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Cristina Costa\nSociologia\nIntrodução à ciência da sociedade\n\nIII Moderna © Cristina Costa, 2010\n\nModerna\n\nCoordenação editorial: Maria Raquel Apolinário, Eduardo Augusto Guimarães\nEdição de texto: Eduardo Augusto Guimarães, João Carlos Apóstoli\nAssessoria didático-pedagógica: João Carlos Apóstoli\nEdição editorial: Cinéia Miguel, Talitha Serbino, Maria Odete Garcez,\nEdner Ricardo Franco, Lenílson Semblano\nPreparação de texto: Lee Marzec, Sérgio Roberto Torres\nColaboração de design e produção visual: Sandra Ribeiro de Carvalho Homma\nProjeto gráfico: Aurélio Camillo\nCapa: Aurélio Camillo\nIlustrações: Alessandra Costa Pimenta, Andréa de Andrade Pimentel\nRevisão de texto: Euclides da Motta Neto\nRecepção das provas: João Carlos Apóstoli\nImpressão e acabamento: Paul Idon Gráfica\n\nDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)\n(Câmara Brasileira do Livro, SP Brasil)\n\nCosta, Cristina\nSociologia : introdução à ciência da sociedade / Cristina Costa.\n- 4. ed. - São Paulo : Moderna, 2010.\nBibliografia.\n\n1. Sociologia I. Título.\n\n10:03462\nCDD: 301\n\nÍndices para catálogo sistemáticos:\n\n1. Sociologia 301\n\nISBN 978-85-16-05695-8 (LA)\nISBN 978-85-16-05696-6 (LP)\n\nReprodução proibida. A lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.\nTodos os direitos reservados.\n\nEditora Moderna Ltda.\nR. Barão de Itapetininga, 72 - 17° andar\nSão Paulo - SP - 01042-000\n\nwww.moderna.com.br\nImpressão Brasil\n\n1 3 7 5 1 0 9 8 6 4 2 UNIDADE I\nSociologia: a criação do campo do saber\n\nCAPÍTULOS\n1 Da era pré-científica ao Renascimento p. 10\n2 Da Ilustração ao nascimento das ciências sociais p. 24\n3 A sociologia de Émile Durkheim p. 38\n4 A sociologia alemã: a contribuição de Max Weber p. 48\n5 Karl Marx e a história da exploração do homem p. 60\n\nOBJETIVOS\n• Reconstruir o desenvolvimento do pensamento sociológico a partir do Renascimento.\n• Conhecer o caminho percorrido pela sociologia, que a levou a se diferenciar da filosofia social e a se constituir em um corpo organizado de conceitos e metodologias científicas. \"O conceito de 'natureza' é hoje determinado,\nem larga medida, pela forma e pela significação\nsocial que as ciências da natureza lhe conferem.\nMas essas ciências interessam-se apenas\npor um setor limitado do universo. [...] Se qui-\nsermos compreender isso a que se chama 'na-\ntureza', entretanto, será preciso levarmos em\nconta o fato de que os seres humanos [...] surgi-\nram do universo físico. Numa palavra, teremos\nde incluir no conceito de natureza a capacidade\nque ela tem de produzir, no curso de processos cegos, não apenas reatores de helio ou desertos\nlunares, mas também seres humanos.\n\nParadebater:\n1. O que você entende por natureza?\n2. Segundo o texto, o que é natureza? CAPÍTULO 1\n\nDa era pré-científica ao Renascimento\n\n1. O conhecimento como característica da humanidade\n\nAo observamos animais de diferentes espécies, percebemos a exis-\ntência de regularidades comportamentais que caracterizam a vida de\ncada grupo: eles se reúnem, convivem, competem e se acasalam de\nforma ordenada, reproduzindo um certo modelo que varia em função\ndo ambiente em que vivem.\n\nA preservação das espécies animais e sua adaptação parecem ser,\ncomo afirmou Darwin na teoria sobre a evolução das espécies, o ob-\njetivo desses hábitos de vida, da forma de convivência e da sociabil-\nidade. Assim, os animais desenvolvem estilos próprios de Comportamento que lhes permitem a reprodução e a sobrevivência.