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Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 253 A ESCOLARIZAÇÃO DO ESPORTE NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930 A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO E A ENERGIZAÇÃO DO CARÁTER1 GRAD CHRISTIANE GARCIA MACEDO Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás e Professora da Rede Pública Municipal de Goiânia Mestranda em Ciências do Movimento Humano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Goiânia Goiás Brasil Email chrisgmacedogmailcom DRA SILVANA VILODRE GOELLNER Doutora em Educação pela UNICAMP e Professora da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Pesquisadora CNPq Porto Alegre Rio Grande do Sul Brasil Email vilodregmailcom LINHALES Meily A A escola e o espor te uma história de práticas culturais São Paulo Cortez 2009 272 p Energizar o caráter este era um dos principais temas discutidos pelos inte lectuais brasileiros no início do século XX dentre estes aqueles que integravam a Associação Brasileira de Educação ABE2 É nesta instituição especialmente na sua 1 Houve financiamento da CAPES na modalidade de bolsa de mestrado para a realização deste trabalho 2 A ABE é uma sociedade civil fundada em 15 de outubro de 1924 por Heitor Lyra da Silva com sede na Cidade do Rio de Janeiro 254 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 Seção de Educação Física e Higiene SEPH que Meily Assbú Linhales vai buscar elementos para discutir a Educação Física brasileira e o processo de escolarização do esporte nas décadas de 1920 e 1930 apresentadas no livro A escola e o esporte uma história de práticas culturais 2009 A obra é fruto da tese A escola o esporte e a energização do caráter projetos culturais em circulação na Associação Brasileira de Educação 19251935 defendida no Programa de Pósgraduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais em 2006 sob orientação de Luciano Mendes de Faria Filho A pesquisa desenvolvida por Linhales traduzese em uma versão da história da escolarização do esporte cuja narrativa se constrói a partir do entrelaçamento que elabora entre fontes primárias e secundárias e o diálogo que estabelece com autores que tomam o esporte e a escola como práticas que constituem e são também constituídas por um conjunto de dispositivos disciplinares que podem ser considerados tipicamente modernos LINHALES 2009 p 18 O trabalho historiográfico desenvolvido dialoga de forma muito próxima com fundamentos teóricos e metodológicos da História Cultural cuja proposição busca decifrar a realidade do passado por meio das suas representações tentando chegar àquelas formas discursivas e imagéticas pelas quais os homens expressaram a si pró prios e o mundo PESAVENTO 2005 p 42 A autora recorre a diversos autores brasileiros e estrangeiros cujas abordagens sobre o esporte escola modernidade corpo poder e política conformaram um mosaico de fontes e informações capazes de no entrelaçamento das idéias contribuir para a produção de uma narrativa sobre o processo de escolarização do esporte no Brasil Nessa perspectiva não anuncia nenhuma filiação teóricametodológica no entanto dialoga constantemente com autores que desenvolvem seus trabalhos historiográficos ou não a partir de uma orientação crítica Tendo como pano de fundo a idéia da modernidade e suas interpretações no contexto nacional a autora tece uma trama na qual busca compreender o pro cesso de escolarização das práticas esportivas em um tempo no qual se apostava na eficiência da escola como uma possibilidade de organização e disciplinarização da vida social Para tanto divide o livro em cinco capítulos que apesar de diferentes entre si mantêmse unidos por uma narrativa plena de descontinuidades cujo ir e vir confere ao texto um caráter dinâmico audacioso e pertinente Tal afirmação justificase não apenas pela investigação feita em documentação inédita para a historiografia da Educação Física brasileira como pelo modo como as análises são produzidas de modo a possibilitar a emergência de tensões conflitos rupturas entre representações até então consolidadas na área Nesse particular destacamos a relação entre a ABE e os militares em especial o episódio da confecção de dois Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 255 importantes documentos da área o anteprojeto de lei criado pelo Ministério de Guerra do Governo Washington Luis