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387 Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 Artigo Original Lesões Precursoras entre Mulheres Tabagistas Artigo submetido em 28311 aceito para publicação em 13611 Lesões Precursoras do Câncer Cervicouterino Associado ao Tabagismo um Estudo sobre o Conhecimento entre as Mulheres que Fumam CervicalUterine Precursor Lesion Associated to Tobacco Smoking A Study about the Knowledge among Women who Smoke Lesiones Precursoras del Cáncer Cervical Uterino Asociado al Tabaquismo un Estudio sobre el Conocimiento entre Mujeres que Fuman maria cristina de melo pessanha carvalho1 carmen Lucia de paula2 Ana beatriz Azevedo Queiroz3 Resumo Introdução acreditase que uma das possibilidades para alcançar resultados de modo a favorecer a saúde da população feminina em relação à alta incidência de câncer cervicouterino seja a construção de estratégias para prevenção dos fatores de risco entre eles o tabagismo Objetivo discutir a associação das lesões precursoras do câncer cervicouterino com o tabagismo evidenciado na fala de mulheres portadoras dessas alterações cervicais Método Pesquisa qualitativa do tipo descritiva realizada em uma instituição Pública Federal no Município do rio de Janeiro Participaram 40 mulheres com o diagnóstico de lesão precursora do câncer cervicouterino divididas em 22 tabagistas e 18 com história pregressa de tabagismo entre a faixa etária de 22 e 70 anos os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e analisados sob a perspectiva da teoria das representações sociais sendo categorizadas de acordo com a temática de Bardin Resultados na fala das mulheres percebese a associação do ato de fumar ao longo de suas vidas com o desenvolvimento das lesões precursoras do câncer cervicouterino sendo destacadas quatro categorias a relação da doença com o tabaco o cigarro a doença e a tentativa de mudança de estilo de vida a força da mídia contribuindo no processo de informação e a culpa por manter o tabagismo Conclusão notase a necessidade de ações estratégicas baseadas no universo consensual dessas mulheres contribuindo para a importância do combate ao tabagismo como um fator de risco evitável para o desenvolvimento do câncer cervicouterino Palavraschave tabagismo neoplasia intraepitelial cervical saúde da Mulher recorte de dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação da escola de enfermagem anna nery da universidade federal do rio de Janeiro eeanuFrJ2008 1doutoranda em enfermagem pelo Programa de PósGraduação da eeanuFrJ especialista em enfermagem oncológica enfermeira do Hospital Federal de ipanema e cMs Píndaro de carvalho rodrigues rio de Janeiro Brasil Email mcrismelo4hotmailcom 2enfermeira Mestre em enfermagem pela universidade do estado do rio de Janeiro uerJ enfermeira do ambulatório de oncologia do instituto nacional de câncer incaHospital do câncer ii Hc iiMs Professora colaboradora do Programa de PósGraduação da universidade Gama Filho enfermagem em centro cirúrgico e central de Material esterilizado Email carmenpaulaymailcom 3enfermeira doutora em enfermagem Professora adjunta do departamento de enfermagem Maternoinfantil da uFrJ coordenadora da residência Multiprofissional em saúde da Mulher do Hospital escola são Francisco de assis da uFrJ Brasil Email anabqueirozoicombr Endereço para correspondência carmen lúcia de Paula rua Jaracatiá 174103 irajá ceP 21235570 rio de janeiro rJ Brasil 388 Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 INTRODUÇÃO no Brasil o câncer do colo do útero é considerado um problema de saúde Pública visto que é a neoplasia de maior incidência e mortalidade entre as mulheres de acordo com as estimativas do instituto nacional de câncer inca para o ano de 2010 e 2011 são esperados 18 mil novos casos sendo esse tipo de tumor o segundo mais frequente e a quarta causa de morte na população feminina por câncer no Brasil1 atualmente 44 dos casos da patologia em questão são provenientes de lesões precursoras do câncer do colo uterino lPccu chamada de carcinoma in situ1 essas lesões destacamse pela presença de modificações do epitélio original constituindo as manifestações précancerosas que podem evoluir para o câncer cervicouterino23 o câncer do colo do útero tido como invasor evolui a partir da neoplasia intraepitelial cervical i nic i porém nem toda nic evoluirá para uma doença invasora no entanto ressaltase que todas as nic devem ser consideradas