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Copyright © 2013 by Editora Autores Associados Ltda\nTodos os direitos desta edição reservados à Editora Autores Associados Ltda\nDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)\n(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)\n\nSoares, Carmen Lúcia\nImagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX / Carmen Lúcia Soares. - 4. ed. - Campinas, SP: Autores Associados, 2013. - (Coleção educação contemporânea)\n\nISBN 978-85-7496-303-7\n1. Educação Física - História 2. Ginástica - França - História - Século 19 I.\nTítulo. II. Série.\n\n13-06846\nCDD-613.7\n\nÍndices para catálogo sistemático:\n316.7\n\n1ª edição - março de 1998\nImpressa na Indonésia - julho de 2013\n\nEDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA.\nUma editoria educativa a serviço da cultura brasileira\n\nAv. Albino J. B de Oliveira, 901\nBairro Geraldo | CPF 103084-008 | Campinas - SP\nTelefone/Fax: (55) (19) 3899-9000\nVendas: (55) (19) 2492-2800\nE-mail: editora@autoresassociados.com.br\nCatálogo on-line: www.autoresassociados.com.br\n\nConselho Editorial: \"Prof. Casemiro dos Reis Filho\" \nBernadete A. Gatti\nCarlos Roberto Janini Cury\nDemerval Salvani\nGilberto S. de M. Jamuzzi\nMaria Aparecida Motta\nValter E. Garcia\n\nDiretor Executivo\nFlávio Rodrigues dos Reis\n\nCoordenador Editorial\nRodrigo Nascimento\n\nRevisão\nCleide Sáme\nAnna Cláudia Violin\nRafaela Santos Lima\n\nCapa\nCriação a partir de Paul Gauguin\nElijah Oliph (não ao trabalho), 1896, e ilustração\nGinasio Normal, Militar e Civil de Amorros, 1820\nMilton José de Almeida\n\nDiagramação\nMatias S. Zagria\n\nArte-final\nMatias S. Zagria\n\nwww.adcr.org.br\ndenuncie a cópia ilegal Capítulo 2\n\nEducação no corpo\na rua, a festa, o circo, a ginástica\n\nNa Europa, ao longo de todo o século XIX, a ginástica científica afirma-se como parte significativa dos novos códigos de civilidade. Exibe um corpo milimetricamente reformado, cujo porte ostenta uma simetria nunca antes vista. Nada está solto ou largado. Nada está fora do prumo. Esse corpo fechado e empertigado desejou banir qualquer vestígio de exibição do orgânico e, sobretudo, qualquer indício de perda de fixidez, qualquer sinal de um estado de mutação.\n\nForma-se no século XIX, de um modo mais preciso que em outros momentos da história do homem ocidental, uma pedagodia do gesto e da vontade, configurando-se, assim, uma \"educação do corpo\", já reconhecida como importante.\n\nOs silêncios contidos nos gestos esboçam imagens que devem ser internalizadas em posições e comportamentos. A ginástica, com Capítulo 2\n\n20\n\nsuas prescrições, enquadra-se nesta pedagogia e faz-se portadora de preceitos e normas.\n\nO corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados à sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como também seus braços! [VIGARELLO, 1978, p. 9, tradução minha].\n\nOs corpos que se desviam dos padrões de uma normalidade utilitária não interessam. Desde a infância, ou melhor, sobretudo nela, deve incidir uma educação que privilegie a retidão corporal, que mantenha os corpos aprumados, retos ou, como sublinha Vigarello (idem, ibidem), que os mantenha em verticalidade.\n\nO corpo reto e o porte rígido comparam-se nas introduções dos estudos sobre a ginástica no século XIX. Esses estudos, carregados de descrições detalhadas de exercícios físicos que podem moldar e adestrar o corpo, imprimindo-lhe esse porte, reivindicam com insistência seus vínculos com a ciência e se julgam capazes de instaurar uma ordem coletiva. Com esses indícios, a ginástica assegura, nesse momento, o seu lugar na sociedade burguesa.\n\nSua prática, em diferentes países da Europa, faz nascer um grande movimento, que foi chamado, genericamente, de Movimento Ginástico Europeu. Como expressão da cultura, esse movimento constitui-se a partir das relações cotidianas, dos divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia. Possui em seu interior princípios de ordem e disciplina coletiva que podem ser potencializados.