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Jérôme Baschet\n\nA CIVILIZAÇÃO FEUDAL\nDo ano mil à colonização da América\n\ntradução:\nMarcelo Rede\nProfessor do Departamento de História\nda Universidade Federal Fluminense\n\nprefácio:\nJacques Le Guff\n\n2ª reimpressão\n\nEDITORA GLOBO A IGREJA, INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO\n\nQue tudo que se disse sobre o feudalismo, falta ainda um elemento fundamental, sem dúvida, o mais importante. Com efeito, o esquema das três ordens define uma clara hierarquia, no topo da qual se encontram os que oram, antes da própria aristocracia. Entretanto, mais do que ao clero como casta separada, é preciso prestar atenção à relação social que se estabelece entre os clérigos e os leigos. Seja exprimindo-se sob a forma de uma dualidade ou inscrevendo-se no esquema das três ordens, esta relação-oposição constituiu uma estrutura essencial do mundo feudal, e os clérigos sempre precedem os leigos no cortejo social.\n\nMas o que é a igreja na Idade Média? O termo, tomado em empréstimo da eclesia (assembleia), designa a princípio a comunidade dos fiéis; este é o sentido de que ele é revestido em Bizâncio, assim como no Ocidente e nas primeiras escolas da Idade Média. Depois, a palavra \"igreja\" passa a ter também o edifício onde se reúnem os fiéis e onde se desenvolve o culto.\n\nAmalário de Metz (c 850) afirma: \"Esta casa é chamada eclesia porque ela é uma eclesia\". No século XII, os dois sentidos da palavra ganham mais autonomia e Alain de Lille indica que a igreja é \"tanto um lugar material, como a casa dos fiéis\". Tal materialização das realidades espirituais, que inscreve-nos lugares físicos, acompanha o reforço do poder dos clérigos e da instituição eclesiástica. De resto, ao mesmo tempo, o termo \"igreja\" é carregado de novo significado, designando a parte institucional da comunidade, que é a eclesia. A partir daí, associações e deslocamentos constantes entre os três sentidos da palavra \"igreja\" acabam constituindo um notável instrumento ideológico. dade e a Igreja como instituição, uma sinédoque (em que a parte vale pelo todo) concentra nos guias clericais as virtudes associadas à comunidade de todos os cristãos. Ora, a partir dos séculos XI e XII, o termo \"igreja\" é cada vez mais identificado com seus membros eclesiásticos, enquanto, para designar o conjunto dos fiéis, se recorre à razão, já esboçada no século IX, de cristandade (christiana vita ou populus christianus). Essa questão semântica faz, assim, presentir a implicação de que este capítulo deverá dar conta: a acentuação da separação entre clérigos e leigos e o reforço dos poderes da instituição eclesial.\n\nSe o significado comunitário da Igreja tende a ser eclipsado, ele não pode desaparecer totalmente. A fim de que a legitimidade da instituição seja fundamentada sobre a substituição de todo por parte mais eminente, a palavra deve também significar a cristiandade em seu conjunto. Assim, se a Igreja identifica-se ao clero - ordena e dirige a sociedade, em seu sentido comunitário, ela é a própria sociedade. \"No Ocidente latino dos séculos IX e X, Igreja e sociedade chegam a tornar-se noções coexistentes\" (Dominique Iogna-Prat). E impõe-se, então, tratar a Igreja e seu simples setor, de modo medieval. No mais, se a Igreja é a própria sociedade, não há nenhum sentido em recorrer à noção de religião tal como nós a entendemos hoje, enquanto crença puramente pessoal (esboçada na obra de Bartolomeu de Las Casas), é consolidada somente pelo iluminismo, no século XVIII. A fé medieval refere-se menos à crença íntima do que à fidelidade no seio feudal do termo, quer dizer, uma fidelidade prática, manifestada por atos, palavras e gestos. Sobretudo, não seria questão de escolha pessoal: é-se cristão porque se nasce no cristianismo. E uma identidade herdada (pelo ritual de batismo), que não se discute. Como sugere vigorosamente Alain Guerreau, só se tem a ganhar em considerar a Igreja a garantia da unidade da sociedade feudal, sua coluna vertebral e o fermento de seu dinamismo.