como lesões significativas e como tal devem ser tratadas e acompanhadas pois mulheres diagnosticadas precocemente e tratadas adequadamente têm a possibilidade de 100 de cura4 Vale destacar que o principal fator de risco para causar esse tipo de câncer é a infecção pelo papilomavírus humano o HPV sendo que esse vírus apresenta alguns subtipos oncogênicos que estão relacionados a tumores malignos tais como os subtipos virais 16 e 181 todavia vale ressaltar que menos de 1 das mulheres com infecção por HPV de risco oncogênico irão desenvolver câncer do colo uterino porém esse risco se potencializa quando a infecção viral é associada ao tabagismo destacando assim que o uso frequente do cigarro é uma causa comprovada da evolução dessa patologia5 o tabaco diminui significativamente a quantidade da função das células de langherans que são responsáveis pela defesa do tecido epitelial além do que o cigarro contém mais de 300 substâncias cancerígenas6 cabe ressaltar que o número de fumantes entre o sexo feminino tem aumentado em todo mundo influenciado por inúmeros fatores econômicos e socioculturais principalmente em países em desenvolvimento transformando o tabaco em uma das maiores causas desse tipo de tumor7 corroborando esse fato um estudo que abordou as alterações citopatológicas e fatores de risco ilustrou que 48 de um total de 65 mulheres que apresentavam alterações cervicais eram tabagistas8 dessa forma a problemática desse estudo emergiu da prática de atendimento às mulheres portadoras de lPccu quando se identificou empiricamente que algumas delas faziam referência do tabagismo com a situação vivida no entanto outros segmentos além de não o fazerem por vezes não acreditavam existir qualquer ligação entre essas variáveis esse fato refletiu nas diferentes formas de se pensar e agir frente à vivência da alteração cervical e ao tabagismo que são permeadas de regras sociais estabelecidas no meio cultural e que se subjetivam e individualizam em cada pessoa acreditase que uma das possibilidades para alcançar resultados diferentes de modo a favorecer a saúde da população feminina contra o desenvolvimento do câncer cervicouterino seja a construção de estratégias para prevenção dos fatores de risco evitáveis como o tabagismo porém estratégias que levem em consideração os aspectos psicossociais que estão envolvidos nesse fenômeno e não apenas condicionantes informativos ou prescritivos a prevenção e o controle do câncer do colo do útero estão entre os mais importantes desafios científicos e de saúde Pública da nossa época que deve perpassar tanto pelo uso do preservativo em todas as relações sexuais mas também pelo combate ao tabagismo feminino a necessidade de revisão elaboração e novas abordagens nos diversos níveis de atuação em saúde deve ser vista como prioritária na luta contra o fumo no sentido de mobilizar não só os profissionais para trabalhar de forma efetiva mas a própria população sob essa ótica o presente estudo tem como objetivo discutir a associação das lPccu com o tabagismo evidenciado na fala de mulheres portadoras dessas alterações cervicais MÉTODO tratase de um estudo com abordagem qualitativa e tipologia descritiva devido à investigação exigir um entendimento aprofundado da realidade vivida por essas mulheres diante da problemática descrita para dar suporte à interpretação e à subjetividade dos dados produzidos pelos sujeitos do estudo utilizouse como referencial teórico a teoria das representações sociais que oferece subsídios para embasar abordagens culturais valores e crenças desse grupo feminino entendese por essa teoria aquela que estuda o pensamento comum popular e ingênuo das pessoas sobre uma determinada coisa ou acontecimento levando o indivíduo a agir de acordo com aquilo que ele pensa910 a pesquisa foi realizada em uma instituição Pública Federal no Município do rio de Janeiro local destacado como referência em atendimento à patologia cervical esse serviço recebe mulheres oriundas de unidades Básicas de saúde para tratamento das alterações cervicais a pesquisa foi composta por 40 sujeitos divididos em dois grupos um grupo com 22 mulheres tabagistas e 389 Lesões Precursoras entre Mulheres Tabagistas Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 outro com 18 mulheres apresentando história pregressa de tabagismo os critérios de inclusão foram ter diagnóstico de lPccu comprovado mediante resultados de exames colpocitológicos eou colposcópicos estar