegar a um ponto isolado em algum lugar do de serto palestino quando o cruzado e seu oponente que é Saladino dis farcado comecam a conversar mais tarde o cristáo descobre que o seu antagonista muculmano nao é mau rapaz afinal de contas Mesmo assim ele observa Eu bem que achava que a tua raca cega descendia do demonio infame sem cuja ajuda nao poderlas ter mantido esta abencoada terra da Palestina contra tantos valentes soldados de Deus Nao falo assim de em particular Sarraceno mas em geral do ten povo e da tua religiáo E estranho para mim contudo nao que possas descender do Malvado mas que te vanglories dísso Pois é verdade que o Sarraceno se vangloria de tracar a linha da raca dele até Eblis o Lúcifer muculmano Mas o que é realmente curioso nao é o fraco historicismo pelo qual Scott torna a cena me dieval fazendo o cristáo atacar o muculmano teologicamente de um modo que um europeu do século XIX nao faria embora fizesse é antes a afetada condescendencia de se condenar todo um POyO em geral ao mesmo tempo que se mitiga a ofensa com um tranqüilo nao quera dizer vocéem particular Scott porém nao era nenhum especialista em isla embora H A R Gibb que era tenha elogiado O talismii por seu entendimento do 110 isla e de SaladinorP e estava tendo enormes liberdades com o papel de Eblis fazendo dele um herói para os fiéis O conhecimento de Scott vinha provavelmente de Byron e de Beckford mas bastanos notar aqui de que modo forte o caráter geral atribuido as coisas orientais podia resistir aforca retórica e existencial das excecóes óbvias É como se por um lado existisse urna lata chamada oriental na qual eram atiradas sem pensar todas as autoritárias anónimas e tradicionais atitudes oci dentais para com o Oriente enquanto pelo outro fiéis a tradicáo ane dotal da arte de contar estórias pudéssemos descrever experiencias so bre ou no Oriente que pouco tivessem a ver com a lata útil em geral Mas a própria estrutura da prosa de Scott revela urna ligacáo mais íntima que essa entre os dois lados Pois a categoria geral oferece antecipada mente a instancia específica um terreno limitado para que esta opere por mais profunda que seja a excecáo especifica por mais que um único oriental possa escapar as cercas colocadas ao seu redor ele é primeiro um oriental depois um ser humano e por último de novo um oriental Urna categoria tao geral como oriental é capaz de variacóes bastante interessantes O entusiasmo de Disraeli pelo Oriente surgiu pela primeira vez durante urna viagern para o Leste em 1831 No Cairo ele escreveu Meus olhos e minha mente doem ainda com urna gran deza tao pouco em uníssono com a nossa própria ímagem 97 A gran deza e a paixáo gerais inspiraram um sentido transcendente das coisas e pouca paciencia pela realidade dos fatos Tancredo o seu romance está imerso em chavóes geográficos e raciais tudo é urna questáo de racas declara Sidónia de tal modo que a salvacáo só pode ser encon trada no Oriente e entre as racas que nele se encontram Lá como um exernplo drusos cristáos muculmanos e judeus ficam amigos facil mente porque graceja alguérn os árabes nao passam de judeus a cavalo e todos sao orientais de coracáo Os unissonos sao feitos entre categorías gerais e nao entre as categorías e o que elas contém Um oriental vive no Oriente urna vida de tranqüilidade oriental em um es tado de despotismo e sensualidade orientais imbuido de um senti mento de fatalismo oriental Escritores tao diferentes entre si como Marx Disraeli Burton e Nerval poderiam manter urna longa discussáo entre si por assirn dizer usando todas essas generalidades sem ques tionáIas mas de modo inteligivel Junto com o desencanto e com a visáo generalizada para nao dizer esquizofrénica do Oriente costuma haver outra peculiaridade Por ter sido transformado em um objeto geral o Oriente inteiro pode servir para ilustrar urna forma particular de excentricidade Vejamos por exemplo Flaubert descreyendo o espetáculo do Oriente 111 Para divertir a multidáo o bufáo de Mohammed AHpegou urna mulhcr num bezaar do Cairo um dia colocoua sobre o balcáo de urna loja e copulou publicamente com ela enquanto o lojista fumava calmamente o seu cachimbo Na estrada do Cairo a Shubra há algum tempo uro jovem rapaz fezse sodomizar publicamente por um grande macaco tal como na estória acima para criar urnaboa opiniáo de si mesmo e fazer as pessoas rírem Uro marabu morreu há algum teropo atrás um idiota que por muito tempo passara por um santo marcado por Deus todas as mulheres muculmanas vinham velo e masturbélo ele acabou morrendo de exaustáo da manhá anoite era urnaperpétua punheta Quid dicis do seguinte fato até há poueo tempo uro santon sacer dote asceta andava pelas ruas do Cairo completamente nu a nao ser por urogorro na cabeca e outro na piroca Para mijar ele removia o gorro da piroca e as roulheres estéreis que queriam ter filhos corriam e se colo cavam sob a parábola da urina dele e se esfregavam com ela 98 Flaubert reconhece francamente que isso é um absurdo de um tipo especial Todo o velho ramo cómico com o que Flaubert queria dizer as conhecidas convencóes do escravo espancado o grosseiro traficante de mulheres o mercador ladráo adquire um sentido novo fresco 1genuíno e encantador no Oríente Esse sentido nao pode ser reproduzido pode apenas ser apreciado no local e trazido de volta de modo muito aproximativo O Oriente é olhado posto que o seu comportamento quase mas nunca totalmente ofensivo tem origern em um reservatório de infinita peculiaridade o europeu cuja sensibili dade passeia pelo Oriente é um observador nunca envolvido sempre afastado sempre pronto para novos exemplos daquilo que a Descrip tion de lÉgypte chamou de bizarre jouissance O Oriente tornase um quadro vivo de estranheza E esse quadro de modo totalmente lógico tornase um tema es pecial para textos Assim se completa o circulo de estar exposto áquilo para o que os textos nao nos preparam o Oriente pode voltar como algo sobre o que se escreve de maneira disciplinada A sua estrangeirice pode ser traduzída os seus sentidos descodificados a sua hostilidade domada rnesmo assim a generalidade atribuída ao Oriente o desen canto que se sente ao encontrálo a excentricidade náoresolvida que ele exibe tudo é redistribuido no que é dito ou escrito a seu respeito O isla por exemplo era tipicamente oriental para os orientalistas do final do século XIX e comeco do XX Carl Becker argumentou que embora o isla notese a vasta generalidade tivesse herdado a tradicáo helé nica nao poderia nem apreender nem utilizar a tradicáo grega huma nista além disso para entender o isla deveríamos acima de qualquer 112 outra coisa velo nao como urna religiáo original mas como urna espécie de tentativa oriental fracassada de empregar a filosofia grega sem a inspiracáo criativa que encontramos na Europa da Renascenca Para Louis Massignon talvez o mais renomado e influente dos orien talistas franceses modernos o isla era urna sistemática rejeicáo da en carnacáo cristá e o seu maior heróí nao era Maomé ou Averróis mas alHallaj um santo rnuculmano que foi crucificado pelos muculmanos ortodoxos por ter se atrevido a personalizar o isla 100 O que Becker e Massignon deixaram explicitamente de lado em seus estudos foi a excentricidade do Oriente que reconheciam indiretamente tentando arduamente regularizála ern termos ocidentais Maomé foi alijado mas alHalla foi tornado proeminente porque ele se considerava como urna figura de Cristo Como umjuiz do Oriente o moderno orientalista nao está como acredita e até mesmo diz separado dele objetivamente O seu distan ciamento humano cujo sinal é a ausencia de simpatia disfarcada de conhecimento profissional está pesadamente carregado com todas as atitudes perspectivas e humores ortodoxos do orientalismo que estive descrevendo O Oriente dele nao é o Oriente tal qual ele é mas o Oriente tal como foi orientalizado Um arco ininterrupto de conheci mento e de poder liga o estadista europeu ou ocidental aos orientalistas ocidentais esse arco forma a borda do palco que contém o Oriente Por volta do final da Primeira Guerra tanto a África como o Oriente nao eram tanto um espetáculo intelectual para o Ocidente quanto um ter reno privilegiado para o mesmo O campo de acáo do orientalismo cor respondia exatamente ao campo de acáo do império e foi essa absoluta unanimidade entre os dois que provocou a única crise na história do pensamento ocidental sobre o Oriente e nas suas tratativas com este E acrise continua até hojeo Comecando nos anos 20 e de urna ponta il outra do Terceiro Mundo a resposta ao império e ao imperialismo tem sido dialética Na época da Conferencia de Bandung ern 1955 todo o Oriente conquis tara a independencia política em relacáo aos impérios ocidentais e en frentava urna nova configuracáo de potencias imperiais os Estados Unidos e a Uniáo Soviética Incapaz de reconhecer o seu Oriente no novo Terceiro Mundo o orientalismo fazia face agora a um Oriente desafiador e politicamente armado Duas alternativas se abriam ao orientalismo Urna era continuar como se nada tivesse acontecido A segunda era adaptar as velhas maneiras as novas Mas para o orienta lista que acredita que o Oriente nunca muda o novo é simplesmente o velho traído por novos e equivocados desorientais podemos permitir nos o neologismo Urna terceira alternativa revisionista desfazerse 113 r I do orientalismo como um todo foi considerada apenas por urna ínfima minoria Um dos indicadores da crise segundo Abdel Malek nao era sim plesmente que os movimentos de libertacáo nacional no Oriente ex colonial devastaram as concepcées orientalistas de racas subjuga das passivas e fatalistas houve além disso o fato de que os especialistas e o público em geral perceberam o atraso no tempo nao só da ciencia orientalista com relaeáo ao material estudado mas também e isso seria determinante das concepcóes dos métodos e dos instru mentos de trabalho do orientalismo em relacáo aos das ciencias humanas e socíaís Os orientalistas de Renan a Goldziher a Macdonald a Von Grune baum Gibb e Bernard Lewis viam o isla por exernplo como urna síntese cultural a expressáo é de P M Holt que podia ser estu dada separadamente da econornia da sociología e da política dos povos islámicos Para o orientalismo o isla tinha um sentido que se fOssemos olhar para a sua formulacáo mais sucinta poderia ser encontrado no primeiro tratado de Renan de maneira a ser melhor entendido o isla deve ser reduzido a tenda e tribo O impacto do colonialismo das circunstancias mundiais do desenvolvimento histórico tudo isso era para os orientalistas como moscas para um moleque para serem mar tas ou desconsideradas por esporte nunca levado a sério o bas tante para complicar o isla essencial A carreira de H A R Gibb ilustra as duas abordagens alterna tivas pelas quais o orientalismo reagiu ao Oriente moderno Em 1945 Gibb fez as Conferencias Haskell na Universidade de Chicago O mun do que ele examinou nao era o mesmo que Balfour e Cromer conheciam antes da Primeira Guerra Diversas revolucóes duas guerras mundiais e inúmeras mudancas económicas políticas e sociais faziam das reali dades em 1945 um objeto indiscutivelmente e até mesmo cataclísmíca mente novo Mesmo assim podemos ver Gibb iniciando as conferen cias que ele chamou de Modern trends in Islam da seguinte maneira o estudante da civilizacác árabe é constantemente posto diante do for midável contraste entre o poder imaginativo que se ve por exemplo em certos ramos da literatura árabe e o literalismo e o pedantismo encon trados no raciocínio e na exposicáo mesmo quando sao dedicados a essas mesmas producóes E certo que existiram grandes filósofos entre os po vos muculmanos e que alguns deles eram árabes mas eram raras exce cóes A mente árabe seja em relaeáo ao mundo exterior seja em relacáo aos processos de pensamento nao pode livrarse da sua intensa sensibi lidade para a separacáo e para a individualidade dos eventos concretos 14 Este acredito é um dos principais fatores que estáo por trás da falta de um sentido de lei que o professor Macdonald considerava como urna característica diferencial do oriental É também isso que explica o que é difícil para o estudante oci dental entender até que o orientalista explique para ele a aversáo dos muculmanos pelos processos de pensamento do racionalismo A rejeicáo dos modos racionalistas de pensamento e da ética utilitária que é inseparável destes tem suas raízes portanto nao no chamado obscu rantismo dos teólogos muculmanos mas no atomismo e na desconti nuidade da lmaglnacáo árabe 102 Isso é orientalismo puro é claro mas mesmo que se reconheca o extremo conhecimento sobre o isla institucional que caracteriza o resto do livro o viés inaugural de Gibb é sempre um formidável obstáculo para quem queira entender o isla moderno Qual é o sentido de dife quando a preposicáo de desapareceu completamente das vistas Nao nos estariam pedindo mais urna vez que examinássemos o mucul mano oriental como se o mundo dele ao contrário do nosso dife rentemente do nosso nunca se tivesse aventurado além do século VII Quanto ao próprio isla moderno apesar das complexidades do seu magistral entendimento dele por que precisaria ser considerado com urna hostilidade tao implacável como a de Gibb Se o isla é deíei tuoso desde o inicio devido as suas permanentes incapacidades o orien talista se encontrará ern oposicáo a qualquer tentativa islámica de re íormálo posto que segundo as suas concepcóes a reforma é urna traicáo ao isla é este exatamente o argumento de Gibb Como pode ria o oriental escapar dessas algernas e ingressar no mundo moderno a nao ser repetindo com o Bobo de Rei Lear Eles me acoitam por falar a verdade vós me acoitais por mentir e algumas vezes sou acoitado por ficar ern paz Dezoito anos mais tarde Gibb estava diante de um públíco de compatriotas ingleses só que agora falava na qualidade de diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio em Harvard O tema dele era Estudos de área reconsiderados e entre outros apercus concordou que o Oriente é importante demais para ser deixado aos orienta listas Urna nova ou urna segunda abordagem alternativa para os orientalistas estava sendo anunciada assim como Modern trends exemplificava a primeira abordagem ou tradicional A fórmula de Gibb em Estudos de área reconsiderados é bernintencionada pelo menos é claro no que diz respeito aos especialistas ocidentais em Oriente cuja tarefa é preparar estudantes para carreiras na vida e tl0s negócíos públicos O que precisamos agora disse Gibb é o ella lista tndicional mais um bom cientista social trabalhando juntos entre 15 os dois será feito um trabalho interdisciplinar Mas o orientalista tra dicional nao traráconhecimentos ultrapassados em relacáo ao Oriente nao o seu conhecimento do assunto servirá para lembrar os seus co legas nao iniciados nos estudos de área de que aplicar a psicologia e a mecánica das instituicóes políticas ocidentais a situacóes asiáticas ou árabes é puro WaHDisney 103 Na prática essa nocáo tem significado que quando os orientais lutam contra a ocupacáo colonial devese dizer para nao arriscarse a um disneyismo que eles nunca entenderam o significado do autogo verno como nós entendemos Quando alguns orientais se opóern a discriminacáo racial enquanto outros a praticam dizse que no fundo sao todos orientais e interesses de classe circunstancias políticas e fatores económicos sao totalmente irrelevantes Ou juntamente com Bemard Lewis podese dizer que se os árabes palestinos se opóem a colonizacáo e 11 OCUpa9aO de suas terras pelos israelenses entáo isso nao passa de um retorno do isla ou tal como é definido por um re nomado orientalista contemporáneo de oposicáo islámica a povos nao Islámicos um principio do isla venerado no século VII A história a política e a economia nao interessam O isla é o isla o Oriente é o Oriente e por favor leve todas as suas idéias sobre esquerda e direita revolucóes e mudanca de volta para a Disneylándia Se essas tautologias afirmacóes e rejeicóes nao soaram familiares para os historiadores sociólogos economistas e humanistas e qualquer outro campo que nao fosse o orientalismo a razáo é óbvia Pois assim como o seu tema putativo o orientalismo nao permitiu que as idéias viessem violar a sua profunda serenidade Mas os orientalistas mo dernos ou especialistas de área para charnálos pelo seu novo nome nao se encerraram passivamente nos departamentos de línguas Ao contrário seguiram o conselho de Gibb A maior parte deles hoje nao se distingue de outros peritos e consultores naquilo que Harold Lasswell chamou de ciencia das decisóes Desse modo as possibili dades militares e de seguranca nacional de urna alianca entre di gamos um especialista em análise de caráter nacional e um perito em instituicóes islámicas foram logo reconhecidas quando mais nao Iosse por motivos de conveniencia Afinal de contas desde a Segunda Guer ra que o Oeste estava enfrentando um astuto inimigo totalitário que fazia aliados entre as ingenuas nacóes orientais ou africanas asiáticas subdesenvolvidas Haveria melhor maneira de rodear esse inimigo pe los flancos que apelar para a mente oriental ilógica em modos que apeo nas um orientalista poderia conceber Assim surgiram tramas magis trais como a técnica da a Alíanca para o Progresso SEATO e outras do mesmo genero todas baseadas no conhecimento tradi 116 cional remanejado para urna melhor manipulacáo do seu suposto ob jeto Assim quando a agitacáo revolucionária toma conta do Oriente islámico os sociólogos nos lembram que os árabes sao viciados ern funcóes orais 106 enquanto os economistas orientalistas reciclados observam que para o isla moderno nem o capitalismo nem o socia lismo sao um rótulo adequadol Quando o anticolonialismo varre e até mesmo unifica todo o mundo oriental o orientalista condena toda a questáo nao só como urna amolacáo mas como um insulto as demo cracias ocidentais Quando o mundo se ve perante questóes mornen tosas e geralmente importantes que envolvem a destruicáo nuclear os recursos catastroficamente escassos e as exigencias humanas sem precedentes de igualdade justica e paridade económica as carica turas populares do Oriente sao exploradas por políticos cuja fonte de abastecimento ideológico é nao somente o tecnocrata subletrado mas também o orientalista superletrado Os legendários arabistas do De partamento de Estado denunciam os planos árabes para a conquista do mundo Os pérfidos chineses os indianos seminus e os muculmanos passivos sao descritos como abutres sobre a nossa generosidade e sao amaldicoados quando nós os perdemos para o comunismo ou para os seus próprios instintos orientais naoregenerados a diferenca nao chega a ser significativa Essas atitudes orientalistas contemporáneas povoam a imprensa e a mente popular Os árabes por exemplo sao vistos como libertinos montados em camelos terroristas narigudos e venais cuja riqueza nao merecida é urna afronta a verdadeira civilizacáo Há sempre nisso a presuncáo de que o consumidor ocidental embora pertenca a urna mi noria numérica tem direito a possuir ou a gastar ou ambas as coisas a maioria dos recursos mundiais Por que Porque ele ao contrário do oriental é um verdadeiro ser humano Nao existe hoje uro melhor exemplo do que Anwar Abdel Malek chamou de hegemonismo das minorias possuidoras e de antropocentrismo aliado ao eurocentrismo urnaclasse média branca ocidental que acredita ser a sua prerrogativa humana nao apenas administrar o mundo náobranco mas também possuílo apenas porque por definicáo ele nao é tao humano quan to nós somos Nao há um exemplo de pensamento desumanizado mais puro que este De urocerto modo as limitacóes do orientalismo sao como disse antes aquelas decorrentes de se desconsiderar essencializar e des nudar a humanidade de outra cultura outro pavo ou regiáo geográfica Mas o orientalismo foi além disso considera o Oriente como algo cuja existencia nao apenas está a vista mas permaneceu fixa no tempo e no 117 espaco para o Ocidente O sucesso descritivo e textual do orientalismo foi tao impressionante que periodos inteiros da história cultural polí tica e social do Oriente sao considerados como meras respostas ao Oci dente Este é o agente e o Oriente é o reagente passivo O Ocidente é espectador juiz ejúri de cada faceta do comportamento oriental Mas se a história durante o século XX provocou urna mudanca intrínseca no Oriente e para ele o orientalista fica espantado ele nao consegue perceber que em certa medida os novos líderes intelectuais ou planejadores orientáis aprenderam muitas lícóes com a labuta de seus antecessores Também foram ajuda dospelastransformacóes estruturais e institucionais acorridas noperíodo intermédio e pelo fato de ern grande medida terem mais liberdade paraamoldar o futuro deseuspaísesSaotambém muitomaisconfiantes e talvez ligeiramente agressivos Nao tero mais de funcionar com espe rancas de obter um veredicto favorável do invisível júri do Ocidente O diálogo delesnaoé coro o Ocidente mascomseusconcidadáos 108 Além disso o orientalista presume que aquilo para o qual nao foi pre parado pelos seus textos é resultado ou da agitacáo externa no Orien te ou da inanidade desencaminhada deste Nenhum dos inúmeros tex tos orientalistas sobre o isla nem mesmo o compendio de todos eles The Cambridge history 01 islam pode preparar o leitor para o que ocorreu a partir de 1948 no Egito na Palestina no lraque na Siria no Libano ou nos Iérnens Quando os dogmas sobre o isla nao servem sequer para o mais panglossiano dos orientalistas podese recorrer ao jargáo de urna ciéncia social orientalizada a abstracóes que vendem bem como elites estabilidade política modernizacáo e desenvolvi mento institucional todas marcadas com o selo de garantia da sabe doria orientalista Enquanto isso urna fenda cada vez maior e mais perigosa separa o Oriente do Ocidente A presente crise dramatiza a disparidade entre os textos e a reali dade Neste estudo do orientalismo porém quero nao apenas expor as fontes das concepcóes orientalistas como também refletir sobre a sua importancia pois o intelectual contemporáneo sente com razáo que ignorar urna parte do mundo que está agora demonstravelmente ul trapassando os limites que lhe foram atribuídos é evitar a realidade Os humanistas com demasiada freqüéncia confinaram a atencáo deles a temas compartimentalizados de pesquisa Eles nem observaram nem aprenderam com as disciplinas como o orientalismo cuja inabalável ambicáo era a de dominar tudo de um mundo e nao urna parte facil mente delimitada deste tal como um autor ou urna coletánea de textos No en tanto do mesmo modo que as coberturas académicas de segu 118 ranca como a história a literatura ou as humanidades e apesar das suas aspiracóes maiores que a sua capacidade o orientalismo está envolvido nas circunstancias mundanas e históricas que tentou ocultar sob um cientificismo muitas vezes pomposo e sob apelas ao raciona lismo O intelectual contemporáneo pode aprender com o orientalismo por um lado como limitar ou ampliar o campo de acáo pretendido pela sua disciplina e pelo outro a ver a base humana o depósito de far rapos imundos e de ossos do coracáo dizia Yeats em que os textos as visóes os métodos e as disciplinas comecam crescem florescem e de generam Investigar o orientalismo é também propor modos inte1ectuais de tratar os problemas metodológicos a que a história deu origem por assim dizer em seu tema de estudos o Oriente Mas antes disso preci samos virtualmente examinar os valores humanísticos que o orienta lismo pelo alcance do seu campo pelas suas experiencias e estruturas quase eliminou 119 I 1 I I 2 ESTRUTURAS E REESTRUTURAS ORIENTALISTAS Quando o seyyd Ornar o Nakeeb elAshráf ou chefe dos descendentes do Profeta l casou urna filha há cerca de 4S aJ10S na frente da procissáo caminhava um rapaz que fizera urna incisáo no abdome e tirara para fora urna grande porcáo dos próprios intestinos que ele carregava diante de si ero urna bandeja de prata Depois da procissáo ele os devolveu ao lugar certo e fieou de cama durante vários dias antes de recobrarse dos efei tos do seu ato tolo e repugnante Edward William Lane An account 01the manners and customs ofthe modem egyptians daos le cas de la chute de cet empire soit par une révolution aConstantinople soit par un démembrement successif les puissances européennes prendront chacune atitre de protectorat la partie de lempire qui lui sera assignée par les stipulations du congres que ces protec torats définis et limités quant aux territoires selon les voisinages la süreté des Irontiéres lanalogie des reli gions de moeurs et dIntéréts ne consacreront que la suzeraineté des puissances Cette sorte de suzeraineté dé finie ainsi et consacrée comme droit européen consis tera principalement dans le droit doccuper telle partie du territoire ou des cotes pour y fonder soit des villes libres soit des colonies européennes soit des ports et des échelles de commerce Ce nest quune tutelle armée et civilisatrice que chaque puissance exercera sur son protectorat elle garantira son existence et ses éléments de nationalité sous le drapeau dune nationalité plus forte 121 I no caso de queda desse ímpério seja por urna revolueño em Constantinopla seja por um desmem bramento sucessivo cada urna das potencias euro péias tomaráo a títulode protetoradoa parte do im périoque lhe for atribuída pelas estipulacóesdo con gresso que esses protetorados definidos e limitados quanto aos territórios segundo as vizinhancas a se guranca das fronteiras a analogía das religiées dos costumes e dos interessesl consagrarlo apenas a soberaniadaspotencias Esse tipo de soberaniaassim definida e consagradacomo direitoeuropeu consis tirá principalmenteno direitode ocupar tal parte do território ou do litoral paraaí fundar cidades livres ou européias ou portos e escalas de comér cio Cada potencia exercerá sobreo seu proteto rado apenas urna tutelaarmada e civilizadora ela garantirá a existencia desse territ6rio e dos seus ele mentos de nacionalidade sob a bandeira de urna na cionalidade mais forte Alphonse de Larnartine Voyage en Oríent FRONTEIRAS RETRAADAS QUESTÓES REDEFINIDAS RELIGIAO SECULARIZADA Gustave Flaubert morreu ern 1880 sem ter concluído Bouvard et Pécuchet o seu enciclopédico romance cómico sobre a degeneracáo do conhecimento e a inanidade do esforco humano Apesar disso as li nhas essenciais da vísáo dele estáo claras e claramente apoiadas pelo amplo detalhamento do romance Os dois funcionários sao membros da burguesia que devido a urna bela heranca que um deles recebe ines peradamente abandonam a cidade para passar o resto da vida em urna casa de campo fazendo o que quiserem nous ferons tout ce qui nous plaira faremos tudo o que nos agrade Tal como Flaubert retrata a experiencia deles fazer o que queriam envolveu Bouvard e Pécuchet em um passeio teórico e prático através da agricultura da história da química da educacáo da arqueologia e da literatura sempre com re sultados menos que satisfatórios os dois passam pelos vários campos da erudicáo como viajantes no tempo e no conhecimento experimen tando os desapontamentos desastres e abandonos de amadores sem inspiracáo O que eles atravessam na verdade é toda a desilusiva ex periencia do século XIX pela qua na frase de Charles Morazé les bourgeois conquerants acabam sendo as empavonadas vítimas das suas próprias incompetencia e mediocridade que tudo niveIam 122 Cada entusiasmo acaba transformandose em uro cliché aborrecido e cada disciplina ou tipo de conhecimento muda da esperanca e do poder para a desordem a ruína e a amargura Entre os esboces de Flaubert para a conclusáo desse panorama de desesperanca estáo dois itens de especial interesse para nós aqui Os dois homens debatem o futuro do genero humano Pécuchet ve o fu turo da humanidade através de um vidro obscuramente enquanto Bouvard o ve brilhantemente o homem moderno está progredindo a Europa será regenerada pela Ásia A lei histórica segundo a qual a civilizacáo vai do Oriente ao Oci dente as duas formas de humanidade seráo finalmente soldadas urna aoutra Esse óbvio eco de Quinet representa o início de mais um dos ciclos de entusiasmo e de desilusáo pelo qual os dois homens passaráo de Flaubert indica que como todos os outros esse projeto antecipado de pela realidade dessa vez pela slibita de policiais que o acusam de devassidáo Algumas li nhas mais adiante porém surge o segundo item de interesse Simulta neamente os dois confessam um ao outro que o desejo secreto de cada um é voltar a ser revisor Mandam fazer urna bancada dupla para eles compram livros canetas borrachas de apagar e diz Flaubert para concluir o esboco ils sy mettent póem máos a obra De tentar viver através do conhecimento e aplicálo mais ou menos diretamente Bouvard e Pécuchet sao reduzidos finalmente a transcrevélo acritica mente de um texto a outro Embora a visáo de Bouvard de urna Europa regenerada pela Ásia nao seja plenamente explicitada ela e aquilo em que se transforma na mesa do revisor pode ser glosada de diversas importantes maneiras Como muitas das outras visóes dos dois homens esta é global e é re construtiva representa o que Flaubert sentia ser urna predilecáo do século XIX pela reconstrucáo do mundo segundo urna visáo imagina tiva acompanhada as vezes por urna técnica científica especial Entre as visóes que Flaubert tem em mente estáo as utopias de SaintSimon e de Fourier as regeneracóes científicas da humanidade imaginadas por Comte e todas as religióes técnicas ou seculares promovidas por ideó logos positivistas ec1éticos ocultistas tradicionalistas e idealistas como Destutt de Tracy Cabanis Michelet Cousin Proudhon Cour not Cabet Janet e Lammennais Através de todo o romance Bouvard e Pécuchet abracam todas as diferentes causas dessas personagens en tao depois de telas arruinado continuam em frente a procura de no vas causas sem melhores resultados 123 As raízes das ambieóes revisionistas desse tipo Sao románticas de um modo bem especial Ternos de lembrar até que ponto a maior parte do projeto intelectual e espiritual do final do século XVIII era urna teo logia reconstituída sobrenaturalismo natural tal como o chamou M H Abrams esse tipo de pensamento é continuado pelas atitudes ti picas do século XIX que Flaubert satiriza em Bouvard et Pécuchet A nocao de regeneracáo portanto levanos de volta a urna tendencia romántica conspícua após o racionalismo e o decoro do Iluminismo reverterao perfeito drama e aos mistérios supraracio nais das estórias e doutrinas cristás eaos violentos conflitos e abruptas reviravoltas da vida interior cristá voltandoss para Os extremos de des truicáo e de criacáo inferno e céu exilio e reencontro morte e renas cimento e alegria paraíso perdido e paraíso reconquistado Mas VIsto que eles viviam inelutavelmente depois do Iluminismo os revívíam essas antigas questóes com urna diferenca in cumbíramse de salvar a viseo geral da história e do destino humanos os paradigmas existenciais e os valores fundamentais da sua heranca reli giosa reconstituindoos de modo a tornálos intelectualmente aceitáveis bem como emocionalmente pertinentes para a época Aquilo que Bouvard tem em mente a regeneracáo da Europa pela Asia era urna idéia romántica muito influente Friedrich Sch legel e Novalis por exemplo instavam os seus compatriotas e os euro peus em geral a um estudo detalhado da india porque diziam eles a cultura e a religiáo indianas podiam derrotar o materialismo e o meca nicismo e o republicanismo da cultura ocidental E dessa derrota sur giria urna Europa nova e revitalizada as imagens bíblicas da morte do renascimento e da redencáo sao evidentes nessa receita Além disso o projeto orientalista romántico nao era apenas um exemplo específico de urna tendencia geral era um poderoso formador da própria tendencia tal como Raymond Schwab afirmou de modo tao convincente em La renaissance oientale importavanño tanto a Ásia quan to o uso da Asia para a Europa moderna Assimqualquermnque como Schlegel ou Franz Bopp dominasse urna lingua oriental era um espiritual uro cavaleiro andante que trazia para a Europa uro sentido da santa missño que esta entáo perderaÉ precisamente esse sentido que as relígióes seculares posteriores retratadas por Flaubert transportam para o século XIX Nao menos que Schlegel Wordsworth e Chateaubriand Auguste Comte como Bouvard era partidário e proponente de um mito secular pósilurninista cujas linhas gerais sao inegavelmente cristás Ao permitir que Bouvard e Pécuchet passem regularmente por 124 nocóes revisionistas do princípio ao fim comicamente degradadas Flau bert chamava a atencáo para a falha humana comum a todos os pro jetos Ele via perfeitamente bem que por trás da idée Europa regeneradapelaAsía espreitava urna insidiosa hubris Nem a Eu ropa nem a u Ásia eram alguma coisa sem a técnica dos visionários para transformar vastos domínios geográficos em entídades tratáveis e rnanejáveis No fundo portanto a Europa e a Ásia eram a nossa Eu ropa e a nossa Ásia nossa vontade e Jssa representaciio como disse Schopenhauer As leis eram na realidade as leis dos histo riadores assim como as duas formas de humanidade chamavam a atencáo menos para os fatos que para a capacidade européia de con ferir as distíncóes feitas pelo homem um ar de inevitabilidade Do mesmo modo na outra metade da frase seráo finalmente soldadas urna a outra Flaubert zombava dasaltítanteindiferenca da ciencia para com a que anatomizava e sefossemapenas matéria inerte Mas nao era qualquer ciencia que ele ridicularizava era a entusiástica e até mesmo rnessiánica ciencia européia cujas vitórias incluíam revolucóes fracas sadas guerras opressóes e urna incorrigível aptidáo a colocar quixo tescamente idéias grandiosas e livrescas imediatamente em prática O que essa ciencia ou conhecimento nunca levava em conta era a sua própria falsa inocencia profundamente enraizada e sem consciencia de si mesma e a resistencia desta a realidade Quando Bouvard repre senta o papel de cientista ele ingenuamente presume que a ciencia apenas é que a realidade é o que o cientista diz que é que nao interessa se o cientista é um tolo ou um visionário ele ou qualquer um que pense como ele nao consegue ver que o Oriente pode nao querer regenerar a Europa ou que a Europa nao estava prestes a fundirse democraticamente com asiáticos amarelos ou pardos Em resumo esse cientista nao reconhece em sua ciencia a vontade egoísta de poder que nutre os seus esforcos e corrompe as suas Flaubert claro providencia para que os seus pobres tolos sejam obrigados a esfregar o nariz nessas dificuldades Bouvard e Pécuchet aprenderam que é melhor nao traficar com idéias e com a realidade ao mesmo ternpo A conclusáo do romance é urna imagem dos dois per feitamente satisfeitos em copiar suas idéias favoritas fielmente do livro para o papel O conhecimento deixa de exigir a aplicacño a realidade passa a ser o que é passado adiante silenciosamente sem cornentários de um texto a outro As idéias sao propagadas e disseminadas anoni mamente repetidas sem atribuicáo literalmente tornaramse idées recues o que importa é que estejam lá para serem repetidas ecoadas e reecoadas acriticamente 125 De modo altamente concentrado esse breve episódio tirado das notas de Flaubert para Bouvard et Pécuchet forma as estruturas espe cificamente modernas do orientalismo que afina de cantas é urna dis ciplina entre as fés seculares e quase religiosas do pensamento eu ropeu do século XIX Já caracterizamos o campo de acáo geral do pen samento sobre o Oriente que foi transmitido através dos periodos me dieval e renascentista para o qua o isla era o Oriente essencial Du rante o século XVIII contudo houve alguns elementos novas e interli gados que indicavam a fase evangélica que estava por vir cujas linhas gerais Flaubert recriaria mais tarde Por um lado o Oriente estava sendo aberto consideravelmente além das terras islámicas Essa mudanca quantitativa era em grande parte resultado de urna contínua e sempre crescente exploracáo euro péia do resto do mundo A influencia cada vez maior da literatura de viagens das utopias imaginativas das jornadas morais e das repor tagens científicas focalizaram o Oriente de maneira mais nitida e ex tensa Se o orientalismo está em divida principalmente com as fruti feras descobertas orientais de AnquetiI e Jones durante o último terco do século estas devem ser consideradas no contexto mais amplo criado por Cook e Bougainville pelas viagens de Tournefort e de Adanson pela Histoire des navigations aux terres australes História das nave gacóes as terras austrais do Presidente de Brosses pelos negociantes franceses no Pacifico pelos missionários jesuitas na China e nas Amé ricas pelas exploracóes e relatórios de William Dampier pelas inúme ras especulacóes sobre gigantes patagñnios selvagens nativos e mons tros supostamente habitando o extremo leste o oeste o sul e o norte da Europa Mas todos esses horizontes que se ampliavam mantinham a Europa firmemente no centro privilegiado como principal observadora ou principalmente observada como ern Citizen 01 the world Cída dáo do mundo de Goldsmith Isso porque ao mesmo tempo que a Europa deslocavase para fora o seu sentido de forca cultural era re íorcado Com base em estórias de viajantes e nao apenas com base em grandes instituícóes como as diversas companhias das indias colonias eram criadas e perspectivas etnocentristas eram garantidas Por outro lado urna atitude mais instruida em relacáo ao es tranho e ao exótico foi favorecida nao somente por viajantes e explo radores mas também por historiadores cuja experiencia européia po día ser proveitosamente comparada com outras civilizacées e mais an tigas Essa poderosa corrente na antropologia histórica do século XVIII descrita por estudiosos como o confronto dos deuses significava que Gibbon podia ler as licóes do declínio de Roma na ascensáo do isla assim como Vico podia entender a civilizacáo moderna nos termos do 126 bárbaro e poético esplendor dos seus primórdios IQquanto s histo riadores da Renascenca julgavam o Oriente inflexivelmente como um 1iürnlgo os do século XVIII confrontavam as peculiaridades orientais com umcerto dístanciamento e tentando tratar diretamente fon tesocieñtais porque essa técnica um europeu a co nheer melhor a si mesmo A traducáo do Coráo feita por George Sale e que a acompanha ilustram a mudanca Ao con trário dos seus predecessores Sale tentou lidar com a história árabe baseado em fontes árabes mais ainda permitiu que comentaristas rnuculmanos do texto sagrado falassem por si mesmos Em Sale como em todo o século XVIII o simples comparatismo foi a fase inicial das disciplinas comparativas filología anatomia jurisprudencia religiáo que se tornariam o orgulho do método do século XIX Havia porém urna tendencia entre alguns pensadores a ir alérn do estudo comparativo com seus judiciosos reconhecimentos da huma nidade da China ao Peru mediante a identificacáo solidária Esse é um terceiro elemento do século XVIII que preparou o caminho para o moderno orientalismo Aquilo que chamamos hoje de historicismo é urna idéia do século XVIII Vico Herder e Hamann entre outros todas eram orgánica e internamente coe rentes unidas um genio Klima ou idéia nacional que alguém de fora só poderia penetrar por um ato de solidariedade histó rica as Ideen zur Philosophie der Geschichte der Menschheit Idéias sobre a filosofia da história da humanidade escritas entre 1784 e 1791 por Herder eram urna amostra panorámica de várias culturas cada urna delas permeada por um espirito criativo hostil cada urna delas acessível apenas para um observador que sacrificasse os seus pre conceitos ao Einfíihlung Imbuida pelo sentido populista e pluralista da história advogado por Herder e outros a mente do século XVIII podia romper os muros doutrinais erigidos entre o Ocidente e o isla e ver elementos ocultos de afinidade entre ela e o Oriente Napoleáo é um famoso exemplo dessa normalmente seletiva identificacáo por solida riedade Mozart é outro A flauta mágica onde códigos macónicos se misturam a visóes de um Oriente benigno e O rapto do serraho loca lizam urna forma particularmente magnánima de humanidade no Oriente E isso muito mais que os hábitos elegantes da música tur ca atraíam Mozart solidariamente para o Leste Emuito difícil mesmo assim separar intuicóes do Oriente como a de Mozart de toda a gama de representacóes prérománticas e ro mánticas do Oriente como urna localidade exótica O orientalismo po pular atingiu durante o final do século XVIII e o inicio do XIX urna voga de considerável intensidade Mas mesmo essa voga facilmente 127 i identificável em William Beckford Byron Thomas Moore e Goethe nao pode ser simplesmente separada do interesse por contos góticos idilios pseudomedievais e visóes de crueldade e esplendor bárbaros Dessa maneira em alguns casos a representacáo oriental pode ser as sociada as prisóes de Piranesi em outros aos luxuriantes ambientes de Tiepolo e em outros ainda aexótica sublimidade das pinturas do final do século XVIII Mais tarde no século XIX nas obras de Delacroix e em dúzias literalmente de outros pintores franceses e ingleses os qua dros de genero oriental1evaram a representacáo aexpressáo visual e a urna vida própria que este livro infelizmente deve abordar com parci mónia Sensualidade promessa terror sublimidade prazer idílico energíao Oriente como urna figura na imaginacáo orientalista préromántica e prétécnica da Europa do final do século XVIII era na verdade urna qualidade camaleónica chamada adjetivamente orien tal Mas esse Oriente flutuante seria seriamente restringido com o advenía do orientalismoacadémico UID quarto elemento que prepara o caminho para as estruturas orientalistas modernas foi todo o impulso de classificar a natureza e o hornemem tipos Os maiores nomes sao é claro Lineu e Buffon mas os processos intelectuais pelos quais a extensáo corporal e logo moral intelectual e espiritual a típica materialidade de um objeto podia ser transformada de mero espetáculo em medida precisa de elementos característicos estavam muito difundidos Lineu disse que cada nota feita sobre um tipo natural deveria ser um produto de número de forma de proporcáo de situacáo e de fato se olharmos para Kant ou Diderot ou Johnson por toda a parte está urna tendencia a drama tizar os traeos gerais a reduzir vastos números de objetos a um número menor de tipos ordenáveis e descritiveis Na história natural na antro pologia na generalizacáo cultural um típo tinha um caráter partí cular que dava ao observador urna designacáo e como diz Foucault urna derivacáo controlada Esses tipos e esses caracteres pertenciam a um sistema urnarede de generalizacóes relacionadas Desse modo toda designacáo deve ser feita por meio de urna certa relacáo a todas as demais designacóes possíveis Saber o que pertence propriamente a um indivíduo éter diante de si a cíassíñcacao ou a possibilidade de clas sificar todos os outros Nos escritos de filósofos historiadores enciclopedistas e ensaís tas encontramos o carátercomodesignacáo na qualidade de classifi cacao fisiológicomoral existem por exemplo os hornens selvagens os europeus os asiáticos e assirn por diante Essas classificacóes apare cern evidentemente ern Lineu mas tarnbém em Montesquieu em 128 Johnson em Blurnenbach em Soemmerring em Kant As caracterís ticas fisiológicas e morais sao distribuídas rnaisou menos igualmente americano é vermelho colérico ereto o asiático é amarelo melan cólico rígido o africano é negro fleumático frouxo Mas essas designacóes sao reforcadas quando mais tarde no século XIX sao alia das ao caráter como derivacáo como tipo genético Em Vico e em Rousseau por exemplo a forca de generalizacáo moral é aumentada pela precísáo com que figuras dramáticas quase arquetípicas ho mens primitivos gigantes heróis sao mostradas como a génese das atuais questóes morais filosóficas e até lingüísticas Assim quando se fazia referencia a um oriental era em termos de universais genéticos tais como o seu estado primitivo suas características primárias sua base espiritual específica Os quatro elementos que eu descrevi expansáo confronto his tórico solidariedade e classificacáo sao as correntes do pensamento do século XVIII de cuja presenca dependem as estruturas intelectuais e institucionais específicas do orientalismo moderno Sem eles o orienta lismo como veremos aseguir nao poderia ter ocorrido Além disso esses elementos tiveram o efeito de libertar o Oriente em geral e o isla em particular da visáo estreitamente religiosa mediante a qual haviam sido examinados e julgados até entáo pelo Ocidente cristáo Em ou tras palavras o orientalismo moderno deriva de elementos seculari zantes da cultura européia do século XVIII Um a expansáo do Orien te mais para o leste geograficamente e mais para trás temporalmente abalou e até mesmo dissolveu o quadro bíblico Os pontos de referen cia nao eram mais o cristianismo e o judaísmo com seus calendários e mapas bastante modestos mas a India a China o Japáo e a Suméria o budismo o sánscrito o zoroastrismo e Manu Dais a capacidade de tratar historicamente e nao redutivamente como um tema de política eclesiástica com culturas náoeuropéias e náojudeucristás foi forta lecida quando a própria história foi concebida mais radicalmente que antes entender a Europa corretamente equivalía a entender também as relacóes objetivas entre ela e suas próprias fronteiras temporais e cul turais antes inatingíveis De certo modo a idéia de Joáo de Segóvia de urna contraferentia entre o Oriente e a Europa foi realizada mas de maneira totalmente secular Gibbon podia tratar Maomé como urna figura histórica que influenciava a Europa e nao como um viláo dia bólico que pairava em algum ponto entre a magia e a falsa profecia Tres urna identificacáo seletiva com regióes e culturas que nao a pró pria desgastou a obstinacáo do simesmo e da identidade que haviam sido polarizados em urna comunidade de crentes curtidos de batalha enfrentando as hordas bárbaras As fronteiras da Europa cristá nao 129 serviam mais como um tipo de alfándega as nocóes de associacáo hu mana e de possibilidade humana adquiriram urna legitimidade geral no sentido de oposta a provinciana muito ampla Quatro as clas sificacóes da humanidade foram sistematicamente multiplicadas a me dida que as possibilidades de designacáo e de derivacáo foram sendo refinadas além das categorias do que Vico chamava de nacóes pagas e sagradas raca cor origem temperamento caráter e tipos soterraram as distincóes entre cristáos e o resto No entanto se esses elementos interligados representam urna ten dencia secularizante isso nao equivale a dizer que os velhos padrees religiosos da história e dos destinos humanos e os paradigmas existen ciais tenham sido simplesmente removidos Longe disso foram re constituidos redispostos e redistribuidos nas estruturas seculares enu meradas acima Para qualquer um que estivesse estudando o Oriente um vocabulário secular em conformidade com essas estruturas era ne cessário Mas ao mesmo tempo que o orientalismo fornecia o vocabu lário o repertório conceítual e as técnicas pois éisso que apartir do final do século XVIII o orientalismo fez e fa ele também conser vaya como urna corrente inamovível do seu discurso um impulso reli gioso reconstruido um sobrenaturalismo naturalizado Oque tentarei mostrar é que esse impulso do orientalismo residia na concepcáo queo orientalista fazia de si mesmo do Oriente e da sua disciplina O orientalista moderno era segundo esse ponto de vista um he rói que resgatava o Oriente da obscuridade alienacáo e estranhamento que ele mesmo corretamente distinguira A sua pesquisa reconstruía os idiomas costumes e até mentalidades perdidos do Oriente do mesmo modo que Champollion reconstruiu os hieróglifos egipcios a partir da Pedra de Roseta As técnicas orientalistas especificas lexicografia gramática traducáo descodificacáo cultural restauravam nutriam e reafirmavam tanto os valores de um Oriente antigo e c1ássico quanto os das tradicionais disciplinas da filologia da história da retórica e da polémica doutrina Nesse processo porérn o Oriente e as disciplinas orientalistas mudaram dialeticamente pois nao podiam sobreviver em sua forma original O Oriente mesmo na forma c1ássica que o orien talista estava acostumado a estudar foi modernizado restaurado para o presente as disciplinas tradicionais também foram transportadas para a cultura contemporánea Mas tanto um como as outras conser vavam os traeos do poder o poder de ter ressuscitado criado até o Oriente poder que residia nas novas técnicas cientificamente avan cadas da filologia e da generalizacáo antropológica Em resumo tendo trazido o Oriente a modernidade o orientalista podia celebrar o seu método a sua posicáo como atributos de um criador secular um ho 130 mem que fazia novos mundos do mesmo modo que Deus fizera o velho Para dar continuidade a tais métodos e a tais posicóes para além do tempo de vida de um individuo haveria urna tradicáo secular de con ti nuacáo urna ordern laica de rnetodologistas disciplinados cuja irrnan dade nao estaria baseada em urna linhagem de sangue mas em um dis curso comum urnapráxis urnabiblioteca um conjunto de idéias rece bidas em resumo urna doxologia comum a qualquer um que se jun tasse atropa Flaubert tinha presciencia suficiente para saber que com o tempo o orientalista se tornaría um revisor como Bouvard e Pé cuchet mas nos primeiros tempos nas carreiras de Silvestre de Sacy e de Ernest Renan esse perigo nao era aparente A minha tese é que os aspectos essenciais da teoría e da práxis orientalistas modernas das quais deriva o orientalismo de hoje podem ser entendidos nao como um acesso súbito de conhecimento objetivo sobre o Oriente mas como um conjunto de estruturas herdadas do passado secularizadas redispostas e reformadas por disciplinas como a filologia que por sua vez eram substitutos ou versees naturalizados modernizados e laicizados do sobrenaturalismo cristáo Na forma de ñovos textos e idéias o Oriente foi acomodado a essas estruturas Lin güistas e exploradores como Jones e Anquetil contribuíram para o mo derno orientalismo certamente mas o que o distingue como um campo um grupo de idéias um discurso é obra de urna geracáo posterior a deles Se usarmos a expedicáo napoleónica 17981801 como urna es pécie de primeira experiencia capacitadora para o orientalismo mo derno poderemos considerar os seus heróis inaugurais nos estudos islámicos Sacy Renan e Lane como os construtores do campo cria dores de urna tradicáo progenitores da irmandade orientalista O que Sacy Renan e Lane fizeram foi par o orientalismo sobre urnabase cien tífica e racional Isso levou nao só ao trabalho exemplar deles mesmos mas a criacáo de um vocabulário e de idéias que podiam ser usados impessoalmente por qualquer um que quisesse ser orientalista A inau guracáo do orientalismo feita por eles foi urna íacanha consideráve Ela tornou possivel urna terminologia científica baniu a obscuridade e instituiu urna forma especial de iluminacáo para o Oriente estabeleceu a figura do orientalista como a autoridade central para o Oriente legi timou um tipo especial de obra orientalista especificamente coérente pos em circulacáo cultural urna forma de moeda discursiva por cuja presenca o Oriente a partir daquele momento passou a deixar que falassem por ele acima de tudo a obra dos inauguradores abriu espaco para um campo de estudos e urna familia de idéias que por sua vez poderiam formar urna comunidade de estudiosos cujas linhagem tra dieces e ambícóes erarn ao mesmo tempo internas ao campo e externas 131 o bastante para criarem um prestigio generalizado Quanto mais a Eu ropa se impunha ao Oriente durante o século XIX mais o orientalismo ganhava em confíanca Mas se esse ganho coincidia com urna perda de origínalídade isso nao nos deveria surpreender posto que o seu modo desde o princípio foi a reconstrucáo e a repeticáo Uma observacáo final as idéias instituicóes e figuras do final do século XVIII e comeco do XIX das quais tratarei neste capítulo Sao urna parte importante urna elaboracáo crucial da primeira fase da era de aquisicáo territorial mais grandiosa que já se conheceu Por volta do final da Primeira Guerra a Europa colonizara 85 da terra Dizer simplesmente que o orientalismo foi tanto um aspecto do imperialismo quanto do colonialismo nao é dizer algo de muito discutíve Mas nao basta dizéIo é preciso que isso seja trabalhado analitica e historica mente Estou interessado em mostrar de que maneira o orientalismo moderno ao contrário da consciencia précolonial de Dante e de DHerbelot corporifica urna disciplina sistemática de acumulaciio E isso longe de ser urna característica exclusivamente intelectual ou teó rica fez coro que o orientalismo tendesse fatalmente aacumulacáo sis temática de seres humanos e territórios Reconstruir urna língua orien tal moría ou esquecida significava em última instancia reconstruir uro Oriente morto ou esquecido significava também que a precisáo a cien cia e até a imaginacáo reconstrutivas podiam preparar o caminho para aquilo que os exércitos adrninistracóes e burocracias fariam mais tarde no local no Oriente De um certo modo a reivindicacáo do orienta lismo nao era apenas o seu sucesso intelectual ou artístico mas a sua posterior efetividade a sua utilidade a sua autoridade Ele com cer teza merece séria atencáo por todos esses aspectos SIL VESTRE DE SACY E ERNEST RENAN ANTROPOLOGIA RACIONAL E LABORATÓRIO FILOLÓGICO Os dois grandes temas da vida de Silvestre de Sacy sao o esíorco heróico e um dedicado sentido de utilidade pedagógica e raciona Nas cido em 1757 no seio de urna familia jansenista cuja ocupacáo tradi cional era a de notaire AntoineIsaacSilvestre teve aulas particulares em urna abadia beneditina primeiramente de árabe sírio e caldeu e depois de hebraico O árabe particularmente foi a lingua que lhe abriu o Oriente pois era em árabe segundo Joseph Reinaud que o material oriental tanto sagrado como profano podia entáo ser encon trado em sua forma mais antiga e instrutiva Embora legitimista em 132 1769 foi nomeado o primeiro professor de árabe da recentemente cria da escala de langues orientales vivantes da qual se tornou diretor em 1824 Em 1806 foi nomeado professor do Collége de France embora já fosse a partir de 1805 o orientalista residente do Ministério dos Ne gócios Estrangeiros da Franca Nesse ministério o trabalho dele pelo qual nao foi pago até 1811 consistia em traduzir os boletins da Grande Armée e o Manifesto de Napoleáo de 1806 no qual se expressava a esperanca de que o fanatismo muculmano pudesse ser insuflado contra a ortodoxia russa Mas por muitos anos depois disso Sacy criou intérpretes para o dragomanato oriental francés assim como futuros estudiosos Quando os franceses ocuparam Argel em 1830 foi Sacy quem traduziu a proclamacáo aos argelinos ele era regularmente con sultado sobre questóes diplomáticas relativas ao Oriente pelo ministro do Exterior e ocasionalmente pelo ministro da Guerra Aos 75 anos substituiu Dacier como secretário da Académie des Inscriptions e tam bém tornouse curador de manuscritos orientais na Bibliothéque Ro yale Por toda urna longa e eminente carreira seu nome foi correta mente associado areestruturacáo e a reformacáo da educacáo parti cularmente nos estudos orientais na Franca pósrevolucionária Jun tamente com Cuvier em 1832 Sacy foi feito um novo par da Franca Nao foi só por ter sido o primeiro presidente da Société Asiatique fundada em 1822 que o nome de Sacy está associado ao surgimento do orientalismo moderno é porque a sua obra literalmente pós diante da profissáo todo um corpo sistemático de textos urna prática peda gógica urna tradicáo erudita e urna importante ligacáo entre a eru dicáo oriental e as politicas oficiais Na obra de Sacy pela primeira vez na Europa desde o Concílio de Viena havia um principio metodológico consciente de si mesmo atuando contemporaneamente com urna disci plina erudita Nao menos importante Sacy sentiuse sempre como al guém que estava no início de um importante projeto revisionista Era um inaugurador que sabia que o era e o que tem mais a ver coro a nossa tese geral agia em seus escritos como um eclesiástico seculari zado para quem o Oriente e os que o estudavam eram respectiva mente doutrina e paroquianos O duque de Broglie um admirador contemporáneo disse da obra de Sacy que ela reconciliava os modos de um cientista com os de um professor biblico e que Sacy era o único capaz de reconciliar as metas de Leibniz aos esíorcos de Bossuet Conseqüentemente tudo o que ele escrevia era dirigido especificamente a estudantes no caso do seu primeiro trabalho Principes de gram maire générale de 1799 o estudante era o seu próprio filho e apre sentado nao como urna novidade roas como uro extrato do melhor que já fora feito dito ou escrito 133 Essas duas características a apresentacáo didática a estudan tes e a intencáo confessa de repetir por revisáo e extrato sao cruciais Os escritos de Sacy passam sempre o tom de urna voz falando a sua prosa abunda em pronomes na primeira pessoa em qualificacóes pes soais em presenca retórica Até mesmo no mais recóndito urna nota erudita sobre a numismática sassánida do século III o que se sente é menos urnapena escrevendo que urnavoz pronunciando A nota básica da obra dele está nas primeiras linhas da dedicatória ao filho dos Prín cipes de grammaire générale Cest 11 toi mon cher Fíls que ce petit ouvrage a été entrepris o que quer dizer estou escrevendo ou fa lando para ti porque tens de saber estas coisas e como elas nao exis tem em nenhuma forma utilizável eu mesmo fiz o trabalho para ti Discurso direto utilidade esforco racionalidade imediata e benefi cente Pois Sacy achava que tudo podia ser tornado claro e razoável por mais difícil que fosse a tarefa ou obscuro O tema Aquí estáo o rigor de Bossuet e o humanismo abstrato de Leibniz assim como o tom de Rousseau tudo junto no mesmo estilo O efeito do tom de Sacy é o de isolálo juntamente com a sua au diencia do mundo em geral do mesmo modo que um professor e seus alunos juntos em urna sala de aula fechada também formam um espaco isolado Ao contrário da matéria da física da filosofia ou da literatura c1ássica a matéria dos estudos orientais é arcana tem importancia para as pessoas que já térn interesse pelo Oriente mas querem conhe celo melhor de maneira mais ordenada e nesse caso a disciplina pe dagógica é mais eetiva que atraente O orador didático portanto exi be o seu material aos seus discipulos cujo papel é receber o que lhes é oferecido na forma de temas cuidadosamente selecionados e arran jados Posto que o Oriente é velho e distante a exibicáo do professor é urna restauracáo urna revisáo daquilo que desapareceu do conheci mento mais amplo E visto também que o Oriente vastamente rico em espaco tempo e culturas nao pode ser totalmente exposto só preci samos mostrar as suas partes mais representativas Assirn o íoco de Sacy é a crestomatia a antologia o quadro o levantamento dos prin cipios gerais modo pelo qual um conjunto relativamente pequeno de exemplos poderosos entrega o Oriente ao estudante Esses exemplos sao poderosos por duas razóes 1 porque refletem os poderes de Sacy como urna autoridade ocidental que extrai do Oriente o que a distancia e a excentricidade deste haviam mantido oculto até entáo e 2 porque térnem si ou o orientalista lhes confere o poder semiótico de significar o Oriente Tudo na obra de Sacy é essencialmente compilatório assim ela é cerimoniosamente didática e detalhadamente revisionista Além dos 134 Príncipes de grammaire générale ele produziu urna Chrestomathie arabe em tres volumes 1806 e 1827 urna antología de escrita árabe gramtical 1825 urna gramática árabe de 1810 a lusage des éléves de lEcole spéciale tratados sobre a prosódia árabe e a relígiáo drusa e numerosos trabalhos curtos sobre numismática onomástica epigrafia geografia história e pesos e medidas orientais Fez um grande número de traducóes e dois extensos comentários sobre o Calila e Dumna e o Maqamat de alHariri Como editor memorialista e historiador da erudicáo moderna Sacy era igualmente vigoroso Havia pouca coisa digna de nota nas outras disciplinas relacionadas com a qual ele nao estivesse au courant embora seus escritos tivessem um só propósito e fossem em seus aspectos naoorientalistas de um alcance estreitamente positivista Quando contudo em 1802 Napoleáo encomendou ao Institut de France um tableau générale sobre o estado e o progresso das artes e das ciencias desde 1789 Sacy foi escolhido para fazer parte da equipe de escritores ele era o mais rigoroso dos especialistas e o que tinha a maior vísáo histórica entre os generalistas O relatório de Dacier tal como o tableau ficou conhecido informalmente incorporou muitas das predilecóes de Sacy além de conter a sua contríbuícáo sobre o estado da erudicáo orienta O titulo do trabalho Tableau historique de lérudition francaise Quadro histórico da erudicáo francesa anun cia a nova consciencia histórica no sentido de oposta a sagrada Essa consciencia é dramática a erudicáo pode ser disposta em um cenário por assim dizer onde a sua totalidade pode ser prontamente inspecio nada Dirigido ao rei o prefácio de Dacier colocava perfeitamente o tema Urna inspecáo como aquela possibilitava o que nenhum soberano havia tentado ou seja compreender com um coup doeil o conjunto do conhecimento humano Se esse tableau historique tivesse sido ten tado em épocas anteriores continuava Dacier poderíamos ter agora muitas obrasprimas perdidas ou destruidas o interesse e a utilidade do quadro eram os de preservar e tornar imediatamente acessível o conhecimento Dacier reconhecia que tal tarefa fora simplificada pela expedicáo oriental de Napoleáo um de cujos resultados foi a elevacáo do conhecimento geográfico moderno Em nenhum outro ponto além de todo o discours de Dacier podemos ver de que maneira a forma dramática de um tableau historique tem o seu equivalente de uso nas arcadas e nos balcóes de urna moderna loja de departamentos A importancia do Tableau historique para o entendimento da fase inaugural do orientalismo é que ele exterioriza a forma e as carac terísticas do conhecimento orientalista ao mesmo tempo que descreve a relacáo do orientalista com o seu tema Nas páginas de Sacy sobre o 135 orientalismo assim como em outras partes dos seus escritos ele fala do seu próprio trabalho como tendo descoberto trazido ti luz res gatada urna vasta quantidade de material obscuro Para que Para colocálo diante do estudante Pois do mesmo modo que todos os seus contemporáneos cultos Sacy considerava urna obra culta como urna adicáo positiva a um edifício que todos os eruditos erigiam em con junto O conhecimento era essencialmente tornar visivel o material e a meta de um quadro era a coníeccáo de urna espécie de Panopticon ben thamista A disciplina erudita era portanto urna tecnologia especifica de poder ela conquistava para aquele que fazia uso dela e para os seus estudantes ferramentas e conhecimento que se ele fosse um historia dor haviam estado perdidos até entáo E de fato o vocabulário da aquisicáo e do poder especializados está particularmente associado a reputacáo de Sacy como um orientalista pioneiro O seu heroísmo como um estudioso foi o de ter enfrentado com hito dificuldades insuperá veis ele adquiriu os meios para apresentar um campo aos seus estu dantes onde nao havia nenhum Elefez os livros os preceitos os exem plos disse de Sacy o duque de Broglie O resultado foi a producáo de material sobre o Oriente de métodos para estudálo e de exemplos que nem mesmo os orientais tinham Comparados com os esforcos de um latinista ou de um helenista da equipe do Institut os de Sacy eram impressionantes Eles tinham os textos as convencóes as escalas ele nao possuía nada disso e conse qüentemente tinha de ir em frente e fazélos A dinámica da perda primária e do ganho subseqüente nos escritos de Sacy é obsessiva o seu investimento neles é verdadeiramente pesado Assim como os seus colegas em outros campos ele acreditava que conhecer é ver pan opticamente por assim dizer mas ao contrário deles ele nao só tinha de identificar o conhecimento como também decifrálo interpre tálo e o que é mais difícil tornálo disponível A realizacáo de Sacy foi ter produzido todo um campo Como europeu ele saqueou os arquivos orientais e podia fazer isso sem sair da Franca Os textos que ele íso lou trouxe de volta depois reparouos e entáo os anotou codificou arranjou e comentou Com o tempo o Oriente como tal tornouse me nos importante que aquilo em que o orientalista o transformava Desse modo atraido por Sacy para o espaco discursivo fechado de um quadro pedagógico o Oriente dos orientalistas tem relutado desde entáo a emergir para a realidade Sacy era inteligente demais para deixar as suas nocoes e a sua prática sem urnaargumentacáo de apoio Antes de mais nada ele sem pre deixou claro por que razáo o Oriente por si mesmo nao poderia resistir ao gosto ainteligencia ou apaciencia de um europeu Sacy de 136 Iendía a utilidade e o interesse de coisas como a poesia árabe mas o que ele estava realmente dizendo era que esta deveria ser adequada mente transformada pelo orientalista antes que pudesse comecar a ser apreciada As razées eram grandemente epistemológicas mas conti nham também urna autojustificativa orientalista A poesía árabe era produzida por um POyO completamente estranho para um europeu sob condicóes climáticas sociais e históricas grandemente diferentes das que conhece o europeu além do mais urna poesia como essa era nutrida por opinióes preconceitos crencas e supersticées que po demos conceber apenas após um longo e penoso estudo Mesmo que passemos pelos rigores de um treinamento especializado grande parte das descricóes na poesia nao seráo acessíveis para um europeu que atingiu um grau mais alto de civilizacáo Apesar disso aquilo que po demos dominar é de grande valor para nós europeus acostumados a disfarcar os nossos atributos exteriores nossa atividade corporal e a nossa relacáo com a natureza Portanto a utilidade do orientalista é tomar disponível para nós urna gama considerável de experiencias in comuns e mais valioso ainda um tipo de literatura capaz de ajudar nos a entender a poesia verdadeiramente divina dos hebreus De maneira que se o orientalista é necessário porque extrai al gumas gemas úteis das distantes profundezas orientais e posta que o Oriente nao pode ser conhecido sem a sua mediacáo também é ver dade que a escritura oriental nao deveria ser apreendida por inteiro Esta é a íntroducáo de Sacy a sua teoria dos fragmentos urna preo cupacáo romántica comum As producées literárias orientais nao sao apenas estranhas para o europeu elas também nao tém um interesse suficientemente sustentado nem sao escritas com suficiente gasto e espirito critico para merecerem publicacáo a nao ser como extratos pour mériter détre publiées autrement que par extrait18 E preciso portanto que o orientalista apresente o Oriente mediante urna série de fragmentos representativos que sao republicados explicados ano tados e rodeados por mais fragmentos Para urna apresentacáo como essa é necessário uro genero especial a crestomatia que é ande no caso de Sacy a utilidade e o interesse do orientalismo sao exibidos de maneira mais direta e proveitosa A producáo mais famosa de Sacy foi a Chrestomathie arabe que estava selada desde o inicio por assim dizer com um dístico árabe de rima interna Kitab alanís almufid lilTaleb almustafid wa gami al shathur min manthoum wa man thur Um livro agradável e proveitoso para o aluno estudioso pois coleta fragmentos de prosadores e poetasl As antologias de Sacy foram amplamente usadas na Europa por muitas geracóes Embora o que elas contém pretenda ser típico sub 137 mergem e cobrem a censura do Oriente exercida pelo orientalista Além disso a ordem interna dos seus conteúdos o arranjo das suas partes e a escolha dos fragmentos nunca revelam o seu segredo temse a impressáo de que se os fragmentos nao foram escolhidos pela sua importancia ou pelo seu desenvolvimento cronológico ou pela sua beleza estética tal como os de Sacy nao foram mesmo assim eles de vem expressar urna certa naturalidade ou inevitabilidade oriental ti pica Mas isso também nunca é dito Sacy afirma simplesmente ter se esforcado pelos seus estudantes para fazer com que fosse desnecessário para eles comprarem ou lerem urna biblioteca grotescamente grande de material oriental Com o tempo o leitor esquece o esforco do orien talista e considera a reestruturacáo do Oriente significada por urna crestomatia como o Oriente tout court A estrutura objetiva a desig nacáo do Oriente e a reestrutura subjetiva a representacáo do Oriente pelo orientalista tornamse intercambiáveis O Oriente é coberto pela racionalidade do orientalista os principios daquele tornamse os deste De ser distante ele se torna disponível de ser insustentável por si mes mo ele se torna pedagogicamente útil de estar perdido foi encontrado mesmo que as partes que lhe faltam tenham sido propositalmente dei xadas no caminho As antologias de Sacy nao apenas suplementam o Oriente elas o entregam ao Ocidente como presenca oriental A obra de Sacy canoniza o Oriente ela dá origem a uro cánone de objetos textuais passados de urna geracáo de estudantes para a seguinte E o legado vivo deixado pelos discipulos de Sacy é impressio nante Todos os principais arabistas da Europa do século XIX tracavam a sua linhagem de autoridade até ele Universidades e academias na Franca na Espanha na Noruega na Suécia na Dinamarca e especial mente na Alemanha estavam cheias de estudantes que se haviam for mado nas aulas dele e através dos quadros proporcionados pela sua obra Mas tal como acontece com todos os patrimonios intelectuais os enriquecimentos e as restricóes eram transmitidos simultaneamente A originalidade genealógica de Sacy foi ter tratado o Oriente como algo a ser restaurado nao apenas por causa da presenca desordenada e elu siva do Oriente mas também apesar dela Sacy situou os árabes no Oriente que foi por sua vez situado no quadro geral da erudícáo mo derna O orientalismo portanto pertencia aerudicáo européia mas o seu material tinha de ser recriado pelo orientalista antes que pudesse ocupar o seu nicho ao lado do latinismo e do helenismo Cada orien talista recriava o seu próprio Oriente de acordo com as regras episte mológicas fundamentais de ganho e perda que Sacy foi o primeiro a fornecer e a por em prática Assim como ele foi o pai do orientalismo foi também a sua primeira vítima pois ao traduzir novos textos frag 138 s mentos e extratos os orientalistas que vieram depois deslocaram intei ramente a obra de Sacy ao darem a público o seu próprio Oriente restaurado Apesar disso o processo que ele comecou teria prossegui mento principalmente quando a filologia desenvolveu poderes sistemá ticos e institucionais que Sacy nunca explorara Essa foi a realizacáo de Renan ter associado o Oriente as mais recentes disciplinas compara tivas das qqais a filologia era urnadas mais eminentes A diferenca entre Sacy e Renan é a diíerenca entre a inauguracáo e a continuidade Sacy é o iniciador cuja obra representa o surgimento do campo e da sua posicáo como urna disciplina do século XIX cujas raízes estáo no Romantismo revolucionário Renan deriva da segunda geracáo do orientalismo a tarea dele foi a de solifidicar o discurso ofi cial do orientalismo sistematizar as percepcóes deste e estabelecer as suas instituícóes intelectuais e terrenas Para Sacy foi o esforco pessoal que lancou e vitalizou o campo e suas estruturas para Renan foi a sua adaptacáo do orientalismo il filología e de ambos il cultura intelectual da época que perpetuou intelectualmente as estruturas do orienta lismo e conferiulhes urna maior visibilidade Por direito próprio Renan nao era urna figura nem de total ori ginalidadé nem de absoluta derivacáo Portanto como urna forca cul tural ou como um importante orientalista ele nao pode ser reduzido simplesmente asua personalidade nem a um conjunto de idéias esque máticas em que ele acreditava Renan é melhor entendido como urna forca dinámica cujas oportunidades já haviam sido criadas por pio neiros como Sacy mas que mesmo assim transportou as suas reali zacóes para a cultura como urna espécie de curso que ele circulava e recirculava com para forcar a imagem um pouco mais o seu próprio recurso Renan é urna figura que deve ser entendida em resumo como um tipo de práxis cultural e intelectual como um estilo para fazer declaracóes orientalistas que permanecessem nos limites daquilo que Foucault chamaria de arquivo do seu tempo O que interessa nao é o que Renan disse mas como ele disse o que foi que dados a sua forrnacáo e treinamento ele escolheu para utilizar como tema o que combinar com que e assim por diante As relacóes de Renan com o seu tema oriental com o seu tempo e audiencia e até com a sua própria obra podem ser descritas assim sem recorrer a fórmulas que depen dam de urna presuncáo nao examinada de estabilidade ontológica por exemplo o Zeitgeist a história das idéias a vida e os tempos Em vez disso podemos ler Renan como um escritor que está fazendo algo des critível em um lugar definido temporal espacial e culturalmente e portanto arquivalmente para um público e nao menos importante para o avance da sua posicáo no orientalismo do seu tempo 139 Renan chegou ao orientalismo vindo da filologia e foi a posicáo cultural extraordinariamente rica e prestigiada dessa disciplina que forneceu ao orientalismo as suas mais importantes características téc nicas Para qualquer pessoa para quem a palavra filologia evoca um empoeirado e inconseqüente estudo de palavras a proclarnacáo de Nietzsche de que juntamente com as maiores mentes do século XIX ele é um filólogo será urna surpresa mas nao se se lembrar do Louis Lambert de Balzac Que rnaravilhoso livro poderia ser escrito narrando a vida e as aventuras de uma palavra Sern dúvida uma palavra recebeu várias impressóes dos eventos para os quais foi usada dependendo dos lugares ern que foi usa da urna palavra despertou diferentes tipos de impressác em diferentes pessoas mas nao é ainda mais grandioso considerar urna palavra ern seu triplo aspecto de alma corpo e movimentofl Qual é a categoria perguntará Nietzsche mais tarde que inclui ele próprio Wagner Schopenhauer e Leopardi todos como filólogos O termo parece incluir tanto um dom para urna excepcional perspicácia espiritual para a linguagem como a habilidade para produzir trabalhos cuja articulacáo tenha um poder estético e histórico Embora a pro fissáo de filólogo tenha nascido no dia de 1777 em que F A Wolf inventou para si mesmo o título de stud philol Nietzsche esforcase para demonstrar que os estudantes profissionais de grego e de latim sao normalmente incapazes de entender sua própria disciplina Eles nun ca chegam as raízes da questdo nunca aduzem a filologia como um problema Pois simplesmente como um conhecimento do mundo antigo a filologia nao pode é claro durar para sempre o seu material é esgotável 23 É isso que o rebanho de filólogos nao consegue en tender Mas o que distingue os poucos espíritos excepcionais que Nie tzsche considera dignos de elogio nao sem ambigüidade e nao da maneira superficial que estive descreyendo é a sua profunda relacáo com a modernidade urna relacáo que lhes é proporcionada pela prá tica da filología A filologia problematiza a si mesma ao seu praticante ao presente Ela corporifica urna condicáo peculiar de ser moderno e eu ropeu posta que nenhuma dessas duas categorias tem realmente sen tido se nao for relacionada a urna cultura e a um tempo estrangeiros anteriores O que Nietzsche v também é a filologia como algo nascido feito no sentido viconiano como um sinal do empreendimento humano criado como urna categoría de descoberta autodescoberta e originali dade humanas A filologia é urna maneira de nos colocarmos historica mente a parte como fazem os grandes artistas do nosso próprio tempo 140 d e do passado imediato ao mesmo tempo que paradoxal e antinomi camente caracterizamos de fato a nossa própria modernidade ao IazéIo Entre o Friedrich August Wolf de 1777 e o Friedrich Nietzsche de 1875 está Ernest Renan um filólogo oriental também ele urna pessoa com um complexo e interessante sentido da maneira como a filologia e a moderna cultura estáo envolvidas urna com a outra Em L avenir de la science O futuro da ciéncia escrito em 1848 mas publicado apenas em 1890 ele escreveu que os fundadores da mente moderna sao filó logos E o que é a mente moderna disse ele na mesma frase se nao o racionalismo a crítica o liberalismo todos fundados no mesmo dia como filologia A filologia continua é ao mesmo tempo urna disci plina comparativa possuida apenas por modernos e um símbolo da su perioridade moderna e européia todos os avances feitos pela huma nidade desde o século XV podem ser atribuídos a mentes que chama riamos de filológicas A tarefa da filologia na cultura moderna urna cultura que Renan chama de filológica é continuar a ver a realidade e a natureza claramente expulsando assim o sobrenaturalismo e conti nuar a acompanhar o ritmo das descobertas das ciéncias físicas Mais que tudo isso porém a filologia permite urna visáo geral da vida hu mana e do sistema das coisas Eu estando lá no centro inalando o perfume de tudo julgando comparando combinando induzindo desta maneira poderei chegar ao próprio sistema das coisas Há urna inconfundível aura de poder em torno do filólogo E Renan faz a sua afirmacáo sobre a filologia e as ciencias naturais Fazer filosofia é conhecer coisas segundo a elegante frase de Cuvier a filosofía instruí o mundo em teoria Como Kant eu acredíto que toda demonstracáo puramente especulativa nao tem mais validade que urna demonstracáo matemática e nao nos pode ensinar nada sobre a reali dade existente A filologia é a ciéncia exata dos objetos mentais La phi lologie est la science exacte des choses de lesprit Ela está para as cien cias da humanidade assim como a física e a química estáo para as cien cias dos COrpOS24 Deverei voltar acitacáo de Cuvier feita por Renan assim como as constantes referencias as ciencias naturais um pouco mais adiante Por enquanto devemos observar que toda a parte do meio de L avenir de la science está tomada pelos relatos admirativos de Renan sobre a filologia urna ciencia que ele descreve como sendo ao mesmo tempo a mais difícil de caracterizar de todas as empresas humanas e a mais precisa de todas as disciplinas Nas aspiracées da filologia a urna ver dadeira ciencia da humanidade Renan associase explicitamente a 141 Vico Herder Wolf e Montesquieu e também a quase contemporáneos filológicos como Wilhelm von Humboldt Bopp e o grande orientalista Eugéne Burnouf para quem o volume é dedicado Renan situa a filo logia centralmente naquilo a que ele se refere em toda a parte como a marcha do conhecimento e de fato o próprio livro é um manifesto de meliorismo humanístico o que considerandose seu subtítulo Pen sées de 1848 e outros livros de 1848 como Bouvard et Pécuchet e o Dezoito brumário de Luis Bonaparte nao deixa de ser urna ironia Em um certo sentido portanto o manifesto em geral e os relatos de Re nan sobre a filologia em particular ele já havia escrito o macice tratado filológico sobre as linguas semíticas que lhe valera o Premio Volney tinham o designio de situar Renan como um intelectual em umarelacáo claramente perceptível com as grandes questóes sociais levantadas em 1848 Que ele tenha escolhido formar essa relacáo com base na menos imediata de todas as disciplinas intelectuais a filologia a que tivesse o menor grau de relevancia popular aparente a mais con servadorae a mais tradicional sugere a extrema deliberacáo da posicáo de Renan Pois ele nao estava falando como um homem a todos os homens mas antes como urna voz refletiva especializada que tinha por certa como ele colocou no prefácio de 1890 a desigualdade das racas e a necessária dorninacáo dos muitos pelos poucos como urna lei antidemocrática da natureza e da sociedade 2S Mas como era possível para Renan manter a si mesmo e ao que estava dizendo em urna posicáo tao paradoxal Pois o que era a filo logia por um lado se nao a ciencia de toda a humanidade urnaciencia baseada na unidade da espécie humana e no valor de cada detalhe hu mano e o que era o filólogo pelo outro se nao como o próprio Renan provou com o seu notório preconceito racial contra os mesmos semitas orientais cujo estudo fizera a sua reputacáo profissional 26 um severo divisor dos hornens em racas superiores e inferiores um crí tico liberal cuja obra abrigava as mais esotéricas nocóes sobre tempo ralidade origens desenvolvimento relacionamento e valor humano Parte da resposta a isso como demonstram as suas primeiras cartas de intencáo filológica a Victor Cousin Michelet e Alexander von Hum boldt é que Renan tinha um forte sentido de guilda como estudioso profissional um orientalista profissional de fato um sentido que pu nha urna distancia entre ele e as massas Mais importante porém acredito é a própria concepcáo de Renan sobre o seu papel como um filólogo oríental no seio da história do desenvolvimento e dos objetivos mais amplos da filologia tal como ele os via Em outras palavras o que para nós pode parecer um paradoxo era o resultado previsível da ma neira como Renan percebia a sua posicáo dinástica na filologia na sua 142 história e nas suas descobertas inaugurais e do papel dele Renan nisso tudo Portanto Renan deveria ser caracterizado nao como alguém que falava sobre a filologia mas antes como alguém que faaya filologica mente com toda a forca de um iniciado usando a linguagem codíficada de urna nova ciencia prestigiosa cujos pronunciamentos sobre a lin guagem nao poderiam em nenhum caso ser aceitos direta ou inge nuamente Do modo como Renan entendia e recebia a filologia e era ins truído nela a disciplina impunhalhe um conjunto de regras doxoló gicas Ser um filólogo queria dizer ser governado na própria atívidade antes por um conjunto de recentes descobertas reavaliatívas que efeti vamente iniciaram a ciencia da filologia e deramIhe uma distinta epis ternologia própria falo aqui do período aproximado entre a década de 1780 e meados da de 1830 cuja parte final coincide com o início da educacáo de Renan As suas memórias registram como a crise da fé religiosa que culminou com a perda dessa fé levouo em 1845 a uma vida de estudos essa foi a sua iniciacáo a filologia com a sua vísao de mundo crises e estilo Ele achava que em um nivel pessoal a sua vida refletia a vida institucional da filologia Na sua vida contudo ele de cidiu ser cristáo como fora outrora só que sem o cristianismo e com o que ele chamava de la science laíque a ciencia laica O melhor exemplo do que uma ciencia laica podia e nao podia fazer foi dado por Renan anos depois em uma conferencia feíta na Sorbonne ern 1878 Sobre os servicos prestados pela filologia as cién cias históricas O que é revelador sobre esse texto é o modo como Renan tinha claramente a religíáo em mente quando falava sobre a filo logia por exemplo o que a filología como a religiáo nos explica sobre as origens da humanidade da civilizacáo da linguagem apeo nas para deixar claro aos seus ouvintes que a filologia poderia propor cionar urna mensagem muito menos coerente muito menos coesa e positiva que a relígíáo Posto que Renan era irremediavelmente histó rico e como ele mesmo disse urnavez morfológico ern sua perspectiva era lógico que a única maneira pela qual ele como uro rapaz muito jovern podia sair da religiáo para a erudícáo filológica era manter na nova ciencia laica a vísáo histórica do mundo que ele adquirira da reli giáo Assim para mim urna única ocupaeáo parecia digna de ocupar a rninha vida prosseguir a mínha urna alusáo ao grande projeto erudito de Renan sobre a história e as origensdocristia nismo usando aqueles meios bem mais amplos que me oferecia a císncía laica 30 Renan se assimilara afilologia asua própria maneira póscristá 143 J A diferenca entre a história oferecida internamente pelo cristia nismo e aquela oferecida pela filología urna disciplina relativamente nova era precisamente o que possibilitava a filologia moderna e Re nan tinha perfeita consciencia disso Pois sempre que se fala de filo logia por volta do final do século XVffl e do inicio do XIX devemos entender a nova filologia cujos maiores éxitos inc1uem a gramática comparativa a reclassificacáo das línguas em famílias e a rejeicáo final das origens divinas da linguagem Nao é exagerado dizer que essas realizacóes eram urna conseqüéncia mais ou menos direta da visáo que afirmava ser a linguagern urn fenómeno inteirarnente humano E essa vísáo tornouse cornum quando se descobriu que as charnadas línguas sagradas o hebreu primariamente nao tinham nem urna antigüidade primordial nern urna proveniéncia divina O que Foucault chamou de descoberta da linguagem foi portanto um evento secular que desa lojou urna religiosa de como Deus entregara a linguagem ao hornero no Eden De fato urna das conseqüéncías dessa mudanca mediante a qual urna nocáo etimológica e dinástica de filiacáo lingüís tica foi posta de lado por urna visáo da linguagem como uro dominio bem particular que se mantém unido gracas a estruturas e coeréncias internas irregulares foi a dramática diminuicáo do interesse pelas ori gens da linguagem Enquanto na década de 1770 que foi quando o ensaio de Herder sobre as origens da linguagem venceu a medalha de 1772 da Academia de Berlim era a última moda discutir o problema por volta da primeira década do novo século ele estava quase banido como um tema de disputa erudita da Europa Ern todos os aspectos e de muitas diversas maneiras o que Wil liam Jones afirmou nos seusAnniversary discourses 178592 OU o que Franz Bopp avancou na sua Vergleichende Grammatik Gramática comparativa 1832 é que a dinastia divina da linguagem foi rompida definitivamente e desacreditada como idéia Urna nova concepcáo his tórica em resumo era necessária posta que o cristianismo parecia incapaz de sobreviveraevidencia empírica que reduzia a categoria di vina do seu principal texto Para alguns como colocou Chateaubriand a fé era inabalável apesar do novo conhecimento de que o sánscrito era mais antigo que o hebreu Hélas il est arrivé quune connaissance plus approfondie