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738 738 Preparação para a Aposentadoria como parte da Educação ao Longo da Vida Retirement Preparation as Part of Lifelong Learning Preparación para la Jubilación como parte de la Educación a lo Largo de la Vida Artigo Lucia Helena de Freitas Pinho França Universidade Salgado de Oliveira Dulce Helena Penna Soares Universidade Federal de Santa Catarina PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 739 Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida Resumo O processo de globalização trouxe para as grandes organizações uma série de consequências entre as quais a prática das aposentadorias incentivadas em que diversos trabalhadores experientes foram dispensados muitos sem qualquer preparação para uma vida que pode durar mais do que o tempo dedicado ao trabalho Hoje muitas organizações já reconhecem o valor dos trabalhadores mais velhos que se atualizados podem continuar tão motivados quanto já demonstraram em capacidade e experiência Entretanto alguns precisam ou desejam se aposentar aproveitando o tempo livre para realizar atividades de desenvolvimento pessoal de lazer de cuidado com a saúde desenvolvimento de projetos pessoais relacionamentos sociais e familiares e mesmo para o engajamento em uma atividade profissional mais prazerosa Este artigo pretende oferecer uma perspectiva do envelhecimento dos trabalhadores nas organizações e do desafio de lidar com a aposentadoria analisandose aspectos e variáveis que podem facilitar ou dificultar o bemestar das pessoas nessa transição Mais do que focar nas teorias que estariam fundamentando os Programas de Preparação para a Aposentadoria PPAs o artigo apresenta algumas pesquisas empíricas de forma a incentivar a reflexão dos psicólogos sociais organizacionais e orientadores profissionais sobre as suas possibilidades de inserção nessa área de atuação Palavraschave Programa de Preparação para Aposentadoria PPA Educação ao longo da vida Transição de carreira Projeto de vida Abstract Globalization has brought a number of consequences to large organizations amongst which are incentives such as pensions and the laying off of a number of experienced employees who were unprepared in most cases for a life that could last longer than the time they dedicated to their work Today many organizations have begun to recognize the value of the older employees who if brought up to date may not only remain motivated but also demonstrate their capacity and experience However some do need or want to retire to spend most of their free time for personal development leisure health personal projects relationships with friends and family and even to engage in more enjoyable professional activities The purpose of this article is to provide a perspective of the aging of employees within organizations and the challenges they face with retirement assessing the aspects and variables that may facilitate or complicate the well being of these people through this transition More than just focusing on theories based on Retirement Preparation Programs RPPs the article presents some empirical surveys to encourage reflection by social organizational psychologists and professional counselors about the possibilities of their integration into this area Keywords Retirement Preparation Programs RPPs Lifelong learning Career transition Lifetime project Resumen El proceso de globalización trajo para las grandes organizaciones una serie de consecuencias entre las cuales la práctica de las jubilaciones incentivadas en que diversos trabajadores con experiencia fueron dispensados muchos sin cualquier preparación para una vida que puede durar más de que el tiempo dedicado al trabajo Hoy muchas organizaciones ya reconocen el valor de los trabajadores mayores que si son actualizados pueden continuar tan motivados como ya demostraron en capacidad y experiencia Mientras algunos necesitan o desean jubilarse aprovechando el tiempo libre para realizar actividades de desarrollo personal de ocio de cuidado con la salud desarrollo de proyectos personales relaciones sociales y familiares e incluso para el encaje en una actividad profesional más placentera Este artículo pretende ofrecer una perspectiva del envejecimiento de los trabajadores en las organizaciones y del desafío de manejar la jubilación analizándose aspectos y variables que pueden facilitar o dificultar el bienestar de las personas en esa transición Más que enfocar en las teorías que estarían fundamentando los Programas de Preparación para la Jubilación PPAs el artículo presenta algunas pesquisas empíricas de forma a incentivar la ponderación de los psicólogos sociales organizacionales y orientadores profesionales sobre sus posibilidades de inserción en esa área de actuación Palabras clave Programa de Preparación para Jubilación PPA Educación a lo largo de la vida Transición de carrera Proyecto de vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 A preocupação para os países como o Brasil está em assegurar recursos suficientes para pagar pensões dignas e ao mesmo tempo garantir os serviços de saúde a uma população de idosos que aumenta vertiginosamente e cujos tratamentos têm custos