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05/10/24, 18:24 As igrejas dos catdlicos de Goa OpenEdition , | SEARCH Q Todo OpenEdition WY, Journals Ler Histor 58 | 2010 Goa: 1510-2010 Dossier: Goa: 1510-2010 As igrejas dos catolicos de Goa Eglises catholiques de Goa Catholic Churches from Goa PAULO VARELA GOMES p. 47-60 https://doi.org/10.4000/lerhistoria. 1146 Resumos Portugués Francais English Os catdlicos de Goa e de outros antigos territorios portugueses na India criaram igrejas e casas que sao tnicas na hist6ria mundial da arquitectura. Estes edificios apareceram em Goa e sao conhecidos desde meados do século XX como arquitectura indo-portuguesa.A originalidade desta arquitectura tem sido atribuida ao resultado de uma sintese entre a arquitectura e a arte portuguesas e a influéncia indiana. O presente artigo olha para o problema de outra maneira, examinando a conjuntura cultural em que surgiram as igrejas de Goa do século XVII, sugerindo que estas séo a mais importante manifestacéo do aparecimento de uma cultura propria dos catolicos de Goa. Les catholiques de Goa et des autres anciens territoires portugais de l’Inde ont créé des églises et des maisons d’un type unique dans histoire mondiale de l’architecture. Apparus 4 Goa, ces batiments furent connus dés le milieu du XXe siécle sous la dénomination d’architecture indo- portugaise. On considére habituellement que l’originalité de cette architecture serait d’étre le résultat d’une synthése entre l’architecture et l’art portugais d’une part, et l’influence indienne d’autre part. Cet article propose un autre point de vue en examinant la conjoncture au cours de laquelle les églises de Goa sont apparues. I] suggére l’hypothése que ces églises furent la plus importante manifestation de l’avénement d’une culture propre des catholiques de Goa. The Catholics from Goa and other former Portuguese territories in India created churches and houses which are unique in the world history of architecture. These buildings appeared in Goa and are known since the mid 20th century as Indo-Portuguese architecture. The singularity of this architecture is usually attributed to it being the result of a synthesis between Portuguese architecture and art, on the one hand, and Indian influence, on the other. The present article discusses these churches from a different point of view, examining aspects of the religious situation in which they appeared and suggesting they were the more important early manifestation of an autonomous culture of Goan Catholics. Entradas no indice Mots-clés : Goa, architecture, clergé, conversion https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 1/13 Keywords: Goa, architecture, clergy, conversions Palavras-chave: Goa, arquitectura, clero, conversões Texto integral Os católicos de Goa e de outros antigos territórios portugueses na Índia criaram igrejas e casas que são únicas na história mundial da arquitectura. Estes edifícios apareceram em Goa e são conhecidos talvez desde meados do século XX1 como arquitectura indo-portuguesa. Representam uma das mais notáveis contribuições para a história da construção provinda de regiões que não aquelas nas quais amadureceram a arte e a arquitectura cristãs nas idades primo-moderna e moderna: a Itália, a Espanha, a França, a Flandres e a Europa Central. 1 Esta originalidade tem sido hesitantemente compreendida e as peculiaridades da arquitectura e da arte ditas indo-portuguesas são em geral atribuídas ao resultado de uma síntese entre a arquitectura e a arte portuguesas e a influência indiana2. No presente artigo, proponho que olhemos para o problema de outra maneira, examinando a conjuntura cultural em que surgiram as igrejas de Goa do século XVII. Sugiro a hipótese de que estas igrejas são a mais importante manifestação do aparecimento de uma cultura própria dos católicos de Goa. 2 A arquitectura católica de Goa é diferente daquela que podemos ver ao logo da costa dos estados indianos de Maharashtra e do Gujarat (onde se situou a antiga Província do Norte do Estado da Índia), em Kerala, ao longo do Coromandel ou em Bengala. Mas os elementos comuns da arquitectura católica de todas estas regiões vieram de Goa e são muito mais importantes do que aquilo que constitui as diversas identidades regionais. São de origem goesa as capelas-mor cobertas de abobadas de caixotões, as molduras apilastradas, a utilização de volutas nas fachadas, a nave única coberta de telhado, que vemos por toda a Índia católica. Em Kerala, apresentam estes elementos comuns tanto as igrejas de cristãos de rito sírio-malabar como as outras, embora sejam muito diferentes entre si pela disposição interna e os volumes3. Na Província do Norte, onde as igrejas são em geral acentuadamente mais simples que em Goa e Kerala, verificam-se os mesmos elementos. 3 A arquitectura católica da Índia também apresenta semelhanças com igrejas e casas no Brasil, que foi controlado pelos portugueses nos séculos XVI, XVII e XVIII, mas é muito diferente dessa arquitectura, e ainda mais da arquitectura católica da América Latina de língua castelhana ou das Filipinas. 4 A arquitectura católica em solo indiano teve origem no século XVI como uma criação de arquitectos, pedreiros e engenheiros militares portugueses treinados na cultura arquitectónica e artística vigente em Portugal naquela época. Mais tarde nesse século, membros de ordens religiosas provenientes de várias regiões da Europa enriqueceram essa tradição com a sua própria cultura artística. 5 Ao longo do século XVII, começaram a aparecer em Goa, na Província do Norte e em Kerala os primeiros elementos de um tipo especificamente indiano de arquitectura católica. É o caso, por exemplo, de sistemas de abobadamento de possível origem flamenga e de alçados internos que tiveram origem na cultura arquitectónica dos Jesuítas da Índia e tinham muito poucos precedentes internacionais. No final de Seiscentos, estes e outros elementos tinham resultado num tipo de igreja que pode ser descrito como a igreja goesa. 6 Ao longo do século XVI, a partir da conquista portuguesa de 1510, a cidade de Goa foi o único sítio do território goês onde apareceram igrejas importantes4. Infelizmente, só uma igreja dessa época sobreviveu até hoje na sua forma quinhentista: a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Várias outras igrejas muito significativas construídas em meados do século XVI desapareceram subsequentemente: a Sé catedral original, a igreja de S. Paulo dos Jesuítas, a igreja dos Dominicanos, várias paroquiais importantes. 7 As igrejas paroquiais construídas no território conhecido como Ilhas (porque é composto pelas várias ilhas em volta da cidade de Goa primeiro conquistadas pelos 8 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 2/13 portuguesas: Tijuadi, Divar, Chorão, Juá) foram engrandecidas na transição entre os séculos XVI e XVII. O mesmo sucedeu com as igrejas inicialmente edificadas nas outras partes de Goa conquistadas no século XVI, Salcete e Bardez (que, com as Ilhas, formam as Velhas Conquistas), depois de se criarem aí paróquias em 1552. A construção de igrejas fora da cidade de Goa no século XVI foi tarefa apressada, com pouco empenhamento artístico, e só mesmo no final do século começaram a surgir edifícios significativos do ponto de vista arquitectónico. Em Velha Goa, por seu lado, a maior parte dos edifícios que vemos hoje resultaram de profundas modificações ou de novos projectos realizados entre 1590 e 1640: a Sé catedral, a igreja da Casa Professa jesuíta do Bom Jesus, a igreja e convento dos Agostinhos, o convento de Santa Mónica, a igreja de Nossa Senhora do Monte. Este ciclo de esplendor artístico desencadeou a renovação de igrejas fora da Velha Cidade, nas Ilhas, Bardez e Salcete, em toda a primeira metade de Seiscentos. 9 Ainda este ciclo estava em pleno desenvolvimento quando um novo impulso de criatividade arquitectónica teve lugar em Goa em meados do século XVII e prosseguiu até ao início do século seguinte. Foi neste período que surgiram os outros monumentos famosos de Velha Goa que ainda existem: a igreja conventual franciscana do Espírito Santo, a igreja de S. Caetano, parte substancial das instalações do Bom Jesus com a capela de S. Francisco Xavier, os conventos da Cruz dos Milagres e S. João de Deus. Alguns destes edifícios introduziram novos temas e tipos arquitectónicos que desempenhariam um papel fundamental na criação da igreja goesa como, por exemplo, a abobada de penetrações laterais que surge em S. Caetano e na sacristia do Bom Jesus. 10 Esta explosão construtiva deve ter correspondido a um período de prosperidade económica e social mas isto contradiz o conhecimento adquirido acerca da evolução histórica de Goa que pinta os séculos XVII e XVIII como uma época de decadência5. A construção de todos estes grandes edifícios é um facto da história da cultura material que nos obriga a reexaminar a historiografia social e cultural corrente. 11 O descalabro da cidade de Velha Goa ocorreu de facto mas um pouco mais tarde, a partir dos anos iniciais do século XVIII, como que de repente. O Edital do Vice-rei Ericeira datado de 1719 é um bom símbolo desta viragem. O Vice-rei escreve que tem presente «a deformidade em que esta Cidade se acha por causa de muitas Casas Nobres que de poucos annos a esta parte se tem arruinado de tal sorte que muitas Ruas inteiras, e ainda as mais publicas se tem despovoado, fazendo-as quasi inabitadas». Os proprietários arruínam propositadamente as suas casas para utilizarem os materiais de construção em novas moradias situadas «nas Aldeas» e venderem os terrenos urbanos para cultivo. Ericeira proíbe o aproveitamento dos entulhos e manda reedificar todas as casas «da fonte de Penelim até S. Luzia, Igreja de N. Sra da Luz e S. Paulo o Velho», ou seja em todo o perímetro da velha urbe6. 12 Como se sabe, este Edital e outras medidas legais foram inúteis. Tinha começado a demolição de Velha Goa, um dos mais extraordinários processos de desfazimento urbano da história, durante o qual uma cidade que fora uma das grandes metrópoles da Ásia foi deliberadamente desmantelada pedra a pedra pelos seus habitantes no decurso de dois séculos, o XVIII e o XIX, até não restar nada dela a não ser a dúzia de igrejas e conventos que lá vemos hoje. 13 Um dos aspectos mais interessantes e significativos deste processo é que a destruição de Velha Goa se explica em grande medida pelo abandono da cidade pelos seus habitantes, não apenas nem sobretudo os metropolitanos, que eram muito poucos com excepção do clero (que não abandonou a cidade), mas os goeses. Antes da corte do Vice- rei, foram os goeses que saíram da Velha Cidade e, depois da corte se mudar, foram eles que nunca mais quiseram regressar, foram eles que desmontaram Velha Goa pedra a pedra, casa a casa. Ora, a desmontagem de Velha Goa coincide com o florescimento das igrejas e casas goesas através dos territórios das Ilhas, Salcete e Bardez no final do século XVII e durante todos os séculos XVIII e XIX. Não se trata naturalmente de uma coincidência. 