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94 características importantes a influência dos fatores ditos ambientais incluindo a educação recebida desde tenra idade e o ambiente cultural envolvido são muito importantes na estruturação do comportamento humano Nesse cenário cabe aao psicólogoa um papel importante na articulação das implicações da Genética na área da saúde especialmente pela possibilidade de identificar a presença de genes que aumentam a predisposição a doenças como o câncer e o Alzheimer entre outras Resumo Os avanços da Genética contemporânea têm suscitado uma grande polêmica a respeito da gênese do homem e das possibilidades de agir sobre a biologia humana repercutindo intensamente sobre os mais diversos ramos do conhecimento Considerando a importância do tema este texto pretende apresentar de forma sucinta os principais resultados de pesquisas sobre as bases genéticas do comportamento humano com o foco voltado para a importância do profissional de Psicologia em questões relativas ao assunto PalavrasChave Comportamento humano genética Psicologia Abstract Research on Genetics has brought great polemic about the genesis of humankind and the possibilities of acting on human biology with several repercussions in different sources of knowledge The objective of this text is to present in a succinct form the main results of the research about genetics of human behavior with the focus on the work of psychologists Key Words Human behavior Genetics Psychology A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana1 The Psychology face to face to the recent progress of human genetics As pesquisas no âmbito da Genética têm tido grande destaque atualmente principalmente quando são mencionados o diagnóstico e a possível cura de doenças a descoberta de novos genes e a clonagem Tais informações têm sido amplamente divulgadas na mídia e na literatura científica evocando a necessidade de realizar discussões aprofundadas por parte dos profissionais de Psicologia Estudos recentes nessa área têm demonstrado que embora haja a participação de genes em Rossano André DalFarra Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1992 Mestre em Melhoramento Genético Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1996 Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2003 Professor nas disciplinas Genética Veterinária e Melhoramento Genético Animal do curso de Medicina Veterinária desde 1996 e de Genética do Comportamento do curso de Pós graduação em Neuropsicologia da Universidade Luterana do Brasil desde outubro de 2000 Emerson Juliano Prates Psicólogo pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em 1998 Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2002 Doutorando em Psicologia no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina Psicólogo Clínico desde 1999 PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2004 24 1 94107 Jupiterimages 95 Essas possibilidades diagnósticas trazem novas demandas aosàs profissionais de Psicologia permitindo que desempenhem um papel decisivo nos processos terapêuticos como tem sido demonstrado por resultados de pesquisas relatadas neste texto Face a isso o objetivo deste artigo consiste em discutir as contribuições da Genética para o estudo das bases biológicas do comportamento visando ao melhor entendimento de temas relevantes estudados pela Psicologia assim como possíveis implicações das técnicas diagnósticas na atuação dosdas profissionais da área Metodologias e Abordagens Utilizadas Reflexões Preliminares Sobre Genoma e Ambiente Refletir sobre as origens do comportamento humano remete à noção de uma intersecção entre fatores genéticos e adquiridos Nessa ótica o conceito de ambiente engloba todos os fatores que agem sobre o indivíduo desde o momento da fecundação do gameta feminino pelo espermatozóide incluindo a vida intrauterina e a vida pósnatal através da educação recebida e das influências culturais Haldane já na primeira metade do século XX situa o assunto desta forma Quando consideramos a estrutura de um organismo e de seu ambiente descobrimos que os elementos estruturais no organismo e no ambiente são coordenados uns com os outros de uma forma específica não podemos separar a estrutura orgânica da estrutura ambiental Haldane apud Figueiredo 1991 p 113 Assim não é possível conceber que os aspectos relativos aos seres vivos sejam controlados exclusivamente pelo ambiente ou somente pelo próprio organismo biológico Seria equivocado considerar o indivíduo como uma tábula rasa que passivamente recebe ao longo da vida as influências do ambiente como concebeu o filósofo John Locke 16321704 Wertheimer 1972 assim como não devemos considerálo como um organismo escravizado por seu conjunto de genes e dotado de uma programação biológica préestabelecida Portanto a expressão mais correta não seria natureza versus ambiente e sim natureza e ambiente Plomin Chipuer e Loehlin 1990 Pesquisas realizadas com bebês recémnascidos somadas aos relatos de pais e de profissionais de saúde que acompanham as crianças a partir do A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana nascimento indicam que estas apresentam peculiaridades no temperamento desde os primeiros momentos de vida pósnatal Bee 1997 No entanto não podemos esquecer que o ser humano nascendo totalmente dependente de cuidados passa a receber influência direta dos pais demais familiares e educadores desde a concepção o que repercute inclusive sobre o desenvolvimento neurológico infantil como nos mostram os estudos referentes à plasticidade cerebral Shobris 1996 Assim as pesquisas do comportamento humano devem levar em consideração fatores múltiplos sejam eles biológicos culturais ou particularidades psicológicas A natureza multifacetada dos fatores envolvidos na produção das expressões comportamentais favorece a complexidade em detrimento da singeleza Uma forma de entender o comportamento mais facilmente seria concebê lo como produto final de um processo intrincado no qual genes e ambiente firmam um acordo mútuo para a continuidade da vida Plomin Chipuer e Loehlin 1990 Genética Mendeliana e Abordagens Quantitativas A tentativa de considerar as características como se fossem determinadas por somente um par de genes utilizando o padrão de herança mendeliana simples foi inadequada para explicar a maioria das características comportamentais com exceção de algumas patologias raras como a doença de Huntington e a demência caracterizada pela confusão mental e perda progressiva de memória Plomin Owen e McGuffin 1994 Para a doença de Huntington foi encontrado um tipo de herança autossômica dominante Essa patologia da qual a coréia movimentos involuntários e incoordenados é o maior sintoma caracterizase por uma síndrome neurovegetativa que afeta primariamente o gânglio basal Nurberger e Berrettini 1998 Partindo desse pressuposto hoje são utilizadas em grande escala as metodologias empregadas na genética quantitativa considerando as características