maiores O aumento da expectativa de vida é um desafio mundial que atinge tanto os países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento embora a maior diferença entre eles resida na esfera econômica pelo fato de que antes de se tornarem velhos os países desenvolvidos se tornaram ricos 740 contradições observadas tanto naqueles que estão na transição quanto nos vários segmentos da sociedade e essa falta de preparo pode provocar uma série de conflitos De um lado estão aqueles que podem planejar se aposentar com maior tranqüilidade podendo transformar essa fase em uma oportunidade de balanço do despertar de novas possibilidades seguidas por um recomeço ou otimização da vida por outro lado a aposentadoria hoje e especialmente no Brasil Camarano 2001 não representa necessariamente a saída dos trabalhadores do mercado de trabalho uma vez que muitos desejam continuar a ter uma atividade remunerada Além disso em 2020 esperase que 11 da população economicamente ativa seja constituída por trabalhadores idosos o que segundo Camarano é um contingente expressivo Teorias relacionadas à aposentadoria Ao longo dos últimos 30 anos um número efervescente de pesquisas empíricas e modelos teóricos proliferou na área da aposentadoria principalmente nos países desenvolvidos onde o contingente de idosos foi mais evidenciado Para se entender melhor o trabalho de grande parte dos pesquisadores citados neste artigo serão apresentadas a seguir as principais teorias subjacentes ao processo de decisão da aposentadoria Teoria dos papéis focaliza os papéis que as pessoas ocupam na sociedade e a maneira pelas quais elas transitam entre esses papéis Ashforth 2001 Ao longo da vida as pessoas podem assumir papéis diversificados filho marido pai trabalhador voluntário aposentado identificados em diversos contextos seja na família seja na organização ou na sociedade A transição dos papéis se dá quando ocorre uma mudança A expectativa de vida dos brasileiros atualmente é de 73 anos o que representa mais de 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais Em 2050 a expectativa de vida alcançará 81 anos Nessa época o País terá igual número de idosos e de jovens que representarão 18 da população geral ou 47 milhões de pessoas em cada uma dessas faixas etárias Por outro lado as Nações Unidas 2002 indicam que a taxa de dependência dos aposentados da classe economicamente ativa tende a cair gradualmente ao longo dos próximos anos O Brasil em 2050 terá apenas três trabalhadores para sustentar um aposentado Todas essas projeções são preocupantes pois os recursos não serão suficientes para garantir o bemestar da população que está envelhecendo Assim uma série de medidas com a participação de todos os setores da sociedade precisa ser adotada No que diz respeito ao mundo do trabalho uma das mais veementes recomendações da OMS Organização Mundial de Saúde e da ONU Organização das Nações Unidas adotadas no último encontro mundial sobre envelhecimento em Madrid foi a de garantir a mobilidade a independência e a saúde dos trabalhadores e aposentados à medida que envelhecem Essas recomendações OMS 2002 apontam políticas e ações a serem propostas pelas organizações diante das necessidades de atualização dos trabalhadores mais velhos da flexibilização de horários de trabalho da redução dos preconceitos quanto à idade ageismo ou idadismo e harmonia nas equipes intergeracionais e da promoção dos programas de preparação para a aposentadoria para aqueles que desejam ou precisam sair do mercado de trabalho Por ser uma temática ainda nova a aposentadoria é acompanhada de Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 741 entre dois papéis na mesma época micro ou em diferentes períodos na vida macro De acordo com Ashforth a decisão de se aposentar pode ser vista como uma transição de papel macro na qual o trabalhador se retira de um papel para entrar em outro Teoria da continuidade de acordo com Atchley 1989 as pessoas tendem a manter por muito tempo padrões consistentes com as suas características psicológicas e seus ambientes físicos e sociais A continuidade interna se refere às características psicológicas tais como autoconceito idéias atitudes interesses preferências e comportamentos A continuidade externa estaria relacionada ao ambiente físico e social A adaptação das pessoas às mudanças quando confrontadas com desafios como o envelhecimento ocorreria tanto através da continuidade interna quanto da externa Atchley destaca que a aposentadoria é uma transição que se inicia antes do desligamento do trabalhador e continua até alguns anos depois do evento em si Essa teoria rejeita a falta de função dos aposentados e enfatiza a importância de um trabalho em regime parcial voluntário ou pago Kim Feldman 2000 ou a sua substituição por outras atividades que tragam satisfação às pessoas Perspectiva do curso de vida essa teoria é baseada no entendimento do comportamento da pessoa através da sua história de vida e do contexto no qual o evento está ocorrendo Elder Johnson 2003 Kim Moen 2002 Quick Moen 1998 Szinovacz 2003 Tanto a história quanto o contexto podem criar caminhos para a transição determinando os significados e estabelecendo as