14 No século XVIII, as comunidades ou poderosos gãocares tomaram conta da reconstrução total ou parcial de igrejas fundadas no século XVI por Jesuítas (em Salcete) 15 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 3/13 ou Franciscanos (em Bardez) e transformaram-nas em edifícios novos, enquanto as igrejas e conventos de Velha Goa, entregues ao clero europeu, adormeciam na penumbra da história. O conjunto do território das Velhas Conquistas de Goa foi coberto por «um manto branco de igrejas» para utilizar uma frase escrita no século XI na Europa para significar uma época de grande renovação religiosa e arquitectónica. Algumas destas igrejas foram as primeiras que merecem a designação de igrejas goesas. O que distingue igrejas como Santana de Talaulim (iniciada na sua forma presente em 1682) ou Nossa Senhora da Piedade de Divar (1699) de qualquer outra igreja católica construída em qualquer outra parte do mundo é um conjunto de temas formais de que podemos destacar três: abobadas de canhão com penetrações laterais (que são praticamente inexistentes na arquitectura portuguesa mas bastante comuns na Europa do norte e central), alçados articulados por nichos semi-circulares e não por capelas, cobertos por meias abóbadas concheadas, um tema raríssimo na arquitectura europeia e ausente na portuguesa, e uma gramática das ordens e do ornamento sem semelhança com Portugal, a Espanha ou o Brasil. 16 A diferença da chamada casa goesa / goan house em relação a outros tipos de casa urbana e rural, por seu lado, já foi demonstrada academicamente7. Estudiosos, operadores turísticos e outras pessoas, tanto em Goa como por toda a parte, concordam que as casas construídas em Goa sobretudo por proprietários católicos de classe média ou alta nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século XX constituem uma corrente extraordinariamente distinta no panorama da habitação em todo o mundo. Estas casas são hoje designadas na Índia por Casas Portuguesas, creio que por influência da indústria turística porque Portuguesa é uma designação mais exótica que Goesa para turistas indianos, britânicos ou russos. Mas é evidente que casas como as de Goa não existem em nenhuma cidade, vila ou aldeia de Portugal, do Brasil ou da África influenciada pelos portugueses. São puramente goesas. 17 Nestas casas e nas igrejas existem peças de mobiliário litúrgico e profano, desde púlpitos a arcazes de sacristia, desde mesas a crucifixos de madeira e marfim, que há muito são conhecidos como arte indo-portuguesa e há muito são confundidos com peças que foram produzidas para o mercado europeu noutras regiões da Índia e noutras regiões da Ásia e que com as primeiras mantêm um ar de família embora não sejam da mesma família8. De facto, as peças feitas pelos católicos de Goa para as suas igrejas e as suas casas, desde cadeiras a crucifixos ou rosários de madeira e marfim são diferentes de, por exemplo, as caixas, colchas ou contadores produzidos na Índia mogol ou em Bengala. Embora sejam todas peças indianas, as peças goesas são distintas e pertencem a uma cultura própria. 18 Estas igrejas, estas casas e estas peças são incontornáveis. Mas arrisco dizer que a historiografia da arquitectura e da arte, à qual pertenço, não tem talvez tornado essa evidência suficientemente evidente para que os historiadores da cultura e da sociedade se apercebam claramente de que há aqui um problema para o qual a cultura material dos católicos de Goa os desafia a encontrar respostas. 19 De facto, a diferença arquitectónica e artística existente nas igrejas, casas e objectos de Goa tem geralmente sido explicada pela história da arte, desde há mais de um século, com os conceitos de encontro entre o Oriente e Ocidente, fusão, influência, hibridez. Diria até que a questão tem sido arrumada deste modo, considerando a simplicidade dos conceitos e a descontracção com que são manipulados. De acordo com estas narrativas, as igrejas de Goa – e a arte indo-portuguesa em geral – exibe uma combinação de motivos ou traços orientais e ocidentais, cuja dose varia de acordo com a época, o lugar e a circunstância, quase como uma receita de cozinha, resultando numa coisa original e um pouco exótica, mas sempre isto e aquilo, uma soma, um híbrido, uma mistura. 20 A razão avançada para o carácter híbrido da arquitectura goesa é a história (as mais das vezes não documentada) de que os edifícios teriam sido ornamentados por artífices locais convertidos e também, por vezes, por pintores, escultores e artesãos hindus ou muçulmanos cuja intervenção nas obras desafiava as proibições constantes dos decretos dos Concílios Provinciais dos séculos XVI e XVII9. 21 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 4/13 A ideia de hibridez e combinação tem dois defeitos. O primeiro é que não ajuda a ver melhor as obras de arquitectura ou arte como elas são. O segundo é que lança uma perturbadora dúvida sobre as motivações e a história ideológica de quem o utiliza. 22 As igrejas de Goa são edifícios cheios de integridade e carácter. É verdade que, analisando os edifícios pedaço a pedaço podemos ver composições de alçado portuguesas (Mapuça), abobadas flamengas (Margão), torres bijapuris (Espírito Santo de Velha Goa ou Penha de França), estuques e desenho ornamental concanis (Mandur), etc. Mas as igrejas como edifícios não resultaram da soma das suas partes constitutivas. Para qualquer pessoa com sensibilidade arquitectónica ou artística estas igrejas não são o resultado final de um compromisso mas a afirmação artística de uma posição cultural. Os seus encomendadores e construtores sabiam muito bem aquilo com que queriam que uma igreja católica se parecesse e como deveria ser experimentada. A sua compreensão não era, creio eu, portuguesa, flamenga ou indiana mas católica goesa (ou indo- portuguesa, se nisso fizerem muita questão). 23 O inescapável facto de que as igrejas, as casas e as chamadas artes decorativas de Goa não têm paralelo na Índia ou em qualquer outra parte leva-me a concluir que estas coisas, para utilizar a palavra que George Kubler preferia à bristling ugliness da expressão cultura material10, desenvolveram as suas características próprias como as mais importantes manifestações da identidade ou retrato colectivo (outra expressão de Kubler) de um grupo de pessoas que foi constituído ao longo dos séculos XVI e XVII como resultado da conversão ao catolicismo e teve de criar uma cultura distinta para si. 24 Neste contexto, as igrejas de Goa posteriores à segunda metade do século XVII não são edifícios impostos aos goeses, ou edifícios negociados entre os goeses e prelados ou autoridades estrangeiras. São edifícios de goeses, projectados e construídos por arquitectos e pedreiros goeses, incluindo padres católicos goeses, e frequentemente encomendados por proprietários rurais ou comunidades goesas. De facto, as duas igrejas que primeiro podem ser consideradas completamente goesas, Santana de Talaulim e a Piedade de Divar, foram muito provavelmente projectadas por padres goeses, respectivamente Francisco do Rego (1638-1689) e António João de Frias (1664-1727). 25 Numa mensagem que me mandou há dois anos a um outro propósito, Rochelle Pinto11 escreveu: «The indigenous Christian becomes an embarrassment for the kind of research sustaining an idea of colonial power that adheres to a clear binary distinction between coloniser and colonised, and the desire to recognise resistance only in gestures that also reproduce that binary». A frase é muito poderosa e ocorre-me frequentemente, incluindo a propósito do tema do presente artigo. De facto, não tenho aqui ocasião de desenvolver o assunto como ele merece, mas a arquitectura e as artes dos cristãos da Índia têm constituído um embaraço considerável para ingleses, portugueses, indianos – e, por arrastamento, para os próprios católicos da Índia – desde o século XIX. Tudo tem sido feito e escrito para desprover essas manifestações artísticas de autonomia, dignidade e clareza. Os ingleses desprezaram por sistema as igrejas da Índia, o mobiliário litúrgico e doméstico, as casas12. Os portugueses e os indianos13 (e também os ingleses, noutras conjunturas) dedicaram o melhor do seu tempo à teoria das influências e do hibridismo buscando traços de portuguesismo e indianismo, ora mais de um dos lados, ora mais do outro, nacionalismo versus nacionalismo, sem que o oratório, a pintura, a casa, a igreja, pudessem existir por si próprios, por aquilo que são, não campos de encontro ou de confronto entre diversas culturas, mas manifestações de uma outra cultura – que as culturas nacionais de hoje gostariam que desaparecesse da história. 26 Sou historiador da arquitectura e da arte. Cabe-me fazer a história própria de edifícios, conjuntos edificados, peças artísticas. Outros colegas, de outras especialidades da história, que tirem disso as consequências devidas para seus próprios campos de saber. Todavia, no estado incipiente da investigação sobre estes temas, permito-me, com plena consciência dos riscos em que incorro, avançar as seguintes sugestões. A primeira é que uma das mais importantes razões para a negligência que tem rodeado a história dos católicos de Goa e da sua cultura reside no manto de esquecimento sob o qual a própria igreja católica tem preferido manter a sua história na Índia no século XIX e no desinteresse com que a historiografia europeia – e indiana por maioria de razão – 27 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 5/13 acompanha as questões da história da igreja. De facto, o confronto muito violento entre o Padroado e a Propaganda Fide não foi uma das histórias mais edificantes ou gloriosas da história da igreja. Todavia, para se perceber a origem da igreja goesa como edifício é preciso conhecer essa história porque – e esta é a minha segunda sugestão – esse tipo de igreja foi criada pelo clero nativo goês, protagonista de primeiro plano do conflito entre o Padroado e a Propaganda nos séculos XVIII, XIX e XX. Sabemos ainda muito pouco sobre a questão do clero nativo na Índia14. Até à expulsão dos Jesuítas não havia na Índia portuguesa nenhum seminário no sentido Tridentino do termo apesar de inúmeras decisões nesse sentido por parte dos concílios provinciais desde o século XVI15. Existia evidentemente o colégio jesuíta da Santa Fé, os Dominicanos tinham o colégio de S. Tomás (1596), os Franciscanos o de S. Boaventura (1602), os Agostinhos o de N. S. do Pópulo (1602) mas o papel desempenhado por estes estabelecimentos na formação efectiva de um clero goês foi desprezível16. 28 Mas alguns padres goeses estiveram de facto activos desde meados do século XVI, e isso teve consequências importantes para a formação de uma arquitectura católica específica. Num relatório submetido à Propaganda Fide em Roma depois de 1655, o padre português Pedro Borges, que desempenhara em Goa as funções de secretario da Inquisição, divulgou os números da distribuição de paróquias entre o clero regular e secular, europeus e goeses17. De acordo com o seu relatório, a desproporção entre aquilo que se passava nas Ilhas e no resto do território goês era impressionante: os padres europeus das ordens regulares (essencialmente os Jesuítas em Salcete, os Franciscanos em Bardez, os Dominicanos e os Agostinhos nas Ilhas) tinham a seu cargo praticamente todas as paróquias em Bardez e Salcete, 23 e 25 respectivamente. Na Velha Cidade, todas as 11 paróquias existentes estavam em mãos de padres regulares europeus. Nas Ilhas, porém, havia 21 paróquias controladas por padres goeses. Os europeus só tinham a seu cargo 5 paróquias. 