comportamentais como resultantes de múltiplos componentes genéticos via de regra com muitos pares de genes envolvidos associados a componentes ambientais bem como as interações entre ambos As técnicas de utilizar gêmeos monozigóticos de mesma carga genética pois resultam de um único espermatozóide fecundando um único gameta feminino e dizigóticos resultam de dois espermatozóides que fecundam dois gametas femininos diferentes associadas aos estudos de 96 adoção nos quais se avaliam gêmeos criados separadamente e portanto com influências ambientais diferentes são comumente utilizadas para investigações envolvendo características comportamentais Os estudos envolvendo gêmeos monozigóticos MZ e dizigóticos DZ resultam na estimativa de valores de herdabilidade que representam o quanto da variação fenotípica entre os indivíduos se deve às diferenças genéticas entre os mesmos A herdabilidade varia entre 00 e 10 0 a 100 e quanto maior o valor maior a participação dos efeitos genéticos na característica estudada As estimativas de herdabilidade h 2 podem ser obtidas pela fórmula concordância entre gêmeos MZ concordância entre gêmeos DZ concordância entre gêmeos DZ Concordância representa a freqüência de ocorrência da característica em um familiar de um afetado nesse caso o outro gêmeo Inicialmente as estimativas de herdabilidade para características de personalidade apresentavam valores entre 40 e 50 Posteriormente quando foram incorporados dados envolvendo adoção esse valor baixou a próximo de 26 a 28 e a explicação para essa queda devese principalmente aos efeitos de assimilação que inflacionavam as estimativas iniciais entre gêmeos monozigóticos A assimilação representa um fator ambiental que aumenta a semelhança entre os gêmeos monozigóticos por partilharem uma convivência superior aos gêmeos dizigóticos Tais diferenças entre os valores de herdabilidade também são explicadas pelos efeitos de contraste ou seja pela tendência de os dizigóticos apresentarem uma competição mais pronunciada Plomin Chipuer e Loehlin 1990 Essas evidências indicam que embora haja efeitos significativos dos fatores genéticos uma parcela importante da variação entre os indivíduos para características comportamentais resulta de fatores ambientais Nesse âmbito um componente de elevado grau de influência sobre o fenótipo comportamental é o denominado ambiente não compartilhado Esse fator ambiental consiste nas diferenças resultantes entre irmãos criados juntos sendo gêmeos ou não sobre os quais deveriam incidir os mesmos fatores ambientais A diferença considerável presente entre gêmeos MZ para características de personalidade mesmo sendo geneticamente idênticos e apresentarem os efeitos de assimilação demonstra a importância do ambiente nãocompartilhado Plomin Chipuer e Loehlin 1990 Segundo Plomin e Rende 1991 esse fato não significa que as experiências familiares não sejam importantes mas sim que as influências dos fatores ambientais sobre o desenvolvimento individual são específicas para cada pessoa Outra técnica utilizada consiste em ajustar modelos estatísticos a dados comportamentais em função de esta constituir uma técnica eficiente quando há um volume elevado de informações Loehlin Willerman e Horn 1988 a interpretação dos resultados porém pode ser errônea nos casos em que são utilizados dados provenientes de amostras e desenhos experimentais diferentes Plomin Chipuer e Loehlin 1990 Biologia Molecular Os avanços na Genética Molecular têm auxiliado as investigações na área através da tentativa de identificar no DNA genes responsáveis por características comportamentais O fato de as mesmas serem determinadas por muitos pares de genes bem como pela interação destes com os fatores ambientais dificulta a associação de fatores genéticos com seus respectivos fenótipos comportamentais entretanto resultados de pesquisas têm permitido encontrar associação entre genes específicos e psicopatologias mesmo que em muitos casos os resultados obtidos em um determinado grupo de pessoas não tenham sido repetidos em outros grupos de indivíduos dificultando a generalização dos mesmos Plomin e Rende 1991 Plomin Owen e McGuffin 1994 A tendência atual consiste em encontrar genes que contribuam para a variância genética em características quantitativas visando a atribuir predisposições probabilísticas de ocorrência e não programações determinísticas de fenótipos comportamentais Esse procedimento é realizado através da busca de correlação entre fenótipos e a presença de genes ou mesmo diferenças nas freqüências gênicas entre indivíduos com a característica quando comparados a outros que não a possuem Os resultados da referida técnica já apresentaram evidências importantes em psicopatologias como o mal de Alzheimer por exemplo Estudos com outras características encontramse em andamento As pesquisas que procuram relacionar os genes com as características utilizam marcadores genômicos que consistem em regiões do DNA que possam ser utilizadas como indicadores dos genes relacionados às características quantitativas comportamentais embora na maioria dos casos os mesmos não indiquem a certeza de presença da mesma e sim uma predisposição a ela Acrescentese que atualmente os resultados de pesquisas procuram não ser tão taxativos como antigamente quando se afirmava ter encontrado o gene da inteligência ou o gene do alcoolismo Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates h 2 97 Os resultados são apresentados como sendo por exemplo genes associados às características já que foram encontrados em muitos estudos dentro do mesmo grupo familiar investigado indivíduos que possuíam os marcadores genômicos e apresentavam as características e indivíduos que tinham os marcadores genômicos mas que não as apresentavam Le Roy 1999 Resultados de pesquisas sugeriram a possível associação entre uma mutação rara no gene que codifica a monoaminoxidase A MAOA e uma síndrome de retardo mental borderline caracterizada também pela tendência em produzir incêndios criminosos e exibicionismo Mann 1994 Esse gene localizado no cromossomo X codifica a enzima MAOA ligada ao metabolismo dos neurotransmissores dopamina serotonina e norepinefrina A mutação derivada de uma substituição de uma citosina por uma timina não é funcional levando ao déficit da enzima e portanto ao aumento da concentração de dopamina serotonina e norepinefrina no sistema nervoso e possivelmente ao comportamento agressivo Entretanto tais alterações genéticas nem sempre conduzem ao problema já que há portadores dessa mutação constituindo famílias bem estruturadas Mann 1994 A propósito o seqüenciamento do genoma humano no ano 2000 não trouxe apenas respostas mas sim muitas dúvidas Considerando que um gene é um segmento de DNA que codifica proteínas responsáveis por múltiplas funções na fisiologia humana o fato de indivíduos apresentarem genes diferentes significa a possibilidade de produzirem proteínas diferentes e portanto de possuírem peculiaridades em determinados aspectos