relativo à Educação Física e o parecer conferido pela ABE a esse documento como analisaremos mais adiante No primeiro capítulo O Sport no clima cultural da década de 1920 a ener gização do caráter a autora situa o esporte como um importante elemento do processo civilizador da sociedade brasileira de então Relacionado à vida moderna o surto esportivo foi observado a partir de autores contemporâneos que fazem essa análise dando ênfase a alguns textos produzidos entre 1915 e 1928 nos quais o esporte e seu vínculo com a educação figuravam como tema central A partir do diálogo entre as diferentes fontes de pesquisa destaca que a referência para entender o esporte no clima cultural da década de 1920 ancorase na idéia de energizar o caráter termo este intimamente relacionado com as metáforas maquínicas e com a busca da eficiência dos corpos Energizar neste contexto implica potencializar tornar eficaz firme ou ainda tornar um sistema capaz de realizar trabalho O sistema em questão é o caráter de cada brasileiro sua alma seu temperamento sua índole que tem no corpo sua elementaridade física LINHALES 2009 p 27 Assim o esporte passa a ser lido como uma prática que poderia integrar o projeto brasileiro de modernidade dada a sua capacidade de potencializar a máquina humana e revestila de um caráter forte aguerrido e cívico Linhales monta um panorama a partir dos significados atribuídos às práticas esportivas se utilizando de autores da época evidenciando um repertório diver sificado de representações desta prática corporal e sua relação com a educação a escola e a modernização de um país que beirava a rusticidade Nesse sentido faz ver o quanto o esporte mostravase produtivo para enten der a sociedade da época pois não havia consenso entre estes autores sobre seu papel junto a formação de brasileiros e brasileiras Vale lembrar que em que pese tais discussões o esporte já era uma prática disseminada socialmente e adentrava a escola a partir de um duplo movimento por um lado era identificado como algo que precisava ser orientado e pedagogizado disciplinado por outro era visto como capaz de servir à educação impregnando a instituição escolar de sentidos e significados modernizadores contribuindo portanto para superação daquilo que era considerado rústico e atrasado O segundo capítulo é dedicado a entender a rede de sociabilidade criada pela ABE com algumas instituições que atuavam no campo do esporte Para tanto Linhales debruçase nos arquivos da ABE perscrutando fontes de diferente natureza muitas delas inéditas Ao investigar atas correspondências teses inquéritos fotografias entre outras percebe que três instituições destacaramse na interlocução com a ABE quando o tema em pauta era o esporte o Club dos Bandeirantes do Brasil para o 256 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 qual a modernização era palavra de ordem sob forte influência norteamericana a Instituição Militar que era movida pela disciplina e pela ordem de modo a ver no esporte na instituição escolar e fora dela uma possibilidade para a formação física moral e social das novas gerações a Associação Cristã de Moços ACM que tinha com maior afinidade pedagógica com a ABE e trazia outro projeto para a Educação Física que não ligado ao militar mas priorizando a formação de professores técnicos e a criação de parques e praças no cenário das cidades observados como espaços e tempos recreativos e educativos Instituição essa marcadamente inspirada por idéias e práticas americanas Segundo a autora homens bandeirantes oficiais instrutores do Centro Militar de Educação Física e especialistas da ACM são alguns dos sujeitos participaram dessa rede de sociabilidade estabelecida para e com a ABE Da sua interlocução emergiram algumas das balizas pedagógicas e culturais que produziram a escolarização do esporte em meio a outros assuntos a modernidade a técnica a disciplina corporal e social o reordenamento urbano os tempos e espaços escolares LINHALES 2009 p 116 É exatamente sobre esse tema que versa o terceiro capítulo Nos lugares educativos produzidos pela ABE o esporte como uma baliza moderna no qual a autora evidencia a presença políticocultural da ABE no cenário nacional cujo foco estava direcionado para o sistema escolar e também para outros espaços educativos visando sobretudo a regeneração social pela educação Ao analisar as fontes em especial as produzidas pela