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Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 64 Como parte das ambiguidades das relações euroamericanas o Tratado de alarga mento leva ao distanciamento O sucesso da integração eleva as criticas europeias às políticas de direitos humanos meio ambiente e unilateralismo norteamericanos A União Europeia intensifica sua cooperação na PESC em parcerias extracontinentais e a atuação em organismos multilaterais oferecendo uma alternativa de poder civil global ao crescente militarismo dos Estados Unidos A Velha e a Nova Europa o Unilateralismo de W Bush 20012004 Desde 2000 último ano da administração de Bill Clinton as relações entre os Estados Unidos e a Europa experimentaram alguns desacordos devido ao crescente poder de influência dos neoconservadores na política interna Em resposta a essas pressões consubstanciadas no processo de impeachment de Clinton 19981999 e em documentos como os do PNAC e a agenda eleitoral de 2000 defendida por Bush filho a administração democrata intensificou ações unilaterais no Oriente Médio e na África visando demonstrar força Estes fatores combinados com o aumento de confiança europeu devido ao sucesso do aprofundamento e do início dos primeiros processos de alargamento ao leste paralelo à expansão da OTAN provocaram um relativo distanciamento entre os dois lados do Atlântico Do lado norteamericano críticas como as de Kagan 2003 à postura europeia eram comuns entre os círculos neoconservadores Porém essas críticas não se restringiam à direita mais radical estendendose aos liberais e aos conservadores moderados Per tencente ao segundo espectro autores como Daalder 2001 reconhecem a existência de um afastamento mútuo derivado de diferentes prioridades internas e externas das agendas dos parceiros Ao diagnosticar este processo o autor indica que Cada vez mais as relações Estados UnidosEuropa giram em torno da crescente di vergência de agendas entre os dois lados Para os Estados Unidos a política externa é primeiro e antes de qualquer coisa pensada a partir de ameaças tanto ameaças tradicionais incluindo crises políticas e militares em países que são amigos e aliados dos Estados Unidos provocados por países hostis aos interesses norteamericanos quanto às novas ameaças resultantes da proliferação de armas de destruição em massa o maior poder de grupos terroristas e outros atores não estatais e a crescente vulnerabilidade da sociedade a ataques diretos Para a Europa a agenda de política externa é muito mais ampla incluindo administrar ameaças presentes à segurança humana que resultam de doenças alimentares e clima abordando o novo conjunto de mudanças que emerge em mundo globalizado e na consolidação da democracia na Europa e além DAALDER 2001 p 559 tradução da autora Apesar de apresentar um tom menos agressivo do que o de Kagan a tese de Daalder é similar uma vez que aponta que as divergências residem em percepções diferenciadas de mundo Os autores entretanto discordam em como lidar com essa situação enquanto Kagan defende a manutenção da plena autonomia norteamericana diante da Europa Ocidental não se adequando às suas demandas kantianas posição que se converte no teor dominante da administração W Bush a partir de Janeiro de 2001 Daalder fala da necessidade de uma acomodação mútua Tal acomodação não 65 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais significa que ambos iriam abrir mão de suas prioridades seja a integração europeia no caso europeu ou a presença na Eurásia e nas Américas pelo lado dos Estados Unidos mas sim a busca de novos elementos comuns para a parceria transatlântica Mais ainda seria um processo que demandaria de ambos os lados concessões mútuas para compreender melhor as preocupações do parceiro Refutando a ideia do divórcio transatlântico que cada vez mais se popularizava no contexto de 2001 Daalder defende uma parceria renovada que seria organizada nos seguintes termos os problemas do mundo são muito complexos e difusos para que um só país mesmo um tão poderoso quanto os Estados Unidos possa administrar sozinho De todos os países do mundo somente os membros da União Europeia detêm a capacidade natural para serem os parceiros de Washington nessas tarefas comuns Mas somente a lógica não é suficiente para estabelecer uma nova parceria A Europa precisará aumentar sua capacidade para ações conjuntas em particular no campo militar Finalmente uma parceria renovada demandará que os Estados Unidos concordem em dar à Europa uma voz maior e na verdade igualitária na parceria como também precisará demonstrar que está comprometido com meios de segurança internacional cooperativos incluindo tratados regimes e normas para fortalecer a segurança a pros peridade e o bemestar de todos DAALDER 2001 p 564 tradução da autora De janeiro a setembro de 2001 as relações transatlânticas tiveram como caracterís tica básica a insatisfação europeia diante das atitudes unilaterais de Bush filho Desde que tomou posse na Casa Branca W Bush reverteu uma série de compromissos de Clinton em áreas como direitos humanos e meio ambiente temas vistos como priori tários pela União Europeia A recusa em assinar o Tratado de Quioto a oposição ao Tribunal Penal Internacional a retomada do projeto de instalar o escudo antimísseis na Europa com foco nos novos membros da OTAN no leste eram decisões republicanas que afetavam diretamente os interesses europeus As negociações comerciais da OMC também ficaram em segundo plano Embora não existisse um real avanço da PESC havia manifestações dos países europeus contrários à visão unipolar e unilateral da política internacional dos Estados Unidos Tais manifestações entretanto eram restritas a França e Alemanha em menor escala líderes da integração não se estendendo aos novos membros da OTAN aos países menores do arranjo e à GrãBretanha O ataque ao território continental norteamericano em 1109 provocou uma inflexão relativa nesse cenário reativando a convergência atlântica A União Europeia e a OTAN que invocou o artigo 5 de sua Carta correspondente à defesa coletiva rapidamente declararam seu apoio e solidariedade aos Estados Unidos Por sua vez o governo Bush filho retomou brevemente uma postura multilateral visando justamente solidificar essa aproximação garantindo suporte para a sua GWT Em novembro de 2001 este suporte converteuse na Operação Liberdade Dura doura no Afeganistão realizada pela OTAN Elemento adicional de convergência era o temor compartilhado pela Europa Ocidental do avanço do fundamentalismo islâmico validando as ações norteamericanas de repressão Em termos multilaterais lançouse com apoio europeu à iniciativa norteamericana a Rodada do Desenvolvimento Doha na OMC Neste mesmo ano a Operação no Afeganistão foi declarada um sucesso com Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 66 a deposição do Talibã do poder A Guerra do Afeganistão foi a primeira aplicação da nova missão estratégica da aliança que supunha operações fora de sua área geográfica demonstrando a sua capacidade de projeção de poder Em 2002 a União Europeia foi integrada ao Quarteto de Madri do qual também fazem parte Estados Unidos Rússia e Nações Unidas visando destravar as negociações de paz do Oriente Médio tendo como base o Mapa da Estrada O Mapa da Estrada era uma resposta da administração W Bush à ausência de progressos na questão Is raelPalestina e às críticas que apontavam seu alinhamento a Israel no pós1109 As negociações desde então pouco avançaram como discutido no Capítulo 5 O bom clima bilateral rapidamente se esgotaria a partir de 2002 Conduzidas no âmbito das Nações Unidas as negociações que