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REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 112 CARLOS ETCHEVARNE CARLOS ETCHEVARNE Museu de Arqueologia e Etnologia Universidade Federal da Bahia Email etchvrnufbabr A OCUPAÇÃO HUMANA DO NORDESTE BRASILEIRO ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 113 O NORDESTE ESBOÇO DE DEFINIÇÃO DE UM VASTO TERRITÓRIO efinir o Nordeste significa certamente mais do que em outras regiões do Bra sil colocar limites que não são apenas de índole geográfica Na definição des sa região vão implícitos aspectos sóciohistóricos idiossincráticos e por que não políticos que trans cendem as delimitações de características ambien tais Assim um território composto por nove estados 1 se conforma como uma categoria única de aná lise muito mais do ponto de vista da atribuição sim bólica construída historicamente que da unidade geográficopaisagística propriamente dita Como veremos o Nordeste é um território dos mais con trastantes onde na mesma latitude podem ser en contrados ambientes que vão da extrema umida de a uma dominante aridez Também para tornar mais imprecisa a definição ambiental do Nordeste apontamos que as fronteiras com áreas fitogeográficas vizinhas são tênues quando não inexistentes como acontece com a mata atlântica do sul da Bahia e a região litorânea central com o cerrado do oeste nor destino e o planalto central ou com o meio amazô nico e o estado do Maranhão Mas por que a necessidade de definir um ter ritório quando falamos de grupos humanos anteri ores à chegada dos portugueses É que partimos da premissa de que toda sociedade humana tem um marco ambiental no qual concretiza sua existência e que conseqüentemente existe um nível profundo de interação entre os espaços naturais e os indivíduos D 1 A Região Nordeste está consti tuída jurídicoadministrativamen te pela totalidade dos territóri os dos estados de Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe e Bahia REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 114 que os ocupam Como resultado dessa inte ração foram elaborados historicamente dis positivos adaptativos em parte documenta dos arqueologicamente pelos seus vestígios materiais Dessa maneira reconhecemos que os diferentes ambientes naturais são apro priados de forma específica com a criação de sistemas integrados que incluem tecnologia relações sociais e representações simbólicas reproduzidos e atualizados atra vés de comportamentos que são aceitos compartilhados e transmitidos pelos mem bros de um grupo social Distanciandonos de qualquer determi nismo ambiental parecenos que os dife rentes procedimentos de apropriação da natureza são relativos a cada sociedade e a um período específico podendo existir portanto variações nos padrões de ocupa ção de um mesmo espaço e de aproveita mento dos recursos disponíveis no ambien te Esta afirmação por sua vez leva implí cito o reconhecimento de que os processos sociais leiase históricos estão marcados por essa interação homemnatureza de que falamos nos parágrafos anteriores Feitas estas ressalvas convém passar mos à anunciada caracterização ambiental nordestina ou seja ao cenário natural no qual se movimentaram os grupos indíge nas précoloniais Os ambientes naturais ou ecossistemas dominantes no Nordeste correspondem aos da floresta tropical perenifólia mata atlân tica à caatinga e ao cerrado Todos os três são derivados fundamentalmente das con dições climatológicas reinantes e se esten dem de forma diferenciada nos territórios dos estados nordestinos Variações microambientais estão presentes também em cada um deles respondendo a fatores morfogenéticos 2 bem localizados Kuhlman 1977 85110 Em linhas gerais podemos dizer que o domínio da floresta tropical perenifólia acompanha com algumas interrupções as planícies e os suaves tabuleiros do litoral nordestino afetados pelo sistema pluvio métrico de origem atlântica que alcança aproximadamente 2000 mm anuais Esse tipo de cobertura vegetal densa vai tornan dose cada vez menos freqüente à medida que se interioriza por efeito da perda da influência desse sistema ao passo que se inicia uma floresta subcaducifólia Esta por sua vez desaparece quando os níveis de precipitações vão se reduzindo deixando lugar às espécies de clima semiárido ou seja às da caatinga As possibilidades que brinda este am biente de floresta úmida para a instalação humana são grandes especialmente quan to às de recursos alimentares O espectro de possibilidades ampliase se considera mos que os produtos da mata podem ser associados aos recursos dos rios e do mar De fato foi possível identificar tanto ar queológica quanto etnograficamente a exploração desses ambientes de forma si multânea ou alternada tanto por parte de populações de caçadorescoletores de muita mobilidade em um território quanto por grupos de horticultores que habitavam em aldeias de grande tamanho A paisagem litorânea está formada tam bém por cordões dunares Em alguns esta dos existem duas linhas paralelas de dunas de muita antigüidade geológica As mais próximas do mar mais recentes conservam ainda a coloração amarelada devido à im pregnação de materiais especialmente de composição ferruginosa As dunas mais in ternas são esbranquiçadas produto da lixiviação dos grãos de quartzo das areias Esses relevos dunares estão mais estabiliza dos razão pela qual costuma aparecer na superfície uma cobertura vegetal arbustiva esparsa ou densa Moreira 1977 425 A cobertura vegetal de restinga também surge nas proximidades do mar sobre solos arenosos misturandose muitas vezes com a paisagem dunar Os ambientes dunares e de restinga foram ocupados também por grupos humanos précoloniais como já foi observado em várias partes do Brasil 3 No Nordeste foram localizados sítios arqueoló gicos sobre dunas no litoral da Bahia no norte e no sul no do Rio Grande do Norte e no do Ceará Por sua vez grande parte do interior do Nordeste o chamado sertão en contrase sob o domínio de um clima semi árido por se encontrar em uma área perifé 2 Ou seja fatores relacionados à ocorrência de um tipo de estrutura geológica e à dinâmi ca dos processos intempéricos antigos 3 Pesquisas de sítios arqueológi cos sobre dunas litorâneas fo ram executadas no Rio Grande do Sul Santa Catarina Rio de Janeiro e São Paulo Também foram estudados sítios sobre dunas fluviais no médio São Francisco e localizados outros no litoral sul da Bahia REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 115 rica dos sistemas que produzem as chuvas nas outras partes do Nordeste A caatinga recebe a depender do local entre 800 mm e 400 mm anuais de precipitações de forma irregular e em um curto período de tempo A cobertura vegetal portanto está adaptada a essas circunstâncias suportando longos pe ríodos de estiagem e preparada para rever decer ao contato das primeiras chuvas Nimer 1977 4784 A caatinga abarca uma ampla extensão em que se alternam planícies chapadões e planaltos de pouca altitude Em todos eles observamse uma topografia muito traba lhada pela ação eólica e a desagregação mecânica das rochas ou que conforma em linhas gerais uma topografia de relevos suaves ou com perfis bastante arredonda dos Completam o panorama do semiári do nordestino os vales dos rios e dos ria chos Os cursos de águas permanentes como o São Francisco e o Parnaíba apre sentam vales amplos e planícies de inunda ção importantes para a instalação humana Os rios menores e riachos afluentes ou não dos dois acima são todos eles temporários posto que têm suas nascentes em área de caatinga e são alimentados durante a esta ção de chuva Alguns como o Pajeú em Pernambuco mantêm água durante boa parte do ano beneficiando a área próxima É possível se inferir a partir de dados etno gráficos e arqueológicos que os cursos dágua intermitentes podem ter sido apro veitados em momentos de cheia por gru pos précoloniais como vias para a interio rização na caatinga permitindo nas suas margens acampamentos temporários Etchevarne 1995 75 Evidentemente as condições para a instalação humana em um ambiente de caatinga são bem mais reduzi das que na floresta tropical limitandose aos espaços com presença de cursos e fon tes de água mais ou menos permanentes O Rio São Francisco por exemplo que em seu curso médio atravessa um grande terri tório de caatinga transformouse em um eixo referencial para os grupos indígenas do interior permitindo a subsistência em todas as estações do ano Efetivamente as incursões para exploração dos recursos da caatinga poderiam ser feitas com distân cias que permitissem o retorno sem dificul dades ao São Francisco ou seja aos locais com água permanente Por outra parte nas margens deste rio e nas suas numerosas ilhas era possível uma subsistência mais farta combinando a piscosidade das águas com a fertilidade dos solos aptos para a horticultura e com uma mata ciliar com posta entre outras espécies de grandes árvores frutíferas Etchevarne 1995 789 No que concerne ao domínio do cerra do cabe observar que este corresponde de forma genérica a um território menor do que ocupam os outros ambientes