·

Cursos Gerais ·

História

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer pergunta
Equipe Meu Guru

Prefere sua atividade resolvida por um tutor especialista?

  • Receba resolvida até o seu prazo
  • Converse com o tutor pelo chat
  • Garantia de 7 dias contra erros

Texto de pré-visualização

O poeta itinerante\n\nAntonio Candido\n\n\"Louvação da tarde\", de Mário de Andrade, foi escrito em outubro de 1925 e publicado em 1930 como poema da série denominada \"Tempo de Maria\", no livro Remate de males. Ele ocupa na sua obra uma posição-chave, porque representa a passagem da poesia mais exterior dos primeiros tempos da luta modernista para a poesia mais interior da última fase.\n\nFalando do poema numa carta a Manuel Bandeira, de 12 de dezembro de 1925, Mário de Andrade registra este estado de transição (para mencionar de eu dir um lugar que está fazendo poemas de leitura difícil, ao gosto dos ingleses pela extensão, o conjunto meditativo e o subordinado a um esquema de pensamento, tendo por finalidade manifestar um lirismo mais profundo, menos complicado, com a noção da notação e o exterior).\n\nÉ oportuno lembrar que antes de haver escrito os poemas também longos mais claramente opostos a ele, sendo ambos oscilantes entre o algo exterior ao poeta: \"Carnaval\" (1923) e \"Noite do mês de Belo Horizonte\" (1924). O primeiro exterior traz um momento colorido dos grupos e da multidão; e segundo é uma espécie de rápida do Brasil através de Minas Gerais. A partir de \"Louvação da tarde\" a sua poesia se construirá cada vez mais em torno do próprio eu, numa linha meditativa e analítica acentuada.\n\n1.\n\nO que dever ser sublinhado em primeiro lugar neste poema é o tipo de verso, tão discrepante dos modelos tradicionais da poética. Esta primeira é a nova obra do Mário de Andrade, já referida pelo efeito contraditório entre a largura e o significado real de uma coisa.\n\nPrimeiro, mostro o desejo de empregar um metro cuja amplitude é tônica equivalente a tal formato de concentração... etc. O poema poético construído com pensamento condicionando o lirismo que tem de ser em nome (senão não transparencia) e mais formidável que poder podem ter uma andrôna como que escondida porque interiamente.\n\nFixo aqui uma descrição crítica, concentrando a reflexão. O verso me parece, pois como referência, onde se retrata e o tema dos pensamentos e os meros aspectos que podem que parece ser ídolo, tendo em todo verdadeiro há descobrindo define o logo e o loco ardentismos porém que não queiram, em revelar como a leim são fecundos.\n\nAgora meu desejo é esse: construir o poema pau, o poema que não tem nenhuma excitação exterior, nem de pândega, nem de efeitos nenhums nem de sentimentos vivos. Nada que flameje, que rutilhe, que espicaça. Nada de conhecimentos nem de enteles. O poema poesia construído com pensamento condicionando o lirismo que tem de ser em nome (senão não transparencia) e mais formidável que poder podem ter uma andrôna como que escondido porque interiamente. Forme o poema inglês: Shelley, Keats, Wordsworth, Byron e Yeats, essa gente. Peleja pelo Álvares de Azevedo contra Castro Alves, caso típico de poesia excitate, poesia condemne, poesia cocktail, poesia-coisa-assim. Quero construir o poema que não se pode veicular porque não se exprime. Quero ser reatado (o poema que não foi redigido nem está) e poema que carece ser ídolo, tendo de um verdadeiro há descobrindo de uma forma direta e isto ou o logo e o loco ardentismos, porém que não requerem, em um como a leim são fecundos.\n\nEstas indicações são valiosas, inclusive porque nem sempre temos a reflexão de um poeta sobre os seus poemas, e elas mostram de que modo Mário de Andrade procurava ligar o texto a uma genealogia.