de la langue savante de lInde a fait rentrer ces síécles innombrables dans le cercle étroit de la Bible Bien men a pris détre redevenue croyant avant davoir éprouvé cette mortificatiorr Ai aconteceu que um conhecimento mais profundo da língua culta da In dia Iorcou inúrneros séculas no estreito círculo da Bíblia Ainda bern que me tornei crente de novo antes de ter de passar por essa morti ficacáo Para outros especialmente os filólogos como o próprio pio 144 neiro Bopp o estudo da linguagem implicava a sua própria historia filosofia e erudicáo que acabaram com a nocáo de urna linguagem primeva dada pelo Ente Supremo ao hornem no Paraíso Assirn como o estudo do sánscrito e a disposicáo expansiva do final do século XVIII deslocaram os primórdios da civilizacáo para rnuito mais ao leste das terras bíblicas a linguagem também tornouse menos urna continui dade entre um poder exterior e o orador humano que um campo in terno criado e realizado pelos usuários da linguagem entre eles Nao havia urna primeira língua do mesmo modo que a nao ser por um método que deverei discutir em breve nao havia língua simples O legado desses filólogos de primeira geracáo foi para Renan da maior importancia ainda maior que a obra de Sacy Sempre que dis cutia a linguagem e a filologia seja no início no meio ou no final da sua longa carreira ele repetia as licóes da nova filologia cujos pilares principais sao os princípios antidinásticos e anticontínuos de urna prá tica lingüística técnica no sentido de oposta a divina Para o lingüista a linguagem nao pode ser retratada como o resultado de urna íorca que emana unilateralmente de Deus Como diz Coleridge HA linguagem é o arsenal da mente humana e contém ao mesmo ternpo os troféus do seu passado e as armas das suas futuras conquistas3JA idéia de urna primeira língua edénica abre caminho a urna nocáo heurística de urna indoeuropéia semítica cuja existencia nunca é sub metida a debate pasto que se reconhece que tal linguagem nao pode mas alenas reconstruida no processo filológico Se há urna língua que sirva mais urna vez heuristicamente de pedra de to que para todas as dernais é o sánscrito em sua forma indoeuropéia mais primitiva A terminologia também mudou agora háfamilias de línguas a analogía com as espécies e classificacóes anatómicas é mar cada há urna forma lingüísticapefeita que nao precisa corresponder a nenhuma língua real e há línguas originais apenas como urna fun cáo do discurso filológico e nao devido anatureza Mas alguns escritores com sagacidade cóentaram a maneira como o sánscrito e as coisas indianas em geral simplesmente tomaram o lugar da falácia hebraica e edénica Já em 1804 Benjamin Constant anotou em seu Journal intime que ele nao discutiria a India em seu De la relígíon porque os ingleses que erarn donas do lugar e os alemáes que o estudavam incansavelmente a tinham transformado na fons et origo de tuda e além disso estavam os franceses que após Napoleáo e Champollion haviam decidido que tudo tinha origem no Egito e no novo Oriente Esses entusiasmos teleológicos foram insuflados após 1808 pelo celebrado Über die Sprache und Weisheit der lndier de Friedrich Schlegel que parecia confirmar o seu próprio pronuncia 145 1 mento feito em 1800 sobre o Oriente como a forma mais pura de Romantismo O que a geracáo de Renan educada de meados da década de 1830 ao final da de 1840 conservou de todo esse entusiasmo sobre o Oriente foi a necessidade intelectual deste para o estudioso ocidental de línguas culturas e religíóes Nesse ponto o texto mais importante é o Le génie des religions escrito em 1832 por Edgar Quinet urna obra que anunciava a renascenca oriental e colocava o Oriente e o Ocidente em urna reíacao funcional um com O outro Já fiz referencia ao vasto significado dessa relacáo tal como foi compreensivamente analisada por Raymond Schwab em La renaissance orientale a minha preocu pacáo coro ela aquí é apenas observar quais dos seus aspectos especí ficos tém relacáo com a vocacao de Renan como filólogo e como orien talista A associacáo de Quinet com Michelet o interesse dos dois por Herder e Vico respectivamente marcouos coro a necessidade de como estudiososhistoriadores confrontar quase como urna audiencia que ve o desenrolar de uro evento dramático Gil uro crente testemunhando urna revelacáo o diferente o estranho o distante A fórmula de Quinet era que o Oriente propóe e o Ocidente dispóe a Ásia tem seus profetas a Europa os seus doutores seus hornens cultos seus cientistas o troca dilho é intencional Desse encontro nasceu um novo dogma ou deus mas o que Quinet afirma é que tanto o Leste como o Oeste cumprem os seus destinos e confirmam as suas identidades nesse encontro Como urna atitude erudita a imagem de um ocidental culto que inspeciona como se estivesse em um ponto de observacáo particularmente apro priado o Oriente passivo seminal feminino e até mesmo silencioso e apático e depois passa a articular esse mesmo Oriente fazendoo en tregar 00 seus segredos sob a instruida autoridade de um filólogo que deriva a sua Iorca da habilidade de desvendar Iínguas secretas e esoté ricas tudo isso seria persistente ern Renan O que nao persístiu nele na década de 1840 quando ele passou pelo seu aprendizado em filo logia foi a atitude dramática esta foi substituida pela atitude cien tífica Para Quinet e Michelet a história era um drama Sugestiva mente Quinet descreve o mundo inteiro como um templo e a história humana como um tipo de rito religioso Tanto Quinet como Michelet viam o mundo que discutiam A origem da história humana era urna coisa que eles podiam descrever com os mesmos termos esplendidos apaixonados e dramáticos usados por Vico e Rousseau para retratar a vida na terra nos tempos primitivos Para Michelet e Quinet nao há dúvidas de que eles pertencem acomunidade dos románticos europeus que se dedicam 146 ero épica ou ero qualquer outro dos géneros maiores drama prosa romántica GU ode maior visionária radicalmente a reorganizar ero termos apropriados para as circunstancias hist6ricas e intelectuais da sua própria época o padráo crísrxo da queda redencáo e emergencia de urna novaterra queseriauro paraísorestaurado Acho que para Quinet a idéia do nascimento de um novo deus era equivalente ao preenchimento da vaga deixada pelo antigo deus para Renan contudo ser um filólogo significava cortar toda e qualquer co nexáo com o velho deus cristáo de maneira que no lugar deste urna nova doutrina provavelmente a ciencia pudesse ficar livre e em um novo lugar por assim dizer Toda a carreira de Renan foi devotada ao cumprimento desse progresso Ele colocou isso com muita simplicidade no final do seu incarac terístico ensaio sobre as origens da linguagem o homem náo é rnais um inventor e o tempo da criacáo acabou deñnítívarnente Houve um período que podemos apenas adivinhar em que o homem foi literal mente transportado do silencio as palavras Depois disso houve a lin guagem e para o verdadeiro cientista a tarefa é examinar como a lin guagem é e nao como apareceu Mas mesmo que Renan destaca o encanto da criacáo apaixonada dos tempos primitivos que havia entu siasmado Herder Vico Rousseau e até mesmo Quinet e Michelet ele institui um novo e deliberado tipo de criacáo artificial resultado da análise científica Na sua lecon inaugurale no Collége de France 21 de fevereiro de 1862 Renan proclamou as suas coníeréncias abertas ao público para que este pudesse ver em primeira máo le laboratoire mérnede la science philologique o próprio laboratório da ciencia filo lógica Quaíquer leitor de Renan teria entendido que tal declaracáo tinha a intencáo de passar urna ironia típica ainda que fraca menos para chocar que para deliciar passivamente Pois Renan estava assu mindo a cátedra de hebraico e a sua conferencia era sobre a contri buicáo dos povos semitas il história da civilizacáo Que afronta mais sutil poderia ser feita á história sagrada que a substituícáo da inter vencáo divina na história por um laboratório de filologiazE que ma neira mais explícita de declarar que a relevancia do Oriente moderno era apenas como material para a investigacáo européiaj Os frag mentos de Sacy arranjados em quadros comparativamente sern vida es tavam agora sendo substituidos por algo novo A estimulante peroracáo com que Renan concluiu a sua lecon tinha outra funcáo além da simples conexáo da filología semíticoorien tal com o futuro e com a ciencia Étienne Quatremére predecessor imediato de Renan na cátedra de hebraico era um estudioso que pa recia exemplificar a caricatura popular do que deveria ser uro estu 147 dioso Pessoa de hábitos prodigiosamente industriosos e pedantes Quatrernére fazia O trabalho dele disse Renan em um memorial escrito com relativamente pouco sentimento para o Journal des débats de ou tubro de 1857 como um trabalhador esíorcado que mesmo prestando imensos servicos nao conseguia ver o conjunto do edifício que estava sendo construído Este DaD era nada menos que la science historique de lesprit humain entáo em processo de ser erguido pedra a pedra Assim como Quatremére nao pertencia a sua época Renan ero sua obra estava determinado a ser dela Mais ainda se até entáo o Oriente fora identificado exclusiva e indiscriminadamente coro a india e a Chi na a ambicáo de Renan era a de abrir para si mesmo urna nova pro víncia oriental no caso o Oriente semítico Ele sem dúvida notara a casual e coro certeza coroum confusáo que se fazia entre o sánscrito e o árabe como em La peau de chagrin A pele de onagro de Balzac em que a escrita árabe do talismá fatal é descrita como sendo sáns crito e conseqüentemente impósse como tarefa fazer coro as linguas semíticas o mesmo que Bopp fizera com as indoeuropéias foi o que ele disse no prefácio de 1855 ao tratado de semítico comparatívov Por tanto os planos de Renan eram trazer o semítico a urna posicáo nítida e glamourosaala Bopp e além disso elevar O estudo dessas esquecidas línguas inferiores ao nivel de urna apaixonada ciencia nova da mente a la Louis Lambert Em mais de urna ocasiáo Renan foi bastante explícito em suas afirmacóes de que os semitas e o semítico eram criaciies do estudo filo lógico orientalista Posta que ele fizera o estudo havia intencional mente pouca ambigüidade sobre o seu papel central nessa criacáo nova e artificial Mas o que queria Renan dizer com criaciio nesses casos E como é que essa criacáo estava ligada com a criacáo natural ou com aquela que Renan e outros atribuíam ao laboratório e as ciencias c1assi ficatórias e naturais principalmente ao que foi chamada de anatomia filosófica Nesse ponto ternos de especular um pouco Ao longo de toda a sua carreira Renan pareceu imaginar o papel da ciencia na vida humana como algo que e estou traduzindo a citacáo tao literalmente quanto possivel diz fala ou articula definitivamente para o homem a palavra logos das coisas A ciencia dá a palavra as coisas melhor ainda a ciencia revela por causas que seráo pronunciadas urna fala potencial das coisas O valor especial da lingüística tal como a nova filologia era entáo chamada muitas vezes nao é que a ciencia natural se parece com ela mas antes que ela trata as palavras como objetos na turais que de outro modo seriam silenciosos e as faz entregar os seus segredos Lernbrese que o grande avance no estudo das ínscricóes e hieróglifos foi a descoberta por Champollion de que os símbolos na 148 Pedra de Roseta tinham um componente fonético além de semán tico Fazer os objetos falarem era como fazer as palavras falarem conferindoIhes um valor circunstancial e um lugar preciso ero urna ordem de regularidade governada pela regra Em seu primeiro sentido a criaciio da maneira como Renan usava a palavra significava a arti culacáo pela qual um objeto como o semítico podia ser visto como urna espécie de criatura Segundo a criacáo também queria dizer ocenário no caso do semítico a história a cultura a raca e a mente orientais iluminado e tirado da sua reticencia pelo cientista Finalmente a cria cáo era a íorrnulacáo de um sistema de classiíicacáo gracas ao qual era possível ver o objeto em questáo comparativamente coro outros objetos e por comparativamente Renan entendia urna complexa trama de relacóes paradigmáticas predominantes entre as línguas semíticas e as indoeuropéias Se naquilo que eu disse até agora insisti tanto no estudo relati vamente esquecido de Renan sobre as línguas semíticas foi por muitas importantes razóes O semítico foi o estudo científico para o qual se voltou Renan após perder a sua fé cristá já descrevi acima de que modo ele veio a considerar o estudo do semítico como urn substituto a sua fé que lhe permitiria ter no futuro urna relacáo crítica coro ela O estudo do semítico foi o seu primeiro estudo inteiramente orientalista e científico concluido em 1847 e publicado pela primeira vez em 1855 e tanto foi urna parte como urna propedéutica dos seus grandes trabalhos posteriores sobre as origens do cristianismo e a história dos judeus Na intencáo senáo talvez na realizacáo é interessante notar que poucas obras correntes ou contemporáneas sobre a história lingüística ou sobre a história do orientalismo citam Renan coro qualquer coisa além de urna atencáo passageira 44 a sua obra semítica foi proposta corno um avance da filologia na qual posteriormente ele sempre basearia a autoridade retrospectiva das suas posicóes quase sempre ruins sobre religiáo raca e nacionalismo Sernpre que ele quisesse fazer urna afir macáo sobre os judeus ou os muculmanos por exemplo tinha em mente as suas restricóes notavelmente severas e infundadas a nao ser segundo a ciencia que ele praticava sobre os semitas Além disso o semítico de Renan tinha a intencáo de ser urna contribuicáo tanto para odesenvolvimento da Iingüística indoeuropéia quanto para a diíeren dos orientalismos Paraa prirneira o semítico era urna forma degradada no sentido moralcomo no biológico enquanto para os úl se nioforma estável de decadenciacultural último o semítico foí a primeira criacáo de Renan urna ficcáo inventada por ele no laboratório filológico para satisfazer o seu sentido de posto e de missáo públicos Nao devemos de modo algum deixar de 149 i lu perceber que o semítico para o ego de Renan era o símbolo da domi nacáo européia e conseqüentemente a dele próprio sobre o Oriente e sobre a sua própria época Portanto como uro ramo do Oriente o semítico nao era plena mente uro objeto natural como urna espécie de macaco por exemplo nem era plenamente uro objeto náonatural ou divino tal como fora outrora considerado Ero vez disso ele ocupava urna posicáo intermé dia legitimada nas suas estranhezas sendo a regularidade definida pelo indoeuropeu por urna relacáo inversa com as linguagens nor mais compreendido como uro fenómeno excentrico quase monstruo so ero parte porque as bibliotecas laboratórios e museus podiam servir como os seus lugares de exibicáo e de análise No seu tratado Renan adotou um tom de voz e um método de exposicáo que extraía o máximo da instrucáo livresca e da observacáo natural tal como era praticada por homens como Cuvier e Geoffroy SaintHilarie pére et fils Essa é uma importante realizacáo estilística país permitia que Renan tirasse constantemente proveito da biblioteca ero vez do primitivismo ou da sancáo divina como urna estrutura conceitual para entender a lingua gem bem como do museu que é onde sao entregues os resultados da observacáo de laboratórío para exibicáo estudo e ensíno Em todos os momentos Renan trata fatos humanos normais linguagem his tória cultura mente imaginacao como algo que foi transformado em outra coisa como urnacoisa particularmente aberrante porque sao orientais ou semíticos e porque acabam sendo analisados em um labo ratório Assim os semitas sao monoteístas raivosos que nao produ ziram nenhuma mitología nenhuma arte nenhum comércío nenhuma civilizacáo a consciencia deles é estreita e rígida no conjunto eles re presentam une combinaison inférieure de la nature humaineY Ao mesmo tempo Renan quer que se entenda que ele está falando de um protótipo nao de um tipo semítico real com existencia de fato embora ele violasse isso também ao discutir os judeus e muculmanos do seu tempo com um distanciamento menos que científico em muitas partes dos seus escritos Assim por um lado ternos a transformacáo do hu mano no espécime e por outro lado o juízo comparativo mediante o qual o espécime continua a ser um espécime e U11 tema de estudo filo lógico científico Dispersas por toda a Histoíre générale et systéme comparé des langues sémitiques estáo reflexóes sobre os laces entre a lingüística e a anatomia e para Renan isto é igualmente importante obser vacóes sobre como esses laces poderiam ser usados para se fazer his tória humana les sciences historiques Mas deveríamos considerar primeiramente os lacos implícitos Nao acho que seja errado ou exage 150 rado dizer que urna página típica da Histoire générate orientalista de Renan foi concebida tipográfica e estruturalmente tendo em mente urna página de anatomia filosófica comparativa ao estilo de Cuvier ou Geoffroy SaintHilaire Tanto os lingüistas como os anatomistas afir mam estar falando de questóes que nao sao diretamente obteníveis ou observáveis na natureza um esqueleto e o tracado detalhado de um músculo bem como os paradigmas constituídos pelos lingüistas a par tir de um protosemitico ou de um protoindoeuropeu puramente hi potético sao igualmente produtos do laboratório ou da biblioteca O texto de urna obra lingüística ou anatómica tern a mesma relacáo geral com a natureza ou com a realidade que urna vitrine de museu que exibe um espécime de mamífero ou de um órgáo O que é dado na página e na vitrine de museu é um exagero truncado como muitos dos extratos orientais de Sacy cujo propósito é exibir urna relacáo entre a ciencia ou o cientista e o objeto e nao entre o objeto e a natureza Leiase quase qualquer página de Renan sobre árabe hebraico ara maico ou protosemítico e se estará lendo uro fato de poder me diante o qual a autoridade do filólogo orientalista convoca da biblio teca quando quer exemplos da fala do homem e os coloca ali ro deados por urna suave prosa européia que aponta os defeitos virtudes barbarismos e limitacóes na lingua no povo na civilizacáo O tom e o tempo da exibicáo sao postos quase uniformemente no presente de modo que se tem a impressáo de urna dernonstracáo pedagógica du rante a qual o eruditocientista fica diante de nós em urna plataforma de laboratórioconferéncia criando confinando e julgando o material que está discutindo Essa ansiedade de Renan para transmitir um sentido de urna de monstracáo que está realmente acontecendo aumenta quando ele observa explicitamente que enquanto a anatomia emprega sinais visí veis e estáveis por meio dos quais atribui os objetos a classes a lingüís tica nao o faz Portanto o filólogo tem de fazer com que um dado fato lingüístico corresponda de algum modo a um período histórico daí a poSslbilidade de urna classificacáo Mas como diria Renan muitas ve zesatemporalidade e a história lingüísticas estáo cheias de lacunas enormes descontinuidades e períodos hipotéticos Portanto a lingüís tica ocorre em urna dimensáo temporalnaolinear e essencialmente descontinua controlada pelolingüista de modo bem particular Esse modo tal como todo o tratado de Renan sobre o ramo semítico das orientais se esforca bastante dernonstrar é úhidoeuropeu é tomado como a norma viva orgánica e as línguas rientais semíticas sao vistas como inorgánicas 50 O tempo é transfor mado no espaco da classifícacáo comparativa que no fundo está ba 151 seada em urna rígida oposicáo binária entre línguas orgánicas e inor gánicas De maneira que por um lado está o processo orgánico e bio logicamente generativo representado pelo indoeuropeu enquanto pelo outro lado está um processo inorgánico essencialmente náoregenera tivo ossificado no semítico mais importante Renan deixa absoluta mente claro que um juízo imperioso como esse é passado pelo orienta lista em seu laboratório pois as distincóes do tipo que o preocupam nem sao possíveis nem estáo disponíveis para qualquer um que nao seja um profissional treinado Nous reusons donc aux langues sémitiques la faculté de se régénérer toute en reconnaissant quel1es néchappent pas plus que les autres oeuvres de la conscience humaine ala nécessité du changement et des modifications successives Recusamonos por tanto a admitir que as línguas semíticas tenham a capacidade de se regenerar ao mesmo tempo que reconhecemos que elas nao escapam assim como os outros produtos da consciencia humana aneces sidade de rnudanca ou de modíficacáo sucessivas SI Contudo até mesmo por trás dessa oposicáo radical há outra em acáo na mente de Renan e por várias páginas do primeiro capítulo do livro S ele expóe a sua posicáo com bastante franqueza Isso acorre quando ele introduz as concepcóes de SaintHilaire sobre a degra dacáo dos tipos Embora Renan nao especifique a qual dos Saint Hilaire ele faz referencia esta é suficientemente clara Tanto Étienne quanto o seu filho Isidore foram especuladores biológicos de extraor dinária fama e influencia especialmente entre intelectuais literários durante a primeira metade do século XIX na Franca Étienne como sabemos fizera parte da expedicáo napoleónica e Balzac dedicou urna parte importante do prefácio a La comédie humaine a ele há também muitas evidencias de que Flaubert tenha lido tanto o filho como o pai e usado as concepcóes de ambos em sua obra 53 Étienne e Isidore nao eram apenas legatários da tradicáo da biologia romántica que in cluía Goethe e Cuvier com um grande interesse na analogía na homo logia e na orgánica entre as espécies mas também especia listas na filosofia e na anatomia da monstruosidade a teratologia como a chamava Isidore em que as aberracées fisiológicas mais hor rendas eram consideradas como um resultado de urna degradacáo in terna no seio da vida da espécie Nao posso entrar aqui em detalhes sobre a complexidade e a macabra fascínacáo da teratologia mas basta mencionar que tanto Étienne como Isidore exploravam a torca teórica do paradigma lingüístico para explicar os desvios possíveis em um sistema biológico j5esse modo a nocao de Étienne era que um monstro é urnaanomalia no mesmo sentido que na linguagem as pa lavras térn urna relacáo analógica e anómala urnas com as outras na 152 lingüística essa idéia é tao velha quanto pelo menos o De lingua la tina de Varráo Nenhuma anomalia pode ser considerada simples mente como urna excecáo gratuita em vez disso as anomalias con firmam a estrutura regular que une todos os membros da mesma clas se Essa nocáo é muito temerária na anatomiaifim um certo ponto da Préliminaire asuaPhilosophie anatomique Étíenne diz E de fato tal é o caráter da nossa época que se torna impossível hoje em dia manterse estritamente nos quadros de urna simples monografia Es tude um objeto isoladamente e só conseguirá trazélo de volta a ele mes mo conseqüentemente nao poderá nunca ter um perfeito conhecimento dele Mas examineo em meio aos seres que estño ligados um ao outro de muitas diversas maneiras e que estáo isolados um do outro de diversas maneiras e descobrirá que esse objeto tem relacóes de alcance mais arn plas Antes de mais nada passará a conhecéIo melhor mesmo na sua especificidade mais importante porém ao consideráIo no próprio ceno tro da sua própria esfera de atividade ficará sabendo precisamente como é que ele se comporta em seu próprio mundo exterior e saberá também como as suas características sao constituídas em reacáo ao meio que o rodeía SaintHilaire nao está apenas dizendo que o caráter específico do estudo contemporáneo ele escreve em 1822 é examinar os fenómenos comparativamente está dizendo também que para o cientista nao existe nenhum fenómeno por mais aberrante OU excepcional que seja que nao possa ser explicado em relacáo a outros fenómenos Notese também como SaintHilaire emprega a metáfora da centralidade ie centre de sa sphére dactivité usada mais tarde por Renan em Lavenir de la science para descrever a posicáo ocupada por qualquer objeto da natureza inclusive o próprio filólogo urna vez que este objeto é cientificamente posta lá pelo cientista que o examina Depois disso se estabelece entre o objeto e o cientista um laco de solidariedade É claro que isso só pode acorrer durante a experiencia de laboratório e em nenhum outro lugar O que se quer afirmar nesse caso é que o cientista tem asua disposicáo urna espécie de poder por meio do qual até mesmo urnaocorréncía totalmente incomum pode ser vista natural mente e conhecida cientificamente o que significa aqui sem recorrerao sobrenatural mas apenas a um ambiente envolvente constituído pelo cientista Conseqüentemente a própria natureza pode ser apreendida novamente como sendo contínua harmoniosamente coerente e funda mentalmente ínteligivel Assim para Renan o semítico é um fenómeno de desenvolvi mento detido em comparacáo com as línguas e culturas maduras do grupo indoeuropeu e mesmo com outras línguas orientais semíticas 153 o paradoxo sustentado por Renan no entanto é que ao mesmo tempo que ele nos encoraja a ver as línguas como algo que de algum modo corresponde a étres vivants de la nature seres vivosda natureza em tuda o mais ele está provando que as suas línguas orientais as semí ticas sao inorgánicas paradas totalmente ossificadas incapazes de autoregeneracáo em outras palavras ele prava que o semítico nao é urna língua viva e quanto a isso nero os semitas sao criaturas vivas Além disso a cultura e a língua indoeuropéias estáo vivas e sao orgá nicas por causa do laboratório e nao apesar dele Mas longe de ser urna questáo marginal da obra de Renan esse paradoxo está acho eu no próprio centro de toda a sua obra do seu estilo e da sua existencia documental na cultura do seu tempo urna cultura aqual do mesmo modo que pessoas tao diferentes entre si como Matthew Arnold Osear Wilde James Frazer e Marcel Proust ele deu importantes contri buicóes Ser capaz de sustentar urna visáo que incorpora e mantém juntas a vida e criaturas 9 a culturaeuro péia e fenómenos paralelos quase monstruosos e inorgánicos o semí tico acultura oriental é preclsamentearealízacáo 40 cientista peu em seu laboratórioTile cóncebe e o próprio ato de concepcáo é sinal de um poder imperial sobre os fenómenos recalcitrantes bem como uma conñrmacáo da cultura dominante e da sua naturaliza cáo De fato nao é demais dizer que o laboratório filológico de Renan é o verdadeiro local do seú etnocentrismo mas o que precisa ser enfa tizado aqui é que o laboratório filológico nao tem existencia fora do discurso da escrita pela qual ele é constantemente produzido e experi mentado Desse modo até mesmo a cultura que Renan chama de or gánica e viva a da Europa é também urna criatura que está sendo criada no laboratório e pela filologia Toda a carreira posterior de Renan foi européia e cultural Suas realizacóes foram variadas e aclamadas Toda a autoridade que tinha o estilo dele podia ter a sua origem encontrada creio eu na sua técnica para conceber o inorgánico ou o que está faltando e darlhe a apa rencia de vida O que lhe deu mais fama é claro foi a sua Vie de Jésus A vida de Jesus a obra que abriu as suas monumentais histórias do cristianismo e do povo judeu Mas temos de ver que a Vie foi exata mente o mesmo tipo de feito que a Histoire générale uma concepcáo possibilitada pela capacidade do historiador para montar habilmente uma biografia oriental morta morta para Renan no duplo sentido de uma fé morta e um período histórico perdido logo morto e o para doxo é imediatamente aparente como se fosse a narrativa verídica de uma vida natural Tudo o que Renan dizia tinha antes passado pelo laboratório filológico quando o que ele dizia aparecia em letra de im 154 prensa na trama do texto trazia em si a íorca vivificadora de urna assi natura cultural contemporánea que extraía da modernidade todo o seu poderio científico e toda a sua autoaprovacáo acrítica Para essa es pécie de cultura as genealogias do tipo de dinastias tradicáo religiáo e comunidade étnica nao passavam de funcóes de uma teoria cuja ta refa era instruir o mundo Ao emprestar essa fase posterior de Cuvier Renan estava circunspectamente colocando a demonstracáo científica acima da experiencia a temporalidade foi relegada ao reino cientifica mente inútil da experiencia comum ao mesmo tempo que se confe riam a periodicidade especial da cultura e do comparativismo cultural que geravam o etnocentrismo a teoría racial e a opressáo económica poderes muito mais avancados que a visáo moral O estilo de Renan a sua carreira como orientalista e literato as circunstancias do sentido que ele comunica e a sua relacáo peculiar mente intima com a cultura erudita e geral da Europa do seu tempo liberal exclusivista imperiosa e antihumana a nao ser em um sentido muito condicional sao o que eu chamaria de celibatário e científico Para ele a geracáo está confinada ao avenir que ero seu famoso ma nifesto ele associou aciencia Embora como historiador ele pertenca a escola de homens como Turgot Condorcet Guizot Cousin Jouffroy e Ballanche e em erudicáo a escola de Sacy Caussin de Perceval Oza nam Fauriel e Burnouf o mundo de Renan é um mundo de história e de erudicáo particularmente devastado furiosamente masculino é de fato nao uro mundo de país máes e filhos mas de homens como o seu Jesus o seu Marco Aurélio o seu Caliban o seu deus solar este último descrito ern Réves dos Dialogues philosophiquesi Ele apreciava particularmente o poder da ciencia e da filologia orientalista buscava as visóes e as técnicas desta usavaa para intervir muitas vezes com considerável influencia na vida da sua época E contudo o seu papel ideal era o de espectador De acordo com Renan o filólogo deveria preferir o bonheur a jouissance a preferencia exprime a escolha de uma felicidade elevada mesmo que estéril no lugar do prazer sexual As palavras pertencem ao campo do bonheur assim como o estudo delas falando idealmente Tanto quanto eu saiba há bem poucos momentos em todos os escritos públicos de Renan em que um papel beneficente e instrumental seja atribuido as mulheres Um desses momentos é quando ele opina que mulheres estrangeiras amassecas criadas devem ter cuidado dos fi Ihos dos conquistadores normandos o que pode explicar as mudancas que ocorreram no idioma Notese que as funcóes exercidas por elas nao sao as de produtividade e dísserninacáo mas de mudanca interna e ainda por cima subsidiária 0 homem diz ele no final do mesmo 155 ensaio nao pertence fiero asua língua nem asua raca ele pertence a si mesrno antes de mais nada país antes de mais nada é uro ser livre e O h mora amero era livre e moral mas estava acorrentado pela aa pela história epela cíéncia tal como Renan as via como condicóes impostas pelo estudioso aos hornens O estudo das línguas orientais levou Renan ao centro dessas condicóes e a filología deixou concretamente aparente que o conheci mento do homem era parafraseando Ernst Cassirer poeticamente transfigurante 59 apenas se tivesse sido previamente separado da reali dade croa do mesmo modo que Sacy separara necessariamente os seus fragmentos árabes da realidade e posto em urna camísadeforca doxo lógica Tornandosefilologia o estudo das palavras tal como fora ou trora praticado por Vico Herder Rousseau Michelet e Quinet perdia a sua tramae a sua qualidadeapresentacional dramática na expressáo de Schelling Em vez disso a filologia tornouse epistemologícamente complexa o Sprachgefühl já nao bastava já que as próprias palavras pertenciam menos aos sentidos ou ao carpo como para Vico e mais a uro domínio sem visáo sem imagens e abstrato e governado por forrnulacóes de estufa como raca mente cultura e nacáo Nesse do minio que foi concebido discursivamente e chamado de Oriente certos tipos de afírmacoes podiam ser feitos todos possuindo a mesma pode rosa generalidade e validade cultural Pois todo o esforco de Renan foi para negar a cultura oriental o direito de ser gerada a nao ser arti ficialmente no laboratório filológico O homem nao era filho da cul tura tal concepcáo dinástica fora contestada com demasiada eficácia pela filokgia Esta nos ensinava de que maneira a cultura é urna síntese mental urna articulaciio no sentido que Dickens deu a palavra para indicar a profissáo de Mr Venus em Our mutualfriend Nosso amigo co mum até mesmo urnacriacáo mas nada além de urna estrutura quase orgánica O que é especialmente interessante em Renan é o quanto ele sa bia ser urna criatura do seu tempo e da sua cultura etnocéntrica Por ocasiáo de urna resposta académica a um discurso pronunciado por Ferdinand de Lesseps em 1885 Renan deu fé de como é dificil ser mais sábio que a nossa própria nacáo Nao podemos sentir amar gura para com a nossa terra natal É melhor enganarse com a nacáo que ter razáo com aqueles que lhe dizem verdades duras 6J A eco nomia de urna declaracáo como essa é quase perfeita demais para ser verdadeira Pois nao está o velho Renan dizendo que a melhor relacáo é a de paridade com a nossa própria cultura com a sua moralidade e o seu etos durante o nosso próprio tempo e nao urna relacáo dinástica através da qual somos ou filhos ou pais do nosso tempo E aqui regres 156 t samos ao laboratório pois é nele como Renan o via que as res ponsabilidades filiais e ern última instancia sociais deixam de existir e as científicas e orientalistas assumem O laboratório dele era a plata forma a partir da qual ele se dirigia ao mundo o laborat6rio mediava as declaracóes que ele fazia davalhes confianca e precisáo geral além de continuidade Desse modo tal como Renan o entendia ele redefina nao só a época e a cultura em que vivia datandoas e moldandoas de novas maneiras dava tarnbém ao seu tema oriental urna coeréncia eru dita e rnais fazia de Renan e dos orientalistas da sua mesma tradícáo que vieram mais tarde a figura cultural ocidental que ele entáo se tor nou Podemos muito bem imaginar se essa nova autonomia no interior da cultura era a liberdade que Renan esperava que a sua ciencia filo lógica orientalista trouxesse ou se no que diz respeito a urnhistoriador critico do orientalismo ela armava urna complexa afilíacáo entre o orientalismo e seu tema humano putativo baseada em última instan cia no poder e nao realmente na objetividade desinteressada RESIDENCIAEERUDJAONOORIENTE OSREQUISITOSDALEXICOGRAFIAEDAIMAGINA9AO As opinióes de Renan sobre os semitas orientais é claro per tencem menos ao reino do preconceito popular e do antisemitismo co mum que ao da filología oriental científica Quando lemos Renan e Sacy observamos logo de que modo a generalízacáo cultural comecara a adquirir a couraca da declaracáo científica e do ambiente do estudo corretivo Como muitas especialidades académicas em suas fases ini ciais o orientalismo moderno conservava o seu tema que ele mesmo definia sob firme controle que fazia quase tudo para mantero Assim desenvolveuse um vocabulário culto cujas íuncóes tanto quanto o es tilo localizaram o Oriente em urna estrutura comparativa do tipo da que fora empregada e manipulada por Renan Raramente esse compa rativismo é descritivo coro mais freqüéncia é avaliativo e expositório Eis aqui Renan comparando tipicamente Vemos que em todas as coisas a raca semítica parecenos ser urna raca incompleta por virtude da sua simplicidade Essa raca atrevome a usar a analogia está para a família indoeuropéia como um esboce a lápis está para urna pintura ela carece da variedade da amplitude e da abundancia de vida que é a condicáo da perfectibilidade Como aqueles indivíduos que tém tao pouca fecundidade que após urna infancia gra ciosa atingem apenas a mais medíocre virilidade as necees semíticas passaram pelo seu mais pleno florescimento na sua primeira idade e nunca foram capazes de alcancar a verdadeira maturidade 61 157 Nesse caso os indoeuropeus sao a pedra de toque do mesmo modo que quando Renan diz que a sensibilidade orienta semítica nunca chegou as alturas atingidas pelas racas indogermánicas Nao podemos dizer com absoluta certeza se essa atitude compa rativa era urna necessidade académica ou um preconceito racial etno centrista disfarcado O que sirn podemos dizer é que tanto urna como o outro trabalham juntos apoiandose mutuamente O que Renan e Sacy tentaram fazer foi reduzir o Oriente a uma espécie de insipidez humana que expusesse as suas características facilmente para a ins pecáo e retirasse dele a sua ernbaracosa humanidade No caso de Re nan a legitimidade dos esforcos dele vinha da filologia cujas máximas ideológicas estimulavam a reducáo de urna língua as suas raízes isso feito o filólogo considera possível ligar essas raízes lingüísticas como fizeram Renan e outros as raízes da raca da mente do caráter e do temperamento A afinidade entre Renan e Gobineau por exemplo foi reconhecida por Renan como urna perspectiva filológica e orienta lista comum nas edicóes subseqüentes da Hístoíre générale ele incor porou algo do trabalho de Gobineau ao dele Desse modo o compara tivismo no estudo do Oriente e dos orientais veio a ser um sinónimo da aparente desigualdade ontológica entre o Ocidente e o Oriente Vale a pena recapitular brevemente os principais traeos dessa desigualdade Já me referi ao entusiasmo de Schlegel pela Índia e sua posterior rejeicáo desta e é claro do isla Muitos dos primeiros afi cionados do Oriente comecararn saudando o Oriente como um salutar dérangement dos seus hábitos mentais e espirituais europeus O Orien te foi superestimado pelo seu panteísmo pela sua espiritualidade pela sua estabilidade sua longevidade primitividade e assim por diante Schelling por exemplo via no politeismo oriental uma preparacáo do caminho para o monoteísmo judeucristáo Abraáo foi prefigurado por Brahma Mas quase sem excecáo essa estima exagerada foi seguida por urna reacáo subitamente o Oriente pareceu subumanizado anti democrático atrasado bárbaro etc A oscilacáo do péndulo para urna direcáo causava urna oscilacáo igual e oposta na direcáo contrária O orientalismo como profissáo nasceu desses opostos de compensacóes e correcóes baseadas na desigualdade idéias nutridas pela cultura em geral e que nutriam idéias parecidas Na verdade o próprio projeto de restricáo e reestruturacao associadoao orientalismo pode ser direta menteHgado a pobreza ouriqueza compa rativa do suplicava pelo tratamento académico do tipoquepodíaser proporcionado por disciplinas como a filologia a biología a história a antropologia a filosofia ou a economia E assim a verdadeira profissáo de orientalista passou a venerar 158 1 essa desigualdade e os paradoxos especiais que ela engendrava Na maior parte das vezes um individuo ingressava na profíssáo como um meio de enfrentar o apelo do Oriente sobre ele contudo também na maior parte das vezes o seu treinamento orientalista abria os olhos dele por assim dizer e o que lhe restava era urna espécie de projeto de desmoralizacáo mediante o qual o Oriente era reduzido a considera velmente menos que a eminencia em que era visto no inicio De que outra maneira explicar o enorme esforco representado pela obra de William Muir 18191905 por exemplo ou de ReínhartDozy 1820 83 e a impressionante antipatia pelo Oriente pelo isla e pelos árabes que se encontra nessa obra Caracteristicamente Renan foi urn dos patrocinadores de Dozy e nos quatro volumes da Histoire des musul mans d Espagne jusqu d la conquéte de 1Andalousie par les Almora vides História dos rnuculmanos da Espanha até a conquista da Anda luzia pelos almorávidas de Dozy publicada em 1861 aparecem mui tas das restricóes antisemiticas de Renan completadas em 1864 por um volume em que se argumenta que o Deus primitivo dos judeus nao era JavérnasBaal podendo ser encontradas quem di ria em Meca O LifeofMahomet Vida de Maorné 185861 de Muir e The caliphate its rise decline and fall O califado sua ascensáo de clinio e queda de 1891 também ele aínda sao considerados como monumentos confiáveis de erudicáo e no entanto a atitude dele para com o seu tema de estudo foi claramente colocada por ele quando disse que a espada de Mafoma e o Coráo sao os mais obstinados inimigos da Civilizacáo da Liberdade e da Verdade que o mundo já conhe ceu Muitas das mesmas nocóes podem ser encontradas na obra de Alfred Lyall que foi um dos autores citados aprovadoramente por Cro mero Mesmo que o orientalista nao julgue explicitamente o seu mate rial como faziam Dozy e Muír o principio da desigualdade ainda assim exerce sua influencia Continua a ser tarefa do orientalista profissional montar um retrato como se fosse urna imagem restaurada do Oriente ou do Oriental fragmentos como os que foram desenterrados por Sacy fornecem o material mas a forma narrativa a continuidade e as figuras sao reconstruí das pelo erudito para quem a erudicáo consiste em circundar a desgovernada desocidental náohistória do Oriente com crónicas retratos e tramas bem ordenados O Essai sur lhistoire des arabes avant lislamisrne pendant lépoque de Mahomet Ensaio sobre a história dos árabes antes do islamismo durante a época de Maomé de Caussin de Perceval publicado em tres volumes 18478 é um estudo totalmente profissional que depende para as suas fontes de documentos postas internamente adisposicáo do campo por outros 159 l orientalistas principalmente Sacy evidentemente ou de documentos como os textos de ibnKhaldun nos quais Caussin apoiouse bas tante que repousam nas bibliotecas orientalistas da Europa A tese de Caussin é que os árabes foram transformados ero povo por Maomé sendo o isla essencialmente uro instrumento político e nao de ma neira alguma espiritual O que Caussin se esforca por encontrar é a clareza no meio de urna enorme massa de confuso material Desse modo o que aparece do estudo do isla é de maneira totalmente literal um retrato unidimensional de Maomé que é mostrado no final da obra depois de descrita a sua morte com um nível fotográfico de precisáo dos detalhes Nem dernónio nem protótipo de Cagliostro o Maomé de Caussin é um homem adequado para urna história do isla a versáo mais caprichada desta como uro movimento exclusivamente político centralizado por inúmeras situacées que o empurram para cima e de certo modo para fora do texto A intencáo de Caussin era a de nao deixar nada a ser dito de Maomé coro isso o Profeta é visto sob urna luz fria desprovida tanto da sua imensa íorca religiosa quanto de quaisquer poderes residuais para assustar os europeus A questáo aqui é que como figura para o seu próprio tempo e lugar Maomé é apa gado de maneira que urna miniatura dele muito levemente humana possa ficar no seu lugar Urna analogia náoprofissional do Maomé de Caussin é o de Car lyle um Maomé forcado a servir urna tese que desconsidera totalnene as circunstancias históricas e culturais da época e do lugar do propno Profeta Embora Carlyle cite Sacy o seu ensaio é claramente o produto de alguém que está defendendo algumas idéias gerais sobre a sinceri dade o heroismo e a condicáo de profeta A atitude dele é salutar Maomé nao é ero nada urna lenda nem uro sensualista vergonhoso nem uro feiticeiro insignificante e risível que treinava pombos para que lhe tirassem ervilhas do ouvido Ele é antes um homem de real visáo e autoconviccáo apesar de ser autor de uro livro o Coráo que é urna cansativa e confusa míxórdia tosca íncñndita iteracóes sem fim pro lixidade embaralhamento muito tosco incóndito insuportável es tupidez em resumo os Nao sendo ele próprio um modelo de graca esti listica e de lucidez Carlyle afirma essas coisas como um modo de res gatar Maomé dos padrees benthamistas que teriam condenado tanto Maomé quanto ele mesmo Mas Maomé é um herói transplantado para a Europa do mesmo Oriente bárbaro considerado carente por lor de Macaulay em sua famosa Minuta de 1835 na qual se afirma que os nossos súditos nativos tém mais a aprender conosco que nós com eles Tanto Caussin como Carlyle em outras palavras mostramnos 160 el que o Oriente nao deve causarnos demasiada ansiedade tao desiguais sao as realizacóes orientais em relacáo as ocidentais Nisso as perspec tivas orientalistas e naoorientalistas coincidem Pois no interior do campo comparativo em que se transformou o orientalismo depois da revolucáo filológica no inicio do século XIX e fora dele nos estereótipos populares ou nas imagens do Oriente feitas por filósofos como Carlyle e estereótipos como os de Macaulay o Oriente em si mesmo foi intelec tualmente subordinado ao Ocidente Como material de estudo ou de reflexáo o Oriente adquiriu todas as marcas de urna fraqueza inerente Ficou sujeito aos caprichos de teorias heterogéneas que o usavam como ilustracáo O cardeal Newman que nao era nenhum grande orienta lista empregou o isla oriental como a base de conferencias para justi ficar em 1853 a intervencáo británica na Guerra da Criméia Cuvier achou o Oriente útil para a sua obra Le régne animal O reino animal de 1816 Foi proveitosamente utilizado em conversas nos vários salóes de París A lista de referencias empréstimos e transformacóes que se apoderaram da idéia oriental é imensa mas no fundo o que os pri meiros orientalistas conseguiram e os naoorientalistas no Ocidente exploraram foi um modelo do Oriente adequado para a cultura preva lecente dominante e para as suas exigencias teóricas e logo depois das teóricas as práticas Ocasionalmente encontramos excecóes ou se nao excecóes pelo menos interessantes complicacóes dessa parceria desigual entre o Les te e o Ocidente Karl Marx identificou a nocáo de um sistema econñ mico asiático análises de 1853 do governo británico da india e imediatamente colocou ao lado disso a degradacáo humana introdu zida no sistema pela interferencia voracidade e aberta crueldade colo niais británicas Em um artigo atrás do outro ele voltava com crescente conviccáo aidéia de que mesmo destruindo a Asia a Inglaterra estava tornando possível urna verdadeira revolucáo social O estilo de Marx levanos diretamente it dificuldade de reconciliar a nossa natural re pugnancia como semelhantes aos sofrimentos dos orientais enquanto a sociedade deles está sendo violentamente transformada com a necessi dade histórica dessas transíormacóes Ora por revoltante que deva ser para o sentimento humano testemunhar essas miríades de organizacóes sociais patriarcais e inofensivas desorga nizadas e dissolvidas em suas unidades atiradas em um mar de infor túnios e os seus membros individuais perdendo ao mesmo tempo a sua antiga forma de civilizacáo e os seus meios hereditários de subsistencia nao devemos esquecer que essas idilicas comunidades de aldeia por ino fensivas que possam parecer sempre foram a sólida fundacáo do despo tismo oriental que e1asrestringiam a mente humana ao menor compasso 161 possível transformandoa no instrumento dócil da supersticáo escra vizandoa sob as regras tradicionais privandoa de toda grandeza e energia histórica A Inglaterra é verdade ao causar urna revolucác social no Indostáo foi movida apenas pelos interesses mais vis e estúpida em sua maneira de polos em prática Mas essa nao é a questáo A questác é pode a hu manidade cumprir o seu destino sem urna revolucao fundamental no estado social da Ásia Se nao quaisquer que tenharn sido os crirnes da lnglaterra ela foi o instrumente Inconscientedahistória ao dar origem áquela revolucáo Entáo qualquer que seja a amargura que O espetáculo do desrnoro namento de um antigo mundo possa provocar em nossos sentimentos pessoais ternoso direito no tocante ahistória de exclamar com Goethe Sollte diese Qual uns quálen Da sie unsere Lust vermehrt Hat nicht Myriaden See1en Timurs Herrschaít auígezíehrty Deveria essa tortura atormentarnos Posto que nos traz maior prazer Nao foram pelo governo de Timur As almas devoradas sem medida A citacáo que apóia o argumento de Marx sobre o tormento que pro duz prazer é do Westostlicher Diwan e identifica as fontes das con cepcées de Marx sobre o Oriente Estas sao románticas e até mesmo messiánicas como material humano o Oriente é menos ímportante que como um elemento em um projeto redentor romántico tie íñOdo asanálíses económicas de Marx servem perfeitamente para um empreendimento orientalista comum mesmo que a humanidade de Marx e a sua solidariedade pela miséria do pOYO estejam claramente envolvidas No final porérn é a visáo orientalista romántica que ven ce quando as concepcóes sócioeconómicas teóricas de Marx sao sub mergidas por esta imagempadráo c1ássica A Inglaterra tem urna du pla missáo a cumprir na India urna destrutiva outra regeneradora a aniquilacáo da sociedade asiática e a instalacáo das fundacóes mate riais da sociedade ocidental na Asia 70 A idéia de regenerar urna Ásia fundamentalmente sem vida é um trecho de puro orientalismo román tico é claro mas vinda do mesmo autor que nao se esquecia facil mente do sofrimento humano envolvido a declaracáo é surpreendente Ela exige que primeiramente nos perguntemos de que maneira a equacáo moral de Marx da perda asiática com o dominio colonial bri táníco que ele condenava reverte para a velha desigualdade entre o Leste e o Oeste que estivemos observando Em segundo lugar ela re 162 quer que nos perguntemos para onde foi a solidariedade humana em que reino do pensamento ela desapareceu quando a visáo orientalista tomou o seu lugar Somos imediatamente levados de volta a percepcáo de que os orientalistas como muitos pensadores do início do século XIX conce bem a humanidade como grandes termos coletivos ou como generalida des abstratas Os orientalistas nem estáo interessados nem sao capazes de discutir indivíduos em vez disso o que predomina sao as entidades artificiais talvez coro raízes no populismo herderiano Há orientais se mitas asiáticos rnuculmanos árabes judeus racas mentalidades na 90es e coisas do genero algumas delas o produto de operacóes eruditas do tipo encontrado na obra de Renan Do mesmo modo a distincáo velha de séculos entre a Europa e a Ásia ou Ocidente e Orien te carrega sob rótulos muito abrangentes todas as varíacóes possíveis da pluralidade humana reduzindoa no processo a urna ou duas abs tracóes coletivas terminais Marx nao é nenhuma excecáo Para ele o Oriente coletivo era mais fácil de usar para ilustrar urna teoria que as identidades humanas existenciais Pois entre o Oriente e o Ocidente como em urna proclamacáo que cumpre a si mesma interessava ou existia apenas a vasta coletividade anónima Nenhum outro tipo de intercambio por mais restrito que possa ter sido estava a máo Que Marx ainda tenha sido capaz de experimentar alguma soli dariedade de identificarse pelo menos um pouco com a pobre Ásia sugere que alguma coisa aconteceu antes que os rótulos assumissem o controle antes que ele fosse remetido para Goethe como urna fonte de sabedoria sobre o Oriente É como se a mente individual no caso a de Marx pudesse encontrar urna individualidade précoletiva préoficial na Ásia encontrála e ceder as pressóes que ela exerce sobre as emo croes as sensacóes sentidos apenas para renunciar a ela quando confrontada com um censor mais formidável no próprio vocabulário que se via obrigada a empregar O que esse censor fazia era deter e entáo expulsar a solidariedade e isso era acompanhado por urna defi nicáo lapidar Essas pessoas dizia nao sofrem sao orientais e por isso devem ser tratadas de outras maneiras que as que tens usado até agora Urna onda de sentimento desaparecia entáo ao encontrar as inabaláveis definicées construidas pela ciencia orientalista apoiadas pelo saber oriental por exemplo o Diwan supostamente adequado ao Oriente O vocabulário da emocáo se dissipava ao ser submetido a acáo da policía lexicográfica da ciencia orientalista e até mesmo da arte orientalista A experiencia era desalojada por urna definicáo de dicionário podemos quase ver isso acontecendo nos ensaios indianos de Marx onde o que acaba acontecendo é que alguma coisa o obriga a 163 correr de volta a Goethe para entáo ficar aí em seu protetor Oriente orientalizado Em parte é claro Marx estava preocupado ern afirmar suas pró prias teses sobre a revolucao sócioeconómica mas em parte também ele parece ter tido fácil acesso a um corpo acumulado de escrita conso lidado internamente pelo orientalismo e difundido por este fora do campo que controlava qualquer declaracáo feita sobre o Oriente No capítulo 1 eu tentei mostrar de que maneira esse controle teve urna história cultural geral na Europa desde a Antigüidade no presente capítulo procurei mostrar como foram criadas no século XIX mo dernas terminologias e práticas profissionais cuja existencia dominou o discurso sobre o Oriente tanto o dos orientalistas como o dos nao orientalistas Sacy e Renan foram exemplos da maneira como o orien talismo moldava respectivamente um carpo de textos e um processo filologicamente enraizado mediante os quais o Oriente assumia urna identidade que o fazia desigual em relacáo ao Ocidente Ao usarmos Marx como o caso em que os engajamentos humanos de um naoorien talista sao primeiramente dissolvidos e logo usurpados pelas generali zacóes orientalistas vemonos forcados a considerar o processo de con solidacáo lexicográfica e institucional peculiar ao orientalismo Que operacáo era essa pela qual quando quer que se discutisse o Oriente um formidável mecanismo de definicóes onicompetentes se apresen taria como o único com urna validade adequada para a discussáo E posta que deveremos mostrar também de que modo esse mecanismo atuava especificamente e eficazmente sobre as experiencias humanas pessoais que em outros aspectos iam contra ele teremos também de mostrar para ande elas foram e que formas assumiram enquanto du raram Tuda isso é urna operacáo muito difícil e complexa de descrever pelo menos tao difícil e complexa quanto o modo como urna disciplina crescente empurra os seus concorrentes para fora da arena e adquire autoridade para as suas tradicóes os seus métodos e suas instituicées bem como urna legitimidade cultural geral para suas declaracóes per sonalidades e agentes Mas podemos simplificar muito da enorme com plexidade narrativa da operacáo exemplificando os tipos de experiencia que o orientalismo empregava tipicamente para os seus próprios fins e representava para o seu público mais amplo que o profissional Em esséncia essas experiencias continuam as que eu descrevi como tendo ocorrido com Sacy e com Renan Mas enquanto esses dois estudiosos representam um orientalismo totalmente livresco visto que nenhum dos dois afirmava ter qualquer conhecimento particular do Oriente in situ existe urna tradicáo que tira a sua legitimidade do fato especial da 164 residencia no Oriente do cantata existencial com ele Anquetil Jones e a expedicáo napoleónica definem os primeiros contornos dessa tra dicáo é claro e estes teráo posteriormente urna inabalável influencia sobre os orientalistas residentes Esses contornos seráo os do poder eu ropeu residir no Oriente é viver a vida privilegiada nao de um cidadáo comum mas de um representante europeu cujo império francés ou britanicocontém o Oriente ern seus bracos militares económicos e so bretudo culturais A residencia oriental e seus frutos eruditos sao assim adicionados a tradicáo livresca das atitudes textuais que encon tramos em Renan e em Sacy juntas as duas experiencias constituiráo urna formidável biblioteca contra a qual ninguém nem mesmo Marx se pode rebelar e que ninguém pode evitar A residencia no Oriente envolve a experiencia e o testemunho pessoais até certo ponto As contribuicóes a biblioteca do orientalismo e a sua consolidacáo dependem de como a experiencia e o testemunho sao convertidos de documentos puramente pessoais em códigos per suasivos da ciencia orientalista Em outras palavras no interior do tex to deve ocorrer urna metamorfose da declaracáo pessoal a oficial o registro da residencia e da experiencia orientais por um europeu tem de se desfazer das descricóes puramente autobiográficas e indulgentes ou pelo menos minimizálas em favor de descrícóes sobre as quais o orien talismo em geral e mais tarde os orientalistas em particular possam projetar construir e basear as observacóes e descricóes científicas pos teriores De modo que urna das coisas para as quais devemos estar atentos é urna conversáo mais explícita que a de Marx dos sentimentos pessoais sobre o Oriente as declaracóes orientalistas oficiais Atualmente a situacáo foi enriquecida e complicada pelo fato de que durante o século XIX o Oriente e especialmente o Oriente Pró ximo foi um dos lugares favoritos para o qual os europeus viajavam e sobre o qual escreviam Além disso desenvolveuse um corpo bastante grande de literatura européia de estilo oriental baseava muito freqüen temente em experiencias pesso iis do Oriente Flaubert vem imediata mente aidéia como urna fonte proeminente dessa literatura Disraeli Mark Twain e Kinglake sao outros tres exemplos óbvios Mas o inte ressante é a diferenca entre os escritos que sao convertidos de pessoais em orientalismo profissional e o segundo tipo também baseado na resi dencia e no testemunho pessoal que continua a ser literatura e nao ciencia é essa diferenca que quera explorar agora Ser um europeu no Oriente sempre implica ser urna consciencia distanciada do seu meio e diferente dele Mas o principal a observar é a íntencáo dessa consciencia para que está no Oriente Por que se co loca nele mesmo que como no caso de escritores como Scott Hugo e 165 l Goethe vá até lá para um tipo de experiencia bem concreta sem nunca sair realmente da Europa Um pequeno número de categorias inten cionais propuseramse esquematicamente 1 O escritor que pretende usar a sua residencia para a tarefa específica de fornecer material cíen tífico para o orientalismo profissional e a considera como urna forma de observacáo científica 2 O escritor que tem o mesmo propósito mas está menos disposto a sacrificar a excentricidade e o estilo da sua cons ciencia individual as definicóes orientalistas impessoais Estas mais tarde acabam por aparecer na obra dele mas apenas com dificuldade podem ser desembaracadas das extravagancias pessoais do estilo 3 O escritor para quem a viagem real ou metafórica ao Oriente é a reali zacáo de algum projeto profundamente sentido e urgente O texto dele portanto baseiase em urna estética pessoal nutrida e informada pelo projeto Nas categorias 2 e 3 há consideravelmente mais espaco para a acao de urna consciencia pessoal ou pelo menos naoorientalista se tomarmos o Manners and customs of the modern egyptians de Ed ward William Lane como exemplo proeminente da categoria 1 o Pil grimage to alMadinah and Meccah de Burton como pertencente a categoría 2 e o Voyage en Orient de Nerval como representante da categoria 3 os espacos relativos no texto para o exercicio e a exibicáo da presenca do autor ficaráo claros Apesar das diferencas contuda essas categorias nao estáo tao separadas urnas das outras como poderíamos imaginar E nenhuma delas tem tipos representativos puros Por exemplo as obras nas tres categorías se apóiam nos enormes poderes egoístas da consciencia eu ropéia que está no centro delas Em todos os casos o Oriente existe para o observador europeu e mais na categoria que contém os Egyp tians de Lane o ego orientalista é claramente evidente por mais que o estilo tente ser imparcialmente impessoal Além disso certos motivos sao consistentemente recorrentes nos tres tipos O Oriente como um lugar de peregrinacáo é um deles também o é a vísáo do Oriente como espetáculo ou tableau vivant Toda obra sobre o Oriente nessas cate gorias tenta caracterizar o lugar é claro mas o mais interessante é a medida ern que a estrutura interna da obra é de certo modo urna inter pretaciio abrangente do Oriente ou tenta selo A maior parte do tem po o que nao é urna surpresa essa interpretacáo é urna forma de rees truturacáo romántica do Oriente urna revisáo deste que o devolve redentoramente ao presente Portanto toda interpretacáo toda estru tura criada para o Oriente é urna reinterpretacáo urna reconstrucáo do mesmo Isso dito voltamos diretamente as diíerencas entre as categorias O livro de Lane sobre os egipcios foi influente freqüentemente lido e 166 citado por Flaubert entre outros e estabeleceu a reputacáo do seu autor como urna figura eminente de erudicáo orientalista Ou seja a autoridade de Lane nao foi adquirida simplesmente em virtude do que ele disse mas gracas a como o que ele disse pode ser adaptado ao orien talismo Ele é citado como urna fonte de conhecimento sobre o Egito ou a Arábia enquanto Burton ou Flaubert sao lidos por aquilo que nos dizem sobre Burton e Flaubert além do conhecimento que possam ter sobre o Oriente A funcáo do autor no Modern egyptians de Lane é l11enos importante que nas outras categorías porque essa obra foi dis seminada na 1ofissaoconsolidada por eía institucionalizada com ela A identidade autoral em urna obra de disciplina profissional como essa estásubordinadaásexígéncías do tema Mas isso nao se faz com sim plicidade ou sem causar problemas O clássico de Lane An account of the manners and customs of the modern egyptians 1836 foi o resultado autoconsciente de urna série de trabalhos e de duas residencias no Egito 18258 e 1833S Usamos o termo autoconsciente com alguma énfase porque a im pressáo que Lane queria dar era que o seu estudo era urna obra de descricáo imediata e direta sem adornos e neutra quando de fato foi consideravelmente corrigida o que ele escreveu nao foi o que final mente publicou e produto também de urna considerável variedade de esforcos muito especiais Nada no nascimento ou na formacáo de Lane parecia destinálo ao Oriente além dos seus estudos metódicos e da sua capacidade para os estudos clássicos e matemáticos o que certo modo explica a aparente elegancia interna do seu Iivro Seu prefácio dá urna série de interessantes pistas sobre o que ele fez pelo livro Foi para o Egito originalmente para estudar árabe Entáo após fazer algumas observacóes sobre o Egito moderno foi encorajado a produzir urna obra sistemática sobre o país e seus habitantes por um comité da Socie dade para a Difusáo do Conhecimento Útil De um conjunto ao acaso de observacóes a obra foi transformada em um documento de conhe cimento útil preparado e facilmente acessivel para qualquer um que quisesse conhecer o essencial de urna sociedade estrangeira O prefácio deixa claro que esse conhecimento deve de algum modo descartar o conhecimento preexistente além de reivindicar para si um caráter par ticularmente efetivo nesse ponto Lane tornase o sutil polemista Antes de maisada ele tem de mostrar que fez o que outros antes dele nao fizeran ou nao puderam fazer e depoís que teve a capacidad de obter e perfeitamente correta E desse modo a sua asurgir Mesmo que Lane brinque em seu prefácio com um relato do pavo de Alepo de um certo dr Russell urna obra esquecida é óbvio 167 que a Description de lÉgypte é o seu principal concorrente anterior Mas essa obra confinada por Lane a urna longa nota de pé de página é citada com aspas pejorativas como a grande obra francesa sobre o Egito Aquela obra era ao mesmo tempo filosoficamente geral demais e descuidada dernais diz Lane e o famoso estudo de Jacob Burckhardt era meramente urna coletánea de amostras da sabedoria proverbial egipcia maus exemplos da moralidade de um povo Ao contrário do francés e de Burckhardt Lane teve a capacidade de mergulhar entre os nativos viver como eles conformarse aos seus hábitos e de evitar excitar em estrangeiros qualquer suspeita de 1ser urna pessoa que nao tinha nenhum direito de intrometerse entre eles Para que isso nao implique urna perda de objetividade da parte dele Lane continua dizendo que se ateve apenas as palavras grifo dele do Coráo e que sempre teve consciencia da sua diferenca ern relacáo a urna cultura essencialmente estranha Desse modo enquanto urna porcáo da iden tidade de LaneIlutua mar muculrnano que nao desconfT denadapoiOsubmersa conservao seu poder europeu secreto comentar ªdqüirire possuirtui9 o que a ródeii O orientalisia pode imitar o Oriente sem que o oposto seja ver dade O que ele diz do Oriente deve portanto ser entendido como urna descricáo obtida ern um intercambio unilateral enquanto eles falavam e cornportavamse ele observava e escrevia O seu poder consistia em ter existido entre eles falando a língua como um nativo e também como um escritor secreto E o que ele escreveu deveria ser conheci mento útil nao para eles mas para a Europa e as suas várias insti tuicóes difusoras Pois esta é urna coisa que a prosa de Lane nunca nos deixa esquecer que o ego o pronome na primeira pessoa que se des loca entre os costumes rituais festivais ritos de infancia da vida adul ta e de funerais egipcios é na realidade tanto urna fantasia oriental como um mecanismo orientalista para capturar e transmitir infor macees valiosas que de outro modo seriam inacessíveis Como narra dor Lane é tanto um exíbidor quanto a coisa exibida conquistando duas conñancas ao mesmo tempo demonstrando dois apetites pela ex periéncia o oriental por encontrar companhia e o ocidental pelo co nhecimento com autoridade útil Nada ilustra melhor isso que o último episódio em trés partes do prefácio Nele Lane descreve seu principal informante e amigo o xeque Ahmed como um companheiro e como urna curiosidade Os dois fa zem de conta que Lane é muculmano mas é só depois que Ahmed supera o medo inspirado pela audaciosa imitacáo feita por Lane que ele consegue orar com este em urnamesquita Essa proeza final é prece dida por duas cenas em que Ahmed é retratado como um estranho 168 comedor de vidros e um polígamo Nas trés partes do episódio do xeque Ahrned a distancia entre o muculmano e Lane aumenta ao mesmo tempo que na própria acáo ela diminui Como mediador e tradutor por assim dizer do comportamento muculmano Lane adaptase ironi camente ao padráo muculmano apenas o bastante para descrevélo em urna sonolenta prosa británica Sua identidade como crente falsificado e europeu privilegiado é a própria esséncia da máfé pois este trapaceia comaquele de maneira nada ambígua Desse modo o que parece ser o relato factual daquilo que um muculmano um tanto quanto peculiar faz recebe de Lane as aparéncias do centro francamente exposto de toda a fé muculmana Nenhuma importancia é dada por Lane a trai 9ao da sua amizade corn Ahmed ou com os outros que Ihe dáo infor macees O que interessa é que o relato pareca preciso geral e desapai xonado que o leitor inglés fique convencido de que Lane nunca foi contaminado pela heresia ou pela apostasia e finalmente que o texto de Lane cancele o conteúdo humano do seu tema a favor de sua vali dade científica É para todos esses fins que o livro é organizado nao simplesmente como urna narrativa da residencia de Lane no Egito mas como urna estrutura narrativa dominada pela reestruturacáo e pelo detalhe orien talistas Creio que essa é a realizacáo central da obra de Lane Nas suas linhas e no seu formato o Modern egyptians segue a rotina de um romance do século XVIII escrito por digamos Fielding O livro co meca com um relato do país e do cenário seguido por dois capítulos sobre Características pessoais e Infancia e primeira educacáo Vinte e cinco capítulos sobre coisas como festas leis caráter indús tria magia e vida doméstica precedem a última secáo Morte e ritos funerais Com isso vese que o argumento de Lane é cronológico e desenvolvimenta1 Ele escreve sobre si mesmo como observador de ce nas que seguem as principais divisóes da vida humana o seu modelo é o padráo narrativo como em Tom Jones com o nascimento as aven turas o casarnento e a morte implícita do herói SÓ que no texto de Lane a voz narrativa nao tem idade o tema contudo o egípcio mo derno percorre o ciclo de vida individua1 Essa reversáo pela qual um individuo solitário confere a si mesmo faculdades infinitas no tempo e impóe a urna sociedade e um pavo um tempo pessoal de vida nao é senáo a primeira de várias operacóes que regulam o que poderia ser a simples narracáo de viagens a lugares estrangeiros transformando um texto sem arte em urnaenciclopédia de amostras exóticas e ero um par que de diversóes para o exame orientalista O controle de Lane sobre seu material nao é exercido só através da sua dupla presenca dramatizada como falso muculmano e oci 169 dental legitimo e da sua manipulacáo da voz e do sujeito narrativos mas também por meio do uso do detalhe Cada urna das principais secóes de cada capitulo é invariavelmente aberta por uma observacáo geral que nao surpreende Por exemplo observase geralmente que muitas das mais notáveis peculiaridades nas maneiras nos costumes e no caráter de urna nacáo sao atribuíveis as peculiaridades físicas do país O que vem a seguir confirma facilmente isso o Nilo o clima notavelmente salubre do Egito o trabalho preciso do camponés Mas ero vez de passarmos disso ao próximo episódio na ordem narra tiva o detalhe é aumentado e conseqüentemente a realízacáo narrativa que se espera ero bases puramente formais DaO é dada Isto é embora as linhasgeraisdo texto de Lane conformemseaseqüéncia narrativa e causal de nascimentovidarnorte o detalhe especial introduzido du rante a própria seqüéncía quebra o movimento narrativo De urna observacáo geral ao delinear de algum aspecto do caráter egipcio a um relato da infancia adolescencia maturidade e senescencia egípcias Lane está sempre presente coro riqueza de detalhes para evitar urna transicáo suave Logo depois de ouvirmos sobre o clima salubre do Egi to por exemplo ficamos sabendo que poucos egípcios vivem mais que alguns anos devido a doencas fatais a ausencia de assisténcia médica e ao calor opressivo do veráo Depois disso somos informados de que o calor excita o egipcio urna generalizacáo inqualificadaJ a intempe ranca nos prazeres sensuais e em seguida somos mergulhados em descricóes acompanhadas de mapas e desenhos da arquitetura das decoracóes das fontes e das fechaduras cairotas Quando uma corrente narrativa ressurge ela é claramente urna mera formalidade O que impede a ordem narrativa ao mesmo tempo que esta é a ficcáo dominante do texto de Lane é a enorme avassaladora monu mental descricáo O objetivo de Lane é tornar o Egito e os egípcios totalmente visiveis nao deixar nada oculto para o leitor entregar os egipcios sem profundidade com inchacáo de detalhes Como relator a sua propensáo é para o petisco sadomasoquista a automutilacáo dos dervixes a crueldade dos juízes a mistura de religiáo com licenciosi dade entre os muculmanos o excesso de paixóes libidinosas e assim por diante Contudo por estranhc e perverso que seja o evento por perdidos que estejamos com os estonteantes detalhes Lane é ubíquo a tarefa dele é juntar novamente os pedacos e possibilitarnos seguir em frente ainda que aos tropecóes Em certa medida ele faz isso apenas sendo um europeu que pode controlar discursivamente as paixóes e ex citacóes as quais os muculmanos estáo infelizmente sujeitos Em muito maior medida porém a capacidade de Lane para refrear seu profuso tema com a rédea implacável da disciplina e do distanciamento de 170 pende da sua fria distancia em relacáo avida e a produtividade egip cias O momento simbólico mais importante ocorre no início do capí tulo 6 Vida doméstica contínuacáo Nesse ponto Lane adotou a convencáo narrativa de caminhar através da vida egípcia e tendo che gado ao fim do seu giro pelos cómodos e hábitos públicos de uma casa egipcia os mundos social e espacial sao misturados por ele comeca a discutir o lado íntimo da vida no lar fmediatamente ele precisa fazer um relato do casamento e das cerimñnías nupciais Como de costume o relato corneca com uma observacáo geral deixar de casar quando um homem atinge urna idade suficiente e quando nao há nenhum im pedimento justo é considerado pelos egípcios impróprio e até mesmo desonroso Sem transicáo essa observacáo é aplicada por Lane a si mesmo e ele é considerado culpado Por um longo parágrafo entáo ele conta as pressóes a que foi submetido para que se casasse ao que ele inflexivelmente recusouse Finalmente depois que um amigo se oferece para lhe arranjar um mariage de convenance também recu sado a seqüéncia toda é subitamente completada por um ponto e um trace E ele recomeca a sua discussáo geral com outra observacáo geral Ternos aqui nao só urna típica interrupcáo Laneescada narrativa principal com um detalhe fora de lugar como também um descompro metimento firme e literal do autor em relacáo aos processos produtivos da sociedade egípcia A mininarrativa da sua recusa a juntarse asocie dade que descreve acaba com um hiato dramático a história dele nao pode continuar ele parece estar dizendo enquanto ele nao ingressar na intimidade da vida doméstica e entáo ele desaparece como um candi dato a tal intimidade Ele literalmente se aniquila enquanto sujeito humano ao recusarse a casar na sociedade humana Desse modo pre serva a sua identidade autoritária como urna falsa participante e sus tenta a objetividade da sua narrativa Se nós já sabíamos que Lane era um náornuculmano agora sabernos também que para ser um orienta lista em vez de oriental ele teve de negar a si mesmo os prazeres da vida Mais ainda ele teve de evitar Apenas dessa ma neira negativa ele pode conservar a sua intemporal autoridade como observador A escolha de Lane era entre viver sem inconveniencia e descon forto e concluir o seu estudo sobre os egipcios modernos O resultado dessa escolha foi simplesmente ter tornado possível a sua definicáo dos egipcios posto que desde que ele se tornara um deles a sua perspec tiva teria deixado de ser antiséptica e assexuadamente lexicográfica 171 De duas maneiras importantes e urgentes portanto Lane conquistou credibilidade e legitimidade académicas Primeiro por ter interferido no curso narrativo comum da vida humana essa é a íuncáo do seu co lossal detalhismo pelo qual a inteligencia observadora de um estran geiro pode introduzir e depois juntar urna enorme quantidade de infor macáo Os egípcios sao destripados para exposicáo por assim dizer e depois sao professoralmente consertados por Lane Em segundo lugar por ter se descomprometido da geracáo de vida oriental egípcia essa é a funcáo de ele ter domado o seu apetite animal em prol da dissemi nacáo da informacáo nao no Egito e para o Egito mas na Europa e para a instrucáo européia em geral Ter realizado tanto a imposicáo da vontade erudita a urna realidade desordenada e um deslocamento in tencional do seu local de residencia para a cena da sua reputacáo aca démica é a fonte da sua grande fama nos anais do orientalismo Um conhecimento útil como esse só poderia ter sido obtido formulado e difundido por negativas como essa As duas outras grandes obras de Lane o seu léxico árabe inaca bado e a sua traducáo sem inspiracáo das Mil e urna noites consoli daram o sistema de conhecimento inaugurado pelo Modern egyptians Em ambas as suas obras posteriores a individualidade dele desapa receu inteiramente como presenca criativa bem como a própria idéia de urna obra narrativa é claro Lane aparece como homem apenas na persona oficial de glosador e retradutor as Noites e lexicógrafo impes soal De autor contemporáneo do seu tema Lane tornouse como um estudioso orientalista do árabe e do isla clássicos um sobrevi vente Mas é a forma dessa sobrevivéncia que nos interessa Pois o legado de Lane como estudioso nao tinha importancia para o Oriente é claro mas para as instituicóes e agencias da sua sociedade européia E estas ou eram académicas as sociedades ínstítuícóes e agencias orientalistas oficiais ou eram extraacademicas de maneiras bem particulares surgindo na obra de europeus que residiram mais tarde no Oriente Se lermos o Modern egyptians nao como urna fonte de saber oriental mas cornournaobra que é dirigida acrescente organizacáo do orientalismo académico veremos que é esclarecedora A subordinacáo do ego genético aautoridade académica em Lane corresponde exata mente a maior especializacáo e institucionalizacáo do conhecimento sobre o Oriente aparente nas várias sociedades orientais A Royal Asiatic Society foi fundada dez anos antes que aparecesse o livro de Lane mas o seu comité de correspondencia cujos objetivos eram receber inteligencia e investigacóes relacionadas as artes ciencias lite ratura história e antigüidades do Oriente 74 foi o recipiente estru 172 tural do fundo de informacáo de Lane processada e formulada tal qual era Quanto adifusáo de urna obra como a de Lane existiam nao só as várias sociedades de conhecimento útil mas também em urna época em que o programa original do orientalismo de ajudar o comércio e os negócios com o Oriente se tinha exaurido as sociedades cultas especia lizadas cujos produtos eram obras que mostravam os valores poten ciais se nao reais da erudicáo desinteressada Assim um programa da Société Asiatique afirma Compor ou imprimir gramáticas dicionários e outros livros elementares reconhecidamente úteis ou indispensáveis ao estudo das línguas ensi nadas por professores nomeados de línguas orientais por subscricóes ou por outros meios contribuir para a publicacáo do mesmo tipo de tra balho levado a cabo na Franca ou no estrangeiro adquirir manuscritos ou copiar completa ou parcialmente os que podem ser encontrados na Europa traduzir ou fazer extratos deles multiplicar o número deles re produzindoos seja por gravura seja por litografia tomar possível para os autores de obras úteis sobre geografia história artes e ciencias adqui rir os meios para que o público aproveite os frutos de seus labores no tumos chamar a atencáo do público por meio de urna coíecáo periódica dedicada aliteratura asiática para as producóes científicas literárias e poéticas do Oriente e as do mesmo tipo que sao regularmente produzidas na Europa para os fatos sobre o Oriente que possam ser relevantes para a Europa para as descobertas e obras de todos os tipos de que os povos orientais podem vir a tomarse o tema esses sao os objetivos propostos para e pela Socíété Asiatique O orientalismo organizouse sistematicamente como a aquisicáo de ma terial oriental e a disseminacáo regulada desse material como urna forma de conhecimento especializado Copiavamse e ímprimiamse obras de gramática adquiriamse textos originais multiplicavase o número deles e se lhes dava ampla difusáo e até mesmo se dispensava o conhecimento de maneira periódica Foi nesse sistema e para ele que Lane escreveu a sua obra e sacrificou o seu ego O modo pelo qual a obra dele persistiria nos arquivos do orientalismo também foi provi denciado Deveria haver um museu disse Sacy um vasto depósito de objetos de todos os tipos de desenhos de livros mapas relatos de viagem originais todos oferecidos áqueles que quei ram dedicarse ao estudo do Oriente de tal modo que cada um desses estudantes poderia sentirse transportado como por encanto para di gamos urna tribo mongol ou a raca chinesa qualquer que seja o tema dos seus estudos É possível dizer que depois da publicacác de livros elementares sobre as línguas orientais nada é mais impor 173 tanteque a colocacáo da pedrafundamentaldesse museu que eu consi derocomoum comentário vivosobreos dicionários e urna interpretacáo truchement dosmesmos75 Truchement deriva elegantemente do turco turjaman que quer dizer intérprete interrnediário ou portavoz Por um lado o orientalismo adquiriu o Oriente da maneira mais literal e ampla pos sível por outro lado domesticou esse conhecimento para o Ocidente filtrandoo por meio de códigos reguladores classiñcacóes exemplos de espécimes revistas periódicas dicionários gramáticas comentários edicóes e traducóes tudo isso formando um simulacro do Oriente e o reproduzindo materialmente para o Ocidente no Ocídente O Oriente em resumo seria transformado de um testemunho pessoal e algumas vezes deturpado de intrépidos viajantes e residentes em uma definicáo impessoal feita por todo um exército de trabalhadores científicos Seria transformado da experiencia consecutiva da pesquisa individual ern uma espécie de museu imaginário sem paredes no qual tudo o que fora colhido nas enormes distáncias e variedades da cultura oriental se tor nava categoricamente oriental Seria reconvertido reestruturado do amontoado de fragmentos trazidos aos poucos por exploradores expe dicóes comissóes exércitos e mercadores em significado orientalista lexicográfico bibliográfico departamentalizado e textualizado Por vclta de meados do século XIX o Oriente se tornara como disse Dis raeli urna carreira ero que a pessoa podia refazer e restaurar nao ape nas o Oriente mas a si mesma PEREGRINOS E PEREGRINA90ES INGLESES E FRANCESES Todo viajante ou residente europeu no Oriente teve de proteger se contra as suas perturbadoras influencias Alguém como Lane repro gramava e resituava essencialmente Oriente quando escrevia sobre ele As excentricidades da vida oriental com seus estranhos calendários suas exóticas configuracóes espaciais suas línguas desesperadoramente estrangeiras sua moralidade aparentemente perversa erarn considera velmente reduzidas quando surgiam como uma série de itens detalha dos apresentados em um estílo de prosa normativa européia É correto dizer que ao orientalizar o Oriente Lane nao só definiu como prrigiu o Oriente separandoo daquílo suasjróprias simpatías a sensibilidade européia Na maioria o Oriente parece ter ofendido a decencia sexual tudo sobre ele pelo menos o OrientenoEgito de Lane porejava o perigoso 174 sexo ameacava a higiene e o decoro doméstico com urna excessiva li berdade de relacóes sexuais tal como Lane disse mais irreprimivel mente que de costume Mas havia outros tipos de ameaca além do sexo Todas desgas tavam a discricáo e racionalidade européias de tempo espaco e iden tidade pessoal No Oriente éramos subitamente confrontados coro a Antigüidade inimaginável a beleza desumana a distáncia sem limites Estas podiam ser utilizadas mais inocentemente de certo modo se fossem pensadas e escritas e nao experimentadas diretamente Em Giaour de Byron no West6stlicher Diwan nas Orientales de Hugo o Oriente é uma forma de libertacáo um lugar de oportunidade original cuja nota básica pode ser ouvida na Hégira de Goethe Nord und West Südzersplittern Thronebersten Reichezittern Fluchtedu in reinen Osten Patriarchenluft zu kosten Norte Oestee Sul desintegram Tronosse rompem impéríos tremem Voa longe e no puroLeste Provao ardospatriarcas Ao Oriente sempre se voltava Dort im Reinen und in Rechten WiII ich menschlichen Geschlechten In des Ursprungs Tiefe dringen Lá na pureza e na virtude vollarei as profundas origens da raca hu manal vendoo como a conclusáo e a confirmacáo de tudo o que se imaginara Gottesist derOrient Gottes ist derOkzident Nordund südliches Gelande Ruhtim FriedenSeinerHande 76 Deus é o Oriente Deus é o Ocidente Terras do nortee dosul Repousam na paz dasSuas máos o Oriente com a sua poesia sua atmosfera e suas possibilidades era representado por poetas como Hafiz unbegrenzt sem limites disse Goethe mais velho e mais joyero que nós europeus E para Hugo ero Cri de guerre du muftí e em La douleur du pacha a impetuo sidade e a desordenada melancolia dos orientais era mediada nao pelo 175 medo real ou por urna desorientada confusáo mas por Volney e por George Sale cuja obra erudita traduzia o bárbaro esplendor em infor rnacáo proveitosa para o poeta de sublime talento Aquilo que os orientalistas como Lane Sacy Renan Volney Jo nes para nao falar da Description de lÉgypte ou outros pioneiros punham adisposicáo a massa literária explorava Nesse ponto ternos de lembrar a nossa discussáo anterior sobre os tres tipos de trabalho que tratam com o Oriente e baseados em urna residencia de fato no mesmo As rigorosas exigencias do conhecimento expurgavam da es crita orientalista a sensibilidade do autor daí a autoexclusáo de Lane e daí também o primeiro tipo de obra que enumeramos Quanto aos tipos 2 e 3 o eu está proeminentemente presente servindo a urna voz cuja tarea é dispensar um conhecimento real tipo 2 ou dominando e mediando tudo o que nos é dito sobre o Oriente tipo 3 No entanto de urna ponta aoutra do século XIX quer dizer depois de Napoleáo o Oriente foi um local de peregrinacáo e todas as grandes obras per tencentes a um genuíno mesmo que nem sempre académico orienta lismo emprestavam a forma o estilo e a intencáo da idéia de urna pere grinacáo para lá Nessa idéia como em muitas outras formas de escrita orientalista que estivemos discutindo a idéia romántica de urna recons trucáo restauradora sobrenaturalismo natural é a fonte principal Todo peregrino ve as coisas do seu próprio modo mas há limites para os objetivos de urna peregrinacáo para as formas e a natureza que ela pode assumir para a verdade que ela revela Todas as peregri nacóes ao Oriente passavam ou tinham de passar pelas terras bíblicas de fato a maior parte delas era urna tentativa de reviver ou de libertar do grande e incrivelmente fecundo Oriente urna porcáo da realidade judeucristágrecoromana Para esses peregrinos o Oriente orientali zado o Oriente dos estudiosos orientalistas era um desafio a ser en frentado assim como a Biblia as Cruzadas o isla Napoleáo e Ale xandre eram temíveis predecessores a serem levados em canta Um Oriente culto nao só inibe as meditacóes e fantasias particulares do pe regrino a sua própria antecedencia coloca barreiras entre o viajante contemporáneo e a sua escrita a menos que como foi o caso de Nerval e Flaubert em seu uso de Lane a obra orientalista seja desligada da biblioteca e apreendida em seu projeto estético Outra inibicáo é que a escrita orientalista está demasiadamente circunscrita pelas exigencias oficiais da erudicáo orientalista Uro peregrino como Chateaubriand afirmava insolentemente que empreendia suas viagens exclusivamente para o seu próprio beneficio jallais chercher des images voilá tout ia buscar imagens nada maísl Flaubert Vigny Nerval Kinglake Disraeli Burton todos faziam suas peregrinacóes de modo a dissipar o 176 mofo dos arquivos orientalistas preexistentes A escrita deles deveria ser uro novo repositório de experiencia oriental mas como veremos até mesmo esse projeto costumava transformarse mas nao sempre no reducionisrno das coisas orientalísticas As razóes para isso sao com plexas e tero muito a ver com a natureza do peregrino com o seu modo de escrever e com a forma intencional da sua obra O que foi o Oriente para o viajante individual do século XIX Consideremos primeiro as diferencas entre um anglófono e um francó fono Para o primeiro o Oriente era a a India é claro urna possessáo británica de fato passar