ABE Linhales indica que na Seção de Educação Física e Higiene SEPH os jogos infantis assim como a saúde e a higiene foram destacados como formas de educação do corpo na escola sendo o esporte identificado como integrante de um projeto direcionado para a superação do que era considerado como degenerado O que não implica afirmar que essa representação tenha sido hegemônica no interior da ABE Ao contrário foi palco de tensões disputas e negociações conforme a autora explicita ao analisar as ações desencadeadas pela SEPH e também outras intervenções de cunho educacional desenvolvidas pela instituição como por exemplo conferências ações comemorativas desfiles apresentações de ginástica elaboração de teses boletins entre outras Vale destacar suas análises sobre as teses defendidas na I II e III Conferência Nacional de Educação organizada pela ABE respectivamente na cidade de Curitiba 1927 Belo Horizonte 1928 e São Paulo 1929 Nestas teses o esporte não era aceito de forma homogênea se por alguns grupos era exaltado como lugar de regeneração outros o criticavam como lugar de vícios O grupo católico por exemplo criticou a utilização de poucas roupas para a prática esportiva podendo trazer prejuízos morais aos jovens Nestas conferências ganham força o debate Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 257 sobre formação de professores e técnicos principalmente sobre quem deveria formálos A educação esportiva ganha ar de eficiência na escola pois poderia ser útil para fortalecer o corponação através de ideais cívicos e eficientes modelando assim a elite nacional Esse embate aparecerá na análise minuciosa que a autora faz no quarto capítulo Os militares e a ABE contenções aos excessos de poder sobre dois documentos que historicamente tem sido referenciado nos estudos que recons troem a edificação da Educação Física no Brasil o anteprojeto de lei criado pelo Ministério de Guerra do Governo Washington Luis relativo à Educação Física e o parecer emitido pela ABE que teria trazido severas críticas ao documento Para desenvolver sua análise Linhales menciona outros autores que anali saram esta polarização tais como Inezil Penna Marinho Celso Castro José Silvério Baia Horta José Tarcísio Grunennvaldt Carmem Lúcia Soares Mário Cantarino e Amarílio Ferreira Neto cujas análises grosso modo enfatizaram o caráter militar do Anteprojeto Para além deles podemos citar ainda outros estudos que também afirmaram esta posição como por exemplo Melo e Nascimento 2000 Archanjo e Simões 2010 e Leandro 2002 Ou seja a visão de um Anteprojeto militarizado e de um parecer crítico a ele por parte da ABE antes da pesquisa em tela era tomado como verdadeiro na historiografia da Educação Física brasileira Por meio de uma análise inovadora Linhales desconstrói esta polarização evidenciando os atravessamentos as negociações as tramas que se fizeram sentir tanto na elaboração de ambos quanto nas repercussões decorrentes de sua divulga ção pública Mostra enfim que o anteprojeto não era tão militarizado quando pressu púnhamos nem o parecer explicitava uma severa crítica ao documento conforme adjetivação feita por Inezil Penna Marinho e aceita sem muitas restrições na área Ao reconstruir alguns dos percursos trilhados para a elaboração destes documentos a autora faz ver que o anteprojeto não foi feito exclusivamente por militares e que o parecer da ABE foi um desdobramento de várias ações e discussões travadas em seu interior Inicialmente foi elaborado um primeiro parecer encaminhando estudos e um questionário a diversos profissionais e intelectuais envolvidos com a Educação Física O segundo parecer conhecido como o da severa crítica ao poder militar veio posteriormente questionando quem deveria formar os professores crítica aos militares como instrutores e defendendo a diversidade e pluralidade regionais crítica ao modelo único a ser implementado em todo o território nacional No entanto não deixou de expressar também um forte caráter disciplinador Ao confrontar os documentos a autora conclui se por um lado a doutrina militar engessava a educação para a autonomia princípio pedagógico caro a alguns educadores por outro compunha de bom tom o projeto de nacionalização e de 258 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 conformação de um ideário de saúde e formação moral e patriótica LINHALES 2009 p 201 Ou seja na tessitura de ambos houve vários