antecederam à invasão do Iraque foram caracte rizadas por uma polarização entre as posições norteamericana britânica francesa alemã e russa Os Estados Unidos com o apoio da GrãBretanha de Blair estabeleceram que o Iraque de Saddam Hussein representava uma ameaça real à segurança global devido a sua posse de armas de destruição em massa e ambições de hegemonia regional Na lógica da Doutrina Bush o Iraque definido como membro do Eixo do Mal deveria ser alvo de uma intervenção preventiva Com isso os Estados Unidos construíram a Coalizão da Vontade Entretanto a lógica preventiva ou a percepção do Iraque como ameaça iminente não foi compartilhada por França Alemanha e Rússia Em oposição à Coalizão da Vontade na qual os membros majoritários Estados Unidos e GrãBretanha eram acompanhados por nações de menor poder estratégico na Europa Ocidental e Oriental como Portugal Espanha Romênia Bulgária estabeleceuse o Eixo da Paz ParisBerlimMoscou Ao lado do objetivo declarado da defesa do multilateralismo o Eixo da Paz detinha propósitos estratégicos ao se contrapor aos Estados Unidos a operação no Iraque caso bem sucedida permitiria aos norteamericanos controlar grande parte das reservas energéticas do Oriente Médio afetando diretamente os europeus e potências emergentes como China e Índia consumidoras desses recursos no caso da Rússia a projeção norteamericana no Iraque afetaria ainda mais a geopolítica regional do Oriente Médio e da Ásia Central em detrimento de seus interesses estratégicos e no setor de energia Além da expansão da OTAN ao ocidente a Rússia que apoiara a operação no Afeganistão seria pressionada ainda mais ao Oriente para a complexidade dessas movimentações ver Seção 41 Assim tanto a Europa Ocidental quanto a Rússia visavam conter o avanço norteamericano nesse espaço geopolítico Simbolicamente o auge da confrontação atlântica foi representada pela declaração do Secretário de Defesa Donald Rumsfeld referente à existência da Velha Europa e à Nova Europa Enquanto a Velha Europa representada por França e Alemanha encontravase alienada das grandes questões internacionais e se omitia diante de decisões difíceis os Estados Unidos viviam em um mundo real de ameaças e escolhas estratégicas Nesse mundo real somente poderiam contar com o apoio da Nova Europa e da tradicional aliada GrãBretanha4 Rumsfeld chegou a anunciar a intenção norteamericana de rever o posicionamento das tropas da OTAN no continente sugerindo o seu deslocamento do ocidente para o oriente 4 Outra hipótese que se tornou corrente referiase à motivação norteamericana de invadir o Iraque para impedir a consolidação do euro como moeda de reserva uma vez que diversas petromonarquias do Oriente Médio estariam trocando suas reservas em dólar pelo euro 67 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais A declaração foi feita em tom de ameaça explorando a fragilidade estratégica da Europa Ocidental no campo militar Devese destacar que o apoio da Nova Europa aos Estados Unidos respondia a uma tentativa de alinhamento para obter vantagens tanto que essas nações em nenhum momento expressaram qualquer intenção de abrir mão de sua política de pertencimento à União Europeia Ainda que percebessem os Estados Unidos como fonte de possíveis benefícios estratégicos em segurança defesa e energia esses países tinham forte interdependência comercial e econômica com a Europa da qual não poderiam abrir mão Da mesma forma para os Estados Unidos este era um apoio que pouco agregava em termos de poder e recursos financeiros sendo mais simbólico e logístico França e Alemanha repudiaram abertamente as declarações de Rumsfeld alimen tando a hipótese de um divórcio atlântico Episódios folclóricos adicionais marcaram o período como a proibição do uso do termo french fries batatas fritas francesas que na realidade eram belgas nos Estados Unidos e a sua troca para freedom fries fritas da liberdade À parte dessas questões mais midiáticas o que o episódio revelou foram os rachas préexistentes e a insatisfação com o unilateralismo De acordo com Todd 2002 as maiores novidades do período foram a autonomia alemã e a parceria russofrancoalemã No caso da Alemanha esse episódio sob o governo de Gerhard Schroeder 19982005 com Joschka Fischer à frente do Minis tério das Relações Exteriores representou um desalinhamento quase que inédito nas relações germanoamericanas que mantiveram um padrão de consistente aproximação durante a Guerra Fria e na primeira década do pós1989 A oposição da França nesse período governada pelo Presidente Jacques Chirac 19952007 não era inédita uma vez que o país em particular durante os anos 1960 de gestão De Gaulle 19591969 buscou uma posição autônoma diante dos norteamericanos No que se refere à parceria russofrancoalemã abriase uma oportunidade de aliança política inovadora que se somaria aos laços econômicos em desenvolvimento entre a Rússia e a Europa Ocidental Tais laços sustentavamse no aumento do comércio intracontinental e na crescente dependência energética da Europa Ocidental da Rússia no setor do gás Desta forma poderia existir um salto qualitativo nas relações já exis tentes aproveitando essa aliança para se contrapor aos Estados Unidos De acordo com Todd 2002 a Rússia supriria a deficiência estratégica europeia beneficiandose das trocas econômicas com o continente Nesta lógica ambos se tornariam mais autônomos e menos vulneráveis ao unilateralismo de Bush filho A reativação da aliança atlântica no pós2005 demonstrou porém o razoável exagero do potencial da aliança estratégica RússiaEuropa Ocidental Ainda que realmente existissem naquele contexto laços econômicos crescentes entre ambos e temores diante dos Estados Unidos as desconfianças mútuas impediam a construção de uma parceria estratégica efetiva No caso russo prevalece a percepção de ameaça representada pela OTAN e o avanço ocidental na Ásia Central ver Seção 41 as sociada às tentativas vistas como de ingerência em seus assuntos internos no campo da democracia e direitos humanos Além disso o elemento energético é uma forma de pressionar a Europa Ocidental e angariar recursos Por sua vez a Europa Ocidental teme o poder militar russo e o vazio estratégico que resultaria da quebra de aliança com os Estados Unidos Isso levaria a duas situações ou a recriação da dependência estratégica agora com a Rússia ou ao aumento de responsa bilidades e capacidades militares da Europa com o aprofundamento da PESC Apesar da Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 68 continuidade das políticas de aprofundamento da integração com o início das discussões sobre a entrada em vigor de uma Constituição Europeia a partir da Declaração de Laeken 2004 o elemento militar não agregava consenso dentro do bloco Os atentados terroris tas de Madrid em 2004 somente acentuaram os temores europeus no campo estratégico Por fim há de se mencionar o receio europeu diante do avanço das civilizações não ocidentais como a China e Índia o que a remete a aproximarse dos Estados Unidos como forma de unir forças ocidentais contra as nações emergentes bloco do qual a Rússia passou a fazer parte como BRIC A somatória desses fatores à reformulação da política externa de Bush filho empreendida por Rice a partir de janeiro de 2005 encerraram essa fase de divergências levando à reafirmação da parceria transatlântica Reconciliação e Estagnação 20052012 Em 2005 o processo de reconciliação entre os Estados Unidos e a Europa desenvol veuse em torno de temas como a revitalização da aliança estratégica tendo como base as reformas de Rice à frente da Secretaria de Estado Como visto no Capítulo 1 essas reformas sinalizavam a