pelo Oriente Próximo era portanto passar a caminho de uma importante colonia SÓ com isso o espaco disponível para a acáo da imaginacáo era limitado pelas realidades da adminis tracáo da legalidade territorial e do poder executivo Scott Kinglake Disraeli Burton Warburton e até mesmo George Eliot em cujo Da niel Deronda o Oriente é objeto de planos sao escritores como O pró prio Lane e Jones antes dele para quem o Oriente era definido pela posse material por uma imaginacáo material de certo modo A Ingla terra derrotara Napoleáo expulsara a Franca o que a mente británica inspecionava era um dominio imperial que por volta de 1880 era urna extensáo ininterrupta de território dominado pelos británicos do Me diterráneo aindia Escrever sobre o Egito a Siria ou a Turquia bem como viajar por esses países era urna questáo de passear pelos domí nios da vontade da administracáo e da definicáo politicas O impera tivo territorial era extremamente direcionador até mesmo para um es critor tao sem restricóes como Disraeli cujo Tancredo nao é apenas urna esbórnia oriental mas um exercício de astuta administracáo polí tica de forcas reais em territórios reais Em compensacáo o peregrino francés estava imbuído de um sentido agudo de perda no Oriente Ele ia para lá como se fosse para um lugar em que a Franca ao contrário da Inglaterra nao tinha uma presenca soberana O Mediterráneo ecoava os sons de derrotas fran cesas das Cruzadas a Napoleáo Aquilo que ficou conhecido como la mission civilisatrice comecara no século XIX como um sucedáneo po lítico da presenca británica Conseqüentemente os peregrinos fran ceses a partir de Volney planejavam e projetavam para e imaginavam e ruminavam sobre lugares que estavam principalmente em suas ca becas construíam esquemas para uro concerto tipicamente francés talvez europeu no Oriente que obviamente eles achavam que seria regido por eles O deles era um Oriente de memórias ruínas sugestivas segredos esquecidos correspondencias ocultas e um estilo de ser quase virtuosista um Oriente cujas formas literárias mais elevadas seriam encontradas em Nerval e Flaubert cujas obras sao ambas solidamente 177 fixadas em urna dimensáo imaginativa irrealizável a nao ser estetica mente Isso valia também para um certo número de viajantes franceses eruditos ao Oriente A maioria deles estava interessada no passado bí blico ou nas Cruzadas como demonstrou Henri Bordeaux em seu Voya geurs dOrient Viajantes do Oriente A esses nomes devemos adi cionar seguindo a sugestáo de Hassan alNouty os nomes dos semiti cistas orientais inclusive Quatrernére Saulcy o explorador do mar Morto Renan como arqueólogo fenício Judas o estudioso das linguas fenicias Catafago e Défrémery que estudaram os ansarianos os is maelitas e os seljúcidas ClermontGanneau que explorou a Judéia e o marques de Vogüé cuja obra concentrouse na epigrafia palmiriana Além disso houve toda a escola de egiptologia originária de Champol lion e de Mariette que mais tarde incluiria Maspero e Legrain Como índicacáo da diferenca entre as realidades británicas e as fantasias francesas vale a pena lembrar as palavras do pintor Ludovic Lepic que comentou tristemente no Cairo em 1884 dois anos depois do inicio da ocupacáo británica LOrient est mort au Caire SÓ Renan sem pre um racista realista aprovou a supressáo británica da rebeliáo na cionalista de Arabi a qual disse ele baseado em sua grande sabe doria era urna desgraca para a civilizacáo so Ao contrário de Volney e de Napoleáo os peregrinos franceses do século XIX procuravam antes urnarealidade exótica mais especialmente atraente que científica Isso é obviamente válido para os peregrinos li terários comecando por Chateaubriand que encontraram no Oriente um lugar solidário com seus mitos obsessóes e necessidades particu lares Notese aqui de que maneira todos os peregrinos mas especial mente os franceses exploravam o Oriente em suas obras de modo a justificar de alguma maneira urgente a sua vocacáo existencial 50 mente quando há algum propósito cognitivo adicional na escrita sobre o Oriente é que o derramamento de si mesmo parece um pouco mais controlado Lamartine por exemplo escreve sobre si mesmo e tam bém sobre a Franca como urna potencia no Oriente essa segunda em presa emudece e finalmente controla os imperativos amontoados no seu estilo pela alma pela memória e pela imaginacáo dele Nenhum pere grino francés ou ingles poderia dominar tao impiedosamente a si mesmo e ao próprio tema da maneira que Lane o fez Nem mesmo Burton e T E Lawrence aquele criador de urna peregrinacáo delibe radamente muculmana este daquilo que chamava de peregrinacáo in versa para longe de Meca conseguiram produzir massas de orienta lismo histórico político e social que fossem tao livres dos seus próprios egos quanto as de Lane eram em relacáo ao dele É por isso que Bur 178 ton Lawrence e Charles Doughty ocupam urna posicáo intermédia en tre Lane e Chateaubriand A obra de Chateaubriand Itinéraire de Paris aJérusalem et de Jérusalem aParis 181011 relembra os detalhes de urna viagem em preendida em 180S6 depois de ter viajado pela América do Norte Suas várias centenas de páginas sao urna demonstracáo da afirrnacáo do autor de que je parle éternellement de moi de tal modo que Sten dhal que nao é um exemplo de escritor abnegado podia considerar que a falha de Chateaubriand em ser um viajante instruido era devida ao fedorento egoísmo deste Ele levou para o Oriente urna carga muito pesada de objetivos pessoais e suposicñes descarregoua lá e depois disso comecou a empurrar pessoas lugares e idéias para cá e para lá como se nada pudesse resistir a sua imperiosa imaginacáo Chateaubriand foi para o Oriente como urna figura montada e nao como ele mesmo Para ele Bonaparte era o último cruzado ele próprio por sua vez era o último francés a sair de seu país para viajar para a Terra Santa com as idéias as metas e os sentimentos de um peregrino dos tempos antigos Mas havia outras razóes Simetria tendo estado no Novo Mundo e visto os seus monumentos naturais tinha de com pletar o círculo dos seus estudos visitando o Oriente e seus monumentos de conhecimento como ele já havia estudado a Antigüidade romana e a celta tuda o que lhe restava eram as ruínas de Atenas Ménfis e Car tago Autoperfeicáo tinha de reabastecerse de imagens Confirrnacáo da importancia do espírito religioso a religiáo é um tipo de linguagem universal entendida por todos os homens e onde observáIa melhor que lá no Oriente mesmo que fossem em terras ande urna religiáo rela tivamente baixa como o isla dominasse Acima de tuda a necessidade de ver as coisas nao como elas eram mas como Chateaubriand su punha que fossem o Coráo era le livre de Mahomet nao continha ni principe de civilisation ni précepte qui puisse élever le caractére Este Iivro seguia ele inventando com maior ou menor liberdade a medida que avancava nao prega nem o ódio atirania nem o amor a liberdade 8l Para urna figura tao preciosamente constituída como Chateau briand o Oriente era urna tela decrépita espera dos seus esforcos restaurativos O árabe oriental era o homem civilizado caído nova mente em um estado selvagem nao era de se estranhar entáo que ao ver os árabes tentando falar francés Chateaubriand se sentisse como Robinson Crusoe impressionado por ouvir o seu papagaio falar pela primeira vez É verdade que havia lugares como Belém cuja etimologia ele errou completamente ande se podia encontrar novamente um sem blante de civilizacáo verdadeira ou seja européia mas eram poucos e 179 rnuito espacados Por toda parte encontravamse orientais árabes cuja civilizacáo religiáo e maneiras eram tao baixas bárbaras e antagó nicas que eles mereciam a reconquista As Cruzadas argumentava ele nao erarn urna agressáo eraro apenas a contrapartida européia a che gada de Ornar a Europa Alérn dísso acrescentava mesmo que ero suas formas moderna ou original elas fossem urna agressáo a questáo que elas colocavam transcendia as da mortalidade comum As Cruzadas nao diziam respeito apenas alibertacáo do Santo Sepulcro mas antes a saber qual dos dois venceria na terra um culto que era o inimigo da civilizacáo sistematicamente favorável él ignorancia o isla é claro ao despotismo e él escravidáo ou um culto que despertara nova mente em um pavo moderno o genio de urna sábia antigüidade e abolira a baixa servidao 82 Essa é a primeira mencáo significativa a urna idéia que virá a ad quirir urna autoridade intolerável pouco menos que insensata nos es critos europeus o tema da Europa ensinando ao Oriente o sentido da liberdade que é urna idéia sobre a qual Chateaubriand e todos depois dele achavam que os orientais e principalmente os muculmanos nao sabiam nada Da liberdade eles nao sabem nada decencia eles nao tém nenhuma a torca é o Deus deles Quando passam por longos períodos sem ver con quistadores que exercam a justica celestial tem o ar de soldados sem um líder de cidadños sem legislacác e de urna família sem pai 83 Já em 1810 ternos um europeu falando como Cromer ern 1910 argu mentando que os orientais precisam ser conquistados e nao vendo um paradoxo no fato de urna conquista ocidental do Oriente nao ser ne nhuma conquista afinal de contas mas liberdade Chateaubriand co loca toda a idéia nos termos redentores románticos de urna missáo cris tá de reviver um mundo morto de acelerar oeste um sentido do próprio potencial que somente um europeu podia discernir sob urna superficie sem vida e degenerada Para o viajante isso quer dizer que ele deve usar o Velho Testamento e os Evangelhos como guia da Palestina pois somente assim a aparente degeneracáo do Oriente moderno pode ser ultrapassada Mas Chateaubriand nao ve nenhuma ironia no fato de que o seu giro e a sua visáo nao lhe revelam nada sobre o oriental moderno e seu destino O que interessa no Oriente é o que este faz com que aconteca a Chateaubriand o que ele permite que o espirito de Chateaubriand faca e o que deixa que Chateaubriand revele sobre si mesmo suas idéias e expectativas A liberdade que tanto o preocupa nao passa da sua própria libertacáo dos hostis errnos orientais 180 o lugar para ande essa libertacáo o deixa ir é diretamente de volta ii imaginacáo e ii interpretacáo imaginativa A descricáo do Orien te é obliterada pelos designios e modelos que lhe foram impingidos pelo ego imperial que nao faz segredo de seus poderes Se na prosa de Lane podemos ver o ego desaparecer de modo a deixar que o Oriente apareca com todo o seu detalhe realista em Chateaubriand o ego se dissolve na conternplacáo das maravilhas que eria e entáo renasce mais forte que nunca mais capacitado a saborear o próprio poder e a desfrutar das próprias interpretacóes Quando viajamos pela Judéia primeiramente uro grande tédio toma o coracáo mas quando passando de uro lugar solitário a outro o espaco se estende sem limites a nossa frente lentamente o tédio desaparece e sentimos um secreto terror que longe de deprimir a alma dálhe cora gem e eleva o nosso genio inato Coisas extraordinárias surgem de todas as partes da terra trabalhada por milagres o sol escaldante a águia impetuosa a figueira estéril toda a poesia todas as cenas das Escrituras estáo presentes aqui Todo nome esconde um misterio cada gruta de clara o futuro cada cume conserva em si as palavras de um profeta Deus em pessoa falou dessas margens as torrentes áridas os rochedos dilacerados os túmulos abertos dáo fé do prodígio o deserto parece ainda emudecido de terror e diríamos que nao pode ainda quebrar o silencio desde que ouviu a voz do eterno o processo de pensamento é revelador nessa passagem Urna experien cia de terror pascaliano nao diminui meramente a autoconfianca da pessoar milagrosamente ela a estimula A paisagem nua se projeta como um texto iluminado que se apresenta ainspecáo de um poderoso ego revitalizado Chateaubriand transcendeu a realidade abjeta ainda que assustadora do Oriente contemporáneo de modo que póde esta belecer com este urna relacáo original e criativa No final da passagem ele nao é mais um homem moderno mas um visionário mais ou menos contemporáneo de Deus se o deserto da Judéia esteve silencioso desde que Deus nele falou é Chateaubriand que pode ouvir o silencio enten derlhe o significado e para o leitor fazer o deserto falar de novo Os grandes dons de intuicáo solidária que possibilitaram a Cha teaubriand representar e interpretar os mistérios norteamericanos em René e em Ataa e o cristianismo em Le génie du christianisme sao elevados a feitos ainda maiores de interpretacáo no Itinéraíre O autor nao está mais tratando com o primitivismo natural e o sentimento ro rnántico aqui ele lida com as próprias criatividade eterna e originali dade divina pois foi no Oriente bíblico que elas foram depositadas em primeiro lugar e nele permaneceram em sua forma imediata e latente Claro que elas nao podem ser sirnplesrnente apreendidas devern ser 181 aspiradas e alcancadas por Chateaubriand E é esse ambicioso propó sito que oItinéraire é íorcado a servir do mesmo modo que no texto o ego de Chateaubriand tem de ser refeito radicalmente o bastante para cumprir a tarefa Ao contrário de Lane Chateaubriand tenta consumir o Oriente Ele nao só se apropria dele como o representa e fala por ele nao na história mas além dela na dimensáo intemporal de uro mundo completamente curado em que os homens e as terras Deus e os ho mens sao como um Ero Jerusalém portanto no centro da sua visáo e no fim supremo da sua peregrinacáo ele concede a si mesmo urna es pécie de total reconciliacáo coro o Oriente o Oriente judeu cristáo muculmanc persa grego romano e finalmente francés Ele se comove com a sina dos judeus mas julga que eles também servem para ilu minar a sua visáo geral e como benefício extra emprestam a neces sária pungéncia ao seu caráter cristáo vingativo Deus diz escolheu uro novo povo e nao é o judeu 86 Mesmo assim ele faz mais algumas concessóes arealidade ter restre Se Jerusalém está reservada no seu itinerário como a sua meta extraterrestre final o Egito lhe fornece material para urna digressáo política As suas idéias sobre o Egito completam elegantemente a sua peregrinacáo O magnífico delta do Nilo levao a afirmar que considerei apenas as memórias do meu glorioso país dignas dessas mag níficas planícies vi os restos dos monumentos de urna nova cívífízacao trazidos para as margens do Nilo pelo genio da Franca87 Mas essas idéias sao colocadas em um modo nostálgico porque no Egito Chateaubriand acha que pode equacionar a ausencia da Franca aau sencia de um governo livre dirigindo um POyO feliz Além disso após Jerusalém o Egito aparece como urna espécie de anticlímax espiritual Depois de um comentário político sobre o estado lastimável do país Chateaubriand se coloca a questáo de rotina sobre a diferenca como resultado do desenvolvimento histórico como póde essa estúpida malta degenerada de musulmans vir a habitar a mesma terra cujos donos vastamente diferentes tanto impressionaram Heródoto e Deodoro Discurso de despedida adequado para o Egito de onde ele sai para ir a Túnis para as ruínas cartaginesas e finalmente para casa Mas no Egito ele faz urna última coisa digna de nota incapaz de fazer mais que olhar para as pirámides de longe ele se dá o trabalho de en viar até elas um emissário para que este escrevesse o nome dele Cha teaubriand na pedra acrescentando para o nosso beneficio ternos de cumprir todas as pequenas obrigacóes deum viajante devoto Nao daríamos normalmente rnais que urna atencáo divertida a esse encan 182 tador exemplo de banalidade turistica Contudo como preparacáo para a última das páginas do Itinéraíre ela parece mais importante que a primeira vista Refietindo sobre o seu projeto de vinte anos de estudas tous les hasards et tous les chagrins como um exilado Chateaubriand nota elegiacamente que todos os seus livros foram de fato urna espécie de prolongamento da sua existencia Um homem que nem tinha urna casa nem a possibilidade de adquirir urna ele se en contra agora bem além da juventude Se o céu lhe conceder o eterno descanso diz promete dedicarse em silencio a erigir um monument a ma patrie O que lhe resta na terra contudo sao os seus escritos isso se o neme dele viver terá sido suficiente e se nao viver terá sido demais 88 Essas linhas finais nos remetem ao interesse de Chateaubriand em ter o próprio nome escrito nas pirámides Teremos entendido que as suas egoísticas memórias orientais fornecemnos urna experiencia cons tantemente demonstrada incansavelmente realizada de si mesmo Para Chateaubriand escrever era um ato de vida nada nern mesrno um distante pedaco de pedra deve ficar sem ser escrituraimente tocado por ele para que ele fique vivo Se a ordem narrativa de Lane deveria ser violada pela autoridade científica e pela abundancia de detalhes entáo a de Chateaubriand tinha de ser transformada na vontade afir mada de um indivíduo egoísta altamente volúvel Assim como Lane sacrificaria o próprio ego ao modelo orientalista Chateaubriand tor naria tudo o que disse sobre o Oriente totalmente dependente do dele No entanto nenhum dos dois era capaz de conceber a posteridade con tinuando proveitosamente depois dele Lane ingressou na impersonali dade de urna disciplina técnica a sua obra seria utilizada mas nao como um documento humano Chateaubriand por outro lado via que os seus escritos como a inscricáo simbólica do seu nome em urna pira mide significariam o seu eu senáo se ele nao tivesse conseguido pro longar a própria vida com os seus escritos estes seriam meramente excessivos supérfluos Mesmo que todos os viajantes ao Oriente depois de Lane e Cha teaubriand tenham levado a obra deles em conta alguns a ponto de copiálas verbatim o seu legado corporifica a sina do orientalismo e as opcóes a que este estava limitado Ou se escrevia ciencia como Lane ou declaracóes pessoais como Chateaubriand O problema do primeiro era a sua confianca ocidental irnpessoal de que as descricóes de fenómenos gerais coletivos eram possíveis e a sua tendencia a fazer a realidade náo tanto a partir do Oriente quanto a partir das suas próprias obser vacóes O problema com as declaracóes pessoais era que elas inevita velmente recuavam para urna posicáo que igualava o Oriente a fan 183 tasia pessoal mesmo que esta fosse realmente de alto nivel estetíca mente falando É claro que ero ambos os casos o orientalismo exercia urna poderosa influencia sobre o modo como o Oriente era descrito e caracterizado Mas o que essa influencia sempre ímpediu até mesmo hoje foi algum tipo de sentido do Oriente que nao íosse nem impossi velmentegeral fiero imperturbavelmente particular Procurar no orien talismo por uro sentido vívido da realidade humana e até mesmo social do Oriente como um habitante contemporáneo do mundo moderno é procurar ero váo A influencia das duas opcóes que descrevi a de Lane e a de Chateaubriand a inglesa e a francesa é urna grande parte da razáo dessa omissáo O crescimento do conhecirnento particularmente do conhecimento especializado é uro processo muito lento Longe de ser meramente somatório ou cumulativo é uro processo de acumulacáo seletiva destacamento cancelamento redisposicáo e insistencia dentro daquilo que foi chamado de consenso de pesquisa A legitimidade de um conhecimento como o orientalismo durante o século XIX nao tinha origemna autoridade religiosa como fora o caso antes do Iluminismo mas no que podemos chamar de citacáo restauradora da autoridade precedente A partir de Sacy a atitude orientalista culta era a de um cientista que inspecionava urna série de fragmentos textuais que ele depois corrigia e arranjava tal como um restaurador de velhos esboces poderia por urna série deles juntos para obter a figura cumulativa que eles representam implicitamente Conseqüentemente entre eles os orientalistas tratam as obras uns dos outros da mesma maneira citacio nista Burton por exemplo tratarla as Mil e urna noites ou o Egito indiretamente por meio da obra de Lane citando o seu predecessor desafiandoo mesmo que assirn lhe concedesse urna grande autori dade A viagem de Nerval ao Oriente foi feita através da de Lamartine e a deste através da de Chateaubriand Em resumo como urna forma de conhecimento crescente o orientalismo recorria principalmente para a própria nutricáo a citacóes de estudiosos anteriores do campo Mesrno quando deparava corn novos materiais o orientalista os julgava ernprestando dos seus antecessores como os estudiosos fazem corn bastante freqüéncia as perspectivas ideologias e teses condutoras De um modo bastante estrito portanto os orientalistas posteriores a Sacy e Lane reescreveram Sacy e Lane depois de Chateaubriand os pere grinos o reescreveram Dessas complexas reescrituras as realidades do Oriente moderno forarn sistematicamente excluidas especialmente quando peregrinos talentosos como Nerval e Flaubert preferiam as des crícóes de Lane áquílo que os olhos e a mente lhes mostravam imedia tamente 184 No sistema de conhecimento sobre o Oriente este é menos um lugar que umopos um conjunto de referencias urna colecáo de ca racterísticas que parece ter a sua origem em urna citacáo ou em um fragmento de um texto ou em urna referencia aobra de alguém sobre o Oriente ou em um extrato de imaginacáo anterior ou em um amál gama de tudo isso A observacáo direta ou a descricáo circunstancial sao as ficcóes apresentadas pelos escritos sobre o Oriente mas estes invariavelrnente sao totalmente secundários em relacáo a trabalhos sistemáticos de outra espécie Em Lamartine Nerval e Flaubert o Oriente é urna reapresentacáo de um material canónico guiada por urna vontade estética e executiva capaz de despertar o interesse do lei toro Nesses tres escritores porém o orientalismo ou algum aspecto des te é afirmado mesmo que como foi díto a consciencia narrativa represente um grande papel O que veremos é que com toda a sua ex centrica individualidade essa consciencia narrativa acaba percebendo como Bouvard e Pécuchet que a peregrinacáo afinal de contas é urna forma de cópia Quando comecou a sua viagem ao Oriente em 1833 Lamartine fez isso segundo ele mesmo como urna coisa sobre a qual sempre so nhara un voyage en Orient était comme un grand acte de ma vie intérieure Ele é um pacote de predisposicóes simpatias vieses odeia os romanos e os cartagineses e ama os judeus os egípcios e os hindus dos quais ele afirma que se tornará o Dante Armado de um verso for mal de Adieu aFranca onde ele lista tudo o que planeja fazer no Oriente embarca para o Leste Em uro primeiro momento tudo o que encontra confirma as suas previsóes poéticas ou realiza a sua propensáo a analogia Lady Hester Stanhope é a Circe do deserto o Oriente é a patrie de mon imagination os árabes sao um POyO primitivo a poe sia bíblica está gravada na terra do Líbano o Oriente atesta a atraente grandeza da Asia e a relativa pequenez da Grécia Logo após chegar a Palestina porém ele se torna um incorrigível fazedor de um Oriente imaginário Alega que as planícies de Canaá aparecem melhor nas obras de Poussin e Lorrain A sua viagem deixa de ser urnatraducáo tal como a chamara antes e passa a ser urna oracáo que exercita mais a sua memória a sua alma e o seu coracáo que os seus olhos a sua mente e o seu espirito Esse aviso franco liberta totalmente o zelo analógico e reconstru tivo e indisciplinado de Lamartine O cristianismo é urna relígíáo de imaginacáo e de recordacáo e posto que Lamartine pensa ser o típico crente devoto ele conseqüentemente abandonase a si mesmo Um catálogo das suas observacóes tendenciosas seria interminável urna mulher que ele ve lembrao da Haidée de Don Juan a relacáo entre 185 Jesus e a Palestina é como a de Rousseau com Genebra o verdadeiro rio Jordáo é menos importante que os místéríos a que dá origem em nossa alma os orientais muculmanos em particular sao preguicosos a política deles é caprichosa apaixonada e sem futuro outra mulher lhe recorda urna passagem de Ataa nem Tasso nem Chateaubriand cujas viagens anteriores parecem ser a única causa de mortificacáo para o despreocupado egoísmo de Lamartine entenderam direito a Terra Santa etc etc Suas páginas sobre a poesia árabe sobre a qual ele discursa com suprema confianca nao revelam nenhum desconforto relativo ao seu total desconhecimento da língua Tudo o que importa é que as suas viagens pelo Oriente revelamIhe que este é la terre des prodiges des cultes e que ele será o seu poeta oficial no Ocidente Sem nenhum traco de autoironia ele anuncia Essa terra árabe é a terra dos prodígios tudo brota nela e todo crédulo ou fanático tem nela a sua oportunidade de tornarse um profeta 90 Ele se transformou em profeta pelo mero fato de ter residido no Oriente No final da sua narrativa Lamartine alcancou o propósito da sua peregrinacáo ao Santo Sepulcro esse ponto inicial e final de todo o tempo e o espaco Ele internalizou a realidade o bastante para querer retirarse dela e regressar a pura contemplacáo solidáo filosofia e poesía Elevandose acima do Oriente meramente geográfico ele se torna um Chateaubriand moderno inspecionando o Leste como se este fosse urna provincia pessoal ou pelo menos francesa pronta para ser usada pelas potencias européias De viajante e peregrino no tempo e no espaco reais Lamartine tornouse um ego transpessoal que se identifica em poder e em consciencia com toda a Europa O que ele ve díante de si é o Oriente no processo do seu inevitável desmembramento futuro sendo tomado e consagrado pela soberania européia Desse modo na visáo de clímax de Lamartine o Oriente renasce na forma do direito europeu a controláIo Esse tipo de soberania assim definida e consagrada como um direito europeu consistirá principalmente no direito de ocupar um ou outro território bem como as costas a fim de aí construir cidades livres ou colonias européias ou portos comerciais de escala Mas Lamartine nao se detém aqui Sobe aínda mais até o ponto em que o Oriente que acabou de ver e onde acabou de estar é reduzido a nacóes sem território patrie direitos leis ou seguranca espe rando ansiosamente pelo abrigo da ocupacáo européía Em todas as visóes do Oriente fabricadas pelo orientalismo nao há literalmente nenhuma recapitulacáo tao completa quanto essa Para 186 Lamartine a peregrinacáo ao Oriente implicou nao apenas a pene tracáo deste por urna consciencia imperiosa mas também a virtual eli minacáo dessa consciencia como resultado da sua acessáo a um tipo de controle impessoal e continental do Oriente A identidade real do Oriente é dissolvida em urnasérie de fragmentos consecutivos as obser vacóes recordatórias de Lamartine que deveráo mais tarde ser juntadas e apresentadas como um sonho napoleónico reafirmado de hegemonia mundial Ao mesmo tempo que a identidade de Lamartine desaparece na trama científica de suas classificacées egípcias a consciencia dele transgride completamente os seus limites naturais Ao fazer isso ele repete a viagem e as visóes de Chateaubriand apenas para ir além delas para a esfera da abstracáo shelleyana ou napoleónica por meio da qual mundos e populacóes sao manipulados como se fossem cartas em urna mesa O que resta do Oriente na prosa de Lamartine nao é nada substancial A sua realidade geopolítica foi encoberta com os pIa nos dele paraela os lugares que ele visitou as pessoas que encontrou as experiencias que teve sao reduzidos a uns quantos ecos das suas pom posas generalizacóes Os últimos traeos de particularidade foram apa gados no résumé politique com que se encerra Voyage en Orient Contrastando com o transcendente egoísmo quasenacional de dIartine devemos por Nerval e Flaubert Suas obras orientais sao urna parte substancial de sua oeuvre total muito maior que a Voyage imperialista de Lamartine na oeuvre dele Mas ambos como Lamar tine chegaram ao Oriente preparados para ele por urna volumosa lei tura dos clássicos de literatura moderna e de orientalismo académico sobre essa preparacáo Flaubert foi muito mais sincero que Nerval que em Les filles du feu As filhas do fogol disse dissimuladarnente que tudo o que ele sabia sobre o Oriente era urna remota lembranca da sua edu cacao escolar A evidencia da sua Voyage en Orient desmente clara mente isso embora demonstre um conhecimento das coisas orientais bem menos sistemático e disciplinado que o de Flaubert Mais impor tante contudo é o fato de que os dois escritores Nerval ern 18423 e Flaubert em 184950 deram as suas visitas ao Oriente umuso e estético maior que qualquer outro viajante do século XIX Nao deixou de ter conseqüéncia o fato de que para comecar ambos fossem ge niais e que ambos estivessem profundamente imbuídos dos aspectos da cultura européia que encorajavam urna visáo solidária ainda que pervertida do Oriente Nerval e Flaubert pertenciam a comunidade de pensamento e de sentimento descrita por Mario Praz em The romantic agony A agonia romántica para a qual a imagística de lugares exó ticos o cultivo dos gostos sadomasoquistas que Praz chama de ago agnia e urna fascínacáo pelo macabro pela idéia da Mulher Fatal 187 1 I 1 r pelo segredo e pelo ocultismo combinamse para possibilitar a obra literária do tipo produzido por Gautier que também era fascinado pelo Oriente Swinburne Baudelaire e Huysmans Para Nerval e Flau bert as figuras femininas como Cleópatra Salomé e lsís térn um signi ficado especial e nao foi de modo algum por acaso que na obra deles sobre o Oriente assim como em suas viagens para lá eles valorizsrarn e reforcaram grandemente os tipos femininos dessa espécie legendaria ricamente sugestiva e associativa Além das suas atitudes culturais gerais Nerval e Flaubert le varam para o Oriente urna mitologia pessoal cujas preocupacóes e até mesmo estruturas precisavam dele Os dais foram tocados pela renas cenca oriental tal como Quinet e outros a tinham definido eles bus cavam a revigoracáo proporcionada pelo fabulosamente antigo e pelo exótico Para cada um deles no entanto a peregrinacáo ao Oriente era urna busca de algo relativamente pessoal Flaubert procurando por urna terra natal como lean Bruneau a chamou nos locais de ori gem das religióes visees e Antigüidade c1ássica Nerval procurando ou melhor seguindo os traeos dos seus sonhos e sentimentos pes soais como antes dele o Yorick de Sterne Para os dais escritores por tanto o Oriente era um lugar de déjá VU e para ambos com a eco nomia artística típica de todas as grandes imaginacóes estéticas era um lugar para o qual se voltava com freqüéncia depois que a verdadeira viagem acabara Para nenhum deles o Oriente foi esgotado pelos usos que lhe deram mesmo que haja freqüentemente urna qualidade de de sapontamento desencanto e desrnístiíicacáo em seus escritos orientais A suprema importancia de Nerval e Flaubert para um estudo da mente orientalista no século XIX como este é que eles produziram urna obra que está ligada ao tipo de orientalismo que estivemos discutindo e vive acusta dele e contudo continua independente em relacáo a ele Antes de mais nada está a questáo do alcance da obra deles Nerval criou o seu Voyage en Orient como urna coletánea de notas esboces estórias e fragmentos de viagem a sua preocupacáo com o Oriente pode também ser encontrada em Les chiméres As quimeras em suas cartas em parte da sua ficcáo e outros escritos em prosa Os escritos de Flaubert antes e depois da sua viagem estáo impregnados de Oriente Este aparece nos Carnets de voyage Cademos de viagern e na primeira versáo de La tentation de Saint Antoine A tentacáo de santo Antonio e nas duas versees posteriores bem como em Hérodias Salammbó e nas numerosas notas de leitura roteiros e estórias inacabadas que ain da estáo anossa disposicáo as quais foram estudadas com muita inte ligencia por Bruneau Há ecos de orientalismo nos outros romances importantes de Flaubert também Em tudo tanto Flaubert como Ner 188 I I val elaboravam continuamente o seu material oriental e o absorviam variadamente nas estruturas especiais dos seus projetos estéticos pes soais Mas isso nao quer dizer que o Oriente é incidental na obra deles Em vez disso ao contrário de escritores como Lane de quem ambos 1 prestavam desavergonhadamente Chateaubriand Lamartine Re nan Sacy o Oriente deles nao era tanto apreendido apropriado reduzido ou codificado quanto vivido explorado estética e imaginati vamente como um lugar espacoso repleto de possibilidade O que inte ressava para eles era a estrutura da própria obra como um fato inde pendente estético e pessoal e nao os modos pelos quaís se quisessem poderiam efetivamente dominar ou assentar graficamente o Oriente Os seus egos nunca absorveram o Oriente nem o identificaram comple tamente com o conhecimento documentário ou textual em resumo com o orientalismo oficial Por um lado portanto o alcance da obra oriental dos dais vai além dos limites impostos pelo orientalismo ortodoxo Por outro lado o tema dessa obra é mais que oriental ou orientalístico apesar de eles fazerem a sua própria orientalizacáo do Oriente ela joga consciente mente com as limitacóes e desafios que lhes sáo postos pelo Oriente e pelo conhecimento sobre o mesmo Nerval por exemplo acha que deve infundir vitalidade ao que ve visto que diz ele Leciel et la mer sont toujours la le ciel dOrient la mer dIonie se don nent chaque matin le saint baiser damour mais la terre est morte morte sous la main de lhomme et les dieux se sont envolés O céu e o mar ainda estáo lá o céu do Oriente e o mar da Jonia deose todas as manhás o santo beijo de amor mas a terra está morta morta pela máo do homem e os deuses voaram para longel Se é que o Oriente deve viver agora que os deuses deixaram tem de ser mediante os férteis esforcos de Nerva Em Voyage en Orient a cons ciencia narrativa é urnavoz constantemente enérgica que passa através dos labirintos da existencia oriental armada diznos Nerval com duas palavras árabes tayeb que exprime consentimento e mafisch que indica rejeicáo Essas duas palavras permitem que ele confronte seletivamente o antagónico mundo oriental que o confronte e extraia dele os seus principios secretos Ele está predisposto a reconhecer que o Oriente é o pays des réves et de lillusion que como os véus que ele ve por toda a parte no Cairo oculta um profundo e rico fundo de sexuali dade feminina Nerval repete a experiencia de Lane de descobrir a ne cessidade do casamento em urna sociedade islámica mas ao contrário de Lane ele se liga a urna mulher A sua ligacáo com Zaynab é mais que socialmente obrigatória 189 11 1 191 incesto e ambos nos remetem ao requintado mundo oriental de Nerval de sonhos incertos e fluidos que se multiplicam para além da reso IU9ao da definicáo da materialidade Quando a viagem se completa e Nerval a Malta de volta ao continente europeu ele se dá conta de que esta agora no pays du froid et des orages et déjá lOrient nest plus pour moi quun de ces réves du matin auxquels viennent bientñt ennuis du jour 100 Sua Voyage incorpora numerosas pá copiadas do Modern egyptians de Lane mas até mesmo a lúcida confianca que elas demonstram parece díssolverse no elemento caver noso em infinita decomposícáo que é o Oriente de Nerval Seu carnet para o Voyage nos dá creio dois textos perfeitos para como o Oriente dele nao tem nada a ver com qualquer corsa que se pareca com urna concepcáo orientalista do Oriente apesar de o seu trabalho depender em certa medida do orientalismo Pri rneiro seus apetites se esforcam por acumular indiscriminadamente experiencia e memória le sens le besoin de massimiler toute la na ture femmes étrangéres Souvenirs dy avoir vécu Sinto a necessí dade de toda a natureza mulheres estrangeiras Lembraneas de ter vivido ali O segundo elabora sobre o primeiro Les réves et l LEurope séléve Le réve se réalise Je 1avais fuie je l avais perdue Vaisseau dOrient Os sonhos e a loucura O desejo do Oriente A Europa se ergue O sonho se rea hza Ela Eu fugí dela eu a perdí Vaso do Oriente O Oriente Simboliza a busca de sonho de Nerval e a mulher que está no centro dessa busca como desejo e como perda Vaisseau dOrient vaso do Oriente é urna enigmática ou arnulher como o vaso que carrega o Oriente ou possivelmente ao vaso do próprio Nerval o seu voyage em prosa Qualquer que seja o caso o Oriente é identificado a urna ausencia comernorativa De que outro modo podemos explicar na Voyage obra de urna mente tao original e individual o uso preguicoso de longos trechos de Lane incorporados sem sequer um murmúrio por Nerval como se fos sem as descricoes dele do Oriente E como se tendo fracassado tanto na sua busca de urna realidade oriental estável como na sua tentativa de dar urna ordem sistemática asua reapresentacáo do Oriente Nerval estivesse usando a autoridade emprestada de um texto orientalista ca Depois da viagern aterra continuou morta e apesar das corporificacóss brilhantemente torneadas mas fragmentadas da Vo yage o corpo dele nao estava menos drogado e desgastado que antes Portanto o Oriente parecia pertencer retrospectivamente a um do mínio negativo no qual as narrativas fracassadas as crónicas desor denadas meras de textos eruditos eram o único vaso pos I Il 190 Nerval investe a si mesmo no Oriente produzindo nao tanto urna nar rativa novelística quanto urna íntencáo perpétua nunca plenamente realizada de fundir a mente aacao física Essa antinarrativa essa paraperegrinacáo é urna guinada na direcáo contrária a finalidade discursiva do tipo concebido por escritores sobre o Oriente anteriores Ligado física e solidariamente ao Oriente Nerval vaga informal mente por entre as suas riquezas e a sua atmosfera cultural e princi palmente feminina localizando no Egito especialmente aquele ma terno centro ao mesmo tempo misterioso e acessível do qual deriva toda a sabedoria Suas impressóes sonhos e memórias alternarn com trechos de narrativa enfeitada e maneirista feita em estilo oriental as duras realidades da viagem no Egito no Líbano na Turquia rnesclamse aos designios de urna deliberada digressáo como se Nerval estivesse repetindo o ltinéraire de Chateaubriand usando urna rota subterránea menos imperial e óbvia Michel Butor diz isso com muita beleza Até mesmo os dois episódios com trama O canto do califa Ha kim e O conto da rainha da manhá que supostamente transmitem um discurso narrativo sólido durável parecem empurrar Nerval para longe da finalidade sobreterránea levandoo mais e mais para um assombroso mundo interior de paradoxo e de sonho Os dois contos tratam da identidade múltipla o tema explícito de um deles é o Devo unirme a urna jovem inocente que é deste sagrado solo nossa primeiraterranatal devo banharme nas fontes vivificantes da humani dade das quais brotarama poesia e a dos nossos pais Gastarla de levar a vida como um romance e ponhome de boa vontade na situa ftao de um desses heróis ativos e resolutos que desejam custe o que cus tar criaruro dramaem torno deles um nó de complexidade acao em urnapalavra97 Aos olhos de Nerval a viagem de Chateaubriandé urnapassagem pela superfície enquantc a dele é calculada utilizando centros anexos vestí bulos de elipses que englobam os centros principais isso permite que ele ponha em evidencia por paralaxe todas as dimensóes da armadilha que se oculta nos centros normais Vagando pelas ruas e pelos arredores do Cairo de 8eirute ou de Constantinopla Nerval está sempre aespera de qualquercoisa que lhe permitasentir a caverna que se estende por baixo de Roma Atenas e Jerusalém as principais cidades do Itinéraire de Chateaubriandl Assim como as trescidades de Chateaubriandestáo em comunicacáo Roma com seus imperadorese papas reunindo a heranca o testa mento de Atenas e de Jerusalém as cavernas de Nerval envol veramseem um intercambio99 sível Nerval pelo menos nao tentou salvar o seu próprio projeto en tregandose com todo o entusiasmo aos desígnios franceses no Oriente embora lancasse máo do orientalismo para basear algumas das suas afirrnacóes Em comparacáo com a visáo negativa de Nerval de um Oriente esvaziado a de Flaubert é eminentemente corporal Suas cartas e notas de viagem revelam um homem que relata escrupulosamente os eventos as pessoas e os cenários deliciandose com as suas bizarreries sem tentar nunca reduzir as incongruencias que tem diante de si No que ele escreve ou talvez porque ele escreve a recompensa está naquilo que atrai a atencáo que se traduz em frases cuidadosamente elaboradas por exemplo As inscricóes e a titica de passarinho sao as duas únicas coisas no Egito que dáo alguma indicacáo de vida 102 Os gostos dele tendem para o perverso cuja forma é muitas vezes urna cornbinacáo de extrema animalidade até mesmo de grotesca obscenidade com um re finamento extremado e algumas vezes intelectual Mas esse tipo parti cular de perversidade nao era urna coisa meramente observada era também estudada e veio a representar um elemento essencial da ficcáo de Flaubert As oposicóes familiares ou ambivalencias tal como as chamou Harry Levin que assolam os escritos de Flaubert carne ver sus mente Salomé versus sao 10800 Salarnmbó versus santo Antonio 103 sao poderosamente validadas pelo que ele viu no Oriente por aquilo que dada a sua ínstrucáo eclética ele podia ver neste da par ceria entre o conhecimento e a grosseria carnal No Alto Egito ficou encantado corn a arte do antigo Egito com a sua preciosidade e deli berada lubricidade imagens tao indecentes já existiam há tanto tem po na Antigüidade Em que medida o Oriente muito rnais respondía questóes do que colocava fica evidente na seguinte passagern Vecé la mée de Flaubert me pergunta se o Oriente é o que eu imaginei que seria Sim é e mais que isso ele se estende para muito além da estreita idéia que eu fazia dele Encontrei claramente delineado tudo o que estava nebuloso em minha mente Os fatos tomaram o lugar das suposicóes de maneira tao excelente que muitas vezes é como se eu estivesse repentinamente caindo sobrevelhossonhosesquecidosJ A obra de Flaubert é tao complexa e tao vasta que torna qualquer simples relato dos seus escritos orientais muito superficial e desespera doramente incompleto Mesmo assim no contexto criado por outros escritores sobre o Oriente um certo número de caracteristicas mais importantes do orientalismo de Flaubert pode ser adequadamente des crito Fazendo os descontos devidos a diíerenca entre os escritos franca mente pessoais cartas notas de viagern anotacées no diário e os es 192 I critos formalmente estéticos romances e contos podemos ainda observar que a perspectiva oriental de Flaubert está enraizada em uma busca dirigida para o Leste e para o Sul por urna alternativa visio nária que significaurna cor deslumbrante em comparacáo com a tonalidade acin da paisagem provinciana francesa Significava um espetáculo excitante em vezdeurna rotina enfadonha o perenemente misterioso no lugar dofamiliar demaíst Quando fato o visitou contudo esse Oriente o impressionou com a sua decrepituds e Como qualquer outro orientalismo por tanto o de Flaubert e revitalizador ele deve trazer o Oriente a vida a si mesmo e aos seus leitores e é sua experiencia do Orien te em lívros e no local que vai cumprir essa tarefa Conseqüente seus sobre o Oriente eram laboriosas reconstrucñes eruditas Cartago em Salammb6 e os produtos da imagi nacao febril de santo Antonio sao auténticos frutos das amplas leituras de Flaubert das fontes principalmente ocidentais da religiáo das ar tes da guerra dos rituais e das sociedades orientais O que a obra estética conserva além das marcas das vorazes lei e de Flaubert sao memórias das viagens orientais A des idées refues Biblioteca das idéias feitas diz que 0nentalIsta é um homern que viajou muito 106 só que ao con trário da maioria de tais viajantes Flaubert deu as suas viagens um emprego engenhoso A maior parte das suas experiencias é transmi tida em forma teatral Ele nao está interessado apenas no conteúdo daquilo ve mas como Renan em como ele ve a maneira pela qual o Onente algumas vezes de maneira horrível mas sempre atraen te parece apresentarse a ele O próprio Flaubert é o melhor público do Oriente Kasr elAini Bem mantido Obra de Ctot Bey aindase ve a mao dele Belos casos de sífilis na ala dos mamelucos de Abbas muitos a temo no traseiro A um sinal do médico todos ficaram de pé ncama abaixaram as calcasera comoum exercício militar e abriram o anus com os dedos para mostrar os cancros Enormes infundibulos um deles tinha pelos dentro do anus O pénis de um velho totalmente sempele o fedor fezme recuar Um raquítico máos curvadas para trás unhas longas comogarras podíase ver a estrutura óssea do seu tronco claramente comoum esqueleto o resto do corpo também era fantas magro e a cabeca estava rodeada por urna lepra esbran quícada Sala de disseccáo Na mesaum cadáver árabe todo aberto belos cabelosnegros 107 193 Os detalhes lúridos dessa cena estáo relacionados a muitas cenas nos romances de Flaubert ern que a doenca nos é apresentada como se esti véssemos em um teatro clínico O fascínio dele com a disseccáo e com a beleza lembra por exemplo a cena final de Salammbó que culmina corn a morte cerimonial de Mato Nessas cenas os sentimentos de re pulsa ou de simpatia sao inteiramente reprimidos o que interessa é a descricáo correta dos detalhes exatos Os momentos mais célebres da viagem oriental de Flaubert tém a ver com Kuchuk Hanem uma famosa dancarina e cortesá egipcia que ele conheceu em Wadi Halfa Ele lera em Lane sobre as almehs e os khawals mocas e rapazes dancarinos respectivamente mas foi a ima ginacáo dele e nao a de Lane que pode imediatamente apreender e apreciar o paradoxo quase metafísico da profissáo da almeh e do sen tido do seu nome Em Victol Vitória Joseph Conrad repetiria a observacáo de Flaubert fazendo a sua heroína musicista Alma irresistivelmente atraente e perigosa para Axel Heyst Em árabe ale mah significa mulher instruída Este era o nome dado na conservadora sociedade egipcia do século XVIII as mulheres que eram perfeitas reci tadoras de poesia Por volta de meados do século XIX era uma espécie de nome de guilda para as dancarinas que fossem tarnbérn prostitutas e Kuchuk Hanem era uma delas antes de dormir com ela Flaubert assistiu a sua danca Labeille Ela com certeza era o protótipo de várias personagens femininas de seus romances com sua instruida sensualidade delicadeza e segundo Flaubert estúpida vulgaridade O que lhe agradou especialmente na dancarina era que ela parecia nao lhe fazer nenhuma exigencia ao mesmo tempo que o odor nau seabundo dos percevejos da cama dela se misturavam de modo encan tador com o perfume de sua pele banhada em sándalo Depois da viagem ele escrevera tranqüilizando Louise Colet que a mulher oriental nao passa de uma máquina nao distingue entre um homem e outro A sexualidade bruta e irredutível de Kuchuk permitia que a mente de Flaubert vagasse em ruminacóes cujo obsessivo poder sobre ele nos lembra um pouco Deslauriers e Frédéric Moreau no final de Leducation sentimentale Quanto a mim mat fecho os olhos Olhando para aqueta bela criatura adormecida ela roncava com a cabeca encostada em meu braco eu havia enfiado meu dedo indicador debaixo do colar dela minha noite foi um tongo e infinitamente intenso devaneio foi por isso que eu fiquei Pensavaem minhasnoites nos bordéisde Paris toda urna série de velhas memórias voltou e pensavanela na sua danca na sua voz quando cantava cancoesque para mim eram sem sentido e até mesmo sem palavras distinguíveis 108 194 d A mulher oriental é urna ocasiáo e urna oportunidade para as rneditacóes de Flaubert ele fica extasiado com a autosuficiencia dela a sua indiferenca emocional e também por aquilo que deitada ao lado dele ela o faz pensar Menos urna mulher que urna amostra de femini lidade impressionante mas inexpressiva Kuchuk é o protótipo da Sa lammbó e da Salomé de Flaubert e de todas as versees da tentacáo carnal feminina a que santo Antonio é submetido Como a rainha de Sabá que também dancava A abelha ela podia dizer se pudesse falar Je ne suis pas une femme je suis un monde Nao sou uma mulher sou um mundo Vista de outro angulo Kuchuk é um sím bolo perturbador da fecundidade particularmente oriental em sua se xualidade luxuriosa e aparentemente ilimitada A casa dela na parte superior do Nilo ocupa uma posicáo estruturalmente semelhante ao lugar onde está oculto em Salammbá o véu de Tanit a deusa des crita como OmnifécondeP Mas como Tanit Salomé e a própria Sa lammbó Kuchuk estava condenada a permanecer estéril corruptora sern prole Em que medida ela e o mundo oriental em que vivia vieram a intensificar em Flaubert o seu próprio sentido de esterilidade é indi cado pelo seguinte Ternos urna grandeorquestra uma ricapalheta urna variedade derecur sos Conhecemos muito mais truques e artimanhas provavelmente do queforamjamaisconhecidos antes Nao o quenosfaz faltaé o princípio intrínseco a alma da coisa a própria idéia do tema Tomamos nota fazemos viagens vazio vazio Tornamonos estudiosos arqueólogos historiadores doutores sarraíacais pessoas de gosto Que bem nos faz isso tudo Onde está o coracáo a verve a seiva Onde comecar Para onde ir Somos bons em chupar fazemosum monte de brincadeiras de língua bolinamonos durante horas mas a coisa real Ejacular conce bera crianca 1Jl Perpassando toda a experiencia oriental de Flaubert excitante ou decepcionante está urna associacáo quase uniforme entre o Oriente e o sexo Fazendo essa associacáo Flaubert nao foi nem o prirneiro nem o mais exagerado dos exernplos de um motivo notavelrnente persis tente nas atitudes ocidentais para com o Oriente E de fato o motivo é singularmente imutável embora o genio de Flaubert possa ter feito mais que qualquer outro para lhe conferir dignidade artística Por que razáo o Oriente parece ainda sugerir nao só fecundidade mas pro messa e ameaca sexual sensualidade incansável desejo ilimitado profundas energías generativas é urna coisa sobre a qual poderíamos especular infelizmente porérn essa nao é a província deste meu es tudo apesar da sua freqüentemente observada Mesmo as sim ternos de reconhecer a sua importancia como algo que suscita res 195 postas complexas e algumas vezes até mesmo urna assustadora deseo berta de si mesmo nos orientalistas e Flaubert é um interessante exemplo disso O Oriente remeteuo aos seus próprios recursos humanos e téc nicos Nao reagiu assim como Kuchuk também nao asua presenca Frente avida oriental que seguia adiante do mesmo modo que Lane antes dele Flaubert senliu a própria impotencia distante e talvez a sua falta de vontade autoinduzida de penetrar e tornarse parte do que via Este é claro era o perene problema de Flaubert já existia antes que ele fosse para o Leste e permaneceu após a visita Flaubert admitia a dificuldade cujo antidoto estava em enfatizar em seu trabalho espe cialmente em um trabalho oriental como La tentation de Saint Antoine aforma de apresentacáo enciclopédica do material acusta do envolvi mento humano com a vida De fato santo Antonio nao é mais que um hornero paraquema realidadeé urna série de livros espetáculos e ceri mónias que desfilam tentadoramente e a distancia perante os seus olhos Toda a imensa cultura de Flaubert está estruturada como observou Foucault significativamente a maneira de urna biblioteca teatral fantástica que passa diante do olhar do anacoreta 112 residual mente a parada traz em sua forma as lembrancas de Flaubert de Kasr elAini o exercício do exército de sifilíticos e a danca de Kuchuk Mais pertinente contudo é que santo Antonio é uro celibatário para quem as tentacóes sao primariamente sexuais Após enfrentar todos os tipos de encantos perigosos éIhe concedida finalmente urna visáo dos processos biológicos da vida ele fica delirante por ser capaz de ver a vida nascendo urna cena para a qual Flaubert considerouse incom petente durante a sua estadia no Oriente Mas como Antonio está deli rante supóese que a cena deva ser lida ironicamente Aquilo que é concedido a ele no fim o desejo de tornarse matéria tomarse vida é quando muito um desejo se realizável ou atingível nao podemos saber Apesar da energia da sua inteligencia e do seu enorme poder de absorcáo intelectual Flaubert sentiu no Oriente que primeiro quan to mais vocé se concentra nele o detalhe menos apreende o todo e 113 1 lh depois que as pecas se encaixam por SI mesmas sso na me or das hipó teses produz urna forma espetacular mas permanece fechado aplena participacáo do ocidental Em um nivel isso era um predica mento pessoal para Flaubert e ele criou meios alguns dos quais já dis cutimos para enfrentar o problema Em um nivel mais geral era urna dificuldade epistemológica para a qual é claro existia a disciplina do orientalismo Em um momento do seu passeio oriental ele considerou aquilo a que o desafio epistemológico poderia dar origem Sem o que 196 ele chamava de espirito e estilo a mente poderia perderse na arqueo logia ele se referia a urna espécie de antiquarianismo arregimentado mediante o qual o exótico e o estranho podiam ser formulados em lé xicos códigos e finalmente chavóes do tipo que ele poria em ridículo no Díctionnaire des idées recues 50b a influencia dessa atitude o mun do seria regulado como um colégio Os professores seráo a Iei Todo o mundo estará de uniforme 114 Em comparacáo com essa disciplina imposta ele sem dúvida sentia que a sua maneira de tratar o material exótico especialmente o material oriental que ele experimentara e sobre o qual lera durante tantos anos era infinitamente preferive Nela pelo menos havia espaco para um sentido de imediatismo ima ginacáo e talento enquanto das fileiras dos tomos arqueológicos tudo o que nao fosse cultura havia sido espremido E mais que a maioria dos romancistas Flaubert estava familiarizado com a cultura organi zada com os seus produtos e resultados esses produtos estáo clara mente evidentes nos inforiúnios de Bouvard e de Pécuchet mas teriam sido do mesmo modo comicamente aparentes nos campos como o orientalismo cujas atitudes textuais pertencem ao mundo das idées recues Portanto podemos conceber o mundo com verve e estilo ou copiálo incansavelmente de acordo com regras académicas impessoais de procedimento Em ambos os casos em relacáo ao Oriente havia o reconhecimento de que este é um mundo a parte separado das liga crOes sentimentos e valores do nosso mundo no Ocidente Em todos os seus romances Flaubert associa o Oriente ao esca pismo da fantasia sexual Emma Bovary e Frédéric Moreau anseiam por aquilo que nao tém em suas monótonas ou atormentadas vidas burguesas e aquilo que eles se dáo conta de que querem vemIhes fa cilmente em seus devaneios envolto em chavóes orientais haréns princesas príncipes escravos véus rapazes e mocas que dancam sor vetes ungüentos e coisas do genero O repertório é familiar nao tanto por lembrarnos das viagens do próprio Flaubert pelo Oriente e pelas suas obsessóes com o mesmo quanto porque mais urna vez a asso ciacáo entre o Oriente e a liberdade sexual licenciosa é feita as claras Poderiamos muito bem reconhecer que para a Europa do século XIX com o seu crescente embourgeoisement o sexo fora institucionalizado de modo bastante considerável Por um lado nao existia nada parecido com sexo lívre e pelo outro o sexo em sociedade implicava urna trama de obrígacóes legais morais e até mesmo políticas e económicas de urna espécie detalhada e certamente ernbaracosa Do mesmo modo que as várias possessóes coloniais muito além do beneficio econó mico que proporcionavam as metrópoles européias eram úteis como lugares para onde mandar filhos desobedientes populacóes excedentes 197 de criminosos pobres e outros indesejáveis o Oriente era um lugar onde se podia procurar por experiencias sexuais impossíveis de se obter na Europa Praticamente nenhum dos escritores europeus que escre veram sobre oOrienteou foram paralá no periodo após 1800furtouse a essa busca Flaubert Nerval Dirty Dick Burton e Lane foram ape nas os mais notáveis No século XX podemos pensar em Gide Conrad Maugham e dúzias de outros O que eles com freqüéncia procuravam corretamente acho era um tipo diferente de sexualidade talvez mais libertina e menos culpada mas até mesmo essa busca se repetida por um número suficiente de pessoas podia tornarse e tornouse tao regular e uniforme quanto a própria cultura Com o tempo o sexo oriental passou a ser urna mercadoria tao comum quanto qualquer outra das que estáoadisposicáo na cultura de massas com o resultado de que os leitores e os escritores podiam obtéla se quisessem sem terem necessariamente de ir para o Oriente Era certamente verdade que por volta de meados do século XIX a Franca nao menos que a Inglaterra e o resto da Europa possuía urna fiorescente indústria do conhecimento do tipo que Flaubert temia Grandes números de textos estavam sendo produzidos e mais impor tante as agencias e instituicóes para a disseminacáo e propagacáo des ses textos encontravamse por toda a parte Como observaram os histo riadores da ciencia e do conhecimento a organizacáo dos campos cien tíficos e eruditos que ocorreu durante o século XIX era rigorosa e abran gente A pesquisa tornouse uma atividade regular havia um inter cambio regulado de informacóes e um consenso sobre quais eram os problemas e sobre os paradigmas apropriados para a pesquisa e os resultados desta O aparato dedicado aos estudos orientais era parte da cena e esta era urna das coisas que Flaubert tinha com certeza em mente quando proclamou que todo mundo estará de uniforme Um orientalista nao era mais um talentoso entusiasta amador ou caso fos se teria problemas em ser levado a sério como estudioso Ser um orien talista queria dizer ter instrucáo universitária em estudos orientais por volta de 1850 todas as principais universidades da Europa tinham um curriculo plenamente desenvolvido em uma ou outra das disciplinas orientalistas queria dizer viajar por meio de subvencóes talvez pro venientes de uma das sociedades asiáticas ou de um fundo de explo racáo geográfica ou de um subsidio governamental queria dizer pu blicacáo em forma autorizada talvez com o selo de uma sociedade cul ta ou de um fundo de traducóes orientais E tanto para a guilda dos estudiosos orientalistas quanto para o público em geral a autorizacáo uniforme como a que revestia a obra de erudicáo orientalista e nao o testemunho pessoal ou o impressionismo subjetivo era a Ciencia 198 Sornada a opressiva regulacáo das questóes orientais estava a acelerada atencáo dada pelas Potencias como eram chamados os im périos europeus ao Oriente e particularmente ao Levante Desde o Tratado de Chanak de 1806 entre o Império Otomano e a GráBre tanha que a Questáo Oriental pairava com cada vez mais proeminéncia sobre os horizontes do Mediterráneo europeu Os interesses británicos no Leste eram mais substanciais que os da Franca mas nao devemos esquecer os movimentos da Rússia em direcáo ao Oriente Samarcanda e Bucara foram tomadas em 1868 a ferrovia Transcaspiana estava sen do sistematicamente estendida nem os da Alemanha e os da Áustria Hungria As intervencóes norteafricanas da Franca contudo nao eram os únicos componentes da sua política islámica Em 1860 du rante os choques entre os maronitas e os drusos no Líbano previstos por Lamartine e por Nerva a Franca apoiou os cristáos e a Inglaterra os drusos Isso porque muito próxima do centro de toda a política européia no Oriente estava a questáo das minorias cujos interesses as Potencias afirmavam proteger e representar Judeus ortodoxos gre gos e russos drusos circassianos armenios curdos e as várias pe quenas seitas cristás todos foram estudados todos foram objeto de planos e base de projetos por parte das Potencias européias improvi sando e concebendo as suas políticas orientais Menciono essas questóes apenas como um meio de manter vívido o sentimento de camada sobre camada de interesses erudicáo oficial e pressóes institucionais que cobriam o Oriente como um tema de es tudos e como um território durante a última metade do século XIX Mesmo o mais inócuo dos livros de viagem e foram escritas literal mente centenas deles depois de meados do século 1l6 contribuía para a densidade da percepcáo pública do Oriente uma linha divisória for temente marcada separava as delicias as várias proezas e o deslumbre dos testemunhos dos peregrinos individuais no Oriente entre eles al guns viajantes americanos como Mark Twain e Herman Melvillel17 dos relatos autorizados de viajantes eruditos missionários funcionários governamentais e outras testemunhas especializadas Essa linha divi sória existia claramente na mente de Flaubert do mesmo modo que deve ter existido para qualquer consciencia individual que nao tivesse urna perspectiva ingenua sobre o Oriente como um terreno para a ex ploracáo literária Os escritores ingleses como um todo tinham um sentido mais pronunciado e duro que os franceses sobre o que podiam implicar as peregrinacóes orientais Nesse sentido a india era urna constante pre ciosamente real e portanto todo o território entre o Mediterráneo e ela adquiriu urna importancia correspondente Escritores románticos 199 I I como Byron e Scott conseqüentemente tinham urna visáo política do Oriente Próximo e urna consciencia muito combativa de como deve riam ser conduzidas as relacóes entre o Oriente e a Europa O sentido histórico de Scott em O talismíi e em Conde Roberto de Paris permitiu que ele ambientasse esses romances na Palestina dos cruzados e na Bi záncio do século XI respectivamente sem coro isso diminuir a sua sagaz apreciacáo política do modo como as potencias agem no estran geiro O fracasso do Tancredo de Disraeli pode ser atribuido ao co nhecimento talvez demasiadamente desenvolvido que o autor tinha da política oriental e da rede de interesses do Establishment británico o simples desejo de Tancredo de ir para Jerusalém nao tarda em en volver Disraeli em descricóes ridiculamente complexas de como um chefe tribal libanes tenta manipular drusos muculmanos judeus e eu ropeus para a sua própria vantagem política No final do romance a demanda oriental de Tancredo mais ou menos desapareceu pois nao há nada na visáo material de Disraeli das realidades orientais que possa sustentar os impulsos um tanto quanto caprichosos de um peregrino Até mesmo George Eliot que nunca foi pessoalmente ao Oriente pode sustentar o equivalente judeu de urna peregrinacáo oriental em Daniel Deronda 1876 sem perderse nas complexidades das realidades britá nicasnamedidaeroqueestasafetavamdecisivamente o projeto oriental Assirn sempre que o tema oriental nao fosse principalmente urna questáo de estilo para o escritor ingles como em Rubáiyát de Fitz Gerald ou nasAdventures 01Hajji Baba in Ispahan de Morier forcava este a enfrentar uro conjunto de imponentes resistencias asua fantasía individual Nao há equivalentes ingleses as obras orientais de Chateau briand Lamartine Nerval e Flaubert assim como os primeiros equi valentes orientalistas de Lane Sacy e Renan tinham multo mais consciencia que ele de estarem criandoaquilo sobre o que escreviam A forma de obras como Eotehn de Kinglake 1844 e a Personal narra tive 01 a pilgrimage to alMadinab and Meccah de Burton 18556 é rigidamente cronológica e comportadamente linear como se os autores estivessem descreyendo urna viagem de compras a uro bazaar oriental e nao urna aventura A obra imerecidamente famosa e popular de Kinglake é um patético catálogo de pomposos etnocentrismos e cansa tivos relatos insossos do Oriente de um ingles o seu propósito osten sivo no livro é provar que a viagem para o Oriente é importante para moldar o seu caráter isto é a sua própria identidade mas na verdade isso se revela ser pouco mais que solidificar o seu antisemi tismo a sua xenofobia e o seu preconceito racial de múltiplas utilidades Ficamos sabendo por exemplo que as Mil e uma noites é urna obra viva e inventiva demais para ter sido criada por um umero 200 ti oriental que para quaisquer fins criativos é urnacoisa morta e seca urna múmia mental Embora Kinglake confesse alegremente nao ter qualquer conhecimento de línguas orientais essa ignorancia nao o im pede de fazer generalizacóes abrangentes sobre o Oriente a sua cul tura mentalidade e sociedade Muitas das atitudes que ele repete sao canónicas é claro mas é interessante observar como a experiencia de realmente ver o Oriente afetou pouco as opínióes dele Como muitos outros viajantes ele está mais interessado em refazer a si mesmo e ao Oriente morto e seco urna múmia mental que em ver o que há para ser visto Todos os seres que ele encontra meramente corroboram a sua crenca de que é melhor tratar com os orientais quando estáo íntimí dados e que melhor instrumento de intímidacáo que um ego ocidental soberano A caminho de Suez através do deserto sozinho ele se ufana da sua autosuficiencia e do seu poder Eu estava aqui neste deserto africano e eu mesmo e ninguém mais estava a cargo da minha vidau8 É para o fim relativamente inútil de permitir que Kinglake assuma controle de si mesrno que para ele o Oriente serve Como Lamartine antes dele Kinglake identificava confortavel mente a sua consciencia superior COm a da sua nacáo com a diferenea de que no caso do ingles o governo dele estava mais próximo de esta belecerse no resto do Oriente que a Franca por enquanto Flaubert viu isso com perfeita precísáo Pareceme quase impossível que ero pouco tempo a Inglaterra nao se torne senhora do Egito Ela já teroÁden cheia de tropas e cruzar o Suez tornará muito fácil para os casacas vermelhas chegarero ao Cairo uro belo día a notícia chegará a Franca duas Semanas depois e todos ficaráo muito surpresos Lembremse da minha previsáo ao primeiro sinal de problemas na Europa a Inglaterra tomará o Egito a Rússia tomará Constantinopla e nós em retaliacáo nos faremos massacrar nas montanhas da Slria Com toda a sua propalada individualidade as opinióes de Kinglake exprimem urna vontade pública e nacional a respeito do Oriente o ego dele é o instrumento de expressáo dessa vontade e nao de modo algum senhor dela Nao há evidencias em seus escritos de que ele tenha ten tado criar urna nova opiniáo sobre o Oriente nem os seus conheci mentos nem a sua personalidade eram adequados para isso e esta é a grande diferenca entre ele e Richard Burton Como viajante Burton era um verdadeiro aventureiro como estudioso podia fazer frente a qualquer orientalista académico na Europa como caráter ele tinha plena consciencia da necessidade de um combate entre ele e os profes sores uniformizados que dirigiam a Europa e o conhecimento europeu com um anonimato tao preciso e tanta firmeza científica Tudo o que Hurtan escreveu demonstra essa combatividade raramente com uro desprezo mais sincero que no prefácio asua traducáo das Mil e urna noites Ele parece ter tido um tipo especial de prazer infantil em de monstrar que sabia mais que qualquer estudioso profissional que es tava em possessáo de muito mais detalhes que eles e que podia ma nejaro material com mais sagacidade tato e leveza que eles Tal como eu disse antes a obra de Burton baseada em sua expe riencia pessoal ocupa urna posicáo intermédia entre os géneros orien talistas representados por um lado por Lane e pelo outro pelos es critores franceses que discuti Suas narrativas orientais sao estrutu radas como peregrinacóes e no caso de Land 01 Midian revisited A lerra de Madiá revisitada peregrinacóes pela segunda vez a lugares de importancia as vezes religiosa as vezes política e económica Ele está presente como o caráter principal dessas obras tanto como o centro de aventuras fantásticas e até de fantasias como os escritores franceses quanto como comentarista autorizado e ocidental distanciado sobre a sociedade e os costumes orientais como Lane Ele foi corretamente considerado o primeiro ern urnasérie de viajantes vitorianos ferozmente individualistas ao Oriente senda os outros Blunt e Doughty por Tho mas Assad que elabora sobre a distancia em tom e em inteligencia entre a obra de escritor de Burton e obras como Discoveries in the ruins 01 Nineveh and Babylon Descobertas nas ruinas de Nineve e Babi lonia 1851 de Austen Layard o célebre The crescent and the eross O crescente e a cruz 1844 de Eliot Warburton Visit to the monas teries 01 the Levant Visita aos monastérios do Levante 1849 de Ro bert Curzon e obra que ele nao menciona o moderadamente divertido Notes 01ajoumey from Comhill to Grand Cairo Notas de uma viagem de Cornhill ao Grande Cairo1845 de Thackeray Mas o legado de Burton é mais complexo que o individualismo precisamente porque nos seus encontros podemos encontrar um exemplo da luta entre o indi vidualismo e um forte sentido de identificacáo nacional com a Europa especificamente a Inglaterra como uma potencia imperial no Leste Com sensibilidade Assad observa que Burton era um imperialista apesar de todas as suas solidárias assocíacóes com os árabes mas mais relevante é que Hurtan pensava em si mesmo como um rebelde contra a autoridade donde a sua identificacáo com o Oriente como um lugar de liberdade em relacáo aautoridade moral vitoriana e como um agente potencial da autoridade no Leste É a maneira dessa coexisten cia entre dois papéis antagónicos para si mesmo que interessa O problema no fim reduzse ao problema do conhecimento do Oriente que é o motivo pelo qual uma consideracáo do orientalismo de 202 Burton deveria concluir a nossa descricáo das estroturas e reestruturas orientalistas na maior parte do século XIX Como um aventureiro via jante Burton víase compartilhando a vida do pavo em cujas terras vivía Com rnuito mais sucesso que T E Lawrence ele foi capaz de tornarse um oriental nao s6 falava impecavelmente a língua como foi capaz de penetrar no coracáo do isla com o disfarce de uro médico indiano muculmano realizando a peregrinacáo a Meca Mas a carac teristica mais extraordinária de Burton penso eu é que ele era sobre naturalmente instruído sobre a que ponto a vida humana em sociedade é regida por regras e códigos Toda sua vasta informacáo sobre o Orien te evidente em cada página que escreveu revela que ele sabia que o Oriente em geral e o isla em particular eram sistemas de inforrnacáo comportamento e crenca que ser um oriental ou um muculmano era saber certas coisas de certa maneira e que estas é claro estavam su jeitas a história a geografía e ao desenvolvimento da sociedade em circunstancias que lhes eram específicas Desse modo suas descrícóes de viagens ao Leste revelarnnos urna consciencia que estava ao par dessas coisas e era capaz de dirigir um curso narrativo através delas nenhum homem que nao soubesse árabe e conhecesse o isla como ele poderia ler ido tlio longe em tornarse realmente um peregrino a Meca e a Medina De maneira que aquilo que lemas na prosa dele é a história de urnaconsciencia que abre o pr6prio caminho através de urna cultura estranha gracas ao fato de ter conseguido absorver seus sistemas de in formacáo e de comportamento A liberdade de Burton estava em terse desvencilhado de suas origens européias o bastante para ser capaz de viver como uro oriental Cada cena do Pilgrimage o mostra superando os obstáculos que sao postos a ele um estrangeiro em urna terra es tranha Ele foí capaz de fazer isso porque ele tinha suficiente conheci mento de urnasociedade estrangeira para esse prop6sito Em nenhum dos que escreveram sobre o Oriente tanto quanto em Burton sentimos que as generalizacóes sobre o oriental por exemplo as páginas sobre a nocáo de Kayf para o árabe ou sobre como a educacáo é adequada para a mente oriental páginas que tém a clara intencáo de ser uma réplica das afirmacóes simplórias de Macaulay 121 resuitam de conhecimentos sobre o Oriente adquiridos vivendo nele vendoo realmente em primeira máo tentando verdadeiramente enxergar a vida oriental do ponto de vista de alguém imerso nela No entanto o que nunca está muito longe da superficie da prosa de Burton é outro sentido que ela irradia um sentido de afirmacáo e de domi nacáo sobre todas as complexidades da vida oriental Cada uma das notas de pé de página de Burton em Pilgrimage ou na sua traducáo dasMil e urna noites o mesmo vale para o seu Ensaio terminal sobre 203 esta traducáo 122 tinha a intencáo de ser um testemunho da sua vitória sobre o sistema ocasionalmente escandaloso de conhecimento oriental um sistema que ele dominara sozinho Pois mesmo na prosa de Bur ton o Oriente nunca nos é dado diretamente tudo sobre ele nos é apre sentado através das intervencoes cultas e muitas vezes lascivas de Bur ton que nos lembram repetidamente que ele assumira a da vida oriental para os fins da sua narrativa E é esse fato pois em Pilgrimage isso é um fato que eleva a consciencia de Burton a urna posicáo de supremacia sobre o Oriente Nessa posicáo a individuali dade dele íorcosamente vai ao encontro da voz do Império e a ela se funde voz que em si mesma é um sistema de regras códigos e hábitos epistemológicos concretos Assim quando Burton nos diz em Pilgri mage que o Egito é um tesouro a ser conquistado que ele é o premio mais tentador que o Leste encerra para a arnbicáo da mais até que o Chifre de Ouro 123 ternos de reconhecer de que maneira a voz do mestre altamente idiossincrático de conhecimento oriental in forma e nutre a voz da ambicáo européia de governar o Oriente A íusáo das duas vozes de Burton em urna pressagia a obra dos orientalistascumagentes imperiais como T E Lawrence Edward Henry Palmer D G Hogarth Gertrude Bell Ronald Storrs SI John Philbye William Gifford Palgrave para citar apenas uns quantos escri tores ingleses A dupla intencáo da obra de Burton é ao mesmo tempo usar a sua residencia oriental para a observacáo científica e nao sacri ficar facilmente a própria individualidade para esse fimo A segunda dessas intencóes levao inevitavelmente a submeterse aprimeira pois como ficará cada vez mais óbvio ele é um europeu para o qual um conhecimento da sociedade oriental como o que ele tem é possivel ape nas para um europeu com urna autoconsciéncia européia da sociedade como um conjunto de regras e de práticas Em outras palavras para ser um europeu no Oriente e com conhecimento de causa é preciso ver e conhecer o Oriente como um domínio governado pela Europa O orientalismo que é um sistema de conhecimento europeu ou ocidental sobre o Oriente tomase assim um sinónimo da dominacáo européia do Oriente e essa dorninacáo anula efetivamente até mesmo as excen tricidades do estilo pessoal de Burton Burton levou a afirmacáo do conhecimento pessoal auténtico solidário e humanístico do Oriente tao longe quanto possivel em sua luta contra o arquivo do conhecimento europeu oficial sobre o Oriente Na história das tentativas do século XfX de restaurar reestruturar e redimir todas as diversas províncias do conhecimento e da vida o orien talismo como todas as demais disciplinas eruditas romanticamente inspiradas teve urna importante particípacáo Pois nao só o campo 204 G AA evoluiu de um sistema de observacáo inspirada para aquilo que Flau bert chamou de um colégio regulado de erudicáo como também re duziu as personalidades dos seus individualistas até mesmo os mais te míveis como Burton ao papel de escribas imperiais De lugar o Oriente transformouse em domínio de um real governo erudito e de controle imperial potencial O papel dos primeiros orientalistas como Renan Sacye Lane foi o de fornecer asua própria obra e ao Oriente urna mise en scéne os orientalistas que vieram mais tarde eruditos ou imagina tivos assumiram um firme controle da cena Mais tarde ainda quando essa cena precisou ser administrada ficou claro que as ínstituicóes e os governos eram melhores no negócio da administracáo que os indivi duos Esse é o legado do orientalismo do século XIX do qual o orien talismo do século XX tornouse herdeiro Ternos agora de investigar tao exatamente quanto possível de que maneira o orientalismo do século XX inaugurado pelo longo processo da ocupacáo ocidental do Orien te a partir da década de 1880 controlou com éxito a liberdade e o conhecimento em resumo a maneira pela qual o orientalismo foi ple namente formalizado em urnacópia repetidamente refeita de si mesmo 205 s 3 O ORIENTALISMO HOlE On les apercevait tenant leurs idoles entre leurs bras comme de grands enfants paralytiques Podiase distinguilos segurando os seus ídolos nos bracos como grandes criancas paralíticas Gustave Flaubert La tentation de Saint Antoine A conquista da terra que quer dizer sobretudo tomáIa daqueJes que térn urna compleicáo diferente ou narizes ligeiramente mais achatados que os nossos nao é urna coisa bonita quando se olha demais para eIa O que a redime é apenas a idéia Urna idéia por trás dela nao um pretexto sentimental mas urna idéia e urna abnegada té na idéia urna coisa que podemos instalar diante da qual podemos curvarnos e para a qual podemos oferecer sacrificios Joseph Conrad Heart 01darkness ORIENTALISMO LATENTE E MANIFESTO No capítulo 1 tentei indicar o raio de pensamento e de acáo co berto pela palavra orientalismo usando como tipos privilegiados as experiencias británica e francesa com o Oriente Próximo com o isla e com os árabes Nessas experiencias pude discernir um relaciona mento íntimo talvez até extremamente íntimo e rico entre o Ocidente e o Oriente Elas eram parte de urna relacáo muito mais ampla euro péia ou ocidental com o Oriente mas o que mais parece ter influen ciado o orientalismo foi um sentido razoavelmente constante de con fronto do ocidental que tratava com o Oriente A nocáo de limites entre o Leste e o Oeste os graus variados de inferioridade e de forca proje 207 I tadas o alcance da obra realizada os tipos de características especí ficas atribuídas ao Oriente tudo isso demonstra urna divisáo decidida imaginativa e geográfica entre o Leste e o Oeste e vivida por muitos séculos No capitulo 2 o meu foco estreitouse bastante Eu estava inte ressado nas primeiras fases daquilo que chamo de orientalismo mo derno que comecou na última metade do século XVIII e nos primeiros anos do XIX Visto que eu nao queria que o meu estudo se tornasse urna crónica narrativa do desenvolvimento dos estudos orientais nas instituicóes modernas do orientalismo amedida que estas se iam for mando com base na história intelectual cultural e política até por volta de 1870 ou 1880 Embora nesse ponto o meu interesse pelo orienta lismo incluísse urna variedade decentemente ampla de estudíosos e de escritores imaginativos nao posso de maneira alguma afirmar ter apre sentado nada além de uro retrato das estruturas típicas e suas tenden cias ideológicas que constituíam o campo as associacóes deste coro outros campos e a obra de alguns de seus estudiosos mais influentes Minhas principais suposicóes operativas eram e ainda sao que os campos de erudicáo tanto quanto até mesmo as obras do mais excen trico dos artistas sao dirigidos e trabalhados pela sociedade pelas tra dicóes cuIturais pelas circunstancias materiais e pelas influencias esta bilizadoras como as escalas as bibliotecas e os governos alérn disso tanto os escritos eruditos como os imaginativos nunca sao livres mas sao limitados em sua imagística nas suas suposicóes e nas suas ínten cóes e finalmente que os avances de urna ciencia como o orienta lismo em sua forma académica sao academicamente menos verdadei ros do que gastaríamos que fossem Em resumo até aqui o meu estudo tem tentado descrever a economía que faz do orientalismo um tema de estudos coerente ao mesmo tempo que permite que como idéia con ceito ou imagem a palavra Oriente tenha urna considerável e interes sante ressonáncia cultural no Ocidente Sei bem que essas suposicóes nao deixam de ter um lado polé mico A maior parte de nós presume de maneira geral que a cultura e a erudicáo avancam ficam melhores sentimos a medida que atempa passa que mais informacñes se acumulam que os métodos sao refi nados e que geracóes ulteriores de estudiosos aperfeicoam a obra dos seus predecessores Além disso ós sustentamos urna mitología da criasaQ na qual se acredita que o genio artístico um talento original ou um poderoso intelecto podem saltar para além dos confins do seu próprio tempo e lugar para apresentarem urna nova obra ao mundo Seria inútil negar que idéias como essas tém alguma verdade Mesmo assim as possibilidades de trabalho presentes na cultura para urna mente grande e origínal nunca sao ilimitadas do mesmo modo que 208 s também é verdade que um grande talento tem um respeíto muito salu tar por aquilo que os outros fizeram antes dele e por aquilo que o campo já contém A obra dos predecessores a vida institucional de um campo erudito a natureza coletiva de qualquer empreendimento cultural tuda isso para nao falar das circunstancias económicas e sociais tende a diminuir os efeitos da producáo do estudioso individual Um campo como o orientalismo tem urna identidade cumulativa e corporativa particularmente forte dadas as suas associacóes com a cultura tradi cional os clássícos a Bíblía a filología com as instituicóes públicas governos companhias comerciais sociedades geográficas universida des e com os escritos genericarnente determinados lívros de víagem de exploracáo fantasia descricáo exótica Para o orientalismo isso resultou em urna espécíede consenso certas coisas certos tipos de de claracáo certos tipos de trabalho pareceram corretos para o orienta lista Este erígiu sua obra e sua pesquisa com base neles e por sua vez essa obra e essa pesquisa pressionavam fortemente os novos estudiosos e escritores O orientalismo pode desse modo ser visto como um modo de escrita visáo e estudo regularizado ou orientalizado dominado por imperativos perspectivas e preconceitos ideológicos ostensiva mente adequados ao Oriente O Oriente é ensinado pesquisado admi nistrado e pronunciado ern certos modos discretos O Oriente que aparece no orientalismo portanto é um sistema de representacóes enquadrado por todo um conjunto de forcas que in troduziram o Oriente na cultura ocidental na consciencia ocidental e mais tarde no império ocidenta1 Se esta definicáo do orientalismo pa rece mais política que outra coisa isso acontece apenas porque acredito que o próprio oríentalismo foi um produto de certas forcas e atividades políticas O orientalismo é urna escola de interpretacáo cujo material por acaso é o Oriente suas cívilizacóes seus pavos e suas localidades Suas descobertas objetivas obra de inúmeros estudíosos devotados que editaram textos e os traduziram codificaram gramáticas escre veram dicionários reconstruíram épocas martas produziram cultura positivistamente verificável sao e sempre foram condicionadas pelo fato de que as suas verdades como qualquer verdade transmítída pela Iinguagem estáo corporificadas na linguagem e o que é a verdade da linguagem disse Nietzsche urna vez senáo um exército móvel de metáforas metonímias e antropomorfismos em resumo uma soma de relacóes humanas que foram realcadas transpos tas e embelezadas poética e retoricamente e que após muito uso pare cem firmes canónicas e obrigatórias para um povo as verdades sao ilu sóes sobre as quais já esquecemos que isso é o que elas sao 209 1 Talvez urna opiniáo como a de Nietzsche parecanos niilista demais mas ela pelo menos chamará a atencáo para o fato de que enquanto existiu na consciencia do Ocidente o Oriente era urna palavra que acrescentou a esta uro largo campo de sentidos associacóes e conota Ces e que estas nao se referiam necessariamente ao Oriente real mas ao campo que rodeava a palavra Assim o orientalismo nao é só urna doutrina positiva sobre o Oriente que existe ero uro momento dado no Ocidente é tambérn urna influente tradicáo académica quando se faz referencia a um especia lista académico que é chamado de orientalista e urna área de interesse definida por viajantes empresas comerciais governos expedicóes mili tares leitores de romances e de relatos de aventuras exóticas historia dores naturais e peregrinos para quem o Oriente é um tipo específico de conhecimento sobre lugares povos e civilizacóes específicos As expres sóes idiomáticas para o Oriente tornaramse freqüentes e essas expres sóes assentararnse firmemente no discurso europeu Por baixo das ex pressóes idiomáticas havia urna camada de doutrina sobre o Oriente formada a partir das experiencias de muitos europeus todas conver gindo para aspectos essenciais do Oriente como o caráter oriental o despotismo oriental a sensualidade oriental e coisas do genero Para qualquer europeu durante o século XIX e acho que isso pode ser dito quase sem qualificacáo o orientalismo era um sistema de verdade como esse verdades no sentido que Nietzsche dava a palavra É por tanto correto dizer que cada europeu no que podia dizer sobre o Oriente era conseqüentemente um racista um imperialista e quase totalmente etnocéntrico Algo da imediata mordacidade poderá ser re tirado dessas etiquetas se lembrarrnos além disso que as sociedades hu manas pelo menos as culturas mais avancadas raramente ofereceram ao indivíduo qualquer coisa além de imperialismo racismo e etnocen trismo para tratar com outras culturas De modo que o orientalismo ajudou e foi ajudado pelas pressóes culturais gerais que tendiam a tor nar mais rígido o sentido de diferenca entre as partes européia e asiá tica do mundo O meu ponto de vista éque orientalismo é fundamen talmente urna doutrina política imposta ao Oriente porsue ese era mais Iraco q que elill1inava a diíerenca do a sua fraqueza Essa proposta foi apresentada no início do capítulo 1 e quase tudo nas páginas que se seguiram foi ern parte entendido como urna corroboracáo dela A própria presenca de um campo como o orien talismo sem equivalente no próprio Oriente sugere a íorca relativa do Oriente e do Ocidente Existe um vasto número de páginas sobre o Oriente e é claro que elas signifícam um grau e urna quantidade de 210 interacáo com o Oriente bastante formidável mas a indicacgo crucial da forca ocidental é que nao é possível comparar o movimento de oci dentais para o leste desde o final do século XVIII com o movimento de orientais para o oeste Deixando de lado o fato de que os exércitos corpos consulares mercadores e expedicóes científicas e arqueológicas ocidentais estavam sempre indo para o Leste o número de viajantes do Leste islámico para a Europa entre 1800 e 1900 é minúsculo quando comparado com o número de viajantes na outra direcáo Além disso os viajantes orientais no Ocidente estavam lá para aprenderem e para ficarem boquiabertos corn urna cultura avancada os propósitos dos viajantes ocidentais no Oriente eram como vimos de um tipo bem diferente E mais foi estimado que por volta de 60 millivros tratando do Oriente Próximo foram escritos entre 1800 e 1950 