em tratamento na instituição referida autodeclaração de ser tabagista ou com história pregressa de tabagismo e aceitar participar do referido estudo como critérios de exclusão foram delimitadas mulheres que não se declararam tabagistas mesmo fumando de um a três cigarros por dia e aquelas que estavam em processo de confirmação de diagnóstico os dados foram coletados no período de fevereiro a junho de 2008 por meio de entrevistas semiestruturadas tendo a necessidade de compreensão dos conteúdos que circulam nos diferentes tempos como interação hábito e imaginário social destacase que a coleta de dados num estudo de representação social exige longas entrevistas semiestruturadas assim obtevese uma média de 30 a 45 minutos por entrevista11 utilizouse gravador portátil mediante fitas magnéticas para gravar as falas com a prévia autorização das entrevistadas a entrevista apresentou um roteiro com perguntas abertas que tinham o propósito de explorar os principais discursos e falas das depoentes acerca dos fatores causais das lPccu e sua relação com o tabagismo e elucidar as percepções de mundo do respondente observando avaliando e compreendendo o fenômeno do conhecimento comum as entrevistas foram realizadas em uma sala reservada após a consulta médica e com prévio agendamento respeitando assim a disponibilidade das depoentes Posteriormente os dados foram transcritos a fim de facilitar a etapa da análise com relação aos aspectos éticos foram seguidas as recomendações da resolução no 19696 que trata das normas de pesquisa envolvendo seres humanos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido constando o objetivo da pesquisa a garantia do anonimato e o sigilo de informações prestadas a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da escola de enfermagem anna neryHospital escola são Francisco de assisuniversidade Federal do rio de Janeiro sob o número de Protocolo no 022008 Para a organização dos dados as fitas foram transcritas e ocorreram leituras flutuantes após leituras exaustivas de todo o material classificouse em temas que estruturaram as categorias empíricas para análise segundo orientação da temática de Bardin12 a categoria é um sistema de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação agrupado em categorias temáticas12 Frente a essa ótica as categorias foram agrupadas por liames que ilustraram a correlação da alteração cervical com o tabagismo e por fim os dados foram analisados sob a perspectiva psicossocial da teoria das representações sociais RESULTADOS E DISCUSSÃO as categorias apontaram para a relação que as entrevistadas fizeram do tabagismo com os resultados da citologia e mudança na vida da mulher após tomar conhecimento do resultado do exame emergiram portanto quatro categorias que foram denominadas 1 A relação da doença com o tabaco 2 O cigarro a doença e a tentativa de mudança de estilo de vida 3 A força da mídia contribuindo no processo de informação e 4 A culpa por manter o tabagismo A reLAçãO dA dOençA cOm O TAbAcO nesta categoria analisouse a relação que os sujeitos fizeram entre as alterações cervicais vividas e o tabagismo das 40 entrevistadas 35 reconheciam haver algum tipo de associação entre a alteração cervical e o tabagismo no entanto o valor ou o peso dessa associação apresentouse bastante diversificada sendo que nenhuma atribuiu o cigarro como causador efetivo das lPccu sempre ouvi falar que o cigarro faz mal causa câncer sei lá eu sempre fumei fumo mais ou menos dez cigarros por dia sempre quis largar Porque já era pra ter largado porque eu nunca deixei de pausa ah sei lá eu sempre estou nos hospitais sempre eu fiz preventivo só dava negativo eu fico pensando assim será que meu parceiro está com alguma doença passou pra mim eu fico com isso na minha cabeça Mas é lógico que o cigarro só piora o problema depoente nº 16 48 anos tabagista há 16 anos nic i eu não sei explicar pode ser que o cigarro tenha ajudado piorado a situação Mas foi do meu marido eu não meto a mão no fogo por ele acho que é por ele sim eu sei que o cigarro ajudou mas quem transmitiu foi pelo meu marido depoente nº 31 58 anos extabagista nic iii eu acho que é do cigarro porque o cigarro vai fazendo mal dando doença até câncer Mas eu fumo há muito tempo nunca parei mas vou tentar agora Mas na verdade acho que é do sexo porque o homem nunca faz tratamento aí devido do que eles joga na gente que deve causar alguma lesão pra causar na mulher eu acho que