\n\nA sua construção é rigorosa, adequada ao propósito expresso na carta a Manuel Bandeira: fazer uma reflexão organizada por meio de ideias aparentemente casuais, dando a impressão do desconforto, que se quando se movimenta compartilha um passeio. Correspondindo assim a fórmula verificatória da tradição e a escrita à máquina do leigo, segundo as ideias de crítica enunciadas a evidência nessa maneira final de dibancidade. O poema reflexivo dos famintos, chamando algumas vezes \"mediatido\", defere essencialmente - um título composto de uma filosofia dos neoclassicismos desconfiados, existia... etc. O que os pré-românticos e os românticos fizeram foi algo ligado à experiência sensorial e afetiva, dissolvendo a dissertação num discurso que se transformava em \"mood\" das sensações. Não vê de pertencer um conceito, juízo, afirmação, para excluí-lo, que não reconheça certo sentimento, devido principalmente à abstração da natureza que levou o público a permanecer em ideias de abstrações. A natureza tornava-se correlativa ao pensamento e ao sentimento, permitindo a ligação íntima com a subjetividade.\n\nNo pré-romantismo, sobretudo inglês, isto começa pelo vínculo entre a reflexão e o lugar. Exemplo é a \"Elegia escrita num cemitério campestre\", de Thomas Gray, onde a presença física do cemitério, descrito com pungência e melancolia, insinua-se a refletir sobre a relação à condição humana (com taria de certo modo Paul Valley em \"O cemitério marítimo\"). Não se que é, pertence a outra edação, à da relação dinâmica, na qual o iôcodiscurso se torna conformado que poderíamos chamar \"poesia itinerante\". Trata-se da função poética de marcha, ou como um movimento servidor para despertar a mente.\n\nUm precursor disso, entre tantas coisas de outra tradição, é Jean-Jacques Rousseau, ao vincular o sentimento na natureza, a meditação e o movimento do corpo dos Deveres do passeante solitário, em meditações (em prosa) sobre isso transformam as caminhadas como as relações externas. Embora ao mesmo tempo não se vede a diretriz, a básica a ideia de que a caminhada desperta a reflexão a partir dos tempos, tendo como catalisador o espetáculo. natureza, penetrada diretamente no percurso, tornava-se algo próximo do poeta, que se valia dela para abordar os temas mais variados, inclusive a concepção de poesia, como acontece em \"Sub tegrime figi\", de Castro Alves, caminhada pela campo e a floresta pode servir de ocasião para refletir poeticamente.\n\nÀ poesia itinerante devemos associar outra modalidade que pode ser qualificada como \"poesia de perspectiva\", na qual a meditação, sucedendo a uma andança plástica, é feita a partir da altitude, como ocorre frequentemente no próprio Wordsworth. Lembremos certas composições de Lamartine, nas quais a meditação não deriva do deslocamento no espaço, mas como da visão a partir de um lugar alto. É o caso de Le solément, incluído qualquer procedimento a pai-sagem:\n\nSouvent sur la montagne, à l'ombre du vieux chêne,\nAu coucher du soleil, timide et inassuré,\nJe promets au hasard mes regards sur le proche,\nDont le tableau changeant se déroule à mes pieds.\n\nLembremos ainda o curto e denso \"L'infinitif, de Leopard, construido a partir de uma idêntica visão da altura:\n\nSempre como eu fui quest'erme cole.\n\n\"Louvação da tarde\" participa da primeira modalidade, da meditação ambulante, sendo o único poema de Mário de Andrade onde encontramos a combinação \"natureza-passeio-meditaçâo\". Ele revela numerosos outros poemas que se entrechocam por uma tradição do romanticismo, que se entrechoca na forma de tratar no seu lirismo. Vale a pena refletir sobre esta tradição quebrada, pois a intimidação é um dos modos atuais de auto-negação e também a relutância à poesia da grande cidade, nascida na angústia e na solidão de Walter Benjamin num tópico denso sobre a \"fruta dourada\" que estamos a extrair dos momentos de mídia.\n\nAffiche-se o som da cidade e saudemos a metrô, que abri um caminho neste pequeno galpão. Baudelaires encontra no cotidiano visões de mundos em que podemos então passar com tamanha serenidade. \n\nASQUESEmos a gente, a cidade, a metrô e a aparição dos sentimentos altruístas dos outros. Não existe uma substância pura em nenhum banco:\n\nSigamos então, tu e eu,\nEnquanto o ponte no céu se estende\nComo um paciente antecessitado sobre a mesa;\nSigamos por certas ruas quase irmãs,\nAtravés dos sussurros refleto\nDe neblinas indomadas em hotéis baratas,\nAo lado de botquinhos onde a ceragem\nAs conchas das ostras se entrelaçam;\nRus que se alongam como um tedioso argumento\nCujo insidioso intento\nÉ atrair-te a uma angustiante questão...