nao existem nú meros sequer remotamente cornparáveis para livros orientais sobre o Ocidente Como aparato cultural o orientalismo é todo agressáo ativi dade julgamento vontade de verdade e conhecimento O Oriente exís tia para o Ocidente ou pelo menos era ísso que parecia acontecer para incontáveis orientalistas cuja atitude em relacáo áquilo com que traba lhavam era ou paternalista ou francamente condescendente a me nos é claro que fossem antiquários nesse caso o Oriente clássico era uro crédito para eles e nao para o lamentável Oriente moderno E para completar cevando o trabalho do estudioso ocidental havia numerosas agencias e instituicóes sem paralelo na sociedade oriental Esse desequilíbrio entre o Leste e o Oeste é obviamente funcáo de padrñes históricos em mutacáo Durante o seu apogeu político e militar do século VIII ao século XVI o isla dominou tanto o Leste quanto o Oeste Entáo o centro de poder deslocouse para o Oeste e agora no final do século XX parece estar movendose em direcáo ao Leste novamente O meu relato do orientalismo do século XIX no capí tulo 2 parou em um periodo particularmente importante na última metade do século quando os aspectos muitas vezes dilatórios abstra tos e projetivos do orientalismo estavam a ponto de assumir um novo sentido de missáo terrena a servico do colonialismo formal É este pro jeto e este momento que quero descrever agora especialmente porque eles nos podem fornecer urnaimportante base para entendermos a crise do orientalismo no século XX e o ressurgimento da torca política e cultural no Leste Em diversas ocasióes eu fiz alusáo as conexóes entre o orienta lismo como uro corpo de idéias crencas chavñes ou cultura sobre o Oriente e outras escolas de pensamento em geral na cultura Ora um dos desenvolvimentos importantes do orientalismo do século XIX foi a destilacáo de idéias essenciais sobre o Oriente a sua sensualidade 211 sua tendencia ao despotismo sua mentalidade aberrante seus hábitos de imprecisáo o seu atraso em urna coeréncia separada e incontes tada desse modo o uso da palavra oriental por um escritor era urna referencia suficiente para o leitor identificar um corpo especifico de inforrnacáo sobre o Oriente Essa inforrnacáo parecia ser moralmente neutra e objetivamente válida parecia ter urna situacáo epistemoló gica igual a da cronologia histórica ou a da localizacáo geográfica Na sua forma mais básica portanto o material oriental nao poderia ser realmente violado pelas descobertas de ninguém nem parecia ser ja mais reavaliado totalmente Em vez disso a obra de vários estudiosos e escritores imaginativos do século XIX tornou esse corpo essencial de conhecimento mais claro mais detalhado mais substancial e mais distanciado do ocidentalismo Mas as idéias orientalistas podiam aliarse a teorias filosóficas gerais tais como as idéias sobre a história do homem e da civilizacáo e difundir hipóteses de mundo tal cómo os filósofos as chamam as vezes e de muitos modos aqueles que contri buíam profissionalmente para o conhecimento oriental estavam ansio sos para expressar suas formulacóes e idéias suas obras eruditas suas ponderadas observacñes contemporáneas em urna linguagem e em urna terminologia cuja validade cultural derivava de outras ciencias e sistemas de pensamento A distincáo que estou fazendo é realmente entre urna positividade quase inconsciente e certamente intangível que chamarei de orienta lismo latente e as várias vísóes declaradas sobre a sociedade as lin guas as literaturas a história a sociologia e outras coisas orientais do genero que chamarei de orientalismo manífesto Qualquer mudanca ocorrida no conhecimento sobre o Oriente é encontrada quase exclusi vamente no orientalismo manifestó a unanimidade a estabilidade e a durabilidade do orientalismo latente sao mais ou menos constantes Nosescritores do século XIX analisados no capítulo 2 as diferencas em suas idéias sobre o Oriente podem ser caracterizadas como diferencas exclusivamente manifestas diferencas em forma e estilo pessoal rara mente em conteúdo básico Todos mantiveram intacta a separacáo do Oriente a sua excentricidade o seu atraso a sua silenciosa indife renca a sua feminina penetrabilidade a sua apática maleabilidade é por isso que todos os que escreveram sobre o Oriente de Renan a Marx falando ideologicamente ou dos estudiosos mais rigorososLane eSacyas mais poderosas imaginacóes Flaubert e Nerval viamoOrien tecomo um lugar que precisava da atencáo da reconstrucáo e atémesmo da redencáo ocidental O Oriente existia como um lugar separado da corrente principal do progresso europeu nas ciencias artes e comércio Desse modo os valores bons ou ruins imputados ao Oriente pareciam 212 ser urna funcáo de um interesse ocidental altamente especializado pelo Oriente Era essa a situacáo a partir de mais ou menos 1870 até a parte inicial do século XX mas quero dar agora alguns exemplos que ilus trem o que quero dizer No início do século XIX as teses sobre o atraso a degeneracáo e a desigualdade do Oriente em relacáo ao Ocidente associavamse com extrema facilidade as idéias sobre as bases biológicas da desigualdade racial Assim as classificacóes raciais encontradas em Le régne animal de Cuvier no Essai sur linégalité des races humaines Ensaio sobre a desigualdade das racas humanas de Gobineau e em The raees 01 man As racas do homem de Robert Knox encontravam um par ceiro predisposto no orientalismo latente A essas idéias somouse o darwinismo de segunda categoria que parecia acentuar a validade científica da divisáo de racas em avancadas e atrasadas ou euro péiasarianas e Dessa maneira toda a questáo do imperialismo tal como foi debatida no final do século XIX tanto pelos próimperialistas como pelos antiimperialistas projetava a tipologia binária das tacas culturas e sociedades avancadas e atrasadas ou sub metidas O livro Chapters on the principies 01 internationallaw Capí tulos sobre os principios da lei internacional 1894 de John Westlake argumenta por exemplo que as regióes da terra chamadas de incivi Iízadas urna palavra que traz em si a carga de suposicóes orienta listas entre outras deveriam ser anexadas ou ocupadas pelas potencias avancadas Do mesmo modo as idéias de escritores como Carl Peters Leopold de Saussure e Charles Temple nutriamse do binarismo avan cadoatrasado que ocupava urna posicáo bastante central no orienta lismo do final do século XIX Juntamente com todos os demais povos variadamente designados como atrasados degenerados incivilizados e retardados os orientais eram enquadrados em urna estrutura concebida a partir do deterrni nismo biológico e da admoestacáo políticomoral O Oriente foi assim lígado a elementos da sociedade ocidental delinqüentes loucos mu Iheres pobres que tinham ern comum urna identidade que era mais bem descrita como lamentavelmente estrangeira Os orientais rara mente eram vistos ou olhados a visáo passava através deles e eram analisados nao como cidadáos nem como povo mas como problemas a serem resolvidos ou confinados ou posto que as potencias ociden tais cobicavarn abertamente o território deles conquistados A ques tao é que a própria designacáo de urnacoisa como oriental envolvia um juízo de valor já emitido e no caso dos povos que habitavam o deca dente Império Otomano um programa de acáo implícito Posto que o oriental era membro de urna raca subjugada ele tinha de ser subju 213 i gado era simples assim O locus classicus para esse julgamento e para essa acáo pode ser encontrado em Les lois psychologiques de 1évolution des peuples As leis psicológicas da evolucáo dos povos 1894 de Gus tave Le Bon Mas o orientalismo latente tinha outros usos Se esse grupo de idéias permitia que separassem os orientais das potencias avancadas e civilizadoras e se o Oriente clássico servia para justificar tanto o orientalista quanto a desconsideracáo deste pelo oriental moderno o orientalismo latente também encorajava uma concepcáo do mundo particularmente para nao dizer invejosamente masculina Já me referi a isso rapidamente em minha discussáo de Renan O oriental homem era considerado isoladamente da comunidade total em que vivia e que muitos orientalistas nas pegadas de Lane viram com algo parecido com o desprezo e o medo O próprio orientalismo além do mais foi urnaprovíncia exclusivamente masculina do mesrno modo que muitas corporacóes profissionais durante o período moderno ele via a si mes rooe ao seu tema de estudos com antolhos sexistas Issoé especialmente evidente nos escritos de viajantes e romancistas as mulheres costumam sercriaturas de urna fantasía masculina de poder Elas exprimem urna sensualidade ilimitada sao mais ou menos estúpidas e acima de tudo desejosas A Kuchuk Hanem de Flaubert é o protótipo dessas caricatu ras que eram bastante comuns nos romances pornográficos por exem plo Aphrodite de Pierre Louys cuja novidade inspirase no Oriente para ser interessante Alérn disso a concepcáo masculina do mundo em seu efeito sobre o orientalista praticante tende a ser estática con gelada eternamente fixa A própria possibilidade de desenvolvimento transformacáo movimento humano no sentido mais profundo da palavra é negada ao Oriente e ao oriental Estes como qualidade conhecida e em última instáncia imobilizada ou improdutiva vieram a ser identificados com urna espécie ruim de eternidade disso provém quando o Oriente está sendo aprovado frases como a sabedoria do Leste Transferido de uma avaliacáo social implicita a outra grandiosa mente cultural esse orientalismo masculino estático assumiu urna va riedade de formas durante a última parte do século XIX especialmente quando o isla estava sendo discutido Historiadores culturais gerais respeítados como Ranke e Jacob atacavam o isla como se estivessem tratando nao tanto com urna abstracáo antro pomórfica quanto com urna cultura políticoreligiosa sobre a qual as generalízacóes profundas eram possíveis e sancionadas em seu Welt geschichte 18818 Ranke falava do isla como derrotado pelos povos germanorománicos e em seus Historische Fragmente notas inédi 214 tas 1893 Burckhardt falava do isla como de algo miserável vazio e trivial Tais operacóes intelectuais foram efetuadas com muito mais talento e entusiasmo por Oswald Spengler cujas idéias sobre uma per sonalidade magiana tipificada pelo oriental mucuímano permeiam Der Untergang des Abendlandes O declínio do Ocidente 191822 e a morfología das culturas que este propugna Essas nocñes amplamente difundidas do Oriente dependiam da quase total ausencia na cultura ocidental contemporánea do Oriente como uma íorca genuinamente sentida e experimentada Por muitas razóes evidentes o Oriente estava sempre na posicáo com relacáo ao Ocidente do forasteiro e do sócio menor incorporado Na medida em que os estudiosos ocidentais tivessem consciencia dos orientais ou dos movimentos orientais contemporáneos de pensamento e cultura estes eram concebidos ou como sombras silenciosas a serem animadas pelo orientalista trazidas arealidade por ele ou como um tipo de proleta riado intelectual e cultural útil para a maior atividade interpretativa do orientalista necessário ao seu desempenho como um juiz superior ho mem culto e possuidor de poderosa vontade cultural O que quero dizer é que nas discussóes sobre o Oriente este é todo auséncia ao mesmo tempo que sentimos o orientalista e o que ele diz como presenca mas nao devemos esquecer que a presenca do orientalista é possibilitada pela ausencia efetiva do Oriente Esse fato de substituicáo e desloca mento como o chamaremos exerce claramente sobre o orientalista urnapressáo para reduzir o Oriente em sua obra mesmo depois de ele ter devotado uma boa quantidade de tempo para elucidáIo e expólo De que outro modo podemos explicar a grande producáo erudita do tipo que associamos com Julius Wellhausen e Theodor Nóldeke e anu lando essa mesma producáo as declaracóes vazias e abrangentes que quase denigrem o tema de estudo que escolheram Desse modo Nól deke podia declarar em 1887 que a totalidade da sua obra como orien talista viria a confirmar sua baixa opiniáo acerca dos povos orien tais E do mesmo modo que Carl Becker Nóldeke era um filohele nista que demonstrava de maneira curiosa o seu amor pela Grécia exi bindo urna positiva antipatia pelo Oriente que afinal de contas era o que ele estudava como erudito Um estudo muito valioso e inteligente do orientalismo L islam dans le miroir de IOcident O isla no espelho do Ocidente de Jac ques Waardenburg examina cinco importantes especialistas como criadores de uma imagern do isla A metáfora da imagern de espelho criada por Waardenburg para o orientalismo do final do século XIX e início do XX é adequada Na obra de cada uro dos seus eminentes orientalistas há urna visáo altamente tendenciosa e ern quatro dos 215 cinco casos até hostil do isla como se cada homern visse o isla como um reflexo da sua própria fraqueza predileta Cada um desses estu diosos era profundamente culto e o estilo da contríbuicáo de cada um deles foi único Entre eles esses cinco orientalistas eram um exemplo do que havia de melhor e de mais forte na tradicáo do periodo que vai mais ou menos de 1880 aos anos entre as duas guerras Mesmo assim a apreciacáo de Ignaz Goldzíher da tolerancia do isla para com outras religióes era minada pela sua antipatia em relacáo aos antropomor fismos de Maomé e a teologia e a jurisprudencia demasiadamente exte riorizadas do isla o interesse de Duncan Black Macdonald pela devo cáo e pela ortodoxia islámicas estava viciado pela sua percepcáo da quilo que ele considerava como o cristianismo herético do isla o enten dimento que Carl Becker tinha da civilizacáo islámica o fazia véla como larnentavelmente pouco desenvolvida os estudos altamente refi nados de C Snouck Hurgronje sobre o misticismo islámico que ele considerava como a parte essencial do isla levaramno a um juízo ás pero das suas incapacitantes Iimitacóes e a extraordinária identifica Yao de Louis Massignon com a teologia a paixáo mística e a arte poé tica rnuculmana tornouo curiosamente implacável com o isla por aquilo que ele considerava como a revolta nao regenerada deste contra a idéia da encarnacáo As diferencas manifestas nos métodos deles sao menos importantes que o seu consenso orientalista sobre o isla a infe rioridade latente O estudo de Waardenburg tem a virtude adicional de mostrar como esses cinco estudiosos compartilhavam de urna tradicáo intelec tual e metodológica comum cuja unidade era verdadeiramente inter nacional Desde o primeiro congresso orientalista em 1873 os estu diosos da área conhecem as obras uns dos outros e sentem a presenca uns dos outros de maneira bem direta Aquilo que Waardenburg nao enfatiza o bastante é que a maior parte dos orientalistas do final do século XIX estavam ligados uns aos outros também do ponto de vista político Snouck Hurgronje passou diretamente dos estudos sobre o isla a condicáo de consultor do governo holandés sobre as maneiras de tra tar suas colonias muculmanas na Indonésia Macdonald e Massignon eram amplamente solicitados como peritos em questóes islámicas por administradores coloniais da África do Norte ao Paquistáo e tal como diz Waardenburg com demasiada brevidade a urna certa altura os cinco estudiosos moldaram urnavisáo coerente do isla que exerceu forte influencia sobre os círculos governarnentais por todo o mundo ociden tal 7 O que devemos agregar as observacóes de Waardenburg é que esses estudiosos estavam completando levando a um supremo requinte concreto a tendéncia observada desde os séculos XVI e XVII a tratar o 216 Oriente nao apenas como um vago problema líterário mas segundo MassonOursel com un ferme propos dassimiler adéquatement la valeur des langues pour pénétrer les moeurs et les pensées pour forcer méme des secrets de lhistoire um firme propósito de assimilar ade quadamente o valor das línguas para penetrar nos costumes e nos pen samentos para arrancar na verdade os segredos da história 8 Falei antes da incorporacáo e da assímílacáo do Oriente de como essas atividades eram praticadas por escritores tao diferentes entre si como Dante e DHerbelot Existe urna clara diferenca entre tais esfor cos e aquilo que no final do século XIX Se tinha tornado um empreen dimento político cultural e material europeu verdadeirarnente formi dável A corrida pela África colonial do século XIX nao ficou de modo algum limitada a África é claro Nern a penetracáo do Oriente foi urna súbita e dramática idéia de última hora após anos de estudo erudito da Asia O que ternos de levar em conta é um longo e lento processo de apropriacáo pelo qual a Europa ou a consciencia européia do Oriente deixou de ser textual e contemplativa e passou a ser admi nistrativa económica e até mesmo militar A mudanca fundamental foi espacial e geográfica ou melhor foi urna mudanca na qualidade da percepcáo geográfica e espacial no que dizia respeito ao Oriente A centenária designacáo do espaco geográfico a leste da Europa como oriental era em parte política em parte doutrinal e em parte imagi nativa nao implicava nenhurna ligacáo entre a experiencia real do Oriente e o conhecimento do que é oriental e com certeza DHerbelot e Dante nao tinham quaisquer pretensóes ero relacáo as suas idéias orien tais a nao ser que elas eram corroboradas por urna longa tradicáo eru dita e nao existencial Mas quando Lane Renan Burton e as muitas centenas de viajantes e estudiosos discutem o Oriente notamos imedia tamente urna atitude mais íntima e até mesmo mais possessiva para com o Oriente e as coisas orientais Na forma c1ássica e muitas vezes temporalmente remota com que era reconstruido pelo orientalista e na forma minuciosamente real ern que o moderno Oriente era vivido estu dado ou imaginado o espaco geográfico do Oriente foi penetrado tra balhado e apropriado O efeito cumulativo de décadas de um manuseio tao soberano por parte do Ocidente fez com que o espaco oriental dei xasse de ser estrangeiro para se tornar colonial O importante no final do século XIX nao era se o Ocidente havia penetrado o Oriente e to mado posse dele mas antes como os ingleses e os franceses achavarn que tinham feíto isso O escritor inglés sobre o Oriente e mais ainda o administrador colonial estavam tratando com um território no qual nao podía haver dúvida de que o poder británico estava de fato em urna curva aseen 217 dente mesmo que os nativos estivessem aparentemente atraídos para a Franca e para os modos franceses de pensamento No que dizia respeito ao espaco real do Oriente contudo a Inglaterra estava de fato pre sente e a Franca nao a nao ser como urna tentacáo frívola para os caipiras orientais Nada demonstra melhor essa diferenca qualitativa ero atitudes espaciais que aquilo que lorde Cromer tinha a dizer sobre o tema que lhe era particularmente caro As razzes pelas quais a civilizacáo francesa representa urna atracáo es pecial para asiáticos e levantinos sao simples Tratase sem dúvida de urna civilizacño mais atraente que as da Inglaterra e da Alemanha e além do mais é mais fácil de ser imitada Comparese o ingles tímido e retraído com seu exclusivismo social e seus hábitos insulares ao francés vivaz e cosmopolita que nao conhece o significado da palavra timidez e que parece ser capaz de em dez minutos fazer intimidade com qual quer pessoa que ele possa por acaso conhecer O oriental semieducado nao reconhece que o primeiro tem pelo menos o mérito da sinceridade e que o último só está muitas vezes representando um papel Ele olha com frieza para o ingles e atirase aos bracos do francés Depois disso as alusóes sexuais decorrem com maior ou menor natura lidade O francés é todo sorrisos espírito graca o ingles é laborioso diligente baconiano preciso O caso de Cromer está baseado é claro na solidez británica no sentido de oposta a uma seducáo francesa sem nenhuma presenca real na realidade egipcia Pode ser de algum modo surpreendente continua Cromerl que oegipcio com o pouco lastro intelectual que tem deixe de ver que muitas vezes há urna falácia no fundo do raciocinio do francés ou que ele prefira o brilho mais que nada superficial do francés a laboriosa e pouco atraente dili gencia do alemáo ou do ingles Olhem novamente para a perfeicáo teó rica dos sistemas administrativos franceses para os seus detalhes elabo rados e para as providencias aparentemente tomadas para fazer frente a cada possível contingencia que possa surgir Comparem essas caracterís ticas com os sistemas práticos do ingles que dita regras para uns poucos pontos principais e deixa a massa dos detalhes para o critério individual O egipcio semieducado prefere naturalmente o sistema do francés pois este é em todas as aparéncias externas mais perfeito e mais fácil de aplicar Ele deixa de ver além disso que o ingles deseja elaborar um sistema que se ajuste aos fatos com os quais terá de lidar enquanto a principal objecáo a aplicacáo dos procedimentos administrativos france ses ao Egito é que os fatos quase com demasiada freqüéncía tém de se adaptar ao sistema pronto Posta que há urna real presenca británica no Egito e pasto que essa presenca segundo Cromer está lá nao tanto para treinar a mente 218 t do egípcio quanto para formar o seu caráter seguese portanto que as efémeras atracóes do francés sao as de urna donzela bonita coro encantos um tanto quanto artificiais enquanto as do ingles sao as de urna sóbria matrona de mais idade com um valor moral um tanto mais elevado mas de aparencia exterior menos agradável Subjacente acomparacáo de Cromer entre a sólida babá inglesa e a coquete francesa está o privilégio cabal da posicáo británica no Orien te Os fatos com os quais o ingles terá de lidar sao em tuda mais complexos e interessantes em virtude da sua possessáo pela Inglaterra que qualquer coisa para a qual o francés possa apontar Dois anos depois da publicacác do seu Modern Egypt 1908 Cromer discorreu filosoficamente em Ancient and modern imperialism Imperialismo antigo e moderno Comparado com o imperialismo romano com suas políticas francamente assimilacionistas explorativas e repressivas o británico parecia preferível a Cromer mesmo que fosse um pouco aguado Em certos pontos contudo os británicos eram bastante cla ros ainda que de maneira indistinta relaxada mas característica mente anglosaxónica o império deles parecesse estar indeciso entre urna de duas bases ocupacáo militar extensiva ou o príncípio da nacionalidade para racas subjugadas Mas afinal de cantas essa indecisáo era académica pois na prática Cromer e a própria Inglaterra haviam optado contra o principio da nacionalidade E depois havia outras coisas a serem observadas Urna era que o Império nao seria entregue Outra era que o casamento entre nativos e ingleses era inde sejável Terceiro e mais importante acredito Cromer concebia a presenca imperial británica nas colonias do Oriente como tendo exer cido urna duradoura para nao dizer cataclísmica influencia sobre as mentes e sociedades do Leste A sua metáfora para exprimir essa in fluencia é quase teológica tao poderosa era na mente de Cromer a idéia da penetracáo ocidental na vastidáo oriental O país sobre o qua te nha passado diz ele o vento pesadamente carregado de pensamento científico do Oeste e sobre o qua este tenha deixado ao passar mar cas duradouras nunca mais será o mesmo de antes Em relacáo a coisas como essas porém a inteligencia de Cromer estava longe de ser original O que ele via e como ele expressava isso eram moeda corrente entre os seus colegas tanto no establishment im perial como na comunidade intelectual Esse consenso é notavelmente verdadeiro no caso de seus colegas vicereais Curzon Swettenham e Lugard Lorde Curzon particularmente falava sempre a língua franca imperial e de modo ainda mais autoritário que Cromer delineava a relacáo entre a Inglaterra e o Oriente em termos de posse em termos de um grande espaco geográfico inteiramente possuído por um eficiente 219 senhor colonial Para ele como disse urna vez o império DaO era um objeto de ambícao mas antes e acima de tuda um grande fato his tórico político e sociológico Em 1909 lembrou aos a reuniáo da Conferencia de Imprensa Imperial em Oxford que trema mos aqui e mandamos para voces os seus governadorese dores e juízes seus professores e pregadores e advogados quase pedagógica do império tinha para Curzon um cenario especi fico na Ásia o que como ele colocou urna ocasiáo fazia a gente parar e pensar As vezes gosto de imaginar essa grande trama imperial como uma me estrutura parecida com um Palácio da Arte termysomano cujas fundacóes estáo neste país onde foram assentadas e ond ser mantidas por máos británicas mas cujos e bem alto acima de tudo paira a vastidáo de urna cupula aSlatlca Corn esse Palácio de Arte tennysoniano em mente Curzon e Cro mer eram membros entusiastas de um comité departamental ern 1909 para pressionar pela criacáo de urna de estudos orlen tais Além de comentar melancolicamente que se tívesse o teria ido melhor ern seus circuitos da fome pela Indla Curzon defendeu os estudos orientais como parte da británica para corn o Oriente Em 27 de setembro de 1909 ele disse a Cámara dos Comuns que a nossa familiaridade nao somente com as línguas dos povosdo Leste mas com os seus costumes os seus sentimentos as suas tradícóes a sua história e a sua religiao a nossa capacidade de entender o que pode ser chamado de genio do Leste é a única base sobre a qual qualquer possibilidade de manter no futuro a posicác que e ne nhum passo que possa ser dado para reíorcar essa pode ser con siderado indigno da atencáo do Governo de Sua Majestade ou de uro debate na Cámara dos Lordes Em urna conferencia em Mansion House sobre o tema ans d pois Curzon finalmente pos os pingos is Os estudos oríentais nao eram nenhum luxo intelectual eram disse urna grande obrígacáo imperial Na rninha opiniáo a criacáo de urna escola de estudos orientais que se tornaria mais tarde a Escola Estudos Orientais e Africanos da Universidade de como essa em Londres é parte dos apetrechos necessários do Império Aqueles de nós que de um modo ou de outro passamos um numero de no Leste e considerarnos isso como o período mais feltz de nossas vidas e que achamos que o trabalho que fizemos lá grande ou pequeno era a mais alta responsabilidade que podia ser colocada sobre os ombros de 220 urn ingles sentimos que há urna lacuna ero nosso equipamento nacional que deve ser enfaticamente coberta e que aqueles na Cidade de Londres que mediante um apoio financeiro ou qualquer outra forma de assis téncia ativa e prática tomam parte do fechamento dessa brecha estaráo cumprindo um dever patriótico para coro o Império e promovendo a causa e a boa vontade entre os homensP Em grande medida as idéias de Curzon sobre os estudos orierl tais derivam logicamente de um born século de administracáo utilitária e de filosofia sobre as colonias orientais da parte dos británicos A in fluencia de Bentham e dos Mili sobre o governo británico no Oriente particularmente na india foi considerável e eficaz na eliminacáo do excesso de regulamentos e de inovacóes em vez disso como demons trou Eric Stokes convincentemente o utilitarismo combinado aos le gados do liberalismo e do evangelismo como filosofias de governo bri tánico no Oriente sublinhava a importancia racional de um executivo forte armado de vários códigos legais e penais com um sistema de dou trinas sobre questóes como fronteiras e rendas fundiárias e por toda a parte urna irredutível autoridade imperial supervisora A pedra angu lar de todo o sistema era um conhecimento constantemente refinado do Oriente de maneira que a medida que as sociedades tradicionais se lancavam para a frente e tornavamse modernas sociedades comerciais nao houvesse nenhuma perda do controle paternal británico nem tam pouco nenhuma perda de renda No entanto quando Curzon faz urna referencia um tanto deselegante aos estudos orientais como os ape trechos necessários do Império ele estava colocando em urna imagem estática as transacóes pelas quais ingleses e nativos conduziam seus negócios e mantinham seus pastos Desde os dias de sir William Jones que o Oriente era tanto o que a Inglaterra governava quanto o que a Inglaterra sabia sobre ele a coincidencia entre a geografia o conheci mento e o poder com a Inglaterra sempre no lugar do chefe era com pleta Dizer como fez Curzon que o Leste é urna Universidade na qual o estudioso nunca se gradua era outro modo de dizer que o Oriente precisava da presenca ocidental mais ou menos para sernpre Mas havia tarnbém as outras potencias européias Franca e Rús sia entre elas que mantinham a presenca británica sob constante e talvez marginal ameaca Curzon certamente sabia que todas as princi pais potencias ocidentais sentiam pelo mundo o mesmo que a Ingla terra A transforrnacáo da geograíia de algo enfadonho e pedante a expressáo de Curzon para o que fora entáo retirado da geografia por ser uro tema académico na rnais cosmopolita de todas as cien cias defendia exatamente essa nova e amplamente difundida predile 221 cáo ocidental Nao foi a toa que em 1912 Curzon disse a Sociedade Geográfica da qual era presidente que urna revolucáo absoluta teve lugar nao apenas na maneira e nos métodos de ensinar geografía mas na estima que esta granjeou junto a opiniáo pública Hojeem día vemos o conhecimento geográfico corno urna parte essencial do conhecimento em geral Coro a ajuda da geografia e de ne nhum outro modo entendemos a acáo de grandes torcas naturais a dis tribuicáo da populacáo o crescimento do comércio a das fronteiras o desenvolvimento dos Estados as esplendidas realizacóes da 7 em suas váriasmanifesfácóes Reconhecemos a geografía como a criada dahistória A geogra fia também é urna ciencia irmá da economía edapolítica e qualquer uro de nós que tenha tentado estudar geografia sabe que no momento que vocf se desvia do campo geográfico comeca a cruzar as fronteiras da geologia da zoología da etnologia da química da física e quase todas as ciencias afins Portanto ternos urna justificativa para dizer que a geo grafia é urna das primeiras e mais avancadas das ciencias que ela faz parte do equipamento necessário para urna concepcáo apropriada da cidadania e é um acessório indispensável na producáo de um homem público A geografia era essencialmente um dos sustentáculos materiais do co nhecimento sobre o Oriente Todas as características latenteseimutáveis do Oriente estavam baseadas e enraizadas na sua geografia Assim por um lado o Oriente geográfico alimentava os seus habitantes garantia as suas características e definia a sua especificidade por outro lado o Oriente geográfico solicitava a atencáo do Ocidente mesmo que por um desses paradoxos revelados tantas vezes pelo conhecimento organizado o Leste fosse o Leste e o Oeste fosse o Oeste O cosmo politismo da geografia para Curzon era a sua importancia universal para todo o Ocidente cujo relacionamento com o resto do mundo era de franca cobica Mas o apetite geográfico podia também assumir a neutralidade de um impulso epistemológico para descobrir para assen tarse para achar como quando em Heart of darkness O coracáo das trevas j Marlow confessa ter urna paixáo por mapas Eu passava horas olhando para a América do Sul para a África ou para a Austrália e me perdia em todas as glórias da exploracáo Naquele tempo havia muitos espacos em branco na terra e quando eu via um que parecía particularmente convidativo em um mapa mas todos pare cem selo punha o meu dedo sobre ele e dizia quando eu crescer vou para lá16 Mais ou menos setenta anos antes que Marlow dissesse isso o fato de que aquilo que no mapa era um espaco ern branco fosse habitado por 222 ce J lJ L nativos nao incomodava Lamartine nern teoricamente houve qual quer reserva por parte de Emer de Vattel a autoridade suícoprussiana em direito internacional quando em 1758 ele convidou os estados eu ropeus a tomarem posse de territórios habitados apenas por simples tribos errantesY O importante era dignificar a mera conquista com urna idéia transformar o apetite por mais espaco geográfico em urna teolci o relacionamento especial entre a geografía por urn lado e civilizados 1 incivilizados pelo outro Mas essas racionali zacóes receberam urna contribuicáo claramente francesa Por volta do final do século XIX as circunstancias politicas e inte lectuais coincídiram o bastante na Franca para fazer da geografia e da especulacáo geográfica em ambos os sentidos da palavra um passa tempo nacional atraente O clima geral da opiniáo européia era propi cio certamente os sucessos do imperialismo británico falavam em alío e bom som por si mesmos Contudo a Inglaterra sempre pareceu para a Franca e para os pensadores franceses sobre o tema bloquear até mesmo um sucesso relativo para o papel imperial da Franca no Oriente Antes da Guerra FrancoPrussiana houve urna boa quantidade de pen samento político propiciatório sobre o Oriente que nao ficou confinado aos poetas e romancistas Eis aquí por exemplo SaintMarc Girardin escrevendo para a Revue des Deux Mondes de 15 de marco de 1862 La France a beaucoup el faire en Orient paree que lOrient attend beau coup delle Illui demande méme plus quelle ne peut faire illui remet trait volontiers le soin entier de son avenir ce qui serait pbur la France et pour lOrient un grand danger pour la France paree que disposée a prendre en mains la cause des populations souffrantes elle se charge le plus souvent de plus dobligations quelle nen peut remplir pour lOrient paree que tout peuple qui attend sa destinée de létranger na jamais quune condition précaire et quIl ny a de salut pour les nations que celui quelles se font eíjesmémes A Franca tem muito a fazer no Oriente pois o Oriente espera muito dela Chega até mesmo a exigir dela mais do que ela pode fazer deixaria de boa vontade nas máos dela o cuidado de todo o seu porvir o que seria para a Franca e para o Oriente um grande perigo para a Franca por que disposta a tomar nas suas máos a causa das populacées sofredoras ela muitas vezes assume mais compromissos que os que pode cumprir para o Oriente porque todo POyO que espere o seu destino do estrangeiro nunca tem senao urna condicáo precária e porque nao há outra salvacáo para as nacóes além daquela que elas constroem por si mesmas De visóes como essas Disraeli sem dúvida diria como disse muitas vezes que a Franca tinha só interesses sentimentais pela Síria que é o Oriente sobre o qual Girardin escrevia A ficcáo das populations 223 souffrantes fora obviamente usada por Napoleáo quando ele fez um apelo aos egípcios por eles mesmos contra os turcos e pelo isla Durante as décadas de 30 40 SO e 60 as populacóes sofredoras do Oriente estavam limitadas as minorías crisHs na Siria E nao há nenhum re gistro de IOrient apelando a Franca pela sua salvacáo Teria sido bem mais verdadeirodizer que a Inglaterra estava atravessadano cami nho da Franca para o Oriente pois mesmo que a Franca sentisse ge nuinamente urna obrigaao para coro o Oriente e alguns franceses realmente sentiam havia muito pouco que ela podía fazer para porse entre a Inglaterra e a enorme massa de terra que esta comandava desde a Índia até o Mediterraneo Entre as conseqüencias mais notáveis da guerra de 1870 na Fran ca esteve uro enorme florescer de sociedades geográficas e urna de manda poderosamente renovada por expansáo territorial No final de 1871 a Société de Géographie de Paris declarou nao estar mais confi nada aespeculaao científica Instou os cidadaos a nao esquecerem que a nossa antiga predominancia foi contestada desde o dia que dei xamos de competir oO nas conquistas da civilizacáo sobre a barbárie Guillaume Depping um líder do que viria a ser chamado de movimento geográfico afirmou em 1881 que durante a guerra de 1870 foi o mes treescola que triunfou querendo dizer que o verdadeiro triunfo foi o da geografia científica prussiana contra o desleixo estratégico írancés O Journal Officiel do governo patrocinou um número após o outro cen trados nas virtudes e lucros da exploracáo geográfica e da aventura colonial ern um número o cidadáo podia fícar sabendo gracas a De Lesseps das oportunidades na África e de Garnier ouvia sobre a exp10racao do rio Azul A geografia científica logo cedeu lugar ageo grafia comercial a medida que a conexáo entre o orgulho nacional pelas realizacóes científicas e civilizacionais e o motivo bastante rudi mentar do lucro ia sendo incentivada para ser canalizada para o apoio aconquista colonial Nas palavras de um entusiasta As sociedades geográficas sao formadas para romper o encanto fatal que nos mantém acorrentados as nossas margens Para auxiliar essa busca libertadora toda espécie de esquemas foi tramada inclusive o alístamento de Jú lio Veme cujo sucesso inacreditável como era chamado mos trava ostensivamente a mente científica em um altíssimo nível de racio cínio para estar afrente de urna campanha ao redor do mundo de exploracáo científica e um plano para criar uro vasto mar novo bem ao su1da costa da África do Norte além de um projeto para amarrar a Argélia ao Senegal com urna ferrovia urna fita de aco como a chamavam os seus projetistas 19 Grande parte do fervor expansionista na Franca no último terco 224 X1X teve origem em um desejo explícito de compensar a vitó 18701 e nao menos importante um desei d as imperiais británicas Tao era seJoO de urna tradícáo tao longa de rivalidade francobritánica no nente que a Franca parecia literalmente assombrada pela 1n la terra ansiosa ero todas as coisas ligadas ao Oriente or alea g os no final da década de 187Ó lndchlOOlse reformulou suas metas achou importante tra n oc ma para o domínio do orientalismo P transformar a Cochinchina em urna India aAra qu Padra posses c 1 b ausenCIa e 1 o omals stancíais era responsabilizada pelos militares por de fraqueza militar e comercial na guerra contra a pruSSlla nao falar da antiga e pronunciada inferioridade colonial em re acao a Ingl t O d tais a erra po er de expansáo das tacas ociden argumentava um Importante geógrafo La Ronciére Le Nou suas superiores os seus elementos e as suas so re humanos seráo um belo tema para os historiadores do Mas so se as racas brancas satisfizessem o seu gosto pelas via g ns urna da sua supremacia intelectual poderia ocorrer a expansao colomal 20 De teses essa vinha a opiniáo comum de que o Oriente era um a ser cultivado colhido e guardado As ima ens de CUIdados agrícolas e francamente sexuais pelo Oriente Aqui está urna típica efusáo de Gabriel Ch escrita em 1880 armes dia em nao estivermos mais no Oriente e que outras potencias co estejam tudo terá para o nosso comércio no Medi o nsso na Asia para o tráfico dos nossos portos do d ma as malS frutieras fontes da nossa riqueza nacional terá se ca o gn osmeus Outro pensador LeroyBeaulieu e1aborava ainda mais essa filosofía Urna coloniza quando tendo alcancado ela mesma um alto de e torca procria protege coloca em boas condicóes e esenvo vimento e leva a virilidade urna nova sociedade a q al d A é um dos fenómenos mais complexos e a nsio ogia social equacáo da acolonizacáo 1evouLeroyBeualieu a 1 era um de que tudo o que é vivo em urna sociedade moderna e por este jorro da sua atividade exuberante para o exterior Portanto disse 225 A colonizaeáo é a torca expansiva de um povo é seu poder de repro ducáo é seu aumento e sua multiplicaciio pelo espaco é a do universo ou de urna grandepartedestea língua aoscostumes as idéias e as leisdessepOVO 21 A questáo aqui é que o espaco das regióes ou subdesenvol vidas como o Oriente era visto como um convite ao ínteresse a tracáo e a inseminacáo por parte da Franca em resumo a zacáo As concepcóes geográficas e desfize ramse das discretas entidades contidas por limites e íronteiras menos que os visionários empreendedores como De Lesseps que libertar o Oriente e o Ocidente dos seus lacos geográficos OS estudio sos administradores geógrafos e agentes comerciais franceses maram a sua exuberante atividade sobre o Oriente claramente passlV e feminino Havia as sociedades geográficas cujo número e quantt dade de membros eram duas vezes maiores que detoda a havia organizacóes poderosas como o Comité lAsíe Fran9alse e Comité dOrient havia as sociedades cultas a Société Asiatique com a sua organizacáo e com os seus membros firmemente implantados nas universidades nos institutos e no governo uma delas asua maneira tornava os interesses franceses no Oriente mals reais mais substanciais Quase todo um século do que agora parecía ser um estudo passivo do Oriente tinha de acabar a Fran9a cornecou a enfrentar as suas responsabilidades rransnacionais nas ulti mas duas décadas do século XIX Na única parte do Oriente em que os interesses ingleses e france ses literalmente se sobrepunham o território do entao desesperadora mente doente Império Otomano os dois adversários administravam o seu conflito com urna consistencia quase perfeita e característica A Inglaterra estava no Egito e na Mesopotamia por meio de urna série de tratados semificcionais com os chefes locais e impotentes controlava o mar Vermelho o golfo Pérsico e o canal de Suez além da maior parte da massa de terra entre o Medíterráneo e a India A Franca por outro lado parecia fadada a pairar sobre o pousando de vez em quando para levar a cabo esquemas que repetlam o sucesso de De Les seps com o canal ero sua maioria esses prJetos ferro viários como o que foi planejado atreves de territóno mais ou menos británico a linha SiriaMesopotamica Além disso a Franca se vía como a protetora das minorias cristás maronitas caldeus Mas ambas a Inglaterra e a Franca estavam de acordo em pnnctpio sobre a necessidade da partilha da Turquia asiática quando chegasse a hora Antes e durante a Primeira Guerra a diplomacia secreta dedi cavase a transformar o Oriente Próximo prímeiramente em esferas 226 de influencia e depois em territórios mandatários ou ocupados Na Franca grande parte do sentimento expansionista formado durante o apogeu do movimento geográfico foi concentrado sobre os planos para a partilha da Turquia asiática tanto que em 1914 em Paris foi lan cada urna espetacular campanha de imprensa com esse ñm Na In glaterra foram empossadas numerosas comissóes para estudar e reco mendar políticas sobre a melhor maneira de dividir o Oriente De co missóes como o Comité Bunsen sairiam diversas equipes conjuntas anglofrancesas das quais a mais famosa foi a encabecada por Mark Sykes e Georges Picot A divisáo eqüitativa do espaco geográfico era a regra desses planos que constituiam tentativas deliberadas também de acalmar a rivalidade francobritánica Pois como disse Sykes em um memorando era claro que um levante árabe teria lugar mais cedo ou mais tarde e que os franceses e nós deveríamos estar em me lhores termos para que o levante nao fosse urna praga em vez de urna béncáo 23 As animosidades continuaram E a elas somouse a irritacáo pro vocada pelo programa wilsoniano de autodeterminacáo nacional que como o próprio Sykes notaria parecia invalidar todo o esqueleto dos esquemas coloniais e particionistas alcancados conjuntamente pelas Potencias Este nao seria o lugar para discutir toda a labirintica e pro fundamente controversa história do Oriente Próximo no início do sé culo XX enquanto o seu destino era decidido entre as Potencias as dinastias nativas os vários partidos e movimentos nacionalistas os sio nistas O que é mais imediatamente importante é a estrutura epistemo lógica particular através da qual era visto o Oriente e a partir da qual as Potencias agiam Pois apesar das suas diferencas os ingleses e os franceses viam o Oriente como urna entidade geográfica e cultural política demográfica sociológica e histórica sobre cujos destinos eles acreditavam ter um direito tradicional Para eles o Oriente nao era nenhuma descoberta repentina mas urna área ao leste da Europa cujo valor principal era definido uniformemente em termos de Europa mais particularmente em termos que reivindieavam especificamente para a Europa para a ciencia a erudicáo o entendimento e a administra cáo da Europa o crédito por ter transformado o Oriente naquilo que era E esta fora a realizacáo intencional ou nao nao vem ao caso do orientalismo moderno Havia dais métodos principais pelos quais o orientalismo trans mitía o Oriente ao Ocidente no início do século XX Um era por meio das capacidades disseminativas da cultura moderna seus aparatos difusores nas profissóes cultas nas universidades nas sociedades pro fissionais nas organizacóes exploratórias e geográficas na indústria 227 1 editorial Tudo ísso como já vimos erigido sobre a autoridade presti giosa dos estudiosos viajantes e poetas pioneiros euja visáo cumulaiva havia formado a quíntaesséncia do Oriente a maniíestacác doutnnal ou doxológica desse Oriente é o que eu venho chamando de orienta lismo latenteNo que dizia respeito a qualquer pessoa que quisesse fazer urna decÍaraao de algumaconseqüéncía sobreo Orienteo orien talismo latente era a fonte de urna capacidade enunciativa que podia ser usada ou melhor mobilizada e transformada ero discurso sensato para a ocasiáo concreta do momento Assim quando Balfour falou sobre o oriental para a Cámara dos Comuns em 1910 ele com certeza tinha em mente essas capacidades enunciativas na linguagem corrente e aceitavelmente racional da época por meio da qual urna coisa cha mada de oriental podia ser mencionada e comentada sem perigo de demasiada obscuridade Mas como todas as capacidades enunciativas e os discursos que elas possibilitam o orientalismo latente era profun damente conservador ou seja dedicado a própria preservacáo Transmitido de uma geracáo a outra era uma parte da cultura era tanto uma linguagem sobre uma parte da realidade quanto a geometria ou a física O orientalismo baseava a sua existencia nao na sua aber tura na sua receptividade para o Oriente mas antes na sua consis tencia interna e repetitiva a respeito da sua vontade de poder constitu tiva sobre o Oriente Foi assim que o orientalismo pode sobreviver a revolucóes guerras mundiais e ao literal desmembramento de imperios O segundo método pelo qual o orientalismo transmitia o Oriente ao Ocidente resultava de uma importante convergencia Por décadas os orientalistas haviam falado sobre o Oriente traduzido textos expli cado civilizacóes religiñes dinastias culturas mentalidades como temas académicos separados da Europa pela sua inimitável estra nheza O orientalista era um perito como Renan ou Lane euja tarefa na sociedade era interpretar o Oriente para os seus compatriotas A relacáo entre o orientalista e o Oriente era essencialmente hermenéu tica perante urna civilizacáo ou monumento cultural distante e apenas inteligível o estudioso orientalista diminuia a obscuridade retratando solidariamente apreendendo internamente o objeto difícil de alcancar Mas ele continuava fora do Oriente e este por mais que o tivessern feito parecer ínteligível continuava além do Ocidente Essa dcia cultural temporal e geográfica era expressada em metáforas segredo e sexual expressóes como os véus de oriental ou 010 inescrutável Oriente foram incorpora das alinguagem comurn Mas a distáncia entre o Oriente e o Ocidente foi sendo de modo quase paradoxal reduzida durante todo o século X1X A medida que 228 aumentavam os encontros exístenciais comerciáis políticos e outros entre o Leste e o Oeste nos modos que estivemos discutindo até aquí desenvolvíase urna tensáo entre os dogmas do orientalismo latente apoiado nos estudos do Oriente clássico e a descricáo de um Oriente atual moderno manifesto articulado por viajantes peregrinos decla racñes e coisas do genero Em algum momento impossível de determi nar com precisáo a tensáo causou urna convergencia dos dois tipos de orientalismo Provavelmente e isso nao passa de especulacao a convergencia ocorreu quando os orientalistas a comecar por Sacy co mecaram a aconselhar os governos sobre o que era o moderno Oriente Nesse ponto o papel do perito especialmente treinado e equipado assu miu urna nova dirnensáo 9 orientalista podia ser visto como um agente especial do poder ocidental no momento em que este tentava imple mentar politicas em relacáo ao Oriente Todo viajante europeu culto e nao tao culto no Oriente sentíase como um representante ocidental que conseguira transpassar as peliculas da obscuridade 1sso é obvia mente válido para Burton Lane Doughty Flaubert e as outras figuras importantes que estivemos discutindo As descobertas ocidentais sobre o Oriente manifesto e moderno adquirirarn urna forte urgencia quando as conquistas territoriais oci dentais no Oriente aumentararn Assim aquilo que o erudito orienta lista definia como o Oriente essencial era algumas vezes desmen tido mas em muitos casos era confirmado quando o Oriente se tor nava urna obrigacáo administrativa Com certeza as teorias de Cromer sobre o oriental teorias provenientes do arquivo orientalista tradi cional foram plenamente justificadas quando ele governou de fato milhóes de Isso nao era menos válido para a experiencia fran cesa na Siria na Africa do Norte e em outras partes das colonias fran cesas quaisquer que fossem Mas em nenhum momento a convergen cia entre a doutrina orientalista latente e a experiencia orientalista manifesta ocorreu mais dramaticamente do que quando como resul tado da Primeira Guerra a Tuquia asiática estava sendo reconhecida pela 1nglaterra e pela Franca para o seu desmembramento Ali estava deitado em urna mesa de operacóes pronto para a cirurgia o Homem Doente da Europa revelado em toda a sua fraqueza em suas caracte risticas e em suas linhas topográficas O orientalista com seu conhecimento especial teve um papel incalculavelmente importante nessa cirurgia Já houvera indicacóes do seu papel crucial como urna espécie de agente secreto dentro do Oriente quando o estudioso británico Edward Henry Palmer foi mandado para o Sinai em 1882 para avaliar o sentimento antibritánico e o possível aproveitamento deste pela revolta de Arabi Palmer foi morto no pro 229 cesso mas ele foi apenas o que teve menos éxito dos muitos que desem penharam tarefas parecidas para o império agora um assunto sério e rigoroso confiado parcialmente ao perito regional Nao foi atoa que outro orientalista D G Hogarth autor do famoso relato da explora cáo da Arábia adequadamente intitulado The penetration 01 Aabia A penetracáo da Arábia24 se tornou chefe do Departamento Arabe no Cairo durante a Primeira Guerra E nem foi por acidente que ho mens e mulheres como Gertrude Bell T E Lawrence e SI John Philby todos peritos orientais foram nomeados para o Oriente como agentes do império amigos do Oriente formuladores de políticas alternativas devido ao seu conhecimento íntimo e especializado do Oriente e dos orientais Formavam um bando como disse Lawrence urnavez ligados por nocñes contraditórias e semelhancas pessoais grande indi vidualidade solidariedade e identificacáo intuitiva coro o Oriente uro sentido zelosamente preservado de rnissáo pessoal no Oriente urna ex centricidade cultivada e urna desaprovacáo final do Oriente Para todos eles o Oriente era a experiencia direta e peculiar que dele tinham Neles o orientalismo e urna práxis efetiva para tratar o Oriente rece beram a sua forma européia final antes que o império desaparecesse e passasse o seu legado para outros candidatos ao papel de potencia dominante Individualistas como eles nao eram académicos Logo veremos que eles eram os beneficiários do estudo académico do Oriente sem de modo algum pertencer acompanhia oficial e profissional de estudiosos orientalistas O papel deles contudo nao era diminuir o orientalismo académico nem subvertélo mas antes tornálo efetivo Na genealogía deles havia pessoas como Lane e Burton tanto pelo seu enciclopédico autodidatismo quanto pelo conhecimento preciso e quaseerudito do Oriente que demonstraram ao tratar com os orientais ou ao escrever sobre eles Eles substituíram o estudo curricular do Oriente por urna espécie de elaboracáo do orientalísmo latente que estava facilmente a disposicáo deles na cultura imperial da época O quadro de referencia erudita deles qualquer que íosse havia sido modelado por pessoas como William Muir Anthony Bevan D S Margoliouth Charles Lyall E G Browne R A Nicholson Guy Le Strange E D Ross e Thomas Arnold que também descendiam diretamente de Lane Suas perspectivas imaginativas provinham principalmente do seu ilustre contemporáneo Rudyard Kipling que cantara tao memoravelmente a continuacáo do dominio sobre palmeiras e pinheiros A diferenca entre a Franca e a Inglaterra nessas questóes era perfeitamente consistente com a história de cada urna delas Oriente os ingleses estavam lá os franceses lamentavam a perda da India e dos territórios interpostos Por volta do firn do século a Síria tornarase o centro da atividade francesa mas mesmo lá era urna questáo de conhe cimento geral que os franceses nao podiam igualar os ingleses nem em quahdade de pessoal nem em grau de influencia política A cornpeticáo anglofrancesa pelo espólio otomano podia ser sentida até mesmo no campo de batalha em Hejaz na Síria na Mesopotámía mas em todos esses lugares como notaram homens astutos como Edmond Bre mond os orientalistas franceses e os peritos locais eram superados em brilho e em capacidade tática de manobra pelos seus colegas ingleses excecáo de algum genio ocasional como Louis Massignon nao havia Lawrences ou Sykeses ou Bellsfranceses Mas havia imperialistas determmados como Etienne Flandin e FranklinBouillon Fazendo urna conferencia para a Alliance Francaíse de Paris em 1913 o conde de Cressaty um imperialista vociferante proclamou a Síria como o Orien te da Franca o local dos interesses políticos morais e económicos fran ceses interesses acrescentava ele que tinham de ser defendidos na quela áge des envahissants impérialistes no entanto Cressaty no tava que mesrno com a presenca de firmas comerciais e industriais francesas no Oriente com um número de longe muito maior de estu nativos matriculados em escolas francesas a Franca estava inva navelmente senda empurrada de um lado para o outro no Oriente ameacada nao só pela Inglaterra como pela Áustria pela Alemanha e pela Rússia Para que a Franca continuasse a impedir le retour de lIslam seria melhor que ela tomasse posse do Oriente tal era o argu mento proposto por Cressaty e secundado pelo senador Paul Doumer ze Essas opini5es foram repetidas em numerosas ocasióes e de fato a Franca foi bem na África do Norte e na Siria após a Primeira Guerra mas a administraao especial concreta de populacóes orientais emer gentes e territórios teoricamente independentes da qual os ingleses sempre se vangloriaram era algo que os franceses sentiam nao ter alean cado Talvez em última instancia a diferenca que sempre sentimos entre o orientalismo moderno francés e o ingles seja estilística a quan tidade de generalizacóes sobre o Oriente e os orientais o sentido de distincáo preservado entre o Oriente e o Ocidente a conveniencia da dorninacáo ocidental sobre o Oriente tuda isso era igual nas duas tradicóes Isso porque dos muitos elementos que fazem o que costuma mos chamar de pericia o estilo que resulta de circunstancias ma teriais específicas moldadas pela tradicáo pelas instituicñes pela von tade e pela inteligéncia em urna articulacáo formal é um dos mais manifestos E esse determinante esse refinamento perceptível e moder nizado do orientalismo do inicio do século XX na Inglaterra e na Fran ca que devemos examinar agora l 230 231 ESTILO PERÍCIA VISAO A SECULARIZA9AO DO ORIENTALISMO Visto que aparece ero rnuitos poemas ero romances como Kim e ero demasiadasfrases de efeito paraser urnaficcáo irónica o Homero Branco de Kipling como idéia personagem estilo de ser parece ter servido a muitos británicos enquanto estavam no estrangeiro A pró pria cor da pele deles separavaos dramática e do marde nativos mas parao británico que circulavapor entre indianos africanos ou árabes havia também o conhecimento seguro de que fazia parte de urna longa tradicáo de responsabilidade executiva para com as racas de cor e podía nutrirsedas reservas empíricase espirituais dessa tradicáo Foi sobre ela sobre suas glórias e dificuldades que Kipling escreveu quando celebran o caminho tomado pelo Homero Branco nas colonias Now this is the Toad that the White Men tread When theygo to clean a land Iron underfoot and the vine overhead And the deep on either hand We have trod that road and a wet and windy road Our chosen star for gu ide Oh wel1 for the world when the White Men tread Their highway side by síde 27 Ora é este o caminho que os Homens Brancos trilham Quando urna terra váo limpar Aos pés o ferro a vinha sobre afronte E a vasfidáo em cada máo Játrilhamos esse caminho úmido e tormentoso Por guia nossa estrela eleita Oh que bom para o mundo quando os Homens Brancos trilham Lado a lado a estrada deles1 Para os Homens Brancos a melhor maneira de limpar urna terra é mediante um delicado acordo de uns com os outros urna alusáo aos perigos da rivalidade européia nas colonias na época pois falhando na tentativa de coordenar as políticas os Homens Brancos de Kípling estáo bem preparados para irem para a guerra Liberdade para nós e liberdade para os nossos filhos E frustrada a liberdade a Guerra Por trás da máscara de amistosa lideranca do Homem Branco está sempre a disposicáo expressa de usar a íorca a matar e ser morto O que dignifica a sua rnissáo é um certo sentido de dedicacáo intelectual ele é um Homero Branco mas nao meramente pelo lucro visto que a 232 sua eleita situase provavelmente bem acima dos ganhos materiais Certamente muitos Hornens Brancos perguntavamse mui tas vezes por que estavam lutando naquele úmido e tormentoso ca e certamente muitos deles devem ter ficado sem saber de que maneira a cor da pele davalhes urnacondicáo ontológica superior e um grande poder sobre ampla parte do mundo habitado No fim porém ser um Homem Branco para Kipling e para aqueles cujas percepcóes e retórica ele influenciou era urna questáo que se autoconfirmava A pessoa tornavase um Homem Branco porque era um Homem Branco mais importante ainda beber desse cálice viver esse destino inalte rável no dia do Homem Branco deixavaIhe pouco tempo para espe culacóes ociosas sobre origens causa e lógica histórica Ser um Homem Branco era portanto urna idéia e urna reali dade Implicava urna posicáo ponderada em relacáo ao mundo branco e também ao náobranco Significava nas colonias falar de um certo modo viver de acordo com um código de regulamentos e até mesmo sentir certas coisas e nao outras Significava juízos avaliacñes e gestos especificos Era urna forma de autoridade diante da qua se espe raya que os náobrancos e até mesmo os próprios brancos se curvas sem Nas formas institucionais que assumia governos coloniais corpos consulares estabelecimentos comerciais era urna agencia para a ex pressáo difusáo e implementacáo de políticas em relacáo ao mundo nos marcos dessa agencia embora houvesse espaco para urnacerta lati tude pessoal a idéia comunitária impessoal de se ser um Homem Branco imperava Ser um Homero Branco em resumo era uro modo bem concreto de estarnomundo urna maneira de controlar a reali dade a linguagem e o pensamento Tornava possivel um estilo espe cífico O próprio Kipling nao podería ter simplesmente acontecido o mesmo vale também para o Homem Branco dele Essas idéias e seus autores surgem de circunstáncias históricas e culturais complexas das quais pelo menos duas tero muito em comum com a história do orien talismo no século XIX Urna dejas é o hábito culturalmente sancionado amplas generalizacóes por meio das quais a realidade é dividida em vários coletivos as linguagens as racas os tipos as cores as mentalidades cada categoria sendo menos urna designacáo neutra que urna interpretacáo avaliativa Subjacente a essas categorias está a oposicáo rigidamente binómica do nosso e do deles com aquele sempre sobrepondose a este a ponto inclusive de fazer do deles exclusivamente urna funcáo do nosso Essa oposicáo era reforcada nao apenas pela antropologia pela lingüística e pela história como também é claro pela teoria darwiniana da sobrevivéncia e da selecáo 233 natural e de maneira nao menos decisiva pela retórica do alto humanismo cultural O que dava aos escritores como Renan e Arnold o direito as generalidades sobre racas era o caráter oficial da sua forma cáo cultural Os nossos valores eram digamos liberais humanitá rios carretas apoiavarnse em urna tradicáo de belleslettres urna eru dícáo bem informada urna investigacáo racional como europeus e hornens brancos nós éramos parte desses valores cada vez que as virtudes deles eram exaltadas Contudo as parcerias humanas for madas pelos valores culturais reiterados exc1uíam tanto quanto in cluiam Cada idéia sobre a nossa arte defendida por Arnold Ruskin Mill Newman Carlyle Renan Gobineau ou Comte correspondia a mais um elo na corrente que Hnos ligava uns aos outros ao mesmo tempo que se bania rnais um elemento externo Mesmo que fosse este o resultado de tal retórica onde e quando ela ocorresse devemos lem brar que na Europa do século XIX um imponente edificio de erudicáo e cultura foi construído por assim dizer perante elementos de fato externos as colonias os pobres os delinqüentes cujo papel na cultura era fornecer urna definicáo áquilo para o que eles nao serviam 28 A outra circunstáncia cornum acriacáo do Homem Branco e do orientalismoioucapo um deles dominava bem consciencia de que tal campo implicava modos peculiares e até rituais ele cornportamento de cultura ede possessáo Só um ocidental podia falar dos orientais por exemplo assim como era o Homero Branco que podia designar e nomear os de cor ou náobrancos Todas as decla racóes feitas por orientalistas ou por Homens Brancos e elas costuma vam ser intercambiáveis transmitiam um sentido da distancia irredu tível que separava o branco do de cor ou o ocidental do oriental além disso por trás de cada declaracáo ressoava a tradicáo da experiencia da erudicáo e da educacáo que mantinha o orientaldecor em sua posi cáo de objeto estudado pelo ocidentalbranco e nao viceversa ande quer que se estivesse em urna situacáo de poder como estava Cro mer por exernplo o oriental pertencia a um sistema de governo cujo princípio era simplesmente garantir que nenhum oriental pudesse ja mais ser independente e governar a si mesmo A premissa era que posto que os orientais eram ignorantes a respeito do autogoverno era melhor que eles continuassem a sélo para o bem deles Visto que o Homem Branco e o orientalista viviam muito pró ximos alinha de tensáo que mantinha os homens de cor a distancia eles sentiam ser incumbencia deles definir e redefinir prontamente o domínio que estivessem inspecionando Passagens de descricáo narra tiva alternamse regularmente com trechos de definicáo e de julga mento rearticulados que interrompem a narrativa esse é um estilo ca 234 racterístico de escrita criado pelos peritos em Oriente que operavam usando o Homem Branco de Kipling como máscara Eis aqui T E Lawrence escrevendo para V W Richards em 1918 o árabe apelava para a minha imaginacáo E a velha velha civi Jizacáo que se requintou a ponto de Iivrarse dos deuses domésticos e de metade dos atavios que a nossa se apressa em assumir O evangelho da nudez dos materiais é bom e aparentemente envolve também urna es pécie de nudez moral Eles pensam para o momento e esforcamse por pela vida sem dobrar esquinas ou subir montanhas Em parte ISS0 representa urna fadiga mental e moral urna raca esgotada e para evitar dificuldades eles tém de jogar fora muito daquilo que conside ramos como honroso e grave no entanto sem de modo algum comparti lhar do ponto de vista deles sinto que posso entender o bastante para para rnim e para outros estrangeiros da perspectiva deles sem con denala Seí que sou um estrangeiro para eles e sempre serei mas nao posso acreditar que sejam piores assim como nao poderia adotar os mo dos deles29 Urna perspectiva similar por mais diferente que o tema possa parecer encontrase nestas observacóes de Gertrude Bell Por quantos milhares de anos perdurou esse estado de coisas ou seja que os árabes vivem em estado deguerra aqueles que lerem os regis tros mais antigos do deserto interior nos diráo pois ele é tao antigo quan to o primeiro deles mas em todos esses séculos o árabe nao adquiriu nenhuma sabedoria da experiencia Ele nunca está seguro e contudo age como se seguranca fosse o seu páo de cada dia 30 A isso deveríamos acrescentar como um verniz outra observacáo dela desta vez sobre a vida em Damasco Comeco a ver vagamente o que significa a cívtlízacao urna grande ci dade oriental como eles vivem como pensam e cheguei a um acordo com eles Acho que o fato de eu ser inglesa é urna grande ajuda O nosso conceito no mundo subiu nos últimos cinco anos A diferenca é muito mareante Penso que isso se deve ao sucesso do nosso governo no Egito em grande medida A derrota da Rússia explica muita coisa e a minha ímpressáo é que a vigorosa política de lorde Curzon no golfo Pérsico e na fronteira da Índia explica ainda mais coisas Ninguém que nao conheca o Leste pode entender de que maneira isso tudo é a mesma cisa Mal chega a ser um exagero dizer que se a rnissáo inglesa tivesse Sidomandada de volta das portas de Cabul olhariam feio para o turista ingles nas ruas de Damasco 31 Em declaracóes como essa notamos imediatamente que o ára be ou os árabes emitem urna aura de afastamento de nitidez e de 235 autoconsisténcia coletiva que apaga quaisquer traeos de árabes indivi duais coro histórias de vida passíveis de serem narradas O que ape lava para a ímaginacáo de Lawrence era a clareza do árabe tanto corno imagem quanto como urna suposta filosofia ou relacáo a vida nos dois casos aquilo a que Lawrence se apega e ao arabe VIsto como se fosse através da perspectiva purificadora de alguém que nao era árabe e para quem a desenvolta simplicidade primitiva que o árabe possui é algo definido pelo observador neste caso o Homem Branco Mas o requinte árabe que no essencial corresponde as visóes que Yeats tinha de Bizáncio onde Flamesthatno faggotfeeds flintnorsteelhas lit Norstorm disturbsflames begotten of flame Where bloodbegotten spirits come And all complexitiesof furyleave32 Chamas que nenhuma lenha alimenta sílex ou aco acendeu Nem a tormenta perturba chamas geradas de chama Para onde espíritos gerados do sangue vém E de onde saem todas as complexidades da fúria está associado aperdurabilidade árabe como se este nao tivesse sido sub metido aos processos comuns da história Paradoxalmente para Lawrence o árabe parece ter se exaurido em sua própria persistencia temporal A enorme idade da civilizacác árabe desse para refinar os árabes até nao deixar senáo os seus e para cansálos moralmente no processo O que nos resta e o arabe de Bell séculos de experiencia e nenhurna sabedoria Como urna entidade coletiva entáo o árabe nao acumula nenhuma densidade ou sequer semántica Ele é sempre o mesmo excet pelos requintes mencionados por Lawrence de urna ponta a outra dos reg1s tros do deserto interior Devemos presumir que se um árabe alegria se ele está triste pela morte de um filho ou de um de seus pS se tem um sentimento das injusticas da tirania política essas expenen cías estaráo necessariamente subordinadas ao fato nu e cru sem ador nos e persistente de que ele é árabe O primitivismo desse estado existe simultaneamente ern pelo me nos dois níveis 1 na defíniciio que é redutiva e 2 segundo Bell Lawrence na realidadeEssa coincidencia absoluta na era S1 mesma urna simples coincidencia Para comecar ela so ser íeita de fora por meio de um vocabulário e de instrumentos lógicos concebidos para ir ao centro das coisas e paraevItaras distracóes do acaso da circunstancia ou da experiencia Depois a com 236 d cidéncia era resultante unicamente de método tradicáo e política tra balhando juntos Cada um desses níveis de certo modo oblíterava as distincóes entre os tipos o oriental o semita o árabe o Oriente e a realidade humana ordinária o incontrolável mistério do solo bes tial de Yeats no qual todos os seres humanos vivem O investigador erudito considerava um tipo que levasse a marca oriental como sendo igual a qualquer oriental individual que ele pudesse encontrar Anos de tradicáo haviam emprestado ao discurso sobre questóes como o espírito semítico ou oriental urna certa legitimidade E o bom senso politico ensinava na maravilhosa frase de Bell que no Leste tudo é a mesma coisa O primitivismo portante era inerente ao Oriente era o Orien te urna idéia para a qual quem quer que estivesse lidando com o Oriente ou escrevendo sobre ele tinha de regressar como se fosse urna pedra de toque que durasse mais que o tempo ou que a experiéncia Há um modo excelente de entender tudo isso ern relacáo aos agentes peritos e conselheiros brancos para o Oriente O que interes saya para Lawrence e Bell era que as suas referencias aos árabes ou aos orientais pertencessem a urna convencáo de formulacáo reconhe cívele autorizada urna que fosse capaz de subordinar a si os detalhes Mas de onde mais especificamente vinham o árabe o semita ou o oriental Jáobservamos de que modo durante o século XIX em escritores como Renan Lane Flaubert Caussin de Perceval Marx e Lamartine urna generalizacáo sobre o Oriente extraía o seu poder da presumida representatividade de tudo o que fosse oriental cada partícula do Oriente falava da própria orientalidade de tal modo que o atributo de se ser oriental prevalecia sobre qualquer exemplo contrário Um ho rnem oriental era prirneiro um oriental e só depois um homem Urna tipificacáo radical como essa era reíorcada pelas ciencias ou discursos como prefiro chamálos que se dirigiam para trás e para baixo em di recáo acategoria da espécie categoria esta que supostamente era urna explicacáo ontogenética para qualquer membro da espécie Desse modo nos limites de designacóes amplas semipopulares como orien tal eram feitas algumas distíncóes de maior validade científica a maior parte delas estava baseada principalmente em tipos de lingua gem por exemplo semítico dravídico hamítico mas adquiriam rapidamente o apoio de evidencias antropológicas psicológicas bioló gicas e culturáis O semítico de Renan por exemplo era urna gene ralízacáo lingüistica que podia sornar a si todo tipo de idéias paralelas da anatomia da história da antropologia e até da geologia O semí tico podia assim ser empregado nao só como urna simples descricáo ou designacáo podia ser aplicado a qualquer complexo de eventos his 237 tóricos e políticos de modo a podálos até chegar a um núcleo que tanto fosse anterior como inerente a eles O semítico portanto era urna categoría transtemporal transindividual que pretendía prever cada ato distinto do comportamento semítico coro base em urna esséncia semítica preexistente e também interpretar todos os aspectos da vida humana em termos de uro elemento semítico comum O peculiar domínio sobre a cultura liberal européia do século XIX exercido por essas idéias relativamente punitivas parecerá miste rioso a menos que se lembre que o apelo das ciencias como a lingüís tica a antropologia e a biologia é que elas eram empiricas e de modo algum especulativas ou idealistas de Renan assim como o indoeuropeu deBopp era objeto de urna síntese mental é verdade mas era considerado lógico e inevitável como urna protoforma consi derando os dados cientificamente apreensíveis e empiricamente anali sáveis de línguas semíticas especificas Assim ao se tentar formular um tipo lingüístico e também cultural psicológico e histórico prototípico e primitivo havia também urna tentativa de definir um potencial hu mano primárlo do qual derivavam uniformemente exemplos total mente específicos de comportamento Ora essa tentativa teria sido im possível se nao se tivesse também acreditado em termos empiristas c1ássicos que a mente e o corpo sao realidades interdependentes ambas originariamente determinadas por um conjunto dado de condi cóes geográficas biológicas e quasehistóricas Desse conjunto que nao estava adisposicáo do nativo para descoberta ou introspeccáo nao havia nenhum escape subseqüente O viés antiquário dos orientalistas era apoiado por essas idéias empiristas Em todos os seus estudos do isla do budismo ou do zoroastrismo clássicos eles sentiam estar agindo como confessa o dr Casaubon de George Eliot como o fan tasma de um anciáo vagando pelo mundo e tentando concebélo men talmente tal qual era apesar da ruína e das desconcertantes mu dancas Se essas teses sobre as características lingüísticas civilizacionais e finalmente raciais fossem meramente um aspecto de um debate aca démico entre cientistas e eruditos europeus poderíamos desconsiderá las como material de cena para um drama íntimo sem importancia A questáo porém é que tanto os termos do debate como o próprio debate tinham urna vasta circulacáo na cultura do final do século XIX como disse Lionel Trilling a teoria racial estimulada por um nacionalismo emergente e por um crescente imperialismo apoiada por urna ciencia incompleta e mal assimilada era praticamente incontestada 36 A teo ria racial as idéias sobre origens e classificacóes primitivas decadencia moderna progresso da civilizacáo destino das racas brancas ou aria 238 nas e a necessidade de territórios coloniais eram elementos do peculiar amálgama de ciencia política e cultura cuja inclinacáo quase sem excecáo sempre foi no sentido de guindar a Europa ou urna raca eu ropéia ao domínio sobre as partes náoeuropéias da humanidade Ha via também um consenso geral de que segundo urna variedade estra nhamente transformada de darwinismo sancionada pelo próprio Dar win os orientais modernos eram remanescentes degradados de urna antiga grandeza as civilizacóes antigas ou clássicas do Oriente po diam ser apreendidas através das desordens da decadencia atual mas sóa porque um especialista branco com técnicas científicas altamente refinadas podia fazer as distincóes e reconstituicóes e b porque um vocabulário de generalidades abrangentes os semitas os arianos os orientais nao fazia referencia a um conjunto de ficcñes mas antes a toda urna série de distincóes aparentemente objetivas e fruto de um consenso Dessa maneira urna observacáo sobre aquílo de que os orien tais eram ou nao capazes era apoiada por verdades biológicas como as que foram delineadas por P Charles Michel em Urna visáo bio lógica da nossa política externa 1896 em The struggle for existence in human society A luta pela existencia na sociedade humana 1888 de Thomas Henry Huxley em Social evolution Evolucáo social 1894 de Benjamin Kidd em History ofintellectual development on the lines ofmodern evolution História do desenvolvimento intelectual com base nas linhas da evolucáo moderna 18971901 de John B Crozier e em The biology of brítisñ politics Biologia da política británica 1904 de Charles Harvey Presumiase que se as línguas fossem tilo dife rentes urnas das outras quanto os lingüistas diziam também os seus usuários suas mentes culturas potenciais e até mesmo seus carpos seriam igualmente diferentes E essas distincñes tinham por trás de si a forca de urna verdade ontológica empírica juntamente com a con vincente dernonstracáo dessa mesma verdade em estudos de origens desenvolvimento caráter e destino A questáo a ser enfatizada é que essa verdade sobre as diferencas características entre as racas civilizacóes e línguas era ou pretendia ser radical e inerradicáve1 Ela ia ao fundo das coisas afirmava que nao havia escapatória das origens e dos tipos que estas possibilitavam estabelecia os limites verdadeiros entre os seres humanos nos quais se baseavam as racas nacóes e civilizacóes desviava a visáo de realidades humanas comuns e plurais como a alegria o sofrimento a organiza cáo política forcando ero vez disso a atencáo para baixo e para trás ero direcáo as imutáveis origens Uro cientista nao estava mais livre em sua pesquisa dessas origens que uro oriental estava livre dos semitas dos árabes ou dos indianos dos quais sua presente realidade 239 rebaixada colonizada atrasada o excluía salvo para a apresenta cáo didática do pesquisador branco A proñssáo da pesquisa especializada conferia privilégios únicos Lembremos que Lane podía parecer oriental e mesmo assim conservar seu distanciamento erudito Os orientais que ele estudava rornavamse de fato os orientais dele pois ele os vía nao só como pessoas reais mas como objetos monumentalizados na descricáo que deles fazia Essa du pla perspectiva encorajava urna certa ironia estruturada Por uro lado havia um número de pessoas que viviam no presente por outro essas pessoas como objeto de estudo tornavamse os egipcios os muculmanos ou os orientais Sé o estudioso podía ver e manipular a discrepancia entre os dais níveis A tendencia dos primeiros era para urna maior variedade mas essa variedade estava sempre sendo restrin gida comprimida para baixo e para irás em direcáo ao terminal ra dical da generalidade Cada exemplo moderno e nativo de compor tamento tornavase urna efusáo que deveria ser mandada de volta ao terminal de origem o qual era reforcado no processo Esse tipo de despacho era precisamente a disciplina do orientalismo A capacidade de Lane de lidar com os egipcios como seres pre sentes e como validacóes de etiquetas sui generis era urna íuncáo tanto da disciplina orientalista como de opiniñes gerais sobre o muculmano ou o semita do Oriente Próximo Nenhum povo permitia urna maior visáo simultanea do presente e das origens que os orientais semitas Os judeus e os muculmancs como objeto de estudo orientalista eram prontamente compreensíveis dadas as suas origens primitivas esta era e em certa medida ainda é a pedra angular do orientalismo Renan havia classificado os semitas como um exemplo de desenvolvimento de tido e funcionalmente falando isso veio a significar que para o orien talista nenhum semita moderno por mais que este pensasse ser mo derno poderia afastarse das pretensóes organizativas que as suas ori gens exerciam sobre ele Essa regra funcional atuava ao mesmo tempo nos níveis temporal e espacial Nenhum semita avancou no tempo além do desenvolvimento de um periodo clássico nenhum semita poderia jamais desvencilharse do ambiente pastoral e desértico da sua tenda e da sua tribo Toda maniíestacáo de vida semítica real podia e deve ria ser referida acategoría explicativa primitiva do semítico O poder executivo de uro sistema de referencias como esse por meio do qual cada exemplo distinto de comportamento real podia ser reduzido a um pequeno número de categorias explicativas originais era considerável por voita do fim do século XIX No orientalismo ele equivalia a burocracia na administracáo pública O departamento era mais útil que a ficha individual e certamente o indivíduo humano 240 era significativo principalmente como urna ocasiao para urna ficha Devemos imaginar o orientalista atuante no papel de um funcionário que guarda um amplo sortimento de fichas em um grande armário rotulado Os semitas Ajudado por descobertas recentes na antropo logia comparativa e primitiva um estudioso como William Robertson Smith podia agrupar os habitantes do Oriente Próximo e escrever sobre seus costumes de parentesco e de matrimonio sobre a forma e o con teúdo de suas práticas religiosas O poder da obra de Smith está em sua desmitologizacáo claramente radical dos semitas As barreiras nomi nais apresentadas ao mundo pelo isla ou pelo judaísmo sao postas de lado Smith usa a filologia e a mitologia semítica e a erudicáo orienta lista para conceber urna imagem hipotética do desenvolvimento dos sistemas sociais coerente corn todos os fatos árabes Se essa ima gem tem éxíto ero revelar as raízes precedentes e ainda influentes do monoteísmo no totemismo e na adoracáo dos animais o estudioso teve éxito E ísso diz Smith apesar do fato de que as nossas fontes mao metanas cobrem com um véu tanto quanto podem todos os detalhes do velho paganismo 38 A obra de Smith sobre os semitas cobria áreas como teologia literatura e história foi realizada com plena consciencia de outras obras orientalistas ver por exemplo o selvagem ataque de Smith em 1887 a Histoire du peuple dIsraél História do POyO de Israel de Renan e mais importante tinha a intencáo de contribuir para o enten dimento dos semitas modernos Pois Smith era acho um elo crucial na cadeia intelectual que liga o HomemBrancocomoperito ao Oriente moderno Nada da sabedoria engarrafada passada como perícia orien tal por Lawrence Hogarth e Bel teria sido possível sem Smith E até Smith o antiquário erudito nao teria tido metade de sua autoridade sem a adicional experiencia direta dos fatos árabes Poi a combina cáo em Smith da posse de categorias primitivas com a capacidade de ver as verdades gerais por trás das divagacóes empíricas do cornpor tamento oriental contemporáneo que deu peso aos seus escritos E i mais foi essa combinacáo especial que prenunciou o estilo de perícia o qual Lawrence Bell e Philby construiram a própria reputacáo Como Burton e Doughty antes dele Smith viajou pelo Hejaz entre 1880 e 1881 A Arábia foi um lugar especialmente privilegiado para o orientalista nao só porque os rnuculmanos tratam o isla como o genius loci da Arábia mas tambérn porque o Hejaz parece ser tao de serto e atrasado histórica quanto geograficamente o deserto da Ará bia assim é considerado como um lugar sobre o qual podem ser feitas declaracóes com relacáo ao passado exatamente da mesma forma e com o mesmo conteúdo que com relacáo ao presente No Hejaz pode 241 se falar sobre os muculmanos sobre o isla moderno e o isla primitivo sem se preocupar com distincóes Smith foi capaz de aportar a esse vocabulário carente de fundamento histórico a autoridade adicional dos seus estudos semíticos O que vemos em seus comentários é a po sicáo de um erudito que domina todos os antecedentes do isla dos árabes e da Arábia Logo E caracteristico do maometanismo que todo o sentimento nacional as suma um aspecto religioso no sentido de que todo o estado e as formas sociais de um país muculmano cobremsecom roupagens religiosas Mas seriaum errosupor que um genuíno sentimento religioso está na base de tudo o que sejustifica tomando urnaforma religiosa Os preconceitos do árabe tém suas raízes em um conservadorismo mais profundo que a sua crenca no isla É urnagrande falha da religiáo do Profeta prestarse tao facilmente aos preconceitos da raca no seio da qual foi promulgada em primeirolugar e que tenha posto sob a sua prctecác tantas idéias bár barase obsoletas que o próprioMaomé devetervisto nao terem nenhum valorreligioso mas que ele trouxepara o seu sistema de modo a facilitar a propagacáo das suas doutrinas reformadas Mas muitos dos precon ceitos que nos parecem distintamente maometanos nao tem base alguma no Corao39 O nos da última frase desse espantoso trecho de lógica define a posi 9110 vantajosa do Homem Branco explicitamente Isso nos permite dizer na primeira frase que toda a vida politica e social estáo cober tas pela roupagem religiosa o isla pode assim ser caracterizado como totalitário para entáo dizer na segunda que a religiáo é só um disfarce usado pelos muculmanos ou seja todos os muculmanos sao essencial mente hipócritas Na terceira pretendese que o isla mesrno domi nando a fé do árabe nao reformou realmente o conservadorismo pré islámico básico deste E isso nao é tudo Pois se o isla teve éxito como religiáo foi por ter permitido irresponsavelmente que esses precon ceitos árabes auténticos se infiltrassem Por essa tática hoje vemos que foi urna tática do isla devemos culpar Maomé que na verdade era um cruel criptojesuíta Mas tudo isso é mais ou menos apagado na úl tima frase quando Smith nos garante que nada do que ele disse sobre o isla vale visto que os aspectos essenciais deste conhecidos pelo Ocidente nao sao rnaometanos afinal de contas Os principios da identidade e da náocontradicáo claramente nao dizem respeito ao orientalista Eles sao superados pela pericia orienta lista que é baseada em urna verdade coletiva irrefutável inteiramente ao alcance filosófico e retórico do orientalista Smith sem o menor tremor fala sobre o hábito árido prático e constitucionalmente irreligioso da mente árabe sobre o isla como um sistema de hipo crisia organizada sobre a impossibilidade de sentir qualquer res peito pela devocáo muculmana em que o formalismo e a va repeticáo sao reduzidos a um sistema Seus ataques ao isla nao sao relativistas pois é claro para ele que a superioridade da Europa e do cristianismo é real e nao imaginária No fundo a visáo de mundo de Smith é binária como fica evidente em passagens como a que segue o viajanteárabe é bem diferente de nós O esforco de deslocarse de um lugara outro é para ele um mero incomodo ele nao tem nenhum prazer no esforco como nós ternos e resmunga pela fome ou pelo cansaco com toda a force o que nós nao fazemos Nunca se convencerá o oriental de que quando se desmonta do camelo é possível ter outro de sejo que nao o de porse de cócoras em uro tapete e descansar íisterih fumando e bebendo Além disso o árabe pouco se impressiona com a paisagemmas nós sim40 Nós somos isto eles sao aquilo Qual árabe qual isla quando como segundo quais testes estas parecem ser distincóes irrelevantes para a ínspecáo de Smith do Hejaz e para a sua experiencia no mesmo O ponto crucial é que tudo o que se pode saber ou aprender sobre os semitas e os orientais recebe imediata corroboracáo nao só nos arquivos mas também diretamente no local Dessa estrutura coercitiva por meio da qual um hornem de cor moderno é irrevogavelmente acorrentado as verdades gerais sobre seus ancestrais prototípicos lingüísticos antropológicos e doutrinais formu ladas por um estudioso europeu branco derivou a obra dos grandes peritos orientais do século XX na Inglaterra e na Franca Esses peritos trouxeram também para essa estrutura as suas obsessóes e as suas mitologias particulares as quais foram estudadas em escritores como Doughtye Lawrence com considerável energia Cada um deles Wil frid Scawen Blunt Doughty Lawrence Bell Hogarth Philby Sykes Storrs acreditava que a sua visáo do Oriente era individual criada a partir de um encontro intensamente pessoal com o Oriente corn o isla com os árabes cada um deles exprimia um desprezo geral pelo conhe cimento oficial sobre o Oriente O sol fez de mim um árabe escreveu Doughty em Arábia deserta mas nunca me desviou para o orienta lismo Mas em última análise todos eles salvo Blunt exprimiam