A Articulação entre o Corporal e o Espiritual: Conflitos e Intervenções

Quer dizer que o limite entre a articulação legítima do corporal e do espiritual e sua confusão indômita é tênue instável e sujeita a contestações O que a instituição valorizou como equilíbrio positivo é sempre suscetível de ser denunciado seja pela crítica anticlérical dos leigos seja por grupos clericais que fundam seu prestígio sobre uma exigência mais ascética como um compromisso desgradável de como o mundo é como matéria A justaposição entre o corporal e o espiritual é portanto objeto de conflitos incessantemente relacionados isso não tem nada de surpreendente pois é uma ênfase legítima da sociedade que é a de enfidá Uma precisão de vocabulário poderá entretanto ajudar a esclarecer esse ponto importante A oposição de base é aquela entre o corporal corpus caro e o espiritual spiritus anima mas é somente seu modo de articulação ou de separação que produz valores positivos ou negativos o corpo é entregue a si mesmo ou se lhe domina o espírito ou mal vence e afundamos na carne carnalis e o espírito impõese ao corpo o bem triunfa e estamos diante da realidade espiritual eventualmente de corpos espirituais corpus spirituale Parte integrante deste conjunto as espiritualidad designam tudo o que concerne a linguagem aos seus poderes sacramantais a sua jurisdição assim como aos seus bens materiais Elas opõemse às temporais poder e bens passivos de seu assumir os papeis leigos mesmo os servidores embora também cercados por uma autoridade eclesiástica aos quais não são necessariamente condenáveis mas em todo caso incapazes de atingir por si mesmos um fim espiritual e devem então exercer a preeminência da espiritualidade O ponto determinante é então a orientação dada à articulação entre o espiritual e o corporal a submissão da alma ao corpo e a intrusão dos laços nas espiritual provocam uma mácula inflama Enquanto a intervenção dos clérigos nos negócios dos laicos por exemplo o casamento é condutora de propriedade e de espiritualização É por isso que podem existir materiais qualificados de laicos mas genericamente corpos espirituais a saber a própria Igreja Não pode então confundirse com o que teve um efeito como se a arte de decifrar os símbolos e de descobrir através das aparências sensíveis as significações mais espirituais E contra uma tendência do mesmo tipo aplicada dessa vez à natureza da alma que se elevava Guibert de Nogent quando de ironia aqueles que creem que a alma possui um corpo sob o pretexto de que as imagens representam como uma criancinha nua Entretanto é necessário reconhecer que a Igreja favoreceu tais desvios ao optar sem reservas pela imagem somatizadora da alma o qual confere toda as aparências de um corpo É evidente que propriamente falando a imagem não diz nada da natureza substancial da alma e podese admitir que ela mostra conforme a definição agostiniana uma realidade espiritual dotada de uma similaridade corporal Resta o fato de que a imagem se presta facilmente a uma leitura que tende a corporificar o espiritual A arte dos séculos XIV e XV acentua ainda a dificuldade de figurar muitos vezes um verdadeiro retrato da alma duplo perfeitamente individualizado do corpo que ela habita No caso de Judas o retrato não é nada isonférico o nariz sublinha a baixeza carnal do traidor Copyright 2004 by Éditions Flammarion Copyright tradução 2005 by Editora Globo SA Todos os direitos reservados Nenhuma parte deste epílogo pode ser utilizada sob qualquer forma seja mecânica ou eletrônica produzida de qualquer modo sem a expressa autorização da Editora Texto feito conforme o acordo com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Decreto Legislativo nº 1 de 2009 Título original La civilisation féodale de lan mil à la colonisation de lAmérique ISBN 9788525041395 3ª reimpressão 2011 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Baschet Jérôme A civilização feodal de um mil a la colonização da América Jérôme Baschet traduçao Marcelo Rede prefácio Jacques Le Goff São Paulo 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vez mais forçada A evolução das modalidades de articulação entre o espiritual e o corporal deve agora ser reconstituída com maior clareza Com efeito o modelo antropossocial fundado na articulação hierárquica de entidades separadas é dado de uma grande flexibilidade e de uma notável capacidade dinâmica De fato convém precisar que vinculando as concepções medievais de pessoa ao princípio de uma dualidade não absolutista não se procurou absolutamente fecharlos em uma duriti de única esta formulação abre ao contrário uma ampla gama de possibilidades e toda a história da antropologia medieval é o dos deslocamentos operados no interior desse vasto campo Esse processo traz seu caminho através de vários desvíos e contradições Nos primeiros séculos do cristianismo as ênfases duais listas mais ruidas bastante apoiadas em são Paulo são conduzidas por uma lógica que procura construir a sociedade romana Depois junto com outros Agostinho promove uma transformação doutrinária radical que impõe a mudança da estacão com o Império Essa mutação é realizada em um duplo movimento A nova teologia do pecado resulta da livrearbítrio e rebaixa a natureza humana na fazendo a instituição eclesial a mediação indispensável para se beneficiar da graça divina e de sua dúvida a salvação Ao mesmo tempo e rejeitado total a dualidade de relação entre a atividade e a passividade do ser humano na relação de destruição do mundo A interpretação ainda carrega a ressurreição do corpo por Agostinho e não entendida disso assim como sua leitura do vida e da luz é de um modo que a predestinação se expande e contribui assim para um dos de legado de legitimidade ao casamento humano Tal dinâmica permite assumir até o amor terrestre Heloísa e Abelardo já o haviam tentado pois ter um conhecimento deploráveis desventuras Por volta de 1130 a amena que agora abençoa escreve a seu amado de sempre tornandolhe despido de sua castidade de ele seu único depois de Cristo seu único em Cristo Ou um divino deve primar mas uma vez feito esse reconhecimento confundirse com aquele de Deus Mais de um século e meio depois Dante dá a mulher de carne e osso que ela amor tornase uma figura ou uma encarnação da revelação que o guia ao paraíso em direção à visão de Deus O inferno e o purgatório Poeta armático ele é a realização da plenitude das suas promoções deve abandonar Dante no limiar do reino celeste e cede então a beleza de Beatriz Todos esses elementos não são o sinal de uma suposta laicização ou de uma autonomização da cultura profana fazendo recuar o controle dos valores cristãos Eles marcam ao contrário uma etapa suplementar na dinâmica de articulação do que é espiritual e o corporal capaz de assumir mais do que antes no mundo material Assim enquanto a igreja românica se apresenta como a imagem de uma Jerusalém ciente fortificada protegendose do mundano curiosamente dos adobados e pela onipresença da luz e uma espiritualização da arquitetura e ao mesmo tempo testemunham o renascimento do mundo das aparências sensíveis dos corpos de natureza Se se considerar o modelo antroposocial analisado anteriormente essa ação frágil de um tipo de servir deve garantir em sua medida em de capáz de levantar as cargas mais pesadas Esse agir só permite um melhor considerando o mundo terrestre sucessível de satisfazer os laicos e que por vezes respondem a sua pressão sem que isso questionar a preeminência dos valores apresentados pelos clérigos Essa lógica testemunhada notadamente pela concepção dos atos gloriosos demonstra uma realidade mais relativa do legado do espiritual É o caso em primeiro lugar da própria Igreja cujas possessões espirituais