\n\n(Trad. de Ivan Junqueira)\n\nNa literatura brasileira entrou ao modernismo há pelo menos um notável exemplo de meditação itinerante na moldura transfigurada das capitais: \"As cismas do destino\", de Augusto dos Anjos, fala desvaziada e eletrizante no discurso de um passeio noturno rumo a certa casa funé-raria, que começa assim:\n\nRecife, Ponte Buarque de Macedo.\nEu, indo em direção à casa do Agra,\nAssombrado com minha sombra magra,\nPensava no Destino e tinha medo! Mário de Andrade praticou em toda sua obra a poesia da rua e do poeta andarilho, frequentemente nas horas da noite, marcadas pela inquietude e mesmo a angústia. Mas em \"Louvação da tarde\" está noutra linha, próxima daquela serenidade contemplativa dos primeiros românticos, como alguém que procura sobreduto a paz pela meditação serena no quadro natural.\n\nMeditação de mais completa modernidade, seja dito, a começar pelo fato do poeta não ir a pé, como ocorre no Wordsworth, o flâneur de Baudelarie, o notável aluído de Augusto dos Anjos ou os personagens transidos de Eliot. Nem na cavalo (apesar de estar no campo), como Julian a falar no poema de Shelley figura a si próprio e a Byron sob estes modos.\n\nEm \"Louvação da tarde\" o poeta vai de automóvel, que designa por um diminutivo carinhoso e trai como verbo, pois vem de dirigi-lo abandonado-se a ele, ao modo de montaria confrontada com quias rédeas foram soltas:\n\nE a maquininha me conduz, perdida\nDe mim, por entre cefaleias corrosas,\nEnquanto me olhar maquinalmente\nTraduz a língua moribunda.\n\nDos rasgos dos pendúculos na poeira.\n\nTrata-se portanto de uma meditação itinerante entrosada na era da mecanização, e tanto quanto se é a primeira onde o deslocamento no espaço se faz por este meio. É claro que há poe- Desejemos só conquistas!\nUm poder de mulheres diferentes,\nMeninas-de-pensão, costureirinha,\nManicure, artistas, datilógrafas,\nBranceiras com as joias sem escândalo,\nDesprezadas, um livro de aventuras...\nDento do qual secasse a imagem de outra,\nQue não foi ela malva, nem foi folha\nDe malva... da pura malva perfumada.... \"Louvação da tarde\" se relaciona com outros poemas do autor. Principalmente dois, que\nformam com eles pilares de uma trajetória: \"Louvação matinal\", pouco posterior, e \"A meditação\nsobre o Teitel\", do fim da sua vida.\n\nComparando-se percebemos uma função diferente das horas do dia. Em \"Louvação matinal\" a\nmanhã corresponde à vida consciente e à luta diária. E o momento da vontade e da razão. A\nnoite e \"A meditação sobre o Teitel\" sintetiza todas as notas da poesia de Mário de Andrade e\ncorrespondem a outras coisas já recalcadas, aos desejos irregulares, ao inconsciente que\nassiste a tudo e a sociedade oprime. E o momento das rebeldias e dos impulsos.\n\nNo entanto se duas, a tarde nos sope, a tarde e em busca dos desejos, da projeção e da mentira da vida,\nnão se exclui a contaminação que se perseguiu antagonicamente. Momento da contemplação serenosa, pressionando \nesforço por de qualquer relação. \"Mário de Andrade – caricatura\", de Erasmo Xavier (ed.), nanquim sobre papel Só nessa vastidão dos teus espaços,\nTudo o que gero e mando, e que parece\nTão sem destino e sem razão, se ajusta\nNuma corrente verdadeira... Que nem gado,\nPelo estendido do jaraguá disperso,\nRessurge de tardinha, enriquecido\nAo bando sonoro dos campeiros,\nEnriquecido o criador com mil cabeças\nNo claro da manigueira resplandecente...\n\nA tarde possui força pacificadora e unificadora, porque nela a imaginação se liberta e pode\ncriar uma forma paralela de atividade: o exercício da fantasia. No caso, através do devaneio, ou\ncompensas as limitações da vida corrente e deixa entrever uma outra, mais satisfatória, que pode\nria cumular os desejos:\n\nNão te refiro assim ao meu egito,\nPorém contigo e que imagino e escrevo\nO rodado de meu sonho, fonance\nEm que o Joaquim Benitinho dos desejos\nMente, enquanto impávido esse\nMeninada gentil do que me falta.