entrecruzamentos fundamentalmente no que tange a percepção de que a formação das elites era imprescindível para regeneração social As tensões se fizeram presentes na forma como cada instituição elaborou tal projeto e o papel que o esporte nele desempe nharia o que acabou por promover uma disputa entre a mentalidade desportiva e a mentalidade clínica médicopedagógica No último capítulo do livro Nacionalismo e melancolia as vicissitudes da energização do caráter a autora examina a tentativa da Seção de Educação Física e Higiene de produzir um Projeto de Educação Física Nacional bem como a organização pela ABE do VII Congresso Nacional de Educação CNE realizado no Rio de Janeiro em 1935 cujo tema central era a Educação Física O esporte era presença marcante nestes dois eventos compreendido como força a ser disciplinada e ao mesmo tempo como molde disciplinador Razão pela qual sua escolarização mobilizou tantos sujeitos e instituições chegando a pautar de certo modo a realização de um congresso do porte do VII CNE que além de discussões acadêmicas promoveu encontros políticos demonstrações de ginástica desfiles de atletas visando ressaltar a importância e a necessidade de se estabilizar as bases para a Educação Física nacional Durante sua realização que perdurou por duas semanas aconteceram várias demonstrações de ginástica e desfiles Nessa perspectiva ganha destaque na imprensa da época a Grande Parada Esportiva3 a demonstração orfeônica que aconteceu no stadium do Clube de Regatas Vasco da Gama4 e as reuniões institucionais com chefes de estados objetivando a organização de conselhos e departamentos estaduais de educação Ganha destaque também como evidencia Linhales as estratégias para dar a essas duas ações uma dimensão muito maior do que efetivamente tiveram e que alçavam o esporte a um lugar de destaque na organização da vida social Diante desse intento se fazia premente criar estratégias para pedagogizálo e a escola despontou como locus privilegiado para tal funda mentalmente nas aulas de Educação Física 3 Desfile cuja divulgação registra a participação de 15000 atletas Ao questionar as fontes Linhales faz ver o quanto esse caráter eufórico foi coercitivamente organizado e demonstrado pois o Rio de Janeiro nessa época não possuía tal contingente de atletas Para configurar tal grandiosidade outros sujeitos foram requisitados para participar do desfile inclusive alunos do Colégio Pedro II que foram convocados cujo não comparecimento demandaria uma punição como infração disciplinar 4 Aconteceu na noite do dia 26 de junho de 1935 e reuniu cerca de 20000 alunos das escolas públicas do Rio de Janeiro sob regência do maestro Heitor VillaLobos Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 259 O documento final do VII Congresso Nacional de Educação destaca quatros pontos almejados pela ABE para a Educação Física ênfase na sua dimensão recre ativa participação no plano nacional de educação formação civil de professores e não aparelhamento da escola pelo escotismo LINHALES 2009 p 247 Explicita ainda a leitura que se tem do esporte naquele tempo cuja escolarização ao mesmo tempo poderia ser salutar e perigoso LINHALES 2009 p 250 Ao folhear as páginas deste livro nos deparamos com análises rigorosas e inovadoras cujos resultados colocam em circularidade idéias práticas e discursos sem tomálos como fixos nem verdadeiros Linhales trabalha muito bem com as fontes que ancoram a sua investigação de modo a questionálas e colocálas em constante diálogo com outros vestígios do período estudado Explicita as tensões as reticências de forma a fazer emergir uma interpretação não linear da intervenção da ABE no contexto da Educação Física escolar Exemplar dessa afirmação é a dis cussão sobre o Anteprojeto Militar e o parecer elaborado pela ABE que em última instância revela dissonâncias e consensos em relação à formação profissional e a matriz pedagógica e científica almejada para a Educação Física brasileira Ao construir essa versão sobre o processo de escolarização do esporte Meily Assbú Linhales não apenas vasculha e interpreta fontes antes não visitadas pela historiografia da educação física brasileira como produz novas pistas vestí gios e indícios que aguçam a curiosidade a sensibilidade e a inteligência As várias reticências que utiliza na construção da sua narrativa indicam que os rastros que encontrou e aqueles que produziu ao