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Interação em Psicologia 2008 121 p 151164 151 Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RESUMO Os delineamentos de sujeito único constituem a abordagem experimental preferida por muitos pesquisadores do comportamento Com o objetivo de introduzir o tema discutese o que é experimentação definemse variáveis independentes dependentes e estranhas e apresentamse as etapas de um experimento A definição de delineamento experimental é detalhada destacandose suas duas estratégias mais difundidas delineamentos entregrupos ou entresujeitos e delineamentos de sujeito único ou intrasujeitos A partir das diferenças básicas entre essas duas estratégias apontam se as principais características dos delineamentos experimentais de sujeito único enfatizando a estratégia dos estados estáveis Os delineamentos experimentais de sujeito único mais comumente utilizados são apresentados e exemplificados delineamento de reversão linha de base múltipla mudança de critério de sonda e de retirada ressaltando suas possíveis vantagens e desvantagens Por fim são destacadas as diversas possibilidades de combinação de delineamentos Palavraschave experimentação delineamentos experimentais de sujeito único delineamento de reversão delineamento de linha de base múltipla delineamento de mudança de critério ABSTRACT An introduction to SingleSubject Experimental Designs Singlesubject designs are the experimental designs of choice for many behavior researchers The purpose of the present article is to present the basic features of singlesubject designs In order to do so the related concepts of experimentation independent dependent and extraneous variables and the stages that comprise an experiment are introduced A definition of experimental design is presented and the two most common research strategies are described group or betweensubjects designs and singlesubject designs The basic differences between the two strategies are presented The main characteristics of singlesubject designs and the most common singlesubject designs are presented with emphasis on the strategy of steady states Reverse designs multiple baseline designs changing criterion designs and probe designs are described as well as their strengths and weaknesses Finally the possibility of mixed experimental designs is also discussed Keywords experimentation singlesubject designs reversal design multiple baseline design changing criterion design Conduzir um experimento é uma tarefa complexa composta de diversas etapas Uma dessas etapas é o delineamento experimental Pelo menos dois grandes tipos de delineamento experimental convivem na ci ência delineamentos entregrupos e de sujeito único Neste artigo serão apresentadas e discutidas algu mas das características mais importantes do método experimental de sujeito único destacandose seus delineamentos mais usuais A ênfase será na aplicação de tal método a pesquisas sobre o comportamento dos organismos O que é experimentação A experimentação é um modo fundamental de produzir conhecimento no mundo contemporâneo Mas o que é um experimento De modo geral 152 Angelo Augusto Silva Sampaio Flavia Henriques Baiao de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Um experimento é uma série de agdes que resulta VJariaveis independente dependente e estranha em um conjunto de observagées especiais que nao seriam possiveis de outra forma A experimentagao é um modo de simplificar as condigées sob as quais a observagao é feita de modo que um fenédmeno its ct tee eto possa ser observado mais claramente Johnston menos que podem assumir qualquer valor de um de Pennypacker 1993a pp 89 destaque no original terminado conjunto 0 sexo de uma pessoa por exem plo é uma variavel ja que pode assumir pelo menos Isaac Newton por exemplo em seu experimento dois valores masculino ou feminino Na experimen classico sobre a decomposicao da luz permitiu a en tacao dividemse estas variaveis em pelo menos duas mon ss aries eeinens on trada em um quarto escuro por um furo na veneziana da janela de um pequeno raio de sol Crease 2006 As variaveis independentes sao Newton organizou o quarto de modo que esse raio a La aquelas manipuladas pelo pesquisador que esta inte incidisse sobre um prisma de vidro ao atravessat 0 ressado em seus efeitos As variaveis dependentes por prisma 0 Talo se decompés projetando sobre um ante sua vez sao aspectosdimensées do fenédmeno de inte paro 4 sua frente todas as cores do arcoiris Newton esse so as variaveis que o pesquisador mede em além disso havia feito um furo nesse anteparo de pysca dos efeitos das VIs Aqui vése modo que podia projetar sobre esse furo apenas uma das cores produzidas O raio de luz colorida que atra No exemplo da decomposicao da luz Newton vessava esse furo por sua vez atingia um segundo precisou planejar um quarto escuro no qual apenas um prisma desviandose da sua rota original isto re pequeno orificio permitia a entrada de luz solar e pre fratavase antes de atingir a parede sem se decompor cisou posicionar adequadamente os prismas e 0 ante ou mudar de qualquer outro modo A partir desse ex paro todos constituindo VIs de modo a possibilitar perimento e de outros similares Newton pdde com suas observacgdes sobre as mudangas na luz solar a provar que a luz branca nfo era pura como se pen VD Sem tais manipulacées ele nao teria chegado as sava na época mas composta por todas as cores do suas conclusdes fundamentais para o desenvolvi arcoiris estas sim puras mento da Optica Além de produzir uma observacio que seria muito Para estabelecer com clareza a relacdo entre VIs e dificil ou impossivel de se obter cotidianamente uma VDs 0 controle experimental imprescindivel observaca4o especial 0 experimento de Newton ou ainda o modo como Newton simplificou as condiées de observacao ao organizar seu quarto com os prismas e o anteparo permitiulhe 1 Johnston Pennypacker estabelecer uma relagao causal entre a cor dos 1993a Em um estudo sobre o tratamento da depres raios de juz que incidiam sobre 0 segundo pris 539 por exemplo as conclusées acerca da eficacia de ma 0 angulo em que estes eram refratados 4m novo medicamento VI sobre comportamentos tamanho do desvio quando os raios de luz considerados depressivos VDs deveriam levar em eram refratados sua refringéncia era uma pro conta a possibilidade de que outras variaveis como priedade dos proprios raios de luz e nao dos fregiientar uma psicoterapia e fazer exercicios fisicos prismas VEs possam afetar os resultados e compreender diversos fendmenos naturais rela Portanto a tarefa que um cientista