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Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 69 Valter Bracht RESUMO O presente ensaio analisa o processo de construção das teo rias pedagógicas da educação física no Brasil buscando demonstrar como elas refletem a concepção e o significado humano de corpo engen drados na e pela sociedade moderna O texto apresenta as teorias pe dagógicas que no âmbito da educação física se colocam numa perspec tiva crítica em relação aos usos e aos significados atribuídos pela soci edade capitalista às práticas corporais E finalmente problematiza a pos sibilidade de estarmos diante de uma ruptura da visão moderna de cor po refletindo sobre os desafios que essa transição coloca para a edu caçãoeducação física Palavraschave Educação física corpo modernidade pósmodernidade Educação corporal no âmbito da educação física Neste primeiro item desejamos apresentar as categorias e as problematizações básicas que orientaram nossas reflexões sobre o tema Elas são derivadas de questões como do ponto de vista educativo o que tem significado a educação corporal Que tipo de educação corporal a escola e a educação física vêm realizando Por que surge o interesse pela educação corporal também na escola e quais suas determina ções sóciohistóricas A constituição das teorias pedagógicas da educação física Professor de Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo 70 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 A utilização de aspas na expressão educação corporal fornece uma pista de uma das questões que pretendemos colocar A tradição racionalista ocidental tornou possível falar confortavelmente da possibili dade de uma educação intelectual por um lado e de uma educação físi ca ou corporal por outro quando não de uma terceira educação a moral expressão da razão cindida das três críticas de I Kant filósofo que não obstante segundo Welsch 1988 preocupouse intensamente com as mediações entre as diferentes dimensões da racionalidade Essas educa ções teriam alvos objetos bem distintos o espiritual ou mental o intelec to por um lado e o corpóreo ou físico por outro resultando da soma a educação integral educação intelectual moral e física É claro o alvo era ou é o comportamento humano mas influenciálo ou conformálo pode ser alcançado pela ação sobre o intelecto e sobre o corpo Também na melhor tradição ocidental a educação corporal vai pautarse pela idéia cultu ralmente cristalizada da superioridade da esfera mental ou intelectual a razão como identificadora da dimensão essencial e definidora do ser humano O corpo deve servir O sujeito é sempre razão ele o corpo é sempre objeto a emancipação é identificada com a racionalidade da qual o corpo estava por definição excluído 1 A esse respeito assim se expressa Santin 1994 p 13 A racionalidade foi proclamada como a especificidade exclusiva e única das dimensões humanas O humano do homem ficou enclausurado nos limites da racionalidade Ser racional e ter o uso da razão constituíramse nos únicos pressupostos para as segurar os plenos direitos de pertencer à humanidade Ou como afirma Gil 1994 em seu brilhante Monstros referindo se à visão de corpomáquina Deuse uma transferência dos poderes do corpo para o espírito de nada serve ao corpo estar substancialmente unido ao espírito e assim tornarse vivo e indivisível é este último que define a sua natureza humana Doravante o único defeito do corpo é po der levar a alma a enganarse p 169 As teorias ou metanarrativas que circunstanciam o projeto da modernidade e que projetavam perspectivas para a humanidade não Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 71 reservavam ao corpo a seus desejos suas fantasias etc papel cen tral Não lhe atribuíam papel importante para a construção de uma prá tica emancipatória como também nenhum papel subversivo A eman cipação humana iluminista darseia pela razão pela consciência desencarnada As teorias da consciência mesmo as de orientação positivista são mentalistas vai ser a psicanálise que não casualmente não goza de grande prestígio acadêmico que colocará o corpóreo a dimensão nãoracionalizada como elemento importante para o enten dimento das ações humanas Nas teorias do conhecimento da modernidade que têm sua ex pressão máxima no chamado método científico a ciência moderna o corpo ou a dimensão corpórea do homem aparece como um elemento perturbador que precisa ser controlado pelo estabelecimento de um pro cedimento rigoroso por exemplo Francis Bacon e os idola Para Veiga Neto 1996 se existe alguma culpa na ciência ou na racionalidade moderna ela se situa na divisão entre res estensa e res cogitans pois essa separação fundamentou o nosso afastamento em re lação ao resto do mundo Esse afastamento segundo o autor deixanos sem compromisso com o destino de tudo o que nos cerca incluindo aí os outros homens e mulheres Tal separação está na base da idéia do controle racional do mundo Tanto as teorias da construção do conhecimento como as teorias da aprendizagem com raras exceções são desencarnadas é o intelecto que aprende Ou então depois de uma fase de dependência a inteligência ou a consciência finalmente se liberta do corpo Inclusive as teorias sobre aprendizagem motora são em parte cognitivistas O papel da corporeidade na aprendizagem foi historicamente subestimado negligenciado Hoje é interessante perceber um movimento no sentido de recuperar a dignida de do corpo ou do corpóreo no que diz respeito aos processos de apren dizagem Isso acontece curiosamente por intermédio dos desenvolvimen tos nas ciências naturais ver a respeito Assmann 1996 Mas claro que esse entendimento de ser humano tem bases con cretas na forma como o homem vem produzindo e reproduzindo a vida Nesse sentido o corpo sofre