estenden dose na parte mais ocidental do Nordeste desde o Maranhão até a Bahia associando se à paisagem do Planalto Central Desta camos também que existem em alguns estados certas áreas internas muito circuns critas que podem ser definidas como man chas isoladas de cerrado como na Paraíba Alagoas e Bahia Kuhlman 1977 85110 As características do ambiente de cerrado são derivadas principalmente do clima quente e semiúmido com precipitações superiores a 800 mm anuais e uma estação seca bem marcada que alcança uma dura ção de 4 a 6 meses Em função dessa vari ação de umidade a paisagem associada à cobertura vegetal muda bastante repercu tindo conseqüentemente na disponibili dade de recursos de subsistência para os grupos humanos Kuhlman 1977 85110 Na composição florística do cerrado intervêm árvores de médio e grande porte e uma mata arbustiva existindo alternada mente também áreas de campos limpos A ciclicidade climática deve ter imposto aos grupos indígenas précoloniais uma dinâ mica socioeconômica que observasse o rit mo da natureza já que dela retiravam o sustentáculo para a perpetuação biológica e cultural A descrição sucinta e taxativa desses principais ambientes naturais do Nordeste não exclui a existência de áreas de transi ção entre um e outro Assim por exemplo temos a região denominada agreste que corresponde a uma paisagem transicional entre a floresta tropical e a caatinga Ou REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 116 então o chamado cerradão que inclui espécies do cerrado e da caatinga ao mes mo tempo resultando de condições climá ticas também de transição ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS NO NORDESTE As pesquisas arqueológicas na região nordestina começaram a ser implemen tadas sistematicamente a partir da década de 60 Desde então foram se formando núcleos de estudos nesta área do conheci mento que têm hoje consolidado o reco nhecimento nacional e internacional pela sua copiosa produção científica Sem sombra de dúvidas sobressaem dentre eles o núcleo da Universidade Fede ral de Pernambuco e o da Fundação do Museu do Homem Americano no Piauí ambos considerados como centros tradicio nais de pesquisa O primeiro deles deno minado Núcleo de Pesquisas Arqueológi cas funciona no âmbito do Programa de PósGraduação em História com duas con centrações Arqueologia PréHistórica coordenado por Gabriela Martín e Arqueo logia Histórica coordenado por Marcos ECOSSISTEMAS DO NORDESTE CERRADO CAATINGA MATA ATLÂNTICA BRASIL OCEANO ATLÂNTICO BOLÍVIA PARAGUAI ARGENTINA URUGUAI PERU COLÔMBIA VENEZUELA GUIANAS MARANHÃO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE BAHIA PARAÍBA PERNAMBUCO ALAGOAS SERGIPE CEARÁ RIO SÃO FRANCISCO ESCALA 125000000 0 500 km 66 O 58 O 50 O 42 O 0 O 8 O 16 O 24 O REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 117 Albuquerque Ainda no Recife devemos mencionar o núcleo que funciona dentro da Universidade Católica liderado por Jeannette Lima Os estudos realizados por Gabriela Martín iniciaramse na década de 70 nos estados de Pernambuco Rio Grande do Norte e Paraíba e hoje têm se tornado re ferências básicas fundamentais para quem se dedique às pesquisas sobre populações précoloniais do Nordeste Ademais essa pesquisadora tem conseguido reunir um bom número de jovens estudiosos que es tão dando prosseguimento aos trabalhos por ela iniciados e abrindo novas frentes de investigação 4 No Piauí Niède Guidon trabalha na área arqueológica de São Raimundo Nonato desde 1970 Os trabalhos continuados nes sa região têm proporcionado novos dados para avaliar a antigüidade da presença do homem na América despertando obvia mente uma grande polêmica no âmbito científico mais conservador Também nes te caso os trabalhos realizados por Guidon se impõem aos que queiram pesquisar o Nordeste como marcos de referência e mesmo aqueles que os questionam não poderiam deixar de considerálos Ao longo destes últimos anos foram surgindo novos núcleos especialmente li gados às universidades como o Museu de Arqueologia da Universidade Católica de Recife o Núcleo de Antropologia da Uni versidade Federal do Piauí em Teresina o Laboratório de Arqueologia da Universi dade Federal do Rio Grande do Norte em Natal os núcleos das universidades fede rais de Sergipe e de Alagoas em Aracaju e João Pessoa Em Sergipe não podemos deixar de mencionar o núcleo formado a partir de um projeto de salvamento arqueo lógico na localidade de Xingó sobre o Rio São Francisco atuando hoje permanente mente Outros grupos recentemente forma dos são os da Fundação José Américo da Paraíba em João Pessoa e o Núcleo de Estudos de Etnologia e Arqueologia em Fortaleza Ceará A Bahia constitui um caso particular posto que apesar das pesquisas sistemáti cas terem sido iniciadas em 1960 uma tra jetória extremamente fragmentada impe diu que dentro da Universidade Federal da Bahia se consolidasse uma tradição de pesquisa nessa área Os estudos começa dos por Valentín Calderón no Laboratório de Arqueologia são retomados hoje no Museu de Arqueologia e Etnologia e no Núcleo Avançado de Pesquisas Arqueoló gicas de Porto Seguro Nas universidades estaduais de Feira de Santana e de Ilhéus dois pequenos grupos começaram suas ati vidades recentemente desenvolvendo um programa conjunto com a Universidade Federal da Bahia Por outro lado cabe mencionar Maria Conceição Beltrão do Museu Nacional do Rio de Janeiro que realiza periodicamente viagens de campo ao município de Central no semiárido baiano Se bem que sua atu ação se remonta à década de 80 realizando escavações e levantamentos de sítios ar queológicos em quase toda a Chapada Diamantina e o Vale do Médio São Fran cisco Beltrão não chegou a constituir um grupo estável ligado a alguma instituição da Bahia O CONHECIMENTO ARQUEOLÓGICO SOBRE A ANTIGÜIDADE DA PRESENÇA HUMANA NO NORDESTE Nos últimos anos a arqueologia da re gião nordestina do Brasil tem vindo à tona principalmente em função dos achados realizados na área de São Raimundo Nonato no sudeste do Piauí De fato Niède Guidon coordenadora das pesquisas nessa região tem apresentado resultados inespe rados quanto à presença do homem nessa localidade criando uma viva polêmica no âmbito científico Referimonos especificamente às datações radiocarbônicas obtidas a partir de restos de fogueiras que retroagem a data da ocupação dessa área por grupos huma nos em aproximadamente 50000 anos AP 4 Em 1996 a profa Gabriela Martín publicou um livro intitu lado PréHistória do Nordeste do Brasil no qual sob a forma de um completíssimo compên dio debruçase sobre os mais diversos aspectos da arqueo logia précolonial nordestina Recomendamos vivamente a leitura para quem se interesse em aprofundar mais os conhe cimentos arqueológicos sobre essa região REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 118 Como pode ser deduzido isso significa aceitar a entrada do homem na América em períodos bem mais antigos do que se pen sava através da ponte terrestre formada no Estreito de Bering nos diferentes momen tos em que as glaciações provocavam a descida do nível do mar em cerca de 100 m 5 Guidon 1991a 17 O sítio arqueológico Toca do Boqueirão da Pedra Furada que proporcionou tais datações tornouse assim o centro das dis cussões científicas Tratase de um grande abrigo rochoso de natureza arenítica que serviu de local de instalação para diversos grupos humanos Conforme Guidon a estratigrafia denota uma seqüência de ocu pações de grupos de caçadorescoletores que vão dos quase 50000 anos até aproxi madamente 6000 anos AP Guidon 1991a 178 1992 3944 Essa pesquisadora menciona como indicadores de presença do homem nesse abrigo restos de fogões estruturas de blocos de pedras do próprio abrigo e carvões com disposição aproxi madamente circular e instrumentos de quartzo e quartzito realizados através de lascamentos de seixos 6 Guidon opina ainda que certas lascas derivadas do pro cesso de execução dos instrumentos de monstrariam que alguns deles foram con feccionados no local O arqueólogo Fábio Parenti pesquisador em São Raimundo Nonato encarregandose de oferecer mais subsídios às pesquisas de Guidon estudou o material coletado e apresentou os resul tados em uma tese de doutoramento na França na qual argumentou sobre a nature za intencional dos objetos líticos encontra dos 7 Martín 1996 79 Guidon construiu uma seqüência de ocupações distinguindo três fases ou perí odos conforme o tipo de material e uma cronologia estabelecida por datações de C14 A mais antiga dessas fases abarcaria uma faixa temporal que iria desde os men cionados 48000 anos até o final do Pleistoceno isto é aproximadamente 12000 anos atrás O material desse perío do foi classificado por Guidon em dois ti pos um deles correspondente a objetos grandes e pesados usados possivelmente para a quebra de ossos de animais o outro composto por peças feitas a partir de las cas é menor e por isso mais leve destina do principalmente ao corte dos animais de caça Guidon 1992 40 Outros indicadores materiais da presen ça humana pleistocênica nesse sítio são proporcionados pela pesquisadora e sua equipe São