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ECONOMIA MONETÁRIA CURRÍCULO LATTES APRESENTAÇÃO Professor Dr Murilo Borges Doutorado em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá UEM Mestrado em Teoria Econômica pela UEM Bacharel em Ciências Econômicas pela UEM Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde UniFCV Especialista em Administração Tributária pela Universidade Castelo Branco Certificação de Investimentos Anbima CPA10 e CPA20 Docente dos cursos de Administração e Economia da UniFCV Professor de pósgraduação na UniFCV Funcionário do Banco do Brasil e professor do Centro Universitário Cidade Verde UniFCV Possui graduação em Ciências Econômicas 2003 Mestrado 2014 e Doutorado 2019 em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá UEM Tem experiência na área de Economia com ênfase em Economia Bancária e Financeira atuando principalmente nos seguintes temas certificações de investimentos economia monetária estatística e econometria APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Olá aluno Para ser graduado em qualquer curso superior é preciso concluir várias disciplinas A regra é clara se a soma das disciplinas concluídas for igual as disciplinas exigidas então o aluno leva o canudo para casa Cada disciplina portanto é uma fração da graduação É como uma longa caminhada não há como concluíla sem antes dar todos os passos necessários Somente ao final de todos os passos você terá caminhado o suficiente para concluir uma longa caminhada E aqui estamos nós iniciando novos passos rumo à conclusão de sua caminhada Todos os passos que iremos dar a partir de agora compõem uma caminhada chamada Economia Monetária Além dos conceitos associados ao tema nesta nossa caminhada iremos essencialmente responder a seguinte questão qual a real importância da economia monetária para a política econômica Para responder esta questão nosso curso está dividido em quatro unidades A unidade I visa contextualizar o que será tratado em nossa disciplina Tratase de uma unidade introdutória Veremos os mecanismos de transmissão da política monetária uma breve revisão histórica do pensamento econômico sobre economia monetária os instrumentos de política monetária e por fim a apresentação do mercado financeiro e do processo de intermediação financeiro em que a política monetária está inserida São assuntos importantes que irão lhe auxiliar para o melhor entendimento do que virá a seguir A unidade II pode ser dividida em duas partes A primeira é a continuação da contextualização que começamos na unidade anterior Nesta parte iremos tratar do Sistema Financeiro Nacional instituído pela Lei nº 4595 de 1964 as definições e funções da moeda as principais características do Banco Central e os principais agregados monetários e meios de pagamento Na segunda parte dessa unidade iremos iniciar a discussão a respeito das teorias monetárias É uma discussão bastante intensa e aberta até os dias atuais Essencialmente a economia monetária está fundamentada sobre essas discussões teóricas Aqui iremos demonstrar a Teoria Quantidade da Moeda e a Teoria da Preferência pela Liquidez São duas teorias basilares que deram o pontapé inicial para as teorias monetárias subsequentes A unidade III é uma continuação da segunda parte da unidade anterior Continuaremos portanto demonstrando as seguintes teorias monetárias os modelos neoclássicos keynesianos de demanda por moeda a teoria da política monetária no modelo keynesiano fundamentada no modelo ISLM a teoria da política monetária do modelo monetarista e a teoria da política monetária novoclássica Por fim na unidade IV trataremos dos conceitos relacionados à inflação e do sistema de metas de inflação derivado da teoria da política monetária novoclássica e atualmente utilizado por diversos países inclusive o Brasil Concluindo esta unidade iremos apresentar a organização do regime de metas de inflação em funcionamento no Brasil desde 1999 Então é isso meu caro aluno Que essa disciplina feita com dedicação por várias mãos acrescente coisas boas à sua caminhada e que a partir dela você possa começar outras novas caminhadas em direção ao seu crescimento pessoal e profissional Seja portanto muito bemvindo ao nosso curso de Economia Monetária Muito obrigado e bons estudos UNIDADE I CONCEITUALIZAÇÃO Professor Murilo Borges Plano de Estudo Conceitos Gerais Teorias Monetárias Políticas e Instituições Política Financeira Objetivos de Aprendizagem Contextualizar a evolução da história do pensamento econômico sobre a moeda Apresentar os canais de transmissão da política monetária Verificar o objetivo precípuo da política monetária no Brasil Definir os instrumentos de políticas monetária Apresentar a estrutura geral da política monetária Diferenciar o mercado financeiro do mercado monetário INTRODUÇÃO Olá aluno Tudo bem Vamos iniciar nossa jornada pela economia monetária Vale lembrar uma frase antiga mas que jamais perderá sentido uma longa caminhada começa com o primeiro passo O passo mais difícil é o primeiro É aquele que você precisa mudar a chave da inércia A mesma lei que diz que um corpo em repouso tende a permanecer em repouso diz também que um corpo em movimento tende a permanecer em movimento Uma vez rompido o estado de repouso o movimento passa a ser a regra Por essa perspectiva o passo mais complicado você já deu começar uma graduação A partir desse primeiro passo a física é nossa aliada Aqui não será diferente você dará mais um passo em direção ao seu objetivo E ele começa agora com nossa primeira unidade Nesta primeira unidade portanto iremos tratar de assuntos introdutórios que visam contextualizar o assunto e proporcionar uma visão macroscópica ie mais abrangente A regra é essa partimos do todo para o específico A vida é assim Os fundamentos precedem a intimidade e os detalhes No tópico 1 iremos verificar que a discussão sobre a eficácia da política monetária é tema central de nossa disciplina Hoje o entendimento predominante é de que a política monetária tem capacidade de influenciar a atividade econômica e sua condução deve ser pautada precipuamente pela estabilidade dos preços A partir dessa contextualização iremos verificar os canais de transmissão da política monetária ou seja quais são os caminhos que a política monetária percorre para influenciar a atividade econômica No tópico 2 iremos percorrer a linha do tempo das principais teorias monetárias e os grandes pensadores que contribuíram para sua evolução Tratase de uma discussão bastante antiga e controversa Desde a visão clássica até os dias atuais já se passaram mais de dois séculos e ao longo de todo esse período a ressonância dos pensamentos econômicos acerca da política monetária foi a chave para sua evolução No tópico 3 trataremos das políticas e instituições monetárias Iremos verificar a posição do Banco Central do Brasil sobre o porquê de a estabilidade dos preços ser o objetivo primário da política monetária no Brasil Para tanto iremos apresentar a estrutura geral da política monetária no Brasil desde a definição dos instrumentos de políticas monetária até o atingimento de seus objetivos Por fim no tópico 4 iremos tratar da diferenciação entre mercado financeiro e mercado monetário Mercado financeiro é tema mais abrangente e o mercado monetário é um dos quatro mercados que o compõem Além disso será verificado que o mercado financeiro de forma mais abrangente está associado ao processo de intermediação financeira Então é isso meu caro aluno Reforço a mensagem dada no início desta introdução O passo mais difícil você já deu Uma vez em movimento você tende a permanecer em movimento Assim como a física esperamos contribuir para o seu constante movimento Estude pesquise pergunte aprofundese aproveite ao máximo cada movimento Forte abraço e bons estudos 1 CONCEITOS GERAIS Imagem do Tópico ID 161075384 Convido o aluno a fazer um esforço imaginário Nele o Doutor Emmett Brown e seu DeLorean DMC12 DeLorean Motor Company da famosa trilogia De Volta para o Futuro Universal Studios existem E melhor Doutor Brown nos convida a uma viagem ao passado em sua incrível máquina do tempo Mas adianto não é permitido levar consigo a relação de todos resultados dos concursos da loteria já realizados no país A viagem no tempo terá fins mais nobres verificar a mudança de interpretação quanto a importância da política monetária Ao chegar no passado até meados dos anos 1970 descobriríamos que a política monetária não era tão importante como nos dias de hoje Até essa época predominava a ideia de que a política monetária não possuía capacidade para influenciar o desempenho econômico do país Em outras palavras a política monetária era impotente para afetar as variáveis reais1 ie basicamente emprego e renda Nesse passado 1 Segundo Lopes e Vasconcellos 2009 a dicotomia clássica é um conceito econômico em que a as variáveis reais e nominais são distintas e b as variáveis reais não são afetadas por variações nas variáveis nominais Por este conceito entendese que variáveis nominais são todas aquelas expressas em relativamente recente a grande protagonista era a política fiscal em que os gastos do governo e a política tributária atuando de forma direta na demanda agregada eram quem de fato influenciavam a atividade econômica De volta para o futuro ou melhor para o presente podemos concluir que a mudança na interpretação quanto aos efeitos da política monetária se deve entre outros motivos ao relativo abuso dos poderes da política fiscal com a geração de déficits públicos difíceis de administrar e que o processo de decisão da política fiscal é lento e conflitivo dependendo de negociações políticas que por vezes podem inviabilizar o uso dessa política como instrumento de estabilização CARVALHO et al 2007 Do ponto de vista macroeconômico o que importa é o gasto total do setor público mas na negociação orçamentária o que existem são os gastos em bens e serviços específicos com beneficiários específicos etc Enquanto o conflito pela apropriação das benesses fiscais não for resolvido o gasto total não estará determinado O tempo necessário para a solução do conflito orçamentário entre os diversos grupos de beneficiários nada tem a ver com o tempo necessário para a utilização da política fiscal como instrumento de estabilização do nível de atividade CARVALHO et al p 198 2007 Portanto devido aos conflitos inerentes à política fiscal a política monetária foi ganhando novos contornos e passou a receber novas interpretações entre as quais a de que em comparação a política fiscal é mais ágil sendo assim um instrumento mais eficaz de política econômica Dada a mudança de paradigma em relação à política monetária podemos dar um passo adiante Pergunto a você caro aluno já que atualmente a política monetária é um eficaz instrumento de política econômica de que forma ela afeta a demanda agregada e consequentemente a atividade econômica Basicamente a política monetária consiste em fixar o valor de uma taxa de juros de curto prazo no caso do Brasil é a taxa Selic que iremos discutir mais adiante ainda nesta Unidade que por sua vez afeta outras variáveis que são relevantes para a tomada de decisão por parte dos agentes econômicos Portanto o processo pelo qual as mudanças na política monetária afetam a demanda agregada é denominado de mecanismos de transmissão da política monetária DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 unidades monetárias exemplos preços salários nominais PIB nominal e as variáveis reais são expressas em termos relativos exemplos nível de emprego salário real PIB real Carvalho et al 2007 apresenta três mecanismos de transmissão da política monetária a canal do valor dos ativos b canal do crédito c canal da taxa de câmbio Um quarto canal pode ser incluído segundo o próprio Banco Central do Brasil BACEN d o canal das expectativas Primeiramente o canal do valor dos ativos se dá principalmente pelo efeitoriqueza resultante da variação dos preços dos ativos Ao variar a taxa de juros de curto prazo a autoridade monetária leva o mercado financeiro a promover uma oscilação no valor dos ativos financeiros que por sua vez influencia diretamente no consumo desses ativos e no investimento em capital real Vamos imaginar que a autoridade monetária eleve a taxa de juros de curto prazo assim o preço dos ativos diminui2 impondo perdas aos agentes que possuem esses ativos logo esses agentes diminuem o consumo para compensar a perda obtida pela elevação da taxa de juros Além disso com a elevação da taxa de juros de curto prazo e a manutenção da taxa de lucro esperada sobre investimentos reais é natural muitos investidores adiarem suas decisões de investimentos e passem a dar preferência aos títulos financeiros O efeito da política monetária sobre o investimento real é facilmente verificado no dia a dia do mercado principalmente quando vemos a história recente do Brasil Nesse caso específico não precisa nem de máquina do tempo pois isso aconteceu há poucos anos Agora mesmo em 2015 a taxa de juros básica da economia atingiu 1425 ao ano Nessa época um investimento com retorno por exemplo de 10 ao ano provavelmente seria esquecido Por outro lado atualmente com a taxa de juros a 2 ao ano esse mesmo investimento poderia ser uma opção viável de investimento De outra forma a taxa de juros atua como custo de oportunidade pois quanto maior a taxa de juros maior o custo de oportunidade de um investimento O segundo canal de transmissão da política monetária é o canal de crédito Também é fácil de perceber a dinâmica deste canal pois quando a taxa de juros é alterada pela autoridade monetária todas as demais taxas de juros do mercado são impactadas inclusive aquelas que remuneram os empréstimos e financiamentos Além 2 O preço de ativos e taxas de juros são inversamente proporcionais Segundo Carvalho et al 2007 podemos simplificar afirmando que PAr onde P é o preço de mercado do ativo A é o valor do título e r é a taxa de juros de mercado Assim para um dado A quando r sobe P necessariamente se reduz disso pode ainda alterar a própria disponibilidade do crédito pois com taxas de juros mais altas os bancos podem restringir a oferta de crédito devido ao maior risco envolvido na operação Portanto se um empréstimo ou financiamento fica mais caro com taxas de juros mais elevadas a compra de um imóvel carro geladeira mais facilmente pode ser postergada Formalmente Carvalho et al 2007 apresenta a seguinte sequência do canal do crédito 1 variação da taxa de juros de curto prazo 2 provoca variação das taxas de empréstimos cobradas do público não bancário por parte dos bancos ou racionamento de empréstimos concedidos pelo setor bancário 3 que por sua vez provoca variação do volume dos elementos de demanda agregada mais dependentes do crédito como a demanda por bens de capital bens de consumo durável etc O terceiro canal de transmissão da política monetária é o canal da taxa de câmbio Tratase do mecanismo criado pela liberalização financeira internacional Este mecanismo de transmissão opera quando um país adota o regime de câmbio flutuante ie o valor da moeda doméstica em relação à moeda estrangeira no caso brasileiro a taxa de câmbio mais usual é real por dólar 𝑅 𝑈𝑆 se dá de acordo com as demandas e ofertas privadas de moeda estrangeira Neste âmbito um dos efeitos mais importantes da fixação da taxa de juros pela autoridade monetária se dá sobre a saída e entrada de capitais sejam eles os desejados investimentos estrangeiros diretos ou os temidos capitais voláteis CARVALHO et al 2007 Imaginemos que o BACEN nossa autoridade monetária eleve a nossa taxa de juros de curto prazo Se tudo mantiver constante em relação ao resto do mundo os investimentos locais podem se tornar mais atrativos atraindo investidores estrangeiros e fazendo com que investidores domésticos permaneçam no país Neste cenário haverá uma maior demanda por moeda doméstica e consequentemente uma valorização da moeda local em relação às moedas do resto do mundo Essa mudança na taxa de câmbio devido à alteração prévia da taxa de juros de curto prazo afeta a demanda agregada via oscilações na quantidade exportada ou importada Em nosso exemplo 1 a elevação da taxa de juros coeteris paribus 2 valoriza a moeda local e 3 estimula as importações e desestimula as exportações Por fim o quarto canal é o canal das expectativas Este canal está associado ao fato de que as expectativas dos agentes sobre o futuro da inflação afetam o comportamento atual dos preços BACEN 2007 Então se por exemplo as empresas esperam que a inflação futura seja de 10 logo a correção de seus preços irá considerar essa expectativa Portanto a expectativa de inflação tem como consequência a própria inflação Vimos então nesse tópico dois importantes raciocínios a a política monetária diferentemente de como era vista no passado é capaz de influenciar a demanda agregada e por óbvio a atividade econômica do país e b os canais de transmissão da política monetária para afetar a demanda agregada são o canal do valor dos ativos o canal do crédito canal da taxa de câmbio e o canal das expectativas 2 TEORIAS MONETÁRIAS Imagem do Tópico ID 601804022 A economia monetária é um ramo da macroeconomia logo suas discussões e teorias estão intrinsecamente associadas A macroeconomia estuda a dinâmica da economia por meio dos agregados econômicos Esse estudo fundamentase na ideia de que é possível explicar a operação da economia sem que haja a necessidade de compreender o comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participa SANDRONI 2003 O próprio início da ciência econômica fundamentalmente proveniente da escola clássica cujos principais pensadores são Adam Smith David Ricardo e John Stuart Mill já se preocupava com o crescimento econômico por meio de uma visão macroscópica Entretanto com a revolução marginalista que teve início no final do século XIX cujos principais nomes são William Stanley Jevons Carl Menger e Leon Walras a preocupação com o nível agregado perdeu força e a ótica microeconômica passou a ser o foco da análise econômica PAULANI BRAGA 2020 Durante a revolução marginalista a preocupação com o nível macroeconômico sobrevivia com a escola clássica e seus desdobramentos entre os quais a teoria quantitativa da moeda que será abordada ao longo deste curso Na época a discussão em torno dos problemas monetários era proveniente da constante dificuldade que as autoridades monetárias possuíam para determinar o estoque de moeda adequado A moderna teoria monetária britânica surge da controvérsia gerada pelas tentativas de suprimento das necessidades anormais de emissão de moeda e de criação de crédito geradas pelas prolongadas guerras contra a França no final do século XVIII e no princípio do século XIX Em particular os problemas monetários emergiram quando as notas de papel especialmente as notas dos bancos começaram a competir com a moeda metálica como meio de troca levantando as restrições técnicas que mantinham a oferta de moeda limitada A ruptura ocorreria a partir de 1797 quando o Banco da Inglaterra cortou o vínculo automático entre suas notas e os metais preciosos que eram em princípio conversíveis suspendendo assim os pagamentos em espécie metal CARVALHO et al p 27 2007 O debate ganharia força a partir da controvérsia bulionista3 na primeira década do século XIX A discussão era basicamente a seguinte por que a libra moeda da Inglaterra se depreciava frente ao ouro A controvérsia bulionista advém dessa questão pois um lado acreditava que a elevação do preço do ouro ocorria devido a emissão excessiva de papelcrédito posição defendida pelos bulionistas o outro lado os antibulionistas acreditavam que a elevação do preço do ouro ocorria devido às circunstâncias a que estavam sujeitos naquele momento basicamente em função dos gastos de guerra e da redução das exportações CARVALHO et al 2007 Portanto uma importante corrente do pensamento econômico nos séculos XVIII e XIX acreditava que as variações nos preços estariam associadas à emissão excessiva de papelmoeda Essa teoria denominada teoria quantitativa da moeda embora discutida e aceita por vários autores da época somente ficou conhecida e popularizada pelo trabalho desenvolvido por Irving Fisher em 1911 em que é assumida a neutralidade da moeda ou seja a política monetária somente provoca variações nos preços sendo portanto incapaz de afetar as variáveis reais 3 Segundo Sandroni 2003 o bulionismo é a designação dada ao sistema monetário em que o papel moeda é livremente conversível em metal e deve estar integralmente garantido por um encaixe metálico O nome vem de bullion que em inglês significa lingote ou barra de ouro ou prata Entretanto pelo bem e pelo mal o mundo gira Já dizia o filósofo grego Platão a necessidade é a mãe da invenção Mais uma vez essa máxima se aplica pois com a complexa situação vivida na década de 1930 período entre Guerras Mundiais e o Crash de 1929 a teoria econômica estava descolada da realidade Diante deste hiato existencial a macroeconomia e consequentemente a economia monetária em detrimento da visão marginalista ganham novo fôlego com o famoso trabalho Teoria do Emprego do Juro e da Moeda 1936 de John Maynard Keynes também denominado como revolução keynesiana4 Entre as várias inovações propostas por Keynes uma muito importante para nosso estudo é a preferência pela liquidez visão alternativa à teoria quantitativa da moeda e que iremos abordar ao longo deste curso De forma geral pela teoria keynesiana a moeda desempenha papel duplo a meio de pagamento e b reserva de valor e o seu retorno não vem por compensação pecuniária mas sim na forma de um prêmio de liquidez5 CARVALHO et al 2007 Nesse sentido diferentemente da visão clássica Keynes propõe que a política monetária é um importante instrumento de política econômica capaz de influenciar as variáveis reais ou seja a moeda não é neutra coisa nenhuma Dada sua dimensão e inovação a revolução keynesiana tornase importante por seus desdobramentos Isto porque os diversos questionamentos e interpretações dela decorrente impulsionaram de forma significativa a teoria monetária Além disso estes questionamentos abrangiam um grupo heterogêneo de autores com pensamentos divergentes em alguns pontos E é justamente a partir desta divergência surge a chamada síntese neoclássica que foi iniciada por John Hicks e difundida por Paul Samuelson ambos Nobel de Economia respectivamente em 1972 e 1970 A síntese neoclássica termo cunhado por Paul Samuelson também conhecida como velhos keynesianos abrange tanto ensinamentos da teoria clássica quanto da 4 Segundo Paulani e Braga 2020 definese revolução keynesiana com a intervenção proposta por Keynes no debate acadêmico em que conferiu aos economistas a capacidade de verificar o comportamento e a evolução da economia de um país numa dimensão sistêmica ou seja não só medindo produção renda e consumo mas fazendo isso de modo que se perceba exatamente a relação entre esses agregados e a lógica do sistema econômico como um todo 5 De acordo com Sandroni 2003 liquidez é a disponibilidade em moeda corrente meios de pagamento ou posse de títulos ou valores conversíveis rapidamente em dinheiro teoria keynesiana Foi a partir desta escola de pensamento que surgiu o modelo ISLM 1937 a demanda especulativa o modelo de composição de carteira de James Tobin 1956 Nobel de Economia em 1981 e a visão de que a política monetária em comparação a política fiscal tem potência reduzida para influenciar as variáveis reais Desta forma para esta escola de pensamento a política monetária e a moeda possuem papel secundário e portanto reduções na taxa de juros teriam impacto desprezível sobre as decisões de investimento e consequentemente um reduzido efeito sobre o nível de emprego e renda CARVALHO et al 2007 Ainda nos anos 1950 em oposição à teoria keynesiana e seus desdobramentos surge a escola monetarista cujo principal pensador é Milton Friedman Nobel de Economia em 1976 e obstinado antikeynesiano Esta escola está baseada em três conceitos que iremos trabalhar ao longo deste curso taxa natural de desemprego curva de Phillips e expectativas adaptativas De forma geral esta escola adiciona à teoria quantitativa da moeda novas considerações o que passou a ser considerada como a nova teoria quantitativa da moeda Apesar de novas variáveis incluídas no modelo o resultado é semelhante ao encontrado pela teoria clássica ie a moeda está em função da renda da sociedade e que variações de preços é essencialmente um fenômeno monetário logo qualquer aumento na taxa de crescimento da oferta de moeda acima da taxa de crescimento do produto acarreta no longo prazo apenas aumento no nível de preços Entretanto no curto prazo a moeda importa pois é possível alterar as variáveis reais via política monetária ainda que temporariamente CARVALHO et al 2007 A partir dos anos 1960 surge nova linha de pensadores denominada novo clássica promovendo uma nova revolução na economia monetária chamada de revolução das expectativas racionais cujos principais expoentes são John Fraser Muth conhecido como o pai das expectativas racionais Robert Lucas Jr Nobel de Economia 1995 e Thomas Sargent Nobel de Economia em 2011 A escola novoclássica voltouse parcialmente contra Milton Friedman e a escola monetarista e radicalmente contra as ideias dos keynesianos Quanto aos monetaristas a crítica era quanto a forma como os agentes econômicos formavam suas expectativas em vez de expectativas adaptativas agentes cometem erros sistemáticos passam a considerar as expectativas racionais os agentes não cometem erros sistemáticos Já quanto aos keynesianos eram contrários a qualquer tipo de intervenção macroeconômica Diante deste posicionamento para esta escola os agentes corrigem suas expectativas diante de qualquer política monetária expansionista CARVALHO et al 2007 Há portanto a possibilidade de afetar as variáveis reais por meio da política monetária mas somente até o momento em que os agentes façam a correção e incorporem em suas decisões suas novas expectativas Entretanto essa intervenção traria no longo prazo incerteza e desconfianças quanto ao comportamento do governo Logo o melhor a ser feito pela autoridade monetária é promover transparência credibilidade e um ambiente com expectativas inflacionárias pacíficas e equilibradas para não ter como consequência a própria inflação Deste raciocínio são provenientes temas bastante atuais e que são realidade em muitos países como a tese da independência do Banco Central e o regime de metas de inflação A Figura 1 apresenta um pequeno resumo do que tratamos neste tópico Nela são destacadas as principais teorias e seus expoentes mais célebres É evidente que como em qualquer seleção estamos sujeitos a cometer alguma injustiça Em termos econômicos isso não deixa de ser um custo de oportunidade já que toda escolha implica em custo em termos de algo não escolhido A justificativa para algumas ausências é que este material considera a corrente principal da teoria monetária Tenha ciência portanto caro aluno que o assunto não se esgota aqui Existem teorias heterodoxas como por exemplo a moderna teoria monetária que podem ser encontradas em livros específicos De qualquer forma eu acredito que estamos bem servidos consideramos as principais teorias e grandes economistas muitos dos quais prêmio Nobel de Economia que em sua época representaram e muitos ainda representam a dinâmica da economia monetária Figura 1 Linha do tempo da economia monetária Teorias e seus grandes pensadores Fonte elaboração própria Vimos então neste tópico uma breve revisão da história do pensamento da economia monetária Entretanto algo pode ser destacado existe uma questão chave sobre as teorias apresentadas a capacidade ou não da política monetária de influenciar as variáveis reais Como vimos essa discussão é antiga já faz alguns séculos Vai desde a neutralidade da moeda vertente defendida pela escola clássica até a sua não neutralidade em que a política monetária afeta o emprego e a renda tanto no curto quanto no longo prazo visão defendida por Keynes Mas como falamos veremos mais sobre isso Aqui foi apenas um aperitivo do que será tratado ao longo deste curso 3 POLÍTICAS E INSTITUIÇÕES Imagem do Tópico ID 286279040 Concluímos o tópico anterior apresentando a questão chave do debate monetário a capacidade da política monetária em afetar as variáveis reais Esse debate tem grande influência sobre a atuação das autoridades monetárias pois o tipo de políticas que serão adotadas com que intensidade quais serão seus objetivos e até mesmo qual será o fim das instituições monetárias necessariamente depende de como essa questão chave será respondida A definição dos objetivos finais para a política monetária é um tema particularmente controverso da teoria econômica envolvendo discussões diversas como a existência ou não de um tradeoff manipulável entre inflação e desemprego ou ainda da validade da hipótese da taxa natural de desemprego A aceitação dessas hipóteses teóricas têm consequências diretas sobre a condução da política monetária pois resulta em aceitar ou não se esta tem capacidade de afetar a longo prazo as variáveis reais da economia como o nível de produto e de emprego ou se afeta apenas as variáveis nominais como a inflação Em outras palavras o que está em jogo é saber o que a política monetária é capaz de fazer e portanto se ela deve ser conduzida de forma discricionária ou com base em uma regra CARVALHO et al p 158 2007 As autoridades monetárias teoricamente têm como principal objetivo promover a estabilidade de preços porém na prática ainda que implicitamente outros objetivos também são almejados tais como estimular o emprego o crescimento econômico a estabilidade da taxa de câmbio e a prevenção e redução do risco sistêmico Novamente o objetivo fundamental da autoridade monetária é motivo de constante controvérsia principalmente quanto ao dilema estimular emprego e renda ou promover a estabilidade de preço Posso apostar que o aluno já deve ter ouvido coisas do tipo é um erro ter meta para inflação e não ter meta para o produto Basicamente é disso que se trata essa discussão Enquanto para uns a política monetária é um fim em si mesma promovendo de forma direta o crescimento econômico para outros a política monetária é um meio em que para se obter crescimento econômico sustentável previamente devese promover a estabilidade e previsibilidade dos preços Nesse sentido veja o posicionamento do BACEN 2016 à pergunta por que a estabilidade de preços foi escolhida como objetivo primordial da política monetária no Brasil Hoje há consenso na sociedade sobre as vantagens da estabilidade de preços condição necessária para que possa haver crescimento auto sustentado Além disso no médio e longo prazo maior inflação não gera maior crescimento pelo contrário cria ambiente desfavorável aos investimentos e penaliza as camadas mais pobres da sociedade promovendo concentração de renda Vale adicionar que os principais bancos centrais do mundo adotam de forma implícita ou explícita a estabilidade de preços como principal objetivo da política monetária BACEN 2016 Apesar da discussão quanto à finalidade da política monetária atualmente na prática os pensamentos de várias escolas são compartilhados É como um mix de escolas econômicas em que a política monetária tem capacidade para afetar as variáveis reais visão de Keynes e que autoridade monetária com base em regras deve promover a previsibilidade a transparência e a credibilidade a fim de diminuir incertezas e evitar expectativas inflacionárias por parte dos agentes econômicos visão monetarista e novo clássica Especificamente no Brasil apesar de ingerências na política monetária ocorrida na primeira metade da década de 2010 o sistema vigente utilizase da política monetária para estimular as variáveis reais bem como respeitar as regras e a meta de inflação previamente estabelecida Para que a finalidade da política monetária seja alcançada as autoridades monetárias utilizamse de métodos ou como são majoritariamente conhecidos de instrumentos de política monetária São três os instrumentos de política monetária a operações de mercado aberto b taxa de redesconto e c reservas compulsórias DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 A operação de mercado aberto é o instrumento de política monetária mais eficaz e mais utilizado pelas autoridades monetárias pois opera diretamente sobre as reservas bancárias6 Este instrumento também chamado de open market funciona por meio da compra e venda de títulos públicos por parte do BACEN afetando o volume de reservas bancárias da seguinte forma a se as vendas de títulos em um dia são maiores que os resgates há redução de reservas e b se os resgates de títulos em um dia são maiores que as vendas há aumento de reservas CARVALHO et al 2007 Para facilitar o entendimento imagine uma operação simples de compra e venda Quando o BACEN vende títulos públicos a um banco qualquer ele está entregando o título para este banco que por sua vez saca de suas reservas bancárias para pagar o BACEN Logo o banco em questão terá mais títulos e menos reservas bancárias Isso equivale a uma política monetária contracionista ie o BACEN está diminuindo a oferta de moeda da economia redução das reservas bancárias Por outro lado se o BACEN quer aumentar a oferta de moeda ie realizar uma política monetária expansionista deverá comprar títulos públicos e a contrapartida será o aumento da conta reservas bancárias O segundo instrumento de política monetária são as taxas de redesconto Também chamadas de assistência financeira de liquidez são empréstimos que o BACEN faz aos bancos São como empréstimos de última instância voltado normalmente para atender necessidades esporádicas de reservas por parte das instituições financeiras CARVALHO et al 2007 Para auxiliar no entendimento o redesconto é como um cheque especial dos bancos Nesse sentido o BACEN atua como banco dos bancos promovendo uma linha de empréstimo para assistência de liquidez A taxa de juros cobrada por esse empréstimo é a taxa de redesconto Por meio desta taxa o BACEN controla a oferta de 6 Reservas Bancárias é a conta mantida no Banco Central para receber as disponibilidades em moeda nacional de participantes do Sistema Financeiro Nacional SFN utilizadas na