renovada disposição da presidência W Bush em reaproximarse de aliados tradicionais e promover o engajamento das nações emergentes A reaproximação foi favorecida pela mudança de governos nos países que mais se opuseram aos Estados Unidos em 2003 Alemanha e França com a ascensão ao poder de políticos mais próximos à direita e o centro como a Primeira Ministra Angela Merkel 2005 em diante e o Presidente Nicolas Sarkozy 20052012 Paradoxalmente em nações como Espanha e GrãBretanha que haviam se ali nhado mais abertamente aos Estados Unidos os chefes de Estado que patrocinaram o processo como José Maria Aznar 19962004 e Tony Blair 19972007 enfrentaram forte oposição doméstica que os tiraria do governo Aznar deixou o poder em 2004 com a ascensão de José Luis Zapatero que sucumbiu à crise econômica em 2011 sucedido por Mariano Rajoy e Blair foi substituído em 2007 por Gordon Brown após sua renúncia5 depois de enfrentar os atentados terroristas a Londres em 2005 e as acusações de mentir com W Bush sobre as armas de destruição em massa do Iraque Dentre os motivos que podem ser apontados para a troca de lideranças na Europa encontramse os primeiros sinais da crise econômica que iria dominar os debates a partir de 200720086 e o desgaste gerado pela operação no Afeganistão Muitos governos europeus mesmo os de França Alemanha e GrãBretanha que apoiavam a guerra da OTAN desde o seu início manifestaram sua intenção de rever seus inves timentos e presença de tropas Em andamento desde 2001 a Guerra continuou gerando custos econômicos sociais e políticos sem que se vislumbrasse uma saída rápida do território afegão ou a conquista da estabilidade A situação parecia se agravar devido ao ressurgimento do talibã Dinâmica similar se repetia no Iraque para as nações europeias participantes O tema não foi abordado pela administração W Bush que manteve o curso das guerras quase sem alterações A revisão das operações e da GWT em geral 5 Brown foi sucedido por David Cameron em 2010 e permanece no cargo em julho 2012 6 Em particular o aprofundamento da crise nos PIIGS Portugal Irlanda Islândia Grécia e Espanha 69 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais somente foi iniciada a partir da administração Obama com o estabelecimento de cronogramas de saída de ambos os países Iraque em 2011 e Afeganistão em 2014 O segundo mandato de W Bush foi caracterizado pela reconciliação e a per manência dos esforços de integração vide os esforços europeus de implementar a Constituição Europeia o Tratado de Lisboa e a nova onda de expansão de 2007 Não prevaleciam ilusões de que os norteamericanos estariam efetivamente dispostos ao retorno ao multilateralismo sob Bush filho ou ao abandono da doutrina preventiva mas o caminho da acomodação surgia como uma opção pragmática para evitar con flitos entre os dois lados do Atlântico e conter as potências emergentes Prevalecia certa medida de assertividade europeia que foi sinalizada aos Estados Unidos pelo apoio da maioria dos países do continente à candidatura de Barack Obama em 2008 A ascensão de Obama ao poder era percebida como uma forma de tornar a relação menos assimétrica e mais próxima em termos de agenda O próprio Obama reforçou essa imagem realizando um grande comício de campanha na cidade de Berlim Alema nha no qual reafirmou que os Estados Unidos e a Europa Ocidental eram parceiros na liderança da ordem mundial do século XXI Esta nova etapa da aliança foi defendida por João Manuel Durão Barroso Presiden te da União Europeia desde 2004 em discurso na Universidade de Harvard Intitulado Uma Carta de Bruxelas ao Próximo Presidente dos Estados Unidos da América este discurso defende o estabelecimento de uma Agenda Atlântica para a Globalização Segundo Barroso esta agenda tornase possível pois ambos os parceiros estavam em fase de mudança principalmente a Europa em direção a maior independência política e não deveriam repetir os erros do passado recente Portanto É com a percepção de nossa profunda interdependência que decidi escrever uma carta para o próximo presidente dos EUA Uma carta que explica quão radical mente diferente a Europa está hoje Que resume as tendências globais como as percebo Que pede por uma nova abordagem que possa responder adequadamente a estas tendências cooperar com outras nações e enfrentar os desafioschave com os quais nos deparamos Preciso explicarlhe que a UE é um ator global Nossa relação é significativa para o restante do mundo Isso se deve ao nosso peso na economia mundial no comércio e finanças globais assim como nosso papel em organizações internacionais na administração da segurança mundial e na ajuda ao desenvolvimento Nestes tempos de incerteza a UE precisa dos EUA e sim os EUA precisam da UE mais do que nunca BARROSO 2008 sp Em janeiro de 2009 estas posturas de reconciliação defendidas por ambos e que implicavam um salto qualitativo na parceria pareciam ganhar impulso com a posse de Barack Obama Todavia tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia ex perimentaram o aprofundamento de sua crise econômica a partir de 2007 questão que continua pendente agravandose até o fim do primeiro de semestre de 2012 A crise revelou a mudança do eixo dinâmico da economia mundial para as nações emergentes em detrimento da tradicional posição das potências ocidentais do núcleo Estados UnidosEuropa Tais nações começaram a pressionar decisivamente o eixo Norte por maior representatividade nos organismos multilaterais com organismos como o G20 financeiro ganhando precedência sobre mecanismos como o FMI e o Banco Mundial Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 70 Mais do que tópica a crise iniciada em 2007 possui fundo estrutural em ambos os lados do Atlântico que se relaciona às políticas neoliberais dos anos 19801990 que levaram ao encolhimento do Estado e suas políticas sociais e à financeirização do capital em detrimento da produção Ou seja tratase de uma crise de paradigmas de desenvolvi mento agravada no caso europeu pelas exigências que antecederam a implementação do Euro de controle da dívida pública que resultaram em corte de investimentos do Estado diminuição dos gastos na área social e maquiagem de contas públicas em alguns países como a Grécia Essa crise gera a desaceleração do processo de integração em termos de aprofundamento e alargamento questionando o futuro do bloco em particular do Euro Da mesma forma amplia a liderança da Alemanha que tem se mantido como o pilar principal da integração e das tentativas de gerir a crise Mesmo assim diversas nações continuam pleiteando sua entrada no bloco com destaque à Turquia por sua relevância geopolítica como potência média e zona de passagem entre o Ocidente e o Oriente A candidatura turca país já membro da OTAN desde 1952 é motivo de contencioso entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental como citado Na visão norteamericana a introdução da Turquia no bloco seria positiva à medida que o país é percebido como pivô geopolítico entre o Ocidente e o Oriente Com isso a Turquia seria integrada ao Ocidente reforçando o poder dos moderados e estabelecendo uma ponte com o mundo muçulmano A justificativa da União Europeia para a não incorporação da Turquia per manece sendo a do caráter de sua democracia e sua política de direitos humanos tema que se estende à Rússia Nações com problemas similares do Leste Europeu foram in corporadas todavia o que alimenta as hipóteses de que a não inclusão turca relacionase à preservação da Europa como clube cristão tema recorrente nos anos 1990 A ausência de movimentações positivas da Europa Ocidental neste sentido afeta inclusive as pers pectivas da