manchas de pigmentos verme lhos em blocos caídos do abrigo associa dos a fogões que permitiram a datação de toda a camada em aproximadamente 32000 anos Um outro bloco desta vez com duas linhas vermelhas paralelas foi encontrado junto a outro fogão datado em 17000 anos Com este último achado a autora afirma nos encontrarmos diante das primeiras manifestações confiáveis de arte rupestre até agora descobertas Guidon 1992 41 As primeiras instalações de caçadores coletores holocênicos da Toca do Boqueirão da Pedra Furada parecem indicar mudan ças substanciais nos ocupantes diminui ção do tamanho das fogueiras e um novo equipamento de instrumentos mais bem retocados e confeccionados em rochas mais apropriadas como o sílex e a calcedônia trazidas de locais que distavam entre 2 e 50 km do sítio A variedade de instrumentos é expressiva pressupondo múltiplas funções raspadores facas pontas de projétil e furadores Por sua vez é nesse período que começam a aparecer as primeiras represen tações gráficas pintadas de um estilo parti cular de índole naturalística com motivos humanos compondo cenas e com muito movimento que Guidon e a pesquisadora Anne Marie Pessis denominaram de Nor deste Guidon 1992 425 A última das fases de ocupação do abri go começa cerca de 6000 anos atrás e está caracterizada pela produção de instrumen tos líticos pouco elaborados Deixa de ser utilizado o sílex e volta a empregarse os seixos de quartzo e quartzitos Os reto ques que dão acabamento aos instrumen tos também se tornam raros Desde o pon to de vista da arte rupestre um novo estilo se impõe a tradição pictórica Agreste caracterizada pelas representações de fi guras humanas e de alguns animais está 5 No Quaternário existiram pelo menos quatro momentos de esfriamento planetário que pro vocaram a acumulação de gelo sobre o continente os chama dos glaciares e a descida no nível das águas oceânicas Essas glaciações marcam todo o período geológico denomi nado Pleistoceno O aqueci mento gradual de aproximada mente 12000 a 10000 anos atrás marca o início de um novo período o Holoceno 6 Lascamento é um termo genéri co que designa procedimentos diferentes para retirar fragmen tos de um bloco rochoso ou de um seixo as lascas com a finalidade de produzir um gume em objetos 7 Nos objetos líticos isto é de pedra existem traços específi cos que permitem reconhecer se eles são produto da ação humana ou de agentes naturais Assim o arqueólogo pode iden tificar a intencionalidade na transformação de um seixo ou de um bloco de rocha REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 119 ticas e executadas com traços pouco cui dados Guidon 1991b 19 Cabe ressaltar que na mesma área ar queológica do Boqueirão da Pedra Furada foram pesquisados outros sítios que conti nham também vestígios de ocupações pleistocênicas e holocênicas coincidentes em termos de materiais e cronologia o que contribuiu para a conformação de um qua dro cultural mais generalizado Os princi pais sítios são Toca do Sítio do Meio Toca do Baixão do Perna I II III e IV entre outros Por sua vez outros abrigos propor cionaram informações sobre um tipo de fauna hoje extinta especificamente ossos de cavalo americano preguiças gigantes mastodontes e paleolhamas Guidon 1992 44 Martín 1996 889 Esses animais são representantes de um ambiente onde exis tia maior umidade que no atual e muitos deles foram caçados por grupos humanos Isso aconteceu antes da mudança climática iniciada no Holoceno que provocou a extinção de várias espécies Essa rápida síntese que apresentamos sobre a antigüidade do homem no Nordes te não poderia estar completa sem menção aos trabalhos de Maria Conceição Beltrão do Museu Nacional do Rio de Janeiro co ordenadora do Projeto Central Chamamos a atenção especificamente para os achados do sítio da Toca da Esperança no municí pio baiano de Central Nesse sítio Beltrão e sua equipe depois de escavar os primei ros níveis do solo entre 2000 e 6000 anos de idade aproximadamente encontraram um piso calcário que foi datado em cerca de 22000 anos Embaixo dele foram acha dos numerosos restos de fauna extinta asso ciados a material lítico de confecção rudi mentar que segundo a autora correspon dem a objetos fabricados pelo homem Os ossos já fossilizados foram datados pelo método de urâniotório em quase 300000 anos devendo ser essa pela mesma posição na camada a mesma idade dos objetos em pedra Com estes dados Beltrão coloca a discussão da presença do Homo erectus na América 8 Beltrão et al 1990 141 Evidentemente o anúncio desta desco berta provocou e provoca ainda perplexi dade em alguns e em outros ceticismo recebendo duras críticas de muitos especia listas quanto à identificação do material como produto humano ou quanto ao con texto estratigráfico do achado Desde en tão nenhum outro vestígio foi apresentado por Beltrão confirmando a sua hipótese O POVOAMENTO DO NORDESTE DURANTE O HOLOCENO A identificação no material arqueológi co de aspectos vinculados à fabricação de instrumentos em pedra parece comprovar a existência de um horizonte cultural de caçadorescoletores com alcance interre gional Referimonos à indústria lítica da Tradição Itaparica 9 Com este tipo de indústria parece ser a primeira vez que surgem instrumentos que formam uma unidade tecnológica desde o início do Holoceno A Tradição Itaparica foi identificada pela primeira vez por Valentín Calderón em um abrigo rochoso sobre as margens pernambucanas do São Francisco denominado Gruta do Padre próximo à localidade de Itaparica Calderón 1972 4974 Em 1967 Calderón efetuou escavações nessa gruta identificando quatro momen tos de ocupação do sítio o primeiro apro ximadamente com 7600 anos e o último com cerca de 2300 anos incluindo cerâ mica A diferenciação dos instrumentos e das datações sugere uma descontinuidade cultural entre os primeiros grupos e os úl timos chegados ao abrigo o que permite supor se tratar de uma passagem de socie dades de caçadorescoletores para outras de ceramistas provavelmente já conhece dores da agricultura No que diz respeito aos objetos dos mo mentos mais antigos associados à Tradi ção Itaparica Calderón destaca em primei ro lugar que se trata de uma produção feita a partir de lascas retiradas de seixos que se encontram abundantemente nas margens do São Francisco Com elas foram feitos 8 O Homo erectus espécie de aparição anterior ao Homo sapiens não tem sido registra do na América Daí a cautela e a resistência dos arqueólo gos em aceitar uma datação tão antiga associada a materi al arqueológico 9 O termo indústria é empre gado em Arqueologia para designar um conjunto de instru mentos de morfologia estandartizada que são pro dutos de gestos padronizados circunscrito espacial e tempo ralmente REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 120 instrumentos variados entre os quais pre dominam os raspadores semicirculares e com outras morfologias Nesse conjunto lítico inexistem as pontas de projétil Mas nossa atenção deve estar voltada para os objetos planoconvexos denomi nados por Calderón como pontasfacas ogivais e pontasfacasraspadores ou les mas que sem ser abundantes por se en contrarem nos três níveis mais antigos fornecem ao conjunto uma certa unidade São esses os objetos bem trabalhados que foram tomados como diagnósticos dessa tradição por outros autores para identificá la em outras áreas Assim parece ter sido que Pedro Schmitz considerou esses instrumentos quando des creveu seus atributos principais como unifaciais alongados feitos sobre lâminas estreitas trabalhados em todos os bordos com retoques terminados em forma ogival Foram essas particularidades assim que lhe permitiram reconhecer a presença dessa tradição em área de cerrado no estado de Goiás Schmitz obteve datações conside ravelmente anteriores às da Gruta do Padre para esse material compreendidas entre 11000 anos e 8000 anos aproximadamen te Outros arqueólogos também identifica ram essa tradição em outras partes do Nor deste como em Pernambuco segundo Armand Laroche 1991312 e Gabriela Martín 1986 no oeste da Bahia conforme Pedro Schmitz 1987 e Altair Barbosa 1992 e recentemente Paulo T de S Albuquerque comunicou ter encontrado instrumentos dessa tradição lítica em sítios dunares litorâneos do Rio Grande do Norte Albuquerque e Spencer 1994 181 Em função da presença de objetos des sa tradição em áreas ecológicas tão diversas cerrado caatinga e litoral e partindo do pressuposto de que efetivamente esses ar queólogos se referem ao mesmo tipo de objetos só é possível a explicação sobre essa imensa extensão territorial da Tradição Itaparica pelo fato de que o conhecimento tecnológico reconhecível nela é suficien temente universal como para ser aplicado na fabricação de instrumentos úteis em situa ções ambientais com recursos distintos Após essa tradição lítica não parece ter havido no Nordeste uma outra tecnologia de confecção de instrumentos que se tenha difundido por grandes extensões Pelo con trário os estudos arqueológicos permitem pensar que houve um florescimento de in dústrias locais em diferentes períodos fa zendo uso de um ou vários