\n\nQuando o poema foi escrito estes versos não precisavam de esclarecimento, porque os\nleitores estavam familiarizados com o personagem: caíra de Comílio Pires, o meninote numo-\nmental do livro Estrambicadas aventuras de Joaquim Benitinho, o quimna campo (1925). A \"menti-\nral\" que procura convir para o que é possível, por se livrar a hora em que o \"traba-\njo acaba o prolongamento\" esfaqueado nos não se é, porque o lidi\nA tarde permite assim criar uma \"outra vida\", objeto dos movimentos interligados, começa com versos ufíricos:\n\nO segundo movimento, daí para adiante, começa com versos efúricos:\nEspecificações:\n\"Deus fez o divã.\n\nNo mundo do devaneio o poeta é artista, elevado, bonito, chegando a superar as frustrações\namargas do coração: o espaço, a solidão, a intimidade, íntegra, o gesto,\na imaginação da realidade se vira: um \"Louvação da tarde\" e a peça final do\nciclo \"Tarde seca\", que destina o ver ao vário, alutando ao ver, aguenta ao peso da experiência, brota...\nApega-se a figura do homem e a cicer relevante ao dentro de uma nova vida que envolve o sentimento do seu poema.\n\nNo ar do jardim do devaneio, um pequeno Ford dos 20, o poeta mal pressiona o\nacelerador e vai devagar, ajustando o ritmo de pulso ao ritmo da máquina, parando de vez em\nquando. O desvio da consciência e na contemplação da paisagem rural fazia dele\ntrazer de acento, enquanto inerte, enquanto ela trazia, e recolhia ao esvolvamido lugar que\npreparasse com feitos desires, sem...(indiscernível)...\n\nUm poder: Deslumbros.\nTarde sonora, tarde vazia, etc... viva em vez de secar. Mas é só um momento. O poeta o combina e vai à feira, na Ilha de consuma e vai para meio do sonho, entrando no terceiro movimento do poema com a visão da sorte melhorada que imagina:\n\nLivre dos pluns das doencas amolantes,\nCom dinhiero sobrando, organizava\nAs poucas viagens que desejo...\n\nEste movimento define o tema do Brasil, quase obsessivo na poesia de Mário de Andrade sob diversos avatares. Sucendindo imediatamente a evocações dos amores, e referência à sua terna idéia de transferência, como se o apego à pátria fosse um outro modo que o existir do seu animal. Mas contrastando com este traço na nossa era mecanizada, no alto do espelho é a velha lua romântica de sempre que sanciona o devaneio, porque favorece a transfiguração da realidade pela poesia, E para situar no modernismo a sua participação, ele é comparada a um gavião empregado na árvore seca:\n\n\"Isidora\" e a Revolução de 1924, chefiada pelo general Isidoro Dias Lopes, que \"deu\" na gueriilha da Coluna Prestes atravessou o Brasil de fevereiro de 1927, quando os estudantes se internaram na Bolívia, 1927 e o ano em que Mário de Andrade viajou pelo Amazonas além da sua teoria deixos paradinha que deveria ser a história primeiramente com os traços que representam as literárias e artísticas, nurtidas pela imaginação, prima do devaneio e tarde cansada:\n\nTarde, com sonho de agresta; de galho nos anos eço;\nPaguei subir pelo Amazona...\n\nÉ engendro a combinação dos metáis, derivando paradoxalmente o menos nobre, isto é, \"cobre\" metalônico=dinheiro, do mais nobre, o \"ouro\" metálico nascido no desejo de. (Esses versos mostrão também que poema foi realmente ficcional e a viagem amazônica em 1927.\n\nO Amazonas tem poeta pensando na posse da Mário de Andrade correspondendo entre outras coisas o mistério da produção das canções invocadas, e percebidas na relação com a expressão.\" Como está na hora de voltar à sede da fazenda, a imaginação solta um último voo e o poeta figura a casa que desejaria ter no sonho imaginário, onde receberia os amigos e teria confortos sensacionais para o tempo, como aparelho de rádio capaz de captar Buenos Aires e Nova York. Isto feito, retoma a meditação inicial, cujo não está no verso\n\nde-dia eu faço, mas de-noite ou sonho,\n\ndoce pode transformar-se em amargo, devendo ser um reflexo do olhar que se volta para a realidade. A atividade, o sonho e o que pode fazer parte da criação de uma obra, a partir da imaginação, pode se reverter em realidade por meio do labor. Assim a tarde reabastece a energia tornando possível a requalificação do sonho antes ideal, a realização da obra. Por isso volto a tarde que ajuda a se requalificar depois da fala do dia:\n\nTarde do meu sonhar, te quero bem\nDeus conhece nossa vocação\nSe as consanguinidades nos galgam\nDe tuas acessibilidades, essa condescendência\nTe afeições, de se há de meu sonho\nQuero te acolher, o amor que é sonho.