fisiológicos com relação inclusive aos neurotransmissores e aos receptores de membrana celular para os mesmos assim como as implicações decorrentes desses processos O termo genoma representa o conjunto de genes do indivíduo ou da espécie sendo representado pela molécula de DNA composta por seqüências de nucleotídios Os nucleotídios são formados por bases nitrogenadaspentosefosfato no entanto apenas as bases nitrogenadas variam de um nucleotídio para outro portanto os indivíduos têm genes diferentes porque possuem seqüências de bases diferentes no seu DNA O genoma humano tem aproximadamente 32 bilhões de pares de bases entretanto estimase que apenas 3 desse total esteja diretamente envolvido na produção de proteínas Os outros 97 do DNA corresponderiam segundo as hipóteses mais consolidadas a resquícios da evolução ao longo das eras ou seja a seqüências de bases que deixaram de ter função no ser humano e também a seqüências de DNA que atuam na regulação da expressão dos genes ativos genes que codificam proteínas Outra constatação é a presença de uma semelhança em torno de 999 nas seqüências de bases do DNA de duas pessoas diferindo em apenas 01 das bases nitrogenadas As pesquisas demonstraram ainda que a idéia anterior de que cada gene codificava uma proteína não estava correta pois um segmento de DNA pode gerar mais proteínas diferentes de acordo com as porções de DNA incluídas no momento da síntese protéica No gene que codifica a proteína precursora do amilóide por exemplo associada à doença de Alzheimer podem ser formados oito transcritos RNA mensageiros produzidos a partir do DNA e que irão entrar em síntese protéica gerando portanto proteínas diferentes de acordo com as regiões presentes no RNA Brown 2000 Samaia e Vallada Filho 2000 Sapolsky 2000 Souza 2001 Wahlsten 1999 Inteligência O primo de Charles Darwin Francis Galton já realizava na virada do século XIX para o século XX pesquisas que visavam a avaliar as diferenças individuais nas habilidades cognitivas através de testes mentais Shobris 1996 Infelizmente os excessos praticados por ilações equivocadas dos resultados de metodologias semelhantes às de Galton levaram a atos extremos de discriminação O termo genoma representa o conjunto de genes do indivíduo ou da espécie sendo representado pela molécula de DNA composta por seqüências de nucleotídios A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana 98 social no século XX Gould 1991 relata na sua obra A Falsa Medida do Homem os usos de tais pesquisas com objetivos eugênicos visando a classificar os indivíduos hierarquicamente O autor descreve estudos craniométricos em indivíduos de diferentes etnias ainda na primeira metade do século XIX nos Estados Unidos realizados por S G Morton assim como as interpretações errôneas decorrentes dessas pesquisas Outros casos importantes referemse à aplicação de testes psicológicos nas escolas e no exército americano desconsiderando as advertências de Binet e os cuidados recomendados pelo educador francês para a utilização das técnicas Os testes foram aplicados também em imigrantes para verificar suas habilidades intelectuais possibilitando a identificação daqueles que não deveriam entrar no país por apresentarem resultados inferiores Entretanto o mais surpreendente foi a aplicação de testes mentais que poderiam resultar na esterilização sumária do indivíduo quando o mesmo apresentasse escores inferiores Gould 1991 relata no final do livro o caso da mulher que havia sido esterilizada ainda jovem sob a alegação de que era um procedimento destinado à correção de hérnia e apendicite Segundo o autor uma lei aplicada entre 1924 e 1972 no Estado da Virgínia levou mais de 7500 pessoas à esterilização devido aos resultados obtidos por elas em testes mentais da época considerados muito rigorosos pelos padrões atuais segundo as palavras de Gould Provavelmente devido a esses trágicos exemplos que tanto envergonham os pesquisadores e acadêmicos atuais tornase delicado comentar a respeito de diferenças genéticas entre as pessoas especialmente devido às dicotomias presentes entre os ramos do conhecimento ligados à Biologia em contraposição às ciências humanas dificultando o estudo das potencialidades inerentes aos indivíduos Definitivamente devemos salientar que buscar diferenças não significa excluir mas sim tentar auxiliar cada pessoa com base no conhecimento que possuímos sobre o homem como ser biopsicossocial Os pesquisadores da área da Genética têm justamente demonstrado que os fatores ambientais nãogenéticos são fundamentais para a estruturação e o desenvolvimento do ser humano Devese ressaltar que seria errôneo atribuir tendências eugênicas características do século XIX e da primeira metade do século XX aos estudos genéticos atuais considerando que hoje as pesquisas valorizam a presença de genes diferentes nos indivíduos por uma série de aspectos fisiológicos sendo a miscigenação étnica um aspecto favorável por permitir grande variabilidade genética A respeito de diferenças hoje temos observado a emergência de abordagens que apontam para elas sem aludir a quaisquer formas de discriminação procurando valorizar habilidades diferentes como demonstrou Howard Gardner 1994 com as inteligências múltiplas Estudos relativos à participação de fatores genéticos sobre a inteligência incluem as estimativas de correlações entre valores obtidos por indivíduos aparentados em testes de QI Para gêmeos MZ foram encontradas correlações de 086 quando criados juntos e 072 quando criados separadamente assim como valores de 047 para irmãos criados juntos e 024 para irmãos criados separadamente Atkinson et al 1995 A diferença entre gêmeos MZ criados juntos e gêmeos MZ criados separadamente é de pequena magnitude indicando a participação de fatores genéticos na inteligência No entanto os valores acima podem estar exprimindo fatores genéticos associados a fatores ambientais além disso os resultados dos estudos mostram ainda que as influências genéticas são maiores com o avanço da idade as correlações aumentam e que são encontrados valores mais elevados de QI para indivíduos adotados do que seria esperado se tivessem ficado com os seus pais biológicos demonstrando a importância do ambiente Shobris 1996 define inteligência como um processo ativo e de transformação em que dados sensoriais são sintetizados na forma mais simples possível de representação com o objetivo de maximizar a eficiência comportamental O autor discute a validade dos testes de QI como indicadores de inteligência mesmo considerando o seu valor preditivo para o sucesso acadêmico e para o número de anos completados na escola Entretanto a alta correlação dos escores de QI com outros testes indica que o mesmo pode estar ligado ao fator g definido como uma medida geral de habilidades cognitivas provavelmente conectada a um grupo de genes cada qual com parcelas pequenas de participação No entanto as evidências para confirmar tal fator como um indicador preciso da inteligência ainda