se prope ao fa cionados por exemplo a formacao do arcoirise zer um experimento exige cuidados e planejamento A e contribuir para varias aplicacdes praticas por Partir de suposides sobre as varidveis que constituem exemplo a construcdo de melhores telescépios Um fendmeno de seu interesse VDs Interagao em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 153 As etapas de um experimento A realização de um experimento é um processo complexo no qual o experimentador percorre várias etapas interrelacionadas Estas etapas não devem ser entendidas como momentos predeterminados envol vendo uma sequência rígida de passos mas como uma divisão pedagógica de um conjunto de ações fluido e flexível A partir da definição de uma pergunta experimen tal o que se busca aprender com o experimento o experimentador deve considerar 1 como os fenô menos em estudo seráão medidos garantindo a validade e a confiabilidade dessas medidas 2 como as condições experimental e controle serão arranjadas para permitir comparações entre elas delineamento experimental 3 como os dados as medidas obtidas serão analisados e 4 que conclusões são possíveis a partir dos resultados Nenhuma dessas etapas pode ser compreendida isoladamente já que todas as decisões tomadas pelo pesquisador ao longo do planejamento e execução de um experimento dependem umas das outras Apesar da interdependência das etapas de um experimento o que se pretende aqui é possibilitar uma visão geral da fase de delineamento experimental Delineamento experimental Todo experimento envolve duas condições básicas condição controle ou linha de base e condição expe rimental A condição controle é aquela na qual a VI não está presente Ela permite avaliar os efeitos de todas as variáveis que não a VI sobre a VD A condi ção experimental por sua vez é aquela na qual a VI está presente Assim é necessário que haja no expe rimento pelo menos duas condições que difiram ape nas quanto à presença da VI Mantendo todas as variáveis constantes entre as duas condições e varian do apenas a VI o experimentador está em posição favorável para concluir se as possíveis mudanças me didas são frutos de sua manipulação Segundo Johnston e Pennypacker 1993a delinear um experimento é planejar condições controle e expe rimentais de modo a permitir comparações significati vas entre elas verificar os efeitos da VI e responder ao problema de pesquisa Por esta razão é extrema mente importante que o experimentador conheça as características as possibilidades os pontos fortes e os limites os pontos fracos dos delineamentos expe rimentais em geral e dos delineamentos experimen tais que planeja Dito de outra forma delinear um experimento é decidir sobre 1 quantos sujeitos3 serão utilizados 2 quantas serão as condições controle e experimental utilizadas 3 quando por quanto tempo e em que ordem as condições serão introduzidas e 4 quando e quantas vezes as medidas de interesse serão reali zadas Delineamentos entregrupos e delineamentos de sujeito único Dois principais tipos de delineamentos experi mentais são os de sujeito único ou intrasujeito e os delineamentos entregrupos ou entresujeitos A abordagem mais tradicionalmente utilizada na Psico logia e nas Ciências Sociais é a que emprega delinea mentos entregrupos Nestes delineamentos os efeitos de uma condição experimental são avaliados pela comparação entre diferentes grupos de sujeitos sub metidos cada um dos grupos a diferentes condições Nos delineamentos entregrupos cada sujeito é ex posto a apenas uma das condições do experimento Além disso todos os sujeitos de um grupo são expos tos às condições por um mesmo período de tempo Finalmente as medidas de interesse costumam ser realizadas poucas vezes para cada sujeito e de modo geral envolvem o agrupamento dos dados relativos aos sujeitos que compõem cada grupo por exemplo pela obtenção de médias desvios padrão ou porcen tagens de sujeitos que atingem certo critério A com paração entre os resultados dos grupos por sua vez muitas vezes envolve o uso de instrumentos da esta tística inferencial como testes para avaliar a fide dignidade estatística dos dados e a significação das diferenças encontradas entre os grupos Johnston Pennypacker 1993a 1993b Kerlinger 1973 Kidder 1987 Em um exemplo bem simples um novo medi camento poderia ser testado pela distribuição aleatória de sujeitos em dois grupos Um grupo recebe o medi camento condição experimental e o outro grupo re cebe apenas um placebo condição controle Os sin tomas da doençaalvo são medidos apenas duas vezes antes e depois dos respectivos tratamentos Os resul tados obtidos em cada grupo são então estatistica mente comparados entre si para avaliar a eficácia do medicamento Se os sintomas tiverem uma redução estatisticamente significativa no grupo que recebeu o medicamento a redução poderia ser atribuída ao me dicamento Outra abordagem experimental com uma longa tradição na história das ciências é o delineamento de Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 154 sujeito único Sua utilização no estudo do comporta mento humano tem sido defendida por diversos pes quisadores Estes Skinner 1941 Ferster Skinner 1957 Johnston Pennypacker 1993a 1993b Kazdin 1982 Matos 1990 Sidman 19601976 Skinner 1938 1947 1956 Entre os argumentos a apoiar sua utilização destacase o fato do comportamento ser um fenômeno característico de organismos individuais que interagem de maneira única com o mundo dois indivíduos nunca se comportam da mesma maneira Argumentase também que cálculos que agregam resultados como médias de desempenhos de grupos de indivíduos não representam corretamente o de sempenho de nenhum dos seus membros pois rara mente um sujeito se comporta exatamente como essa média Além disso agregar resultados dessa forma envolve misturar dados efetivamente comportamentais relativos aos desempenhos dos sujeitos com a dife rença entre os desempenhos de dois ou mais sujeitos que é um dado não comportamental o que não é útil na explicação do comportamento de um organismo singular Os delineamentos de sujeito único têm como ca racterística principal tratar os sujeitos individualmen te tanto no que se refere às decisões relativas ao pró prio delineamento quanto ao processamento dos da dos o que não implica a utilização de um único su jeito por experimento Neste modelo de delineamento os sujeitos são expostos a uma série de condições mensurandose repetidamente o desempenho do orga nismo e verificandose se há uma relação ordenada entre as condições manipuladas no experimento e as alterações nessas medidas Matos 1990 Diferente mente dos delineamentos