OTAN uma vez que as alianças União Europeia e OTAN continuam não se sobrepondo como seria o ideal segundo a visão dos estrategistas norteamericanos No que se refere à OTAN a organização passou por mais uma revisão de sua missão Esta revisão foi denominada de Engajamento Ativo e Defesa Moderna mas em termos práticos não apresentou inovações comparáveis às do início da década quando a aliança abriu a possibilidade de agir fora de sua área geográfica Em 2010 a reunião de Lisboa reafirmou este principio qualificandoo a partir da experiência do Afeganistão iniciada em 2001 A ampliação do escopo da ação da OTAN no que se refere à garantia da segurança e estabilidade de seus membros deriva da definição de riscos presentes no sistema internacional A descrição do ambiente de segurança do final da primeira década do século XXI demanda extensa análise neste documento Com isso as prioridades da OTAN englobam desde a estabilidade regional europeia até ameaças como terrorismo guerra cibernética atividades transnacionais ilegais tráfico de armas pessoas e drogas proliferação nu clear escassez de recursos naturais como água proteção ao meio ambiente combate a epidemias de saúde e acesso à energia Uma agenda verdadeiramente global cada vez mais ampla e que em muitas instâncias chocase e difere das prescrições das Nações Unidas em diversos setores Para dar conta destes objetivos três missões centrais foram reafirmadas defesa coletiva administração de crises e segurança compartilhada Dentre estas a dimensão relativa à administração de crises recebeu especial atenção na reunião com foco na transição do Afeganistão e a retirada das tropas da 71 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais OTAN do país O tema ocupou grande parte da pauta dessa reunião havendo a pressão norteamericana para que os europeus continuassem a contribuir com tropas e recursos financeiros à operação no que deveria ser a última ofensiva antes da retirada prevista para 2014 Apesar da crise econômica e das pressões domésticas contra a continuidade da guerra os governos europeus cederam à administração Obama por conta do es tabelecimento do cronograma de saída Paralelamente buscouse um processo de reconciliação com a Rússia com o abandono da construção do escudo antimísseis e a reafirmação de que o foco da não proliferação nuclear são as nações bandidas e não as potências emergentes dos BRIC detentoras de poder nuclear A revisão da postura defensiva da aliança também fez parte da agenda sendo retomada na Cúpula de Chicago em 2012 Na oportunidade projetouse um cronograma de modernização e atualização da aliança para 2020 es tabelecendo que suas capacidades deveriam ser compostas de uma mescla de recursos convencionais nucleares controle de armamentos desarmamento e não proliferação incluindo o escudo que havia sido descartado em 2010 O termo utilizado para se referir a este pacote é Defesa Inteligente Em meio a esses discursos de reafirmação de parceria porém a questão afegã recebeu atenção novamente à luz das dificuldades existentes e novos acontecimentos relacionados à Primavera Árabe à intervenção da OTAN na Líbia e à violência na Síria ver Seção 54 Neste contexto no qual a crise econômica ainda é dominante na Europa e nos Es tados Unidos podese indicar que a parceria atravessa novo momento de estagnação Este fator crise não tem sido abordado de forma conjunta pelos dois lados do Atlântico à exceção de sua unidade no G20 financeiro e outras instituições multilaterais no sentido de conter o avanço dos emergentes Existe o predomínio do unilateralismo nesse campo assim como a ausência de reformas estruturais No campo estratégico a percepção de estagnação é similar reproduzindose a mesma dinâmica vigente desde o início do pósGuerra Fria uma Europa que oscila entre a integração e a aliança com os Estados Unidos e os Estados Unidos que preservam sua postura mais relacionada à segurança Ao mesmo tempo a Europa parece igualmente não avançar em seu projeto Segundo Brzezinski essa situação de crise atlântica sugere a possibilidade de que o Ocidente tradicional entendido como o núcleo Estados UnidosEuropa Ocidental encontre sua irrelevância como ator histórico A irrelevância nasceria da ausência de diálogo mútuo da não reforma das sociedades domésticas e da não atualização de estratégias diante do emergente cenário multipolar Em sua visão o ocidente como um todo pode estar ameaçado o histórico declínio ame ricano pode minar a autoconfiança política e o papel internacional europeu que então ficaria sozinha em um mundo potencialmente mais turbulento A UE confrontase com a possível irrelevância de seu modelo para outras regiões Com metade do ocidente político desengajado de participação ativa para assegurar a estabilidade geopolítica em um momento no qual a formação da nova ordem de poder não possui coerência ou uma visão de futuro compartilhada a turbulência global e o crescimento do extremismo político podem se tornar a herança não planejada do ocidente BRZEZINSKI 2012 p 36 tradução da autora Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 72 Para evitar o fim deste Ocidente receding West é o termo em inglês para definir este declínio o autor propõe um Ocidente ampliado Este novo conceito teria como base o núcleo atlântico só que não se restringiria a ele observando a realidade geopolítica de ascensão turca e a presença russa entre a Europa e a Ásia A fim de conter o avanço de China e Índia e mesmo promover o seu engajamento é preciso que Estados Unidos e Europa mais uma vez trabalhem juntos para reavaliar seus conceitos e projeção geopolítica Isto promoveria pela transformação de seu escopo a reativação do conceito de Ocidente Ainda nas palavras do autor Esta complexa tarefa demandará um esforço sustentado nas próximas décadas para conectar de maneira transformadora por meio de instituições como a UE e a OTAN tanto a Rússia quanto a Turquia ao Ocidente que já inclui a UE e os Estados Unidos Uma estrutura europeia ampliada que inclua diversificadamente a Turquia e a Rússia significaria que a Europa ainda aliada com a América poderia tornarse um poder global efetivo e relevante BRZEZINSKI 2012 p 131 e 153 tradução da autora O cenário proposto por Brzezinski supõe táticas de cooptação que afastem a Rússia das triangulações eurasianas com China e Índia e as globais por meio dos BRICS atraindoa para sua identidade europeia Como se verá em 41 esta tática assim como a abordada aliança Europa OcidentalRússia esbarra em uma série de fatores práticos e temores mútuos que dificultam seu aprofundamento Essas articulações tendem a ignorar a complexidade das dinâmicas multipolares no cenário e subestimar como se tem discutido ao longo do livro as alianças de geometria variável que as demais nações fora do eixo ocidental tradicional buscaram es tabelecer entre si nos últimos anos como resposta às políticas de marginalização exclusão e pressão deste mesmo eixo sobre os países do Sul Para os Estados Unidos seria um possível caminho para superar a paralisia atlântica aumentando a divisão de custos com os europeus oferecendo uma contrapartida ao dinamismo sinoindiano Esta contrapartida viria a somarse com a renovação de ou tra parceria tradicional a com o Japão que igualmente enfrenta um cenário de crise econômica e razoável estagnação geopolítica 32 AS RELAÇÕES ESTADOS UNIDOSJAPÃO Assim como a Europa Ocidental os Estados Unidos estabeleceram uma relação complexa e até mesmo simbiótica como Japão durante a Guerra Fria De inimigo o país passara a ser definido como aliado e membro relevante da órbita norteameri cana funcionando como um modelo de desenvolvimento capitalista na Ásia contendo o avanço do comunismo chinês soviético e nortecoreano A adoção do Artigo 9 da Constituição na qual o país se compromete a abdicar de forças militares ofensivas e da guerra tornouse um marco do período do pósSegunda Guerra Mundial Desde então apesar das controvérsias que serão analisadas adiante esse artigo per manece como símbolo de uma nação pacífica e que busca reafirmarse no mundo de maneira cooperativa e por meio do poder econômico consolidando a percepção do