\n\nPara sua aceitação, porém, esses princípios de disciplina e ordem não são suficientes. Ao movimento ginástico é exigido o rompimento com seu núcleo primordial, cuja característica dominante se localiza no campo dos divertimentos. É, portanto, a gradativa aceitação dos princípios de ordem e disciplina formulados pelo Movimento Ginástico Europeu e o, também gradativo, afastamento de seu núcleo primordial que vai, pouco a pouco, afirmar a ginástica como parte da educação dos indivíduos. Uma ginástica que reformulará seus preceitos a partir da ciência, da técnica e das condições políticas de uma Europa que, no século XIX, consolidou-se como centro do Ocidente. Porém, é possível destacar que o reconhecimento da ginástica pelos círculos intelectuais é fator decisivo para sua aceitação por uma burguesia que a deseja transformada e, assim, devolvida a população como conjunto de preceitos e normas de bem viver. É a partir desse reconhecimento que, de fato, a ginástica passa a ser vista como prática capaz de potencializar a necessidade de utilidade das ações e dos gestos. Como prática capaz de permitir que o indivíduo venha a internalizar uma noção de economia de tempo, de gasto de energia e de cultivo da saúde como princípios organizadores do cotidiano. E estas são as metas de um poder que, desde o século XVIII, vem construindo uma nova mentalidade científica, prática e pragmática, baseada na ciência e na técnica como formas específicas de saber. Desta forma, o século XIX merece atenção daqueles que desejam compreender o homem e a sociedade do Ocidente. A Europa, que consolida uma dupla revolução, e o lugar da formação de um novo homem e de uma nova sociedade regida por um \"espírito capitalista\" que passa a dominar quase exclusivamente aquele presente. Esse tempo/espaço regido por esse \"espírito\" afirma e difunde uma crença desmedida no chamado progresso e ancora-se nas conquistas da ciência, esta nova religião do homem oitocentista, que cria e (re)cria práticas sociais a partir, exclusivamente, de parâmetros ditados pelo \"método científico\", positivo em si. Uma ideologia cientificista impregna a vida de indivíduos, grupos e classes, transformando a sociedade em um grande organismo vivo que tende a evoluir do inferior ao superior, do simples ao complexo, e onde tudo pode (e deve) ser medido, classificado, comparado, definido e generalizado a partir da descoberta constante de \"leis\". A partir de visões de mundo geradas no interior de teorias evolucionistas, organicistas e mecanicistas, o século XIX realiza a grande revolução científica dos laboratórios, da industrialização e do crescimento de disciplinas e de instituições sociais. Conforme observa Vovelle (1991, p. 144), a \"ideologia científica junto com uma filosofia biológica apoiam esse sistema, que associa a explicação idealista (do progresso da razão) à explicação materialista e mecanicista (os triunfos da vida sobre a morte)\". A ciência desse período dirige um certo tipo de esquadrinhamento da vida em todas as suas dimensões, pretendendo estabelecer uma ordem lógica nas atividades e um adequado aproveitamento do tempo ou, mais precisamente, uma economia de energias. A ginástica é constitutiva dessa mentalidade. Destaca-se pelo seu caráter ordenativo, disciplinar e metódico. É possível afirmar que, ao longo do século XIX, surgem inúmeras tentativas de estender sua prática ao conjunto da população urbana cada vez mais numerosa e potencialmente \"perigosa\" para os objetivos do capital. Havia ainda vantagem na aplicação da ginástica: a suposta aquisição e preservação da saúde, compreendida já como conquista/responsabilidade individual, podia ocorrer como decorrência de sua prática sistemática, afirmavam higienistas e pedagogos, como críticos dos \"excessos do corpo\" vividos por acrobatas e funâmbulos. Abrangendo uma enorme gama de práticas corporais, o termo ginástica, pertencente ao gênero feminino, de designação feminina e que historicamente se constrói a partir de