longo da sua investigação devem continuar sendo perseguidos pois a experiência de contar histórias se justifica no desejo de não esquecêlas LINHALES 2009 p 21 O livro A escola e o esporte uma história de práticas culturais apresenta bons motivos para ser lido não apenas por pesquisadores e estudantes do campo da Educação Física mas sobretudo por aqueles que se interessam por entender como uma prática cultural no caso o esporte passa a ser representada como ter ritório fecundo para a modernização do país e paralelamente como recurso de perpetuação de valores pautados na disciplinação dos corpos e subjetividades Se por um lado o livro ajuda a pensar no caráter dinâmico do poder e suas múltiplas faces práticas e discursos por outro evidencia ausências no adensar de análises que pudessem explicitar com mais clareza os vínculos e afiliações políticas de de terminados grupos que compunham ou dialogavam com a ABE Nessa perspectiva talvez um mergulho em fontes que não as produzidas por essa instituição fosse pertinente ainda que se saiba que essa seria provavelmente uma outra história Ainda que essa ausência se faça presente na investigação desenvolvida por Linhales de modo algum fragiliza ou minimiza a importância da obra ao contrário faz ver 260 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 que estudos nessa direção são raros na historiografia da Educação Física brasileira e portanto necessários REFERÊNCIAS ARCHANJO F M SIMÕES J L Mente e corpo sadio a educação física e esportes nos colégios católicos do recife durante o estado novo In CONGRESSO NACIONAL DE EDU CAÇÃO FÍSICA SAÚDE E CULTURA CORPORAL 4 Recife 2010 Anais Recife 2010 LEANDRO M R Educação Física no Brasil uma história política 2002 Trabalho de Conclusão de Curso Graduação Centro Universitário UNIFMU São Paulo 2002 LINHALES M A A escola e o esporte uma história de práticas culturais São Paulo Cortez 2009 272 p MELO V A NASCIMENTO R C O papel dos militares no desenvolvimento da formação profissional na educação física brasileira In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 1 Rio de Janeiro 2000 Anais Rio de Janeiro 2000 PESAVENTO S J História história cultural 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2005 132 p Recebido 13 out 2010 Aprovado 05 mar 2011 Endereço para correspondência Christiane Garcia Macedo ESEF UFRGS Rua Felizardo 750 Jardim Botânico Porto Alegre RS CEP 90690200
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nesta instituição especialmente na sua 1 Houve financiamento da CAPES na modalidade de bolsa de mestrado para a realização deste trabalho 2 A ABE é uma sociedade civil fundada em 15 de outubro de 1924 por Heitor Lyra da Silva com sede na Cidade do Rio de Janeiro 254 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 Seção de Educação Física e Higiene SEPH que Meily Assbú Linhales vai buscar elementos para discutir a Educação Física brasileira e o processo de escolarização do esporte nas décadas de 1920 e 1930 apresentadas no livro A escola e o esporte uma história de práticas culturais 2009 A obra é fruto da tese A escola o esporte e a energização do caráter projetos culturais em circulação na Associação Brasileira de Educação 19251935 defendida no Programa de Pósgraduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais em 2006 sob orientação de Luciano Mendes de Faria Filho A pesquisa desenvolvida por Linhales traduzese em uma versão da história da escolarização do esporte cuja narrativa se constrói a partir do entrelaçamento que elabora entre fontes primárias e secundárias e o diálogo que estabelece com autores que tomam o esporte e a escola como práticas que constituem e são também constituídas por um conjunto de dispositivos disciplinares que podem ser considerados tipicamente modernos LINHALES 2009 p 18 O trabalho historiográfico desenvolvido dialoga de forma muito próxima com fundamentos teóricos e metodológicos da História Cultural cuja proposição busca decifrar a realidade do passado por meio das suas representações tentando chegar àquelas formas discursivas e imagéticas pelas quais os homens expressaram a si pró prios e o mundo PESAVENTO 2005 p 42 A autora recorre a diversos autores brasileiros e estrangeiros cujas abordagens sobre o esporte escola modernidade corpo poder e política conformaram um mosaico de fontes e informações capazes de no entrelaçamento das idéias contribuir para a produção