são de pequena magnitude Mann 1994 Para Shobris 1996 a especificidade dos testes de QI não contempla as peculiaridades culturais desenvolvidas por diferentes grupos étnicos produzindo resultados inconclusivos Outro fator importante consiste na relação íntima existente entre o córtex préfrontal e a expressão da inteligência Ao córtex préfrontal foi atribuída a habilidade de ordenar conceitos e reexaminar conclusões prévias tomadas pelo cérebro posterior Estudos neuropsicológicos sugerem que os testes buscar diferenças não significa excluir mas sim tentar auxiliar cada pessoa com base no conhecimento que possuímos sobre o homem como ser biopsicossocial Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates 99 de inteligência focalizam basicamente a atuação da porção posterior do cérebro mais especificamente o lobo parietal esquerdo responsável principalmente por processar abstrações analíticas e espaciais uma habilidade necessária para um bom desempenho em testes de inteligência Shobris 1996 A plasticidade do cérebro também deve ser observada Essa propriedade resulta das alterações substanciais ocorridas nos processos mentais de acordo com a utilização das funções cerebrais pelo indivíduo Durante a maturação cerebral ocorre um processo de seleção neural que pode resultar na eliminação dos neurônios ou junções neuronais não funcionais A possibilidade de conexões entre neurônios no início do desenvolvimento do cérebro é muito grande diminuindo sensivelmente após a maturação do mesmo A plasticidade permanece em menor grau no órgão maduro devido à formação de novas conexões e também pelo reforço aos caminhos neuronais utilizados com maior freqüência Tais processos estão altamente ligados aos fatores ambientais a que os indivíduos são submetidos Shobris 1996 Portanto mesmo considerando a participação importante dos fatores genéticos sobre algumas características Loehlin Willerman e Horn 1988 a educação os aspectos culturais envolvidos e os demais estímulos recebidos desde os primeiros momentos de vida influem decisivamente sobre o comportamento Quanto ao retardo mental sabemos da importância das anormalidades cromossômicas e genéticas e as alterações cognitivas decorrentes das mesmas Considerando a classificação de indivíduos com QI abaixo de 50 como apresentando retardo mental severo e de indivíduos com QI entre 50 e 70 como portadores de retardo mental moderado verificase que os filhos de indivíduos com retardo mental leve apresentam QI em média de 85 pontos e que filhos de pais com retardo mental severo têm prole com uma curva bimodal apresentando picos nos valores de 50 e de 100 Os riscos de recorrência em uma mãe que já tem um filho com retardo mental variam de 95 a 23 dependendo da severidade da doença e da história reprodutiva da mãe Para mães com mais de um filho com o problema o risco é de 25 a 50 As causas encontradas em diferentes estudos foram 20 anomalias cromossômicas 67 causas metabólicas 10 Síndrome de Down 33 Síndrome do Xfrágil 67 outras anomalias no cromossomo X 133 microcefalia familiar caracterizada pela presença de um tamanho da cabeça com três desvios padrões abaixo do normal e 40 outras causas nãogenéticas A síndrome do Xfrágil ocorre com maior freqüência em homens que apresentam alteração na região Xq273 na porção denominada 273 do braço longo do cromossomo X decorrente de um aumento da seqüência de bases nitrogenadas CGG nos indivíduos afetados 230 a 2000 cópias sendo o normal de 6 a 50 cópias Nurnberger e Berrettini 1998 Com relação à Biologia Molecular Tang et al 1999 estudaram em camundongos o gene NR2B relacionado ao receptor de NmetilDaspartato NMDA presente em células neuronais que atuam nos processos de memória especialmente no hipocampo Camundongos que tiveram esses receptores bloqueados ou inativados através de técnicas de Biologia Molecular apresentaram aprendizagem e memória extremamente prejudicadas em relação aos nãoalterados Em contrapartida animais geneticamente modificados e com maior expressão dos referidos receptores ligados ao NR2B apresentaram maior aptidão quando comparados a camundongos não modificados Um dos testes aplicados nesses animais foi a colocação destes em gaiolas onde puderam explorar peças diferentes de um jogo de quebracabeça Passados vários dias uma peça foi trocada e os camundongos colocados novamente na gaiola Os animais transgênicos com mais cópias dos genes reconheceram o objeto antigo e trataram de explorar o novo ao contrário dos outros que exploraram as peças velhas e as peças novas desperdiçando o mesmo tempo com ambas No segundo teste os camundongos foram colocados em uma câmara onde recebiam choques nas patas Quando voltaram ao mesmo local posteriormente os transgênicos demonstraram estar mais temerosos que os demais Ao repetir a experiência mas sem os choques estes perceberam mais rápido que o perigo havia passado Noutro teste os camundongos foram colocados em uma piscina havendo uma plataforma submersa próxima a uma borda para ajudálos a sair da água Os transgênicos aprenderam a localizar a plataforma em três sessões enquanto os outros precisaram de seis A pesquisa provou que o gene NR2B foi fundamental no controle da habilidade cerebral de associação entre eventos nos camundongos uma propriedade básica do aprendizado Quando sinais diferentes chegam ao mesmo tempo por exemplo um associado a um objeto e o outro à sensação de dor o receptor é ativado gerando uma resposta condicionada de dor associada ao objeto Por disporem do gene NR2B em abundância os neurônios dos ratos transgênicos têm mais receptores e portanto aprendem mais rápido Os seres humanos possuem um gene correspondente ao NR2B mas seu efeito na inteligência ainda não foi estabelecido No entanto tornase possível vislumbrar a possibilidade de tratamentos para o Alzheimer e para outros tipos de patologias ligadas ao sistema nervoso embora A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana 100 ainda seja cedo para fazer previsões especialmente considerando as complexas implicações da utilização dessas tecnologias com humanos O mais importante em tais resultados é a relação desse processo com a plasticidade cerebral já que o NMDA NmetilDaspartato através de sua atuação nos processos de memória participa do reconhecimento de semelhanças entre eventos distintos abrindo caminhos para novas investigações a esse respeito Plomin e DeFries 1998 comentam a respeito de um marcador localizado no braço curto do cromossomo 6 que foi relacionado com a falta de habilidade para leitura pois o mesmo se encontrava em maior freqüência no grupo de indivíduos estudados no entanto há problemas ao tentar replicar os estudos de forma ampla dificultando as inferências sobre a influência desse gene isoladamente sobre a característica Psicopatologias Esquizofrenia Uma dificuldade na abordagem genética dessa psicopatologia está na tênue linha divisória entre os indivíduos normais e os afetados Embora haja indivíduos reconhecidos como esquizofrênicos