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47 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 OPINATIVOS E DE REVISÃO ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS Gabriela Silveira Meireles1 PSYCHOLOGICAL ASPECTS OF SEXUAL DYSFUNCTIONS ASPECTOS PSICOLÓGICOS DE LAS DISFUNCIONES SEXUALES Resumo A saúde sexual é cada vez mais importante quando pensamos na longevidade das relações afeti vas fazendo parte da saúde global dos indivíduos e em sua sensação de bemestar Contudo as disfunções sexuais têm se feito muito presentes tanto em homens quanto em mulheres O objetivo deste artigo é des crever a sexologia clínica em seu aspecto histórico para contextualizar as disfunções sexuais para conhecer as principais disfunções masculinas e femininas e compreender os aspectos psicológicos que produzem eou mantém as disfunções sexuais O referencial teórico adotado engloba principalmente as produções científicas dos campos da saúde e da educação com foco nas pesquisas psicológicas Os principais autores utilizados nesta pesquisa foram Abdo 2004 2006 Abdo e Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano e Lopes 2005 Carvalheira e AllenGomes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares e Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall e Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata e outros 2008 Nobre 2005 2010 Organização Mundial da Saúde 1993 Russo e outros 2009 2011 Russo 2012 Weeks 2002 Os resultados obtidos com esse levantamento acerca do assun to permitiram concluir que são muitas e variadas as influências psicológicas na produção eou manutenção das disfunções sexuais de modo que a atuação do psicólogo junto a esses pacientes se faz imprescindível Concluise assim que a psicoterapia focada na sexologia é um recurso fundamental para a promoção da saúde dos indivíduos Palavraschave Sexologia clínica Disfunções sexuais Aspectos psicológicos Abstract A sexual health is becoming increasingly important when we think of the longevity of these affective rela tionships making part of two global individuals and in their sense of beingliving However as sexual dysfunctions it was feito muito present both in homens quanto em mulheres The objective of this article is to disclose Clinical Sexology in its historical aspect to contextualize sexual dysfunctions in order to establish the main male and female dysfunctions and to understand the psychological aspects that produce sexual dysfunctions The theoretical reference given includes mainly scientific productions two fields of education and education with a focus on psychological research The main authors used in this research Abdo 2004 2006 Abdo and Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano and Lopes 2005 Carvalheira and AllenGomes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares and Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall and Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata et al 2008 Nobre 2005 2010 WHO 1993 Russo et al 2009 2011 Russo 2012 Weeks 2002 The results obtained with this survey about the subject allowed us to conclude that there are many different psychological influences in the production and or maintenance of sexual dysfunctions so that at the same time the psychologist will be able to face these patients It is concluded assim that a psychotherapy focused on sexology and a fundamental resource for the promotion of two individuals Keywords Clinical sexology Sexual dysfunctions Psychological aspects Resumen La salud sexual es cada vez más importante cuando pensamos en la longevidad de las relaciones afectivas como parte de la salud general de las personas y su sensación de bienestar Sin embargo las disfunciones sexuales han estado muy presentes tanto en hombres como en mujeres El objetivo de este artículo es describir la Sexología Clínica en su aspecto histórico para contextualizar las disfunciones sexuales con el fin de conocer las principales disfunciones masculinas y femeninas y comprender los aspectos psicológicos que producen y o mantienen las disfunciones sexuales 1 Pedagoga psicóloga mestre e doutora em Educação professora adjunta no Centro Universitário Governador Ozanam Coelho UNIFAGOC Email gabrielasilveirameirelesgmailcom 48 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana El marco teórico adoptado abarca principalmente producciones científicas en los campos de la salud y la educación con un enfoque en la investigación psicológica Los principales autores utilizados en esta investigación fueron Abdo 2004 2006 Abdo y Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano y Lopes 2005 Carvalheira y AllenGo mes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares y Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall y Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata y col 2008 Noble 2005 2010 OMS 1993 Russo y col 2009 2011 Russo 2012 Semanas 2002 Los resultados obtenidos con esta encuesta sobre el tema nos permitieron concluir que existen muchas y variadas influencias psicológicas en la producción y o mantenimiento de las disfunciones sexuales por lo que el papel del psicólogo con estos pacientes es esencial Se concluye por lo tanto que la psicoterapia centrada en la sexología es un recurso fundamental para promover la salud de las personas Palabras clave Sexología clínica Disfunciones sexuales Aspectos psicológicos Introdução O presente artigo tem como função apresentar o campo da sexologia clínica bem como a influência dos aspectos psicológicos na produção e manutenção das dis funções sexuais Partese aqui do entendimento de que as disfunções sexuais englobam todas as formas de vivências insatisfatórias no relacionamento sexual desde a dificul dade em sentir prazer ou satisfação até a incapacidade em satisfazer oa parceiroa CARVALHEIRA ALLEN GOMES 2002 Em geral é bastante comum algum nível de dificuldade ou insatisfação no decorrer da vida mas o que caracteriza uma disfunção é a sua relação com um estado de saúde alterado seja físico ou psicologicamente A sexualidade humana segundo definição da Organização Mundial da Saúde OMS é parte integral da personalidade dos indivíduos É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser dissociado de outros aspectos da vida A sexualidade é muito mais do que o ato sexual ou coito Ela é energia que motiva os encontros amorosos promove o contato íntimo e afe tivo com outros seres Ela influencia e é influenciada por pensamentos sentimentos aspectos fisiológicos e psico lógicos ALVES 2013 A saúde é um direito fundamental do ser humano Por isso a saúde sexual enquanto um dos aspectos envol vidos nessa saúde deve também ser considerada como um direito básico A saúde sexual segundo Alves 2013 integra aspectos sociais psicossomáticos intelectuais e principalmente emocionais Oa psicólogoa é um dos profissionais responsáveis pela saúde psicológica dos indi víduos Portanto cabe a elea atuar por meio da sexo logia clínica tratando ou prevenindo as disfunções sexuais A sexologia é uma das áreas das Ciências Humanas e Sociais que estuda aspectos normais e patológicos em termos de assistência médica psicológica e sociocultural aprofundando no funcionamento nas condutas e nos interesses dos indivíduos relativos à sexualidade A sexo logia clínica aborda assim temas muito heterogêneos do desenvolvimento sexual mecanismos presentes nas relações eróticas regularidades e dissonâncias no com portamento sexual e também as relações psicológicas das doenças sexuais Neste artigo será apresentado um breve histó rico da sexologia clínica no Brasil reforçando os modos de atuação do profissional de Psicologia junto às questões sexuais bem como serão descritas as principais disfun ções sexuais destacando os aspectos psicológicos dessas disfunções Breve histórico da sexologia clínica no Brasil A sexologia emergiu na segunda metade do século XIX e constituiuse como uma scientia sexualis pluridis ciplinar englobando várias áreas do saber médicas e não médicas bem como um leque variado de práticas tera pêuticas de formação e de intervenção ALARCÃO MACHADO GIAMI 2016 p 630 Enquanto área do saber a sexologia tem sido estudada em um enfoque histó rico e sociológico desde a obra de Michel Foucault intitulada História da Sexualidade em três volumes passando pelos trabalhos de Béjin 1987 Weeks 2002 e Irvine 2005 até as produções mais atuais de Gimi 2012 e Russo 2013 A scientia sexualis conforme definiu Foucault 2006 p 16 passou a vigorar no Brasil e no mundo durante este século de modo a produzir discursos ver dadeiros sobre o sexo Ela buscou desse modo desen volver