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CAPÍTULO 1 A Psicologia ou as psicologias CIÊNCIA E SENSO COMUM Quantas vezes no nosso diaadia ouvimos o termo psicologia Qualquer um entende um pouco dela Poderíamos até mesmo dizer que de psicólogo e de louco todo mundo tem um pouco O dito popular não é bem este de médico e de louco todo mundo tem um pouco mas parece servir aqui perfeitamente As pessoas em geral têm a sua psicologia Usamos o termo psicologia no nosso cotidiano com vários sentidos Por exemplo quando falamos do poder de persuasão do vendedor dizemos que ele usa de psicologia para vender seu produto quando nos referimos à jovem estudante que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz falamos que ela usa de psicologia e quando procuramos aquele amigo que está sempre disposto a ouvir nossos problemas dizemos que ele tem psicologia para entender as pessoas Será essa a psicologia dos psicólogos Certamente não Essa psicologia usada no cotidiano pelas pessoas em geral é denominada de psicologia do senso comum Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia O que estamos querendo dizer é que as pessoas normalmente têm um domínio mesmo que pequeno e superficial do conhecimento acumulado pela Psicologia científica o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico É a Psicologia científica que pretendemos apresentar a você Mas antes de iniciarmos o seu estudo faremos uma exposição da relação ciênciasenso comum depois falaremos mais detalhadamente sobre ciência e assim esperamos que você compreenda melhor a Psicologia científica pg 15 O SENSO COMUM CONHECIMENTO DA REALIDADE Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência é a vida do cotidiano É no cotidiano que tudo flui que as coisas acontecem que nos sentimos vivos que sentimos a realidade Neste instante estou lendo um livro de Psicologia logo mais estarei numa sala de aula fazendo uma prova e depois irei ao cinema Enquanto isso tenho sede e tomo um refrigerante na cantina da escola sinto um sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em plena aula lembrome de que havia prometido chegar cedo para o almoço Todos esses acontecimentos denunciam que estamos vivos Já a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva Ela procura compreender elucidar e alterar esse cotidiano a partir de seu estudo sistemático Quando fazemos ciência baseamonos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela Afastamonos dela para refletir e conhecer além de suas aparências O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximamse e se afastam aproximamse porque a ciência se refere ao real afastamse porque a ciência abstrai a realidade para compreendêla melhor ou seja a ciência afastase da realidade transformandoa em objeto de investigação o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real Para compreender isso melhor pense na abstração no distanciamento e trabalho mental que Newton teve de fazer para partindo da fruta que caía da árvore fato do cotidiano formular a lei da gravidade fato científico Ocorre que mesmo o mais especializado dos cientistas quando sai de seu laboratório está submetido à dinâmica do cotidiano que cria suas próprias teorias a partir das teorias científicas seja como forma de simplificálas para o uso no diaadia ou como sua maneira peculiar de interpretar fatos a despeito das considerações feitas pela ciência Todos nós estudantes psicólogos físicos artistas operários teólogos vivemos a maior parte do tempo esse cotidiano e as suas teorias isto é aceitamos as regras do seu jogo pg 16 veículo em alta velocidade sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel que vem em nossa direção Até hoje não conhecemos ninguém que usasse máquina de calcular ou fita métrica para essa tarefa Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado de senso comum Sem esse conhecimento intuitivo espontâneo de tentativas e erros a nossa vida no diaadia seria muito complicada A necessidade de acumularmos esse tipo de conhecimento espontâneo parecenos óbvia Imagine termos de descobrir diariamente que as coisas tendem a cair graças ao efeito da gravidade termos de descobrir diariamente que algo atirado pela janela tende a cair e não a subir que um automóvel em velocidade vai se aproximar rapidamente de nós e que para fazer um aparelho eletrodoméstico funcionar precisamos de eletricidade O senso comum na produção desse tipo de conhecimento percorre um caminho que vai do hábito à tradição a qual quando estabelecida passa de geração para geração Assim aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua a fazer o liquidificador funcionar a plantar alimentos na época e de maneira correta a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra de um modo precário mas é esse o seu modo o conhecimento humano É claro que isto não ocorre muito rapidamente Leva um certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum e nunca o é totalmente Quando utilizamos termos como rapaz complexo menina histérica ficar neurótico estamos usando termos definidos pela Psicologia científica Não nos preocupamos em definir as palavras usadas nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro Podemos até estar muito próximos do conceito científico mas na maioria das vezes nem o sabemos Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência ARÉAS DO CONHECIMENTO Somente esse tipo de conhecimento porém não seria suficiente para as exigências de desenvolvimento da humanidade O homem desde os tempos primitivos foi ocupando cada vez mais espaço neste planeta e somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para que ele dominasse a Natureza em seu próprio proveito Os gregos por volta do século 4 aC já dominavam complicados cálculos matemáticos que ainda hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial Os gregos precisavam entender esses cálculos para resolver seus problemas agrícolas arquitetônicos navais etc Era uma questão de sobrevivência Com o tempo esse tipo de conhecimento foise especializando cada vez mais até atingir o nível de sofisticação que permitiu ao homem atingir a Lua A este tipo de conhecimento que definiremos com mais cuidado logo adiante chamamos de ciência Mas o senso comum e a ciência não são as únicas formas de conhecimento que o homem possui para descobrir e interpretar a realidade OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA Como dissemos anteriormente um conhecimento para ser considerado científico requer um objeto específico de estudo O objeto da Astronomia são os astros e o objeto da Biologia são os seres vivos Essa classificação bem geral demonstra que é possível tratar o objeto dessas ciências com uma certa distância ou seja é possível isolar o objeto de estudo No caso da Astronomia o cientistaobservador está por exemplo num observatório e o astro observado a anosluz de distância de seu telescópio Esse cientista não corre o mínimo risco de confundirse com o fenômeno que está estudando O mesmo não ocorre com a Psicologia que como a Antropologia a Economia a Sociologia e todas as ciências humanas estuda o homem Certamente esta divisão é ampla demais e apenas coloca a Psicologia entre ciências humanas Qual é então o objeto específico de estudo da Psicologia Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista ele dirá O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano Se a palavra for dada a um psicólogo psicanalista ele dirá O objeto de estudo da Psicologia é o inconsciente Outros dirão que é a consciência humana e outros ainda a personalidade DIVERSIDADE DE OBJETOS DA PSICOLOGIA A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do conhecimento terse constituído como área de conhecimento científico só muito recentemente final do século 19 a despeito de existir há muito tempo na Filosofia enquanto preocupação humana Esse fato é importante já que a ciência se caracteriza pela exatidão de sua construção teórica e quando uma ciência é muito nova ela não teve tempo ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas que permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo Um outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o cientista o pesquisador confundirse com o objeto a ser pesquisado No sentido mais amplo o objeto de estudo da Psicologia é o homem e neste caso o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada Assim a concepção de homem que o pesquisador traz consigo contamina inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia Isso ocorre porque há diferentes concepções de homem entre os cientistas na medida em que estudos filosóficos e teológicos e mesmo doutrinas políticas acabam definindo o homem à sua maneira e o cientista acaba necessariamente se vinculando a uma destas crenças É o caso da concepção de homem natural formulada pelo filósofo francês Rousseau que imagina que o homem era puro e foi corrompido pela sociedade e que cabe então ao filósofo reencontrar essa pureza perdida veja capítulo 10 Outros veem o homem como ser abstracto com características definidas e que não mudam a despeito das condições sociais a que esteja submetido Nós autores deste livro vemos esse homem como ser datado determinado pelas condições históricas e sociais que o cercam Na realidade este é um problema enfrentado por todas as ciências humanas muito discutido pelos cientistas da área e até agora sem perspectiva de solução Conforme a definição de homem A CIÊNCIA A ciência compõese de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade objeto de estudo expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada sistemática e controlada para que se permita a verificação de sua validade Assim podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído possibilitando a reprodução da experiência Dessa forma o saber pode ser transmitido verificado utilizado e desenvolvido Essa característica da produção científica possibilita sua continuidade um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido Negamse reafirmamse descobremse novos aspectos e assim a ciência avança Nesse sentido a ciência caracterizase como um processo Pense no desenvolvimento do motor movido a álcool hidratado Ele nasceu de uma necessidade concreta crise do petróleo e foi planejado a partir do motor a gasolina com a alteração de poucos componentes deste No entanto os primeiros automóveis movidos a álcool apresentaram muitos problemas como o seu mau funcionamento nos dias frios Apesar disso esse tipo de motor foise aprimorando A ciência tem ainda uma característica fundamental ela aspira à objetividade Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção para assim tornaremse válidas para todos Objeto específico linguagem rigorosa métodos e técnicas específicas processo cumulativo do conhecimento objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum Esse conjunto de características é o que permite que denominemos científico a um conjunto de conhecimentos adotada teremos uma concepção de objeto que combine com ela Como neste momento há uma riqueza de valores sociais que permitem várias concepções de homem diríamos simplificadamente que no caso da Psicologia esta ciência estuda os diversos homens concebidos pelo conjunto social Assim a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo Por outro lado essa diversidade de objetos justificase porque os fenômenos psicológicos são tão diversos que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e portanto não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição medida controle e interpretação O objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos Ao estabelecer o padrão de descrição medida controle e interpretação o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e assim definindo um objeto Esta situação levanos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia mas Ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento A SUBJETIVIDADE COMO OBJETO DA PSICOLOGIA Considerando toda essa dificuldade na conceituação única do objeto de estudo da Psicologia optamos por apresentar uma definição que lhe sirva como referência para os próximos capítulos uma vez que você irá se deparar com diversos enfoques que trazem definições específicas desse objeto o comportamento o inconsciente a consciência etc A identidade da Psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das ciências humanas e pode ser obtida considerandose que cada um desses ramos enfoca o homem de maneira particular Assim cada especialidade a Economia a Política a História etc trabalha essa matériaprima de maneira particular construindo conhecimentos pg 22 distintos e específicos a respeito dela A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade é essa a sua forma particular específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana Nossa matériaprima portanto é o homem em todas as suas expressões as visíveis nosso comportamento e as invisíveis nossos sentimentos as singulares porque somos o que somos e as genéricas porque somos todos assim é o homemcorpo homempensamento homemafeto homemação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural é uma síntese que nos identifica de um lado por ser única e nos iguala de outro lado na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social Esta síntese a subjetividade é o mundo de ideias significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais de suas vivências e de sua constituição biológica é também fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais O mundo social e cultural conforme vai sendo experienciado por nós possibilitanos a construção de um mundo interior São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma vivência muito particular Nós atribuirmos sentido a essas experiências e vamos nos constituindo a cada dia A subjetividade é a maneira de sentir pensar fantasiar sonhar amar e fazer de cada um É o que constitui o nosso modo de ser sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico detesto Matemática adoro samba e black music pratico yoga tenho vontade mas não consigo ter uma namorada Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos primeiro aluno da classe em Matemática trabalha e estuda é corinthiano fanático adora comer sushi e navegar pela Internet Ou seja cada qual é o que é sua singularidade Entretanto a síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo Ele a constrói aos poucos apropriandose do material do mundo social e cultural e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este mundo ou seja é ativo na sua construção Criando e transformando o mundo externo o homem constrói e transforma a si próprio Um mundo objetivo em movimento porque seres humanos o movimentam permanentemente com suas intervenções um pg 23 mundo subjetivo em movimento porque os indivíduos estão permanentemente se apropriando de novas matériasprimas para constituições suas subjetividades De um certo modo podemos dizer que a subjetividade não só é fabricada produzida moldada mas também é automoldável ou seja o homem pode promover novas formas de subjetividade recusandose ao assujeitamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da informação recusando a massificação que exclui e estigmatiza o diferente a aceitação social condicionada ao consumo a medicalização do sofrimento Nesse sentido retomamos a utopia que cada homem pode participar na construção do seu destino e de sua coletividade Por fim podemos dizer que estudar a subjetividade nos tempos atuais é tentar compreender a produção de novos modos de ser isto é as subjetividades emergentes cuja fabricação é social e histórica O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do cultural do político do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais observável no homem aquilo que o captura submeteo ou mobilizao para pensar e agir sobre os efeitos das formas de O movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa história E aproveitamos para citar Guimarães Rosa que em Grande Sertão Veredas consegue expressar de modo muito adequado e rico o que aqui vale a pena registrar O importante e bonito do mundo é isso que as pessoas não estão sempre iguais ainda não foram terminadas mas que elas vão sempre mudando Afinam e desafinam Convidamos você a refletir um pouco sobre esse pensamento de Guimarães Rosa As pessoas não estão sempre iguais Ainda não foram terminadas Na verdade as pessoas nunca serão terminadas pois estarão sempre se modificando Mas por quê Como Simplesmente porque a subjetividade este mundo interno construído pelo homem como síntese de suas determinações não cessará de modificar pois as experiências sempre trarão novos elementos para renovála Talvez você esteja pensando mas eu acho que sou o que sempre fui eu não me modifico Para acompanhar de perto suas próprias transformações não poderia ser diferente você pode não percebêlas e ter a impressão de ser como sempre foi Você é o construtor da sua transformação veja capítulo 13 e por isso ela pode passar despercebida fazendoo pensar que não se transformou Mas você cresceu mudou de corpo de vontades de gostos de amigos de atividades afinou e desafiou enfim tudo em sua vida muda e com ela suas vivências subjetivas seu conteúdo psicológico sua subjetividade Isso acontece com todos nós Bem esperamos que você já tenha uma noção do que seja subjetividade