\n\nOS FUNDAMENTOS DO PODER ECLESIAL\n\nUnidade e diversidade da instituição eclesial\n\nDiz-se que a Igreja é a instituição dominante do feudalismo: ela se reproduz com sucesso como instituição, mas sem que as posições em seu interior sejam transmutadas de maneira principalmente genealógica, como é habitual para uma classe social. É verdade que se pode considerar o alto clero como a fração superior do grupo dominante, embora ele não forme, enquanto clero, uma classe propriamente dita. Aliás, as relações entre o clero e a aristocracia são ambíguas. Esses grupos são ainda mais próximos pelo fato de que os filhos da aristocracia monopolizam o essencial dos cargos do alto clero, mesmo se não existe nenhuma exclusividade nessa questão. Entretanto, a integração à Igreja é sua parentela. Por vezes, um abade ou um bispo poderá obter mais facilmente de seus parentes que permaneceram seculares concessões em favor da Igreja (inversamente); porém, com mais frequência, a diferença de posição faz prevalecer os contrastes de interesses entre clérigos e leigos. Clérigo e aristocracia são, assim, exemplos não obra de dominância, alguns parentes os dominados, mas também são concorrentes, como indica uma infinidade de conflitos, notadamente pelo controle das terras e dos direitos que estruturam a organização dos senhores, tanto leigos como eclesiásticos. As numerosas críticas que os clérigosavam contra os cavaleiros triânicos e rapazes, escudados de “maus costumes”, são frequentemente, e em especial durante a fase mais aguda do processo de secularização, um meio de defender as prerrogativas da Igreja e de seus parentes senhores. Existe, então, uma rivalidade entre os dois pólos do grupo dominante, mas que permanece submissa ao adequado exercício de sua superioridade sobre os dominados.\n\nA própria instituição eclesial não é homogênea. Além das contradições de interesses ou dos conflitos doutrinários que podem opor em seu interior diferentes mudanças, existem importantes dualidades institucionais. Uma é hierárquica e bastante simplificada quando se opõem ao alto e ao baixo cleros, mas pelo menos nos lembra uma importante distância entre os grandes dignitários. 11. Uma cena de dogeiro, simbolizada pela entropia de uma igreja em miniatura, primeiro quiredo de Setúbal ou capital da catedral de São Lázaro, em Auri. Sob este aspecto, não me recuso, mas, claro, o ceder, como muito que concerne a este modelo, segundo um modelo de igreja em miniatura, símbolo de uma fundação nova de um bem eclesiástico com o objeto de uma doação. O traje apresentado do primeiro personagens indica, em primeiro, que laico oferece à igreja, enquanto oscilando a rebeço, tem todo brigue dodizido. Em todo caso, é um anátema de dureza para e também para quem nomas, mesmo que eu saiba, que a ideia de que as diaconias precisam ascondas é uma temida triangular. Desde mi os santos são esses veneráveis destruições, e nas cerimônias, simples depositórios. logo, associa os parentes ao ato de doação e lhes permite compartilhar seus benefícios espirituais.