o rito da confissão obrigatória e exaustiva que constituiu no Ocidente cristão a primeira técnica para produzir a verdade do sexo Por meio dela surgiu a necessidade de estudar e produzir técnicas de controle da sexualidade humana Contudo foi somente na década de 1930 que sur giram os primeiros profissionais que se autodesignaram como sexólogos e que trabalharam em prol da consti tuição de uma disciplina específica Na primeira metade do século XX eram apenas dois os médicos que podiam 49 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana de fato ser classificados como sexólogos Hernani de Irajá2 e José de Albuquerque3 ambos formados em Medicina RUSSO et al 2011 Foi com Béjin 1987 entretanto que a sexologia brasileira surgiu já no século XX Só então ela passou a estudar os desvios sexuais ou patologias sexuais Russo e Rohden 2011 mostram que a primeira obra científica sobre sexualidade no Brasil foi a de Antônio Austregésilo intitulada Psiconeuroses e sexualidade publicada em 1919 claramente embasada em uma perspectiva psicanalítica No final dos anos 1960 um grupo de estudos cha mado Clube da Placenta começou a se reunir sema nalmente sob a liderança de Jean Claude Nahoum médico ginecologista O Clube da Placenta convidava os psicólogos que eram metidos a trabalhar com coisas de sexualidade o que era uma coisa absurda Onde já se viu mexer com sexo Somente nos anos 1970 é que começou um movimento de institucionalização da sexologia identificado por Béjin 1987 como segunda onda sexológica Esse movimento ocorreu pela reunião dos saberes e práticas existentes por médicos princi palmente ginecologistas e psicólogosas Aos poucos porém os profissionais interessados em aspectos clínicos relacionados à sexualidade apoiaramse nas propostas teóricas e no modelo de terapia sexual de Masters Johnson que estava ancorada nas terapias comportamen tais RUSSO et al 2011 Ainda na década de 1970 o médico ginecologista Ricardo Cavalcanti formou um Núcleo de Estudos o Centro de Sexologia de Brasília CESEX composto por médicos e psicólogos muitos deles professores univer sitários Foi ele que primeiro se interessou pela terapia sexual RUSSO et al 2011 Com isso ele passou a divulgar as concepções sexológicas nos congressos de ginecologia e se tornou uma das figuras mais atuantes da sexologia no Brasil Esses autores relatam ainda que no CESEX os médicos davam aulas para os psicólogos e os psicólogos davam aula para os médicos de modo que todos aprendessem sobre fisiologia sexual e sobre a visão psicológica da sexualidade Em 1973 foi fundada a primeira associação de sexologia do país a Sociedade Brasileira de Sexologia SBS pelo psiquiatra Isaac Charam no Rio de Janeiro Responsável pela realização do XI Congresso Mundial de Sexologia no Brasil em 1993 essa sociedade não teve 2 Dentre as incontáveis obras do autor podemos citar Morphologia da mulher 1931 A plástica feminina no Brasil 1931 Psicoses do amor 1931 Sexualidade e amor 1932 Sexualidade perfeita 1956 Sexo e virgindade 1969 3 Ele fundou dois periódicos especializados o Jornal de Andrologia 19321938 e o Boletim de Educação Sexual 19331939 Tais pu blicações foram os órgãos oficiais de duas instituições também cria das por ele o Círculo Brasileiro de Educação Sexual CBES grande expressão no campo e parece estar desativada atualmente RUSSO et al 2011 Os autores destacam no entanto que a SBS tem importância histórica pois além de ter sido a primeira associação de sexologia do Brasil foi por meio dela que houve a primeira regulamentação do campo da sexologia no país RUSSO et al 2011 p 46 Em 1980 a SBS solicitou o reconhecimento da sexologia como especialidade médica à Associação Médica Brasileira AMB e foi atendida passando a ser considerada uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina CFM Essa associação exigia que para a concessão do título de especialista para médicos somente médicos que ingressassem nessa instituição Porém posteriormente decidiuse que poderia também haver sócios aderentes nãomédicos de nível superior desde que eles não tivessem ação na gestão da sociedade RUSSO et al 2011 p 46 Foi na década de 1980 que houve uma maior arti culação de profissionais interessados na prática sexológica Como exemplos é possível citar o Núcleo de Sexologia da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro SGORJ surgido a partir das iniciativas dos integrantes do Clube da Placenta a Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo e o Núcleo de Sexologia da Sociedade de Ginecologia do Rio Grande do Sul SOGIRS Os eventos também contribuíram muito para a divulgação da sexologia clínica Dentre os principais é pos sível citar os Encontros Nacionais de Sexologia promo vidos pela Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Febrasgo Esses eventos deram origem a dois livros importantes Sexologia I e Sexologia II publicados por Ricardo Cavalcanti e Nelson Vitiello em 1985 e 1986 O encontro de 1989 foi realizado no Rio de Janeiro e transformouse no I Congresso Brasileiro de Sexualidade Humana evento organizado pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana SBRASH A SBRASH é uma associação multidisciplinar de sexologia fundada em 1986 A mobilização para sua criação ocorreu em grande parte nos próprios encontros nacionais de sexologia A fundação da sociedade foi um passo significativo para consolidar a aproximação entre profissionais que atuavam em diferentes regiões do país e de expandir o campo através de cursos de formação RUSSO et al 2011 A Revista Brasileira de Sexualidade Humana publicada desde 1990 com regularidade é uma das mais importantes na área e cada volume possui dois números com exceção do sétimo que conta com duas edições especiais além dos dois números habituais O periódico trata de diversos temas educação sexual terapia sexual ética profissional capacitação de profissionais tratamentos farmacológicos gravidez na adolescência DSTAids homossexualidade e sexualidade feminina RUSSO et al 2011 50 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana Ainda durante os anos 1980 teve início o processo de institucionalização acadêmica com a criação em 1984 de um curso de pósgraduação em sexologia no Hospital Moncorvo Filho no Rio de Janeiro do qual faziam parte Paulo Canella e Araguari Chalar RUSSO et al 2011 A especialização funcionou até 1985 e no ano seguinte foi estruturada como um curso de pósgraduação lato sensu em sexologia na Universidade Gama Filho UGF Desta vez a vinculação se fez através do Instituto de Psicologia A pósgraduação da UFG deu origem ao Mestrado em Sexologia o único do país e primeiro da América Latina que funcionou de 1994 a 2005 com reconheci mento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes e teve 109 dissertações defen didas O mestrado funcionou como importante núcleo de formação atraindo estudantes de várias partes do país para suas três áreas de concentração sexologia educacional sociossexologia e sexologia clínica esta última reservada para médicosas e psicólogosas RUSSO et al 2011 Na década de 1990 um dos fundadores da SBRASH o ginecologista Nelson Vitiello que esteve na presidência da Sociedade por algumas gestões e era um grande entusiasta na área fundou em São Paulo o Instituto Persona promo vendo cursos de pósgraduação em educação sexual e em terapia sexual em parceria com a Faculdade de Medicina do ABC FMABC Também na década de 1990 surgiram outros nú cleos ligados à sexologia em universidades públicas Esses núcleos em geral oferecem disciplinas na graduação cursos de especialização realizam pesquisas oferecem estágio supervisionado e organizam encontros palestras congressos grupos de estudo etc Eles são em sua maior parte vinculados à área de educação sexual embora um dos mais destacados o Projeto Sexualidade PROSEX fundado em 1993 no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP possuísse uma atuação mais voltada para a área de sexologia clínica RUSSO et al 2011 Russo e outros 2009 p 630 revelaram assim que o campo da sexologia contemporânea brasileira cons tituiuse e firmouse institucionalmente nos anos 80 do século passado Porém foi nos anos 90 que assistimos ao surgimento de várias instituições de formação ou atendi mento clínico de cursos de pósgraduação lato sensu e de alguns grupos de pesquisa em universidades públicas Foi também nessas instituições que a medicina e a psicologia se uniram enquanto ciência para o estudo da sexualidade e das disfunções sexuais Disfunções sexuais masculinas e femininas A saúde sexual é um estado de completo bemestar físico emocional mental associado à sexualidade e não só à