a hostilidade e o medo tradicionais do ocidental em relacáo ao Oriente Suas visóes refinavam e davam um toque pessoal ao estilo académico do orientalismo moderno com o seu repertório de generalizacóes gran diosas ciencia tendenciosa da qual nao havia apelo fórmulas redu tivas Doughty de novo na mesma página em que zomba do orienta lismo Os semitas sao parecidos com um homem enfiado em urna 242 243 cloaca até os olhos mas cujas sobrancelhas tocam o céu 41 Eles agiam prometiam e recomendavam políticas públicas com base nessas generalizacóes e por urna notável ironia adquiriram a identidade de Orientais Brancos em suas culturas natais apesar de nos exemplos de Doughty Lawrence Hogarth e Bell o seu envolvimento profissional com o Oriente como o de Smith nao impedir que eles o desprezassem completamente A questáo principal para eles era manter o Oriente e o isla sob o domínio do Homem Branco Uma nova dialética surge desse projeto O que se requer do perito oriental nao é mais apenas entendimento agora é preciso que o Oriente tenha um desempenho que o seu poder seja alistado ao lado dos nossos valores civilizacáo interesses metas O conhecimento do Oriente é diretamente traduzido em atividade e os resultados dáo ori gem a novas correntes de pensamento e de acáo no Oriente Mas estas por sua vez exigiráo do Homem Branco urna nova afirmacáo de con trole desta vez nao como autor de urna obra erudita sobre o Oriente mas como quem faz a história contemporánea e do Oriente como urna realidade urgente a qual posto que a cornecou só o perito pode enten der adequadamente O orientalista tornouse agora urna figura da his tória oriental que dela nao se distingue que lhe dá forma e que é o sínal característico dessa história para o Ocidente Eis aqui essa dialética ern resumo AIgunsingleses dos quais Kitchener era o principal achavam que urna rebeliáo dos árabes contra os turcos permitiria que a Inglaterra comba tendo a Alemanha derrotasse simultaneamente a Turquia sua aliada O conhecimento que eles tinham da natureza do poder e do país dos povos de língua árabe fazia com que achassem que o resultado de tal rebeliáo seria feliz e indicava o caráter e os métodos da mesma De modo que permitiram que ela comecesse tendo obtido garantias formáis de ajuda para ela por parte do Governo Británico Mas mesmo assim a rebeliáo do Xerife de Meca foi para muitos urna surpresa e encontrou os Aliados despreparados Provocou sentimentos contraditórios e fez fortes amigos e inimigos e entre os zelos em conflito destes seus assuntos comecaram a ir mal42 Essa é a sinopse feita pelo próprio Lawrence no capítulo inicial de The seven pillars 01 wisdom Os sete pilares da sabedoria O conheci mento de alguns ingleses cria um movimento cujos assuntos dáo origem a urna progenitura variada as ambigüidades os resultados semiimaginários e tragicómicos desse Oriente novo e revivido tornam se objeto de escritos de peritos urna nova forma de discurso orientalista que apresenta urna visáo do Oriente contemporáneo nao como narra tiva mas como todo complexidade problemática esperanca traída coro o autor Orientalista Branco como a sua definicáo profética arti culada A derrota da narrativa pela visáo o que é verdade até mesmo em urna obra tao patentemente ficcional como The seven pillars é algo que já encontramos em Modern egyptians de Lane Um conflito entre urna vísao holística do Oriente descricáo registro monumental e urna narrativa de eventos no mesmo é um conflito em vários níveis envolvendo diversas questóes diferentes Como ele se renova freqüente mente no discurso do orientalismo vale a pena analisálo brevemente aqui O orientalista inspeciona o Oriente desde cima com vistas a apreender todo o panorama que se estende diante dele cultura reli giáo mente história sociedade Para fazer isso ele precisa ver cada detalhe por meio de um conjunto de categorias redutivas os semitas a mente muculmana o Oriente e assim por diante Visto que essas categorias sao primariamente esquemáticas e eficientes e posta que se presume mais ou menos que nenhum oriental pode conhecer a si mesmo como o orientalista pode qualquer visáo do Oriente em última instan cia passa a depender para a própria coeréncia e íorca da pessoa instituicáo ou discurso a que pertence Qualquer visáo abrangente é fundamentalmente conservadora e já observamos de que modo na história das idéias sobre o Oriente Próximo no Ocidente essas idéias mantiveramse a despeito de quaisquer provas contra elas Na ver dade podemos argumentar que elas produziram provas da própria validade O orientalista é principalmente um tipo de agente dessas visóes abrangentes Lane é um exemplo tipico do modo como um indivíduo acredita ter subordinado suas idéias ou até mesmo o que ve as exigen cias de urna visáo científica de todo o fenómeno conhecido coletiva mente como o Oriente ou a nacáo oriental Esse tipo de visáo por tanto é estático do mesmo modo que as categorías científicas que in formam o orientalismo do final do século XIX sao estáticas nao há re curso para além dos semitas ou da mente oriental sao termos fi nais que contém todas as variedades do comportamento oriental nos limites de urna visáo geral de todo o campo Como disciplina como profissáo como linguagem especializada ou discurso o orientalismo depende da permanencia de todo o Oriente pois sem o Oriente nao pode haver nenhum conhecimento consistente inteligível e articulado chamado orientalismo Por isso o Oriente pertence ao orientalismo da mesma maneira que se presume existirem inforrnacñes pertinentes relacionadas ao Oriente ou sobre o mesmo Contra esse sistema estático de essencialismo sincrónico 43 que chamei de visáo porque ele presume que o conjunto do Oriente possa l r 244 245 ser visto panopticamente há urna pressáo constante A fonte desta é narrativa no sentido de que caso se possa demonstrar que um detalhe oriental qualquer se desloca ou se desenvolve a diacronia é introduzida no sistema A instabilidade sugere que a história com a sua minúcia perturbadora suas correntes de mudanca e a sua tendencia ao cresci mento ao declínio ou ao movimento dramático é possível no Oriente e para ele A história e a narrativa pela qua ela é representada argu mentam que a visáo é insuficiente que o Oriente como categoria ontológica incondicional comete urna injustica contra o potencial da realidade para a mudanca Além disso a narrativa é a forma específica assumida pela his tória escrita para compensar a permanencia da visáo Lane percebeu os perigos da narrativa quando se recusou a dar urna forma linear a si mesmo e a sua iníormacáo preferindo em vez disso a forma monu mental da visáo enciclopédica OU lexicográfica A narrativa afirma o poder dos homens de nascer desenvolverse e morrer a tendencia das instituicóes e das realidades amudanca a probabilidade de que a mo dernidade e a contemporaneidade alcancem e finalmente superem as civilizacóes clássicas acima de tudo ela afirma que o domínio da realidade pela visáo nao passa de urna vontade de poder urna vontade de verdade e de interpretacáo e nao urna condicáo objetiva da história Resumindo a narrativa introduz um ponto de vista urna perspectiva e urna consciencia opostos a teia unitária da visáo viola as serenas fíe cóes apolónicas afirmadas pela visáo Quando como resultado da Primeira Guerra o Oriente foi for cado a entrar na história foi o orientalistacornoagente que levou isso a cabo Hannah Arendt observou brilhantemente que a contrapartida da burocracia é o agente imperíal o que equivale a dizer que se o esforco académico coletivo chamado orientalismo era urna instituicáo baseada em urna determinada visáo conservadora do Oriente entáo os servidores dessa visáo no Oriente eram agentes imperiais como T E Lawrence Na obra deste podemos ver claramente o conflito entre a história narrativa e a visáo no momento em que nas palavras dele mesmo 0 novo imperialismo tentava um movimento ativo de impo sicáo de responsabilidades aos povos locais do Oriente A concor réncia entre as Potencias Européias fazia com que agora elas incitassem o Oriente avida ativa e o pusessem para trabalhar tirandoo da imutá vel passividade oriental para a vida moderna militante Seria impor tante mesmo assim nunca deixar que o Oriente seguisse o seu próprio camínho ou escapasse ao controle de acordo com a visáo canónica de que os orientais nao tinham tradicáo de liberdade O grande drama da obra de Lawrence é que ela simboliza a luta 246 para o Oriente sem vida sem tempo sem forca ao rmpor urna forma essencial mente ocidentaJ tercejro conter O t 0 rten e novo e esperto em urna de fracasso e traícáo Eu pretendia Iazer urna nova nacáo restaurar urna influencia perdida dar a20 milh5es de semitas a base sobre a qual erigir um de com os peIstimentos nacionais deles Todas as provmclas subJugadas do Império nao valiam para mim um menino in gles Se tiver ao Leste algum autorespeito urna meta ideáis se tiver tornado um pouco maisexigente o domínio corrente o vermelho terei deixado esses povosem condicóespara a comum em que as racas dominantes esqueceráo as suas brutas e vermelhos amarelos pardos e negros es taráo juntos sem desconfiancas a servicodo mundo Nada disso seja como intencáo empreendimento real ou proieto fra tena sido remotamente possível sem a perspectiva do Orienta lista Branco lago no início O no Metropole em Brighton o avarento o adorador de Adonis e o libertino nos eflúvios de Damasco eram igualmente sinais da dad iti d f capaci e semi para o es rute e expressóesdo mesmo vigor que nos deu no polo a dos esséníos ou os cristáos primitivos os pnrnerros Califas achavam os caminhos para o céu mais fáceis para pobres de esptrito O semita pairava entre a luxúria e a auto negacao Lawrence tem o apoio nessas declaracóes de urna respeitável tradicáo que atravessa cmo um raio de luz todo o século XIX o centro lumi noso dessa tradícáo é claro é o Oriente e isto é forte o bastante para duminar as topograñas que se encontram ao seu alcance tanto as quanto as refinadas O judeu o adorador de Adonis e o libertino de Damasco nao sao tanto sinais de humanidade digamos de um semiótico chamado semítico cuja coeréncía vem do semitíco do orientalismo Nesse campo certas coisas eram posstveis Os árabes podiam ser balancados por urna idéia como se estivessem na de corda pois a submíssáo descomprometida de suas mentes fazia deles criados obedientes Nenhum deles escaparía ao lace até que o e a responsabilidade e o dever e o compro Entáo a idéia iria embora e o trabalho acabaria em rumas Sem um credo eles poderiam ser levados aos quatro cantos do mundo mas nao para o céu contanto que lhes mostrassem as riquezas da terra e os seus prazeres mas se por acaso no caminho eles en 247 contrassem o profeta de urna ídéia que nao tivesse onde morto e dependesse para comer da caridade ou dos pássaros trás toda a fortuna em traca da ínspiracao dele Eram tao mstaveis quanto água e como a água talvez no final Desde a au rora da vida em ondas sucessivas eles estiveram atírandose contra as costas da humanidade Cada onda arrebentava Urna delas e nao das menores eu levantei e cavalguei afrente de um suspiro de idéia até que ela alcancou seu ponto mais alto arrebentou e caiu em Damasco A volta dessa onda repelida pela resistencia das ccisas investidas Iornecerá o material para a próxima quando na plenitude do tempo o mar se erga maís urna vez Podiam seriam e se sao os modos de Lawrence inserirse campo por assirn dizer Assim preparase a para a tima sentenca em que como manipulador dos arabes poe se a frente deles Como o Kurtz de Conrad Lawrence da terrapara identificarse de dlZ mais apoder ser responsável por obrgar a l urna nova Ásia que o ternpo co1cva inexoravelmente sobre nos adquiréum sentido só quando Lawrence lhe confere um o que ele assim designou aÁsia era um triunfo dis posicáo de crescimento no sentido de a dor e a experiencia de outro a sua personahdade O orientalista tor nouse agora o representante oriental ao contrário de outros observa dores participantes como Lane para os quais o Oriente era se mantinha cuidadosamente adistancia Em Lawrence porem ha um conflito insolúvel entre o Homem Branco e o oriental e embora ele nao o explicite esse conflito repete na mente dele o conflito histórico entre o Leste e o Oeste Consciente do seu poder sobre o Onente consciente também da sua duplicidade inconsciente de qualquer coisa no Oriente que lhe sugerisse que a história afinal de contas é a história e que mesmo sem ele os árabes acabariam dando atencáo asua disputa coro os turcos Lawrence reduz toda a narrativa da revolta 5seus sucessos momentaneos e o seu amargo fracassc asua visáo de SI mesmo como urna constante guerra civil sem solucáo E no entanto tínhamos aceitado assumir problemas e sentimentos alheios porque era para o nosso próprio bern ou pelo menos porque vinha ao encontro do que era benéfico para nós e só podíamos escapar a esse conhecimento por meio de um fazdeconta tanto no sentido como no motivo Para nós líderes parecia nao haver meio de caminhar em linha reta corn tal método de conduta círculos dentro de círculos de motivos nhecidos e encabulados que cancelavam ou reforcavam os antenores 248 A esse sentimento íntimo de derrota Lawrence somaria depois urna teoria sobre os velhos que roubaram O seu triunfo De qualquer modo o que importa para Lawrence é que como perito branco e lega tário de anos de sabedoria académica e popular sobre o Oriente ele é capaz de subordinar o próprio estilo ao deles para depois assumir o papel de um profeta oriental que dá forma a um movimento na nova Ásia E quando por qualquer que seja o motivo o movimento fra cassa é tomado por outros suas metas sao traídas seu sonho de inde pendencia é invalidado é a desilusáo de Lawrence que conta De modo que longe de ser apenas um homem perdido na grande vaga de acon tecimentos desconcertantes Lawrence igualase plenamente com a luta da nova Asia que deve nascer Enquanto Esquilo representara a Ásia chorando as suas perdas e Nerval expressara a sua desilusáo coro o Oriente por este nao ser tao glamouroso quanto ele quisera Lawrence tornase tanto o continente enlutado quanto urna consciencia subjetiva que expressa uro desen canto quase cósmico No final Lawrence gracas nao só a Lowell Thornas e a Robert Graves e a visáo de Lawrence tornaramse o símbolo mesmo dos distúrbios orientais em resumo ele assumira a responsabilidade pelo Oriente mediante a interposicáo da sua experien cia sagaz entre o leitor e a história Na verdade o que Lawrence apre senta ao leitor é um poder de perito sem mediacóes o poder de ser por um breve período o Oriente Todos os acontecimentos putativa mente adscritos a Revolta Árabe sao reduzidos finalmente as expe riencias de Lawrence em nome dela Em tal caso portanto o estilo nao é só o poder de simbolizar generalidades enormes como a Ásia o Oriente ou os árabes é também urna forma de deslocamento e incorporacáo pela qual urna voz tornase tücfa para o ocfderitalbranco leitor ou escritor o tpo de Oriente conhecido como Rean ma reara abertasaos semitas na cultura no pensamento e na linguagem Lawrence tambérn faz um levantamento do espaco e na verdade apropriase desse espaco e do tempo da Asia moderna O efeito desse estilo é trazer a Ásia para urna torturante proximidade em relacáo ao Ocidente pelo menos por um breve mo mento O que nos resta no fim é um sentimento da patética distancia que ainda nos separa de um Oriente destinado a portar a sua própria estranheza como urna marca do seu permanente estranhamento em relacáo ao Ocidente Essa é a decepcionante conclusáo corroborada contemporaneamente pelo final de A passage lo India Passagem para a india de E M Forster quando Aziz e Fielding tentam e nao conseguem urna reconciliacáo 249 Por que nao podemos ser amigos agora disse o outro abracandoc afetuosamente E o que eu quero Eo que vocgquer Mas os cavalos nao queriam afastaramse a terra nao quería er guendo rochas pelas quais os cavaleiros tinham de passar em fila in diana os templos o tanque a cadeia o palácio os pássaros a Pensáo que se avistou quando eles saíram da passagem e virarn Mau lá embaixo nao queriam disseram com suas cero vozes Nao nao ainda e o céu disse Nao nao nesse lugar 49 Esse estilo essa deijni9ao compacta é o que o Oriente sempre terá dian te de si Apesar do pessimisrno há urna mensagem política positiva por trás dessas frases A brecha entre o Leste e o Oeste pode ser modulada como Cromer e Balfour bem sabiam pelo conhecimento e poder oci dentais superiores A visáo de Lawrence é complementada na Franca por Une enquéte aux pays du Levant Urna pesquisa nos países do Levante de Maurice Barres registro de urna viagem pelo Oriente Pró ximo em 1914 Como tantas obras anteriores a Enquéte é urna recapi tulacáo cujo autor nao só investiga as fontes e origens da cultura oci dental no Oriente mas também refaz Nerval Flaubert e Lamartine em suas viagens ao Oriente Para Barres porém a viagem tem urna di mensáo política adicional ele procura provas e evidencias conclusivas para um papel construtivo da Franca no Oriente Mas a diferenca entre as perícias francesa e inglesa permanece a primeira administra urna conjuncáo real de povos e territórios enquanto a última lida com um campo de possibilidade espiritual Para Barres a presenca francesa pode ser vista melhor nas escalas francesas ande como ele diz de urna escola em Alexandria HE encantador ver aquelas mocinhas orientais acolhendo e reproduzindo tao maravilhosamente em seu francés fa lado e fantaisie e a melodia da IledeFrance Se a Franca na reali dade nao possui nenhuma colonia no Oriente nao está inteiramente desprovida de possessóes Há no Oriente um sentimento sobre a Franca que é tao religioso e forte que é capaz de absorver e reconciliar todas as nossas mais diversas aspi racóes No Oriente representamos a espiritualidade a justica e a cate goria do ideal Lá a Inglaterra é poderosa a Alemanha é todopoderosa Mas nós possuimos as almas orientais Discutindo ferozmente coro Jaurés esse célebre médico europeu pro póe vacinar a Asia contra as suas próprias doencas ocidentalizar os orientais leválos a um saudável contato com a Franca Mas mesmo nesses projetos Barres preserva exatamente a distincáo entre o Leste e o Oeste que pretende estar mitigando 250 Como poderemos formar para nós roesrnos urna elíte intelectual com a qual possamos trabalhar feita de orientais que nao seriam desenrai zados que continuariam evoluindo segundo suas próprias normas pene trados por tradicóes familiares e quem formaria assim um elo entre nós e a massa dos nativos Como criaremos relacóes com vistas a preparar o caminho para acordos e tratados que seriam a forma desejável assumida pelo nosso futuro político no Oriente Todas essas coisas dizem res peito finalmente a despertar nesses pavos estranhos o gosto pelo esta belecimento de cantatas COm a nossa inteligencia mesmo que esse gasto possa de fato nascer do seu próprio sentimento dos seus destinos na cionaisP A énfase da última frase é do próprio Barres Posto que ao con trário de Lawrence e Hogarth cujo livro The wandering scholar O erudito errante é um relato totalmente informativo e naoromántico de duas viagens ao Levante em 1896 e 1910 ele escreve sobre um mundo de probabilidades distantes está mais preparado para imaginar o Oriente seguindo o seu próprio caminho Mas o laco ou rédea entre o Leste e o Oeste que ele defende é concebido de modo a permitir urna constante variedade de pressáo intelectual indo do Oeste para o Leste Barres ve as coisas nao em termos de ondas batalhas aventuras espi rituais mas de cultivo do imperialismo intelectual tao inerradicável quanto sutil A visáo británica exemplificada por Lawrence é a do tronco principal do Oriente dos seus povos organizacóes políticas e movimentos guiados e mantidos sob controle pela hábil tutela do Ho mem Branco o Oriente é o nosso Oriente o nosso povo os nos sos dominios As discriminacóes entre as elites e as massas eram me nos prováveis entre os ingleses que entre os franceses cujas percepcóes e políticas baseavamse sempre nas minorias e nas insidiosas pressóes da cornunidade espiritual entre a Franca e os seus filhos coloniais O agente orientalista ingles Lawrence Bell Philby Storrs Hogarth durante e depois da Primeira Guerra assumiu ao mesmo tempo o pa pel de peritoaventureíroexcénrríco criado no século XfX por Lane Burton Hester Stanhope e o papel de autoridade colonial cuja posi cáo está ern um lugar central ao lado do governante indígena Law rence com os hashemitas e Philby com a casa de Saud sao os dais exem plos mais conhecidos A perícia oriental británica formavase em torno do consenso da ortodoxia e da autoridade soberana A perícia oriental francesa entre as duas guerras ocupavase da heterodoxia dos lacos espirituais dos excentricos Nao é por acaso portanto que as duas principais carreiras eruditas da época urna inglesa outra francesa tenham sido as de H A R Gibb e de Louis Massignon o interesse da primeira centrado na nocáo de sunna ou ortodoxia no isla e a se 251 gunda com o foco na figura teosófica sufi quase igual a Cristo de Mansur alHallaj Voltarei a esses dais grandes orientalistas mais adiante Se nesta secáo me concentrei tanto nos agentes imperiais e na queles que faziam as políticas específicas em vez de concentrarme nos estudiosos foi para acentuar o grande deslocamento do orientalismo do conhecimento sobre o Oriente e das relacóes coro o mesmo de urna atitude académica para urna atitude instrumental Esse desloeamento vem acompanhado também de uma mudanca de atitude do orientalista individual que DaD mais precisa ver a si mesmo como precisavam Lane Sacy Renan Caussin Müllere outros como membro de urna espécie de guilda com suas próprias tradicóes e rituais internosº orientalista é agora o representante da sua cultura ocidental alguém que imprime asua própria obra uma grande dualidade da qual essa obra seja qual for sua forma especifica é uma expressáo simbólica aconsciéncia oconhecimento ea ciencia ocidentais apoderandose das mais distantes terras orientais bem como dos mais precisos particu lares do Oriente Formalmente o orientalista vese como aquele que realiza a uniáo entre o Oriente e o Ocidente mediante principalmente urna reafirmacáo da supremacía tecnológica política e cultural do Oeste A história nessa uniáo é radicalmente atenuada se nao ba nida Vista como urna corrente de desenvolvimento como urna linha narrativa ou como urna forca dinámica que se desenrola sistemática e materialmente no ternpo e no espaco a história humana do Leste ou do Oeste é subordinada a uma concepcáo essencialista e idealista de Ocidente e de Oriente Sentindo estar na linha divisória entre o Leste e o Oeste o orientalista nao se limita a falar em vastas generalidades ele procura também converter cada aspecto da vida oriental ou ocidental ern um sinal sem mediacóes de uma ou outra metade geográfica O intercambio nos escritos do orientalista entre o seu lado pe rito e o seu lado de testemunha e observador como representante oci dental é resolvido principalmente em termos visuais Aqui está um tre cho tipico citado por Gibb da clássica obra de Duncan Macdonald The religious attitude and life in Islam A atitude religiosa e a vida no isla de 1909 Os árabes nao se mostram como pessoas que acreditam facilmente mas como pessoas teimosas materialistas que questionam duvidam e zom bam de suas próprias superstícóes e costumes que gostam de provas do sobrenatural e tudo isso de urna maneira curiosamente leve de espí rito quase infantilS O verbo regente é mostrar que dá a entender aqui que os árabes se 252 exibern voluntária ou involuntariamente para o exarne dos peritos O número de atributos designados para eles por seu apinhado con Junto de puras aposicóes faz os árabes adquirirem uma espécie de falta de existencial assim fazse com que os árabes se juntem a urna designacáo muito ampla cornum ao pensamento antropológico moderno do infantil primitivo O que Macdonald também implica é que há uma posicáo especialmente privilegiada ocupada pelo orienta lista ocidental cuja funcáo representativa é precisamente mostrar O tem de ser visto Assim toda história específica pode ser vista no apice ou na fronreira sensível entre o Oriente e o Ocidente A com plexa dinámica da vida humana o que eu venho chamando de histó tia tornase ou irrelevante ou trivial em comparacáo com a visao circular por meio da qual os detalhes da vida oriental ser vem apenas para reafirmar a orientalidade do objeto e a ocidentalidade do observador Se essa visáo lembra de certo modo a de Dante nao devemos de modo algum deixar de notar a enorme diferenca que há entre este Oriente e o de Dante A evidencia aqui quer ser e provavelmente é considerada científica a sua estirpe falando genealogicamente é a da ciencia européia intelectual e humana do século XIX Além disso o Oriente nao é urna simples maravilna nem urn inimigo ou um ramo do exótico é urna realidade política de grande e significativo peso Como Lawrence Macdonald nao pode realmente separar as suas caracterís ticas de representante ocidental do seu papel de estudioso Assim a sua visáo do isla tanto quanto a vísáo de Lawrence dos árabes implica a definicao do objeto com a identidade de quem define Todos os orien tais ser acomodados a urna visáo de um tipo oriental tal como fOI concebida pelo estudioso ocidental bem como a um encontro específico com o Oriente em que o ocidental reapreende a esséncia do como urna conseqüéncía do íntimo estranhamento daquele em relacáo a este Para Lawrence assirn como para Forster essa última sensacáo o desalento e o sentimento de uro fracasso pessoal para estudiosos como Macdonald ela reforca o próprio discurso orien talista E coloca esse discurso ao largo no mundo da cultura da politica e da realidade No período entre as guerras como se pode ver facil mente digamos nos romances de Malraux as relacóes entre o Leste e oOeste assumiram urna normalidade que era ao mesmo tempo difun dida e ansiosa Os sinais das reívindicacóes orientais de independencia política estavam por toda a parte no desmembrado Império Otomano elas eram estimuladas pelos Aliados e como ficou evidente na Revolta Arabe e nas suas seqüelas tornaramse rapidamente pro 253 I I a a ora constituir uro desafio nao só para blemáticas O Oriente paree g o conhecimento e o imperium o Ocidente em geral mas pabrao ntervencéc no e estudo do D isdeum omsecuo y do Ocidente epo O t que reagia por si mesmo I do Ocldente em um nen e Oriente o pape deravelmente mais delicado d d nidade parecía caos as cnses a IDO er ples havia a quesUio da con Havia a questao da puhrae sun de tratar COID as elites A no Oriente avia a que conenClaeuropeia ulares nativos e COID as exigencias na nativas coro os mOVlmentoS POPdA havia a quesUio dos cantatas e indepen enela nvas de autogoverno O d te Essas questóes fOfavam civilizacionais entre o e o t el idental sobre o Oriente Urna id d conhecrmen o Del urna caOSI eracao o id t da Société Asiatique entre S I ain Lévi presi en e personagem como Yv A e llege de France refletla sena 1928 e 1935 professor de sánscrito no o t men e em 1925 sobre a urgencia do problema LesteOeste ient l O problema humanístico O nosso dever é entender a fnen amo esforco solidário e inteli l teleetua em azer u y que conSiste no nrve ID Sero suas formas passadas gente para entender as nós franceses e futuras esta coloca o espec t dos também por um ingles o 1 es pudessem ser nu TI sentimentos smu ar áti as nossas grandes problema era europeu de modo pra ICO com colonias asiáticas de tradiJao de historia arte e Esses pOYOS sao herdeiros de urna amente e que devem estar religiao cujo sentido eles náo perd1eram lfiAseSumimosa responsabilidade Provavelroente ansrosos para pro ongar Ita los as vezes di as vezes sern consv do de intervir no correta ou incorreta en7ama civilizacáo superior foram concedidos emt 1 incontestável para os regularmente com a s t t das as suas tradicóes na tvas nativos pusemcs ero questao o d e o europeu tenha intervindo De modo geral portanto on e desanimo geral que era real o nativo percebeuse com urna espel a soma do seu bemestar na mente pungente posto que materiais havia diminuído esfera moral mais que ero term f as fundacóes da sua vida em vez de aumentar isso ez os pilares dourados sobre social parecessem Irágeis e a vida pareceram entáo nao os quais ele pensara reconstrUir sua propn passar de papeláo pintado de um lado a outro do Orien Essa decepcác traduzida transformarse ero ódio e o te e esse rancor esta agora muito pe ara transformarse ero acáo ódio espera apenas pelo ceroPa Europa nao faz o que S ou mcompreensao e por pr crise asiática chegará ao seu ponto apenas os seus mteresses eXIgema critico 254 E aqui que a ciencia que é urna forma de vida e um instrumento de implementacáo de políticas onde quer que os nossos interesses es tejam em jogo deve a si mesma a tarefa de penetrar a civilizacác e a vida nativas em sua intimidade de maneira a descobrir os seus valores fundamentais e as suas caracteristicas duráveis ao invés de sufocar a vida nativa com a ameaca incoerente das Importacóes civilizacionais eu ropéias Ternos de oferecernos a essas civilizacóes do mesmo modo que oferecemos os nossos outros produtos isto é no mercado local de inter cambio Grifo no original53 Lévi nao tem dificuldade em ligar o orientalismo apolitica pois a longa ou melhor prolongada intervencáo ocidental no Leste nao pode ser negada nem em suas conseqüéncias para o conhecirnento nem nos seus efeitos sobre o desafortunado nativo juntas as duas coisas transforrnamse no que pode ser um futuro ameacador Com todo o seu humanismo explícito sua admirável preocupacáo com o próximo Lévi concebe a presente juncáo em termos desagradavelmente constritos Imaginase que o oriental sinta o seu mundo ameacado por urna civi Iizacao superior mas os seus motivos derivam nao de um desejo posi tivo de Iíberdade independencia politica ou realizacáo cultural em seus próprios termos mas em vez disso de rancor ou malícia invejosa A panacéia oferecida para esse estado potencialmente desagradável de coisas é que o Oriente seja pasto avenda para o consumidor ocidental seja exposto como um entre muitos produtos que procuram atrair a atencáo De um só golpe desarmase o Oriente deixando que ele pense ser urna quantidade igual na feira ocidental de idéias e se tranqüi lizam os temores ocidentais de urna maré oriental No fundo é claro a questáo principal de Lévi e a sua confissáo mais reveladora é que a menos que se faca alguma coisa a propósito do Oriente o drama asiático chegará ao seu ponto crítico A Ásia sofre e mesmo em seu sofrimento ela ameaca a Europa a eterna encolerizada fronteira resiste entre o Leste e o Oeste quase imutável desde a Antigüidade clássica Aquilo que Lévi diz como o mais augusto dos orientalistas modernos ecoa com menos sutileza nos humanistas culturáis Por exemplo em 1925 o periódico francés Les Cahiers du mois fez um levantamento entre figuras intelectuais de des taque entre os escritores pesquisados havia orientalistas Lévi Émile Senart e homens de letras como André Gide Paul Valéry e Edmond Jaloux As questóes tratavam das relacoes entre o Oriente e o Ocidente de maneira oportuna para nao dizer provocativa o que por si só indica alguma coisa sobre a atmosfera cultural da época Podemos reconhecer imediatamente a que ponto as idéias da espécie promulgada pela eru orientalista a de verdade estabelecida Urna 255 t questáo pergunta se o Orien e e o Ocidente sao mutuamente impene outra pergunta se o Oriente tráveis a idéia era de Maeterlnck de Henri Massis péril grave d representava ou nao un pergunta sobre os valores a f ncés urna terceíra d Para o pensamento ra t ibuída urna superiorida e em is pode ser an i d cultura ocidental aos quai V lé areceme digna de ser cita a relacáo ao Oriente A resposta de ery IOpeso de tradicáo que con pela franqueza da sua argumenta90 tinha pelo menos no início do secu o ha ue ternos muito a temer agora da Do ponto de vista cultural nao ac ecid ara nós Devemos ao Orien El a é desconheci ap h influencia oriental a TI o d de parte do nosso con eci te todo o inicio das nossas artes e gra agora vero do Oriente se mento Podemos muito acol er o qUduvido muito Essa dúvida é d de la o que eu houver algo novo vm o a nossa arma européia Precisamente a nossa garantía e elecionar Mas essa sempre t real nesse caso e s Além disso a ques ao reai lid de da mente europeia a foi com a mesma prects o a grande especia I a t t e manter esse poder de es N através dos tempos ossop apel por an o i da transíormacáo de tudo na nossa colha de compreensao unrversar f que somos Os gregos e os ro própria substancia poder que nos onstros da Ásia comotratétos manos nos mostram lidar cono uintaesséncia A bacia medi pela análise como extrairlhes a do onde sempre foram conden ceme ser um vaso ec a 154 terranea pae t Grifo e elipses no ongma sadas as essencias do Orien e V lé com cer eral selecionou o Onente a ery Se a cultura europeia em g ífi as para fazer esse trabalho d agéncias especi e d teza sabia que urna as IOS wilsonianos de auto e N do dos prmcip fora o orientalismo o mun fí l ente na análise para afastar l V léry con la p enam terminacáo nacionai a d lha serve principalmente para l O poder e esco f t a ameaca onenta h cer o Oriente como a on e imeiramente recon e da que a Europa possa pr tá l como urna origem supera r depois tra a o da ciencia europeia pa a f t xto Ba ourpodía considerar os habitantes Desse modo em outro con e it s rioritários sobre a terra mas nativos da Paestina como tendo a autoridade para manté que nem por ISSO estavam ab di e ele nao tinham peso com d 700 mil ara es ISS ss la os meros desejos e t lonial essencíalmente europeu d m movtmen oco d d parados ao destino e u desagradável probabílída e e A Ásia representava a nosso mundo como colocou urna súbita erupcao que destrUlna o John Buchan em 1922 oerente com a inteligencia desor A terra está fervendo a mc d China Lá estao milhoes de ganizada Voce já reflehu sobre Nao tem nenhuma cérebros rápidos sufocando em OCIOS 256 nada que os impulsione de modo que a Sornados seus é fútil e o mundo ri da China56 Mas se a China se organizasse como faría nao seria nenhum objeto de riso O esfor90 da Europa portanto era para se manter como aquilo que Valéry chamou de une machine puissante urna potente má quina57 absorvendo o que pudesse de fora convertendo tudo para o seu próprio uso intelectual e materialmente mantendo o Oriente sele tivamente organizado ou desorganizado Mas ísso só podía ser feito mediante urna clareza de visáo e de análise A menos que o Oriente Iosse visto tal qual era o seu poder militar material espiritual mais cedo ou mais tarde esmagaria a Europa Os grandes impérios coloniais grandes sistemas de repressao sistemática existiam para manter afastada a temida eventualidade Os súditos coloniais tal como George Orwell os viu em Marrakech em 1939 nao podiam Ser vistos senáo como urna emanacao continental africana asiana oriental Quando se anda por urna cidade COmo esta 200 mil habitantes dos quais pelo menos 20 mi nao térn literalmente nada exceto os trapos que vestem quando se ve COmo as pessoas vivern e mais ainda COm que facilidade elas morrem é sempre difícil acreditar que se está caminhan do entre seres humanos Todos os impérios colonials estáo na verdade baseados nesse fato As pessoas tém caras morenas e além disso tém tantas delas Será que elas sao mesm feitas da mesma carne que nós Eles tém nomes pelo menos Ou seráo apenas urna matéria mOrena in diferenciada tao individuais quanto as abelhas ou insetos ou coral Eles se erguern da terra suam e passam fome por alguna anos e depois afun dam novamente nos montes sem nome dos cemitérios e ninguém nota que se foram E até os túmulos lago se dissolvem na terrass Além dos caracteres pitorescos oferecidos aos Ieitores europeus na fic 910 exótica de escritores menores Pierre Loti Marmaduke Pickthall e outros do genero o naoeuropeu que o europeu conhece é precisa mente aquilo que Orwell diz dele Ou é urna figura de risos ou um átomo em urna vasta coletividade designada no discurso ordinário ou culto como um tipo indiferenciado chamada oriental africano ama relo pardo ou muCulmano Para essas abstracoes o orientalismo con tribuiu com o seu poder de generalizacao convertendo exemplos de urna em portadores ideais dos seus valores idéias e posicoes que por sua vez os orientalistas haviam encontrado no Oriente e transformado em moeda cultural corrente Se refletirmos que Rayrnond Schwab publicou a sua brilhante biografia de AnquetilDuperron em 1934 e deu início aos estudos que poriam o orientalismo no contexto cultural que Ihe é próprio deveremos também observar que o que ele fez estava em franca opo 257 sicao aos demais artistas e intelectuais como ele para os quais o Orien te e o Ocidente ainda eram as mesmas abstracóes de segunda máo que eram para Valéry Nao que Pound Eliot Yeats Arthur Waley Fenol losa Paul Claudel corn o seu Connaissance de lest Conhecimento do Leste Victor Ségalen e outros estivessem ignorando a sabedoria do Leste tal como a chamara Max Müller algnmas geracóes antes Em vez disso a cultura via o Oriente e o isla em particular com a descon fianca que sempre fizera parte da sua atitude para com o Oriente Um exemplo adequado dessa atitude contemporánea ern seu estado mais explícito pode ser encontrado em urna série de conferencias feitas na Universidade de Chicago em 1924 sobre O Ocidente e o Oriente por Valentine Chirol um conhecido jomalista europeu de grande expe riencia no Leste o propósito dele era tornar claro para os americanos cultos que o Oriente nao estava tlio longe quanto eles talvez achassem A sua linha de exposicáo é simples o Oriente e o Ocidente estáo irre dutivelmente apostas um ao outro e o Oriente particularmente 0 rnaometanismo é urna das grandes forcas mundiais responsá veis pelas mais profundas linhas de clivagem no mundo 59 As abran gentes generalidades de Chirol sao adequadamente representadas acredito pelos títulos das suas seis conferencias O antigo campo de batalha deles A morte do Império Otomano o caso peculiar do Egito O grande experimento británico no Egito Protetorados e mandatos O novo fator do bolchevismo e Algumas conclusóes geraís Aos relatos sobre o Oriente relativamente populares como o de Chirol podemos sornar o testemunho de Élie Faure que como Chirol se nutre para as suas rumínacóes da história da perícia cultural e do conhecido contraste entre o ocidentalismo branco e o orientalismo de coro Enquanto comete paradoxos como le carnage permanent de lin diférence orientale a permanente camificina da indiferenca oriental pois ao contrário de nós eles nao térn nocáo de paz Faure pros segue demonstrando que os corpos dos orientais slio preguicosos que o Oriente nao tem concepcáo de história de nacáo depatrie que o Orien te é essencialmente místico e por aí vai Faure afirma que a menos que o oriental aprenda a ser racional a desenvolver técnicas de conhe cimento e de positividade nao poderá haver um rapprochement entre o Leste e o Oeste Um relato muito mais sutil e culto do dilema Leste Oeste pode ser encontrado no ensaio de Fernand Baldensperger Onde se defrontam o Oriente e o Ocidente intelectuais mas ele também fala de um desdém oriental inerente pela idéia pela disciplina mental pela interpretacao racional 61 Pronunciados como sao desde as profundezas da cultura euro 258 péia por escritores que al dessa cultura tais falando em norne podem ser explicados como 1p s sao perfellas idées refues nao ciano Nao sao ISSO e es exemplos de chauvinismo provin como icará id conheca alguma coisa do rest t d rabevl ente para qualquer um que sao mais paradoxais por an e a o ra de Faure e de Baldensperger o nao serem A base di rnacao da ciencia detalhista e proñ 1d e es e a transfor issrona o orie t li na cultura do século XIX fora a de n a ismo cuja funcáo dida da humanidade mas devolver a Europa urna parte per que Se tornara n 1 XX mento político e mais importante um o secuo um mstru ropa podia interpretar tant código medíanre o qual a Eu o a SI mesrna como O onenrars Por causas disc tid ao nente para os u 1 as antes nesse li derno trazia já em si a mar d ivro o orientalismo mo ca o grande temor eu do i agravado pelos desafios p líti d ropeu o Isla e SSo foi di 1 IcOS o entredeux g O izer e que a metamorfose d uerres que quero mente inócua ern Urna subespeclalldade filológica relativa políticos a administrltaod alepara a mampulacao de movirnentos ory e ca omas e a emíssñ d d 1 apocahphcas que representam a dT1 aracoes quase Branco tuda isso ocorr 1 ICI mrssa CIVlhzatoria do Homem e no seio de urna iedad liberal preocupada com su SaCIe a e pretensamente ralidade e imparcialidade normas de catolicidade plu contrário do liberalismo oe de at o que ocorreu foi exatamente o n urecrmenn de do t de si conferido pela ciencia a verdade P u nna e e sIgmflCado para si o direito de julgar o O se essa verdade reservava nente Como tmutav 1 t manelras que eu indiquei t li e men e orientaj nas forma de opressáo e de precon aot a nao passava de urna celo mentalIstlco A extensáo dessa iliberalidade nao era com freqüencia pela cultura por enao e reconhecida animador mesmo assim qu 1 rtazohes este Iivro tenta explorar E eea en a sido de fi d Aquí está um exernplo extraído do refáci sa la a Mencius on the mind MA b P o de I A Richards ao seu enero so re a menta d 1932 mente trocar chinés por ori t 1 e podese faci nen a no que segue Quanto aos efeitos para o Oeste d A e um maro conhe d mento chinés é interessant Cimento o pensa e notar que um escrit e ser considerado ignorante ou d id 1 or poueo propenso a escur ado como M Eti ainda no Prefácio Ingles d 71 tenne Gilson pode A o seu ne phlosoph S 7 filosofia de santo Tomá dA JI OJ t nomas Aquinas COmo de algo que acolhe eas e quino falar da Filosofía Tomística reune toda a tradia h todos pensamos para nós d J o umana E assrm que parte do Mund que conta mun o ocidental é o Mundo ou a que esse provincianismo é pe um E Imparcial diria talvez O ngoso amda nao t cldente a ponto de term es amos tao fehzes no efeitos62 os a certeza de nao estar sofrendo os seus 259 I I o argumento de Richards avanca propostas para o exercicio do que ele chama de Definicáo Múltipla um tipo genuino de pluralismo com a combatividade dos sistemas de definicáo eliminada Aceitemos ou nao sua resposta ao provincianismo de Gilson podemos aceitar a proposta de que o humanismo liberal do qual o orientalismo foi historicamente uro departamento retarda o processo do significado aumentado e eres cente por meio do qual se pode chegar ao verdadeiro entendimento O que tomou o lugar do significado aumentado no orientalismo do século XX quer dízer nos limites do campo técnico foi o tema que estava mais imediatamente arnáo o ORIENTALISMO ANGLOFRANCES MODERNO EM PLENO VIGOR Por já nos termos acostumado a ver uro perito contemporáneo ero algum ramo do Oriente ou ern algum aspecto da vida deste como um especialista ero estudos de área perdemos o sentido vivo de como até por volta da Segunda Guerra o orientalista era considerado uro generalista com um grande conhecimento específico é claro que ti nha uma habilidade altamente desenvolvida para fazer declaracóes so matórias Por declaracóes somatórias quera dizer que ao formula urna idéia relativamente pouco complicada digamos sobre a gramá tica árabe ou a religiáo indiana se entendería que o orientalista e ele mesmo entenderla estava fazendo urna declaracáo sobre o Oriente como um todo fazendo assirn urna somatória Desse modo cada pe queno estudo de urna pequena parte de material oriental confirmaria tambérn de modo sumário a profunda orientalidade do material E como em geral acreditavase que o Oriente inteiro estivesse unificado de urna maneira profundamente orgánica era perfeitamente aceitável hermeneuticamente que o orientalista considerasse a evidencia mate rial com que estava lidando como algo que ero última instancia le varia a um melhor entendirnento de coisas como o caráter a mente a índole ou o espírito de mundo dos orientais A maior parte dos dois primeiros capítulos deste livro continha argumentos semelhantes sobre os primeiros tempos da história do pen samento orientalista Contudo a diíerenciacáo ocorrida ero sua his tória posterior de que tratamos aqui é a que houve entre os periodos imediatamente antes e depois da Primeira Guerra Ero ambos os exern plos como nos primeiros tempos o Oriente é oriental qualquer que seja o caso específico e qualquer que seja o estilo ou a técnica usados para descrevélo a diíerenca entre os dois períodos ero questáo é a 260 raziio dada pelo orientalista Oriente Um b para ver a onentahdade essencial do oro exemplo de urna exposüao de pode ser encontrado na seguint razoes do préguerra t íd e passagem de Snouck H rar a da sua resenha de 1899 d M h urgronjs ex maometanol de Eduard Sachauo u ammedamsches Recht Direito a lei que na prática tinha de fazer usos e costumes do povo e a arbít ied dconcessoes ainda maiores aos l rane a e dos seus gov nuava mesmo assím a exercer u iderá A ernantes conti intelectual dos muculmanos eravel Influencia sobre a vida também um tema de estudos im on o ela sendo e para nós gadas ahistória do direito da Pli nao so por razóes abstratas u CIVI zacao e da religiao bé motivos práticos Quanto maís ti f mas tarn em por l In Imas Iquem as relacñ d E COm o Leste rouculmano quanto coes a uropa soberania européia mais muculmanos fiquem sob a Importante sera conhecímento da vida intelectual d d para nós europeus tomar tual do isla63 o ireito religIOso e da base concei Embora Hurgronje admita que alota b cedesse ocasionalmente ti pressao como a lei islámica ressa mais que nada em IS orra e conservar a abstraes a sociedade ele se inte poís em suas linhas gerais a 1 islámi ao para USo Intelectual el lS amíca confí dispar entre o Leste e o Oeste Para Hur rma a Ispandade Ocidente nao era um mero eh entre o Oriente e o avao aca emico ou popular contrário Para ele ela eq 1 1 opu aro muíto pelo u va la a relacáo d d rica entre os dois O conhecim t do Orí e po er essenciaj histó funda a diferenrapor meio d en 01 o nenteprova acentua ou apro a qua a soberama e tem umavenerável ascendencia do século XIX uropera a sobre a Asia Conhecer O se estende efetlvamente o riente como um tod 1 A porque está confiado aos cuidad s di o ogo e conheceIo ocidental o e a guem se esse alguém for um Um trecho quase simétrico ao de Hu rágrafo final do artigo Litera1ura de e no pa The legacy of Islam O legado do isial A pubhcado em em tatos casuais havidos entre o Le t O pos os tres con passa ao século XIX s e e o este ate o seculo XVIII Gibb Após esses tres momentos de contar e A tararose de novo para o Lest l os romantIcos alemáes vol consciente a abertura de um e eínho primeira vez tornararo urna meta carom o para que a 1h ingressasse na poesía da Euro a O rea eranca da poesía sentido de poder e de supe o darle pa seculo XIX coro o seu novo porta na cara desses desgnorI dn fechar decisivamente a s os romanticos H sinais de mudanca A lite atura o oje por outro lado há r ura onentat comecou a ser estudada nova 261 I 1 I 1 I menteporela mesma comoliteratura e uronovoentendimento do Leste está sendo adquirido A medida que esse conhecimento se expande e o Leste recobra o lugar que lhe cabe na vida da humanidade a literatura orientalpode mais urna vez desempenhar sua Iuncáo histórica e ajudar a nos liberar das concepcóes estreitase opressívas que limitariam tudo o que é significativo na literatura no pensamento e na históriaao nosso próprio segmentodoglobo64 A expressáo de Gibb por ela mesma é diametralmente oposta 11 série de razóes subordinadas 11 declaracáo de Hurgronje a respeito da soberania européia sobre o Leste O que ñca porém é a aparente mente inviolável identidade geral de uma coisa chamada de o Leste e de outra chamada de o Oeste Essas entidades sao úteis urna a outra e a louvável intencáo de Gibb é claramente mostrar que a in fluencia da literatura oriental sobre a ocidental nao precisa ser em seus resultados o que Brunetiére chamara de urna desgraca nacional Ero vez disso o Leste deveria ser encarado como urna espécie de desafio humanístico aos limites locais da etnocentricidade ocidental Nao obstante a sua defesa anterior da idéia de Goethe de uma Weltliteratur o apelo de Gibb por urna interanimacáo humanística entre o Leste e o Oeste reflete as mudancas das realidades política e cultural no pósguerra A soberania européia sobre o Oriente nao aca bara mas tinha evoluído no Egito británico de uma aceitacáo mais ou menos plácida pelos nativos para uma questáo política cada vez mais disputada composta pelas irascíveis exigencias nativas de in dependencia Aqueles foram os anos dos constantes atritos británicos com Zaghlul com o partido Wafd e com outras coisas do genero Alérn disso desde 1925 havia urna recessáo económica mundial e isso tam bém aumentava a sensacáo de tensáo que a prosa de Gibb reflete Mas a mensagem especificamente cultural no que ele diz é das mais efetivas Considerem o Oriente ele parece estar dizendo ao leitor pela sua uti lidade para a mente ocidental em sua luta para superar a estreiteza a especializacáo opressiva e as perspectivas limitadas O terreno mudara consideravelmente de Hurgronje a Gibb bem como as prioridades já nao deixava de causar alguma controvérsia o fato de que a dorninacáo da Europa sobre o Oriente fosse quase na tural nem se presumia que o Oriente precisava da ilumínacáo oci dental O que irnportava no periodo entre as guerras era uma defi nicáo cultural que transcendesse o provinciano e o xenofóbico Para Gibb o Ocidente precisa do Oriente como tema de estudos porque ele liberta o espirito da especializacáo estéril diminui a aflicáo do auto centrismo paroquiano e nacionalista excessivo aumenta a nossa apreensáo das questóes realmente centrais no estudo da cultura Se o 262 Oriente aparece mais como um ar autoconsciencia cultural ISSO p ctelro na nova dialética emergente da acon ece porque e Oriente é mais desafiante agora que a t m prrmeírn lugar o o Ocidente está entrando ern um f n eSI eem segundo lugar porque tural causada em parte pela di re atIvamente nova de crise cul resto do mundo ImmuHao da soberania ocidental sobre o as n no período entre próprios Massignon e Gibb p as lmpresslOnantes carreiras dos I encontraremos ele t com a melhor erudicao humaní ti d men os em comurn tória de que falei antes pode s ica da epoca ASSlm a atitude soma ser consr erada como l tahsta das tentativas das hu id d o equiva ente onen derem a cultura COmo um tornam a es oidentais de enten dário O orientalista e o naodor detmlodo antIposItIvIsta intuitivo soli o len a ista comecam que a cultura ocidental está passando o a de característica principal é a crise que lh Pf fase Importante cuja a preocupac5es técnicas na isrno estndente e assim por diante A acio ficos por exemplo de trabalhar do e de usar textos especí toda a vida de um período e pecI ICO para o geral entender comum a todos de urna cultura é helm Dilthey b os humamstas ocidentak Inspirados pela obra de Wil em como a proemmentes t di Massignon e Gibb O d es u IOS0S onentahstas como sua contrapartIda portant logia orientalista estritament té o nas revIgorac5es da filo Massignon da uilo e ecruca representadas pelos estudos de devocáo e léxico místico o vocabulário da Mas há outra conjuncao mais inte nessa fase da sua históría e as A h ressante entre o orientalismo ciencias umanas s d 1h europeias e as Geisteswissenschaten contemp A Clences e omme notar prirneiro que os estudos culturais elas Devemos samente mais imediatamente se naoonentahstas eram forco nsrveis as ameacas lt h tica por parte de urna especializacao técni a umams representada pelo menos parcialmente autoeoglahva e amoral Europa Essa sensibilidade estendía as na as para o período seguinte él Segunda Guerra o entre timas reflexoes metodológicas como um Philolog 67 El e em suas ul Mimesis foi escrito durante o seu exilio na Tu nos que de ser em grande medida urna tentativa d irtualr e tinha a e vir ua mente ver o desen 263 al uase no último momento ero que esta volvimento da cultura ocident q ivilizacional portanto ele t d de e coerenCla el tinha ainda a sua m egn a bra geral baseada em análises deu a si mesm atarefa de os principios do desempenho textuais especIlcas de maneira a d de riqueza e fertilidade O literário ocidentalem toda a na qual a própria sintese obJel1vo era urna síntese da cu t t de a íazer o que fora tor t ao propno a o íosse igual em Impor ancla b h por aquilo que ele chamava de nado discreto particular tornavase assim humamsmo burgues tar lO dal d d d processo h15torlcomun I o simbolo altamente me la o o A bach e esse fato tem ime Nao menos importante para uer era a tradícao humanista de o orientalismo diata para u literatura nacional que nao fosse a da envolvlmento em urna Oh Curtius cuja prodigiosa produ9ao pessoa O exemplo de ac era isáo alemán de dedicarse testemunhava a sua románicas Nao foi a toa profissionalmente ao estuo 5 reflexOes outonais coro urna significa logo que Auerbach concluí su H f St Víctor O homem que tiva cítacao do deum aquele para acha doce a sua e a sua terra natal já está forte mas é quem cada terra e como se do i t iro e como urna terra estran l perfeito aque e paraquem o mUO o In e t d rmos abandonar o nosso lar cul geira Quanto mars facl1men e e todo o mundo com o distan tural mais estaremos para verdadeira vi ciamento espIntlla e a d os avaliar a nós mesmos e as sao Mais facilmente também po erem bi 9ao de intimidade e dis culturas estrangeiras coro a mesma coro ma táncia portante e metodologicamente Urna íorca cultural nao menos d tIPOS como uro meca foi s ciencias SOClalS e formativa 01 o uso na d d r coísas familiares de um jeito Il mo uro mo o e ve msmo arra tICO e ca ode ser encontrada ern novo A história precisa do lPxox tal comWoebPer Durkheim Lukács d d éculo corno pensadores o ImCto o do conhecimento já foi bastante exa Mannhein e os demals SOClOIOgdOS ue os estudos de Weber do da 70 mas nao foi observa o creio eu q mma a d budismo levaramno talvez sem que protestantismo do udaísmo e o d jndicado pelos orien t rritório mapea o e relV ele ao propno e todos aqueles pensadores t ánimo em meto a talistas Al ele encon rou a havi a espécie de diferen9a onto XIX ha am que avta um d seculo económicas e religiosa do Oriente e do loglca entre as men t dado o isla coro mesmo Ocidente Embora nunca eS uI t o campo principalmente fl conSI erave men e assim Weber o eram urna e lp 264 de fora de muitas das tesescanónicasdefendidas pelos orientalistas cujas idéias económicas nunca foram além da incapaci dade fundamental do oriental para os negócios o comércioea raciona económica No campo islámico chOes resistiram literal mente centenas de anos até que aparecesse em 1966 o importante estudo de Maxime Rodinson Islam and capitalism Isla e capitalismo Mesmo assim a nocáo de um tipo oriental islámico árabe ou seja lá o que for resiste e é nutrida por abstracóes paradigmas ou tipos semelhantes amedida que váo surgindo nas modernas ciencias sociais Falei muitas vezes oeste livro do sentido de estranhamento experimentado pelos orientalistas quando estavam enfrentando urna cultura tao profundamente diferente da deles ou vivendo nela Ora urna das diferencas marcantes entre o orientalismo em sua versáo islÁ mica e todas as demais disciplinas humanísticas para as quais as no de Állerbach sobre a necessidade de estranhamento tinhain vali dadérqueosonen1iiislas islámicos nunca viam o seu estranhamento ao isÍa saudável urna atitude com impli ca96espara um melhor entendimento da própria cultura deles Em vez dissov esse estranhamento simplesmente intensificava os seus senti mentas de superioridade sobre a cultura européia ao mesmo tempo que a antipatía deles se estendia até incluir todo o Oriente do qual o isla era considerado um representante degradado e como de costume virulentamente perigoso Tais tendencias e isso é o meu argumento também implantaramse na própria tradicáo do estudo orientalista por todo o século XIX e com o tempo tornaramse um componente padráo da maior parte do treinamento orientalista passadas de ge racáo a geracáo Além disso era muito grande a probabilidade de que os estudiosos europeus continuassem a ver o Oriente Próximo pela perspectiva das suas origens bíblicas ou seja como um lugar de pri mazia religiosa inabalavelmente ínfluente Dada a sua relacáo especial coro o cristianismo e com o judaísmo o isla ficou sendo para sernpre a idéia ou tipo orientalista de afronta cultural original naturalmente agravada pelo temor de que a civilizacáo islámica originariamente e contemporaneamente continuasse a estar de algum modo oposta ao Ocidente cristáo Por essas razóes o orientalismo islámico entre as guerras foi par te do sentimento gera de crise cultural prenunciado por Auerbach e por outros de que falei brevemente sem se desenvolver ao mesrno tempo como as demais ciencias humanas Posto que o orientalismo conservou em seu seio a atitude religiosa particularmente polemica que tivera desde o inicio ele ficou preso a certos trilhos metodológicos por assim dizer A sua aliena9ao cultural por exemplo tinha de ser preser 265 vada contra a história moderna e as circunstancias sóciopolíticas bem como contra as revisóes necessárias impostas a qualquer tipo teórico ou histórico por novas dados Também as abstracóes oferecidas pelo orientalismo ou antes as oportunidades para a abstracáo no caso da civilizacéo islámica foram vistas como tendo adquirido urna nova vali dade posta que se presumia que o isla agia do modo que os orienta listas diziam que agia sem se referirem arealidade mas apenas a uro conjunto de principios clássicos presumíase tambérn que o isla moderno nao fosse mais que urna versáo reafirmada do antigo espe cialmente visto que se supunha que para o isla a modernidade Iosse menos uro desafio que uro insulto O enorme número de presuncóes e suposicóes nessa descricáo incidentalmente tero a intencáo de retratar as voltas e viradas uro tanto quanto excentricas necessárias para que o orientalismo mantivesse o seu modo peculiar de ver a realidade hu rnana Finalmente se a ambicáo sintetizadora da filologia tal como a viam Auerbach ou Curtius levou a uma ampliacáo da percepcáo do estudioso do seu sentido da irmandade dos homens da universalidade de certos princípios do comportamento humano no orientalismo isla mico a síntese levou a um sentido mais agudo da diíerenca entre o Oriente e o Ocidente refletida no isla o que estou descreyendo en tao é algo que caracterizará o orien talismo islámico até os dias de hoje sua posicáo retrógrada em relacáo as outras ciencias humanas e mesmo em relacáo aos demais ramos do orientalismo o seu atraso metodológico e ideológico geral e a sua com parativa insularidade dos desenvolvimentos nas outras humanidades e no mundo real das circunstancias históricas económicas sociais e polí ticas Alguma percepcáo dessa lacuna no orientalismo islámico ou semítico já estava presente por volta do fim do século XIX talvez por que comecava a ser aparente para alguns observadores o quáo poueo o orientalismo semítico ou islámico se desvencilhara da base religiosa da qual surgira originariamente O primeiro eongresso orientalista foi rea lizado em Paris em 1873 e quase desde o inicio ficou evidente para os demais estudiosos que os semiticistas e os islamicistas estavam na reta guarda intelectual falando de maneira geral Escrevendo um estudo de todos os congressos realizados entre 1873 e 1897 o estudioso ingles R N Cust tinha isto a dizer a respeito do subeampo semíticoislámico Tais reunióes as do campo do antigo semítico avancam de fato a erudi cáo oriental O mesmo nao pode ser dito em relacáo asecáo do semítico moderno ela estava apinhada mas os temas discutidos eram de somenos impor tancia literária como os que ocupariam as mentes dos estudiosos dile tantes da velha escala e nao a grande classe de indicatores do sé 266 culo XIX Sou forcado a vcltar a PU o nessa Urna ausencia do d 010 para encontrar a palavra Havia o mo erno espirito ru l e o relatono parece mais ter sid duzi I o ogrco e arqueológico o o I o pro uzido pn UniVerSitarios do séculopassad o r um congresso de tutores trecho de urna pera greg o reUnidos para discutir a leitura de um T a ou a acentuacáo d aurora da Filología Comparar e urna vogal antes que a IVa varresseas teia d o a pena discutir se Maomé podo s os escolásticos Valla D la scgurar urna pena ou escrever72 e certo modo o polemico anti uma versáo erudita do anti iti quansmo descrito por Cust era semi Ismo europeu M sermnc moderno que tí ha a esmo a designarao m a a d Iuí manos como os judeus e q ti o e me uir tanto os ue ivera ongem n antigo de que Renan fora o pian I o campo dito semítico com o que sem dúvida pretend eíro evava a sua bandeira racista dí la ser uma ostentar d ca a iante em seu relató C cao ecente Um pou no ust comenta de q d reuniao o ariano forneceu mui ue rno o na mesma mente o ariano é urna contr bto maenal para discussao Clara aa straao a o gumas das razóes que listei antes ti semita mas por al vicas eram especialmente p tí sen lase que essas etiquetas atá er mentes para t custos morais e humanos para a hu d de semi as com que altos do século XX demonstra amplam e como um todo a história mente enfatizado nas história d as o que nao foi suficiente x d s o antlsemllsmo m d f macao essas designaraes ata Ic orí o erno al a legiti t VICaS pe o onentali ante para os meus propósitos smo e mais ímpo academica e intelectual perslstaqUlla manerrg como essa di tU ao ongo de tod iscussoessobre o isla os b a a era moderna nas mesmo tempo que nao e ara es ou o Onent P e roximo Isso porque ao mars possível es dí nem populares sobre crever Issertaoes cultas a mente negra o perfeltamente possível d di u a personalIdade judía é e rcarse a pesqUIsas b OU o caráter árabe I so re a mente islámica A d mas vo taremos a lSSO mais tarde ssrm e modo a entender ade d lectual do orientalismo islámic d qua amente a genealogia inte o o penado entre a e Visto de maneira mais int s guerras tal como eressante e sati f t Oleo nas carreiras de Massignon e de sem querer ser iró dade de entender as dilere devemos ter a capaci entre a atitude s para COm o e o tipo de atit omatona do orientalista forte culturC u ude cQli1 agual ela tem urna E0uerbaclJ A nas9brasdejilólogos foí outro aspecto da crise espiritual do nOonentalIsmo islámico em sua forma e estilo porém umamsmo hurgues tardio o onentahsmo r blemas da humanidade is armoo encarava os pro como separavels nas t ortentaj ou de ocidental A d ca egonas chamadas de l a lbertaaO a autoexpressao ecre Itavase ene ao que para o oriental o autoengrandeclmento nao tinham a 267 importancia que tinham para o ocidental Em vez disso o islárnico expressava as suas idéias sobre o isla de modo a asua própria bem como putativamente a do muculmano resIstenCIa il mudanca acompreensao mútua entre o Leste e o Oeste ao mento de homens e mulheres em direcáo il modernidade deixando para trás as arcaicas instituicóes primitivas clássicas Com efeito esse sentimento de resistenciaamudanca era tao feroz e tao universais eram 0S poderes atribuídos a ele que ao ler os orientalistas entendemos que o apocalipse a ser temido nao era a destruicáo da civilizacáo ocidental mas antes a destruicáo das barreiras que mantinham o Leste e o Oeste afastados um do outro Quando Gibb se opunha ao nacionalismo nos estados islámicos modernos ele o fazia porque sentia que o naciona lismo corroeria as estruturas internas que faziam corn que o isla nao deixasse de ser oriental o resultado final do nacionalismo seria fazer com que o Oriente nao fosse em nada diferente do Ocidente Contudo o fato de que Gibb colocasse a sua desaprovacáo de tal modo que pa recia estar falando pela comunidade islámica ortodoxa é um tributo il sua capacidade extraordinariamente solidária de identiñcacáo com urnareligiáo estranha Em que medida esse apelo era um regresso ao velho hábito orientalista de falar pelos nativos e o quanto era urna ten tativa sincera de falar em nome dos melhores interesses do isla é urna questáo cuja resposta está em algurn lugar entre as duas alternativas Nenhum estudioso ou pensador evidentemente é urn represen tante perfeito de um tipo ou escola ideal de que gracas il origem cional ou aos acasos da história ele faz parte Mas em urna tradicáo relativamente tao isolada e especializada como o orientalismo acho que há em cada estudioso urna percepcáo em parte consciente e em parte nao de tradicáo nacional se naode nacional 1sso vale especialmente para o orientalismo mars ainda devido ao envolvimento político direto das nacóes européias em um ou outro ais o caso de Snouck Hurgronje para citar um exemplo naoinglés e nao francés em que o sentido de identidade nacional do estudioso é simples e claro vem imediatamente aídéia Mas mesmo depois de fazer to das as qualificacóes devidas sobre a diferenca entre um individuo e um tipo ou entre um individuo e urna tradicáo a ser nante notar a que ponto Gibb e Massignonforam tipos representativos Seria talvez melhor dizer que ambos respondiam a todas as expecta tivas criadas para eles por suas tradicóes nacionais pelas politicas das suas nacóes e pela história interna das suas escolas nacionais de orientalismo Sylvain Lévi colocou incisivamente a distincáo entre as duas es colas 268 b o interesse político que liga a Inglaterra aindia mantém as obras britá nicas em um contato continuo com as realidades concretas e preserva a coesao entre as representacóes do passado e o espetáculo do presente Nutrida por tradicóes clássicas a Franca procura a mente humana tal como esta se manifesta na Índia do mesmo modo que está interessada na China Seria fácil demais dizer que essa polaridade resulta em urna obra que por um lado é sóbría eficiente concreta e pelo outro é universalista especulativa brilhante Mas a polaridade serve para iluminar duas car reiras longas e extremamente distintas que entre elas dominaram o orientalismo islámico anglofrancés até os anos 60 se é que esse do mínio tem algum sentido é porque os dais eram originários e traba lhavam em urna tradicáo consciente de si mesma cujas barreiras ou limites falando em termos políticos ou intelectuais podem ser descri tas como Lévi as descreve acima Gibb nasceu no Egito Massignon na Franca Ambos se torna riam pessoas profundamente religiosas estudantes nao tanto da socie dade quanto da vida religiosa em sociedade Ambos eram também profundamente terrenos urna de suas rnaiores realizacóes foi ter posta a erudicáo tradicional em uso no mundo político moderno Mas o al cance da obra deles a sua textura quase é enormemente dife rente mesmo fazendo urna concessáo para as óbvias disparidades da escolaridade e da educacáo religiosa de ambos Em sua devocáo de toda urna vida il obra de alHallaj cujos traeos escreveu Gibb na sua nota obituária para Massignon em 1962 ele nunca deixou de pro curar na literatura e na devocáo islámicas posteriores o alcance quase irrestrito da pesquisa de Massignon IeváIoia virtualmente a toda a parte buscando evidencias do esprit humain atravers lespace e le temps Em urnaoeuvre que absorveu cada aspecto e regiáo da VIda e do pensamento muculmanos contemporáneos a presenca de Massignon no orientalismo foi um constante desafio para os seus co legas Gibb certarnente era um dos que admiravam o modo como Massignon procurava temas que de algum modo ligavam a vida espiritual de muculmanos e católicos e permitiam que ele encontrasse um elemento comum na veneraeao de Fátima e conseqüentemente um campo especial de inte resse no estudo do pensamento xiita em muitas das suas manifestacóes ou entáo na comunidade de origens abraámicas e em temas como os Sete Adormecidos Os seus escritos sobre esses temas adquiriram a partirdas qualidades que ele lhes trouxe um significado permanente nos estudos islámicos Mas precisamente por causa dessas qualidades eles sao com postos de certo modo em dois registros Um deles era o nível ordinário 269 da erudicao objetiva procurando elucidar a natureza de dado feno meno por meio do uso magistral de instrumentos estabelecidos pes quisa académica O outro era o nível em que os dados e o objetivos erara absorvidos e transformados por urna intuicáo de dimensóes espirítuaís Nem sempre era fácil tracar urna hnha divi sória entre o primeiro e a transfiguraeño que resultava do transborda mento das riquezas da sua personalidade Há nisso urna sugestáo de que os católicos seráo mais provavelmente traídos a um estudo da veneracáo de Fátima que os protestantes nao pode haver engano a respeito da suspeita de en qualquer pessoa que as entre a obetlva e aquela baseada na intuicáo individual de dimensóes espirituats mesmo que elaboradas Gibb no entanto tinha razáo em reconhecer no último parágrafo do seu obituário a fertilidade mental de Mas signon em campos tao díspares como o da a estrutura da lógica muculmana as cornplexidades das financas me dievais e a organizacáo das corporacóes de oficios e tinha razao tam bém logo depois em caracterizar o primeiro interesse de Massignon línguas semíticas como urna fonte de estudos que para náoiniciado quase rivalizavam com os mistérios do antigo herme tismo Mesmo assim Gibb conclui com urna nota generosa obser vando que a lícác que com o seu exemplo ele transmitiu aos orientalistas para nos T d d sua geracác é que nem mesmo o orientalismo clássico continua sen o sern um tipo qualquer de comprometimento com as foas vitais que deram sentido e valor aos diversos aspectos das culturas onen tais75 Essa claro foi a maior contribuicáo de Massignon e é verdade que na islamologia como é chamada as vezes francesa eres ceu uma tradicáo de identificacáo com as forcas vítais tam a cultura oriental basta mencionar as extraordinárias reali zacóes de estudiosos como Jacques Berque Maxime Rodinson Yves Lacoste e Roger Arnaldez todos eles muito entre SI quanto a abordagem e a intencáo para que nos a vista exemplo se minal de Massignon cuja marca intelectual e inconfundivel em todos eles Porém ao escolher concentrar os comentários anedotica mente nas várias forcas e fraquezas de Massignon de men cionar as coisas óbvias sobre ele coisas que o fazem tao diferente dele Gibb e noentanto quando consideradas comoum todo transforrnarn 270 h no no símbolo maduro de um desenvolvimento tao crucial no orienta lismo francés Urna delas é a pessoal de Massignon que com tanta elegancia ilustra a verdade simples da descricáo do orientalismo frances feita por Lévi A própria idéia de un esprit humain era mais ou menos estranha a íorrnacao intelectual e religiosa da qual Gibb como tantos outros orientalistas ingleses modernos surgiu no caso de Massignon a nocáo de esprit como urna realidade estética alérn de religiosa moral e histórica era algo de que ele parecía alimentarse desde a infancia A família dele tinha amizade com pessoas como Huys mans e em quase tudo o que ele escreve está evidente a sua criacáo em um ambiente intelectual e nas idéias do simbolismo tardio até mesmo no tipo particular de catolicismo e de misticismo sufista pelo qual ele se interessava Nao há austeridade na obra de Massignon que é forrnu lada em um dos grandes estilos franceses do século As suas idéias sobre a experiencia humana nutriarnse abundantemente em pensa dores e artistas seus contemporáneos e é o vastíssimo alcance cultural do seu próprio estilo que o póe em urnacategoria completamente diferente da de Gibb Suas primeiras idéias vém do periodo da chamada decaden cia estética mas sao devidas também apessoas como Bergson Durkheim e Mauss O seu primeiro contato com o orientalismo foi através de Renan a cujas conferencias ele assistiu quando jovern foi também aluno de Sylvain Lévi e chegou a incluir entre os seus amigos figuras como Paul Claudel Gabriel Bounoure Jacques e Raíssa Maritain e Charles de Foucauld Mais tarde ele foi capaz de absorver trabalhos feitos em áreas relativamente recentes como a sociologia urbana a lin güística estrutural a psicanálise a antropologia contemporánea e a Nova História Os seus ensaios para nao falar do monumental estudo de alHallaj apoiavamse sem esforco em todo o corpo da literatura islámica sua erudicáo mistificante e sua personalidade quase familiar fazemno parecer um estudioso inventado por Jorge Luis Borges Ele era muito sensível aos temas orientais na literatura européia este era também um dos interesses de Gibb mas ao contrário deste Massig non nao se sentía atraído primariamente nem pelos escritores europeus que entendiam o Oriente nem pelos textos europeus que fossem cor roboracóes artísticas independentes daquilo que mais tarde seria reve lado por estudiosos orientalistas por exernplo o interesse de Gibb por Seott como fonte para o estudo de Saladino O Oriente de Massig non era totalmente consoante com o mundo dos Sete Adormecidos ou com as preces abraámícas que sao os dois temas escolhidos por Gibb como marcas distintivas da visáo naoortodoxa que Massignon tinha do isla excentrico ligeiramente peculiar totalmente receptivo aos esfu ziantes dons interpretativos que Massignon lhe trouxe e que de certo 271 0 modo o recuperaram como tema Se Gibb gostava do Saladino de Scott entáo a predilecáo simétrica de Massignon era por Nerval como suicida poéte maudit esquisitice psicológica O que nao quer dizer que Massignon fosse essencialmente um estudante do passado ao con trário ele era urna presenca importante nas relacóes francoislámicas na política como na cultura Ele era obviamente uro homem apaixo nado que acredítava que o mundo do isla podia ser penetrado nao pela erudicáo exclusivamente mas pela devocáo a todas as suas atividades das quais a menos importante nao era o mundo do cristianismo oriental inscrito no isla um de cujos subgrupos a Irmandade Badaliya foi entusiasticamente encorajado por Massignon O seu considerável talento literário as vezes empresta a sua obra erudita urna aparencia de especulacáo caprichosa exageradamente cosmopolita e muitas vezes particular Essa aparencia é enganadora e de fato é raramente adequada como urna descricáo dos seus escritos O que ele queria evitar deliberadamente era o que chamava de Ianalyse analytique et statique de lorientalisme urna espécie de empilha mento inerte com base em urn texto ou problema supostamente isla mico de fontes origens prevas demonstracóes e coisas do genero Em todos os momentos ele tenta incluir tanto quanto possível do contexto de um texto ou problema para animálo para surpreender o leitor quase com as visóes repentinas disponíveis para qualquer uro que corno ele esteja disposto a atravessar fronteiras tradicionais e discipli nares para penetrar até o coracáo humano de qualquer texto Nenhuro orientalista moderno e Gibb seu colega mais próximo em reali zacóes e influencia certamente nao podia referirse com tanta faci lidade e precisáo em um ensaio a urna multidáo de místicos islámicos e a Jung Heisenberg Mallarmé e Kierkegaard e certamente muito poucos orientalistas tinham esse alcance juntamente com a experiencia política concreta sobre a qual ele podia falar em seu ensaio de 19S2 LOccident devant lOrient primauté dune solution culturelle O Ocidente frente ao Oriente primazia de urna solucáo cultural E apesar disso o seu mundo cultural era claramente definido Tinha urna estrutura definida intacta do comeco ao fim da sua carreira e era acabada apesar da sua riqueza quase sem paralelo de alcance e de referencias em uro conjunto de idéias que basicamente nao mudavam Vamos agora descrever brevemente a estrutura e listar sumariamente as idéias Massignon tornou como ponto de partida a existencia das tres religiées abraámicas das quais o isla é a religiáo de smael o mono teísmo de um povo excluído da promessa feita a Isaac E portanto urna religiáo de resistencia a Deus o Pai e a Cristo a Encarnacáo que no 272 entanto conserva em si a tristeza que comecou com as lágrimas de Ha gar Como resultado o árabe é a própria língua das lágrimas assim como toda a nocao dejihad no isla que Massignon afirma explicita mente ser a forma épica no isla que Renan nao podia ver ou entender tem urna importante dimensáo intelectual euja missáo é a guerra contra o cristianismo e o judaísmo como inimigos exteriores e contra a heresia como inimigo interno Contudo Massignon acreditava poder discernir tipo de contracorrente cujo estudo se tornou sua principal encarnada no misticismo uro caminho para a graca divina A princípal característica do misticismo era evidentemente o seu subjetivo cujas náoracionais e até mesmo inexpli caveis eram em direcáo ao singular o individual a experiencia momen tánea de participacáo no Divino Toda a extraordinária obra de Mas signon sobre o misticismo foi assim urna tentativa de descrever o itine rário de almas fora do consenso limítante que lhes era imposto pela comunidade islámica ortodoxa ou Sunna Uro místico iraniano era mais intrépido que um místico árabe em parte porque era ariano os velhos rótulos do século XIX ariano e semítico tém urna urgencia forcosa para Massignon bem como a legitimidade da oposicáo binária de Schlegel entre as duas familias lingüísticas e em parte por ser um homem em busca do Perfeito o místico árabe na opiniáo de Massig non inclinavase para aquilo que Waardenburg chama de monismo de testemunho A figura exemplar para Massignon era alHallaj que bus a liberacáo para si mesmo fora da comunidade ortodoxa pedindo e fmalmente conseguindo a mesma crucificacáo recusada pelo isla como uro todo Maomé segundo Massignon rejeitara deliberada mente a oportunidade que lhe foi oferecida de saltar a brecha que o separava de Deus A realizacáo de alHallaj foi portanto ter alcancado urnauniáo mística com Deus contra a corrente do isla o resto da comunidade ortodoxa vive ern urna condicáo que Massignon chama de soif ontologique sede ontológica Deus apre sentase ao hornern como um tipo de ausencia urna recusa a estar pre sente e no entanto a consciencia do rnuculmano devoto da sua sub missáo avontade de Deus isla dá origem a um zeloso sentido da trans cendencia de Deus e a urna intolerancia para com a idolatria de qual quer espécie O centro dessas idéias de acordo com Massignon é o coracáo circuncidado que enquanto for presa do seu fervor mucul mano de testemunho poderá como no caso de místicos como alHallaj também ser inflamado por urna paixáo divina ou amor por Deus Qual quer que seja o caso a unidade transcendental de Deus tawhid é algo a ser atingido e entendido repetidamente pelo muculmano devoto seja testemunhandoa seja por rneiodo amor a Deus e isso escreveu Mas 273 signen em um complexo ensaio define a intencáo do isla79 As sim patias de Massignon estavam claramente com a vocacáo mística no isla tanto pela sua proximidade com o seu próprio temperamento como católico devoto quanto pela sua influencia perturbadora no inte rior do corpo ortodoxo de crencas A imagem que Massignon tinha do isla é de urna religiáo implicada incessantemente em suas recusas em sua chegada tardia com referencia aos outros credos abraámicos seu senso de realidade terrena comparativamente árido suas macicas es truturas de defesa contra cornocóes psíquicas do tipo praticado por alHallaj e outros místicos sufistas e sua solidáo como a única religiáo oriental restante dos tres grandes monoteísmcsP Mas urnavisáo tao obviamente rígida do isla com as suas inva riantes simplesY especialmente para um pensamento luxuriante como o de Massignon nao implicava da parte dele nenhuma hostili dade profunda Ao lermos Massignon impressionamonos com sua re petida insistencia na necessidade de urnaleitura complexa injuncóes de cuja absoluta sinceridade é impossível duvidar Ele escreveu em 1951 que seu tipo de orientalismo nao era ni une manie dexotisme ni un reniement de lEurope mais une mise au niveau entre nos méthodes de recherches et les traditions vécues dantiques civilisations nem urna mania de exotismo nem urna negacáo da Europa mas urna ade quacáo entre nossos métodos de pesquisa e as tradicóes vivas de civili zacóes antigas Posto em prática na leitura de um texto islámico ou árabe esse tipo de orientalismo produziu interpretacóes de urna inteli gencia quase esmagadora seria tolice nao respeitar o puro genio e a novidade da mente de Massignon Mas o que nos interessa em sua defi nicáo de orientalismo sao duas expressóes nos méthodes de recher ches e les traditions vécues dantiques cívilisations Massignon via seu trabalho como urna sintese de duas quantidades mais ou menos opostas mas é a peculiar assimetria entre elas que nos perturba e nao apenas o fato da oposicáo entre a Europa e o Oriente A implicacáo de Massignon é que a esséncia da diíerenca entre o Leste e o Oeste é entre a modernidade e a tradicáo antiga E de fato em seus escritos sobre problemas politicos e contemporáneos que é onde se podem ver de modo mais imediato as limitacóes do seu método a oposicáo entre o Leste e o Oeste aparece de maneira muito peculiar Naquilo que tem de melhor a visáo de Massignon do encontro entre o Leste e o Oeste atribuía urna grande responsabilidade ao Oci dente pela sua invasáo do Leste pelo seu colonialismo pelos seus inces santes ataques ao isla Massignon era um lutador incansável em defesa da civilizacáo muculmana e como demonstram seus numerosos en saios e cartas após 1948 em defesa dos direitos dos árabes rnuculmanos 274 e cristáos na Palestina contra o sionismo contra aquilo que em refe rencia a alguma coisa dita por Abba Eban ele chamou severamente de colonialismo burgués israelenseP Mas a estrutura que continha a visáo de Massignon também reportava o Oriente islámico a um tempo essencialmente antigo e o Ocidente a modernidade Como Robertson Smith Massignon considerava o oriental nao como um homeni rno derno mas como um semita essa categoría redutiva tinha um forte dominio sobre o pensamento dele Quando por exernplo em 1960 ele e Jacques Berque seu colega no Collége de France publicaram um diálogo de ambos sobre os árabes na revista Esprit boa parte do tempo foi gasta ern discutir se a melhor maneira de olhar para os pro blemas dos árabes contemporáneos era simplesmente dizer no exem plo mais evidente que o conflito árabeisraelense era na verdade um problema semítico Berque tentava delicadamente contestar isso e le var Massignon a considerar a possibilidade de que como o resto do mundo os árabes haviam passado por aquilo que ele chamava de urna variacáo antropológica Massignon negava terminantemente essa nocáo Seus repetidos esforcos para entender e relatar o conflito pa lestino apesar de todo o profundo humanismo deles nunca foram real mente além da disputa entre Isaac e Ismael ou no que dizia respeito a sua disputa com Israel da tensáo entre o judaísmo e o cristianismo Quando cidades e aldeias árabes eram tomadas pelos sionistas eram as sensibilidades religiosas de Massignon que ficavam ofendidas A Europa e a Franca em particular era vista como urna reali dade contemporánea Em parte por causa do seu encontro político ini cial com os ingleses durante a Primeira Guerra Massignon sempre teve urna pronunciada antipatia pela Inglaterra e pelas políticas inglesas Lawrencee o seu tipo representavam urnapolítica complicada demais a qual ele Massignon se opunha em suas tratativas com Faical Je cherchais avec Faysal apénétrer dans le serrs méme de sa tradition aluí Com Faical eu procurei penetrar no próprio sentido da tra dicáo dele O ingles parecia representar a expansáo no Oriente a política económica amoral e urna filosofia ultrapassada de influencia política O francés era um homem mais moderno que era obrigado a extrair do Oriente o que perdera em espiritualidade em valores tradi cionais e coisas desse tipo Massignon assumiu essa posicáo acredito mediante toda a tradicáo do século XIX do Oriente como terapéutica parao Ocídente urnatradicáo cujo mais antigo prenúncio pode ser en contrado em Quinet No caso de Massignon ela foi unida a um senti mento de compaixáo cristá No que diz respeito aos orientais deveríamos recorrer a esta ciencia da compaixáo a esta participacáo até mesmo na construcao da lingua 275 gem e da estrutura mental deles da qual devemos de fato fazer parte pois em última instancia esta ciencia testemunha ou verdades que sao nossas ou entáo verdades que perdemos e ternos de reconquistar Final mente porque em uro profundo sentido tudo o que existe é de algum modo bom e esses pobres povos colonizados nao existem só para os nos sos propósitos mas em e para si mesmos ensoi 86 Mesmo assim O oriental en soi era incapaz de se apreciar ou en tender Em parte por causa do que a Europa lhe fizera ele havia per dido a sua relígiáo e a sua philosophie os muculmanos tinham ern si un vide immense estavam próximos da anarquia e do suicidio Logo para a Franca tornouse urna obrigacáo associarse ao desejo muculrnano de defender a sua cultura tradicional o governo da sua vida dinástica e o patrimonio dos crentes 87 Nenhum estudioso nem mesmo um Massignon pode resistir as pressóes que sobre ele exercem a sua nacáo e a tradicáo erudita em que atua Em grande parte do que eu disse do Oriente e da sua relacáo com o Ocidente Massignon pareceu refinar e no entanto repetir as idéias de outros orientalistas franceses Devemos admitir porém que o re quinte o estilo pessoal o genio individual podem afinal superar as restricñes politicas que agem por meio da tradicáo e do ambiente na cional Mesmo assim no caso de Massignon devemos também reco nhecer que ern urna direcáo as suas idéias sobre o Oriente conti nuaram sendo totalmente tradicionais e orientalistas apesar da sua personalidade e notável excentricidade Segundo ele o Oriente isla mico era espiritual semítico tribal radicalmente monoteísta nao ariano os adjetivos parecem um catálogo de descricóes antropológicas do fim do século XIX As experiencias relativamente práticas de guer ra imperialismo colonialismo opressáo económica amor morte e in tercambio cultural parecem sempre aos olhos de Massignon filtradas por lentes metafísicas e em última instancia desumanizadas eles sao semíticos europeus orientais ocidentais arianos ou seja lá o que for As categorias estruturavam o seu mundo e davamlhe o que ele dizia ser urna espécie de sentido profundo para ele pelo