de uma narrativa sobre o processo de 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a referência para entender o esporte no clima cultural da década de 1920 ancorase na idéia de energizar o caráter termo este intimamente relacionado com as metáforas maquínicas e com a busca da eficiência dos corpos Energizar neste contexto implica potencializar tornar eficaz firme ou ainda tornar um sistema capaz de realizar trabalho O sistema em questão é o caráter de cada brasileiro sua alma seu temperamento sua índole que tem no corpo sua elementaridade física LINHALES 2009 p 27 Assim o esporte passa a ser lido como uma prática que poderia integrar o projeto brasileiro de modernidade dada a sua capacidade de potencializar a máquina humana e revestila de um caráter forte aguerrido e cívico Linhales monta um panorama a partir dos significados atribuídos às práticas esportivas se utilizando de autores da época evidenciando um repertório diver sificado de representações desta prática corporal e sua relação com a educação a escola e a modernização de um país que beirava a rusticidade 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que três instituições destacaramse na interlocução com a ABE quando o tema em pauta era o esporte o Club dos Bandeirantes do Brasil para o 256 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 qual a modernização era palavra de ordem sob forte influência norteamericana a Instituição Militar que era movida pela disciplina e pela ordem de modo a ver no esporte na instituição escolar e fora dela uma possibilidade para a formação física moral e social das novas gerações a Associação Cristã de Moços ACM que tinha com maior afinidade pedagógica com a ABE e trazia outro projeto para a Educação Física que não ligado ao militar mas priorizando a formação de professores técnicos e a criação de parques e praças no cenário das cidades observados como espaços e tempos recreativos e educativos Instituição essa marcadamente inspirada por idéias e práticas americanas Segundo a autora homens bandeirantes oficiais instrutores do Centro Militar de Educação Física e especialistas da ACM são alguns dos sujeitos participaram dessa rede de sociabilidade estabelecida para e com a ABE Da sua interlocução emergiram algumas das balizas pedagógicas e culturais que produziram a escolarização do esporte em meio a outros assuntos a modernidade a técnica a disciplina corporal e social o reordenamento urbano os tempos e espaços escolares LINHALES 2009 p 116 É exatamente sobre esse tema que versa o terceiro capítulo Nos lugares educativos produzidos pela ABE o esporte como uma baliza moderna no qual a autora evidencia a presença políticocultural da ABE no cenário nacional cujo foco estava direcionado para o sistema escolar e também para outros espaços educativos visando sobretudo a regeneração social pela educação Ao analisar as fontes em especial as produzidas pela ABE Linhales indica que na Seção de Educação Física e Higiene SEPH os jogos infantis assim como a saúde e a higiene foram destacados como formas de educação do corpo na escola sendo o esporte identificado como integrante de um projeto direcionado para a superação do que era considerado como degenerado O que não implica afirmar que essa representação tenha sido hegemônica no interior da ABE Ao contrário foi palco de tensões disputas e negociações conforme a autora explicita ao analisar as ações desencadeadas pela SEPH e também outras intervenções de cunho educacional desenvolvidas pela instituição como por exemplo conferências ações comemorativas desfiles apresentações de ginástica elaboração de teses boletins entre outras Vale destacar suas análises sobre as teses defendidas na I II e III Conferência Nacional de Educação organizada pela ABE respectivamente na cidade de Curitiba 1927 Belo Horizonte 1928 e São Paulo 1929 Nestas teses o esporte não era aceito de forma homogênea se por alguns grupos era exaltado como lugar de regeneração outros o criticavam como lugar de vícios O grupo católico por exemplo criticou a utilização de poucas roupas para a prática esportiva podendo trazer prejuízos 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Baia Horta José Tarcísio Grunennvaldt Carmem Lúcia Soares Mário Cantarino e Amarílio Ferreira Neto cujas análises grosso modo enfatizaram o caráter militar do Anteprojeto Para além deles podemos citar ainda outros estudos que