29 Estes números surpreendentes são confirmados por outras fontes e documentos, a começar pela crónica jesuíta de Sebastião Gonçalves escrita cerca de 1614: quase todas as paróquias nas Ilhas estavam «a conta dos Clérigos naturaes desta terra» com excepção de Taleigão, Santa Cruz, Santa Bárbara (Morombim-o- -Grande) e Santa Maria Madalena (Siridão), que eram paróquias dominicanas18. Isto quer dizer que no início do século XVII as ilhas de Tijuadi, Divar, Juá e Chorão eram controladas paroquialmente pelos goeses. 30 Uma razão provável para isto ter sucedido foi a acção pastoral do arcebispo D. frei Aleixo de Menezes (em Goa 1595-1609). Foi ele o primeiro a substituir clérigos regulares por padres nativos e a criar paróquias para padres goeses. Fê-lo precisamente nas Ilhas onde a sua própria ordem, os Agostinhos, tinha em mãos várias paróquias19. 31 Foi provavelmente por isso que a arquitectura religiosa goesa apareceu nas Ilhas. Santana de Talaulim e a Piedade de Divar situam-se nas Ilhas e as inovações subsequentes mais decisivas da arquitectura das igrejas goesas também surgiram neste território20. 32 Na década de 1650, os clérigos da ordem italiana dos Teatinos (a designação deriva do seu fundador S. Caetano de Thiene), que tinham chegado a Goa pouco antes de 1640, iniciaram a obra da sua igreja em Velha Goa, Nossa Senhora da Divina Providência ou S. Caetano, introduzindo algumas novidades arquitectónicas, nomeadamente a abobada de penetrações e o zimbório, cuja importância deve ser avaliada tendo em mente que os Teatinos desempenharam um papel decisivo no drama que se desenrolava em volta do problema do clero nativo e também da crescente presença na Índia da Propaganda Fide à qual os Teatinos, aliás, não eram estranhos21. Em Goa, a nova ordem pregou em favor do acesso dos indianos à comunhão na mesma altura em que padres goeses se afadigavam em Lisboa e em Roma em favor do direito dos seus irmãos a ascenderem na hierarquia da igreja católica na Índia portuguesa. 33 Dois nomes mereceram até hoje alguma investigação (mas não muita, valha a verdade): o goês Mateus de Castro, um brâmane de Divar22, e o português Pedro Borges. Houve certamente outros. 34 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 6/13 Mateus de Castro chegou a Roma em 1625, foi ordenado padre em 1630, voltou a Goa em 1633 como Protonotario Apostólico, quer dizer, como enviado da Santa Sé. Regressou a Roma em data incerta para lutar pela causa do clero nativo. Em 1653 escreveu um tratado em português em defesa do clero de origem brâmane, o Espelho dos Bracmanes. Tanto a sua trajectória como a de Pedro Borges, que também serviu a Propaganda, mostram que o caso do clero goês foi utilizado por diversos poderes e instituições anti-portuguesas: a Propaganda Fide, para começar, mas também, em grande medida, a França e os cardeais franceses em Roma. A França estava em guerra com as potências ibéricas e, na capital dos papas, os franceses procuravam impor os seus candidatos ao trono de S. Pedro contra candidatos espanhóis ou favorecidos pelos Áustria e colocar os seus próprios missionários no Médio Oriente e na Ásia. O papado era outro inimigo das coisas portuguesas. Não reconhecia a nova dinastia dos Bragançãs e favorecia sempre que possível a Espanha, o seu melhor aliado na Europa. Havia ainda a Companhia das Índias Orientais holandesa que procurou tirar vantagem da conspiração urdida em volta de Mateus de Castro para expulsar os portugueses de Goa23. E finalmente, mas ocupando um lugar crucial, é necessário considerar a mais importante potência militar, política e cultural de meados do século XVII no Decão: o sultanato de Bijapur. Em 1654 Mateus de Castro estava em Bijapur e parece ter tentado conspirar com os bijapuris e os holandeses para atacar Goa24, embora esta história precise de ser melhor esclarecida25. 35 Bijapur só pode ser descrita como uma potência muçulmana na linguagem simplista das ideologias da historiografia colonial e do fascismo confessional dos nossos dias. Era em grande medida, como as outras monarquias do Decão ou o império Mogol, um estado que procurava manter o equilíbrio entre os seus diferentes súbditos, incluindo os cristãos e os muitos estrangeiros que procuravam emprego na corte. Viajavam até Bijapur e Golconda vários padres católicos. Missões da Propaganda Fide estabeleceram- se nos reinos do Decão. É portanto natural que abundassem em Bijapur enviados cristãos (e espiões, incluindo do Vice-rei em Goa). Aproveitando uma rebelião que teve lugar em Bardez em 1654, um comandante bijapuri, provavelmente instigado por Mateus de Castro, invadiu a região. O plano, mal urdido e pior aplicado, falhou. Mateus de Castro fugiu para Roma em 1656 e lá morreu mais de 20 anos mais tarde em 1677. 36 Frei Pedro Borges, como Mateus de Castro, transferiu a sua lealdade para a Propaganda através da intermediação dos bijapuris que o auxiliaram a passar de Goa a Roma onde, tendo obtido audiência do papa duas vezes em 1656, fez muito mal ao Padroado com os seus escritos26. 37 Roma, a França, os holandeses, Bijapur, todos utilizaram o caso do clero goês para enfraquecer o poderio português na Índia. Mas é evidente que os padres goeses também procuraram tirar vantagem destes acontecimentos em favor da sua causa de modo a pressionarem a coroa portuguesa e a igreja através da ameaça de se virarem para forças anti-portuguesas. 38 Em 1658, Roma fez sair a Constituição Sacrosancti Apostolatus Officii dirigida ao Vigário Capitular de Goa na qual o clero regular e secular europeus em Goa são acusados de substituir o clero nativo sem necessidade e de lhe negar o acesso às paróquias até mesmo quando os padres europeus que as ocupavam não falavam a língua local. Um decreto da Propaganda Fide do mesmo ano tentou corrigir estes abusos27. 39 Em 1677 e 1678, o arcebispo D. António Brandão deixou-se envolver num violento conflito com os Jesuítas de Salcete acerca dos direitos de visitação às suas paróquias que eles lhe negavam com veemência. D. António excomungou os Jesuítas e ameaçou entregar as paróquias aos clérigos nativos28, mais um episódio em que o problema do clero nativo é ao mesmo tempo a causa de um conflito e a arma usada noutros conflitos, neste caso entre o arcebispo e as ordens religiosas. 40 O mesmo sucedeu no início de Setecentos em Bardez quando o arcebispo Ignacio de Santa Teresa (1721-1729) procurou substituir os Franciscanos por clérigos nativos à cabeça das paróquias causando uma verdadeira rebelião entre o clero29. O arcebispo Santa Teresa envolveu-se em sucessivos conflitos com o Vice-rei e as congregações, 41 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 7/13 sobretudo os Jesuítas e os Agostinhos, a sua própria ordem, em volta de vários assuntos, o mais importante dos quais foi o seu evidente favorecimento do clero goês30. A primeira congregação de clérigos nativos foi criada em Goa em 1682: o Recolhimento de Santa Cruz dos Milagres formado por três padres seculares de Margão aos quais se juntou mais tarde frei José Vaz que os dotou com a regra dos Oratorianos de Lisboa em 168531. 42 Alguns anos mais tarde, clérigos goeses de casta alta, brâmane ou chardó, debatiam através de material impresso ou manuscrito os respectivos méritos de casta numa afirmação pública do triunfo relativo do clero goês nos círculos católicos. Dois dos mais significativos participantes neste debate eram nem mais nem menos que os padres- arquitectos de Santana de Talaulim e da Piedade de Divar, Francisco do Rego e António João de Frias. O papel relevante desempenhado pelos padres goeses no campo ideológico não pode ser desligado da forma muito original dos edifícios que projectaram e ajuda a compreender a complexidade cultural da conjuntura na qual surgiu a arquitectura católica goesa. 43 A igreja de Santana de Talaulim estava a cargo de padres goeses desde os últimos anos do século XVI32. Este facto precisa de ser melhor esclarecido porque a igreja tinha sido construída em meados do século pelos Jesuítas e só se tornou sede de paróquia em 1695 sendo imediatamente entregue ao clero nativo. Os vigários goeses fizeram dela um verdadeiro monumento a eles próprios e à sua linhagem: no pavimento da igreja podemos ainda ver três sepulturas de sacerdotes de Goa com inscrições em português declarando que eram brâmanes (bracmanes). Entre estas sepulturas, a de Francisco do Rego ocupa um lugar de destaque face ao altar-mor. 44 O manuscrito da sua autoria, Tratado Apologético contra as varias Calumnias impostas pela malevolência contra a sua Nação Bracmana, que ficou por publicar, e o livro do padre António João de Frias, Aureola dos Índios & Nobiliária Bracmane, publicado em Lisboa em 1702, são variações sobre o anterior Espelho dos Bracmanes de Mateus de Castro (1653) que, recordemo-lo, era de Divar e um brâmane, como tal elogiado por Frias no seu livro. 45 Cinquenta anos depois de Castro ter aparentemente conspirado com Bijapur para derrubar o domínio português em Goa, um livro que o elogiava foi aí escrito e passou depois por todas as etapas da censura inquisitorial e da corte para ser finalmente publicado em Lisboa. Isto sucedeu porque a maior parte destes sacerdotes goeses tinham estado em Portugal e frequentado a Universidade de Coimbra e as Academias do meio literário e aristocrático de Lisboa, como indica o facto de que os seus escritos, incluindo comédias e poemas atribuídos a Francisco do Rego, são mencionados pela Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado (1741-1758) que é, entre outras coisas, uma bibliografia comentada da literatura académica do final do século XVII e da primeira metade do século XVIII. A publicação e sucesso da literatura goesa também foi possível porque as coisas da religião e da política não eram percebidas então como as percebemos hoje. Castro foi elogiado por António João de Frias pela sua casta, quer dizer, pela sua linhagem, e pelo facto de ter sido um bispo católico, independentemente da sua ligação à Propaganda ou até a Bijapur. 46 O livro de Frias provocou uma resposta escrita de um padre de casta chardó, Leonardo Paes: o livro Promptuario das Deffinições Indicas publicado em Lisboa em 1713, um longo tratado histórico contra os brâmanes e em favor dos príncipes e guerreiros de toda a Índia (incluindo o grande inimigo do poder português, o príncipe marata Shivaji!) e dos gãocares de localidades chardó de Salcete como Orlim, Azossim, Carmoná e outras33. 