\nQuero amar os entes que me usaram, por mim, por somente,\nDirigindo-me a algum lugar de concordância\nCom exceção desse olho meu destino,\nE não te afasto da imensidão igual que não me fé\nNo ábside do que acho ser lixo da colheita\nEu serei a galinha do cigarro!\nEntregando-me a ti como a se me tivessem\nSeria eu pequeno espaldar de face de ábside\nA não ser o que se assenta e se me sciente.\nLançar para alto os espaços essa\nMentirinha gentil do que me falta.\n\nA meditação feita durante o rodar do automóvel termina com duas alucinações que resumem bem o movimento do poema entre os dois planos (sonhando o real; céu e terra), chegando o passado à máquina de beneficiar café marca São Paulo ainda arfando do trabalho, como um animal. Mas contrastando com este traço da nossa era mecanizada, no alto do espelho é a velha lua romântica de sempre que sanciona o devaneio, porque favorece a transfiguração da realidade pela poesia, E para situar no modernismo a sua participação, ele é comparada a um gavião empregado na árvore seca:\n\nCiao, tarde. Estou chegando. É quase noite,\nTodo o cuidado já cinzou. Dependerá\nNa rampa do terreno a galinha\nBranca da máquina São Paulo ainda arfa,\nAs tulhas de café desenham.\nPelo ar um lusco-lusco bruscotrial,\nSerpelemundo na baixa fria,\nBem não ao espelho, sobre um pua seco,\nVer um canrancho, se empoleirar, e\nCondescendente amiga das metáforas... À esq., \"Retrato de Mário de Andrade\", d.r., \"Perfil de Mário de Andrade\", de Dmitri Ismailovitch, ambos carvos sobre papel\n\nNesta descrição crítica tentei seguir a indicação do poeta na carta a Manuel Bandeira, quando diz que o seu intúito foi fazer um \"poema pensado construído com o pensamento conditionando o lirismo\". Por isso foi preciso indicar o caminho da meditação, em termo da qual se organiza o significado.\n\n\"Louvacão da tarde\" mostra como o sonho-devenado promove a fuga provisória do real e como nasce do sonho-construído, que é o processo de que resulta a obra literária. Esta sózinha, porque derivada da fantasia; mas é realidade, porque importa numa aula positiva do futuro. A obra feita liga o mundo da fantasia (tarde) ao mundo real, mostrando que são sólidos e interdependentes. Por isso \"Louvacão da tarde\" é uma oscilação constante entre as duas: o desejo e já sui-gindo o poema. Quando o poeta chega de volta à casa da fazenda, a tarde (disto, o devaneio) acabou; mas o poema está pronto (ou seja, a ação criada se realizou). Por isso o mesmo tempo que o poeta descreve esse processo o poema se constrói. E nós lembramos o final de Em busca do tempo perdido, quando o Narrador, depois de tantos ridículos, lhe encarcerado afinal a maneira de escrever o livro projetado. Ora, na verdade esta ação não é construída durante a imaginação, e a revelação da chave que permitiu o seu início certo é o ponto final. Assim, em \"Louvacão da tarde\", quando o poeta já foi encerrado no Lido do sonho, o necessário ao dia está pronto.\n\nPercebemos então que o poema assenta sobre uma base de paradoxos, porque a tarde é devaneio gratuito, mas reservatório de trabalho; e repouso e construção. O movimento da fatura reúne em dois pólos o extrai delas a unidade pelas fusões dos contrários, que são complementares. Este paradoxo afina com a forma e o de homem; porque um poema moderno tem classificáveis; a \"meditação\" reinventada para exprimir uma situação atual.\n\nParadoxo talvez mais importante do ponto de vista de uma estética do modernismo é o que, vez de desfurla pela realidade de percurso ajuda a construir-la. Neste poema, tudo o que é fútil nisso nunca regará este reino de discurso, em lugar em um mundo que conecta a velocidade, submetendo-a à aprovação: o automóvel perde significado e adquire um toque de vida, facilitando emoções. E os dois momentos históricos se alcançam, para o tema \"Louvacão da tarde\" parece transcender o tempo, na medida em que encanta também o andamento da produção literária.