entregrupos um mesmo sujeito é submetido a todas as condições do experi mento e as observações são realizadas de forma contí nua no decorrer de todo o processo A estratégia dos estados estáveis Arranjar comparações entre as condições em um experimento conduzido com um delineamento de su jeito único não é uma tarefa simples A precisão e generalidade das conclusões dependem da qualidade das medidas do desempenho do sujeito4 Caso qualquer coisa no desempenho do sujeito seja na condição controle seja nas condições experi mentais não for típica dos efeitos usuais destas condi ções então subtrair o desempenho na condição con trole do responder sob a condição experimental resul tará em uma diferença que é de algum modo engana dora Johnston Pennypacker 1993a p 197 Ou seja inferir efeitos da variável independente VI apenas pelas diferenças nas medidas da variável dependente VD de uma condição para a outra sem se ter conhecimento suficiente sobre os resultados de medida que seriam típicos em cada uma das condições pode levar ao erro Além disso a precisão e a genera lidade dos resultados de um experimento com delinea mento de sujeito único dependem fortemente do con trole sobre as variáveis estranhas VEs e qualquer conclusão sobre os resultados precisará considerar e trabalhar com a influência destas variáveis Um recurso central para se lidar com tais dificuldades quando se trabalha com delineamento de sujeito único é a estra tégia dos estados estáveis Essa estratégia envolve medir repetidamente a VD sob condições que são mantidas constantes até se obter dados relativamente estáveis Estabilidade é definida como um padrão que mostra pouca variação ao longo de um certo período de tempo Nos delineamentos entregrupos comparamse os dados agregados de todos os participantes de um gru po com os dados agregados dos participantes de outro grupo e então supõese que eventuais inconsistências ou variações não esperadas sejam compensadas entre os sujeitos de modo que os resultados do grupo todo expressariam o resultado típico independente de des contadas as variações individuais Nos delineamentos de sujeito único essa suposição não pode ser feita A estabilidade das medidas da VD é um requisito indispensável uma vez que se compara em cada sujeito os valores da VD em diferentes con dições Se não há estabilidade em cada condição nada se pode afirmar quando se comparam valores em dis tintas condições para o mesmo sujeito No entanto estabilidade não pode ser confundida com imutabilidade Especialmente quando se estuda comportamento há que se esperar contínua variação Estabilidade dos dados coletados em um experimento no qual se utiliza um delineamento de sujeito único significa então que os valores da VD oscilam de certa maneira com certo padrão que o experimentador considera estável Não se deve esperar também que necessariamente os valores de uma VD mudem ime diata ou abruptamente quando uma VI é retirada ou introduzida Especialmente no estudo do comporta mento ao manipular condições ambientais freqüente mente se está diante de um processo no qual a mudan Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 155 ça na relação entre sujeito e ambiente gradativamente estabelece um novo padrão comportamental Como conseqüência nos estudos que utilizam o método do sujeito único atribuise grande importância à estabili dade ao mesmo tempo em que se reconhece que não há critérios universalmente bons de estabilidade Por essas razões também em cada condição de um expe rimento múltiplas medidas da VD são necessárias É preciso efetuar seguidas medidas em cada condição até que o resultado dessas medidas atinja algum crité rio de estabilidade só então o experimentador pode com alguma segurança manipular a condição Final mente outra implicação da chamada estratégia de estados estáveis é que a duração e muitas vezes a pró pria seqüência de condições do experimento depen dem do desempenho das medidas da VD Johnston Pennypacker 1993a 1993b Sidman 19601976 A estabilidade nas medidas da VD em cada condi ção de um experimento com delineamento de sujeito único tornase então critério necessário para se deci dir pela continuidade ou mudança de condições em cada momento do experimento Esperase que o pró prio resultado das manipulações e medidas seja o árbitro das decisões quanto ao delineamento como por exemplo quando introduzir a condição experimen tal Três razões tornam a estratégia dos estados estáveis e os delineamentos de sujeito único especial mente proveitosos Em primeiro lugar a sistemática manipulação de condições para cada sujeito experi mental e a estratégia dos estados estáveis permite que as relações entre VI e VD sejam inferidas a partir das sistemáticas mudanças mensuradas nas VDs correla cionadas com mudanças nas condições dasVIs O experimentador pode assim identificar características típicas da VD sugerindo o modo como a VD está relacionada às suas variáveis controladoras VIs eou VEs e problemas no processo de mensuração Em segundo lugar os delineamentos de sujeito único e a estratégia dos estados estáveis permitem avaliar o grau de controle experimental obtido ou seja quanto o pesquisador pode ter certeza de que a VI é responsável pelas mudanças observadas na VD Em terceiro lugar a comparação dos desempenhos da VD em várias condições experimentais auxilia a afirmação de representatividade os dados obtidos de fato correspondem aos efeitos principais da condição avaliada e generalidade os dados obtidos são repli cáveis dos resultados em cada condição Todas essas características dos delineamentos ex perimentais de sujeito único podem ser alcançadas por uma gama ilimitada de arranjos de condições do expe rimento Algumas das opções mais simples e comu mente utilizadas serão brevemente apresentadas e exemplificadas a seguir Desde já é preciso ressaltar que os delineamentos de sujeito único não se resumem àqueles que serão aqui descritos O cientista planeja seu experimento de maneira a responder suas perguntas de pesquisa com alguma convicção de que o seu controle experimental deu origem a resultados que têm algum grau de precisão validade e generalidade Experimentos con duzidos com delineamento de sujeito único são plane jados de modo a ser afetados pelas características do fenômeno em estudo e pelos resultados obtidos já durante sua execução Como implicação não há um limite preestabelecido para as possibilidades de inova ção experimental Sidman 19601976 No entanto algumas estratégias de delineamento experimental têm sido freqüentemente utilizadas têmse demonstrado úteis e serão apresentadas aqui Delineamento