\n\nO homem, como uma entre as várias espécies animais e como pro-\nduto de um sistema de relações de convivência, reprodução, assistência e defesa. Desse modo, apresenta uma série de atitudes que\no caracteriza. Algumas são \"instintivas\", são ações de reações que se\ndesenvolvem de forma espontânea, dispensando a organização, como\nrespirar ou alimentar-se. Proveniente da bagagem genética, o ho-\nmem demonstra também ser capaz de sentir medo, prazer e de\nexpressar esses sentimentos. Porém, por dificuldades impostas\npelo ambiente, quer por particularidades de própria espécie, o homem\ntambém desenvolveu habilidades e comportamentos que não são\ngénéticos, mas culturais.\n\nQuando falamos em cultura, estamos nos referindo a um conjunto\nde valores, crenças, padrões de comportamento e hábitos de vida que,\napesar do geral e coletivo, varia no tempo e no espaço. A cultura não\nse desenvolve em um grupo de modo exclusivamente, mas é produzida historicamente, fruto da dinâmica da vida em comum. Para ser trans-\nmitida por uma geração para outra depende da transmissão.\n\nEssas são as principais características do ser humano: viver de\nacordo com a cultura, desenvolver um sistema simbólico, comunica-\n-se através de complexo processo linguístico tendo em vista o seu meio de socialização (figuras 1 e 2). A complexidade exigida\nque o ser humano se tornasse objeto de ciências especialmente dedicadas para compreendê-lo. São as chamadas ciências humanas,\nentre as quais se destaca a sociologia, que estuda especificamente os princípios que regem a vida em grupo. A ela dedicamos o presente tex-\nto abordando sua origem e os primeiros corpos teóricos organizados. Esperamos ajudar os leitores a entender melhor o mundo que os\ncerca e a torná-los mais sensíveis em relação à sua participação como\nmembros da espécie humana, que é tão peculiar.\n\n2. A sociologia: um conhecimento de todos\n\nPalavras e expressões como contexto social, classe, estrato, camada,\nmodo de conflito social são hoje muito veiculadas pelos meios de co-\nmunicação de massa e aparecem nos discursos políticos, na publicidade\ne no dia a dia das pessoas. Há referências, por exemplo, às \"classes so-\nelites\" e às \"pressões sociais\" como se fossem termos que fi-\nzem parte de um vocabulário conhecido por todos, como se políticos,\nincrimadores e eleitores soubessem exatamente o que elas significam.\n\nCada vez mais pesquisas, para os mais diversos fins, veiculam os\nmodulados, o público, em geral, demonstra entender os procedi-\nmentos utilizados por elas. O leitor ou espectador admite que seu compro-\nvimento, suas emoções e sentimentos dependem das características\ndividuais assim como de certas regularidades que são observáveis\nmembros de um determinado grupo expostos às mesmas circunstâncias.\nEle intui a existência de regularidades em nossa forma de\nimportamento e reconhece que, por trás da diversidade entre as pes-\nsoas, existe certa padronização nos modos de agir e pensar, de acordo\ncom sexo, idade, nacionalidade, classe social ou etnia.\n\nO uso da sociologia nos diversos campos\natividade humana\n\nAssim como o leitor, o espectador de televisão e o cidadão comum\nsabem que existem conceitos e métodos relativamente eficazes para\nentender o comportamento social. E profissionais das mais diversas\náreas também não ignoram a validade do instrumental da sociologia.\n\nFigura 2 - Professor e alunos em sala de aula. Espírito Santo, 2008. Não se construem mais cidades, não se desenvolvem campanhas políticas nem se declaram guerras sem levar em consideração as pessoas envolvidas, suas crenças, seus interesses, suas ideias e tradições, enfim tudo aquilo que motiva sua ação e guia sua conduta. A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que na verdade atuam atinjam seus objetivos. Isso significa que o setor de vida social prescinde dos conhecimentos sociológicos, pois a ação econômica, e o programado exige pesquisa, planejamento e método (figura 3).