a ação sofre várias intervenções com a fina lidade de adaptálo às exigências das formas sociais de organização da produção e da reprodução da vida Alvo das necessidades produtivas cor po produtivo das necessidades sanitárias corpo saudável das neces sidades morais corpo deserotizado das necessidades de adaptação e 72 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 controle social corpo dócil O déficit de dignidade do corpo vinha de seu caráter secundário perante a força emancipatória do espírito ou da razão Mas esse mesmo corpo assim produzido historicamente repunha a ne cessidade da produção de um discurso que o secundarizava exatamen te porque causava um certo malestar à cultura dominante Ele precisa assim ser alvo de educação mesmo porque educação corporal é educa ção do comportamento que por sua vez não é corporal e sim humano Educar o comportamento corporal é educar o comportamento humano Mas vejamos na trajetória das diferentes construções históricas da educação física EF como esse entendimento de corpo e de educação corporal se concretizou Antes é imprescindível fazer uma observação quanto a um equívoco que grassa no âmbito da educação física Trata se do entendimento de que a educação corporal ou o movimento corpo ral é atribuição exclusiva da educação física Sem dúvida à educação fí sica é atribuída uma tarefa que envolve as atividades de movimento que só pode ser corporal uma vez que humano No entanto a educação do comportamento corporal porque humano acontece também em outras instâncias e em outras disciplinas escolares Contudo neste texto vou me concentrar na contribuição da disciplina educação física EF para a educação corporal que acontece na escola portanto na construção das teorias pedagógicas da EF Mas é importante observar que na instituição escolar o termo disciplina envolve um duplo aspecto por um lado a dimensão das relações hierárquicas observância de preceitos normas da conduta do corpo por outro os aspectos do co nhecimento propriamente dito Portanto a escola promove a educação corporal Nos dizeres de Faria Filho 1997 p 52 Assim como a escola escolarizou conhecimentos e práticas sociais buscou também apropriar se de diversas formas do corpo e constituir uma corporeidade que lhe fosse mais adequada Esse aspecto revestese de importância uma vez que o tratamento do corpo na EF sofre influências externas da cultura de maneira geral mas também internas ou seja da própria instituição escolar Da origem médica e militar à esportivização A constituição da educação física ou seja a instalação dessa práti ca pedagógica na instituição escolar emergente dos séculos XVIII e XIX foi fortemente influenciada pela instituição militar e pela medicina A instituição Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 73 militar tinha a prática exercícios sistematizados que foram ressignificados no plano civil pelo conhecimento médico Isso vai ser feito numa perspec tiva terapêutica mas principalmente pedagógica Educar o corpo para a produção significa promover saúde e educação para a saúde hábitos sau dáveis higiênicos Essa saúde ou virilidade força também pode ser e foi ressignificada numa perspectiva nacionalistapatriótica Há exemplos marcantes na história desse tipo de instrumentalização de formas culturais do movimentarse como por exemplo a ginástica Jahn e Hitler na Alema nha Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu Estado Novo no Brasil Es ses movimentos são signatários do entendimento de que a educação da vontade e do caráter pode ser conseguida de forma mais eficiente com base em uma ação sobre o corpóreo do que com base no intelecto lá onde o controle do comportamento pela consciência falha é preciso intervir no e pelo corpóreo o exemplo mais recente é o movimento carismático da Igre ja Católica no Brasil a aeróbica do Senhor Normas e valores são lite ralmente incorporados pela sua vivência corporal concreta A obediência aos superiores precisa ser vivenciada corporalmente para ser conseguida é algo mais do plano do sensível do que do intelectual O corpo é alvo de estudos nos séculos XVIII e XIX fundamental mente das ciências biológicas O corpo aqui é igualado a uma estrutura mecânica a visão mecanicista do mundo é aplicada ao corpo e a seu funcionamento O corpo não pensa é pensado o que é igual a analisa do literalmente lise pela racionalidade científica Ciência é controle da natureza e portanto da nossa natureza corporal A ciência fornece os elementos que permitirão um controle eficiente sobre o corpo e um au mento de sua eficiência mecânica 2 Melhorar o funcionamento dessa máquina depende do conhecimento que se tem de seu funcionamento e das técnicas corporais que construo com base nesse conhecimento Assim o nascimento da EF se deu por um lado para cumprir a função de colaborar na construção de corpos saudáveis e dóceis ou melhor com uma educação estética da sensibilidade que permitisse uma adequada adaptação ao processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista e por outro foi também legitimado pelo conheci mento médicocientífico do corpo que referendava as possibilidades a necessidade e as vantagens de tal intervenção sobre o corpo Como lembra Le Breton 1995 a medicina representa em nossas sociedades um saber em alguma medida oficial sobre o corpo Mas novamente esse entendimento vai se alterar e mais uma vez em consonância com alterações de ordem mais geral ou seja da forma 74 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 como se produz e reproduz a vida portanto de mudanças históricas Foucault 1985 identifica uma mudança importante da ação do poder ou do envolvimento do corpo pelosnos micropoderes Paulatinamente no século XX saímos de um controle do corpo via racionalização repressão com