ABAB ou de reversão A lógica do delineamento ABAB onde A condi ção controle e B condição experimental consiste em realizar sucessivas comparações entre condições controle e condições experimentais em um mesmo experimento sendo desejáveis no mínimo três condi ções Ou seja com este delineamento buscase de monstrar os efeitos de uma VI pela retirada de uma condição e pela reintrodução de outra das condições já apresentadas reversão à condição anterior Por isso tais delineamentos são também chamados de delinea mentos de reversão Nos delineamentos de reversão cada nova condição proporciona uma nova oportunidade para comparar o desempenho da VD e testar se tal desempenho é alte rado com a introdução e retirada da VI Kazdin 1982 Os resultados deste tipo de delineamento po dem sugerir que a VI foi de fato responsável pela mo dificação na VD se o desempenho da VD se modificar quando a condição experimental for introduzida B voltar para o nível anterior da condição controle ou próximo a ele quando a condição experimental for retirada A e mudar novamente quando a VI for rea presentada B Para exemplificar este delineamento considerem se os dados apresentados por Miller e Kelley 1994 Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 156 que investigaram os efeitos de um procedimento de estabelecimento de metas e contrato comportamen tal sobre o desempenho nas lições de casa de uma criança de 10 anos Richard Para tanto o procedi mento se iniciou com a simples observação do com portamentoalvo tempo gasto nas lições sem ne nhuma interferência programada condição controle A A seguir introduziuse a condição experimental B na qual a criança era recompensada ao atingir metas estabelecidas junto com seus pais para a reali zação de cada lição de casa designada pela escola Uma fase de reversão à condição controle A foi então introduzida e por fim retornouse a uma nova condição experimental B Na Figura 1 representase o tempo porcentagem de intervalos pelo qual Ri chard permaneceu trabalhando em suas lições nos dias em que a condição controle A e a condição experi mental B estiveram em vigor As mudanças siste máticas no desempenho de Richard representadas na Figura 1 quando o contrato foi introduzido e espe cialmente quando foi retirado e novamente reintrodu zido sugeriram a Miller e Kelley que o contrato VI foi variável significativa sobre o fazer lição de casa VD de Richard Figura 1 Um exemplo de delineamento de reversão figura adaptada de Miller Kelley 1994 As linhas pontilhadas indicam mudanças nas condições do experimento A condição controle B condição experimental Como Kazdin 1982 salientou os delineamentos ABAB não se restringem a quatro condições em uma mesma seqüência como o rótulo sugere Sempre que se alternam condição controle e condição experimen tal tratase de um delineamento de reversão ou ABAB Outras variações são possíveis e freqüente mente encontradas na literatura Entre tais possibili dades destacase a inversão da ordem das condições por exemplo delineamentos BABA Tal inversão é muitas vezes necessária em pesquisas aplicadas quan do o comportamento a VD a ser modificado apre senta características de risco ou quando só ocorre raramente Outra possibilidade é a alteração do núme ro de condições por exemplo ABABABAB o que é especialmente importante quando se pretende ter maior clareza sobre os efeitos produzidos em cada condição e sua relação com a variável manipulada Por fim podese incluir um número maior de condições expe rimentais ou diferentes VIs Nesse caso diferentes letras rotulam distintas manipulações das VIs por exemplo ABCADABCD Há alguns problemas que podem afetar o delinea mento ABAB e suas variações tornandoo indesejável ou impossível de ser utilizado O primeiro problema é a nãoreversão das medidas da VD Caso haja possi bilidade da VD não ser revertida para os níveis da condição controle quando a VI for retirada então o delineamento de reversão não é adequado Na avalia ção de um procedimento de ensino VI para a aquisi ção de leitura VD por exemplo não se deveria espe Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 157 rar que os participantes deixassem de ler após o tér mino do procedimento e conseqüentemente não se deveria utilizar o delineamento ABAB Por outro lado se um delineamento de reversão foi utilizado e não se observou a reversão dos valores da VD quando se retirou a VI podese estar diante de um problema de controle experimental Ou seja variáveis não con troladas no experimento VEs seriam responsáveis pelos resultados o que não invalidaria o delineamento utilizado se tal controle puder ser estabelecido Final mente em pesquisas aplicadas a característica central desse delineamento pode trazer um problema quando a VD envolver comportamentos cuja reversão não é desejável por exemplo por razões éticas Na avalia ção de um procedimento específico VI para reduzir a freqüência de comportamentos autolesivos VD a reversão à condição controle pode levar a um aumento na freqüência dos comportamentos o que é etica mente inaceitável Delineamento de linha de base múltipla No delineamento de linha de base múltipla mais de uma VD é mensurada e analisada ao mesmo tempo são estabelecidas portanto mais de uma linha de base condições controle e as VIs são introduzidas em momentos seguidos distintos no tempo para cada uma delas Nos estudos comportamentais essas VDs podem ser duas ou mais respostas emitidas por um mesmo sujeito ou uma mesma resposta emitida por dois ou mais sujeitos delineamentos de linha de base múltipla entre respostas ou comportamentos5 ou uma mesma resposta emitida por um sujeito em duas ou mais situações ou ambientes físicossociais delinea mento de linha de base múltipla entre ambientes ou settings Kazdin 1982 O delineamento é implementado da seguinte for ma após todas as medidas de VDs atingirem estabili dade na condição controle a primeira condição expe rimental é introduzida manipulandose a VI em rela ção a uma primeira VD selecionada Quando as medi das desta primeira VD atingem estabilidade na condi ção experimental e caso as demais tenham se mantido estáveis na condição controle manipulase a VI em relação a uma segunda VD mantendose a primeira na condição experimental e as demais na condição controle Novamente esperase que a segunda VD atinja estabilidade para aplicar a VI em uma terceira VD mantendo a aplicação da VI nas anteriores As sim segue o procedimento até aplicarse a VI à últi ma VD Durante todo o procedimento são registrados os dados de todas as VDs na condição controle e na condição experimental Como um exemplo deste delineamento