ausência de doença ou enfermidade ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE 1993 A pessoa pode apresentar alterações ou perturbações no seu ciclo de resposta sexual surgindo as dificuldades ou disfunções sexuais que impedem a vivência de uma vida sexual satisfatória e grati ficante NOBRE 2005 As disfunções sexuais podem ser desencadeadas por causas orgânicas e muitas vezes agravadas pela sua repercussão emocional FONSECA SOARES VAZ 2001 Problemas de saúde físicos e psicológicos uso de medicamentos tabagismo uso de drogas inclusive álcool problemas afetivos ou de natureza relacional falta de experiência sexual e de conhecimento do corpo traumas sexuais assim como fatores socioeconômicos e profis sionais podem refletirse de forma negativa na resposta sexual Uma disfunção pode ser primária se coincide com o início da atividade sexual e secundária se foi adquirida ao longo da vida Pode ser generalizada se está presente em qualquer circunstância ou situacional se está presente apenas em determinadas circunstâncias NOBRE 2010 Desse modo as disfunções sexuais caracterizamse pela falta excesso desconforto eou dor na expressão e no desenvolvimento desse ciclo o que afeta uma ou mais das fases deste ABDO FLEURY 2006 p 163 Quanto mais precocemente incidir o comprometimento desse ciclo mais prejuízo acarretará à resposta sexual e mais complexos serão o quadro clínico e respectivos prognós tico e tratamento ABDO 2004 A disfunção sexual por tanto implica pois alguma alteração em uma ou mais das fases do ciclo de resposta sexual ou dor associada ao ato o que se manifesta de forma persistente ou recor rente ABDO FLEURY 2006 p 163 A Associação Psiquiátrica Americana 2002 assim classifica as disfunções sexuais Transtornos do desejo sexual 30271 Transtorno do desejo sexual hipoativo deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de ter atividade sexual 30279 Transtorno de aversão sexual aversão e esquiva ativa do contato sexual genital com um parceiro sexual Transtornos da excitação sexual 30272 Transtorno da excitação sexual feminina incapa cidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual adequada de lubrificaçãoturgescência até a consumação da atividade sexual 30272 Transtorno erétil mas culino incapacidade persistente ou recorrente de obter ou manter ereção adequada até a conclusão da atividade sexual Transtornos do orgasmo 30273 Transtorno do orgasmo feminino atraso ou ausência persis tente ou recorrente de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual 30274 Transtorno do orgasmo masculino atraso ou ausência persistente 51 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana ou recorrente de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual 30275 Ejaculação precoce início persistente ou recorrente de orgasmo e eja culação com estimulação mínima antes durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo o deseje Transtornos sexuais dolorosos 30276 Dispareunia feminina e masculina dor genital associada com intercurso sexual Embora a dor seja experimentada com maior frequência durante o coito também pode ocorrer antes ou após o intercurso 30651 Vaginismo contração invo luntária recorrente ou persistente dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina quando é tentada a penetração vaginal com pênis dedo tampão ou espéculo Disfunção sexual devido a uma condição médica geral presença de disfunção sexual clinicamente significativa considerada exclusivamente decor rente dos efeitos fisiológicos diretos de uma con dição médica geral Disfunção sexual induzida por substância dis função sexual clinicamente significativa que tem como resultado um acentuado sofrimento ou difi culdade interpessoal plenamente explicada pelos efeitos fisiológicos diretos de uma substância droga de abuso medicamento ou exposição à toxina 30270 Disfunção sexual sem outra especificação disfunções sexuais que não satisfazem os critérios para qualquer disfunção sexual específica Outra classificação foi proposta pela Organização Mundial da Saúde 1993 para as disfunções sexuais de base psiquiátrica Dos capítulos Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas e fatores físicos F50 F59 e Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos F60F69 da Classificação Internacional de Doenças CID10 constam ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE 1993 F52 Disfunção sexual não causada por trans torno ou doença orgânica F520 Ausência ou perda do desejo sexual Frigidez Transtorno hipoativo do desejo sexual F521 Aversão sexual e ausência de prazer sexual Anedonia sexual F522 Falha de resposta genital disfunção de ereção no homem F523 Disfunção orgásmica Anorgasmia psicogê nica Inibição do orgasmo na mulher no homem F524 Ejaculação precoce F525 Vaginismo não orgânico Vaginismo psicogênico F526 Dispareunia não orgânica Dispareunia psicogênica F527 Apetite sexual excessivo Ninfomania Satiríase F528 Outras disfunções sexuais não devidas a transtorno ou à doença orgânica Dismenorréia psicogênica F529 Disfunção sexual não devida a transtorno ou à doença orgânica não especificada Dada a multiplicidade de fatores envolvidos reco mendase avaliação psicossocial de preferência por equipe multidisciplinar ABDO FLEURY 2006 p 165 principal mente naqueles casos em que a disfunção ocorre desde o início da vida sexual ou sofre influência de condições psico lógicas e relacionais tais como condições de vida estres santes mudanças na parceria conflitos no vínculo conjugal e disfunção sexual do parceiro Aspectos psicológicos das disfunções sexuais Os fatores psicológicos incluem aspectos emocio nais e cognitivos associados à experiência sexual Emoções negativas como a culpa a vergonha ou a raiva podem des truir os sentimentos de prazer CARVALHEIRA ALLEN GOMES 2002 Algumas mulheres destacam o medo da entrega na atividade sexual outras o medo de perder o controle na relação com o parceiro Quando fatores psi cológicos supostamente desempenham um papel impor tante no início na gravidade na exacerbação ou na manu tenção da disfunção sexual é possível afirmar que se trata de um subtipo diagnóstico caracterizado como disfunção sexual devido a fatores psicológicos HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 12 Os fatores psicológicos como a depressão ou as per turbações da ansiedade podem contribuir para a diminuição do desejo sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 21 Além disso outras causas psi cológicas das disfunções sexuais são citadas Situações traumáticas de abuso sexual ou estupro Mensagens antisexuais durante a infância como escu tar dos pais que sexo é sujo Culpas Comportamento sedutor ou controlador por parte dos pais Dificuldade em unir amor com sexo na mesma pessoa esposa X prostituta Raivas entre o casal Competição temida com o pai ou mãe entre outros Falta de informa ção e crenças erradas ou negativas sobre a sexualida de culpa educação conservadora Inexperiência que pode conduzir a medos ou bloqueios e a uma resposta condicionada Experiências prévias com dor Traumas HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 2527 No que tange à disfunção erétil por exemplo uma das principais disfunções sexuais masculinas a idade é um 52 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana fator importante Enquanto os indivíduos mais jovens têm mais probabilidade de desenvolver disfunção eréctil de causa psicológica os homens com mais idade desen volvem habitualmente disfunção eréctil de causa orgânica devido a uma maior comorbidade com diversos fatores de risco HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 30 Geralmente esse tipo de disfunção está relacionado ao estresse ou à ansiedade por parte do paciente e o tratamento indicado inclui terapia sexual psicoterapia e medicação O mesmo ocorre com a disfunção orgástica mas culina que resulta em medo da estimulação inadequada medo da gravidez medo de uma relação que envolve compromisso medo de não apresentar uma performance adequada traumas sexuais prévios hostilidade da par ceira problemas na relação conjugal ou medo da homos sexualidade latente HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 37 A inibição do orgasmo masculino consiste pois em uma dificuldade per sistente de atingir o orgasmo apesar da presença do desejo de excitação e estimulação HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 37 Isso ocorre quando o homem não consegue ejacular junto da parceira mas conseguindo ejacular na masturbação ou durante o sono Outro transtorno que sofre bastante influência dos fatores psicológicos é o Transtorno de Aversão Sexual caracterizado