enfoque biológico para um controle via estimulação enaltecimento do prazer corporal com enfoque psicológico Muitos estudos citam a dé cada de 1960 Courtine 1996 Le Breton 1995 como o momento mais importante dessa inflexão Voltaremos a isso mais adiante Outro fenômeno muito importante para a política do corpo foi gestado e adquiriu grande significação social nesse período histórico séculos XIX e XX Essa prática corporal a esportiva está desde cedo muito fortemente orientada pelos princípios da concorrência e do rendi mento Rigauer 1969 Este último aspecto ou esta última característica é comum a outra técnica corporal incentivada pelos filantropos e pela medicina na Europa continental que é a ginástica Aumento do rendimen to atléticoesportivo com o registro de recordes é alcançado com uma intervenção científicoracional sobre o corpo que envolve tanto aspectos imediatamente biológicos como aumento da resistência da força etc quanto comportamentais como hábitos regrados de vida respeito às re gras e normas das competições etc Treinamento esportivo e ginástica promovem a aptidão física e suas conseqüências a saúde e a capacida de de trabalhorendimento individual e social objetivos da política do corpo A ginástica é parte importante do movimento médicosocial do higienismo como mostrou Soares 1997 Interessante observar que Foucault 1985 p 151 quando pergun tado sobre quem coordena a ação dos agentes da política do corpo afir ma que é um conjunto extremamente complexo Tomemos o exem plo da filantropia no início do século XIX pessoas que vêm se ocupar da vida dos outros de sua saúde da alimentação da moradia Mais tarde dessa função confusa saíram personagens instituições saberes uma higiene pública inspetores assistentes sociais psicólogos E hoje assis timos a uma proliferação de categorias de trabalhadores sociais Entre estes seguramente podemos situar os professores de EF Interessante observar que a adesão ao esporte na Inglaterra pu ritana segundo Grieswelle 1978 deveuse também ao fato de este ter incorporado o princípio do rendimento que o aproximou da ética do tra balho propiciando inclusive a construção do conceito de Cristandade Muscular Courtine 1995 mostra de forma brilhante como o puritanis Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 75 mo absorve esse tipo de prática corporal nos Estados Unidos conferin dolhe um significado coerente com a doutrina religiosa e com os valo res culturais dominantes A emergência do esporte após a Guerra Civil ocorreu sobre o pano de fundo de um individualismo disciplinado exigindo autosacrifí cio e devotamento a uma causa comum A ética puritana do tra balho tinha se infiltrado profundamente nas práticas esportivas como se a utilidade social destas práticas devesse ser julgada apenas de acordo com seu critério Entretanto no final do século XIX esta lógica de organização racional e de ordem moral já es tava em declínio Durante as primeiras décadas deste século ela foi sendo progressivamente substituída por uma concepção um tanto diferente das finalidades da cultura física O espírito de com petição o desejo de vencer tinham mais ainda que no passado sido investidos pelo esporte ao mesmo tempo em que invadiam o sentimento de que se podia legitimamente buscar no exercício muscular uma gratificação pessoal e um prazer do corpo Um cui dado com o bemestar individual aparece nas críticas da ética pu ritana formuladas desde então Reprovase essa ética por inves tir a totalidade da energia do indivíduo americano em fins puramen te utilitaristas por exprimir e mesmo reforçar um medo do prazer Courtine 1995 p 99 É claro que o esporte assim como a ginástica é um fenômeno polissêmico ou seja apresenta vários sentidossignificados e ligações sociais Por exemplo o movimento olímpico permitiu conferir pela cate goria política da nação um significado mais imediatamente político aos resultados esportivos o qual é incorporado à política do corpo mais ge ral com as repercussões que todos conhecemos na educação física Chamo aqui a atenção para a combinação de dois fatores e para o fato de que o esporte passa a substituir com vantagens a ginástica como técnica corporal que corporificacondensa os princípios que precisam ser incorporados no duplo sentido pelos indivíduos A pedagogia da EF incorporou sem necessidade de mudar seus princípios mais fundamentais essa nova técnica corporal o esporte agregando agora em virtude das intersecções sociais principalmente políticas desse fenômeno novos sentidossignificados como por exem plo preparar as novas gerações para representar o país no campo es 76 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 portivo internacional Tal combinação de objetivos fica muito clara no conhecido Diagnóstico da Educação FísicaDesportos realizado pelo governo brasileiro e publicado em 1971 Costa 1971 Como os princípios eram os mesmos e o núcleo central era a in tervenção no corpo máquina com vistas ao seu melhor funcionamento orgânico para o desempenho atléticoesportivo ou desempenho produ tivo o conhecimento básicoprivilegiado que é incorporado pela EF para a realização de sua tarefa continua sendo o que provém das ciências naturais mormente a biologia e suas mais diversas especialidades au xiliadas pela medicina como uma de suas aplicações práticas Os anos 80 e a crítica ao paradigma da aptidão física e esportiva O paradigma que orientou a prática pedagógica em EF descrito no item anterior esteve presente desde a origem e durante a implementação no Brasil e foi revitalizado pelo projeto de nação da ditadura militar que aqui se instalou a partir de 1964 Pelo Diagnóstico da EFDesportos an teriormente citado e pelos documentos da política de desenvolvimento dos esportes e da educação aliás extremamente abundantes