recursos técni cos tornando difícil uma verdadeira iden tificação de conjunto Cabe ressaltar que os procedimentos de lascamento foram usados fartamente por grupos indígenas précoloniais e em alguns lugares até pouco antes da chegada dos por tugueses Lembramos por exemplo alguns sítios na mesma área sãofranciscana de Itaparica mas localizados nas margens baianas Especificamente em Itacoatiara I e II dois sítios em abrigo em rocha foram encontrados instrumentos e resíduos de lascamento em diferentes níveis datados entre 2300 anos e 420 anos aproximada mente Isso quer dizer que os vestígios de lascamento correspondem pelo menos a um momento imediatamente anterior à presen ça dos primeiros europeus nessa região Etchevarne 1995 1256 Mais ainda al guns moradores ribeirinhos identificados ou não como indígenas têmnos referido que até tempos relativamente recentes eram uti lizados seixos que são abundantes nessa área do São Francisco para retirar grandes las Tradição lítica Itaparica lesmas da Gruta do Padre PE Fonte MAEUFBA REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 121 cas de quartzo quartzito e sílex que empre gavam para descamar os peixes antes da sua cocção Deixamos para os arqueólogos do futuro o trabalho de reconhecimento das lascas utilizadas por esses grupos atuais Por outro lado essa prática de lasca mento para a confecção de instrumentos coexistiu em muitos lugares com a do polimento técnica que no que diz respeito à fabricação de instrumentos era utilizada principalmente 10 para realizar lâminas de machado Os sítios dunares da região de Rodelas no submédio São Francisco são uma prova eloqüente disso De fato neles se en contram inúmeros instrumentos lascados e resíduos de lascamento junto a lâminas de machado e adornos labiais tembetás poli dos 11 Etchevarne 1992 63 INSTALAÇÕES HUMANAS NO LITORAL OS SAMBAQUIS Um tipo especial de sítio arqueológico o sambaqui é uma estrutura formada por um conjunto de conchas resultante dos restos alimentares de populações essenci almente mas não unicamente marisqueiras 12 Esses acúmulos podem chegar a for mar colinas de vários metros de altura como resultado do uso prolongado do mesmo espaço Essas estruturas serviam igualmen te como habitação para os povos coletores razão pela qual podem ser encontrados outros vestígios de atividades como obje tos em pedra e em osso restos de fogueiras enterramentos e material cerâmico Evidentemente dada sua natureza os sambaquis só podem ser encontrados em locais onde a coleta de mariscos era uma opção econômica para as populações pré coloniais do litoral ilhas e territórios em volta de baías com desembocadura de rios importantes Até o presente foram locali zados sambaquis nas baías de São José no Maranhão e na de Todos os Santos na Bahia mas pessoalmente temos notícias de sambaquis no litoral de Sergipe e Gabriela Martín alude a um provável sambaqui ou assentamento conchífero no litoral do Rio Tembetás do sítio Surubabel sobre dunas no submédio São Francisco BA Fonte MAEUFBA Sítio Surubabel Setor Paraíso BA Fonte MAEUFBA Grande do Norte baseandose em uma publicação do geólogo Eduardo Bagnoli Martín 1996120 No Maranhão os sambaquis foram estu dados inicialmente por Mário Simões e posteriormente por pesquisadores do Mu seu Emílio Goeldi do Pará As estruturas conchíferas apresentaram também restos alimentares de peixes instrumentos líticos enterramentos e uma cerâmica decorada com pintura incisões ou escovado No sambaqui de Maiobinha as datações radiocarbônicas permitiram situar este sítio entre aproxima damente 1500 e 1300 anos de antigüidade Machado et al 1991 99 Na Bahia de Todos os Santos Calderón realizou em 1961 estudos sobre o samba 10 Denominase polimento ao pro cedimento de confecção de ins trumentos que permitia obter for mas e gumes de objetos com superfícies muito alisadas Esta técnica também foi emprega da para a confecção de ador nos corporais e figuras e esta tuetas entre outros objetos Cro nologicamente em todo o mun do este procedimento foi em pregado com muita posterio ridade ao de lascamento 11 As datações radiocarbônicas obtidas a partir de carvões de fogueiras indicam uma ocupa ção humana das dunas sãofran ciscanas que remonta a aproxi madamente 830 anos atrás 12 O material conchífero varia de sambaqui para sambaqui e de período em período Em linhas gerais os restos são identifica dos como de Anomalocardia brasiliana Lucina pectimates Crassostrea sp etc REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 122 qui da Pedra Oca em PeriPeri no subúr bio de Salvador Esse sítio transformou se em um marco importante para a arque ologia baiana já que corresponde à pri meira intervenção sistemática com esca vações feita no estado Também neste caso entre os vestígios residuais das po pulações marisqueiras Calderón encon trou material lítico lascado objetos de concha e de osso e enterramentos Frag mentos de vasilhames cerâmicos presen tes nos níveis II e III mostram uma manu fatura tosca de paredes espessas e apenas alisadas acinzentadas ou amareladas e sem decorações As datações de C14 obtidas para este sítio correspondem a 2800 anos aproximadamente antes do presente Calderón 1964 Existem também sambaquis ao longo das margens de alguns rios nordestinos Sambaquis fluviais já tinham sido registrados por Calderón por exemplo nas margens do Rio João de Tiba em Santa Cruz Cabrália Em 1997 foram localiza dos mais dois bastante destruídos sobre o Rio Buranhém no município de Porto Se guro pela equipe do NapasUFBA 13 Como curiosidade histórica podemos mencionar que os sambaquis se confun dem com a própria construção das cidades coloniais Efetivamente os carbonatos de cálcio das conchas serviram depois de queimados para a fabricação de cal que foi utilizada para as construções dos pri meiros momentos de instalação portugue sa Assim o deixam documentado dois re ligiosos um franciscano e um jesuíta do início do século XVII Frei Vicente de Salvador conta que fazse também muita cal assim de pedra como da terra e de cascas de ostras que o gentio antiga mente comia Salvador 1982 75 e Fernão Cardim corrobora que os Índios naturais antigamente vinham ao mar ás ostras e tomavam tantas que deixavam serras de cascas e destas cas cas fazem os portugueses cal e de hum só monte se fez parte do Collegio da Baia os paços do governador e outros muitos edifícios e ainda não hé esgotado Cardim 1980 51 AS CULTURAS CERAMISTAS DO NORDESTE A produção de cerâmica é uma ativida de muito recuada no Nordeste brasileiro conforme os dados apresentados por Niède Guidon para a Toca do Sítio do Meio Piauí Ali essa pesquisadora encontrou dois frag mentos cerâmicos associados a uma fo gueira que proporcionaram amostras de carvão datadas em quase 9000 anos de idade Indiscutivelmente com uma data tão antiga cabe pensar em uma invenção deste material na mesma região ou em territórios próximos De qualquer forma devemos esperar que novas pesquisas possam oferecer os dados para reconstruir uma cronologia que desde essa longínqua data se una a outras mais recentes que proporcionaram os acha dos do interior do Nordeste Por enquanto existe um hiato entre a cerâmica da Toca do Sítio do Meio e as escavadas no sudeste do Piauí por Silvia Maranca que datou o sítio Toca do Pingo do Boi entre 3300 e 3000 anos aproximadamente Outros sí tios proporcionaram datações mais recen tes como Toca do Morcego com cerca de 2800 anos Toca do Gongo I com quase 2100 anos e Aldeia de Queimada Nova em mais ou menos 1700 anos atrás No Médio São Francisco por sua vez pesquisadores da Universidade de Sergipe reunidos no Projeto Arqueológico Xingó vêm desenvolvendo um programa de pes quisas em toda a região atingida pela bar ragem da hidroelétrica Iniciado como um salvamento arqueológico hoje o programa se perfila como permanente e tem ofereci do resultados importantíssimos para a com preensão da ocupação humana do Vale do São Francisco 14 No que se refere à cerâmica o sítio do Justino teve uma seqüência de ocupações ceramistas que remontam a mais de 4000 anos atrás até cerca dos 1300 anos As datações de outro sítio o São José II entre aproximadamente 4100 e 3500 anos de idade não fazem senão corroborar a anti 13 Os sambaquis foram localiza dos na Fazenda Santo Amaro hoje Aldeia Velha na margem direita do Buranhém 14 Atualmente a responsável pe las pesquisas do Projeto Arqueo lógico do Xingó é a arqueólo ga Maria Cleonice Vergne da Universidade de Sergipe REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 123 güidade da cerâmica nessa região sertaneja Diniz 1998 11 Cerâmicas mais recentes encontradas em abrigos na área de Itaparica são coinciden tes em termos de idade Como dissemos anteriormente o sítio Gruta do Padre em Pernambuco mostra que no último nível datado há cerca de 2300 anos já existia uma ocupação de grupos ceramistas Em Itacoatiara I na margem baiana do São Fran cisco a datação radiocarbônica de amostras de carvão de uma fogueira alcança essa mesma idade desta vez para os níveis mais profundos Etchevarne 1995 1256 Sem considerar as já mencionadas ce râmicas do sambaqui do