pela esquiva ativa do contato sexual genital com um parceiro sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 45 Esse tipo de perturbação está intimamente relacionado a um acentuado sofrimento nas relações interpessoais Nesse caso o indivíduo relata ansiedade medo ou repulsa ao se defrontar com uma oportunidade sexual com uma par ceiroa A aversão ao contato genital pode concentrarse em um determinado aspecto da experiência sexual secre ções genitais penetração vaginal Pode também se apre sentar como uma repulsa generalizada a quaisquer estí mulos sexuais inclusive beijos e toques A intensidade da reação do indivíduo quando exposto aos estímulos aver sivos pode variar desde uma ansiedade moderada e falta de prazer até um extremo sofrimento psicológico HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 No caso das mulheres uma das disfunções mais afetadas pelos fatores psicológicos é o Transtorno de Excitação ou Frigidez Tratase da incapacidade persis tente ou recorrente de adquirir ou manter a lubrificação e a turgescência vaginal até o fim do ato sexual Geralmente a mulher nessas condições tem pouca ou nenhuma sen sação de excitação HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 19 O que se sabe é que fatores psicológicos tais como depressão ou perturba ções da ansiedade podem contribuir para a diminuição do desejo sexual IMPEMIG 2019 p 21 Atitudes negativas face ao sexo educação sexual repressiva histo rial de violênciaabuso e dispareunia são alguns dos fatores que podem contribuir para esta dificuldade Fatores psicológicos de ordem relacional como a falta de estimulação adequada doa parceiroa e a deficiente comunicação também contribuem para as disfunções de ordem psicológica A perturbação do orgasmo feminino por exemplo que consiste na difi culdade ou incapacidade persistente ou recorrente de atingir o orgasmo após uma fase normal de excitação sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 23 pode ter relação com atitudes negativas dessa mulher em relação à atividade sexual Ainda sobre as disfunções sexuais da mulher vincu ladas aos fatores psicológicos é possível citar o Vaginismo que consiste na dificuldade da mulher em tolerar a pene tração devido à contração involuntária recorrente ou persistente dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 25 Tratase da contração involuntária dos músculos próximos à vagina que acabam impedindo a penetração pelo pênis dedo espéculo gine cológico ou mesmo um tampão As intervenções terapêuticas diante das disfunções sexuais têm portanto relação com a falta de interesse pelo sexo a diminuição do desejo ou a dificuldade na exci tação CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 130 Para tanto existem abordagens diversas dentre as quais é possível destacar intervenções no sentido de explorar essas inibições desmistificar e derrubar crenças disfun cionais adquiridas ao longo da vida resultantes de uma repressão sexual É necessário portanto focar nas carac terísticas nãodesejadas da relação ou do companheiro buscando uma reestruturação cognitiva CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 131 A intervenção se dá portanto na dinâmica das rela ções afetivas para promover a comunicação sexual e dar a conhecer ao outro os estímulos que lhe são mais ade quados e preferidos Em termos terapêuticos procurase criar situações não exigentes nas quais possa ocorrer a excitação sexual num contexto mais livre de pressão CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 131 São recomendados também exercícios de autoestimulação ou de masturbação com o objetivo de explorar o corpo e descobrir o prazer no nível individual para depois asso ciar essa prática em um nível relacional Conclusão Esse artigo procurou mostrar a sexologia clínica em seu aspecto histórico para contextualizar as disfunções sexuais e o papel do psicólogo ao longo do desenvolvi mento da atuação nesse campo no Brasil As disfunções sexuais englobam todas as formas de vivências insatisfatórias 53 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana no relacionamento sexual desde a dificuldade em sentir prazer ou satisfação até a incapacidade em satisfazer oa parceiroa Buscou também evidenciar as principais carac terísticas das disfunções sexuais masculinas e femininas O foco foi nos aspectos psicológicos dessas disfunções ou inadaptações Procurouse ainda mostrar as possibilidades de intervenção terapêutica no âmbito da Psicologia o que tornou evidente os benefícios desse tipo de tratamento Para tanto procurouse reforçar a necessidade de uma abordagem terapêutica multidisciplinar de maneira que oa psicólogoa estaria integrando uma equipe de profissionais interessados em estabelecer uma relação saudável com a sexualidade de um modo mais abran gente Esse esforço buscou assim mostrar que é possível reconfigurar estados emocionais e determinados con juntos de crenças e pensamentos que atuam de forma destrutiva nessas relações destacando também a impor tância de osas parceiros estarem sempre afinados em seus desejos Referências ABDO C H N Descobrimento sexual do Brasil São Paulo Summus 2004 ABDO C H N Ciclo de resposta sexual menos de meio século de evolução de um conceito Diagnóstico e Tratamento São Paulo v 10 n 4 p 220222 2005 ABDO C H N FLEURY H J Aspectos diagnósticos e terapêuticos das disfunções sexuais femininas Revista de Psiquiatria Clínica São Paulo v 33 n 3 p 162167 2006 Disponível em httpwwwscielobrpdfrpcv33n 3a06v33n3pdf ALARCÃO V MACHADO F L GIAMI A A construção da sexologia como profissão em Portugal composição de um grupo profissional e tipos de sexólogos Ciência Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 21 n 2 p 629640 2016 Disponível em httpswwwscielosporgpdfcsc2016 v21n2629640pt Acesso em 01 nov 2019 ALVES G da S O que é sexologia clínica 2013 Disponível em httpsterapiandocombroque esexologiaclinica Acesso em 01 nov 2019 BÉJIN A O poder dos sexólogos e a democracia sexual In ARIÈS P BÉJIN A org Sexualidades ocidentais São Paulo Brasiliense 1987 p 236254 CAVALCANTI R C SERRANO R H LOPES G Ejaculação precocerápida Consenso da Academia Internacional de Sexologia Médica Rio de janeiro Guanabara Koogan 2005 CARVALHEIRA A A ALLENGOMES F A A disfunção sexual na mulher In OLIVEIRA C F ed Manual de Ginecologia Coimbra HUC 2002 p 119134 Disponível em httprihuchuc min saudeptbitstream1040047181A20 disfunC3A7C3A3o20 sexual20 na20mulherpdf Acesso em 01 nov 2019 FIGUEIRÓ M N D Revendo a história da educação sexual no Brasil ponto de partida para construção de um novo rumo Nuances Presidente Prudente v IV p 123133 set 1998 FONSECA L SOARES C VAZ J As disfunções sexuais femininas In FONSECA L SOARES C VAZ J Sexologia perspectiva multidisciplinar São Paulo Quarteto 2001 FOUCAULT M História da sexualidade I a vontade de saber 13 ed Rio de Janeiro Graal 2006 GIAMI A The social and professional diversity of sexology and sextherapy In HALL K INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS Disfunções sexuais Belo Horizonte IPEMIG 2019 Material didático do Curso de Sexologia IRVINE J M Disorders of desire sexuality and gender In IRVINE J M Modern American Sexology Philadelphia Temple University Press 2005 LARA L A S et al Abordagem das disfunções sexuais femininas Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia São Paulo v 30 n 6 p 312321 2008 Disponível em httpwwwscielobrpdf rbgov30n608pdf Acesso em 01 nov 2019 NOBRE P As disfunções sexuais Rio de Janeiro Climepsi 2005 NOBRE P Determinantes psicológicos do funcionamento sexual Acta Portuguesa de Sexologia n 1 3244 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID10 Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas Porto Alegre Artmed 1993 RUSSO J et al O campo da sexologia no Brasil constituição e institucionalização Physis Revista de Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 19 n 3 54 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana p 617636 2009 Disponível em httpwww scielobrpdfphysisv19n3a04v19n3pdf Acesso em 01 nov 2019 RUSSO J et al Histórico do campo da sexologia no Brasil In RUSSO J et al Sexualidade ciência e profissão no Brasil Rio de Janeiro CEPESC 2011 Disponível em httpwwwclamorgbr uploadsconteudosexualidadecienciaprofissao pdf Acesso em 01 nov 2019 RUSSO J A terceira onda sexológica medicina sexual e farmacologização da sexualidade Sexualidad Salud y Sociedad Rio de Janeiro v 14 p 172194 Aug 2012 WEEKS J Sexuality and its discontents meanings myths and modern sexualities London Taylor Francis 2002