nesse pe ríodo fica claro que a EF no sentido lato possuía um papel importante no projeto de Brasil dos militares e que tal importância estava ligada ao desenvolvimento da aptidão física e ao desenvolvimento do desporto a primeira porque era considerada importante para a capacidade produ tiva da nação da classe trabalhadora ver a esse respeito Gonçalves 1971 e o segundo pela contribuição que traria para afirmar o país no concerto das nações desenvolvidas Brasil potência e pela sua con tribuição para a primeira ou seja para a aptidão física da população É claro que no percurso da hegemonia desse paradigma ele foi contesta do alternativas foram propostas no entanto nada que pudesse abalar seriamente seus princípios No seio da própria instituição militar que teve forte influência na trajetória da EF brasileira muitos de seus intelectuais foram influenciados nas décadas de 1920 a 1950 pelo movimento escolanovista e pensaram a educação e a educação física com base nos princípios dessa teoria pedagógica 3 Neste ponto aproveito para abordar um outro equívoco recorren te na área da EF O de que o predomínio do conhecimento das ciências naturais principalmente da biologia e seus derivados como conheci Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 77 mento fundamentador da EF significava a ausência da reflexão pedagó gica Ao contrário como procurei demonstrar em estudo anterior Bracht 1996 até o advento das ciências do esporte nos anos 70 o teorizar no âmbito da EF era sobretudo de caráter pedagógico isto é voltado para a intervenção educativa sobre o corpo é claro sustentado fundamental mente pela biologia Falavase na educação integral o famoso caráter biopsicossocial mas como a educação integral não legitima especifica mente a EF na escola ou na sociedade e sim o seu específico este era entendido na perspectiva de sua contribuição para o desenvolvimento da aptidão física e esportiva A entrada mais decisiva das ciências sociais e humanas na área da EF processo que tem vários determinantes permitiu ou fez surgir uma análise crítica do paradigma da aptidão física Mas esse viés encontra se num movimento mais amplo que tem sido chamado de movimento re novador da EF brasileira na década de 1980 Um primeiro momento dessa crítica tinha um viés cientificista Por esse viés entendiase que faltava à EF ciência Era preciso ori entar a prática pedagógica com base no conhecimento científico este por sua vez entendido como aquele produzido pelas ciências naturais ou com base em seu modelo de cientificidade O desconhecimento da história da EF fez com que não se percebesse que esse movimento apenas atualizava o percurso e a origem histórica da EF e portanto que ele não rompia com o próprio paradigma da aptidão física Nes se período vamos assistir à entrada em cena também de outra pers pectiva que é aquela que se baseia nos estudos do desenvolvimento humano desenvolvimento motor e aprendizagem motora O segundo momento vai permitir então uma crítica mais radical à EF como ve remos a seguir A partir da década de 1970 no mundo e no Brasil passa a cons tituirse mais claramente um campo acadêmico nada EF campo este que se estrutura a partir das universidades entre outros ver Sobral 1996 pp 243252 e Bracht 1996 em grande medida em virtude da im portância da instituição esportiva já em simbiose com a EF O discurso neocientificista da EF visava também à legitimação desta no âmbito universitário A educação física como participante do sistema universitário brasileiro acaba por incorporar as práticas científicas típicas desse meio Uma das conseqüências será a busca de qualificação do corpo 78 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 docente dos cursos de graduação em programas de pósgraduação inicialmente no exterior mas também e crescentemente no Brasil Um grupo desses docentes optou por buscar os cursos de pósgraduação em educação no Brasil Principalmente com base nessa influência o campo da EF passa a incorporar as discussões pedagógicas nas dé cadas de 1970 e 1980 muito influenciadas pelas ciências humanas principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação marxista O eixo central da crítica que se fez ao paradigma da aptidão físi ca e esportiva foi dado pela análise da função social da educação e da EF em particular como elementos constituintes de uma sociedade capi talista marcada pela dominação e pelas diferenças injustas de classe Toda a discussão realizada no campo da pedagogia sobre o ca ráter reprodutor da escola e sobre as possibilidades de sua contribui ção para uma transformação radical da sociedade capitalista foi ab sorvida pela EF A década de 1980 foi fortemente marcada por essa influência constituindose aos poucos uma corrente que inicialmen te foi chamada de revolucionária mas que também foi denominada de crítica e progressista Se num primeiro momento digamos o da de núncia o movimento progressista apresentavase bastante homogê neo hoje depois de mais de 15 anos de debate é possível identifi car um conjunto de propostas nesse espectro que apresentam dife renças importantes O quadro das propostas pedagógicas em EF apresentase hoje bastante mais diversificado Embora a prática pedagógica ainda resis ta a mudanças 4 ou seja a prática acontece ainda balizada pelo paradigma da aptidão física e esportiva várias propostas pedagógicas foram gestadas nas últimas duas décadas e se colocam hoje como al ternativas A seguir apresentamos de forma resumida algumas delas 5 Uma dessas propostas é a chamada abordagem desenvolvi mentista A sua idéia central é oferecer à criança a proposta limitase a oferecer fundamentos para a EF das primeiras quatro séries do primei ro grau oportunidades de experiências de movimento de modo a ga rantir o seu desenvolvimento