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Jérôme Baschet\n\nA CIVILIZAÇÃO FEUDAL\nDo ano mil à colonização da América\n\ntradução:\nMarcelo Rede\nProfessor do Departamento de História\nda Universidade Federal Fluminense\n\nprefácio:\nJacques Le Guff\n\n2ª reimpressão\n\nEDITORA GLOBO REFORMA E CRESCENTE SACRALIZAÇÃO\nda IGREJA (SÉCULOS XI E XII)\n\nO sistema esboçado acima não se formou nem se consolidou sem lutas, por vezes\nviolentas. Ele é o resultado de um processo ao longo do qual o poder da institu-\nção eclesial se reforçou e do qual é necessário evocar as principais etapas.\nMesmo se os fenômenos descritos aqui prolongam uma dinâmica iniciada desde\nos séculos IX e X, trata-se também, em certos aspectos, de uma reforma (sobre\nbases, em parte, antigas). Como já se disse, o insucesso da tentativa carolíngia\nlivra a Igreja Romana de uma associação como imagem gêmea do Império, que, ao\ncontrário, perduraria em Bizâncio. No século X, a disseminação do poder de\ncomando fora da Igreja é uma instituição capaz de consagrar a ordem pública e\na \"paz de Deus\". Ao mesmo tempo, o processo de encerramento e o estabele-\ncimento dos senhores obrigam-na a uma vivaz reação para evitar tornar-se perni-\ncosa da malha senhorial e, em fi m de, ao contrário, ser um principal ordenadora.\n\nO tempo dos monges e a fraqueza das estruturas seculares\n\nNo século XI e inícios do século XII, o povo da Igreja ainda debilitado. O poder do papa continua fraco, submetido aos imprevistos da política imperial e dos\nconflitos entre as aristocracias iulianas. De mesmo modo, bispos\nencontram-se entre as pressões dos aristocratas locais. Os senhores leigos\napropriando-se do controle das igrejas, das quais nomeiam os servidores par-\nquiais e das quais recebem os dízimos e os rendimentos. A Igreja arrisca, então,\nse ver absorvida nas novas estruturas resultantes da formação dos senhores,\nposição de dependência em relação aos leigos, que são seus principais bene-\nficiários. O comando a uma \"par de Deus\", lançado repetidamente pelos clérigos\ndurante os decretos que circularam o ano mil, aparece como um primeiro esfor-\nço para evitar tal situação e defender a posição da Igreja (primeira parte, capitu-\nlo II). Mesmo se, por vezes, o movimento da paz de Deus mobiliza o povo contra\numa ordem senhorial que a Igreja pretende dominar. prescrições de são Bento. Três fatores, ao menos, contribuem para a constituição do que os historiadores não hesitaram em chamar \"o império cluniacense\":\nEm primeiro lugar, o mosteiro dedicado a são Pedro e a são Paulo é posto sob\nim proteção direta do papa e se beneficia, em 998, de uma isenção naval perante\nbispo, que é, em seguida, estendida a todos os cluniacenses onde quer que se\nencontrem e, depois, a todos os estabelecimentos dependentes de Cluny\n(1097). Se, desde o Baixo Império e, sobretudo, desde a época carolíngia, um\ndos fundamentos da autoridade eclesial estava ligado ao privilégio de imundidade\nque subtraía os bens da Igreja de toda intervenção dos agentes da autoridade\npública, essa questão não tem mais grande importância e a afirmação do poderio\ndos mosteiros, em Cluny e alhures, depende durante da imunidade, que\nretira do bispo, autoridade soberana em sua diocese, toda a jurisdição e todo o\ndireto de supervisão sobre os negócios dos monges. Por outro lado, a \"igreja\neclesiense (ecclesia cluniacensis)\" adota uma estrutura muito centralizada, da qual\nA princípio, é a título pessoal que o abade de Cluny e igualmente abades\nde mosteiros que fazem apelo a ele para reformar seu modo de vida e seus\ncostumes litúrgicos. Em seguida, ele é um \"arquiabade\", chefe de todas as casas\nque sob sua dependência, abatidas ou, com mais frequência, convencionadas,\nestão sob a responsabilidade imediata de um simples prior). Forma-se, assim,\numa verdadeira ordem religiosa, pois não há nem organização em províncias\ncom instâncias colegiadas de direção, mas, antes, uma vasta rede de estabele-\ncimentos que adotam os mesmos costumes monásticos e estão submetidos à\nautoridade única do abade de Cluny.\n\nEnfim, Cluny sabe perfeitamente responder às necessidades de uma socie-\ndade dominada pela aristocracia. Os monges cluniacenses são especialistas em\nliturgia, a qual dá uma importância e um fauto considerável (figura 13, na\np. 186), em particular no que diz respeito à liturgia fúnebre e às preces para\nos defuntos. As aristocracias da Borgonha e de outras regiões onde os cluniacenses\nse estão implantados dirigem-se a eles, pois a liturgia dos mortos de Cluny, a\num só tempo, inscreve-os na memória dos homens e apiora-lhes uma ajuda pre-\ncisam em vista da salvação no além. Dado às múltiplas doações – sobretudos de\nterras e de senhores, mas também de igrejas e dízimos – que convergem para\no mosteiro e suas dependências e constituem a base principal de sua rique-\nza. Ao mesmo tempo, essas doações ordenam as relações sociais no seio da aris-\ntocracia, hierarquizando os doadores em função de sua generosidade para com\nCluny. Assim, existe uma \"profunda implicação cluniacense na ordem senhorial\n\" a tal ponto que Cluny aparece como o \"espelho da consciência aristocráti-\nca\" (Dominique Logna-Prat). Mas nem por isso tensões entre aristocracia e\n 13. A notação musical, invenção de Guido de Arezzo, fim do século XI (Biblioteca da Abadia de Montcassino, ms. 318, Fl. 291).