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47 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 OPINATIVOS E DE REVISÃO ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS Gabriela Silveira Meireles1 PSYCHOLOGICAL ASPECTS OF SEXUAL DYSFUNCTIONS ASPECTOS PSICOLÓGICOS DE LAS DISFUNCIONES SEXUALES Resumo A saúde sexual é cada vez mais importante quando pensamos na longevidade das relações afeti vas fazendo parte da saúde global dos indivíduos e em sua sensação de bemestar Contudo as disfunções sexuais têm se feito muito presentes tanto em homens quanto em mulheres O objetivo deste artigo é des crever a sexologia clínica em seu aspecto histórico para contextualizar as disfunções sexuais para conhecer as principais disfunções masculinas e femininas e compreender os aspectos psicológicos que produzem eou mantém as disfunções sexuais O referencial teórico adotado engloba principalmente as produções científicas dos campos da saúde e da educação com foco nas pesquisas psicológicas Os principais autores utilizados nesta pesquisa foram Abdo 2004 2006 Abdo e Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano e Lopes 2005 Carvalheira e AllenGomes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares e Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall e Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata e outros 2008 Nobre 2005 2010 Organização Mundial da Saúde 1993 Russo e outros 2009 2011 Russo 2012 Weeks 2002 Os resultados obtidos com esse levantamento acerca do assun to permitiram concluir que são muitas e variadas as influências psicológicas na produção eou manutenção das disfunções sexuais de modo que a atuação do psicólogo junto a esses pacientes se faz imprescindível Concluise assim que a psicoterapia focada na sexologia é um recurso fundamental para a promoção da saúde dos indivíduos Palavraschave Sexologia clínica Disfunções sexuais Aspectos psicológicos Abstract A sexual health is becoming increasingly important when we think of the longevity of these affective rela tionships making part of two global individuals and in their sense of beingliving However as sexual dysfunctions it was feito muito present both in homens quanto em mulheres The objective of this article is to disclose Clinical Sexology in its historical aspect to contextualize sexual dysfunctions in order to establish the main male and female dysfunctions and to understand the psychological aspects that produce sexual dysfunctions The theoretical reference given includes mainly scientific productions two fields of education and education with a focus on psychological research The main authors used in this research Abdo 2004 2006 Abdo and Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano and Lopes 2005 Carvalheira and AllenGomes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares and Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall and Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata et al 2008 Nobre 2005 2010 WHO 1993 Russo et al 2009 2011 Russo 2012 Weeks 2002 The results obtained with this survey about the subject allowed us to conclude that there are many different psychological influences in the production and or maintenance of sexual dysfunctions so that at the same time the psychologist will be able to face these patients It is concluded assim that a psychotherapy focused on sexology and a fundamental resource for the promotion of two individuals Keywords Clinical sexology Sexual dysfunctions Psychological aspects Resumen La salud sexual es cada vez más importante cuando pensamos en la longevidad de las relaciones afectivas como parte de la salud general de las personas y su sensación de bienestar Sin embargo las disfunciones sexuales han estado muy presentes tanto en hombres como en mujeres El objetivo de este artículo es describir la Sexología Clínica en su aspecto histórico para contextualizar las disfunciones sexuales con el fin de conocer las principales disfunciones masculinas y femeninas y comprender los aspectos psicológicos que producen y o mantienen las disfunciones sexuales 1 Pedagoga psicóloga mestre e doutora em Educação professora adjunta no Centro Universitário Governador Ozanam Coelho UNIFAGOC Email gabrielasilveirameirelesgmailcom 48 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana El marco teórico adoptado abarca principalmente producciones científicas en los campos de la salud y la educación con un enfoque en la investigación psicológica Los principales autores utilizados en esta investigación fueron Abdo 2004 2006 Abdo y Fleury 2006 Alves 2013 Béjin 1987 Cavalcanti Serrano y Lopes 2005 Carvalheira y AllenGo mes 2002 Figueiró 1998 Fonseca Soares y Vaz 2001 Foucault 2006 Giami 2019 Hall y Instituto Pedagógico de Minas Gerais 2019 Irvine 2005 Lata y col 2008 Noble 2005 2010 OMS 1993 Russo y col 2009 2011 Russo 2012 Semanas 2002 Los resultados obtenidos con esta encuesta sobre el tema nos permitieron concluir que existen muchas y variadas influencias psicológicas en la producción y o mantenimiento de las disfunciones sexuales por lo que el papel del psicólogo con estos pacientes es esencial Se concluye por lo tanto que la psicoterapia centrada en la sexología es un recurso fundamental para promover la salud de las personas Palabras clave Sexología clínica Disfunciones sexuales Aspectos psicológicos Introdução O presente artigo tem como função apresentar o campo da sexologia clínica bem como a influência dos aspectos psicológicos na produção e manutenção das dis funções sexuais Partese aqui do entendimento de que as disfunções sexuais englobam todas as formas de vivências insatisfatórias no relacionamento sexual desde a dificul dade em sentir prazer ou satisfação até a incapacidade em satisfazer oa parceiroa CARVALHEIRA ALLEN GOMES 2002 Em geral é bastante comum algum nível de dificuldade ou insatisfação no decorrer da vida mas o que caracteriza uma disfunção é a sua relação com um estado de saúde alterado seja físico ou psicologicamente A sexualidade humana segundo definição da Organização Mundial da Saúde OMS é parte integral da personalidade dos indivíduos É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser dissociado de outros aspectos da vida A sexualidade é muito mais do que o ato sexual ou coito Ela é energia que motiva os encontros amorosos promove o contato íntimo e afe tivo com outros seres Ela influencia e é influenciada por pensamentos sentimentos aspectos fisiológicos e psico lógicos ALVES 2013 A saúde é um direito fundamental do ser humano Por isso a saúde sexual enquanto um dos aspectos envol vidos nessa saúde deve também ser considerada como um direito básico A saúde sexual segundo Alves 2013 integra aspectos sociais psicossomáticos intelectuais e principalmente emocionais Oa psicólogoa é um dos profissionais responsáveis pela saúde psicológica dos indi víduos Portanto cabe a elea atuar por meio da sexo logia clínica tratando ou prevenindo as disfunções sexuais A sexologia é uma das áreas das Ciências Humanas e Sociais que estuda aspectos normais e patológicos em termos de assistência médica psicológica e sociocultural aprofundando no funcionamento nas condutas e nos interesses dos indivíduos relativos à sexualidade A sexo logia clínica aborda assim temas muito heterogêneos do desenvolvimento sexual mecanismos presentes nas relações eróticas regularidades e dissonâncias no com portamento sexual e também as relações psicológicas das doenças sexuais Neste artigo será apresentado um breve histó rico da sexologia clínica no Brasil reforçando os modos de atuação do profissional de Psicologia junto às questões sexuais bem como serão descritas as principais disfun ções sexuais destacando os aspectos psicológicos dessas disfunções Breve histórico da sexologia clínica no Brasil A sexologia emergiu na segunda metade do século XIX e constituiuse como uma scientia sexualis pluridis ciplinar englobando várias áreas do saber médicas e não médicas bem como um leque variado de práticas tera pêuticas de formação e de intervenção ALARCÃO MACHADO GIAMI 2016 p 630 Enquanto área do saber a sexologia tem sido estudada em um enfoque histó rico e sociológico desde a obra de Michel Foucault intitulada História da Sexualidade em três volumes passando pelos trabalhos de Béjin 1987 Weeks 2002 e Irvine 2005 até as produções mais atuais de Gimi 2012 e Russo 2013 A scientia sexualis conforme definiu Foucault 2006 p 16 passou a vigorar no Brasil e no mundo durante este século de modo a produzir discursos ver dadeiros sobre o sexo Ela buscou desse modo desen volver o rito da confissão obrigatória e exaustiva que constituiu no Ocidente cristão a primeira técnica para produzir a