e possamos então voltar a nossa discussão sobre o objeto da Psicologia A Psicologia como já dissemos anteriormente é um ramo das Ciências Humanas e a sua identidade isto é aquilo que a diferencia pode ser obtida considerandose que cada um desses ramos enfoca de maneira particular o objeto homem construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dele Assim com o estudo da subjetividade a Psicologia contribuiu para a compreensão da totalidade da vida humana É claro que a forma de se abordar a subjetividade e mesmo a forma de concebêla dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas veja capítulos 3 4 5 e 6 No momento pelo pouco desenvolvimento da Psicologia essas escolas acabam formulando um conhecimento fragmentário de uma única e mesma totalidade o ser humano o seu mundo interno e as suas manifestações A superação do atual impasse levará a uma Psicologia que enquadre esse homem como ser concreto e multideterminado veja capítulo 10 Esse é o papel de uma ciência crítica da compreensão da comunicação e do encontro do homem com o mundo em que vive já que o homem que compreende a História o mundo externo também compreende a si mesmo sua subjetividade e o homem que compreende a si mesmo pode compreender e engendrar do mundo e criar novas rotas e utopias Algumas correntes da Psicologia consideramna pertencente ao campo das Ciências do Comportamento e outras das Ciências Sociais Acreditamos que o campo das Ciências Humanas é mais abrangente e condizente com a nossa proposta que vincula a Psicologia à História à Antropologia à Economia etc A Psicologia e o Misticismo A Psicologia como área da Ciência vem se desenvolvendo na história desde 1875 quando Wilhelm Wundt 18321926 criou o primeiro Laboratório de Experiment os em Psicofisiologia em Leipzig na Alemanha Esse marco histórico significou o desligamento das ideias psicológicas de ideias abstratas e espiritualistas que defendiam a existência de uma alma nos homens a qual seria a sede da vida psíquica A partir daí a história da Psicologia é de fortalecimento de seu vínculo com os princípios e métodos científicos A ideia de um homem autônomo capaz de se responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento e pela sua vida também vai se fortalecendo a partir deste momento Hoje a Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas sobre o homem pois é uma área da Ciência relativamente nova com pouco mais de cem anos Além disso sabese que a Ciência não esgotará o que há para se conhecer pois a realidade está em permanentemente movimento e novas perguntas surgem a cada dia o homem está em movimento e em transformação colocando também novas perguntas para a Psicologia A invenção dos computadores por exemplo trouxe e traz mudanças em nossas formas de pensamento em nossa inteligência e a Psicologia precisará absorver essas transformações em seu quadro teórico Alguns dos desconhecimentos da Psicologia têm levado os psicólogos a buscarem respostas em outros campos do saber humano Com isso algumas práticas nãopsicológicas têm sido associadas às práticas psicológicas O tarô a astrologia a quiromancia a numerologia entre outras práticas adivinhatórias eou místicas têm sido associadas ao fazer e ao saber psicológico Estas não são práticas da Psicologia São outras formas de saber de saber sobre o humano que não podem ser confundidas com a Psicologia pois não são construídas no campo da Ciência a partir do método e dos princípios científicos estão em oposição aos princípios da Psicologia que vê não só o homem como ser autônomo que se desenvolve e se constitui a partir de sua relação com o mundo social e cultural mas também o homem sem destino pronto que constrói seu futuro ao agir sobre o mundo As práticas místicas têm pressupostos opostos pois nelas há a concepção de destino da existência de forças que não estão no campo do humano e do mundo material A Psicologia ao relacionarse com esses saberes deve ser capaz É possível estudar as práticas adivinhatórias e descobrir o que elas têm de eficiente de acordo com os critérios científicos e aprimorar tais aspectos para um uso eficiente e racional Nem sempre esses critérios científicos têm sido observados e alguns psicólogos acabam por usar tais práticas sem o devido cuidado e observação Esses casos seja daquele que usa a prática mística como acompanhamento psicológico seja o do psicólogo que usa desse expediente sem critério científico comprovado são previstos pelo código de ética dos psicólogos e por isso passíveis de punição No primeiro caso com prática de charlatanismo e no segundo como desempenho inadequado da profissão A Ciência como uma das formas de saber do homem tem seu campo de atuação com métodos e princípios próprios mas como forma de saber não está pronta e nunca estará A Ciência é na verdade pg 27 um processo permanente de conhecimento do mundo um exercício de diálogo entre o pensamento humano e a realidade em todos os seus aspectos Nesse sentido tudo o que ocorre com o homem é motivo de interesse para a Ciência que deve aplicar seus princípios e métodos para construir respostas nada mais seja que uma expressão cómoda a expressão de um pacifismo ao mesmo tempo prático e enganador Donde não haver nenhum inconveniente em falarmos de psicologias no plural Numa época de mutação acelerada como a nossa a Psicologia se situou no imenso domínio das ciências exatas biológicas naturais e humanas Há diversidade de domínio e diversidade de métodos Uma coisa porém precisa ficar clara os problemas psicológicos não são feitos para os métodos os métodos é que são feitos para os problemas exemplo de uso cotidiano do conhecimento científico em qualquer área Bibliografia indicada Para o aluno Para o aprofundamento da relação ciência e senso comum indicamos o capítulo 10 do livro Filosofando introdução à Filosofia de Maria Lúcia Aranha e Maria Helena P Martins São Paulo Moderna 1987 e o capítulo 3 do livro Fundamentos da Filosofia ser saber e fazer de Gilberto Cotrim São Paulo Saraiva 1993 em Psicologia já que procura discutilos do ponto de vista metodológico Não é uma leitura fácil mas importantíssima para os psicólogos Ressaltamos a introdução e o capítulo 1 CAPÍTULO 2 A evolução da ciência psicologia