\n\nPor volta de 1030, o monge italiano Guido de Arezzo (morto em Pavia na década de 1030) estabeleceu um sistema de notação musical que usou seu origem no modo. Enquanto antes os 'remus' funcionavam apenas como ações de música e de entonação, Guido criou a alta como, além, nada elevado, e que justifique cada nota (U, re, mi, fa, sol, la) – as primeiras sílabas dos versos da hino a João e adaptado ao sistema linhas. Além disso, a sua judiciária é uma espécie de ferramenta musical, uma vez que sente penetrar várias origens. Não existe mais um suplemento que esta invenção seja de unidade, mas é incontestável a importância, a respeito de que a liturgia – ou seja, o canto – era revelado nos estabelecimentos monásticos dependentes de Cluny. Claro desaparece em torno de Cluny, como o lembram os conflitos de todos os tipos e as maldições monásticas, com as quais os cluniacenses e os demais monásticos dos séculos X e XI se esforçam por fazer escudos eficazes. Ao uso das maldições é preciso associar o ritual do clamor pelo qual os monges, na presença das relíquias dos santos, imploram a seus protetores celestes que defendam sua comunidade e os protejam das intenções diabólicas de seus inimigos. Mas o socorro dos protetores celestes nem sempre é suficiente: não se hesita, então, em proceder a um ritual de humilhação dos santos, depositando suas relíquias no solo, ao pé do altar, como se eles devessem fazer penitência, ao mesmo tempo que os monges se prostram, a fim de que a misericórdia divina os recarregue de eficácia (Patrick Geary).\n\nFortalecida pelas vantagens acima indicadas, a Igreja de Cluny e seu abade, que os abades excepcionais ao longo de Maieul (954-1046), Odo (1049-1109) e Hugo de Semur (1049-1109), que estão entre os personagens mais eminentes de seu tempo. Beneficiando-se de uma sólida base senhorial local, os cluniacenses logo geram rivais em toda a cristandade. Eles ajudam Guilherme, o Conquistador, a reorganizar os monastérios da Inglaterra, depois de 1066, e fazem o mesmo junto aos soberanos hispânicos da Reconquista, o que lhes valem apoio financeiro tanto dos reis da Inglaterra como dos de Castela-Leão, que enviam anualmente a Cluny um censo de mil (depois, 2 mil moedas de ouro cobradas dos sarracenos. No total, em 1109, a Igreja de Cluny forma uma vasta rede de 1180 estabelecimentos, espalhada nas dimensões da crise fundante (de até a Terra Santa). Sua formidável capacidade de acumulação de riquezas lhe permite construir, a partir de 1088, uma nova igreja abacial (chamada Cluny III), consagrada em 1130 e que, com seus 187 metros de comprimento, é a maior igreja do Ocidente, superando todas as de Roma (figura 14, na p. 188). Compreende-se que os cluniacenses tenham frequentemente tido a confundir sua igreja e a Igreja universal, e mesmo a identificar Cluny e Roma. No século XI, o coração vivo da cristandade e monástica mais do que secular, tanto borguinhão como romano. 14. A igreja abacial de Cluny, no fim do século XIII (fotografia feita antes de sua destruição). Sucedendo a dois edifícios mais modestos e construídos, na essência, entre 1088 e 1130, a igreja abacial de Cluny III, em torno, morreu ainda da cristiandade medieval, conta estes 187 metros de comprimento, 58 metros de largura de 29,5 metros de altura na nave central (ela continuada a 36 e a reconstrução de São Pedro em Volterra, no século IV). Realizando-se abade dos lugares e reconstruções, gerou-se como fortes torres e datada de um tipo bárbaro. Sua abadia em nada é formada por elementos estruturais menores, que podemos justificaranas mais aos outros. O arranjo com desenhos de seus colchetes feitos frequentemente auxilia a organização do espaço interno: nave central de ouro, abside principal, desambulatório circundante esta última, e, finalmente, abóbadas corticais, cada uma, de seus próprios alçados. Se assim, na rede paroquial e enganando-se nas tarefas pastorais, não ocorre sem que haja confrontamentos com os seculares, ao longo dos séculos XI e XII, até que seja reconhecido o direito dos monges de exercer tarefas pastorais, sob a condição de que eles se submetam à autorização e ao controle do bispo. Entretanto, o próprio sucesso de Cluny e seu engajamento nos órgãos seculares começam a ser objeto de críticas; a interpretação com as imagens aristocráticas não está isenta de inconvenientes, e a dependência em relação às doações se faz sentir desde que seu ritmo começa a decair, enfim, a perda do direito do papa, por muito tempo garantia de autonomia, transforma em uma pesada tutela.