menos Na outra direcáo entre as idéias individuais e imensamente detalhadas do mun do erudito Massignon colocouse em urnaposicáo especial Ele recons truiu e defendeu o isla contra a Europa por um lado e contra a pró pria ortodoxia islámica pelo outro Essa intervencáo pois isso é o que ela era no Oriente como animador e carnpeáo simbolizava a sua própria aceitacáo da diíerenca do Oriente bern como os seus esforcos para transíormálo no que ele quería As duas coisas juntas a vontade de conhecimento sobre o Oriente e em defesa dele sao muito fortes em Massignon Seu alHallaj representa perfeitamente essa vontade A 276 importancia desproporcional dada por Massignon a alHalla SI ifi 1 em primerro ugar a decisáo do estudioso de promover urna figura para acima cultura que a sustenta e em segundo lugar o fato de que a representar um constante desafio até mesmo um motivo de irrrtacáo para o cristáo ocidental para quem a crenca nao erae talvez nao ser o extremo autosacrificio que era para o suflsta Qualquer que seja o caso o a1Hallaj de Massignon pretendia hteralmente corporificar encamar valores postos essencialmente dalel pelo sistema doutrinal principal do isla um sistema que o pró prro Massígnon descreveu apenas para poder circundálo COm al HallaJ dísso nao é preciso dizer imediatamente da obra de Mas signen que e perversa ou que a sua grande fraqueza foi ter desfigurado o Isla como a fé a que aderiria um muculmano médio ou comum lm conhecido estudioso muculrnano defendeu precisamente esta úl tima pOSItaO embora o seu argumento nao considerasse Massignon como um ofensorw Por mais que possamos estar inclinados a con como essas teses posto que como este livro tentou demonstrar olSlate SIdofundamentalmente desfigurado no Ocidente a ques tao real se pode de fato haver urna representacáo verdadeira de qual qur cosa ou se todas as porque elas sao represen pnmeiramente na linguagern e depois na cultura nas e no ambiente político do representador Se a última alternativa e a carreta como eu acho que él entáo devemos estar pre parados aceitar o fato de que urna representacae é eo ipso impli lllerhgada Implantada e entretecida com muítíssímas outras corsas aem da verdade que é ero si mesma urna representacáo Me isso levarnos a ver as representacóes ou desfi guracoes a diferenea e na melhor das hipóteses urna questáo de gau como parte de um campo comum de atuacáo definido para elas nao por um tema comum mas por urna história urna tradicáo eum umverso de discurso comuns Nesse campo que nenhum estu dIOSO pode criar sozinho mas que cada estudioso recebe para depois encontrar um lugar para si mesmo o pesquisador individual faz a Essas contribuicóes mesmo para os genios extraor dinários sao estrategias de redistribuieá de material nos limites do campo mesmo o estudioso que desenterra um manuscrito perdido produz o texto encontrado em um contexto já preparado para ele pors este é o real significado de encontrar um novo texto Desse modo cada individual causa prímeiramente mudancac no po e entao urna nova estabilidade do mesrno modo que em urna superñcíe coberta por vinte compassos a introdueao de um 21 277 faz com que todos os demais estremecam e depois se arrumem em urna nova configuracáo que os acomode As representacóes do orientalismo na cultura europeia saoo chamamos de urna consistencia discursiva que nao tem apenas história mas urna presenca material e institucional para mostrar Tal eu disse em relacáo aRenan essa consistencia era urna forma de praxis cultural um sistema de oportunidades para fazer declaracóes sobre o Oriente Tudo o que quero dizer sobre esse sistema nao é que ele é urna desfiguraao de alguma esséncia oriental no que eu nao acredto nem por um momento mas que ele age como as costumam fazer com um propósito de acordo com urna em um cenário histórico intelectual e até económico específico Ou seja as representacóes térn propósitos sao efetivas na parte do tempo cumprem urna ou muitas tarefas As representacóes sao como disse Roland Barthes de todas as operacóes de linguagem sao deformacóes O Oriente como representacáo na Europa é formad ou deformado a partir de urna sensibilidade cada vez mais especifica corn relacáo a urna regiáo geográfica chamada de Leste Os espe cialistas nessa regiáo trabalham nela por assim dizer porque com o passar do tempo a sua profissao de exige que eles apre sentem Asociedade imagens do Oriente conhecimentos sobre ele vas visóes dele E ern grande medida o orientalista fornece asua pro pria sociedade representacóes do Oriente que a levem a sua marca distintiva b ilustrem a sua concepcáo do que o Oriente pode ou de verla ser e contestem conscientemente a visáo do Oriente de outra pessoa d íornecam ao discurso orientalista aquilo que naquele mo mento ele parece precisar mais e e respondam a culturais proñssionais naeionais políticos e econormcos da Fica evidente que apesar de nunca estar ausente o mento positivo está longe de ser absoluto Em vez disso o conhecI mento nunca bruto sem mediacóes ou simplesmente objetIvo e aquilo que os cinco atributos da representacño orientalista listados acima distribuem e redistribuem Visto desse modo Massignon é menos um genio que um tipo de sistema para produzir certos tipos de declaracóes dis seminadas na grande massa de formacóes díscursivas que juntas fa zem o arquivo ou material cultural da sua época Nao acho que esta remos desumanizando Massignon se reconhecermos ísso nem oredu ziremos a estar sub metido ao determinismo vulgar Ao contrario de certo modo veremos como uro ser humano tinha e fora capaz de ad quirir mais urna capaeidade cultural e que tinha em si urna dimensáo institucional ou extrahumana e e a IStO corn certeza que o 278 ser humano finito deve aspirar caso nao queira contentarse coro a sua presenca meramente mortal no tempo e no espaco Quando Massignon disse nous sommes tous des Sémites estava indicando o alcance das suas idéias sobre a sociedade mostrando em que medida as suas idéias sobre o Oriente podiam transcender as circunstancias anedóticas locais de um francés ou da sociedade francesa A categoria do semita nutria se do orientalismo de Massignon mas a sua farera derivava da sua ten dencia a estenderse para além dos limites da disciplina para o terreno mais amplo da história e da antropologia onde parecia ter urna certa validade e um certo poder 89 Em pelo menos um níveI as forrnulacóes de Massignon e as suas representacóes do Oriente tinham urna influencia direta se nao urna va lidade inquestionável na corporacáo dos orientalistas profissionais Tal como disse acima o reconhecimento por Gibb das realizacóes de Massignon constituí urna percepcáo de que como urna alternativa él obra do próprio Gibb por implicacáo claro Massignon tinha de ser enfrentado Estou é claro atribuindo ao obituário de Gibb coisas que estáo lá só como traeros e nao como declaracóes de fato mas elas sao obviamente importantes se oIharmos agora para a obra de Gibb como um desdobrarnento da de Massignon O ensaio em memória de Gibb escrito por Albert Hourani para a British Academy a que fiz referén eias várias vezes resume admiravelmente a carreira do homem suas principais idéias e a importancia do seu trabalho com a avaliacáo de Hourani em suas linhas gerais estou de acordo Mas faltaIhe alguma coisa embora essa falta seja ern parte compensada em um texto sobre Gibb de menor importancia Sir Hamilton Gibb entre o orientalismo e a história de WiIliam Polk90 Hourani tende a ver Gibb como produto de encontros pessoais influencias pessoais e coisas do genero en quanto Polk que é bern menos sutil que Hourani em seu entendimento de Gibb o ve como a culminacáo de urna tradicáo académica especí fica que para usar urna expressáo que nao ocorre na prosa de Polk chamamos de consenso de pesquisa académica ou paradigma Emprestada desse modo grosseiro de Thomas Kuhn a idéia tem urna grande importancia para Gibb que como nos recorda Hou rani era de muitas maneiras urna figura profundamente institucional Tuda o que ele dizia ou fazia desde o início da sua carreira em Lon dres passando pelos anos intermédios ern Oxford até os seus anos de influencia como diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio de Harvard tinha a marca inconfundíveI de urna mente que agia com grande comodidade em instituicóes estabelecidas Massignon era irre mediavelmente aquele que ficava de fora Gibb o que estava por den tro Ambos de qualquer modo alcancararn o auge do prestígio e da 279 influencia no orientalismo francés e no angloamericano respectiva mente Para Gibb o Oriente nao era um lugar para ser encontrado diretamente era algo sobre o que se lía se estudava e se escrevia no conforto das sociedades cultas da universidade da conferencia eru dita Tal como Massignon Gibb se vangloriava de amizades corn mu ulrnanos mas estas como as de Lane pareciam ter sido amizades úteis e nao determinantes Conseqüentemente Gibb é urna figura di nástica nos limites da estrutura académica do orientalismo británico e mais tarde americano um estudioso cuja obra demonstrava de modo plenamente consciente as tendencias nacionais de urna tradicáo acadé mica que se manifesta nas universidades nos governos e nas Iun dacóes de pesquisa Uro sinal disso é que em seus anos maduros seria muitas vezes solicitado a escrever e falar para organizacóes que deterrninavam as políticas a serem seguidas Em 1951 por exernplo ele contribuiu com um ensaio para um livro significativamente chamada de The Near East and the Great Powers O Oriente Próximo e as Grandes Potencias no qual ele tentava explicar a necessidade de urna expansáo nos pro gramas angloamericanos de estudos orientais l toda a situacáo dos países ocidentais em relacáo aos países da Ásia e da África mudou Nao podemos mais apoiarnos no fator de prestígio que parecia ter um grande papel no pensamento de antes da guerra nern podemos continuar na expectativa de que os povos da Ásia e da África ou da Europa Oriental venham a nós e aprendarn conosco enquanto fica mas sentados Ternos de aprender sobre eles de modo que possamos aprender a trabalhar com eles em urna relacáo que esteja mais perta dos termos da mutualidade 91 Os termos dessa nova relacáo foram detalhados mais tarde em Area studies reconsidered Os estudos orientais deveriam ser considerados nao tanto como atividades académicas mas como instrumentos de po lítica nacional para com os recentemente independentes e possivel mente intratáveis países do mundo póscolonial Armado com urna per cepcáo redirecionada da sua importancia para a comunidade atlántica o orientalismo deveria ser o guia daqueles que pensavam as políticas a serem seguidas dos homens de negócio de urna nova geracáo de estu diosos O que mais contava nas opinióes tardias de Gibb nao era a obra positiva do orientalista como estudioso por exemplo o tipo de estu dioso que Gibb fora na juventude quando estudava as invasóes mucul manas da Ásia central mas a sua adaptabilídade ao uso no mundo público Hourani é feliz ao colocar isso 280 tornouse claro para ele Gibb que os govemos e as elites do mundo ignorancia ou em oposicáo as suas pró tradicóes de vida social e de moralidade e que os seus fracassos tinham fato a sua fonte A partir disso os seus esforcos principais foram dedicados a elucidacáo mediante um cuidadoso estudo do pas sado da natureza específica da sociedade rnuculmana e as crencas e cultura que estavam na base desta Até mesmo esse problema ele tendia a ver antes de mais nada principalmente em termos polítícos Mas dessas opinióes tardias teria sido possível sem urna qUantldade bastante rigorosa de preparacáo na obra anterior de Gibb nesta que devemos comecar procurando para entender as suas idéias Entre as primeiras influencias de Gibb esteve a de Duncan Mac donald cuja Gibb claramente derivou o conceito segundo o qual o Isla era um sistema de vida coerente um sistema feito coerente nao tanto pelas pessoas que levavam essa vida mas em virtude de um corpo de doutrina método de prática religiosa idéia de ordem de que todo o povo muculmano fazia parte Entre o povo e o isla havia obviamente urna espécie de encontro dinámico mas o que interessava ocidenal era o poder de intervencáo do isla para tornar intelígíveis as experiencias do POyO islámico e nao ao contrário Para Macdonald e subseqüentemente para Gibb as dificuldades epistemológicas e metodológicas do isla como um objeto sobre o qual podem ser feitas grandes declaracóes extremamente gerais nun ca sao enfrentadas Macdonald por sua vez achava que se podiam percebr aspectos no isla de urna abstracáo ainda mais pressaga a mentalidade onental Todo o capitulo de abertura do seu livro mais importancia para Gibb nao pode ser minimizada The relllOuS attitude and lífe in Islam é urna antología de assertivas indis cutíveis sobre a mente oriental Comeca dizendo que é claro e reco nhecido acredito que a concepcáo do NáoVisto é muito mais ime diata e real para o oriental que para os POYOS ocidentais Os grandes elementos modificadores que parecem de quando ern quando quase a lei geral nao a depóem assim como nao depóern as outras leis Igualmente abrangentes e gerais que governam a mente oriental A essencial na mente oriental nao é a credulidade quanto mas a incapacidade de conceber um sistema quanto ascoisas vistas Outro aspecto dessa dificuldade que mais tarde Gibb culparia pela ausencia de forma na literatura árabe e pela visáo essencialmente atomística que o muculmano tinha da realidade é que a diferenca no oriental nao é essencialmente a religiosidade mas a falta de sentido de lei Para ele nao existe urna ordem inamovível da natureza Se esse fato parece DaO dar a razáo das extraordinárias 281 b realiza90es da ciencia islámica so re as quais se baseia urna grande Macdonald diz al dental moderna nern por 1550 parte da CIenCIa OCI 1 go É evidente que qualquer guma coisa Ele o está tao perto que pode coisa é possívelpara o ünenta precisamente o 1 mento Que urna ocaSlaO tocáIo a qua mo áfico do monoteísmo no Oriente se nascimento hístonco e e Macdonald em toda urna teoria so transforme na argumenta9ao dO t indica o grau de intensidade com está o seu resumo de vera vidacoro regularidade e vela inteira Incapacidade portanto da vida deve cobrirtodos os fatos epropen deentenderque urnateona déia e a ficar cego a todo o resto siio a ser esmagado por urnaumca 1 93 Disto acredito está a diíerenca entreo Lestee o Oeste articularmente novo De Schlegel aRenan Nada disso claro e p idéi s sao repetidas sern S ith T E Lawrence essas lela de Robertson mi a Oriente e nao de modo algum pre Representam urna declsao sobre o M d ald e Gibb in Q alqueruro que como ac on um fato da natureza u f chamada orientalismo fa gressasse consctentemente em urna pro lSSaO da e o Oriente era o Oriente b se em urna decisáo toma a qu zaaocoro a d t Nao havia nenhuma ironía per que era diferente assim e de Gibb sobre a propensao ceptível nas opmioes de M mica idéia nenhum deles parece oriental a ser esmagado por oda u pensáo do orientalismo a ser es capaz de reconhecer a extensaof a pro riental E nenhum deles está idéi a da di erenca o magado pela 1 eia umc d d tipo isla ou o d 1ft de designa90eS por ataca o o 1 preocupa o pe o a d substantivos próprios seguidos de adje Oriente serem usa as comob o se se referissem a pessoas e nao tivos e transbordando de ver os com a ídéias platonicas 1 t a de Gibb em Nao é por fosse a tensao quase que e e esefato oriental transcendente constrangedor e entre o Isla como humana de todos OS días O seu investí as realidades da experIenCIa e nao nas di o cristao devoto estava no lS a mento como estu lOSO e te triviais introduzidas no isla pelo complica90es para ele relatlvlamen las experiencias individuali r naciona ismo pela luta de e asses e pe trabalho humano Em nenhum momento zantes do amor do OdIO e do nto fica mais evidente que em o caráter empobrecedorddess volume editado ern 1932 por Whiter Islam Para on e valo volume inc1uitambém Gibb cujo título é isla norteafricano A urotmpressíonante arngo e 282 tarefa de Gibb tal como ele a vía era avalíar o isla sua situacáo pre sente seu possível curso futuro Nessa tarefa as regióes individuais e manifestamente diferentes do mundo islámico deveriam ser nao nega cóes da unidade do isla mas exemplos dela O próprio Gibb propunha urna definicáo introdutória do isla depois no ensaio de conclusáo ele procurou pronunciarse sobre a sua realidade e futuro real Tal como Macdonald Gibb parece inteiramente confortável com a idéia de um Oriente monolítico cujas circunstancias existenciais nao podem ser fa cilmente reduzidas araca ou ateoria racial ao negar resolutamente o valor da generalizacáo racial Gibb fica acima do que fora mais re preensível nas geracóes anteriores de orientalistas Gibb tern urna visáo correspondentemente generosa e solidária do universalismo e da tole rancia do isla em deixar diversas comunidades religiosas e étnicas coe xistirem pacífica e democraticamente sob o seu império Há urna si nistra profecia no fato de Gibb ter escolhido os sionistas e os cristáos maronitas entre todas as comunidades étnicas no mundo islámico pela sua incapacidade de aceitar a coexísténcia Mas o núcleo do argumento de Gibb é que o isla talvez por representar em última análise a preocupacáo exclusiva do oriental nao corn a natureza mas com o NaoVisto tem urna suprema prece dencia e dominacáo sobre o Oriente islámico Para Gibb o isla é a ortodoxia islámica é tambérn a comunidade de crentes é vida uni dade inteligibilidade valores Também é a lei e a ordem nao obstante as desagradáveis perturbacóes dos jihadistas e dos agitadores comu nistas Em urna página após a outra da prosa de Gibb em Whiter Is lam ficamos sabendo que os novos bancos comerciais do Egito e da Síriasao fatos do isla ou da iniciativa islámica as escolas e acrescente taxa de alfabetizacáo sao fatos islámicos também bem como o joma lismo a ocidentalizacáo e as sociedades intelectuais Em nenhum mo mento Gibb fala do colonialismo quando discute a ascensáo do nacio nalismo e as suas toxinas Que a história do Isla moderno possa ser mais inteligível pela sua resistencia política e apolítica ao colonia lismo nao ocorre a Gibb do mesmo modo que em última instancia pareceIheirrelevante notar se os governos islámicos que ele discute sao republicanos feudais ou monárquicos O isla para Gibb é urna espécie de superestrutura ameacada pela política nacionalismo agitacáo comunista ocidentalizacáo e por perigosas tentativas muculrnanas de mexer com a sua soberania inte lectual Notese no trecho que segue de que modo a palavra religiiio e suas cognatas sao usadas para colorir o tom da prosa de Gibb a tal ponto que sentimos urna decorosa irritacáo com as pressóes terrenas exercidas sobre o isla 283 1 o isla como religiáo perdeu pouco da sua torca mas como árbitro da vida social no mundo moderno ele está sendo destronado ao lado ou acima dele novas torcas exercem urna autoridade que está as vezes ero contradicác com as suas tradicóes e prescricóes sociais mas mesroo as sim abrem caminho em franca oposicáo a estas últimas Para colocar essa posicác nos termos mais simples o que aconteceu foi isto até recen temen te o cidadáo e cultivador muculmano comum nao tínha interesses ou tuncóes políticas de espécie alguma e nenhuma literatura de fácil acesso a nao ser a religiosa nao tinha festas ou vida comunitária exceto em relacáo com a religiáo via pouco ou nada do mundo exterior a nao ser através de lentes religiosas Para ele conseqüentemente a religiiio era tuda Hoje contudo e sobretudo ern todos os países avancados os seus interesses expandiramse e as suas atividades nao sao mais limita das pela religiáo Questóes políticas solicitam sua atencáo ele le ou faz que leiam para ele urna massa de artigos sobre temas de todos os tipos que nao tém nada a ver coro religiáo e ande o ponto de vista religioso pode nao ser discutido de forma nenhuma e o veredicto pode estar ba seado ero princípios bastante diferentes Grifo meu 9S Reconhecidamente a imagem é um pouco dificil de ver posto que ao contrário de todas as demais religióes o isla é ou quer dizer tudo Como descricáo de um fenómeno humano a hipérbole é exclu siva do orientalismo acredito A própria vida política literatura energia atividade crescimento é urna intromissáo nessa inimagi náve para um ocidentaI totalidade orienta No entanto como um complemento e um contrapeso a civilizacáo ocidental o isla em sua forma moderna é mesmo assim um objeto útil este é o núcleo da pro posta de Gibb sobre o isla moderno Pois no aspecto mais amplo da história o que está acontecendo agora entre a Europa e o isla é a rein tegracáo da civilizacáo ocidental artificialmente cindida na Renas cenca e reafirmando agora a sua unidade com forca esmagadora 96 Ao contrário de Massignon que nao fazia nenhum esíorco para ocultar as suas especulacóes metafísicas Gibb transmitia observacóes como a que vimos acima como se fossem conhecimento objetivo urna categoria que ele achava deficiente em Massignon Contudo por qua se todos os padrñes a maior parte das obras gerais de Gibb sobre o isla é metafísica nao só porque ele faz uso de abstracóes como isla como se elas tivessem um sentido claro e distinto mas também porque sim plesmente nunca fica claro onde no tempo e no espaco concretos o isla de Gibb está acontecendo Se por um lado continuando Mac donald ele coloca o isla definitivamente fora do Ocidente pelo outro em grande parte da sua obra ele pode ser visto reintegrandoo ao Ocidente Em 1955 ele esclareceu um pouco essa questáo de dentro e fora o Ocidente tirava do isla apenas os elementos acientíficos que este 284 derivara originariamente do próprio Ocidente ao mesmo tempo que empréstimos da ciencia islámica estava apenas guindo a lei tornando a ciencia natural e a tecnología oo indefini damente transmissíveis97 O resultado final foi fazer do isla em a t tétí fil f r e es e lca oso la e religioso um fenómeno de segunda orde VlstO que tudo ISSO vínha do Ocidente e no que dizia respeito a e a tecnología um mero condutor de elementos que nao sao islámicos SUl generís Qualquer clareza sobre o que o isla é no pensamento de Gibb deve ser procurada nos limites dessas restricóes metafísicas e de fato as suas duas Imprtantes obras dos anos 40 Modern trends in Islam e an historical survey Maometanismo um estudo hIStOflCO lirnpam consideravelmente o terreno Nos dois livros Gibb faz esforcos para discutir a presente crise no isla opondo o seu as tentativas modernas de modificacñn Já men cioner a hostíhdade de Gibb as correntes modernizadoras no isla e o seu ostinado com a ortodoxia islámica Vamos gora a preferéncía dele por maometanismo ern vez de isla visto que ele dlZ que o islaestá na verdade baseado em urnaidéia de sucessáo apostólica que culmina em Maorné e a sua afirmativa de que a prin cipal islarnica é o direito que desde o início tornou o lugar da teologla sobre essas declaracóes é que sao afirmativas feitas sobre o nao com base em evidencias internas do próprio isla mas ao contrário com base em urna lógica deliberadamente exterior a ele Nenhum muculmano chamaria a si mesmo de maometano nem tam poucotanto quanto se saiba sentiria necessariamente a prevalencia do dlelto sobre a Mas o que Gibb faz é situarse como um estudioso ern contradicóes que ele mesmo desvenda naquele momento do isla em que há um certo deslocamento nao explicitado entre o processo formal exterior e as realidades internas 98 O orientalista entáo considera sua tarefa expressar o desloca e conseqüentemente falar a verdade sobre o isla que por defi posto que as suas contradicóes inibernos seus poderes de auto ele nao pode expressar A maior parte das declara90esgerais de Gibb sobre o isla fornece a este último conceitos que a a urna vez de acordo com ele é incapaz de apreender fIlosofla oriental nunca apreciara a idéia de justica fundamental na filosofía grega Quanto as sociedades orientais com paradas it maioria das sociedades ocidentais elas em geral devo tarams a e organizacóes sociais estáveis rnais que a concepcao de sistemas ídeais de pensamento filosófico A principal fraqueza interna do isla é o rompimento da associacáo entre as ordens 285 I 99 Mas Gibb tam religiosas e as classes médias e altas mucu manas d d e que isla nunca ficou isolado do resto o mun o bérn sabe devt o rtar de fora urna série de deslocamentos ínsufi portante eve impo I di que o isla s e disjuncóes entre ele e o mundo Por lSS0 e e lZ moderno é resultado de urna religiáo clássica que entrou ero cantata d A CoID idéias románticas ocidentais Como reacáo a esse desenvolveu urna escola de modernistas cujas idéias eID s momentos revelam idéias mundo moderno mahdismo nacionalismo o d o conservadora ao modermsmo nao e mais a e No entanto a reaca d luddismo obstinado quada amodernidade pois produziu um tipo e d o ue é o isla afina de cantas se nao po e su internos nernlidar coro o mundo exterior que o rodeia A resposta pode ser procura a no seguinte trecho central de Modern trends la aos coracóes as mentes e as O Isla é urna reIigiao viva e vital que ape d d ilhf dandothes uro pa rao as de dezcnas e centenas e mi oes conscienct D Nao e o ele qual parlero viver vidas honestas sobnas e tementes a eus 1 isla que está petrificado mas as suas ortodoxaáa gia sistemática a sua social E nisto dos seus mento que é sentida a insatisfacác em urna gran a o futuro está adeptos mais educados e inteligentes e que o pertgo r x era pode rests Ir a dente Nenhuma religiáo em última ms an A mais evi h ma brecha perpétua entre as suas eXigencIaS a d smtegracao se ouver ti Q e tade e os seus apelas ao intelecto dos seus seguidores ti paraha maioria dos muulmanos o problema do a ainda surgido justifica o ulemá em recusa a ser do d decisóes apressa as que os modernistas prescrevem mas f lacáo nao pode ser protelada modernismo é um aVISO de que urna re ormu y as causas e as origens dessa petriñcacáo das t bé fórmulas do isla é possivel que encontremos am em uma pista para a e até resposta a pergunta que os modernistas os hoie nao puderam resolver ou seja a ques fundamentais do isla podem ser reformulados sem aietar os 100 seus elementos essencrars A última parte desse trecho é bastante familiar sugere a agora tradicional habilidade do orientalista O t dada a incapacldade deste para aze o mEularOte o isla de Gibb existe afrente do próprio isla tal m par do no Oriente Contudo esse is 4 este é orientalista a ddas presumlve 1 posto que nao po e idéias deste ele se baseia em um IS a que 286 existir na realidade apela a toda urna comunidade de crentes A razáo pela qual o islá pode existir em urna formulacáo orientalista de si mesmo mais ou menos futura é que no Oriente o isla foi usurpado e traduzido pela linguagem do seu clero cujas pretensóes sao sobre a mente da comunidade Enquanto for silencioso ern seu apelo o isla estará seguro no momento em que o clero reformista assuma a sua tarefa legitima de reformular o isla para que ele seja capaz de ingreso sar na modernidade o problema comeca E esse problema evidente mente é o deslocamento O deslocamento na obra de Gibb identifica algo mais significa tivo que urna dificuldade intelectual putativa no interior do isla Ele identifica acho o próprio privilégio o próprio terreno em que o orien talista se situa de maneira a escrever sobre legislar para e reformular o isla Longe de ser um discernimento fortuito de Gibb o deslocamento é a passagem epistemológica para o seu tema e subseqüentemente a plataforma de observacáo a partir da qual em todos os escritos e em cada urna das influentes posicóes que ele ocupou ele podía estudar o isla Entre o apelo silencioso do isla a urna comunidade monolítica de crentes ortodoxos e toda urna articulacáo meramente verbal do isla por um corpo de ativistas politicos desencaminhados clérigos desesperados e reformistas oportunistas este é o ponto onde Gibb se colocava es crevia reformulava Os seus escritos diziam o que o isla nao poderia dizer ou o que os seus clérigos nao gostariam de dizer O que ele es crevia estava de certo modo temporalmente adiante do isla no sen tido de que ele admitia que em algum ponto no futuro o isla seria capaz de dizer o que nao podia dizer agora Contudo em outro irnpor tante sentido os escritos de Gibb sobre o isla antecipavam a religiáo como um corpo coerente de crencas vivas visto que puderam apre ender o isla como um apelo silencioso feito aos rnuculmanos antes que a fé deles se transformasse em urna questáo de discussáo prática ou debate mundiais A contradicáo na obra de Gibb pois é urna contradicáo falar do isla aquilo que nem os seus adeptos clericais dizem de fato que ele é nem aquilo que se pudessem os seus seguidores leigos diriam dele é de certo modo apagada pela atitude metafísica que a governa e que de fato governa toda a história do orientalismo moderno que ele her dou de mentores como Macdonald O Oriente e o isla térn urna espécie de condicáo extrareal fenomenologicamente reduzida que os deixa fora do alcance de qualquer pessoa que nao o perito ocidental Desde o início da especulacáo ocidental sobre o Oriente a única coisa que este nao podía fazer era representar a si mesmo As evidencias do Oriente eram dignas de crédito só depois de terem passado e sido reforcadas 287 pelo fogo purificador da obra do orientalista A oeuvre de Gibb pre tende ser islá ou o maometanismo comO ele e e como poderla ser Metafisicamente e só metafisicamente a esséncia e o sao urna única coisa Somente urna atitude metafísica podía produzlf en saios tao famosos de Gibb comoA estrutura do pensamento religioso no isla ou Urna interpretaao da história islámica sern se inco modar com a entre o conbecimento objetivo e o subjetivo na t a de Gibb a Massignonv As sobre o isla sao feítas coro urna confianca e coro urna serenidade verdadeiramente olímpícas Nao há nenhum deslocamento nenhuma descontinuidade perceptivel entre o texto de Gibb e o fenomeno que descreve POlS segundo o pro prio Gibb ero última instancia ambos sao redutíves uro ao outr Des se modo o isla e a que dele faz Gibb tem urna slmplicldade calma e discursiva cujo elemento comum é a página ordenada do estu dioso ingles Dou urna grande importancia a aparencia e ao modelo dido para o texto do orientalista como um objeto Já falel neste livro da enciclopédia alfabética de DHerbelot das pagmas gIgan tescas da Description de lÉgypte do caderno de notas museulabora tório de Renan das elipses e episódios curtos do de Lane dos extratos antológicos de Sacy e de outras corsas do genero Essas páginas sao sinais de uro Oriente e de uro orientalista tados ao leitor Há urna ordern nessas páginas mediante a qual o leitor apreende nao apenas o Oriente mas também orientalista intérprete exibidor personalidade medlador peTlt e representante De maneira notável Gibb e Masslgnon produzIram páginas que recapitulam a história da escritura onentallsta no dente tal como essa história foi corporificada em uro variegado estilo genérico e topográfico finalmente reduzido a urna démica monográfica O espécime oriental o excesso a um dade lexicográfica oriental a série oriental o exemplo nriental tud isso foi subordinado em Gibb e Massignon a autoridade da prosa li near da análise discursiva apresentada ero ensaio artigo curto ou hvro erudito Na época deles do fim da Primeira Guerra até o comeco da década de 60 tres importantes formas de escritura foram radicalmente transformadas a cnciclopédía a antología o registro pessoal A autoridade dessas formas foi redistribuida ou dispersada ou dissipada para um comité de peritos The encycopedw o Islam The Cambridge history o Islam para urna ordem inferior de servico instrucáo elementar na Iíngua que prepararía a pessoa nao para a diplomacia como era o caso da Chrestomathie de Sacy para o estudo de sociologia economia ou história para o dOmInIO da reve 288 Jacáo sensacional que tero mais a ver com personalidades ou coro go vernos o exemplo óbvio é Lawrence que com o conhecimento Gibb corn sua prosa tranqüilamente descuidada mas profundamente seqüencial Massignon com o jeito de urn artista para o qual nenhuma referencia é extravagante dernais contanto que seja regida por um ta lento interpretativo excentrico os dois estudiosos levaram a autoridade essencialmente ecuménica do orientalismo europeu tao longe quanto ela podía ir Depois deles a nova realidade o novo estilo especiali zado era falando de maneira geral angloamericana e falando de maneira mais restrita cienciasociales americana Nela o velho orien talismo foi partido em vários pedacos mas rnesmo assim todos eles ainda serviam os dogmas orientalistas tradicionais A FASE MAIS RECENTE Desde a Segunda Guerra e de modo mais observável após cada urna das guerras árabeisraelenses o muculmano árabe tornouse urna figura na cultura popular americana ao mesmo ternpo que no mundo académico no mundo dos planejadores da política e no mundo dos negócios muita atencáo é dedicada ao árabe Isso simboliza urna im portante mudanca na configuracáo internacional de forcas A Franca e a Inglaterra nao ocupam mais o centro do palco na política mundial o ímpério americano tirou a ambos do lugar Urna vasta trama de inte resses liga hoje todas as partes do antigo mundo colonial aos Estados Unidos do rnesmo modo que a proliferacáo de subespecialidades aca dérnicas divide e no entanto conecta todas as antigas disciplinas filo lógicas e baseadas na Europa como o orientalismo O especialista de área tal como é chamada hoje em dia tero pretensóes a urna perícia regional que é posta a servico do governo dos negócios ou de ambos O conhecimento macico quase material armazenado nos anais do orientalismo europeu moderno como o que está registrado por exernplo no diário de Jules Mohl sobre o campo no século XIX foi dissolvido e apresentado em novas formas Urna ampla variedade de representacóes do Oriente assola hoje a cultura Japáo Indo china China India Paquístao as representacóes destes paises ti verarn e continuam tendo urna ampla repercussáo e eles tém sido discutidos em muitos lugares por motivos óbvios O isla e os árabes tém suas próprias representacóes também e trataremos deJas aqui tal como ocorrern na persistencia fragmentária e no entanto poderosa e ideologicamente corrente muito menos discutida em que o orien talismo europeu tradicional nos Estados Unidos se desgastou 289 1 Imagens populares e representacóes das ciencias sociais Aqui estáo alguns exemplos de como o árabe é muitas vezes representado hoje em dia Notese como o árabe parece acomodarse prontamente as transforrnacóes e reducóes todas de um tipo simplesmente ten dencioso que lhe sao continuamente impostas A fantasía para a décima reuniáo de classe em 1967 fora planejada antes da Guerra de Junho O motivo pois seria um erro descrever a fantasia como algo mais que grosseiramente sugestivo deveria ter sido árabe túnicas turbante sandálias Imediatamente depois da guerra quando se tor nara evidente que o motivo árabe seria embaracoso foi decretada urna mudanca nos planos da reuniáo Vestida tal como fora planejado origi nariamente a classe deveria agora caminhar em fila com as máos acima da cabeca em um gesto de derrota abjeta Era nisso que o árabe se transformara De um estereótipo vagamente delineado como um no made montado em um camelo a urna caricatura aceita por todos de encarnacáo da incompetencia e da derrota fácil esta era toda a latitude concedida ao árabe No entanto depois da guerra de 1973 o árabe apareceu por toda a parte como algo mais ameacador Caricaturas apresentando um xe que árabe de pé atrás de urna bomba de gasolina surgiam repetida mente Esses árabes contudo eram claramente semíticos s seus narizes nitidamente aduncos e o malvado olhar de soslaio encimando um bigode eram lembretes óbvios para urnapopulacao em sua maioria naosemítica de que os semitas estavam por trás de todos os nos sos problemas que neste caso se traduziam principalmente por urna falta de gasolina A transferencia do animo popular antisemita de um alvojudeu para outro árabe foi feita suavemente posta que a figura era essencialmente a mesma Assim se o árabe ocupa bastante a atencáo é como um valor negativo Ele é visto como um perturbador da vida de Israel e do Oci dente ou em outra perspectiva da mesma coisa como um obstáculo superáve ii criacáo de Israel em 1948 Qualquer história que esse árabe tenha é parte da história que lhe é dada ou retirada a diferenca é pequena pela tradicáo orientalista A Palestina era vista por La martine e pelos primeiros sionistas como um deserto vazio espe rando para florescer os habitantes que porventura tivesse eram supos tamente nómades inconseqüentes que nao tinham nenhum direito real sobre a terra e portanto nenhuma realidade cultural ou nacional Desse modo o árabe passa a ser concebido como urna sombra que persegue o judeu Nessa sombra porque o árabe e o judeu sao se mitas orientais pode ser colocada qualquer desconfianca latente tradicional que o ocidental sinta a respeito do oriental Pois o judeu da 290 Europa prénazista bifurcouse o que ternos agora é o herói judeu construído a partir do culto reconstruído do orientalistaaventureiro pioneiro Burton Lane Renan e a sua sombra arrepiante misteriosa mente assustadora o oriental árabe Isolado de tudo exceto do pas sado criado para ele pela polémica orientalista o árabe está acorren tado a um destino que o fixa e o condena a urna série de reacóes perio dicamente disciplinadas por aquilo que recebeu de Barbara Tuchman o teológico nome de terrível espada rápida de Israel Além de ser antisionista o árabe é também um fornecedor de petróleo Esta é outra caracrerístíca negativa pasto que na maior par te dasvzes que se fala do petróleo árabe o boicote de 19734 que beneficíou principalmente as companhias petrolíferas ocidentais e urna pequena elite dirigente árabe é visto como urna amostra da ausencia de quaisquer qualificacóes morais da parte dos árabes para possuírem reservas tao vastas de petróleo Sem os costumeiros eufemismos a per gunta que se ouve com maior freqüéncia é por que motivo se permite que gente como os árabes mantenham o mundo desenvolvido livre democrático moral sob arneaca De perguntas como essa passase fre qüentemente á sugestáo de que os campos de petróleo árabes sejam invadidos pelos fuzileiros Nos filmes e na televisáo o árabe é associado ii libidinagem ou ii desonestidade sedenta de sangue Aparece como um degenerado super sexuado capaz é claro de intrigas astutamente tortuosas mas essen cialmente sádico traicoeiro baixo Traficante de escravos cameleiro cambista trapaceiro pitoresco estes sao alguns dos papéis tradicionais do árabe no cinema O chefe árabe de saqueadores piratas insur gentes nativos é muitas vezes visto rosnando para o herói e a loira ocidentais capturados ambos impregnados de integridade Meus ho mens váo matar voces mas eles gostam de se divertir um pouco an tes Enquanto fala ele olha sugestivamente de soslaio esta é urna degradacáo cornum do xeque feito por Valentino Nos filmes ou nas fotos de noticias o árabe é sempre visto em grandes números Ne nhuma nenhuma característica ou experiencia pes soal A rnaior parte das imagens apresenta massas enraivecidas ou mi ou gestos irracionais lago desesperadoramente excentricos A espreita por trás de todas essas imagens está a ameaca da jihad Resultado um temor de que os muculmanos ou árabes tomem conta do mundo Regularmente publicamse livros e artigos sobre o isla e os árabes que nao representam absolutamente nenhuma mudanca em relacáo as VIrulentas polémicas antiisIamicas da Idade Média e da Renascenca Para nenhum outro grupo étnico ou religioso é verdade que pratica 291 i J mente qualquer coisa possa ser dita ou escrita sobre ele sem desafio ou negativa O guia dos cursos de 1975 publicado pelos estudantes do Co lumbia College disse a respeito do curso de árabe que urna de cada duas palavras nessa língua tem a ver com violencia e que a mente árabe tal como é refletida pela língua é incansavelmente bombás tica Um artigo recente de Emmett Tyrrell na revista Harpers era ain da mais injurioso e racista afirmando que os árabes sao basicamente assassinos e que a violencia e a trapaca estáo nos genes árabes102 Um estudo intitulado The arabs in american textbooks Os árabes nos manuais americanos revela a mais espantosa desiníormacáo ou me lhor as mais empedernidas representacóes de um grupo étnicoreli gioso Um livro afirma que poucas pessoas dessa área árabe1sabem sequer que há maneiras melhores de se viver e em seguida pergunta candidamente O que mantém unido o povo do Oriente Médio A resposta dada sem hesitacáo é O último elo é a hostilidade o ódio do árabe em relacáo aos judeus e a nacáo de Israel Juntamente com esse material encontramos isto sobre o isla em outro livro A relígíáo muculmana chamada de isla comecou no século VII Foi iniciada por um rico negociante da Arábia chamado Maomé Ele alegava ser um profeta Encontrou seguidores entre os outros árabes Disse a eles que haviam sido escolhidos para governar o mundo Essa pérola de saber era seguida por outra igualmente precisa Lego após a morte de Mao mé seus ensinamentos foram registrados em um livro chamado de Co ráo que se tornou o livro sagrado do isla 103 Essas idéias grosseiras sao apoiadas e nao contrariadas pelo académico que se ocupa do estudo do Oriente Próximo árabe Vale a pena notar incidentalmente que o evento de Princeton a que me referi acima teve lugar ern urna universidade que se orgulha do seu Departa mento de Estudos do Oriente Próximo fundado em 1927 o mais an tigo do país Vejase como exemplo o relatório produzido em 1967 por Morroe Berger um professor de sociologia e de estudos do Oriente Próximo em Princeton a pedido do Departamento de Saúde Edu Ca9aO e BemEstar na época ele era presidente do Middle East Studies Association MESA a associacáo profissional de estudiosos que se ocupavam de todos os aspectos do Oriente Próximo primariamente desde a ascensáo do isla e do ponto ce vista das ciencias sociais e dis ciplinas humanísticas fundada em 1967 Ele chamou o seu estudo de Estudos do Oriente Médio e da África do Norte desenvolvimentos e necessidades e publícouo no segundo número do MESA Bulletin Após examinar a importancia estratégica económica e política da re giáo para os Estados Unidos e após endossar vários projetos do go verno dos Estados Unidos e de fundacóes privadas de apoio a progra 292 mas nas universidades a Lei de Ed 1958 urna iniciativa diretamente Nacional de mento de liga90es entre o Conselho de P o pum o estabeleci estudos do Oriente Médí esqursa de Ciéncias Sociais e os ro e assrm por díante B h gumtes conclusoes erger e ega as se O Oriente Médio e a África do Norte d hoi grandes realiza5es culturáis nem é pr e1 oje nao sao um centro de próximo O estudo da regiáo e d ovavl que Setomem um no futuro as suas mguas portant áo é recompensa por si só no que d o n o e uma IZ resperto 1 cultura moderna A nossa regiáo nao é um centro d tem o potencial para vir a ser O e nem Norte nao tanto tem recuado eum A nene a Africa do EVA até mesmo em valor de m política ímedíara para os 1 mane ete ou de incómod acao a América Latina África e o Ex O o com re r J remo riente O Onente Médio contemporaneo quena extensao os tipos de traco assrm tem apenas em pe atrair a atencáo academica Isso importantes para lectual de se estudar a área f immui a validarís e o valor inte estudiosos fazem sobre ela dotrabalho que os conscientes a capacidade de p nutes dos quars ternos de estar crescrmento do campo na tid d queles que estudam e ensinam lOS quan 1 a e da Como profecía claro isso é bastante lamentável ainda mais desafortunada é ue B o que a torna perito sobre o Oriente próximo por ser um conclusáo do relatório porq em como fica claro pela ue se esperava que el tí posicao para prever o futuro da e es ivesse em boa mesma O fato de ele n t ia regrao e o futuro das políticas sobre a ao er vrsn que o O t Médi significado político e potencialmente e e 10 tmha gran foi urna aberracáo de julgament I g poder polItlco nao principais de Berger derívam do o acredIto Os dois enganos prtmetro e do últim f genealogia é a historia do orient Ii o paragra o cuja ue elete a ismo que estrvemos estudando No que grandeos culturais e que o riente Médi t a academica por sua debilídads t o nao a rai Ii m rmseca temo d p icacao quase exata da opiniár orientalista a A s urna u semitas nunca produziram urna gra d 1e nemea segundo a qual os n e cu tura e que d nan com Jreqüéncía o mund como izra Re o sernrttco estava empob d d para atrair a atencño universal Al d recreo ernars consagradas pelo tempo e ao ser rnnt ISSO ao fazer essas er comp etamente ceg diante dos seus olhos afinal d o para o que estava há cinqüenta anos mas em um e Berger nao estava escrevendo portavam cerca 10 do seua emdquOe os Estados Unidos im e ro eo o rienre Médio e tinham 293 1 investimentos estratégicos e económicos inimaginavelmente grandes na regiáo Berger estava assegurando a centralidade da sua posicáo como orientalista Pois o que ele diz com efeito é que sem pessoas como ele o Oriente Médio seria negligenciado e que sem o seu papel mediador interpretativo aquele lugar nao seria entendido em parte porque o pouco que há para entender é bastante peculiar e em parte porque só o orientalista pode interpretar o Oriente porque este é radi calmente incapaz de interpretar a si mesmo O fato de Berger nao ser tanto um orientalista c1ássico quando escreveu nao era e nao é quanto era sociólogo profissional nao mini miza a extensáo da sua dívida com o orientalismo e as idéias deste Entre estas está a antipatia especialmente legitimada pelo material que forma a base principal do seu estudo e a desvalorizacáo do mesrno Isso em Berger é táo forte que chega a obscurecer as realidades dian te dele E de modo ainda mais impressíonante torna desnecessário para ele perguntarse por que se o Oriente Médio nao é um centro de grandes realizacóes culturais ele recomendaria a qualquer pessoa que dedicasse a vida inteira como ele ao estudo das suas culturas Os estu diosos mais que digamos os médicos estudam aquilo que que rem e que lhes interessa só um sentido exagerado de dever cultural levaria um estudioso ao estudo de alguma coisa sobre a qual ele nao tenha muito boa opiniáo No entanto é precisamente esse tipo de sen tido do dever que o orientalismo patrocinou porque durante geracóes a cultura em gerallevava o orientalista as barricadas de onde em seu trabalho profissional ele confrontava o Leste com suas barbari dades excentricidades e rebeldia e o mantinha á distancia em nome do Ocidente Mencionei Berger como um exemplo da atitude académica para com o Oriente islámico de como urnaperspectiva culta pode apoiar as caricaturas que sao propagadas na cultura popular Contudo ele re presenta também a transforrnacáo rnais comum do orientalismo a sua conversáo de urna disciplina fundamentalmente filológica e urna apreensáo vagamente geral do Oriente em urna especializacáo das ciencias sociais O orientalista nao tenta mais aprender primeiramente as línguas esotéricas do Oriente em vez disso ele comeca como um cientista social treinado que aplica a sua ciencia ao Oriente ou a qualquer outro lugar Esta é a contríbuícáo especificamente americana ahistória do orientalismo e suas origens podem ser grosseiramente datadas do periodo imediatamente posterior il Segunda Guerra quan do os Estados Unidos se encontraram em urna posicáo recentemente abandonada pela Inglaterra e pela Franca A experiéncia americana com o Oriente antes desse momento era limitada Solitários culturais 294 L como Melville interessavamse por ele cínicos como Mark Twain visi tavamno e escreviam sobre ele os transcendentalistas americanos viam afinidades entre o pensamento indiano e o deles uns poucos teó logos e estudantes bíblicos estudavam as línguas orientais bíblicas ha via encontros diplomáticos e militares ocasionais com os piratas da Berberia e outros do mesmo tipo e urna ou outra expedicáo naval ao Extremo Oriente além de é claro os onipresentes missionários para o Oriente Mas nao havia nenhuma tradicáo profundamente enraizada de orientalismo e conseqüentemente nos Estados Unidos o conheci mento do Oriente nunca passou pelos processos de refinacáo reticu lacáo e reconstrucáo iniciados pelo estudo filosófico pelos quais pas sou na Europa Além do mais o investimento imaginativo nunca foi feito talvez porque a fronteira americana a que contava era a que estava no Oeste Logo imediatamente após a Segunda Guerra o Oriente tornouse nao urna ampla questáo católica tal como fora para a Europa durante séculos mas um problema administrativo urna questáo de políticas a serem aplicadas Aqui entra o cientista social e o novo perito sobre cujos ombros um tanto mais estreitos recaiu o manto do orientalismo Por sua vez tal como veremos eles o transformaram de tal modo que o deixaram apenas reconheciveI De qualquer ma neira o novo orientalista assumiu a atitude de hostilidade cultural e a conservou Um dos aspectos mareantes da nova atencáo da ciéncia social americana em relacáo ao Oriente é o fato singular de ela evitar a lite ratura Podemse ler resmas inteiras de escritos sobre o Oriente Médio moderno sem encontrar nunca urnaúnica referenciaaliteratura O que parece importar muito mais para o perito regional sao os fatos dos quais um texto literário talvezseja um perturbador O efeito final dessa notável ausencia na moderna percepcáo americana do árabe ou do Oriente islámico é manter a regiáo e o seu povo conceitualmente emascu lados reduzidos a atitudes tendencias estatísticas em resumo desumanizados Visto que um poeta ou romancista árabe e há muitos deles escreve sobre as suas experiencias os seus valores a sua hu manidade por mais estranho que isso possa ser ele efetivamente perturba os vários padróes chavóes imagens abstracóes pelos quais o Oriente é representado Um texto literário fala mais ou menos direta mente de urna realidade viva A sua íorca nao deriva do fato de ser ára be ou francés ou inglés mas da forca e da vitalidade das palavras que para usar a metáfora de Flaubert em La tentation de Saint Antaine derrubam os ídolos dos bracos do orientalista e fazernno deixar cair aquelas grandes criancas paralíticas suas idéias do Oriente que tentam se fazer passar pelo Oriente 295 r I A ausencia da literatura e a posicáo relativamente fraca da filo logia nos estudos americanos contemporáneos do Oriente Próximo sao ilustracóes de urna nova excentricidade no orientalismo em que até mesmo o uso que eu íaeo da palavra é de fato anómalo Pois há muito pouco naquilo que os peritos académicos fazem que se pareca com o orientalismo tradicional do tipo que acabou com Gibb e Massignon as principais coisas reproduzidas desse orientalismo sao como já disse urna certa hostilidade cultural e um sentido baseado nao tanto na filo logia quanto na pericia Falando genealogicamente o orientalismo americano moderno deriva de coisas como as escolas de idiomas do exército durante e depois da guerra o súbito interesse governamental e empresarial pelo mundo náoocidental durante o periodo do pósguer ra a concorréncia da Guerra Fria coro a Uniáo Soviética e urna atitude missionária residual ero relacáo aos orientais que sao considerados maduros para a reforma e a reeducacáo O estado naofilológico de línguas orientais esotéricas é útil por razóes estratégicas rudimentares óbvias mas é também útil para emprestar um selo de autoridade quase urna mística ao perito que parece ser capaz de lidar ero primeira máo coro uro material desesperadoramente obscuro Na ordem de coisas da ciencia social o estudo de línguas é um mero instrumento para metas superiores e certamente nao para a leí tara de textos literários Em 1958 por exemplo o Middle East Insti tute um corpo semigovernamental fundado para supervisionar e pa trocinar o interesse pela pesquisa no Oriente Médio produziu um Report on current research Relatório sobre a pesquisa atuall A contri buicáo Estado atual dos estudos de árabe nos Estados Unidos feita de maneira bastante interessante por um professor de hebraico é pre faciada por urna epígrafe que anuncia que o conhecimento de línguas estrangeiras deixou de ser por exemplo um território exclusivo dos estudiosos de humanidades E um instrumento de trabalho para o en genheiro o economista o cientista social e muitos outros especialistas O relatório inteiro enfatiza a importancia do idioma árabe para os exe cutivos das companhias petrolíferas técnicos e pessoal militar Mas o argumento mais importante do relatório é este trio de frases As uni versidades russas estáo hoje formando pessoas que falam árabe fluente mente A Rússia entendeu a importancia de apelar aos homens por meio das mentes deles usando a própria língua deles Os Estados Uni dos nao devem esperar mais para desenvolver o seu programa de lín guas estrangeiras 106 Desse modo as línguas orientais sao parte de urna política objetiva do mesmo modo que de certa maneira elas sempre foram ou parte de um esforco sustentado de propaganda Com qualquer das duas metas o estudo de línguas orientais tornase o 296 instrumento para por em prática as teses de Harold Lasswell sobre a propaganda as quais o que canta nao é o que as pessoas sao ou pen sam mas aquilo que se pode fazer que elas sejam e pensem A visáopropaeandístíca combina de fato o respeito pela individualidade com a indiferenca pela democracia formal O respeito pela individuali darle surge da dependencia que as operacóes em larga escala tém em relacáo ao apoio das massas e a experiencia com a variabilidada das preferencias humanas Essa consideracáo pelos homens nas massas nao está apoiada em nenhum dogmatismo democrático sobre os homens serem os juizes dos seus próprios interesses O propagandista moderno assim como o psicólogo moderno reconhece que os homens sao muitas maus juizes dos seus próprios interesses saltando de urna alternativa a outra sem motivo sólido ou apegandose temerosa mente aos fragmentos de alguma musguenta rocha de anos Calcular a perspectiva de urna mudanca permanente dos hábitos e dos valores en mais que a estimativa das preferencias dos homens em geral Significa levar em conta a trama das relacóes em que os homens estáo envolvidos procurando por sinais de preferencia que podem nao refIetir deliberacáo e dirigindc um programa para urna solucño que se ajuste ao fato Com relacáo aos ajustes que requerem a acáo das massas a tarefa do propagandista é inventar símbolos para os objetivos tenham a dupla funcáo de facilitar a aceitacao e a adaptaeáo Os simbolos induzir espontaneamente aaceitacáo Conseqüente Ideal é o controle de urna situacáo nao pela imposi cae e pela conjectura O propagandista tem por certo que o mundo e totalmente causado mas apenas parcialmente previsivelctc Fazse portanto que a língua estrangeira adquirida seja parte de um sutil ataque as populacñes do mesrno modo que o estudo de urna re giáo estrangeira como o Oriente é transformado em um programa de controle por conjecturas Contudo esses programas precisam sempre de um verniz liberal e isso costuma ser deixado aos estudiosos hornens de boa vontade para servir A idéia que se encoraja é que ao estudar os onentais os muculmanos OU os árabes nós podemos ficar conhe outro pavo o seu modo de vida e de pensamento e assim por diante ISS0 e sempre melhor deixálos falar por si mesmos repre sentar a SI mesmas embora haja subjacentes a essa ficcáo a frase de Marx com a qual Lasswell está de acordo a respeito de Luís Napoleáo Nao pode m representar a si mesmos devem ser represen tados Mas só até cerro ponto e de um modo especial Em 1973 durante os angustiantes dias da Guerra de Outubro entre árabes e is raelenses o New York Times Magazine encomendou dois artigos um representando o lado israelense do conflito outro o lado árabe O lado 297 israelense foi apresentado por um advogado israelense o árabe por um exembaixador americano em um país árabe que nao tinha nenhum trei namento formal em estudos árabes Para que nao saltemos imediata mente a simples conclusáo de que os árabes eram considerados inca pazes de representar a si mesmos seria bom lembrarmos que tanto os árabes como os israelenses neste caso sao semitas no sentido cultural amplo que venho discutindo e que se estava fazendo com que ambos fossem representados para urna audiencia ocidental Vale a pena lem brar aqui este trecho de Proust no qual a súbita aparicáo de um judeu em um saláo aristocrático é descrita da seguinte maneira Os romenos os egípcios e os turcos podem odiar os judeus mas em um saláo francés as diferencas entre esses povos nao sao tao aparentes e um israelita que entra como se estivesse emergindo do coracáo do deserto o corpo curvado sobre si mesmo como o de urna hiena o pescoco jogado obliquamente para a frente derramandose em orgulhosos salaams satisfaz completamente um certo gosto pelo oriental un goüt pour Torientalisme J 108 2 Política de relacoes culturais Ao mesmo tempo que é verda deiro dizer que os Estados Unidos nao se tornaram um império mun dial até o século XX também é verdade que durante o século XIX o país esteve preocupado com o Oriente de maneiras que o preparariam para o seu papel posterior abertamente imperial Deixando de lado as campanhas contra os piratas da Berberia em 1801 e em 1815 con sideremos a fundacáo da American Oriental Society em 1842 Em sua primeira reuniáo anual em 1843 o seu presidente John Pickering deixou claro que a América se propunha o estudo do Oriente de modo a poder seguir o exemplo das potencias imperiais européias A men sagem de Pickering era que a estrutura dos estudos orientais tanto naquela época como agora era política e nao meramente académica Notese no sumário abaixo de que modo as linhas de argumentacáo a favor do orientalismo deixam poucas dúvidas quanto as suas intencóes Na primeira reuniáo anual da American Society em 1843 o presidente Pickering cornecou um notável esboce do campo que ele se propunha cultivar chamando a atencáo para as circunstancias especialmente favo ráveis da época a paz que reinava por toda a parte o acesso mais livre aos países orientais e as maiores facilidades de comunicacáo Aterra parecia tranqüila nos dias de Metternich e Luís Filipe O Tratado de Nanquim abrira os portas da China A hélice fora adotada nos navios oceánicos Morse completara o seu telégrafo e já havia sugerido a insta lacáo de um cabo transatlántico Os objetivos da Sociedade eram cultivar o aprendizado de línguas asiáticas africanas e polinésias e de tudo o que diz respeito ao Oriente criar um gosto pelos estudos orientais neste país 298 publicar textos traducóes e comunicados e formar urna biblioteca e um escritorio A maior parte do trabalho foi feito no campo asiático e parti cularmente em sánscrito e nas línguas semíticas 109 Metternich Luís Filipe O Tratado de Nanquim a hélice tuda sugere a constelacáo imperial que facilita a penetracáo euroamericana no Oriente Em momento algum isso deixou de acontecer Até mesrno os legendários missionários americanos para o Oriente Próximo du rante os séculas XIX e XX consideravam o seu papel determinado nao por Deus mas pelo Deus deles pela cultura deles pelo destino delest As instítuicóes missionárias oficinas gráficas escolas uni versídades e hospitais por exemplo contribuíram é claro para o da mas em seu caráter especificamente imperial e no que do governo dos Estados Unidos essas ínstituicóes nao eram diferentes em nada das suas equivalentes francesas e inglesas no Onente Durante a Primeira Guerra aquilo que viria a tornarse um grande interesse político dos Estados Unidos pelo sionismo e pela colonizacáo da Palestina teve um papel considerável na entrada dos americanos na guerra as discussóes británicas anteriores e posteriores á Declaracáo Balfour novernbro de 1917 reletem a seriedade com que a declaracáo foi recebida pelos Estados Unidos Durante a Segunda Guerra e depois dela foi notável a escalada nos Estados Unidos do mteresse pelo Oriente Médio Cairo Teerá e a África do Norte foram arenas de guerra e nesse cenário com a exploracáo do seu petroleo e dos seus recursos humanos e estratégicos iniciada pela Fran ca e pela Inglaterra os Estados Unidos preparavamse para o seu novo papel imperial do pósguerra Um dos aspectos desse papel e nao o menos importante foi a política de relacóes culturaís tal como foi definida por Mortimer Graves em 1950 Parte dessa política era disse ele urna tentativa de toda e qualquer publicacáo signíficativa em toda e qualquer Iingua Importante do Oriente Próximo publicada desde 1900 urna tentativa que o nosso Congresso deve reconhecer como urna medida da nossa seguranea nacional Pois o que estava claramente em jogo argumentava Graves para ouvidos muito receptivos digase de pas sagem era a necessidade de um muito melhor entendimento ameri cano das Iorcas que estáo concorrendo com a idéia americana por acei tacáo pelo Oriente Próximo As principais sao é claro o comunismo e 1 112 D o IS a essa preocupacáo e como um acessório contemporáneo a American Oriental Society mais vallada para o passado nasceu todo o vasto aparato de pesquisa sobre o Oriente Médio O modelo tanto na sua atitude francamente estratégica como na sua sensibilidade a segu 299 ranca e as políticas públicas e nao como alegava com a erudicáo pura era o Middle East Institute fundado em maro de 146 sob a égide do governo íederal De organizacóes como estassurgru a Middle East Studies Association o poderoso apoio da Pundacáo Ford e outras de vários programas federais de pesquisa de projetos de pesquisa levados a cabo por entidades como o Departamento de Defesa pela RAND Corporation e pelo Instituto Hudson e dos esforcos consultivos e de defesa de interesses de bancos companhias petrolíferas multinacio nais e coisas do genero Nao é nenhuma reducáo dizer que tudo isso re tém na maior parte do seu funcionamento geral e detalhado a tradi cional visáo orientalista que fora desenvolvida na Europa O paralelo entre os designios imperiais europeus e americanosa respeito do Oriente Próximo ou Extremo é óbvio O que talvez seja menos óbvio é a ií medida que a tradicáo européia de erudicáo orien talista íoi se nao assumida pelo menos acomodada normalizada do mesticada popularizada e acrescentada ao florescimento no período após a guerra dos estudos sobre o Oriente Próximo nos Estados Uni dos e b ií medida que a tradicáo européia deu origem nos Estados Unidos a urna atitude coerente na maioria dos estudiosos instituicóes estilos de discursos e orientacóes apesar da aparencia contemporanea de requinte e do uso de mais urna vez técnicas de sociais de aparencia altamente sofisticada Já discuti as idéias de Gibb precisa ser apontado porém que em meados da de 50 ele se trnou diretor do Centro de Estudos do Oriente MedIO de Harvard posicao a partir da qual as suas idéias e o seu estilo exerceram urna importante influencia A presenca de Gibb nos Estados Unidos foi diferente nos seus efeitos sobre o campo da presenca de Philip Hitti em Prince ton no final dos anos 20 O departamento de Princeton produziu um grande número de importantes estudiosos o seu ramo dos estudos orientais estimulou um grande interesse erudito pelo campo Gibb por outro lado estava mais em contato realmente com o aspecto de polí ticas públicas do orientalismo e muito mais que a de Hitti em Prin ceton a sua posicáo ern Harvard íocalizava o orientalismo com urna abordagern de estudos de área da Guerra Fria O trabalho de Gibb mesmo assim nao empregava abertamente a linguagem de discurso cultural na tradicáo de Renan Becker e Mas signon Este discurso contudo o seu aparato intelectual e os seus dog mas estavarn impressionantemente presentes principalmente enbora nao exclusivamente na obra e na autoridade institucional ern Chicago e depois na Universidade da Califórnia em Los Angeles de Gustavevon Grunebaum Este veio para os Estados Unidos como parte da mn gracáo intelectual de estudiosos europeus que estavam fugindo do fas 300 císrno Depois de chegar ele produziu urna sólida oeuvre orientalista que estava concentrada no isla como urnacultura holística a respeito da qual desde o corneco até o final da sua carreira ele continuou fazendo o mesmo conjunto de generalizacóes essencialmente redutivas nega tivas O seu estilo que muitas vezes apresentava urna caótica evidencia da sua polimatia austrogermánica da sua absorcáo dos preconceitos pseudocientíficos canónicos dos orientalismos francés ingles e italiano além de um esforco quase desesperado para se manter como o obser vadorerudito imparcial era quase ilegivel Um trecho típico dele sobre a autoimagem islámica amontoa meia dúzia de referencias extraídas de tantos períodos quanto possível além de referencias a Husserl e aos presocráticos a LéviStrauss e a vários dentistas sociais americanos Apesar de tudo nada disso obscurece a antipatia quase virulenta de Von Grunebaum pelo isla Ele nao tem nenhuma dificuldade em pre sumir que o isla é um fenómeno unitário ao contrário de qualquer outra religiáo ou civilizacáo para em seguida demonstrar que além disso ele é também antihumano incapaz de desenvolvimento de auto conhecimento ou de objetividade bem como náocriativo acientífico e autoritário Aqui estáo dois extratos típicos e devemos nos lembrar de que ele escreve coro a autoridade única de uro estudioso europeu nos Estados Unidos que ensina dirige e concede bolsas a urna ampla rede de estudiosos no campo E essencial perceber que a civilizacáo rnuculmana é urna entidade cul tural que nao compartilha das nossas aspiracóes primárias EIa nao está vitalmente interessada no estudo estruturado de outras culturas nem como um fim em si mesmo nem como um rneio para um entendimento mais claro do seu próprio caráter e da sua própria história Se essa obser vacáo fosse válida apenas para o isla contemporáneo poderiamos estar inclinados a ligála ao estado profundamente perturbado do isla que nao permite que ele olhe aIém de si mesmo a menos que seja toreado Mas posta que ela é válida também para o passado podemos talvez ligá la ao antihumanismo básico dessa civilízacáo islámica ou seja a re cusa terminante em aceitar o homem em qualquer medida como o árbi tro ou padráo das coísas e a tendencia a satísfazerse com a verdade como a descricác de cstruturas mentais ou em outras palavras com a verdade psicológica O nacionalismo árabe ou islámico carece apesar do seu uso oca sional como lema do conceitc de direito divino de urna nacño carece de ética formativa e carece também dirseia da fé do século XIX no pro gresso mecánico carece acima de tuda do vigor intelectual de um fenó meno primário Tanto o poder como a vontade de poder sao fins em si mesmos lEsta frase parece nao ter nenhum propósito no argumento no entanto ela dá a Von Grunebaum a seguranca de urna náosentenca Sodois e Numanl1d I de aparencia filosófica como se fosse para garantir a simesmo que falando sabiamente e nao disparatadamente sobre o islá mento pelos desaforos políticos sentidos pelo isla engendra a impacten cia e atrapalha a análise e o planejamento de longo alcance na esfera intelectual 115 Em muitos outros contextos esses escritos seriam polidamente chamados de polémicos Para o orientalismo evidentemente ele é rela tivamente ortodoxo e passou como sabedoria canónica nos americanos do Oriente Médio depois da Segunda Guerra principal mente por causa do prestigio cultural associado aos euro peus A questáo porém é que a obra de Von Grunebaum e acriticamente pelo campo embora este mesmo nao possa hoje em dia pessoas como ele Apesar disso apenas um estudioso dicouse seriamente a crítica de Von Grunebaum Abdullah Laroui um historiador e teórico político marroquino Usando o motivo da repeticáo redutiva na obra de Von Grune baum como um instrumento prático de estudo crítico antiorientalista Laroui de maneira geral maneja bem o seu caso Ele se o que é que fez com que a obra de Von Grunebaum fosse redutiva sar da enorme massa de detalhes e do seu aparente alcance Como diz Laroui os adjetivos que Von Grunebaum apóe apalavra isla mdieval c1ássico moderno sao neutros ou até mesmo supérfluos nao ha dife renca entre o isla c1ássico e o isla medieval e o islapuro e simples Há portanto para Von Grunebaum apenas um Isla que muda no In teriorde si mesmo O isla moderno segundo Von Grunebaum aíastouse do Ocidente por que permanece fiel ao seu sentido original de si mesmo e no entano ele pode modernizarse apenas por meio de urna autoreínterpretacáo de um ponto de vista ocidental o que é claro Von Grunebaum demonstra ser impossível Ao descrever as conclusóes de Von Grune oaum que se resumem a um retrato do isla urna cultura de inovacáo Laroui nao menciona que a necessidade para de usar métodos ocidentais para se aperfeicoar tornouse como idéia tal vez em virtude da ampla influencia de Von Grunebaum quase um truismo nos estudos do Oriente Médio Por exernplo David Gordon em seu Selfdetermination and history in the Third determinacáo e história no Terceiro Mundo insta os os afri canos e os asiáticos a rnaturidade ele alega que ISS0 so pode ser alcancado aprendendose com a objetividade ocidental 302 A análise de Laroui mostra também de que maneira Von Grune baum utilizou a teoria culturalista de A L Kroeber para entender o isla e como esse instrumento acarreta necessariamente urna série de reducóes e elimina90es mediante as quais o isla podía ser representado como um sistema fechado de exclusóes Assim cada um dos muitos aspectos da cultura islámica podia ser visto por Von Grunebaum como um reflexo imediato de urnamatriz invariável urnateoria particular de Deus que obriga todos os aspectos ao significado e aordem o desen volvimento a história a tradicáo e a realidade no isla sao portanto intercambiáveis Laroui sustenta com razáo que a história como urna ordem complexa de eventos temporalidades e significados nao pode ser reduzida a tal nocáo da cultura assim como esta nao pode ser redu zida aideología nem a ideologia ateologia Von Grunebaum caiu pre sa dos dogmas orientalistas que herdou e de urna característica partí cular do isla que ele escolheu interpretar como urna insuficiencia que pode ser encontrada no isla urna teoria da religiáo altamente articu lada mas pouquíssimos relatos de experiencias religiosas urna teoria política altamente articulada e poucos documentos políticos precisos urna teoria da estrutura social e pouquíssimas acóes individualizadas urna teoria da história e pouquíssimos acontecimentos datados urna teoria económica articulada e pouquíssimas séries quantificadas e as sim por diante O resultado final é urna visáo histórica do isla intei ramente manietada pela teoria de urna cultura incapaz de fazer justica asua própria realidade existencial na experiencia de seus adeptos ou mesmo de examinála O isla de Von Grunebaum afinal de contas é o isla dos primeiros orientalistas europeus monolítico desdenhoso da experiencia humana comum grosseiro redutivo imutável No fundo essa visáo é política nem sequer eufemisticamente irn parcial A forca do controle que ela exerce sobre o novo orientalista ou seja mais jovem que Von Grunebaum é em parte devida a sua auto ridade tradicional e em parte ao seu valor de uso como urn instru mento para apreender urnavasta regiáo do mundo e proclamála como um fenomeno inteiramente coerente Visto que o isla nunca foi facil mente contido políticamente pelo Ocidente e desde a Segunda Guerra o nacionalismo árabe tem sido um movimento que declara abertamente a sua hostilidade ao imperialismo ocidental em reta Iiacáo aumenta o desejo de afirmar coisas intelectualmente satisfatórias sobre o isla Urna autoridade disse sobre o isla sern especificar de qual isla ou aspecto dele estava falando que ele é um protótipo das socie dades tradicionais fechadas Notese aqui o edificante uso da palavra islii para significar ao mesmo tempo urna sociedade urna religiáo um protótipo e urna realidade Mas ludo isso será subordinado pelo mesmo 303 estudioso a nocáo de que ao contrário das sociedades normais as nossas as sociedades do isla ou do Oriente Médio sao políticas um adjetivo que tem a intencáo de ser urna isla por nao ser liberal por nao ser de separar nos somos a política da cultura O resultado e um retrato nvejosamente ideológico nosso e deles Entender a sociedade do Oriente Médio como um todo deve continuar sendo o nosso grande objetivo SÓurna sociedade como a nossa que tenha atingido urna estabilidade dinámica pode se dar ao luxo de pensar na política na economia ou na cultura como domínios genuinamente autónomos da existencia e nao divisóes meramente convenientes para o estudo Em urna sociedade tradicional que nao separa as coisas de César das de Deus ou que esteja inteiramente em ñuxo a conexáo entre di gamos a política e todos os demais aspectos da vida é o coracáo da ques tao Hoje por exemplo se um homem deve ter quatro esposas ou urna só se deve jejuar ou comer ganhar ou perder a terra confiar na reve lacáo ou na razño tornouse urna questáo política no 9riente Médio Nao menos que o próprio muculmano o orientalista deve indagar nova mente quais seráo as estruturas e relacóes significativas na sociedade tstamíca A trivialidade da maioria dos exemplos ter quatro esposas jejuar ou comer etc quer ser urna evidencia da total abrangéncia do isla e da sua tirania Quanto ao lugar ande isso supostamente acontece nao nos dizem Mas lembramnos do fato sem dúvida apolítico de que os orientalistas sao amplamente responsáveis por terem dado aos pró prios habitantes do Oriente Médio urna avaliacáo precisa do seu pró prio passado120 para o caso de termos esquecido que os sabem por definicáo coisas que os orientais nao podem saber por SI mesmos Se isso resume a linha dura do orientalismo americano a linha moderada enfatiza o fato de que os orientalistas tradicionais deram nos o esboco básico da história da religiáo e da sociedade islámicas mas com demasiada freqüéncia se contentaram ern resumir o sentido de urna civilizacáo com base em uns poucos manuscritos 121 Contra o orientalista tradicional portante o novo especialista ern estudos de área argumenta filosoficamente A metodologia de pesquisa e os paradigmas da disciplina nao devem determinar o que é selecionado para estudo e nao devem limitar a obser vacáo Os estudos de área desse ponto de vista afirmam que o verda deiro conhecimento só é possivel acerca de coisas que existem enquanto os métodos e teorias sao abstracoes que ordenam as observacóes e oíere 1 cem explicacóes de acordo com cntenos naoempmcos 304 Bom Mas como se conhecem as coisas que existem e em que me dida as coisas que existern sao constituidas pelo que conhece Isso é deixado em aberto assim como a nova apreensáo sem valores do Orien te como algo que existe é institucionalizada nos programas de estudo de área Sem urna teorizacáo tendenciosa o isla é raramente estudado raramente pesquisado raramente conhecido a ingenuidade dessa con cepcáo mal consegue ocultar o que ela significa ideologicamente a tese absurda segundo a qual o homern nao tem nenhum papel no estabele cimento tanto do material como dos processos do conhecimento que a realidade oriental é estática e existe que só um revolucionário mes siánico no vocabulário do dr Kissinger nao admite a diferenca entre a realidade lá fora e a que está na cabeca dele Entre as linhas dura e moderada porém florescem versees mais ou menos diluídas do velho orientalismo em alguns casos com o novo jargáo académico em outros com o velho mesmo Mas os principais dogmas do orientalismo existem hoje em sua forma mais pura nos es tudos sobre os árabes e sobre o isla Vamos recapituláIos aqui um é a absoluta e sistemática diferenca entre o Ocidente que é racional de senvolvido humanitário e superior e o Oriente que é aberrante sub e inferior Outro é que as abstracóes sobre o Oriente par ticularmente as que se baseiam em textos que representam urna civi lizacáo oriental clássica sao sempre preferíveis as evidencias diretas extraídas das realidades orientais modernas Um terceiro dogma é que o Oriente é eterno uniforme e incapaz de definir a si mesmo presume se portanto que um vocabulário altamente generalizado e sistemático para descrever o Oriente de um ponto de vista ocidental é inevitável e até cientificamente objetivo Um quarto dogma é que o Oriente no fundo ou é algo a ser temido o Perigo Amarelo as hordas mongóis os domínios pardos ou a ser controlado por meio da pacificacáo pes quisa e desenvolvimento ou ocupacáo pura e simples sempre que pos sivel O extraordinário é essas nocóes persistirem sem serem significati vamente contestadas no estudo académico e governamental do Oriente Próximo moderno Lamentavelrnente nao houve nenhum efeito de monstrável se é que houve qualquer gesto de desafio das obras de estudiosos árabes ou islámicos contestando os dogmas do orientalismo um artígo isolado aqui e ali mesmo sendo importante para o lugar e a época nao poderia de modo algum afetar o curso de um imponente consenso de pesquisa mantido por toda espécie de agencias instituicóes e tradicóes A questáo nisso tudo é que o orientalismo islámico tem tido urna vida bastante diferente da que levam as demais sub disciplinas orientalistas O Committee of Concerned Asia Scholars Cornil de Es 305 tudiosos sobre a Ásia Preocupados liderou urna revolucáo durante os anos 60 nas fileiras dos especialistas em Ásia oriental os especialistas em estudos africanos foram igualmente desafiados por revisionistas o mesmo aconteceu aos demais especialistas de área do Terceiro Mundo SÓ os arabistas e os islamologistas ainda nao foram contestados Para eles ainda há coisas como urna socíedade islámica urna mente árabe urna psique oriental Mesmo aqueles cuja especialidade é o mundo islá mico contemporáneo usam anacronicamente textos como o Coráo decifrar cada faceta da sociedade argelina ou egipcia moderna O Isla ou o ideal do século VII que dele faz o orientalista possui suposta mente a unidade que elude as influencias mais importantes e recentes do colonialismo do imperialismo e até mesmo da política ordinária Os chavóes sobre como os muculmanos ou maometanos como ainda sao chamados as vezes se comportam correm a solta e sao discutidos coro urna displicencia que ninguém arriscaria falando a respeito de negros ou judeus Na melhor das hipóteses o é um informante nativo do orientalista Secretamente porém ele continua sendo o he rege desprezado que pelos seus pecados deve além disso suportar a posicáo totalmente ingrata de ser conhecido negativamente bem entendido como um antisionista Eclaro que os estudos do Oriente Médio térn o seu establishment seus interesses comuns suas redes de velhos amigos e peritos que ligam as grandes companhias as fundacóes as companhias feras as missóes os militares a área de relacóes exteriores e os servicos de inforrnacáo ao mundo académico Existem bolsas e outras recom pensas organizacóes hierarquias institutos centros faculdades partamentos todos dedicados alegitimacáo e amanutencáo da autori dade de um punhado de idéias básicas e basicamente imutáveis sobre o isla o Oriente e os árabes Urna análise critica recente do modo de dos estudos do Oriente Médio nos Estados Unidos ostra nao que o campo é monolítico mas que é complexo que onenta listas da velha guarda especialistas deliberadamente margmais espe cialistas de contrainsurgencia e planejadores além de urna pequena minoria oo de corretores de poder academicol2J De qualquer modo o núcleo do dogma orientalista persiste Como exemplo do que o campo produz em sua forma intelec tualmente mais prestigiosa consideremos brevemente os dois volumes da Cambridge history of Islam publicado pela primeira vez na Ingla terra ern 1970 e resumo regular da ortodoxia orientalista Dizer que esta obra de vários luminares é um íracasso sob quaisquer padrees exceto os orientalistas equivale a dizer que poderia ter sido uma his tória do isla diferente e melhcr Na verdade como diversos outros estu 306 L diosos atenciosos notaram esse tipo de históriajá estava condenado quando foi planejado e nao poderla ter sido diferente ou melhor em sua execucáo demasiadas idéias sao aceitas acriticamente pelos seus editores confiase demais em conceitos vagos nao se dá muita énfase as questóes metodológicas que foram deixadas no mesmo pé em que esti veram no orientalismo durante quase dais séculos e nao foi feito ne nhum esforco para tornar sequer a idéia do isla interessante Além disso a Cambridge history ofIslam nao apenas concebe e representa o isla de maneira radicalmente errónea como religiáo como tampouco tem uma idéia articulada de si mesma como uma história De poucos empreendimentos enormes como esse pode ser dito como é o caso aqui que as idéias e a inteligencia metodológica estáo totalmente ausentes O capítulo de Erfan Shahid sobre a Arábia préislámica que abre a história esboca inteligentemente a proveitosa consonancia entre a topografia e a economia humana de que surgiu o isla no século VII Mas o que é que pode ser dito com justica de uma história do isla definida na introducáo de P M Holt de maneira um tanto quantovaga como urna síntese culturalt que passa diretamente da Arábia pré islámica a um capítulo sobre Maomé e deste a outro sobre os califados patriarcal e omíada omitindo totalmente qualquer mencáo ao isla como sistema de fé crenca ou doutrina Ao longo de centenas de pá ginas no primeiro volume entendese que o isla equivale a urna ininter rupta cronologia de batalhas reinados e martes ascensóes e apogeus idas e vindas a maior parte disso escrita em uro horrível tom mono córdio Vejase por exemplo o período abássida do século VIII ao XI Qualquer um que tenha o menor conhecimento da história árabe ou islámica deve saber que este foi um dos pontos altos da civilizacáo isla mica um periodo tao brilhante da história cultural quanto a Alta Re nascenca na Itália No entanto em nenhum ponto das quarenta pá ginas de descricáo é dada qualquer indicacáo dessa riqueza em vez disso o que se encontra sao sentencas como esta Urnavez senhor do califado alMamun parecen afastarse do contato com a sociedade de Bagdá e estabeleceuse em Merv entregando o go yerno do Iraque a um de seus homens de confíanca alHasan b SahI irmáo de alFadl que quase imediatamente teve de enfrentar urna séria revolta shii a de AbulSaraya que em jumada 11 de 199janeiro de 815 fez ero Kufa um chamado as armas em apoio do hassánida Ibn Tabataba Qualquer um que nao seja um islamicista nao saberá nesse ponto o que é um shii ou uro hassánida Nao terá a menor idéia do que é ju 307 mada 11 a nao ser que se refere claramente a algum tipo de data E é claro que ele acreditará que os abássidas inclusive Harun alRashid eram uro bando incorrigivelmente obtuso e assassino que ficavam amuados em Merv Por definicáo a Andaluzia e a África do Norte nao fazem parte das terras islámicas centrais e a história destas é urna marcha orde nada do passado até os tempos modernos No primeiro volume por tanto o isla é urna designacáo geográfica aplicada cronológica e sele tivamente de acordo coro a conveniencia dos peritos Mas ero nenhum momento nos capítulos sobre o isla c1ássico há urna preparacáo ade quada para as desilusóes que nos aguardarn quando chegamos ao que é chamada de tempos recentes O capítulo sobre as terras árabes mo dernas é escrito sem o menor entendimento dos desenvolvimentos revo lucionários na área O autor assume urna atitude melindrosa e aberta mente reacionária ero relacáo aos árabes Cdevese dizer que durante esse período a juventude dos países árabes educada ou nao coro seu entusiasmo e idealismo tornanse uro terreno fértil para a exploracáo política e as vezes talvez sem perceber o instrumento de extremistas e agitadores sem escrúpulos l27 temperada por elogios ocasionais ao nacionalismo libanes embora nunca nos seja dito que o apelo do fas cismo para um pequeno número de árabes durante os anos 30 também infectou os cristáos maronitas que fundaram em 1936 as Falanges Li banaises cópia dos Camisas Negras de Mussolini 1ntranqüilidade e agitacáo sao atribuídas ao anos de 1936 sem mencáo ao sionismo e nao se permite que nem mesmo as nocoes de anticolonialismo e de anti imperialismo venham violar a serenidade da narrativa Quanto aos ca pítulos sobre o impacto político do Ocidente e a rnudanca econó mica e social idéias que sao deixadas nesse nível de especiñcacáo sao anexados como concessóes relutantes ao isla como tendo alguma coisa a vercom o nosso mundo em geral Posta que se presume que as únicas relacóes de algum valor do isla foram com o Ocidente a impor tancia de Bandung ou da África ou do Terceiro Mundo é geralmente ignorada essa alegre indiíerenca para com bons tres quartos da reali dade explica de certo modo a declaracáo espantosamente jubilosa se gundo a qual o terreno histórico foi limpo por quem para que de que modo para urna nova relacáo entre o Ocidente e o isla oo ba seada na igualdade e na cooperacáo 128 Se estivermos atolados no final do volume 1 em contradicóes e dificuldades sobre aquilo que o isla realmente é o segundo volume nao será de nenhuma ajuda Metade do livro é dedicada a cobrir o período do século X ao século XX na india no Paquistáo na Indonésia na Espanha na África do Norte e na Sicilia há um maior detalhamento 308 no capítulo sobre a África do Norte embora prevaleca quase por toda a parte o mesmo jargáo orientalista profissional acompanhado de de talhes históricos desorientados Até aqui após aproximadamente 1200 páginas de densa prosa o isla nao parece ser mais urna síntese cul tural que qualquer outra lista de reis batalhas e dinastias Mas na úl tima metade do segundo volume a grande síntese se completa com artigos sobre O cenário geográfico Fontes da civilizacán islámica Religiáo e cultura e Guerra Agora as nossas perguntas e objecóes legítimas parecem mais justificadas Por que razáo se encomenda um artigo sobre a guerra islámica quando o que se discute na verdade de modo bem interes san te a propósito é a sociología de alguns exércitos islámicos De vemos presumir que há um modo de guerra islámico diferente di gamos do modo de guerra cristáo A guerra comunista contra a guerra capitalista pode ser considerada como um exemplo adequadamente análogo Que utilidade tém para o entendimento do isla a nao ser para exibir a erudicáo indiscriminada de Von Grunebaum as opacas citacóes de Leopold von Ranke que juntamente com outro material igualmente