\n\nO resultado é eloquente. Desde o século VIII, a Igreja possui cerca de um terço das terras cultivadas na França, porcentagem que continua idêntica no século XIII (mas que parece baixar para 10% no Norte da Itália). Na Inglaterra, a Igreja concentra um quarto das terras em 1066 e 31% em 1273. Sem multiplicar ainda mais os números, pode-se reter que, segundo os lugares e as épocas, a Igreja em geral possui entre um quarto e um terço das terras. Isso quer dizer que as diversas autoridades episcopais ou monásticas que a compõem são numerosos senhores feudais. De fato, por ter sido objeto de uma doação, pelo menos senhoriais, talvez um terço deles, têm em seu comando uma instituição da Igreja – um monastério e seu abade, um cabido de catedral ou um bispo – que faz pesar sobre os dependentes os pagamentos e as obrigações associados ao poder senhorial, inclusive o exercício da justiça (sem falar dos senhores, parcialmente entre um laico e um monastério). Enfim, a situação da Igreja é uma posição particular e vantajosa à Igreja japonesa e consolidada, pois, recebe não transmite nada. Diferentemente dos bens aristocráticos, com freis e linhagens, tudo o que chega à instituição eclesial permanece em seus posses. Na origem, a partir do ponto de vista da Igreja, para acreditar-se uma situação para os donos de bens de classe no céu é o que traz a incerteza de sua instituição. aumentar ainda mais os rendimentos de uma igreja, pois eles atraem os peregrinos, que não economizam suas dádivas para um santo prestigioso e para sua \"casa\", na esperança de ganhos no futuro ou em agradecimento àquela já recebidas. Mas tais objetos também são os primeiros a ser pilhados, tratando-se de vasos litúrgicos, os primeiros a serem vendidos ou cedidos em senhorios perdidos difíceis. Enfim, lembremos que Carlos Magno tornou obrigatório o dízimo, que consiste, em média, em um décimo da colheita do produto das outras atividades produtivas e que é destinado, em teoria, ao sustento dos clérigos que se encarregam das almas, pois estes não podem trabalhar e temem produzir com suas próprias mãos (o que os faria decair para a ordem inferior da sociedade). Como se verá, ao longo dos séculos x e xi os dízimos vão com frequência desviado pelos senhores laicos ou pelos monges; uma vez recuperados, cerca da metade ou um terço do montante volta para o eclesiástico servidor da paróquia, o restante sendo devido ao bispo e consagrado ao sustento dos pobres. Além de sua destinação prática, o dízimo (também a garantia de um reconhecimento do poder dos clérigos, ele é o 'sinal da dominação universal da Igreja', segundo a expressão do papa Inocêncio III (toda forma de resistência contra ele, então, radica logicamente por uma recusa ao, ao menos, por uma reticência ao pagamento dessa obrigação). Tudo o que precede será incompreensível sem o poder espiritual associando não apenas para eles mesmos, mas para o conjunto dos cristãos, que podem assim, sem nem mesmo pensar que outros se encarregam de sua salvação, declará-se as atividades próprias a sua ordem, combater ou produzir (figuras 12, pp. 176 e 177). Os especialistas do prece e da liturgia, que são os clérigos, enfim para todos os seres vivos, e mais ainda para os mortos, o que se torna uma grande especialidade monástica, sobretudo nos séculos x e xi. As doações pro remédio animae (para o apaziguamento da alma) permitem a inclusão entre os familiares da comunidade monástica, em favor dos quais eles dirigem suas preces e celebram missas, ou mesmo ver seu nome incluído no livro da vida (ou necrológia) do mosteiro, a fim de que sua memória seja periodicamente evocada. Além do prece para os mortos, os clérigos assumem duas funções principais, em virtude do poder sagrado conferido pelo ritual de ordenação sacerdotal: transmitir o ensinamento e a palavra de Deus e conferir os sacramentos, sem os quais a sociedade cristã não poderia se reproduzir. Trata-se, em primeiro lugar, do batismo, que, de uma só vez, abre a promessa de salvação (por isso ele é chamado de \"porta dos céus\") e dá acesso à comunidade cristã, em consequência, à vida em sociedade (não existe forma de registro da existência social independente da Igreja antes do aparecimento do registro civil, em fins do século xvii). O ritual eucarístico não é menos fundamental. Golpe de mestre do cristianismo, pelo qual o sacrifício do deus supera definitivamente o sacrifício ao deus, a missa (durante a qual \"se oferece o deus a de si próprio\", segundo a expressão de Marcel Mauss) reafirma constantemente a acepção da sociedade cristã. Pela reintegração do sacrifício redentor de Cristo, ela garante a incorporação dos fiéis à comunidade eclesial e, enquanto sacrifício oferecido por esta, assegura a circulação das graças na esperança de salvação dos justos. Na segunda parte retornamos aos sacramentos, e particularmente ao casamento (os que já foram citados formar — com a confissão, a crisma, a extinção e a educação — o septenário que se constituiu no século xii). Mas, desde já, constata-se claramente que esses ritos são indispensáveis para assegurar a coesão da sociedade cristã, assim como o desenvolvimento de cada individual em seu seio. Eles marcam suas etapas principais (nascimento, casamento e morte) e autorizaram, por si só, a esperança de salvação no outro mundo, sem o que a vida terrena seria privada de sentido cristão. Ora, todos esses ritos só podem ser realizados pelos sacerdotes (por vezes, discute-se em casuística, como de urgência, proceder a um batismo, mas trata-se de um caso que, não tem nenhum efeito prático e não põe em causa a regra fundamental). Assim, os clérigos estão assegurados de que não detêm um monopólio decisivo: não se pode nem viver em cristandade nem realizar sua salvação sem seu concurso. Os fiéis não podem se beneficiar da graça divina sem fazer pela mediação dos clérigos, sem recorrer aos gestos que a ordenação sacerdotal dota de um poder sagrado. O clero é um intermediário obrigatório entre os homens e Deus. Seria absurdo — mas bem em conformidade com nossos hábitos de pensamento — separar a parte material e a parte espiritual do poder da Igreja. Na lógica do sistema medieval, tal divisão não tem sentido, pois a Igreja se define nela pelo fato de ser, ao mesmo tempo, uma instituição encarnada, fundada sobre bases materiais bastante sólidas, e uma entidade espiritual, sagrada (mesmo se maneira de articular estas duas dimensões esteja longe de não apresentar dificuldades, como veremos). Ela não teria nenhum poder material se não lhe fosse conhecido um imenso poder espiritual: nenhuma doação de terras ou de bens ocorreria sem o arrependimento que nasce ao termo de uma vida sobre a qual pesa a reprovação dos clérigos, sem a preocupação de salvação da alma e sem a ideia de que a Igreja pode ajudar os defuntos no além. Além disso, não se faz dom à Igreja para que ela acumule, mas para que, por sua vez, ela também (arma ajuda material aos pobres e aos enfermos, graças espirituais aos doadores e a seus próximos). Convém, então, retificar a expressão utilizada acima: 12. A procissão do papa Gregório I, o Grande, em casa que assola Roma, c. 1473 (Riquíssimas horas do duque de Berry. Museu Condé, Chantilly, 65, fª. 71v-72). Seta sua estante anáfora, luzindamente disposta ao reverso dos clavos penitenciais e do liturgista, pois vem como um milagre atribuído a Gregório, o Grande; em 590, o anjo Gabriel lhe aparece acima do castelo de Sant'Angelo enviando uma especial para induzir o fim da epidemia de peste (instruído de Justino). Clamorosamente, a mesma tem pouco a ver com as realidades do século xi e evita mais o fundo da Igreja romana do fim da Idade. Roman aparece como uma cidade gótica e a hierarquia clerical é representada de maneira ordinária sob a autoridade do papa, que porta a tiara e está associado ao colégio dos cardeais. A audiência das liturgias é impressionante: situações e circunstâncias de pessoas, conhecidos e espectadores, livrando-se das presas e credenciamento, pretensões e restrições. A um mesmo traço, ainda diviso, uma forma fúnebre de implícita do espaço; a desembolhação processional em forma das muralhas, que fortificam sustancialmente o espaço entre interior e externo a fim de preservar a cidade das ameaças que pesam sobre ela.