\n\nDe fato, no fim do século XI e durante o século XII, aparecem novas ordens monásticas que, cada qual à sua maneira, se empenham em reafirmar a dimensão hermitica do ideal monástico, a qual, sem negar, Cluny havia contrabalançado com poderosas interações com a vida secular. Uma opção extrema é assumida pela Ordem dos Camaldulenses, criada por São Romualdo, pelos Regulares Premonstratenses, ordem fundada por São Norberto de Xanto, pela Ordem de Fontrevaud, criada por Roberto de Arbrissel, e, sobre a de Carthusianos, fundada por Bruno e santo Hugo de Crêpe, em 1084, e cuja organização foi acolhida por Guigo I. Os monges nascem, que dispõem de celas individuais no interior do mosteiro — em do dormitório e do refeitório coletivos previstos pela Regra de São Bento. A experiência de uma solidão quase total, inteiramente devotada à penitência a prece. Do mesmo modo, a Ordem Cisterciense, fundada por Roberto de Molesmes, em 1098, e cujo desenvolvimento é obra de São Bernardo de Clairvaux (1091-1153), encontra-se, sob vários aspectos, em contraposição ao tipo monástico, cisterciense, mesmo de Bernardo e igualmente um dos personagens mais prestantes de seu tempo e, principalmente, um ardente pregador da ciranda, os monges brancos (em sinal de austeridade, eles recusam a cor negra destas dos clunianenses) implantam-se muitos vezes nas zonas mais isoladas de burgos, como foi o caso de Cluny, desde o fim do século X. Em oposição a riqueza e ao outro resplandecente dos rituais clunianenses, sob Bernardo a maior severidade a vida dos monges, assim como aos edifícios em pedra que os abrigam, prosseguindo toda escultura ou toda imagem que pudesse a sua atenção dá prece e da meditação piedosa. Enfim, os cisterciense em possuir igrejas e receber dízimos, por respeito à função própria aos seres, e afirmam que os monges devem sobreviver graças ao seu trabalho, (suscitando, assim, o horror dos clunianenses, que julgam tal atividade distante e incompatível com o dever da prece). É verdade que os cistercienses. Logo recorrem aos irmãos conversos, leigos encarregados de tarefas produtivas, mas, ao menos, conservam a ideia de uma exploração direta de seus domínios, mais do que um recurso ao quadro senhorial, o que em geral lhes permite obter resultados notáveis em matéria de exploração agrícola e de produção metalúrgica. Mas, também nisso, o sucesso — a crédito em 343 estabelecimentos quando da morte de são Bernardo e perto de seiscentos no final do século XII — tem consequências paradoxais: os dons acumulam-se e a decadência das igrejas e dos mosteiros distancia-se rapidamente dos princípios austero do fundador.\n\nReforma secular e sacralização do clero\n\nO processo que os historiadores se habituaram a nominar \"reforma gregoriana\" a partir do nome de Gregório VII, papa de 1073 a 1085, não pode ser reduzida a seus aspectos mais factuais e mais ruidosos: a luta entre o papa e o imperador e a reforma moral do clero. Movimento muito mais profundo e mais ampla duração que a fase aguda dos anos 1049-1122, ele visa a uma reestruturação global da sociedade cristã, sob a firme condição da instituição eclesial. Os seus elos principais são a reforma da hierarquia secular sob a autoridade centenária do papa e o retorno da separação hierárquica entre leigos e clérigos. Trata-se de nada menos que reafirmar e consolidar a posição dominante da Igreja no mundo feudal.\n\nAparentemente, a exigência de reforma lançada pelo papa Leão IX (1049-54) apresenta-se como um ideal de retorno à Igreja primitiva (de resto, durante mais de um milênio, esta é a justificação de toda intenção de transformar a Igreja conforme a lógica medieval dos \"renascimentos\"). De fato, trata-se de restaurar a hierarquia eclesiástica, liberando-a do controle dos leigos e impedindo as intervenções destes nos negócios da Igreja, consideradas do ponto de vista legal. Assim, um dos slogans dos primeiros reformadores — entre os quais Humberto da Silva Candida (morto em 1061) e Pedro Damião (1007-72) — crêem a liberal ecclesia, que é preciso entender, evidentemente, como um combate pela defesa da ordem sacra. O imperador é o primeiro visado, pois o modelo carolíngio e bizantino, ainda ativo, faz dele o chefe de todos os cristãos apto, a este título, a intervir nas questões eclesiásticas, e também porque, nessa época, a eclésia impõe seus candidatos ao trono romano, a começar pelo próprio Leão IX. Sem entrar nos detalhes da luta entre o papa e o imperador, que regrariam a historiografia tradicional da reforma gregoriana, pode-se indicar que atingira sua intensidade máxima sob Gregório VII, com as excomunhões reiteradas de. Mão de um metinque IV, sua penitência em Canossa, em 1077, com o intuito de suspender a investidura delas, e, em troca, a tentativa imperial para depor o papa e a morte deste no exílio em Salerno. Tal luta tem como implicação o confronto entre duas semelhanças doravante incompatíveis, como indicam com toda a clareza os status pupile, e avaliado manifesto de Gregório VII.