liquidação financeira das operações realizadas com a autoridade monetária ou com outras instituições do SFN BACEN 2016 Portanto de forma simplificada são os depósitos que os bancos possuem no Banco Central moeda da economia A dinâmica é a mesma quando vamos usar o nosso cheque especial Se a taxa do cheque especial for muito alta devemos ser conservadores com nossos recursos para não precisarmos recorrer a ele Agora se a taxa do cheque especial for bem baixinha muitos irão flexibilizar as contas pessoais pois se for necessário terão acesso a recursos a custos menores Assim quanto maior for essa taxa menor será o estímulo para os bancos emprestarem recursos ao público uma vez que o custo do seu empréstimo redesconto está mais alto Logo a taxa de redesconto mais alta restringe a oferta de moeda ie uma política monetária contracionista Por outro lado ocorrerá uma política monetária expansionista quando a taxa de redesconto for menor pois os bancos serão incentivados a aumentarem seus empréstimos ao público sem serem penalizados no caso de necessidade do redesconto Por fim o terceiro instrumento de política monetária são as reservas compulsórias ou recolhimento compulsório Como o próprio nome já diz são depósitos sob a forma de reservas bancárias que cada instituição financeira é legalmente obrigada a manter no BACEN em reserva bancária sendo calculada como um percentual sobre seus depósitos CARVALHO et al 2007 Quando um você vai ao seu banco efetuar um depósito seja na conta corrente na poupança ou depósitos a prazo CDB o seu banco é obrigado a recolher parte desse depósito ao BACEN sob a forma de depósito compulsório O montante recolhido compulsoriamente pode ser observado no Gráfico 1 evidenciando que atualmente a principal fonte de recolhimento compulsório são os depósitos a prazo Gráfico 1 Reservas Compulsórias Recolhimento obrigatórios de instituições financeiras Valores Nominais R milhões Fonte BACEN 2021 Portanto fica fácil de perceber que quanto maior a parte que deve ser obrigatoriamente recolhida menos recursos irão sobrar para a instituição financeira emprestar aos seus clientes e viceversa É dessa maneira que a autoridade monetária utiliza este instrumento para fazer política monetária pois elevando o percentual de reserva compulsória menor será o volume de moeda disponível na economia ie menor será a capacidade dos bancos de emprestar os recursos captados Portanto a elevação do percentual da reserva compulsória equivale a uma política monetária contracionista Por outro lado se a autoridade monetária quer praticar uma política monetária expansionista via depósitos compulsórios deverá recolher percentual menor de reserva obrigatória assim maior será a quantidade de recursos a disposição das instituições financeiras e consequentemente maior será a moeda em circulação Foi justamente isso que o BACEN fez em 2020 no início da pandemia da Covid19 reduziu a alíquota do compulsório a fim de estimular a economia com mais dinheiro em circulação Um jeito útil de entender as coisas ao nosso redor é levar no limite a questão em pauta Vamos aplicar essa lógica à reserva compulsória Se a reserva compulsória for de 100 todos depósitos captados pelas instituições financeiras ficarão em poder da autoridade monetária portanto todos os recursos que foram captados não poderão ser aplicados pelas instituições financeiras Nesse caso extremo fica evidente como seria restrito o volume de crédito na economia pois o processo de intermediação financeira que veremos no próximo tópico deixa de existir Agora se a reserva compulsória for de 0 todos os recursos que as instituições financeiras captarem ficarão integralmente à sua disposição podendo aplicar todos esses recursos conforme sua conveniência emprestando mais dinheiro para seus clientes ou criando e ampliando linhas de financiamento No segundo caso extremo ausência de reserva compulsória podemos inferir uma outra questão se é interesse das instituições financeiras emprestar o máximo de seus recursos para obter maior lucro o risco do sistema financeiro não seria maior se todo recurso pode ser emprestado Nesse caso o risco sistêmico seria muito maior Portanto as reservas compulsórias assumem também um papel de colchão de liquidez ou seja a critério do BACEN as reservas de emergência que podem ser utilizadas pelas instituições financeiras em situações de crise como a que ocorreu em 2008 Portanto as reservas compulsórias são ainda importante instrumento para a preservação da estabilidade financeira BACEN 2021 A Tabela 1 apresenta de forma resumida os efeitos na quantidade de moeda em circulação decorrente da alteração nos instrumentos de política monetária Tabela 1 Instrumentos de Política Monetária Os efeitos da política monetária sobre a quantidade de moeda Instrumentos Política Monetária Expansionista Contracionista Operações de Mercado Aberto Governo injeta dinheiro na economia adquirindo títulos públicos Governo retira dinheiro da economia vendendo títulos públicos Taxa de Redesconto Autoridade monetária diminui a taxa do redesconto Autoridade monetária aumenta a taxa do redesconto Reservas Compulsórias Diminui o percentual de recolhimento compulsório Aumenta o percentual de recolhimento compulsório Fonte ASSAF NETO p 27 2017 Uma vez visto os instrumentos de política monetária vamos dar um passo adiante para concluirmos a operacionalização e a atuação das autoridades monetárias na política monetária Entre a operacionalização dos instrumentos de política monetária e a consecução de seus objetivos existe um intervalo de tempo denominado de defasagens ou lags A evidência empírica aponta que a defasagem da política monetária é de três a cinco trimestres BACEN 2007 Ou seja o que é semeado hoje deverá ser colhido daqui a três a cinco trimestres Mas entre a semeadura e a colheita ninguém fica de braços cruzados é preciso muito trabalho nesse meio tempo Evidentemente entre a operacionalização dos instrumentos e a obtenção dos objetivos a autoridade monetária não irá ficar no escuro esperando todo esse período para ver se a operação atingiu seu objetivo Ao longo desse período a autoridade monetária possui a metas operacionais e b metas intermediárias que são como sinais de estrada que servem para informar ao Banco Central se a política está a caminho de fazer efeito ou não CARVALHO et al p 159 2007 As metas operacionais são a determinação da taxa de juros básica de curto prazo e b controle das reservas bancárias agregadas Mudanças nas variáveis operacionais afetam as metas intermediárias Por sua vez as metas intermediárias são a taxa de juros de longo prazo e b os agregados monetários Estas servem como indicadores da política monetária e fornecem informações imediatas e contínuas importante para verificar se os instrumentos estão tendo o impacto desejado e se as ações da política estão no sentido desejado contracionista ou expansionista CARVALHO et al 2007 A Tabela 2 evidencia a estrutura da política monetária em que é sintetizado os passos dados pela autoridade monetária para atingir seus objetivos Resumidamente do ponto A até o ponto B existe uma defasagem de tempo logo para garantir que a política está no caminho pretendido a autoridade monetária operacionaliza A1 e analisa o comportamento de A2 Tabela 2 Estrutura analítica da política monetária Instrumentos e metas para alcançar os objetivos da política monetária A A1 A2 B Instrumentos de Política Monetária Metas Operacionais Metas Intermediárias Objetivos de Política Monetária Operações de Mercado Aberto Taxa de Juros de curto prazo Taxa de Juros de Longo Prazo Inflação Nível de atividade Taxa de Redesconto Reservas Bancárias Agregados Monetários Taxa de desemprego Reservas Compulsórias Estabilidade do Sistema financeiro Fonte CARVALHO et al p 161 2007 Vimos então neste tópico os instrumentos de política monetária que podem ser utilizados pela autoridade monetária de acordo com sua estratégia de política monetária Vimos que existe um tempo entre a operação da política monetária e seus efetivos resultados Nesse meio tempo a autoridade monetária foca suas atenções em metas operacionais e intermediárias para que o resultado efetivo esteja em conformidade ao desejado 4 POLÍTICA FINANCEIRA Imagem do Tópico ID 530884738 Quando falamos em política financeira estamos tratando de algo mais amplo que a política monetária que temos discutido Isso ocorre porque o mercado monetário é uma das espécies do gênero mercado financeiro Embora nosso foco seja o mercado monetário ao menos nesse tópico iremos tratar de forma breve acerca do mercado financeiro Para isso devemos ter em mente que o mercado financeiro engloba outros mercados Portanto além do mercado monetário o mercado financeiro engloba ainda o mercado de crédito mercado de capitais e o mercado cambial Como já sabemos o mercado monetário visa o controle da oferta monetária na economia por meio dos instrumentos de política monetária e da fixação da taxa de juros básica da economia A atuação é restrita à autoridade monetária O mercado de crédito engloba as operações de financiamento de curto e médio prazos direcionadas aos consumidores aos ativos permanentes e capital de giro das empresas É um mercado de fácil assimilação pois estamos familiarizados com seus operadores que são principalmente os Bancos e as Sociedades Financeiras ASSAF NETO 2017 O mercado de capital compreende as operações de médio e longo prazos e de prazo indeterminado envolvendo títulos derivados do capital das empresas ações e de operações de empréstimos sem a intermediação financeira dos bancos Neste caso esses empréstimos ocorrem por meio direto no mercado como exemplo as debêntures7 ASSAF NETO 2017 Geralmente associamos o mercado de capital como o mercado acionário entretanto ele é muito mais abrangente que a compra e venda de ações de empresas de capital aberto O mercado de capitais pode ser definido com um conjunto de instituições e de instrumentos que negociam com títulos e valores mobiliários objetivando a canalização dos recursos dos agentes compradores para os agentes devedores Ou seja o mercado de capitais representa um sistema de distribuição de valores mobiliários que tem o propósito de viabilizar a capitalização das empresas e dá liquidez aos títulos emitidos por elas O surgimento do mercado de capitais ocorreu quando o mercado de crédito deixou de atender às necessidades da atividade produtiva no sentido de garantir um fluxo de recursos nas condições adequadas em termos de prazos custos e exigibilidades PINHEIRO p 180 2016 Por fim o mercado cambial abrange as operações de conversão de moedas de diferentes países Está vinculado portanto na relação de um país com o resto do mundo principalmente pela necessidade da prática de comércio internacional É um mercado regulamentado pelo BACEN e seus operadores são bancos múltiplos corretoras agências de turismo e outras instituições autorizadas pelo BACEN ASSAF NETO 2017 Portanto de forma geral uma política financeira pode englobar diversos mercados seja na alteração da taxa básica da economia pelo BACEN mercado monetário seja uma alteração em alguma linha de financiamento ofertada pelos bancos mercado de crédito seja uma nova exigência para uma empresa abrir seu capital mercado de capital ou ainda seja alguma mudança na política cambial do país mercado cambial De forma ainda mais abrangente a política financeira está relacionada com processo de intermediação financeira ie o processo por meio do qual a transferência de recursos entre os agentes superavitários e deficitários é realizada promovendo diversos benefícios para dinâmica econômica entre eles redução das 7 Debênture é um título mobiliário que garante ao comprador uma renda fixa O portador de uma debênture é um credor da empresa que a emitiu e tem como garantia todo o patrimônio da empresa Há ainda as debêntures conversíveis que são aquelas que podem ser conversíveis em ações segundo condições estabelecidas previamente Sandroni 2003 De forma geral é um empréstimo que você faz diretamente a empresa não havendo por exemplo um banco como intermediário financeiro incertezas economias de escala compartilhamento de riscos incentivo a poupança disseminação de informação ganhos de eficiência etc PINHEIRO 2016 Sob a supervisão das autoridades governamentais as políticas financeiras têm por finalidade estimular os benefícios econômicos provenientes do processo de intermediação financeira A Figura 1 apresenta de modo esquemático o processo de intermediação financeira Os agentes deficitários tomadores de fundos conseguirão recursos por meio de várias instituições intermediários financeiros que por sua vez captam recursos dos agentes superavitários fornecedores de fundos As transferências de recursos de um agente a outro são viabilizadas por meio do mercado financeiro Figura 1 Esquema geral do Mercado Financeiro Processo de Intermediação Financeira Fonte PINHEIRO p 26 2016 Fechamos este último tópico de nossa primeira unidade esclarecendo que a política financeira se difere da política monetária por se tratar de política mais abrangente Vimos que os mercados monetário de crédito de capital e cambial estão contidos no mercado financeiro e que uma política financeira sob a supervisão de órgãos governamentais visa estimular o processo de intermediação financeira como um todo SAIBA MAIS Canal de transmissão da política monetária Expectativas de Mercado Uma importante complementação aos nossos estudos é verificar as fontes de dados reais associados à economia monetária Para tanto uma importante fonte de informação é o site do Banco Central do Brasil httpswwwbcbgovbr Complementando nosso estudo vamos verificar um importante relatório do BACEN o relatório Focus O Relatório Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sextafeira anterior à sua divulgação Ele é divulgado toda segundafeira O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços atividade econômica câmbio taxa Selic entre outros indicadores As projeções são do mercado não do Banco Central BACEN 2021 Como vimos um dos canais de transmissão da política monetária é o canal das expectativas e o Relatório Focus traz as expectativas das principais variáveis macroeconômicas Uma delas é a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto PIB a preços de mercado Como podemos observar no Gráfico 2 a previsão de crescimento do PIB a preços de mercado para o ano de 2021 era de 248 em 18032020 Esse crescimento foi alterado a partir desta data devido aos efeitos negativos decorrentes da pandemia de Covid19 Como a previsão para o ano de 2020 passou a ser uma recessão é natural uma expectativa de crescimento maior no ano seguinte já que a base de comparação será menor Portanto não se trata de uma melhora nos fundamentos da economia para o ano de 2021 mas sim de uma piora no crescimento econômico para o ano de 2020 Após discretas oscilações a partir do mês maio a expectativa de crescimento para o ano de 2021 em 19022021 é de 337 Provavelmente o crescimento econômico de 2021 não irá compensar a recessão de 2020 Será necessário mais de um ano para tapar o buraco de 2020 Haja coração Fonte httpswwwbcbgovbrcontroleinflacaorelatoriofocus BACEN 2021 Gráfico 2 Expectativa de Crescimento do PIB 2021 Taxa de crescimento anual Fonte BACEN 2021 REFLITA A prosperidade o capitalismo e o sistema financeiro A longuíssimo prazo digamos os mil anos que antecederam o século XVIII as rendas pessoais na Europa Ocidental duplicavam a cada período de 630 anos Após a disseminação do moderno capitalismo contudo começaram a duplicar a cada período de 50 ou 60 anos Dobravam a cada 40 anos nos Estados Unidos e a cada 25 anos no Japão que começou mais tarde e pode se beneficiar dos exemplos europeu e americano GIAMBIAGI SCHWARTSMAN p 81 2014 Não há como dissociar o capitalismo moderno da evolução do sistema financeiro Se há tantos benefícios se a evolução humana é tão evidente com o atual sistema por que tantos pensamentos contrários Por que tantos duvidam da sua eficiência Fonte elaboração própria REFLITA 180320 248 190221 337 240 260 280 300 320 340 360 CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá aluno Chegamos ao final de nossa primeira unidade Como vimos tratase de uma unidade de contextualização Trouxemos aqui assuntos mais abrangentes que nos auxiliarão na compreensão das próximas unidades Essencialmente podemos destacar que ao longo da evolução da teoria monetária a grande questão a ser respondida é se a moeda tem capacidade ou não para influenciar o emprego e a renda Dependendo da época e da teoria vigente o papel da política monetária se alterava Atualmente predomina o pensamento de que a política monetária possui capacidade para afetar as variáveis reais Além disso ela deve ser guiada pela previsibilidade a fim de minimizar as incertezas Tratamos ainda de outros assuntos que são essenciais à teoria monetária A partir destes conhecimentos podemos responder algumas questões tais como Quais são os mecanismos de transmissão da política monetária Quais são os principais pensadores e teorias da economia monetária Por que há meta para inflação e não há meta para o emprego Quais são os principais instrumentos de política monetária Como funciona o processo de intermediação financeira De posse dos assuntos aqui tratados podemos seguir adiante desenvolver novos conceitos e acima de tudo permanecer em movimento Parabéns pela conclusão desta unidade Nos vemos na unidade II Forte abraço LEITURA COMPLEMENTAR Relatório do Focus httpswwwbcbgovbrcontentfocusfocusR20210305pdf Recolhimento compulsório httpswwwbcbgovbrconteudorelatorioinflacaoEstudosEspeciaisEE072Discussao sobreasfuncoesdosrecolhimentoscompulsoriospdf LIVRO Título Juros moeda e ortodoxia Teorias monetárias e controvérsias Autor André Lara Resende Editora Portfolio 1ª edição 26 junho 2017 Sinopse Neste conjunto de ensaios André Lara Resende reflete sobre as origens e o desenvolvimento da teoria monetária e suas implicações no contexto brasileiro Juros inflação e política fiscal recebem do autor um enfoque inovador ancorado nas melhores investigações da atualidade que põem em questão algumas convicções estabelecidas Da teoria à história os ensaios discutem as políticas comumente receitadas para a inflação crônica a recessão e o desemprego Antes de buscar a polêmica fácil ou propor uma nova heterodoxia este livro pretende estimular o debate ao abrir uma janela de oportunidade para a reflexão sobre políticas públicas da mais alta relevância FILMEVÍDEO Título Luta do século Keynes x Hayek Ano 2010 Sinopse Embate animado entre dois célebres economistas com duas teorias bastante conhecidas e opostas Link do vídeo se houver httpswwwyoutubecomwatchvO5jeXrKvJXU REFERÊNCIAS ASSAF NETO A Mercado Financeiro 13º Edição Editora Atlas São Paulo 2017 BACEN Banco Central do Brasil Sistema de Metas para Inflação Disponível em httpwwwbcbgovbr Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Regime de Metas para a Inflação no Brasil Série Perguntas Mais Frequentes Disponível emhttpswwwbcbgovbrcontent cidadaniafinanceiraDocumentspublicacoesseriepmfFAQ2010 Regime20de20Metas20para20a20InflaC3A7C3A3o20no20Brasil pdf Acesso em várias datas 2016 BACEN Banco Central do Brasil Política Monetária e Defasagens do Mecanismo de Transmissão Disponível emhttpswwwbcbgovbrcontentrirelatorioinflacao 200709RELINF200709ri200709b6ppdf Acesso em várias datas 2007 CARVALHO FC SOUZA FEP SICSÚ J PAULA LFR STUDART R Economia Monetária e Financeira 2º Edição Editora Campus 2007 DORNBUSCH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia 11ª Edição Editora Bookman 2011 GIAMBIAGI F SCHWARTSMAN A Complacência entenda por que o Brasil cresce menos do que pode Editora Elsevier Rio de Janeiro 2014 LOPES LM VASCONCELLOS MAS Manual de Macroeconomia 3º Edição Editora Atlas São Paulo 2009 PAULANI LM BRAGA MB A Nova Contabilidade Social 5º Edição Editora Saraiva São Paulo 2020 PINHEIRO JL Mercado de Capitais 8º Edição Editora Atlas São Paulo 2016 SANDRONI P Novíssimo dicionário de Economia 11º Edição Editora Best Seller São Paulo 2003 UNIDADE II SISTEMATIZAÇÃO Professor Murilo Borges Plano de Estudo Sistema Financeiro Nacional Moeda e o Sistema Bancário Banco Central e o Sistema Monetário Teoria Quantitativa da Moeda A demanda por Moeda a escolha de Ativos e a Preferência pela Liquidez de Keynes Objetivos de Aprendizagem Apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional Apresentar as principais atribuições do Conselho Monetário Nacional Contextualizar a origem e evolução da moeda Descrever as funções da moeda Diferenciar a moeda manual da moeda escritural Apresentar as principais atribuições do Banco Central do Brasil Definir os agregados monetários e o multiplicador monetário Demonstrar a Teoria Quantitativa da Moeda Demonstrar a Teoria da Preferência pela Liquidez INTRODUÇÃO Olá aluno Tudo bem Vamos continuar nossa jornada pela economia monetária Antes porém vale esclarecer que se uma longa caminhada começa com o primeiro passo entendese que vários outros passos serão dados E aqui estamos nós dando mais um passo em direção à linha de chegada Chegar é bom mas não é o mais importante Chegar por chegar perde o sentido Não faça da caminhada apenas um meio para alcançar o final de sua jornada A caminhada deve ter valor em si mesma Portanto não subestime a caminhada ela é tão importante quanto à própria chegada Gostar de caminhar faz você desfrutar ao máximo cada passo dado E quanto mais você aproveitar os passos de sua caminhada maior será a glória em sua chegada Aproveite ao máximo mais este passo que se inicia neste momento Se em nossa primeira unidade tivemos uma visão macroscópica a partir de agora iremos ficar mais íntimos de nossa disciplina Além de aprofundar os conceitos vistos na unidade anterior vamos iniciar os estudos sobre as teorias de economia monetária No tópico 1 iremos apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional SFN Veremos que o SFN é dividido em subsistema de supervisão e subsistema operativo Para nós é de fundamental importância conhecermos as características das duas principais instituições do subsistema de supervisão o Conselho Monetário Nacional CMN e o Banco Central do Brasil BACEN Essas duas instituições são responsáveis por conduzir a política monetária no Brasil Especificamente neste tópico iremos tratar do CMN isso porque o BACEN dada a relevância para nossa disciplina será tratado em tópico específico ainda nesta unidade No tópico 2 trataremos da moeda propriamente dita Veremos que a evolução da moeda está vinculada ao processo de intermediação financeira Com o passar dos anos os certificados de depósitos passaram a ser aceitos como se fosse a própria moeda Era o início da moeda fiduciária como temos hoje Veremos ainda as funções da moeda e as formas que ela pode assumir moeda manual moeda física a moeda que está na sua carteira e a moeda escritural moeda criada pelo sistema bancário No tópico 3 iremos conhecer mais detalhadamente as principais características do BACEN Após apresentarmos seus objetivos atribuições e competências veremos também seu balancete estilizado pois a partir deste poderemos definir os agregados monetários os meios de pagamento e consequentemente o multiplicador monetário Por fim nos tópicos 4 e 5 iremos abordar duas das principais teorias de economia monetária respectivamente teoria quantitativa da moeda TQM e teoria da preferência pela liquidez Essencialmente essas teorias se diferem devido a forma como encaram a moeda Se para a TQM a moeda é neutra sem qualquer capacidade para afetar as variáveis reais para a teoria de Keynes a moeda além de não ser neutra é um ativo financeiro cuja recompensa é sua liquidez absoluta Fechado então meu caro aluno Lembrese de aproveitar os próximos passos só assim a chegada deixará de ser um alívio para ser uma conquista Forte abraço e bons estudos 1 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Imagem do Tópico ID 693725104 Concluímos a Unidade 1 apresentando o processo de intermediação financeira e a política financeira A partir desse entendimento podemos dar mais um passo adiante e entender que o processo de intermediação e a política financeira ocorrem sob o amparo de uma grande organização denominada Sistema Financeiro Nacional SFN Porém antes de conhecermos como é organizado nosso sistema financeiro é importante ter em mente que a necessidade de o compreender aumenta com o passar do tempo Não há dúvida que sua participação é crescente na dinâmica econômica atual e cada vez mais suas operações têm aumentado em volume e complexidade Diante desse entendimento agora sim vamos a ele É claro que o SFN não surgiu do dia para noite Ele é fruto de um processo que evolui continuamente Tanto é assim que até hoje temos vivenciado inúmeras inovações por ele promovidas E como veremos a seguir propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros é um dos objetivos da política do órgão máximo do SFN Exemplo claro disso é o PIX ie meio de pagamento criado pelo BACEN em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos a qualquer hora ou dia BACEN 2021 E melhor a custo baixo em determinados casos é custo zero mesmo Mas se formos mais pontuais o SFN surgiu com a Lei nº 4595 de 31121964 que dispõe sobre a política e as instituições monetárias bancárias e creditícias cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências Logo em seu primeiro artigo a citada lei diz que o SFN é estruturado e regulado por ela e será constituído por diversas instituições financeiras públicas e privadas Além desta norma a Lei nº 4728 de 14071965 que disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento e a Resolução BACEN nº 1524 de 21091988 que dispõe sobre a figura dos bancos múltiplos são também determinantes para configuração atual do SFN O SFN portanto pode ser entendido como um conjunto de instituições financeiras e instrumentos financeiros que regulam fiscalizam e executam todas as operações financeiras De forma mais abrangente é o SFN que promove a intermediação financeira isto é o encontro entre tomadores e credores de recursos BACEN 2021 Logo por meio do SFN viabilizase a relação entre agentes carentes de recursos para investimento agentes deficitários e agentes capazes de gerar poupança agentes superavitários Desta forma tornar possível esse encontro consequentemente promover condições para financiar o crescimento da economia é o principal objetivo do SFN ASSAF NETO 2017 Para fins didáticos podemos dividir o SFN em dois subsistemas subsistema de supervisão ou normativo e subsistema operativo O subsistema de supervisão é composto pelas instituições governamentais tais como Conselho Monetário Nacional CMN o próprio Banco Central do Brasil BACEN e a Comissão de Valores Mobiliários CVM São essas instituições que exercem a fiscalização e definem as diretrizes básicas de seu funcionamento ASSAF NETO 2017 Por outro lado o subsistema operativo é composto pelas instituições financeiras que estamos mais familiarizados que temos contato frequentemente tais como bancos Itaú Bradesco Inter entre tantos outros que conhecemos bolsa de valores B3 Brasil Bolsa e Balcão Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários BTG Pactual Rico Investimentos Easy Invest etc entre outras São essas instituições que operacionalizam a transferência de recursos do poupador para o tomador ou seja são elas que realizam de fato o processo de intermediação financeira de acordo com as regras estabelecidas pelas entidades do subsistema de supervisão ASSAF NETO 2017 A Figura 1 ilustra de forma geral como está organizado o SFN Figura 1 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Organograma Fonte httpswwwbcbgovbrestabilidadefinanceirasfn BACEN 2021 Especificamente quanto às instituições que integram o subsistema operativo elas podem ser classificadas ainda em bancárias ou monetárias e não bancárias ou não monetárias A diferença entre elas é quanto à capacidade de criar moeda escritural por meio de depósitos a vista conceito que iremos ver ainda nesta Unidade As instituições bancárias são representadas basicamente pelos bancos múltiplos e bancos comerciais São essas instituições que operacionalizam os meios de pagamento restrito de uma economia ie papelmoeda em poder do público e depósitos a vista do público nos bancos Por outro lado as instituições não bancárias são as corretoras bancos de investimento financeiras etc Estas por sua vez não podem receber depósitos à vista logo não possuem a capacidade de criar moeda escritural A elas incumbe uma outra função que é operacionalizar ativos não monetários tais como ações certificados de depósito bancário debêntures entre outros ASSAF NETO 2017 Como pode ser visto pelo organograma apresentado na Figura 1 o SFN é composto por diversas instituições Vale destacar que não é nosso objetivo estudar cada uma das instituições que o integram Isso acaba sendo tema para outras disciplinas como por exemplo a disciplina Mercado Financeiro Digo isso porque como vimos nossa disciplina é um dos ramos do Mercado Financeiro Entretanto há duas instituições do subsistema normativo que não podemos deixar de falar e que estão diretamente relacionadas com a Economia Monetária Uma é o Banco Central que de tão relevante para nosso estudo temos um tópico exclusivo sobre ele ainda nesta Unidade A outra instituição que merece destaque é o Conselho Monetário Nacional CMN que trataremos agora É relevante destacar as características do CMN pois seus objetivos e atribuições norteiam todo o SFN Como vimos a Lei 459564 foi quem criou o CMN Tratase do órgão máximo de SFN com atribuição eminentemente normativa não desempenhando portanto nenhuma atividade executiva cabendo ao BACEN exercer o papel de Secretaria executiva do CMN De forma geral o CMN possui amplas atribuições que podem ser conjugadas em sua finalidade principal formular a política da moeda e do crédito objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país BACEN 2021 Atualmente o CMN é composto pelo Ministro da Economia acumulando a função de presidente do Conselho Presidente do Banco Central e o Secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia Conforme expresso no artigo 3º da Lei 459564 as políticas adotadas por seus membros devem ter como objetivo 1 adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia 2 regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos 3 orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras 4 propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros 5 zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras 6 e coordenar as políticas monetária creditícia orçamentária e da dívida pública interna e externa BACEN 2021 De forma mais específica o artigo 4º da referida lei elenca as competências do CMN A seguir apresentamos algumas das atribuições do CMN Autorizar as emissões de papelmoeda Determinar o percentual de recolhimento compulsório Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades Disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial Estabelecer normas a serem observadas pelo Banco Central do Brasil em suas transações com títulos públicos Fixar as diretrizes e normas da política cambial Limitar as taxas de juros descontos e comissões Regulamentar fixando limites prazos e outras condições as operações de redesconto e de empréstimo Regular a constituição funcionamento e fiscalização das instituições financeiras Então é isso caro aluno Fechamos mais um tópico Aqui tratamos das especificidades do SFN Vimos que o SFN é hierarquizado e composto por diversas instituições financeiras com atribuições específicas Para facilitar o entendimento é dividido em subsistema normativo responsável por estabelecer e fiscalizar as regras do jogo e subsistema operativo responsável por efetivamente realizar o processo de intermediação financeira Quanto a este último subsistema vimos ainda que ele se subdivide de acordo com a possibilidade das instituições receberem ou não depósitos à vista de seus clientes Por fim apresentamos as características principais do órgão máximo do SFN o CMN 2 MOEDA E O SISTEMA BANCÁRIO Imagem do Tópico ID 249974521 Nesse tópico iremos tratar o que talvez seja a principal mercadoria de uma economia de mercado a moeda Bem ao menos em nossa disciplina não resta qualquer dúvida a moeda é sim a mercadoria mais importante em uma economia moderna Antes de falarmos de conceitos mais específicos sobre a moeda acredito que vale a pena conversarmos sobre sua evolução A própria evolução da moeda está relacionada com o surgimento do processo de intermediação financeira que já discutimos e fundamental para o sistema financeiro tal qual conhecemos hoje A moeda já teve várias formas A primeira delas a moeda era uma mercadoria propriamente dita Ter uma mercadoria como moeda limita a realização de trocas Só as trocas diretas escambo são possíveis ou seja uma transação é ao mesmo tempo venda de uma mercadoria e compra de uma outra Processo conhecido também como coincidência mútua e complementar de necessidades CARVALHO et al 2007 Imaginemos eu tenho um cavalo e quero um porco Preciso encontrar alguém que quer um cavalo e quer se desfazer de um porco Mas um cavalo vale mais que um porco Vou ter que trocar meu cavalo por mais de um porco e trocar o porco excedente em outra coisa que necessito Poxa isso dá trabalho Eu só preciso de um porco Era desse jeito que funcionava Isso só é possível em uma economia primitiva baseada na subsistência e autossuficiência Basicamente no escambo há os seguintes inconvenientes a custo para manter a acumulação em ativos reais b dificuldade de especialização e divisão do trabalho e c perda de eficiência na alocação de recursos PINHEIRO 2016 É evidente que não há bons incentivos ao realizar trocas diretas Porém o mundo gira e as necessidades vão sendo alteradas A própria evolução econômica e social vai demandando novas formas de interação qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência Aos poucos o escambo foi dando lugar a processos indiretos de troca Surgem então a segunda forma de moeda são as chamadas moedas mercadorias São moedas que possuem valor intrínseco ie um valor em si mesma Diversas mercadorias já foram utilizadas como moedas Eram produtos que mesmo que não fossem no momento úteis ou