47 Pergunto-me que importâncias terão tido as questões de casta para a rivalidade entre paróquias e portanto para a escolha das soluções arquitectónicas e ornamentais das suas igrejas. A articulação das posições da casta alta, brâmane ou chardó, no seio da igreja católica de Goa e, portanto, na sociedade goesa, é ainda uma história por contar. Todavia, é da maior importância para se perceber o significado da arquitectura eclesiástica goesa. De facto, os católicos de Goa não constituíam uma única comunidade. Estavam divididos por fronteiras sociais, regionais, políticas e linguísticas que mudaram ao longo dos tempos. A cultura material dos católicos apresenta um elevado grau de 48 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 8/13 Igreja de Santana de Talaulim, planta de Mário Tavares Chicó, 1951 Igreja de Santana de Talaulim, fachada, desenho de Mário Tavares Chicó, 1951 coerência se comparada com a de outros grupos religiosos mas há com certeza distinções importantes a estabelecer entre, por exemplo, uma casa de uma família católica brâmane da Salcete e outras casas católicas dessa região e entre diferentes tipos de ornamento e mobiliário entre casas e capelas de católicos de casta alta e de outras castas. Todavia, para estabelecer estas distinções seria necessário saber muito mais do que sabemos acerca de quem encomendou as igrejas e as casas goesas. O que sugiro desde já é que edifícios como as igrejas de Santana de Talaulim e Nossa Senhora da Piedade de Divar representam o início da afirmação cultural do clero goês de casta alta, provavelmente o primeiro testemunho material de uma cultura independente da elite católica de Goa. As igrejas goesas como um tipo particular de edifício católico atingiram a sua integridade precisamente quando, na transição do século XVII para o século XVIII, os católicos de Goa começavam a controlar o seu próprio destino cultural. 49 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 9/13 Igreja de N. S. da Piedade, Divar, interior, fotografia de Paulo Varela Gomes, 2008. Notas 1 A expressão «arte indo-portuguesa» parece ter sido criada na década de 1880, mais ao menos ao mesmo tempo, pelo conservador do Museu de South Kensington, mais tarde Museu Victoria & Albert, John Robinson (falecido em 1913) e pelos eruditos e historiadores da arte portugueses Sousa Viterbo (1846-1910) e Joaquim de Vasconcelos (1849-1936). Mas estes homens nunca se 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 10/13 referiram a uma arquitectura indo-portuguesa, salvo erro, porque nunca se interessaram por edifícios mas apenas pelas artes decorativas. A expressão arquitectura indo-portuguesa é da responsabilidade dos historiadores da arquitectura e da arte Mário Tavares Chicó (1905-1966) e Carlos de Azevedo (1918-1955) que, após a missão de inventário e investigação que empreenderam à Índia portuguesa em 1951 a mando do governo de Lisboa, escreveram mais de uma dúzia de artigos e alguns livros, em português e em inglês, sobre as igrejas e templos de Goa, Diu e Damão. Estas publicações fundaram os estudos da arquitectura do Estado da Índia. 2 A bibliografia existente sobre a arquitectura e a arte indo-portuguesa é imensa. Só sobre arquitectura bastará percorrer as bases de dados das principais bibliotecas portuguesas nos nomes de Mário Tavares Chico, Carlos de Azevedo, José Manuel Fernandes, Rafael Moreira, Pedro Dias, Hélder Carita, António Nunes Pereira, e as bibliotecas de Goa no nome de David Kowal e José Pereira. O presente artigo corresponde à reescrita da introdução do meu livro Goan Churches. A history of church architecture in Goa, que a editora de Nova Delhi Yoda Press anuncia como em vias de publicação desde Maio de 2009. 3 Ver Hélder Carita, Arquitectura Indo-Portuguesa na região de Cochim e Kerala, Transbooks, 2009. 4 Sobre a arquitectura de Velha Goa entre os séculos XVI e XVII, ver Pedro Dias, O Espaço do Índico, História da Arte Portuguesa no Mundo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999 e António Nunes Pereira, A Arquitectura Religiosa Cristã de Velha Goa. Segunda metade do século XVI – primeiras décadas do século XVII, Lisboa, Fundação Oriente, 2005. 5 Esta narrativa teve início no próprio século XVIII, se não antes, nos momentos de crise aguda provocados pelo bloqueio holandês em inícios de Seiscentos e pela ofensiva marata em Seiscentos, mas foi desenvolvida na imprensa oitocentista nas histórias de Velha Goa de Cottineau de Klogen (1831) e do goês Nicolau da Fonseca (1878). 6 Cláudio Lagrange Monteiro de Barbuda, Instrucções com que El-Rei D. José I mandou passar ao Estado da Índia o Governador e Capitão General e o Arcebispo Primaz do Oriente no ano de 1774, publicadas por Cláudio Lagrange Monteiro de Barbuda, Nova Goa, Imprensa Nacional, 1903. Ver Introdução. 7 Ver Hélder Carita, Palácios de Goa, modelos e tipologias de arquitectura civil Indo-portuguesa, Lisboa, Quetzal, 1995; Ângelo da Costa Silveira, A casa-pátio de Goa, Porto, FAUP Publicações, 1999; Heta Pandit e Annabel Mascarenhas: Annabel, Houses of Goa, Goa, Architecture Autonomous 1999. 8 Este facto foi denunciado pela primeira vez por um artigo do orientalista (como então se dizia) do Museu Britânico John Irwin (1917-1997) publicado num número de 1955 do Burlington Magazine sob o título «Reflections on Indo-Portuguese Art». Utilizo o verbo denunciar no seu sentido mais banal e brutal. Irwin procura separar as obras que considera de elevada qualidade estética – aquelas produzidas em oficinas indianas mogóis, bengalis ou gujerates – das obras de proveniência indiana católica que considera inferiores. O artigo teve muita influência em Portugal embora ninguém se tivesse atrevido a citá-lo nas suas partes mais controversas, digamos assim. Para uma apreciação, entre outras possíveis, da diferença entre peças indianas de origem católica e outras, veja-se, por exemplo: Maria Helena Mendes Pinto, «Sentando-se em Goa», Oceanos n.º 19/20 (1994), pp. 43-58. 9 Esta narrativa é tão sugestiva de um conflito cheio de compromissos e trânsfugas de um lado e de outro que chegou a influenciar um historiador tão actualizado metodologicamente como o norte-americano David Kowal, provavelmente o primeiro que olhou para as igrejas de Goa como não podendo ser descritas simplesmente enquanto portuguesas com um toque de exotismo ou indianismo. Ver: David M. Kowal, «The evolution of ecclesiastical architecture in Portuguese Goa», India and Portugal. Cultural Interactions, ed. José Pereira and Pratapaditya Pal, Marg Publications, Mumbai, 2001, pp. 70-87 (publicado também em Mitteilungen der Carl Justi- Vereinigung, 5, 1993, pp. 1-22). Para uma versão recente, ver Pedro Dias, Índia, artes decorativas e iconográficas, série Arte de Portugal no Mundo, Público, 2008, pp. 13 sgs. 10 Ver Kubler, The Shape of Time, Remarks on the History of Things, Yale University Press, 1962, p. 9. 11 Rochelle Pinto é autora de um estudo fundamental sobre a cultura de Goa no século XIX, Between Empires, print and politics in Goa, New Delhi, Oxford U. P., 2007. 12 Para uma introdução a esta questão – que está por investigar – ver: Paulo Varela Gomes, «Bombay Portuguese – ser ou não ser português em Bombaim no século XIX», Revista Portuguesa de História das Ideias, n. 28, 2007, pp. 567-608. 13 Ver José Pereira, Baroque Goa, New Delhi, Books & Books, 1995 e Churches of Goa, New Delhi, Oxford U.P., 2002; Heta Pandit e Annabel Mascarenhas, Ob. cit. 14 A bibliografia sobre o tema é muito vasta, muito dispersa, muito incompleta. Entretanto, ver: C. M. Melo, The recruitment and formation of the native clergy in India – 16th to 19th century, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1955; Charles BOXER, Race relations in the Portuguese colonial Empire, 1415-1825, Oxford U. P., 1963, e «The problem of the native clergy in the Portuguese and Spanish Empires», in J.S. Cummins, The Missions of the Church and the propagation of the faith, Studies in the Church History, Cambridge, Cambridge U. P., 1970; Leopoldo da Rocha, As Confrarias de Goa: séculos XVI-XIX, conspectos histórico-jurídicos, 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 11/13 Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1973, pp 176 sgs. e «Uma página inédita do Real Mosteiro de Santa Mónica de Goa (1730-1734) e achegas para a história do padre nativo», Mare Liberum, 17, 1999, pp. 229-266; Maria de Jesus Mártires Lopes, Goa Setecentista, tradição e modernidade, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1999, pp. 135 sgs. 15 C. M. Melo, Ob. cit., p. 143. 16 Idem, pp. 164 sgs. 17 Idem, pp. 156 sgs. 18 António Bernardo de Bragança Pereira, «Os primeiros cristãos e as igrejas das Ilhas de Goa», Boletim Ecclesiastico da Arquidiocese de Goa, 8,9,12,13, 1945, pp. 7 sgs. 19 C. M. Melo, Ob. cit., p. 146. 20 Refiro-me, por exemplo, à falsa cúpula, ou às fachadas cupoliformes, como as designa José Pereira, que sustento terem sido inventadas na igreja de Santo Estevão de Juá em meados do século XVIII. 21 Sobre este tema e para mais bibliografia ver: Susan Klaiber, Guarino Guarini’s Theatine Architecture, PhD dissertation, 2 vols., Columbia University, 1993; Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião e Politica em Portugal no século XVII. A planta centralizada, Porto, FAUP Publicações, 2001, pp. 305 sgs 22 C. M. Melo, Ob. cit., pp. 215 sgs; Ângela Barreto Xavier, A invenção de Goa, poder imperial e conversões culturais nos séculos XVI e XVII, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2008, pp. 417 sgs. 23 Afzal Ahmad, Indo-Portuguese Diplomacy during the 16th and 17th centuries (1500-1663), New Delhi, Originals, 2008. 24 Pratima Kamat, «Mateus de Castro – a rebel», Purabhilekh-Puratatva, V, 2, 1987, pp. 11-22. 25 Afzal Ahmad, Ob. cit., pp. 322 e sgs. 26 C. M. Melo, Ob. cit., pp. 156 sgs. 27 Idem pp.150 e sgs. 28 Idem, p. 178. 29 Casimiro Cristovão de Nazaré, Mitras Lusitanas do Oriente…, Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1897, pp. 237 e sgs. 30 Leopoldo da Rocha, «Uma página inédita do Real Mosteiro de Santa Mónica de Goa…», ob. cit. 31 C. M. Melo, Ob. cit., p. 176 32 Fr. Nascimento J.Mascarenhas, Follow Me – Parish Priests of the Parishes of Ilhas, Verna, New Age Printers, 2009. 33 Ver Xavier, A invenção de Goa, op. cit., pp. 381-440 e Ines G. Zupanov, «Convesion Historiography in South Asia: alternative Indian Christian counter – histories in Eighteenth century Goa», The Medieval History Journal, 12, 12 (2009): pp. 303-325. Índice das ilustrações Título Igreja de Santana de Talaulim, planta de Mário Tavares Chicó, 1951 URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 1.png Ficheiros image/png, 122k Título Igreja de Santana de Talaulim, fachada, desenho de Mário Tavares Chicó, 1951 URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 2.png Ficheiros image/png, 577k Título Igreja de N. S. da Piedade, Divar, interior, fotografia de Paulo Varela Gomes, 2008. URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 3.png Ficheiros image/png, 520k Para citar este artigo 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 12/13 Referência do documento impresso Paulo Varela Gomes, «As igrejas dos católicos de Goa», Ler História, 58 | 2010, 47-60. Referência eletrónica Paulo Varela Gomes, «As igrejas dos católicos de Goa», Ler História [Online], 58 | 2010, posto online no dia 01 dezembro 2015, consultado no dia 05 outubro 2024. URL: http://journals.openedition.org/lerhistoria/1146; DOI: https://doi.org/10.4000/lerhistoria.1146 Este artigo é citado por Pinto, Rochelle. Mendiratta, Sidh Losa. Rossa, Walter. (2018) Reframing the Nineteenth Century. Revista Crítica de Ciências Sociais. DOI: 10.4000/rccs.7006 Autor Paulo Varela Gomes Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade de Coimbra Direitos de autor Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário. 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 13/13