\n\nÉ igualmente tradicional concentrar a atenção sobre a questão das investiduras dos bispos, que polarizaria o conflito entre o papa e o imperador. O problema certamente não é desprovido de importância, pois os bispos estão entre os dois instrumentos da autoridade imperial e exercem, ao mesmo tempo, um poder temporal e um cargo espiritual. Ora, dando-lhes investidura pelo cajado episcopal, o imperador parece confiar-lhes tanto um como outro, e é isso que o reino VIII considera inadmissível. Serão necessárias longas décadas de conflitos e de soluções implicáveis, como aquela do tratado de Sutri (1111), para que o imperador Henrique V e o papa Calisto II cheguem a um compromisso viável, a Concordata de Worms, em 1122. Distinguir-se-ão, então, os poderes temporais do bispo (temporal) e seus poderes espirituais (espiritualia), de modo que o imperador pode transmitir os primeiros em um ritual de investidura pelo cajado, que são objeto de uma investidura pelo anel e pelo cajado, que será realizada por outros clérigos. Portanto, o princípio da liberalidade e liberdade deve ter como efeito retirar dos leigos (imperador, rei ou conde) o controle do instrumento episcopal. Enquanto este controle era, até ali, amplamente mono-\'opulado pela alta aristocracia, a nova situação favorece a pequena e a média aristocracia, que prevalece nos próprios cabidos. A partir disso, a elevação ao Episcopado constitui, para seu beneficiário, uma importante ascensão social, o que apenas pode iniciar-lo a exercer suas prerrogativas com maior intransigência inclusive perante os membros de sua própria parental. Essa modificação do recrutamento dos bispos revela-se, então, propicia a defesa dos interesses de igrejas e a uma separação (e uma concorrência) mais marcadas entre o clero aristocrático laico, o que contrasta com a osmosse que prevalecia anteriormente. Assim, a aplicação do princípio de liberalis ecclesia cria as condições sociais um reforço desta mesma liberalis. partir de 1057 e durante duas décadas, subleva os milaneses contra seu recibi- po, arroga-se o direito de depor os sacerdotes acusados de corrupção e de nu- mear seus sucessores. De Leão x até meados do século xii, a condenação de dois males principais serve de palavra de ordem e de meio de ação aos reforma- dores: a simonia, definida como a aquisição ilícita de órgãos sagrados, por meio de bens materiais (o nome vem de Simão, o Mago, que queria comprar de san Pedro o poder de fazer milagres), e o nicolaísmo, que caracterizava os clérigos casados ou que vivem em concubinato. Os dois são índices de problemas mais profundos. Sob o nome “simonia” combate-se toda forma de intervenção dos laicos nos negócios da Igreja e, particularmente, a posse senhoriais das igrejas di- dzimos. Com efeito, esta tem como consequência os clérigos recebiam seus encargos (sagrados) das mãos (impuros) dos laicos, enquanto estes últimos rece- bem uma parte substancial dos rendimentos do benefício eclesiástico. Assem- bléias sinodais e decisões pontifícias reclamam, então, a restituição das igre- jas retidas pelos laicos, o que beneficia os monges, especialmente os clérigos, sobretudo num primeiro momento, antes que os paróquias sejam com mais freqüência entregues à tutela episcopal. O ritmo das restituições é bastante varia- vel segundo as regiões, mas é, em geral, bastante lento: são raras as zonas onde resultados notáveis são atingidos no início do século xii. É sobretudo na segun acelera (assim, na bacia parisiense, os laicos não controlam mais do que 5% das igrejas por volta de 1250), mesmo se, por vezes, como na Normandia, eles ainda detenham, por volta de 1300, entre um terço e a metade das igrejas. Quanto ao celibato dos clérigos, ele já era reivindicado pelos concílios desde o século v; mas trata-se, então, de uma exigência moral mais do que uma norma rigorosamente imperativa. Ainda no século xi, ela é respeitada muito exa- damente e vários sacerdotes são casados ou vivem em concubinato, já que as designações senhoriais não favorecem absolutamente a atenção a esses crité- rios. Mas seria errado ver nisso apenas um problema de moral, pois se trata, sobretudo, de definir o estatuto de clérigo. Fazendo da renúncia inapelável à sexualidade — e, por consequência, do celibato — a regra definidora do estado clerical, a reforma empenha-se em sacralizar os clérigos, o que segundo a et- mologia deste termo quer dizer colocá-los à parte, distinguindo-os radicalmente dos leigos, no mesmo momento em que a Igreja estabelece, para estes últimos, um modelo cristão de casamento (segunda parte, capítulo v). A obsessão da “pureza” do clero e o cuidado em afastar dele todo risco de mácula que poderia ser provocada por um contato impensivo com os leigos, com as riquezas ruais e com a carne) está a altura da nova sacralidade reivindicada pelos clér- gios. Esta se manifesta principalmente pela evolução do ritual de ordenação que,