desejados pelos que recebiam eram aceitos sem grandes restrições porque todos os aceitavam Portanto temos uma mercadoria que fará a intermediação logo a coincidência mútua e complementar de necessidades não será mais necessária PINHEIRO 2016 Apenas para fins de curiosidade até hoje usamos termos que nos remetem a essa época remota das moedamercadorias Um exemplo clássico é a palavra salário Durante o império romano o sal era utilizado para pagar o trabalho dos soldados Era uma mercadoria muito importante pois era utilizada para acelerar o processo de cicatrização e para conservar e dar sabor aos alimentos Numa época sem as facilidades da modernidade o sal era um presente de Deus na verdade um presente da deusa Salus a deusa da saúde de onde deriva a palavra sal Mas veja embora a história seja interessante e que havia mercadorias demandadas por todos isso não parece ainda muito eficiente No nosso exemplo de troca de cavalo por porco incluindo agora o intermediário sal como moeda vou ter que trocar meu cavalo por um monte de sal e procurar alguém que esteja precisando de sal e que tenha um porco Pelo visto podemos imaginar que estocar e transportar o sal não eram das tarefas mais fáceis Sem falar da possibilidade de batizar o sal e vender um quilo de 800 gramas de sal Com essas dificuldades ainda presentes gradativamente surge a moeda metálica e em virtude das vantagens oferecidas ao comércio difundiuse pelo mundo inteiro Os metais foram escolhidos como moedas por possuírem algumas características importantes valor intrínseco dureza raridade relativa grande valor identidade pequena variação de valor facilidade de reconhecimento e ponto de fusão elevado PINHEIRO 2016 Entretanto temos uma limitação importante O volume de negócio não podia ficar limitado ao volume de estoque de metais preciosos Com pouco metal precioso para uma demanda cada vez maior de transações o valor do metal se eleva ficando escasso dificultando o comércio e gerando conflitos e convulsões sociais importantes Como corrigir esse problema caro aluno Que tal fazermos igual o sal vamos batizar o ouro ou a prata Agora que tal emitir um quilo de metal precioso de 800 gramas Teremos 10 quilos de moedas de ouro utilizando apenas 8 quilos de ouro1 Fica claro que a falsificação sempre foi uma alternativa mas como dizem a necessidade é a mãe da invenção A variação de tamanho das moedas metálicas e a diversidade de materiais utilizados em sua confecção entre eles o ouro obrigavam os comerciantes a pesar as moedas e verificar o teor do metal utilizado em operações bastante morosas Para facilitar as negociações os ourives passaram a depositar as moedas em bancos recebendo então certificados de depósitos com promessa de devolução ao portador da quantia entregue Esses certificados conversíveis a vista deram início ao aparecimento da moeda papel ou representativa que possuía um lastro de metal nobre As vantagens que os certificados representavam para o comércio eram enormes pois inspirava confiança sendo aceitos como se fossem a própria moeda PINHEIRO p 16 2016 É evidente que demos aqui um salto histórico de alguns séculos mas relativamente estamos bem próximos do que entendemos ser uma moeda moeda fiduciária de fidúcia ou confiança sem lastro sem valor intrínseco papelmoeda cédula e inserida num processo de intermediação financeira 1 Os governos que tinham a necessidade de se financiar se utilizavam desse jeitinho para aumentar a capacidade de fazer mais moeda pois ao diminuir a quantidade de ouro nas moedas o governo ampliava o montante de moeda em circulação Essa prática deu origem ao termo senhoriagem ie o ganho decorrente da emissão apropriado por aquele senhor que tem o poder monopólio de emissão Lopes Vasconcellos 2009 Diante disso podemos dar um passo adiante e definir quais são as funções da moeda A moeda é um objeto que desempenha três funções 1 meio de troca 2 unidade de conta 3 reserva de valor LOPES VASCONCELLOS 2009 A função meio de troca é uma função básica da moeda e está associada ao que tratamos até aqui A própria evolução econômica e social da humanidade exigia maiores facilidades um processo mais ágil em consonância com o volume crescente de trocas comerciais Com a função meio de troca é possível realizar trocas indiretas e em última análise ao permitir que vendas e compras sejam feitas em datas diferentes a moeda exerce a função meio de pagamento Portanto meio de trocameio de pagamento é a função que elimina os atritos das transações comerciais que são típicos de uma economia primitiva CARVALHO et al 2007 A segunda função da moeda é a unidade de conta Esta função expressa a ideia de que a moeda é a expressão geral de valor ie é uma referência para todas as demais mercadorias Portanto o preço relativo entre as diferentes mercadorias passa a ser definido pela relação entre os respectivos preços monetários LOPES VASCONCELLOS 2009 Em outras palavras é um meio que os agentes econômicos utilizam para orientar seus preços Como todos os agentes têm como referência e orientação sua respectiva moeda logo todos os bens e serviços de uma economia tem seus preços nela baseados A moeda de conta ou unidade de conta contratual é a representação intangível da moeda a moeda como meio de troca ou unidade de pagamento é sua representação concreta A função moeda de troca deriva da função moeda de conta A existência da moeda de troca é requerida porque se atribui a todas as mercadorias serviços e ativos de uma economia valores na forma de moeda de conta A moeda de conta que aparece no conjunto de contratos estabelece qual será a moeda corrente de uma economia Assim a moeda é aceita em geral por todos em todas as transações CARVALHO et al p 3 2007 A terceira e última função da moeda é a reserva de valor Esta função decorre das anteriores pois justamente pela moeda ser referência para todas as transações unidade de conta e consequentemente todos os agentes a utilizam meio de troca será possível a retenção da moeda por período maior que a transação em si reserva de valor Assim a função reserva de valor é ser um repositório de poder de compra sobre o tempo PINHEIRO 2016 Além disso por meio da reserva de valor abrimos a possibilidade de que as transações não sejam imediatamente liquidadas logo uma mercadoria ou serviço qualquer pode circular com uma promessa futura de pagamento Esta possibilidade de diferir o pagamento ou seja a liquidação de uma transação em data futura é a origem do sistema de crédito e determinante para o processo de intermediação financeira LOPES VASCONCELLOS 2009 Outra questão relevante quanto a função reserva de valor é a sua vulnerabilidade quanto à inflação A primeira função da moeda que deixa de existir em uma economia com inflação elevada é justamente a reserva de valor pois os custos de reter moeda são crescentes Portanto a riqueza em forma monetária perde poder de compra na mesma proporção da variação dos preços CARVALHO et al 2007 Por fim devemos ainda ressaltar que uma moeda para desempenhar suas três funções deve possuir algumas características físicas e econômicas essenciais Quanto às características econômicas a moeda deve possuir custo de estocagem e custo de transação aproximadamente nulo Como falamos anteriormente o sal ou qualquer outra mercadoria a ser utilizada como moeda possuiria elevados custos de estocagem e custos de transporte custo de transação onerando excessivamente seus detentores Quanto às características físicas a moeda deve ser divisível durável difícil de falsificar manuseável e transportável CARVALHO et al 2007 A divisibilidade é necessária porque a moeda deve poder ser fracionada em múltiplos e submúltiplos para que as transações que exigem valor fracionado ou transações que movimentem grandes valores sejam realizadas sem custos adicionais A moeda deve ser durável isto é deve manter suas características físicas para que a sua condição de ser aceita de forma generalizada seja mantida e não prejudique o seu último detentor A moeda deve ser na medida do possível difícil de falsificar auxiliando a sua aceitação generalizada A moeda deve ser manuseável e transportável para que a função meio de troca não seja prejudicada impondo ao seu detentor custos de transação CARVALHO et al p 3 2007 Agora daremos mais um passo Sabemos até agora que para uma moeda exercer suas funções é condição necessária que ela possua determinadas características físicas e econômicas Ok A questão que se coloca agora é que formas a moeda assume atualmente Vimos anteriormente que a utilização das moedas metálicas e o seu depósito em bancos deram origem à emissão de certificados representativos da quantidade de moeda ou seja o papelmoeda Por sua vez o papelmoeda ainda possuía sua conversibilidade em ouro que correspondia ao seu lastro Por conveniência e pelas suas vantagens ie menores custos de manuseio e transporte segurança facilidade de pagamento etc o uso do papelmoeda passou a ser cada vez mais comum E quanto mais era utilizado maior era sua confiança A tal ponto que com seu uso generalizado atingimos o estágio atual em que o papelmoeda é aceito por todos independentemente de haver algum lastro LOPES VASCONCELLOS 2009 Portanto sai o lastro estoque de metal precioso que garante a conversibilidade do papelmoeda e entra a fidúcia baseada na confiança dos agentes e determinada e garantida por lei Temse a chamada moeda fiduciária de fidúcia confiança que elimina qualquer ideia de moeda representativa ou que tenha algum valor intrínseco A moeda o pedaço de papel não tem qualquer valor em si mesma mas esta decorre da capacidade de adquirir outras mercadorias independente do que seja a moeda esta vale pelo seu poder de compra Historicamente a responsabilidade por esta forma de moeda passou definitivamente para as mãos do governo LOPES VASCONCELLOS p 63 2009 Então podemos parcialmente responder à questão anteriormente feita que formas a moeda assume atualmente Uma dessas formas é a moeda manual A moeda que é impressa pela autoridade monetária e que todos nós damos duro para ter algumas delas na carteira O papelmoeda emitido pelo governo e carregado pelos agentes econômicos moeda fiduciária é chamado de moeda manual A moeda manual forma o Meio Circulante Nacional ie as cédulas e moedas metálicas inclusive as comemorativas do padrão monetário Real que estão em poder do público e da rede bancária ou seja o dinheiro em circulação no país BACEN 2021 O aluno sabe quanto de moeda manual dinheiro como conhecemos temos em circulação no país É uma informação importante e vale a pena nos inteirarmos No site do BACEN há a composição do meio circulante nacional Elaboramos o Gráfico 1 em que é possível verificar basicamente duas coisas primeira o valor de dinheiro em circulação no país segunda a autoridade monetária jogou muito dinheiro na economia a fim de minimizar os efeitos da pandemia de Covid19 O valor máximo do meio circulante nacional é alcançado no mês de janeiro de 2021 R 3704 bilhões aproximadamente R90 bilhões ou 32 a mais em relação ao valor máximo atingido antes da pandemia janeiro de 2020 Gráfico 1 Meio Circulante Nacional Total de dinheiro em circulação R bilhões Fonte BACEN 2021 Mas todo esse dinheiro não fica nas nossas mãos Nós confiamos nosso dinheiro a algum banco pelos mesmos motivos e vantagens que os bancos proporcionaram desde o início de sua existência Portanto como dissemos a evolução da moeda e o surgimento do processo de intermediação financeira estão conectados A própria evolução da moeda exigiu cada vez maior participação do sistema financeiro na dinâmica econômica especialmente os bancos comerciais cujo principal objetivo é proporcionar o suprimento de recursos necessários para financiar a curto e médio prazos pessoas físicas e jurídicas BACEN 2021 Desta forma os bancos comerciais são instituições financeiras públicas ou privadas que recebem recursos dos poupadores e disponibiliza via crédito para aqueles que precisam de recursos BACEN 2021 Ao receber recursos do público captação de recursos e emprestar para quem necessita aplicação de recursos o banco comercial tem a capacidade de criar moeda chamada moeda escritural Esse aspecto é a principal característica que diferencia os bancos comerciais das outras instituições financeiras que não tem capacidade de criação de passivos que atuam como meio de pagamento ASSAF NETO 2017 Portanto esse processo de captação e aplicação de recursos proporciona aos bancos comerciais criar moeda por meio do efeito multiplicador do crédito Vamos imaginar um caso simples em que todos os recursos são depositados nos bancos comerciais Imaginemos então que o Banco A captou de seus clientes em depósitos R10000 Parte desse valor captado ele mantém em reservas voluntárias reservas mantidas pelos bancos para fazer frente a suas necessidades de pagamento Supondo que a reserva voluntária seja de 10 Outra parte desse valor captado deve ser destinado às reservas compulsórias reservas obrigatórias exigidas pela autoridade monetária Supondo que a reserva compulsória seja de 20 Logo do total captado R3000 são destinados às reservas totais e o restante R7000 o Banco A pode emprestar aos agentes deficitários Imaginando ainda que o Banco A empresta os R7000 para o Cliente A Bingo O processo de multiplicação de dinheiro já ocorreu Supondo que o Cliente A utilize o empréstimo para efetuar pagamentos diversos Esses pagamentos retornam ao Banco B porque os pagamentos feitos pelo Cliente A aos seus credores retornam sob a forma de novos depósitos ampliando em R7000 o nível de reservas do Banco B Desses R7000 o Banco B retém 30 R2100 como reserva e reempresta para o Cliente B o restante R4900 Portanto o Banco A possui R10000 de passivos e R7000 de ativos O Banco B possui R7000 de passivos e R4900 de ativos Os R10000 iniciais de passivos Banco A gerou R17000 de passivos Banco A Banco B Mas não para aqui Os R4900 do Cliente B retornará a outros bancos que novamente irão reter 30 em reservas e reemprestarão 70 Isso se dará sucessivamente até o limite onde novos empréstimos e depósitos tendam a zero Logo a quantidade de moeda gerada pelos bancos é explicada pelo volume de depósito recebido que como veremos no tópico seguinte é denominada de coeficiente de expansão ou multiplicador monetário LOPES VASCONCELLOS 2009 Portanto conseguimos responder por completo nossa pergunta que formas a moeda assume atualmente a moeda manual moeda impressa pelas autoridades monetárias e b moeda escritural moeda criada pelos bancos comerciais derivada de sua capacidade de receber depósitos do público Então é isso caro aluno Fechamos mais um tópico Aqui tratamos basicamente da evolução da moeda e como essa evolução está associada diretamente com a intermediação financeira Vimos ainda as funções da moeda e suas características físicas e econômicas e por fim vimos que a moeda pode ser manual e devido a dinâmica do sistema bancário a moeda pode ainda assumir a forma de moeda escritural 3 BANCO CENTRAL E O SISTEMA MONETÁRIO Imagem do Tópico ID 1886495971 Terminamos o tópico anterior falando da moeda escritural ie capacidade dos bancos comerciais de criarem moeda Porém esse processo de criação proveniente do sistema bancário não é irrestrito Entre outras atribuições o Banco Central BACEN limita o processo multiplicador de moeda como por exemplo aumentando as reservas compulsórias Entretanto o papel do BACEN é muito mais amplo e não à toa é denominado autoridade monetária Conhecêlo mais a fundo é fundamental em nossa disciplina Então vamos a ele O BACEN criado pela Lei 459564 é uma autarquia federal vinculada mas não subordinada ao Ministério da Economia responsável por ser o guardião dos valores do Brasil No cumprimento de assegurar o equilíbrio monetário o BACEN adota os seguintes objetivos a zelar pela adequada liquidez da economia b manter as reservas internacionais do país em nível satisfatório c assegurar a formação de poupança em níveis apropriados e d garantir a estabilidade e o aperfeiçoamento do sistema financeiro nacional PINHEIRO 2016 Conforme mencionado a atuação do BACEN é bastante ampla e é pautada pelas diversas atribuições conforme pode ser visualizado no Quadro 1 Quadro 1 O Banco Central do Brasil Atribuições e Características Atribuições Características Instrumentos Banco dos Bancos Emprestador de última instância em momentos de baixa liquidez das instituições financeiras Monitoramento e controle por meio da conta reservas bancárias a fim de que as transações financeiras aconteçam com fluidez e não fechem o dia com saldo negativo Depósito Compulsório Redesconto de Liquidez Banco Emissor Gerencia o meio circulante a quantidade disponível de moeda manual garantindo aos agentes econômicos o fornecimento adequado do papelmoeda Emissão do meio circulante Saneamento do meio circulante Banco do Governo Banco do tesouro nacional administrador de fundos e programas governamentais e mantém em seu ativo o estoque de moedas estrangeiras Financiamento do Tesouro Nacional Administração da dívida pública Gestor e fiel depositária das reservas internacionais Representante em instituições financeiras internacionais Gestor do SFN Prover um sistema financeiro sólido ie com capital suficientemente seguro para honrar seus compromissos e eficiente Normas e autorizações Fiscalização e intervenções Executor da Política Monetária Objetivo fundamental do BACEN é manter a inflação sob controle e ao redor da meta Pois a busca pela estabilidade dos preços preserva o valor do dinheiro e mantém o poder de compra da moeda Controle dos meios de pagamento Orçamento monetário Instrumento de política monetária Fonte PINHEIRO p 60 2016 com adaptações De forma mais específica os artigos 10 e 11 da Lei 459564 em consonância com seus objetivos e atribuições descrevem quais são as competências do BACEN Abaixo segue algumas delas Regular e administrar o SFN Emitir papelmoeda e moeda metálica Executar os serviços do meio circulante Receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias Ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira e de Direitos Especiais de Saque Realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras Regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis Efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais Exercer o controle de crédito Exercer a fiscalização das instituições financeiras Autorizar o funcionamento das instituições financeiras Vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e Controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país Daremos mais um passo na compreensão do sistema monetário verificando o Balanço Patrimonial resumido do BACEN conforme apresentado na Tabela 1 Ele será importante pois por meio dele iremos compreender os conceitos vinculados aos meios de pagamento e agregados monetários e consequentemente multiplicador monetário que vimos no final do tópico anterior Tabela 1 O Banco Central do Brasil Balancete estilizado ATIVO PASSIVO Disponibilidades A MONETÁRIO Derivativos Base Monetária Carteiras de Títulos Públicos Papelmoeda emitido Reservas de Moedas Estrangeiras Reservas Bancárias Participações em organismos financeiros internacionais B NÃO MONETÁRIO Imobilizado Depósitos compulsórios e voluntários Outras contas do Ativo Títulos de Emissão Própria Empréstimos ao Setor Bancário Derivativos Empréstimos Externos Recursos próprios Outras contas do PassivoExigibilidades Fonte ASSAF NETO p 14 2017 De forma geral o Ativo está representado principalmente pelos títulos públicos mantidos pelo BACEN responsável pelo controle da liquidez da economia pois é a partir dele que são feitas as operações de mercado aberto que influenciam a quantidade de moeda na economia pelas moedas estrangeiras que são as divisas internacionais mantidas pelo BACEN reservas internacionais para operar no mercado cambial e os empréstimos ao setor bancário que representa o volume de crédito concedido pelo BACEN às instituições financeiras operações de redesconto Por outro lado o Passivo Monetário representa o saldo da moeda emitida em circulação que pode ser encontrado tanto em poder do público quanto em poder dos bancos comerciais Já o Passivo Não Monetário representa o saldo dos depósitos efetuados pelo sistema financeiro no BACEN ASSAF NETO 2017 De forma mais específica para melhor compreensão do sistema monetário vamos observar um pouco mais a fundo o Passivo do BACEN e entender os conceitos que ali estão inseridos A partir de agora recomendo maior atenção pois teremos uma verdadeira sopa de letrinhas Para iniciar o agregado monetário básico dele decorrente é a base monetária 𝛽 Ela é a soma do papelmoeda em poder do público 𝑃𝑀𝑃𝑃 e o volume de reservas mantidos pelos bancos comerciais as reservas bancárias 𝑅𝐵 conforme podemos observar na equação 1 ASSAF NETO 2017 𝛽 𝑃𝑀𝑃𝑃 𝑅𝐵 1 Mas vejamos antes de termos dinheiro em nossas mãos e nas reservas dos bancos precisamos entender também o processo de produção de dinheiro propriamente dito O processo se inicia quando o BACEN liga suas máquinas de imprimir dinheiro conforme autorização legal do CMN e de acordo com as necessidades identificadas de cada período Ao atingir a quantidade desejada de dinheiro impresso o BACEN terá o papelmoeda emitido 𝑃𝑀𝐸 Parte desse dinheiro fica retido no próprio BACEN aguardando liberação futura ou reservado para eventuais emergências chamada Caixa da Autoridade Monetária 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 A partir disso temos o papelmoeda em circulação 𝑃𝑀𝐶 que é o meio circulante que vimos no tópico anterior apresentado na equação 2 LOPES VASCONCELLOS 2009 𝑃𝑀𝐶 𝑃𝑀𝐸 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 2 Vale ressaltar que atualmente em razão da eliminação da conta 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 do balanço do BACEN o total de moeda em circulação é considerado igual ao total de moeda emitido 𝑃𝑀𝐶 𝑃𝑀𝐸 não fazendo mais sentido a separação destas duas medidas Mas acreditamos ser necessário apresentar essa distinção pois em muitos livros textos essa diferenciação está presente o que pode confundir o aluno ASSAF NETO 2017 O processo de circulação do papelmoeda se inicia pelos bancos comerciais Mas eles evidentemente não disponibilizam todo o meio circulante ao público Os bancos comerciais também retêm uma parcela para si objetivando fazer frente ao eventual excesso de pagamentos sobre recebimentos em papelmoeda chamada Caixa dos bancos comerciais 𝐶𝑋𝐵𝐶 também conhecido popularmente como boca do caixa A diferença entre 𝑃𝑀𝐶 e 𝐶𝑋𝐵𝐶 temse o 𝑃𝑀𝑃𝑃 representada pela moeda manual como vimos no tópico anterior como pode ser visto na equação 3 Lopes Vasconcellos 2009 𝑃𝑀𝑃𝑃 𝑃𝑀𝐶 𝐶𝑋𝐵𝐶 2 As reservas bancárias ou encaixe total 𝑅𝐵 por sua vez são compostas por reservas voluntárias e reservas compulsórias As reservas voluntárias encaixe técnico 𝑅𝑉 são divididas em duas a o 𝐶𝑋𝐵𝐶 como vimos é o papelmoeda guardado pelos próprios bancos comerciais e b as reservas voluntárias dos bancos comerciais no BACEN 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 𝐵𝐶 feitas para fazer frente ao eventual excesso de pagamentos sobre recebimentos em títulos Já as reservas compulsórias encaixe compulsório 𝑅𝐶 representam os depósitos dos bancos comerciais no BACEN que como vimos é um dos principais instrumentos de política monetária Portanto as equações 3 a 5 resumem o que acabamos de apresentar Lopes Vasconcellos 2009 𝑅𝐵 𝑅𝑉 𝑅𝐶 3 𝑅𝑉 𝐶𝑋𝐵𝐶 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 𝐵𝐶 4 𝑅𝐵 𝐶𝑋𝐵𝐶 𝐶𝑋𝐵𝐴𝐶𝐸𝑁 𝐵𝐶 𝑅𝐶 5 O dinheiro emitido pelo Banco Central conforme demonstrado é canalizado para o mercado público e para os bancos A moeda mantida pelas pessoas no mercado é denominada papel moeda em poder do público Quanto mantida pelos bancos são formadas duas reservas bancárias encaixe técnico e compulsórias O encaixe técnico visa atender ao fluxo de saída de recursos financeiros dos bancos determinado pelos saques de seus correntistas As reservas depósitos compulsórios são depósitos obrigatórios realizados pelos bancos junto ao Banco Central sendo um instrumento de política monetária ASSAF NETO p 13 2017 Portanto o agregado base monetária expressa a oferta de moeda de uma economia sendo composta de 𝑃𝑀𝑃𝑃 inclusive os depósitos dos bancos comerciais e as reservas mantidas por estes no BACEN Representa em outras palavras as exigibilidades monetárias do governo em poder dos agentes econômicos ie a emissão primária de moeda na economia fundamental para elaborar e avaliar uma política monetária ASSAF NETO 2017 Entretanto não só de moeda manual o sistema financeiro viverá Como vimos anteriormente há também a moeda escritural decorrente dos depósitos do público junto ao sistema bancário Isso ocorre porque as pessoas retêm uma parcela do 𝑃𝑀𝑃𝑃 e o restante é depositado nos bancos denominado aqui de depósitos a vista do público nos bancos comerciais 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 Ao somarmos o 𝑃𝑀𝑃𝑃 e 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 obteremos o estoque de ativos que pode ser usado nas transações denominado de meios de pagamento 𝑀1 ou 𝑀𝑃 e apresentado na equação 6 LOPES VASCONCELLOS 2009 𝑀1 𝑃𝑀𝑃𝑃 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 6 Os meios de pagamento representam todos os haveres com liquidez imediata em poder do público exceto o setor bancário Por apresentar a quantidade de moeda disponível em circulação na economia M1 é interpretada como uma medida de avaliação do nível de liquidez do sistema econômico Por sua composição os meios de pagamento moeda no conceito M1 são alterados pelas autoridades monetárias ao emitirem papelmoeda moeda manual e pelo sistema bancário diante de sua capacidade de criar moeda moeda escritural ASSAF NETO p 12 2017 Logo podemos ter a seguinte conclusão se o 𝑃𝑀𝑃𝑃 é chamado também de moeda manual e graças aos 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 tornase possível a moeda escritural temse que 𝑀1 𝑚𝑜𝑒𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑚𝑜𝑒𝑑𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑟𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 6 Apresentados os agregados monetários podemos agora definir os coeficientes de comportamento monetário para encontrarmos o multiplicador monetário Os coeficientes de comportamento irão mensurar a a taxa de retenção de moeda pelo público b taxa de retenção em depósitos à vista e c taxa de retenção em reservas bancárias LOPES VASCONCELLOS 2009 O primeiro coeficiente de comportamento é a taxa de retenção de moeda pelo público Este coeficiente irá mensurar a parcela dos meios de pagamento que o público mantém como moeda manual 𝑐 É representado pela equação 7 𝑐 𝑃𝑀𝑃𝑃 𝑀1 7 O segundo a taxa de retenção em depósitos à vista ou taxa de depósitos irá mensurar a parcela dos meios de pagamento que o público mantém nos bancos comerciais como depósitos à vista 𝑑 sendo representado pela equação 8 𝑑 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 𝑀1 8 Dado que 𝑀1 é a soma de 𝑃𝑀𝑃𝑃 e 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 os coeficientes de comportamento 𝑐 e 𝑑 são complementares logo 𝑐 𝑑 1 9 Por fim o terceiro coeficiente de comportamento taxa de retenção em reservas bancárias ou taxa de reservas irá mensurar a parcela dos depósitos à vista que é retida como reservas bancárias 𝑟 dado pela razão reservas bancárias e depósitos a vista nos bancos comerciais sendo representado pela equação 10 𝑟 𝑅𝐵 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 10 De posse de todas as relações de comportamento podese definir o multiplicador monetário 𝑘 por 𝑘 1 𝑐𝑑𝑟 em que 𝑘 1 11 Podemos perceber que o multiplicador será maior quanto maior a moeda escritural ou seja parcela dos meios de pagamento que o público mantém nos bancos comerciais como depósitos a vista coeficiente 𝑑 Logo quanto maior a retenção em 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 menor será o 𝑃𝑀𝑃𝑃 e consequentemente maior o multiplicador É tranquilo de perceber isso pois quanto mais dinheiro depositado pelos clientes em seus bancos mais os bancos poderão emprestar e consequentemente aumentar os meios de pagamento conforme vimos no tópico anterior Portanto a chave para aumentar o multiplicador está na propensão do público em manter depósitos a vista nos bancos comerciais Por outro lado se o público não está disposto a depositar seus recursos nos bancos comerciais necessariamente irão reter sob a forma de 𝑃𝑀𝑃𝑃 Desta forma a parcela dos meios de pagamento que o público mantém como moeda manual coeficiente 𝑐 será maior e menor será a capacidade dos bancos comerciais de emprestar Logo quanto maior a retenção em 𝑃𝑀𝑃𝑃 menor serão os 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 e consequentemente menor o multiplicador Da mesma forma as reservas bancárias também têm relação inversa com multiplicador Pois quanto maior o volume de reservas bancárias menor o volume de depósitos à vista que estarão disponíveis para empréstimo Logo quanto maior a parcela dos depósitos à vista que é retida como reservas bancárias coeficiente 𝑟 menor será o multiplicador De forma resumida a Figura 1 evidencia a relação dos coeficientes de comportamento com o multiplicador monetário Figura 1 Multiplicador Monetário O multiplicador monetário e sua relação com os coeficientes de comportamento Fonte BACEN 2021 Por fim vale ressaltar que além do conceito meio de pagamento M1 há também os meios de pagamentos ampliados que levam em consideração diversos tipos de títulos em circulação no mercado financeiro Esses ativos financeiros rendem juros e são de alta liquidez por isso são chamados também de quasemoeda ou não monetários O aumento progressivo das quasemoedas levou a novos conceitos de agregados monetários cuja diferença decorre do grau de liquidez dos ativos considerados ou seja o tipo de meio de pagamento ampliado depende da capacidade maior ou menor de conversão de seus ativos em meio de pagamento M1 liquidez plena LOPES VASCONCELLOS 2009 A Tabela 2 apresenta a estrutura sugerida pelo BACEN dos diferentes meios de pagamento existentes no Brasil Vale ressaltar que os conceitos vão se agregando ie o M1 está contido no M2 o M1 e M2 estão contidos no M3 e M1 M2 e M3 estão contidos no M4 BACEN 2021 Tabela 2 Meios de Pagamento Os diferentes tipos de Meios de Pagamento Tipo de Meio de Pagamento Conceito Meios de Pagamento Restrito M1 𝑀1 𝑃𝑀𝑃𝑃 𝐷𝑉𝐵𝐶 𝑃 Meios de Pagamento Ampliado Títulos emitidos por instituições financeiras depositárias depósitos a prazo depósitos de poupança letas de câmbio letras imobiliárias e letras hipotecárias Títulos em poder dos Fundos de Aplicação Financeira Meio de Pagamento M2 conceito M2 Quotas de fundos depositários fundo multimercado fundo cambial fundo referenciado etc Posição líquida de títulos públicos registrados no sistema SELIC e decorrentes de operações compromissadas Meio de Pagamento M3 conceito M3 Títulos públicos federais de alta liquidez em poder do público Meio de Pagamento M4 conceito M4 Fonte BACEN 2021 Como visto o conceito de moeda M4 é o mais amplo incorporando diversos tipos de ativos financeiros Nesse sentido o M4 tornase um importante indicador pois o seu volume representa o desenvolvimento do sistema financeiro Por exemplo quando o volume de M4 é baixo indica restrições existentes no processo de intermediação financeira É ainda normalmente expresso em relação ao Produto Interno Bruto de um país atingindo em diversos países desenvolvidos valores próximos de 100 ASSAF NETO 2017 Outra forma de análise utilizandose dos Meios de Pagamento Ampliados se dá pela relação 𝑀1𝑀4 A variação dessa relação indica variação da inflação de uma economia pois quanto menor essa relação menor M1 eou maior M4 maior o custo de manter dinheiro em espécie logo os agentes econômicos para se defender da inflação procuram aplicar seus recursos em ativos que rendem juros e viceversa LOPES VASCONCELLOS 2009 Um aumento de M4 em relação a M1 costuma ser observado quando se evidenciam processos inflacionários na economia ocorrendo o que se denomina de desmonetização O contrário monetização é verificado quando a inflação se reduz minimizando o custo das pessoas em manter maior volume em moeda conceito M1 ASSAF NETO p13 2017 Então é isso caro aluno Encerramos mais este tópico Inicialmente tratamos das principais características da autoridade monetária do Brasil o BACEN Em seguida tratamos dos principais agregados monetários dos meios de pagamento bem como do multiplicador monetário O conhecimento de toda essa sopa de letrinhas nos ajuda a compreender a dinâmica do sistema monetário 4 TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA Imagem do Tópico ID 163812251 A teoria quantitativa da moeda TQM foi sendo desenvolvida ao longo do tempo sua origem remonta ao século XVIII em que diversos autores da economia clássica discutiam o papel da moeda na economia De forma geral a TQM trata a relação direta entre quantidade de moeda em circulação e nível de preços e b neutralidade da moeda ie a moeda não afeta de forma permanente as variáveis reais emprego e renda A teoria quantitativa da moeda TQM estabelece que os preços variam diretamente com a quantidade de moeda em circulação Outra forma de expressar a TQM é dizer que uma mudança no estoque de moeda num certo período de tempo não tem efeito permanente sobre as variáveis reais mas resulta em uma mudança proporcional nos preços dos bens e serviços Ou seja o valor da moeda ou poder de compra varia inversamente com o nível de preços pois quanto mais baixos ou altos forem os preços dos bens e serviços maiores menores as quantidades que podem ser compradas por uma dada quantia de moeda e portanto mais alto baixo o poder de compra da moeda CARVALHO et al p 31 2007 A versão mais famosa da TQM foi formulada em 1885 por Simon Newcomb e popularizada em 1911 por Irving Fisher conhecida como TQM versão de transações de Fisher Nesta versão o ponto inicial é determinar a identidade entre o total de pagamentos em moeda e o total de bens e serviços transacionados ou seja dada todas as operações de compra e venda os pagamentos em moeda e o valor de todos os bens e serviços transacionados são idênticos CARVALHO et al 2007 A identidade proposta por Fisher equação da troca ou equação quantitativa apresentada pela equação 1 define que o total de transações efetivadas em um período é definida pelo