momentoso e irrelevante permeiam as suas páginas sobre a civilizacáo islámica Nao seria falacioso ocultar dessa maneira a verda deira tese de Van Grunebaum de que a civilizacáo islámica se apóia sobre um empréstimo inescrupuloso das civilizacóes judeucristñ helé nica e austrogermáníca Comparese a essa idéia que o isla é por definícáo urna cultura de plágio a que foi avancada no volume 1 segundo a qual a literatura dita árabe foi escrita por persas sem ne nhuma prova sem nenhum norne Quando Louis Gardet trata de Re lígiáo e cultura énos dito sumariamente que apenas os primeiros cinco séculos do isla seráo discutidos será que isso quer dizer que a religiáo e a cultura nos tempos modernos nao podem ser sinteti zadas ou que o isla alcancou a sua forma final no século XII Existirá realmente alguma coisa parecida com a geografía islámica que pa rece incluir a anarquia planejada das cidades rnuculmanas ou será que ela nao passa de um tema inventado para demonstrar urna teoria rígida de determinismo racialgeográfico Como urna indicacño lem bramnos do jejum de ramada com suas noites ativas a partir do que se espera que cheguemos él conclusáo de que o isla é urna religiáo concebida para habitantes das cidades Esta é urna explicacáo que precisa de urnaexplicacáo As secóes sobre as ínstituicóes económicas e sociais sobre direito e justica arte e arquitetura ciencia e as várias literaturas islámicas sao no conjunto de mais alto nivel que a maior parte da History Mas em nenhum momento há qualquer evidencia de que os seus autores te 309 1 M 1 nham alguma coisa a ver com os modernos humanistas e cientistas so ciais em outras disciplinas as técnicas da história convencional das idéias da análise marxista da Nova História estáo evidentemente au sentes Para os seus historiadores o isla parece ser mais adequado a um viés um tanto quanto platónico e antiquário Para alguns escritores da History o isla é urna política e urna religiáo para outros é um estilo de ser para outros ainda ele é separável da sociedade islámica e finalmente é urna esséncia misteriosamente conhecida para todos os autores o isla é urna coisa remota sem tensóes sem muito o que nos ensinar a respeito das complexidades dos muculmanos de hojeo Pai rando sobre todo o desarticulado empreendimento que é The Cam bridge history 01Islam está o velho truismo orientalista segundo o qual o isla trata de textos nao de pessoas A questáo fundamental colocada por textos orientalistas contem poráneos como a Cambridge history é se as origens étnicas e a religiáo sao as melhores definicóes da experiencia humana ou pelo menos as mais úteis básicas e claras Importa mais para o entendimento da po lítica moderna saber que X ou Y estáo em desvantagem em certas maneiras bem concretas ou saber se eles sao judeus ou muculmanos Esta é claro é urna questáo sujeita a debate e é muito provável em termos racionais que insistamos tanto na descricáo etnoreligiosa quanto na sócíoeconómica O orientalismo contudo coloca clara mente a categoria islámica como a dominante e esta é a principal con sideracáo sobre as suas táticas intelectuais retrógradas 3 Meramente isla A teoria da simplicidade semítica tal como é encontrada no orientalismo moderno está tao profundamente arrai gada que opera com pouca diíerenciacáo em conhecidos escritos anti semitas europeus como O protocolo dos sábios do Siiio e em obser vacóes como esta de Chaim Weizmann para Arthur Balfour em 30 de maio de 1918 Os árabes que sao superficialmente astutos e de raciocínio rápido vene ram urna coisa urna única coisa poder e sucesso As autoridades británicas conhecendo como conhecem a natureza traicoeira dos árabes tém de vigiar cuidadosa e constantemente Quanto mais justo o regime ingles tenta ser mais arrogante se torna o árabe O presente estado de coisas tenderia necessariamente para a críacao de urna Palestina árabe se houvesse um povo árabe na Palestina mas nao produzirá de fato esse resultado porque o felá está pelo menos quatro séculos atrasado e o eféndi l é desonesto inculto e ccbícoso e tao impatriótico quanto é ineficiente 129 O denominador comum a Weizmann e ao antisemita europeu é a pers pectiva orientalista que ve os semitas ou as subdivisóes deles como 310 um povo que carece por natureza das desejáveis qualidades dos oci dentais E no entanto a diferenca entre Renan e Weizmann é que este último tinha atrás da sua retórica a solidez das instituícóe que o pri meiro nao tinha Nao há no orientalismo do século XX aquela mesma infancia graciosa que nao envelhece ora descuidadamente aliada a erudicáo ora a estados e instituicóes a qual Renan via como o modo de ser imutável dos semitas No século XX porém o mito foi mantido corn muito maior dano produzindo urna imagem do árabe visto por urna sociedade avan cada quaseocidental O palestino em sua resistencia aos colonia listas estrangeiros ou era um selvagem estúpido ou um dado negli genciável moral e até mesrno existencialmente Segundo a lei israe lense só os judeus térn plenos direitos civis e privilégios incondicionais de irnigracáo embora sejam os habitantes da terra os árabes térn me nos direitos mais simples se eles parecem nao ter os rnesmos direitos é porque sao menos desenvolvidos O orientalismo rege toda a polí tica israelense para com os árabes como foi amplamente provado pelo Relatório Koenig recentemente publicado Há árabes bons que fa zem o que lhes dizem e árabes maus que nao fazem e portanto sao terroristas Acima de tudo estáo todos aqueles árabes dos quais se pode esperar que urna vez derrotados fiquem obedientemente quietos atrás de urna linha infalivelmente fortificada mantida pelo menor nú mero possível de homens com base na teoria de que os árabes tiveram de aceitar o mito da superioridade israelense e nunca se atreveráo a atacar Nao é preciso mais que urna olhada pelas páginas de Arab alti tudes lo Israel Atitudes árabes em relacáo a Israel do general Yeho shafat Harkabi para ver de que modo tal como foi colocado em urna linguagem admirável por Robert Alter em Commentary 130 a mente árabe depravada antisemita até o mais íntimo do seu ser desequili brada e violenta podia produzir apenas retóricae pouca coisa mais Um mito apóia e produz o outro Eles reagem um ao outro e tendem a simetrias e padrñes do tipo que só os árabes como orientais podem produzir mas que como ser humano nenhum árabe pode realmente sustentar Por si mesmo em si rnesmo como um conjunto de crencas como método de análise o orientalismo nao se pode desenvolver De fato ele é a antítese doutrinal do desenvolvimento O seu argumento central é o mito do desenvolvimento detido dos semitas A partir dessa matriz outros mitos brotam cada um deles demonstrando que o semita é o contrário do ocidental e irremediavelmente vítima de suas próprias fra quezas Por urna concatenacáo de eventos e circunstancias o mito se mítico bifurcouse no movimento sionista um semita seguiu o caminho 311 do orientalismo e o outro o árabe foi forcado a seguir o caminho do oriental A cada vez que a tenda e a tribo sao solicitadas o mito está sendo usado O controle que esses instrumentos exercem sobre a mente é intensificado pelas instituícóes erigidas ao redor deles Para cada orientalista de modo bastante literal há um sistema de apoio de um poderestarrecedor levandose ern conta a efemeridade dos mitos que o orientalismo propaga Tal sistema culmina agora nas próprias insti tuicóes do estado Escrever sobre o mundo oriental árabe portanto é escrever com a autoridade de urna nacáo e nao com a afirmacáo de urna ideologia estridente mas com a certeza inconteste da verdade absoluta respaldada pela forca absoluta Em seu número de fevereiro de 1974 Commentary ofereceu aos seus leitores um artigo do prof Gil Carl Alroy intitulado Querern os árabes paz Alroy é professor de ciencias políticas e autor de duas obras Attitudes towards Jewish statehood in the arab world Atitudes para com o Estado judeu no mundo árabe e Images of Middle East confíict Imagens do conflito do Oriente Médio é um homem que alega conhecer os árabes e é obviamente um perito na confeccáo de imagens O argumento dele é bastante previsível que os árabes querem destruir Israel que eles realmente dizem o que querem e Alroy faz um uso ostensivo da sua capacidade de citar evidéncias extraídas de jornais egípcios evidencia esta que ele identifica a toda hora com os árabes como se ambos jornais árabes e egípcios fossern a mesma coisa e assim por diante interminavelmente com incansável e inabalável zelo O centro de seu artigo do mesmo modo que é centro de obras ante riores de outros arabistas sinónimo de orientalistas como o ge neral Harkabi é urna hipótese funcional sobre aquilo que os árabes depois de descascados todos os disparates exteriores sao realmente Ou seja Alroy tem de provar que porque os árabes silo antes de mais nada urna única coisa em sua inclinacáo para a vínganca sangrenta e em segundo lugar psicologicamente incapazes de paz e por último congenitamente apegados a urna concepcáo de justica que quer dizer exatamente o contrário nao se deve confiar neles e devem ser comba tidos como se combate qualquer outra doenca fatal Como prova disso a principal evidencia de Alroy é urna citacáo extraída do ensaio de Harold W Glidden O mundo árabe ao qual me referi no capítulo 1 Alroy considera que Glidden foi capaz de capturar as diferencas culturais entre as visóes ocidental e árabe das coisas muito bem O argumento de Alroy está portanto resolvido os árabes silo selvagens renitentes e desse modo urna autoridade sobre a mente árabe disse a urna ampla audiencia de judeus presumivelmente preocupados que eles devem continuar tomando cuidado E fez isso academicamente 312 friamente usando evidencias extraídas dos própríos árabes os quais diz ele com olímpica seguranea descartaram enfaticamente a paz verdadeíra e da psicanálíse Podernse explicar essas declaracóes reconhecendo que urna dife renca ainda mais implícita e poderosa colocada pelo orientalista no sentido de a oriental é que o primeiro escreve sobre enquan to sobre o último se escreve Para o último a passividade é o papel para o primeiro é o poder de observar de estudar e as sim por diante como disse Roland Barthes um mito e seus perpe tuadores pode inventar a si rnesmo e a si mesmos incessantemente 132 onentalé dado como fixo estável precisando de investigacae pre cisando ate mesmo de conhecimento sobre sí mesmo Nenhuma dialé tica é desejada ou permitida Há urna fonte de o oriental e urna fonte de conhecimento o orientalista ou seja um escritor e um em todos os demais aspectos O relacionamento entre os doís e radicalmente urna questáo de poder para o qual há numerosas imagens Aqui está um exemplo extraído de Golden river to golden road Do rio de ouro aestrada de ouro de Raphael Patai De modo a poder avaliar adequadamente aquilo que a cultura do Oriente Médio aceitará de boa vontade dos depósitos embaracosamente abun dantes da civilizacáo ocidental devese adquirir antes um melhor e mais da cultura do Oriente Médio O mesmo prérequí SIto e necessario para medir os prováveis efeitos de traeos recentemente sobre o contexto cultural de povos dirigidos pela tradicáo Tambem os modos e os meios pelos quais novas ofertas culturais podem ser tornadas palatáveis devem ser estudados muito mais cuidadosamente fora 0 até agora Em resumo único modo pelo qual o nó da resisténcia aocidentalizacáo no Oriente Médio pode ser desa tado e estudar o Oriente Médio obter uma imagem maís completa de sua cultura tradicional ter um melhor entendimento dos processos de rnudanca que nela estiio tendo lugar presentemente e urna visiio mais profunda da psicología de grupos humanos criados em urna cultura do Oriente Médio A tarefa é exaustiva mas a recompensa harmoniosa entre o Ocidente e urna área adjacente de crucial importancia vale bem a pena IJJ As que aparecem nesta passagem eu as indiquei com vem de urna variedade de atividades humanas urnas co merciais outras horticulturais religiosas veterinárias históricas No entanto em cada caso a relacáo entre o ücidente e o Oriente é real mente definida como sexual tal como eu disse antes ao discutir Flau bert a associacáo entre o Oriente e o sexo está notavelmente presente O Oriente Médio é resistente como qualquer virgem seria mas o estu 313 dioso do sexo masculino ganha a recompensa ao abrir penetrar o nó górdio apesar da tarefa exaustiva A harmonia é o resultado da conquista sobre o recato virginal nao é de maneira alguma a coe xistencia entre iguais A relacáo de poder subjacente entre o estudioso e o tema de estudo nunca é alterada ela é uniformemente favorável ao orientalista O estudo o entendimento a avaliacáo como lisonjas 11 harmonia sao instrumentos de conquista As operacóes verbais ern escritos como o de Patai que superou até mesmo as suas obras anteriores com o seu recente The Arab mind A mente árabe 134 sao dirigidas a urna espécie muito particular de compreensáo e reducáo Grande parte da sua parafernália é antropo lógica ele descreve o Oriente Médio como urna área de cultura mas o resultado é a erradicacáo da pluralidade de diíerencas entre os árabes o que quer que eles de fato sejam no interesse de urna única diferenca que distingue os árabes de qualquer outro pavo Como um tema para estudos e análise eles podem ser controlados mais pronta mente Alérn do mais assim reduzidos podese fazer com que eles per mitam legitimem e valorizem os disparates generalizados do tipo que se encontra em obras como Temperament and character of the arabs Temperamento e caráter dos árabes de Sania Hamady Por exemplo Os árabes até agora demonstraram incapacidade para a unidade disci plinada e duradoura Eles tém acessos ocasionais de entusiasmo mas nao levam a cabo pacientemente empreendimentos coletivos que costu mam ser abracados de todo coracáo Demonstram falta de coordenacáo e de harmonia para a organizacáo e o funcionamento e nao revelaram habilidade para a cooperacáo Qualquer acáo coletiva para o benefício comum ou para o proveito mútuo é estranha a eles 135 O estilo dessa prosa talvez diga mais que o que pretende Hamady Verbos como demonstram revelam e mostram sao usados sem objeto indireto para quem é que os árabes estáo mostrando revelando demonstrando Para ninguém em particular obviamente mas para todos em gera Esta é outra maneira de dizer que essas verdades sao evidentes por si mesmas apenas para o observador iniciado ou privile giado posta que em momento algum Hamady cita evidencias dispo níveis para qualquer pessoa em apoio as suas observacóes Além dlSSO dada a inanidade das observacóes que tipo de evidencia poderia ha ver Na medida em que a prosa dela avanca aumenta também a con fianca do seu tomo Qualquer acáo coletiva é estranha a eles As categorias ficam mais duras as añrmacóes mais inflexíveis e os árabes transformamse totalmente de um pavo em algo que nao passa de um objeto putativo da prosa de Hamady Os árabes existem apenas como urnaocasiáo para o observador tiránico O mundo é idéia minho 314 E é isso que ele é por toda a obra do orientalista contemporáneo afirmacóes do tipo mais bizarro permeiam os escritos deles seja um Manfred Halpern afirmando que embora os processos de pensamento humano possam ser reduzidos a oito a mente islámica é capaz de ape nas quatroue ou um Morroe Berger presumindo que posto que a lín gua árabe é muito dada aretórica conseqüentemente os árabes sao incapazes de pensamento real Podese dizer que essas afirrnacóes sao mitos em sua funcáo e estrutura mas mesmo assim é preciso tentar entender que outros imperativos regem o uso delas Nesse ponto es tamos especulando é claro As generalizacóes orientalistas sobre os árabes sáo muito detalhadas quando se trata de listar criticamene as características árabes e muito menos quando a questáo é analisar o que eles tém de forte A família árabe a retórica árabe o caráter ára be apesar de copiosas descrieóes feitas pelo orientalista parecem des naturados sem potencia humana até quándo essas mesmas descricóes possuem plenitude e profundidade em seu poder abrangente sobre o tema Hamady de novo Assim o árabe vive em um ambiente duro e frustrante Tem poucas ehanees de desenvolver suas potencialidades e definir sua posicáo na so ciedade tem pouca té no progresso e na mudanca e encontra a salvacác apenas no além 138 Aquilo que o árabe nao pode alcancar por si mesmo pode ser encon trado no que é escrito sobre ele O orientalista está supremamente certo do seu próprio potencial nao é um pessimista é capaz de definir sua posicáo a sua própria e a do árabe A imagem do oriental árabe que surge disso é definitivamente negativa contudo perguntamonos por que essa série infinita de obras sobre ele A que se apega o orientalista se nao como corn certeza nao é aciencia amente asociedade e ás realizacóes árabes Em outras palavras qual é a natureza da pre senca árabe no discurso mítico sobre ele Duas coisas número e poder gerativo As duas qualidades sao em última instancia redutíveis urnaaoutra mas devemos separáIas para os propósitos dessa análise Quase sem excecáo toda obra con temporánea de erudicáo orientalista especialmente nas ciencias so dais tem muito a dizer a respeito da família da sua estrutura domi nada pelos homens e da influencia que ela exerce sobre toda a socie dade A obra de Patai é um exemplo típico Um paradoxo silencioso apresentase imediatamente pois se a família é urna instituicáo para cujos fracassos generalizados o único remédio é o placebo da moder nizacáo ternosde admitir que a família continua a produzirse é fér til e é a fonte da existencia árabe no mundo tal como ela se apresenta 315 J Aquilo a que Berger se refere como o grande valor que os hornens atribuern as suas próprias proezas sexuais139 sugere o poder que está a espreita por trás da presenca árabe no mundo Se a sociedade árabe é representada em termos quase totalmente negativos e geralmente pas sivos para ser arrebatada e vencida pelo herói orientalista podemos presumir que tal representacáo é um modo de tratar com a grande variedade e o poderio da diversidade árabe euja fonte se nao é intelec tual e social entáo é sexual e biológica No entanto o tabu absoluta mente inviolável no discurso orientalista é que essa mesma sexualidade nunca deve ser levada a sério Ela nunca pode ser explicitamente acu sada pela ausencia de realizacóes e de sofisticacáo racional real que o orientalista descobre por toda a parte entre os árabes E no entanto este é acho o elo perdido de argumentos cujo objetivo principal é a crítica da sociedade árabe tradicional como os de Harnady Berger e Lerner Eles reconhecem o poder da familia observam as fraquezas da mente árabe notam a importancia do mundo oriental para o Oci dente mas nunca dizem o que está implícito no discurso deles que o que realmente resta para o árabe depois que tudo foi dito e feito é um impulso sexual indiferenciado Em raras ocasióes como na obra de Leon Mugniery encontramos o implícito esclarecido que há um poderoso apetite sexual l característico daqueles sulistas de sangue quente 140 Na maior parte das vezes contudo a dirninuicáo da socie dade árabe e a sua reducáo a trivialidades inconcebíveis para qualquer um que nao seja raeialmente inferior sao levadas a cabo com base em urna corrente subterránea de exagero sexual O árabe produz a si mes mo infinitamente sexualmente e pouca coisa mais O orientalista nao diz nada sobre isso embora o seu argumento dependa disso mas a cooperacáo no Oriente Próximo continua a ser amplamente urna ques tao de familia e é pouco encontrada fora do grupo de sangue ou da aldeia O que equivale a dizer que o único modo em que os árabes contam é como seres meramente biológicos institucional política e culturalmente eles sao nulos ou quase nulos Numericamente e como produtores de famílias eles sao reais o problema dessa visáo é que ela complica a passividade entre os árabes presumida por orientalistas como Patai e até mesmo Hamady e os outros Mas é exatamente da lógica dos mitos como dos sonhos receber bem as antíteses radicais Pois um mito nao analisa os pro blemas nem os resolve quer dizer ele os apresenta como imagens já montadas do mesmo modo que se monta um espantalho com trapos e paus velhos e depois fazse com que ele represente um homem Posto que a imagem usa qualquer material para os seus próprios fíns e visto que por definicáo o mito desloca a vida a antítese entre um árabe 316 ultrafértil e urna boneca passiva nao é funcional O discurso encobre a antítese Um oriental árabe é essa criatura ímpossível cuja energia libi dinalleva a paroxismo de superestirnulacáo e no entanto é um bo neco aos olhos do mundo olhando vazio para urna paisagem moderna que ele nao pode nem entender nem suportar É nas discussóes recentes sobre o eomportamento político orien tal que essa imagem do árabe parece ser relevante e é muitas vezes ocasionada pela discussáo erudita desses dais favoritos recentes da pe ríeia orientalista a revolucáo e a modernizacáo Sob os auspícios da Escola de Estudos Orientais e Africanos apareceu em 1972 um volume intitulado Revolution in the Middle East and other case studies Revo lucáo no Oriente Médio e outros estudos de caso editado por P J Vatikiotis O título é abertamente médico pois se espera que pensemos que fínalmente foi concedido aos orientalistas o beneficio daquilo que os orientalistas tradicionais costumavam evitar a atencáo psicoclí nica Vatikiotis dá o tom da coletánea com urna definicáo quase mé dica da revolucáo visto que aquilo que ele e seus leitores tém em mente é a revolucáo árabe a hostilidade da definicáo parece aceitável Há nisso urna ironia muito fina sobre a qual falarei mais tarde O apoio teórico de Vatikiotis é Camus cuja mentalidade coloníal nao era em nada simpática a revolucáo ou aos árabes como dernonstrou recente mente Connor Cruise OBrien mas a frase a revolucáo destrói os hornens e os princípios é aceita de Camus como urna frase que tero uro sentido fundamental Vatikiotis contínua l toda ideologia revolucionária está em conflito com na verdade é um ataque frontal contra a constituicác racional biológica e psicológica do homem Comprometida como está com urna metástase metódica a ideologia revolucionária exige fanatismo de seus adeptos A política para o revo lucionário nao é só urna questáo de crenca ou um substituto da crenca religiosa Ela tem de deixar de ser o que sempre foi ou seja urna ativi dade adaptativa no tempo para a sobrevivéncía A política metastática soteriológica abomina a adaptabilidade pois de que outra maneira po deria evitar as dificuldades ignorar e deixar de lado os obstáculos da complexa dimensáo biopsicológica do homem ou mesmerizar a sua sutil porém limitada e vulnerável racionalidade Ela tem medo e se esquiva da natureza concreta e discreta dos problemas humanos e das preocupacóes da vida política nutrese do abstrato e do prometéico Ela subordina todos os valores tangiveis a um único valor supremo o atrelamento do homem e da história a um grandioso designio de libertacáo humana Ela nao se satisfaz com a política humana que tem tantas limitacóes irri tantes quer em vez disso criar um novo mundo nao de modo adaptativo precário delicado isto é humano mas por um ato terrífico de olímpica 317 J criacáo pseudodivina A política a servico do homem é urna fórmula ina ceitáve1 para o ideólogo revolucionário Em vez disso o homem existe para servir urna ordem ideada politicamente e brutalmente decretadal O que quer que esse trecho diga além disso literatura marrom do tipo mais extremo fanatismo contrarevolucionário nao diz outra coisa senáo que a revolucáo é um mau tipo de sexualidade um ato pseudodivino de criacáo e também urna doenca cancerosa O que quer que seja feito pelo humano de acordo com Vatikiotis é ra cional certo sutil discreto concreto o que quer que proclame o revo lucionário é brutal irracional mesmérico canceroso A procriacáo a mudanca e a continuidade sao identificadas nao só com a sexualidade como também de um modo um tanto paradoxal com a abstracáo Os escritos de Vatikiotis sao emocionalmente carregados e colo ridos por apelos vindos da direita a humanidade e a decencia e por apelos contra a esquerda salvaguardando a humanidade contra a se xualidade o cáncer a loucura a violencia irracional e a revolucáo Posta que o que está em questáo é a revolucáo árabe devemos ler a passagem da seguinte maneira Isso é o que a revolucáo é e se os ára bes a querem tratase de um comentário bastante esclarecedor sobre eles sobre o tipo de raca inferior que eles sao Eles sao capazes apenas de incitacáo sexual e nao de raciocínio olímpico ocidental moderno A ironia de que falei antes vem agora a baila pois algumas páginas depois descobrimos que os árabes sao tao ineptos que nao podem se quer aspirar e muito menos consumar as ambicóes de revolucáo Por implicacáo a sexualidade árabe nao precisa ser temida por si mesma mas pelo seu fracasso Em resumo Vatikiotis pede ao seu leitor que acredite que a revolucáo no Oriente Médio é urna ameaca precisamente porque nao pode ser alcancada A maior fonte de conflito político e de revolucáo em potencial em muitos países do Oriente Médio bem como na África e na Ásia de hoje é a incapacidade dos regimes e movimentos ditos nacionalistas radicais em administrar para nao dizer resolver os problemas sociais económicos e políticos da independencia Enquanto os estados do Oriente Médio nao puderem controlar a sua atividade económica e criar ou produzir a sua própria tecnologia o acesso deles a experiencia revolucionária será limitado As próprias categorias políticas essenciais para urna revolucáo estaráo em falta 143 Se correr o bicho pega se ficar o bicho come Nessa série de deíinicóes dissolventes as revolucóes surgem como ficcóes de mentes sexualmente perturbadas que analisadas mais de perto revelamse incapazes até mesmo da loucura que Vatikiotis respeita aquela que é humana e nao árabe concreta e nao abstrata e assexual nao sexual 318 O centro erudito da coletánea de Vatikiotis é o ensaio Conceitos islámicos de revolucáo de Bernard Lewis Nele a estratégia é requin tada Muitos leitores devem saber que para aqueles que falam árabe hoje em dia a palavra thawra e suas cognatas imediatas querem dizer revolucáo ficaráo sabendo disso também pela íntroducáo de Vati kiotis Mas Lewis só descreve o significado da palavra bem perta do final do artigo após ter discutido conceitos como dawlafitna ebughat em seus contextos históricos e principalmente religiosos A questáo aqui é basicamente que a doutrina ocidental do direito de resistir a um mau governo é estranha ao pensamento islámico o que leva ao derrotismo e ao quietismo como doutrinas políticas Nao se sabe com seguranca em nenhum momento do ensaio onde é que todas es sas coisas estáo supostamente acontecendo a menos que seja em algum lugar da história das palavras Entáo perto do final do ensaio ternos isto Nos países de língua árabe foi usada urna palavra diferente para thawra revolucác A raizthwr ern árabe clássico queria dizer erguerse por exemplo o camelo ser agitado ou excitado e portanto especialmente no uso magrebi rebelarse É muitas vezes usada no sentido de estabele cer uma soberania pequena e independente assim por exemplo os cha mados reis partidários que govemaram a Espanha do século XI após o desmoronamento do califado de Córdoba sao chamados de thuwwur sin gular tha ir O substantivo thawra significa antes de mais nada excita cáo como na frase citada no Sihab um dicionáriopadráo de árabe me dieval íntazír hatta taskun hadhihi hhowra espere até que a excitacao tenha diminuído urna recomendacáo muito apropriada O verbo é usado por alIji na forma de thawaran ou ithorat fitno agitando a se dicáo como um dos perigos que deveriam desencorajar aqueles que qui sessem praticar o dever da resistencia contra um rnau governo Thuwra é o termo usado por escritores árabes do século XIX para a Revolucáo Francesa e pelos seus sucessores para as revolucóes aprovadas internas ou estrangeiras do nosso tempot Todo o trecho é repleto de condescendencia e máfé Por que introduzir a idéia de um camelo erguendose como urna raiz etimológica para a revolucáo árabe moderna a nao ser como um modo astuto de desacre ditar o moderno Claramente a razáo de Lewis é diminuir a revolucáo da sua avaliacáo contemporánea para algo que nao é mais nobre ou belo que um camelo que está para erguerse do chao A revolucáo é excitacáo sedicáo estabelecimento de urna soberania menor nada mais o melhor conselho que presumivelmente apenas um estudioso e cavalheiro ocidental pode dar é espere até que a excitacáo tenha di mínuído Com base nessa descricáo pejorativa de thawra nao se po 319 I deria saber que inúmeras pessoas térn com ela um profundo compro metimento de maneiras complexas demais para que a sarcástica eru dicáo de Lewis possa entender Mas é esse tipo de descricáo essencia lizada que é natural para os estudantes e planejadores que se ocupam do Oriente Médio as agitacóes revolucionárias entre os árabes tém mais ou menos a mesma conseqüéncia que um camelo levantandose e sao tao dignas de atencáo quanto os balbucios de um caipira Toda a literatura orientalista canónica pela mesma razáo ideológica será in capaz de explicarnos ou prepararnos para confirmar o levante revolu cionário no mundo árabe do século XX A associacáo feita por Lewis de thawra com um camelo erguendo se e em geral com a excitacáo e nao com urna luta em nome de valores sugere muito mais fortemente do que costuma ser normal para ele que o árabe é pouca coisa mais que um ser sexual neurótico Cada urna das palavras ou frases que ele usa é marcada pela sexualidade agitado excitado erguendose Na maior parte das vezes porém a sexualidade que ele atribui aos árabes é ruim No fim visto que os árabes nao estáo realmente equipados para urna acáo séria a excitacáo sexual deles nao é mais nobre que um camelo erguendose Em vez de revolucáo há sedicáo estabelecimento de urna soberania menor e muita excitacáo o que equivale a dizer que em vez da cópula o árabe só consegue chegar aos jogos introdutórios a masturbacáo ao coitus in terruptus Estas acredito sao as irnplicacóes de Lewís por mais ino cente que seja o seu ar de erudicáo ou por mais que ele exiba urna lin guagem de saláo Pois visto que ele é tao sensível aos matizes das pa lavras deve saber que as palavras dele também tém matizes Lewis é um caso interessante para se examinar com mais vagar porque a sua posicáo no mundo político do establishment angloame ricano do Oriente Médio é a de um orientalista culto e tuda o que ele escreve está impregnado da autoridade do campo No entanto du rante quase urna década e meia o trabalho dele em geral foi agressi vamente ideológico apesar das suas várias tentativas de sutileza e iro nia Estou mencionando os seus escritos recentes como um exemplo perfeito do académico cuja obra pretende ser erudicáo liberal objetiva mas na realidade está bem perta de ser urna propaganda contra o seu material de estudo Mas isso nao deveria ser surpreendente para qual quer pessoa familiarizada com a história do orientalismo é apenas o mais recente e no Ocidente o menos criticado dos escándalos da erudicáo Lewis dedicouse de tal modo ao seu projeto de desmascarar di minuir e desacreditar os árabes e o isla que até mesmo as suas energias como estudioso e historiador parecem ter lhe faltado Por exemplo ele 320 publicou um capítulo chamada A revolta do isla em um livro em 1964 e depois republicou grande parte do mesmo material doze anos mais tarde levemente modificado para adequarse ii publicacáo neste caso a revista Commentary e com urn novo título O retorno do isla De Revolta a Retorno há é claro urna mudanca para pior ope rada por Lewis para explicar ao seu público rnais recente por que mo tivo após todos esses anos os muculmanos ou árabes ainda nao se acalmaram e aceitaram a hegemonia israelense sobre o Oriente Pró ximo Examinemos de mais perta como ele faz isso Nos dais textos ele menciona um tumulto antiirnperialista no Cairo em 1945 descrito por ele nos dais casos como antijudeus de fato como prava material do antijudaísmo ele apresenta a inforrnacáo um tanto surpreendente de que várias igrejas católicas armenias e gregas ortodoxas foram ata cadas e danificadas Considerese a primeira versáo feita em 1964 Ern 2 de novernbro de 1945 os líderes políticos do Egito fizeram urn apelo por manifestacóes sobre o aniversário da Declaracáo Balfour Estas desenvolveramse rapidamente em tumultos antijudeus durante os quais urna igreja católica urna armenia e urna grega ortodoxa foram atacadas e danificadas O que podese perguntar os católicos armenios e gregos ortodoxos tinham a ver corn a Declaracao BaIfour 145 E agora a versáo da Commentary feita em 1976 Assim como o movimento nacionalista tornouse genuinamente popular tornouse também menos nacional e mais religioso ou seja menos árabe e mais islámico Nos momentos de crise e foram muitos nas úl timas décadas é a lealdade comunitária instintiva que prevalece sobre todas as demais Uns poucos exemplos bastam No dia 2 de novembro de 1945 foram feitas manifestacóes no Egito notese aqui como a frase manifestacóes foram feitas é urna tentativa de demonstrar lealdades instintivas na versáo anterior os líderes políticos eram responsáveis pelo feito no aniversário da publicacáo pelo Governo británico da De claracáo Balfour Embora esta com certeza nao fosse a intencáo dos lío deres políticos que a patrocinaram a manifestacáo logo transformouse em um tumulto antijudeu e este em urna explosáo generalizada durante a qual diversas igrejas católicas armenias e gregas ortodoxas outra mu danca instrutiva a impressáo aqui é que muitas igrejas dos tres tipos foram atacadas a versáo anterior é específica sobre tres igrejas foram atacadas e danificadas A intencáo polémica e nao erudita de Lewis é mostrar neste caso e em outros que o isla é urna ideologia antisemita nao urna mera religiáo Ele tem urna certa dificuldade teórica ao tentar afirmar que o isla é um temível fenómeno de massas e ao mesmo tempo nao é ge 321 nuinamente popular mas esse problema nao o detém por muito tem po Como demonstra a segunda versáo da sua tendenciosa anedota ele segue proclamando que o isla é urna horda irracional ou um fenómeno de massas que governa os mueulmanos por rocío de paíxóes instintos e ódios irrefletidos A intencáo da sua exposicáo resumese a assustar seu público fazer com que este nunca ceda sequer um dedo ao isla Segundo Lewis o isla nao se desenvolve nem os muculmanos eles apenas sao e devem ser vigiados devido apura esséncia deles de acor do coro Lewis que por acaso incluí uro antigo ódio aos cristáos e aos judeus Em todos os momentos Lewis obrigase a nao fazer decla racóes inflamatórias como estas explicitamente ele sempre tero o cui dado de dizer que evidentemente os muculmanos nao sao antisemitas do mesrno modo que os nazistas mas que a religiáo deles acomodaos coro demasiada facilidade ao antisemitismo e que já o fez O mesmo acontece coro relacáo ao isla e ao racismo a escravidáo e outros males mais ou menos ocidentais O núcleo da ideología de Lewis sobre o isla é que este nunca muda e no momento a sua missáo se resume a informar os segmentos conservadores do público leitor judeu e qual quer uro que queira escutar de que qualquer explicacáo política his tórica e erudita dos muculrnanos deve comecar e acabar corn o fato de que os muculmanos sao muculmanos Pois admitir que toda uma civilizacáo possa ter a religiáo como a sua lealdade primária é demais Até mesmo sugerir tal coisa é considerado ofensivo pela opiniáo liberal sempre pronta a assumir um ressentimento protetor em nome daqueles que considera como seus tutelados Isso se reflete na atual incapacidade política jornalística e erudita de reconhe cer a importancia do fator religiác nas atividades correntes do mundo muculmano e no conseqüente recurso alinguagem de esquerdae direita progressista e conservador e ao resto da terminologia ocidental cujo uso para explicar os fenómenos políticos muculmanos tem mais ou menos a mesma precisáo e é tao esclarecedor quanto uma narrativa de urna par tida de críquete por um locutor de beisebol Lewis gosta tanto dessa imagem que a citou verbatim da sua polémica de 1964 147 Em um trabalho posterior Lewis nos diz que terminologia é mais exata e útil embora esta nao pareca ser menos ocidental o que quer que ocidental signifique os muculrnanos como qualquer outro pavo que deixou de ser colonial sao incapazes de dizer a verdade ou sequer de vela Segundo Lewis eles sao viciados em mitologia assim como a escola dita revisionista dos Estados Unidos que se volta para urna idade de ouro da virtude americana e atribuem virtualmente to dos os pecados e crimes do mundo apresente situacáo no país deles 148 322 Além de ser urna descricño maliciosa e totalmente imprecisa da história revisionista esse tipo de observacáo tem a intencáo de colocar Lewis como um grande historiador acima do tacanho subdesenvolvimento de meros revisionistas Contudo quanto a precisáo e quanto ao cumprimento da sua própria regra segundo a qual o estudioso porém nao deve ceder aos seus preconceitos 149 Lewis é cavalheiro consigo mesmo e com a sua causa Por exemplo ele recita o caso dos árabes contra o sionismo usando a linguagem linterna do nacionalista árabe sem ao mesmo tempo mencionar em qualquer lugar em qualquer dos seus escritos que houve urna coisa chamada invasáo e colonizacáo sionista da Pa lestina apesar dos habitantes árabes nativos e em conflito com eles Nenhum israelense negaria isso mas Lewís o historiador orientalista simplesmente nao fala no assunto Fala da ausencia de democracia no Oriente Médio exceto em Israel sem mencionar urna única vez os Re gulamentos de Defesa de Emergencia usados em Israel para governar os árabes nem tem nada a dizer sobre a detencáo preventiva de árabes em Israel nem sobre as dezenas de colonias ilegais na margem ocidental de Gaza ocupada militarmente nem sobre a ausencia de direitos humanos para os árabes entre eles o importante direito de imígracáo na antiga Palestina Em vez disso Lewis permitese a liber dade académica de dizer que o imperialismo e o sionismo no que diz respeito aos árabes eram conhecidos há muito tempo sob os seus no mes antigos como os cristáos e os judeuslP Ele cita T E Lawrence sobre os semitas para apoiar o seu caso contra o isla nunca discute o sionismo paralelamente com o isla como se o sionismo fosse um movi mento francés e nao religioso e tenta em todas as ocasióes demons trar que qualquer revolucáo em qualquer lugar é na melhor das hipó teses urna forma de milenarismo secular Poderíamos considerar esse tipo de procedimento menos repro vável como propaganda politica que é o que ele de fato é evidente mente se nao fosse acompanhado por sermóes sobre a objetividade a justíca e a imparcialidade de um verdadeiro historiador implicando sempre que os muculmanos e os árabes nao podem ser objetivos mas que os orientalistas como Lewis que escrevem sobre eles o sao por definicáo por forrnacáo e pelo mero fato da sua ocidentalidade Essa é a culrninacáo do orientalismo como dogma que nao só degrada o seu próprio tema de estudos como também cega aqueles que o praticam Mas para terminar cucamos Lewis dizendonos como deveria con duzirse o historiador Podemos muito bem perguntar se apenas os orientais estáo sujeitos aos preconceitos que ele fustiga 323 As lealdades do historiador podem muito bem influenciar a sua escolha do tema de pesquisa nao devem influenciar o seu tratamento do mesmo Se por acaso no decorrer da sua pesquisa ele descobre que o grupo com o qual ele se identifica está sempre certo e os demais grupos coro os quais ele está em conflito estáo sempre errados entáo seria boro que ele questionasse as suas concluszes e reexaminasse as hipóteses com base nas quais ele selecionou e interpretou as suas evidencias pois nao é da natureza das comunidades humanas entre as quais também está presu mivelmente a comunidade dos orientalistas estarem sempre certas Finalmente o historiador deve ser justo e honesto no modo de apre sentar a sua história Isso nao quer dizer que ele deve limitarse arecita cao nua de fatos definitivamente estabelecidos Em muitas etapas do seu trabalho o historiador deve formular hipóteses e fazer julgamentos O importante é que ele faca ísso consciente e explicitamente revendo as evidencias a favor e contra as suas conclusóes e declarando explicita mente qual é a sua decísác e como e por que chegou a ela 151 Procurar por um julgamento consciente justo e explícito da parte de Lewis a respeito do isla que ele tratou como tratou é procurar em vao Ele prefere trabalhar como vimos mediante sugestóes e insinuacóes Podese desconfiar contudo que ele faz isso sem saber a nao ser talvez com relacáo a questóes políticas como o prósionisrno o na cionalismo antiárabe e a defesa estridente da Guerra Fria pois com certeza ele diria que a totalidade da história do orientalismo da qua ele é beneficiário transformou essas insinuacóes e hipóteses em ver dades indiscutíveis Talvez a mais indiscutível dessas verdades fináis e a mais pe culiar posto que é difícil acreditar que ela possa ser dita de qualquer outra língua seja que oárabe como língua é urna perigosa ideologia O locus classicus contemporáneo para essa visáo do árabe é o ensaio de E ShoubyA influencia da lingua árabe sobre a psicologia dos ára bes152 O autor é descrito como um psicólogo com Iorrnacáo em psi cologia tanto clínica como social e presumese que a principal razáo para a ampla aceitacáo das suas opinióes é que ele é árabe autoincri minador quanto a isso O argumento que ele propóe é lamentavel mente simplista talvez porque ele nao tenha nenhuma nocao do que a linguagem é e de como ela opera Apesar disso os subtítulos do ensaio contam urna boa parte da história o árabe é caracterizado como urna Imprecisáo geral de pensamento Sobreénfase dos sinais lingüís ticos e Sobreafirrnacáo e exageracáo Shouby é freqüentemente ci tado como autoridade porque fala como se fosse e porque o que ele hipostasia é urna espécie de árabe mudo que é ao mesmo tempo um grande mestre das palavras que se dedica a jogos sem muita seriedade ou propósito A mudez é urna parte importante daquilo sobre o que 324 Shouby está falando posto que em todo o seu ensaio ele nao cita urna única vez a literatura da qual o árabe é tao imoderadamente orgulhoso Quando entáo a língua árabe influencia a mente árabe Unicamente no mundo mitológico criado para o árabe pelo orientalista O árabe é um sinal de obtusidade combinada com urna desesperada superarticu lacáo pobreza combinada com excesso Que esse resultado possa ser alcancado por molos filológicos demonstra o triste fim que teve urna tradicáo filológica que já foi complexa cujos traeos só podem ser en contrados hoje em raros individuos A confianca do orientalista de hoje na filologia é a última fraqueza de urna disciplina erudita trans formada em perícia ideológica das ciencias sociais Em tudo o que estive discutindo a linguagem do orientalismo tem o papel dominante Essa linguagem junta opostos naturalmente apresenta tipos humanos com expressóes e metodologias eruditas atri bui realidade e referencia a objetos outras palavras feitos por ela mesma A linguagem mítica é um discurso ou seja nao pode ser senáo sistemática o discurso nao é feito quando se quer nem sao feitas de claracóes no seu interior sem que antes se pertenca em alguns casos inconscientemente mas de qualquer modo involuntariamente a ideologia e as instituicóes que garantem a sua existencia Estas últimas sao sempre instituicóesde urna sociedade avancada que lida com outra menos avancada de uma cultura forte que encontra urna mais fraca A característica principal do discurso mítico é que ele oculta as próprias origens bem como as daquilo que descreve Os árabes sao apresen tados como a imagística de tipos estáticos quase ideais nem como cria turas em processo de serem realizadas nem como história senda feita O valor exagerado que se dá ao árabe como língua permite que o orien talista a transforme no equivalente da mente da sociedade da história e da natureza Para o orientalista a línguafala o oriental árabe e nao ao contrário 4 Orientais orientais orientais O sistema de ficcóes ideológicas que venho chamando de orientalismo tem sérias implicacóes nao só por ser intelectualmente desabonador Pois os Estados Unidos hoje estáo pesadamente envolvidos no Oriente Médio rnais que em qualquer outro lugar da terra os peritos em Oriente Médio que aconselham os planejadores estáo imbuidos de orientalismo até quase o último deles A rnaior parte desse envolvimento de maneira bastante apropriada está apoiada na areia pois os peritos determinam as políticas com base em abstracóes boas de venda como elites políticas modernizacáo e estabilidade a maior parte das quais sao simples mente os velhos este reótipos orientalistas disfarcados de jargáo de planejamento além de serem completamente inadequadas para descrever o que aconteceu re 325 centementeno Líbano ou antes dissona resistenciapopularpalestina a Israel O orientalista tenta agora ver o Oriente como uro Ocídente de imitacáo que segundo Bernard Lewis só pode melhorar quando o seu nacionalismo estiver disposto a chegar a uro acordo coro o Oci dente153 Se enquanto isso os árabes os muculmanos e o Terceiroe o Quarto Mundos forero por caminhos inesperados mesmo assim nao nos surpreenderemos se uroorientalistanos disserque isso demonstraa incorrigibilidade dos orientais e preva portanto que nao se deve con fiarneles Nao se pode dar razáo dos fracassos metodológicos do orienta lismo dizendo que o Oriente real é diferente dos retratos que dele fazem os orientalistas ou dizendo que posto que a maioria dos orientalistas é composta de ocidentais nao se pode esperar que eles tenham uro sen tido interior daquilo que o Oriente realmente é Ambas as proposicées sao falsas Nao é a tese deste livro sugerir que existe algo como uro Oriente real ou verdadeiro isla árabe ou seja lá o que for nem é fazer urna afirmacáo do necessário privilégio de urna perspectiva interna sobre urna externa para usar a útil distincáo de Robert K Mer ton154 Ao contrário venhoargumentando que o Orienteé em si urna entidade constituida e que a nocáo de que há espacos geográficos com habitantes indígenas radicalmente diferentes que podem ser defini dos com base em urna religiáo culturaou esséncia racialprópriasdesse espaco geográfico é igualmente urna idéia altamente discutível Eu cer tamente nao acredito na limitada segundo a qual apenas um negropode escreversobre negros um muculmano sobre muculma nos e assim por diante E no entanto apesar dos seus fracassos da sua lamentável lin guagem especializada do seu mal ocultado racismo e da fragilidade do seu aparato intelectual o orientalismo floresce hoje nas formas que tentei descrever De fato há urna razáo para alarme no fato de a sua influencia ter se estendido ao próprio Oriente as páginas dos lívros e jornais em língua árabe e sem dúvída ern japones em diversos dialetos indianos e em outras línguas orientais estáo cheias de análíses de se gunda categoria feitas por árabes sobre a mente árabe o isla e outros mitos O orientalismo expandiuse também pelos Estados Uní dos agora que o dinheiro e os recursos árabes conferiram um consi derável glamour atradicional preocupacáo sentida pelo estrategica mente importante Oriente O fato é que o orientalismo acomodouse com éxito ao novo imperialismo no qual os seus paradigmas dirigentes nao contestam e até mesmo confirmam o continuado projeto imperial de dominar a Ásia Naquela parte do Oriente sobre a qual posso falar com algum 326 conhecimento direto a acornodacáo entre a classe intelectual e o novo imperialismo pode muito bem ser considerada como um dos triunfos especiais do orientalismo O mundo árabe é hoje um satélite íntelec tual político e cultural dos Estados Unidos Isto em si nao é algo a ser lamentado a formaespecífica dessa relacáo de satélite no entanto o é Considerese primeiramenteque as universidades do mundo árabe sao geralmente administradas de acordocom um padráo herdado de urna expotencia colonial ou no passado ímposto por ela diretamente No vas circunstancias tornam a realidade curricular quase grotesca salas apinhadas com centenas de estudantes corpo docente mal treinado sobrecarregado de trabalhoe mal pago nomeacóes políticas ausencia quase total de pesquisa avancada e de facilidades de pesquisa e mais importante falta de urna única biblioteca decente em toda a regiáo Assim como a Inglaterra e a Franca dominaram no passado os hori zontes intelectuais no Oriente em virtude da sua proeminéncia e ri queza hoje sao os Estados Unidos que ocupamesse lugar com o resul tado de que os poucos estudantes promissores que conseguem passar pelo sistema sao encorajados a virem para os Estados Unidos para prosseguirem os seus trabalhos avancados E ao mesmo tempo que é verdadeque alguns estudantes do mundo árabe continuam a ir para a Europa para estudar a grande maioria deles vem para os Estados Uni dos isso vale tanto paraos estudantes dos estados ditos radicais quanto paraaqueles que vérn de estados conservadores como a Arábia Saudita e o Kuwait Além disso o sistema de patrocínio nos estudos nos negó cios e na pesquisa transforma os Estados Unidos no virtual coman dante hegemónico das atividades considerase que a fonte por menos que seja urna fonte real sao os Estados Unidos Dois fatores fazem da situacáo um triunfo ainda mais óbvio do orientalismo Na medida em que se possa fazer urna generalizacáo abrangente as tendencias sentidas dacultura contemporánea no Orien te Próximo guiamse por modelos europeus e americanos Quando Taha Hussein disse em 1936 que a cultura árabe moderna era euro péia e nao oriental ele estava registrando a identidade da elite cultural egipcia da qual ele era um membro tao distinto O mesmo vale para a elite cultural árabe de hoje embora a poderosa corrente de idéias anti imperialistas terceiromundistas que se apoderou da regiáo desde os anos SO tenha temperado o fio ocidental da cultura dominante Além disso o mundo árabee islámico aindaé urna potencia de segunda cate goriaem termosde producáo cultural conhecimento e erudicáo Nesse ponto ternos de ser completamente realistas sobre o uso da termino logia da política de poder para descrever a situacáo resultante Nenhum estudioso árabeou islámico se pode darao luxo de ignoraro que acorre 327 I nos periódicos eruditos institutos e universidades americanos e euro peus o contrário nao é verdade Por exemplo nao há nenhum perió dico importante de estudos árabes publicado hoje em dia no mundo árabe assim como nao há nenhuma instituicáo educacional árabe ca paz de desafiar lugares como Oxford Harvard ou a Universidade da Califórnia em Los Angeles no estudo do mundo árabe e muito menos em qualquer outro tema naooriental O resultado previsivel disso tudo é que os estudantes orientais e os professores ainda querem vir e sen tarse ao pé dos orientalistas americanos e mais tarde repetir para as suas audiencias locais os chavóes que eu venho caracterizando como dogmas orientalistas Esse sistema de reproducáo torna inevitável que o estudioso oriental use a sua forrnacáo americana para sentirse superior ao seu próprio povo pois ele é capaz de controlar o sistema orienta lista em suas relacóes com seus superiores os orientalistas europeus ou americanos ele continuará senda apenas um informante nativo E coro efeito este é o seu papel no Ocidente se ele tiver suficiente sorte para ficar lá após o seu treinamento avancado A maior parte dos cur sos elementares de línguas orientais sao ensinados por informantes nativos nas universidades americanas de hoje do mesmo modo o poder no sistema nas universidades íundacóes etc é controlado quase exclusivamente por náoorientais embora a proporcáo numérica de profissionais residentes orientais para náoorientais nao íavoreca estes últimos tao esmagadoramente Há todo tipo de outras indicacóes de como é mantida a domina cáo cultural tanto por consentimento oriental quanto por pressóes eco nómicas diretas e grosseiras por parte dos Estados Unidos Faznos mais moderados descobrir por exemplo que ao passo que existem dúzias de organizacóes nos Estados Unidos para estudar o árabe e o Oriente islámico nao existe nenhuma no próprio Oriente para estudar os Estados Unidos de longe a maior influencia económica e política na regiáo Piar mal existem quaisquer instituicóes até mesmo de estatura modesta no Oriente devotadas ao estudo do Oriente Mas tudo isso eu acho é pouco comparado coro o segundo fator que contribui para o triunfo do orientalismo o consumismo no Oriente O mundo árabe e islámico como um todo foi fisgado pelo sistema de mercado ocidental Nao é preciso lembrar a ninguém que o petróleo a maior fonte de re cursos da regiáo foi totalmente absorvido pela economia dos Estados Unidos Com isso eu quero dizer nao só que as grandes companhias petrolíferas sao controladas pelo sistema económico americano quero dizer também que as rendas do petróleo árabe para nao falar da dis tribuicáo das pesquisas e da adrninistracáo industrial estáo baseadas nos Estados Unidos Isso fez efetivamente dos países árabes ricos em 328 b petróleo enormes consumidores das exportacóes americanas isso vale tanto para os estados do golfo Pérsico quanto para a Libia o fraque e a Argélia todos estados radicais O que eu quero dizer é que a relacáo é unilateral com os Estados Unidos como um consumidor sele tivo de muito poucos produtos petróleo e máodeohra barata princi palmente e os árabes como consumidores altamente diversificados de urnavasta gama de produtos americanos materiais e ideológicos Isso teve várias conseqüéncías Há urna vasta padronizacáo do gosto na regiáo simbolizada nao só por aparelhos transistorizados blue jeans e CocaCola mas também pelas imagens do Oriente forne cidas pelos meios de comunicacáo de massa americanos e consumidas sem pensar pela massa de telespectadores O paradoxo de um árabe vendo a si mesmo como uro árabe do tipo produzido por Hollywood é apenas o mais simples resultado daquilo a que estou me referindo Outro resultado é que a economia de mercado ocidental e a sua orien tacáo do consumidor produziram e continuam produzindo a um ritmo crescente urna classe de pessoas educadas cuja forrnacao intelectual é dirigida para a satísfacáo de necessidades de mercado É dada urna pesada énfase a engenharia a adrninistracáo e él economia obvia mente mas a própria intelligentsia é um acessório ao que ela mesma considera como as principais correntes liquidadas no Ocidente O seu papel foi prescrito e preparado para ela como modernizador o que significa que legitima e confere autoridade a idéias sobre a moderniza cáo o progresso e a cultura que sao na maior parte provenientes dos Estados Unidos Encontrase urna impressionante evidencia disso nas ciencias sociais e de modo bastante surpreendente entre intelectuais radicais cujo marxismo é extraído por atacado da visáo homogeneíza dora do próprio Marx sobre o Terceiro Mundo tal como discuti antes neste livro De modo que se afinal de contas há urna aquiescencia intelectual nas imagens e doutrinas do orientalismo há também um poderoso reforce disso no intercambio económico político e social o Oriente moderno em resumo participa da sua própria orientali zaYao Mas para concluir que tal urna alternativa ao orientalismo Será este livro apenas um argumento contra algo e nao a favor de al guma coisa positiva Aqui e ali no decorrerdo livro eu falei sobre des colonizar novos cornecos nos chamados estudos de área o trabalho de Anwar Abdel Malek os estudos publicados pelo grupo Hull de es tudos do Oriente Médio as inovadoras análises e propostas de vários estudiosos da Europa dos Estados Unidos e do Oriente Próximo mas nao tentei fazer nada além de mencionáIos ou fazer urna rápida alusáo a eles O meu projeto foi descrever um sistema particular de 329 idéias e nao de modo algum substituir o sistema por um novo Além disso tentei levantar toda urna série de questóes relevantes para a dis cussáo dos problemas da experiencia humana como representar outra cultura O que é outra cultura Será que a nocáo de urna cultura ou raca ou religiáo ou civilizacáo distinta é útil ou será que ela sempre se envolve em autocongratulacáo quando discutimos a nossa própria ou em hostilidade e agressáo quando se discute a outra As dile rencas culturais religiosas e raciais sao mais importantes que as cate gorias sócioeconórnicas ou que as políticohistóricas Como é que as idéias adquirem autoridade normalidade e até mesmo a condicáo de verdades naturais Qual é o papel do intelectual Seria validar a cultura e o estado de que faz parte Que importancia ele deve dar a urna consciencia crítica independente urna consciencia crítica de oposiciioi Espero que algumas das minhas respostas a essas questóes te nham estado implícitas acima mas talvez eu possa falar de modo um pouco mais explícito sobre algumas delas aqui Tal como o caracterizei neste estudo o orientalismo póe em causa nao só a possibilidade da erudicáo apolítica mas também a conveniencia de urna relacáo íntima demais entre o estudioso e o estado Acho que é igualmente aparente que as circunstancias que fazem do orientalismo um tipo de pensa mento continuadamente persuasivo continuaráo existindo no conjunto urna questáo um tanto deprimente Mesmo assim tenho algumas expec tativas racionais de que o orientalismo nao precisa ser sempre tao in conteste intelectual ideológica e politicamente como tem sido Eu nao teria comecado um livro deste tipo se também nao achas se que há urna erudicáo que nao é tao corrupta ou pelo menos tao cega arealidade humana quanto o tipo que estive descrevendo Há hoje mui tos estudiosos que trabalham em campos como história religiáo civi lizacáo sociologia e antropologia islámicas cuja producáo é profunda mente valiosa como erudícáo O problema corneca quando a tradicáo corporativa do orientalismo toma conta do estudioso que nao está vigi lante cuja consciencia individual como estudioso nao está em guarda contra as idées recues transmitidas com demasiada facilidade na pro fissáo Desse modo é mais provável que trabalhos interessantes sejam produzidos por estudiosos cuja lealdade é para com urna disciplina definida intelectualmente e nao para com um campo como o orien talismo que é definido canónica imperial ou geograficamente Um excelente exemplo recente é a antropologia de Clifford Geertz cujo interesse pelo Isla é reservado e concreto o bastante para ser animado pelas sociedades e problemas especificos que ele estuda e nao pelos ri tuais pelos preconceitos e pelas doutrinas do orientalismo 330 Por outro lado estudiosos e críticos cuja forrnacáo é pelas disci plinas tradicionais do orientalismo sao perfeitamente capazes de se li bertarem da velha camisadeforra ideológica A Iormacáo de Jacques Berque e de Maxime Rodinson é do mais alto nivel mas o que dá vigor as suas investigacóes mesmo de problemas tradicionais é a autocons ciencia metodológica deles Poís se o orientalismo tem sido historica mente demasiado presuncoso demasiado isolado e demasiado con fiante em termos positivistas em seus modos e premissas urna maneira de nos abrirmos para o que estudamos do Oriente e sobre ele é subme termos reflexivamente nosso método ao exame crítico Isso é o que ca racteriza Berque e Rodinson cada um a seu modo O que encontramos no trabalho deles é sempre primeiramente urna sensibilidade direta para com o material que está diante deles e depois um contínuo auto exame da metodologia e da prática urna constante tentativa de manter o trabalho sensível ao material e nao a um preconceito doutrinal Com certeza Berque e Rodinson bem como Abdel Malek e Roger Owen sabem também que o estudo do homem e da sociedade oriental ou nao é melhor conduzido no campo mais amplo de todas as ciencias humanas eles sao portanto leitores críticos e estudantes do que acon tece em outros campos A atencáo dada por Berque as recentes deseo bertas da antropologia estrutural por Rodinson asociologia e a teoria política e por Owen a história económica todos estes sao corretivos instrutivos aportados pelas ciencias humanas contemporáneas ao es tudo dos chamados problemas orientais O meu próprio sentido do problema é bastante bem demonstrado pelas questóes que coloquei acima O pensamento e a experiencia mo dernos nos ensinaram a ser sensíveis ao que está implicado na repre sentacáo no estudo do Outro na insensata e acrítica aceitacáo da auto ridade e das idéias que carregam autoridade no papel sóciopolítico dos intelectuais no grande valor de urnaconsciencia cética crítica Tal vez se lembrarmos que o estudo da experiencia humana tem urna con seqüéncia ética para nao dizer política no pior ou no melhor sentido nao ficaremos indiferentes ao que fazemos como estudiosos E que me Ihor norma pode haver para o estudioso que a liberdade e o conheci mento humanos Talvez devéssemos lembrar também que o estudo do hornem na sociedade está baseado na história e na experiencia huma nas concretas e nao em abstracóes solenes ou em leis obscuras ou sis temas arbitrários O problema entáo é fazer com que o estudo se ajuste ae de certo modo seja moldado pela experiencia que seria ilu minada e talvez mudada pelo estudo A qualquer custo a meta de orientalizar continuamente o Oriente deve ser evitada corn conseqüén cias que nao podem senáo refinar o conhecirnento e reduzir a presun 331 cáo do estudioso Sem o Oriente haveria estudiosos críticos inte lectuais e seres humanos para os quais as distincóes raciais étnicas e nacionais seriam menos importantes que o empreendimento comum de promover a comunidade humana Acredito positivamente e em outros trabalhos meus tentei mos trar que está sendo feito o bastante hoje em dia nas ciencias huma nas para fornecer ao estudioso contemporáneo visóes métodos e idéias que possam dispensar os estereótipos raciais ideológicos e imperialis tas do tipo fornecido pelo orientalismo durante a sua ascendencia his tórica Considero que o fracasso do orientalismo foi tanto humano como intelectual pois ao ter de assumir urna posicáo de irredutível oposicáo a urna regiáo do mundo que ele considerava como estranha el sua própria o orientalismo nao foi capaz de identificarse com a expe riencia humana nem foi capaz de vela como experiencia humana A hegemonía mundial do orientalismo e de tudo o que este representa pode agora ser desafiada se pudermos beneficiarnos adequadamente da ascensáo geral de tantos povos da terra verificada no século XX el consciencia política e histórica Se este livro tiver qualquer uso no futuro será na qualidade de urna modesta contribuicáo para esse de safio e de aviso que sistemas de pensamento como o orientalismo discursos de poder ficcóesideológicas algemas forjadas pelamente sao feítos aplicados e guardados com demasiada facilidade Acima de tuda espero ter mostrado ao meu leitor que a resposta ao orientalismo nao é o ocidentalismo Nenhum exoriental se sentirá confortado pela idéia de por ter sido um oriental estar propenso demais a estudar novos orientais ou ocidentais de sua própria confec cáo Se o conhecimento do orientalismo tem qualquer sentido é como um lembrete da sedutora degradacáo do conhecimento qualquer co nhecimento em qualquer lugar a qualquer momento Hoje em dia talvez mais que antes 332 NOTAS lNTRODUAO pp 1339 1 Thierry Desjardins Le martyre du Liban Paris Plon 1976 p 14 2 K M Panikkar Asia and Western daminance Londres George Allen Unwín 1959 3 Denys Hay Europe the ofan idea ed Edinburgh Edínburgh University Press 1968 Steven Marcus The other Yictorians a study of sexuality andpornography In midnineteenth century England 1966 reimp Nova York Bantam Books 1967 pp 20019 5 Ver o meu Critícism between culture and system Cambridge Massachusetts Harvard University Press a ser publicado 6 Principalmente no seu American power and the new mandarins ñístorical and political essays Nova York Pantheon Books 1969 e For reasons of state Nova York Pantheon Books1973 7 Walter Benjamín Charles Baudelaire a lyric poet in the era of high capi talism trad Harry Zohn Londres New Left Books 1973 p 71 8 Harry Bracken Essence accídent and race em Hermothena 116 inverno de 1973 8199 9 Em urna entrevista publicada em Diacritics 6 n 3 outono de 1976 38 10 Raymond wütíams The long revolution Londres Chatto Windus 1961 pp 667 11 No meu Beginnings intentíon and method Nova York Basic Books 1975 12 Louis Althusser For Marx trad Ben Brewster Nova York Pantheon Books 1969 pp 657 13 Raymond Schwab La renaissance orieruale París Payot 1950 Johann W Die Studien in Europa bis in den Anfang des 20 Jahrhunderts Leip zrg Otto Harrassowitz 1955 Dorothee Metlitzki The master of Araby in medieval England New Haven Connectícut Yale Uníversíty Press 1977 14 E S Shaffer Kubla Khan and the fa of Jerusaíem the mythological scnool in biblical criticism and secular literature 17701880 Cambridge Cambridge University Press 1975 15 George Eliot Middlemarch a study 01provincíal life 1872 reimp Boston Houghton Mifflin Co 1956 p 164 333 iJ I 1 16 Antonio Gramsci The prison notebooks setections trad e ed Quintin Hoare e Geoffrey Nowell Smith Nova York International Publishers 1971 p 324 O trecho inteiro que nao está na traducáo de Hoare e Smith pode ser trado em Gramsci Quaderni del carcere ed Valentino Gerratana Tunm gínaudí EdI tare 19752 1363 17 Raymond Williams Culture and socíeiy 17801950 Londres Chatto windus 1958 p 376 l OAMBITO DO ORIENTALISMO pp 41119 1 Esta citacáo e as anteriores do discurso de Arthur James Baifour na Cámara dos Comuns sao da GréBretanha Parliamentary Debates Comuns série 17 1910 11406 Ver tarnbérn A P Tbornton The imperial idea and its enemies a study in British powerLondres MacMillan CO 1959 pp 35760 O discurso de Balfour era urna defesa da política de Eldon Gorst no Egito para urna díscussáo desse tema ver Peter John Dreyfus Mellíni Sir Eldon Gorst and British Imperial Policy in Egypt dissertacéo de PhD naopublicada Stanford University 1971 2 Denis Judd Balfour and the British ernpire a study In Imperial evotuiion 1874l932 Londres MacMillan Co 1968 p 286 Ver tambérn página 292 ainda em 1926 Balfour falava sem ironia do Egito como urna nacáo índependente 3 Evelyn Baring Lord Crorner Politieal and literaty essays 19081913 1913 reimp Freeport New York Books for Libraries Press 1969 pp 40 53 124 4 Ibídem p 171 5 Roger Owen The influence of Lord Cromers Indian expenence on policy in Egypt 18831907 ern Middle Eastern affairs number four Sto Anthony s papen number 17 ed Albert Hourani Londres Oxford University Press 1965 pp 10939 6 Evelyn Baring lorde Cromer Modern Egypt Nova York Macmillan CO 1908 2 14667 Para urna vísáo británica da política británica no Egito totalmente contrária ade Cromer ver Wilfrid Scawen Blunt Secret history 01 the English occupa tion 01 Egypt being a personal narrative 01 events Nova York Alfred A Knopf 1922 Há uma valiosa discussáo da oposicáo egipcia ao governo británico em Mounah A Khouri Poetry and che making ofmcdern Egypt 18821922 Leiden E J Brill 1971 7 Cromer Modern Egypc 2 164 8 Citado em John Marlowe Cromer in Egypc Londres Elek Books 1970 p 271 9 Harry Magdoff Colonialísm 1763c 1970 em Encycíopaedia Britannica ed 1974 pp 8934 Ver também D K Píeídhouse The colonial empires a com parative survey Irom che eighteenth century Nova York Delacorte Press 1967 p 178 10 Citado em Afaf Lutfi alSayyid Egypt and Cromer a study TI AngloEgyp tian relations Nova York Frederick A Praeger 1969 p 3 11 A frase pode ser encontrada em lan Hacking The emergence 01 probability a philosophical study 01 early ideas about probability induetion and statistical inlerence Londres Cambridge University Press 1975 p 17 12 V G Kiernan The lords 01 human kind black mano yellow man and whlte man in an age olempire Boston Little Brown Co 1969 p 55 13 Edgar Quinet Le génie des religions em Oeuvres completes Paris Paguer re 1857 pp 5574 14 Cromer Political and literary essays p 35 334 1 15 Ver Jonah Raskin The mythologyolimperialism Nova York Random Hou se 1970 p 40 16 Henry A Klssinger American foreign policy Nova York W W Norton ce 1974 pp 489 17 Harold W Glidden The Arab world em American Journal 01Psychiatry 128 n 8fev 1972 9848 18 vv Southern views 01 Islam in the Middle Ages Cambridge Massachusetts Press 1962 p 72 Ver tambémPrancis Dvornik The ecumenical councils Nova York Hawthorn Books 1961 pp 656 De especial interesse é o 11 cánone instruindo que cátedras de hebraico grego árabe e caldeu fossem criadas nas principais universidades A sugestáo foi feita por Raymond Lull que defendia o aprendizado de árabe como o melhor meio para a conversáo dos árabes Embora o cánone tenha ficado quase sem efeito pois havia poucos professores de línguas orientais sua aceitacáo indica o crescimento da idéia missionária no Ocidente Gregó rio X tivera esperancas quanto a conversáo dos mongóís e frades franciscanos haviam penetrado nas profundezas da Ásia com seu zelo missionário Embora essas esperances nao tívessem sido realizadas o espírito missíonário continuou a desenvolverse Ver também Johann W Fück Die Arabischen Studien in Europa bis in den Anfung des 20 Jahrhunderts Leipzig Otto Harrassowitz 1955 19 Raymond Schwab La renaissance oríentaie Paris Payot 1950 Ver tam bém VV Barthold La découverte de IAsie histoire de lorientalisme en Europe et en Russie trad B Nikitine París Payot 1947 e as relevantes páginas em Theodor Ben fey Gesehichte der Sprachwissenscñaft und Orientalischen Philologie in Deutschland Munique Gottafschen 1869 Para urna comparacáo ínstrutiva ver James T Monroe Islam and the Arabs in Spanish scholarship Leiden E J Brill 1970 20 Victor Hugo Oeuvres poétíques ed Píerre Albouy París Gallimard 1964 1 580 21 Jules Mohl Vingtsept ans dhistoire des études orientales rapports faits ti la Société asiatique de París de 1840 ti 1867 2 v París Reinwald 187980 22 Gustave Dugat Histoire des orientalistes de lEurope du XIIe au XIXe sié ele 2 V París Adrien Maísonneuve 186870 23 Ver René Gérard L Oríent et la pensée romantíque allemande París Di dier 1963 p 112 24 Kieman Lords ofhuman kind p131 25 University Grants Committee Report ofthe subcommittee on Oriental Sla vonic East European and African studies Londres Her Majestys Stationery Office 1961 26 H A R Gíbb Area studies reconsidered Londres School of Oriental and African Studies 1964 27 Ver Claude LéviStrauss The savage mind Chicago University of Chicago Press 1967 caps 17 28 Gaston Bachelard The poetics 01 space trad Maria Jolas Nova York OrionPress 1964 29 Southern Western views 01Islam p 14 30 Ésquilo The persians trad Anthony J Podleck Englewood CHffs New Jersey Prentice Hall 1970 pp 734 3I Eurípedes The baechae trad Geoffrey S Kirk Englewood CHffs New Jer sey Prentice Hall 1970 p 3 Para urna maior discussao da distinao entre o Ocidente e o Oriente ver Santo Mazzarino Fra oriente e occidente ricerche di storia greca arcaica 335 I i Florenca La Nuova Italia 1947 e Denys Hay Europe the emergence 01 an idea Edímburgo Edinburgh Uníversíty Press 1968 32 Euripedes The bacchae p 52 33 René Grousset L empire du Levant histoire de la question dOrient París Payot 1946 34 Edward Gibbon The history 01 the decline and lall 01 the Roman Empire Boston Little Brown Co 18556 399 35 Norman Daniel The arabs and medieval Europe Londres Longmans Green Co 1975 p 56 36 Samuel C Chew The crescent and the rose Islam and England during the Renaissance Nova York Oxford Universlty Press 1937 p 103 37 Norman Daniel Islam and the West the making 01 an image Edimburgo Edinburgh University Press 1960 p 33 Ver também James Kritzeek Peter the Vene rable and Islam Princeton New Jersey Princeton University Press 1964 38 Daniel Islam and the West p 252 39 Ibidem pp 25960 40 Ver por exemplo William Wistar Comfort The literary role of the sara eens in the Freneh epie emPMLA 551940 pp 62859 41 Southem Western víews oflslam pp 9121089 42 Daniel Islam andthe West pp 246 96 e passim 43 Ibídem p 84 44 Duncan Blaek Macdonald Whither Islam em Musin Word 23 jan 1933 2 45 P M Holt introducáo a The Cambridge history 01 Islam ed P M Holt Anne K S Lambton e Bernard Lewis Cambridge Cambridge Universíty Press 1970 p xvi 46 Antoine Galland Discours de prefácio a Barthélemy dHerbelot Biblia tñeque orientaie 011 Dictionnaire universel contenant tout ce qui ait connaítre les peu pies de fOrient Haia Neaulme van Daalen 1777 1 vii O argumento de Galland é que DHerbelot apresentava um conhecimento real e nao lendas ou mitos do tipo asso ciado as maravilhas do Oriente Ver R Wittkower Marvels of the East a study in the history of monsters em Journal of the Warburg and Courtauld Institutes 5 1942 1599 47 Galland Díscours de prefácio a DHerbelot Bibtiothéoue orientale pp xvi xxxiii Para o estado do conhecimento orientalista imediatamente antes de DHer belot ver V J Parry Renaissance historical literature in relation to the New and Middle East with special reference to Paolo Giovio em Historians 01 the Middle East ed Bernard Lewis e P M Holt Londres Oxford University Press 1962 pp 27789 48 Barthold La découverte de lAsie pp 1378 49 DHerbelot Bibliotheque orientale 2 648 SO Ver também Montgomery Watt Muhammad in the eyes of the West em Boston UniversityJournal22 n 3 outono de 1974 619 51 Isaiah Berlin Historical inevitability Londres Oxford University Press 1955 pp 134 52 Henri Pirenne Mohammed and Charemagne trad Bernard MiaU Nova York W W Norton Co 1939 pp 234 283 53 Citado por Henri Baudet em Paradise on earth some thoughts images 01NonEuropean man trad Elizabeth Wentholt New Haven University Press 1965 p xiii 54 Gibbon Declineandlalolthe Roman Empire 6 289 336 SS Baudet Paradiseon earth p 4 56 Ver Fieldhouse Colonial empires pp 13861 57 Schwab La renaissance orientale p 30 58 A J Arberry Oriental essays portraits ofseven scholars Nova York Mac millan Co 1960 pp 30 31 59 RaymondSchwab Vie dAnquetilDuperron suívie des usages civils el reli gieux des perses par AnquetiDuperron Paris Ernest Leroux 1934 pp 10 96 4 6 60 Arberry Oriental essays pp 626 61 Eden Pargiter ed Centenary volume 01 the Royal Asíatic Society of Great Britain and Ireland 18231923 Londres Royal Asiatic Society 1923 62 Q p V1l1 umet Le gente des religions p 47 63 Jean Thiry Bonaparte en Égypte décembre 179724 aoút 1799 París Ber gerLevrault 1973 p 9 64 Volney Voyage en Égypte et en Syrie París Bossange 18212 241 e passrm 65 Napoleáo dÉgypte et de Svríe 17981799 mémoíres pour ser VIru I histoire de Napoleon París Comou 1843 1 211 6 Thiry Bonaparte en Égypte p 126 Ver também Ibrahim AbuLughod Aruh o Europe a study in cultural encounters Princeton New Jersey Prin ceton University Press 1963 pp 1220 67 AbuLughod Arab rediscovery ofEurope p 22 68 Citado de Arthur He1ps The spanish conquest 01 America Londres 190 p 196 por Stephen J Greenblatt Learning to curse aspects of linguistic colonialism in the síxteenth emFirst images ofAmerica the impact of the New World on the Old ed Predi Chiapellí Berkeley University of California Press 1976 p 573 69 Thiry Bonaparte en Égypte p 200 Napoleáo nao estava só sendo cínico que ele discutiu o Mahomec de Voltaire com Goethe e que defendeu o isla Christian Cherfils Bonaparte et lIslam daprés les documente francais arabes Pa ns A Pedone 1914 p 249 e passim 70 Thiry Bonaparteen Égypte p 434 71 Hugo Les orientales em Oeuvres poéüques 1 684 72 Henri Dehéraín Silvestre de Sacy ses contemporains et ses disciples Paris Paul Geuthner 1938 p v de l Égypte ou Recueil des observations et des recherches qui ont ere enEgypte pendan t expédiüan de larmée francaise publié par les ordres de sa majeste 1empereur Napoléon le grana 23 v Paris lmprimerie impériale 180928 74 Préface historique v 1 da Description de lEgypte p 1 75 Ibidem p iii 76 Ibidem p xcii 7 Étienne GeoffroySaintHílaire Histoire naturelle des poissons du NiJ v 17 da Descnptum de IEgypte p 2 78 M de Chabrl Essai sur les moeurs des habitants modernes de lEgypte v 14 da Descnptum de 1Egypte p 376 79 Isso em Baran Larrey Notice sur la conormation physique des et des dilerentes races qui habitent en Egypte suivie de quelques réflexions sur I des momies v 13 da Description de lEgypte 80 Citado por John Marlowe The making 01 the Suez canal Londres Cresset Press 1964 p 31 8I Citado em John Pudney Suez De Lesseps canal Nova York Frederick A Praeger 1969 pp 1412 337 82 Marlowe Making ofthe Suez canal p 62 83 Ferdinand de Lesseps Leures journal el documents pour servir ti thistoire du canal de Suez Paris Didier 18815 310 Para urna caracterizacáo bemIeita de De Lesseps e Cecil Rhodes como místicos ver Baudet Paradise on earth p 68 84 Citado em Charles Beatty De Lesseps of Suez the man and his times Nova York Harper Brothers 1956 p 220 85 De Lesseps Leures journal et documents 5 17 86 Ibidem pp 32433 87 Hayden White Metahistory the historical imagínatíon in nineteenthcen tury Europe Baltimore John Hopkins University Press 1973 p 12 88 Anwar Abdel Malek Orientalism in crisis em Diogenes 44 inverno de 1963 1078 89 Friedrich Schlegel Über die Sprache und weisheit der Indier Ein Beitrag zur Begrundung der Altertumstunde Heidelberg Mohr Zimmer 1808 pp 4459 Schlegel Philosophie der Geschichte In achtzehn Vorlesungen gehalten zu Wienen im Jahre 1828 ed JeanJacques Anstett v 9 de Kruische FríedrichSchlegelAusgabe ed Ernest BehlerMunique Ferdinand Schóningh 1971 p 275 90 Léon Políakov The Aryan myth a history of racist and nationalist ideas in Europe trad Edmund Howardf Nova York Basic Books 1974 91 Ver Derek Hopwood The Russían presence in Syria and Palestine 1843 1943 Church andpolitics in the Near East Oxford Clarendon Press 1969 92 A L Tibawi British ínterests in Palestine 18001901 Londres Oxford Universíty Press 1961 p 5 93 Gérard de Nerval Oeewes ed Albert Béguin e Jean Richet Paris Galli mard 1960 1933 94 Hugo Oeuvres pcétiques 1 580 95 Sir waítcr Scott The talisman 1825 reimp Londres J M Dent 1914 pp 389 96 Ver Albert Hourani Sir Hamilton Gibb 18951971 em Proceedings of the British Academy 58 1972 495 97 Citado por B R Jerman The young Disraeli Princeton New Jersey Prin ceton Uníversíty Press 1960 p 5970 98 Flaubert in Egypt a sensibility on tour trad e ed Francis Steegmuller Boston Little Brown Co 1973 pp 445 Ver Gustave Flaubert Correspondance ed lean BruneauParis Gallimard 1973 1 542 99 Este é o argumento apresentado por Carl H Becker Das Erbe der Antike irn Orient und Okzident Leipzig Quelle Meyer 1931 lOO Ver Louís Massígnon La passion dalHosavnibnMansour alHallaj Pa ris Paul Geuthner 1922 100 Abdel Malek Orientalism in crisis p 112 102 H A R Gibb Modern trends in Islam Chicago University of Chicago Press 1947 p 7 103 Gibb Area studies reconsidered pp 12 13 104 Bernard Lewis The return of Islam em Commentary jan 1976 pp 3949 lOS Ver Daniel Lemer e Harold Lasswell eds The policy sciences recent developments in scope and method Stanford Califórnia Stanford University Press 1951 106 Morroe Berger The Arab world today Garden City Nova York Double dayCo 1962 p158 338 1 107 Há um compendio de atitudes desse tipo listado e criticado em Maxime Rodinson Islam and capitalism trad Brian Pearce Nova York Pantheon Books 1973 108 Ibrahim AbuLughod Retreat Irom the secular path Islamic dilemmas of Arab politice em ReviewofPolitics 28 n 4 out 1966 475 2 ESTRUTURAS E REESTRUTURASORIENTALISTASpp 121205 1 Gustave Flaubert Bouvard et Pécuchet v 2 das Oeuvres ed A Thibaudet e R DumesnilParis Gallimard 1952 p 985 2 Há urna esclarecedora explicacño dessas visóes e utopias em Donald G Charl ton Secular religions in France 18151870 Londres Oxford University Press 1963 3 M H Abrams Natural supernaturalism tradition and revolution in Roman tic literature Nova York W W Norton Co 1971 p 66 4 Para um material esclarecedor a esse respeito ver John P Nash The con nection of Oriental studies with commerce art and literature during the 18th19th cen turies em Manchester Egyptian and Oriental SocietyJournal 15 1930 339 ver tara bém lohn F Laffey Roots of French imperialism in the nineteenth century the case of Lyon emFrench Historicaí Studies 6 n I primavera de 1969 7892 e R Leportier L Orient porte des Indes París Édition FranceEmpire 1970 Há muita informacáo em Henri Omont Míssíons arcñéotogiouesfrancaises en Ürient aux XVIle et XVIlIe síécíes 2 v Paris Imprimerie nationale 1902 e em Margaret T Hodgen Early anthropology in the sixteenth and seventeentñ centuries Filadelfia University of Pennsylvania Press 1964 bem como em Norman Daniel Islam Europe and empire Edímburgo Edin burgh University Press 1966 Dois estudos curtos indispensáveis sao o de Albert Hou rani Islam and the philosophers of history em Middle Eastern Studies 3 n 3 abr 1967 20668 e Maxime Rodinson The Western image and western studles of Islam em The legacy 01Islam ed Joseph Schacht e C E Bosworth Oxford Clarendon Press 1974 pp 962 S P M Holt The treatment of Arab history by Prideaux Ockley and Sale em Histcrians of the Middle East ed Bemard Lewis e P M Holt Londres Oxford University Press 1962 p 302 Ver tarnbém Holt The study of modem Arab history Londres School of Oriental and African Studies 1965 6 A visño de Herder como populista e pluralista é defendida por Isaiah Berlin Vico and Herder two studies in the history 01 ideas Nova York Viking Press 1976 7 Para urna discussño desses motivos e representacóes ver lean Starobinski The invention olliberty 1700789 trad Bernard C Smith Genebra Skira 1964 8 Há um pequeno número de estudos sobre este tema tao pouco investigado Entre os que sao conhecidos estao Martha P Conant The oriental tale in England in the eighteenth century 1908 reimp Nova York Octagon Books 1967 Marie E de Mees ter Oriental influences in the English literature 01 the nineteenth century Anglistische Forschungen n 46 Heildeberg 1915 Byron Porter Smith Islam in English literature Beirute American Press 1939 Ver também leanLuc Doutrelant LOrient tragique au XVIIle siecle em Revue des Sciences Humaines 146abrjun 1972 25582 9 Michel Foucault The order olthings The archaeology of the human sciences Nova York Pantheon Books 1970 pp 138 144 Ver também Franois lacob The logic ollife a history ofheredity trad Betty E Spillmann Nova York Pantheon Books 1973 p SOe passim e Georges Canguilhem La connaissance de la vie Paris Gustave Joseph Vrin 1969 pp 4463 339 j 10 Ver John G Burke The wild rnans pedigree scientific method and racial anthropology cm The wild man within an ímage in Weslern thought rom the Renais sanee tu Romanlicism ed Edward Dudley e Maxirnillian E Novak Pittsburgh Penn sylvania Uníversíty of Pittsburgh Press 1972 pp 2628 Ver também lean Biou Lu míéres et antbropophagie em Revue des Scíences Humaines 146 abrejun 1972 22334 11 Henri Debérain Silvestre de Saq ses eontempraíns el ses disciples París Paul Geuthner 1938 p 111 12 Para estes e outros detalhes ver íhídem pp ixxxiii 13 Duque de Broglie Éloge de Silvestre de Sacy em Sacy Métanges de liué rasure orientale París E Ducrocq 1833 p xii 14 Bon Joseph Dacier Tabíeau historique de Iéruditiollframais ou sur les progrés de 1histoire el de la tinérature ancienne dep uis 1789 París lmpnmene ímpériale 1810 pp 23 35 31 15 Michel Foucault Discipline an d punísh the birth of the prtson trad Alan Sberidan Nova York Pantheon Books 1977 pp 1934 16 Broglie Eloge de Silvestre de Sacy p 107 17 Sacy Mélanges de litt eruture crientale pp 107 110 1112 18 Silvestre de Sacy Chrestomathie arabe ou Extraits de divers écrivains ara bes tant en prose qu en vers avec une traduction rancaise et des notes u Iusag des éléves de Ecole royale et spéeiale des iangues crientules vivuntes v l 1826 reimp Osnabrück Biblia verlag 1973 p viii 19 Para as nocóes de suplementaridade suprir e súplica ver Jacques Derrida De la grammaco1ogie Pans Éditions du Mmuit 1967 pp 203 e passim 20 Para urna lista parcial dos estudantes e da influencia de Sacy ver Johann Fück Die Arabíscñen Siudien in Europa bis in den Anfung des 20 Iuhrhunderts Leíp zig Otto Harrassowitz 1955 pp 1567 21 A caracterizaao de um arquivo feita por Foucault pode ser em The archaeoJogy o knowledge and the discourse on language trad A M Smith e Rupert Sawyer Nova York Pantheon Books 1972 pp 79131 Gabnel Ma nad um dos mais jovens e mais perspicazes dos contemporáneos de Renan que este naOera de maneira alguma um revolucionário da lingüística da arqueologla ou da exegese mas mesmo assim por ter a mais ampla e a mais precisa de seu temyo era seu mais eminente representante Renan Taine Michelet Pans CalmannLevy 1894 pp 401 Ver também JeanLouis Dumas La philosophie de lhistoire de Re nan em Revue de Métaphysique el de Morale 77 n 1Uanmar 1972 10028 22 Honoré de Balzac Louis Lambert Paris Ca1mannLévy s d p 4 23 As observaltOes de Nietzsche sobre a filologia encontramse por toda a parte em suas obras Ver principalmente as notas dele para Wir extraídas de seus cademos de anotalt0es do período dejaneiro a ju1ho de 1875 traduzIdas por WIlham Arrowsmith como Notes for We Philologists em Arion NS 112 1974 279380 ver também os trechos sobre a linguagem e o perspectivismo em The willlo power trad Walter Kaufmann e R J Hollingdale Nova York Vintage Books 1968 24 Emest Renan Lavenir de la science pensées de 1848 4 ed Paris Ca1 mannLévy 1890 pp 141 1425 146 148 149 25 Ibidem p xiv e passim 26 Todo o capítulo de abertura livro 1 cap 1 da Hiscoire générale el systeme comparé des langues sémitiques em Oeuvres completes ed Psichari Paris CalmannLévy 194761 8 14363 é praticamente urna enciclopedIa de pre conceitos de raa dirigidos contra os semitas isto é muulmanos e judeus O resto do 340 tratado é generosamente salpicado com as mesmas nocóes do mesmo modo que muitas outras obras de Renan inclusive L avenir de la scíence sobretudo nas notas do próprio Renan 27 Emest Renan Correspondance 18461871 París CalmannLévy 1926 lo 712 28 Idem Souvenirs denfance et de jeunesse em Oeuvres completes 2 892 Duas obras de Jean Pommier tratam a mediacáo de Renan entre a relígiáo e a filologia com multes detalhes Renan daprés des documente inédíts París Perrin 1923 pp 4868 e La jeunesse cléricaie dEmest Renan París Les Belles Lettres 1933 Há um relato mals recente em J ChaíxRuy Emest Renan Paris Emmanuel Vitte 1956 pp 89111 A descricáo comum mais em termos da vocacáo religiosa de Renan também é válida Pierre Lasserre