Maiobinha no li toral do Maranhão observamos que no restante do Nordeste existe um interregno entre os grupos ceramistas sãofranciscanos e o surgimento de sociedades produtoras de cerâmica que construíam grandes al deias No entanto acreditamos que novas pesquisas poderão preencher essa lacuna temporal entre um e outro momento No litoral nordestino mais especifica mente na Bahia foi constatado que a partir do século IX 15 começam a se instalar populações identificadas por uma produ ção ceramista bastante uniforme Referimo nos aos grupos denominados arqueologi camente Aratu Estes grupos foram iden tificados pela primeira vez por Valentín Calderón próximos ao Riacho Guipe na pequena Baía de Aratu no Recôncavo Baiano razão pela qual foram assim nome ados O mesmo pesquisador identificou e realizou escavações em sítios com materi al Aratu em outras partes do estado da Bahia De fato a cerâmica Aratu foi encon trada no litoral sítio Beliscão em Inham bupe e no cerrado do além São Francisco oito sítios nos municípios de São Desidério Catolândia e Barreiras Calderón 1969 e 1971 A semelhança do material a exten são territorial do mesmo e a inclusão dos sítios em uma faixa cronológica contínua permitiram a Calderón reconhecer que ele se encontrava diante de uma verdadeira tradição ceramista Como elementos diagnósticos da Tra dição Aratu sobressaem sem sombra de dúvidas as urnas funerárias Estas são em forma de pêra ou jambo invertido com um tratamento da superfície externa apenas de alisamento Uma tampa ou opérculo for mada por um recipiente também alisado mais ou menos coniforme fecha a abertura da urna em uma provável tentativa de pro teger o corpo do indivíduo enterrado do contato direto com a terra Esse equipamen to funerário forma um conjunto recorrente em qualquer dos ambientes onde é encon trado O único fator diferenciador até o presente que o constitui é uma linha incisa que acompanha a abertura das urnas nos sítios de São Desidério Normalmente as urnas funerárias Aratu são encontradas formando grupos delimi tando o que poderia ter sido o espaço da aldeia Calderón por exemplo encontrou sítios com conjuntos que variavam entre 25 e 54 urnas Calderón 1969 164 1971 170 Na Vila de Piragiba no município de Muquém do São Francisco oeste da Bahia trabalhos de campo realizados por nós em uma área aproximada de 100 x 400 m per mitiram a localização de 103 urnas reuni das em grupos de três ou cinco unidades ou então isoladas Porém o número devia ser maior posto que segundo informações dos moradores da vila houve retiradas clan destinas de pelo menos sete urnas antes de nossa pesquisa 16 Este número expressi vo de enterramentos pode ser um bom in dicador da alta demografia do grupo de uma permanência prolongada no local ou de ambos os fatores conjugados No caso de Piragiba pode ser constata do que os indivíduos eram enterrados de forma fletida com os braços colocados entre as pernas Em alguns casos de adul tos havia como acompanhamento funerá rio rodelas de fuso pequenas tigelas de cerâmica e pelo menos em um caso um pingente ou adorno auricular e em outro uma ponta de projétil óssea As crianças por sua vez eram enterradas todas elas com colares de contas de ossos ou de den tes de animais Segundo Calderón os enterramentos Aratu podiam conter ainda cachimbos lâminas de machado e pelo menos no caso do sítio da Viúva conchas 15 Naturalmente essas datas po derão ser alteradas na medi da em que novas pesquisas proporcionarem outras infor mações 16 O sítio da Praça de Piragiba foi datado por C14 em 870 50 anos AP REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 124 de moluscos Calderón 1971 1701 Além das urnas funerárias outros obje tos cerâmicos podem ser encontrados quan do os sítios não estão muito destruídos e parte dos vestígios de habitação está pre servada Dentre os vasilhames de caráter doméstico para preparação de alimentos estão as panelas e tigelas de formas sim ples semiesféricas ou acilindradas de paredes abertas alisadas e que como ele mento decorativo possuem uma ondula ção pouco pronunciada nas bordas A morfologia desses recipientes induz alguns arqueólogos a pensar que estes serviriam para o cozimento de tubérculos possivel mente aipim ou batatadoce e do milho A mandioca ficaria assim excluída como alimento desses grupos em função de não terem sido achados vasilhames apropria dos para o processamento que exige este tubérculo para ser ingerido As aldeias dos grupos Aratu eram com postas por cabanas em número variável conforme pode ser distinguido pelas man chas escuras de matéria orgânica que fica ram no solo Aparentemente eram instala ções de longa permanência a julgar pela profundidade da camada de habitação que em alguns casos como por exemplo no sítio Beliscão alcançam 90 cm A Tradição Aratu tem uma dispersão territorial desi gual no Nordeste Conforme Calderón sí tios Aratu podem ser encontrados além da Bahia em Sergipe Pernambuco e sul do Piauí Calderón 1969 1667 1974 146 No restante dos estados nordestinos não pa rece ter sido encontrado ainda nada que pos sa ser associado com segurança a esses grupos Por sua vez essa tradição poderia ultrapassar os limites nordestinos e ser encontrada nos estados de Goiás Espírito Santo e norte de Minas Gerais Uma nova tradição ceramista é reco nhecida no Nordeste a partir do XI milê nio com os sítios arqueológicos deriva dos de instalações Tupiguarani Os gru pos identificados sob esta denominação corresponderiam a um grande contingen te pluriétnico que ocupou quase todo o litoral brasileiro em diferentes movimen tos migratórios Muitos arqueólogos defi nem sua origem como amazônica e nessa mudança territorial foram instalandose na faixa litorânea onde predominava a mata atlântica Alguns autores entre os quais Marcos Albuquerque da Universidade Federal de Pernambuco que estudou a cronologia dos sítios dessa tradição opi nam que a interiorização desses grupos para áreas mais áridas provavelmente por contingências históricas foi efetuada via os rios perenes adaptandose a um ambi ente de mata ciliar Albuquerque 1983 84 1314 1991 17718 Arqueologicamente foi evidenciado também que esses grupos adventícios se instalaram em locais onde já existiam ou tras populações No sítio Aratu de Belis cão na Bahia por exemplo as camadas mais superficiais portanto as mais recen tes contêm cerâmica com características Tupiguarani Isso levou Calderón e outros arqueólogos a cogitarem a possibilidade de contatos entre grupos representantes das duas tradições Calderón 1971 172 1974 152 A esse respeito não podemos deixar de achar sugestivo uma passagem do trata do de Gabriel Soares de Souza que ao fi nal do século XVI reconheceu conforme informações dos índios muito antigos que os primeiros povoadores eram ta puias ou seja nãoTupi Grupos Tupi chamados Tupinaês expulsaram da terra da Bahia e da vizinhança do mar os preexistentes tapuias Mas che gando à notícia dos tupinambás a grossura e fertilidade desta terra se juntaram e vie ram de além do Rio São Francisco fazendo guerra aos tupinaês até que os lançaram fora das vizinhanças do mar Souza 1971 299300 Este fantás tico relato oral coletado por Souza manti do na memória dos mais antigos bem pode refletir realística e sinteticamente os processos de ocupação de um território e os contatos belicosos ocorridos no avanço dos diferentes grupos Tupi Do ponto de vista arqueológico os di versos grupos Tupi que em arqueologia estão englobados na denominação Tupi guarani são reconhecidos em primeira instância pelo material cerâmico A deco REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 125 ração a forma e a função inferida da for ma são os elementos básicos considera dos para definir um sítio arqueológico como pertencente a essa tradição ou pelo menos influenciado por ela 17 Efetivamente a cerâmica tem características que a diferen ciam de qualquer outro conjunto ceramista Para começar as formas dos recipien tes ao contrário das de Tradição Aratu são muito variadas Existem formas simples globulares semiesféricas e compostas normalmente com duas partes superior e inferior nitidamente diferenciadas Nes se caso entre as partes dos vasilhames costuma haver uma aresta que constitui o diâmetro máximo da peça a carena É jus tamente no setor da carena que o recipiente vai se restringindo em direção à abertura e à base Os recipientes carenados são iden tificados como contentores de líquidos Entre a cerâmica de formas abertas se destacam os recipientes tipo bacias de pouca altura muito largos de bases planas ou ligeiramente arredondadas com bordas grossas reforçadas denominados assado res que serviam para o processamento da mandioca Para os arqueólogos esse tipo de vasilhame é um elemento diacrítico para interpretar que o grupo tinha uma econo mia alimentar em que esse tubérculo ocu pava um papel preponderante O tratamento de superfície dos vasi lhames consiste em pinturas e alterações à superfície mediante incisões ou pressões quando ainda não estava queimada As in cisões podiam ser feitas com as unhas ungulado ou com instrumentos cortan tes estilhas de ossos