atributos culturalmente definidos como masculinos - força, agilidade, virilidade, energia/ tênpara de caráter, entre outros - passa a compreender diferentes práticas corporais. São exercícios militares de preparação para a guerra, são jogos populares e da nobreza, acrobacias, saltos, corridas, equitação, esgrima, danças e canto. Em suas primeiras sistematizações na sociedade ocidental europeia, o termo ginástica foi assim compreendido. Quando os círculos científicos se debruçam sobre o seu conteúdo, desejam então apriorisar todas as formas/línguas das práticas corporais sob uma única denominação: ginástica. O Movimento Ginástico Europeu foi, portanto, um primeiro esboço desse esforço e o lugar de onde partiram as teorias do hoje denominada educação física no Ocidente. Balizou o pensamento moderno em torno das práticas corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a ideia de saúde, vigor, energia e moral coladas à sua aplicação. Esse é o movimento que pode ser pensado como um conjunto, tematizado pela ciência e pela técnica, do que ocorreu em diferentes países ao longo de todo o século XIX, especialmente na Alemanha, Suécia, Inglaterra e França. Assumido pelos Estados Nacionais, esse movimento apresentava particularidades do país de origem, mas, de um modo geral, acentuava finalidades muito semelhantes, como, por exemplo, regenerar a raça e promover a saúde em uma sociedade marcada pelo alto índice de mortalidade e de doenças, sem contudo alterar as condições de vida e de trabalho. Em um outro plano, as finalidades completavam-se pelo desejo de desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver para servir à pátria nas guerras e na indústria. Mas a finalidade maior foi, sobretudo, moralizar os indivíduos e a sociedade, intervir radicalmente em modos de ser e de viver. Com estas finalidades, esse movimento foi consolidando-se também a partir de diferenças, sendo a mais radical aquela que ocorreu na Inglaterra. Lá, a prática corporal que se afirmou foi o jogo esportivo, constituindo então um movimento que acabou por desenvolver, aprimorar e consolidar a compreensão do esporte moderno. Nos demais países europeus, afirmou-se a ginástica, cujo conteúdo básico fora definido a partir de parâmetros formulados pela cultura grega, que a compreendia ligada à ideia de saúde, beleza e força. Ciência e arte, então, explicitavam para essa cultura as diferenças a explicar, as possibilidades de classificação, advertindo, ainda, a relação dos exercícios sobre os indivíduos. Explicavam, ainda, a relação direta que se acreditava existir entre a ginástica e o desenvolvimento do caráter, da moral e da virtude. Ciência e técnica parecem ter sempre comparado para afirmar a ginástica como instrumento de aquisição de saúde, de formação estética e de treinamento do soldado. Comparam-se, sobretudo, para revelar a ginástica como protagonista do que é racional, experimentado e explicado. É somente a partir da revelação do caráter científico da ginástica que a burguesia do século XIX inicia um lento processo de tentativa de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil. Solicita-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não de oposições, e pensava-se, sobretudo, na preservação da disciplina e da ordem, tão caras à instituição militar. Na França, havia uma vontade manifesta de sistematizar saberes que permitissem a compreensão da ginástica a partir de cânones científicos. Desejava-se fazer dela um objeto de investigação científica e, desse modo, apartá-la definitivamente de seus vínculos populares. E são estes aspectos, bastante acentuados, que fazem multifacetada e contraditória em seu desenvolvimento no século XIX, tornando-a, assim, referência para o desenvolvimento deste trabalho. Cabe registrar também que os homens de ciência que na França se dedicaram ao estudo da ginástica se declaravam profundos admiradores da cultura grega, julgando-se, inclusive, seus legítimos continuadores. Percebiam a ginástica como importante instrumento de recuperação daquela