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intensificou ações unilaterais no Oriente Médio e na África visando demonstrar força Estes fatores combinados com o aumento de confiança europeu devido ao sucesso do aprofundamento e do início dos primeiros processos de alargamento ao leste paralelo à expansão da OTAN provocaram um relativo distanciamento entre os dois lados do Atlântico Do lado norteamericano críticas como as de Kagan 2003 à postura europeia eram comuns entre os círculos neoconservadores Porém essas críticas não se restringiam à direita mais radical estendendose aos liberais e aos conservadores moderados Per tencente ao segundo espectro autores como Daalder 2001 reconhecem a existência de um afastamento mútuo derivado de diferentes prioridades internas e externas das agendas dos parceiros Ao diagnosticar este processo o autor indica que Cada vez mais as relações Estados UnidosEuropa giram em torno da crescente di vergência de agendas entre os dois lados Para os Estados Unidos a política externa é primeiro e antes de qualquer coisa pensada a partir de ameaças tanto ameaças tradicionais incluindo crises políticas e militares em países que são amigos e aliados dos Estados Unidos provocados por países hostis aos interesses norteamericanos quanto às novas ameaças resultantes da proliferação de armas de destruição em massa o maior poder de grupos terroristas e outros atores não estatais e a crescente vulnerabilidade da sociedade a ataques diretos Para a Europa a agenda de política externa é muito mais ampla incluindo administrar ameaças presentes à segurança humana que resultam de doenças alimentares e clima abordando o novo conjunto de mudanças que emerge em mundo globalizado e na consolidação da democracia na Europa e além DAALDER 2001 p 559 tradução da autora Apesar de apresentar um tom menos agressivo do que o de Kagan a tese de Daalder é similar uma vez que aponta que as divergências residem em percepções diferenciadas de mundo Os autores entretanto discordam em como lidar com essa situação enquanto Kagan defende a manutenção da plena autonomia norteamericana diante da Europa Ocidental não se adequando às suas demandas kantianas posição que se converte no teor dominante da administração W Bush a partir de Janeiro de 2001 Daalder fala da necessidade de uma acomodação mútua Tal acomodação não 65 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais significa que ambos iriam abrir mão de suas prioridades seja a integração europeia no caso europeu ou a presença na Eurásia e nas Américas pelo lado dos Estados Unidos mas sim a busca de novos elementos comuns para a parceria transatlântica Mais ainda seria um processo que demandaria de ambos os lados concessões mútuas para compreender melhor as preocupações do parceiro Refutando a ideia do divórcio transatlântico que cada vez mais se popularizava no contexto de 2001 Daalder defende uma parceria renovada que seria organizada nos seguintes termos os problemas do mundo são muito complexos e difusos para que um só país mesmo um tão poderoso quanto os Estados Unidos possa administrar sozinho De todos os países do mundo somente os membros da União Europeia detêm a capacidade natural para serem os parceiros de Washington nessas tarefas comuns Mas somente a lógica não é suficiente para estabelecer uma nova parceria A Europa precisará aumentar sua capacidade para ações conjuntas em particular no campo militar Finalmente uma parceria renovada demandará que os Estados Unidos concordem em dar à Europa uma voz maior e na verdade igualitária na parceria como também precisará demonstrar que está comprometido com meios de segurança internacional cooperativos incluindo tratados regimes e normas para fortalecer a segurança a pros peridade e o bemestar de todos DAALDER 2001 p 564 tradução da autora De janeiro a setembro de 2001 as relações transatlânticas tiveram como caracterís tica básica a insatisfação europeia diante das atitudes unilaterais de Bush filho Desde que tomou posse na Casa Branca W Bush reverteu uma série de compromissos de Clinton em áreas como direitos humanos e meio ambiente temas vistos como priori tários pela União Europeia A recusa em assinar o Tratado de Quioto a oposição ao Tribunal Penal Internacional a retomada do projeto de instalar o escudo antimísseis na Europa com foco nos novos membros da OTAN no leste eram decisões republicanas que afetavam diretamente os interesses europeus As negociações comerciais da OMC também ficaram em segundo plano Embora não existisse um real avanço da PESC havia manifestações dos países europeus contrários à visão unipolar e unilateral da política internacional dos Estados Unidos Tais manifestações entretanto eram restritas a França e Alemanha em menor escala líderes da integração não se estendendo aos novos membros da OTAN aos países menores do arranjo e à GrãBretanha O ataque ao território continental norteamericano em 1109 provocou uma inflexão relativa nesse cenário reativando a convergência atlântica A União Europeia e a OTAN que invocou o artigo 5 de sua Carta correspondente à defesa coletiva rapidamente declararam seu apoio e solidariedade aos Estados Unidos Por sua vez o governo Bush filho retomou brevemente uma postura multilateral visando justamente solidificar essa aproximação garantindo suporte para a sua GWT Em novembro de 2001 este suporte converteuse na Operação Liberdade Dura doura no Afeganistão realizada pela OTAN Elemento adicional de convergência era o temor compartilhado pela Europa Ocidental do avanço do fundamentalismo islâmico validando as ações norteamericanas de repressão Em termos multilaterais lançouse com apoio europeu à iniciativa norteamericana a Rodada do Desenvolvimento Doha na OMC Neste mesmo ano a Operação no Afeganistão foi declarada um sucesso com Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 66 a deposição do Talibã do poder A Guerra do Afeganistão foi a primeira aplicação da nova missão estratégica da aliança que supunha operações fora de sua área geográfica demonstrando a sua capacidade de projeção de poder Em 2002 a União Europeia foi integrada ao Quarteto de Madri do qual também fazem parte Estados Unidos Rússia e Nações Unidas visando destravar as negociações de paz do Oriente Médio tendo como base o Mapa da Estrada O Mapa da Estrada era uma resposta da administração W Bush à ausência de progressos na questão Is raelPalestina e às críticas que apontavam seu alinhamento a Israel no pós1109 As negociações desde então pouco avançaram como discutido no Capítulo 5 O bom clima bilateral rapidamente se esgotaria a partir de 2002 Conduzidas no âmbito das Nações Unidas as negociações que antecederam à invasão do Iraque foram caracte rizadas por uma polarização entre as posições norteamericana britânica francesa alemã e russa Os Estados Unidos com o apoio da GrãBretanha de Blair estabeleceram que o Iraque de Saddam Hussein representava uma ameaça real à segurança global devido a sua posse de armas de destruição em massa e ambições de hegemonia regional Na lógica da Doutrina Bush o Iraque definido como membro do Eixo do Mal deveria ser alvo de uma intervenção preventiva Com isso