La jeunesse d Ernest Renan histcire de la crise reíi gieuse au XIXe siécle 3 v Paris Garnier Freres 1925 No volume 2 as páginas 50166 e 26598 sao informativas sobre as relacóes entre a filologia a filosofia e a ciencia 29 Ernest Renan Des services rendus aux sciences historiques par la philo logie em Oeuvres completes 8 1228 30 Idem Souvenirs p 892 3I Foucault The arder o things pp 290300 Juntamente com o descrédito das orígens edénicas da Jinguagem urna quantídade de outros acontecimentos o Dilú vio a construcáo da Torre de Babel também sao desacreditados como explicacóes A história mais abrangente das teorias sobre as origens lingüísticas é a de Arno Bost Der Turmbau von Babel Geschichte der Meinungen über Ursprung und Yielfalt der Sprachen und Volker 6 v Stuttgart Anton Hiersemann 195763 32 Citado por Raymond Schwab La renaissance orientaíe París Payot 1950 p 69 Sobre os perigos de se sucumbir com demasiada Iacilidade as generalidades sobre as descobertas orientais ver as reñexóes do eminente sinólogo contemporaneo Abel Ré musat Mélanges postumes dhistoire el Jillérature orientales Paris Imprimerie roya1e 1843 p 226 e passim 33 Samuel Taylor Coleridge Biographia literaria cap 16 em Selected poetry and prose of Coleridge ed Donald A Stauffer Nova York Random House 1951 pp 2767 34 Benjamin Constant Oeuvres ed Alfred Roulin Paris Gallimard 1957 p78 35 Abrams Natural supematuralism p 29 36 Renan De 1origine du 1angage em Oeuvres completes 8 122 37 Idem De la part des peuples sémitiques daos lhistoire de la civilisation em Oeuvres completes 2 320 38 lbidem p 333 39 Renan Trois professeurs au College de France ftienne Quatremere em Oeuvres completes 1 129 Renan nao se enganou a respeito de Quatremere que tinha talento para escolher temas interessantes e tornálos completamente desioteressantes Ver os seus ensaios Le goot des livres chez les orientaux e Des sciences chez les arabes no seu Mélanges dhistoire et de philologie orientales Paris E Ducrocq 1861 pp 157 40 Honoré de Ba1zac La peau de chagrin v 9 Etudes philosophiques 1 de La comédie humaine ed Marcel Bouteron Paris Gallimard 1950 p 39 Renan Histoire généraJe des langues sémitiques p 134 41 Ver por exemplo De origine du langage p 102 e Histoire généra1e p lOO 341 42 Renan L avenir de la science p 23 O trecho inteiro é assim Pour moi je ne connais quun seul résultat ala science cest de résoudre lénígme cest de dire défi nitivement a Ihomme le mot des choses cest de lexpliquer a luiméme cest de lui donner au nom de la seule autorité légitime qui est la nature humaine toute entiere le symbole que les religions luí donnaient tout fait et qull ne peut plus accepter Quanto a mim só conheco um único objetivo para a ciencia que é resolver o enigma dízer defi nitivamente ao homem o nome das ccísas explicar o homem a ele mesmo dar a ele em nome da única autoridade legítima que é a natureza humana o símbolo que as re Iigióes lhe davam pronto e que ele nao pode mais aceitar 43 Ver Madeleine VDavid Le débat sur les écritures et lhiéroglyphe aux XVII e et XVIIe siécles et lapplieation de la notion de déchiffrement aux écritures mones Pa ris S E V P E N 1965 p 130 44 Renan é mencionado apenas de passagem em La renaissance orientale de Schwab nenhuma vez em The orderofthings de Foucault e apenas de modo um tanto depreciatívo em The discovery of language linguistic science in the nineteenth century de Holger Pederson trad John Webster Spargo 1931 reimp Bloomington Indiana University Press 1972 Max Müller em suas Lectures on the science oflanguage 1861 4 reimp Nova York Seribner Armstrong Co 1875 e Gustave Dugat em sua Histoíre des orientalistes de 1Europe du XIleau XIXesiécíes 2 v París Adrien Maíson neuve 186870 nao mencionam Renan em momento algum Os Essais orientaux de James DarmesteterParis A Lévy 1883 cuja primeíra parte éurna historia Lorien talisme en France sao dedicados a Renan mas nao mencionam a sua contribuícáo Há meia dúzia de notas curtas no enciclopédico e extremamente valioso quesedíário debordo de Jules Mohl Vingtsept ans dhistoire des études orientales rapports faits a a Société asiatique de Paris de 1840 al867 2 v París Reinwald 187980 45 Nas obras que tratam de raca e racismo Renan ocupa urna posicáo de al guma importancia Ele é tratado nas seguintes Ernest Seilliere La philosophie de lim périalisme 4 v Paris Plon 19038 Théophile Simar Etude critique sur la formation de la doctrine des races au XVIlle siécíe et son expansion au XIxe síécle Bruxelas Hayes 1922 Erich Voegelin Rasse und Staat Tübingen 1 C B Mohr 1933 e aqui devemos mencionar também do mesmo autor Die Rassenidee in der Geistesgeschiehte von Ray bis Carus Berlim Junker und Dunnhaupt 1933 que embora nao trate do periodo de Renan é um importante complemento a Rasse und Stoat Jacques Barzun Race a study in modern superstition Nova York Harcourt Brace Co 1937 46 No La renaissance orientale de Schwab há páginas brilhantes sobre o mu seu sobre o paralelo entre a biologia e a lingüística e sobre Cuvier Balzac e outros ver pp 323 e passim Sobre a biblioteca e a sua importancia para a cultura de meados do século XIX ver Foucault La bibliotheque fantastique que é o seu prefácio a La tentation de Saint Antoine de Flaubert Paris Gallimard 1971 pp 733 Tenho urna dívida com o professor Eugenio Donato por me ter chamado a atenrrao para estas ques toes ver o seu A mere labyrinth of letters Flaubert and the quest for fiction in Mod ern Language Notes 89 n 6 dez 1974 885910 47 Renan Bistoiregénérale pp 1456 48 Ver L avenir de la science pp 508 e passim 49 Renan Bistoire générale p 214 50 Ibidem p 527 Esta idéia é do tempo da distinrrao de Schlegel entre línguas organicas e aglutinativas sendo o semita um exemplo do último tipo Humboldt faz a mesma distinrrao do mesmo modo que a maioria dos orientalistas após Renan SI Ibidem pp 5312 342 52 Ibídem pp 515 e passim 53 Ver lean Seznec Nouveles études sur La tentatian de Saint Antoíne Londres Warburg Institute 1949 p 80 54 Ver Étienne Geoffroy de SaintHilaire Phiosophie anatomique des mons truosítés humaines Paris publicado pelo autor 1822 O título completo da obra de SaintHilaire é Histoire générale et particuüére des anomalies de lorganisation chez lhomme et les animaux ouvrage comprenant des recherches sur les caracteres la eas sification íinfíuence physiologique et pathologique les rapports généraux les lois et les causes des monstruosités des variétés et vices de conformatíon ou traité de tératologie 3 v Paris JB Bailliere 18326 Há algumas páginas valiosas sobre as idéias biológicas de Goethe em Erich Heller The disinherited mind Nova York Meridian Books 1959 pp 334 Ver também Jacob The logie oflife e Canguilhem La connaissance de la vie pp 17484 para descricóes muito interessantes do lugar de SaintHilaire no desenvol vimento das ciencias da vida SS E SaintHilaire Philosophieanatomique pp xxiixxiii 56 Renan Hístoire générale p 156 57 Idem Oeuvres completes 1 6212 e passim Ver H W Wardman Ernest Renan a critical biography Londres Athlone Press 1964 pp 66 e passim para urna sutil descricáo da vida doméstica de Renan embora nao quiséssemos tracar um paralelo entre a biografia de Renan e aquilo que chamei de mundo masculino dele as des crtczes de Wardman sao realmente sugestivas pelo menos para mimo 58 Rean Des services rendus aux sciences historiques par la philologie em Oeuvres completes 8 1228 1232 59 Ernst Cassirer The problem of knowledge philosophy science and history since Hegel trad William H Woglon e Charles W Hendel New Haven Connecticut Yale Uníversíty Press 1950 p 307 60 Renan Réponse au discours de réception de M de Lesseps 23 avrilI885 em Oeuvres completes 1 817 Contudo o valor de se ser verdadeiramente contempo ráneo foi melhor demonstrado em referencia a Renan por SainteBeuve em seus artigos de junho de 1862 Ver também Donald G Charlton Positivist thought in France during the Second Empire Oxford Clarendon Press 1959 e do mesmo autor Secular reli gions in France Também Richard M Chadbourne Renan and SainteBeuve em Romanía Review 44 n 2 abr 1953 12635 61 Renan Oeuvres completes 8 156 62 Em sua carta de 26 dejunho de 1856 para Gobineau Oeuvres completes 10 2034 As idéias de Gobineau sao expressadas no seu Essai sur linégalité des races hu maines 18535 63 Citado por Albert Hourani em seu excelente artigo Islam and the philoso phers of history p 222 64 Caussin de Perceval Essai sur lhistoire des arabes avant lislamisme pen dant lépoque de Mahomet etjusqua la réduction de toutes les tribus sous la loi musul mane 18478 reimp Graz Áustria Akademische Druck und Verlagsanstalt 1967 3 3329 65 Thomas Carlyle On heroes heroworship and the heroic in history 1841 relmp Nova York Longmans Green Ca 1906 p 63 66 As experiencias de Macaulay na Índia sao descritas por G Otto Trevelyan The life and letters of Lord Macaulay Nova York Harper Brothers 1875 1 344 71 O texto completo da Minute de Macaulay pode ser convenientemente encontrado em Philip D Curtin ed Imperialism the documentary history of Western civilization Nova York Walker Ca 1971 pp 17891 AIgumas das conseqüencias das opinioes 343 J de Macaulay para o orientalismo sao discutidas em A J Arberry British orientalists Londres William Collins 1943 67 John Henry Newman The turks in their relation to Europe v 1 do seu Hístorical sketches 1853 reimp Londres Longmans Green Co 1920 68 Ver MargueriteLouise Ancelot Salons de Paris foyers éteints Paris Jules Tardieu 1858 69 Karl Marx Surveys from exile ed David FernbachLondres Pellcan Books 1973 pp 306 7 70 Ibidem p 320 71 Edward William Lane prefácio do autor a An account 01 the manners and customs ofthe modem Egyptians1836 reimp Londres J M Dent 1936 pp xx xxi 72 Ibídem p 1 73 Ibídem pp 1601 A biografia mais aceita de Lane publicada em 1877 foi escrita por seu sobrinhoneto Stanley LanePoole Há um retrato simpático a Lane em Oriental essays portraits 01seven scholars de A J Arberry Nova York Macmillan Co 1960 pp 87121 74 Frederick Eden Pargiter ed Centenary volume of tñe Royal Asiatic Society ofGreat Britain and Ireland18231923 Londres Royal Asiatic Society 1923 p x 75 Société asiatique livre du centenaire 18221922 Paris Paul Geuthner 1922 pp 56 76 Johann Wolfgang von Goethe Westostlicher Diwan 1819 reimp Muni que Wilhelm Golmann 1958 pp89 12 O nome de Sacy é invocado com veneracáo no aparato de Goethe para o Diwan 77 Victor Hugo Les orientales em Oeuvres poétíques ed Pierre Albouy París Gallimard 1964 1 6168 78 PranccísRené de Chateaubriand Oeuvres romanesques et voyages ed Maurice RegardParis Gallimard 1969 2 702 79 Ver Henri Bordeaux Voyageurs dOrient des pélerins aux méharistes de Palmyre París Plon 1926 Achei úteís as idéias sobre peregrinos e peregrinacóes con tidas ern Dramas fields and metaphors symboic action in human society Ithaca Nova York Comell UniversityPress 1974 pp 166230 80 Hassan alNouty Le ProcheOrient dans la íittérature francaise de Nerval a Barres Paris Nízet 1958 pp 478 277 272 81 Chateaubriand Oeuvres 2 702 e nota 1684 76970 769 701 808 908 82 Ibidem pp 1011979990 1052 83 Ibidem p 1069 84 Ibídem p 1031 85 Ibídem p 999 86 Ibidem pp 112627 1049 87 Ibidem p 1137 88 Ibidem pp 1148 1214 S9 Alphonse de Lamartine Voyage en Orient 1S35 reimp París Hachette 1887 1 10489179178148 189 118 2456 251 90 Ibidem 1 363 2 745 1 475 91 Ibidem 2 923 92 Ibidem 2 5267 533 Dois importantes trabalhos sobre escritores franceses no Oriente sao Voyageurs et éerivaíns francais en Égypte em 2 volumes de JeanMarie Carré Cairo Institut dArchéologie Orientale 1932 e Le Romantisme fran et llsam de Moenis TahaHussein Beirute DarelMaeref 1962 344 93 de Nerval Les filies du feu em Oeuvres ed Albert Béguin e J Richetflarís GallImard19601 297S ean W Id Praz The romantic agony trad Angus Davison Cleveland Ohio or u lshmgCo1967 95 Jean Bruneau Le Conte oríentale de Flaubert París Denoél 79 1973 p 96 Todas estas sao consideradas por Bruneau em ibidem 97 Nerval Voyage en Oríent em Oeuvres 2 68 194 96 342 98 Ibidem p 181 99 Michel Butor Travel and writing trad John Powers e K Lisk M sale S n 1 outono de 1974 13 er em 0 100 Nerval Voyage en Orient p 628 101 Ibídem pp 706 718 B 10 Flaubert in Egypt a sensibility on tour trad e ed Francis Steegmuller Little Brown Co 1973 p 200 Consultei também os seguintes textos nos quars se pode encontrar todo o material oriental de Flaubert O l Gust FI b P C euvres comp etes de ave au ert ans lub de lHonnéte Homme 1973 v 10 11 Les ettres dÉgy te de Gustave Flaubert ed A Youssef Naaman Paris Nizet 1965 Flaube t e P dance ed Jean Bruneau Paris Gallimard 1973 1 518 ss r orrespon O f Levin The gates of horn a study offive French realists Nova York x or nrversíty Press 1963 p 285 104 Flaubert in Egypt pp 173 75 lOS Levin Gates 01horn p 271 106 Flaubert Catalogue des opinions chic em Oeuvres 2 1019 107 Fíaubert in Egypt p 65 108 Ibidem pp 220 130 109 Flaubert La tentatian de Saint Antoíne em Oeuvres 1 S5 110 Ver Flaubert Salammbó em Oeuvres 1809 ss Ver também M Z Shrod O di S A aunce 243Ser n rea mg alammbo emLEsprit créateur 10 n 1 primavera de 1970 111 Flaubert in Egypt pp 19S9 112 Foucault L biblíotheque fantastique em Flaubert La tentation de Saint Antoíne pp 733 113 Flaubert in Egypt p 79 114 Ibidem pp 2112 115 Para urna díscussáo desse processo ver Foucault Arcñaeology k ledge ver també J h B D OJ now N m osep en avid The scientist s role in society Englewood CliUs ova Jersey Prentice Hall 1971 Ver igualmente Edward W Said A thi f 1 D ne lCSO ano guage em laerltlCS4 n2verao de 1974 pp 2837 116 Ver as valiosíssimas listas de Richard Bevis em Bibliothe C li d h ca ISOTlenta la an annotate e ecklist 01 early English travel books on the Near and Middle Ea B t G K Hall Co 1973 os on 117 dos viajantes americanos ver Dorothee Metlitsk Finkel steín Melviüe s Orienda New Haven Connecticut y I U P F kli a e mversity ress 1961 e ran m Walker Irreverent pigrims Melville Browne and Mark T h R I L d 5 ttl U waln In t e o y an ea e mversíty of Washington Press 1974 fi lIS Alexander WiIliam Kinglake Eothen or traces 01 travel brought home rom the East ed D G Hogarth 1844 reimp Londres Henry Frowde 1906 pp 25 68 241 220 119 Flaubert in Egypt p 81 345 1 120 Thomas J Assad Three víctorian travellers Burton Blunt and Doughty Londres Routledge Kegan Paul 1964 p S 121 Richard Surtan Personal narrative 01 a pilgrimage to alMadinañ and Meccah ed Isabel Burton Londres Tylston Edwards 1893 1 9 10810 122 Idem Terminal essay em The book 01 the thousand and one mghts Londres Burton Club 1886 10 63302 l23 Idem Pilgrimage 1 112 114 3 O ORIENTALISMO HOJEpp 207332 1 Friedrich Nietzsche On truth and lie in an extramoral sense em The por table Nietzsche ed e trad Walter Kaufmann Nova York Viking Press 1954 pp 467 2 O número de viajantes árabes para o Ocidente e estimado e considerado por Ibrahim AbuLughod em Arab rediscovery 01 Europe a study in cultual encounters Princeton Nova Jersey Princeton University Press 13 pp 756 e 3 Ver Philip D Curtin ed lmperialism the documentary histoty 01 Western civilizationNova York Walker Co 1972 pp 73105 4 Ver Johann W Fück Islam as an historical problem in European hístorío graphy slnce 1800 em Historians of the Middle East ed Bernard LeWlS e P M Holt Londres Oxford University Press 1962 p 307 S 1bidem p 309 6 Ver Jaeques Waardenhurg L Islam dans le míroir de IOccident Hala Mou ton Co 1963 7 Ibídem p 311 8 P MassonOursel La eonnaissanee scientifique de lAsie en depuís 1900 et les variétés de lorientalisme em Revue Philosophique 143 n 79 julcset 1953 345 9 Evelyn Baring lorde Cromer Modern Egypt Nova York Macmillan Co 1908 2 2378 lO Idem Ancient and modern imperialism Londres John Murray 1910 pp 118 120 11 George Nathaniel Curzon Subjects 01 the day being a seíection 01 speeches and writings Londres George Allen Unwin 1915 pp 45 lO 28 12 Ibidem pp 184 1912 Para urna hist6ria da eseola ver C H The school 01 Oriental and Afrícan Studies University 01 London 19171967 an introduce ion Londres Design for Print 1967 13 Eric Stokes The english utilitarians and India Oxford Clarendon Press 1959 14 Citado em Michael Edwardes High noon 01 empire India under Curzon Londres Eyre Spottiswoode 1965 pp 389 15 Curzon Subjects ofthe day pp 1556 16 Joseph Conrad Heart 01 darkness em Youth and two other stories Garden City Nova York Doubleday Page 1925 p 52 17 Para um extrato ilustrativo da obra de De Vattel ver Curtin ed Imperial ism pp 425 18 Citado por M de Caix La Syrie em Gabriel Hanotaux Hístoire des coíonies francaíses 6 v París Socíété de Ihistoire nationale 192933 3 481 346 IY Estés detalhes podem ser encontrados em Vernon McKay Colonialism in the French Geographical Movement em Geographical Review 33 n 2 abr 1943 21432 20 Agnes Murphy The ideology of French imperialism 18171881 Wash ington Catholic University oí América Press 1948 pp 46 54 36 45 21 Ibídem pp 189 110 36 22 Jukka Nevakivi Brítain France and the Arab Middle East 19141920 Londres Athlone Press 1969 p 13 23 Ibídem p 24 24 D G Hogarth The penetration of Arabia a record 01 the development 01 Western knowledge concerning the Arabian península Nova York Frederick A Stokes 1904 Há um bom livro mais recente sobre o mesmo tema Robin Bidwell Travellers in Arabia Londres Paul Hamlyn 1976 25 Edmond Bremond Le Hedjaz dans la guerre mondiale Paris Payot 1931 pp 242 ss 26 Conde de Cressaty Les íntéréts de la France en Syrie Paris Floury 1913 27 Rudyard Kipling Verse Garden City Nova York Doubleday Co 1954 p280 28 Os temas da exclusáo e do confinamento na cultura do século XIX tiveram um importante papel na obra de Michel Foucault sobretudo recentemente em seu Disci pline and punish the birth of the prison Nova York Pantheon Books 1977 e em The nistory 01sexuality volume 1 an introduction Nova York Pantheon Books 1978 29 The letters of T E Lawrence 01 Arabia ed David Garnett 1938 reimp Londres Spring Books 1964 p 244 30 Gertrude Bell The desert and the sown Londres William Heinemann 1907 p 244 31 Idem From her personal papers 18891914 ed Elizabeth Burgoyne Lon dres Ernest Benn 1958 p 204 32 William ButIer Yeats Byzantium em The collected poems Nova York Macmillan Ca 1959 p 244 33 Stanley Diamond In search of the primitive a critique of civilization New Brunswick Nova Jersey Transaction Books 1974 p 119 34 Ver Harry Bracken Essence accident and race em Hermathena 116 in verno de 1973 8196 35 George Eliot Middemarch a study 01provincial lije 1872 reimp Boston Houghton Mifflin ce 1956 p 13 36 Lionel Trilling Matthew Arnold 1939 reimp Nova York Meridian Books 1955 p 214 37 Ver Hannah Arendt The origine of totalitarianism Nova York Harcourt BraceJovanovich 1973 p 180 nota 55 38 W Robertson Smith Kinship and marriage in early Arabia ed Stanley Cook 1907 reimp Oesterhout N B Anthropological Publieations 1966 pp xiii 241 39 W Robertson Smith Lectures and essays ed John Sutherland Black e George Chrystal Londres Adam Charles Black 1912 pp 4923 40 Ibídem pp 492 493 511500 4989 41 Charles M Doughty Travels in Arabia deserta 2 ed 2 v Nova York Random House s d 1 95 Ver também o excelente artigo de Richard Bevis Spiritual 347 geology C M Doughty and the land of the Arabs em Victorian Studies 16 dez 1972 1638 42 T E Lawrence The seven pilars olwisdom a triumph 1926 reimp Gar den City Nova Jersey Doubleday Doran Co 1935 p 28 43 Para urna discussáo desse assunto ver Talal Asad Two European images of NonEuropean rule em Anthropology and the colonial eneounter ed Tala Asad Londres Ithaca Press 1975 pp 10318 44 Arendt Originsoltotalitarianism p 21S 45 T E Lawrence Oriental assembly ed A W Lawrence Nova York E P Dutton Co 1940 p 95 46 Citado em Stephen Ely Tabachnick Tbe two veils of T E Lawrence em Studíes in the Twentíeth Century 16 outono de 1975 967 47 Lawrence The seven pillars 01wisdom pp 423 661 48 lbidem pp 549 5502 49 E M Forster A passage to India 1924 reimp Nova York Hareourt Brace ce1952 p 322 SO Maurice Barres Une enquéte aux pays du Levant París Plon 1923 1 20 2 181 192 193 197 SI D G Hogarth The wandering scholar Londres Oxford Un1verslty 1924 Hogarth descreve o próprio estilo como sendo o de um aventurelro pnmeiro e de um estudioso em segundo p 4 52 Citado por H A R Gibb Strueture of religious thought in Islam no seu Studies on the cívílization 01Islam ed Stanford J Shaw e William R Polk goston Beacon Press 1962 p ISO 53 Frédéric Lefevre Une heure avec Sylvain Léví em Mémorial Sytvain Lévi ed Jacques BacotParis Paul Hartmann 1937 pp 1234 54 Paul Valéry Oeevres ed Jean HytierParis Gallimard 2 15567 SS Citado em Christopher Sykes Crossroads to Israel 1965 reimp Blooming ton Indiana Uníversity Press 1973 p 5 56 Citado em Alan Sandison The wheel 01 empíre a study 01 the imperial idea in some late níneteenth and early twentieth century fiction Nova York St Press 1967 p 158 Um excelente estudo do equivalente francés é o Astier Loutfi Líttérature et coloniaisme lexpansion coloniale vue dans la lltterature roma nesquelranvaise18711914 Haia Mouton Co 1971 57 Paul Valéry Variété Paris Gallimard 1924 p 43 58 George Orwell Marrakech em A colleetion 01essays Nova York Dou bleday Anchor Books 1954 p 187 59 Valentine Chirol The Occident and the Orient Chlcago Unl Verslty of Chl cago Press 1924 p 6 60 tie Faure Orient et Occident em Mercure de France 229 1 de julho a 1 de agosto de 1931 263 264 269 270 272 61 Fernand Baldensperger OU saffrontent IOrient et IOccident intellec tuels emÉtudes dhistoirelittéraire sérieParis Droz 1939 p 230 62 1 A Richards Mencius on the mind experiments in mutiple delinitions Londres Routledge Kegan Paul 1932 p xiv 63 Selected works 01 c Snouck Hurgronje ed G H Bousquet e J Schacht Leiden E J Brill 1957 p 267 64 H A R Gibb Literature em The legaey 01Islam ed Thomas Arnold e Alfred Guillaume Clarendon Press 1931 p 209 348 65 A melhor explanacáo geraI desse período em termos políticos sociais e eco nómicos é encontrada em Jacques Berque Egypt imperialism and revolution trad Jean Stewart Nova York Praeger Publishers 1972 66 Há urna proveitosa descricáo do projeto intelectual em que se baseava a obra deles em On four modern humanists Hofmannstñal Gundof Cartius Kantorowics ed Arthur R Evans Jr Princeton Nova Jersey Princeton University Press 1970 67 Erich Auerbach Mimesis the representation ofreality in Western íiterature trad Willard R Trask 1946 reimp Princeton Nova Jersey Princeton University Press 1968 e Lüerary íanguage and its pubic in late Latín Antiquity and in he Middle Ages do mesmo autor trad Ralph Manheim Nova York BoIlingen Books 1965 68 Idem Philology and Wetliteratur trad M e E W Said em Centennial Review 13 n 1 inverno de 1969 11 69 lbidem p 17 70 Por exemplo em H Stuart Hughes Consciousness and society the recons truction 01European social thought 18901930 1958 reimp Nova York Vintage Books 1961l 71 Ver Anwar Abdel Malek Orientalism in crisis em Diogenes 44 inverno de 1963 10340 72 R N Cust The International congresses of Orientalists em Hellas 6 n 4 1897 349 73 Ver W F Wertheim Counterinsurgency research at the turn of the cen tury Snouck Hurgronje and the Acheh war em Sociologische Gids 19 setdez 1972 74 Sylvain Lévi Les parts respectíves des nations occidentales dans les progres de Iindianisme em Mémorial Sylvain Lévi p 116 75 H A R Gibb Louis Massignon 18821962 em Ioumal01the Royal Asiatic Society 1962 pp 120 121 76 Louis Massígnon Opera minora ed Y Moubarac Beirute DarelMaaref 19633 114 Eu usei a bibliografia completa de Massignon compilada por Moubarac L oeuvre de Louis Massignon Beirute Éditions du Cénacle libanais 19723 77 Massignon LOccident devant lOrient primauté dune solution cultu reue em Opera minora 1 20823 78 Ibídem p 169 79 Ver Waardenburg L Islam dans le miroir de Occident pp 147 183 186 19221123 80 Massignon Opera minora 1 227 81 1bidem p 355 82 Extraído do ensaio de Massignon sobre Biruni e citado ern Waardenburg L Islam dans le miroir de lOccident p 225 83 Massignon Opera minora 3 526 84 lbidem pp 61O 85 Ibidem p 212 Ver também página 211 para outro ataque aos britanicos e páginas 4237 para a avaliaao que ele faz de Lawrence 86 Citado em Waardenburg L Islam dans le miroir de lOccident p 219 87 Ibidem pp 2189 88 Ver A L Tibawi Englishspeaking Orientalists a critique of their approach to Islam and Arab nationalism Part r emIslamic Quarterly 8 nS 1 2 jan jun 1964 2544 Part 11 em Islamic Quarterly 8 nS 3 4 juIdez 1964 7388 89 Une figure domine tous les genres de trabalhos orientalistasl ceBede Louis Massignon Claude Cahen e Charles Pellat Les études arabes et islamiques em Jour 349 nal asiatique 261 1 4 1973 104 Existe um levantamento bastante detalhado do campo islamicoorientalista em lean Sauvaget Introduction ti lhistoire de lOrient mu sulman éléments de bibliographie ed Claude Caben París Adrien Maisonneuve 1961 90 William Polk Sir Hamilton Gibb between Orientalism and history em InternationaI JournaI 01 Middle East Studies 6 n 2 abr 1975 1319 Usei a biblio grafia da obra de Gibb que se encontra em Arabic and IsIamic studies in honor of Ha milton A R Gibb ed George Makdisi Cambridge Massacbusetts Harvard University Press 1965 pp 120 91 H A R Gibb Oriental studies in the United Kingdom em TheNear East and the Great Powers ed Richard N Frye Cambridge Massachusetts Harvard Uni versityPress195l pp 867 92 Albert Hourani Sir Hamilton Gibb 18951971 em Proceedings of the British Academy 58 1972 504 93 Dunean Blaek Maedonald The religious attitude and life in Islam 1909 reímp Beirute Khayats Publishers 1965 pp 211 94 H A R Gíbb Whither Islam em Whither Islam A survey of modem movements in the Moslem world ed H A R Gibb Londres Victor Gollanez 1932 pp 328 387 95 Ibidem p 335 96 Ibidem p 377 97 H A R Gibb The influenee of Islamic culture on medieval Europe em John Rylands Library Bulletin 38 n 1 set 1955 98 98 H A R Gíbb Mohammedanism an historical survey Londres Oxford University Press 1949 pp 2 9 84 99 Ibídem pp 111 88 189 100 H A R Gíbb Modem trends in Islam Chicago Uníversity of Chicago Press 1947 pp 108 113 123 101 Os dois ensaios podem ser encontrados em Studies on the cisilizations of Islam de Gibb pp 176208 333 102 R Ernrnett Tyrell Ir Chimera in the Middle East em Harpers nov 1976 pp 358 103 Citado em Ayad alQazzaz Ruth Afiyo et alii The Arabs in American textbooks California State Board of Education jun 1975 pp lO 15 104 Statement of purpose em MESA Bulletin 1 n 1 maio 1967 33 10S Morroe Berger Middle Eastem and North African studies developments and needs em MESA Bulletin 1 n 2 nov 1967 16 106 Menachem Mansoor Present state of Arabic studies in the United Sta tes em Repon on current research 1958 ed Kathleen H Brown Washington Middle East Institute 1958 pp 556 107 Harold Lasswell Propaganda em Encyclopedia of the social sciences 1934 12 527 Devo esta referencia ao professor Noam Chomsky 108 Marcel Proust The Guermantes way trad C K Scott Moncrieff 1925 reimp Nova York Vintage Books 1970 p 135 109 Nathaniel Schmidt Early Oriental studies in Europe and the work of the American Oriental Society 18421922 em Joumal of the American Oriental Society 43 1923 11 Ver também E A Speiser Near Eastern Studies in America 193945 em Archiv Orientalni 16 1948 7688 110 Como um exemplo podeser ver Henry Jessup Fiftythree years in Syria 2 v Nova York Fleming H Revell 1910 350 111 Para a conexao entre a Declaracao de Balfour e a pollti d Estados U d D 1 lea e guerra dos dres Cox Palestinepapers 19171922 seeds ofconflict Lon N 112 Mortimer Graves A cultural relations poliey in the Near East Th ear East and the Great Powers ed Frvepp 76 78 em e 113 George Camp Kelser The Middle East Institute its i ce In American international studies em Th No E d s mception and its pla pp OO 84 e ear ast an the Great Powers ed Frye 114 Para um relato dessa mígracá Th 1 America 19301960 ed Donald Flemin aOBver e lectual Europe and Harvard Universíty Press 1969 g e ernard Bailyn Cambridge Massachusetts 115 Gustave von Grunebaum M d JI Nova York Vlntage Books 1964 pp SS s am the search for cultural identity miroir études íslamiques lIslam au a LOgene u set 1973 30 Este ensaio parece em The crisis ofthe Arab inteüectuoís traditionalism or ñístoricísm d autor trad Diarmid Cammell B k I U o mesmo er e ey mverstty of California Press 1976 117 David Gordon Selfdetermination and history in the Third Wo Id P ceton Nova Jersey Princeton University Press 1971 r nn 118 Larou Pour une méthodologie des études islamiques p 41 119 Manfred Halpern Middl E with f 1 e ast studies a review of the state of the field a ewexamples em World Politics 15out 1962 1212 120 Ibídem p 117 121 Leonard Binder 1974 presidential address em MESA Bulletin 9 o 1 fev 1975 2 n 122 Ibidem p S 123 Middle East studies network in the United States emMERIPR 38 Jun 1975 5 eports Ho 124 As resenhas críticas da Cambridge history sao as de Albert uram The Englísh Hístorícal Review 87 n 343 abr 1972 34857 d R Owen Journal oflnterdisciplinary History 4 n 2 outono de 1973 28798 e e oger A P M Bolt Introducáo The Cambridge history of Islam ed P M Holt nne Lambton e Bernard Lewis 2 v C brideev Cambri 19701 xi am n ge Cambndge University Press Holt et The Abbasid caliphate em Cambridge history 01Islam ed 127ZNZeineTheArabl d C alii 1 575 an s em ambridge history ofIslam ed Holt et 128 Dankwart A Rustow The political impact of the West history ofIslam ed Holt et alíl 1 697 em Cambridge 129 Citadoem Ingrams Paíestíne papers 19171922 pp 312 130 Robert Alter Rhetoric and the Arab mind e pp 61 85 O d em ommentary out 1968 ar 190 e Alter é urna resenha adulatória d A b general Harkabi 1erusalém Keter Press 1972 ra attltudes to Israel do 131 Gil Carl Alray Do the Arabs want peace e pp 5661 em ommentary fev 1974 132 Roland Barthes Mythologies t d A Wang 1972 pp 10959 ra nnette Lavers Nova York HilI 351 133 Raphael Patai Golden river to golden road society culture and change in I he Middle East Filadelfia University of Pennsylvania Press 1962 ed rev 1969 p406 134 Raphael Patai The Arab rnind Nova York Charles Scribners Sons 1973 Paraurna obra ainda mais racista ver John Laffin The Arab mind consídered a needfor understanding Nova York Taplinger Publishing Co 1976 135 Sania Hamady Temperament and character of the Arabs Nova York Twayne Publishers 1960 p 100 O livro de Hamady é uro dos favoritos entre os israe lenses e os apologistas de Israel Alroy o cita com aprovacáo bem como Amos Elon em The Israelis founders and scns Nova York Holt Rinehart Winston 1971 Morroe Berger Iver nota 137 mais adiante também a cita com freqüéncía O modelo dela é o livroManners and customs of the modem Egyptíans de Lane mas ela nao tem nada da cultura ou instrucáo geral deste 136 A tese de Halpern é apresentada em Four contrasting repertories of hu man relations in Islam two premodem and two modero ways of dealing with continuity and change collaboration and conflict and the achieving of justice texto apresentado a Conferencia do Oriente Próximo na Universidade de Princeton sobre Psicologia e Estudos do Oriente Próximo no dia 8 de maio de 1973 O tratado foi antecípado por A redefinítion of the revolutionary situation de Halpern em Ioumal of Incematíonai Affaire 23 n 1 1969 5475 137 Morroe Berger The Arab world today Nova York Doubleday Anchor Books 1964 p 140 Urna grande quantidade de implicacóes do mesmo tipo está subja cente aobra desajeitada de quasearabistas como Joel Carmichael e Daniel Lerner en contrase também de modo mais sutil em estudiosos políticos e históricos como Theo dore Draper Walter Laqueur e Élie Kedourie É fortemente evidente em obras grande mente respeitadas como Population and socíety in the Arab East de Gabriel Baer trad Hanna Szoke Nova York Frederick A Praeger 1964 e State and economías in the Middle East a society in transition Londres Routledge Kegan Paul 1955 de Alfred Conné O consenso parece ser se os árabes pensam pensam diferentemente ou seja nao necessariamente fazendo uso da razáo e muitas vezes sem ela Ver também o estudo RAND de Adel Daber em Current trends in Arab intellectual thought RM5979PF dez 1969 e a sua típica conclusáo segundo a qual a abordagem concreta de resolucáo de problemas está conspicuamente ausente do pensamento árabe p 29 Em um en saioresenha para o Joumal 01 Interdisciplinory History ver nota 124 acima Roger Owen ataca a própria nocáo de isla como um conceito para o estudo da história O foco dele é a Cambridge history 01 Islam que segundo ele de certo modo perpetua urna idéia do isla que pode ser encontrada em escritores como Carl Becker e Max Weber definido essencialmente como uro sistema religioso feudal e antíracíonal que carecia das características que tornaram possível o progresso europeu Para urna prova corro borada da total imprecisáo de Weber ver Islam and capítalism de Máxime Rodinson trad Brian Pearce Nova York Pantheon Books 1974 pp 76117 138 Hamady Character and temperament p 197 139 Berger Arab world p 102 140 Citado por Irene Genzier em Frantz Fanon a critical study Nova York Pantheon Books 1973 p 94 141 Berger Arab world p 151 142 P1 Vatikiotis ed Revolution in the Middle East and other case studies proceedings ofa seminar Londres George ABen Unwin 1972 pp 89 143 Ibidem pp 12 13 352 I 144 Lewis Islamic concepts of revolution em ibidem pp 33 389 O estudo de Lewís Race and color in Islam Nova York Harper Row 1971 expressa um desafeto semeIhante com um ar de grande cultura mais explicitamente político mas nao menos ácido é o seu Islam in history ideas men and events in the Middle East Londres Alcove Press 1973 145 Bernard Lewis The revolt of Islam em The Middle East and the West BIoomington Indiana University Press 1964 p 95 146 Bernard Lewis The return of Islam em Commentary jan 1976 p 44 147 Ibidem p 40 148 Bernard Lewis History remembered recovered invented Princeton Nova Jersey Princeton University Press 1975 p 68 149 Idem Islam in history p 65 150 Idem The Middle East and the West pp 60 87 151 Idem Islam in history pp 656 152 Publicado originariamente em Middle East Journal5 1951 Parte da coleo tánea Readings in Arab Middle Eastem socíetíes and cultures ed Abdulla Lutfiyye e Charles W Churchíjl Haia Mouton Co 1970 pp 688703 153 Lewis The Middle East and the West p 140 154 Robert K Merton The perspectives of insiders and outsiders no seu The sociology 01scíence theoretical and empírical investígations ed Norman W Storer Chicago University of Chicago Press 1973 pp 99136 155 Ver por exemplo a recente obra de Anwar Abdel Malek Yves Lacoste e outros autores de ensaios publicados em Revíew 01 Middle East Studies 1 and 2 Lon dres Ithaca Press 1975 1976 as várias análises da política do Oriente Médio feitas por Noam Chomsky e os trabalhos do Projeto de Pesquisa e Iníormacño do Oriente Médio MERIP Urna boa visác é dada em De Límpérialísme ti la décolonisation de Gabriel Ardant Kostas Axelos Jacques Berque et alii Paris Éditíons de Minuit 1965 353 ÍNDICE REMISSIVO 1 Abas 1do Egito 193 abássidas 307 Abde1 Malek Anwar 106 114 118 329 331 338339349 abraámicas religi5es 269 271 2724 Abrams M H 124 339 341 AbuLughod Ibrahim 337 339 346 Account ofthe manners and cussoms o tñe mod en egyptíans An Lane 1920 26 35 96 121216673 176 178 179 191245344 352 acurnulaeñn disciplina orientalista de 132 1734 Adanson Michel 126 Adieux de lhótesse atabe Hugo 110 Adventures o Hai Baba of Ispañan Morier 200 África africanos 412 46 478 51 57 93 100 102 108 113 117 129 2167 222 224 232 257280298302308318 África do Norte JO 62 83 lOB 199 216 224 229 231 282 2923 299 308 309 Ahmed xeque 1689 Alemanha 13 2930 35 62 80 108 109 138 145 199 214 218 231 244 250 261 Alexandre o Grande 68 89 93 176 Alexandria 901 250 Alianea para O Progresso 117 almehs 194 Alroy Gil Carl 312 351 Alter Robert 311 351 Althusser Louis 27 333 Ameromantiqueetleréve LBéguin 110 American power and the new mandaríns Chom sky333 anatomía comparativa 24 SO 53 127 filosó ficae lingüística 148 150 1513 237 Ancient and modern imperialism Cromer 219 346 355 Andaluzia 308 Anniversary discourses Jones 144 AnquetilDuperron AbrahamHyacinthe 33 6185689126131257 antisemitismo 39 1078 142 14950 1534 1578 159 200 23740 243 267 290 321 2340 antropocentrismo 107 118 Aphrodite Loujs 214 Arab ettitudes to sraelHarkabi 311 351 Arab mind The Patai 314 352 Arab rediscovery 01 Europe AbuLughod 337 346 Arab world roday The Berger 338 352 árabe idioma 523 60 62 74 83 86 91 92 105613231351367151167172 173 4 186 189 203 216 244 260 273 292 2963153193245326335352 Árabe Revolta 244 248 253 árabeisraelenses guerras 289 2989 árabes SeU sobre os 2357 Caussln de Perceval sobre os 15661 ciencias scciais sobre os 1178 2927 3245 Cromer sobre os 4651 entidade coletiva para os ocídentais 236 23940 2423 257 265 267 2903 3014 30530931063213325 352 Glidden so bre o sistema de valores dos 59 identidade sexual para o Ocidente 31520 Lawrence so bre os 2356 244 2479 253 Ockley sobre os 845 Sale sobre os 127 Smith sobre os 2413 vísao contemporánea politizada dos 38 1168 28993 3078 31026 3513 vi sao empobrecida de Gibb dos 2823 v tb isla Oriente Próximo Arabi Ahmed 45 47 178 230 Arábia 28 73 106 167 230 2412 292 307 Arábia Saudita 327 Arabs in American textbooJcs The 292 350 Arabischen Studien in Europa bis in den des 20 Iahrhunderts Die Filck 28 333 335340 Arberry A J 87 337 343 344 Arqueologia do saber Foucault 15 340 345 área estudos de 14 63 1167 260 280 300 3045329 Area studies reconsidered Gibbl 116 280 335338 Arendt Hannah 246 347 348 Argélia 224 306 329 arianismo 73 75 845 arianos 108 213 2389 267 273 276 Ariosto Lodovico 73 Aristóteles 78 Amaldez Rcger 270 Amold Matthew 26 154 234 Amold Thomas 230 348 Asia and Western dominance Panikkar 17 333 Assad ThomasJ 202 345 Atala Chateaubriand 181 186 Atenas 64 66 67179190 atitude textual 102 em Bouvard et Pécuchet 124 197 em Cambridge history 01 Islam 30910 desiluslo ccm o Oriente moderno 110 112 dialética de reforce na 103 no orientalismo 1034 165 197 transicño da para a prática administrativa lOS 217 2292445252259 Attitudes towards Jewish suuehood in the Arab worldAlroy312 Auerbach Erich 2634 265 266 267 349 Avenir de la scesce L Renan 141 153 340 342 Averróis 78 79 113 Avesta BS6 v tb ZendAvesta avésticoidioma 61 856 Avicena 78 79 Bacantes As Euripedes 667 336 Bachelard Gasten 65 335 Bacon Roger 80 Badaliya Innandade 272 Baldensperger Fernand 259 348 Baifour Arthur James íorde 416 48 4951 56 57 59 87 102 105 106 1145 250 256310334 Baifour Declaracño 299 321 3501 Ballanche Pierre Simon 155 Balzac Honoré de 25 140 148 152 340 341 342 Bandung Conferencia de 114 308 Berbérie piratas da 295 298 Baring Evelyn ver Cromer Barres Maurice 1092501348 Barthes Rcland 278 313 351 Baudelaire Charles 188 Baudet Henri 84 3367 Becker Carl Heinrich JO 113 2156 300 338 352 Beckford William 34 111 128 Beda 71 80 Béguin Albert 110 Beirute 13 190 Bell Gertrude 204 230 231 2357 241 243 244251 347 Benjamín Walter 24 62 333 Bentham Jeremy 221 Berger Morroe 2924 315 316 338 350 352 Bergson Henri 41 271 Berlín sir Isaiah 7980 336 339 Berque Jacques 270 271275 331348353 Bertrand conde HenriGratien 90 Bevan Anthcny 230 BhagavadGita 87 Bíblia 102 e envolvimento ocidental com o Oriente Próximo 68 83 178 265 e idéia de peregrinacño 176 182 e idéía romántica de regeneracáo 1234 como provincia orienta lista 156 61 73 745 BS6 185 e secula rizaAo do século XVIII 129 1445 Bibliotheque orientale DHerbelot 737 801 84336 biologia e política 31213 e classificacáo racial 213423740 tipos em 1289 152 237 342 Biology 01 British poíítícs The Harvey 239 Blumenbach Johann Friedrich 129 Blunt Wilfrid Scawen 202 243 334 Bopp Franz 29 107 124 142 144 145 148 238 Bordeaux Henri 178 344 Bcrges Jorge Luis 271 Bornier visconde Henri de 99 Bossuet Jacques Bénigne 133 134 Bougainville LouisAntoine de 126 Bounoure Gabriel 271 Bouvard et Péeuchet Flaubert 1226 131 142 lBS 197 339 Bracken Harry 25 333 347 Brahma 158 bramanismo 85 Bremond Edmond 231 347 Brockelmann Carl 30 Broglie AchilleCharlesLéonceVictor duque de 133 136 340 Brosses Charles de 126 Brcwne Edward Granville 230 Browning Robert 29 Bruneau Jean 188 345 Brunetiere Vincent de PaulMarieFerdinand 262 Buchan Jchn 256 budismo 129 238 264 Buffon conde GeorgesLouis Leclerc de 95 128 Bunsen Comité 227 Burchard de Monte Silo 80 Burckhardt Jacob 105 168 2145 Burke Edmund 86 Bumouf Eugene 107 108 142 Burton sir Richard 31 35 61 967 109 112 200 229 241 291 345 absorve sistemas orientáis de comportamento e de crenca 202 4 coexistencia de individualismo e imperia lismo em 202 203 2045 230 251 comba tividade de 2012 203 comparado a Lane 167 1789 2012 como estudioso 2012 2034 a meio caminho entre a objetividade orientalista e a estética pessoal 166 167 1789 201 e o Oriente definido pela posse material 177 217 e a sexualidade do Orien te 198 Butor Michel 190345 Byron George Gordon lorde 34 42 109 111 128 175 200 Bizáncíc BS200 Byzantium Yeats 236 347 Cabanís PierreJeanGeorges 123 Cabet Étienne 124 Cedemos do eárcere Gramsci 367 334 Caglíostro conde Alessandro di 97 160 Cahíers du mcis Les 255 Caíro 91 1112 178 189 190 201 230 299 321 caldeusseital226 Calila e Dumna 135 Caliphate its ríse decline and fallo The Muir 159 califado de Córdoba 319 califados árabes 83 286 307 Cambridge history 01 Islam The ed Hclt Lambton e Lewis 73 118 288 30610 336 351 Campagnes dEgypte et de Syrie 17981799 Na poleáo 90 337 Camus Albert 317 CandideVoltaire102 CarJyle Thomas 26 105 1601 234 343 Oamets de voyage Flaubert 188 Cartago 179 182 lBS 193 Cessírer Ernst 156 343 Catafago Joseph 178 Causstn de Perceval ArmandPierre 155 159 60 237 252 343 Cecil Robert Arthur Talbot Gascoyne lorde Sa lisbury 41 51 Centenary volume of the Royal Asiatic Society ed Pargiter 88 337 344 Centro de Estudos do Oriente Médio Harvard 116279300 César Júlio 67 93 Cervantes Saavedra Miguel de 73 102 Champollion JeanFramois 29 130 145 148 9178 Chanak Tratado de 199 Oñanson de Roland 71 73 80 Chapters on the principies of international law Westlake213 CharlesRoux F J 96 Charmes Gabriel 225 Chateaubriand FranoisRené visconde de 13 301 90 96 109 110 124 144 189 200 344 e a autorealizaAono Oriente 179 180 1 exemplifica a estética pessoal no orienta lismo 176 1789 1801 1823 184 em Je rusalém 182 justifica a conquista do Orien te 180 e natureza citacionária do orientalis moI845 Chaucer Geoffrey 42 Chew Samuel 70 336 Chicago Vniversidade de 114 258 300 Cñiméres Les Nerval 188 China 13212852576169 72823 100 1171261271291481732567259269 289298 Chirol Valentine 258 348 Chomsky Noam 22 333 350 353 Chrestomathie arabe Sacy 19 135 137 288 340 ciencias sociais 329 eurocentrismo das 107 118 interdisciplinária com o orientalismo 116730910 sobre o Oriente Próximo 292 7 tipos nas 2646 e tradiAo de autori dade sobre o Oriente 301 589 117 118 28929272001325 Citizen ofthe woríd The Goldsmith 126 classicismo da Alta Renascenca 61 comparado ao alcance do orientalismo 60 no interior do orientalismo 62 88 945 1012 270 do orientalismo em relacáo ao Oriente moderno 8889 1012 1078 211 214 229 238 239 240246266 3045 sornado por Massignon as torcas vitais do Oriente 2701 classíñcacao 23740 243 267 das línguas 144 145 1489 1512 1734 233 2378 267 273 dos tipos fisiológicos e morais 1289 2334 Claudel Paul 258 271 ClermontGanneau Charles 178 Clot AntoineBarthélemyClot Bey 193 Colebrooke Henry Thomas 88 Coleridge Samuel TayJor 29145341 356 357 Colet Louise 194 College de France 133 147 254 275 Columbia College 292 Colombo Cristovác 68 comédie humaine La Balzac 25 152 341 Comité de IAsie Praneaise 226 Comité dOrient 226 Commentary 311 321 338 351 353 Committee of Concerned Asia Scho1ars 3056 Compagnie Uníverselle 99 Comte Auguste 123 124 234 comunismo 117 283 299 Conceltcs islámicos de revolucáo Lewis 319 20352 Conde Roberto de París Scott 200 Condorcet marques de 155 Contacto 79 congresso orientalista prirneiro 216 266 Connaíssence de lEst Ciaudel 258 Conrad Joseph 194 198 207 248 346 Conselho de Pesquisa de Ciencias Sociais 293 Considérations sur la guerre actuelle des turcs Volney90 Constant Benjamin 145341 Conto do califa Hakim Nerval 190 Conto da rainha da manhá O Nerval 190 controferentia 71 129 Cook James 126 Cook Thomas 978 Corso 701 73 75 789 91 106 127 159 160 168179242292306 Cournot AntoineAugustin 123 Cousin Victor 123 142 155 Crescent and the cross The Warburton 202 Crescent and the rose The Chew 70 336 Cressaty conde de 231 347 Cri de guerre du muftí Hugo 175 Criméia Guerra da 161 cristianismo ameacado pelo isla 6970 83101 109 265 2723 335 como história sagrada 74 144 imagem medieval do isla do 69 74 e imperialismo 109 323 importancia das línguas semíticas para o 83 impulso secular pósIluminismo do 124 12930 131 133 143147162166176180212 Lamartine e o 185 Massignon e o 113 216 2512 269 271 2734 275 276 277 minorias no Oriente 199 224 226 272 283 308 orien talismo e exigencias do 76 1001 Renan e 014341471491541553401 Cromer Evelyn Baring lorde 220 334 346 conhecimento de 48SO 56 57 59 lOS 106 1145 229 250 posirao no Egito 456 489 229 234 reflete atitudes espaciais para com o Oriente 218 sobre o contIole social do conhecimento 545 sobre as racas subju gadas 4650 51 54S 105 180219 Crozier John B 239 Cruzadas 6884 110 176 1778 180 200 cultos dionisíacos 667 Culture and socíety J 780J950Williams 334 Curtin Philip D 343 346 347 Curtius Ernst Robert 263 264 266 267 Curzon George Nathaniel lordc 21922 235 346 Curzon Robert 202 Cust Robert Needham 2667 349 Cuvier baráo GeorgesLéopoldChrétienFrédé rlcDagobert 25 133 141 ISO 151 152 155 161 213 342 Dacier Joseph 133 l35 340 Damasco 235 247 248 Dampier William 126 Daniel Norman 701 336 339 Daniel Deronda Eliot 177200 Dante 1457798182105132185217253 Dark reces ofman The Knox 213 Darwin Charles 34 213 2334 239 De la religion Constant 145 De lingua latina Varro 153 Decline andfall ofthe Roman Empire TheGib bon 83 336 Défrémery Charles 178 Dehérain Henri 337 340 Delacroix FerdinandVictorEugéne 128 Deodoro Sículo 182 Departamento de Estudos do Oriente Próximo Princeton 292 Depping Guillaume 224 Descríptíon de lEgypte 53 923 946 104 1121678176288337 Descriptíon de tEgypte Le Mascrier 923 Destutt de Tracy conde AntoineLouisClaude 123 Deutsche Morgenlándische Gesellschaft 53 Dezoito brumário de Luís Bonaparte Marx 33 142 Dialogue des morts Fénélon 79 Dialogues philosophiques Renan 155 Dictionnaire des iáées recaes Flaubert 193 197 Didascaíicon Hugo of St víctcr 264 Diderot Denis 128 Discoveries in the ruins 01 Nineveh and Babylon Layard202 discurso contribuieáo da literatura imaginativa para o orientalista 145 1089 definirao de 104 doxologia do orientalista 131 fi lólogo 147 1545 156 do ocidental 36 1034 e formas de poder 24 332 Fou caulr sobre o 15 104 impacto histórico do orientalista 1045 como ímpe rial 105 mítico 3156 325 o orientalismo como 14 15 18 24 326 812 89 956 104 1089 1302 1389 145 164 170 20712 217 228 237 3156 3256 orien talismo latente no interior do europeu 212 227 a pericia como urna nova forma de orientalista 2445 questóes metodológi cas no interior do orientalista 130 133 1363067 Renan solidifica o orientalista 139 como representaeáo 334 802 2779 supera o escritor individual 1034 209 277 tipología no orientalista 23640 vocabu lário do orientalista 51 54 70 802 100 130 136 236 325 Von Grunebaum como exemplo do orientalista 3012 Disraeli Benjamín primeirc conde de Beacons field 173154 109 1112 165 174 177 200223 Divina comédia A Dante 779 Don Juan Byron 185 Dom Quixote Cervantes 102 Oonato Eugenio 342 Doughty Charles Montagu 109 179 202 229 241243347 Douleur du pacha La Hugo 175 Doumer Paul 231 Dozy Reinhardt 108 156 drusos 29 111 135 199 200 Dryden John 42 Dugat Gustave 62 335 342 Durkheim Émile 264 271 Eban Abba 275 École publique des langues orientales 92 Education sentimentale L Flaubert 194 Egito atitudes para com franceses e ingleses 2189 e o canal de Suez 979 Champcllion e 0130 145 1489 178 Chateaubriand so bre o 182 como colonia inglesa 23 28 30 14188589909697 177 201 2179 226 22930 258 262 334 cultura européia de intelectuais no 3278 depois de 1948 118 ínvesao napoleónica do 334 53 85 899798 131 145 152 165 Lane sobre o 263596167721745184 nacionalismo no 42 456 47 49 178 229 262 3201 ponto focal do orientalismo 93 v lb isla Oriente Próximo Eichhcrn Johann Gottfried 29 Eliot George 26 2930 109 177 200 238 347 Eliot T S 258 Encyclopedia 01 Islam The288 Engels Friedrich 107 Enquéreauxpays du Levam Une Barres 250 348 Ensaio terminal Burton 203 345 Eothen Kinglake 201 345 Erchembert 70 Erpenius Thomas 61 75 erudícáo bíblica impulso para o orientalismo de 29 30 61 856178209295 orientalista e os agentes individualistas do imperio 2015 230 2434 e a atitude comparativa 1579 campo de arao da 603 946 1012 1078 1267 1445 173 198 210 216 categorías originais da 23841 243 codificacáo da 868 136 1967 coer czes socioculturais sobre a 2078 conexóes da com os estudos humanísticos do pe riodo entre as guerras 263 265 266 267 denominecác geográfica da 60 326 disse minarao da 163 198 2278 filologíae raca na IOB 142 14950 1534 156 1578 213 4 23740 foco sobre os periodos c1ássicos 62888910122112382393045 iden tidade cumulativa da 132 1734 176 208 921672278 imagem de espelho na 215 e a ínvesao napoleónica do Egito 8896 104 lexicografia da 267 74 130 163 171 172 174 20910 e objeto de estucos rebaixa dos 1056 2345 240 323 papel da no mundo póscolonial 280 32932 patrocina o colonialismo 4950 51 8990 946 1036 109 210 223 como pretensa partlcipaeáo no Oriente 1689 171 programas institucio nais da 1723 198 relacác hermenéutica da com O Oriente 228 261 summa ortodoxa da 30610 3523 supcsícees latentes da 2117 tornase atitude instrumental 2445 2522592902945325 unidade na 2167 verdade na 20910 277 324 vitória de Burton sobre a 2012 203 204vocabulário de poder e aquisicáo na 136 168 v tb dis curso pericia orientalista orientalismo filo logia Escola de Atenas A Rafael 79 Escola de Estudos Orientais e Africanos da Uni versidade de Londres 220 espaco 6517521720226240 Espanha 13 29 69 83 91 102 308 319 Ésquilo 145 32 667 249 335 Essai sur tñistoire des arabes avant I islamisme Caussin de Perceval 159 343 Essai sur linégalité des reces humaines Gobi neau 213 343 Estados Unidos ascendencia dos no Oriente 16 223 29 367 114 116 2945 2978 confianra orientalista dos 569 117 expe riencia limitada dos coro o Oriente antes 358 359 360 r da Segunda Guerra 2945 herda a tradícao orientalista 18 579 117 269 279 288 2908 299307 31225 3268 3501 ideal de erudicáo pura nos 21 245 identidade geopolítica dos coro reíacjc ao Oriente 223 interesse dos na cotcníeacao sionista da Palestina 299 3501 mundo árabe saté lite dos 3269 e o orientalismo 18 23 24 262783753 papel do no Oriente Pró ximo 14 378 299300 325 3279 percep cao do Oriente dos 13 14 223 37 117 258 peregrinos ao Oriente dos 199 345 qualidade imperialista do conhecimento nos 2232973003267 328 releczes cuiturais dos coro o Leste 298306 e o Terceiro Mundo 567 1134 1167 326 Estrutura nacional e política externa Kissin ger56 Estrutura do pensamento religioso no isla A Gibb 288 348 Estudos do Oriente Médio e da África do Nor te desenvolvimentcs e necessidades Ber ger 292 3SO Euripedes 667 3356 eurccentrismo 107 118 Europa ascendencia da na Renascenea 19 a Ásia regenerará a 1235 autoconsciéncía social da 204 colonialismo da no Orien te 134 15 19 23 26 289 41SO 51 96 1012 1045 109 165 1978 202 2314 217218222233123242389251256 726132745283 e o conhecimento imagi nativo do Oriente 658 6977 801 deva neio do Oriente na 62 82 digere o Oriente 256 torca em reíacsc ao Oriente 1517181922436424 SOI 54S 67 708128788947 1012 104 113 117 8126 149SO158 1601 1645 168 2001 2042101233524325225343134 he gemonia cultural da e orientalismo 1820 23 36 946 e a metamorfose na apropríacac do Leste 2178 e as minorias no Leste 199 raízeslingüísticas da 878 1078 145 e a re presentecao do Oríente 135 167 19 278 314 SOl 657 7083956 1078 1108 200120927692879 3156 secclerízacao da 1236 12932 1445 1467 e a sexuali dade do Leste 1978 31620 transcendente para o objeto orientalista 1067 traumado isla para a 6972 823 utílízacác cultural do orientalismo pela 15 1367 1567 161 Valéry sobre o papel da 156 v tb imperia lismo orientalismo nomes dos países Fabre dOlivet Antoine 96 Failal27S Falanges Libanaises 308 Fashoda incidente de l898 41 Faure llie 2589 348 Fauriel Claude 155 Fénelon Francois de Salignac de La Mothe 79 Fenollosa Emest Francisco 258 Filles dufeu LesNerval 187 344 filologia caráter científico da 334 SO 84 107 108 130 131 139 140 1412 143 146 147 148 ISO 1547 158 342 central para o co nhecimento moderno 1412 concomitante racial da 108 142 149SO 1534 1567 158 2334 2378 contríbuicóes de Jones para a 878 107 e a degredacac dos tipos biológica 1524 descobre o fenómeno hu mano da linguagem 1445 disciplina com parativa 127 139 141 149 ISO 151 161 como tcrmacsc estratégica do interior do orientalismo 312 62 1078 Nietzsche so bre a 1401 pcsícsc fraca no orientalismo americano da 296 325 revitalizada nos anos entre as guerras 263 2667 revotucac na 107 161 FitzGerald Edward 63 200 Flandin Étienne 231 Flaubert Gustave 23 35 104 152 167 200 205207229237250295339342345 e a alternativa visionária 193 sobre as ambicóes inglesas no Egito 201 associa Oriente e sexo 1958 313 e a busca de urna terra natal 188 sobre o ciclo burgués de en tusiasmo e desilusáo 1223 coacóes orienta listas sobre 54 1845 1967 detalhe em 26 1934 como exemplo de genero imaginativo no orientalismo 20 63 967 1089 1112 1651671767 178 1879 1928 impoten cia distanciada de 196 independencia em retacac ao orientalismo 1889 1967 198 199 e a mulher oriental 178 188 1945 214 o Oriente respondendo perversOes em 1878 192 revivalismo oriental de 193 sati riza a vísac global e reconstrutíve 1235 131 197 e SUPOSÍlOCS do orientalismo la tente 212 como viajante 1934 Rauta mágica A Mozart 127 Ford Pundecao 300 Forster E M 109 249SO253 348 Foucauld Charles de 271 Foucault Michel 15 26 345 104 128 139 144 196 339 341 342 345 347 Fourier FrancoisMarieCharles 123 Fourier JeanBaptisteJoseph 40 934 95 337 Franca e o canal de Suez 97100 concorréncia colonial com a Inglaterra 51 85 177 199 2179221 2237 2301 250 na India 85 indústria orientalista na 198 e a influencia dos seus interesses no Extremo Oriente sobre os interesses no Oriente Próximo 29 mcvi mento geográfico na 2237 346 peregrinos orientais originários da 17798 prioridade no orientalismo 132893161273785 690927 107 113 1328 13957 1678 173 17784 18598 243 250 251 2546 26977 301 como representante da espiri tualidade no Oriente 250 269 2756 tra dilao orientalista da comparada a ingle sa 231 250 2687 v tb Napcleáo 1 FrancoPrussiana guerra 18701 2234 Franklin Benjamin 86 FranklinBouillon Henry 231 Frazer sir James George 154 Fück Johann W 28333335340346 Fundgraben des Orients 534 Galland Antoine 735 336 Gardet Louis 309 Garnier Francis 224 Gautier Théophile 109 110 188 Geertz Clifford 330 Génie des religions Le Quinetl 88 146 335 337 Génie du christianisme Le Chateaubriand 181 Geoffroy SaintHilaire Étienne 25 95 ISO 151 15233373423 Geoffroy SaintHilaire Isidore 150 152 3423 geografia comercial 224 dominada pelo im perialismo 105 217 219 elaboracáo orien talista da 24 60 63 735 86 87 945 134 S 173 2072213 feíta pelo homern 167 forma de determinismo racial 309 imagina tiva e arbitrária 645 678 77 80 82 86 105 208 309 De Lesseps transcende a 97 102 e projetos orientalistas 97102 e rela com o conhecimento 635 95 222 tor nase ciencia cosmopolita 2216 227 e vísac essencialízadora do orientalismo 118 252 308 309 GiaourByron175 Gibb sir Hamilton A R 23 63 111 1167 2522632672963353383483493SO abstrecso metafísica de 2838 comparado a Massignon 2512 269 2701 272 279 280 figura dinástica 280 300 influencias sobre 2812 288 sobre Massignon 26970 288 sobre a mentalidade árabe 1145 sobre a necessidade ocidental do Oriente 2613 opeese ao nacionalismo no Oriente Próximo 268 2834 papel nas políticas públicas de 116726326892801300 Gibbon Edward 65 69 83 126 129336 Gide André 198 2S5 361 Gilson Éñenne 25960 Girardin SaintMarc 223 Glidden Harold W 589 312 335 Gobineau JosephArthur conde de 1920 108 158 213 234 343 Goetbe Johann Wolfgang von 31 34 61 109 110128152 162 164 166 175 262 337 342344 Golden river togolden roadPatai 313 352 Goldsmith Oliver 126 Goldziher Ignaz JO114 216 Gclíus Jacobus 74 Gordon Charles George 41 Gordon David J02 348 Governo das racas subjugadas O Cromer 54 Gramsci Antonio 189 22 26 367 334 Graves Mortimer 299 351 Graves Robert 249 Grécia 62 668 77 86 97 1067 113 185 215256 285 309 Grimm Jakob 107 Grousset René 68 336 Grunebaum Gustave von 114 3003 309 351 Guerra Fria 296 300 324 Guibert of Nogent 80 Guilherme de Trípoli 80 Guizot FraneoisPierreGuillaume 155 Gundolf Friedrich 263 Hafiz 175 Hallaj Mansur al 113 252 269 271 2734 2767 Halpern Manfred 315 351 352 Hamady Sania 314 316 352 Hamann Johann Georg 127 Hariri Abu Muhammad alQasin al 135 Harkabi Yehoshafat 311 312 351 Harun alRashid 308 Harvard Universidade 116279300 Harvey Charles 239 hassánidas 307 hashemitas251 Hastings Warren 87 Hay Denys 19 333 336 Hayter Relatórío 63 Heart ofdarkness Conrad 207 222 346 hebraico 334 60 62 83 86 108 132 137 144147151296335 Hégira Goethel 175 Heisenberg werner 272 Hejaz 231 241 243 helenismo 61 86 136 138 e o isl 83 113 215309 Herbelot de Molainville Barthélemy d 737 808184105132217288336 Herder lohann Gottfried von 29 108 127 142 144 146 147 156 163 339 Hérodias Flaubert 188 Heródoto 68 99 182 hístória alternativa aabordagem religiosaétni ca 329 352 os árabes vistos como isentos da 23f7 241 283 Baifour sobre a orien tal 43 da Cambridge history 01Islam J07 10352 cultural de Renan 1545 desconsi deracáo orientalista pela 114 116237240 252 2656 276 283 323 3256 feita pelo homem 167 64 125 generalizacáo orienta lista da 1056 1189 2378 das idéias e o orientalismo 34 1389 30910 ímposicáo da típíñcacac científica sobre a 237 2656 Lewís sobre a prática da 3234 Marx sobre as transformacóes necessárias da 1613 como narrativa 16972 245 246 252 orien tal superada pela européia 93 945 118 no orientalismo manifesto 212 do Oriente no século XVIII 1268 129JO percepcac geo política no interior da 24 26 60 reduzida pela teoria cultural em Von Grunebaum 303 como representacac orientalista 323 423 revisionista 322 sagrada e profana em DHerbelot 74 e vislo essencialista doorien talismo 1067 2378 2456 252 vista como drama por Quinet e Michelet 146 147 Historia Orientalis Hottinger 73 Historians oftñe Midle East ed Lewis e Hclt 336339346 Histoiredes arabes Marigny 89 Histoire des musulmcns dEspagne Dczy 159 Histoire des navigations aux terres australes De Brosses 126 Histoire des orientalistes de 1Europe du Xlle au XIXe siécle Dugat 62 335 342 Histoiredupeuple dIsraelRenan 241 Histoire générale et particulíére des anomalíes de iorganisation ehez ihomme et les ani maux L Geoffroy de SaintHilaire 3423 Hístoire générale et systéme comparé des lan gues sémitiques Renan 150 154 158 340 1342343 Histoire naturelle des poíssons du Nil E Geof froy de SaintHilaire 337 Historische Fragmente Burckhardt 214 History 01intelleetual development on the íínes cfmodem evolution Crozier 239 History ofthe SaracensOckley 73 84 Hitti Philip 300 Hobson J A 102 Hofmannsthal Hugo ven 263 349 Hogarth David George 204 2JO 241 243 244 251345347348 Hoit P M 114 307 336 339 346 351 Homero Branco 2327 2419 251 Homero 23 32 93 Hottinger Johann H 73 Hourani Albert 279 2801 334 338 339 343 350351 Hugo Victor 145 34 61 63 91109110165 175335337338344 Hugo of StoVietor 264 Humboldt berac Alexandervon 142 Humboldt bario Wilhelm von 108 142 342 Hume David 25 Hurgronje C Snouck 216 261 262 268 349 Husein ibnAli gráoxerite de Meca 244 Hussein Tasha 327 Husserl Edmund 301 Huxley Thomas Henry 239 Huysmans JorisKarl 188 271 ibnKhaldun 160 ldade Média 69 712 73 SO291 Ideen zur Philosophie des Gesctücñte der Mens chheit Herder 127 idéesrecues104 125 197 259 330 lemen118 temen do Sul 118 Iji Adudu IDin al 319 Images 01Middle Easteonflict Alroy 312 Imperialism ed Curtin 343 346 imperialismo agentes orientalistas do 2045 22831 2348 24352 325 326 americano 15622326289 30 37 38 114 1178 289294298930343257 británico 15 6223 26 289 30 31 37 4150 51 54 578485104 109 1612 165 177 199 202 2034 2172 223 225 22631 a classe intelectual árabe se acomoda ao 3269 co nexáo com o orientalismo anglofrancés 16 JO 51 945 1046 113 202 203 205 211 2201 227JO Cromer sobre políticas de 46505452189 defesa do por Balfour 42 7 e doutrinas orientalistas 20 24 25 29 JO 54 95 1136 2123 22831 2512 294 8300304326332 francés 156 223 26 289 JO 31 37 51 85 95 1045 109 133 165 199 2178 2237 229 2301 2501 governa a cultura orientalista 256 27 53 95 1045 113 1312 2101 2167 2201 impacto do sobre os orientáis 21920 2578 3267 nova configuracáo nos EUA e na URSS 114 1167 289 rívalidade inter européia no 51 84 85 96 19921720 223 7 2301 250 254 tutela do Leste atrasa do4564795 India AnquetilDuperron para a 856 88 165 e as aspiraeóes francesas a urna India fran cesa 225 e as civilizaeóes c1ássicas do bom Oriente 108 estudo orientalista das religiOes na 60 767 84 158 260 ingleses na 22 29 JOl 42 46 478 52 83 84 85 86814516121772202234230232 235269 o isllchega a 69 83 Jones na 86 8 línguas e dialetos da 62 848 107 145 326 Marx sobre a regenerecao da 1613 ri validade intereuropéia na 84 85 sucessora da falácia edénica 145 Indochina 14 51 57 225 289 indoeuropéias Iínguas 334 61 84 878 107 1445 1478 149 150 151 152 1534 157 82389 Indonésia 69 216 308 Infemo Dante 77SO81 Influencia da língua árabe sobre a psicologia dos árabes A Shouby 324 Inglaterra escola orientalista da comparada com a francesa 231 250 2697 filosofia co lonial da 219 221 275 ocupacao do Egito pela 223 29 31 4150 97 2189 22930 258 262 334 prioridade no orientalismo da 13293170187910716673184201 523023482419251269279883001 30610 Inglaterra no Egito Milner 42 Institut de Pranee 135 Institut dÉgypte 62 90 92 93 96 Interpretaeáo da história islámica Urna Gibb288 Iraque 106 118 307 329 isla admiracáo de Napolelo pelo 902 337 como a cultura da vergonha 589 Dante so bre o 779 81 derrotismo do 319 dogo mas contemporáneos sobre o 305 epítome da exterioridade SO 2145 essencialmente tenda e tribo 114 240 312 estudos entre guerras do 2603 26577 2823 a dcmínacac ocidental do Oriente 824 Gibb sobre o 1156 251 2809 hegemonia do 69 211 idéias de Massignon sobre o 273 80 instrumento mais político que espiritual 15960 Macdonald sobre o 216 misticismo no 21t 258 263 272 2734 como moví mento conquistador 679 71 SO834 101 2112733079 e orientalismo masculino es tático 214 Oriente mau dos filólogos 108 149 percebido como urna impostura doutrinal do cristianismo 69 70 71 723 745 801 216 reíntegrecao com o Ociden te 2612 284 religiño de resistencia 272 278 representecao cristá do 6978 SOI 90 180 216 retorno do 116 231 321 Schle gel sobre o 108 158 Scott sobre o 1101 silencio e articulacñn no 287 3245 Smith desmitologiza o 2412 temor ocidental do 6970834 1012 2578 259 265 2912 tolerancia religiosa do 216 283 V tb éra bes Oriente Próximo Islam and capitalism Rodinson 265 339352 Islam dans le miroir de tOccident LWaarden burg 215 346 349 islámica lei 60 756 216 261 283 Gibb sobre a285 Ismael 272 275 Israel 38 1167 275 2902 2978 3113 321 3233263512 v tb judeus sionismo Itália 13293582389301 Itinéraire de Paris aJérusalem Chateaubriand 9617983190 Jabarti AbdalRahman al 91 Jaloux Edmond 256 Janet Paut 123 Japáo 13 14 28 823 129289326 Jaurés lean Léon 250 lean Germain 71 jesuitas 61 126 jihad 273 283 291 Jolo de Segóvia 71 129 Johnson Samuel 86 128 Jones sir WilIiam 20 29 33 61 84 868 107 126131144165176177221 Jouffrey Théodore 155 Journal intime Constant 145 Judas Auguste 178 judeus 111 149 163 185 199 200 247 292 306310323340 americanos e árabes 38 312 322 Chateaubriand sobre os 182 e a dinastía divina da llngua 137 1445 Dozy sobre os 159 história sagrada dos 734 em Israel 311 e o mito ariano 1089 origens primitivas dos 240 241 Proust sobre o orientalismo dos 298 Renan sobre os 149 150 154 e os tumultos de 1945 no Cairo 321vtb semitas sionismo Jung Carl Gustav 272 Kant lmmanuel 128 141 Khadduri Majid 58 khawals 194 Kidd Benjamín 239 Kierkegaard Sóren 272 Kiernan V G 63334 335 Kim Kipling 232 Kinglake Alexander William 109 165 1767 2001345 Kipling Rudyard 55 230 2323 235 347 Kissinger Henry A 568 305 335 Kitchener Horatio Herbert lorde 244 Kléber JeanBapríste 91 Knox Robert 213 362 363 Koenig Relat6rio 311 Kroeber A L J03 Kluba Khan and theail o Jerusalem Shaf fer 29 333 Kuchuk Hanem 18 1945 196 214 Kuhn Thomas 279 Kuwait327 La Ronciére Le Noury baráo Camille de 225 Lacoste Yves 270 353 Lamartine Alphonse de 301 35 90 96 99 1212 178 184 1859 199 200 201 223 237 250 290 344 Lammennais FélícitéRobert de 123 LandoMidian revisíted TheBurton 202 Lane Edward Wiliam 1920 JOl 61 109 1211771821982302512291344352 atitude proprietária em 217 288 autoex ctusao de 1712 176 178 autoridade intem poral de 169 1712 comparado a Burton 166 167 1789202 comparado a Sacy e Renan 200 corrige o Oriente para a sensíbí lidade européia 1745 214 e o crescimento citacionário do orientalismo 184 e o distan ciamento com retecso a vida egipcia 1712 176178181196229246248252 estru tura narrativa de 169 1702 183 245 246 288 e estrutura orientalista moderna 131 205 237 como exemplo do propósito cientí fico da residencia oriental 166 169 1789 181 182 183 184 228 245 imita o Oriente 1689171 importancia do detalhe no estilo de 2616970 172 183 e a prioridade in glesa 29 967 e supcsicées de orientalismo latente 212 229 traduz as Mil e uma noites 172 184 utilizaeáo de por escritores ima ginativos 35 176 189 191 194 Laroui Abduleah 302 351 Lasswell Harold 177 297 338 350 Lawrence T E 109 243 251 275 282 323 347 349 como agente imperial 204 230 2312442467251 como autoridade colo nial para com os hashimitas 251 e a clareza primitiva do árabe 235 comparado aBurton 203 deñnícac e vísac na narrativa de 2345 244 246 253 e a luta para levantar o Orien te 2478 o orientalismo como revelacac sen sacional em 2889 peregrínacáo inversa de 1789 visáo pessoal de 2467 2489 253 Layard Austen 202 Le Bon Gustave 214 Le Mascrier abade 923 Le Strange Guy 230 Leconte Casimir 99 Legacy o Islam The 1931 ed Arnold e Guil laume 261 348 Legrain Georges 178 Leibnitz barac Gottfried Wilhelm von 133 134 Leis de Manu 87 Leopardi conde Giacomo 140 Lepanto Batalha de 83 Lepic Ludovic 178 Lerner Daniel 316 338 352 LeroyBeaulieu Paul 2256 Lesseps FerdinandMarie de 97102104 156 224 226338 Lesseps Mathieu de 98 Lenres dÉgypte de Gustave Flaubert Lesed Naaman345 LéviSylvain 254 255 2689 271 349 LéviStrauss Claude 63 301 335 Levin Harry 192 345 Lewis Bernard 114 11631926336 338 339 3463512353 Líbano 13 118 185 190 199200326 Libia 329 Licurgo 93 Lile 01Mahomet Muir 159 Lineu Carlos 128 linguagem descoberta como fenómeno humano 1445 338 Nietzsche sobre a 20910 ori gens da 1447 2378 como representecso 33 277 a ciencia e a 1489 v tb filologia linguas orientáis bíblicas 61 137 1445 colo nialismo e reconstrucao das 24 1012 132 nos currículos ocidentais 60 63 1056 116 7 1734 296 328 335 diferencas das contribuindo para os tipos orientalistas 237 8 243 estudo das como instrumento de propaganda 2968 335 identificadas as se míticas 84 148 ideologia orientalista apli cada as 324 325 impulso para o orienta lismo 334 52 53 5960 61 62 74 856 1012 1078 130 1445 315 Jones e as 61 84 868 Iaboratório ocidental para as 147 148 14952 1534 e orientalismo maní reste 212 e a pericia contemporánea 2956 297 319 3245 reaiíaecees de AnquetllDu perron nas 61 856 Renan e as 53 97 142 145 14752 1534 157237 uso espiritual das para a Europa 60 124 130 2612 335 v tb línguas e famílias lingüísticas es pecíficas Literatura Gibb 2612 literatura imaginativa coercees socioculturais sobre a 531772078 comparada ao orien talismo profissional 1656 1767 1789 1889 1901 197 199 género orientalista da 145 20 2930 324 38 SO 53 623 70967 10811 orientalista inglesa compa rada afrancesa 199200 e a peregrinacáo ao Oriente 1767 178 17983 18497 2001 pressáo política sobre a 203 257 356 177 e residéncia oriental 1656 v tb escri tores individuais Locke John 25 Lois psychologiques de lbolution des peuples Les Le Bon 214 Long revolution TheWilliams 26 333 Lorrian Claude 185 Loti Pierre109 257 Louis Lambert Balzac 140 340 Loujs Pierre 214 LowthRobert 29 Lugard Frederick Dealtry prirneiro barac Lu gard219 Lui Hugo 912 Luis Filipe 299 Lukács Georg 264 LustfuITurk TheMarcus 1920 Lutero Martinho 71 80 Lyall sir Alfred Comyn 48 57 159 Lyall sir Charles James 230 Macaulay Thomas Babington 26 160 203 343 Macdonald Duncan Black 114 115 216 252 25328132842873363SO Maeterlinck Maurice 256 Magamat alHariri 135 mahdismo 286 MahometVoltaire337 Mahometgesang Goethe 109 Mallarmé Stéphane 272 Malraux André 253 mamelucos 91 Mandeville sir John 42 68 Manifesto Napoleáo 133 Mannheim Karl 264 Mans Raphael du 75 Manu 87 129 Maomé 69 70 71 72 756 789 802 83 91 113 129 15960 216 242 273 285 292 307 Marco Aurélio 155 Marcus Steven 1920 333 Margolíouth David Samuel 230 Mariette AugusteÉdouard 178 Marigny Francois Augier de 89 Maritaln Jacques e Raissa 271 Marlowe Christopher 73 Marlowe John 98 334 337 maronitas 199 226 283 308 Marrakech257 Marx Karl 145 26 27 33 42 107 112 161 4165212237297329344 marxismo 2553310329 Maspero sir Gasten 178 Massignon Louis 263 267 282 296 300 338 349 combina e espiritual 26970271284288 compaixjto cristá em 2756 sobre alHallaj 113 216 2512 269 27342767 como estilista 271 272 2889 estruturas e idéias de 2725 exterior 279 franqueza de 276 influencia de 2789 pa pela politico de 216 272 soma a ercdícao ao comprometimento com as forcas vitais 270 272 e a tradieáo nacional 268 271 276 vísac naoortodoxa do isla de 2512 271 2723 276 Massis Henri 256 MassonOurseí P 217 346 MatteroAraby in medieval England TheMet litzki 28 333 Maugham W Somerset 198 Mauss Mareel 271 Meca 83159178203 Melville Hennan 199 295 Mencius on the mind Richards 259 348 Merton Robert K 326 353 MESA Bulletin 292 351 Mesopotámia 108 226 231 Metlitzki Dorothee 28 333 Metternich príncipe Clernens Lothar Wenzel 298 Michaelis Johano David 29 Michel P Charles 239 Michelet Jules 82 105 123 1421467 156 Middle East Institute 296 300 Middle East Studies Association MESA 292 300 Middlemarch Eliot 30 333 347 Mil e uma noítes As 74 172 184 2001 202 2034 Mili James 221 Mill John Stuart 26 221 234 Milner Alfred primeiro visconde Milner 42 Milton John 73 Mimesis Auerbach 2634 349 misticismo sufista 226 271 274 277 Modern Egypt Cromer 48 219 334 346 Modern Islam Von Grunebaurn 351 Modern trends in Islam Gibb 23 1145 285 286 338 3SO Mohammedanism Gibb 285 350 Mohl Jules 62 289 342 mongóis 173 305 335 Montesquieu baráo de la Bréde et de 128 142 Moore Thomas 128 Morazé Charles 122 Morier James Justinian 200 Morse Samuel F 298 Mozart Wolfgang Amadeus 127 muculmanos v árabes isla 364 365 Mugniery Leon 316 Muhammedanisches RechtSachau 261 Muir sir William 108 159 230 Míiller Friedrich Max 30 252 258 342 Mundo árabe OGlidden 58 312 335 Nanquim Tratado de 2989 Napolelo 128962133177 187224 identi solitária de com o Oriente 901 127 337 impeto orientalista e textual de 88 91923 1045 178 e o nascimento doorien talismo moderno 96 significado da invasáo do Egito 33 53 85 8898 131 135 145 152165176179 Napolello I1I 297 Nasser Gamal Abdel 101 Near Eastand the Great Powers Tñe ed Frye 280350351 Nerval Gérard de 13 20 31 35 63 109 112 199 200 250 338 344 345 ccercees orien 54 exemplc de estética pessoal na escrita orientalista 166 176 177 1781871889 e a imaginacác desapontada do Oriente 10910 188 1912 249 impor tancia para o orientalismo de 1889 191 mundo interior de sonhos de 191 e a natu reza citacionária do orientalismo 184 185 predílecac de Massignon por 272 cado do Oriente para 18892 198 212 e tí pos femininos 188 18990 191 vísac nega tiva do Oriente de 1912 nestorianos 226 Newman John Henry cardeal 26 161 234 343 Nicolau de Cusa 71 Nietzsche Friedrich Wilhelm 140 141 20910 340346 Nicholson Reynold Alleyne 230 Nilo 170 182 195 Noldeke Theodor 30 215 Notes oa joumey 170m Comhill to Grand CaiTO Thackeray202 Nouty Hassanal 178 344 Novalis 124 Objetos de inquirieáo durante a minha residén cía na Ásia Iones 867 OBrien Connor Cruíse 317 Ocidente v Europa Estados Unidos Ocidente e o Oriente O Chito 258 348 ccidentalízacéc do mundo islámico 2823284 31343259 Occident devant IOrient L Massigncn 272349 Ock1ey 5imon 73 845 Ornar 1 83 ISO On liberty Mili 26 Ordem das coisas A Foucault 34 339 341 oriental literatura 87 1056 114 309 antoto gia de extratos da 312 74 134 1378 139 151 156 15960 173 184 2878 289 o contc na 42 62 evitada no orientalismo do cientista social 2956 Gibb sobre a 2612 281 ínfinídade da 86 Kinglake sobre a 2001 Massignon e a 216 269 271 Nerva emula a 189 1901 e orientalismo manifes to 212 poesía 105 137 1756 186 216 2612 religiosa 2834 tributo ocidental a 1756 valor para o Ocidente da 137 262 Orientales Les Hugo 61 110 175 337 344 Orientalism in crisis Abdel Malek 338 349 orientalismo nos anos entre as guerras 25360 26177 criao Oriente 17 SO 961056130 1389 148 151 154 156 227 crise no 113 9 211 255 sobre a decadéncia cultural se mítica 149 1534 2145 23741 2423 265 2934 JOS 3101 defínicóes do 138 24512 61 82 1012 1045 130 209 de mercecac do Leste e do Oeste no 42 SO 53 61 82 105 2078 255 258 261 262 264 274 282 3034 JOS 311 313 331 dogmas atuais do JOS7 323 esquematlzacño do Oriente pelo 7782 89 93 946 1045 107 810918 1557 1589 163 164 1967216 2357 245 3046 exterioridade do 32 456 1067 113 1148 1278 1378 170 2356 244 2523 Iomece agentes e pericia para o imperio 204 22831 2348 240 24352 288 3256 modermzacác do 61 82 858 956 1012 126 12932 133 136 1379 16420452167 26089 como modo de do mínacac ocidental 15 178 19 23 25 267 367394152568637082 8990 956 1012 1036 1I34 1178 132 149 155 161168174186720012022052101 2283023123740251225860 3OS311 3135 3259 perspectivas gerais e particu lares sobre o 20 223 24 257 601 posi l0 retrogressiva do islámico 2658 273 5 2835 3003 3049 31I25 tres sentidos do 148 vísáo essencialista do 1067 1178 156 163 165 20910 2112 216 227 229 302354024262522532562601267 2735 2878 301 305 310 3115 320 321 2 325 326 351 352 353 v tb erudícac orientalista orientalismo latente de cinco estudiosos islami cos 2156 constancia do 212 215 converge com o orientalismo manifesto 22830 enfase clássica do 229 enraizado na geografia 2223 e imperialismo 22730 suposicóes ra cistas do 2134 suposícees sexistas do 214 366 orientalismo manifesto 212 216 converge com o orientalismo latente 22830 orientalizaeño do Oriente 178 747 1056 1I3 118 1634 176 189 209 332 de si mesmo pelo Oriente moderno 329 Oriente Médio v Oriente Próximo Oriente Próximo ambilo colonial francesa no 90 146 2267 2301 categorias redutivas para o 245 3013 erudicño contemporá nea sobre o 2928 3009 31125 351 352 lig8lO com os interesses anglofranceses no Extremo Oriente 28 200 políticas americe nas e o 14 38 299 325 3268 primaria crísta do 68 83 178 265 principal encono tro anglofrancés com o Oriente 28 51 109 10207 2267 reíaczes árabeisraelenses no 38116275290129231133223 Smith sobre o 2412 no Terceiro Mundo 567 308 viajantes para o Ocidente de 21I viso contemporánea estereotipada do 38 267 2903 29510 31125 v tb árabes Egito islA Orwell George 257 348 Otelo Shakespeare SO Otomano Império 6970 83 84 85 lOO 199 213226231253258 OU saffrontent 10rient et lOccident intellec tuels Baldensperger 258 348 Owen Roger 331 334 351 352 Oxford Universidade de 60 63 85 220 279 328 Ozanam AntoineFrédéric 156 Palestina 379 110 118 ISO 185 186 200 256274290299310323 Palgrave William Gifford 204 Palmer Edward Henry 108 204 229 Panikhar K M 17 333 Paquistilo 216 289 3089 Paracelsus Philippus Aureolus 30 Paris 28 31 60 62 86 107227231266 Passage ro India A Forster 249 348 Patai Raphael 313 315 3512 Peaude chagrin LaBalzac 148 341 Pedro o Venerável 80 Peloponeso Guerra do 67 Penetration 01Arabia TheHogarth 230 347 pericia orientalista 2034 22831 2347 2412 aspecto ativísta da 2445 246 2489 251 25860 francesa comparadaainglesa 2502 do perito de área contemporáneo 289 2956 3256 sobre a politica e a sexualidade árabe 31621 verdade coletiva da 236 242 2513 v tb orientalismo erudíeáo orienta lista persa idioma 74 86 87 92 1078 367 Persas Os esquilo 32 66 335 Pérsia 28 29 69 8586 309 Personal narrative ofapilgrimage to alMadinah and Meccah Burton 96 166 200 2034 345 Peters Carl 213 Philby Harry Sí John Bridges 204 230 241 243251 Philology and Weltliteratur Auerbach trad M e E W Said 349 Philosophie anatomique E Geoffroy de 5aint Hilaire 153 342 343 Philosophy o Sto Tñomas Aquinas The Gil son259 Pickering John 298 Pickthall Marmaduke William 298 Picot Georges 227 Pio n papa 71 Piranesi Giambattista 128 Pirenne Henri SO336 Pitágoras 93 Pítt William 86 Platáo 78 93 Plínio 267 Pockoke Edward 74 Poema del Cid 73 SO Poliakov Léon lOS 338 político conhecimento 213 no orientalismo 23 42 45 46 4852 54 55 63 70 90 936 101 1037 119 177 203 204 210 2172372989 3034 321 322 331 rela eso com a literatura e a cultura 24 257 36 Polk William 279 348 350 Polo Marco 68 Pope Alexander 42 55 Portugal 13 29 83 84 Postel Guillaume 61 74 Pound Ezra 2S8 Poussin Nicolás 185 Praz Mario 187344 Preste Jcáo 73 Prideaux Humphrey 81 Primeira Guerra 113 1145 132 2267 229 230246251 26Ql 275 288 299 Princeton Universidade de 63 290 292 300 352 Príncipes de grammaire générale Sacy 133 1345 Protocolos dos sábios do Siao Os 310 Proudhon Pierre Joseph 123 Proust Mareel 154 298 350 Pudney John 337 Qazzaz Ayad al 350 Quatremére ÉrienneMarc 1478 178 341 j Querem os árabes paz Alroy 312 351 Quinet Edgar 52 84 88 123 146 147 156 188 275 334 337 RANO Corporation 300 352 Ranke Leopold van 105 214 309 Rafael79 Rapto do Serralho OMozart 127 regeneracao da Ásia pela Europa 1623 166 180 213 da Europa pela Ásia 123 124 125 no Romantismo do século XIX124 176 Regneanimal LeCuvier 161 213 Reinaud Joseph 132 Religious attitude and life in Islam The Mac donald 2523 281 350 Rémusat JeanPierreAbel 108 341 Renascenca 19 62 70 71 81 86 113 126 284307 Renaíssance orientae La Schwab 28 61 124 146333335337341342 Renan Ernest 1835164165176178189 200205212 217 228 241 252 271 282 291300341342 343 adapta o orientalis mo a filologia 13940 e a ciencia natural 141 147 150 151 152 1534 1556 238 e a concepcáo masculina do mundo 1556 214343 criacac artificial de 1467 1489 ISO1537 ea cristianismo 1434 147 149 154 155 defende principios antidinásticos para a nova filologia 145 1478 detalhe em 18 143 e as estruturas orientalistas moder nas 131 13957 293 estuda 1ínguas semí ticas 53 97 142 14752 1534 157 237 8 sobre a filologia 141 143 147 idéias ra dais de 1920 26 49 53 108 142 14950 1541561578159163178234237240 249 293 340 342 laboratorio de 147 14814952 1534 1567 288 sobre a lin guagem 147 sobre o papel da ciencia 148 posicóesparadoxais de 1423 154 vísac es sendalista do isla de 11423740 RenéChateaubriand181 Report on currerü research Middle East Insti tute296 Representative governmentMilI 26 Retorno do isla OLewis 321 338 353 Retreat from the secular path AbuLug hod339 Reves Renan 155 Revoltado islá A Lewis 321 353 Revolutícn in the Middle East ed Vatikiotis 3173523 Richards 1 A 259 348 Richards V W 235 Robertson J M 42 Rodinson Maxime 265 270 331 339 352 Roma 678 80 83 93 97126176179 iss 190256 Romaruic agony ThePraz 187344 Romantismo alemáo 77 261 e a biologia 144 de Byron e Scott 199 200 de Chateau briand 180 na concepcáo de Oriente de Marx 162 de Flaubert e Nerval 1978 e o isla moderno 286 e o Oriente como local exótico 127 raízes orientalistas no 139 Schlegel sobre o Oriente como a mais pura forma de 107 1456 Shaffer sobre 029 do sonho orientalista traído 110 191 e a teoria dos fragmentos 137 e versoespósiuministas da redencac cristá 124 1467 162 166 176 180 193 2045 Roseta Pedra de 130 149 Ross E D 230 Rousseau IeanJacques 129 134 147 156 186 Royal Asiatic Socíety 53 88 1089 172 Rubáiyát ofOmar Khayyám FitzGerald 200 Ruskin John 26 234 Rússia 13 22 29 37 109 114 199 201 221 231235 Sachau Eduard 261 Sacy AntoineIsaac baráo Silvestre de 19 35 107145147 156 160 176 184 189 200 252 288 340 344 canoniza o Oriente 138 e as estruturas orientalistas modernas 131 1389 184 205 e a generatizacáo do Orien te 134 135 158 liga a erudicác as políticas públicas 133 229 sobre o museu 1734 obra compilatória de 1346 1645 288 como pedagogo JO92 1326 138 288 pri meiro orientalista moderno e institucional 30 92 1356 1378 139 racíonalidade em 134138 teoria dos fragmentos 137 1389 151 156 159 288 como tradutor 133 135 136 SaíntSimon conde de 123 SakuntalaKalidasa108 Saladino 78 110 2712 Salammbó Flaubert 23 96 188 192 193 194 195 345 Sale George 73 127 176 Salisbury lorde ver Cecil sánscrito 28 523 61 84 878 105 107 129 145 148254 299 sarracenos 70 71 83 110 sassánidas 29 134 Saud casa do 251 Saulcy LouisFélicíenJoseph de 178 Saussure Leopold de 213 Scaliger Joseph Justus 74 Schelling Friedrich Wilhelm Joseph von 156 158 368 Schlegel Friedrich 31 35 61 1078 124 145 6158273282338342 Schopenhauer Arthur 124 140 Schwab Raymond 28 2930 61 856 124 146257333335337341342 Scott sir Walter 54 70 109 1101 165177 2002712338 SEATO1I7 Ségalen Víctor 258 Segunda Guerra 15629303663 117 260 2632892945299 J02 303 Sefdetermination and history in the Third WordGordon 298 351 semitas 142 148 247 bifurcam em orientais e orientalistas 2901 312 a desmitologizaAo de Smith dos 241 Doughty sobre os 2434 e o mito ariano 273 posicáo de estudo retró grada dos 266 7 presente e origens vistos ao mesmc tempo nos 2402 243 Renan sobre os 14950 1534 1578 240 249 293 J4O 1 representados para o público ocidental 298 como tipo redutivo e transindividual 237412452462752933101 v tb anti semitismo árabes islll judeus semíticas línguas 53 61 83 84 97 1078 142 145 14852 1534 1578 2378 242 267 270 273 299 Senart Érnile 255 Seve piars ofwisdom The Lawrence 2445 347 Shaffer E S 29 333 Shahid Erfan 307 Shakespeare WiIliam 21 42 73 80 Shouby E 324 Sicília 69843089 Silvestre de Sacy ses contemporains et ses dis cipes Dehérain 337 340 Sílvio Enéas v Pio H papa Simar Théophile 342 sionismo 38 227 2745 283 2901 299 306 3083112328324350351 Sir Hamilton Gibb entre o orientalismo e a his tória Polk 279 350 Siria 28 JOl 35 69 85 118 201 2234 226 229231283 Smith WiIliam Robertson 2412 244 275 282 347 Sobre os servkos prestados pela filologia as ciencias históricas Renan 143 341 343 Social evoíution Kidd 239 Sociedade americana oriental 53 1089 298 299 Sociedade Asiática de Bengala 87 Société Académique IndoChinoise 225 Société Asiatique 53 62 108 133 173 226 254 369 Sociétéde Géographíe de Paris 227 Samuel Thomas von 129 solímóes préadamitas 74 Sólon93 Sorbonne 143 Southern R W 66 712 335 336 denfance et dejeunesseRenan 341 Soviética Uniáo 21 22 114296 v tb Rússia Spengler Oswald 215 Spitzer Leo 263 Stanhope lady Hester Lucy 185 251 Steinthal Heymann 30 108 Stendhal 179 Stevens waüace 17 Stokes Eric 221 346 Storrs Ronald 204 243 251 Struggie for existence in human society The Huxley239 Suez canal de 97102 104201226 Suméria 129 Sunna 251 273 Surat 85 86 Swettenham sir Alexander 219 Swinburne Algernon Charles 188 Sykes sir Mark 227 231 243 Syrie La de Caix 346 Systeme comparé et histoire générale des lan gues sémitiques Renan 97 Tabeau historique de léruditionfranfaise 135 6340 Tatismon TheScott 1101 200 338 TalleyrandPérigord CharlesMaurice de 89 TancredoDisraeli17 111 177200 Tasso Torquato 73 186 Temperameru and character of the Arabs Ha mady 314 352 Temple Charles 213 tempo 65 175 237 240 Tentaticn de Saint Antoine La Flaubert 188 192193195196207295342345 teoría racial adotada pelo orientalismo latente 213 de BaIfour 446 baseada em tipos e protótipos de Jinguagens 23740 267 bases biológicas da 213 2379 e a cíessíñceeao em tipos do século XVIII 129 130 conco mitante a lingüística comparativa 108 156 237 de Cromer 4650 e o empirismo 25 2389 de 342 Gibb opzese a 283 e o imperialísme vitoriano 256 213 invoca a generalidade das origens 240 em King 201 no mundo clásslco 167 o orienta lIsmo e a 1920 267 334 38 44 53 101 2 105 116 163 210 310 31122 326 329 3312352 e os palestinos árabes no Ociden te 38 2901 produz o Homem Branco 232 J 370 4 de Renan 1920 26 49 53 108 142 14950 1534 156 1578 159 163 178 234 2378 240 293 311 340 341 342 de Sehlegel 1078 Trilling sobre a 238 Thaekeray William Makepeace 202 thawra 31920 Thiry lean 89 337 Thomas Lowell249 Tiepolo Giovanni Battista 128 Tocqueville Alexis de 105 Toumefort Joseph Pitton de 126 Transeaspiana ferrovia 199 transcendentalistas 295 Travels in Arabia deserta Douthty 243 347 Trilling Licael 238 347 truchement 174 Tuchman Barbara 291 Turgot AnneRobertJaeques 155 Turquia 69 734 108 190 223 226 229 244 248263 Twain Mark 110 165 199 295 Tyrrell Emmett 292 350 Überdie Sprache und Weisheit der Indier Sche legel 31 1078 145 338 VCLA 300 328 universidades árabes 327 Untergang des Abendlandes Der Spengler 215 Upanixades 86 108 utilitarismo e imperialismo 221 Valéry Paul 256 258 348 Val1ePietro della 68 Varráo Marcos Teréncíc 153 Varthema Lodovico di 68 Vatikiotis P J 3124 352 Vatte1 Emer de 223 346 Verdadeira natureza de uma impostura A Pri deaux81 Vergleichende Grammatik Bopp 144 Verne Júlio 224 Vico Giovanni Battista 16 36 63 126 127 129130140142146147156 Vico and Herder Berlin 339 VictorConrad 194 Vie de Iésus Renan 154 Viena Concilio de 60 61 133 víetna Guerra do 22 VlgiarepunirFoucault 15 340 347 Vigny Alfred Yictor de 109 176 Vingtsept ans dñistoíre des études orientales Mohl612 Visio biológica da nossa políticaexterna Urna MicheI 239 Visit to the monasteries of the Levant Curzon 202 Vogüe marques de 178 Volney ConstantínFranccis de Chasseboeuf 49901756177178337 Voltaire BS6 102 337 Vossler Karl 263 Voyage en Egypte et en Syrie Volney 90 337 Voyage en Orient Lamartine 96 122 lBS7 344 Voyage en Orient Nerva 110 166 18791 345 Waardenburg Jacques 2156 273 346 349 Wafd partido 262 Wagner Richard 140 Waley Arthur 258 Wanderingscholar TheHogarth 151 348 Warburton Eliot 177 202 Weber Max 264352 Weil Gustav 108 Weizmann Chaim 3101 Wellhausen Julius 215 WeltgeschichteRanke214 Westlake John 213 Westostlicher Diwan Goethe 31 61 162 163 175344 Whiston William 85 Whither lslamed Gibb 2823 350 Wilde Osear 154 Wilkins Charles 87 Williams Raymond 26 39 333 334 Wilson Woodrow 227 256 WoIf Friedrich August 140 141 142 wordswcrtb WilIiam 21 124 Xerxes166 67 xiitas 269 307 Yeats WilIiam Butler 119 236 258 347 Zaghlul Pasha Saad 262 ZendAvesta 28 523 856 108 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