cultura e sociedade, por eles identificada como portadora da mais absoluta harmonia. A ginástica então deveria ser pensada pelo aparato científico disponível e assim colocada em igualdade com outras práticas sociais, explicitada e sistematizada. Devia tornar-se obrigatória para a sociedade em geral, bem como prática regular em todos os currículos escolares. A base de saberes que serviu para estruturar um conhecimento mais preciso sobre a ginástica se localizou principalmente na anatomia e fisiologia, a partir das quais, meticulosamente, foi estruturado um grande esboço do que se poderia chamar de “teoria geral da ginástica”. Como se poderá observar nos primeiros trabalhos sobre ginástica, não há menor descuido com a globalidade do corpo em ações específicas, nas quais explicações também específicas para cada ação foram buscadas, nada escapando aos mil olhos da ciência. Autores como G. Demeny12, E. Marey13, F. Lagrange14, renomados cientistas que se debruçavam sobre o estudo e o aperfeiçoamento do gesto no trabalho, elegem a ginástica como instrumento privilegiado para treinar o gesto harmônico e econômico. Afinados com o Estado constituído, exhortam a moral de classe (burguese) afirmando, em seus tratados sobre a ginástica, o “culto” à saúde, ao corpo e à pátria. \"Oculto\", contudo, o raciocínio que cria os meios, bem mais profundos e maiores do que a ginástica, para a obtenção da saúde. De uma saúde que não pode ser obtida nem preservada em condições miseráveis e degradantes que estava sujeita a maioria da população que exercia algum tipo de \"trabalho livre\" na indústria, no comércio, nas minas. Lugares que fazem nascer e crescer o tão propalado progresso no mundo ora dominado pela ciência e pela técnica, essas musas da burguesia que realizam o seu triunfo. A ginástica, então, passa a ser apresentada como produto acabado e comprovadamente científico. Radicaliza, no universo das práticas. Educação no corpo\n\ncorporais existentes, a visão de ciência como atividade humana capaz de controlar, experimentar, comparar e generalizar as ações de indivíduos, grupos e classes.\n\nDo menor gesto do trabalhador em \"atividade produtiva\" na indústria e fábrica, que se affirmam como expressão do domínio do homem sobre a natureza, até mais ousada acrobacia, seria a ciência a prescrever, indicar e ditar, enfim, o modo de realizar a tarefa... a forma de viver. A ginástica científica apresentava-se como contraponto aos usos do corpo como entretenimento, como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia.\n\nDesse modo, práticas corporais realizadas nas feiras, nos circos, onde palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertavam sentimentos ambíguos de maravilhamento e medo passam a ser observadas de perto pelas autoridades.\n\nO circo é uma atividade que exerce grande fascínio na sociedade europeia do século XIX. Ali o corpo é o centro do espetáculo, de todas as \"variedades\" apresentadas pela multifacetada atuação de seus artistas.\n\nConforme observa Catherine Strasser (1991, pp. 6-8), nas últimas décadas do século XIX, o circo surgia como a encarnação do espetáculo moderno e seu sucesso era inegável nas diferentes classes sociais que, inclusive, assistiam ao mesmo espetáculo, porém em dias e horários especiais. Nas artes plásticas, também, o seu registro é singular: Seurat, Degas, Renoir, Toulouse-Lautrec trabalharam em seus quadros toda a orgia de movimentos e cores que o circo oferecia.\n\nMas tudo isso não impediu o crescente receio da família burguesa, de profissionais que \"cuidavam\" do corpo, como, por exemplo, os médicos, de higienistas e filantropos frente a esse universo que se apresentava de modo tão encantador e, porque não dizer, \"perigoso\" para a ideia de disciplina e ordem burguesas, sobretudo no que se refere aos usos do corpo. A razão básica do crescente receio era a constatação de que o universo gestual próprio do circo apresentava uma total ausência de utilidade. O corpo ali exibido em movimento constante despertava utilidade.