entre com portamentos emitidos por um mesmo indivíduo Borstein Bellack e Hersen 1977 trabalharam com crianças consideradas não assertivas Depois de avaliar vários comportamentos verbais e nãoverbais conside rados importantes em interações sociais VDs pro moveram treinos de habilidades sociais VI para cada um dos comportamentos que eram emitidos em baixa freqüência pelas quatro crianças dessa pesquisa Os dados foram coletados em sessões em que a criança se engajava em uma interação com um parceiro Na Fi gura 2 são apresentados os resultados relativos a três comportamentos que foram alvo de intervenção para uma das crianças Jane Neste caso os comporta mentosalvo foram estabelecimento de contato visual com um parceiro durante uma conversa que foi medi do como a proporção de tempo de interação em que a criança manteve contato visual com o parceiro falar em tom de voz audível que foi medido em uma escala de volume de 1 a 5 por observadores e solicitar que o parceiro mudasse seu comportamento quando inade quado medido pelo número de solicitações Após medir as VDs durante a condição controle aplicouse o treino de habilidades sociais VI para a primeira VD contato visual A taxa de contato visual aumen tou mas os outros comportamentos mensurados per maneceram em baixa freqüência Quando esta primei ra VD atingiu estabilidade durante a condição experi mental aplicouse o procedimento de treino VI ao falar em tom de voz audível a segunda VD Essa segunda VD sofreu efeito do treino a avaliação de volume aumentou e uma vez estabilizado o com portamento novamente a VI foi aplicada agora sobre o terceiro comportamento VD que era solicitar mu dança de comportamento do outro Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 158 Figura 2 Um exemplo de delineamento de linha de base múltipla entre comportamentos figura adaptada de Bornstein Bellack Hersen 1977 Cada quadro indica um comportamento e a linha pontilhada indica a introdução da variável independente Em um delineamento com uma única condição controle que é seguidamente reapresentada ABAB por exemplo uma VE pode alterar a VD no exato momento em que é introduzida a VI o que geraria conclusões imprecisas a respeito do que produziu tal alteração O delineamento de linha de base múltipla diminui a possibilidade deste tipo de imprecisão Ele permite que se teste se de fato a VI é responsável por mudanças na VD já que mudanças semelhantes nos desempenhos das várias VDs quando a VI é seguida mente introduzida refutariam ou pelo menos enfra queceriam a hipótese da influência de VEs nessas mudanças Também ter mais de uma resposta situa ção ou sujeito em condição controle enquanto outros estão sob o efeito da VI possibilita a avaliação de quais mudanças nessas VDs seriam ou não efeito da VI Além disso nos delineamentos de linha de base múltipla não é necessária a reversão para demonstrar os efeitos da condição experimental Especialmente em pesquisas aplicadas este delineamento pode ter um benefício adicional se a introdução de uma VI para a produção de mudanças na VD for relevante a introdução da VI em seguidas VDs poderia produzir mudanças efetivas que se estenderiam para outras VDs Outra vantagem dos delineamentos de linha de base múltipla principalmente em situações de pesqui sa aplicada é a possibilidade de introdução da VI de maneira mais gradual permitindo aos experimentado res avaliar criteriosamente os efeitos dos procedi mentos empregados bem como sua execução Um dos possíveis problemas com os delineamentos de linha de base múltipla é a possibilidade de interde Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 159 pendência entre as condições controle Falase em interdependência entre as condições controle quando no momento em que se introduz uma VI sobre uma das VDs ocorre também alteração em outra VD sobre a qual não foi realizada diretamente a manipulação Neste caso pode existir uma variável estranha VE provocando a mudança na medida da segunda VD ou de fato a VI de alguma maneira tem efeitos mais am plos do que o experimentador esperava De qualquer modo o efeito da manipulação ou melhor o papel da VI se torna ambíguo Porém mais uma vez especial mente em pesquisas aplicadas esse efeito pode ser positivo para os participantes Assim muitos planos de pesquisa podem prever um delineamento de linha de base múltipla na expectativa de testar se VDs que não são selecionadas para condição experimental pelo menos no início de um experimento podem ser alte radas em condição controle pela introdução de uma VI sobre outras VDs Nos delineamentos de linha de base múltipla de vemse evitar condições controle prolongadas já que nesse caso a introdução da VI sobre as últimas VDs tem mais probabilidade de sofrer a interferência de outros eventos não controlados VEs Para evitar esse tipo de problema são comuns variações nos delinea mentos de linha de base múltipla em que se reduz o número de VDs respostas situações ou sujeitos ou se introduz a VI simultaneamente sobre mais de uma VD Outra dificuldade relacionada com os delinea mentos de linha de base múltipla pode advir quando são observados efeitos inconsistentes da manipulação ou seja quando os efeitos das seguidas introduções da VI sobre novas VDs variam Neste caso o experi mentador pode estar diante de manipulações às quais falta controle experimental VEs podem estar atuan do ou pode haver problemas em relação às decisões experimentais e à condução do experimento critérios de estabilidade podem ser inconsistentes as condições do experimento podem estar sendo alteradas com cri térios diferentes em cada momento ou inadequados as mudanças de condição são feitas prematuramente por exemplo e os resultados mostrariam ainda efeitos de transição efeitos de ordem na introdução da VI sobre as VDs podem ser relevantes ou a própria ma nipulação da VI pode ter problemas o que é especial mente provável em situações aplicadas que freqüen temente envolvem manipulações que dependem de ações humanas e não de equipamento Delineamento de mudança de critério Os experimentos com delineamento de mudança de critério começam com uma condição controle após a qual a condição experimental é introduzida A caracte rística principal desse delineamento é que a condição experimental é constituída de subcondições ou subfa ses6 Cada uma dessas subfases corresponde a um valor da VD estabelecido como critério que indicaria o efeito da VI ou como critério para a apresentação de condições ambientais que compõem a VI Assim o nível de desempenho o valor da VD exigido para mudanças na condição do experimento é alterado re petidamente