a secreção dele causa esse negócio na gente eu acho que é do sexo em primeiro lugar e depois do cigarro e é lógico que para quem fuma tudo é pior a cura o tratamento é mais difícil depoente nº 9 51 anos tabagista há 8 anos nic iii 390 Carvalho MCMP Paula CL Queiroz ABA Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 nesta categoria ficou clara que a maioria das entrevistadas ancora a origem do problema na relação sexual na traição vinda do parceiro e não ao tabagismo este por sua vez foi representado como um fator contribuinte para o desenvolvimento da doença podendo inclusive causar câncer observase que as mesmas têm noção de que o tabaco é prejudicial à sua saúde e por isso se percebem mais vulneráveis às consequências graves por fumarem do que aquelas mulheres que não são tabagistas os diversos aspectos da associação do fumo com as alterações celulares cervicais vividas são na verdade oriundos do que circulam em seu cotidiano na mídia e até mesmo no universo hospitalar em que estão inseridas pelo tratamento realizado isto influencia na maneira de pensar não só no meio como adquiriram o problema mas principalmente no enfrentamento e tomada de decisões como parar de fumar ou não diante desses fatos a maioria das pessoas interpreta o que lhes acontece forma uma opinião sobre a própria conduta ou a de familiarespessoas e orienta suas ações em conformidade com essa interpretação9 em contrapartida houve um pequeno segmento de entrevistadas que não acreditam existir qualquer relação entre a situação vivida e o tabagismo questionando a real existência da negatividade do fumo com esse problema Veja o depoimento abaixo sei lá não sei será que é por causa do cigarro eu questiono muito Para mim o cigarro não tem ligação nenhuma com isso esse negócio é coisa que a mulher pega e fumar não tem nada a ver Por isso não largo o meu cigarro tenho que cuidar de outro jeito depoente nº 17 32 anos tabagista há 17 anos nic ii enfatizase a posição de Moscovici9 com relação aos indivíduos agirem em função de suas orientações e interpretações ou seja se o cigarro para esse grupo de entrevistadas não é representado como um dos causadores ou potencializadores das lPccu a decisão de querer enfrentar e largar o fumo também não será algo prioritário em sua vida nem mesmo fará parte de seus planos O cigArrO A dOençA e A TenTATivA de mudAnçA de esTiLO de vidA esta categoria deixa clara a tentativa de mudança de estilo de vida quando se descobre o diagnóstico das lPccu e entre essas tentativas está a possibilidade de não continuar sendo tabagista o reconhecimento do fumo como um fator de desenvolvimento das alterações cervicais causa desconforto emocional e contribui de forma significativa para o desenvolvimento do câncer cervicouterino sendo o fumo considerado no universo reificado das ciências como o principal fator de risco para o desenvolvimento dos cânceres por possuir mais de 67 substâncias cancerígenas aumentando o risco de aparecimento dessa doença em até 15 vezes13 é compreensível que haja uma transferência da forma hegemônica para o universo consensual influenciando assim no entendimento social do malefício do tabaco para os indivíduos Historicamente as mulheres passaram a fumar como uma ascensão social e de igualdade de gênero no entanto a relação do uso do cigarro com as mulheres na atualidade é conflitante carreada de transtornos emocionais devido ao fato de as mesmas geralmente fumarem em resposta a situações negativas de vida situações de estresse e na perspectiva de moderar a desmotivação em viver14 Porém quando se veem frente a situações de perigo de vida ou medo do agravamento da doença ou até mesmo da morte como é o caso do câncer que ainda hoje é carreado de ideias que fazem parte do senso comum compartilhadas em um meio social onde informações que circulam e se cristalizam de finitude aparecem como motivadores para deixar o cigarro algumas mulheres veem a necessidade de mudar de costumes principalmente deixando de lado hábitos nocivos como o de fumar beber comer inadequadamente Vale destacar que quando se trata da própria saúde se estabelece um resultado social de construção de padrões de conforto para a sua saúde15 isto pode ser identificado no seguinte depoimento Fumar ainda não consegui parar de fumar Já tentei mas não consegui ainda em me alimentar venho me alimentando melhor Venho comendo certas coisas que antigamente eu não comia muita fruta muitos legumes a gente escuta