total de trocas individuais ocorridas no mesmo período Lopes Vasconcellos 2009 𝑀𝑉 𝑃𝑇 em que 1 𝑀 quantidade de moeda em circulação 𝑉 velocidade de circulação da moeda 𝑃 preços dos bens e serviços 𝑇 quantidade de transações físicas de bens e serviços Como pôde ser visto existe em equilíbrio entre o mercado monetário 𝑀𝑉 e o mercado real de bens e serviços 𝑃𝑇 O lado esquerdo total de moeda utilizada para pagamentos em certo período é dado pela quantidade de moeda 𝑀 multiplicada por sua velocidade de circulação 𝑉 A velocidade de circulação da moeda mostra o giro de uma moeda em determinado período ie quantas vezes ela circulou para satisfazer o número total de transações O termo V velocidade de circulação da moeda mostra o giro de uma unidade monetária em um dado período de tempo isto é quantas vezes ela muda de mãos Assim por exemplo a mesma nota de R100 utilizada para pagar o café da manhã na padaria será usada por seu dono para dar troco para outro indivíduo que a utilizará para pagar a passagem de ônibus sendo repassada depois para outra pessoa que a usará para comprar ficha telefônica e assim por diante A este giro ou ao número de transações que são liquidadas por uma mesma unidade monetária na média em um dado período denominamos por velocidade circulação da moeda Assim o estoque de moeda 𝑀 vezes o seu giro 𝑉 é igual ao valor total das transações realizadas 𝑃𝑇 LOPES VASCONCELLOS p 81 2009 Podemos destacar duas observações na citação acima A primeira de ordem empírica é que a inflação corrói os preços com R100 não se compra mais um café na padaria tão pouco uma passagem de ônibus e que o mundo gira e as inovações ocorrem o tempo todo pois exceto se você for um colecionador ninguém irá pagar qualquer centavo de real numa ficha telefônica Nesse sentido a citação está defasada Entretanto a citação traz uma segunda observação que é a razão dela ser mencionada A velocidade de moeda está relacionada com a aceitação da moeda para efetuar as transações portanto está associada com a quantidade demandada por moeda Pois se a demanda por moeda aumentar é de esperar que os meios de pagamento circularão mais lentamente ASSAF NETO 2017 Já o lado direito da equação 1 total de bens e serviços transacionados é composto pelas transações de bens e serviços ocorridas em dado período multiplicada pelos seus respectivos preços Portanto a equação de troca representa uma aplicação da contabilidade de partidas dobradas para cada lançamento a débito haverá um lançamento a crédito correspondente em que cada transação é registrada simultaneamente em ambos os lados da equação CARVALHO et al 2007 Uma versão modificada da equação da troca foi desenvolvida a fim de lidar com problemas estatísticos envolvendo a determinação do nível de preços nas quantidades transacionadas lado direito da equação Assim podese transformar a equação quantitativa substituindo o número total de transações de bens e serviços pelo Produto Interno Bruto PIB É possível aceitar essa adaptação pois o número de transações guarda razoável relação direta com o volume de produção quanto mais produzimos mais transacionamos Assim supondo a aproximação entre total de transações e total produzido podemos reescrever a equação de troca conforme expresso na equação 2 e assim obter interpretações mais próximas com os conceitos macroeconômicos usuais LOPES VASCONCELLOS 2009 𝑀𝑉 𝑃𝑌 em que 2 𝑀 oferta de moeda 𝑉 velocidade renda da moeda 𝑃 nível de geral de preços 𝑌 produto real Assim temos que a oferta de moeda 𝑀 é uma variável endógena dada pelas autoridades monetárias e é tratada como um estoque Já a velocidade renda da moeda 𝑉 é reinterpretada como a velocidade de circulação ou número de giros da moeda para criar renda taxa de utilização da moeda Já o nível de produção real ao ser multiplicado pelo nível geral de preços obtemos o produto nominal Logo rearranjando a equação 2 teremos outras interpretações apresentadas nas equações 3 e 4 LOPES VASCONCELLOS 2009 𝑉 𝑃𝑌 𝑀 3 𝑃 𝑀𝑉 𝑌 4 Os preços 𝑃 devem variar proporcionalmente com a quantidade de moeda 𝑀 e com a velocidade de circulação 𝑉 e inversamente com o nível de produção real 𝑌 Assim dobrando 𝑉 necessariamente ocorrerá o mesmo com 𝑃 caso 𝑀 e 𝑌 permanecerem constantes Por outro lado ao dobrar 𝑌 o 𝑃 irá cair pela metade se 𝑀 e 𝑉 permanecerem constantes Logo de forma individual ou simultânea o nível geral de preços resultará das variações advindas das demais variáveis contidas na equação quantitativa Assim salvo em períodos de transição quando todas as variáveis da equação de trocas podem interagir as forças reais e o nível de negócios são independentes das outras variáveis da equação A velocidade da moeda é considerada uma variável estável que muda vagarosamente no tempo dependendo de fatores institucionais como frequência regularidade e correspondência entre recebimentos e gastos Deste modo tal como o volume de negócios ela é independente das outras variáveis da equação de troca Daí seguese que as mudanças de equilíbrio no nível de preços ocorrem devido a mudanças no estoque de moeda O nível de preços 𝑃 portanto é considerado uma variável passiva determinada pela oferta de moeda CARVALHO et al p 32 2007 Conforme citação acima tanto 𝑌 quanto 𝑉 são constantes respectivamente conforme a premissa de pleno emprego no longo prazo e estabilidade no giro da moeda Portanto o nível de preços depende necessariamente da oferta de moeda Desta forma conforme apresentado na equação 5 para manter a identidade aumentos na oferta de moeda 𝑀 necessariamente irão provocar aumentos no nível de preços 𝑃 de mesma proporção viceversa 𝑀𝑉 𝑃𝑌 5 A TQM se apoia portanto na ideia da neutralidade da moeda pois ela é incapaz de afetar as variáveis reais 𝑌 A moeda não tem qualquer poder de satisfazer os desejos humanos Está limitada a sua função meio de troca Ela não é um fim em si mesma apenas um meio usado como ponte do hiato entre recebimento e gastos dos agentes econômicos Carvalho et al 2007 É necessário apresentarmos uma outra versão também importante da TQM chamada TQM na versão dos saldos monetários de Cambridge Na versão da abordagem de transações a moeda deve ser considerada como poder de compra geral já na abordagem dos saldos monetários a moeda serve como residência temporária para o poder de compra atuando no intervalo de tempo entre a venda e compra de uma mercadoria CARVALHO et al 2007 A questão que deve ser feita a partir da ideia da moeda como residência temporária é a seguinte quanto de moeda os agentes econômicos irão reter como residência temporária do poder de compra É razoável supor que a quantidade de moeda retida dependa do nível de renda Desta forma ao rearranjarmos a equação 2 temos conforme pode ser visualizado nas equações 6 7 e 8 que a quantidade desejada de moeda está em função da renda nominal e uma constante que reflete o inverso da velocidade renda da moeda chamada de coeficiente marshalliano ou coeficiente de Cambridge 𝑘 LOPES VASCONCELLOS 2009 𝑀 1 𝑉 𝑃𝑌 𝑘 1 𝑣 6 𝑘 1 𝑣 𝑀 𝑃𝑌 7 𝑀 𝑘𝑃𝑌 em que 8 𝑀 quantia desejada de moeda 𝑘 coeficiente marshalliano ou coeficiente de Cambridge O coeficiente marshalliano é dado pela razão do estoque de moeda em relação à renda nominal ou ainda ele pode ser interpretado como a retenção média de moeda em relação à renda nacional nominal Lopes Vasconcellos 2009 Imaginemos um exemplo dado que o saldo do meio circulante ou oferta de moeda de uma economia 𝑀 seja igual a R 350 bilhões e que a produto interno bruto nominal 𝑃𝑌 seja igual a R 7500 bilhões assim temos 𝑘 𝑀 𝑃𝑌 350 7500 0047 𝑜𝑢 𝑉 1 𝑘 𝑃𝑌 𝑀 1 0047 214 Isso significa que R 100 passou de mão em mão 214 vezes criando renda Ou seja para gerar um produto de R 7500 bilhões foram necessários apenas R 350 bilhões de meio circulante Por fim a TQM na versão dos saldos monetários de Cambridge pode ser considerada como uma função demanda por moeda Dada que a oferta de moeda é considerada exógena pela TQM para que haja equilíbrio no mercado de moeda a quantidade ofertada de moeda 𝑀𝑆 deve ser igual a quantidade demandada de moeda 𝑀𝑑 Assim supondo o equilíbrio monetário a equação quantitativa se transforma em uma função de demanda por moeda para o motivo transação ie demandar moeda como meio de troca As equações 9 10 e 11 apresentam a TQM como uma função demanda por moeda Lopes Vasconcellos 2009 𝑀 𝑀𝑆 𝑀𝑑 9 𝑀𝑑 𝑘𝑃𝑌 10 𝑀 𝑃 𝑑 𝑘𝑌 11 Notase que qualquer das equações derivadas a partir da TQM 𝑀 representa um estoque medido por exemplo em reais e 𝑃𝑌 um fluxo reais por unidade de tempo Segundo Friedman Quantity Theory of Money a equação 10 pode ser considerada como um função demanda por moeda com 𝑃 e 𝑌 do lado direito sendo duas das variáveis de que a quantidade de moeda demandada depende e 𝑘 simbolizando todas as outras variáveis A versão de Cambridge expressa a demanda por moeda como uma proporção 𝑘 do nível de renda A relação proporcional entre moeda e preços depende da estabilidade da velocidade de circulação ou 𝑘 CARVALHO et al p 33 2007 Vale ressaltar que as diferenças das versões da TQM são de ordem conceitual e não de resultados ou interpretações Embora utilizandose de conceitos de moeda distintos ambas as versões partem da Lei de Say no longo prazo produto 𝑌 estará no pleno emprego e velocidade renda da moeda constante Logo com 𝑌 e 𝑘 constantes a versão dos saldos monetários de Cambridge traz idêntica relação proporcional entre oferta de moeda e nível de preços Logo a oferta de moeda deveria crescer suavemente ao longo do tempo a fim de satisfazer o crescimento real do produto Assim qualquer aumento na oferta de moeda em montante maior que o crescimento do produto real acarretaria aumento correspondente no nível de preços CARVALHO et al 2007 Pela teoria quantitativa o único motivo para uma economia experimentar inflação ou deflação resulta de desvios na oferta de moeda de seu nível de equilíbrio de longo prazo Daí por que se pode interpretar a TQM como uma teoria da inflação em que a taxa de crescimento de preços é determinada pela expansão dos meios de pagamento acima do crescimento do produto real Assim a taxa de inflação pode ser obtida pela diferença entre a taxa de expansão monetária e a taxa de crescimento do produto real CARVALHO et al p 34 2007 Então é isso caro aluno fechamos mais este tópico apresentando uma importante teoria monetária Tratase de uma teoria que evoluiu a partir de diversas contribuições E o mais importante foi a partir dela que críticas e aperfeiçoamentos foram surgindo dando origem a outras interpretações Não resta dúvida portanto a grande contribuição da TQM para toda a teoria econômica Assim vimos então que segundo a TQM a inflação é um fenômeno monetário ie é o excesso de oferta de moeda em relação ao nível de produto real que provoca aumento no nível de preços Além disso por ser uma teoria baseada no longo prazo o produto está em pleno emprego logo a moeda não afeta as variáveis reais a moeda é neutra 5 A DEMANDA POR MOEDA A ESCOLHA DE ATIVOS E A PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ DE KEYNES Imagem do Tópico ID 1586195833 Como vimos na Unidade 1 nas primeiras décadas do século XX a teoria econômica estava descolada da realidade Este período com Guerras Mundiais e a grande recessão de 1929 evidentemente é caracterizado por grande instabilidade e incertezas Neste contexto e em oposição à visão clássica exposta na teoria quantitativa da moeda TQM John Maynard Keynes propôs uma nova teoria monetária que ficou conhecida como teoria da preferência pela liquidez 1936 Para Keynes a moeda não é apenas um meio de troca sem qualquer valor em si mesma Sua grande inovação foi considerar a moeda como um ativo pois além de ser um meio de troca como defendido pela TQM é também reserva de valor já que com ela podemos transportar a riqueza ao longo do tempo CARVALHO et al 2007 Nesta nova visão a moeda apresenta dupla função a meio de pagamento e b forma de riqueza Diferentemente de outros ativos em que o retorno vem na forma de compensação pecuniária juros o retorno pela retenção de moeda vem na forma de prêmio de liquidez Portanto a elevação da moeda a um ativo ocorre devido a sua liquidez absoluta Daí o nome da teoria proposta por Keynes CARVALHO et al 2007 Trazendo a teoria de Keynes para nosso cotidiano podemos perceber facilmente que a moeda é um ativo e sua retenção traz benefícios Quem nunca ao negociar algum bem já ouviu ou propôs a seguinte oferta e no dinheiro você faz por quanto Ao comprar um carro ou um imóvel por exemplo aquele que pagar em moeda certamente obterá algum desconto e será premiado pela sua liquidez imediata Pelo seu atributo de liquidez por excelência a moeda acalma as inquietações dos agentes diante das incertezas do futuro que são características de uma economia monetária Assim quanto maior a incerteza percebida pelos agentes maior tenderá a ser a retenção de moeda por parte dos mesmos para fazer frente à imprevisibilidade de um futuro que depende das decisões e comportamentos de todos os outros agentes que operam nesta economia Quando as expectativas dos agentes são pessimistas eles podem demandar segurança e flexibilidade no presente para enfrentar o futuro representadas por um ativo seguro que é a moeda Logo coeteris paribus quanto mais incerto é o futuro maior é a preferência pela liquidez dos agentes CARVALHO et al p 46 2007 Desta forma diferentemente do proposto pela TQM não há como definir posições de equilíbrio tanto no curto quanto no longo prazo sem levar em consideração o comportamento da moeda e da política monetária Assim para Keynes a moeda não é neutra ie possui capacidade para afetar as variáveis reais da economia emprego e renda Portanto as posições de equilíbrio são afetadas pela moeda pois em momentos de incerteza os agentes podem preferir maior liquidez em detrimento por exemplo de bens de consumo ou bens de capital Outro ponto fundamental proposto por Keynes na teoria da preferência pela liquidez referese à taxa de juros Novamente em oposição à visão clássica para Keynes a taxa de juros não é uma recompensa pela espera ou pelo adiamento do consumo mas sim uma recompensa ao renunciar à liquidez A taxa de juros é o que se ganha não porque se poupa mas porque se aplica esta poupança em outros ativos CARVALHO et al 2007 Em outras palavras a taxa de juros é o custo de oportunidade da moeda É a recompensa por não entesourar Logo quanto maior a taxa de juros maior é o custo de manter o ativo moeda e consequentemente menor será o entesouramento e viceversa Em síntese a moeda para Keynes é uma forma de riqueza e a taxa de juros o preço que guia a escolha entre as formas líquida e ilíquida de riqueza ao invés da escolha entre consumo presente e consumo futuro concebida pela teoria clássica Dado que a taxa de juros qual como vimos é o que se recebe quando se adquire títulos financeiros ao invés de acumular moeda nunca é negativa por que alguém preferiria guardar sua riqueza de forma que rende pouco ou nenhum juro ao invés de conservála de outra forma que renda algo Foi procurando responder esta pergunta que Keynes desenvolveu sua teoria monetária CARVALHO et al p 48 2007 Como vimos a resposta à pergunta feita na citação acima é porque devido às incertezas há a preferência pela liquidez que por sua vez determinará a quantidade de moeda que o público irá desejar reter dada uma determinada taxa de juros Keynes ainda enfatizou em sua teoria os motivos pelos quais os agentes demandam moeda Segundo a teoria da preferência pela liquidez os motivos para demandar moeda são a motivo transação b motivo precaução e c motivo especulação LOPES VASCONCELLOS 2009 O motivo transação a moeda é um meio de troca e sua demanda se justifica pela facilidade e segurança que ela proporciona para efetuar as transações comerciais cotidianas A quantidade de moeda demandada pelo motivo transação irá depender da renda do agente econômico e do intervalo entre seu recebimento e a realização das despesas pagamento LOPES VASCONCELLOS 2009 Assim como na TQM a demanda por moeda para transação se faz necessária para que as compras e vendas de bens e serviços sejam satisfeitas logo a moeda é um meio de pagamento e a demanda para tal fim é uma fração da renda do agente econômico Como o próprio nome diz o segundo motivo apresentado por Keynes motivo precaução referese a demanda por moeda para prevenção de algo incerto visando atender contingências e oportunidades imprevistas decorrentes de negócios vantajosos barganhas futuras CARVALHO et al 2007 Podese argumentar que é em relação a essa demanda por moeda que a especificidade da visão de Keynes sobre a moeda como um ativo deve ser ressaltada Quando Keynes sugeriu que a moeda é uma defesa contra a incerteza que domina os agentes quando simplesmente nós não sabemos o que pode vir à frente e que a moeda acalma nossa inquietude ele estava certamente se referindo ao sentimento de segurança que a moeda confere ao seu possuidor diante das dificuldades imprevistas no futuro A demanda precaucionária relacionase ao grau de ignorância sobre o futuro com a moeda sendo o ativo que permite aos agentes refazerem rapidamente suas estratégias caso desejem ou julguem necessário CARVALHO et al p 50 2007 Portanto podemos distinguir a demanda por moeda para transação e a demanda por moeda para precaução considerando três óticas A primeira é conceitual são demandas com fins específicos Enquanto uma atende às necessidades de compra e venda de bens e serviços transação moeda como meio de troca a outra é uma proteção para eventos incertos no futuro e possíveis ganhos advindos da liquidez imediata precaução moeda como ativo A segunda é temporal A demanda por moeda para transação está limitada ao período da renda recebida ou seja os saldos mantidos para satisfazer as transações são gastos dentro do período em que a renda é recebida São saldos mais estáveis e mantidos por período menor logo não são considerados como poupança Já a demanda por moeda para precaução nos remete ao futuro a incertezas que poderão ocorrer logo são mais instáveis e mantidas por período maior Neste sentido os saldos mantidos por precaução não são gastos no mesmo período em que a renda é recebida assim podem ser enquadrados como poupança e ainda podem ser acumulados ao longo de períodos de rendas subsequentes Em outras palavras a intenção de acumular saldos monetários por motivo precaução é uma intenção de transportar a moeda de um período de renda a outro CARVALHO et al 2007 A terceira ótica é quanto à sua origem Para haver demanda precaucionária deve haver basicamente dois requisitos a a renda tem que ser maior que a demanda por transação Não há precaução se toda renda é demandada para as transações Logo a demanda por precaução depende da fração da renda não destinada às transações e b grau de incerteza percebido pelos agentes Quanto maior a incerteza a respeito do futuro maior será a demanda por moeda precaucionária Por fim o terceiro motivo para demandar moeda apresentado por Keynes é o motivo especulação também chamado de motivo portfólio Esse motivo está relacionado ao comportamento futuro da taxa de juros Segundo Keynes tratase de importante motivo por ser o canal de transmissão da política monetária CARVALHO et al 2007 O motivo especulação pode ser mais bem compreendido quando analisado segundo a Figura 1 De acordo com teoria da preferência pela liquidez a demanda por moeda 𝐿𝑟 e a taxa de juros 𝑟 possuem relação inversa ie a demanda por moeda aumenta à medida que a taxa de juros se reduz Portanto a moeda é considerada como um verdadeiro ativo financeiro e a taxa de juros é o custo de oportunidade de retêla logo quanto maior a taxa de juros maior será o custo de manter saldos monetários e maior será a demanda por ativos que rendem juros LOPES VASCONCELLOS 2009 Figura 1 Curva de Preferência pela Liquidez A função demanda por moeda motivo especulação Fonte CARVALHO et al p 51 2007 Entretanto é válido destacar que a partir de um determinado ponto a curva de preferência pela liquidez tornase horizontal ie a demanda por moeda tornase infinitamente elástica a algum patamar baixo de taxa de juros fenômeno denominado de armadilha da liquidez CARVALHO et al 2007 Em outras palavras a armadilha da liquidez ocorre quando a taxa de juros está próxima de zero neste caso a preferência dos agentes econômicos pela liquidez será absoluta e a política monetária perde eficácia É fácil perceber esse comportamento pois se a moeda é um ativo e os demais ativos não rendem nada ou quase nada a moeda tornase um perfeito substituto aos demais títulos e o prêmio de liquidez que oferece passa a ser grande diferencial Logo políticas monetárias que visam ampliar a base monetária resultam em entesouramento em detrimento de recursos ativos Assim podemos definir a demanda por moeda conforme apresentado por Keynes Como já vimos o equilíbrio no mercado monetário é dado pela equação 1 𝑀 𝑀𝑆 𝑀𝑑 1 Conforme os três tipos de demanda por moeda temos 𝑀𝑑 𝑀1 𝑀2 𝑀3 em que 2 𝑀1 montante de recursos para satisfazer o motivo transação 𝑀2 montante de recursos para satisfazer o motivo precaução 𝑀3 montante de recursos para satisfazer o motivo especulação Logo 𝑀 𝑃 𝑑 𝑓𝑌 𝜀 𝑟 em que 3 𝑀 𝑃 𝑑 demanda por moeda por encaixes reais 𝑀 quantidade nominal de moeda 𝑃 nível geral de preços 𝑌 nível de renda real 𝜀 grau de incerteza 𝑟 taxa real de juros Portanto temos na equação 3 a representação de que a demanda por moeda está em função da renda real 𝑌 decorrente do motivo transação do grau de incerteza 𝜀 decorrente do motivo precaução e da taxa de juros real 𝑟 decorrente do motivo especulação LOPES VASCONCELLOS 2009 Concluímos então mais um importante tópico Vimos que o grande feito da teoria da preferência pela liquidez é considerar a moeda como um ativo Por meio desse raciocínio a moeda não é só meio de troca é também riqueza propriamente dita dando ao seu detentor um prêmio pela liquidez A partir disso a moeda não é neutra e pode afetar as variáveis reais Além disso vimos os três motivos de demanda por moeda propostos por Keynes que juntos formam a função básica de demanda por moeda Acho válido mencionar que apresentamos aqui uma pequena parcela do que veio a se convencionar de revolução keynesiana Digo isso porque Keynes trouxe uma série de inovações no campo da Macroeconomia sendo a teoria da preferência pela liquidez apenas uma delas o que aumenta ainda mais sua relevância Assim como a TQM promoveu questionamentos originando outras teorias como a teoria da preferência pela liquidez as ideias propostas por Keynes provocaram outros questionamentos originando novas interpretações e teorias Disto podemos tirar uma importante lição não foi pelo monopólio das ideias que a ciência econômica evoluiu mas sim pelo constante embate de diferentes pensamentos Foi o questionamento que nos trouxe até aqui Exceto para aqueles que acreditam que tudo já foi descoberto e nós somos o ponto de chegada da evolução questionar é evoluir SAIBA MAIS Spread Bancário Vimos nessa unidade que os bancos comerciais desempenham um importante papel no mercado monetário Como já sabemos os bancos comerciais criam moeda moeda escritural a partir dos depósitos à vista do público Eles captam recursos dos agentes superavitários e aplicam esses recursos via empréstimos ou financiamentos para os agentes deficitários Logo por meio do processo de intermediação financeira os bancos comerciais criam moeda Evidente que isso tem um preço Nem relógio trabalha de graça Os bancos comerciais cobram para fazer isso A diferença entre a taxa de juros que os bancos pagam para captar os recursos atrair os clientes para depositar seus recursos via caderneta de poupança certificado de depósito bancário etc e a taxa de juros que é cobrada em seus empréstimos e financiamentos é chamada de spread bancário Portanto os bancos comerciais são estimulados a aumentar a moeda escritural pois como a taxa de aplicação é maior que a taxa de captação os bancos lucram com esta atividade 𝑆𝑝𝑟𝑒𝑎𝑑 𝑏𝑎𝑛𝑐á𝑟𝑖𝑜 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çã𝑜 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 Vamos imaginar que você foi promovido e conseguiu um aumento salarial Mas como você é responsável não quer torrar todo o novo salário Pensando nisso você foi ao seu banco e resolveu aplicar todo mês R3 mil a uma taxa de 35 ao ano Mas você não é de ferro Como a promoção foi conquistada com muito trabalho concluiu que merecia uma autohomenagem Resolveu então não esperar e trocar de carro O seu gerente lhe disse que a taxa do financiamento estava em ótimas condições a 099 ao mês taxa equivalente a 1255 ao ano Você gostou da proposta e fechou o negócio Veja que nesse exemplo o banco para captar o seu dinheiro taxa de captação te paga 35 ao ano Por outro lado para te emprestar dinheiro taxa de aplicação ele cobra 1255 ao ano Nesse caso hipotético o ganho do banco spread bancário foi de 905 1255 35 Para nós é bastante importante acompanharmos o spread bancário pois isso além de outras implicações têm impactos no processo de criação de moeda Digo isso porque o spread pode ser visto como o prêmio pelo risco de crédito assumido pelos bancos comerciais Se o risco de crédito for muito alto o spread também será e consequentemente menor será a demanda por crédito e menor será a capacidade de criar moeda pelos bancos comerciais Diante disso no Gráfico 1 podemos visualizar a redução do spread médio a partir de 2017 Porém o spread médio praticado pelos bancos comerciais no país ainda continua elevado Outra evidência relevante é a diferença do spread bancário incorrido por pessoas jurídicas e pessoas físicas Último dado da série janeiro de 2021 o spread médio nas operações pessoa jurídica foi de 844 contra 2039 das pessoas físicas Ou seja na média em relação às pessoas jurídicas os bancos cobram 141 a mais das pessoas físicas O spread médio das operações de crédito realizadas no país foi de 1572 no mesmo período SAIBA MAIS Gráfico 1 Spread Bancário O spread médio das operações de crédito Fonte BACEN 2021 SAIBA MAIS REFLITA Vimos no tópico 1 desta unidade que um dos objetivos da política do CMN órgão máximo do SFN é propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros Será que teremos mais inovações financeiras à vista O Open Banking e o Open Finance mudarão nosso relacionamento com o sistema financeiro As redes sociais entrarão também neste mercado Qual será o futuro do sistema monetário Fonteelaboração própria REFLITA CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá aluno Chegamos ao final de nossa segunda unidade Como foi visto avançamos nos conceitos fundamentais da economia monetária e iniciamos nossa discussão acerca das teorias monetárias Com relação à organização do Sistema Financeiro Nacional vimos as características e atribuições das duas principais instituições monetárias do país o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil São eles que conduzem a política monetária no Brasil Vimos ainda conceitos mais específicos do mercado monetário agregados monetários meios de pagamento restrito e ampliado e multiplicado monetário Aqui fica o alerta ao aluno esse assunto é bastante comum em provas e concursos de nível superior na área de economia Nesse sentido vale a pena o aluno se dedicar e digerir da melhor forma possível a sopa de letrinhas que discutimos Por fim discutimos duas teorias monetárias fundamentais Tanto a teoria quantitativa da moeda quanto a teoria da preferência pela liquidez são verdadeiras revoluções no campo da economia monetária e todas as outras teorias que ainda iremos discutir necessariamente partem delas para acrescentar novas evidências e argumentos Portanto caro aluno após a conclusão desta unidade espero que possamos responder algumas questões tais como Quais são as principais características do CMN e do BACEN Qual a diferença entre moeda manual e moeda escritural O que são meios de pagamento restrito e ampliado Como é calculado o multiplicador monetário Como podemos interpretar a equação quantitativa Como a moeda é vista pela teoria da preferência pela liquidez Uma vez dominado todos esses assuntos você pode seguir adiante e claro não deixe de aproveitar todos os próximos passos de sua caminhada Parabéns pela conclusão desta unidade Nos vemos na unidade III Forte abraço LEITURA COMPLEMENTAR Relatório de economia bancária httpswwwbcbgovbrpublicacoesrelatorioeconomiabancaria Open Banking httpswwwbcbgovbrestabilidadefinanceiraopenbanking Revista Conjuntura Econômica Vol 74 nº 03 Março 2020 Carta do IBRE Estratégia de impulsionar a economia pelo crédito não é isenta de riscos httpsportalibrefgvbrrevistaconjunturaeconomicaedicoesanteriores LIVRO Título Crash Uma breve história da economia Autor Alexandre Versignassi Editora HarperCollins Sinopse Dinheiro é um mecanismo engenhoso permite que a manicure compre pão sem ter de fazer as unhas do padeiro Sim se você prestar atenção vai ver que notas moedas e os números que aparecem no saldo da sua conta são entidades abstratas quase mágicas Elas são feitas de tempo Ao receber dinheiro de alguém você está ganhando partículas do tempo que esse alguém dedicou a outra tarefa para outra pessoa Genial Mas o que o dinheiro tem de brilhante a economia tem de insana Na Roma Antiga inventaram um congelamento de preços desastroso no Brasil também Na Holanda do século 17 uma bolha especulativa fez com que uma flor valesse o preço de uma casa Em 2017 meia dúzia de bitcoins compravam um apartamento Crash faz um passeio por 12 mil anos de civilização e traça paralelos entre o passado e o presente para explicar como funcionam as moedas a inflação o câmbio o indo e vindo infinito de euforia e depressão na economia E não menos importante decifra o universo das ações das criptomoedas do Tesouro Direto dos fundos de investimento Também elucida as estratégias dos grandes investidores e as picaretagens dos aproveitadores Com este livro que chega à sua terceira versão revista e atualizada para a realidade da terceira década do século 21 você vai entender como a história a psicologia e até a biologia explicam a saga do dinheiro E saber melhor o que fazer com o seu FILMEVÍDEO Título Como Funciona a Economia em 30 Minutos Ano 2015 Sinopse Criado por Ray Dalio este vídeo animado de 30 minutos responde à pergunta Como a economia realmente funciona Baseado no modelo prático de Dalio para entender a economia que ele desenvolveu ao longo de sua carreira o vídeo quebra conceitos econômicos como crédito déficit e taxas de juros permitindo que os espectadores aprendam os motores básicos da economia e como funcionam as políticas econômicas e porque ocorrem os ciclos econômicos Link do vídeo se houver httpswwwyoutubecomwatchv0unv5QSsoCst23s REFERÊNCIAS ASSAF NETO A Mercado Financeiro 13ª Edição Editora Atlas São Paulo 2017 BACEN Banco Central do Brasil Dinheiro em circulação Disponível em httpswww3bcbgovbrmeccirculante Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Estabilidade Financeira Disponível em httpswwwbcbgovbrestabilidadefinanceirabuscanormas Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Sistema Gerenciador de Séries Temporais Disponível em httpswww3bcbgovbrsgspublocalizarserieslocalizarSeriesdo methodprepararTelaLocalizarSeries Acesso em várias datas 2021 BRASIL Lei nº 4595 de 12 de dezembro de 1964 Diário Oficial da União DOU Poder Executivo Brasília DF 9 nov 1964 BRASIL Lei nº 4728 de 14 de julho de 1965 Diário Oficial da União DOU Poder Executivo Brasília DF 9 nov 1965 CARVALHO FC SOUZA FEP SICSÚ J PAULA LFR STUDART R Economia Monetária e Financeira 2ª Edição Editora Campus 2007 LOPES LM VASCONCELLOS MAS Manual de Macroeconomia 3ª Edição Editora Atlas São Paulo 2009 PINHEIRO JL Mercado de Capitais 8ª Edição Editora Atlas São Paulo 2016 UNIDADE III MODELOS E TEORIAS Professor Murilo Borges Plano de Estudo Modelos Neoclássicos Keynesianos de Demanda por Moeda A Teoria da Política Monetária no Modelo Keynesiano A Teoria da Política Monetária no Modelo Monetarista A Teoria da Política Monetária NovoClássica Objetivos de Aprendizagem Demonstrar o modelo de composição de carteira de Tobin Demonstrar o modelo de abordagem de estoques de BaumolTobin Definir o número ótimo de transações para atender o motivo transação Demonstrar o modelo keynesiano Analisar o modelo ISLM Conhecer as implicações do pessimismo das elasticidades Demonstrar o modelo monetarista Definir a taxa natural de desemprego Definir as expectativas adaptativas Analisar as implicações da curva de Phillips Demonstrar o modelo novoclássico Definir as expectativas racionais Conhecer a curva de Phillips na versão Lucas Compreender a tese da independência do Banco Central INTRODUÇÃO Olá aluno Tudo bem Pronto para dar mais um passo em sua caminhada Você sabe que o mais difícil já foi feito rompeu a inércia dando o primeiro passo Além disso espero que você esteja desfrutando cada passo de sua caminhada quanto mais valor você der a caminhada maior será o prazer em sua chegada Mas uma caminhada dificilmente é uma linha reta Ao longo dela você poderá encontrar buracos obstáculos interseções por isso em sua caminhada esteja sempre aberto a novos caminhos A premissa de que um caminho novo é mais difícil é falsa Um novo caminho pode ter várias formas pode ser mais curto mais plano mais fresco mas pode ser também apenas um caminho para outros novos caminhos Logo se você quer descobrir novos caminhos e ver o que você nunca viu então você deve caminhar por onde você nunca caminhou Que tal então começarmos um novo caminho com as novas teorias monetárias Encerramos a unidade anterior demonstrando as duas principais teorias de economia monetária A teoria quantitativa da moeda e a teoria da preferência pela liquidez são as precursoras das demais teorias monetárias Assim as teorias que veremos a seguir derivam dessas duas seja criticandoas ou adicionando novos conceitos e argumentos No tópico 1 iremos demonstrar os modelos de composição de carteira de Tobin e de abordagem de estoques de BaumolTobin Tratase de modelos neoclássicos que promovem uma nova abordagem a respeito da demanda por moeda para especulação e para transação apresentada por Keynes No tópico 2 iremos demonstrar o modelo keynesiano chamado também de síntese neoclássica tendo como fundamento o famoso modelo ISLM Iremos verificar que devido a baixa elasticidade juro do investimento a