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Jérôme Baschet\n\nA CIVILIZAÇÃO FEUDAL\nDo ano mil à colonização da América\n\ntradução:\nMarcelo Rede\nProfessor do Departamento de História\nda Universidade Federal Fluminense\n\nprefácio:\nJacques Le Guff\n\n2ª reimpressão\n\nEDITORA GLOBO REFORMA E CRESCENTE SACRALIZAÇÃO\nda IGREJA (SÉCULOS XI E XII)\n\nO sistema esboçado acima não se formou nem se consolidou sem lutas, por vezes\nviolentas. Ele é o resultado de um processo ao longo do qual o poder da institu-\nção eclesial se reforçou e do qual é necessário evocar as principais etapas.\nMesmo se os fenômenos descritos aqui prolongam uma dinâmica iniciada desde\nos séculos IX e X, trata-se também, em certos aspectos, de uma reforma (sobre\nbases, em parte, antigas). Como já se disse, o insucesso da tentativa carolíngia\nlivra a Igreja Romana de uma associação como imagem gêmea do Império, que, ao\ncontrário, perduraria em Bizâncio. No século X, a disseminação do poder de\ncomando fora da Igreja é uma instituição capaz de consagrar a ordem pública e\na \"paz de Deus\". Ao mesmo tempo, o processo de encerramento e o estabele-\ncimento dos senhores obrigam-na a uma vivaz reação para evitar tornar-se perni-\ncosa da malha senhorial e, em fi m de, ao contrário, ser um principal ordenadora.\n\nO tempo dos monges e a fraqueza das estruturas seculares\n\nNo século XI e inícios do século XII, o povo da Igreja ainda debilitado. O poder do papa continua fraco, submetido aos imprevistos da política imperial e dos\nconflitos entre as aristocracias iulianas. De mesmo modo, bispos\nencontram-se entre as pressões dos aristocratas locais. Os senhores leigos\napropriando-se do controle das igrejas, das quais nomeiam os servidores par-\nquiais e das quais recebem os dízimos e os rendimentos. A Igreja arrisca, então,\nse ver absorvida nas novas estruturas resultantes da formação dos senhores,\nposição de dependência em relação aos leigos, que são seus principais bene-\nficiários. O comando a uma \"par de Deus\", lançado repetidamente pelos clérigos\ndurante os decretos que circularam o ano mil, aparece como um primeiro esfor-\nço para evitar tal situação e defender a posição da Igreja (primeira parte, capitu-\nlo II). Mesmo se, por vezes, o movimento da paz de Deus mobiliza o povo contra\numa ordem senhorial que a Igreja pretende dominar. prescrições de são Bento. Três fatores, ao menos, contribuem para a constituição do que os historiadores não hesitaram em chamar \"o império cluniacense\":\nEm primeiro lugar, o mosteiro dedicado a são Pedro e a são Paulo é posto sob\nim proteção direta do papa e se beneficia, em 998, de uma isenção naval perante\nbispo, que é, em seguida, estendida a todos os cluniacenses onde quer que se\nencontrem e, depois, a todos os estabelecimentos dependentes de Cluny\n(1097). Se, desde o Baixo Império e, sobretudo, desde a época carolíngia, um\ndos fundamentos da autoridade eclesial estava ligado ao privilégio de imundidade\nque subtraía os bens da Igreja de toda intervenção dos agentes da autoridade\npública, essa questão não tem mais grande importância e a afirmação do poderio\ndos mosteiros, em Cluny e alhures, depende durante da imunidade, que\nretira do bispo, autoridade soberana em sua diocese, toda a jurisdição e todo o\ndireto de supervisão sobre os negócios dos monges. Por outro lado, a \"igreja\neclesiense (ecclesia cluniacensis)\" adota uma estrutura muito centralizada, da qual\nA princípio, é a título pessoal que o abade de Cluny e igualmente abades\nde mosteiros que fazem apelo a ele para reformar seu modo de vida e seus\ncostumes litúrgicos. Em seguida, ele é um \"arquiabade\", chefe de todas as casas\nque sob sua dependência, abatidas ou, com mais frequência, convencionadas,\nestão sob a responsabilidade imediata de um simples prior). Forma-se, assim,\numa verdadeira ordem religiosa, pois não há nem organização em províncias\ncom instâncias colegiadas de direção, mas, antes, uma vasta rede de estabele-\ncimentos que adotam os mesmos costumes monásticos e estão submetidos à\nautoridade única do abade de Cluny.