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CAPÍTULO 1 A Psicologia ou as psicologias CIÊNCIA E SENSO COMUM Quantas vezes no nosso diaadia ouvimos o termo psicologia Qualquer um entende um pouco dela Poderíamos até mesmo dizer que de psicólogo e de louco todo mundo tem um pouco O dito popular não é bem este de médico e de louco todo mundo tem um pouco mas parece servir aqui perfeitamente As pessoas em geral têm a sua psicologia Usamos o termo psicologia no nosso cotidiano com vários sentidos Por exemplo quando falamos do poder de persuasão do vendedor dizemos que ele usa de psicologia para vender seu produto quando nos referimos à jovem estudante que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz falamos que ela usa de psicologia e quando procuramos aquele amigo que está sempre disposto a ouvir nossos problemas dizemos que ele tem psicologia para entender as pessoas Será essa a psicologia dos psicólogos Certamente não Essa psicologia usada no cotidiano pelas pessoas em geral é denominada de psicologia do senso comum Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia O que estamos querendo dizer é que as pessoas normalmente têm um domínio mesmo que pequeno e superficial do conhecimento acumulado pela Psicologia científica o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico É a Psicologia científica que pretendemos apresentar a você Mas antes de iniciarmos o seu estudo faremos uma exposição da relação ciênciasenso comum depois falaremos mais detalhadamente sobre ciência e assim esperamos que você compreenda melhor a Psicologia científica pg 15 O SENSO COMUM CONHECIMENTO DA REALIDADE Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência é a vida do cotidiano É no cotidiano que tudo flui que as coisas acontecem que nos sentimos vivos que sentimos a realidade Neste instante estou lendo um livro de Psicologia logo mais estarei numa sala de aula fazendo uma prova e depois irei ao cinema Enquanto isso tenho sede e tomo um refrigerante na cantina da escola sinto um sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em plena aula lembrome de que havia prometido chegar cedo para o almoço Todos esses acontecimentos denunciam que estamos vivos Já a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva Ela procura compreender elucidar e alterar esse cotidiano a partir de seu estudo sistemático Quando fazemos ciência baseamonos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela Afastamonos dela para refletir e conhecer além de suas aparências O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximamse e se afastam aproximamse porque a ciência se refere ao real afastamse porque a ciência abstrai a realidade para compreendêla melhor ou seja a ciência afastase da realidade transformandoa em objeto de investigação o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real Para compreender isso melhor pense na abstração no distanciamento e trabalho mental que Newton teve de fazer para partindo da fruta que caía da árvore fato do cotidiano formular a lei da gravidade fato científico Ocorre que mesmo o mais especializado dos cientistas quando sai de seu laboratório está submetido à dinâmica do cotidiano que cria suas próprias teorias a partir das teorias científicas seja como forma de simplificálas para o uso no diaadia ou como sua maneira peculiar de interpretar fatos a despeito das considerações feitas pela ciência Todos nós estudantes psicólogos físicos artistas operários teólogos vivemos a maior parte do tempo esse cotidiano e as suas teorias isto é aceitamos as regras do seu jogo pg 16 veículo em alta velocidade sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel que vem em nossa direção Até hoje não conhecemos ninguém que usasse máquina de calcular ou fita métrica para essa tarefa Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado de senso comum Sem esse conhecimento intuitivo espontâneo de tentativas e erros a nossa vida no diaadia seria muito complicada A necessidade de acumularmos esse tipo de conhecimento espontâneo parecenos óbvia Imagine termos de descobrir diariamente que as coisas tendem a cair graças ao efeito da gravidade termos de descobrir diariamente que algo atirado pela janela tende a cair e não a subir que um automóvel em velocidade vai se aproximar rapidamente de nós e que para fazer um aparelho eletrodoméstico funcionar precisamos de eletricidade O senso comum na produção desse tipo de conhecimento percorre um caminho que vai do hábito à tradição a qual quando estabelecida passa de geração para geração Assim aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua a fazer o liquidificador funcionar a plantar alimentos na época e de maneira correta a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra de um modo precário mas é esse o seu modo o conhecimento humano É claro que isto não ocorre muito rapidamente Leva um certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum e nunca o é totalmente Quando utilizamos termos como rapaz complexo menina histérica ficar neurótico estamos usando termos definidos pela Psicologia científica Não nos preocupamos em definir as palavras usadas nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro Podemos até estar muito próximos do conceito científico mas na maioria das vezes nem o sabemos Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência ARÉAS DO CONHECIMENTO Somente esse tipo de conhecimento porém não seria suficiente para as exigências de desenvolvimento da humanidade O homem desde os tempos primitivos foi ocupando cada vez mais espaço neste planeta e somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para que ele dominasse a Natureza em seu próprio proveito Os gregos por volta do século 4 aC já dominavam complicados cálculos matemáticos que ainda hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial Os gregos precisavam entender esses cálculos para resolver seus problemas agrícolas arquitetônicos navais etc Era uma questão de sobrevivência Com o tempo esse tipo de conhecimento foise especializando cada vez mais até atingir o nível de sofisticação que permitiu ao homem atingir a Lua A este tipo de conhecimento que definiremos com mais cuidado logo adiante chamamos de ciência Mas o senso comum e a ciência não são as únicas formas de conhecimento que o homem possui para descobrir e interpretar a realidade OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA Como dissemos anteriormente um conhecimento para ser considerado científico requer um objeto específico de estudo O objeto da Astronomia são os astros e o objeto da Biologia são os seres vivos Essa classificação bem geral demonstra que é possível tratar o objeto dessas ciências com uma certa distância ou seja é possível isolar o objeto de estudo No caso da Astronomia o cientistaobservador está por exemplo num observatório e o astro observado a anosluz de distância de seu telescópio Esse cientista não corre o mínimo risco de confundirse com o fenômeno que está estudando O mesmo não ocorre com a Psicologia que como a Antropologia a Economia a Sociologia e todas as ciências humanas estuda o homem Certamente esta divisão é ampla demais e apenas coloca a Psicologia entre ciências humanas Qual é então o objeto específico de estudo da Psicologia Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista ele dirá O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano Se a palavra for dada a um psicólogo psicanalista ele dirá O objeto de estudo da Psicologia é o inconsciente Outros dirão que é a consciência humana e outros ainda a personalidade DIVERSIDADE DE OBJETOS DA PSICOLOGIA A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do conhecimento terse constituído como área de conhecimento científico só muito recentemente final do século 19 a despeito de existir há muito tempo na Filosofia enquanto preocupação humana Esse fato é importante já que a ciência se caracteriza pela exatidão de sua construção teórica e quando uma ciência é muito nova ela não teve tempo ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas que permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo Um outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o cientista o pesquisador confundirse com o objeto a ser pesquisado No sentido mais amplo o objeto de estudo da Psicologia é o homem e neste caso o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada Assim a concepção de homem que o pesquisador traz consigo contamina inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia Isso ocorre porque há diferentes concepções de homem entre os cientistas na medida em que estudos filosóficos e teológicos e mesmo doutrinas políticas acabam definindo o homem à sua maneira e o cientista acaba necessariamente se vinculando a uma destas crenças É o caso da concepção de homem natural formulada pelo filósofo francês Rousseau que imagina que o homem era puro e foi corrompido pela sociedade e que cabe então ao filósofo reencontrar essa pureza perdida veja capítulo 10 Outros veem o homem como ser abstracto com características definidas e que não mudam a despeito das condições sociais a que esteja submetido Nós autores deste livro vemos esse homem como ser datado determinado pelas condições históricas e sociais que o cercam Na realidade este é um problema enfrentado por todas as ciências humanas muito discutido pelos cientistas da área e até agora sem perspectiva de solução Conforme a definição de homem A CIÊNCIA A ciência compõese de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade objeto de estudo expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada sistemática e controlada para que se permita a verificação de sua validade Assim podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído 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linguagem rigorosa métodos e técnicas específicas processo cumulativo do conhecimento objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum Esse conjunto de características é o que permite que denominemos científico a um conjunto de conhecimentos adotada teremos uma concepção de objeto que combine com ela Como neste momento há uma riqueza de valores sociais que permitem várias concepções de homem diríamos simplificadamente que no caso da Psicologia esta ciência estuda os diversos homens concebidos pelo conjunto social Assim a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo Por outro lado essa diversidade de objetos justificase porque os fenômenos psicológicos são tão diversos que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e portanto não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição medida controle e interpretação O objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos Ao estabelecer o padrão de descrição medida controle e interpretação o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e assim definindo um objeto Esta situação levanos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia mas Ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento A SUBJETIVIDADE COMO OBJETO DA PSICOLOGIA Considerando toda essa dificuldade na conceituação única do