lascas galhos etc A modalidade decorativa corrugada con sistia em ondulações rítmicas na superfície dos vasilhames provocada por pressão dos dedos ou de instrumentos espatulados As pinturas merecem um destaque na produção Tupiguarani Elas são encontra das nas superfícies externas dos vasilhames carenados e fechados e na interna dos assadores e tigelas abertas Sobre um fundo esbranquiçado ou creme pintavamse mo tivos geométricos variados combinandose linhas ou faixas em preto ou marrom escu ro e vermelho Esta disposição compositiva das três cores uma cor para o fundo e outras para os desenhos constitui um padrão repe tido em todo recipiente pintado No que se refere aos motivos parece existir também uma fórmula de aplicação dos elementos gráficos nos vasilhames Nas espessas bordas dos assadores interna e externamente eram desenhados motivos geométricos de linhas paralelas quebradas e tipo grega que se assemelham aos tran çados das cestarias Faixas em vermelho horizontais delimitam os campos da borda com os das paredes internas preparando visualmente o fundo do recipiente desti nado a ser suporte de uma decoração elabo rada em que predominam os elementos cur vilíneos alguns semelhantes a rendados composições de figuras retas ou então te mas compostos de curvas e retas Cabe destacar que esses motivos são muito apri morados observandose um cuidado espe cial na limpeza das linhas dos desenhos de forma que raramente se encontra defeito por excesso de pintura Já nos recipientes fecha dos a superfície externa era pintada com motivos geométricos retilíneos conforman do por exemplo campos quadrangulares ou retangulares concêntricos Nos vasilhames carenados na maioria das vezes a pintura está localizada unicamente na parte superi or ou seja da carena à abertura No que se refere às instalações Tupi guarani os vestígios arqueológicos mos tram variações importantes na composição de cabanas e na disposição espacial Igual mente variadas são as dimensões do espa ço que a aldeia ocupava Em linhas gerais eram grupos numerosos que habitavam cabanas grandes dispostas de forma mais ou menos semicircular elíptica em círcu lo ou em linhas retas paralelas As camadas arqueológicas referente a esses grupos es tão em sua grande maioria em superfície e alcançam uma profundidade máxima de 40 ou 50 cm Para a instalação das aldeias eram sem pre escolhidos locais de boa visibilidade sobre o território entorno e com a proximi dade de rios Em Santa Cruz Cabrália por exemplo pesquisadores do NapasUFBA acharam vestígios do que poderia ser uma 17 Concordamos com a opinião de Gabriela Martín de que em Arqueologia correse o rico de estarmos englobando em uma tradição grupos étnicos diferen tes Martín 1996 170 Acre ditamos que no processo de expansão dos povos Tupigua rani foram alcançados ou in corporados grupos étnicos que não eram dessa origem sen do por aqueles tupinizados REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 126 ximada de 400 anos ou seja concomitante ao período colonial inicial na região Assim como os grupos Aratu os Tupi guarani também costumavam sepultar em urnas mas nesse caso não se seguia ne cessariamente um único padrão Confor me informações etnohistóricas os Tupi nambá podiam também enterrar seus mor tos diretamente no solo abrindo uma cova dentro das palhoças colocando os corpos envolvidos em suas redes Souza 1971 329 30 Por outro lado Calderón registrou para grupos da área do São Francisco por ele considerados como Tupiguarani a exis tência de enterramentos secundários isto é apenas dos restos ósseos Acompanha mentos funerários faziam parte de qualquer um dos tipos de sepultamento sendo al guns cachimbos lâminas de machado ador nos corporais e pontas de projétil A ARTE RUPESTRE Nesta síntese da arqueologia das popu lações précoloniais não poderíamos dei xar de falar de um tipo de sítio arqueológi co talvez o mais conhecido pelo público nãoespecializado porque é reconhecível por todos e desperta questionamentos so bre suas origens as representações gráfi cas rupestres Numerosos sítios no Nordeste são registrados sob a convencional deno minação de Arte Rupestre Gabriela Martín e André Prous apontam para a mais antiga referência a uma gravura rupestre no Bra sil feita por Feliciano Coelho de Carvalho na Paraíba em 1598 Martín 1996 208 Prous 1992509 Para a Bahia encontra mos um documento do século XVIII no Arquivo Histórico Ultramarino que faz menção a locais com pinturas rupestres com figuras humanas e de animais encon tradas durante uma viagem pelo interior do estado à procura de salitre O território do Nordeste possui um enor me acervo de pinturas e gravuras realiza das sobre um suporte fixo pétreo seja em abrigos em paredões tipo cânion ou em afloramentos rochosos Os grafismos fo Tradição Nordeste Sítio Mirador Parelhas RN Fonte G Martín 1996 aldeia Tupiguarani distribuídos por uma grande área de cerca de 750 m por 545 m Este sítio encontrase sobre o platô de um tabuleiro com ampla visão da área de praias e o riacho vizinho Um fragmento cerâmico dessa aldeia foi datado por termolumi nescência proporcionando uma idade apro REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 127 ram localizados até o momento em quase todos os estados nordestinos com exceção do Maranhão Os trabalhos sistemáticos de muitos ar queólogos que trabalham no Nordeste nes se campo da Arqueologia permitem hoje reconhecer unidades estilísticas que foram denominadas de tradições Existem algumas variações localizadas feitas sobre a estrutu ra temática das tradições que os arqueólo gos chamam de subtradições 18 A distri buição de sítios dessas tradições varia de estado para estado havendo em alguns maior freqüência de uma ou de outra Por outro lado devemos considerar que ainda não fo ram esgotadas as possibilidades de achados e que alguns territórios poderão apresentar um patrimônio insuspeitado 19 Entre as tradições aquela que se desta ca sem lugar a dúvidas é a denominada Nordeste Esta tradição pictórica muito bem estudada na área de São Raimundo Nonato PI e em Seridó RN tem como característica principal as representações naturalísticas Os temas bastante diversifi cados têm no elemento humano e no ani mal as representações mais recorrentes O dinamismo a mobilidade a ação primam nos conjuntos pintados que normalmente constituem composições de vários perso nagens Nessa tradição parece existir uma história a ser contada tal é a coerência de gestos dos componentes da cena Guidon 1992 47 Martín 1996 246 São reconhecíveis cenas de caça jogo luta dança e sexo Os personagens podem formar duplas ou um conjunto com um nú mero grande de integrantes Os animais tam bém podem estar em grupos como o caso de um bando de tucanos em Seridó As repre sentações humanas possuem às vezes alguns atributos como cocares e armas e às vezes exercem algumas atividades como transpor tar potes ou remar em canoas Os elementos vegetais galhos e árvores também estão representados com certa freqüência o que é um elemento a mais para destacar essa tra dição já que esses grafismos são muito ra ros nas representações rupestres A Tradição Agreste por sua vez reco nhecida no Piauí em Pernambuco na Paraíba no Rio Grande do Norte e no Ce ará está representada por figuras humanas e de animais mas não ilustra a vida quoti diana e ritualística da forma como o faz a Tradição Nordeste Por outro lado inclui muitos grafismos geometrizantes abstratos em especial o tipo carimbo Guidon 1992 46 Martín 1996 24755 Outra tradição pictórica é a São Francis co identificada por André Prous inicialmen te no norte de Minas Gerais em área de in fluência do rio do qual deriva o nome Esta tradição se encontra na Bahia na Chapada Diamantina e no Vale do São Francisco e em Sergipe Em oposição à Tradição Nor deste esta quase não conta com elementos antropomorfos e zoomorfos São as figuras abstratas geometrizantes que singularizam esta tradição Nela sobressaem as composi ções de campos retangulares ou quadran gulares com divisões internas preenchidas com faixas linhas e pontos Na policromia das figuras distinguemse várias tonalida des de vermelho amarelo branco e preto Prous 1992 525 Em Central e em outros municípios baia nos especialmente da Chapada Diaman tina Maria Conceição Beltrão vem efetu ando paralelamente às escavações em gru tas estudos sobre arte rupestre Nessa área Tradição Agreste Pedra do Velho Samuel PB Fonte G Martín 1996 18 Mencionamos apenas os coor denadores de pesquisa que desenvolveram trabalhos pro longados no Nordeste orien tados para as pesquisas de arte rupestre Valentín Calderón BA Gabriela Martín PE RN Niède Guidon PI Anne Marie Pessis PI Silvia Maranca PI Alice Aguiar PE Maria Con ceição Beltrão BA 19 Existem sítios de arte rupestre que não estão associados a nenhuma das tradições estabe lecidas Citamos por exemplo o sítio Canyon das Pinturas na Serra do Mulato Juazeiro Bahia onde identificamos so bre paredões de arenito fino painéis com grande quantida de de motivos geométricos for mados por linhas retas em zi guezague ou em círculos pon teados ou de traço pleno Os únicos motivos