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Copyright © 2013 by Editora Autores Associados Ltda\nTodos os direitos desta edição reservados à Editora Autores Associados Ltda\nDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)\n(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)\n\nSoares, Carmen Lúcia\nImagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX / Carmen Lúcia Soares. - 4. ed. - Campinas, SP: Autores Associados, 2013. - (Coleção educação contemporânea)\n\nISBN 978-85-7496-303-7\n1. Educação Física - História 2. Ginástica - França - História - Século 19 I.\nTítulo. II. Série.\n\n13-06846\nCDD-613.7\n\nÍndices para catálogo sistemático:\n316.7\n\n1ª edição - março de 1998\nImpressa na Indonésia - julho de 2013\n\nEDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA.\nUma editoria educativa a serviço da cultura brasileira\n\nAv. Albino J. B de Oliveira, 901\nBairro Geraldo | CPF 103084-008 | Campinas - SP\nTelefone/Fax: (55) (19) 3899-9000\nVendas: (55) (19) 2492-2800\nE-mail: editora@autoresassociados.com.br\nCatálogo on-line: www.autoresassociados.com.br\n\nConselho Editorial: \"Prof. Casemiro dos Reis Filho\" \nBernadete A. Gatti\nCarlos Roberto Janini Cury\nDemerval Salvani\nGilberto S. de M. Jamuzzi\nMaria Aparecida Motta\nValter E. Garcia\n\nDiretor Executivo\nFlávio Rodrigues dos Reis\n\nCoordenador Editorial\nRodrigo Nascimento\n\nRevisão\nCleide Sáme\nAnna Cláudia Violin\nRafaela Santos Lima\n\nCapa\nCriação a partir de Paul Gauguin\nElijah Oliph (não ao trabalho), 1896, e ilustração\nGinasio Normal, Militar e Civil de Amorros, 1820\nMilton José de Almeida\n\nDiagramação\nMatias S. Zagria\n\nArte-final\nMatias S. Zagria\n\nwww.adcr.org.br\ndenuncie a cópia ilegal Capítulo 2\n\nEducação no corpo\na rua, a festa, o circo, a ginástica\n\nNa Europa, ao longo de todo o século XIX, a ginástica científica afirma-se como parte significativa dos novos códigos de civilidade. Exibe um corpo milimetricamente reformado, cujo porte ostenta uma simetria nunca antes vista. Nada está solto ou largado. Nada está fora do prumo. Esse corpo fechado e empertigado desejou banir qualquer vestígio de exibição do orgânico e, sobretudo, qualquer indício de perda de fixidez, qualquer sinal de um estado de mutação.\n\nForma-se no século XIX, de um modo mais preciso que em outros momentos da história do homem ocidental, uma pedagodia do gesto e da vontade, configurando-se, assim, uma \"educação do corpo\", já reconhecida como importante.\n\nOs silêncios contidos nos gestos esboçam imagens que devem ser internalizadas em posições e comportamentos. A ginástica, com Capítulo 2\n\n20\n\nsuas prescrições, enquadra-se nesta pedagogia e faz-se portadora de preceitos e normas.\n\nO corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados à sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como também seus braços! [VIGARELLO, 1978, p. 9, tradução minha].\n\nOs corpos que se desviam dos padrões de uma normalidade utilitária não interessam. Desde a infância, ou melhor, sobretudo nela, deve incidir uma educação que privilegie a retidão corporal, que mantenha os corpos aprumados, retos ou, como sublinha Vigarello (idem, ibidem), que os mantenha em verticalidade.\n\nO corpo reto e o porte rígido comparam-se nas introduções dos estudos sobre a ginástica no século XIX. Esses estudos, carregados de descrições detalhadas de exercícios físicos que podem moldar e adestrar o corpo, imprimindo-lhe esse porte, reivindicam com insistência seus vínculos com a ciência e se julgam capazes de instaurar uma ordem coletiva. Com esses indícios, a ginástica assegura, nesse momento, o seu lugar na sociedade burguesa.\n\nSua prática, em diferentes países da Europa, faz nascer um grande movimento, que foi chamado, genericamente, de Movimento Ginástico Europeu. Como expressão da cultura, esse movimento constitui-se a partir das relações cotidianas, dos divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia. Possui em seu interior princípios de ordem e disciplina coletiva que podem ser potencializados.