\n\nEnfim, Cluny sabe perfeitamente responder às necessidades de uma socie-\ndade dominada pela aristocracia. Os monges cluniacenses são especialistas em\nliturgia, a qual dá uma importância e um fauto considerável (figura 13, na\np. 186), em particular no que diz respeito à liturgia fúnebre e às preces para\nos defuntos. As aristocracias da Borgonha e de outras regiões onde os cluniacenses\nse estão implantados dirigem-se a eles, pois a liturgia dos mortos de Cluny, a\num só tempo, inscreve-os na memória dos homens e apiora-lhes uma ajuda pre-\ncisam em vista da salvação no além. Dado às múltiplas doações – sobretudos de\nterras e de senhores, mas também de igrejas e dízimos – que convergem para\no mosteiro e suas dependências e constituem a base principal de sua rique-\nza. Ao mesmo tempo, essas doações ordenam as relações sociais no seio da aris-\ntocracia, hierarquizando os doadores em função de sua generosidade para com\nCluny. Assim, existe uma \"profunda implicação cluniacense na ordem senhorial\n\" a tal ponto que Cluny aparece como o \"espelho da consciência aristocráti-\nca\" (Dominique Logna-Prat). Mas nem por isso tensões entre aristocracia e\n 13. A notação musical, invenção de Guido de Arezzo, fim do século XI (Biblioteca da Abadia de Montcassino, ms. 318, Fl. 291).\n\nPor volta de 1030, o monge italiano Guido de Arezzo (morto em Pavia na década de 1030) estabeleceu um sistema de notação musical que usou seu origem no modo. Enquanto antes os 'remus' funcionavam apenas como ações de música e de entonação, Guido criou a alta como, além, nada elevado, e que justifique cada nota (U, re, mi, fa, sol, la) – as primeiras sílabas dos versos da hino a João e adaptado ao sistema linhas. Além disso, a sua judiciária é uma espécie de ferramenta musical, uma vez que sente penetrar várias origens. 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Mas o socorro dos protetores celestes nem sempre é suficiente: não se hesita, então, em proceder a um ritual de humilhação dos santos, depositando suas relíquias no solo, ao pé do altar, como se eles devessem fazer penitência, ao mesmo tempo que os monges se prostram, a fim de que a misericórdia divina os recarregue de eficácia (Patrick Geary).\n\nFortalecida pelas vantagens acima indicadas, a Igreja de Cluny e seu abade, que os abades excepcionais ao longo de Maieul (954-1046), Odo (1049-1109) e Hugo de Semur (1049-1109), que estão entre os personagens mais eminentes de seu tempo. Beneficiando-se de uma sólida base senhorial local, os cluniacenses logo geram rivais em toda a cristandade. Eles ajudam Guilherme, o Conquistador, a reorganizar os monastérios da Inglaterra, depois de 1066, e fazem o mesmo junto aos soberanos hispânicos da Reconquista, o que lhes valem apoio financeiro tanto dos reis da Inglaterra como dos de Castela-Leão, que enviam anualmente a Cluny um censo de mil (depois, 2 mil moedas de ouro cobradas dos sarracenos. No total, em 1109, a Igreja de Cluny forma uma vasta rede de 1180 estabelecimentos, espalhada nas dimensões da crise fundante (de até a Terra Santa). Sua formidável capacidade de acumulação de riquezas lhe permite construir, a partir de 1088, uma nova igreja abacial (chamada Cluny III), consagrada em 1130 e que, com seus 187 metros de comprimento, é a maior igreja do Ocidente, superando todas as de Roma (figura 14, na p. 188). Compreende-se que os cluniacenses tenham frequentemente tido a confundir sua igreja e a Igreja universal, e mesmo a identificar Cluny e Roma. No século XI, o coração vivo da cristandade e monástica mais do que secular, tanto borguinhão como romano. 14. A igreja abacial de Cluny, no fim do século XIII (fotografia feita antes de sua destruição). Sucedendo a dois edifícios mais modestos e construídos, na essência, entre 1088 e 1130, a igreja abacial de Cluny III, em torno, morreu ainda da cristiandade medieval, conta estes 187 metros de comprimento, 58 metros de largura de 29,5 metros de altura na nave central (ela continuada a 36 e a reconstrução de São Pedro em Volterra, no século IV). Realizando-se abade dos lugares e reconstruções, gerou-se como fortes torres e datada de um tipo bárbaro. Sua abadia em nada é formada por elementos estruturais menores, que podemos justificaranas mais aos outros. O arranjo com desenhos de seus colchetes feitos frequentemente auxilia a organização do espaço interno: nave central de ouro, abside principal, desambulatório circundante esta última, e, finalmente, abóbadas corticais, cada uma, de seus próprios alçados. Se assim, na rede paroquial e enganando-se nas tarefas pastorais, não ocorre sem que haja confrontamentos com os seculares, ao longo dos séculos XI e XII, até que seja reconhecido o direito dos monges de exercer tarefas pastorais, sob a condição de que eles se submetam à autorização e ao controle do bispo. Entretanto, o próprio sucesso de Cluny e seu engajamento nos órgãos seculares começam a ser objeto de críticas; a interpretação com as imagens aristocráticas não está isenta de inconvenientes, e a dependência em relação às doações se faz sentir desde que seu ritmo começa a decair, enfim, a perda do direito do papa, por muito tempo garantia de autonomia, transforma em uma pesada tutela.