que a couveflor é muito bom para o útero então eu como bastante couveflor a minha higiene agora é mais rigorosa isso tudo mudou pra caramba a única coisa que eu não consegui largar foi o cigarro mas vou tentar depoente nº 23 32 anos tabagista há 15 anos nic ii nic iii as práticas de mudança de hábito são orientadas por uma lógica que resulta de experiência social16 diante dessa afirmação essas mulheres tentam produzir ações que irão reestabelecer a sua saúde reconhecendo a necessidade de modificarem o seu modo de pensar e agir em relação ao seu bemestar e ao seu corpo o papel que a representação tem em orientar as práticas do indivíduo permite compreender porque alguns problemas se sobressaem numa sociedade17 neste caso quanto às mulheres portadoras de lPccu suscitam decisões tais como aderir ao abandono do tabaco e mudar de estilo de vida que são eventos que se inserem 391 Lesões Precursoras entre Mulheres Tabagistas Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 no papel de orientação das representações acerca dessas lesões e que foram construídas e elaboradas pelo meio social em que convivem A fOrçA dA mídiA cOnTribuindO nO prOcessO de infOrmAçãO a mídia exerce influência no comportamento e estilo de vida das pessoas que muitas vezes idealizam viver o que o personagem ou um produto mostram ser agradável bonito interessante e prazeroso a busca pela aceitação na sociedade e muitas vezes autoafirmação pode levar as pessoas a adquirem hábitos sem um questionamento prévio sobre prejuízos que podem causar inclusive danos à saúde Foi assim que durante muitos anos o cigarro teve uma forte propaganda nos meios de comunicação como uma fonte de glamour e charme ganhando muito de sua força inclusive entre o grupo feminino a indústria do tabaco passava através do marketing que fumar era sinônimo de momentos de prazer e aventura sendo que isso compensava qualquer possibilidade de riscos à saúde pois as condições socioeconômicas e culturais também interferem na aquisição e manutenção do tabagismo diante desse quadro percebese que a associação entre o ato de fumar e um estilo de vida aventureiro e de sedução é comum na propaganda do cigarro18 atualmente encontrase um forte movimento contra a tradição cultural positiva do tabaco tais como as leis estaduais e municipais contra o fumo em determinados locais assim como esforços do Ministério da saúde Ms contra a propaganda e incentivo ao consumo do tabaco Frente a esse cenário tornase evidente que as ações para controle do tabagismo dependam da articulação de diferentes tipos de estratégias tanto nos setores sociais governamentais e não governamentais19 desta forma a referência que se tem do cuidado é voltada para o discurso da mídia evidenciando a valorização da saúde sem tabaco dentro de um circuito de comunicação devese também ressaltar a contribuição de um maior acesso da população às informações conhecimento sobre a doença e prevenção acerca dos fatores de risco para o câncer cervicouterino o papel dos meios de comunicação principalmente a televisão é relevante na construção da subjetividade e do senso comum influenciando na transformação dos hábitos como o tabagismo e a prevenção do câncer cervical20 representações estas que apresentam influência direta do que se ouve falar sobre o problema seja na mídia no meio social em que se vive ou pelo próprio discurso médico dessa maneira algumas mulheres do presente estudo apreendem tais informações e tentam deixar o tabagismo no entanto sabese que parar de fumar não depende somente da informação sobre os seus malefícios do cigarro existem outros fatores que estão envolvidos como a dependência a força de vontade o tratamento contínuo o acesso aos serviços de saúde mas como se destaca no depoimento abaixo sem dúvida o conhecimento nos parece ser o primeiro passo eu fumava 10 cigarros por dia aí eu comecei a ouvir na televisão dizendo que fumar não é bom que traz problemas Mas só larguei depois que comecei a sentir cansada e o médico dizia larga isso mulher deixa de fumar senão vai ficar pior eu larguei depois de 15 anos e aí logo apareceu isso essa doença na televisão eu ouvi a propaganda falando que até essa palavra me conformou muito a moça na propaganda falava assim olha essa doença é perigosa mas é para a pessoa que não se cuida enquanto é uma coisinha pouca e a pessoa se cuidar aquilo ali não tem pra onde ir ela falou essa palavra na televisão aí eu pensei tenho que me cuidar