não há uma certeza em separar os afetados do restante da população Evidências permitem considerar a esquizofrenia como uma patologia heterogênea sendo confundida com uma série de outras doenças de origem genética eou ambiental o que demandaria a formação de subgrupos homogêneos para testar a etiologia das diferentes formas de esquizofrenia Nurnberger e Berrettini 1998 A ocorrência familiar da esquizofrenia pode ser demonstrada devido ao risco de 9 de um irmão de esquizofrênico apresentar a patologia Para gêmeos o risco aumenta para 16 em dizigóticos e 48 em monozigóticos Embora possam ocorrer problemas devido à atuação concomitante de fatores ambientais nos números acima os valores são elevados se considerarmos que o risco de ocorrência na população em geral é de 1 Hall 1996 Estudos mais consistentes apontam para a influência genética sobre a esquizofrenia a partir do resultado de pesquisas de adoção Uma pesquisa demonstrou que o risco de filhos de mães esquizofrênicas apresentarem esquizofrenia quando adotados por outros pais foi semelhante ao encontrado para indivíduos criados por pais esquizofrênicos Foram encontrados ainda valores de concordância em torno de 45 para essa psicopatologia em gêmeos MZ e concordância próxima a 15 para gêmeos DZ Plomin Owen e McGuffin 1994 Loehlin Willerman e Horn 1988 comentam que geralmente há uma elevada taxa de doenças esquizoafetivas destacandose a esquizofrenia e personalidade esquizotípica nos parentes de indivíduos esquizofrênicos mas a tentativa de associar tal tendência familiar a apenas um locus gênico não tem sido bem sucedida Provavelmente são vários os genes que exercem efeitos sobre essa doença ou ocorre uma combinação de fatores genéticos e ambientais interligados na geração dos sintomas Também há evidências sugerindo que filhos de mães esquizofrênicas quando adotados por famílias problemáticas tenham maior probabilidade de manifestar essa psicopatologia sugerindo haver fatores desencadeantes que concorrem para o surto esquizofrênico A influência de fatores ambientais também pode ser demonstrada considerando que a probabilidade de um indivíduo ser esquizofrênico tendo um irmão com a psicopatologia é maior do que o risco de um filho de pai esquizofrênico ter a doença embora a porcentagem de genes compartilhados por pai e filho e por irmãos seja a mesma ou seja o fato de os irmãos terem sido criados na mesma família é um fator que deve ser considerado Tsuang 2000 Pesquisas em Biologia Molecular sugerem que os possíveis genes responsáveis pela esquizofrenia estariam localizados nos cromossomos 6 8 10 e Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates 101 13 embora a identificação precisa dos mesmos ainda não tenha sido realizada talvez prejudicada pelas dificuldades de formar grupos homogêneos de pacientes considerando as diferentes manifestações da esquizofrenia em subgrupos de sintomas específicos Tsuang 2000 Transtorno Unipolar e Bipolar Embora haja relatos de casos familiares de depressão associados a regiões cromossômicas do par 11 e do cromossomo sexual X os resultados têm sido controversos Marshall 1994 Provavelmente o estudo das bases genéticas da depressão é dificultado pelas diferenças existentes entre as concepções diagnósticas e pela heterogeneidade etiológica produzindo resultados ambíguos Loehlin Willerman e Horn 1988 Estudos com famílias demonstram que o risco de um parente de primeiro grau de um bipolar é sete vezes maior de ser bipolar e três vezes maior de ser unipolar quando comparados com nãoparentes de bipolar Em relação aos estudos com gêmeos um resumo de cinco estudos desde 1975 apresenta valores de concordância para gêmeos MZ entre 53 e 75 e entre 13 a 29 para gêmeos DZ Estudos de adoção não são muito freqüentes para transtornos de humor no entanto em uma investigação com 29 adotados que apresentavam transtorno bipolar foi verificado que 31 dos pais genéticos desses adotados apresentavam distúrbios afetivos valor bem superior à prevalência do transtorno nos seus pais adotivos que foi de 12 Lima e Valada Filho 2000 A busca de marcadores genéticos de localização conhecida que possam indicar portadores de uma doença sugere haver diversas regiões pertencentes a diferentes cromossomos que podem estar envolvidas no transtorno bipolar A região com maior ocorrência de famílias afetadas é a Xq28 região 28 do braço longo do cromossomo X Outros estudos indicam regiões dos cromossomos 4 6 13 15 18 21 e 22 mas há a dificuldade de replicação em outros grupos de indivíduos Lima e Valada Filho 2000 Os estudos com genes candidatos têm sido realizados em relação ao transtorno unipolar e bipolar Esses genes são assim denominados por codificarem proteínas que são reconhecidas pelo envolvimento na fisiologia da característica investigada e os estudos realizados visam a verificar se as diferenças encontradas nos indivíduos podem indicar predisposições importantes No caso específico do transtorno bipolar são pesquisados os genes relacionados à enzima tirosina hidroxilase que participa da síntese das monoaminas assim como os genes associados à monoaminoxidase A e B que metabolizam a serotonina a adrenalina e a dopamina No entanto as evidências encontradas para esses candidatos não foram replicadas em outros estudos Polimorfismos no gene que codifica o receptor serotoninérgico 5HT2A foram investigados em pacientes bipolares assim como variantes do gene da catecolometiltransferase COMT Embora as investigações tenham resultados interessantes indicando a participação de fatores genéticos sobre os transtornos de humor a grande maioria desses resultados não foi replicada em outros grupos de famílias analisadas Lima e Valada Filho 2000 Alcoolismo e Drogadição A investigação a respeito do alcoolismo e da drogadição aponta para um modelo multifatorial de herança devido à influência de diferentes fatores genéticos e ambientais bem como à interação dos mesmos Há indícios de que a influência genética sobre a personalidade anti social favoreça tanto o abuso de álcool como o de outras drogas Crabbe Belknap e Buck 1994 Há evidências de que o alcoolismo seja de ocorrência familiar e que ocorra mais freqüentemente em homens do que em mulheres A preponderância familiar parece estar relacionada com fatores genéticos e a diferenciação por gênero parece ser primariamente resultante de aspectos socioculturais Nurnberger e Berrettini 1998 Um estudo procurando avaliar a importância do gênero demonstrou valores de concordância em gêmeos MZ de 76 para homens e 355 para mulheres assim como em gêmeos DZ as concordâncias foram 609 para homens e 25 para mulheres resultando em valores de herdabilidade de 035 para homens e 024 para mulheres DinizSilva e Carvalho 1999 Estudos de adoção comparando 55 homens adotados de pais alcoolistas e 78 adotados sem pais alcoolistas demonstraram que o risco de alcoolismo foi de 18 para o primeiro grupo e 5 para o segundo Nurnberger e Berrettini 1998 As pesquisas a respeito do alcoolismo e drogadição