os Estados Unidos construíram a Coalizão da Vontade Entretanto a lógica preventiva ou a percepção do Iraque como ameaça iminente não foi compartilhada por França Alemanha e Rússia Em oposição à Coalizão da Vontade na qual os membros majoritários Estados Unidos e GrãBretanha eram acompanhados por nações de menor poder estratégico na Europa Ocidental e Oriental como Portugal Espanha Romênia Bulgária estabeleceuse o Eixo da Paz ParisBerlimMoscou Ao lado do objetivo declarado da defesa do multilateralismo o Eixo da Paz detinha propósitos estratégicos ao se contrapor aos Estados Unidos a operação no Iraque caso bem sucedida permitiria aos norteamericanos controlar grande parte das reservas energéticas do Oriente Médio afetando diretamente os europeus e potências emergentes como China e Índia consumidoras desses recursos no caso da Rússia a projeção norteamericana no Iraque afetaria ainda mais a geopolítica regional do Oriente Médio e da Ásia Central em detrimento de seus interesses estratégicos e no setor de energia Além da expansão da OTAN ao ocidente a Rússia que apoiara a operação no Afeganistão seria pressionada ainda mais ao Oriente para a complexidade dessas movimentações ver Seção 41 Assim tanto a Europa Ocidental quanto a Rússia visavam conter o avanço norteamericano nesse espaço geopolítico Simbolicamente o auge da confrontação atlântica foi representada pela declaração do Secretário de Defesa Donald Rumsfeld referente à existência da Velha Europa e à Nova Europa Enquanto a Velha Europa representada por França e Alemanha encontravase alienada das grandes questões internacionais e se omitia diante de decisões difíceis os Estados Unidos viviam em um mundo real de ameaças e escolhas estratégicas Nesse mundo real somente poderiam contar com o apoio da Nova Europa e da tradicional aliada GrãBretanha4 Rumsfeld chegou a anunciar a intenção norteamericana de rever o posicionamento das tropas da OTAN no continente sugerindo o seu deslocamento do ocidente para o oriente 4 Outra hipótese que se tornou corrente referiase à motivação norteamericana de invadir o Iraque para impedir a consolidação do euro como moeda de reserva uma vez que diversas petromonarquias do Oriente Médio estariam trocando suas reservas em dólar pelo euro 67 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais A declaração foi feita em tom de ameaça explorando a fragilidade estratégica da Europa Ocidental no campo militar Devese destacar que o apoio da Nova Europa aos Estados Unidos respondia a uma tentativa de alinhamento para obter vantagens tanto que essas nações em nenhum momento expressaram qualquer intenção de abrir mão de sua política de pertencimento à União Europeia Ainda que percebessem os Estados Unidos como fonte de possíveis benefícios estratégicos em segurança defesa e energia esses países tinham forte interdependência comercial e econômica com a Europa da qual não poderiam abrir mão Da mesma forma para os Estados Unidos este era um apoio que pouco agregava em termos de poder e recursos financeiros sendo mais simbólico e logístico França e Alemanha repudiaram abertamente as declarações de Rumsfeld alimen tando a hipótese de um divórcio atlântico Episódios folclóricos adicionais marcaram o período como a proibição do uso do termo french fries batatas fritas francesas que na realidade eram belgas nos Estados Unidos e a sua troca para freedom fries fritas da liberdade À parte dessas questões mais midiáticas o que o episódio revelou foram os rachas préexistentes e a insatisfação com o unilateralismo De acordo com Todd 2002 as maiores novidades do período foram a autonomia alemã e a parceria russofrancoalemã No caso da Alemanha esse episódio sob o governo de Gerhard Schroeder 19982005 com Joschka Fischer à frente do Minis tério das Relações Exteriores representou um desalinhamento quase que inédito nas relações germanoamericanas que mantiveram um padrão de consistente aproximação durante a Guerra Fria e na primeira década do pós1989 A oposição da França nesse período governada pelo Presidente Jacques Chirac 19952007 não era inédita uma vez que o país em particular durante os anos 1960 de gestão De Gaulle 19591969 buscou uma posição autônoma diante dos norteamericanos No que se refere à parceria russofrancoalemã abriase uma oportunidade de aliança política inovadora que se somaria aos laços econômicos em desenvolvimento entre a Rússia e a Europa Ocidental Tais laços sustentavamse no aumento do comércio intracontinental e na crescente dependência energética da Europa Ocidental da Rússia no setor do gás Desta forma poderia existir um salto qualitativo nas relações já exis tentes aproveitando essa aliança para se contrapor aos Estados Unidos De acordo com Todd 2002 a Rússia supriria a deficiência estratégica europeia beneficiandose das trocas econômicas com o continente Nesta lógica ambos se tornariam mais autônomos e menos vulneráveis ao unilateralismo de Bush filho A reativação da aliança atlântica no pós2005 demonstrou porém o razoável exagero do potencial da aliança estratégica RússiaEuropa Ocidental Ainda que realmente existissem naquele contexto laços econômicos crescentes entre ambos e temores diante dos Estados Unidos as desconfianças mútuas impediam a construção de uma parceria estratégica efetiva No caso russo prevalece a percepção de ameaça representada pela OTAN e o avanço ocidental na Ásia Central ver Seção 41 as sociada às tentativas vistas como de ingerência em seus assuntos internos no campo da democracia e direitos humanos Além disso o elemento energético é uma forma de pressionar a Europa Ocidental e angariar recursos Por sua vez a Europa Ocidental teme o poder militar russo e o vazio estratégico que resultaria da quebra de aliança com os Estados Unidos Isso levaria a duas situações ou a recriação da dependência estratégica agora com a Rússia ou ao aumento de responsa bilidades e capacidades militares da Europa com o aprofundamento da PESC Apesar da Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 68 continuidade das políticas de aprofundamento da integração com o início das discussões sobre a entrada em vigor de uma Constituição Europeia a partir da Declaração de Laeken 2004 o elemento militar não agregava consenso dentro do bloco Os atentados terroris tas de Madrid em 2004 somente acentuaram os temores europeus no campo estratégico Por fim há de se mencionar o receio europeu diante do avanço das civilizações não ocidentais como a China e Índia o que a remete a aproximarse dos Estados Unidos como forma de unir forças ocidentais contra as nações emergentes bloco do qual a Rússia passou a fazer parte como BRIC A somatória desses fatores à reformulação da política externa de Bush filho empreendida por Rice a partir de janeiro de 2005 encerraram essa fase de divergências levando à reafirmação da parceria transatlântica Reconciliação e Estagnação 20052012 Em 2005 o processo de reconciliação entre os Estados Unidos e a Europa desenvol veuse em torno de temas como a revitalização da aliança estratégica tendo como base as reformas de Rice à frente da Secretaria de Estado Como visto no Capítulo 1 essas reformas sinalizavam a renovada disposição da presidência W Bush em reaproximarse de aliados tradicionais e promover o engajamento das nações emergentes A reaproximação foi favorecida pela mudança de governos nos países que mais se opuseram aos Estados Unidos em 2003 Alemanha e França com a ascensão ao poder de políticos mais próximos à direita e o centro como a Primeira Ministra Angela Merkel 2005 em diante e o Presidente Nicolas Sarkozy 20052012 Paradoxalmente em nações como Espanha e GrãBretanha que haviam se ali