no curso da condição experimental O efeito da VI é revelado mostrando que a VD muda gradualmente ao longo do processo Embora possa se assemelhar aos delineamentos de sujeito único já apresentados o delineamento de mu dança de critério guarda algumas características que o distinguem dos demais diferentemente dos delinea mentos de reversão esse delineamento não requer retirada ou suspensão temporária da VI para que se demonstre seu efeito sobre a VD e diferentemente dos delineamentos de linha de base múltipla a condi ção experimental restringese a uma única VD nos experimentos comportamentais uma resposta ou dimensão de resposta ou relação comportamental Segundo Kazdin 1982 uma característica im portante do delineamento de mudança de critério é o número de vezes que o critério é mudado na condição experimental Como neste delineamento esperase que a exigência de novos valores nas medidas da VD seja seguida pela obtenção desses valores o que seria indicador dos efeitos da VI recomendase pelo me nos duas mudanças de critério ou subfases Tal deli neamento então é indicado naqueles experimentos em que o estabelecimento de apenas um critério para a condição experimental pode tornar difícil mostrar que a manipulação da VI foi responsável pela mudança na VD No delineamento de mudança de critério a estabi lidade da VD em determinado critério antes de se introduzir um outro é de grande importância pois caso contrário é difícil avaliar a relação entre a mani pulação da VI e o valor da VD Uma vez obtida a estabilidade em cada subfase cada uma delas pode ser utilizada pelo pesquisador como condição controle para a seguinte Outro ponto a ser considerado nesse delineamento é como decidir sobre a magnitude das mudanças de Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 160 critério O tempo necessário para que um critério seja atendido pode servir de indicador para o pesquisador o critério não pode ser tão exigente a ponto de não ser jamais atingido ou de ser atendido muito tardiamente e nem tão pouco exigente a ponto de não ser possível obter mudanças significativas nos patamares de medi da da VD Isso quer dizer que em experimentos com esse delineamento muitas vezes os critérios estabele cidos em cada subfase dependem dos desempenhos dos sujeitos e são decididos no decorrer das manipula ções Tal característica exemplifica uma das vanta gens já destacadas dos delineamentos de sujeito único a possibilidade de ajuste do delineamento a partir do desempenho concreto do sujeito durante a pesquisa O experimento de De Luca e Holborn 1992 é um exemplo do emprego desse delineamento Três garo tos obesos e três garotos não obesos foram solicitados a pedalar uma bicicleta ergométrica com a afirmação exercitese o quanto você quiser Na condição con trole os experimentadores mediram o número de vol tas pedaladas por minuto em cada sessão sem pro gramar nenhuma conseqüência para essa atividade Na condição experimental calculouse o número médio de voltas por minuto durante a condição controle para cada participante e estabeleceuse como critério para reforçamento um número de voltas aproximadamente 15 acima desta média Na condição experimental pedaladas produziam então em um esquema de Ra zão Variável VR cujo valor foi estabelecido como descrito o acendimento de uma luz e o toque de uma campainha juntamente com a liberação de um ponto Os pontos acumulados eram trocados no final da ses são por objetos escolhidos pelos próprios garotos brinquedos revistas em quadrinho etc O número de pedaladas exigido para se ganhar um ponto foi gra dualmente aumentado nas subcondições experimen tais A cada nova subcondição o valor da VR exigida número médio de pedaladas que produziam conse qüências foi aumentado em torno de 15 de modo que ao final do experimento os garotos estavam pe dalando muito mais do que na condição controle Após três subcondições experimentais a condição controle foi reintroduzida e finalmente o último valor de VR foi retomado para todos os participantes Essas duas últimas condições não são apresentadas na Figu ra 3 Na Figura 3 o desempenho número médio de voltas pedaladas por minuto em cada sessão de um dos participantes Paul é representado Os valores de VR estabelecidos em cada subcondição estão repre sentados pelas linhas tracejadas horizontais como se pode ver para ganhar pontos o participante deveria emitir 80 pedaladas em média na primeira subcondi ção Durante as seguidas mudanças de critério a exi gência foi gradualmente aumentada até 120 pedaladas em média Figura 3 Um exemplo do emprego do delineamento de mudança de critério figura adaptada de De Luca Holborn 1992 LB linha de base ou condição controle Neste delineamento a direção das mudanças de critério das subfases pode ser alterada Geralmente os efeitos da VI são avaliados examinandose uma mu dança na VD em uma mesma direção ao longo do tempo mudanças unidirecionais por exemplo um aumento ou uma diminuição na freqüência do com portamento que constitui a VD Entretanto podem surgir algumas dificuldades na avaliação de mudanças Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 161 unidirecionais ao longo da condição experimental O desempenho pode melhorar em função de VEs e não da VI e esses efeitos podem ser difíceis de distinguir a não ser que as mudanças na VD acompanhem estri tamente o critério estabelecido em cada subfase O controle exercido pela VI pode ser melhor detectado alterandose a direção da mudança de critério se a exigência de um desempenho da VD em direção oposta à que vinha ocorrendo for seguida de uma mu dança correspondente nos valores obtidos levando a uma mudança bidirecional na VD aumenta a confian ça do experimentador no controle exercido pela VI Por exemplo o critério está sendo aumentado ao lon go da condição experimental então durante uma subfase ele é diminuído para um nível anterior Se gundo Kazdin 1982 essa subfase constitui uma minifase de reversão A condição experimental não é suspensa mas as mudanças esperadas no comporta mento são invertidas Caso tais mudanças de fato aconteçam na direção contrária daquelas da fase ante rior fortalecese a hipótese de que a VI foi responsável pela mudança Uma limitação do delineamento de mudança de critério é que quando não há uma correspondência exata entre a mudança de critério e a mudança no desempenho pode ser difícil avaliar se a VI colabora para a mudança do comportamento Delineamentos de sonda Os delineamentos de sonda são geralmente utiliza dos para verificar se outras VDs que não aquela que foi mensurada nas condições do experimento foram afetadas pelas