política monetária tem mínima efetividade Logo para essa escola de pensamento a política fiscal é a mais adequada para afetar as variáveis reais e estabilizar a economia Nesse sentido temse origem o termo característico desta escola o fiscalismo No tópico 3 demonstraremos o modelo monetarista com ênfase na taxa natural de desemprego expectativas adaptativas e curva de Phillips Iremos verificar que por meio da ilusão monetária dos agentes econômicos a política monetária é capaz de afetar as variáveis reais porém ao custo de maior inflação Por fim no tópico 4 iremos demonstrar o modelo novoclássico Tratase de modelo mais recente com suas principais premissas vigentes em muitos países como o regime de metas de inflação e a tese da independência do Banco Central Entretanto esta escola é mais conhecida por introduzir o conceito de expectativas racionais A inclusão deste conceito trouxe uma verdadeira revolução na economia monetária Vamos então caminhar por estas novas teorias e descobrir novos conceitos e interpretações Forte abraço e bons estudos 1 MODELOS NEOCLÁSSICOS KEYNESIANOS DE DEMANDA POR MOEDA Imagem do Tópico ID 1556915846 Neste tópico iremos estudar dois importantes modelos que dão nova abordagem à demanda por moeda especulativa e demanda por moeda transacional proposta por Keynes conforme visto na Unidade anterior O modelo de composição de carteiras de Tobin demanda especulativa 1958 e a abordagem de estoques de BaumolTobin demanda transacional 1952 e 1956 não são apenas um detalhamento das ideias propostas por Keynes constituemse uma reformulação profunda de suas proposições CARVALHO et al 2007 O modelo de composição de carteira de Tobin trata da demanda por moeda especulativa e é um dos pilares da síntese neoclássica1 Para este modelo os agentes preferem reter alguma combinação de moeda e títulos portanto assume a premissa de que uma carteira mista contendo tanto ativos monetários e não monetários possui maior probabilidade de satisfazer seus detentores Essa premissa é uma crítica à teoria da preferência pela liquidez pois na teoria formulada por Keynes ou o agente adquire títulos ou retêm moeda Em essência Tobin critica essa escolha binária ou um ou outro propondo que moeda 𝑀 e títulos 𝐵 não são opções excludentes 1 Teoria criada por aqueles que sintetizaram os ensinamentos da teoria clássica e da teoria keynesiana Como vimos anteriormente a teoria da preferência pela liquidez diz que a demanda especulativa por moeda depende da taxa de juros portanto a relação entre demanda por moeda e taxa de juros é determinante para a formulação da política monetária Tobin aceita a ideia proposta por Keynes mas critica o modo como o argumento é exposto Portanto a intenção de Tobin é reformular a teoria da demanda especulativa a fim de adicionar bases teóricas mais sólidas e melhorar seus resultados empíricos CARVALHO et al 2007 Uma vez que a dicotomia moeda e título proposta por Keynes é criticada Tobin propõe responder a seguinte questão em que proporções a carteira de ativos do investidor será dividida entre moeda e títulos Para Tobin dentre as preferências individuais para escolhas de portfólio2 o que popularmente chamamos de perfil de investimento a maioria dos agentes econômicos se enquadram como diversificadores representando o indivíduo avesso ao risco ie à medida que o risco aumenta é exigido acréscimos crescentes de remuneração Em outras palavras o perfil diversificador aceita incorrer em risco maior somente se puder obter maior remuneração CARVALHO et al 2007 Desta forma o modelo de composição de carteira de Tobin propõe que a demanda por moeda para especulação conforme apresentado na equação 1 dependa não só da taxa de juros mas também da relação riscoretorno associada à expectativa do agente e de sua riqueza Portanto a demanda POR moeda para especulação proposta no modelo de composição de carteira de Tobin pode ser apresentada conforme a equação 1 CARVALHO et al 2007 𝑀𝑑 𝑓𝑟 𝜇𝑅 𝑆𝑅 𝑊 em que 1 𝑀𝑑 demanda por moeda para especulação 𝑟 taxa de juros reais 𝜇𝑅 remuneração da carteira esperada pelo agente econômico 𝑆𝑅 riscos da carteira assumidos pelo agente econômico 𝑊 𝑀 𝐵 riqueza do agente econômico 2 As preferências individuais para escolhas de portfólio são classificadas em três tipos a amante ao risco b jogador e c diversificador Ou seja quanto maior a taxa de juros maior a expectativa do agente em obter maiores retornos ainda que incorra em maiores riscos e consequentemente maior parcela de sua riqueza destinada a títulos em detrimentos do ativo moeda logo menor será a demanda por moeda para especulação Da mesma maneira podemos ainda analisar o modelo proposto por Tobin a partir da Figura 1 que relaciona a composição em títulos considerando a taxa de juros e risco da carteira assumida pelo investidor à direita e a função demanda por moeda pelo motivo especulação 𝑀𝑑 que relaciona moeda e taxa de juros pressupondo um dado nível de rendimento real Figura 1 Modelo de Composição de carteira de Tobin A função demanda por moeda motivo especulação Fonte CARVALHO et al p 69 2007 adaptado pelo autor Em outras palavras dado que uma expansão da taxa de juros induz a liberação de maiores parcelas de ativos monetários para aplicação de títulos e por conseguinte em maiores riscos e maiores retornos esperados a função demanda por moeda para especulação reage inversamente à taxa de juros Deste modo o modelo de carteira de ativos de Tobin permite a constituição de uma teoria de demanda por moeda para especulação ao analisar a repartição do montante de riqueza líquida existente entre títulos e moeda em função das taxas de juros e das expectativas com relação à remuneração e ao risco associado aos ganhos de capital CARVALHO et al p 69 2007 Portanto verificamos que uma expansão das taxas de juros provoca uma diminuição maior na demanda por moeda especulativa quando a taxa de juros se encontra em níveis mais baixos Isso porque os saldos monetários tendem a diminuir por conta de um aumento das taxas de juros que leva os agentes econômicos a aumentarem os riscos assumidos com aplicações em ativos não monetários CARVALHO et al 2007 Outro modelo derivado de críticas à teoria da preferência pela liquidez é a abordagem de estoques de BaumolTobin quanto à demanda por moeda para transação Diferentemente do proposto por Keynes em que a demanda por moeda para transação é proporcional à renda do agente econômico o modelo de BaumolTobin propõe que além da renda a demanda por moeda transacional depende também da taxa de juros Logo a demanda por moeda para transação segundo a abordagem de estoques pode ser expressa pela equação 2 𝑀𝑑 𝑓𝑌 𝑟 em que 2 𝑀𝑑 demanda por moeda para transação 𝑌 renda real 𝑟 taxa de juros de mercado O argumento de que a demanda por moeda transacional é influenciada também pela taxa de juros se justifica pelo fato de que o indivíduo racional se comporta de modo a manter retenções mínimas de estoque monetário que possibilitam ao mesmo tempo o giro normal de suas transações mas também aproveitar os ganhos resultantes da aplicação em títulos que rendem juros Portanto os agentes buscarão minimizar os custos de oportunidade relacionados à manutenção de saldos monetários ociosos CARVALHO et al 2007 O pressuposto básico é que o indivíduo maximizador de uma função utilidade durante um período de renda terá um desejo de aplicar parte de sua renda em títulos que rendem juros deixando apenas uma parcela sob a forma de moeda para fazer frente às necessidades imediatas de transação já que ele pode vender títulos quando necessário para efetuar os seus pagamentos correntes No limite o indivíduo poderia colocar toda sua riqueza em títulos e ir vendendo os quando fosse necessário fazer pagamentos CARVALHO et al p 69 2007 Desta forma quanto maior a taxa de juros maior o rendimento proporcionado pelos títulos logo menor os saldos monetários para satisfazer o motivo transação e maior a aplicação em títulos Portanto a demanda por moeda transacional é também sensível à taxa de juros Assumindo tal premissa a questão que a abordagem de estoques de BaumolTobin se propõe a responder é como determinar o número ótimo de transações títulosmoedas para atender o motivo transação Conforme pode ser visualizado na Figura 2 no gráfico 1 o indivíduo faz uma única transação no início do período transferindo seus recursos aplicados em títulos para forma de dinheiro O indivíduo inicia o período com 𝑌𝑛 e ao longo do mês realiza suas transações até atingir zero ao final do período Figura 2 Abordagem de estoques de BaumolTobin Volume de dinheiro retido relacionado ao número de retiradas Fonte CARVALHO et al p 70 2007 Já no gráfico 2 o indivíduo faz duas retiradas de suas aplicações em título sendo a primeira 𝑌𝑛 2 transformada em dinheiro no início do período reduzida a zero na metade deste período quando então uma outra retirada de 𝑌𝑛 2 é finalmente transforma em dinheiro Nesse caso a retenção média é 𝑌𝑛 4 que é o valor médio retido nas duas metades do mês A assim sucessivamente conforme apresentado no gráfico 3 o valor médio 1 2 3 retido nas 𝑛 metades do período é a retenção média de moeda ie a própria demanda por moeda por transação Entretanto os gráficos da Figura 2 não nos permite responder a questão proposta pelo modelo O número ótimo de transações que maximiza a satisfação de um indivíduo está associado ao custo total de reter moeda sendo o custo total os juros não auferidos por reter moeda mais o custo de ir ao banco e a receita marginal resultante do aumento do número de transações para uma dada taxa de juros Combinando receita marginal 𝑅𝑀𝑔 com custo marginal 𝐶𝑀𝑔 podemos determinar o número de transações que maximiza o ganho do indivíduo 𝑅𝑀𝑔 𝐶𝑀𝑔 Vejamos um exemplo numérico como apresentado por CARVALHO et al 2007 Vamos assumir que a renda é gasta a uma taxa constante de modo que ao final do período toda renda 𝑌 foi gasta Imaginemos que o indivíduo possui R1000000 para ser gasto para fins transacionais em um mês ou podendo ser aplicado inicialmente em títulos a uma taxa de juros 𝑟 de 3 ao mês Iniciando pelo lado da receita para um indivíduo que não efetuará qualquer transação de moeda por títulos não haverá aplicação em títulos no mês e portanto seu rendimento será nulo Se o indivíduo planeja efetuar uma transação no meio do período isso significa que aplicará metade de 𝑌 em títulos a serem detidos durante meio mês Dividindo seu estoque em dois lotes de R500000 assim como apresentado no gráfico 2 da Figura 2 Nesse caso a receita total 𝑅𝑇 será 𝑅𝑇 𝑟0 2 𝑥 𝑌 2 𝑟0𝑌 4 003𝑥10000 4 75 Como é feito uma transação a receita total é igual a receita marginal 𝑅𝑀𝑔 Imaginemos agora que serão feitas duas transações logo sua renda será dividida em três lotes de R333333 O indivíduo começa aplicar 23 de 𝑌 em títulos e no décimo dia do mês ele pode trocar por dinheiro metade desses títulos ou seja 13 de 𝑌 Dez dias mais tarde poderá ser convertido em moeda a outra metade dos títulos cujo rendimento terá sido 2𝑟03 Logo a receita total 𝑅𝑇 será 𝑅𝑇 𝑟0 3 𝑥 2𝑌 3 𝑟0 3 𝑥 𝑌 3 2𝑟0𝑌 9 𝑟0𝑌 9 𝑟0𝑌 3 003𝑥100000 3 10000 Portanto a receita marginal ie o aumento da receita decorrente do aumento de uma transação é de igual a 2500 𝑅𝑀𝑔 100 75 25 Se aumentarmos mais uma transação de modo que seja igual ao gráfico 3 da Figura 2 teremos a receita total de 𝑅𝑇 𝑟0 4 𝑥 3𝑌 4 𝑟0 4 𝑥 2𝑌 4 𝑟0 4 𝑥 𝑌 4 3𝑟0𝑌 16 2𝑟0𝑌 16 𝑟0𝑌 16 3𝑟0𝑌 8 3𝑥003𝑥100000 8 11250 A receita marginal é agora de 125 𝑅𝑀𝑔 11250 10000 125 Observase assim que a receita marginal decorrente do acréscimo de uma transação é positiva porém decrescente com uma transação a 𝑅𝑀𝑔 7500 com duas transações a 𝑅𝑀𝑔 2500 e com três transações a 𝑅𝑀𝑔 1250 Imaginemos que o custo de cada transação custo de corretagem ou o tempo gasto na operação ou ainda o custo de ir ao banco lembrando que a teoria é da década de 1950 e esses custos tendem a zero para os dias atuais seja igual a 2500 Supondo que o custo unitário é igual para cada transação logo o custo marginal 𝐶𝑀𝑔 é fixo ao valor de 2500 Como vimos o número de transações que maximiza o ganho do indivíduo corresponde ao ponto onde 𝑅𝑀𝑔 𝐶𝑀𝑔 logo em nosso exemplo hipotético a maximização do resultado ocorre com duas transações A principal conclusão da abordagem de BaumolTobin para a demanda de moeda para transações é que as elevações da taxa de juros resultam numa ampliação do número de transações e consequentemente aumento do montante de moeda aplicado em títulos Logo a demanda por moeda para fins transacionais reage às mudanças nas taxas de juros provocando um movimento inverso na demanda por moeda para transação Esta portanto está diretamente relacionada ao montante da renda mas inversamente relacionada à taxa de juros de mercado CARVALHO et al p72 2007 Para facilitar o que discutimos até aqui podemos verificar o modelo de Baumol Tobin graficamente É isso que se propõe a Figura 3 Podemos observar que alterações nas taxas de juros provocam alterações ao longo da curva de demanda por moeda transacional gráfico 1 Assim aumentos na taxa de juros acarretam uma redução na demanda por moeda transacional e consequentemente aumentos na alocação em ativos não monetários títulos Por outro lado alterações no nível de renda provocam deslocamentos da curva de demanda por moeda transacional gráfico 2 Portanto o aumento no nível de renda acarreta deslocamento da demanda por moeda transacional para direita e uma redução no nível de renda o deslocamento será para esquerda Figura 3 Abordagem de estoques de BaumolTobin Efeito de Mudanças nas Taxas de Juros e na Renda sobre a Demanda Transacional Fonte CARVALHO et al p 73 2007 Então é isso caro aluno demos mais um passo e vimos neste tópico dois importantes modelos que adicionam novas ideias à teoria da preferência pela liquidez de Keynes Primeiramente vimos o modelo de composição de carteira de Tobin que propõe que a demanda por moeda especulativa não está sujeita a dicotomia proposta por Keynes O estudo aponta que empiricamente os agentes não optam por um ou outro ativo mas sim uma carteira de investimento mista sujeita a relação risco e retorno e ao montante de riqueza Por fim tratamos do modelo de abordagem de estoques de BaumolTobin sobre demanda transacional Vimos que além da renda como proposto por Keynes a demanda por moeda para transações depende também da taxa de juros pois variações na taxa de juros alteram o número de transações por parte dos agentes e consequentemente alteram o montante de moeda aplicado em títulos 1 2 2 A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA NO MODELO KEYNESIANO Imagem do Tópico ID 1802387872 Já sabemos que na visão de Keynes a política monetária é capaz de afetar as variáveis reais como por exemplo reduzir o desemprego Entretanto os seguidores de Keynes não formam um grupo homogêneo Há portanto diferentes interpretações decorrentes das ideias apresentadas por Keynes Dentre elas a corrente que veio se convencionar de síntese neoclássica ou velhokeynesiana Portanto nossa primeira lição é não confundir o nome com seu real significado O nome deste tópico é teoria da política monetária no modelo keynesiano porém considerase como modelo keynesiano na teoria econômica a interpretação de determinados seguidores de Keynes ao seu modelo como falamos a famosa síntese neoclássica O principal modelo originado dessa corrente é o famoso modelo ISLM Análise HicksHansen 1937 É exatamente este modelo que iremos apresentar para descrever o que propõe a política monetária no modelo keynesiano ou seja as variações nas taxas de juros podem não influenciar de forma permanente as variáveis reais Vale ressaltar portanto que o aluno obterá conhecimentos mais profundos acerca do modelo ISLM na disciplina de Macroeconomia por hora o instrumental ISLM que iremos apresentar está orientado à nossa disciplina de economia monetária O receituário de política monetária de Keynes é radicalmente diferente do receituário sugerido pelos velhoskeynesianos que formam a corrente que se tornou conhecida como síntese neoclássica Embora reconheçam que teoricamente existem mecanismos capazes de explicar a influência de variações no volume de moeda sobre o produto consideram que a política monetária possui uma potência reduzida pelo menos quando comparado com a política fiscal O receituário proposto pelo velhokeynesianismo advém da constatação empírica de que a função demanda por bens de capital exibe uma baixa elasticidade juros CARVALHO et al p 102 2007 Logo de acordo com a corrente keynesiana velhoskeynesianos a política monetária tem efeito desprezível sobre as decisões de investimento e consequentemente reduzido efeito sobre as variáveis reais Dessa interpretação advém o fiscalismo característico dessa corrente de pensamento ou seja é a política fiscal como por exemplo a variação dos gastos públicos é quem de fato tem influência sobre as variáveis reais Esclarecido esses pontos conceituais vamos tratar do modelo ISLM A estrutura lógica deste modelo pode ser apresentada conforme a Figura 1 Segundo esta estrutura o mercado de ativos representado pela oferta e demanda por moeda é quem determina a taxa de juros Por sua vez a taxa de juros afeta o investimento e por meio deste afeta o mercado de bens e serviços representado pela demanda agregada A renda afeta a própria demanda e por meio da demanda por moeda também tem influência sobre o mercado de ativos e consequentemente afeta a taxa de juros Percebemos que se trata de um sistema de determinação simultânea tomando se como variáveis exógenas no modelo a política monetária oferta de moeda a política fiscal impostos e gastos públicos e o nível de preços que é considerado constante A interligação entre o lado real e o lado monetário é feita basicamente através da taxa de juros LOPES VASCONCELLOS p 188 2009 Figura 1 O Modelo HicksHansen o famoso ISLM Estrutura do modelo ISLM Fonte DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 215 2011 Portanto o modelo ISLM enfatiza a interação entre o mercado de bens 𝐼𝑆 lado real conforme visão de Keynes e o mercado de ativos 𝐿𝑀 lado monetário conforme visão da teoria clássica Os gastos as taxas de juros e a renda são determinados conjuntamente pelo equilíbrio entre a 𝐼𝑆 e a 𝐿𝑀 Logo o modelo ISLM determina os valores de taxa de juros 𝑖 e produto 𝑌 que simultaneamente colocam o mercado de bens e o mercado monetário em equilíbrio 𝐼𝑆 𝐿𝑀 DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 A 𝐼𝑆 mostra as diversas combinações de taxas de juros 𝑖 e níveis de produto 𝑌 de forma que o gasto planejado seja igual a renda ou seja que haja equilíbrio no mercado de bens e serviços De outra forma representa a demanda agregada 𝐷𝐴 e a oferta agregada 𝑂𝐴 que determina a nível de produto 𝑌 A equação da 𝐼𝑆 é derivada do modelo proposto por Keynes e pode ser escrita conforme apresentado na equação 1 CARVALHO et al 2007 𝑖 𝐴0 𝑏 1 𝛼𝑏 𝑌 em que 1 𝐴0 gastos autônomos 𝑏 sensibilidade juro do investimento 𝛼 multiplicador keynesiano A 𝐿𝑀 mostra as diversas combinações de taxas de juros 𝑖 e níveis de produto 𝑌 de forma que a demanda por moeda seja igual à oferta de moeda ou seja que haja equilíbrio no mercado monetário De outra forma representa a demanda por moeda 𝑀𝑑 e a oferta de moeda 𝑀𝑆 que determina a taxa de juros 𝑖 É importante para nossa disciplina verificarmos a derivação da 𝐿𝑀 pois isso implica na definição de demanda e oferta de moeda que está sendo considerada DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 A oferta de moeda 𝑀𝑆 𝑜𝑢 𝑀 𝑃 depende dos objetivos da política monetária das autoridades monetárias portanto não está em função das variáveis consideradas no modelo 𝑖 𝑌 Logo a oferta de moeda é exógena ie é dada fora do modelo Por outro lado a demanda por moeda 𝑀𝑑 está em função do nível de renda 𝑌 e da taxa de juros 𝑖 Assim podemos definir a demanda por moeda 𝑀𝑑 da seguinte forma CARVALHO et al 2007 𝑀𝑑 𝑓𝑌 𝑖 2 𝑀𝑑 𝑘𝑌 ℎ𝑖 em que 𝑘 0 ℎ 0 e 3 𝑘 sensibilidade renda da demanda por moeda ℎ sensibilidade juro da demanda por moeda A sensibilidade renda da demanda por moeda representa a demanda por moeda transacional e precaucional Logo quanto maior a renda maior a demanda por moeda e a sensibilidade renda irá medir o quanto a demanda por moeda irá responder com alterações na renda Já a sensibilidade juro da demanda por moeda representa a demanda por moeda para especulação Logo quanto maior a taxa de juros menor será a demanda por moeda e a sensibilidade juro irá medir o quanto a demanda por moeda irá responder com alterações nas taxas de juros Assim no equilíbrio em que oferta e demanda por moeda são iguais temos a equação da LM representada pela equação 6 CARVALHO et al 2007 𝑀𝑑 𝑀𝑆 𝑀 𝑃 4 𝑀 𝑃 𝑘𝑌 ℎ𝑖 5 𝑖 𝑘𝑌 ℎ 𝑀 ℎ𝑃 6 Podemos ainda observar a derivação da curva LM graficamente conforme apresentado na Figura 2 O gráfico a mostra o mercado monetário em que a oferta de moeda é dada 𝑀 𝑃 representada pela linha vertical e 𝑀1 𝑑 e 𝑀2 𝑑 representam a demanda por moeda para diferentes níveis de renda 𝑌1 e 𝑌2 Os diversos pontos de equilíbrio no mercado monetário formam a curva 𝐿𝑀 como mostrada no gráfico b DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 Figura 2 A curva LM Derivação da curva LM Fonte DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 227 2011 Ao unirmos a curva 𝐼𝑆 equilíbrio do mercado de bens e serviços e a curva de 𝐿𝑀 equilíbrio no mercado monetário temse a Figura 3 ou seja o modelo ISLM propriamente dito sendo a intersecção dos dois mercados duas retas o ponto 𝐸 ponto de equilíbrio a economia está em equilíbrio no mercado monetário e no mercado de bens Figura 3 O modelo ISLM Equilíbrio nos mercados de bens e monetário Fonte DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 229 2011 A partir dessa breve exposição do modelo ISLM podemos então utilizálo para compreender a impotência da política monetária sob a ótica do modelo keynesiano Conforme pode ser observado na Figura 4 imaginemos que uma economia hipotética se encontra no estado inicial de equilíbrio 𝐸 com a combinação de taxa de juros e renda 𝑖0 𝑌0 Vamos sair desse conforto Vamos imaginar então que autoridade monetária realiza uma política monetária expansionista por meio de uma operação de mercado aberto 𝑀𝑠 𝑜𝑢 𝑀 𝑃 Isso aumenta a quantidade nominal de moeda e dado o nível de preços a quantidade real de moeda Como consequência ocorre o deslocamento da curva 𝐿𝑀 𝐿𝑀 𝐿𝑀 DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 Figura 4 Política Monetária Expansionista Expansão da oferta de moeda e o deslocamento da curva LM Fonte DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 240 2011 No nível inicial de produto 𝑌0 com maior quantidade de moeda disponível a economia caminha para ponto 𝐸1 ou seja ponto de desequilíbrio no mercado de bens e serviços Neste ponto portanto há excesso de demanda por bens que é inicialmente atendido pelas firmas com redução de seus estoques e em seguida por aumentos na produção A redução da taxa de juros provocada pela expansão da oferta de moeda estimula maiores investimentos À medida que aumenta a renda aumenta também a demanda por moeda para transação Além disso a redução da taxa de juros provoca aumento na demanda por moeda pelo motivo especulação Em resposta o produto se expande e começamos a nos deslocar ao longo da curva 𝐿𝑀 para cima O aumento no produto pressiona a demanda por moeda forçando o aumento das taxas de juros até o ponto em que o mercado de bens e monetário se equilibram 𝐸 DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 Desta forma o equilíbrio final ocorre no ponto 𝐸 com a combinação de taxa de juros e renda 𝑖 𝑌 Neste equilíbrio final a política monetária expansionista foi eficaz com impactos positivos sobre a renda 𝑌0 𝑌 e taxa de juros 𝑖0 𝑖 De forma geral o mecanismo de transmissão da política monetária expansionista descrita acima pode ser resumido na Tabela 1 Tabela 1 Política Monetária Expansionista Mecanismo de transmissão 1 2 3 4 Alteração na oferta real de moeda Os ajustes na carteira levam a mudanças nos preços dos ativos e nas taxas de juros Os gastos se ajustam às variações nas taxas de juros O produto se ajusta à variação na demanda agregada Fonte DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 241 2011 Portanto o resultado na renda decorrente de uma política monetária expansionista foi positivo Entretanto cabe uma ressalva Comentamos anteriormente que para essa corrente de pensamento a política monetária era impotente para afetar o produto Como assim então esse resultado Repare na Figura 4 que o deslocamento no produto 𝑌0 𝑌 depende da inclinação da curva IS Se ela for pouco inclinada mais horizontal o deslocamento no produto será maior Por outro lado se ela for bastante inclinada mais vertical menor será o deslocamento do produto Logo a eficácia da política monetária depende da inclinação da curva 𝐼𝑆 E é aqui que se justifica a impotência da política monetária para o modelo keynesiano pois para esta corrente a 𝐼𝑆 é muito inclinada E o que determina a inclinação da curva 𝐼𝑆 é a sensibilidade juro do investimento 𝑏 e o multiplicador keynesiano 𝛼 Para os velhoskeynesianos a sensibilidade juro do investimento é muito baixa traduzindo em uma curva 𝐼𝑆 basicamente vertical como pode ser observado na Figura 5 Logo uma política monetária tornase muito custosa já que será necessário reduzir drasticamente a taxa de juros para obter reduzidos aumentos na renda isso porque a redução da taxa de juros provocada pela expansão da oferta de moeda estimula em quase nada os investimentos Justificando portanto o fiscalismo defendido pelo modelo keynesiano CARVALHO et al 2007 Figura 5 Política Monetária Expansionista A impotência da política monetária Fonte CARVALHO et al p108 2007 Para fechar esse tópico podemos aproveitar o instrumental ISLM para resgatar um importante conceito em economia monetária armadilha da liquidez Na teoria da preferência pela liquidez de Keynes vista na Unidade anterior a demanda por moeda tornase infinitamente elástica quando a taxa de juros se encontra em nível próximo de zero Neste caso a preferência pela liquidez será absoluta e a política monetária não terá eficácia No modelo ISLM a armadilha da liquidez é conhecida também como pessimismo das elasticidades Chamada assim pois além da elasticidade juro do investimento 𝑏 ser baixa tornando a 𝐼𝑆 muito inclinada como vimos a pouco na Figura 5 é assumido também que a elasticidade juro da demanda por moeda ℎ é muito elevada tornando a 𝐿𝑀 pouco inclinada Nesse caso específico com 𝑏 muito baixo é preciso uma grande variação da taxa de juros para influenciar muito pouco o investimento e com ℎ muito alto uma pequena variação na taxa de juros provoca uma grande variação na demanda por moeda respectivamente a 𝐼𝑆 seria basicamente vertical e a 𝐿𝑀 quase horizontal CARVALHO et al 2007 Podemos visualizar esse caso extremo na Figura 6 em que a política monetária expansionista produziria efeitos desprezíveis sobre a renda pois na armadilha da liquidez os agentes transformam todo aumento de oferta de moeda em recursos inativos ativos especulativos e não em recursos ativos ativos transacionais Por outro lado a política fiscal é altamente eficaz pois sob estas condições somente uma política fiscal expansionista é capaz de afetar o volume de renda CARVALHO et al 2007 Figura 6 Armadilha da Liquidez Pessimismo das elasticidades Fonte CARVALHO et al p 108 2007 Então é isso caro aluno Tendo como base o receituário proposto pela síntese neoclássica e utilizandose do instrumental ISLM vimos neste tópico que a política monetária é incapaz de afetar o nível de produto Isso ocorre devido à inelasticidade juro do investimento evidenciada em uma curva IS muito inclinada quase vertical Com essas características a política fiscal e os gastos do governo são os protagonistas enquanto a política monetária e a moeda são meros figurantes sem muita importância no desenrolar da novela chamada Economia 3 A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DO MODELO MONETARISTA Imagem do Tópico ID 1772911730 Vimos que a teoria da política monetária do modelo keynesiano apresentada no tópico anterior relegava a política monetária a um papel secundário em relação à política fiscal o que ficou conhecido como fiscalismo Em oposição a esse entendimento surge então a escola monetarista O termo monetarismo vem justamente desse embate de uma relação de antagonismo ao fiscalismo Portanto a moeda para os monetaristas ganha relevância deixa de ser apenas uma figurante submetida ao comportamento da política fiscal Para os monetaristas a moeda importa e a política monetária ainda que temporariamente é capaz de afetar as variáveis reais com implicações no volume de emprego Dentre os vários estudiosos que formam a escola monetarista não há como deixar de mencionar seu principal expoente Milton Friedman Ferrenho crítico às políticas keynesianas e ao intervencionismo estatal dominantes nas décadas de 1950 e 1960 Friedman ganhou notoriedade e se transformou num dos economistas mais influentes do pensamento econômico O pensamento de Friedman e da escola monetarista de forma geral está fundamentada no tripé a taxa natural de desemprego b expectativas adaptativas e c curva de Phillips Vamos a partir de agora a cada uma delas CARVALHO et al 2007 O pressuposto inicial do modelo monetarista é a taxa natural de desemprego ie a existência de desemprego mesmo em uma situação de pleno emprego Embora pareça contraditório pleno emprego não significa ausência de desemprego Sempre haverá algum nível de desemprego mesmo que a economia esteja operando em sua máxima possibilidade de produção Friedman utilizou o termo natural para distinguir o desemprego derivado das características estruturais e institucionais de uma economia daquele derivado de ações intervencionistasmonetárias A taxa natural é aquela taxa de desemprego que incorpora as características estruturais e institucionais do mercado de trabalho e do mercado de bens tais como a tecnologia as imperfeições as variações sazonais na demanda e oferta o custo e o tempo de coletar informações sobre as vagas disponíveis e o custo e o tempo de mobilidade de um emprego para outro entre outras características CARVALHO et al p 114 2007 Como visto as características estruturais e institucionais são as causas para o desemprego existente na taxa natural de desemprego Logo precisamos saber qual tipo de desemprego representa as características estruturais e institucionais e que está contido na taxa natural de desemprego São dois o desemprego friccional e o desemprego voluntário CARVALHO et al 2007 O desemprego friccional é aquele decorrente do intervalo de tempo entre um emprego e outro Tratase de um desemprego temporário que é próprio do mercado de trabalho pois diferentemente da demissão a admissão geralmente não é um processo imediato requer análise disponibilidade e processamento de informações treinamentos deslocamentos geográficos enfim uma infinidade de procedimentos e decisões que levam tempo Portanto mesmo uma pessoa com elevada empregabilidade estará desempregada pelo tempo exigido para sua contratação Já o desemprego voluntário é aquele em que a pessoa está desempregada por vontade própria Isso acontece porque nem todas as pessoas têm suas preferências individuais atendidas com o trabalho disponível ou seja não aceitam o tipo de trabalho o salário oferecido etc Portanto quando a taxa de desemprego corrente é igual a taxa natural de desemprego somente vigoram o desemprego friccional e o voluntário não existindo portanto desemprego provocado por insuficiência de demanda agregada ie desemprego involuntário Estaremos assim no pleno emprego situação de equilíbrio de longo prazo em que todas as preferências são satisfeitas estando as pessoas empregadas ou não Por outro lado a economia irá se encontrar em posição de desequilíbrio quando a taxa de desemprego corrente for diferente da taxa natural neste caso existirão trabalhadores cujas preferências não estão sendo satisfeitas LOPES VASCONCELLOS 2009 Apesar das diferenças existentes entre a taxa corrente e a taxa natural de desemprego o modelo monetarista considera que há um equilíbrio estável entre elas pois na ausência de intervenções monetárias a taxa corrente converge em direção à taxa natural Essa propriedade de estabilidade se dá em função da suposição de flexibilidade de preços e salários os mercados se equilibram via variações de preços e salários aceita pelos monetaristas CARVALHO et al 2007 Por fim cabe destacar ainda que a taxa natural de desemprego não é constante Ela pode sofrer variações ao longo do tempo justamente porque as características estruturais e institucionais a ela incorporadas não são imutáveis tão pouco inalteráveis A própria preferência dos agentes pode mudar com o passar do tempo impactando o nível de desemprego natural CARVALHO et al 2007 Nas últimas décadas em vários países a taxa de desemprego ficou bem acima da taxa natural Dada a propriedade da estabilidade a taxa de desemprego não poderia se distanciar da taxa natural por longos períodos logo o que ocorreu foi a elevação da taxa natural Uma possível explicação para o ocorrido em muitos países é que longos períodos de desemprego elevado aumentam a taxa natural fenômeno chamado de histerese do desemprego DORNBUSCH FISCHER STARTZ 2011 Há várias maneiras em que isso poderia acontecer a histerese do desemprego O problema pode ser reforçado pelas ações de possíveis empregadores Por exemplo eles podem crer que quanto mais tempo uma pessoa fica desempregada é mais provável que ela careça do vigor ou das qualificações para o trabalho Os longos períodos de desemprego por consequência sinalizam às empresas a possibilidade não certeza de que o trabalhador é indesejável e desta forma as empresas evitam contratálo Assim quanto maior a taxa de desemprego e portanto quanto mais longo os períodos sem emprego mais indissolúvel é o círculo vicioso que alonga os períodos sem emprego DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 155 2011 Outro pressuposto importante para o modelo monetarista são as expectativas adaptativas Vale lembrar que o conceito expectativas foi utilizado por Keynes para se referir ao grau de incerteza em relação ao futuro O termo é ponto chave em sua teoria da preferência pela liquidez pois a demanda por moeda pelo motivo especulativo moeda como ativo depende das expectativas sobre