\nÉ por isso que a sociologia faz parte dos programas básicos dos cursos universitários que prepararam os mais diversos profissionais – e, por isso, também o sociólogo integra equipes nos mais diversos setores da vida social.\nDesafios da sociologia hoje\nSistematizados como o desenvolvimento das cidades e da indústria, as teorias sociológicas orientam os demais cientistas na compreensão da vida social do comportamento coletivo. O diálogo estabelecido com as diversas áreas do saber garante a atuação multidisciplinar, ao mesmo tempo em que enriquece os diversos campos científicos.\nAlém dessa abrangência e interdisciplinaridade conquistada pelo conhecimento sociológico, as teorias desenvolvidas têmido especial aplicação na educação do comportamento dos cidadãos em relação à sociedade em que vivem. Dessa forma, a sociologia tem sido importante na educação política e na prática consciente.\nFinalmente, a sociologia é particularmente necessária devido à vida contemporânea e às transformações que estão em processo, que a sociologia se torna indispensável à formação dos jovens, dos profissionais e dos cidadãos.\nFigura 3 Pesquisa do Censo demográfico realiza entrevistas para coletar dados. Brasília, 2010. A emergência do pensamento científico\nPensar cientificamente o ser humano e a vida social resultou de um lento processo pelo qual a ciência em geral e as ciências humanas em particular foram ganhando espaço e legitimidade. Além disso, embora o pensamento abstracto seja uma das principais características da humanidade, os modelos de conhecimento que o homem desenvolveu não foram sempre os mesmos.\nOs povos desenvolveram diferentes formas de explicação a respeito da vida, da natureza e da sociedade em que vivemos, dependendo dos fatores sociais, da tradição, da influência de outros grupos, da maior ou menor resistência cultural. No mundo antigo, tal qual o entendemos hoje, predominou o pensamento mítico e religioso que concebida o mundo como uma obra divina, submetida aos desígnios do criador.\nPara os egípcios, como para os babilônios, a eficiência do pensar limitava-se ao programático, a necessidade de solucionar problemas particulares que se apresentavam como obstáculos ao transcurso da existência. Ao pensar como um exercício voltado para si mesmo, capaz de se desenvolver em uma aplicabilidade imediata, independente das crenças religiosas do pensamento mítico, teve suas raízes históricas na civilização grega.\nO pensamento especulativo grego\nEntre os séculos VI e V a.C., os gregos romperam com o senso comum, com a tradição e com o pensamento mítico. Com essa mudança, desenvolveram uma reflexão laica e independente, própria do pensamento especulativo, que se debruçava sobre o mundo procurando entendê-lo em sua objetividade. Em consequência, acabaram por criar a filosofia e muitos dos campos do saber até hoje conhecidos, como a geometria e a astronomia (figura 4). A razão a serviço do indivíduo e da sociedade\nFoi no Renascimento, com o desenvolvimento do comércio e de núcleos urbanos, que o pensamento científico se impôs como forma hegemônica de pensar o mundo, abrindo-se uma era de apoio do cientificismo e da racionalidade.\nO Renascimento é um dos mais importantes momentos da história do Ocidente. Foi quando se processou a ruptura entre o mundo medieval, com suas características de sociedade agrária, teórica e fundiária, e o mundo moderno urbano, burguês e comercial (figura 5).\nEsse movimento representou uma nova postura do homem diante da natureza e do conhecimento. Juntamente com a perda de hegemonia da Igreja Católica como instituição e o consequente aparecimento de novas doutrinas e etapas clamando seus seguidores a uma leitura interpretativa dos textos sagrados, o homem renascentista redescobriu a importância da dúvida e do pensamento especulativo, conhecimento deixou de ser encarado como revelação, resultando na contemplação e fé, para ser o resultado de uma bem conduzida atividade do pensamento (figura 6).