demonstram um exemplo típico da dificuldade de atribuir a localização de genes ligados a características comportamentais em regiões cromossômicas específicas Embora um estudo tenha relacionado o receptor D 2 ao alcoolismo e posteriormente ao uso de cocaína investigações posteriores com outros indivíduos não sustentaram a hipótese sendo essa a grande dificuldade de estudar características comportamentais complexas pois mesmo que algumas pesquisas correlacionem determinados A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana genes ao comportamento freqüentemente os resultados não são repetidos com outros grupos de indivíduos Holden 1994 A monoaminoxidase MAO tem sido encontrada em níveis mais baixos em alcoolistas do que na população em geral No entanto alguns estudos indicam que o nível dessa enzima pode estar afetado pela ação da nicotina Considerando que muitos alcoolistas são tabagistas os efeitos podem estar confundidos Cloninger 1987 citado por Nurnberger e Berrettini 1998 considera que há dois subtipos de alcoolismo O tipo I é menos herdável e mais comum tendo início após os 25 anos de idade e encontrandose associado ao uso do álcool junto à perda do controle muita culpa e medo O tipo II tem início antes dos 25 anos é mais herdável e limitado aos homens cujos afetados são inábeis para a abstenção ao álcool apresentando níveis muito baixos de MAO Segundo o autor ao contrário do tipo I os alcoolistas do tipo II apresentam uma avidez por novidades associada à dopamina além de tendência a não evitar problemas associada à serotonina e também alta dependência de recompensas ligada à norepinefrina O fato de a MAO atuar na degradação de dopamina serotonina e norepinefrina permite concluir sobre a importância da diminuição dessa enzima nos alcoolistas do tipo II e com a predisposição genética ao alcoolismo Nurnberger e Berrettini 1998 Outro estudo interessante relaciona a influência de genes com a diminuição da predisposição ao alcoolismo em asiáticos japoneses O metabolismo do álcool envolve duas enzimas produzidas no fígado a álcool desidrogenase ADH que o transforma em acetaldeído e a aldeído desidrogenase ALDH que age sobre o acetaldeído gerando o ácido acético O acúmulo de acetaldeído no sangue devido a maior função de ADH ou decorrente de menor ação da ADLH foi associado à baixa predisposição ao alcoolismo Uma variante atípica da ADH chamada de ADH22 presente em 5 a 20 nos europeus mas em 90 dos japoneses proporcionou produção acelerada de acetaldeído Os efeitos desse acúmulo são rubor facial taquicardia e malestar tendo um efeito protetor ao álcool pois tais sintomas inibem o consumo diante dessas sensações desagradáveis Os portadores de uma variante inativa de ALDH denominada ALDH22 cuja ação aumenta a concentração de acetaldeído no sangue apresentaram os mesmos efeitos presentes nos portadores de ADH22 A variante ALDH22 foi encontrada com a freqüência de 50 nos japoneses sendo rara em europeus DinizSilva e Carvalho 1999 Alzheimer Foram encontrados quatro genes relacionados com o Alzheimer com resultados replicados em populações diferentes permitindo assim atribuir grande participação destes na ocorrência da patologia abrindo caminho para possibilidades de solucionála Nurnberger e Berrettini 1998 No cromossomo 19 foi identificado o gene ApoE associado à Alzheimer de início retardado O mecanismo possível para explicar a relação com a doença é que a enzima ApoE4 codificada pelo gene se liga à proteína amilóide auxiliando a formação de um amilóide neurotóxico insolúvel Dal Pizzol Klamt e Quevedo 2000 Foram encontradas também três regiões do DNA relacionadas ao Alzheimer precoce em que mutações nos genes foram associadas à ocorrência da patologia como as seguintes mutações no gene da proteína precursora do amilóide PPA do cromossomo 21 21q11 estudada em 19 famílias mutações no gene da préselinina 1 PS1 do cromossomo 14 14q243 estudada em 50 famílias e mutações no gene da préselinina 2 PS 2 localizado no cromossomo 1 Evidências sugerem que as mutações no PS1 e no PS2 estão associadas ao processamento anormal da PPA e se considerarmos que os neurônios afetados pela doença apresentam placas de amilóide principalmente o ßamilóide peptídio codificado pelo PPA identificamos uma relação importante entre tais genes e o Alzheimer Dal Pizzol Klamt e Quevedo 2000 Samaia e Vallada Filho 2000 apontam ainda características interessantes a respeito da doença Apenas 10 dos pacientes com Alzheimer do tipo familiar tem a doença causada pelos genes estudados Os autores também afirmam que embora esteja demonstrada a participação do alelo e4 da apoliproteína no Alzheimer o fato de o indivíduo ter o gene não se constitui em condição necessária para apresentar a doença sendo encontrados indivíduos saudáveis que podem após o envelhecimento apresentar lesões semelhantes aos pacientes com a doença e também pacientes com Alzheimer que não apresentam as alterações genéticas reconhecidas como causa da doença Outras Psicopatologias Loehlin Willerman e Horn 1988 apontam para evidências genéticas na Síndrome de Briquet uma patologia ocorrida tipicamente em mulheres que se caracteriza pela presença de sintomas físicos múltiplos e inexplicáveis em muitos órgãos além de intensas somatizações associadas à depressão e à ansiedade É importante ressaltar que essa 102 Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates patologia tem incidência familiar e foi associada a índices elevados de homens com personalidade antisocial na família Segundo os autores esses resultados indicam que as duas patologias podem ser formas sexoligadas de expressão de um distúrbio e que talvez sejam influenciadas pelo mesmo fator genético Alguns estudos sobre transtorno do pânico demonstram uma prevalência de 13 em parentes de primeiro grau afetados contra 35 da população em geral Pesquisas sobre neurose de ansiedade com gêmeos demonstram uma concordância de 41 para gêmeos MZ e de 17 para DZ assim como outros estudos apresentam concordâncias maiores para MZ do que para DZ na síndrome do pânico entretanto há uma carência de estudos de adoção que possam demonstrar os efeitos genéticos de forma contundente Messas e Vallada Filho 2001 Há ainda uma pequena evidência sobre a herança genética do transtorno obsessivo compulsivo embora os estudos sejam pouco conclusivos constituindose apenas na possibilidade de que alterações de ordem genética na serotonina possam estar ligadas ao transtorno Nurnberger e Berrettini 1998 Contudo as implicações e as inferências a respeito das alterações bioquímicas não apenas no caso específico do transtorno obsessivocompulsivo e a contrapartida destas sobre o comportamento podem conduzir o debate para a seguinte questão a diminuição ou aumento de neurotransmissores ou outras substâncias no organismo se constituem na causa dos problemas ou simplesmente representam as conseqüências de disposições psíquicas Investigações mais detalhadas poderiam elucidar questões importantes a respeito das