o comportamento da taxa de juros O conceito de expectativas adaptativas dá um passo adiante sobre o pensamento trazido por Keynes A questão abordada agora não é quanto a influência da incerteza sobre o futuro mas como os agentes formam a expectativa sobre o futuro Isso é importante porque a forma como eu espero como vai ser o amanhã altera o meu comportamento hoje Para tratar dessa questão Friedman introduz a ideia de expectativas adaptativas em que os agentes formam suas expectativas se baseando exclusivamente em informações passadas Ou seja com base no comportamento recente do nível de preços os agentes se adaptam e formam suas expectativas sobre seu comportamento futuro A equação 1 é um exemplo de processo de formação de expectativas adaptativas em que a expectativa de inflação no período 𝑡 é igual a inflação do período imediatamente anterior CARVALHO et al 2007 𝑃𝑡 𝑒 𝑃𝑡1 em que 1 𝑃𝑡 𝑒 expectativa de inflação para o período 𝑡 𝑃𝑡1 inflação do período anterior A partir dos conceitos de taxa natural de desemprego e expectativas adaptativas podemos então abordar os conceitos relacionados com a curva de Phillips William Phillips em 1958 analisando o comportamento dos salários no Reino Unido entre 1861 e 1957 constatou empiricamente que havia uma relação inversa entre taxa de desemprego e taxa de aumento dos salários nominais Ou seja quanto maior a taxa de desemprego menor a taxa de inflação dos salários A partir disso de forma mais abrangente ficou convencionado que a curva de Phillips mede a relação inversa entre inflação e desemprego Mas esse conceito é muito mais que uma correlação entre duas variáveis Ele implica numa escolha desemprego ou inflação eis a questão A curva de Phillips rapidamente se tornou um fundamento da análise de política macroeconômica Ela sugeriu que os formuladores de políticas econômicas poderiam escolher diferentes combinações de taxas de desemprego e inflação Por exemplo poderiam ter baixa taxa de desemprego desde que suportassem inflação alta Ou poderiam manter inflação baixa ao ter alta taxa de desemprego DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 118 2011 Abrangendo os conceitos aqui tratados podemos apresentar a curva de Phillips na versão Friedman conforme apresentado na Figura 1 Dada uma situação de equilíbrio ponto A em que a taxa de desemprego corrente 𝑈𝑡 é igual a taxa natural de desemprego 𝑈𝑛 𝑈𝑡 𝑈𝑛 e a taxa de inflação corrente 𝑃 é igual a taxa de inflação esperada 𝑃 𝑒 𝑃 𝑃 𝑒 e ainda sob expectativas adaptativas a taxa de inflação presente é igual a passada 𝑃𝑡 𝑒 𝑃𝑡1 Figura 1 A Curva de Phillips na versão Friedman A ilusão monetária Fonte CARVALHO et al p116 2007 Para a escola monetarista os preços possuem relação direta com o estoque de moeda 𝑃 𝑓𝑀𝑠 logo expansão na oferta de moeda aumenta a inflação Entretanto sob expectativas adaptativas os agentes não esperam que ocorra o aumento da oferta monetária e portanto irão subestimar a inflação futura em caso de uma política monetária expansionista Diante desta suposição uma política monetária expansionista desloca a economia do ponto de equilíbrio A até o ponto B com redução de desemprego taxa de desemprego corrente é menor do que a taxa natural 𝑈𝑡 𝑈𝑛 e aumento no nível de preços Essa redução no desemprego ocorre porque os agentes são iludidos com salários nominais mais elevados devido à expansão da moeda Posteriormente a elevação do nível de preços não esperada pelos agentes irá reduzir os salários reais e o desemprego corrente volta para seu estado natural ponto A pois uma vez desfeita a ilusão monetária os trabalhadores decidem retornar ao desemprego voluntário por não aceitarem o novo salário real vigente CARVALHO et al 2007 Logo podemos concluir que quanto maior for a ilusão monetária provocada pela política monetária expansionista maior será a redução da taxa de desemprego corrente em relação à taxa natural Assim ainda que temporariamente a oferta de moeda é importante e possui capacidade para afetar o desemprego Tão logo se desfaz a ilusão monetária com a adaptação dos agentes ao aumento no nível de preços o desemprego se recompõe Resumidamente a curva de Phillips indica que quanto maior for a decepção de expectativas maior será a diferença entre a taxa corrente e a taxa natural de desemprego CARVALHO et al p 116 2007 A Tabela 1 apresenta o enredo monetarista a respeito dos efeitos de uma política monetária expansionista sobre o desemprego em quatro atos Tabela 1 Curva de Phillips e o Enredo Monetarista Mecanismo de transmissão ATO 1 ATO 2 ATO 3 ATO 4 A expansão monetária no equilíbrio A ilusão monetária A decepção das expectativas A recomposição do desemprego 𝑃𝑡 𝑒 𝑃𝑡1 𝑈𝑡 𝑈𝑛 𝑃 𝑓𝑀𝑠 Alteração na oferta real de moeda 𝑀𝑠 Aumento dos salários nominais Redução do desemprego corrente 𝑈𝑡 𝑈𝑛 Decepção das expectativas Aumento do nível de preços Redução dos salários reais Aumento do desemprego corrente 𝑈𝑡 𝑈𝑛 ATO 1 A expansão monetária no equilíbrio Partindose de uma situação de equilíbrio em que o estoque de moeda tenha sido mantido constante por vários períodos se as expectativas forem adaptativas uma expansão monetária provocará uma redução da taxa corrente de desemprego em relação à taxa natural Caso haja uma expansão monetária os empresários podem oferecer um salário nominal mais elevado aos trabalhadores que estão voluntariamente desempregados ATO 2 A ilusão monetária Os trabalhadores por sua vez pensarão que um salário nominal mais elevado representa um salário real mais elevado Suas expectativas são de que não haverá inflação porque os preços estavam constantes no passado já que o estoque de moeda não foi alterado por vários períodos Como o nível de preços é função direta do estoque de moeda alguns trabalhadores que até então estavam na condição de desempregados voluntariamente pensarão que o salário esperado gerará mais satisfação do que as horas de lazer que têm desfrutado e por isso preferirão trabalhar abandonando a condição de desempregados A consequência é que a taxa corrente de desemprego se torna menor do que a taxa natural ATO 3 A decepção das expectativas Entretanto o salário nominal mais elevado não representará um salário real mais elevado porque os preços estão aumentando em função da expansão do estoque de moeda Haverá uma decepção de expectativas afinal não havia expectativas de qualquer inflação tal como mostra a equação das expectativas adaptativas Os trabalhadores contudo somente perceberão que estavam sofrendo de ilusão monetária quando estiverem realizando suas compras Nesse momento irão perceber que o salário que receberam não pode adquirir os bens e serviços que gerariam mais satisfação do que o lazer que estavam desfrutando enquanto estavam ociosos A elevação de preços somente percebida a posteriori fez com que o aumento nominal de salários não representasse um aumento real ATO 4 A recomposição do desemprego Com a decepção das expectativas e desfeita a ilusão monetária os trabalhadores decidem retornar ao desemprego voluntário que lhes proporcionava um nível mais elevado de satisfação do que o emprego é capaz de proporcionar Em suma uma expansão monetária reduz o desemprego Entretanto reduz também o nível de satisfação dos trabalhadores que estavam monetariamente iludidos Por isso quando a ilusão se desfaz o desemprego se recompõe Fonte CARVALHO et al p115 2007 adaptado pelo autor Percebemos então que a redução do desemprego essencialmente se dá pela ilusão monetária dos trabalhadores É razoável aceitar isso porque o trabalhador fecha o valor do salário no período 𝑡 mas o recebimento do salário e o seu uso ocorre com preços vigentes em 𝑡 1 Somente no período 𝑡 1 que ocorre a decepção das expectativas e então o trabalhador se adapta 𝑃𝑡 𝑒 𝑃𝑡1 à nova realidade de preços Então você me pergunta professor pensei numa ideia aqui e se em 𝑡 1 o trabalhador for iludido novamente Eu te respondo boa Esse é o próximo passo da curva de Phillips chamada de curva de Phillips Aceleracionista versão Friedman Nessa versão o trabalhador é iludido continuamente a expectativa inflacionária por ele formulada será subestimada de forma permanente Então agora é minha vez de perguntar já que você teve uma ótima sacada responda essa para mim como iludir o trabalhador novamente Você tranquilamente me responde da mesma forma que ele foi iludido na primeira vez com uma nova expansão da oferta de moeda Eu respondo parafraseando o grande professor Raimundo queria ter um filho assim Podese perceber que após ter sido implementada uma política monetária que aumenta a taxa de inflação e reduz o desemprego os trabalhadores sempre acabam percebendo que foram iludidos e retornam à condição original de desempregados voluntariamente em que sua satisfação era maximizada Percebese que de fato este equilíbrio é estável O desemprego aumenta novamente e a taxa corrente volta a igualarse à taxa natural CARVALHO et al p116 2007 Logo para evitar o aumento do desemprego e o retorno à taxa natural de desemprego se faz necessário aumento da oferta de moeda de forma contínua iludindo assim os agentes econômicos de forma permanente Para que o desemprego permaneça abaixo da taxa natural é necessário que os trabalhadores sejam iludidos continuamente Para tanto é necessário que seja implementada uma política de aumento das variações positivas do estoque de moeda Tal política aumentará continuamente a taxa de inflação isto é irá acelerar a velocidade de crescimento dos preços Somente assim os trabalhadores subestimarão a inflação futura de forma permanente A inflação presente será sempre maior do que a inflação passada e a taxa corrente de desemprego permanecerá em um nível inferior à taxa natural de desemprego CARVALHO et al p116 2007 A situação em que o desemprego permanece de forma permanente abaixo do desemprego natural pode ser visualizado na Figura 2 Como já vimos dada situação de equilíbrio inicial 𝑈 𝑈𝑛 a economia atinge o ponto B após ilusão monetária decorrente aumento da oferta de moeda provocar inflação maior que a inflação esperada 𝑃 𝑃 𝑒 e com desemprego corrente menor que a taxa natural 𝑈 𝑈𝑛 Figura 2 A Curva de Phillips Aceleracionista na versão Friedman A ilusão permanente Fonte CARVALHO et al p 117 2007 Após a decepção das expectativas já que 𝑃 𝑃 𝑒 os trabalhadores se adaptam e ajustam suas expectativas para 𝑃 𝑃 𝑒 e economia se deslocaria para o ponto C em que 𝑈 𝑈𝑛 Assim a política monetária expansionista deslocaria a curva de Phillips da economia de K para L A economia retorna ao desemprego natural porém agora com inflação mais elevada já que as expectativas inflacionárias incorporam a inflação que ocorreu para deslocar a economia de A para B Agora entra o que vimos em nosso diálogo Para evitar que economia volte ao nível de desemprego natural 𝑈 𝑈𝑛 ponto C e permaneça com desemprego corrente menor que o natural 𝑈 𝑈𝑛 é necessário um novo aumento na oferta de moeda Logo antes da economia voltar para o ponto C uma nova política monetária expansionista deve ser implementada porém agora para conduzir a economia para o ponto D o aumento da oferta monetária deve ser maior que a política monetária inicial já que a inflação deve ser superior a 𝑃 expectativa dos trabalhadores no ponto B No ponto D uma nova expansão monetária acima das expectativas dos trabalhadores deveria ser realizada 𝑃 𝑃 𝑒 a fim de conduzir a economia para o ponto F e continuar com 𝑈 𝑈𝑛 e assim sucessivamente CARVALHO et al 2007 Se então uma política monetária que provoque aceleração da inflação é implementada a economia se deslocará por exemplo para o ponto D e não para o ponto C em que a taxa de desemprego é inferior à taxa natural Ainda no ponto D os trabalhadores percebem que a variação de preços superou as suas expectativas Assim a economia se deslocaria do ponto D para o ponto E em que a taxa corrente de desemprego seria novamente igual à taxa natural de desemprego CARVALHO et al p117 2007 Na análise final da Figura 2 as expectativas inflacionárias são incorporadas representada pelos deslocamentos da curva de Phillips até a curva M Na curva M a nova curva de Phillips da economia as expectativas inflacionárias incorporaram a inflação que ocorreu no período em que a economia se deslocou de B para D A expectativa inflacionária da curva M é 𝑃 𝑒 É importante ressaltar que 𝑃 𝑒 𝑃 𝑒 𝑃 𝑒 0 Se o mesmo procedimento monetário isto é uma política que torne a inflação crescente é implementada diante da situação expectacional do ponto D a economia se deslocará deste ponto para o ponto F e não para o ponto E CARVALHO et al p117 2007 Portanto para que o desemprego corrente seja mantido abaixo da taxa natural 𝑈 𝑈𝑛 os trabalhadores devem ser continuamente iludidos quase uma Matrix rs Entretanto para manter o desemprego corrente menor que o natural é necessário que as expectativas dos trabalhadores sejam sempre subestimadas induzilos a cometer erros sistemáticos para tanto é necessário expansão monetária crescente aumentar a variação da oferta de moeda realizada no período anterior provocando uma escalada na inflação É aquela máxima não existe almoço grátis Fechamos então mais uma importante escola da teoria monetária Nesta unidade vimos os conceitos fundamentais da escola monetarista taxa natural de desemprego expectativas adaptativas e curva de Phillips Após apresentação dos conceitos por meio do instrumental da curva de Phillips vimos que a política monetária é capaz de reduzir o nível de desemprego porém literalmente o preço a ser pago é alto aumento da inflação Acho válido destacar que os monetaristas foram muito relevantes pois ao questionar o pensamento dominante fiscalismo trouxeram novos conceitos e implicações que por sua vez geraram outras implicações Definitivamente os monetaristas contribuíram de forma significativa para a roda da evolução econômica não parar de girar 4 A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA NOVOCLÁSSICA Imagem do Tópico ID 1161106909 No final dos anos 1970 a escola novoclássica provocou uma nova revolução na teoria econômica a revolução das expectativas racionais Robert Lucas Thomas Sargent e Neil Wallace principais nomes da corrente novoclássica foram parcialmente contra aos monetaristas e totalmente contrários aos keynesianos e a qualquer intervenção na macroeconomia Essa escola trouxe várias contribuições inclusive temas muito atuais como o regime de metas de inflação e independência do Banco Central mas sem dúvida a grande contribuição da escola novoclássica se dá quanto ao modo como os agentes formam suas expectativas Sai às expectativas adaptativas escola monetarista entra as expectativas racionais novoclássica Inclusive a escola é chamada também como escola das expectativas racionais CARVALHO et al 2007 Se para os monetaristas os agentes formavam suas expectativas com base no passado recente e passíveis de cometer erros sistemáticos backwardlooking olhando para trás para os novoclássicos além do passado recente as expectativas são formadas considerando toda e qualquer informação disponível forwardlooking olhando para frente ie é o agente maximizador de utilidade na formação das expectativas Embora pareça um detalhe isso muda radicalmente a interpretação dos modelos econômicos convencionado como crítica de Lucas Especificamente para a teoria monetária com a inclusão das expectativas racionais os agentes não cometem erros sistemáticos logo o tradeoff entre inflação e desemprego deixa de existir A maior implicação dessa mudança era que tanto os modelos keynesianos quanto os monetaristas existentes não eram capazes de oferecer resultados confiáveis sobre as possibilidades de intervenções macroeconômicas Em tais modelos as expectativas e as variáveis futuras eram influenciadas apenas por variáveis correntes eou passadas Portanto o que os modelos obtinham eram resultados em condições inconsistentes com as premissas desses mesmos modelos Quando os agentes estão informados de que uma política econômica será implementada eles devem alterar suas expectativas alterando o resultado esperado sob condições expectacionais do passado Essa crítica aos modelos macroeconométricos tornouse conhecida como a crítica de Lucas CARVALHO et al p117 2007 Portanto o que vimos no último tópico a respeito da possibilidade de manter o desemprego corrente abaixo do desemprego natural por meio de uma ilusão monetária permanente dos trabalhadores curva de Phillips aceleracionista não é aceita pela corrente novoclássica Logo a política monetária expansionista é ineficaz para alterar variáveis reais como por exemplo o nível de emprego Isso ocorre porque os agentes elevam os preços e salários da economia tão logo ficam sabendo da expansão monetária promovida pela autoridade monetária Assim uma política monetária sob expectativas racionais tem efeito apenas sobre o nível de preços A ineficácia da política monetária para escola novoclássica é apresentada segundo a função oferta de Lucas apresentada na equação 1 CARVALHO et al 2007 𝑈𝑡 𝑈𝑛 𝛼𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑒 em que 1 𝑈𝑡 taxa corrente de desemprego 𝑈𝑛 taxa natural de desemprego 𝛼 parâmetro positivo portanto 𝛼 0 𝑃𝑡 inflação do período 𝑃𝑡 𝑒 inflação esperada para o mesmo período Desta forma a diferença entre o nível de desemprego corrente 𝑈𝑡 e o desemprego natural 𝑈𝑛 está em função da diferença entre inflação efetiva 𝑃𝑡 e inflação esperada 𝑃𝑡 𝑒 Logo quanto maior a inflação corrente em relação a esperada 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑒 menor o desemprego corrente em relação ao desemprego natural 𝑈𝑡 𝑈𝑛 Entretanto para o modelo novoclássico a taxa de desemprego corrente é igual a taxa natural de desemprego 𝑈𝑡 𝑈𝑛 quando a inflação corrente é igual a esperada 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑒 ou seja os agentes confirmam suas expectativas de inflação Sob a hipótese de expectativas racionais as esperanças sobre as variações de preços na visão novoclássica podem ser evidenciadas conforme equação 2 CARVALHO et al 2007 𝑃𝑡 𝑒 𝐸 𝑃𝑡 𝐼𝑡1 2 Portanto a inflação esperada para o período 𝑡 leva em consideração todas as informações 𝐼 obtidas até o período imediatamente anterior 𝑡 1 Dado que os preços correntes estão em função do estoque de moeda 𝑀 𝑡 e do aumento não esperado da demanda pelo produto 𝑑 𝑃𝑡 𝑓𝑀 𝑡 𝑑 e que não haja aumento esperado da demanda 𝑑 0 temse CARVALHO et al 2007 𝑃𝑡 𝑀 𝑡 3 𝑃𝑡 𝑒 𝑀 𝑡 𝑒 4 Substituindo em 1 temse 𝑈𝑡 𝑈𝑛 𝛼𝑀 𝑡 𝑀 𝑡 𝑒 5 Logo se os agentes tiverem ciência da regra de variação do estoque monetário e se não houvesse nenhum choque de demanda pelo produto a taxa de desemprego corrente é igual a taxa natural 𝑈𝑡 𝑈𝑛 sendo a política monetária ineficaz para alterar o nível de emprego Podese portanto concluir que segundo a teoria da política monetária novo clássica partindose de uma situação em que a taxa corrente de desemprego é igual à taxa natural e o governo anuncia um aumento da oferta de moeda os agentes reagiriam à decisão das autoridades exclusivamente aumentando os seus preços sem contratar qualquer trabalhador adicional Assim a taxa corrente de desemprego permaneceria repousada sobre a taxa natural Em outras palavras as decisões de políticas monetárias expansionistas conhecidas pelos agentes não provocam qualquer aumento no nível de emprego e do produto real causam simplesmente aumento do nível geral de preços equivalente ao aumento do estoque de moeda CARVALHO et al p128 2007 Aqui entra um detalhe importante na visão novoclássica Vejam que foi dito que as políticas monetárias conhecidas pelos agentes não provocariam aumento de emprego Mas e se os agentes forem pegos de surpresa Vimos que os agentes sob as expectativas racionais utilizam todas as informações disponíveis forwardlooking e somente erros de expectativas poderiam afastar o desemprego corrente do natural Para os novoclássicos os agentes erram quando são surpreendidos A surpresa é sempre fruto da introdução de novas variáveis no mundo real ou da alteração inesperada da magnitude de variáveis já existentes CARVALHO et al p 129 2007 Especificamente na política monetária os agentes ao serem pegos de surpresa com aumento da oferta de moeda não antecipada terão cometido erros em suas expectativas e consequentemente a política monetária resultará em impactos temporários no desemprego Portanto qualquer choque perfeitamente antecipado não teria impacto sobre o desemprego apenas choques não antecipados poderiam ter algum efeito LOPES VASCONCELLOS 2009 Essa interpretação é representada pela curva de Phillips na versão Lucas Conforme pode ser visto na Figura 1 a curva de Phillips sob expectativas racionais com previsão perfeita tornase vertical tanto no curto quanto no longo prazo ou seja qualquer expansão monetária que vise reduzir a taxa corrente de desemprego a níveis inferiores a taxa natural de desemprego 𝑈 𝑈𝑛 gerará apenas elevação no nível de preços 𝐸0 𝐸1 O ponto 𝐸𝑥 somente poderá temporariamente ocorrer se os agentes não anteciparem a política monetária expansionista erros nas expectativas Por não cometerem erros sistemáticos tão logo os agentes percebam que foram enganados eles elevam suas expectativas inflacionárias incorporando agora a informação de possíveis novas surpresas Após a recomposição das expectativas o desemprego corrente retorna ao natural porém com inflação Figura 1 A Curva de Phillips versão Lucas Os agentes não são iludidos Fonte CARVALHO et al p130 2007 A conclusão é então que é melhor não tentar enganar os agentes para não criar um ambiente de expectativas inflacionárias nervosas que têm como consequência a própria inflação Sendo assim muitos adeptos da economia novoclássica se dedicaram nos últimos anos à elaboração de propostas de organização do Banco Central e de condução da política monetária capazes de reduzir os estímulos à implementação de políticas de surpresa monetária As mais importantes propostas são a criação de bancos centrais independentes e a utilização de metas de inflação como objetivo da política monetária CARVALHO et al p131 2007 Como visto a tese da independência do Banco Central e o regime de metas de inflação decorrem das propostas novoclássica O regime de metas de inflação será tratado a seguir em unidade específica já a tese de independência do Banco Central é o assunto que iremos tratar agora A tese da independência do Banco Central referese ao grau de autonomia das autoridades monetárias e à independência para perseguir a estabilidade de preços ainda que sacrifique objetivos diversos das autoridades políticas Além disso a tese se sustenta na análise empírica de que quanto maior autonomia das autoridades monetárias menor a taxa de inflação O grau de independência de um Banco Central é avaliado basicamente por a grau de rotatividade dos dirigentes quanto maior o tempo de permanência maior o grau de independência b estatutos do Banco Central que estabeleçam os objetivos e limites de interferência governamental sobre a política monetária quanto melhor definido os limites de atuação menor a imposição política nas decisões de política monetária e c questionário respondido por especialistas sobre os objetivos do Banco Central e sua relação com o governo CARVALHO et al 2007 A fundamentação teórica da tese da independência do Banco Central está centrada na curva de Phillips de longo prazo vertical política monetária não afeta as variáveis reais exceto temporariamente devido a erros nas expectativas e no trinômio credibilidade reputação e delegação Inicialmente quanto à curva de Phillips os defensores da independência do Banco Central defendem que o custo da melhoria temporária no desemprego é a inflação e que se há um dilema entre inflação e desemprego então as decisões de política monetária serão decisões políticas O argumento na opinião do professor que vos fala é válido pois políticos com raríssimas exceções enxergam no máximo quatro anos à frente Com visões de curto prazo e eleitoreiras é bastante tentador estimular o emprego em detrimento da inflação Por fim o trinômio credibilidade reputação e delegação é elemento chave para o desenvolvimento da tese de independência do Banco Central Por meio dos mecanismos propostos pela tese de independência do Banco Central a política monetária deve ser delegada à autoridade monetária competente Esta por sua vez deve manter sua reputação e credibilidade com as regras monetárias vigentes visando assim manter estabilidade na inflação e menor variabilidade no produto Afirmam os proponentes da IBC independência do Banco Central que existe um viés inflacionário presente na economia que se expressa através da implementação de políticas monetárias que são dinamicamente inconsistentes com a posição de equilíbrio correspondente à taxa natural de desemprego Os gestores da política econômica podem circunstancialmente avaliar que resultados imediatos e passageiros sobre o nível de produto são mais valiosos do que a credibilidade nas regras de política monetária Motivados por exemplo por interesses eleitorais podem flexibilizar a política monetária com ações discricionárias expansionistas CARVALHO et al p133 2007 A essência deste pensamento econômico está nas expectativas ou melhor na confiança que os agentes econômicos têm na autoridade monetária Se a autoridade monetária tem reputação e os agentes econômicos acreditam em suas políticas as expectativas inflacionárias e os custos da desinformação serão nulos Logo uma política monetária anunciada pela autoridade monetária que seja digna de confiança fará com que os agentes econômicos acreditem na política implementada e passem a agir em conformidade com a política adotada Se todos tomam suas decisões com base na política implantada o resultado irá convergir para os resultados esperados reduzindo os custos sociais e a defasagem da política monetária Vale a máxima se algo é percebido como real mesmo não o sendo tem as mesmas consequências que a realidade GIAMBIAGI SCHWARTSMAN 2014 Portanto de acordo com a teoria novoclássica o melhor resultado sustentável que as autoridades monetárias podem alcançar por meio da política monetária é a estabilidade de preços A política monetária portanto deve ser pautada por regras claras comandadas por agentes autônomos e competentes dotados de credibilidade e reputação cujo objetivo precípuo é ser o guardião da estabilidade do poder de compra da moeda De forma bem direta e sem rodeios a ideia por trás do raciocínio novoclássico é a seguinte políticos geralmente negligenciam a política monetária e o custo dessa conduta é a inflação Dado os prejuízos derivados do processo inflacionário essa corrente procura então trazer regras para limitar o uso discricionário da política monetária Fechamos então mais este tópico discutindo as inovações trazidas pela corrente novoclássica Vimos que esta escola apresentou o conceito de expectativas racionais revolucionando a teoria macroeconômica e consequentemente a economia monetária Por meio das expectativas racionais vimos que o tradeoff entre inflação e desemprego deixa de existir já que a curva de Phillips na versão Lucas é vertical representando que os agentes não podem ser enganados exceto se for de surpresa Vimos com isso que não adianta iludir os agentes econômicos pois eles incorporam todas as informações e formam expectativas inflacionárias que se convertem na própria inflação Por conta disto os adeptos da escola novoclássica passaram a elaborar propostas para limitar a ação política sobre a política monetária surgindo então o regime de metas de inflação e a tese de independência do Banco Central SAIBA MAIS Relação entre inflação e desemprego Vimos nessa unidade que a curva de Phillips evidencia a relação inversa entre inflação e desemprego Vamos aproveitar esta discussão e apresentar estes dados da economia brasileira A fonte dos dados é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE O índice de inflação apresentado é o IPCA tratase do índice oficial de inflação no Brasil e será apresentado mais detalhadamente na próxima unidade Já o desemprego é obtido por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mensal PNADM Tratase atualmente da principal pesquisa de emprego no Brasil A variável selecionada é a taxa de desocupação na semana de referência das pessoas de 14 anos ou mais de idade variações em relação aos três trimestres móveis anteriores Os dados compreendem o período de março de 2012 a dezembro de 2020 O ideal seria abranger maior número de observações mas as séries são descontinuadas com certa frequência A PNAD mesmo começou a partir de 2012 substituindo outras séries Dada a dificuldade de encontrar dados consistentes no país há inclusive uma bela frase que sintetiza essa dificuldade no Brasil até o passado é incerto De qualquer forma temos um total de 106 observações Conforme pode ser observado na Figura 1 a a inflação voltou a apresentar maior oscilação ao longo dos meses a partir de 2018 Destaque para o aumento da inflação a partir de maio de 2020 atingindo o menor índice do intervalo estudado 038 até o maior índice registrado em dezembro do mesmo ano 135 Quanto ao desemprego podemos observar o grande aumento a partir do final de 2014 O desemprego em pouco mais de dois anos saiu de uma taxa de 65 aproximadamente para uma taxa próxima de 135 A recessão econômica de 2015 e 2016 deixou marcas muito pesadas que até hoje estamos sentindo Antes da pandemia havíamos recuperado uma pequena parte desta perda histórica atingindo 11 ao final de 2019 Porém com a pandemia o desemprego subiu consideravelmente atingindo a taxa recorde de 146 em setembro de 2020 Figura 1 Inflação e Desemprego A relação entre inflação e desemprego no Brasil 2012 a 2020 Fonte IBGE 2021 Na Figura 1 b observamos a relação negativa entre inflação e desemprego no Brasil Entretanto vale destacar que a relação entre essas duas variáveis é fraca o coeficiente de correlação registrado para o período analisado foi de 031 De qualquer forma é possível observar a relação negativa conforme apresentada pela curva de Phillips Sugiro ao aluno testar com outras proxies para desemprego e inflação que contenham maior quantidade de observações Fonte elaboração própria SAIBA MAIS REFLITA Vimos que se há um dilema entre inflação e desemprego então as decisões de política monetária serão decisões políticas Logo implementar políticas de Estado implica para o líder político ter coragem de saber que não terá o crédito reconhecido por aquilo que inicia GIAMBIAGI SCHWARTSMAN p 88 2014 Na contabilidade política o crédito da redução do desemprego é imediato e o débito da inflação vem no mandato seguinte Portanto se políticas de estado custam capital político individualmente é mais sábio e mais cômodo para os agentes políticos pensar em políticas de curto prazo empurrando com a barriga o combate à inflação e estabilidade econômica A partir deste pressuposto os políticos tendem a adotar medidas eleitoreiras imediatas e populistas Pesquisas mostram que uma pequena minoria de aproximadamente 6 confia nos políticos Por outro lado mais da metade da população acredita que a intervenção estatal é benéfica para a sociedade Por que o mesmo que despreza os políticos é afeito ao estado Não é justamente os desprezados que irão comandar a intervenção estatal Fonte httpspoliticaestadaocombrnoticiasgeralbrasileiroequemmenosconfiaempoliticodiz pesquisamundial10000050380 Garschagen B Pare de Acreditar no Governo Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado Editora Record Rio de Janeiro 2015 CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá aluno Chegamos ao final de nossa terceira unidade Como foi visto avançamos com a inclusão de novas teorias monetárias Inicialmente tratamos da crítica neoclássica à teoria proposta por Keynes Em seguida vimos a síntese neoclássica e a impotência da política monetária Aqui vimos que por meio do modelo ISLM a ineficiência da política monetária advém baixa elasticidade juro do investimento representada no modelo por uma curva IS muito inclinada A seguir tratamos do modelo monetarista Concluímos que a política monetária é capaz de afetar as variáveis reais e essa conclusão está fundamentada nos conceitos de taxa natural de desemprego expectativas adaptativas e curva de Phillips Por fim vimos o modelo novoclássico e a revolução das expectativas racionais Com a inclusão das expectativas racionais a política monetária só terá efeito sobre as variáveis reais se os agentes forem pegos de surpresa Se os agentes têm suas expectativas confirmadas então não há o dilema inflação e desemprego logo a curva de Phillips é vertical Assim após sua caminhada por esta unidade espero que a partir de agora você possa responder às seguintes questões Quais as principais implicações à demanda por moeda especulativa proposta por Tobin Qual é o efeito da taxa de juros na demanda por moeda transacional proposto pela abordagem de estoques BaumolTobin A que se deve a ineficiência da política monetária para o modelo keynesiano Qual o efeito do pessimismo das elasticidades O que é a taxa natural de desemprego Como são formadas as expectativas adaptativas Como funciona o mecanismo de transmissão da política monetária no modelo monetarista Explique a dinâmica e as implicações da curva de Phillips na versão aceleracionista Como são formadas as expectativas racionais Explique o comportamento da curva de Phillips com a inclusão das expectativas racionais Com a conclusão desta unidade vimos as principais teorias monetárias Espero que você tenha compreendido os conceitos chaves de cada uma delas Ao dominar todos esses conceitos você pode obter novas interpretações e buscar maior profundidade nos temas relacionados à teoria monetária Parabéns pela conclusão desta unidade Nos vemos na unidade IV Forte abraço LEITURA COMPLEMENTAR ISLM uma história httpswwwscielobrscielophppidS010131572004000400526scriptsciarttext Friedman será lembrado por carisma e amor ao debate httpswww1folhauolcombrfspdinheirofi1911200617htm Capitalismo e Liberdade Milton Friedman httpwww2fctunespbrdocentesgeobernardoBIBLIOGRAFIA20DISCIPLINAS20 POSGRADUACAOMILTON20FRIEDMANCapitalismo20e20Liberdade20 20Milton20Friedmanpdf A Curva de Phillips Uma Análise da Economia Brasileira de 2002 A 2012 httpsrevistasufprbrretarticleview32440 LIVRO Título Complacência Entenda Por Que o Brasil Cresce Menos do Que Pode Autor Fabio Giambiagi e Alexandre Schwartsman Editora GEN Atlas