trajetórias através e além da transição Um dos pesquisadores que aplicaram esse modelo para a aposentadoria reforçou os contextos dos indivíduos em nível micro e macro O contexto micro inclui as variáveis personalógicas como saúde riqueza financeira capital humano e família e as características psicológicas como personalidade atitudes e padrões de comportamento Já o contexto macro traduz as políticas governamentais as condições do mercado de trabalho bem como as estruturas e as normas da população França e Vaughan 2008 ressaltam que a teoria da continuidade e a do curso de vida não são excludentes mas complementares Eles argumentam que a aposentadoria é uma transição que pode trazer perdas e ganhos dependendo do contexto socioeconômico político e cultural do país onde os aposentados vivem bem como das retrospectivas e perspectivas individuais e familiares na época do evento Essa transição deve incorporar o projeto de vida que além de outros aspectos como o lazer e os relacionamentos pode incluir um trabalho voluntário ou remunerado em horário reduzido A importância do trabalho e da educação ao longo da vida No final do século passado testemunhamos o boom das aposentadorias incentivadas Hoje os países reconhecem o valor da mão de obra mais velha que pode ser tão atualizada motivada e habilidosa quanto a capacidade e a experiência que já provaram possuir Assim a aposentadoria deve ser uma livre escolha embora o planejamento seja fundamental para a adaptação nessa transição Para alguns trabalhadores o trabalho está intimamente relacionado a sua identidade e a aposentadoria não deve representar o fim do trabalho Ashforth 2001 Por outro lado há trabalhadores que gostariam de mudar o estilo de vida ajudando o próximo ou a sociedade ou mesmo dedicar mais tempo aos amigos à família aos estudos ou ao lazer Elder Johnson 2003 Tanto para aquele França e Vaughan 2008 ressaltam que a teoria da continuidade e a do curso de vida não são excludentes mas complementares Eles argumentam que a aposentadoria é uma transição que pode trazer perdas e ganhos dependendo do contexto socioeconômico político e cultural do país onde os aposentados vivem bem como das retrospectivas e perspectivas individuais e familiares na época do evento Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 742 que deseja continuar no mercado como para aquele que vislumbra a sua saída é preciso haver uma atenção especial por parte da gestão de pessoas com aqueles trabalhadores obcecados pelo trabalho e com dificuldades para sequer imaginar o tempo livre que têm agora e terão no futuro No caso dos executivos via de regra a aposentadoria não exclui o trabalho podendo estar incorporada a um novo começo que representa a oportunidade de experimentar um trabalho provisório um trabalho de consultoria ou ingressar em atividades de voluntariado França 2004 2008 Entretanto recomendase que o trabalho pósaposentadoria seja realizado em regime de meioperíodo de forma que essas pessoas tenham oportunidade de equilibrar o seu tempo livre para lazer voluntariado e outras atividades que lhes dêem prazer Kim Feldman 2000 A demanda atual das organizações é oferecer um sistema que garanta o bemestar dos trabalhadores mais velhos e dos que estão se aposentando sem perder de vista o estímulo à motivação e à produtividade das equipes intergeracionais e a responsabilidade social com todos os seus trabalhadores mesmo com aqueles que estejam deixando as organizações França 2008 O desafio está em identificar aqueles que desejam precisam e têm condições de continuar no mesmo tipo de trabalho que desejam um trabalho diferente ou mesmo que queiram se aposentar definitivamente e apoiálos nessa fase A chave para esse desafio está na educação ao longo da vida lifelong learning processo que prevê a educação tanto para a continuidade quanto para a saída do mercado de trabalho França Stepansky 2005 Como foi enfatizado por Holzmann 2002 a educação ao longo da vida ou LLL permite o acesso das pessoas à aprendizagem quando elas mais precisam e não por terem atingido uma certa idade É um processo que engloba o aprendizado formal escolas instituições de treinamento universidades o aprendizado nãoformal treinamento no trabalho e o treinamento informal família e comunidade estendendose da infância à aposentadoria Na educação ao longo da vida devem estar contidos os programas de atualização e desenvolvimento o insumo de novas metodologias a inserção digital para os trabalhadores mais velhos a quebra dos preconceitos contra o envelhecimento a integração entre os trabalhadores mais velhos e mais jovens e os PPAs Conforme apontam França e Stepansky o trinômio educação trabalhoaposentadoria não precisa seguir essa ordem e para tanto é fundamental a atualização dos trabalhadores mais velhos de forma a serem reinseridos no mercado se assim o desejarem Para desenvolver essa empregabilidade é fundamental uma mudança na legislação trabalhista na flexibilização dos horários e na criação de novos contratos de trabalho Stepansky França 2008 Tais medidas permitem que os mais velhos exerçam a função de repassadores de conhecimento e ao mesmo tempo de receptores de tecnologia Asssim esses resultados