normal portanto de modo a atender essa criança em suas necessidades de movimento Sua base teórica é essen cialmente a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem e seus autores principais são os professores Go Tani e Edison de Jesus Manoel da USP e Ruy Jornada Krebs da UFSM Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 79 Observese que próxima a essa abordagem podemos colocar a chamada psicomotricidade ou educação psicomotora que exerceu grande influência na EF brasileira nos anos 70 e 80 Influência esta que está longe de terse esgotado conforme podemos perceber pela reportagem recente da revista Nova Escola intitulada A educação fí sica dá uma mãozinha na qual se demonstra como a EF pode auxi liar no ensino de matemática Falzetta 1999 Essa proposta vem sendo criticada exatamente porque não confere à EF uma especificidade fi cando seu papel subordinado a outras disciplinas escolares Nessa perspectiva o movimento é mero instrumento não sendo as formas culturais do movimentarse humano consideradas um saber a ser transmitido pela escola A proposta do professor João Batista Freire Unicamp embora preocupada com a cultura especificamente infantil porque fundamenta da também basicamente na psicologia do desenvolvimento pode igual mente ser colocada como próxima às duas anteriores Talvez devêssemos também fazer menção a um movimento de atu alização ou renovação do paradigma da aptidão física levado a efeito com base no mote da promoção da saúde Considerando os avanços do conhecimento biológico acerca das repercussões da atividade física so bre a saúde dos indivíduos e as novas condições urbanas de vida que levam ao sedentarismo essa proposta revitaliza a idéia de que a prin cipal tarefa da EF é a educação para a saúde ou em termos mais gené ricos a promoção da saúde As propostas abordadas até aqui têm em comum o fato de não se vincularem a uma teoria crítica da educação no sentido de fazer da crí tica do papel da educação na sociedade capitalista uma categoria cen tral Esse é o caso de duas outras propostas que vão mais explícita e di retamente derivarse das discussões da pedagogia crítica brasileira Uma delas está consubstanciada no livro Metodologia do ensi no da educação física de um coletivo de autores publicado em 1992 Essa proposta baseiase fundamentalmente na pedagogia histórico crítica desenvolvida por Dermeval Saviani e colaboradores e auto intitulouse críticosuperadora Entende essa proposta que o objeto da área de conhecimento EF é a cultura corporal que se concretiza nos seus diferentes temas quais sejam o esporte a ginástica o jogo as lutas a dança e a mímica Sistematizando o conhecimento da EF em ciclos 1º da organização da identidade dos dados da realidade 2º 80 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 da iniciação à sistematização do conhecimento 3º da ampliação da sistematização do conhecimento 4º do aprofundamento da sistema tização do conhecimento propõe que este seja tratado de forma historicizada de maneira a ser apreendido em seus movimentos con traditórios Outra proposta nesse espectro é a que se denomina crítico emancipatória e que tem como principal formulador o professor Elenor Kunz da UFSC hoje acompanhado na tarefa por um conjunto de co legas que compõem o Núcleo de Estudos Pedagógicos do Centro de Desportos daquela universidade As primeiras elaborações do profes sor Kunz foram fortemente influenciadas pela pedagogia de Paulo Freire Kunz 1991 Outra forte influência são as análises fenome nológicas do movimento humano com base em parte em Merleau Ponty tomadas de estudiosos holandeses como Gordjin Tamboer e tam bém Trebels este seu orientador no doutorado em Hannover Alema nha A proposta de Kunz parte de uma concepção de movimento que ele denomina de dialógica O movimentarse humano é entendido aí como uma forma de comunicação com o mundo Outro princípio impor tante em sua pedagogia é a noção de sujeito tomado numa perspecti va iluminista de sujeito capaz de crítica e de atuação autônomas pers pectiva esta influenciada pelos estudiosos da Escola de Frankfurt A proposta aponta para a tematização dos elementos da cultura do mo vimento de forma a desenvolver nos alunos a capacidade de analisar e agir criticamente nessa esfera É imperioso fazer menção também à proposta da concepção de aulas abertas à experiência tornada conhecida no Brasil pelo profes sor alemão Reiner Hildebrandt que foi professor visitante da UFSM Essa proposta está consubstanciada principalmente em dois livros um de autoria do professor Hildebrandt em conjunto com seu colega ale mão R Laging Hildebrandt e Laging 1986 o outro resultado da di vulgação e do trabalho do professor Hildebrandt no Brasil o qual foi publicado por dois grupos de estudo o da UFPE e o da UFSM Visão Didática 1991Trabalhando com a perspectiva de que a aula de EF pode ser analisada em termos de um continuum que vai de uma con cepção fechada a uma concepção aberta de ensino e considerando que a concepção fechada inibe a formação de um sujeito autônomo e crítico essa proposta indica a abertura das aulas no sentido de se conseguir a coparticipação dos alunos nas decisões didáticas que configuram as aulas Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 81 Após esta breve e insuficiente descrição das diferentes propos tas não todas que se colocam como alternativas ao paradigma domi nante gostaria de ressaltar alguns pontos Para as teorias progressistas da EF citadas pedagogia crítico superadora e críticoemancipatória as formas culturais dominantes do movimentarse humano reproduzem os valores e princípios da so ciedade capitalista industrial moderna sendo o esporte de rendimento paradigmático nesse caso Reproduzilos na escola por meio da edu cação física significa