Sinopse Um dos temas mais comentados e debatidos nas editorias de economia é o crescimento do Brasil e as medidas para seu impulsionamento Com atuação acadêmica e profissional no cenário econômico nacional e internacional e sendo colaboradores regulares de publicações como o jornal Valor Econômico os autores Fabio Giambiagi e Alexandre Schwartsman têm uma visão crítica sobre o estímulo do Governo brasileiro ao progresso sustentável do país O livro explica por que o crescimento baseado em medidas governamentais de estímulo à demanda tende a se esgotar e mostra a necessidade de ações mais enérgicas no desenvolvimento da educação nos investimentos em infraestrutura na elevação da poupança doméstica e na melhora dos indicadores de produtividade Bastante atual contextualizada no final de 2014 a publicação traz elementos de continuidade à obra Além da euforia com uma importante atualização de diagnóstico FILMEVÍDEO Título Moneyball O Homem que Mudou o Jogo Ano 2011 Sinopse Baseado em fatos reais O Homem que Mudou o Jogo é a história de Billy Beane Brad Pitt gerente do time de baseball Oakland Athletics Com pouco dinheiro em caixa e a ajuda de Peter Brand Jonah Hill ele desenvolve um sofisticado programa de estatísticas para o clube fazendo com que ficasse entre as principais equipes do esporte nos anos 80 REFERÊNCIAS CARVALHO FC SOUZA FEP SICSÚ J PAULA LFR STUDART R Economia Monetária e Financeira 2ª Edição Editora Campus 2007 DORNBUSCH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia 11ª Edição Editora Bookman 2011 GIAMBIAGI F SCHWARTSMAN A Complacência entenda por que o Brasil cresce menos do que pode 1ª Edição Editora GEN Atlas 2014 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Disponível emhttpssidraibgegovbrhomepmsbrasil Acesso em várias datas 2021 LOPES LM VASCONCELLOS MAS Manual de Macroeconomia 3ª Edição Editora Atlas São Paulo 2009 UNIDADE IV REGIMES E INFLAÇÃO Professor Murilo Borges Plano de Estudo Fatores da Inflação Teorias da Inflação Regime de Metas de Inflação Questões da Economia Brasileira Objetivos de Aprendizagem Definir o conceito de inflação e termos relacionados Discutir os efeitos provocados pela inflação na economia Apresentar os principais índices de preços do país Compreender as causas da inflação Discutir o regime de metas de inflação Apresentar o regime de metas de inflação no Brasil INTRODUÇÃO Olá aluno Tudo bem Pronto para dar os últimos passos da nossa caminhada Evidentemente se você está na última parte da caminhada é porque você perseverou E a persistência é o caminho do êxito Todos os obstáculos encontrados ao longo da caminhada jamais podem superar sua persistência Mas quem determina o tamanho da persistência Ela é pessoal é você quem define quão grande será sua persistência Então é uma questão de lógica Se é você quem determina o tamanho da persistência e é ela quem determina o êxito por que estabelecer limites à persistência Em qualquer caminhada o somatório dos passos deve ser menor que o volume de persistência Se você está aqui é porque você faz essa conta de cabeça Encerramos com a unidade anterior a demonstração das principais teorias de economia monetária Fizemos essa longa caminhada para chegarmos a atual situação da política monetária E é isso que se propõe essa unidade apresentar a principal atribuição da política monetária o controle da inflação Para tanto no tópico 1 iremos definir o conceito de inflação bem como os conceitos de hiperinflação deflação e estagflação São termos associados à inflação e que quando ocorrem é porque alguma disfunção está ocorrendo Tanto não é normal seu protagonismo que iremos discutir os efeitos perversos que a inflação provoca na economia Por fim iremos apresentar os principais índices de preços que medem a inflação no Brasil No tópico 2 iremos discutir as fontes de inflação ou seja as particularidades que podem existir em uma economia que estimulam a variação dos preços Em seguida iremos tratar dos tipos de inflação e as formas adequadas de combatêla conforme a causa estabelecida O tópico 3 e 4 são complementares Enquanto o tópico 3 discute a fundamentação teórica e os preceitos que justificam o regime de metas de inflação o tópico 4 irá apresentar a organização do regime de metas de inflação no Brasil Iremos portanto ver a teoria na prática Vamos então concluir essa última etapa de nossa caminhada Forte abraço e bons estudos 1 FATORES DE INFLAÇÃO Imagem do Tópico ID 1032260494 Ao longo do curso conversamos sobre a política monetária e sua capacidade de afetar as variáveis reais Como vimos a eficiência da política monetária depende da escola de pensamento Mas vejam a questão que se coloca nesse debate é se a moeda afeta as variáveis reais emprego e renda Não há dúvida quanto à sua capacidade de afetar as variáveis nominais Assim no longo prazo uma política monetária altera as variáveis nominais como por exemplo o nível de preços A inflação é um fenômeno monetário No longo prazo é sim Nenhuma inflação maior pode ocorrer sem o rápido crescimento monetário e o rápido crescimento monetário causará uma rápida inflação Além disso qualquer política econômica que de forma determinada mantenha a taxa de crescimento de moeda baixa por fim levará a uma taxa de inflação baixa Mas no curto prazo de alguns anos a relação entre o crescimento monetário e a inflação pode muito bem ser fraca DORNBUSCH FISCHER STARTZ p 469 2011 Além disso é bastante evidente que ninguém gosta de aumento de preços Certamente você iria ficar incomodado se o combustível ou sua bebida favorita ou qualquer outro bem que você deseja comprar tivesse um aumento no preço Pior ainda se seu salário não for corrigido na mesma magnitude Neste caso além da sensação de estar pagando mais caro você está ficando mais pobre O seu poder de compra está diminuindo É fato inflação é uma chatice A posição dominante das autoridades monetárias atualmente deriva basicamente dessas duas constatações acerca da inflação a tratase de um fenômeno monetário e b gera custos à sociedade Diante desta realidade precisamos conhecer melhor a inflação e os assuntos que a orbitam Vamos a eles Inicialmente é necessário definir o seu conceito Inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços de uma economia Portanto tratase de aumento persistente de vários preços que por sua vez provoca uma perda contínua do poder de compra da moeda SANDRONI 2003 Dessa forma podemos tirar uma importante conclusão de seu conceito sua abrangência Aumento de preço de um bem específico não é caracterizado como inflação Se um bem ou serviço qualquer sofre aumento e todos os demais estão estáveis isso não se constitui inflação Isso é apenas um aumento de preço esporádico de um bem específico A inflação abrange o aumento de diversos preços da economia Do conceito de inflação derivam outros conceitos como hiperinflação e deflação A hiperinflação é o caso de inflação desenfreada em que os preços aumentam de tal forma que a moeda perde rapidamente seu poder de compra Ninguém irá reter moeda sabendo que em questão de dias ou horas dependendo da magnitude tudo estará mais caro Perdese portanto a função reserva de valor Todo o dinheiro deve ser gasto no momento do seu recebimento isto por sua vez aumenta a velocidade de circulação de moeda e aumenta ainda mais os preços É um círculo vicioso em que o céu é o limite para o nível de preços SANDRONI 2003 O mais famoso caso de hiperinflação ocorreu na Alemanha Entre agosto de 1922 e novembro de 1923 a inflação atingiu a porcentagem de um trilhão É um absurdo Mas hiperinflação não é coisa do passado A inflação da Venezuela no ano de 2020 foi de aproximadamente 3000 Hoje enquanto escrevo este material a Venezuela acabou de lançar uma nota de 1 milhão de bolívares No lançamento com 1 milhão de bolívares você compra aproximadamente R 290 Uma coisa é certa todo mundo é milionário na Venezuela pena que com esses milhões não é possível comprar sequer um prato de comida Por outro lado a deflação é o oposto da inflação ie queda persistente e generalizada no nível de preços de uma economia Caracterizada geralmente pela falta de demanda Se ninguém compra os estoques aumentam a produção para e há aumento na capacidade ociosa e no desemprego Com menos emprego há menos renda e menos compras Para atrair consumidores os preços caem diminuindo o lucro e a capacidade de investimento provocando mais desemprego É outro círculo vicioso terrível para atividade econômica sendo um importante sintoma de uma depressão econômica SANDRONI 2003 Há ainda um terceiro conceito que não podemos deixar de falar a chamada estagflação estagnação econômica mais inflação Esse é um fenômeno bastante perverso pois alia desemprego com inflação A teoria clássica não conseguia responder às causas deste fenômeno ocorrido em vários países a partir da década de 1960 Isso ocorria porque para esta escola de pensamento uma retração do produto iria reduzir os preços via redução da demanda agregada Com a introdução das expectativas à curva de Phillips entretanto os monetaristas e novo clássicos passaram a explicálo pois mesmo numa situação de desemprego as expectativas inflacionárias podem permanecer elevadas provocando ao mesmo tempo baixa atividade econômica e aceleração da inflação LOPES VASCONCELLOS 2009 Podemos perceber que boa coisa não é quando o processo inflacionário é destaque na atividade econômica Como um juiz de futebol se ele for o principal nome em campo sinal de que o jogo foi cheio de polêmicas discussões e injustiças Logo o processo inflacionário promove profundas distorções na estrutura produtiva Nesse sentido é importante discutirmos os principais efeitos provocados pela inflação São eles a efeito sobre a distribuição de renda b efeito sobre o balanço de pagamentos c efeito sobre o mercado de capitais e d efeito sobre as expectativas dos agentes VASCONCELLOS GARCIA 2019 O efeito sobre a distribuição de renda sem dúvida é o mais perverso Costumase dizer que a inflação é um imposto sobre o pobre justamente porque os mais pobres são os que menos têm condições de se protegerem contra os aumentos de preços Como a totalidade da renda é consumida com bens de consumo não duráveis alimentos e vestuário por exemplo os mais pobres não possuem meios de se proteger da inflação Diferentemente de classes de renda mais alta em que parte da renda pode ficar protegida em aplicações financeiras que rendem juros Além disso o governo também pode ser beneficiado pois os impostos e preços públicos podem ser corrigidos pela taxa de inflação em detrimento daqueles que não tiveram a reposição nos preços na mesma magnitude Logo podemos verificar que a inflação é um importante fator para concentração de renda O efeito da inflação sobre o balanço de pagamento está associado à taxa de câmbio real pois se os preços internos se elevam mais que proporcionalmente aos preços internacionais teremos coeteris paribus uma apreciação cambial com estímulos à importação em detrimento das exportações Isto por sua vez ocasiona menor saldo da balança comercial exportações menos importações com impactos no saldo do balanço de pagamentos e aumento na necessidade de financiamento externo O efeito da inflação sobre o mercado de capitais recai sobre os investimentos Como num processo inflacionário a rentabilidade dos investimentos depende dos índices de preços os rendimentos somente serão conhecidos ao final da aplicação expost provocando incertezas que afugentam os poupadores e restringem os investimentos Nesse sentido os poupadores preferem investimentos de menor liquidez como imóveis e terras em detrimento dos investimentos disponíveis no mercado financeiro que por sua vez limita a capacidade da intermediação financeira e o volume de crédito na economia Há ainda o efeito evidente sobre as expectativas dos agentes econômicos Com a instabilidade e imprevisibilidade provenientes do processo inflacionário a própria capacidade produtiva fica em compasso de espera Com a limitação na produção tanto os investimentos empresariais quanto o consumo das famílias são engavetados com impactos no crescimento econômico e no nível de emprego Além disso há grande dificuldade para planejamentos de longo prazo logo a visão dos agentes fica restrita ao curto e ao médio prazo Não por acaso com a estabilidade econômica promovida pelo plano real o volume de crédito aumentou significativamente com destaque para financiamentos de longo prazo como crédito imobiliário Além de todos esses efeitos danosos o processo inflacionário causa ainda o desalinhamento dos preços relativos Isso ocorre devido ao fato de que os preços não são ajustados ao mesmo tempo e na mesma magnitude provocando defasagens de preços entre os bens e serviços Um bem por exemplo pode ficar mais barato em relação aos demais bens da economia o que pode estimular o consumo deste em detrimento dos demais e viceversa Como vimos a inflação não é brincadeira Por todas essas razões a estabilidade de preços não é condição suficiente mas é sem dúvida alguma condição necessária para a promoção do crescimento econômico contínuo e estável ao longo do tempo VASCONCELLOS GARCIA 2019 Sabendo que a inflação traz diversas implicações para a dinâmica econômica precisamos saber como ela é quantificada Para encerrar este tópico vamos apresentar os principais índices de preços da economia brasileira Um índice de preços é como se fosse uma cesta contendo vários tipos de bens A variação dos preços dos bens contidos nesta cesta será representada pelo índice de preço correspondente Logo como a inflação é o aumento generalizado de preços a variação do índice de preço será uma medida inflacionária De forma geral os índices de preços representam a inflação média do país Como a média é uma medida de posição ao resumirmos tantas informações numa única medida estaremos sujeitos a certas distorções Portanto por se tratar de uma inflação média os índices de preços podem ou não representar a inflação individual de cada pessoa Isso ocorre porque a sua cesta de compras ou seja os produtos e serviços que você consome regularmente pode ser diferente da cesta média considerada pelos índices de preços Logo seu índice pessoal de inflação pode ser maior ou menor que um índice de inflação Por exemplo eu sou casado e tenho um filho em idade escolar você sendo um estudante provavelmente é jovem sem filhos em idade escolar Nós consumimos bens e serviços diferentes logo a minha inflação se aproxima mais da inflação oficial pois os pesos considerados com alimentação no domicílio e mensalidade escolar se ajustam melhor aos bens e serviços que eu consumo Além disso a renda a idade o sexo os costumes enfim há uma infinidade de características e preferencias que podem nos aproximar ou afastar da inflação oficial Por isso que muitas vezes não nos sentimos representados pelos índices de inflação divulgados A inflação é individual cada um tem a sua mas a média é uma medida representativa de toda a comunidade O primeiro e mais importante índice de preços do país é o Índice de Preço ao Consumidor Amplo IPCA De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE o IPCA abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 um e 40 quarenta saláriosmínimos qualquer que seja a fonte de rendimentos e residentes nas áreas urbanas das regiões metropolitanas de Belém Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Vitória Rio de Janeiro São Paulo Curitiba Porto Alegre além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia Campo Grande Rio Branco São Luís e Aracaju IBGE 2021 O IPCA inclui vários itens que compõem seus grupos e consequentemente formam sua cesta de bens Cada grupo possui um peso no índice A Tabela 1 apresenta os pesos dos principais grupos do IPCA registrado em fevereiro de 2021 O IPCA do referido mês foi de 086 e os grupos com maior peso sobre esse índice de preço são alimentação e bebidas transporte e habitação No acumulado nos 12 meses o IPCA atingiu 520 Tabela 1 Índice de Preços ao Consumidor Amplo Grupos e seus respectivos pesos GRUPO PESO Alimentação e Bebidas 2128 Alimentação no domicílio 1536 Alimentação fora do domicílio 592 Habitação 1550 Artigos de residência 383 Vestuário 431 Transportes 1995 Saúde e cuidados especiais 1315 Despesas pessoais 1039 Educação 595 Comunicação 564 TOTAL 10000 Fonte IBGE 2021 Além disso como veremos ainda nesta unidade o IPCA é o índice de preços referência para o regime de metas de inflação e consequentemente para as alterações na taxa de juros básica da economia Portanto a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional e operacionalizada pelo Comitê de Política Monetária Copom do BACEN é baseada no IPCA O IBGE também é responsável pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC A diferença em relação ao IPCA se dá basicamente na abrangência dos rendimentos mensais das famílias consideradas O INPC abrange apenas as famílias com renda mensal de 1 a 5 saláriosmínimos portanto considera as famílias com orçamento mais sensível às variações de preços pois tendem a gastar todo o seu rendimento em itens básicos como alimentação medicamentos transporte etc IBGE 2021 Outro importante índice de preço da economia brasileira é o Índice Geral de Preços IGP Calculado pela Fundação Getúlio Vargas FGV o IGP é calculado desde o final dos anos de 1940 para ser uma medida abrangente do movimento de preços O IGP é a média aritmética ponderada de outros três índices de preços a Índice de Preços ao Produtor Amplo IPA b Índice de Preços ao Consumidor IPC e c Índice Nacional de Custo da Construção INCC FGV 2021 Os pesos de cada um dos três índices correspondem a parcelas da despesa interna bruta calculadas com base nas Contas Nacionais resultando na seguinte distribuição a 60 para o IPA b 30 para o IPC e c 10 para o INCC FGV 2021 Além disso os diferentes períodos de coleta das informações do IGP geram três versões são elas 1 Índice Geral de Preços do Mercado IGPM coletado entre os dias 21 e 20 e divulgado dia 30 2 Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna IGPDI registra as variações dos preços entre dias 1 e 30 e é divulgado dia 10 3 Índice Geral de Preços 10 IGP10 coletado entre os dias 10 e 11 e divulgado dia 20 A versão mais popular é o IGPM Em fevereiro de 2021 o IGPM subiu 253 O acumulado em 12 meses é de 2894 A principal contribuição para esta variação foi o preço dos combustíveis que atingiu variação de 1268 no referido mês O IGPM é um dos índices componentes de fórmulas paramétricas utilizadas por empresas de telefonia e de energia elétrica respondendo parcialmente pelos reajustes tarifários desses segmentos O Índice Geral de Preços Mercado também é utilizado como o indexador de contratos de empresas prestadoras de serviço de diversas categorias como educação e planos de saúde Além disso o IGPM se popularizou por ser amplamente utilizado como referência para o setor imobiliário para o reajuste de contratos de aluguel FGV 2021 Fechamos então mais este tópico Nele além de definir inflação vimos também os principais conceitos vinculados a ela Em seguida vimos os efeitos perversos que o processo inflacionário causa na dinâmica econômica Por fim apresentamos as principais características dos índices de preços mais difundidos na economia brasileira Ao concluir este tópico gostaria que você saísse com a seguinte ideia geral fique atento com as autoridades que subestimam a inflação Eles podem até estar bem intencionados mas políticas públicas não podem ser quantificadas pela sua intenção mas sim pelos seus resultados E definitivamente os resultados da inflação no longo prazo não são nada agradáveis Como já dizia o ditado antigo de boas intenções o está cheio 2 TEORIAS DA INFLAÇÃO Imagem do Tópico ID 703848340 De posse dos conceitos apresentados no tópico I precisamos dar mais um passo adiante e compreender os principais argumentos que explicam as causas da inflação ou seja as fontes e os tipos de inflação Tratase de assunto bastante particular pois as características de cada economia influenciam no processo inflacionário Logo a forma como uma economia é organizada pode proporcionar alguns gatilhos que acionam mais rapidamente a inflação De forma abrangente as fontes de inflação são a tipo de estrutura de mercado b grau de abertura comercial ao resto do mundo c estrutura da organização trabalhista d grau de indexação e e tamanho do estado VASCONCELLOS GARCIA 2019 Quanto à estrutura de mercado em uma economia com menor concorrência monopólios e oligopólios maior tenderá ser o repasse dos custos aos preços dos produtos Quanto à abertura comercial uma economia fechada ou com pequena abertura comercial terá menor concorrência e maiores serão os preços dos produtos Nesse caso com a pequena participação das importações na oferta total da economia os produtores locais ficam protegidos e podem manter preços mais altos Quanto à estrutura da organização trabalhista esta depende do poder de barganha das categorias de trabalhadores Se um sindicato possui maior influência maior será sua capacidade de conseguir reajustes salariais para sua categoria Se os reajustes forem maiores que a produtividade do trabalho maior será a pressão sobre os preços Quanto ao grau de indexação basicamente é o chamado efeito cascata Se um preço qualquer está indexado a outro qualquer variação nesse implica variação daquele É o caso do aumento do saláriomínimo que tem implicações em outros preços como por exemplo no valor dos benefícios previdenciários Por fim o tamanho do estado pode influenciar nos preços de uma economia pois quanto maior o estado maior a necessidade de financiamento e consequentemente maior o estímulo ao financiamento via emissão de moeda rendimentos de senhoriagem com implicações inflacionárias Uma das restrições mais fortes ao déficit público é que ele seria causa da inflação Como o governo tem que financiar o déficit ele o faria por meio do endividamento público emitindo títulos ou por meio da emissão de moeda ou por uma combinação de ambos Alguns autores sustentam que a inflação é essencialmente decorrente de desequilíbrios fiscais uma vez que os elevados custos de endividamento obrigariam o governo em algum momento a emitir moeda para pagar o financiamento da sua dívida Um déficit orçamentário crescente sinalizaria para o mercado que o governo teria dificuldades de arcar com seus compromissos o que aumentaria as taxas de juros cobradas ampliando o estoque da dívida criando um círculo vicioso LIMA E C P p 244 2015 Não sei se o aluno concorda mas para mim ao escrever o parágrafo anterior é como se estivesse descrevendo o Brasil E de fato todos esses fatores de inflação são condizentes com nossa realidade O que é muito ruim pois uma economia com gatilhos inflacionários facilmente acionáveis prejudica a todos porém prejudica de forma mais intensa os mais pobres provocando aumento da desigualdade social que por sua vez prejudica o crescimento econômico gera desemprego aumenta a demanda por mais estado mais um círculo vicioso É uma armadilha e pior estamos presos nela Precisamos saber ainda os principais tipos de inflação Basicamente são quatro as principais causas ou tipos de inflação a inflação de demanda b inflação de custo c inflação inercial e d corrente estruturalista Primeiramente a inflação de demanda está associada ao excesso de demanda agregada Essa situação geralmente ocorre quando a economia está operando em pleno emprego Em outras palavras quando o produto efetivo é próximo ou superior ao produto potencial aumentos de demanda provocam elevação dos preços Isso ocorre porque a oferta está limitada à sua possibilidade de produção e uma vez operando em plena capacidade não há espaço para aumentos de produção exceto se for ampliada sua possibilidade de produção Logo estímulos na demanda em uma situação de equilíbrio de longo prazo implicará em inflação Isso ocorre porque a oferta agregada não se altera do dia para noite para ampliála é necessário investimento O correto diagnóstico sobre as causas da inflação é fundamental para seu controle Por isso a autoridade monetária deve adotar as medidas corretas sob pena de perder a batalha contra a elevação dos preços O remédio errado pode não só ser ineficaz como também acelerar o processo inflacionário Nesse sentido a inflação de demanda deve ser controlada mediante políticas econômicas que limitem a demanda agregada como por exemplo redução dos gastos do governo elevação da taxa de juros restrição do crédito e redução da renda disponível por meio do aumento da carga tributária Como visto são políticas contracionistas amargas e impopulares com elevado custo político sendo poucos aqueles disponíveis a adotálas VASCONCELLOS GARCIA 2019 A segunda causa de inflação é a inflação de custos Os produtores repassam o aumento nos custos de produção aos preços dos produtos finais Além disso dependendo da estrutura do mercado e da margem de contribuição de determinadas firmas o aumento de custos podem não ser repassados o que provoca restrição na oferta e consequentemente aumento nos preços dos produtos Portanto a inflação de custo está geralmente associada à oferta Por sua vez o aumento nos custos de produção ocorre por diversos motivos entre eles podemos citar a aumento nos preços das matérias primas b estrutura de mercado c estrutura sindical e d desvalorização cambial VASCONCELLOS GARCIA 2019 A inflação decorrente do aumento dos preços das matérias primas caracterizase como choque de oferta Geralmente os choques de oferta costumam ser temporários pois os preços tendem a voltar à normalidade após sua acomodação Entretanto ainda que temporários podem causar graves problemas Na década de 1970 por exemplo diversos países tiveram problemas com a crise do petróleo O Brasil foi um deles Nesse período por se tratar de insumo utilizado nos mais diversos setores da economia o aumento no preço do petróleo foi repassado a diversos produtos e serviços Outro exemplo de inflação de custos são as quebras de safras Devido a fatores climáticos as colheitas podem ser prejudicadas Com a menor oferta os preços agrícolas sobem elevando os custos de toda a cadeia de produção Novamente a estrutura de mercado é importante fator para elevar a inflação Como monopolistas e oligopolistas têm maior facilidade para repassar seus custos aos preços dos bens e serviços qualquer aumento no custo de produção é absorvido pelos consumidores via aumento de preços A inflação de custos também está associada ao fato de algumas empresas com elevado poder de monopólio ou oligopólio terem condições de elevar seus lucros acima da elevação dos custos de produção Muitos economistas acreditam que o fenômeno do estagflação estagnação econômica com inflação pode ser devido ao fato de que mesmo em períodos de queda da atividade produtiva as firmas com poder oligopolista têm condições de manter suas margens de lucro sobre custos markup ao aumentar o preço de seus produtos VASCONCELLOS GARCIA p 253 2019 Da mesma forma a estrutura sindical também é fator para acarretar inflação de custos Aumentos salariais maiores que ganhos de produtividade provocam aumento nos custos de produção que por sua vez geralmente são repassados para os preços dos produtos Por fim é importante destacar o impacto que a taxa de câmbio exerce sobre a inflação Com a desvalorização cambial o preço das mercadorias importadas fica mais caro em moeda nacional logo os produtos que dependem de insumo importado têm seus custos elevados Exemplo famoso é o trigo Quando há uma desvalorização cambial o trigo importado fica mais caro e o pão francês que você costuma comer todas as manhãs terá seu custo de produção elevado Normalmente quando isso ocorre o preço é repassado e você paga mais caro pelo seu pão Diferentemente da inflação de demanda o combate à inflação de custos é bem mais complexo Por estar associado à oferta a inflação de custos está intimamente ligada a problemas estruturais de uma economia Vejam que isto não se resolve no curto prazo Dada sua dificuldade muitos governantes optam em combatêla por meio do controle direto dos preços VASCONCELLOS GARCIA 2019 São medidas heterodoxas como congelamento e tabelamento de preços com questionável efetividade no médio e longo prazo Em 2012 por exemplo com uma canetada o governo federal antecipou as renovações das concessões do setor elétrico sem incluir os custos de capital relativos aos ativos investidos Além da insegurança jurídica no fim das contas o governo tabelou o preço da energia Medidas como essa não se sustentam tanto é que já em 2015 para reverter os prejuízos causados pelo tabelamento o mesmo governo promoveu um aumento médio de 51 na tarifa de energia impactando de forma expressiva a inflação do referido ano Em 2015 o teto da meta para inflação era de 65 mas o IPCA acumulado do ano foi de 1067 resultado impactado fortemente pelos preços administrados pelo governo federal entre eles o tarifaço da energia A terceira causa de inflação que iremos ver é a inflação inercial Esse tipo de inflação não está vinculado a problemas de oferta e demanda mas sim na memória inflacionária dos agentes econômicos São portanto as expectativas inflacionárias sendo convertidas na própria inflação Como a inflação tem uma tendência a inflação de ontem implica a inflação de amanhã Logo a mera existência de inflação em um período implica a existência de inflação no próximo período Quanto maiores as expectativas inflacionárias maior será sua aceleração criando uma espiral inflacionária Quando os indivíduos olham para o passado como melhor previsor do futuro mesmo que não haja choques de oferta ou o desemprego se encontre em sua taxa natural a inflação tende a se perpetuar no nível previamente atingido gerando a chamada inércia inflacionária LOPES VASCONCELLOS p 299 2009 Este tipo de inflação ocorre devido a indexação de preços pois a inflação passada é automaticamente repassada para todos os demais preços da economia por meio dos mecanismos de correção monetária cambial e salarial gerando um processo autorrealimentador de inflação VASCONCELLOS GARCIA p 254 2019 O combate à inflação inercial consiste essencialmente em eliminar a memória inflacionária e a desindexação da economia Da mesma forma que a inflação de custos uma forma de combater a inflação inercial seria por meio do congelamento de preços e salários por dado período VASCONCELLOS GARCIA 2019 Por fim temos a visão estruturalista para explicar as causas da inflação Com origem na Comissão Econômica para América Latina e Caribe CEPAL essa visão pressupõe que a inflação ocorrida na maioria dos países da América Latina é causada pela própria estrutura daí o nome econômica desses países Por se tratar de economias agrárias oligopólicas e voltadas para o comércio internacional havia uma tendência natural dada sua estrutura à elevação de preços VASCONCELLOS GARCIA 2019 Dessa interpretação surge a vertente nacionaldesenvolvimentista que defende a industrialização por meio da ação direta do Estado Estado empresário e uma economia voltada para dentro fechada à competição externa Para essa corrente de pensamento as economias agroexportadoras são dependentes das exportações de produtos primários E é aqui que mora o problema para os estruturalistas Os produtos primários segundo essa corrente possuem uma baixa elasticidade renda da demanda ie o aumento da renda dos países não aumentaria o consumo desses bens na mesma magnitude Aliado a isso os bens manufaturados importados pelos países subdesenvolvidos possuem uma alta elasticidade renda da demanda ie o aumento na renda estimularia cada vez mais o consumo desses bens Trocando em miúdos cada vez seriam necessárias mais exportações de bens primários para suprir as importações de manufaturados Portanto havia uma deterioração constante nos termos de troca A inflação seria provocada pela necessidade de desvalorizações cambiais para estimular as exportações e compensar o déficit crônico da balança comercial Por outro lado com a desvalorização cambial os importados ficariam mais caros e dada a estrutura oligopolizada capaz de manter as margens de lucros os custos mais altos seriam repassados integralmente ao produto final Portanto a solução para mitigar a inflação na visão dos estruturalistas é mudar essa estrutura da economia Como Promover a industrialização a todo custo Esta visão tem dominado o pensamento políticoeconômico brasileiro desde a década de 1940 Vale acrescentar ainda que além dessas diferentes interpretações que procuram explicar as origens e causas da inflação especificamente no caso brasileiro os problemas distributivos existentes no país têm ganhado atenção ultimamente Em linhas gerais as causas da inflação estão associadas a conflitos distributivos ou seja à tentativa de os agentes manterem ou aumentarem sua posição na distribuição do bolo econômico empresários defendendo suas margens de lucro trabalhadores tentando manter seus salários e o governo mantendo sua parcela por meio de impostos preços e tarifas públicas VASCONCELLOS GARCIA p 158 2019 Esse conflito exposto na situação acima é argumento bastante razoável e aceito por importantes economistas É como um cobertor curto a cabeça e os pés vivem em constante disputa para conseguir maior proteção mas com pouca efetividade já que todo o corpo vive em constante insatisfação Dada a importância do assunto deixei como material complementar o livro Por que o Brasil Cresce Pouco A essência da discussão e dos grandes problemas do país segundo o autor é justamente a desigualdade social e os conflitos distributivos dele derivados Então é isso meu caro aluno Fechamos mais este tópico Nele vimos as fontes e causas da inflação Quanto às fontes cabe destacar o tamanho do estado Tratase de assunto bastante atual pois temos visto ultimamente a seguinte equação aumento do déficit público mais baixo crescimento econômico é igual à necessidade crescente de financiamento do setor público Cenário ideal para rendimentos de senhoriagem Por fim discutimos as principais interpretações a respeito dos tipos de inflação 3 REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO Imagem do Tópico ID 1125688709 Vimos na Unidade III que o regime de metas de inflação é proveniente da escola novoclássica O sistema começou a ganhar adeptos a partir da década de 1990 Os primeiros países a aderirem