renderão às empresas o retorno da lucratividade e produtividade ao mesmo tempo em que elas terão um trabalhador motivado reforçado em sua auto estima e autoimagem com oportunidade da complementação da renda p 54 Atitudes dos trabalhadores frente à aposentadoria A adaptação à aposentadoria depende de diversos fatores Sob o ponto de vista psicossocial é fundamental que sejam analisadas as atitudes dos trabalhadores diante das perdas e os ganhos que acompanham essa Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 743 transição de forma que os ganhos possam ser reforçados e o impacto das perdas sejam contornados através do planejamento Para analisar as atitudes dos executivos de grandes organizações frente à aposentadoria França 2004 construiu duas escalas uma que mede a importância dos ganhos percebidos na aposentadoria EPGR e outra que mede a importância das perdas percebidas na aposentadoria EPLR que foram validados e cuja análise fatorial apresentou cinco dimensões de ganhos e quatro dimensões de perdas França Vaughan 2008 As cinco dimensões dos ganhos na aposentadoria foram i liberdade do trabalho ii ter mais tempo para os relacionamentos iii novo começo iv ter mais tempo para atividades culturais e de lazer v ter mais tempo para os investimentos As dimensões de perdas foram agrupadas em quatro grupos i aspectos emocionais do trabalho ii aspectos tangíveis do trabalho iii relacionamentos do trabalho iv salários e benefícios As atitudes frente à importância dos ganhos e das perdas da aposentadoria dependem de diversos aspectos que irão variar de acordo com a perspectiva individual social familiar econômica sociopolítica e ambiental da coletividade onde os aposentados estão inseridos Os preditores individuais diziam respeito ao salário ao percentual de perda esperada na aposentadoria à saúde e à proximidade da aposentadoria Os preditores sociais compreendiam quatro escalas elaboradas por França 2004 a influência da família e dos amigos na decisão da aposentadoria FFIRD a distribuição do tempo livre entre as atividades de lazer e cultura educação trabalho na comunidade espiritualidade cuidado com a saúde cuidado pessoal rotinas domésticas clubes política e dedicação de tempo para os relacionamentos afetivos sociais e familiares o envolvimento e a satisfação que os trabalhadores mantêm com o trabalho JPS e as condições de vida da coletividade onde se insere o futuro aposentado PCQL Os resultados da pesquisa de França 2008 com os executivos revelaram que os preditores sociais são mais eficazes do que os individuais ao prever as atitudes dos executivos bem como influenciavam mais atitudes positivas do que negativas frente à aposentadoria Dentre os preditores que mais influenciavam as atitudes positivas estavam a alocação de tempo em atividades diversificadas e a influência da família e dos amigos na decisão da aposentadoria Esse último resultado corroborou os de outros pesquisadores Smith Moen 1998 Szinovacz DeViney Davey 2001 Assim um programa de preparação para a aposentadoria deve reforçar o estímulo ao engajamento em atividades diversificadas e à harmonia no relacionamento familiar Os Programas de Preparação para a Aposentadoria PPA A transição da aposentadoria pode gerar ansiedade principalmente pela falta de um planejamento que auxilie os trabalhadores a usufruir melhor o tempo nessa nova fase da vida Bossé Aldwin Levenson Workman Daniels 1991 Para que a transição trabalho aposentadoria seja efetivada de maneira mais tranqüila é fundamental que sejam propostos programas de preparação para a aposentadoria nas organizações enquanto planejamento para o futuro França 2002 O PPA facilita o bemestar dos futuros aposentados pois enfatiza os aspectos positivos e oportuniza a reflexão sobre os aspectos negativos da transição bem como a discussão de alternativas para lidar com eles É a oportunidade para receber informações e para a adoção de práticas e estilos de vida que promovam a saúde É também o momento para reconstruir o projeto de vida a curto médio e longo prazos priorizando os seus interesses e as atitudes que precisa tomar para Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 744 realizar seus projetos pessoais e familiares O bemestar dos aposentados representa sem dúvida um saldo positivo para toda a sociedade pois afasta as possibilidades de doença e por sua vez acaba se revertendo em economia para os serviços de saúde quer públicos quer privados Em uma investigação realizada com 320 organizações brasileiras apenas 18 adotavam o PPA embora muitos dos seus principais executivos 75 tenham admitido que esses programas eram importantes para os trabalhadores França 2008 Mesmo nas organizações que adotam tais programas poucos são os profissionais que realizaram algum curso sobre envelhecimento ou mesmo que tiveram oportunidade de realizar um diagnóstico sobre as percepções dos trabalhadores diante da aposentadoria e de seu respectivo planejamento A organização ao oferecer um programa que propicie bem estar aos seus empregados acaba por agregar valor ao seu produto sem falar no clima organizacional em que trabalhadores jovens e mais velhos percebam a preocupação com o bemestar dos empregados Aspectos