também afirmaram esta posição como por exemplo Melo e Nascimento 2000 Archanjo e Simões 2010 e Leandro 2002 Ou seja a visão de um Anteprojeto militarizado e de um parecer crítico a ele por parte da ABE antes da pesquisa em tela era tomado como verdadeiro na historiografia da Educação Física brasileira Por meio de uma análise inovadora Linhales desconstrói esta polarização evidenciando os atravessamentos as negociações as tramas que se fizeram sentir tanto na elaboração de ambos quanto nas repercussões decorrentes de sua divulga ção pública Mostra enfim que o anteprojeto não era tão militarizado quando pressu púnhamos nem o parecer explicitava uma severa crítica ao documento conforme adjetivação feita por Inezil Penna Marinho e aceita sem muitas restrições na área Ao reconstruir alguns dos percursos trilhados para a elaboração destes documentos a autora faz ver que o anteprojeto não foi feito exclusivamente por militares e que o parecer da ABE foi um desdobramento de várias ações e discussões travadas em seu interior Inicialmente foi elaborado um primeiro parecer encaminhando estudos e um questionário a diversos profissionais e intelectuais envolvidos com a Educação Física O segundo parecer conhecido como o da severa crítica ao poder militar veio posteriormente questionando quem deveria formar os professores crítica aos militares como instrutores e defendendo a diversidade e pluralidade regionais crítica ao modelo único a ser implementado em todo o território nacional No entanto não deixou de expressar também um forte caráter disciplinador Ao confrontar os documentos a autora conclui se por um lado a doutrina militar engessava a educação para a autonomia princípio pedagógico caro a alguns educadores por outro compunha de bom tom o projeto de nacionalização e de 258 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 conformação de um ideário de saúde e formação moral e patriótica LINHALES 2009 p 201 Ou seja na tessitura de ambos houve vários entrecruzamentos fundamentalmente no que tange a percepção de que a formação das elites era imprescindível para regeneração social As tensões se fizeram presentes na forma como cada instituição elaborou tal projeto e o papel que o esporte nele desempe nharia o que acabou por promover uma disputa entre a mentalidade desportiva e a mentalidade clínica médicopedagógica No último capítulo do livro Nacionalismo e melancolia as vicissitudes da energização do caráter a autora examina a tentativa da Seção de Educação Física e Higiene de produzir um Projeto de Educação Física Nacional bem como a organização pela ABE do VII Congresso Nacional de Educação CNE realizado no Rio de Janeiro em 1935 cujo tema central era a Educação Física O esporte era presença marcante nestes dois eventos compreendido como força a ser disciplinada e ao mesmo tempo como molde disciplinador Razão pela qual sua escolarização mobilizou tantos sujeitos e instituições chegando a pautar de certo modo a realização de um congresso do porte do VII CNE que além de discussões acadêmicas promoveu encontros políticos demonstrações de ginástica desfiles de atletas visando ressaltar a importância e a necessidade de se estabilizar as bases para a Educação Física nacional Durante sua realização que perdurou por duas semanas aconteceram várias demonstrações de ginástica e desfiles Nessa perspectiva ganha destaque na imprensa da época a Grande Parada Esportiva3 a demonstração orfeônica que aconteceu no stadium do Clube de Regatas Vasco da Gama4 e as reuniões institucionais com chefes de estados objetivando a organização de conselhos e departamentos estaduais de educação Ganha destaque também como evidencia Linhales as estratégias para dar a essas duas ações uma dimensão muito maior do que efetivamente tiveram e que alçavam o esporte a um lugar de destaque na organização da vida social Diante desse intento se fazia premente criar estratégias para pedagogizálo e a escola despontou como locus privilegiado para tal funda mentalmente nas aulas de Educação Física 3 Desfile cuja divulgação registra a participação de 15000 atletas Ao questionar as fontes Linhales faz ver o quanto esse caráter eufórico foi coercitivamente organizado e demonstrado pois o Rio de Janeiro nessa época não possuía tal contingente de atletas Para configurar tal grandiosidade outros sujeitos foram requisitados para participar do desfile inclusive alunos do Colégio