ao regime foram Nova Zelândia 1990 Canadá 1991 e Chile 1991 Atualmente são 35 países que adotam esse regime entre eles o Brasil Atualmente predomina o seguinte pensamento a a taxa de inflação baixa e estável é condição necessária para o crescimento de longo prazo e b não há um trade off no longo prazo entre inflação e desemprego uma política monetária ativa só geraria inflação no longo prazo Este pensamento é conhecido como Novo Consenso Macroeconômico Os defensores da adoção de metas de inflação apoiados na hipótese da existência da taxa natural de desemprego na curva de Phillips expectacional e no chamado viés inflacionário acreditam que o principal objetivo da política monetária é a manutenção de uma taxa de inflação baixa e estável acreditam ainda que esta política não é um instrumento que pode estimular o investimento e consequentemente reduzir o desemprego Postulam que uma política monetária que aumente a liquidez da economia eou reduza os juros objetivando estimular o crescimento somente pode causar efeitos reais passageiros e efeitos inflacionários permanentes CARVALHO et al p 144 2007 grifo nosso Desta forma ainda de acordo com Carvalho et al 2007 a política monetária ativa é inócua pois além de dificultar o crescimento duradouro geraria também um ambiente de inflação Portanto a política monetária não deveria ser utilizada para estimular o crescimento econômico Além disso o estabelecimento de regras é uma forma de mitigar o viés inflacionário da política monetária Os defensores do regime de metas consideram ainda que ministros parlamentares e empresários possuem uma forte propensão a gerar inflação o que chamam de viés inflacionário já que tais segmentos clamam frequentemente por reduções das taxas de juros e por políticas de crédito fácil Então o regime de metas proposto é coerente com esta abordagem um banco central deve tentar apenas controlar a inflação porque a política monetária não pode fazer nada além disto metas inflacionárias devem fixadas porque se transformam em um eficaz remédio contra o vírus ou viés inflacionário que acomete ministros parlamentares empresários e por fim os gestores de política monetária CARVALHO et al p 144 2007 grifo nosso Além disso o novo consenso macroeconômico estabelece discricionariedade limitada na condução da política monetária sendo necessário portanto alguma discricionariedade para acomodar choques de demanda e evitar volatilidade excessiva do produto É justamente neste contexto em que o regime de metas de inflação está inserido atualmente CARVALHO et al 2007 Mas afinal do que se trata de fato o regime de metas de inflação O próprio Banco Central do Brasil nos ajusta nesta resposta é um conjunto de procedimentos que tem por objetivo precípuo a estabilidade de preços de uma economia BACEN 2021 Ou ainda um regime monetário no qual o banco central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva esteja em linha com uma meta préestabelecida anunciada publicamente BACEN 2016 Portanto tratase essencialmente de uma regra simples e transparente Uma vez estabelecida a regra a autoridade monetária atuará durante um determinado tempo no sentido de alcançála Sua origem está fundamentada nos pressupostos teóricos a taxa natural de desemprego b curva de Phillips com expectativas racionais e c a existência do viés inflacionário Estes pressupostos culminam na conclusão de que a política monetária uma vez sendo ineficaz para afetar as variáveis reais de forma permanente deve ser orientada sob o objetivo explícito de manter a inflação baixa e estável É muito interessante esse ponto por que como algo sendo ineficaz pode ser considerado tão relevante a ponto de ser o centro das decisões de políticas econômicas Para responder essa questão elenquei os top 10 argumentos que justificam sua relevância CARVALHO et al 2007 1 Transparência aperfeiçoa a comunicação entre o público setor empresarial e os mercados com as autoridades monetárias 2 Credibilidade ao ter como objetivo cumprir uma meta a autoridade monetária transmite confiabilidade e segurança aos agentes econômicos 3 Competência o regime pressupõe autonomia das autoridades monetárias com decisões técnicas e não políticas Discricionariedade limitada da política monetária 4 Disciplina a autoridade monetária deve obediência à meta e às regras vigentes Deve estar comprometida com a estabilidade econômica 5 Prestação de contas publicação de pareceres atas relatórios carta aberta etc 6 Simplicidade a autoridade tem um objetivo claro a ser atingido A meta numérica da inflação é anunciada e a autoridade monetária deve atingila em um dado período de tempo 7 Redução de incertezas com a credibilidade e informações o sistema promove maior previsibilidade 8 Expectativas de mercado coleta de informações junto ao mercado formando um sistema de expectativas de mercado Essas informações servem de subsídio às decisões de política monetária Além disso no regime de metas de inflação as decisões das autoridades monetárias visam essencialmente ancorar as expectativas do mercado a fim de orientar os próprios preços da economia Com expectativas de acordo com a política econômica os reajustes de preços tendem a se aproximar da meta 9 Evitar a inconsistência temporal autoridades políticas priorizam resultados imediatos e temporários curto prazo em termos de nível de produto proporcionando perdas duradouras longo prazo com aumento inflação 10 Política fiscal submetida a política monetária não haver a dominância fiscal evitar que déficits fiscais possam conduzir a rendimentos de senhoriagem descontrole na emissão monetária Como observado a política monetária é vista como um instrumento flexível e poderoso para alcançar o objetivo da estabilização de preços Ainda que não tenha capacidade de afetar as variáveis reais sua condução no sentido de promover a estabilidade dos preços é condição necessária para promoção do crescimento econômico sustentável BACEN 2016 Para a determinação do regime de metas de inflação é necessário estar presente as seguintes características a escolha do índice de inflação podendo ser um o índice cheio ou um núcleo de inflação b definição da meta pode ser pontual ou intervalar banda c horizonte da meta definição do período de referência para avaliar o cumprimento da meta d existência de cláusulas de escape determinação de situações que justifiquem o não cumprimento das metas e e transparência estabelecer diferentes canais de comunicação com a sociedade BACEN 2016 Estas características estão associadas ao tradeoff existente entre credibilidade e flexibilidade Quanto maior o rigor da regra maior a credibilidade e menor a flexibilidade discricionariedade das autoridades monetárias Por outro lado se as regras forem mais flexíveis maior a margem de trabalho das autoridades em detrimento de sua credibilidade A escolha do índice de inflação que será o parâmetro para a meta de inflação faz parte deste dilema Vimos que o índice de referência pode ser cheio ou um núcleo de inflação A diferença entre os dois está quanto ao índice de inflação incluir ou não itens mais susceptíveis a perturbações transitórias e autocorrigíveis Um exemplo seria a exclusão de itens vulneráveis à sazonalidade ou ligados a preços internacionais como o petróleo Ao adotar um índice cheio como meta por exemplo um índice de preços ao consumidor não há exclusão de itens como mencionado De outra forma um núcleo de inflação excluiria esses itens e consideraria apenas os itens que possuíssem relação com movimentos permanentes dos preços CARVALHO et al 2007 Dito isso podemos verificar que se por um lado o núcleo de inflação reduz a volatilidade da variação dos preços por outro prejudica a credibilidade do sistema Isso ocorre porque mesmo que seja um choque temporário o público sente o peso da inflação e a despeito disso a autoridade monetária poderá declarar o sucesso no alcance da meta e a promoção na estabilidade dos preços CARVALHO et al 2007 Neste caso a autoridade monetária teria maior flexibilidade para o cumprimento da meta com perda de credibilidade Quanto à escolha de uma meta pontual ou uma banda aplicase o mesmo raciocínio Quanto mais precisa uma meta maior a credibilidade e menor a flexibilidade e viceversa Enquanto uma meta pontual é mais fácil de ser entendida pelo público uma vez atingida a meta as incertezas são minimizadas com ganhos de credibilidade para autoridade monetária uma banda intervalo de confiança com limite inferior e limite superior proporciona maior flexibilidade à autoridade monetária Eventualmente na ocorrência de um choque que possa trazer impactos mais severos ao emprego um intervalo de confiança permite que a condução da política monetária seja menos rígida a fim de reduzir os impactos do cheque nunca é claro sem deixar de lado seu objetivo principal de promover a estabilidade de preços CARVALHO et al 2007 Portanto a amplitude da banda também é relevante Não haveria muito sentido se uma autoridade tivesse um intervalo enorme para atuar Da mesma forma o tradeoff credibilidade e flexibilidade também se aplica aqui Quanto maior o intervalo maior a flexibilidade da autoridade monetária e menor a credibilidade e viceversa CARVALHO et al 2007 Vale destacar ainda que o horizonte da meta ie o tempo necessário para atingir a meta também é influenciado pelo dilema credibilidade e flexibilidade Ao adotar um período mais curto para atingir a meta a autoridade monetária sinaliza maior compromisso com a meta estabelecida porém com menor flexibilidade pois as medidas devem ser mais assertivas a fim de alcançar a meta Por outro lado ao adotar um horizonte mais longo a autoridade monetária terá maior flexibilidade para atingir a meta pois os efeitos de choques sobre a inflação são acomodados gradualmente ao longo do tempo reduzindo assim os efeitos negativos da política de estabilização de preços sobre os níveis de produto e emprego Propicia portanto uma reação menos agressiva da política monetária diante do choque CARVALHO et al p 141 2007 Nesse caso ganhase em flexibilidade em detrimento da credibilidade Por fim cabe destacar ainda que o principal instrumento de operacionalização da política monetária em regime de metas de inflação é a determinação da taxa de juros de curto prazo Portanto a taxa de juros de curto prazo é calibrada pela autoridade monetária para fazer com que a inflação efetiva convirja para a meta previamente estipulada Se a inflação corrente está maior que a meta inflacionária a autoridade monetária aumenta a taxa de juros de curto prazo a fim de desestimular o consumo via aumento das taxas de juros cobradas nos empréstimos e financiamentos e consequentemente o controle da inflação Por outro lado se a inflação estiver sob controle a autoridade monetária pode estimular a atividade econômica reduzindo a taxa de juros e estimulando o consumo via crédito mais barato De forma geral a taxa de juros adotada de acordo com a experiência de alguns países poderia ser descrita por regras do tipo Taylor CARVALHO et al p 140 2007 Em outras palavras a Regra de Taylor é uma função de reação do Banco Central para determinação da taxa de juros de curto prazo Basicamente serve como um guia operacional no processo decisório de política monetária em que a taxa de juros a ser estabelecida pelo Banco Central está em função da a taxa de inflação corrente b do hiato do produto desvio do PIB efetivo em relação ao PIB potencial c do desvio da taxa de inflação corrente em relação à meta de inflação e d da taxa de juros real de equilíbrio CARVALHO et al 2007 Fechamos então mais este tópico Nele tratamos da fundamentação teórica e das principais características do regime de metas de inflação Vimos que o regime de metas inflacionárias está inserido no Novo Consenso Macroeconômico ie uma síntese dos fundamentos da teoria macroeconômica convencional em que as demais políticas econômicas fiscal cambial estão subordinadas a política monetária e a estabilização da economia Esse entendimento deriva da constatação de que há uma tendência ao viés inflacionário e o melhor remédio para combatêlo é o estabelecimento de regras claras e transparentes operadas por agentes competentes e com credibilidade Vimos ainda que o principal instrumento utilizado pela autoridade monetária no regime de metas de inflação é a determinação da taxa de juros de curto prazo 4 QUESTÕES DA ECONOMIA BRASILEIRA Imagem do Tópico ID 1811266111 Vimos no tópico anterior o regime de metas de inflação Neste tópico iremos trazer os conceitos aprendidos para a realidade brasileira O regime de metas de inflação foi instituído no Brasil pelo Decreto nº 3088 de 26 de junho de 1999 que estabelece a sistemática de Metas para a Inflação como diretriz para fixação do regime de política monetária e dá outras providências Este decreto é bem curtinho fácil de ler e cheio de informações relevantes para nosso estudo Em seu artigo primeiro fica estabelecido que as metas são representadas por variações anuais de índice de preços de ampla divulgação e que as metas e os respectivos intervalos de tolerância serão fixados pelo Conselho Monetário Nacional CMN Já o artigo terceiro estabelece que o índice de preços a ser adotado será escolhido pelo CMN Podemos concluir pontos importante do que foi exposto até aqui a o horizonte da meta é de um ano tratase de horizonte curto de tempo sinalizando maior compromisso da autoridade com a estabilidade de preços b foi escolhido uma banda ao invés de uma meta pontual estabelecendo assim uma discricionariedade limitada à autoridade monetária em conformidade portanto com o Novo Consenso Macroeconômico e c que a autoridade máxima do Sistema Financeiro Nacional irá escolher um índice de preço de ampla divulgação sendo portanto um índice cheio incluindo itens mais suscetíveis a oscilações transitórias permite menor flexibilidade porém como vimos promove maior credibilidade à autoridade monetária Conforme mencionamos o decreto supracitado diz que compete ao CMN definir o índice de preço para ser a meta de inflação bem como o intervalo de tolerância Isso foi estabelecido pela Resolução 2615 de 30 de junho de 1999 que fixa as metas para a inflação e seus respectivos intervalos de tolerância bem como o índice de preços a que se aplicam para os anos 2001 2000 e 1999 Já em seu artigo primeiro fica estabelecido que o CMN determinou que o índice de preços relacionado às metas para a inflação é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPCA calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE 2021 Já no seu artigo segundo são fixados as metas para a inflação juntamente com os seus intervalos de tolerância I para ano 2001 4 com intervalo de tolerância de menos 2 e de mais 2 II para ano 2000 6 com intervalo de tolerância de menos 2 e de mais 2 III para ano 1999 8 com intervalo de tolerância de menos 2 e de mais 2 Notem que os intervalos de tolerância são pequenos e que a meta está sendo mais rígida ao passar dos anos Desta forma podemos verificar que na implementação do regime de metas de inflação no país o tradeoff existente entre credibilidade e flexibilidade a balança pendeu para a credibilidade horizonte curto de tempo índice cheio e difundido na sociedade intervalo de tolerância restrito e redução da meta ao longo do tempo Além da credibilidade transmitese para sociedade uma meta clara e simples disciplina ao buscar uma meta mais restrita com o passar dos anos redução de incertezas e alinhamento das expectativas dos agentes No artigo quarto do Decreto nº 3088 fica estabelecido que a meta será cumprida quando a variação acumulada da inflação medida pelo IPCA relativa ao período de janeiro a dezembro de cada ano calendário situarse na faixa do seu respectivo intervalo de tolerância Nesse artigo podemos ver que a meta será cumprida se a inflação efetiva do ano anterior ficar no intervalo previamente definido Portanto há o centro da meta e o limite inferior piso e o limite superior teto se ao final de um ano a inflação acumulada efetiva ficar nesse intervalo bingo A meta de inflação foi cumprida A Figura 1 ilustra o comportamento do regime de metas de inflação no Brasil ao longo dos seus 22 anos de existência Notase que a grande maioria das vezes a meta foi cumprida sendo que nos anos 2000 2007 2009 e 2019 a inflação efetiva foi igual ou muito próxima ao centro da meta Por outro lado notase que nos anos 2001 2002 2003 2015 e 2017 a meta não foi cumprida E aí Como é que fica Aqui entramos em outro ponto muito importante do regime de metas de inflação que é a questão da comunicação com a sociedade A autoridade monetária para ter credibilidade deve prestar contas e ser transparente Figura 1 Regime de Metas de Inflação Intervalo de Tolerância Meta do IPCA e IPCA Efetivo Fonte BACEN 2021 Ainda no artigo quarto do Decreto nº 3088 fica estabelecido que caso a meta não seja cumprida o Presidente do BACEN divulgará publicamente as razões do descumprimento por meio de carta aberta ao Ministro de Estado da Fazenda atualmente Ministro da Economia que deverá conter a descrição detalhada das causas do descumprimento b providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e c o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito Logo o BACEN deve justificar ao mercado via carta aberta as razões do não cumprimento da meta Além disso no artigo quinto diz que o BACEN divulgará até o último dia de cada trimestre civil Relatório de Inflação abordando o desempenho do regime de metas para a inflação os resultados das decisões passadas de política monetária e a avaliação prospectiva da inflação Vejam que tanto a carta aberta quanto o relatório de inflação são exemplos de documentos que visam melhorar a comunicação entre a sociedade e a autoridade monetária promovendo assim a transparência e a prestação de contas E como vimos tudo isso credibilidade reputação transparência prestação de contas tem um objetivo maior alinhamento das expectativas ie fazer com que as expectativas dos agentes convirjam para a inflação meta É uma âncora Se todos acreditam ficam ancorados num determinado valor a probabilidade desse valor ocorrer é grande Por fim no artigo segundo do decreto nº 3088 fica determinado que compete ao BACEN executar as políticas necessárias para cumprimento das metas fixadas No tópico anterior vimos que o principal instrumento para operar a política monetária no regime de metas de inflação é a determinação da taxa de juros de curto prazo No Brasil essa taxa de juros se chama SELIC Portanto o BACEN determina a SELIC para cumprir a meta estipulada Dada sua relevância para nosso regime de metas de inflação vamos conhecer um pouco mais sobre a famosa taxa SELIC Antes de tudo como vimos a responsabilidade para o cumprimento da meta de inflação é do BACEN Entretanto a responsabilidade das decisões de política monetária ie o poder de determinar a taxa de juros de curto prazo principal instrumento de política monetária foi delegada olha o trinômio Credibilidade Reputação e Delegação se completando ao Comitê de Política Monetária COPOM Portanto o COPOM é o órgão do BACEN formado pelo seu Presidente e diretores que define a cada 45 dias a taxa básica de juros da economia a taxa SELIC também conhecida como SELIC Meta BACEN 2021 SELIC é a sigla de Sistema Especial de Liquidação e Custódia Como o próprio nome já diz SELIC é um sistema uma infraestrutura do mercado financeiro administrada pelo BACEN onde são transacionados títulos públicos federais A taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados nesse sistema corresponde à taxa SELIC também conhecida como SELIC efetiva ou SELIC Over BACEN 2021 Essa taxa média é ajustada diariamente a taxa SELIC SELIC efetiva ou SELIC Over é baseada na taxa SELIC SELIC Meta definida pelo COPOM para fins de operacionalizar a política monetária e conduzila em direção ao cumprimento da meta de inflação A Selic é a taxa básica de juros da economia É o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central BC para controlar a inflação Ela influencia todas as taxas de juros do país como as taxas de juros dos empréstimos dos financiamentos e das aplicações financeiras A taxa Selic referese à taxa de juros apurada nas operações de empréstimos de um dia entre as instituições financeiras que utilizam títulos públicos federais como garantia O BC opera no mercado de títulos públicos para que a taxa Selic efetiva esteja em linha com a meta da Selic definida na reunião do Comitê de Política Monetária do BC Copom BACEN 2021 Portanto caro aluno uma sentença como a seguinte embora confusa não está errada a SELIC é uma média das taxas negociadas no SELIC baseada na SELIC estabelecida pelo COPOM Para evitar essa confusão vou tentar colocar de forma mais clara a taxa SELIC efetiva é a média das taxas negociadas no sistema SELIC baseada na taxa SELIC meta estabelecida pelo COPOM Outro ponto que geralmente causa confusão e merece atenção é a competência para definir as duas principais variáveis envolvidas no regime de metas de inflação Compete ao CMN definir a meta de inflação IPCA centro da meta e os intervalos de tolerância E para cumprir a meta compete ao COPOM definir a taxa básica de juros da economia taxa SELIC SELIC Meta A Tabela 1 resume o mecanismo de transmissão que ocorre no regime de metas de inflação no Brasil Tabela 1 Regime de Metas de Inflação no Brasil Mecanismo de transmissão 1 2 3 4 O CMN estabelece a meta para a inflação anual Para manter a inflação sob controle o COPOM define a meta da taxa Selic O BACEN realiza operações de mercado aberto para influenciar a taxa Selic A taxa Selic por meio de diversos canais na economia afeta a inflação Fonte BACEN 2021 Mantendo a lógica de transparência e prestação de contas correspondente ao regime de metas de inflação as decisões do COPOM são divulgadas ao mercado por meio de ata chamada de Ata do Copom Nela são apresentadas as razões da decisão tomada Além de expor os motivos que determinaram a taxa SELIC é apresentado também o seu viés que pode ser neutro de baixa ou de alta Por exemplo ao estabelecer a SELIC com viés de alta baixa significa que o COPOM autoriza o presidente do BACEN aumentar baixar a taxa de juros básica antes da próxima reunião Além disso é uma forma de sinalizar a tendência da taxa de juros olha a questão da previsibilidade e do alinhamento das expectativas Se o viés for neutro o presidente do BACEN não está autorizado a alterar a taxa básica da economia Então é isso caro aluno fechamos mais este tópico Nosso último tópico de nossa disciplina Nele vimos como é organizado o regime de metas de inflação no Brasil Essencialmente tratamos do Decreto nº 3088 e do sistema SELIC SAIBA MAIS Vimos no tópico 3 que a Regra de Taylor é uma função de reação do Banco Central Conforme as variáveis nela incluídas oscilam o Banco Central ajusta a taxa de juros de curto prazo no caso do Brasil a taxa Selic Vimos ainda que a Regra de Taylor está em função da taxa de inflação corrente do hiato do produto do desvio da taxa de inflação corrente em relação à meta de inflação e da taxa de juros real de equilíbrio Podemos formalizar a Regra de Taylor conforme a equação abaixo CARVALHO et al 2007 𝑖𝑡 𝜋𝑡 𝑔𝑦𝑡 𝑦 ℎ𝜋𝑡 𝜋 𝑟𝑓 em que 𝑖𝑡 taxa de juros nominal de curto de prazo 𝜋𝑡 taxa de inflação 𝜋 meta para taxa de inflação 𝜋𝑡 𝜋 desvio da taxa de inflação com relação a meta de inflação 𝑦𝑡 𝑦 desvio do PIB efetivo 𝑦𝑡 com relação ao PIB potencial 𝑦 hiato do produto 𝑟𝑓 estimativa da taxa real de juros de equilíbrio da economia 𝑔 0 𝑒 ℎ 0 parâmetros que medem respectivamente a sensibilidade da taxa de juros ao hiato do produto e ao desvio da inflação em relação à meta De acordo com esta regra o Banco Central eleva a taxa de juros nominal de curto prazo Selic quando a inflação aumenta em relação à meta de inflação eou quando o produto real efetivo da economia supera o produto potencial e viceversa Carvalho et al 2007 Portanto o comportamento da taxa de juros nominal de curto prazo está em função das mudanças nas variáveis da Regra de Taylor daí o nome função de reação Abaixo resumimos esse entendimento Se não há desvios do produto e da inflação ie 𝑦𝑡 𝑦 0 e 𝜋𝑡 𝜋 0 então 𝑖𝑡 𝜋𝑡 𝑟𝑓 Se os desvios do produto e da inflação forem positivos PIB efetivo é maior que o potencial eou a inflação corrente é maior que a inflação meta ie 𝑦𝑡 𝑦 0 e 𝜋𝑡 𝜋 0 então 𝑖𝑡 Se os desvios do produto e da inflação forem negativos PIB efetivo é menor que o potencial eou a inflação corrente é menor que a inflação meta ie 𝑦𝑡 𝑦 0 e 𝜋𝑡 𝜋 0 então 𝑖𝑡 Fonte CARVALHO FC SOUZA FEP SICSÚ J PAULA LFR STUDART R Economia Monetária e Financeira 2ª Edição Editora Campus 2007 SAIBA MAIS REFLITA O que diferencia o conceito de taxa de juros real e taxa de juros nominal é a consideração ou não da inflação Portanto para encontrarmos a taxa de juros real devemos descontar a inflação da taxa de juros nominal Vejamos um exemplo a Selic taxa de juros nominal fechou o ano de 2020 em 2 ao ano Já a inflação medida pelo IPCA foi de 452 ao ano Como base nessas informações podemos encontrar a taxa de juros real Taxa de Juros Real 12 1452 102 10452 09759 09759 1 00241 Portanto a taxa de juros real ao final de 2020 foi negativa em 241 Podemos afirmar que se algum agente teve investimentos remunerados por uma taxa de juros nominal de 2 ao desconsiderar a inflação ele na verdade teve uma perda real de 241 Imaginemos que determinado investidor aplicou R10000 a uma taxa de 2 ao ano Ao final de um ano ele terá R10200 Ganho nominal de R200 Entretanto a inflação do período foi de 452 Logo para ele manter o poder de compra ele deveria ao menos obter em um rendimento igual a inflação R452 452 de R10000 Como as coisas ficaram mais caras que o rendimento obtido o investidor ficou mais pobre Por outro lado é fácil encontrar notícias como esta mesmo com retorno negativo poupança ainda é o investimento mais escolhido por brasileiros VALOR INVESTE 2021 Por que de maneira geral os brasileiros não estão nem aí para a taxa de juros real O que deve ser feito para que as decisões de investimento sejam orientadas pela taxa de juros real Fonte elaboração própria httpsvalorinvesteglobocomobjetivohoradeinvestirnoticia20200324mesmocomretornonegativo poupancaaindaeoinvestimentomaisescolhidoghtml SAIBA MAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá aluno Chegamos ao final de nossa quarta e última unidade Essencialmente tratamos da inflação e o atual estágio da política monetária Ao concluirmos que o melhor a ser feito com a política monetária é a manutenção de uma inflação baixa e estável então temos que encontrar meios para que a inflação permaneça conforme o desejado Daí surge o estabelecimento de regras e consequentemente o regime de metas de inflação Neste sentido apresentamos a teoria envolvida no regime de metas de inflação bem como sua aplicação ao atual regime monetário brasileiro Assim após sua caminhada por nossa última unidade espero que você possa responder às seguintes questões O que é inflação Quais são os principais índices de inflação do país Quais são as fontes de inflação Quais são as causas da inflação O que é o Novo Consenso Macroeconômico Quais são os principais argumentos que justificam o regime de metas de inflação Como é organizado o regime de metas de inflação no Brasil Qual é o principal instrumento de política monetária no regime de metas de inflação no Brasil Com a conclusão desta derradeira unidade podemos afirmar que a inflação devido aos efeitos que pode provocar está no centro da discussão da economia monetária É importante também que você tenha compreendido o regime de metas de inflação afinal é o nosso atual modelo de política monetária Parabéns pela conclusão desta unidade Forte abraço LEITURA COMPLEMENTAR Relatório de Inflação httpswwwbcbgovbrpublicacoesri Ata do Comitê de Políticas Monetárias httpswwwbcbgovbrpublicacoesatascopom Relatório Focus httpswwwbcbgovbrcontroleinflacaorelatoriofocus Carta Aberta não cumprimento da meta inflacionária httpswwwbcbgovbrcontroleinflacaohistoricometas Plano Real httpswwwbcbgovbrcontroleinflacaoplanoreal O Aperfeiçoamento do Regime de Metas de Inflação no Brasil httpswwwipeagovbrportalindexphpoptioncomcontentviewarticleid4781 LIVRO Título A Moeda e a Lei Uma história monetária brasileira Autor Gustavo Franco Editora Zahar Sinopse Uma história das instituições monetárias do Brasil um retrospecto de nossos excessos cujas expressões mais flagrantes são os zeros na moeda Em 1933 na maior parte do mundo o dinheiro perdeu seus vínculos com a natureza e de moedas de ouro prata e outros metais tornouse apenas uma convenção social uma criatura da lei Desde então a humanidade busca controlar os poderes que essa inovação liberou A experiência monetária brasileira pode não ter paralelo no mundo seja pelo difícil relacionamento de nossa moeda com as de outros países pelo tumultuado processo de constituição de um banco central com plenas funções ou ainda pela longa intensa e complexa convivência com a inflação Tudo é superlativo nesse trajeto em que o Brasil teve oito padrões monetários cinco congelamentos confiscos pequenos e grandes crises sem limite euforias idem e batalhas épicas para ordenar a moeda nacional e evitar abusos fiscais e financeiros bem como para estabilizar o seu poder de compra Gustavo Franco um dos mentores do Plano Real e expresidente do Banco Central tem grande autoridade para contar essa história Ele analisa em nove capítulos a experiência inflacionária a lei monetária os mistérios da regulamentação do câmbio os processos de criação e captura do Banco Central a produção da hiperinflação os planos econômicos heterodoxos o Plano Real a evolução institucional cumulativa e o problema da taxa de juros Todos os acontecimentos de grande atualidade pois as dúvidas que governam essa história continuam muito vivas Como se estivéssemos presos há décadas em um mesmo enredo às vésperas de uma fórmula ideal que parece estar logo ali mas nunca chega FILMEVÍDEO Título Real O Plano Por Trás da História Ano 2017 Sinopse Brasília maio de 1993 Após uma sequência de planos econômicos que não surtiram efeito o país é levado à hiperinflação Uma seleta equipe econômica protegida em um bunker contra pressões políticas mergulha na missão de reformar o Estado e criar o Plano Real REFERÊNCIAS CARVALHO FC SOUZA FEP SICSÚ J PAULA LFR STUDART R Economia Monetária e Financeira 2ª Edição Editora Campus 2007 BACEN Banco Central do Brasil Normas relacionadas ao regime de metas Decreto nº 3088 Disponível emhttpswwwbcbgovbrcontroleinflacao normasinflacao Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Resolução Nº 2615 Disponível em httpswwwbcbgovbrprenormativosres1999pdfres2615v1Opdf Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Histórico de Metas para a Inflação no Brasil Disponível em httpswwwbcbgovbrPecmetasTabelaMetaseResultadospdf Acesso em várias datas 2021 BACEN Banco Central do Brasil Regime de Metas para a Inflação no Brasil Série Perguntas Mais Frequentes Disponível emhttpswwwbcbgovbrcontent cidadaniafinanceiraDocumentspublicacoesseriepmfFAQ2010 Regime20de20Metas20para20a20InflaC3A7C3A3o20no20Brasil pdf Acesso em várias datas 2016 DORNBUSCH R FISCHER S STARTZ R Macroeconomia 11ª Edição Editora Bookman 2011 FGV Fundação Getúlio Vargas Índice Geral de Preços Disponível em httpsportalibrefgvbrestudosepesquisasindicesdeprecosigp Acesso em várias datas 2021 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Índice de Preços ao Consumidor Amplo Disponível emhttpswwwibgegovbrexplicainflacaophp Acesso em várias datas 2021 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor Disponível em httpssidraibgegovbrpesquisasnipcipcatabelas Acesso em várias datas 2021 LIMA E C P Curso de Finanças Públicas uma abordagem contemporânea Editora Atlas São Paulo 2015 LOPES LM VASCONCELLOS MAS Manual de Macroeconomia 3ª Edição Editora Atlas São Paulo 2009 SANDRONI P Novíssimo dicionário de Economia 11ª Edição Editora Best Seller São Paulo 2003 VASCONCELLOS MAS GARCIA M E Fundamentos de Economia 6ª Edição Editora Saraiva São Paulo 2019 CONCLUSÃO Prezado aluno Chegamos ao fim do nosso curso de Economia Monetária Nele buscamos trazer os principais conceitos associados à nossa disciplina Como vimos o papel da política monetária é cheia de controvérsia e posições antagônicas Entretanto depois do que discutimos aqui podemos responder a questão essencial de nossa disciplina qual a real importância da economia monetária para a política econômica Atualmente vigora o entendimento que a política monetária deve ser prioritária e orientada a fim de promover a estabilidade econômica Ainda que não haja relação no curto prazo entre oferta de moeda e estabilidade de preços no longo prazo essa relação é majoritariamente aceita e portanto a inflação é um fenômeno monetário Assim ao validar a dicotomia entre inflação e desemprego as decisões de política monetária passam a ser decisões políticas o que no longo prazo conduz a economia ao viés inflacionário bastante prejudicial à toda sociedade Neste sentido o controle da inflação é condição necessária para a promoção do crescimento sustentável da economia Para responder essa questão tivemos que passar por diversos conceitos teorias e pensamentos econômicos Além disso vimos questões específicas da economia brasileira como o Sistema Financeiro Nacional o Banco Central do Brasil índices de preços e o regime de metas de inflação vigente no Brasil Esses assuntos mais específicos ganham relevância pois além de proporcionar melhor compreensão da dinâmica da política macroeconômica brasileira são temas frequentes em exames na área de economia tais como certificações de investimentos exame de pós graduação e processos seletivos É com enorme satisfação que escrevemos que você encerra mais uma das suas caminhadas Nossa esperança é que após ter caminhado até aqui você continue trilhando os caminhos da macroeconomia Estamos diante de uma área enorme com várias correntes de pensamento Logo se você se interessou pelo assunto sugerimos que você não fique limitado ao que vimos aqui O aprendizado sobre economia deve ser constante Somente com seu esforço e dedicação será possível compreender todo o instrumental que ela pode oferecer Parabéns por concluir mais esta caminhada Desejamos sucesso nas outras tantas que virão Até uma outra oportunidade Forte abraço