verdade do sexo Por meio dela surgiu a necessidade de estudar e produzir técnicas de controle da sexualidade humana Contudo foi somente na década de 1930 que sur giram os primeiros profissionais que se autodesignaram como sexólogos e que trabalharam em prol da consti tuição de uma disciplina específica Na primeira metade do século XX eram apenas dois os médicos que podiam 49 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana de fato ser classificados como sexólogos Hernani de Irajá2 e José de Albuquerque3 ambos formados em Medicina RUSSO et al 2011 Foi com Béjin 1987 entretanto que a sexologia brasileira surgiu já no século XX Só então ela passou a estudar os desvios sexuais ou patologias sexuais Russo e Rohden 2011 mostram que a primeira obra científica sobre sexualidade no Brasil foi a de Antônio Austregésilo intitulada Psiconeuroses e sexualidade publicada em 1919 claramente embasada em uma perspectiva psicanalítica No final dos anos 1960 um grupo de estudos cha mado Clube da Placenta começou a se reunir sema nalmente sob a liderança de Jean Claude Nahoum médico ginecologista O Clube da Placenta convidava os psicólogos que eram metidos a trabalhar com coisas de sexualidade o que era uma coisa absurda Onde já se viu mexer com sexo Somente nos anos 1970 é que começou um movimento de institucionalização da sexologia identificado por Béjin 1987 como segunda onda sexológica Esse movimento ocorreu pela reunião dos saberes e práticas existentes por médicos princi palmente ginecologistas e psicólogosas Aos poucos porém os profissionais interessados em aspectos clínicos relacionados à sexualidade apoiaramse nas propostas teóricas e no modelo de terapia sexual de Masters Johnson que estava ancorada nas terapias comportamen tais RUSSO et al 2011 Ainda na década de 1970 o médico ginecologista Ricardo Cavalcanti formou um Núcleo de Estudos o Centro de Sexologia de Brasília CESEX composto por médicos e psicólogos muitos deles professores univer sitários Foi ele que primeiro se interessou pela terapia sexual RUSSO et al 2011 Com isso ele passou a divulgar as concepções sexológicas nos congressos de ginecologia e se tornou uma das figuras mais atuantes da sexologia no Brasil Esses autores relatam ainda que no CESEX os médicos davam aulas para os psicólogos e os psicólogos davam aula para os médicos de modo que todos aprendessem sobre fisiologia sexual e sobre a visão psicológica da sexualidade Em 1973 foi fundada a primeira associação de sexologia do país a Sociedade Brasileira de Sexologia SBS pelo psiquiatra Isaac Charam no Rio de Janeiro Responsável pela realização do XI Congresso Mundial de Sexologia no Brasil em 1993 essa sociedade não teve 2 Dentre as incontáveis obras do autor podemos citar Morphologia da mulher 1931 A plástica feminina no Brasil 1931 Psicoses do amor 1931 Sexualidade e amor 1932 Sexualidade perfeita 1956 Sexo e virgindade 1969 3 Ele fundou dois periódicos especializados o Jornal de Andrologia 19321938 e o Boletim de Educação Sexual 19331939 Tais pu blicações foram os órgãos oficiais de duas instituições também cria das por ele o Círculo Brasileiro de Educação Sexual CBES grande expressão no campo e parece estar desativada atualmente RUSSO et al 2011 Os autores destacam no entanto que a SBS tem importância histórica pois além de ter sido a primeira associação de sexologia do Brasil foi por meio dela que houve a primeira regulamentação do campo da sexologia no país RUSSO et al 2011 p 46 Em 1980 a SBS solicitou o reconhecimento da sexologia como especialidade médica à Associação Médica Brasileira AMB e foi atendida passando a ser considerada uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina CFM Essa associação exigia que para a concessão do título de especialista para médicos somente médicos que ingressassem nessa instituição Porém posteriormente decidiuse que poderia também haver sócios aderentes nãomédicos de nível superior desde que eles não tivessem ação na gestão da sociedade RUSSO et al 2011 p 46 Foi na década de 1980 que houve uma maior arti culação de profissionais interessados na prática sexológica Como exemplos é possível citar o Núcleo de Sexologia da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro SGORJ surgido a partir das iniciativas dos integrantes do Clube da Placenta a Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo e o Núcleo de Sexologia da Sociedade de Ginecologia do Rio Grande do Sul SOGIRS Os eventos também contribuíram muito para a divulgação da sexologia clínica Dentre os principais é pos sível citar os Encontros Nacionais de Sexologia promo vidos pela Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Febrasgo Esses eventos deram origem a dois livros importantes Sexologia I e Sexologia II publicados por Ricardo Cavalcanti e Nelson Vitiello em 1985 e 1986 O encontro de 1989 foi realizado no Rio de Janeiro e transformouse no I Congresso Brasileiro de Sexualidade Humana evento organizado pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana SBRASH A SBRASH é uma associação multidisciplinar de sexologia fundada em 1986 A mobilização para sua criação ocorreu em grande parte nos próprios encontros nacionais de sexologia A fundação da sociedade foi um passo significativo para consolidar a aproximação entre profissionais que atuavam em diferentes regiões do país e de expandir o campo através de cursos de formação RUSSO et al 2011 A Revista Brasileira de Sexualidade Humana publicada desde 1990 com regularidade é uma das mais importantes na área e cada volume possui dois números com exceção do sétimo que conta com duas edições especiais além dos dois números habituais O periódico trata de diversos temas educação sexual terapia sexual ética profissional capacitação de profissionais tratamentos farmacológicos gravidez na adolescência DSTAids homossexualidade e sexualidade feminina RUSSO et al 2011 50 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana Ainda durante os anos 1980 teve início o processo de institucionalização acadêmica com a criação em 1984 de um curso de pósgraduação em sexologia no Hospital Moncorvo Filho no Rio de Janeiro do qual faziam parte Paulo Canella e Araguari Chalar RUSSO et al 2011 A especialização funcionou até 1985 e no ano seguinte foi estruturada como um curso de pósgraduação lato sensu em sexologia na Universidade Gama Filho UGF Desta vez a vinculação se fez através do Instituto de Psicologia A pósgraduação da UFG deu origem ao Mestrado em Sexologia o único do país e primeiro da América Latina que funcionou de 1994 a 2005 com reconheci mento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes e teve 109 dissertações defen didas O mestrado funcionou como importante núcleo de formação atraindo estudantes de várias partes do país para suas três áreas de concentração sexologia educacional sociossexologia e sexologia clínica esta última reservada para médicosas e psicólogosas RUSSO et al 2011 Na década de 1990 um dos fundadores da SBRASH o ginecologista Nelson Vitiello que esteve na presidência da Sociedade por algumas gestões e era um grande entusiasta na área fundou em São Paulo o Instituto Persona promo vendo cursos de pósgraduação em educação sexual e em terapia sexual em parceria com a Faculdade de Medicina do ABC FMABC Também na década de 1990 surgiram outros nú cleos ligados à sexologia em universidades públicas Esses núcleos em geral oferecem disciplinas na graduação cursos de especialização realizam pesquisas oferecem estágio supervisionado e organizam encontros palestras congressos grupos de estudo etc Eles são em sua maior parte vinculados à área de educação sexual embora um dos mais destacados o Projeto Sexualidade PROSEX fundado em 1993 no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP possuísse uma atuação mais voltada para a área de sexologia clínica RUSSO et al 2011 Russo e outros 2009 p 630 revelaram assim que o campo da sexologia contemporânea brasileira cons tituiuse e firmouse institucionalmente nos anos 80 do século passado Porém foi nos anos 90 que assistimos ao surgimento de várias instituições de formação ou atendi mento clínico de cursos de pósgraduação lato sensu e de alguns grupos de pesquisa em universidades públicas Foi também nessas instituições que a medicina e a psicologia se uniram enquanto ciência para o estudo da sexualidade e das disfunções sexuais Disfunções sexuais masculinas e femininas A saúde sexual é um estado de completo bemestar físico emocional mental associado à sexualidade e não só à ausência de doença ou enfermidade ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE 1993 A pessoa pode apresentar