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05/10/24, 18:24 As igrejas dos catdlicos de Goa OpenEdition , | SEARCH Q Todo OpenEdition WY, Journals Ler Histor 58 | 2010 Goa: 1510-2010 Dossier: Goa: 1510-2010 As igrejas dos catolicos de Goa Eglises catholiques de Goa Catholic Churches from Goa PAULO VARELA GOMES p. 47-60 https://doi.org/10.4000/lerhistoria. 1146 Resumos Portugués Francais English Os catdlicos de Goa e de outros antigos territorios portugueses na India criaram igrejas e casas que sao tnicas na hist6ria mundial da arquitectura. Estes edificios apareceram em Goa e sao conhecidos desde meados do século XX como arquitectura indo-portuguesa.A originalidade desta arquitectura tem sido atribuida ao resultado de uma sintese entre a arquitectura e a arte portuguesas e a influéncia indiana. O presente artigo olha para o problema de outra maneira, examinando a conjuntura cultural em que surgiram as igrejas de Goa do século XVII, sugerindo que estas séo a mais importante manifestacéo do aparecimento de uma cultura propria dos catolicos de Goa. Les catholiques de Goa et des autres anciens territoires portugais de l’Inde ont créé des églises et des maisons d’un type unique dans histoire mondiale de l’architecture. Apparus 4 Goa, ces batiments furent connus dés le milieu du XXe siécle sous la dénomination d’architecture indo- portugaise. On considére habituellement que l’originalité de cette architecture serait d’étre le résultat d’une synthése entre l’architecture et l’art portugais d’une part, et l’influence indienne d’autre part. Cet article propose un autre point de vue en examinant la conjoncture au cours de laquelle les églises de Goa sont apparues. I] suggére l’hypothése que ces églises furent la plus importante manifestation de l’avénement d’une culture propre des catholiques de Goa. The Catholics from Goa and other former Portuguese territories in India created churches and houses which are unique in the world history of architecture. These buildings appeared in Goa and are known since the mid 20th century as Indo-Portuguese architecture. The singularity of this architecture is usually attributed to it being the result of a synthesis between Portuguese architecture and art, on the one hand, and Indian influence, on the other. The present article discusses these churches from a different point of view, examining aspects of the religious situation in which they appeared and suggesting they were the more important early manifestation of an autonomous culture of Goan Catholics. Entradas no indice Mots-clés : Goa, architecture, clergé, conversion https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 1/13 Keywords: Goa, architecture, clergy, conversions Palavras-chave: Goa, arquitectura, clero, conversões Texto integral Os católicos de Goa e de outros antigos territórios portugueses na Índia criaram igrejas e casas que são únicas na história mundial da arquitectura. Estes edifícios apareceram em Goa e são conhecidos talvez desde meados do século XX1 como arquitectura indo-portuguesa. Representam uma das mais notáveis contribuições para a história da construção provinda de regiões que não aquelas nas quais amadureceram a arte e a arquitectura cristãs nas idades primo-moderna e moderna: a Itália, a Espanha, a França, a Flandres e a Europa Central. 1 Esta originalidade tem sido hesitantemente compreendida e as peculiaridades da arquitectura e da arte ditas indo-portuguesas são em geral atribuídas ao resultado de uma síntese entre a arquitectura e a arte portuguesas e a influência indiana2. No presente artigo, proponho que olhemos para o problema de outra maneira, examinando a conjuntura cultural em que surgiram as igrejas de Goa do século XVII. Sugiro a hipótese de que estas igrejas são a mais importante manifestação do aparecimento de uma cultura própria dos católicos de Goa. 2 A arquitectura católica de Goa é diferente daquela que podemos ver ao logo da costa dos estados indianos de Maharashtra e do Gujarat (onde se situou a antiga Província do Norte do Estado da Índia), em Kerala, ao longo do Coromandel ou em Bengala. Mas os elementos comuns da arquitectura católica de todas estas regiões vieram de Goa e são muito mais importantes do que aquilo que constitui as diversas identidades regionais. São de origem goesa as capelas-mor cobertas de abobadas de caixotões, as molduras apilastradas, a utilização de volutas nas fachadas, a nave única coberta de telhado, que vemos por toda a Índia católica. Em Kerala, apresentam estes elementos comuns tanto as igrejas de cristãos de rito sírio-malabar como as outras, embora sejam muito diferentes entre si pela disposição interna e os volumes3. Na Província do Norte, onde as igrejas são em geral acentuadamente mais simples que em Goa e Kerala, verificam-se os mesmos elementos. 3 A arquitectura católica da Índia também apresenta semelhanças com igrejas e casas no Brasil, que foi controlado pelos portugueses nos séculos XVI, XVII e XVIII, mas é muito diferente dessa arquitectura, e ainda mais da arquitectura católica da América Latina de língua castelhana ou das Filipinas. 4 A arquitectura católica em solo indiano teve origem no século XVI como uma criação de arquitectos, pedreiros e engenheiros militares portugueses treinados na cultura arquitectónica e artística vigente em Portugal naquela época. Mais tarde nesse século, membros de ordens religiosas provenientes de várias regiões da Europa enriqueceram essa tradição com a sua própria cultura artística. 5 Ao longo do século XVII, começaram a aparecer em Goa, na Província do Norte e em Kerala os primeiros elementos de um tipo especificamente indiano de arquitectura católica. É o caso, por exemplo, de sistemas de abobadamento de possível origem flamenga e de alçados internos que tiveram origem na cultura arquitectónica dos Jesuítas da Índia e tinham muito poucos precedentes internacionais. No final de Seiscentos, estes e outros elementos tinham resultado num tipo de igreja que pode ser descrito como a igreja goesa. 6 Ao longo do século XVI, a partir da conquista portuguesa de 1510, a cidade de Goa foi o único sítio do território goês onde apareceram igrejas importantes4. Infelizmente, só uma igreja dessa época sobreviveu até hoje na sua forma quinhentista: a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Várias outras igrejas muito significativas construídas em meados do século XVI desapareceram subsequentemente: a Sé catedral original, a igreja de S. Paulo dos Jesuítas, a igreja dos Dominicanos, várias paroquiais importantes. 7 As igrejas paroquiais construídas no território conhecido como Ilhas (porque é composto pelas várias ilhas em volta da cidade de Goa primeiro conquistadas pelos 8 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 2/13 portuguesas: Tijuadi, Divar, Chorão, Juá) foram engrandecidas na transição entre os séculos XVI e XVII. O mesmo sucedeu com as igrejas inicialmente edificadas nas outras partes de Goa conquistadas no século XVI, Salcete e Bardez (que, com as Ilhas, formam as Velhas Conquistas), depois de se criarem aí paróquias em 1552. A construção de igrejas fora da cidade de Goa no século XVI foi tarefa apressada, com pouco empenhamento artístico, e só mesmo no final do século começaram a surgir edifícios significativos do ponto de vista arquitectónico. Em Velha Goa, por seu lado, a maior parte dos edifícios que vemos hoje resultaram de profundas modificações ou de novos projectos realizados entre 1590 e 1640: a Sé catedral, a igreja da Casa Professa jesuíta do Bom Jesus, a igreja e convento dos Agostinhos, o convento de Santa Mónica, a igreja de Nossa Senhora do Monte. Este ciclo de esplendor artístico desencadeou a renovação de igrejas fora da Velha Cidade, nas Ilhas, Bardez e Salcete, em toda a primeira metade de Seiscentos. 9 Ainda este ciclo estava em pleno desenvolvimento quando um novo impulso de criatividade arquitectónica teve lugar em Goa em meados do século XVII e prosseguiu até ao início do século seguinte. Foi neste período que surgiram os outros monumentos famosos de Velha Goa que ainda existem: a igreja conventual franciscana do Espírito Santo, a igreja de S. Caetano, parte substancial das instalações do Bom Jesus com a capela de S. Francisco Xavier, os conventos da Cruz dos Milagres e S. João de Deus. Alguns destes edifícios introduziram novos temas e tipos arquitectónicos que desempenhariam um papel fundamental na criação da igreja goesa como, por exemplo, a abobada de penetrações laterais que surge em S. Caetano e na sacristia do Bom Jesus. 10 Esta explosão construtiva deve ter correspondido a um período de prosperidade económica e social mas isto contradiz o conhecimento adquirido acerca da evolução histórica de Goa que pinta os séculos XVII e XVIII como uma época de decadência5. A construção de todos estes grandes edifícios é um facto da história da cultura material que nos obriga a reexaminar a historiografia social e cultural corrente. 11 O descalabro da cidade de Velha Goa ocorreu de facto mas um pouco mais tarde, a partir dos anos iniciais do século XVIII, como que de repente. O Edital do Vice-rei Ericeira datado de 1719 é um bom símbolo desta viragem. O Vice-rei escreve que tem presente «a deformidade em que esta Cidade se acha por causa de muitas Casas Nobres que de poucos annos a esta parte se tem arruinado de tal sorte que muitas Ruas inteiras, e ainda as mais publicas se tem despovoado, fazendo-as quasi inabitadas». Os proprietários arruínam propositadamente as suas casas para utilizarem os materiais de construção em novas moradias situadas «nas Aldeas» e venderem os terrenos urbanos para cultivo. Ericeira proíbe o aproveitamento dos entulhos e manda reedificar todas as casas «da fonte de Penelim até S. Luzia, Igreja de N. Sra da Luz e S. Paulo o Velho», ou seja em todo o perímetro da velha urbe6. 12 Como se sabe, este Edital e outras medidas legais foram inúteis. Tinha começado a demolição de Velha Goa, um dos mais extraordinários processos de desfazimento urbano da história, durante o qual uma cidade que fora uma das grandes metrópoles da Ásia foi deliberadamente desmantelada pedra a pedra pelos seus habitantes no decurso de dois séculos, o XVIII e o XIX, até não restar nada dela a não ser a dúzia de igrejas e conventos que lá vemos hoje. 13 Um dos aspectos mais interessantes e significativos deste processo é que a destruição de Velha Goa se explica em grande medida pelo abandono da cidade pelos seus habitantes, não apenas nem sobretudo os metropolitanos, que eram muito poucos com excepção do clero (que não abandonou a cidade), mas os goeses. Antes da corte do Vice- rei, foram os goeses que saíram da Velha Cidade e, depois da corte se mudar, foram eles que nunca mais quiseram regressar, foram eles que desmontaram Velha Goa pedra a pedra, casa a casa. Ora, a desmontagem de Velha Goa coincide com o florescimento das igrejas e casas goesas através dos territórios das Ilhas, Salcete e Bardez no final do século XVII e durante todos os séculos XVIII e XIX. Não se trata naturalmente de uma coincidência. 