naturalísticos são as raras representações de mãos e pés REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 128 Beltrão assegura ter encontrado represen tações que evocam sóis e cometas e que estariam associadas a períodos anuais ou calendários Toca dos Búzios Toca da Esperança e Toca do Cosmo entre outros sítios Por isso acredita estar diante de uma nova tradição pictórica que denominou de Astronômica Beltrão et al 1990 147 Além das pinturas o mundo das repre sentações gráficas contempla também as gravuras em rochas denominadas regio nalmente de itaquatiaras Os grafismos em geral pouco ou nada identificáveis com elementos naturalísticos foram elaborados por técnica de raspagem ou picoteamento É constante a proximidade a fontes ou cur sos dágua que em alguns períodos do ano cobrem os grafismos se estes estão sobre lajedos em área inundável Por essa rela ção de contigüidade alguns autores como Gabriela Martín associam estas itaquatiaras ao culto das águas Martín 1996 269 A Pedra de Ingá na Paraíba é sem dúvida o mais conhecido dos sítios com gravuras do Nordeste brasileiro despertando no imagi nário popular e no pensamento de pseudo cientistas grande fascínio OS GRUPOS INDÍGENAS DO NORDESTE À CHEGADA DOS COLONIZADORES A ocupação portuguesa do território nordestino pode ser considerada um divisor de águas em termos cronológicos pelo impacto provocado no universo das socie dades indígenas Efetivamente com o co lonizador uma nova ordem irrompe trun Tradição São Francisco Sítio BARC28 BA Fonte P Schmitz M Barbosa e M Ribeiros 1997 REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 129 cando os processos sóciohistóricos que eram próprios a esses povos A bagagem ideológica européia se impõe e com ela uma percepção diferente do ambiente Conse qüentemente um modo radicalmente di verso de apropriação do território e dos recursos naturais instaurase novos com ponentes humanos incorporamse equipa mentos tecnológicos experimentamse e animais e plantas são introduzidos substi tuindo os nativos e transformando a paisa gem regional A ação colonizadora é de tal forma po derosa e intrusiva no universo indígena que podemos dizer sem temor de nos enganar que ela inaugura um novo mo mento a partir do qual as sociedades indí genas não serão mais as mesmas Este pressuposto permitenos estabelecer uma macroperiodização que leva em conside ração esse momento de chegada do colo nizador Assim do ponto de vista da ar queologia podemos destacar um período précolonial e outro colonial conforme se trate de evidências materiais que sejam anteriores concomitantes ou posteriores à chegada do português Certamente à chegada dos portugueses ao território nordestino o litoral se confi gurava como um cenário onde se movimen tavam grupos étnicos diferentes Não obstante grandes áreas estavam sob o do mínio de povos que arqueologicamente podem ser enquadrados na Tradição Ceramista Tupiguarani Referimonos aos Tupinambá 20 na faixa costeira norte juntamente com os Caeté e os Potiguar e no litoral sul da Bahia os Tupiniquim No processo de conquista e colonização euro péia esses grupos foram paulatinamente desaparecendo como entidades etnicamente diferenciadas por extermínio aculturação ou miscigenação O mesmo ambiente litorâneo era habi tado em algumas áreas por grupos indíge nas de origem nãoTupi Sob a denomina ção genérica de Tapuia imposta pelos pró prios grupos Tupi eram englobados povos de diferentes composições étnicas As in formações históricas aludem a grupos de muita mobilidade organizados em bandos Gravuras do Sítio Pedra da Moeda BA Fonte MAEUFBA Gravuras do Sítio Bebedouro das Pedras BA Fonte MAEUFBA 20 O etnônimo Tupinambá pode ter sido aplicado genericamen te pelos colonizadores a ou tros grupos Tupi sem ser perce bida a distinção com aqueles REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 130 ou constituindo aldeias Conforme as refe rências de cronistas e missionários dos momentos iniciais da colonização sabe mos da existência dos Tremembé no Cea rá e os Aimoré um dos grupos conhecidos por Botocudo na Bahia Fausto 1992 383 Dantas et al 1992 432 Posteriormente serão registrados na região da mata litorâ nea do sul nordestino outros grupos não Tupi como os pertencentes à família lin güística dos Maxakali Kamakã e Pataxó Dantas et al 1992 434 No interior do Nordeste grupos não Tupi de diversas famílias lingüísticas do minavam os sertões da caatinga Indiscuti velmente destacamse aqueles pertencen tes à grande família Kariri que ocupava os territórios interioranos desde o Ceará até a Bahia Notícias etnohistóricas mencionam muitos etnônimos mas nem sempre é pos sível identificar qual deles estava vincula do à família Kariri Dantas et al 1992 432 Ademais devemos considerar a presen ça de grupos Tupiguarani que como foi dito se internaram no território nordesti no Dessa forma fica justificada a existên cia do sítio Zé Preto em Piragiba associa do a essa tradição ceramista datado em 455 anos 45 AP Pouco mais de um século depois da chegada dos primeiros colonizadores ao Nordeste a situação das populações indí genas tinhase modificado profundamen te As sociedades indígenas litorâneas são as mais atingidas e as primeiras a sofrer o processo de extinção com exceção dos grupos ou bandos de muita mobilidade habitantes da mata atlântica que alcançam o século XIX ainda sem grande alteração no modus vivendi Por sua vez no interior do Nordeste as frentes colonizadoras missionárias ou pastoris iniciam os con tatos permanentes mais tardiamente que no litoral Estes por envolverem um nú mero muito reduzido de colonizadores provocaram efeitos transformadores mais lentos Já nas primeiras décadas do século XVII o conjunto de territórios que hoje de nominamos Nordeste brasileiro ficou in corporado definitivamente mas com graus diversos de controle à sociedade colonial QUADRO DE DATAÇÕES REFERENTES A DIFERENTES MOMENTOS DA OCUPAÇÃO HUMANA NO NORDESTE Apresentamos a seguir o quadro de datações radiocarbônicas que foi recopilado por Gabriela Martín 1996 e que transcre vemos aqui na íntegra A esta completa listagem de dados cronológicos anexamos algumas datações feitas por nós recente mente para o estado da Bahia Como pode ser observado o quadro contém uma longa série de datações sobre ocupações humanas desde o Pleistoceno e sobretudo a partir do Holoceno com uma distribuição irregular entre os atuais esta dos nordestinos Esta irregularidade refle te fundamentalmente os diferentes níveis alcançados pelas pesquisas arqueológicas no âmbito de cada estado devendo mudar à medida que se avance nesses estudos Datações do Nordeste Maranhão Data Laboratório Sítio Localidade UF 2495 SI Ilha de São Luís São Luís MA 2655 SI Ilha de São Luís São Luís MA 2520 SI Lago Cajari Penalva MA Fonte G Martín 1996 Préhistória do Nordeste do Brasil Editora Universitária da UFPE Recife REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 131 Piauí Data Laboratório Sítio Localidade UF 6150 50 GIF 8108 Pedra Furada S R Nonato PI 6160 130 GIF 5863 Pedra Furada S R Nonato PI 7220 80 GIF 8390 Pedra Furada S R Nonato PI 7230 80 GIF 7242 Pedra Furada S R Nonato PI 7640 160 GIF 4928 Pedra Furada S R Nonato PI 7750 80 GIF 6161 Pedra Furada S R Nonato PI 8050 170 GIF 4625 Pedra Furada S R Nonato PI 8450 80 GIF 6162 Pedra Furada S R Nonato PI 8600 60 GIF 8350 Pedra Furada S R Nonato PI 9506 135 132 FZ 436 Pedra Furada S R Nonato PI 9800 60 GIF 8351 Pedra Furada S R Nonato PI 10040 80 GIF 8389 Pedra Furada S R Nonato PI 10050 80 GIF 8352 Pedra Furada S R Nonato PI 10400 180 GIF 5862 Pedra Furada S R Nonato PI 13989 167164 FZ 433 Pedra Furada S R Nonato PI 14300 210 GIF 6159 Pedra Furada S R Nonato PI 17000 400 GIF 5397 Pedra Furada S R Nonato PI 18310 190 BETA 22086 Pedra Furada S R Nonato PI 19300 200 GIF 8125 Pedra Furada S R Nonato PI 21400 400 GIF 6160 Pedra Furada S R Nonato PI 23500 GIF 53096 Pedra Furada S R Nonato PI 25000 GIF 5398 Pedra Furada S R Nonato PI 25000 GIF 5648 Pedra Furada S R Nonato PI 25200 320 GIF 6147 Pedra Furada S R Nonato PI 25600 450 GIF 8353 Pedra Furada S R Nonato PI 26300 600 GIF 5963 Pedra Furada S R Nonato PI 26300 800 GIF 6309 Pedra Furada S R Nonato PI 26400 500 GIF 5962 Pedra Furada S R Nonato PI 27000 800 GIF 6308 Pedra Furada S R Nonato PI 28600 600 GIF 6654 Pedra Furada S R Nonato PI 28860 GIF 53987 Pedra Furada S R Nonato PI 29740 650 GIF 8354 Pedra Furada S R Nonato PI 29860 650 GIF 6651 Pedra Furada S R Nonato PI 31500 950 GIF 6041 Pedra Furada S R Nonato PI 31700 830 GIF 6652 Pedra Furada S R Nonato PI 31860 560 BETA 22085 Pedra Furada S R Nonato PI REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 132 32160 1000 GIF 6653 Pedra Furada S R Nonato PI 37350 BETA 28831 Pedra Furada S R Nonato PI 39200 BETA 22858 Pedra Furada S R Nonato PI 39500 1600 GIF TAN 89357 Pedra Furada S R Nonato PI 40800 4420 1850 GIF 7619 Pedra Furada S R Nonato PI 41000 3000 2200 GIF 8355 Pedra Furada S R Nonato PI 41500 4200 3100 GIF 7681 Pedra Furada S R Nonato PI 42400 2600 GIF TAN 89097 Pedra Furada S R Nonato PI 42600 GIF TAN 89354 Pedra Furada S R Nonato PI 47000 