e parar de fumar Foi difícil mas eu consegui Graças a deus depoente nº 14 62 anos extabagista nic iii carcinoma in situ adicionado a esse fato podese ainda citar a forte presença da mídia televisiva como fonte de informações sem contar o círculo de amizades que sem dúvida contribuíram para a formação das representações sociais das lPccu pelas mulheres que utilizam tabaco dessa forma podese compreender como os saberes sociais se constroem pois tratase de saber vinculado ao contexto de uma relação com o meio social em que se vive neste caso os meios de comunicação fornecem discursos e informações com ideias diferentes e acrescentadas a informações do seu meio social ou seja das pessoas que a cercam as mulheres vão construindo e organizando suas representações sobre esse fenômeno tais representações são elaborações formadas a partir das informações que circulam que se renovam e se cristalizam9 dessa maneira as mulheres do presente estudo se apropriam das informações tentando colocálas em prática e deixar de fumar A cuLpA pOr mAnTer O TAbAgismO destarte a difícil tarefa de parar de fumar envolve sentimentos de fracasso desânimo e de culpa por não conseguir alcançar o seu objetivo principalmente quando se reconhece que esse fator é prejudicial ao problema de saúde que é vivenciado nesta categoria foi possível identificar essa visão de culpabilidade frente ao diagnóstico presente e o que o uso do tabaco contínuo pode provocar futuramente o processo de culpa desenvolveuse através de atitudes não tomadas dos cuidados que não foram praticados e 392 Carvalho MCMP Paula CL Queiroz ABA Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 hábitos que não foram abolidos tais como o fumo como um meio de prevenção do câncer do colo uterino segue abaixo o depoimento Porque eu sou relaxada porque eu não fazia preventivo eu não larguei do cigarro eu fumo um maço por dia tentei diminuir mas não deu é vício Fico deprimida quando não fumo Ficava com o pé no chão de barriga molhada não tinha aqueles cuidados porque a mulher é sensível ela tem que ter os seus cuidados por exemplo se você cai e machuca se você não colocar remédio ali vai ficar uma ferida vai infeccionar vai dar até uma doença mesma coisa o cigarro se você sabe que aquilo não é bom e continua vai aparecer problemas e a inflamação do colo do útero é assim começa assim de um grãozinho de areia aquilo vai aumentando eu acho que fiquei assim por isso de não ter cuidado da minha saúde de não parar de fumar de não ir ao médico de seis em seis meses acho assim Já tentei parar mas é muito difícil eu não sei como para de fumar depoente nº 27 31 anos tabagista há 5 anos nic iii carcinoma in situ sabese que para qualquer tratamento de saúde a subjetividade humana os desejos os limites do corpo e da mente estão presentes e devem ser levados em consideração pois o ser humano não é uma máquina que apenas obedece a ordens sem julgamentos interpretações e representações e quando se trata do tabagismo existem diversas barreiras difíceis de transpor para deixar de fumar como síndrome de abstinência depressão ansiedade e falta de concentração de cerca de 80 dos fumantes que desejam parar de fumar apenas 3 conseguem sem ajuda21 Portanto fazse necessário o apoio da equipe multidisciplinar junto a essas mulheres estimulando ao abandono do tabagismo sendo assim é de suma importância que se tenha em mente a preocupação em aproximarnos desse espaço para que se possa melhor orientar e intervir na decisão dessas mulheres tornase relevante ter práticas de intervenção o que modificará as condutas dos sujeitos para revisão de suas práticas de cuidado e prevenção conforme referência de Jodelet acerca da intervenção22 CONCLUSÃO concluise que os resultados deste estudo mostraram que as mulheres acreditam na associação do tabagismo com o desenvolvimento das lesões precursoras do câncer cervicouterino e que esse fator certamente poderia ter sido evitado Percebese que as mulheres reconhecem e entendem que o tabaco é prejudicial à saúde no entanto as falas ilustram a subjetividade dessa população feminina acerca do tabaco e o conflito que se vivencia diante da necessidade de abandonar o tabagismo a relação da doença com o fumo foi evidente no discurso dessas mulheres o que ilustra o forte predomínio sociocultural ancorado na relação entre mulher e tabaco sentimentos de fuga incertezas dúvidas e questionamentos fazem parte da subjetividade dessa população feminina