manipulações realizadas Uma sonda portanto referese a uma avaliação de VDs quando nenhuma condição de VI planejada em relação àque las VDs está sendo manipulada Nesses delineamen tos avaliase a transferência dos efeitos observados sobre uma VD para outras sejam elas respostas dife rentes ou uma mesma resposta em situações diferen tes por exemplo realizando medidas observações ocasionais de outras VDs que não a VD do experi mento Kazdin 1982 No estudo de Miller e Kelley 1994 citado anteriormente para ilustrar os delinea mentos de reversão por exemplo os pesquisadores poderiam ter medido ocasionalmente o tempo pelo qual a criança permanecia trabalhando em tarefas domésticas ajudar os pais na arrumação da casa lavar pratos etc Estas sondas poderiam ter avaliado se os efeitos do procedimento de contrato comportamental VI transferiramse do desempenho nas lições de casa VD para outras atividades domésticas de Richard que não foram diretamente manipuladas outras VDs Assim uma qualidade importante destes delineamen tos é que eles são um meio econômico de avaliar a generalidade dos efeitos das manipulações experi mentais Delineamentos de retirada Enquanto os delineamentos de sonda visam avaliar a generalização dos efeitos das VIs para outras VDs os delineamentos de retirada tentam avaliar a genera lização dos efeitos das VIs ao longo do tempo Nestes delineamentos a condição experimental não é retirada totalmente de modo abrupto O objetivo principal não é demonstrar o efeito inicial de uma condição experi mental mas verificar se ele se mantém em condições diferentes o que é importante especialmente em pesquisas aplicadas Kazdin 1982 Diferentes partes ou componentes de uma condição experimental po dem ser retirados gradualmente um de cada vez em seqüência Desta forma podese avaliar a cada mani pulação se há ou não manutenção das alterações men suradas na VD antes da retirada total da VI Outra possibilidade pode ser aplicada ao se trabalhar com um delineamento de linha de base múltipla quando a retirada seja de um componente ou de toda a condi ção experimental restringese a apenas uma das várias VDs com as quais se esteja trabalhando isto é um dos comportamentos sujeitos ou situações Dito de outra forma esta possibilidade envolve a introdução de uma fase de reversão para um dos comportamen tos sujeitos ou situações investigadas Os resultados desta fase de reversão podem então apontar mas não garantir se haverá manutenção caso se programem fases de reversão para todos os outros comportamen tos sujeitos ou situações No estudo de Bornstein Bellack e Hersen 1977 citado anteriormente para ilustrar o delineamento de linha de base múltipla por exemplo após o treino de habilidades sociais ter sido aplicado aos três comportamentosalvo de Jane os pesquisadores poderiam ter retirado a VI da primeira VD manter contato visual introduzindo uma fase de reversão para este comportamentoalvo Caso o con tato visual permanecesse em alta freqüência a VI poderia então ser retirada das outras VDs falar em tom de voz audível e solicitar mudança de comporta mento do parceiro CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos delineamentos experimentais podem ser planejados e executados com a combinação de carac Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 162 terísticas de dois ou mais dos delineamentos discuti dos até agora Nesses casos o objetivo é sempre au mentar a força da demonstração experimental isto é criar mais oportunidades de comparação entre os efeitos da condição experimental e os da condição controle Tais delineamentos combinados podem ser necessários para lidar com questões que podem difi cultar inferências válidas sobre os efeitos da VI em estudos experimentais Tais questões podem ter sido antecipadas pelo pesquisador antes mesmo da efetiva implementação do experimento ou podem surgir com o experimento já em andamento a partir dos resulta dos parciais obtidos o que quer dizer que a decisão de utilizar um delineamento combinado pode ser to mada mesmo após o início do experimento A possi bilidade de modificar o delineamento experimental quando este já está em andamento é uma característica importante dos delineamentos de sujeito único e é uma de suas características distintivas como argu mentou Sidman 19601976 A amplitude das possíveis variações de delinea mentos combinados não permite que se possa discutir ou ilustrar todas elas A combinação de delineamentos em um experimento visa aproveitar os benefícios par ticulares de cada um deles para o estabelecimento de conclusões experimentais Devese atentar porém para o fato de que os problemas pertinentes a cada um desses delineamentos também podem se estender ao delineamento combinado que os utilize Por causa disso o pesquisador sempre deve pesar os prós e os contras de cada delineamento antes de utilizálo Por fim devese considerar em certos casos a possibilidade de combinação dos delineamentos de sujeito único com os delineamentos entregrupos Por um lado cada um desses delineamentos se adequa melhor a diferentes maneiras de fazer perguntas expe rimentais ou colocar problemas de pesquisa Por outro certas variáveis podem gerar resultados que conduzem a interpretações distintas sobre seus efeitos quando investigadas com cada um desses delinea mentos A avaliação do efeito de um medicamento por exemplo quando realizada por meio de um deli neamento entregrupos poderia indicar a eficácia do medicamento para 75 dos sujeitos do grupo expe rimental enquanto por meio de um delineamento de sujeito único poderia indicar que o medicamento não é eficaz para os 8 sujeitos obesos estudados Isto se daria neste exemplo pela dificuldade dos delinea mentos entregrupos de captar como a VI interage com VEs específicas atuando sobre cada indivíduo por ex a obesidade dos sujeitos do experimento de sujeito único Além disso certas situações aplicadas podem permitir a utilização de apenas um desses deli neamentos A investigação de problemas médicos raros por exemplo pode exigir o uso de delineamen tos de sujeito único Tudo isso deve ser considerado ao se escolher qual delineamento utilizar ao se realizar uma pesquisa específica Kazdin 1982 Questões de Estudo 1 Defina com suas próprias palavras o que é um experimento 2 Cite os três objetivos da experimentação 3 Um experimento busca estabelecer relações sistemáticas entre variáveis Estas variáveis são divididas em duas categorias principais Citeas e explique cada uma delas 4 No exemplo dado sobre o experimento de re fração da luz de Newton quais variáveis po dem ser classificadas como VIs e qual pode ser classificada