\n\nPara sua aceitação, porém, esses princípios de disciplina e ordem não são suficientes. Ao movimento ginástico é exigido o rompimento com seu núcleo primordial, cuja característica dominante se localiza no campo dos divertimentos. É, portanto, a gradativa aceitação dos princípios de ordem e disciplina formulados pelo Movimento Ginástico Europeu e o, também gradativo, afastamento de seu núcleo primordial que vai, pouco a pouco, afirmar a ginástica como parte da educação dos indivíduos. Uma ginástica que reformulará seus preceitos a partir da ciência, da técnica e das condições políticas de uma Europa que, no século XIX, consolidou-se como centro do Ocidente. Porém, é possível destacar que o reconhecimento da ginástica pelos círculos intelectuais é fator decisivo para sua aceitação por uma burguesia que a deseja transformada e, assim, devolvida a população como conjunto de preceitos e normas de bem viver. É a partir desse reconhecimento que, de fato, a ginástica passa a ser vista como prática capaz de potencializar a necessidade de utilidade das ações e dos gestos. Como prática capaz de permitir que o indivíduo venha a internalizar uma noção de economia de tempo, de gasto de energia e de cultivo da saúde como princípios organizadores do cotidiano. E estas são as metas de um poder que, desde o século XVIII, vem construindo uma nova mentalidade científica, prática e pragmática, baseada na ciência e na técnica como formas específicas de saber. Desta forma, o século XIX merece atenção daqueles que desejam compreender o homem e a sociedade do Ocidente. A Europa, que consolida uma dupla revolução, e o lugar da formação de um novo homem e de uma nova sociedade regida por um \"espírito capitalista\" que passa a dominar quase exclusivamente aquele presente. Esse tempo/espaço regido por esse \"espírito\" afirma e difunde uma crença desmedida no chamado progresso e ancora-se nas conquistas da ciência, esta nova religião do homem oitocentista, que cria e (re)cria práticas sociais a partir, exclusivamente, de parâmetros ditados pelo \"método científico\", positivo em si. Uma ideologia cientificista impregna a vida de indivíduos, grupos e classes, transformando a sociedade em um grande organismo vivo que tende a evoluir do inferior ao superior, do simples ao complexo, e onde tudo pode (e deve) ser medido, classificado, comparado, definido e generalizado a partir da descoberta constante de \"leis\". A partir de visões de mundo geradas no interior de teorias evolucionistas, organicistas e mecanicistas, o século XIX realiza a grande revolução científica dos laboratórios, da industrialização e do crescimento de disciplinas e de instituições sociais. Conforme observa Vovelle (1991, p. 144), a \"ideologia científica junto com uma filosofia biológica apoiam esse sistema, que associa a explicação idealista (do progresso da razão) à explicação materialista e mecanicista (os triunfos da vida sobre a morte)\". A ciência desse período dirige um certo tipo de esquadrinhamento da vida em todas as suas dimensões, pretendendo estabelecer uma ordem lógica nas atividades e um adequado aproveitamento do tempo ou, mais precisamente, uma economia de energias. A ginástica é constitutiva dessa mentalidade. Destaca-se pelo seu caráter ordenativo, disciplinar e metódico. É possível afirmar que, ao longo do século XIX, surgem inúmeras tentativas de estender sua prática ao conjunto da população urbana cada vez mais numerosa e potencialmente \"perigosa\" para os objetivos do capital. Havia ainda vantagem na aplicação da ginástica: a suposta aquisição e preservação da saúde, compreendida já como conquista/responsabilidade individual, podia ocorrer como decorrência de sua prática sistemática, afirmavam higienistas e pedagogos, como críticos dos \"excessos do corpo\" vividos por acrobatas e funâmbulos. Abrangendo uma enorme gama de práticas corporais, o termo ginástica, pertencente ao gênero feminino, de designação feminina e que historicamente se constrói a partir de