\n“Este é o homem novo do Renascimento: aquele que se libertou da tradição pela dúvida e confirmou seu valor através de experiências, aquele que confia na nova razão, isto é, assume sua realização dentro da temporalidade.”\nPESSANHA, José Américo Moto. Humanismo e Política.\nIn: NOVAES, Adauto. Artepensamento. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 34.\n\nÉ nesse ambiente propício de curiosidade, dúvida e valorização humana que o pensamento científico adquiriu nova importância, promovendo o aumento do interesse pelo entendimento da vida social.\nFigura 5 Detalhe da pintura Banquete de casamento, de Sandro Botticelli, 1483. Em cima como essa, os pintores renascentistas (séculos XV e XVI) exaltavam a vida terrena. O crescimento das cidades e do comércio, as viagens marítimas, o contato com outros povos desafiavam os homens a pensar a sua realidade próxima e a comparar diferentes culturas. Descobertas de riquezas, de terras, de regras alimentavam a imaginação do homem renascentista, que passou a valorizar o “novo” e a considerá-lo sinônimo de “maravilhoso”. Estimulados por ele, muitos rompiam com o passado e buscavam novas explicações para um cenário diferente que desconfortava e para o qual as antigas crenças não serviam mais.\n\nO desenvolvimento tecnológico, que se tornou cada vez mais acelerado, promoveu novas maneiras de olhar o mundo, provocando mudanças nas relações humanas e na produção material da vida. Ao seguir a prensa de tipos móveis, Johannes Gutenberg deu à Europa o instrumento que faltava para saciar a variável necessidade da comunidade de livre-pensante de ler os clássicos, realizar pesquisas empíricas, elaborar hipóteses e torná-las conhecidas. Iniciou-se, então, um processo irreversível de divulgação do conhecimento e de hegemonia da cultura letrada, aspectos importantes para o desenvolvimento da ciência e do pensamento moderno, que passaram a buscar a coerência dos textos. A reflexão e a argumentação começaram a dispensar a noção medieval de verdade revelada.\n\n5. Um novo pensamento social\n\nEm um mundo cada vez mais laico e independente da tutela da religião, o homem foi levado a pensar e a analisar a realidade que o cerca em sua objetividade.\n\nO aparecimento de novas instituições políticas e sociais – as nações, os Estados, as legislativas e os execuções nacionais – levou os estudiosos a repensar a vida social e a história, tornando evidente o papel da consciência, da vontade, do discriminação e da intervenção humana no rumo dos acontecimentos.\n\nAo mesmo tempo, a emergência da burguesia promoveu transformações políticas e sociais, o espaço que ela conquistou desfez a crença em uma sociedade estática, de origem divina. Em seu lugar, surgiu a ideia de uma vida social dinâmica e em permanente construção.\n\nNossa atitude especulativa diante da vida social estava a germo do pensamento social moderno que se expressou na pintura, na filosofia e na literatura – especialmente na literatura utópica de Thomas Morus (A Utopia), Tommaso Campanella (A cidade do Sol) e Francis Bacon (Nova Atlântida). Thomas Morus (1478-1535)\n\nNasceu em Londres. Foi pensador, estadista, advogado e membro da Câmara dos Comuns. Como bom humanista, desenvolveu reflexões sobre o gregão antigo. Em 1518, foi nomeado membro do Conselho Secreto de Henrique VIII e chegou a ocupar, em 1529, o mais alto cargo do Reino. Após-se anulado da citação de Henrique VIII, resolveu-se a jurar fidelidade à Igreja anglicana, por ser cético em relação a essa autoridade real. Foi preso, condenado e executado. Em 1535, foi canonizado pela Igreja Católica, e sua festa é celebrada em 22 de junho. Sua grande obra é A Utopia.