objeto de estudo da Psicologia optamos por apresentar uma definição que lhe sirva como referência para os próximos capítulos uma vez que você irá se deparar com diversos enfoques que trazem definições específicas desse objeto o comportamento o inconsciente a consciência etc A identidade da Psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das ciências humanas e pode ser obtida considerandose que cada um desses ramos enfoca o homem de maneira particular Assim cada especialidade a Economia a Política a História etc trabalha essa matériaprima de maneira particular construindo conhecimentos pg 22 distintos e específicos a respeito dela A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade é essa a sua forma particular específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana Nossa matériaprima portanto é o homem em todas as suas expressões as visíveis nosso comportamento e as invisíveis nossos sentimentos as singulares porque somos o que somos e as genéricas porque somos todos assim é o homemcorpo homempensamento homemafeto homemação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural é uma síntese que nos identifica de um lado por ser única e nos iguala de outro lado na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social Esta síntese a subjetividade é o mundo de ideias significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais de suas vivências e de sua constituição biológica é também fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais O mundo social e cultural conforme vai sendo experienciado por nós possibilitanos a construção de um mundo interior São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma vivência muito particular Nós atribuirmos sentido a essas experiências e vamos nos constituindo a cada dia A subjetividade é a maneira de sentir pensar fantasiar sonhar amar e fazer de cada um É o que constitui o nosso modo de ser sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico detesto Matemática adoro samba e black music pratico yoga tenho vontade mas não consigo ter uma namorada Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos primeiro aluno da classe em Matemática trabalha e estuda é corinthiano fanático adora comer sushi e navegar pela Internet Ou seja cada qual é o que é sua singularidade Entretanto a síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo Ele a constrói aos poucos apropriandose do material do mundo social e cultural e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este mundo ou seja é ativo na sua construção Criando e transformando o mundo externo o homem constrói e transforma a si próprio Um mundo objetivo em movimento porque seres humanos o movimentam permanentemente com suas intervenções um pg 23 mundo subjetivo em movimento porque os indivíduos estão permanentemente se apropriando de novas matériasprimas para constituições suas subjetividades De um certo modo podemos dizer que a subjetividade não só é fabricada produzida moldada mas também é automoldável ou seja o homem pode promover novas formas de subjetividade recusandose ao assujeitamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da informação recusando a massificação que exclui e estigmatiza o diferente a aceitação social condicionada ao consumo a medicalização do sofrimento Nesse sentido retomamos a utopia que cada homem pode participar na construção do seu destino e de sua coletividade Por fim podemos dizer que estudar a subjetividade nos tempos atuais é tentar compreender a produção de novos modos de ser isto é as subjetividades emergentes cuja fabricação é social e histórica O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do cultural do político do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais observável no homem aquilo que o captura submeteo ou mobilizao para pensar e agir sobre os efeitos das formas de O movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa história E aproveitamos para citar Guimarães Rosa que em Grande Sertão Veredas consegue expressar de modo muito adequado e rico o que aqui vale a pena registrar O importante e bonito do mundo é isso que as pessoas não estão sempre iguais ainda não foram terminadas mas que elas vão sempre mudando Afinam e desafinam Convidamos você a refletir um pouco sobre esse pensamento de Guimarães Rosa As pessoas não estão sempre iguais Ainda não foram terminadas Na verdade as pessoas nunca serão terminadas pois estarão sempre se modificando Mas por quê Como Simplesmente porque a subjetividade este mundo interno construído pelo homem como síntese de suas determinações não cessará de modificar pois as experiências sempre trarão novos elementos para renovála Talvez você esteja pensando mas eu acho que sou o que sempre fui eu não me modifico Para acompanhar de perto suas próprias transformações não poderia ser diferente você pode não percebêlas e ter a impressão de ser como sempre foi Você é o construtor da sua transformação veja capítulo 13 e por isso ela pode passar despercebida fazendoo pensar que não se transformou Mas você cresceu mudou de corpo de vontades de gostos de amigos de atividades afinou e desafiou enfim tudo em sua vida muda e com ela suas vivências subjetivas seu conteúdo psicológico sua subjetividade Isso acontece com todos nós Bem esperamos que você já tenha uma noção do que seja subjetividade e possamos então voltar a nossa discussão sobre o objeto da Psicologia A Psicologia como já dissemos anteriormente é um ramo das Ciências Humanas e a sua identidade isto é aquilo que a diferencia pode ser obtida considerandose que cada um desses ramos enfoca de maneira particular o objeto homem construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dele Assim com o estudo da subjetividade a Psicologia contribuiu para a compreensão da totalidade