14 No século XVIII, as comunidades ou poderosos gãocares tomaram conta da reconstrução total ou parcial de igrejas fundadas no século XVI por Jesuítas (em Salcete) 15 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 3/13 ou Franciscanos (em Bardez) e transformaram-nas em edifícios novos, enquanto as igrejas e conventos de Velha Goa, entregues ao clero europeu, adormeciam na penumbra da história. O conjunto do território das Velhas Conquistas de Goa foi coberto por «um manto branco de igrejas» para utilizar uma frase escrita no século XI na Europa para significar uma época de grande renovação religiosa e arquitectónica. Algumas destas igrejas foram as primeiras que merecem a designação de igrejas goesas. O que distingue igrejas como Santana de Talaulim (iniciada na sua forma presente em 1682) ou Nossa Senhora da Piedade de Divar (1699) de qualquer outra igreja católica construída em qualquer outra parte do mundo é um conjunto de temas formais de que podemos destacar três: abobadas de canhão com penetrações laterais (que são praticamente inexistentes na arquitectura portuguesa mas bastante comuns na Europa do norte e central), alçados articulados por nichos semi-circulares e não por capelas, cobertos por meias abóbadas concheadas, um tema raríssimo na arquitectura europeia e ausente na portuguesa, e uma gramática das ordens e do ornamento sem semelhança com Portugal, a Espanha ou o Brasil. 16 A diferença da chamada casa goesa / goan house em relação a outros tipos de casa urbana e rural, por seu lado, já foi demonstrada academicamente7. Estudiosos, operadores turísticos e outras pessoas, tanto em Goa como por toda a parte, concordam que as casas construídas em Goa sobretudo por proprietários católicos de classe média ou alta nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século XX constituem uma corrente extraordinariamente distinta no panorama da habitação em todo o mundo. Estas casas são hoje designadas na Índia por Casas Portuguesas, creio que por influência da indústria turística porque Portuguesa é uma designação mais exótica que Goesa para turistas indianos, britânicos ou russos. Mas é evidente que casas como as de Goa não existem em nenhuma cidade, vila ou aldeia de Portugal, do Brasil ou da África influenciada pelos portugueses. São puramente goesas. 17 Nestas casas e nas igrejas existem peças de mobiliário litúrgico e profano, desde púlpitos a arcazes de sacristia, desde mesas a crucifixos de madeira e marfim, que há muito são conhecidos como arte indo-portuguesa e há muito são confundidos com peças que foram produzidas para o mercado europeu noutras regiões da Índia e noutras regiões da Ásia e que com as primeiras mantêm um ar de família embora não sejam da mesma família8. De facto, as peças feitas pelos católicos de Goa para as suas igrejas e as suas casas, desde cadeiras a crucifixos ou rosários de madeira e marfim são diferentes de, por exemplo, as caixas, colchas ou contadores produzidos na Índia mogol ou em Bengala. Embora sejam todas peças indianas, as peças goesas são distintas e pertencem a uma cultura própria. 18 Estas igrejas, estas casas e estas peças são incontornáveis. Mas arrisco dizer que a historiografia da arquitectura e da arte, à qual pertenço, não tem talvez tornado essa evidência suficientemente evidente para que os historiadores da cultura e da sociedade se apercebam claramente de que há aqui um problema para o qual a cultura material dos católicos de Goa os desafia a encontrar respostas. 19 De facto, a diferença arquitectónica e artística existente nas igrejas, casas e objectos de Goa tem geralmente sido explicada pela história da arte, desde há mais de um século, com os conceitos de encontro entre o Oriente e Ocidente, fusão, influência, hibridez. Diria até que a questão tem sido arrumada deste modo, considerando a simplicidade dos conceitos e a descontracção com que são manipulados. De acordo com estas narrativas, as igrejas de Goa – e a arte indo-portuguesa em geral – exibe uma combinação de motivos ou traços orientais e ocidentais, cuja dose varia de acordo com a época, o lugar e a circunstância, quase como uma receita de cozinha, resultando numa coisa original e um pouco exótica, mas sempre isto e aquilo, uma soma, um híbrido, uma mistura. 20 A razão avançada para o carácter híbrido da arquitectura goesa é a história (as mais das vezes não documentada) de que os edifícios teriam sido ornamentados por artífices locais convertidos e também, por vezes, por pintores, escultores e artesãos hindus ou muçulmanos cuja intervenção nas obras desafiava as proibições constantes dos decretos dos Concílios Provinciais dos séculos XVI e XVII9. 21 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 4/13 A ideia de hibridez e combinação tem dois defeitos. O primeiro é que não ajuda a ver melhor as obras de arquitectura ou arte como elas são. O segundo é que lança uma perturbadora dúvida sobre as motivações e a história ideológica de quem o utiliza. 22 As igrejas de Goa são edifícios cheios de integridade e carácter. É verdade que, analisando os edifícios pedaço a pedaço podemos ver composições de alçado portuguesas (Mapuça), abobadas flamengas (Margão), torres bijapuris (Espírito Santo de Velha Goa ou Penha de França), estuques e desenho ornamental concanis (Mandur), etc. Mas as igrejas como edifícios não resultaram da soma das suas partes constitutivas. Para qualquer pessoa com sensibilidade arquitectónica ou artística estas igrejas não são o resultado final de um compromisso mas a afirmação artística de uma posição cultural. Os seus encomendadores e construtores sabiam muito bem aquilo com que queriam que uma igreja católica se parecesse e como deveria ser experimentada. A sua compreensão não era, creio eu, portuguesa, flamenga ou indiana mas católica goesa (ou indo- portuguesa, se nisso fizerem muita questão). 23 O inescapável facto de que as igrejas, as casas e as chamadas artes decorativas de Goa não têm paralelo na Índia ou em qualquer outra parte leva-me a concluir que estas coisas, para utilizar a palavra que George Kubler preferia à bristling ugliness da expressão cultura material10, desenvolveram as suas características próprias como as mais importantes manifestações da identidade ou retrato colectivo (outra expressão de Kubler) de um grupo de pessoas que foi constituído ao longo dos séculos XVI e XVII como resultado da conversão ao catolicismo e teve de criar uma cultura distinta para si. 24 Neste contexto, as igrejas de Goa posteriores à segunda metade do século XVII não são edifícios impostos aos goeses, ou edifícios negociados entre os goeses e prelados ou autoridades estrangeiras. São edifícios de goeses, projectados e construídos por arquitectos e pedreiros goeses, incluindo padres católicos goeses, e frequentemente encomendados por proprietários rurais ou comunidades goesas. De facto, as duas igrejas que primeiro podem ser consideradas completamente goesas, Santana de Talaulim e a Piedade de Divar, foram muito provavelmente projectadas por padres goeses, respectivamente Francisco do Rego (1638-1689) e António João de Frias (1664-1727). 25 Numa mensagem que me mandou há dois anos a um outro propósito, Rochelle Pinto11 escreveu: «The indigenous Christian becomes an embarrassment for the kind of research sustaining an idea of colonial power that adheres to a clear binary distinction between coloniser and colonised, and the desire to recognise resistance only in gestures that also reproduce that binary». A frase é muito poderosa e ocorre-me frequentemente, incluindo a propósito do tema do presente artigo. De facto, não tenho aqui ocasião de desenvolver o assunto como ele merece, mas a arquitectura e as artes dos cristãos da Índia têm constituído um embaraço considerável para ingleses, portugueses, indianos – e, por arrastamento, para os próprios católicos da Índia – desde o século XIX. Tudo tem sido feito e escrito para desprover essas manifestações artísticas de autonomia, dignidade e clareza. Os ingleses desprezaram por sistema as igrejas da Índia, o mobiliário litúrgico e doméstico, as casas12. Os portugueses e os indianos13 (e também os ingleses, noutras conjunturas) dedicaram o melhor do seu tempo à teoria das influências e do hibridismo buscando traços de portuguesismo e indianismo, ora mais de um dos lados, ora mais do outro, nacionalismo versus nacionalismo, sem que o oratório, a pintura, a casa, a igreja, pudessem existir por si próprios, por aquilo que são, não campos de encontro ou de confronto entre diversas culturas, mas manifestações de uma outra cultura – que as culturas nacionais de hoje gostariam que desaparecesse da história. 26 Sou historiador da arquitectura e da arte. Cabe-me fazer a história própria de edifícios, conjuntos edificados, peças artísticas. Outros colegas, de outras especialidades da história, que tirem disso as consequências devidas para seus próprios campos de saber. Todavia, no estado incipiente da investigação sobre estes temas, permito-me, com plena consciência dos riscos em que incorro, avançar as seguintes sugestões. A primeira é que uma das mais importantes razões para a negligência que tem rodeado a história dos católicos de Goa e da sua cultura reside no manto de esquecimento sob o qual a própria igreja católica tem preferido manter a sua história na Índia no século XIX e no desinteresse com que a historiografia europeia – e indiana por maioria de razão – 27 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 5/13 acompanha as questões da história da igreja. De facto, o confronto muito violento entre o Padroado e a Propaganda Fide não foi uma das histórias mais edificantes ou gloriosas da história da igreja. Todavia, para se perceber a origem da igreja goesa como edifício é preciso conhecer essa história porque – e esta é a minha segunda sugestão – esse tipo de igreja foi criada pelo clero nativo goês, protagonista de primeiro plano do conflito entre o Padroado e a Propaganda nos séculos XVIII, XIX e XX. Sabemos ainda muito pouco sobre a questão do clero nativo na Índia14. Até à expulsão dos Jesuítas não havia na Índia portuguesa nenhum seminário no sentido Tridentino do termo apesar de inúmeras decisões nesse sentido por parte dos concílios provinciais desde o século XVI15. Existia evidentemente o colégio jesuíta da Santa Fé, os Dominicanos tinham o colégio de S. Tomás (1596), os Franciscanos o de S. Boaventura (1602), os Agostinhos o de N. S. do Pópulo (1602) mas o papel desempenhado por estes estabelecimentos na formação efectiva de um clero goês foi desprezível16. 28 Mas alguns padres goeses estiveram de facto activos desde meados do século XVI, e isso teve consequências importantes para a formação de uma arquitectura católica específica. Num relatório submetido à Propaganda Fide em Roma depois de 1655, o padre português Pedro Borges, que desempenhara em Goa as funções de secretario da Inquisição, divulgou os números da distribuição de paróquias entre o clero regular e secular, europeus e goeses17. De acordo com o seu relatório, a desproporção entre aquilo que se passava nas Ilhas e no resto do território goês era impressionante: os padres europeus das ordens regulares (essencialmente os Jesuítas em Salcete, os Franciscanos em Bardez, os Dominicanos e os Agostinhos nas Ilhas) tinham a seu cargo praticamente todas as paróquias em Bardez e Salcete, 23 e 25 respectivamente. Na Velha Cidade, todas as 11 paróquias existentes estavam em mãos de padres regulares europeus. Nas Ilhas, porém, havia 21 paróquias controladas por padres goeses. Os europeus só tinham a seu cargo 5 paróquias. 