alterações ou perturbações no seu ciclo de resposta sexual surgindo as dificuldades ou disfunções sexuais que impedem a vivência de uma vida sexual satisfatória e grati ficante NOBRE 2005 As disfunções sexuais podem ser desencadeadas por causas orgânicas e muitas vezes agravadas pela sua repercussão emocional FONSECA SOARES VAZ 2001 Problemas de saúde físicos e psicológicos uso de medicamentos tabagismo uso de drogas inclusive álcool problemas afetivos ou de natureza relacional falta de experiência sexual e de conhecimento do corpo traumas sexuais assim como fatores socioeconômicos e profis sionais podem refletirse de forma negativa na resposta sexual Uma disfunção pode ser primária se coincide com o início da atividade sexual e secundária se foi adquirida ao longo da vida Pode ser generalizada se está presente em qualquer circunstância ou situacional se está presente apenas em determinadas circunstâncias NOBRE 2010 Desse modo as disfunções sexuais caracterizamse pela falta excesso desconforto eou dor na expressão e no desenvolvimento desse ciclo o que afeta uma ou mais das fases deste ABDO FLEURY 2006 p 163 Quanto mais precocemente incidir o comprometimento desse ciclo mais prejuízo acarretará à resposta sexual e mais complexos serão o quadro clínico e respectivos prognós tico e tratamento ABDO 2004 A disfunção sexual por tanto implica pois alguma alteração em uma ou mais das fases do ciclo de resposta sexual ou dor associada ao ato o que se manifesta de forma persistente ou recor rente ABDO FLEURY 2006 p 163 A Associação Psiquiátrica Americana 2002 assim classifica as disfunções sexuais Transtornos do desejo sexual 30271 Transtorno do desejo sexual hipoativo deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de ter atividade sexual 30279 Transtorno de aversão sexual aversão e esquiva ativa do contato sexual genital com um parceiro sexual Transtornos da excitação sexual 30272 Transtorno da excitação sexual feminina incapa cidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual adequada de lubrificaçãoturgescência até a consumação da atividade sexual 30272 Transtorno erétil mas culino incapacidade persistente ou recorrente de obter ou manter ereção adequada até a conclusão da atividade sexual Transtornos do orgasmo 30273 Transtorno do orgasmo feminino atraso ou ausência persis tente ou recorrente de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual 30274 Transtorno do orgasmo masculino atraso ou ausência persistente 51 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana ou recorrente de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual 30275 Ejaculação precoce início persistente ou recorrente de orgasmo e eja culação com estimulação mínima antes durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo o deseje Transtornos sexuais dolorosos 30276 Dispareunia feminina e masculina dor genital associada com intercurso sexual Embora a dor seja experimentada com maior frequência durante o coito também pode ocorrer antes ou após o intercurso 30651 Vaginismo contração invo luntária recorrente ou persistente dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina quando é tentada a penetração vaginal com pênis dedo tampão ou espéculo Disfunção sexual devido a uma condição médica geral presença de disfunção sexual clinicamente significativa considerada exclusivamente decor rente dos efeitos fisiológicos diretos de uma con dição médica geral Disfunção sexual induzida por substância dis função sexual clinicamente significativa que tem como resultado um acentuado sofrimento ou difi culdade interpessoal plenamente explicada pelos efeitos fisiológicos diretos de uma substância droga de abuso medicamento ou exposição à toxina 30270 Disfunção sexual sem outra especificação disfunções sexuais que não satisfazem os critérios para qualquer disfunção sexual específica Outra classificação foi proposta pela Organização Mundial da Saúde 1993 para as disfunções sexuais de base psiquiátrica Dos capítulos Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas e fatores físicos F50 F59 e Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos F60F69 da Classificação Internacional de Doenças CID10 constam ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE 1993 F52 Disfunção sexual não causada por trans torno ou doença orgânica F520 Ausência ou perda do desejo sexual Frigidez Transtorno hipoativo do desejo sexual F521 Aversão sexual e ausência de prazer sexual Anedonia sexual F522 Falha de resposta genital disfunção de ereção no homem F523 Disfunção orgásmica Anorgasmia psicogê nica Inibição do orgasmo na mulher no homem F524 Ejaculação precoce F525 Vaginismo não orgânico Vaginismo psicogênico F526 Dispareunia não orgânica Dispareunia psicogênica F527 Apetite sexual excessivo Ninfomania Satiríase F528 Outras disfunções sexuais não devidas a transtorno ou à doença orgânica Dismenorréia psicogênica F529 Disfunção sexual não devida a transtorno ou à doença orgânica não especificada Dada a multiplicidade de fatores envolvidos reco mendase avaliação psicossocial de preferência por equipe multidisciplinar ABDO FLEURY 2006 p 165 principal mente naqueles casos em que a disfunção ocorre desde o início da vida sexual ou sofre influência de condições psico lógicas e relacionais tais como condições de vida estres santes mudanças na parceria conflitos no vínculo conjugal e disfunção sexual do parceiro Aspectos psicológicos das disfunções sexuais Os fatores psicológicos incluem aspectos emocio nais e cognitivos associados à experiência sexual Emoções negativas como a culpa a vergonha ou a raiva podem des truir os sentimentos de prazer CARVALHEIRA ALLEN GOMES 2002 Algumas mulheres destacam o medo da entrega na atividade sexual outras o medo de perder o controle na relação com o parceiro Quando fatores psi cológicos supostamente desempenham um papel impor tante no início na gravidade na exacerbação ou na manu tenção da disfunção sexual é possível afirmar que se trata de um subtipo diagnóstico caracterizado como disfunção sexual devido a fatores psicológicos HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 12 Os fatores psicológicos como a depressão ou as per turbações da ansiedade podem contribuir para a diminuição do desejo sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 21 Além disso outras causas psi cológicas das disfunções sexuais são citadas Situações traumáticas de abuso sexual ou estupro Mensagens antisexuais durante a infância como escu tar dos pais que sexo é sujo Culpas Comportamento sedutor ou controlador por parte dos pais Dificuldade em unir amor com sexo na mesma pessoa esposa X prostituta Raivas entre o casal Competição temida com o pai ou mãe entre outros Falta de informa ção e crenças erradas ou negativas sobre a sexualida de culpa educação conservadora Inexperiência que pode conduzir a medos ou bloqueios e a uma resposta condicionada Experiências prévias com dor Traumas HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 2527 No que tange à disfunção erétil por exemplo uma das principais disfunções sexuais masculinas a idade é um 52 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana fator importante Enquanto os indivíduos mais jovens têm mais probabilidade de desenvolver disfunção eréctil de causa psicológica os homens com mais idade desen volvem habitualmente disfunção eréctil de causa orgânica devido a uma maior comorbidade com diversos fatores de risco HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 30 Geralmente esse tipo de disfunção está relacionado ao estresse ou à ansiedade por parte do paciente e o tratamento indicado inclui terapia sexual psicoterapia e medicação O mesmo ocorre com a disfunção orgástica mas culina que resulta em medo da estimulação inadequada medo da gravidez medo de uma relação que envolve compromisso medo de não apresentar uma performance adequada traumas sexuais prévios hostilidade da par ceira problemas na relação conjugal ou medo da homos sexualidade latente HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 37 A inibição do orgasmo masculino consiste pois em uma dificuldade per sistente de atingir o orgasmo apesar da presença do desejo de excitação e estimulação HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 37 Isso ocorre quando o homem não consegue ejacular junto da parceira mas conseguindo ejacular na masturbação ou durante o sono Outro transtorno que sofre bastante influência dos fatores psicológicos é o Transtorno de Aversão Sexual caracterizado pela esquiva ativa do contato sexual genital com um parceiro sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 