básicos a serem considerados em um programa O PPA deve conter um módulo informativo e um módulo experiencial ou formativo França 2002 O primeiro deverá oferecer palestras com profissionais que trabalham com a aposentadoria entrevistas com aposentados bem sucedidos e empreendedores dicas sobre bemestar e saúde e apresentações sobre criatividade e hábitos saudáveis com psicólogos e médicos geriatras O módulo informativo deve prever a presença de um familiar ou amigo convidado pelo aposentável para participar de algumas palestras e workshops Apesar da relevância do módulo informativo ele deve ser complementado pelo módulo experiencial que deverá aprofundar aspectos relacionados à qualidade de vida na aposentadoria tais como planejamento financeiro a médio e a longo prazo dieta e nutrição relacionamento familiar e social atividades de lazer e educacionais e atividades remuneradas ou voluntárias As vivências dinâmicas de grupo e os workshops são metodologias privilegiadas nesse módulo O módulo informativo deve ter a duração aproximada de um ano Assim que os aposentáveis optarem pela aposentadoria é sugerido o seu ingresso no módulo formativo com a duração sugerida também de um ano Entretanto alguns conteúdos contidos no planejamento para a aposentadoria que envolvem os fatores de risco devem ser iniciados assim que o trabalhador ingressa na organização e ao longo da sua carreira França 2002 O acompanhamento do programa é também um ponto crucial para seu sucesso A preparação para a aposentadoria não termina com a saída da empresa pelos trabalhadores que devem ser acompanhados até cinco anos após sua saída A avaliação deve ser periódica e prever continuidade após a aposentadoria Para homens e mulheres o trabalho parece ser o grande indicativo de bemestar psicológico na aposentadoria mas este deve ser analisado no contexto temporal do curso de vida para ambos No caso dos homens nos dois primeiros anos a moral ainda está em alta mas a ausência do trabalho nos anos subseqüentes ao período de luademel nos dois primeiros anos pode levar à depressão Mann 1991 Tudo indica que a rede de contatos sociais exerce grande influência na aposentadoria das mulheres que com mais compromissos sociais e contatos apresentam maior satisfação na aposentadoria Reeves Darville 1994 Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 745 A importância do projeto de vida no PPA Se a aposentadoria é de livre escolha o projeto de vida pósaposentadoria é a oportunidade que o trabalhador tem para experimentar novas situações desenvolver habilidades aptidões e mesmo descobrir novos interesses O projeto oferece a possibilidade de inserir contextos tão importantes quanto o trabalho como a saúde os relacionamentos os investimentos as atividades intelectuais domésticas culturais e o lazer Na aposentadoria o trabalho como uma atividade laborativa formal ou não formal remunerada ou voluntária deverá ocupar um espaço compartimentado e realizado em período reduzido Quick Moen 1998 Há uma carência de estudos sobre o conceito de projeto de vida no Brasil em especial com a população de aposentados A elaboração de projetos é uma característica essencialmente humana que inclui não somente a intenção de realizar algo para o futuro mas também a de viver a própria vida como um projeto O projeto implica uma dimensão temporal o futuro sob forma de antecipação e a noção de abertura como algo ainda não determinado um porvir O projeto de futuro está em constante transformação simbolizando assim sua contínua construção e reconstrução Soares Sestren 2007 Segundo Boutinet 1990 ao mesmo tempo em que o projeto é o momento que integra em seu interior a subjetividade e a objetividade é também o momento que funde em um mesmo todo o futuro previsto e o passado recordado Através do projeto constróise um futuro desejado esperado O projeto não pode ser para um futuro longínquo nem também se limitar a ser muito imediato Seu caráter parcialmente determinado faz com que ele não seja totalmente realizado sempre passível de modificações Isso significa que todo projeto através da identificação de um futuro desejado e dos meios próprios para tornálo realidade se dá num certo horizonte temporal no interior do qual ele evolui Mas o projeto não termina no ambiente onde sua evolução é previsível Ele diz respeito primeiramente ao autor e se dá uma perspectiva de um futuro que é almejado Boutinet define então projeto como a antecipação operatória individual ou grupal de um futuro desejado Boutinet descreveu três etapas características marcada pela elaboração de projetos na França o projeto adolescente de formação profissional e inserção no mercado o projeto vocacional de adulto e o projeto de aposentadoria Perguntamosnos como ficam os projetos dos aposentados ao repensarem sua trajetória profissional e reviverem as questões relativas aos projetos idealizados ainda quando jovens se estes foram ou não realizados em toda uma vida de trabalho E quais os projetos que ficaram para trás e não puderam ser realizados Será que esses sujeitos que agora deixam o mundo do trabalho puderam realizar os seus próprios projetos profissionais ou trabalharam no que foi possível no emprego que