atributos culturalmente definidos como masculinos - força, agilidade, virilidade, energia/ tênpara de caráter, entre outros - passa a compreender diferentes práticas corporais. São exercícios militares de preparação para a guerra, são jogos populares e da nobreza, acrobacias, saltos, corridas, equitação, esgrima, danças e canto. Em suas primeiras sistematizações na sociedade ocidental europeia, o termo ginástica foi assim compreendido. Quando os círculos científicos se debruçam sobre o seu conteúdo, desejam então apriorisar todas as formas/línguas das práticas corporais sob uma única denominação: ginástica. O Movimento Ginástico Europeu foi, portanto, um primeiro esboço desse esforço e o lugar de onde partiram as teorias do hoje denominada educação física no Ocidente. Balizou o pensamento moderno em torno das práticas corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a ideia de saúde, vigor, energia e moral coladas à sua aplicação. Esse é o movimento que pode ser pensado como um conjunto, tematizado pela ciência e pela técnica, do que ocorreu em diferentes países ao longo de todo o século XIX, especialmente na Alemanha, Suécia, Inglaterra e França. Assumido pelos Estados Nacionais, esse movimento apresentava particularidades do país de origem, mas, de um modo geral, acentuava finalidades muito semelhantes, como, por exemplo, regenerar a raça e promover a saúde em uma sociedade marcada pelo alto índice de mortalidade e de doenças, sem contudo alterar as condições de vida e de trabalho. Em um outro plano, as finalidades completavam-se pelo desejo de desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver para servir à pátria nas guerras e na indústria. Mas a finalidade maior foi, sobretudo, moralizar os indivíduos e a sociedade, intervir radicalmente em modos de ser e de viver. Com estas finalidades, esse movimento foi consolidando-se também a partir de diferenças, sendo a mais radical aquela que ocorreu na Inglaterra. Lá, a prática corporal que se afirmou foi o jogo esportivo, constituindo então um movimento que acabou por desenvolver, aprimorar e consolidar a compreensão do esporte moderno. Nos demais países europeus, afirmou-se a ginástica, cujo conteúdo básico fora definido a partir de parâmetros formulados pela cultura grega, que a compreendia ligada à ideia de saúde, beleza e força. Ciência e arte, então, explicitavam para essa cultura as diferenças a explicar, as possibilidades de classificação, advertindo, ainda, a relação dos exercícios sobre os indivíduos. Explicavam, ainda, a relação direta que se acreditava existir entre a ginástica e o desenvolvimento do caráter, da moral e da virtude. Ciência e técnica parecem ter sempre comparado para afirmar a ginástica como instrumento de aquisição de saúde, de formação estética e de treinamento do soldado. Comparam-se, sobretudo, para revelar a ginástica como protagonista do que é racional, experimentado e explicado. É somente a partir da revelação do caráter científico da ginástica que a burguesia do século XIX inicia um lento processo de tentativa de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil. Solicita-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não de oposições, e pensava-se, sobretudo, na preservação da disciplina e da ordem, tão caras à instituição militar. Na França, havia uma vontade manifesta de sistematizar saberes que permitissem a compreensão da ginástica a partir de cânones científicos. Desejava-se fazer dela um objeto de investigação científica e, desse modo, apartá-la definitivamente de seus vínculos populares. E são estes aspectos, bastante acentuados, que fazem multifacetada e contraditória em seu desenvolvimento no século XIX, tornando-a, assim, referência para o desenvolvimento deste trabalho. Cabe registrar também que os homens de ciência que na França se dedicaram ao estudo da ginástica se declaravam profundos admiradores da cultura grega, julgando-se, inclusive, seus legítimos continuadores. Percebiam a ginástica como importante instrumento de recuperação daquela