colaborar com a reprodução social como um todo A linguagem corporal dominante é ventríloqua dos interesses dominantes Assim ambas as propostas sugerem procedimentos didá ticopedagógicos que possibilitem ao se tematizarem as formas cul turais do movimentarse humano os temas da cultura corporal ou de movimento propiciar um esclarecimento crítico a seu respeito des velando suas vinculações com os elementos da ordem vigente desen volvendo concomitantemente as competências para tal a lógica dialética para a críticosuperadora e o agir comunicativo para a críti coemancipatória Assim conscientes ou dotados de consciência crí tica os sujeitos poderão agir autônoma e criticamente na esfera da cultura corporal ou de movimento e também agir de forma transfor madora como cidadãos políticos Vale ressaltar que as propostas buscam ser um antídoto para um conjunto de características da cultura corporal ou de movimento atu ais que segundo a interpretação dessas abordagens por um lado são produtoras de falsa consciência e por outro transformam os sujeitos em objetos ou consumidores acríticos da indústria cultural Para realizar tal tarefa é fundamental entender o objeto da EF o movimentarse humano não mais como algo biológico mecânico ou mesmo apenas na sua dimensão psicológica e sim como fenômeno his tóricocultural Portanto essa leitura ou esse entendimento da educação física só criará corpo quando as ciências sociais e humanas forem toma das mais intensamente como referência No entanto é preciso ter claro que a própria utilização de um novo referencial para entender o movi mento humano está na dependência da mudança do imaginário social sobre o corpo e as atividades corporais Entendo que essa visão do objeto da EF está alcançando uma quase unanimidade na discussão pedagógica desse campo Os termos cultura corporal cultura de movimento ou cultura corporal de movimen 82 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 to aparecem em quase todos os discursos embora lhes sejam atribuídas conseqüências pedagógicas distintas Desafios das propostas pedagógicas progressistas da educação física As propostas pedagógicas progressistas em EF deparam com de safios de várias ordens desde questões relativas à sua implementação ou seja de como fazer com que sejam incorporadas pela prática peda gógica nas escolas até questões mais teóricas que dizem respeito por exemplo às suas bases epistemológicas Um desses desafios é conquistar legitimidade no campo pedagó gico Os argumentos que legitimavam a EF na escola sob o prisma con servador aptidão física e esportiva não se sustentam numa perspecti va progressista de educação e educação física mas ao que tudo indi ca hoje também não na perspectiva conservadora Parece que a visão neotecnicista economicista de educação que enfatiza a preparação do cidadão para o mercado de trabalho dadas as mudanças tecnológicas do processo produtivo pode prescindir hoje da EF e não lhe reserva ne nhum papel relevante o suficiente para justificar o investimento público a revitalização do discurso da promoção da saúde é uma tentativa de setores conservadores de legitimar a EF na escola mas tem pouca pro babilidade de encontrar eco haja vista a crescente privatização e individualização da saúde promovida pelo Estado mínimo neoliberal Além disso o crescimento da oferta e do consumo dos serviços ligados às práticas corporais fora do âmbito da escola e do sistema tradicional do esporte como as escolas de natação academias escolinhas de fu tebol judô voleibol etc permite o acesso à iniciação esportiva às ati vidades físicas sem depender da EF escolar Parecenos mais fácil paradoxalmente encontrar argumentos para legitimar a EF e a educação artística hoje na escola de uma perspec tiva crítica de educação Os argumentos vão na mesma direção do expos to quando apresentamos as propostas progressistas do âmbito da EF A dimensão que a cultura corporal ou de movimento assume na vida do ci dadão atualmente é tão significativa que a escola é chamada não a re produzila simplesmente mas a permitir que o indivíduo se aproprie dela criticamente para poder efetivamente exercer sua cidadania Introduzir Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 83 os indivíduos no universo da cultura corporal ou de movimento de forma crítica é tarefa da escola e especificamente da EF Outro ponto que se coloca como um desafio é fazer uma leitura ade quada da política do corpo Foucault ou então de como o corpo apare ce na atual dinâmica cultural no sentido mais amplo com suas intersecções sociais principalmente na sua função de afirmar confirmar e reconstruir por que constantemente contestada a hegemonia de um projeto histórico bem como situar o papel da instituição educacional nesse processo Embora nossa atenção como profissionais ligados à EF esteja mais voltada para a cultura corporal ou de movimento num sentido res trito para compreender as mudanças que se operam nesse âmbito é pre ciso analisar também o percurso da história do corpo Podemos constatar principalmente nas três últimas décadas a partir dos anos 60 um verdadeiro boom do corpo Essa redescoberta do corpo se dá em várias instâncias e perspectivas e suas razões só podem ser aqui discutidas de forma muito precária Tal redescoberta está presente também no meio acadêmico onde o corpo passa a ser objeto privilegiado da história da filosofia da antropologia da psico logia da aprendizagem etc As razões pelas quais o corpo e por conseqüência as práti cas corporais passa a ser objeto digno das diversas disciplinas cientí ficas objeto de atenção da teoria política às teorias da aprendizagem são seguramente múltiplas e complexas O que é possível afirmar é que estas estão vinculadas ao novo status social que a cultura ocidental vai