nhado mais abertamente aos Estados Unidos os chefes de Estado que patrocinaram o processo como José Maria Aznar 19962004 e Tony Blair 19972007 enfrentaram forte oposição doméstica que os tiraria do governo Aznar deixou o poder em 2004 com a ascensão de José Luis Zapatero que sucumbiu à crise econômica em 2011 sucedido por Mariano Rajoy e Blair foi substituído em 2007 por Gordon Brown após sua renúncia5 depois de enfrentar os atentados terroristas a Londres em 2005 e as acusações de mentir com W Bush sobre as armas de destruição em massa do Iraque Dentre os motivos que podem ser apontados para a troca de lideranças na Europa encontramse os primeiros sinais da crise econômica que iria dominar os debates a partir de 200720086 e o desgaste gerado pela operação no Afeganistão Muitos governos europeus mesmo os de França Alemanha e GrãBretanha que apoiavam a guerra da OTAN desde o seu início manifestaram sua intenção de rever seus inves timentos e presença de tropas Em andamento desde 2001 a Guerra continuou gerando custos econômicos sociais e políticos sem que se vislumbrasse uma saída rápida do território afegão ou a conquista da estabilidade A situação parecia se agravar devido ao ressurgimento do talibã Dinâmica similar se repetia no Iraque para as nações europeias participantes O tema não foi abordado pela administração W Bush que manteve o curso das guerras quase sem alterações A revisão das operações e da GWT em geral 5 Brown foi sucedido por David Cameron em 2010 e permanece no cargo em julho 2012 6 Em particular o aprofundamento da crise nos PIIGS Portugal Irlanda Islândia Grécia e Espanha 69 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais somente foi iniciada a partir da administração Obama com o estabelecimento de cronogramas de saída de ambos os países Iraque em 2011 e Afeganistão em 2014 O segundo mandato de W Bush foi caracterizado pela reconciliação e a per manência dos esforços de integração vide os esforços europeus de implementar a Constituição Europeia o Tratado de Lisboa e a nova onda de expansão de 2007 Não prevaleciam ilusões de que os norteamericanos estariam efetivamente dispostos ao retorno ao multilateralismo sob Bush filho ou ao abandono da doutrina preventiva mas o caminho da acomodação surgia como uma opção pragmática para evitar con flitos entre os dois lados do Atlântico e conter as potências emergentes Prevalecia certa medida de assertividade europeia que foi sinalizada aos Estados Unidos pelo apoio da maioria dos países do continente à candidatura de Barack Obama em 2008 A ascensão de Obama ao poder era percebida como uma forma de tornar a relação menos assimétrica e mais próxima em termos de agenda O próprio Obama reforçou essa imagem realizando um grande comício de campanha na cidade de Berlim Alema nha no qual reafirmou que os Estados Unidos e a Europa Ocidental eram parceiros na liderança da ordem mundial do século XXI Esta nova etapa da aliança foi defendida por João Manuel Durão Barroso Presiden te da União Europeia desde 2004 em discurso na Universidade de Harvard Intitulado Uma Carta de Bruxelas ao Próximo Presidente dos Estados Unidos da América este discurso defende o estabelecimento de uma Agenda Atlântica para a Globalização Segundo Barroso esta agenda tornase possível pois ambos os parceiros estavam em fase de mudança principalmente a Europa em direção a maior independência política e não deveriam repetir os erros do passado recente Portanto É com a percepção de nossa profunda interdependência que decidi escrever uma carta para o próximo presidente dos EUA Uma carta que explica quão radical mente diferente a Europa está hoje Que resume as tendências globais como as percebo Que pede por uma nova abordagem que possa responder adequadamente a estas tendências cooperar com outras nações e enfrentar os desafioschave com os quais nos deparamos Preciso explicarlhe que a UE é um ator global Nossa relação é significativa para o restante do mundo Isso se deve ao nosso peso na economia mundial no comércio e finanças globais assim como nosso papel em organizações internacionais na administração da segurança mundial e na ajuda ao desenvolvimento Nestes tempos de incerteza a UE precisa dos EUA e sim os EUA precisam da UE mais do que nunca BARROSO 2008 sp Em janeiro de 2009 estas posturas de reconciliação defendidas por ambos e que implicavam um salto qualitativo na parceria pareciam ganhar impulso com a posse de Barack Obama Todavia tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia ex perimentaram o aprofundamento de sua crise econômica a partir de 2007 questão que continua pendente agravandose até o fim do primeiro de semestre de 2012 A crise revelou a mudança do eixo dinâmico da economia mundial para as nações emergentes em detrimento da tradicional posição das potências ocidentais do núcleo Estados UnidosEuropa Tais nações começaram a pressionar decisivamente o eixo Norte por maior representatividade nos organismos multilaterais com organismos como o G20 financeiro ganhando precedência sobre mecanismos como o FMI e o Banco Mundial Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 70 Mais do que tópica a crise iniciada em 2007 possui fundo estrutural em ambos os lados do Atlântico que se relaciona às políticas neoliberais dos anos 19801990 que levaram ao encolhimento do Estado e suas políticas sociais e à financeirização do capital em detrimento da produção Ou seja tratase de uma crise de paradigmas de desenvolvi mento agravada no caso europeu pelas exigências que antecederam a implementação do Euro de controle da dívida pública que resultaram em corte de investimentos do Estado diminuição dos gastos na área social e maquiagem de contas públicas em alguns países como a Grécia Essa crise gera a desaceleração do processo de integração em termos de aprofundamento e alargamento questionando o futuro do bloco em particular do Euro Da mesma forma amplia a liderança da Alemanha que tem se mantido como o pilar principal da integração e das tentativas de gerir a crise Mesmo assim diversas nações continuam pleiteando sua entrada no bloco com destaque à Turquia por sua relevância geopolítica como potência média e zona de passagem entre o Ocidente e o Oriente A candidatura turca país já membro da OTAN desde 1952 é motivo de contencioso entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental como citado Na visão norteamericana a introdução da Turquia no bloco seria positiva à medida que o país é percebido como pivô geopolítico entre o Ocidente e o Oriente Com isso a Turquia seria integrada ao Ocidente reforçando o poder dos moderados e estabelecendo uma ponte com o mundo muçulmano A justificativa da União Europeia para a não incorporação da Turquia per manece sendo a do caráter de sua democracia e sua política de direitos humanos tema que se estende à Rússia Nações com problemas similares do Leste Europeu foram in corporadas todavia o que alimenta as hipóteses de que a não inclusão turca relacionase à preservação da Europa como clube cristão tema recorrente nos anos 1990 A ausência de movimentações positivas da Europa Ocidental neste sentido afeta inclusive as pers pectivas da OTAN uma vez que as alianças União Europeia e OTAN continuam não se sobrepondo como seria o ideal segundo a visão dos estrategistas norteamericanos No que se refere à OTAN a organização passou por mais uma revisão de sua missão Esta revisão foi denominada de Engajamento Ativo e Defesa Moderna mas em termos práticos não apresentou inovações comparáveis às do início da década quando a aliança abriu a possibilidade de agir fora de sua área geográfica Em 2010 a reunião de Lisboa reafirmou este