cultura e sociedade, por eles identificada como portadora da mais absoluta harmonia. A ginástica então deveria ser pensada pelo aparato científico disponível e assim colocada em igualdade com outras práticas sociais, explicitada e sistematizada. Devia tornar-se obrigatória para a sociedade em geral, bem como prática regular em todos os currículos escolares. A base de saberes que serviu para estruturar um conhecimento mais preciso sobre a ginástica se localizou principalmente na anatomia e fisiologia, a partir das quais, meticulosamente, foi estruturado um grande esboço do que se poderia chamar de “teoria geral da ginástica”. Como se poderá observar nos primeiros trabalhos sobre ginástica, não há menor descuido com a globalidade do corpo em ações específicas, nas quais explicações também específicas para cada ação foram buscadas, nada escapando aos mil olhos da ciência. Autores como G. Demeny12, E. Marey13, F. Lagrange14, renomados cientistas que se debruçavam sobre o estudo e o aperfeiçoamento do gesto no trabalho, elegem a ginástica como instrumento privilegiado para treinar o gesto harmônico e econômico. Afinados com o Estado constituído, exhortam a moral de classe (burguese) afirmando, em seus tratados sobre a ginástica, o “culto” à saúde, ao corpo e à pátria. \"Oculto\", contudo, o raciocínio que cria os meios, bem mais profundos e maiores do que a ginástica, para a obtenção da saúde. De uma saúde que não pode ser obtida nem preservada em condições miseráveis e degradantes que estava sujeita a maioria da população que exercia algum tipo de \"trabalho livre\" na indústria, no comércio, nas minas. Lugares que fazem nascer e crescer o tão propalado progresso no mundo ora dominado pela ciência e pela técnica, essas musas da burguesia que realizam o seu triunfo. A ginástica, então, passa a ser apresentada como produto acabado e comprovadamente científico. Radicaliza, no universo das práticas. Educação no corpo\n\ncorporais existentes, a visão de ciência como atividade humana capaz de controlar, experimentar, comparar e generalizar as ações de indivíduos, grupos e classes.\n\nDo menor gesto do trabalhador em \"atividade produtiva\" na indústria e fábrica, que se affirmam como expressão do domínio do homem sobre a natureza, até mais ousada acrobacia, seria a ciência a prescrever, indicar e ditar, enfim, o modo de realizar a tarefa... a forma de viver. A ginástica científica apresentava-se como contraponto aos usos do corpo como entretenimento, como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia.\n\nDesse modo, práticas corporais realizadas nas feiras, nos circos, onde palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertavam sentimentos ambíguos de maravilhamento e medo passam a ser observadas de perto pelas autoridades.\n\nO circo é uma atividade que exerce grande fascínio na sociedade europeia do século XIX. Ali o corpo é o centro do espetáculo, de todas as \"variedades\" apresentadas pela multifacetada atuação de seus artistas.\n\nConforme observa Catherine Strasser (1991, pp. 6-8), nas últimas décadas do século XIX, o circo surgia como a encarnação do espetáculo moderno e seu sucesso era inegável nas diferentes classes sociais que, inclusive, assistiam ao mesmo espetáculo, porém em dias e horários especiais. Nas artes plásticas, também, o seu registro é singular: Seurat, Degas, Renoir, Toulouse-Lautrec trabalharam em seus quadros toda a orgia de movimentos e cores que o circo oferecia.\n\nMas tudo isso não impediu o crescente receio da família burguesa, de profissionais que \"cuidavam\" do corpo, como, por exemplo, os médicos, de higienistas e filantropos frente a esse universo que se apresentava de modo tão encantador e, porque não dizer, \"perigoso\" para a ideia de disciplina e ordem burguesas, sobretudo no que se refere aos usos do corpo. A razão básica do crescente receio era a constatação de que o universo gestual próprio do circo apresentava uma total ausência de utilidade. O corpo ali exibido em movimento constante despertava utilidade.