interconexões entre o psíquico e o biológico nos aspectos mais amplos da mente humana Sobre o autismo foram encontradas as concordâncias de 36 para gêmeos MZ e 10 para gêmeos DZ Em contrapartida quando o fenótipo presença de autismo incluía deficiências cognitivas e de linguagem as taxas de concordância chegaram a 82 para MZ e 10 para DZ Há evidências de associação da patologia a outras doenças genéticas como a síndrome do Xfrágil a fenilcetonúria e determinadas anormalidades cromossômicas Pesquisas realizadas com pais de autistas indicaram que muitos apresentavam comportamento de distanciamento rigidez ansiedade e alterações na fala na cognição e no relacionamento interpessoal quando comparados com indivíduos controle representados por pais de crianças com síndrome de Down Nurnberger e Berrettini 1998 Entretanto embora sejam encontradas concordâncias altas para autismo em gêmeos o mesmo não ocorre para irmãos nascidos em épocas diferentes concordância de 17 sugerindo que o ambiente intrauterino pode desempenhar um papel importante no autismo Loehlin Willerman e Horn 1988 Personalidade O estudo das influências genéticas sobre as características da personalidade passa pela dificuldade de definir precisamente quais são e como são essas características Bouchard 1994 apresenta uma classificação dividindo as características da personalidade em cinco fatores 1 G Extroversão os indivíduos de comportamento positivo para essa característica são persuasivos decididos e com aptidão para a liderança G Tendência à neurose indivíduos que superam rapidamente as experiências desagradáveis e apresentam estabilidade emocional apresentam baixa tendência à neurose G Conscienciosidade os metódicos responsáveis pragmáticos e seguros são indivíduos com aptidão positiva para a conscienciosidade G Afabilidade as pessoas simpáticas cordiais amáveis e leais são exemplos de atitudes positivas para essa característica G Abertura curiosidade e originalidade aparecem de forma positiva associadas a grande tendência à imaginação e reflexão e à facilidade em ter experiências novas Pesquisas realizadas com gêmeos indicam que a característica tendência à neurose seguida da característica abertura e da característica conscienciosidade foram as que apresentaram maior influência genética Destacase também que fatores nãogenéticos incluindo ambiente compartilhado e nãocompartilhado representam a maior parcela de participação nas características demonstrando a complexidade que representa a combinação de fatores ambientais e biológicos na expressão das características de personalidade Bouchard 1994 Atkinson et al 1995 cita um estudo onde foram encontrados os seguintes valores de correlação para características de personalidade gêmeos MZ criados juntos 052 gêmeos MZ criados separadamente 049 gêmeos DZ criados juntos A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana 103 1 Tradução realizada pelos autores do artigo a partir de extraversion neuroticism c o n s c i e n t i o u s n e s s agreeableness e openness 023 e gêmeos DZ criados separadamente 021 Observamos que as semelhanças são maiores para gêmeos MZ do que para gêmeos DZ e que os valores entre gêmeos criados juntos e gêmeos criados separadamente são semelhantes sugerindo a participação de fatores genéticos Bouchard 1994 cita ainda uma tendência nas pesquisas dessa natureza em considerar que os indivíduos em conseqüência de suas determinações genotípicas fazem suas opções dentro de uma variedade de estímulos e eventos que o ambiente proporciona durante a sua vida construindo um conjunto próprio e único de experiências no ambiente em que vive Portanto os fatores genéticos influenciam os fatores ambientais particulares ao indivíduo Isso significa considerar oa homemmulher como um ser dinâmico criativo cujo desenvolvimento é acompanhado por oportunidades de aprender e experimentar novos ambientes e assim ampliar os efeitos do genótipo sobre o fenótipo neste caso as características de personalidade Reflexões Finais e a Atuação do Psicólogo Mann 1994 cita um comentário de Steven Rose autor de um livro antieugênico chamado Not in Our Genes segundo o qual a influência de fatores genéticos sobre o comportamento humano existe e é verdadeira entretanto é problemática a tendência das pessoas em transpor esta afirmação para o determinismo neurogenético sugerindo que os genes determinam o comportamento e não apenas influenciamno em consonância com o ambiente social Conforme Plomin e Rende 1991 a complexidade do fenótipo comportamental humano decorre do funcionamento do organismo como um todo e de seu dinamismo e grande flexibilidade em produzir respostas frente às alterações do ambiente Outras peculiaridades dessas características decorrem do fato de as mesmas via de regra apresentarem uma distribuição contínua sendo influenciadas pelos fatores ambientais e por um grande número de pares de genes cada qual contribuindo com um pequeno efeito para o fenótipo total o que corrobora a hipótese que considera as tendências genéticas como probabilísticas e não como determinísticas Com base nessas afirmações há uma tendência entre os pesquisadores de encarar as psicopatologias não simplesmente através da sua presença ou ausência nos indivíduos e sim através de um novo olhar que considera os afetados pelas características como os extremos de uma distribuição contínua composta por pessoas com diferentes graus de expressão do fenótipo comportamental característico do distúrbio Plomin Owen e McGuffin 1994 É importante ressaltar que os fatores ambientais incluem tudo o que acontece desde a formação do zigoto na fecundação do gameta feminino pelo espermatozóide Todo e qualquer evento decorrido após esse período influencia em diferentes graus o comportamento do indivíduo seja a ingestão de um medicamento pela mãe ou algum trauma emocional que pode inclusive desencadear o nascimento prematuro do feto Tal complexidade de fatores ambientais somados ao imbricamento destes com os componentes genéticos gera um mosaico de possibilidades regido por tendências que aumentam a probabilidade de algumas em detrimento de outras O genótipo ou o conjunto de genes e as interações entre eles fornece os limites para a amplitude de variação do fenótipo comportamental possível nas diferentes características Portanto se utilizarmos o conceito amplo de ambiente como um fator decisivo para a estruturação do ser humano ratificamos a importância do papel do psicólogo frente a demandas cada vez maiores no sentido de termos acesso a informações sobre a genética dos indivíduos Pacientes que chegam ao consultório com um exame positivo para patologias genéticas não estão condenados de forma peremptória pois possuem uma tendência genética que em muitos casos pode não se confirmar Estudos ligados à Psiconeuroimunologia apontam evidências da influência da depressão sobre a diminuição das células T natural killer que atuam no sistema imunológico desempenhando um papel importante no controle de processos