principio qualificandoo a partir da experiência do Afeganistão iniciada em 2001 A ampliação do escopo da ação da OTAN no que se refere à garantia da segurança e estabilidade de seus membros deriva da definição de riscos presentes no sistema internacional A descrição do ambiente de segurança do final da primeira década do século XXI demanda extensa análise neste documento Com isso as prioridades da OTAN englobam desde a estabilidade regional europeia até ameaças como terrorismo guerra cibernética atividades transnacionais ilegais tráfico de armas pessoas e drogas proliferação nu clear escassez de recursos naturais como água proteção ao meio ambiente combate a epidemias de saúde e acesso à energia Uma agenda verdadeiramente global cada vez mais ampla e que em muitas instâncias chocase e difere das prescrições das Nações Unidas em diversos setores Para dar conta destes objetivos três missões centrais foram reafirmadas defesa coletiva administração de crises e segurança compartilhada Dentre estas a dimensão relativa à administração de crises recebeu especial atenção na reunião com foco na transição do Afeganistão e a retirada das tropas da 71 Capítulo 3 O Eixo EuropaÁsia As Parcerias Tradicionais OTAN do país O tema ocupou grande parte da pauta dessa reunião havendo a pressão norteamericana para que os europeus continuassem a contribuir com tropas e recursos financeiros à operação no que deveria ser a última ofensiva antes da retirada prevista para 2014 Apesar da crise econômica e das pressões domésticas contra a continuidade da guerra os governos europeus cederam à administração Obama por conta do es tabelecimento do cronograma de saída Paralelamente buscouse um processo de reconciliação com a Rússia com o abandono da construção do escudo antimísseis e a reafirmação de que o foco da não proliferação nuclear são as nações bandidas e não as potências emergentes dos BRIC detentoras de poder nuclear A revisão da postura defensiva da aliança também fez parte da agenda sendo retomada na Cúpula de Chicago em 2012 Na oportunidade projetouse um cronograma de modernização e atualização da aliança para 2020 es tabelecendo que suas capacidades deveriam ser compostas de uma mescla de recursos convencionais nucleares controle de armamentos desarmamento e não proliferação incluindo o escudo que havia sido descartado em 2010 O termo utilizado para se referir a este pacote é Defesa Inteligente Em meio a esses discursos de reafirmação de parceria porém a questão afegã recebeu atenção novamente à luz das dificuldades existentes e novos acontecimentos relacionados à Primavera Árabe à intervenção da OTAN na Líbia e à violência na Síria ver Seção 54 Neste contexto no qual a crise econômica ainda é dominante na Europa e nos Es tados Unidos podese indicar que a parceria atravessa novo momento de estagnação Este fator crise não tem sido abordado de forma conjunta pelos dois lados do Atlântico à exceção de sua unidade no G20 financeiro e outras instituições multilaterais no sentido de conter o avanço dos emergentes Existe o predomínio do unilateralismo nesse campo assim como a ausência de reformas estruturais No campo estratégico a percepção de estagnação é similar reproduzindose a mesma dinâmica vigente desde o início do pósGuerra Fria uma Europa que oscila entre a integração e a aliança com os Estados Unidos e os Estados Unidos que preservam sua postura mais relacionada à segurança Ao mesmo tempo a Europa parece igualmente não avançar em seu projeto Segundo Brzezinski essa situação de crise atlântica sugere a possibilidade de que o Ocidente tradicional entendido como o núcleo Estados UnidosEuropa Ocidental encontre sua irrelevância como ator histórico A irrelevância nasceria da ausência de diálogo mútuo da não reforma das sociedades domésticas e da não atualização de estratégias diante do emergente cenário multipolar Em sua visão o ocidente como um todo pode estar ameaçado o histórico declínio ame ricano pode minar a autoconfiança política e o papel internacional europeu que então ficaria sozinha em um mundo potencialmente mais turbulento A UE confrontase com a possível irrelevância de seu modelo para outras regiões Com metade do ocidente político desengajado de participação ativa para assegurar a estabilidade geopolítica em um momento no qual a formação da nova ordem de poder não possui coerência ou uma visão de futuro compartilhada a turbulência global e o crescimento do extremismo político podem se tornar a herança não planejada do ocidente BRZEZINSKI 2012 p 36 tradução da autora Os Estados Unidos e o século XXI Cristina Soreanu Pecequilo 72 Para evitar o fim deste Ocidente receding West é o termo em inglês para definir este declínio o autor propõe um Ocidente ampliado Este novo conceito teria como base o núcleo atlântico só que não se restringiria a ele observando a realidade geopolítica de ascensão turca e a presença russa entre a Europa e a Ásia A fim de conter o avanço de China e Índia e mesmo promover o seu engajamento é preciso que Estados Unidos e Europa mais uma vez trabalhem juntos para reavaliar seus conceitos e projeção geopolítica Isto promoveria pela transformação de seu escopo a reativação do conceito de Ocidente Ainda nas palavras do autor Esta complexa tarefa demandará um esforço sustentado nas próximas décadas para conectar de maneira transformadora por meio de instituições como a UE e a OTAN tanto a Rússia quanto a Turquia ao Ocidente que já inclui a UE e os Estados Unidos Uma estrutura europeia ampliada que inclua diversificadamente a Turquia e a Rússia significaria que a Europa ainda aliada com a América poderia tornarse um poder global efetivo e relevante BRZEZINSKI 2012 p 131 e 153 tradução da autora O cenário proposto por Brzezinski supõe táticas de cooptação que afastem a Rússia das triangulações eurasianas com China e Índia e as globais por meio dos BRICS atraindoa para sua identidade europeia Como se verá em 41 esta tática assim como a abordada aliança Europa OcidentalRússia esbarra em uma série de fatores práticos e temores mútuos que dificultam seu aprofundamento Essas articulações tendem a ignorar a complexidade das dinâmicas multipolares no cenário e subestimar como se tem discutido ao longo do livro as alianças de geometria variável que as demais nações fora do eixo ocidental tradicional buscaram es tabelecer entre si nos últimos anos como resposta às políticas de marginalização exclusão e pressão deste mesmo eixo sobre os países do Sul Para os Estados Unidos seria um possível caminho para superar a paralisia atlântica aumentando a divisão de custos com os europeus oferecendo uma contrapartida ao dinamismo sinoindiano Esta contrapartida viria a somarse com a renovação de ou tra parceria tradicional a com o Japão que igualmente enfrenta um cenário de crise econômica e razoável estagnação geopolítica 32 AS RELAÇÕES ESTADOS UNIDOSJAPÃO Assim como a Europa Ocidental os Estados Unidos estabeleceram uma relação complexa e até mesmo simbiótica como Japão durante a Guerra Fria De inimigo o país passara a ser definido como aliado e membro relevante da órbita norteameri cana funcionando como um modelo de desenvolvimento capitalista na Ásia contendo o avanço do comunismo chinês soviético e nortecoreano A adoção do Artigo 9 da Constituição na qual o país se compromete a abdicar de forças militares ofensivas e da guerra tornouse um marco do período do pósSegunda Guerra Mundial Desde então apesar das controvérsias que serão analisadas adiante esse artigo per manece como símbolo de uma nação pacífica e que busca reafirmarse no mundo de maneira cooperativa e por meio do poder econômico consolidando a percepção do