conseguiram Nessa perspectiva o projeto de vida na aposentadoria poderá contemplar também o reingresso no mercado de trabalho Um exemplo de avaliação e reconstrução de projeto de vida que pode ser utilizado nos programas de preparação para a aposentadoria é a autobiografia orientada proposta pelo gerontólogo James Birren Birren Deutchman 1991 que incentiva a autoestima e a habilidade para controlar a própria vida A autobiografia orientada é um tipo de avaliação do que as pessoas viveram no sentido de projetar o que querem realizar para o futuro A autobiografia foi formulada Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 746 para combinar as experiências individuais e de grupo com as histórias de vida utilizando revisões semiestruturadas da vida através de redações realizadas pelos participantes em torno de temas Esses temas partem de pontos ramificadores da vida das pessoas como por exemplo o trabalho o papel do dinheiro a saúde e a imagem do corpo amor e ódio identidade sexual família experiências com a morte e outras perdas aspirações metas valores e influências que sejam significativas para as pessoas O facilitador do PPA deve procurar contribuir com a reflexão sobre o projeto de vida pessoal e profissional e a partir de tal reflexão buscar novos caminhos auxiliando as pessoas a se darem conta de como lidam consigo mesmo com as relações de trabalho e sociais para então se necessário reestruturar tais relações de um modo adequado para si mesmo e para a sociedade Os trabalhadores deverão discutir as dificuldades encontradas em face das metas estabelecidas por eles os motivos da procrastinação as estratégias e as alternativas que utilizaram e devem utilizar para dirigirem sua vida de acordo com o que desejam Como enfatizado por França 1999 mais do que dispor da liberdade de escolha aquele que está em vias de se aposentar deve obter elementos necessários para gerenciar o seu projeto de vida administrando as perdas e reforçando os ganhos em função dos desejos e possibilidades Os candidatos à aposentadoria podem e devem continuar no mercado de trabalho desde que tenham saúde desejo e invistam na sua atualização A transição para a aposentadoria pode representar uma oportunidade para a mudança profissional para a busca por um trabalho mais prazeroso ou condizente com um novo perfil profissional Esse trabalho pósaposentadoria deve ser prioritariamente executado em horário reduzido para que esses trabalhadores possam dispor de tempo livre para o lazer para os relacionamentos familiares e para outros projetos não ligados à vida profissional A reorientação como redefinição das possibilidades profissionais na aposentadoria A Orientação Profissional OP é o trabalho que tem por objetivo auxiliar jovens e adultos a escolherem uma profissão Podese trabalhar a primeira escolha geralmente em grupo de jovens vestibulandos e universitários como também a reorientação ou seja uma nova escolha profissional O trabalho de reorientação se assemelha ao de OP pois vai buscar com a pessoa identificar uma nova profissão auxiliando ou reorientando a compreensão de suas escolhas anteriores e visualizando os motivos pelos quais se decidiu pelas preferências feitas além de localizar onde reside sua insatisfação com a primeira escolha Para Garcia 2006 a reorientação profissional pode trabalhar no resgate dos projetos profissionais que ficaram adormecidos naquele trabalhador que se iniciou em uma profissão sem ter necessariamente se questionado ou por ter se importado apenas em viver aquele momento ou ainda que considerou apenas o futuro sem levar em conta todo o processo decisório pelo qual estava passando A reorientação profissional pode ser realizada em diferentes situações da vida da pessoa dependendo do momento no qual esta se encontra e da sua necessidade e vontade de mudar Pode ser realizada com jovens universitários insatisfeitos com suas escolhas ou ainda em crise no meio do curso como também com profissionais que se encontram no meio da carreira satisfeitos ou não com suas atividades ou com desempregados muitas vezes por falta de uma nova opção profissional e ainda com os aposentados Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 747 Soares Krawulski Siqueira Caetano e Cascaes 2000 ao comentarem sobre o trabalho de reorientação realizado afirmam que os aposentados podem ser incluídos Muitas vezes procuram uma nova colocação seja pela necessidade de complementar os ganhos pois os seus vencimentos são insuficientes seja porque querem nova ocupação como modo de preencher o tempo vago ou até para concretizar um antigo sonho ainda não realizado Nos programas de preparação para a aposentadoria é fundamental discutir a questão das escolhas profissionais realizadas ao longo da vida pois estas aparecem como pano de fundo para se compreender como o sujeito se relaciona com suas possibilidades de futuro e é também fundamental discutir sobre como se constitui a identidade do aposentado a partir do momento no qual não tem mais como sobrenome o nome da instituição onde ele trabalhava e o modo como os aposentados e os préaposentados dão significado a seus projetos futuros Soares Costa Rosa e Oliveira 2007 ao relatarem experiências