29 Estes números surpreendentes são confirmados por outras fontes e documentos, a começar pela crónica jesuíta de Sebastião Gonçalves escrita cerca de 1614: quase todas as paróquias nas Ilhas estavam «a conta dos Clérigos naturaes desta terra» com excepção de Taleigão, Santa Cruz, Santa Bárbara (Morombim-o- -Grande) e Santa Maria Madalena (Siridão), que eram paróquias dominicanas18. Isto quer dizer que no início do século XVII as ilhas de Tijuadi, Divar, Juá e Chorão eram controladas paroquialmente pelos goeses. 30 Uma razão provável para isto ter sucedido foi a acção pastoral do arcebispo D. frei Aleixo de Menezes (em Goa 1595-1609). Foi ele o primeiro a substituir clérigos regulares por padres nativos e a criar paróquias para padres goeses. Fê-lo precisamente nas Ilhas onde a sua própria ordem, os Agostinhos, tinha em mãos várias paróquias19. 31 Foi provavelmente por isso que a arquitectura religiosa goesa apareceu nas Ilhas. Santana de Talaulim e a Piedade de Divar situam-se nas Ilhas e as inovações subsequentes mais decisivas da arquitectura das igrejas goesas também surgiram neste território20. 32 Na década de 1650, os clérigos da ordem italiana dos Teatinos (a designação deriva do seu fundador S. Caetano de Thiene), que tinham chegado a Goa pouco antes de 1640, iniciaram a obra da sua igreja em Velha Goa, Nossa Senhora da Divina Providência ou S. Caetano, introduzindo algumas novidades arquitectónicas, nomeadamente a abobada de penetrações e o zimbório, cuja importância deve ser avaliada tendo em mente que os Teatinos desempenharam um papel decisivo no drama que se desenrolava em volta do problema do clero nativo e também da crescente presença na Índia da Propaganda Fide à qual os Teatinos, aliás, não eram estranhos21. Em Goa, a nova ordem pregou em favor do acesso dos indianos à comunhão na mesma altura em que padres goeses se afadigavam em Lisboa e em Roma em favor do direito dos seus irmãos a ascenderem na hierarquia da igreja católica na Índia portuguesa. 33 Dois nomes mereceram até hoje alguma investigação (mas não muita, valha a verdade): o goês Mateus de Castro, um brâmane de Divar22, e o português Pedro Borges. Houve certamente outros. 34 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 6/13 Mateus de Castro chegou a Roma em 1625, foi ordenado padre em 1630, voltou a Goa em 1633 como Protonotario Apostólico, quer dizer, como enviado da Santa Sé. Regressou a Roma em data incerta para lutar pela causa do clero nativo. Em 1653 escreveu um tratado em português em defesa do clero de origem brâmane, o Espelho dos Bracmanes. Tanto a sua trajectória como a de Pedro Borges, que também serviu a Propaganda, mostram que o caso do clero goês foi utilizado por diversos poderes e instituições anti-portuguesas: a Propaganda Fide, para começar, mas também, em grande medida, a França e os cardeais franceses em Roma. A França estava em guerra com as potências ibéricas e, na capital dos papas, os franceses procuravam impor os seus candidatos ao trono de S. Pedro contra candidatos espanhóis ou favorecidos pelos Áustria e colocar os seus próprios missionários no Médio Oriente e na Ásia. O papado era outro inimigo das coisas portuguesas. Não reconhecia a nova dinastia dos Bragançãs e favorecia sempre que possível a Espanha, o seu melhor aliado na Europa. Havia ainda a Companhia das Índias Orientais holandesa que procurou tirar vantagem da conspiração urdida em volta de Mateus de Castro para expulsar os portugueses de Goa23. E finalmente, mas ocupando um lugar crucial, é necessário considerar a mais importante potência militar, política e cultural de meados do século XVII no Decão: o sultanato de Bijapur. Em 1654 Mateus de Castro estava em Bijapur e parece ter tentado conspirar com os bijapuris e os holandeses para atacar Goa24, embora esta história precise de ser melhor esclarecida25. 35 Bijapur só pode ser descrita como uma potência muçulmana na linguagem simplista das ideologias da historiografia colonial e do fascismo confessional dos nossos dias. Era em grande medida, como as outras monarquias do Decão ou o império Mogol, um estado que procurava manter o equilíbrio entre os seus diferentes súbditos, incluindo os cristãos e os muitos estrangeiros que procuravam emprego na corte. Viajavam até Bijapur e Golconda vários padres católicos. Missões da Propaganda Fide estabeleceram- se nos reinos do Decão. É portanto natural que abundassem em Bijapur enviados cristãos (e espiões, incluindo do Vice-rei em Goa). Aproveitando uma rebelião que teve lugar em Bardez em 1654, um comandante bijapuri, provavelmente instigado por Mateus de Castro, invadiu a região. O plano, mal urdido e pior aplicado, falhou. Mateus de Castro fugiu para Roma em 1656 e lá morreu mais de 20 anos mais tarde em 1677. 36 Frei Pedro Borges, como Mateus de Castro, transferiu a sua lealdade para a Propaganda através da intermediação dos bijapuris que o auxiliaram a passar de Goa a Roma onde, tendo obtido audiência do papa duas vezes em 1656, fez muito mal ao Padroado com os seus escritos26. 37 Roma, a França, os holandeses, Bijapur, todos utilizaram o caso do clero goês para enfraquecer o poderio português na Índia. Mas é evidente que os padres goeses também procuraram tirar vantagem destes acontecimentos em favor da sua causa de modo a pressionarem a coroa portuguesa e a igreja através da ameaça de se virarem para forças anti-portuguesas. 38 Em 1658, Roma fez sair a Constituição Sacrosancti Apostolatus Officii dirigida ao Vigário Capitular de Goa na qual o clero regular e secular europeus em Goa são acusados de substituir o clero nativo sem necessidade e de lhe negar o acesso às paróquias até mesmo quando os padres europeus que as ocupavam não falavam a língua local. Um decreto da Propaganda Fide do mesmo ano tentou corrigir estes abusos27. 39 Em 1677 e 1678, o arcebispo D. António Brandão deixou-se envolver num violento conflito com os Jesuítas de Salcete acerca dos direitos de visitação às suas paróquias que eles lhe negavam com veemência. D. António excomungou os Jesuítas e ameaçou entregar as paróquias aos clérigos nativos28, mais um episódio em que o problema do clero nativo é ao mesmo tempo a causa de um conflito e a arma usada noutros conflitos, neste caso entre o arcebispo e as ordens religiosas. 40 O mesmo sucedeu no início de Setecentos em Bardez quando o arcebispo Ignacio de Santa Teresa (1721-1729) procurou substituir os Franciscanos por clérigos nativos à cabeça das paróquias causando uma verdadeira rebelião entre o clero29. O arcebispo Santa Teresa envolveu-se em sucessivos conflitos com o Vice-rei e as congregações, 41 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 7/13 sobretudo os Jesuítas e os Agostinhos, a sua própria ordem, em volta de vários assuntos, o mais importante dos quais foi o seu evidente favorecimento do clero goês30. A primeira congregação de clérigos nativos foi criada em Goa em 1682: o Recolhimento de Santa Cruz dos Milagres formado por três padres seculares de Margão aos quais se juntou mais tarde frei José Vaz que os dotou com a regra dos Oratorianos de Lisboa em 168531. 42 Alguns anos mais tarde, clérigos goeses de casta alta, brâmane ou chardó, debatiam através de material impresso ou manuscrito os respectivos méritos de casta numa afirmação pública do triunfo relativo do clero goês nos círculos católicos. Dois dos mais significativos participantes neste debate eram nem mais nem menos que os padres- arquitectos de Santana de Talaulim e da Piedade de Divar, Francisco do Rego e António João de Frias. O papel relevante desempenhado pelos padres goeses no campo ideológico não pode ser desligado da forma muito original dos edifícios que projectaram e ajuda a compreender a complexidade cultural da conjuntura na qual surgiu a arquitectura católica goesa. 43 A igreja de Santana de Talaulim estava a cargo de padres goeses desde os últimos anos do século XVI32. Este facto precisa de ser melhor esclarecido porque a igreja tinha sido construída em meados do século pelos Jesuítas e só se tornou sede de paróquia em 1695 sendo imediatamente entregue ao clero nativo. Os vigários goeses fizeram dela um verdadeiro monumento a eles próprios e à sua linhagem: no pavimento da igreja podemos ainda ver três sepulturas de sacerdotes de Goa com inscrições em português declarando que eram brâmanes (bracmanes). Entre estas sepulturas, a de Francisco do Rego ocupa um lugar de destaque face ao altar-mor. 44 O manuscrito da sua autoria, Tratado Apologético contra as varias Calumnias impostas pela malevolência contra a sua Nação Bracmana, que ficou por publicar, e o livro do padre António João de Frias, Aureola dos Índios & Nobiliária Bracmane, publicado em Lisboa em 1702, são variações sobre o anterior Espelho dos Bracmanes de Mateus de Castro (1653) que, recordemo-lo, era de Divar e um brâmane, como tal elogiado por Frias no seu livro. 45 Cinquenta anos depois de Castro ter aparentemente conspirado com Bijapur para derrubar o domínio português em Goa, um livro que o elogiava foi aí escrito e passou depois por todas as etapas da censura inquisitorial e da corte para ser finalmente publicado em Lisboa. Isto sucedeu porque a maior parte destes sacerdotes goeses tinham estado em Portugal e frequentado a Universidade de Coimbra e as Academias do meio literário e aristocrático de Lisboa, como indica o facto de que os seus escritos, incluindo comédias e poemas atribuídos a Francisco do Rego, são mencionados pela Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado (1741-1758) que é, entre outras coisas, uma bibliografia comentada da literatura académica do final do século XVII e da primeira metade do século XVIII. A publicação e sucesso da literatura goesa também foi possível porque as coisas da religião e da política não eram percebidas então como as percebemos hoje. Castro foi elogiado por António João de Frias pela sua casta, quer dizer, pela sua linhagem, e pelo facto de ter sido um bispo católico, independentemente da sua ligação à Propaganda ou até a Bijapur. 46 O livro de Frias provocou uma resposta escrita de um padre de casta chardó, Leonardo Paes: o livro Promptuario das Deffinições Indicas publicado em Lisboa em 1713, um longo tratado histórico contra os brâmanes e em favor dos príncipes e guerreiros de toda a Índia (incluindo o grande inimigo do poder português, o príncipe marata Shivaji!) e dos gãocares de localidades chardó de Salcete como Orlim, Azossim, Carmoná e outras33. 