relacionados ao câncer A Psiconeuroimunologia procura conexões entre os aspectos psicológicos e as doenças físicas através das influências da psique sobre o sistema imunológico tanto em casos de gripes resfriados ou herpes em que já há resultados consistentes como em relação às doenças auto imunes a AIDS e ao câncer em que os resultados são menos conclusivos provavelmente devido a dificuldades metodológicas para o estudo dessas patologias embora algumas pesquisas já tenham demonstrado que os índices de cura aumentam quando os pacientes nutrem expectativas positivas quando à resolução do problema Cohen e Herbert 1996 Os autores citam também um estudo com pacientes que apresentavam câncer de mama não metastático no qual aqueles de maior espírito de luta e que não se conformavam com o fato de estar doentes tiveram menor recorrência e período de vida mais longo quando comparados a pacientes desesperançosos e fatalistas Em outro estudo também citado pelos mesmos autores pacientes com melanoma Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates 104 maligno foram divididos em dois grupos um grupoteste que recebeu a intervenção por parte de profissionais de Psicologia e um grupo controle em que não era realizada a intervenção Os resultados demonstraram que houve respostas favoráveis ao tratamento no primeiro grupo já que após seis meses os pacientes apresentavam melhor estado psicológico e maior função das células T do que os pacientes do grupocontrole sem tratamento Também foi realizada uma pesquisa que demonstrou uma tendência de aumento em 18 meses na sobrevivência de pacientes com câncer de mama metastático submetidos a intervenção psicoterápica consistindo de sessões semanais de tratamento de 90 minutos durante um ano em relação aos que não foram submetidos ao tratamento e que apresentavam a mesma patologia Cohen e Herbert 1996 Considerando o fato de atualmente termos a possibilidade de identificar a presença de genes que aumentam a predisposição a determinadas doenças como o câncer revestese de grande importância a intervenção do profissional de Psicologia nesses casos especialmente considerando que um exame positivo para esses genes não significa que o paciente esteja condenado definitivamente e mesmo que venha a desenvolver a doença há a possibilidade de combatêla integrando as terapêuticas de ordem física e de ordem psicológica O aprofundamento do tema auxiliaria na melhor compreensão a respeito das formas de utilizar mais eficientemente tal tecnologia considerando as dificuldades decorrentes do fato de receber um resultado desfavorável nesses exames assim como o debate multidisciplinar permitiria que pudéssemos avaliar os benefícios das tecnologias da Biologia Molecular nas ações de saúde como já podemos observar em algumas áreas biomédicas De forma mais ampla em caso de ser desenvolvida no futuro uma abordagem que permitisse acessar os componentes genéticos envolvidos no comportamento de um indivíduo e conseqüentemente inferir a respeito de limites de variação para o fenótipo comportamental da pessoa nós não estaríamos diante de informações determinísticas De posse dessa tendência esperada é fácil admitir que quaisquer fatos marcantes ocorridos durante a vida do indivíduo como a experiência de ser seqüestrado a separação dos pais no período da infância a morte de um familiar próximo ou outro evento traumático alteraria significativamente o comportamento do mesmo Portanto genética e ambiente cultura ou experiência individual estão totalmente imbricados na formação do fenótipo comportamental produzindo em um indivíduo uma conjunção única de fatores interligados gerando um resultado particular embora dotado de flexibilidade dentro de um mosaico de possibilidades que poderiam ser consideradas inicialmente Por essa razão quando se fala em clonagem de seres humanos deveríamos pensar mais no que poderia ser clonado e menos em quem seria clonado ou seja qual DNA seria duplicado e não qual pessoa seria copiada A Biologia Molecular demonstrou na última década a viabilidade técnica de clonar o DNA de um ser humano porém possuímos conhecimento suficiente para saber que um homem ou uma mulher não resultam apenas de seu material genético Prova disso é o fato de gêmeos MZ clones produzidos no laboratório da natureza apresentarem diferenças significativas nas características comportamentais Mesmo que as concordâncias para os pares de gêmeos criados separadamente sejam elevadas e maiores do que para relações de parentesco mais distantes observamos em muitos estudos que o ambiente se constitui em fator preponderante Cada ser representa em qualquer momento da vida uma subjetividade uma consciência em constante construção As abordagens científicas atuais têm considerado o ser humano como resultado de seus genes interagindo com uma conjunção de eventos complexos e marcantes em A Psicologia Face aos Novos Progressos da Genética Humana 105 sua trajetória Podemos inferir que o avanço no estudo da gênese do ser humano ocorrerá através do desenvolvimento de concepções adequadas mediante a conjugação dos avanços tecnológicos na Biologia com as abordagens psicológicas É interessante observarmos o distanciamento existente entre essas duas áreas do saber no estudo do comportamento humano principalmente se considerarmos que ambas apresentam resultados plausíveis e crescentes embora a busca do estudo da mente humana através dela mesma dificulte a Rossano André DalFarra Emerson Juliano Prates 106 formação de abordagens que integrem as diferentes áreas de conhecimento relacionadas com a vida A falta de convergência das diferentes ciências dificulta a sua integração na mesma faixa de entendimento um atributo necessário para a compreensão da delicada e complexa natureza do comportamento dessa espécie que demonstra um grande poder de modificar o meio à sua maneira mas que tem apresentado um ínfimo conhecimento de si mesma através do insuficiente domínio de tudo o que se passa em sua subjetividade ATKINSON R L ATKINSON R C SMITH E E BEM D J Introdução à Psicologia Porto Alegre Artmed 1995 BEE H O Ciclo Vital Porto Alegre Artmed 1997 BOUCHARD Jr T J Genes Environment and Personality Science v 2641994 pp 17001733 BROWN K The Human Genome Business Today Scientific American Jul 2000 pp 4045 COHEN S HERBERT T B Health Psychology Psychological Factors and Physical Disease from the Perspective of Human Psychoneuroimmunology Annu Rev Psychol v 47 1996 pp 113 142 CRABBE J C BELKNAP J K BUCK K J Genetic Animal Models of Alcohol and Drug Abuse Science v 264 1994 pp 17151723 DAL PIZZOL F KLAMT F QUEVEDO J Demências In Kapczinski F Quevedo J Izquierdo I org Bases Biológicas dos Transtornos Psiquiátricos Porto Alegre Artmed pp 211217 2000 DINIZSILVA A C CARVALHO M R S Aspectos Genéticos do Alcoolismo Psiquiatria Biológica v 7 n 21999 pp 5164 FIGUEIREDO LCM Matrizes do Pensamento Psicológico Rio de Janeiro Vozes 1991 GARDNER H Estruturas da Mente a 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