com grupos de aposentados afirmam que entre as indagações do aposentarse uma certeza se impõe a aposentadoria transforma completamente a vida da pessoa Muitas vezes altera rotinas e hábitos expectativas e relacionamentos sendo fundamental uma preparação para o enfrentamento dessas mudanças e a reflexão sobre o planejamento pessoal para o futuro A aposentadoria tem chegado para pessoas ainda jovens que estão em condições de continuar trabalhando e de buscar outras atividades profissionais Para Soares 2002 a reorientação pode ajudar a buscar os sonhos adormecidos a realização de projetos deixados para trás por motivos familiares e profissionais Santos 1990 estudou a relação da identidade pessoal e a aposentadoria e encontrou duas maneiras de encarar a aposentadoria a primeira é enquanto crise através da recusa em aceitar essa situação ou da volta ao trabalho por sobrevivência e a outra enquanto liberdade através da assistência aos familiares ou da busca do prazer através do lazer Dessas duas modalidades os primeiros continuam trabalhando geralmente na mesma atividade profissional ou podem procurar outra ocupação no sentido de buscarem melhor forma de sobrevivência uma vez que os vencimentos de aposentados não lhes permitem se sustentar Eles têm dificuldade em aceitar a aposentadoria e por isso continuam trabalhando sendo assim estes seriam os que mais necessitariam de um apoio mas a recusa em aceitar a aposentadoria os impede de procurar ajuda Os indivíduos da segunda categoria se sentem livres fazem projetos de futuro geralmente ligados à expansão e muitas vezes voltam a estudar É um momento especial em suas vidas em que muitas vezes buscam realizar o que sempre sonharam mas que por diferentes motivos não puderam fazer anteriormente Para Soares et al 2000 o papel do orientador deve ser o de contribuir com a reflexão sobre o projeto de vida pessoal e profissional e a partir de tal reflexão auxiliar as pessoas a se darem conta de como lidam consigo mesmas e com as relações de trabalho e sociais para então se necessário reestruturar tais relações de um modo adequado para si mesmo e para a sociedade É fundamental que nesse processo os indivíduos construam pontes entre o mundo interno e externo e aprendam a lidar com as possibilidades e as limitações presentes em ambos A aposentadoria oportuniza encontrar uma nova ocupação relacionada com algum antigo projeto de futuro ligado às Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 748 expectativas familiares O projeto não é totalmente realizado e está sempre passível de modificações A fim de identificar os projetos de futuro para a aposentadoria é importante refletir acerca da centralidade do trabalho para as pessoas sobre seus aspectos psicológicos e sociais sobre as dificuldades enfrentadas na ruptura com diversas identificações devido à aposentadoria e quanto à elaboração de novos projetos de futuro O diagnóstico deve identificar quais os conteúdos a serem oferecidos em um programa de preparação para a aposentadoria permitindo ainda desvendar o nível de motivação e de envolvimento dos trabalhadores mais velhos com a organização É sabido que existe uma relação direta da motivação e do envolvimento com as oportunidades de desenvolvimento profissional Existe uma sequência trabalhoaposentadoriatrabalho que pode ser um círculo e não precisa seguir necessariamente essa ordem ou seja é possível que trabalhadores mais velhos produzam tanto ou melhor se atualizados e estimulados pela organização Da mesma forma aposentados podem continuar a produzir se houver interesse de sua parte e da parte da organização sob outro tipo de contrato em regime de meio expediente ou consultoria Em pesquisa realizada no LIOP Laboratório de Informação e Orientação Profissional da UFSC por Costa e Soares 2008 com aposentados e préaposentados na qual foi solicitado que falassem sobre seus projetos de vida futura foram identificadas seis grandes categorias de projetos projetos de desenvolvimento pessoal projetos relacionados ao lazer projetos relacionados à saúde projetos financeiros projetos relacionados a atividades prazerosas diversas e projetos relativos à superação pessoal Os projetos de lazer e aqueles ligados a atividades prazerosas estão entre os mais presentes em nossos pesquisados Dentre os projetos relacionados a atividades prazerosas constam a realização de sonhos do passado a busca por maior convívio familiar resgatar afetos fazer algo pelo mundo cuidar do meio ambiente voluntariado ajudar pessoas e novas atividades que proporcionem prazer Dentre os projetos ligados ao lazer figuram realizar viagens atividades artísticas como aprender a tocar um instrumento musical pintura desenho promover encontros sociais cozinhar para os amigos praticar esportes por lazer e não por indicação médica e hobbies em geral Reorientar projetos de futuro na aposentadoria é como explica Soares 2002 auxiliar a romper o vínculo com a antiga profissão para poder ir em busca da verdadeira escolha de uma atividade que responda às necessidades da pessoa e também para facilitar ao indivíduo a compreensão de seu progresso em suas sucessivas escolhas auxiliandoo a ver a relação existente entre as