da vida humana É claro que a forma de se abordar a subjetividade e mesmo a forma de concebêla dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas veja capítulos 3 4 5 e 6 No momento pelo pouco desenvolvimento da Psicologia essas escolas acabam formulando um conhecimento fragmentário de uma única e mesma totalidade o ser humano o seu mundo interno e as suas manifestações A superação do atual impasse levará a uma Psicologia que enquadre esse homem como ser concreto e multideterminado veja capítulo 10 Esse é o papel de uma ciência crítica da compreensão da comunicação e do encontro do homem com o mundo em que vive já que o homem que compreende a História o mundo externo também compreende a si mesmo sua subjetividade e o homem que compreende a si mesmo pode compreender e engendrar do mundo e criar novas rotas e utopias Algumas correntes da Psicologia consideramna pertencente ao campo das Ciências do Comportamento e outras das Ciências Sociais Acreditamos que o campo das Ciências Humanas é mais abrangente e condizente com a nossa proposta que vincula a Psicologia à História à Antropologia à Economia etc A Psicologia e o Misticismo A Psicologia como área da Ciência vem se desenvolvendo na história desde 1875 quando Wilhelm Wundt 18321926 criou o primeiro Laboratório de Experiment os em Psicofisiologia em Leipzig na Alemanha Esse marco histórico significou o desligamento das ideias psicológicas de ideias abstratas e espiritualistas que defendiam a existência de uma alma nos homens a qual seria a sede da vida psíquica A partir daí a história da Psicologia é de fortalecimento de seu vínculo com os princípios e métodos científicos A ideia de um homem autônomo capaz de se responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento e pela sua vida também vai se fortalecendo a partir deste momento Hoje a Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas sobre o homem pois é uma área da Ciência relativamente nova com pouco mais de cem anos Além disso sabese que a Ciência não esgotará o que há para se conhecer pois a realidade está em permanentemente movimento e novas perguntas surgem a cada dia o homem está em movimento e em transformação colocando também novas perguntas para a Psicologia A invenção dos computadores por exemplo trouxe e traz mudanças em nossas formas de pensamento em nossa inteligência e a Psicologia precisará absorver essas transformações em seu quadro teórico Alguns dos desconhecimentos da Psicologia têm levado os psicólogos a buscarem respostas em outros campos do saber humano Com isso algumas práticas nãopsicológicas têm sido associadas às práticas psicológicas O tarô a astrologia a quiromancia a numerologia entre outras práticas adivinhatórias eou místicas têm sido associadas ao fazer e ao saber psicológico Estas não são práticas da Psicologia São outras formas de saber de saber sobre o humano que não podem ser confundidas com a Psicologia pois não são construídas no campo da Ciência a partir do método e dos princípios científicos estão em oposição aos princípios da Psicologia que vê não só o homem como ser autônomo que se desenvolve e se constitui a partir de sua relação com o mundo social e cultural mas também o homem sem destino pronto que constrói seu futuro ao agir sobre o mundo As práticas místicas têm pressupostos opostos pois nelas há a concepção de destino da existência de forças que não estão no campo do humano e do mundo material A Psicologia ao relacionarse com esses saberes deve ser capaz É possível estudar as práticas adivinhatórias e descobrir o que elas têm de eficiente de acordo com os critérios científicos e aprimorar tais aspectos para um uso eficiente e racional Nem sempre esses critérios científicos têm sido observados e alguns psicólogos acabam por usar tais práticas sem o devido cuidado e observação Esses casos seja daquele que usa a prática mística como acompanhamento psicológico seja o do psicólogo que usa desse expediente sem critério científico comprovado são previstos pelo código de ética dos psicólogos e por isso passíveis de punição No primeiro caso com prática de charlatanismo e no segundo como desempenho inadequado da profissão A Ciência como uma das formas de saber do homem tem seu campo de atuação com métodos e princípios próprios mas como forma de saber não está pronta e nunca estará A Ciência é na verdade pg 27 um processo permanente de conhecimento do mundo um exercício de diálogo entre o pensamento humano e a realidade em todos os seus aspectos Nesse sentido tudo o que ocorre com o homem é motivo de interesse para a Ciência que deve aplicar seus princípios e métodos para construir respostas nada mais seja que uma expressão cómoda a expressão de um pacifismo ao mesmo tempo prático e enganador Donde não haver nenhum inconveniente em falarmos de psicologias no plural Numa época de mutação acelerada como a nossa a Psicologia se situou no imenso domínio das ciências exatas biológicas naturais e humanas Há diversidade de domínio e diversidade de métodos Uma coisa porém precisa ficar clara os problemas psicológicos não são feitos para os métodos os métodos é que são feitos para os problemas exemplo de uso cotidiano do conhecimento científico em qualquer área Bibliografia indicada Para o aluno Para o aprofundamento da relação ciência e senso comum indicamos o capítulo 10 do livro Filosofando introdução à Filosofia de Maria Lúcia Aranha e Maria Helena P Martins São Paulo Moderna 1987 e o capítulo 3 do livro Fundamentos da Filosofia ser saber e fazer de Gilberto Cotrim São Paulo Saraiva 1993 em Psicologia já que procura discutilos do ponto de vista metodológico Não é uma leitura fácil mas importantíssima para os psicólogos Ressaltamos a introdução e o capítulo 1 CAPÍTULO 2 A evolução da ciência psicologia