\n\nDe fato, no fim do século XI e durante o século XII, aparecem novas ordens monásticas que, cada qual à sua maneira, se empenham em reafirmar a dimensão hermitica do ideal monástico, a qual, sem negar, Cluny havia contrabalançado com poderosas interações com a vida secular. Uma opção extrema é assumida pela Ordem dos Camaldulenses, criada por São Romualdo, pelos Regulares Premonstratenses, ordem fundada por São Norberto de Xanto, pela Ordem de Fontrevaud, criada por Roberto de Arbrissel, e, sobre a de Carthusianos, fundada por Bruno e santo Hugo de Crêpe, em 1084, e cuja organização foi acolhida por Guigo I. Os monges nascem, que dispõem de celas individuais no interior do mosteiro — em do dormitório e do refeitório coletivos previstos pela Regra de São Bento. A experiência de uma solidão quase total, inteiramente devotada à penitência a prece. Do mesmo modo, a Ordem Cisterciense, fundada por Roberto de Molesmes, em 1098, e cujo desenvolvimento é obra de São Bernardo de Clairvaux (1091-1153), encontra-se, sob vários aspectos, em contraposição ao tipo monástico, cisterciense, mesmo de Bernardo e igualmente um dos personagens mais prestantes de seu tempo e, principalmente, um ardente pregador da ciranda, os monges brancos (em sinal de austeridade, eles recusam a cor negra destas dos clunianenses) implantam-se muitos vezes nas zonas mais isoladas de burgos, como foi o caso de Cluny, desde o fim do século X. Em oposição a riqueza e ao outro resplandecente dos rituais clunianenses, sob Bernardo a maior severidade a vida dos monges, assim como aos edifícios em pedra que os abrigam, prosseguindo toda escultura ou toda imagem que pudesse a sua atenção dá prece e da meditação piedosa. Enfim, os cisterciense em possuir igrejas e receber dízimos, por respeito à função própria aos seres, e afirmam que os monges devem sobreviver graças ao seu trabalho, (suscitando, assim, o horror dos clunianenses, que julgam tal atividade distante e incompatível com o dever da prece). É verdade que os cistercienses. Logo recorrem aos irmãos conversos, leigos encarregados de tarefas produtivas, mas, ao menos, conservam a ideia de uma exploração direta de seus domínios, mais do que um recurso ao quadro senhorial, o que em geral lhes permite obter resultados notáveis em matéria de exploração agrícola e de produção metalúrgica. Mas, também nisso, o sucesso — a crédito em 343 estabelecimentos quando da morte de são Bernardo e perto de seiscentos no final do século XII — tem consequências paradoxais: os dons acumulam-se e a decadência das igrejas e dos mosteiros distancia-se rapidamente dos princípios austero do fundador.\n\nReforma secular e sacralização do clero\n\nO processo que os historiadores se habituaram a nominar \"reforma gregoriana\" a partir do nome de Gregório VII, papa de 1073 a 1085, não pode ser reduzida a seus aspectos mais factuais e mais ruidosos: a luta entre o papa e o imperador e a reforma moral do clero. Movimento muito mais profundo e mais ampla duração que a fase aguda dos anos 1049-1122, ele visa a uma reestruturação global da sociedade cristã, sob a firme condição da instituição eclesial. Os seus elos principais são a reforma da hierarquia secular sob a autoridade centenária do papa e o retorno da separação hierárquica entre leigos e clérigos. Trata-se de nada menos que reafirmar e consolidar a posição dominante da Igreja no mundo feudal.\n\nAparentemente, a exigência de reforma lançada pelo papa Leão IX (1049-54) apresenta-se como um ideal de retorno à Igreja primitiva (de resto, durante mais de um milênio, esta é a justificação de toda intenção de transformar a Igreja conforme a lógica medieval dos \"renascimentos\"). De fato, trata-se de restaurar a hierarquia eclesiástica, liberando-a do controle dos leigos e impedindo as intervenções destes nos negócios da Igreja, consideradas do ponto de vista legal. Assim, um dos slogans dos primeiros reformadores — entre os quais Humberto da Silva Candida (morto em 1061) e Pedro Damião (1007-72) — crêem a liberal ecclesia, que é preciso entender, evidentemente, como um combate pela defesa da ordem sacra. O imperador é o primeiro visado, pois o modelo carolíngio e bizantino, ainda ativo, faz dele o chefe de todos os cristãos apto, a este título, a intervir nas questões eclesiásticas, e também porque, nessa época, a eclésia impõe seus candidatos ao trono romano, a começar pelo próprio Leão IX. Sem entrar nos detalhes da luta entre o papa e o imperador, que regrariam a historiografia tradicional da reforma gregoriana, pode-se indicar que atingira sua intensidade máxima sob Gregório VII, com as excomunhões reiteradas de. Mão de um metinque IV, sua penitência em Canossa, em 1077, com o intuito de suspender a investidura delas, e, em troca, a tentativa imperial para depor o papa e a morte deste no exílio em Salerno. Tal luta tem como implicação o confronto entre duas semelhanças doravante incompatíveis, como indicam com toda a clareza os status pupile, e avaliado manifesto de Gregório VII.