conferir ao corpo principalmente a partir da década de 1960 Sem adotar uma perspectiva internalista nem externalista da his tória da ciência é possível dizer que desenvolvimentos internos conhe cimentos do âmbito das ciências cognitivas da neurofisiologia da bio logia da filosofia etc e externos à ciência crítica ao caráter repressivo das instituições a possibilidade da vivência do sexo pelo prazer graças aos avanços da anticoncepção possibilidades de mercadorização do corpo o advento da indústria do lazer etc levaram a conferir ao corpo ou à dimensão corpórea do homem um significado ou uma importância maior nas teorias explicativas de algumas ciências e a reconhecêlo como problema ou objeto Algumas delas possuem importância central para a educação Refirome às teorias da sociologia da história e da an tropologia que enfatizam a importância da ação sobre o corpo como ele mento da ordem social à filosofia campo em que depois da crise da ra 84 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 zão iluminista paradigma da consciência percebese a retomada do tema da dimensão nãoracional do comportamento humano ou da sua dimensão estética nas teorias da aprendizagem o corpo passa a ser re conhecido como sujeito epistêmico pois como coloca Assmann 1996 todo conhecimento é um texto corporal tem uma textura corporal En fim como assevera Eagleton 1998 citado por Alves de Lima 1999 a retomada da importância do corpo foi uma das mudanças mais importan tes no pensamento radical presente Mas centrando nossa atenção novamente sobre a dinâmica cul tural e sobre como a corporeidade nela se apresenta seria importante perguntar se está se gestando uma nova visão de corpo um novo sig nificado humano de corpo uma visão de corpo que efetivamente su pere a visão moderna apresentada aqui e que foi é a base da EF moderna Em que medida as práticas corporais da atual dinâmica cul tural ainda são tributárias fiéis daquela visão moderna de corpo cor pomáquina corpoter Se estamos num momento de transição na cultura ocidental caminhando para uma cultura pósmoderna estamos num campo bastante complexo indefinido que não admite simplificações e que por isso mesmo se coloca como desafio Se adotarmos uma postura mais próxima da perspectiva pós moderna como por exemplo a de Lipovetsky 1989 tenderemos a responder afirmativamente à primeira questão acima Viver o corpo com base nos valores do presentismo e do narcisismo sem culpa e a pulverização radical dos sentidossignificados dessa vivência seri am indicadores do rompimento com valores próprios da modernidade Já para Le Breton hoje realmente há outra visão no discurso que se faz acerca do corpo há outra visão outra atenção normas sociais modificadas Nes te entusiasmo se mudou o imaginário do corpo porém sem que se alterasse o paradigma dualista Pois não poderia existir uma liberação do corpo e sim uma liberação do homem mesmo isto é que significasse para o sujeito uma maior plenitude E isto através de um uso diferente das atividades físicas ou de uma nova aparência Separar o corpo do sujeito para afirmar a libe ração do primeiro é uma figura de estilo de um imaginário dualista 1995 p 138 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 85 Para o autor a paixão pelo corpo modifica o conteúdo do dua lismo sem mudar sua forma Tende a psicologizar o corpomáquina mas esse paradigma mantém sua influência de forma mais ou menos oculta p 160 O dualismo de que fala Le Breton é o entre homem e corpo e não mentecorpo que tem por base o dualismo homemnatureza A mercadorização do corpo técnicas corporais produtos para o corpo etc necessita manter a diferenciação homemcorpo precisa manter a oposição entre o que corresponde ao corpo e o que corresponde ao inapreensível do homem Le Breton 1995 p 152 Courtine 1995 p 105 analisando o caso dos Estados Unidos também entende que o momento narcísico do corpo corresponde não a um laisseraller hedonista mas a um reforço disciplinar a uma in tensificação dos controles Ele não corresponde a uma dispersão da herança puritana mas antes a uma repuritanização dos comporta mentos cujos signos de modo mais ou menos explícito multiplicam se hoje O desafio se amplia na medida em que essas mudanças ou per manências estão articuladas com as estruturas e os movimentos sócio históricos mais amplos que são o alvo em última instância das peda gogias progressistas Essas pedagogias se nutrem de um projeto alter nativo de sociedade que precisa se afirmar diante do hoje hegemônico Daí a importância de uma leitura adequada da realidade que possa se articular com um projeto alternativo realizável Outro desafio situase no plano mais especificamente epis temológico É sabido que um movimento muito influente no momen to questiona fortemente a pretensão de verdade da ciência ou da ra zão científica e com isso acaba atingindo o núcleo central da peda gogia crítica que é exatamente sua pretensão de superar por meio de uma leitura crítica da realidade do esclarecimento a ideologia su perar uma visão superficial distorcida ou falsa da realidade Não será possível aqui aprofundar a questão Mas talvez valha a pena repro duzir ainda um comentário de Tomaz T da Silva 1993 p 137 um dos mais importantes teóricos da tradição crítica na educação esses questionamentos colocam em questão a própria utilização do termo crítico ou pelo menos nos obriga a repensálo Não creio diz ele que haja presentemente alguma resposta fácil a esse importante de safio 86 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 É claro que os pontos citados não esgotam a agenda das teorias pedagógicas críticas da educação física embora já constituam uma pauta bastante volumosa Notas 1 Reitemeyer 1987 em seu livro Philosophie der Leiblichkeit Filosofia da corporeidade