diversas decisões que vai tomando ao longo da vida profissional a fim de projetar um futuro com qualidade de vida e realizações A situação mais feliz é aquela em que o trabalho e o hobby coincidem ou seja o trabalho representa ao mesmo tempo uma fonte de prazer Soares 1997 Considerações finais O envelhecimento populacional trouxe uma série de conseqüências e desafios para os governos Grande parte desses desafios está relacionada ao alto custo das aposentadorias a uma renda de aposentadoria digna para o futuro aposentado à manutenção do plano de assistência médica e ao mesmo tempo à liberdade para os trabalhadores decidirem se devem se aposentar ou continuar trabalhando A aposentadoria se apresenta como um período de incertezas apesar das sofisticadas Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 749 projeções econômicas e atuárias tão em voga no mundo de hoje Há sem dúvida uma carência de estudos e pesquisas diante dessa realidade e são desconhecidos e imprevisíveis os comportamentos dos trabalhadores e das empresas frente ao aumento da expectativa de vida A aposentadoria coincide com a maturidade psicológica Nos últimos anos percebe se uma mudança gradativa de atitude com relação aos trabalhadores idosos muitas vezes denominados maduros Empregadores podem descobrir algumas vantagens na contratação de trabalhadores com mais de 50 anos em comparação com os jovens Entre essas vantagens podemos citar o fato de que eles se sentem mais motivados e criativos nas atividades que lhes são propostas têm mais comprometimento e autonomia são mais confiáveis e apresentam maior capacidade na solução de problemas Eles também apresentam mais coerência e ética em seus comportamentos no trabalho e possuem geralmente maior estabilidade emocional e acima de tudo experiência Entretanto é preciso que mais empresas contemplem em suas políticas de recursos humanos programas de preparação para a aposentadoria como estabelecido na Lei nº 8842 Brasil 1994 que trata da competência dos órgãos públicos em criar e estimular a manutenção de programas de preparação para aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento p 78 Também não são conhecidas iniciativas por parte das organizações para lidar com o ageismo ou o idadismo os preconceitos frente ao desempenho e o aproveitamento dos trabalhadores mais velhos A cada dia se faz mais presente a importância de um programa de educação apoiado pelas empresas e pelo governo voltado tanto para a retenção do trabalhador mais velho no mercado quanto para o apoio a sua aposentadoria conforme o caso Todos os trabalhadores jovens e idosos devem ter oportunidades de emprego e condições para assegurar um futuro digno para si mesmos O ponto de partida para que os governos lidem com esses desafios é oferecer condições para os trabalhadores planejarem o seu futuro e se manterem atualizados motivados independentes e socialmente participantes Para que essas condições sejam cumpridas é importante que o governo com o apoio da mídia das empresas e dos próprios trabalhadores possa assumir a sua responsabilidade coletiva A organização em especial deve ser sensibilizada frente aos benefícios que ela alcançará através da integração de suas equipes intergeracionais A preparação para a aposentadoria é um recurso a ser disponibilizado pelas organizações desde que garantida a oportunidade da livre escolha Nesse programa os futuros aposentados são estimulados a realizar atividades intelectuais a repensar nas novas opções de vida profissional mais gratificantes e com horários reduzidos a questionar as oportunidades de lazer e a forma de obter o melhor de seus relacionamentos afetivos familiares e sociais Esses conteúdos devem ser inseridos no projeto de vida e os próprios aposentáveis estabelecerão as prioridades de acordo com os seus interesses Além disso essa preparação deverá estar pautada na construção de um projeto de vida em uma nova fase auxiliando a pessoa a se apropriar de seus desejos motivações e reais possibilidades na busca de ser feliz Pela maturidade já alcançada esse projeto indubitavelmente inclui o envolvimento e o compromisso com ações construtivas para a sociedade Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 750 Lucia Helena de Freitas Pinho França Doutora em Psicologia Social pela Universidade de Auckland Nova Zelândia professora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira UNIVERSO Niterói RJ Brasil Dulce Helena Penna Soares Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Strasbourg França professora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis SC Brasil Endereço para envio de correspondência Rua Profª Estelita Lins 99 ap 306 Laranjeiras Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 22245150 Email luciafrancaluciafrancacom Recebido 24112008 Reformulado 08062009 Aprovado 13062009 Lucia Helena de Freitas Pinho França Dulce Helena Penna Soares Preparação para a Aposentadoria Como Parte da Educação ao Longo da Vida PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2009 29 4 738751 751 Referências Ashforth B 2001 Role transitions in organizational life An identity based perspective 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