mediante as representações sociais construídas a relevância do estudo consiste em contribuir para a identificação de questões psicossociais que interferem nas atitudes relacionadas ao abandono do cigarro Muitas mulheres revelaram que não conseguiam deixar o fumo mesmo reconhecendo ser prejudicial à sua saúde neste sentido é imprescindível que haja reforços e inovações em programas voltados para a não adesão ao tabagismo além de enfatizar esclarecimentos quanto aos malefícios do seu uso Possibilitase a utilização de abordagens que em nível de seus preceitos e crenças devam ser entendidas pela equipe multidisciplinar considerando que não deve ser valorizado apenas um contexto técnicocientífico e sim o contexto psicossocial histórico e cultural dessas mulheres o estudo criou subsídios na busca de conhecimento das representações das mulheres que fumam indicando uma ferramenta inovadora em nossa prática profissional diária além de possibilitar o desenvolvimento de novas estratégias pois acreditase que diante das representações das mulheres que fumam e que são portadoras de lesões precursoras será possível elaborar intervenções de grande impacto à não adesão ao tabaco pela população feminina CONTRIBUIÇÕES Maria cristina de Melo Pessanha carvalho e carmen lúcia de Paula contribuíram na concepção e planejamento do projeto de pesquisa na obtenção eou análise e interpretação dos dados e na redação e revisão crítica ana Beatriz azevedo Queiroz contribuiu na obtenção eou análise e interpretação dos dados e na redação e revisão crítica Declaração de Conflito de Interesses Nada a Declarar REFERÊNCIAS 1 Instituto Nacional de Câncer Brasil Estimativa 2010 incidência de câncer no Brasil Internet Rio de Janeiro INCA c2009 citado 2011 mar 11 98 p Disponível em httpwww1incagovbr estimativa2010estimativa20091201pdf 2 Longatto Filho A Etlinger D Gomes NS Cruz SV Cavalieri MJ Freqüência de esfregaços cérvicovaginais 393 Lesões Precursoras entre Mulheres Tabagistas Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 anormais em adolescentes e adultas revisão de 308630 casos Rev Inst Adolfo Lutz 2003621314 3 Bosch FX YouLin Q Castellsagué X The epidemioly of human papilomavirus infection and its association with cervical cancer Int J Gynaecol Obstet 200694supp 1s821 4 Instituto Nacional de Câncer Brasil Coordenação de Prevenção e Vigilância Nomenclatura brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas recomendações para profissionais de saúde Rio de Janeiro INCA 2006 5 Coker AL De Simone C Eggleston KS Hopenhayn C Nee J Tucker T Smoking and survival among Kentucky women diagnosed with invasive cervical cancer 1995 2005 Gynecol Oncol 2009 Feb11223659 6 Queiroz AMA Cano MAT Zaia JE O papiloma vírus humano HPV em mulheres atendidas pelo SUS na cidade de Patos de Minas MG Rev Bras Anal Clín 2007 3921517 7 Horta RL Horta BL Pinheiro RT Morales B Srey MN Tabaco álcool e outras drogas entre adolescentes em Pelotas Rio Grande do Sul Brasil uma perspectiva de gênero Cad Saúde Pública 200723477583 8 Melo SCCS Prates L Carvalho MDB Marcon SS Pelloso SM Alterações cito patológicas e fatores de risco para a ocorrência do câncer de colo uterino Rev Gaúcha Enferm 20093046028 9 Moscovici S Representações sociais investigações em psicologia social 4a ed Petrópolis Vozes 2003 10 Jodelet D organizadora As representações sociais Ulup L tradutora Rio de Janeiro EdUERJ 2001 Representações sociais um domínio em expansão p 3161 11 Spink MJ Desvendando as teorias implícitas uma metodologia de análise das representações sociais In Moscovici S org Representações sociais investigações em psicologia social Petrópolis Vozes 2003 12 Bardin L Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 2010 13 Pinheiro SMS Cardoso JP Prado FO Conhecimentos e diagnóstico em câncer bucal entre profissionais de odontologia de Jequié Bahia Rev Bras Cancerol 2010 562195205 14 Eckerdt NS CorradiWebster CM Sentidos sobre o hábito de fumar para mulheres participantes de grupo de tabagistas Rev LatinoAm Enfermagem 201018n espec6417 15 Minayo MCS Hartz ZMA Buss PM Qualidade de vida e saúde um debate necessário Ciênc saúde colet 200051718 16 Ferreira J Cuidado do corpo em vila de classe popular In Duarte LFD Leal OF organizadores Doença sofrimento perturbação perspectivas etnográficas Rio de Janeiro Fiocruz 2001 17 Herzlich CA Problemática da representação social e sua utilidade no campo da doença Physis 200515supl5770 18 Giacomini