GIF TAN 89098 Pedra Furada S R Nonato PI 48000 GIF TAN 89265 Pedra Furada S R Nonato PI 8800 60 BETA 47494 T Sítio do Meio S R Nonato PI 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PI 7010 170 GIF 7741 Baixão do Perna I S R Nonato PI 7350 180 BETA 20700 Baixão do Perna I S R Nonato PI 9540 170 GIF 5414 Baixão do Perna I S R Nonato PI 9650 100 BETA 32972 Baixão do Perna I S R Nonato PI 10530 110 BETA 32971 Baixão do Perna I S R Nonato PI Data Laboratório Sítio Localidade UF REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 133 7180 90 GIF 4926 Toca do Bojo S R Nonato PI 8050 170 GIF 4626 Toca do Bojo S R Nonato PI 8080 170 GIF 4925 Toca do Bojo S R Nonato PI 9700 200 GIF 4627 Toca do Bojo S R Nonato PI 7000 100 MC 2509 Toca do Paraguaio S R Nonato PI 8600 100 MC 2510 Toca do Paraguaio S R Nonato PI 8670 120 MC 2480 Toca do Paraguaio S R Nonato PI 8780 120 MC 2480 Toca do Paraguaio S R Nonato PI 2790 110 GIF 4924 Toca do Vento S R Nonato PI 2950 110 GIF 4923 Toca do Vento S R Nonato PI 2880 90 GIF 5404 Toca do Vento S R Nonato PI 2840 100 GIF 5004 Toca do Morcego S R Nonato PI 4290 110 GIF 5005 Toca do Morcego S R Nonato PI 4730 110 GIF 5401 Toca da Externa II S R Nonato PI 240 40 GIF 8671 T da Barra Antonião S R Nonato PI 985 65 BETA 28832 T da Barra Antonião S R Nonato PI 1920 130 GIF TAN 90038 T da Barra Antonião S R Nonato PI 6270 140 GIF 7374 T da Barra Antonião S R Nonato PI 9670 140 GIF 8712 T da Barra Antonião S R Nonato PI 1690 110 GIF 3225 Ald da Queimada Nova S R Nonato PI 420 50 GIF 6437 Toca do Pitombi S R Nonato PI 3010 60 GIF 7606 Toca do Pinga do Boi S R Nonato PI 3320 60 GIF 7607 Toca di Pinga do Boi S R Nonato PI 2090 110 GIF 3223 Toca do Gongo I S R Nonato PI 6990 70 GIF 6148 T da Entrada do Pajaú S R Nonato PI 7940 90 GIF 6958 T da Baixa do Cipó S R Nonato PI 8700 90 GIF 6957 T da Baixa do Cipó S R Nonato PI 2290 60 GIF 7810 T de Cima dos Pilão S R Nonato PI 10390 80 BETA 27345 T de Cima dos Pilão S R Nonato PI Fonte G Martín 1996 Préhistória do Nordeste do Brasil Editora Universitária da UFPE Recife Rio Grande do Norte Data Laboratório Sítio Localidade UF 417 60 SI 2365 RNBO16 Florânia RN 1184 65 SI 2364 RNJE17 Florânia RN 1704 65 SI 2366 RNBO16 Sen Georgino RN Data Laboratório Sítio Localidade UF REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 134 Data Laboratório Sítio Localidade UF 2620 60 CSIC 1061 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 2860 25 CSIC 945 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 2890 25 CSIC 966 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 4160 70 CSIC 1054 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 4710 25 CSIC 943 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 5790 60 CSIC 1060 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 6010 60 CSIC 1052 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 8280 30 CSIC 965 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 9400 35 CSIC 967 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 9400 90 CSIC 1051 Alexandre Carnaúba dos Dantas RN 9410 110 CSIC 720 Mirador Parelhas RN Fonte G Martín 1996 Préhistória do Nordeste do Brasil Editora Universitária da UFPE Recife Pernambuco Data Laboratório Sítio Localidade UF 195 75 MC 1047 Camará Bom Jardim PE 195 75 MC 1012 Caverna do Nunes Bom Jardim PE 257 90 GIF 1628 Chã do Caboclo Bom 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do Caboclo Bom Jardim PE 4590 100 MC 1044 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 4954 100 MC 7 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 5600 130 MC 1081 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 5603 100 MC 1043 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 5935 135 MC 1028 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 6630 125 MC 1059 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 6600 150 MC 1061 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 6820 190 MC 1087 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 6900 135 MC 1045 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 7152 140 MC 1027 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 7300 140 MC 1060 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 7820 150 MC 1055 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 8100 135 MC 1042 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 9520 160 MC 1056 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 11000 250 MC 1046 Chã do Caboclo Bom Jardim PE 300 85 MC 1024 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 380 70 MC 1041 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 1770 100 MC 1034 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 2620 90 MC 1039 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 2900 95 MC 1040 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 3450 100 MC 1051 Pedra do Caboclo Bom Jardim PE 3450 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Jardim PE 1010 85 MC 1033 Cercado Bom Jardim PE 1295 95 MC 1030 Cercado Bom Jardim PE 2200 80 BA 201 Abr Funerário 1 Bom Jardim PE 2266 110 GIF 1255 PE16 Petrolina PE 2802 110 SI 637 PE16 Petrolina PE 1040 50 SI Furna do Estrago Brejo da Madre de Deus PE 8495 70 SI Furna do Estrago Brejo da Madre de Deus PE 9150 90 SI Furna do Estrago Brejo da Madre de Deus PE 11060 90 SI Furna do Estrago Brejo da Madre de Deus PE 1760 90 GIF 5878 PeriPeri Venturosa PE 2030 50 CSIC 605 PeriPeri Venturosa PE 980 60 CSIC 808 Letreiro do Sobrado Petrolândia PE 1230 50 CSIC 807 Letreiro do Sobrado Petrolândia PE 1630 60 CSIC 806 Letreiro do Sobrado Petrolândia PE 1680 50 BETA 21519 Letreiro do Sobrado Petrolândia PE 6390 80 CSIC 809 Letreiro do Sobrado Petrolândia PE 2760 60 GIF 7243 Abrigo do Sol Poente Petrolândia PE 2200 110 SI 1255 Gruta do Padre Petrolândia PE 2360 50 CSIC 805 Gruta do Padre Petrolândia PE 2720 110 SI 637 Gruta do Padre Petrolândia PE 3630 70 CSIC 803 Gruta do Padre Petrolândia PE 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Francisco SE 1770 60 BaH Justino Canindé do S Francisco SE 2500 FZ Justino Canindé do S Francisco SE 3270 135 BaH Justino Canindé do S Francisco SE 4340 BETA Justino Canindé do S Francisco SE 8950 BETA Justino Canindé do S Francisco SE Fonte G Martín 1996 Préhistória do Nordeste do Brasil Editora Universitária da UFPE Recife Bahia Data Laboratório Sítio Localidade UF 206 90 GIF 1254 BA1h13 Simões Filho BA 1112 90 SI 542 Guipe Simões Filho BA 314 65 SI 820 BARG19 Ituaçu BA 566 95 SI 821 BASO26 Ituaçu BA 608 50 SI 541 Beliscão Esplanada BA 700 130 SI 541 Zacarias Campo Formoso BA REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 138 Data Laboratório Sítio Localidade UF 3230 210 BETA 13929 Toca do Cosmo Central BA 2020 130 BETA 17841 Toca da Esperança Central BA 3570 60 GIF 7495 Toca da Esperança Central BA 3820 340 GIF 7300 Toca da Esperança Central BA 5180 80 GIF 7577 Toca da Esperança Central BA 6030 80 GIF 7556 Toca da Esperança Central BA 6030 80 GIF 7578 Toca da Esperança Central BA 6330 150 GIF 7301 Toca da Esperança Central BA 6450 150 GIF 7496 Toca da Esperança Central BA 1270 60 GIF 7494 Toca dos Búzios Central BA 1460 130 BETA 10453 Toca dos Búzios Central BA 1660 120 BETA 10454 Toca dos Búzios Central BA 800 60 BETA 10016 Abrigo do Pilão Central BA 860 60 BETA 10604 Abrigo do Pilão Central BA 9390 90 BETA 10017 Abrigo do Pilão Central BA 1137 60 Abrigo da Lesma Central BA 2712 60 Abrigo da Lesma Central BA 978 120 SI 472 Saloba Curuça BA 1081 250 GIF 1440 BARG3 São Desidério BA 2245 110 GIF 877 Pedra Ôca Periperi BA 2709 110 GIF 878 Pedra Ôca Periperi BA 2915 130 SI 470 Pedra Ôca Periperi BA 420 160 BaH 1525 Itacoatiara I Rodelas BA 570 160 BaH 1531 Itacoatiara I Rodelas BA 580 160 BaH 1528 Itacoatiara I Rodelas BA 1130 160 BaH 1530 Itacoatiara I Rodelas BA 1310 160 BaH 1534 Itacoatiara I Rodelas BA 1590 170 BaH 1533 Itacoatiara I Rodelas BA 2290 170 BaH 1529 Itacoatiara I Rodelas BA 780 150 BaH Paraíso Rodelas BA 3840 180 BaH Paraíso 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Salvador BA Datações por termoluminescência Fonte Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia MAEUFBA GIF Laboratoire des Faibles Radioactivités CNRS GifSurYvette França MC Centre de Recherches Mônaco BETA Beta Analytic Miami EUA SI Smithsonian Institution Washington EUA CSIC Consejo Superior de Investigaciones Científicas Madrid Espanha FZ Departamento de Física UFCE Fortaleza Brasil BaH Laboratório de Física Nuclear Aplicada PósGraduação em Geofísica UFBA Salvador Brasil FATECSP Faculdade de Tecnologia de São Paulo Brasil Data Laboratório Sítio Localidade UF REVISTA USP São Paulo n44 p 112141 dezembrofevereiro 19992000 140 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albuquerque M 1984 Horticultores préhistóricos do Nordeste Arquivos Museu de História Natural Universidade Federal de Minas Gerais vol VIIIIX pp 13143 Belo Horizonte 1991 Ocupação Tupiguarani no estado de Pernambuco Anais do I Simpósio de PréHistória do Nordeste Clío no 4 1178Universidade Federal de Pernambuco Recife 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