45 Esse tipo de perturbação está intimamente relacionado a um acentuado sofrimento nas relações interpessoais Nesse caso o indivíduo relata ansiedade medo ou repulsa ao se defrontar com uma oportunidade sexual com uma par ceiroa A aversão ao contato genital pode concentrarse em um determinado aspecto da experiência sexual secre ções genitais penetração vaginal Pode também se apre sentar como uma repulsa generalizada a quaisquer estí mulos sexuais inclusive beijos e toques A intensidade da reação do indivíduo quando exposto aos estímulos aver sivos pode variar desde uma ansiedade moderada e falta de prazer até um extremo sofrimento psicológico HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 No caso das mulheres uma das disfunções mais afetadas pelos fatores psicológicos é o Transtorno de Excitação ou Frigidez Tratase da incapacidade persis tente ou recorrente de adquirir ou manter a lubrificação e a turgescência vaginal até o fim do ato sexual Geralmente a mulher nessas condições tem pouca ou nenhuma sen sação de excitação HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 19 O que se sabe é que fatores psicológicos tais como depressão ou perturba ções da ansiedade podem contribuir para a diminuição do desejo sexual IMPEMIG 2019 p 21 Atitudes negativas face ao sexo educação sexual repressiva histo rial de violênciaabuso e dispareunia são alguns dos fatores que podem contribuir para esta dificuldade Fatores psicológicos de ordem relacional como a falta de estimulação adequada doa parceiroa e a deficiente comunicação também contribuem para as disfunções de ordem psicológica A perturbação do orgasmo feminino por exemplo que consiste na difi culdade ou incapacidade persistente ou recorrente de atingir o orgasmo após uma fase normal de excitação sexual HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 23 pode ter relação com atitudes negativas dessa mulher em relação à atividade sexual Ainda sobre as disfunções sexuais da mulher vincu ladas aos fatores psicológicos é possível citar o Vaginismo que consiste na dificuldade da mulher em tolerar a pene tração devido à contração involuntária recorrente ou persistente dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina HALL INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS 2019 p 25 Tratase da contração involuntária dos músculos próximos à vagina que acabam impedindo a penetração pelo pênis dedo espéculo gine cológico ou mesmo um tampão As intervenções terapêuticas diante das disfunções sexuais têm portanto relação com a falta de interesse pelo sexo a diminuição do desejo ou a dificuldade na exci tação CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 130 Para tanto existem abordagens diversas dentre as quais é possível destacar intervenções no sentido de explorar essas inibições desmistificar e derrubar crenças disfun cionais adquiridas ao longo da vida resultantes de uma repressão sexual É necessário portanto focar nas carac terísticas nãodesejadas da relação ou do companheiro buscando uma reestruturação cognitiva CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 131 A intervenção se dá portanto na dinâmica das rela ções afetivas para promover a comunicação sexual e dar a conhecer ao outro os estímulos que lhe são mais ade quados e preferidos Em termos terapêuticos procurase criar situações não exigentes nas quais possa ocorrer a excitação sexual num contexto mais livre de pressão CARVALHEIRA ALLENGOMES 2002 p 131 São recomendados também exercícios de autoestimulação ou de masturbação com o objetivo de explorar o corpo e descobrir o prazer no nível individual para depois asso ciar essa prática em um nível relacional Conclusão Esse artigo procurou mostrar a sexologia clínica em seu aspecto histórico para contextualizar as disfunções sexuais e o papel do psicólogo ao longo do desenvolvi mento da atuação nesse campo no Brasil As disfunções sexuais englobam todas as formas de vivências insatisfatórias 53 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana no relacionamento sexual desde a dificuldade em sentir prazer ou satisfação até a incapacidade em satisfazer oa parceiroa Buscou também evidenciar as principais carac terísticas das disfunções sexuais masculinas e femininas O foco foi nos aspectos psicológicos dessas disfunções ou inadaptações Procurouse ainda mostrar as possibilidades de intervenção terapêutica no âmbito da Psicologia o que tornou evidente os benefícios desse tipo de tratamento Para tanto procurouse reforçar a necessidade de uma abordagem terapêutica multidisciplinar de maneira que oa psicólogoa estaria integrando uma equipe de profissionais interessados em estabelecer uma relação saudável com a sexualidade de um modo mais abran gente Esse esforço buscou assim mostrar que é possível reconfigurar estados emocionais e determinados con juntos de crenças e pensamentos que atuam de forma destrutiva nessas relações destacando também a impor tância de osas parceiros estarem sempre afinados em seus desejos Referências ABDO C H N Descobrimento sexual do Brasil São Paulo Summus 2004 ABDO C H N Ciclo de resposta sexual menos de meio século de evolução de um conceito Diagnóstico e Tratamento São Paulo v 10 n 4 p 220222 2005 ABDO C H N FLEURY H J Aspectos diagnósticos e terapêuticos das disfunções sexuais femininas Revista de Psiquiatria Clínica São Paulo v 33 n 3 p 162167 2006 Disponível em httpwwwscielobrpdfrpcv33n 3a06v33n3pdf ALARCÃO V MACHADO F L GIAMI A A construção da sexologia como profissão em Portugal composição de um grupo profissional e tipos de sexólogos Ciência Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 21 n 2 p 629640 2016 Disponível em httpswwwscielosporgpdfcsc2016 v21n2629640pt Acesso em 01 nov 2019 ALVES G da S O que é sexologia clínica 2013 Disponível em httpsterapiandocombroque esexologiaclinica Acesso em 01 nov 2019 BÉJIN A O poder dos sexólogos e a democracia sexual In ARIÈS P BÉJIN A org Sexualidades ocidentais São Paulo Brasiliense 1987 p 236254 CAVALCANTI R C SERRANO R H LOPES G Ejaculação precocerápida Consenso da Academia Internacional de Sexologia Médica Rio de janeiro Guanabara Koogan 2005 CARVALHEIRA A A ALLENGOMES F A A disfunção sexual na mulher In OLIVEIRA C F ed Manual de Ginecologia Coimbra HUC 2002 p 119134 Disponível em httprihuchuc min saudeptbitstream1040047181A20 disfunC3A7C3A3o20 sexual20 na20mulherpdf Acesso em 01 nov 2019 FIGUEIRÓ M N D Revendo a história da educação sexual no Brasil ponto de partida para construção de um novo rumo Nuances Presidente Prudente v IV p 123133 set 1998 FONSECA L SOARES C VAZ J As disfunções sexuais femininas In FONSECA L SOARES C VAZ J Sexologia perspectiva multidisciplinar São Paulo Quarteto 2001 FOUCAULT M História da sexualidade I a vontade de saber 13 ed Rio de Janeiro Graal 2006 GIAMI A The social and professional diversity of sexology and sextherapy In HALL K INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS Disfunções sexuais Belo Horizonte IPEMIG 2019 Material didático do Curso de Sexologia IRVINE J M Disorders of desire sexuality and gender In IRVINE J M Modern American Sexology Philadelphia Temple University Press 2005 LARA L A S et al Abordagem das disfunções sexuais femininas Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia São Paulo v 30 n 6 p 312321 2008 Disponível em httpwwwscielobrpdf rbgov30n608pdf Acesso em 01 nov 2019 NOBRE P As disfunções sexuais Rio de Janeiro Climepsi 2005 NOBRE P Determinantes psicológicos do funcionamento sexual Acta Portuguesa de Sexologia n 1 3244 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID10 Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas Porto Alegre Artmed 1993 RUSSO J et al O campo da sexologia no Brasil constituição e institucionalização Physis Revista de Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 19 n 3 54 Revista Brasileira de Sexualidade Humana RBSH 2019 302 4754 DOI httpsdoiorg1035919rbshv30i283 2019 SBRASH Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana p 617636 2009 Disponível em httpwww scielobrpdfphysisv19n3a04v19n3pdf Acesso em 01 nov 2019 RUSSO J et al Histórico do campo da sexologia no Brasil In RUSSO J et al Sexualidade ciência e profissão no Brasil Rio de Janeiro CEPESC 2011 Disponível em httpwwwclamorgbr uploadsconteudosexualidadecienciaprofissao pdf Acesso em 01 nov 2019 RUSSO J A terceira onda sexológica medicina sexual e farmacologização da sexualidade Sexualidad Salud y Sociedad Rio de Janeiro v 14 p 172194 Aug 2012 WEEKS J Sexuality and its discontents meanings myths and modern sexualities London Taylor 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