47 Pergunto-me que importâncias terão tido as questões de casta para a rivalidade entre paróquias e portanto para a escolha das soluções arquitectónicas e ornamentais das suas igrejas. A articulação das posições da casta alta, brâmane ou chardó, no seio da igreja católica de Goa e, portanto, na sociedade goesa, é ainda uma história por contar. Todavia, é da maior importância para se perceber o significado da arquitectura eclesiástica goesa. De facto, os católicos de Goa não constituíam uma única comunidade. Estavam divididos por fronteiras sociais, regionais, políticas e linguísticas que mudaram ao longo dos tempos. A cultura material dos católicos apresenta um elevado grau de 48 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 8/13 Igreja de Santana de Talaulim, planta de Mário Tavares Chicó, 1951 Igreja de Santana de Talaulim, fachada, desenho de Mário Tavares Chicó, 1951 coerência se comparada com a de outros grupos religiosos mas há com certeza distinções importantes a estabelecer entre, por exemplo, uma casa de uma família católica brâmane da Salcete e outras casas católicas dessa região e entre diferentes tipos de ornamento e mobiliário entre casas e capelas de católicos de casta alta e de outras castas. Todavia, para estabelecer estas distinções seria necessário saber muito mais do que sabemos acerca de quem encomendou as igrejas e as casas goesas. O que sugiro desde já é que edifícios como as igrejas de Santana de Talaulim e Nossa Senhora da Piedade de Divar representam o início da afirmação cultural do clero goês de casta alta, provavelmente o primeiro testemunho material de uma cultura independente da elite católica de Goa. As igrejas goesas como um tipo particular de edifício católico atingiram a sua integridade precisamente quando, na transição do século XVII para o século XVIII, os católicos de Goa começavam a controlar o seu próprio destino cultural. 49 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 9/13 Igreja de N. S. da Piedade, Divar, interior, fotografia de Paulo Varela Gomes, 2008. Notas 1 A expressão «arte indo-portuguesa» parece ter sido criada na década de 1880, mais ao menos ao mesmo tempo, pelo conservador do Museu de South Kensington, mais tarde Museu Victoria & Albert, John Robinson (falecido em 1913) e pelos eruditos e historiadores da arte portugueses Sousa Viterbo (1846-1910) e Joaquim de Vasconcelos (1849-1936). Mas estes homens nunca se 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 10/13 referiram a uma arquitectura indo-portuguesa, salvo erro, porque nunca se interessaram por edifícios mas apenas pelas artes decorativas. A expressão arquitectura indo-portuguesa é da responsabilidade dos historiadores da arquitectura e da arte Mário Tavares Chicó (1905-1966) e Carlos de Azevedo (1918-1955) que, após a missão de inventário e investigação que empreenderam à Índia portuguesa em 1951 a mando do governo de Lisboa, escreveram mais de uma dúzia de artigos e alguns livros, em português e em inglês, sobre as igrejas e templos de Goa, Diu e Damão. Estas publicações fundaram os estudos da arquitectura do Estado da Índia. 2 A bibliografia existente sobre a arquitectura e a arte indo-portuguesa é imensa. Só sobre arquitectura bastará percorrer as bases de dados das principais bibliotecas portuguesas nos nomes de Mário Tavares Chico, Carlos de Azevedo, José Manuel Fernandes, Rafael Moreira, Pedro Dias, Hélder Carita, António Nunes Pereira, e as bibliotecas de Goa no nome de David Kowal e José Pereira. O presente artigo corresponde à reescrita da introdução do meu livro Goan Churches. A history of church architecture in Goa, que a editora de Nova Delhi Yoda Press anuncia como em vias de publicação desde Maio de 2009. 3 Ver Hélder Carita, Arquitectura Indo-Portuguesa na região de Cochim e Kerala, Transbooks, 2009. 4 Sobre a arquitectura de Velha Goa entre os séculos XVI e XVII, ver Pedro Dias, O Espaço do Índico, História da Arte Portuguesa no Mundo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999 e António Nunes Pereira, A Arquitectura Religiosa Cristã de Velha Goa. Segunda metade do século XVI – primeiras décadas do século XVII, Lisboa, Fundação Oriente, 2005. 5 Esta narrativa teve início no próprio século XVIII, se não antes, nos momentos de crise aguda provocados pelo bloqueio holandês em inícios de Seiscentos e pela ofensiva marata em Seiscentos, mas foi desenvolvida na imprensa oitocentista nas histórias de Velha Goa de Cottineau de Klogen (1831) e do goês Nicolau da Fonseca (1878). 6 Cláudio Lagrange Monteiro de Barbuda, Instrucções com que El-Rei D. José I mandou passar ao Estado da Índia o Governador e Capitão General e o Arcebispo Primaz do Oriente no ano de 1774, publicadas por Cláudio Lagrange Monteiro de Barbuda, Nova Goa, Imprensa Nacional, 1903. Ver Introdução. 7 Ver Hélder Carita, Palácios de Goa, modelos e tipologias de arquitectura civil Indo-portuguesa, Lisboa, Quetzal, 1995; Ângelo da Costa Silveira, A casa-pátio de Goa, Porto, FAUP Publicações, 1999; Heta Pandit e Annabel Mascarenhas: Annabel, Houses of Goa, Goa, Architecture Autonomous 1999. 8 Este facto foi denunciado pela primeira vez por um artigo do orientalista (como então se dizia) do Museu Britânico John Irwin (1917-1997) publicado num número de 1955 do Burlington Magazine sob o título «Reflections on Indo-Portuguese Art». Utilizo o verbo denunciar no seu sentido mais banal e brutal. Irwin procura separar as obras que considera de elevada qualidade estética – aquelas produzidas em oficinas indianas mogóis, bengalis ou gujerates – das obras de proveniência indiana católica que considera inferiores. O artigo teve muita influência em Portugal embora ninguém se tivesse atrevido a citá-lo nas suas partes mais controversas, digamos assim. Para uma apreciação, entre outras possíveis, da diferença entre peças indianas de origem católica e outras, veja-se, por exemplo: Maria Helena Mendes Pinto, «Sentando-se em Goa», Oceanos n.º 19/20 (1994), pp. 43-58. 9 Esta narrativa é tão sugestiva de um conflito cheio de compromissos e trânsfugas de um lado e de outro que chegou a influenciar um historiador tão actualizado metodologicamente como o norte-americano David Kowal, provavelmente o primeiro que olhou para as igrejas de Goa como não podendo ser descritas simplesmente enquanto portuguesas com um toque de exotismo ou indianismo. Ver: David M. Kowal, «The evolution of ecclesiastical architecture in Portuguese Goa», India and Portugal. Cultural Interactions, ed. José Pereira and Pratapaditya Pal, Marg Publications, Mumbai, 2001, pp. 70-87 (publicado também em Mitteilungen der Carl Justi- Vereinigung, 5, 1993, pp. 1-22). Para uma versão recente, ver Pedro Dias, Índia, artes decorativas e iconográficas, série Arte de Portugal no Mundo, Público, 2008, pp. 13 sgs. 10 Ver Kubler, The Shape of Time, Remarks on the History of Things, Yale University Press, 1962, p. 9. 11 Rochelle Pinto é autora de um estudo fundamental sobre a cultura de Goa no século XIX, Between Empires, print and politics in Goa, New Delhi, Oxford U. P., 2007. 12 Para uma introdução a esta questão – que está por investigar – ver: Paulo Varela Gomes, «Bombay Portuguese – ser ou não ser português em Bombaim no século XIX», Revista Portuguesa de História das Ideias, n. 28, 2007, pp. 567-608. 13 Ver José Pereira, Baroque Goa, New Delhi, Books & Books, 1995 e Churches of Goa, New Delhi, Oxford U.P., 2002; Heta Pandit e Annabel Mascarenhas, Ob. cit. 14 A bibliografia sobre o tema é muito vasta, muito dispersa, muito incompleta. Entretanto, ver: C. M. Melo, The recruitment and formation of the native clergy in India – 16th to 19th century, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1955; Charles BOXER, Race relations in the Portuguese colonial Empire, 1415-1825, Oxford U. P., 1963, e «The problem of the native clergy in the Portuguese and Spanish Empires», in J.S. Cummins, The Missions of the Church and the propagation of the faith, Studies in the Church History, Cambridge, Cambridge U. P., 1970; Leopoldo da Rocha, As Confrarias de Goa: séculos XVI-XIX, conspectos histórico-jurídicos, 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 11/13 Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1973, pp 176 sgs. e «Uma página inédita do Real Mosteiro de Santa Mónica de Goa (1730-1734) e achegas para a história do padre nativo», Mare Liberum, 17, 1999, pp. 229-266; Maria de Jesus Mártires Lopes, Goa Setecentista, tradição e modernidade, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1999, pp. 135 sgs. 15 C. M. Melo, Ob. cit., p. 143. 16 Idem, pp. 164 sgs. 17 Idem, pp. 156 sgs. 18 António Bernardo de Bragança Pereira, «Os primeiros cristãos e as igrejas das Ilhas de Goa», Boletim Ecclesiastico da Arquidiocese de Goa, 8,9,12,13, 1945, pp. 7 sgs. 19 C. M. Melo, Ob. cit., p. 146. 20 Refiro-me, por exemplo, à falsa cúpula, ou às fachadas cupoliformes, como as designa José Pereira, que sustento terem sido inventadas na igreja de Santo Estevão de Juá em meados do século XVIII. 21 Sobre este tema e para mais bibliografia ver: Susan Klaiber, Guarino Guarini’s Theatine Architecture, PhD dissertation, 2 vols., Columbia University, 1993; Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião e Politica em Portugal no século XVII. A planta centralizada, Porto, FAUP Publicações, 2001, pp. 305 sgs 22 C. M. Melo, Ob. cit., pp. 215 sgs; Ângela Barreto Xavier, A invenção de Goa, poder imperial e conversões culturais nos séculos XVI e XVII, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2008, pp. 417 sgs. 23 Afzal Ahmad, Indo-Portuguese Diplomacy during the 16th and 17th centuries (1500-1663), New Delhi, Originals, 2008. 24 Pratima Kamat, «Mateus de Castro – a rebel», Purabhilekh-Puratatva, V, 2, 1987, pp. 11-22. 25 Afzal Ahmad, Ob. cit., pp. 322 e sgs. 26 C. M. Melo, Ob. cit., pp. 156 sgs. 27 Idem pp.150 e sgs. 28 Idem, p. 178. 29 Casimiro Cristovão de Nazaré, Mitras Lusitanas do Oriente…, Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1897, pp. 237 e sgs. 30 Leopoldo da Rocha, «Uma página inédita do Real Mosteiro de Santa Mónica de Goa…», ob. cit. 31 C. M. Melo, Ob. cit., p. 176 32 Fr. Nascimento J.Mascarenhas, Follow Me – Parish Priests of the Parishes of Ilhas, Verna, New Age Printers, 2009. 33 Ver Xavier, A invenção de Goa, op. cit., pp. 381-440 e Ines G. Zupanov, «Convesion Historiography in South Asia: alternative Indian Christian counter – histories in Eighteenth century Goa», The Medieval History Journal, 12, 12 (2009): pp. 303-325. Índice das ilustrações Título Igreja de Santana de Talaulim, planta de Mário Tavares Chicó, 1951 URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 1.png Ficheiros image/png, 122k Título Igreja de Santana de Talaulim, fachada, desenho de Mário Tavares Chicó, 1951 URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 2.png Ficheiros image/png, 577k Título Igreja de N. S. da Piedade, Divar, interior, fotografia de Paulo Varela Gomes, 2008. URL http://journals.openedition.org/lerhistoria/docannexe/image/1146/img- 3.png Ficheiros image/png, 520k Para citar este artigo 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 12/13 Referência do documento impresso Paulo Varela Gomes, «As igrejas dos católicos de Goa», Ler História, 58 | 2010, 47-60. Referência eletrónica Paulo Varela Gomes, «As igrejas dos católicos de Goa», Ler História [Online], 58 | 2010, posto online no dia 01 dezembro 2015, consultado no dia 05 outubro 2024. URL: http://journals.openedition.org/lerhistoria/1146; DOI: https://doi.org/10.4000/lerhistoria.1146 Este artigo é citado por Pinto, Rochelle. Mendiratta, Sidh Losa. Rossa, Walter. (2018) Reframing the Nineteenth Century. Revista Crítica de Ciências Sociais. DOI: 10.4000/rccs.7006 Autor Paulo Varela Gomes Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade de Coimbra Direitos de autor Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário. 05/10/24, 18:24 As igrejas dos católicos de Goa https://journals.openedition.org/lerhistoria/1146 13/13