Pedro II que foram convocados cujo não comparecimento demandaria uma punição como infração disciplinar 4 Aconteceu na noite do dia 26 de junho de 1935 e reuniu cerca de 20000 alunos das escolas públicas do Rio de Janeiro sob regência do maestro Heitor VillaLobos Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 259 O documento final do VII Congresso Nacional de Educação destaca quatros pontos almejados pela ABE para a Educação Física ênfase na sua dimensão recre ativa participação no plano nacional de educação formação civil de professores e não aparelhamento da escola pelo escotismo LINHALES 2009 p 247 Explicita ainda a leitura que se tem do esporte naquele tempo cuja escolarização ao mesmo tempo poderia ser salutar e perigoso LINHALES 2009 p 250 Ao folhear as páginas deste livro nos deparamos com análises rigorosas e inovadoras cujos resultados colocam em circularidade idéias práticas e discursos sem tomálos como fixos nem verdadeiros Linhales trabalha muito bem com as fontes que ancoram a sua investigação de modo a questionálas e colocálas em constante diálogo com outros vestígios do período estudado Explicita as tensões as reticências de forma a fazer emergir uma interpretação não linear da intervenção da ABE no contexto da Educação Física escolar Exemplar dessa afirmação é a dis cussão sobre o Anteprojeto Militar e o parecer elaborado pela ABE que em última instância revela dissonâncias e consensos em relação à formação profissional e a matriz pedagógica e científica almejada para a Educação Física brasileira Ao construir essa versão sobre o processo de escolarização do esporte Meily Assbú Linhales não apenas vasculha e interpreta fontes antes não visitadas pela historiografia da educação física brasileira como produz novas pistas vestí gios e indícios que aguçam a curiosidade a sensibilidade e a inteligência As várias reticências que utiliza na construção da sua narrativa indicam que os rastros que encontrou e aqueles que produziu ao longo da sua investigação devem continuar sendo perseguidos pois a experiência de contar histórias se justifica no desejo de não esquecêlas LINHALES 2009 p 21 O livro A escola e o esporte uma história de práticas culturais apresenta bons motivos para ser lido não apenas por pesquisadores e estudantes do campo da Educação Física mas sobretudo por aqueles que se interessam por entender como uma prática cultural no caso o esporte passa a ser representada como ter ritório fecundo para a modernização do país e paralelamente como recurso de perpetuação de valores pautados na disciplinação dos corpos e subjetividades Se por um lado o livro ajuda a pensar no caráter dinâmico do poder e suas múltiplas faces práticas e discursos por outro evidencia ausências no adensar de análises que pudessem explicitar com mais clareza os vínculos e afiliações políticas de de terminados grupos que compunham ou dialogavam com a ABE Nessa perspectiva talvez um mergulho em fontes que não as produzidas por essa instituição fosse pertinente ainda que se saiba que essa seria provavelmente uma outra história Ainda que essa ausência se faça presente na investigação desenvolvida por Linhales de modo algum fragiliza ou minimiza a importância da obra ao contrário faz ver 260 Rev Bras Ciênc Esporte Florianópolis v 34 n 1 p 253260 janmar 2012 que estudos nessa direção são raros na historiografia da Educação Física brasileira e portanto necessários REFERÊNCIAS ARCHANJO F M SIMÕES J L Mente e corpo sadio a educação física e esportes nos colégios católicos do recife durante o estado novo In CONGRESSO NACIONAL DE EDU CAÇÃO FÍSICA SAÚDE E CULTURA CORPORAL 4 Recife 2010 Anais Recife 2010 LEANDRO M R Educação Física no Brasil uma história política 2002 Trabalho de Conclusão de Curso Graduação Centro Universitário UNIFMU São Paulo 2002 LINHALES M A A escola e o esporte uma história de práticas culturais São Paulo Cortez 2009 272 p MELO V A NASCIMENTO R C O papel dos militares no desenvolvimento da formação profissional na educação física brasileira In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 1 Rio de Janeiro 2000 Anais Rio de Janeiro 2000 PESAVENTO S J História história cultural 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2005 132 p Recebido 13 out 2010 Aprovado 05 mar 2011 Endereço para correspondência Christiane Garcia Macedo ESEF UFRGS Rua Felizardo 750 Jardim Botânico Porto Alegre RS CEP 90690200