como VD 5 Explique o que são VEs variáveis estranhas 6 O que significa delinear um experimento 7 Defina condição controle e condição experi mental 8 Diferencie delineamento de sujeito único e en tregrupos em relação a como são planejadas as condições experimentais como são realiza das as medidas de interesse e como as medidas são comparadas 9 Que argumentos são utilizados para defender a utilização do delineamento de sujeito único para o estudo do comportamento 10 Explique porque a estratégia dos estados está veis é indispensável em um delineamento de sujeito único Cite três razões 11 Construa uma tabela comparando os delinea mentos de reversão de linha de base múltipla e de mudança de critério quanto a definição vantagens possíveis variações e limitações condições nas quais o delineamento pode não ser adequado 12 Qual a importância de um delineamento de sonda 13 Qual o objetivo dos delineamentos de retirada Com que objetivo podese planejálo junto a um delineamento de linha de base múltipla 14 É possível executar delineamentos combina dos Qual a função dessa combinação Que cuidados devem ser tomados Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 163 REFERÊNCIAS Borstein M R Bellack A S Hersen M 1977 Socialskills training for unassertive children A multiplebaseline analysis Journal of Applied Behavior Analysis 10 183195 Crease R P 2006 Os dez mais belos experimentos científicos M I D Estrada Trad Rio de Janeiro RJ Jorge Zahar De Luca R V Holborn S W 1992 Effects of a variable ratio reinforcement schedule with changing criteria on exercise in obese and nonobese boys Journal of Applied Behavior Analysis 25 671679 Estes W K Skinner B F 1941 Some quantitative proper ties of anxiety Journal of Experimental Psychology 29 390 400 Ferster C B Skinner B F 1957 Schedules of reinforce ment New York NY AppletonCenturyCrofts Glenn S S Field D P 1994 Functions of the environment in behavioral evolution The Behavior Analyst 17 241259 Johnston J M Pennypacker H S 1993a Strategies and tactics of behavioral research 2a ed Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Johnston J M Pennypacker H S 1993b Readings for strategies and tactics of behavioral research 2ª ed Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Kazdin A E 1982 Singlecase research designs New York NY Oxford University Press Kerlinger F N 1973 Foundations of behavioral research 2a ed New York NY Holt Rinehart and Winston Kidder L H Org 1987 Selltiz Wrightsman e Cook Métodos de pesquisa nas relações sociais 2ª ed brasileira M M H DOliveira M M del Rey Trad São Paulo SP EPU Matos M A 1990 Controle experimental e controle estatístico A filosofia do caso único na pesquisa comportamental Ciência e Cultura 42 585592 Miller D L Kelley M L 1994 The use of goal setting and contingency contracting for improving childrens homework performance Journal of Applied Behavior Analysis 27 7384 Sidman M 1976 Táticas da pesquisa científica Avaliação dos dados experimentais na psicologia M E Paiva Trad São Paulo SP Brasiliense Original publicado em 1960 Skinner B F 1938 The behavior of organisms An experimen tal analysis New York NY AppletonCenturyCrofts Skinner B F 1947 Superstition in the pigeon The American Psychologist 2 426 Skinner B F 1956 A case history in scientific method The American Psychologist 11 221233 Recebido 23102007 Última revisão 13052008 Aceite final 25052008 Notas 1 Os termos causa e relação causal serão utilizados neste artigo de maneira ampla para referir relações observadas ou presumidas entre eventos que estariam envolvidas na constituição do fenômeno observado ou produzido 2 Matos 1990 faz uma importante discussão sobre os rótulos variáveis dependentes e independentes e propõe em seu lugar os termos variáveis observadas ou sob observação e variáveis experimentais ou manipuladas Neste artigo serão utilizados os termos variável dependente e independente por conta de seu uso generalizado 3 Ou participantes respondentes etc a depender do tipo de pesquisa 4 No caso de trabalharmos com comportamento sempre medimos algum aspecto ou dimensão de um ou mais comportamentos que muitas vezes chamamos de desempenho Ou seja em estudos comportamentais a variável dependente VD sempre se refere a comportamento Eventualmente quando impossibilitados de medir diretamente o comportamento medimos efeitos dos comportamentos e nestes casos são necessários cuidados metodológicos especiais Johnston Pennypacker 1993a 1993b 5 Muitas vezes se faz uma distinção entre os termos resposta que seria a açãoatividade do organismo e comportamento que seria a relação sujeitoambiente Outras vezes essa distinção não é vista como relevante Glenn Field 1994 Nos delineamentos de linha de base múltipla entre comportamentos mais freqüentemente se manipulam condições ambientais que afetam respostas ou seja manipulase o ambiente e mensuramse seus efeitos sobre as atividades dos sujeitos No entanto outras vezes manipulase o ambiente e mensurase o efeito sobre classes de respostas relações sujeitoambiente já estabelecidas Neste artigo utilizamse os termos resposta e comportamento como se fossem intercambiáveis 6 Nos relatos de pesquisa algumas vezes o rótulo condição é utilizado para se referir aos diferentes conjuntos de VIs e VDs enquanto o termo fase é utilizado para se referir aos distintos parâmetros de um mesmo conjunto de VIs ou valores de VDs Outras vezes os termos são utilizados inversamente No presente artigo são usados como sinônimos e por esta razão apresentase os termos subfases ou subcondições que também são encontrados na literatura experimental Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Interação em Psicologia Curitiba janjun 2008 121 p 151164 164 Sobre os autores Angelo Augusto Silva Sampaio Mestrando em Psicologia Experimental Análise do Comportamento PUCSP Bolsista CNPq Ende reço eletrônico angsampaiouolcombr Flávia Henriques Baião de Azevedo Mestranda em Psicologia Experimental Análise do Comportamento PUCSP Bolsista FAPESP Endereço eletrônico flaviahbahotmailcom Luciana Roberta Donola Cardoso Mestranda em Psicologia Experimental Análise do Comportamento PUCSP Endereço eletrôni co lucidonolauolcombr Camila de Lima Mestranda em Psicologia Experimental Análise do Comportamento PUCSP Bolsista CAPES Endereço eletrônico camilacampeliagmailcom Mateus Brasileiro Reis Pereira Mestrando em Psicologia Experimental Análise do Comportamento PUCSP Bolsista FAPESP Endereço eletrônico mateusbrasileiroyahoocombr Maria Amalia Pie Abib Andery Doutora em Psicologia Social PUCSP Professora titular da PUCSP CNPq Produtividade em Pesquisa