\n\nÉ igualmente tradicional concentrar a atenção sobre a questão das investiduras dos bispos, que polarizaria o conflito entre o papa e o imperador. O problema certamente não é desprovido de importância, pois os bispos estão entre os dois instrumentos da autoridade imperial e exercem, ao mesmo tempo, um poder temporal e um cargo espiritual. Ora, dando-lhes investidura pelo cajado episcopal, o imperador parece confiar-lhes tanto um como outro, e é isso que o reino VIII considera inadmissível. Serão necessárias longas décadas de conflitos e de soluções implicáveis, como aquela do tratado de Sutri (1111), para que o imperador Henrique V e o papa Calisto II cheguem a um compromisso viável, a Concordata de Worms, em 1122. Distinguir-se-ão, então, os poderes temporais do bispo (temporal) e seus poderes espirituais (espiritualia), de modo que o imperador pode transmitir os primeiros em um ritual de investidura pelo cajado, que são objeto de uma investidura pelo anel e pelo cajado, que será realizada por outros clérigos. Portanto, o princípio da liberalidade e liberdade deve ter como efeito retirar dos leigos (imperador, rei ou conde) o controle do instrumento episcopal. Enquanto este controle era, até ali, amplamente mono-\'opulado pela alta aristocracia, a nova situação favorece a pequena e a média aristocracia, que prevalece nos próprios cabidos. A partir disso, a elevação ao Episcopado constitui, para seu beneficiário, uma importante ascensão social, o que apenas pode iniciar-lo a exercer suas prerrogativas com maior intransigência inclusive perante os membros de sua própria parental. Essa modificação do recrutamento dos bispos revela-se, então, propicia a defesa dos interesses de igrejas e a uma separação (e uma concorrência) mais marcadas entre o clero aristocrático laico, o que contrasta com a osmosse que prevalecia anteriormente. Assim, a aplicação do princípio de liberalis ecclesia cria as condições sociais um reforço desta mesma liberalis. partir de 1057 e durante duas décadas, subleva os milaneses contra seu recibi- po, arroga-se o direito de depor os sacerdotes acusados de corrupção e de nu- mear seus sucessores. De Leão x até meados do século xii, a condenação de dois males principais serve de palavra de ordem e de meio de ação aos reforma- dores: a simonia, definida como a aquisição ilícita de órgãos sagrados, por meio de bens materiais (o nome vem de Simão, o Mago, que queria comprar de san Pedro o poder de fazer milagres), e o nicolaísmo, que caracterizava os clérigos casados ou que vivem em concubinato. Os dois são índices de problemas mais profundos. Sob o nome “simonia” combate-se toda forma de intervenção dos laicos nos negócios da Igreja e, particularmente, a posse senhoriais das igrejas di- dzimos. Com efeito, esta tem como consequência os clérigos recebiam seus encargos (sagrados) das mãos (impuros) dos laicos, enquanto estes últimos rece- bem uma parte substancial dos rendimentos do benefício eclesiástico. Assem- bléias sinodais e decisões pontifícias reclamam, então, a restituição das igre- jas retidas pelos laicos, o que beneficia os monges, especialmente os clérigos, sobretudo num primeiro momento, antes que os paróquias sejam com mais freqüência entregues à tutela episcopal. O ritmo das restituições é bastante varia- vel segundo as regiões, mas é, em geral, bastante lento: são raras as zonas onde resultados notáveis são atingidos no início do século xii. É sobretudo na segun acelera (assim, na bacia parisiense, os laicos não controlam mais do que 5% das igrejas por volta de 1250), mesmo se, por vezes, como na Normandia, eles ainda detenham, por volta de 1300, entre um terço e a metade das igrejas. Quanto ao celibato dos clérigos, ele já era reivindicado pelos concílios desde o século v; mas trata-se, então, de uma exigência moral mais do que uma norma rigorosamente imperativa. Ainda no século xi, ela é respeitada muito exa- damente e vários sacerdotes são casados ou vivem em concubinato, já que as designações senhoriais não favorecem absolutamente a atenção a esses crité- rios. Mas seria errado ver nisso apenas um problema de moral, pois se trata, sobretudo, de definir o estatuto de clérigo. Fazendo da renúncia inapelável à sexualidade — e, por consequência, do celibato — a regra definidora do estado clerical, a reforma empenha-se em sacralizar os clérigos, o que segundo a et- mologia deste termo quer dizer colocá-los à parte, distinguindo-os radicalmente dos leigos, no mesmo momento em que a Igreja estabelece, para estes últimos, um modelo cristão de casamento (segunda parte, capítulo v). A obsessão da “pureza” do clero e o cuidado em afastar dele todo risco de mácula que poderia ser provocada por um contato impensivo com os leigos, com as riquezas ruais e com a carne) está a altura da nova sacralidade reivindicada pelos clér- gios. Esta se manifesta principalmente pela evolução do ritual de ordenação que,