Filho G Caprino MP A propaganda de cigarro eterno conflito entre público e privado UNIrevista 200631113 19 Cavalcante TM O controle do tabagismo no Brasil avanços e desafios Rev psiquiatr clín 2005325283300 20 Medina CB Corponecessário no telejornal representações sociais sobre o corpo no discurso do risco XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação INTERCOM 69 set 2006 Brasília BR local desconhecido Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 2006 p 115 21 Meirelles RHS Gonçalves CMC Abordagem cognitivo comportamental do fumante Diretrizes para cessação do tabagismo J bras pneumol 200430supl 2s305 22 Jodelet D Imbricações entre representações sociais e intervenção In Moreira ASPM Camargo BV Contribuições para teoria e o método de estudos das representações sociais João Pessoa Ed Universitária 2007 394 Carvalho MCMP Paula CL Queiroz ABA Revista Brasileira de Cancerologia 2011 573 387394 Abstract Introduction it is believed that a possibility to achieve results so as to favor the female population health concerning the high incidence of cervicaluterine cancer is the design of strategies for the prevention of risk factors like tobacco smoking Objective to discuss the association between cervicaluterine cancer precursor lesions and tobacco smoking evidenced in womens talk who have these cervical changes Method Qualitative and descriptive research carried out in a Federal Public institution in the city of rio de Janeiro 40 women who were diagnosed with cervicaluterine cancer precursor lesion participated divided in 22 smokers and 18 women with past history in smoking within the age group from 22 to 70 The data were collected by means of semistructured interviews and analyzed under the perspective of the social representation Theory and categorized according to Bardins content analysis model Results in the womens talk association between tobacco smoking throughout their lives and the development of cervicaluterine cancer precursor lesions is noticed and 4 categories are highlighted the relationship between the disease and tobacco cigarettes the disease and the attempt to change their life style the media strength contributing to the information process the blame for keeping the tobacco smoking Conclusion it can be noticed the need of strategic actions based on the consensual universe of these women that contributes to the importance of fighting tobacco smoking as a preventable risk factor for developing cervicaluterine cancer Key words smoking cervical intraepithelial neoplasia Womens Health Resumen Introducción se acredita que una de las posibilidades para alcanzar resultados de modo a favorecer a salud de la población femenina en relación a alta incidencia de cáncer cervical uterino sea la construcción de estrategias para prevención de los factores de riesgo evitables como el tabaquismo que entre otros contribuye para el desarrollo del mismo Objetivo el objetivo de este estudio consiste en discutir la asociación de las lesiones precursoras del cáncer cervical uterino con el tabaquismo evidenciado en el habla de las mujeres Método la investigación es cualitativa de tipo descriptivo realizada en una institución Pública Federal en el Municipio del rio de Janeiro Participaron 40 mujeres que tenían el diagnóstico de lesión precursora del cáncer cervical uterino divididas en 22 tabaquistas y 18 mujeres con historia previa de tabaquismo entre la franja etaria de 22 y 70 años los datos fueron colectados por medio de entrevistas semiestructuradas y analizados bajo la perspectiva de la teoría de las representaciones sociales y se clasifican de acuerdo a la temática de Bardin Resultados en el habla de las mujeres se destaca la asociación del acto de fumar a lo largo de sus vidas con el desarrollo de las lesiones precursoras del cáncer cervical uterino siendo destacadas 4 categorías la relación de la enfermedad con el tabaco el cigarrillo enfermedad y la tentativa de mudanza de estilo de vida la fuerza de los medios de comunicación contribuyendo en el proceso de información la culpa por mantener el tabaquismo Conclusión en este aspecto se observa que la necesidad de acciones estratégicas basadas en el universo consensual de estas mujeres contribuye a la importancia de la lucha contra el tabaquismo como factor de riesgo evitable para el desarrollo de cáncer de cervical uterino Palabras clave tabaquismo neoplasia intraepitelial del cuello uterino salud de la Mujer