recupera o materialismo radical de L Feuerbach mostrando como a dimensão corpórea a sensibilidade encontrava na sua visão de mun do uma posição de destaque Razão não sensível não radicada na sensibi lidade é irreal não mais verdadeira porque não mais orientada para a to talidade e sim para uma metade abstraída da sensibilidade assim ela não pre enche mais os quesitos da razão p 43 2 O esporte de alto rendimento é de certa forma uma metáfora dessa máxima 3 Indicações precisas desse processo encontramse no texto de A Ferreira Neto Pedagogia no exército e na escola A educação física brasileira 1880 1950 Tese de doutorado apresentada para qualificação Programa de pós graduação em EducaçãoUnimep mimeo 4 As razões são muitas e diversas Vão desde a pressão do contexto cultural e do imaginário social da EF que persiste e é reforçado pelos meios de comu nicação de massa até o fato de que a formação dos atuais professores de EF ocorreu em cursos de graduação cujo currículo ainda fora inspirado no referido paradigma passando pelo fato de que as pedagogias progressistas em EF ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento 5 Para uma apresentação mais detalhada classificando as abordagens em proposi tivas e nãopropositivas consultar Castellani Filho 1999 Para uma análise crí tica das propostas pedagógicas da educação física brasileira construídas na dé cada de 1980 remeto o leitor aos estudos de Caparroz 1997 e Ferreira 1995 Pedagogical theories cosntitution of phisical education ABSTRACT The present rehearsal analyzes the process of construction of the pedagogic theories of the Physical Education in Brazil seeking demonstrate how these theories reflect the conception and the meaning body human engendered in modern society The text presents the pedagogic theories that in the field of the Physical Education are placed in a critical perspective in relation to the uses and meanings attributed by the capitalist society to the corporal practices And finally through this discussion theres a possibility of breaking the modern vision of body contemplating on the challenges that this transition places for Education and Physical Education Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 87 Bibliografia ALVES DE LIMA HL Pensamento epistemológico da educação física brasileira Das controvérsias acerca do estatuto científico Disser tação de mestrado Centro de EducaçãoUFPe 1999 Mimeo ASSMANN H Pósmodernidade e agir pedagógico Como reencantar a educação Palestra no VIII Endipe Florianópolis 1996 Mimeo BRACHT V A construção do campo acadêmico educação física no pe ríodo de 1960 até nossos dias Onde ficou a educação física In Anais do IV Encontro Nacional de História do Esporte Lazer e Educação Física Belo Horizonte 1996 pp 140148 Educação física Conhecimento e especificidade In SOUSA ES de e VAGO TM orgs Trilhas e partilhas Educação física na cultura escolar e nas práticas sociais Belo Horizonte Cultura 1997 pp 1323 CAPARROZ FE Entre a educação física na escola e a educação física da escola Vitória CEFDUfes 1997 CASTELLANI FILHO L A educação física no sistema educacional bra sileiro Percurso paradoxos e perspectivas Tese de doutorado Campinas Faculdade de EducaçãoUnicamp 1999 COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da educação física São Paulo Cortez 1992 COSTA LP da Diagnóstico de educação físicadesportos no Brasil Rio de Janeiro Ministério da Educação e Cultura Fundação Nacional de Material Escolar 1971 COURTINE JJ Os stakhanovistas do narcisismo In SANTANNA DB de org Políticas do corpo São Paulo Estação Liberdade 1995 pp 81114 FALZETTA R A educação física dá uma mãozinha Revista Nova Esco la mar 1999 FARIA FILHO LM de História da escola primária e da educação física no Brasil Alguns apontamentos In SOUSA ES de e VAGO TM orgs Trilhas e partilhas educação física na cultura escolar e nas práticas sociais Belo Horizonte Cultura 1997 pp 4358 FERREIRA MG Teoria da educação física Bases epistemológicas e propostas pedagógicas In FERREIRA NETO A GOELLNER SV 88 Cadernos Cedes ano XIX nº 48 Agosto99 e BRACHT V orgs As ciências do esporte no Brasil Campinas Autores Associados 1995 FOUCAULT M Microfísica do poder 5 a ed Rio de Janeiro Graal 1995 GIL J Monstros Lisboa Quetzal 1994 GONÇALVES JAP Subsídios para implantação de uma política nacio nal de desportos Brasília 1971 GRIESWELLE D Sportosoziologie Stuttgart Kohlhammer 1978 GRUPO DE TRABALHO PEDAGÓGICO UFPEUFSM Visão didática da educação física Rio de Janeiro Ao livro técnico 1991 HILDEBRANDT R e LAGING R Concepções abertas no ensino da edu cação física Rio de Janeiro Ao Livro Técnico 1986 KUNZ E Educação física Ensino mudanças Ijuí Unijuí 1991 LE BRETON D Antropologia del cuerpo y modernidad Buenos Aires Nueva Visión 1995 LIPOVETSKY G A era do vazio Lisboa Antropos 1989 REITEMEYER U Philosophie der Leiblichkeit Frankfurt Suhrkamp 1988 RIGAUER B Sport und Arbeit Frankfurt Shuskamp 1969 SANTIN S Educação física Da alegria do lúdico à opressão do rendi mento Porto Alegre Edições ESTEsef 1994 SILVA TT da Sociologia da educação e pedagogia crítica em tempos pósmodernos In SILVA TT da org Teoria educacional crítica em tempos pósmodernos Porto Alegre Artes Médicas 1993 SOARES CL Imagens do corpo educado Um olhar sobre a ginástica no século XIX In FERREIRA NETO A org Pesquisa histórica na educação física Vitória CEFDUfes 1997 pp 532 SOBRAL F Para uma teoria da educação física Lisboa Diabril 1976 Cientismo e credulidade ou a patologia do saber em ciências do desporto Revista Brasileira de Ciências do Esporte 172 1996 pp 143152 VEIGA NETO AJ da Currículo disciplina e interdisciplinaridade Re vista Brasileira de Ciências do Esporte 172 1996 pp 128137 WELSCH W Unsere postmoderne Moderne Weinheim Acta Humaniora 1988