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5 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Educação Física escolar e ditadura militar no Brasil 19681984 história e historiografia Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Resumo Neste artigo pretendese indicar um conjunto de procedimentos oficiais institucionais e profissionais que produziu uma nova for ma de conceber a educação física no interior da instituição escolar no Brasil desde o final dos anos 1960 com base em um diálogo crítico com a recente produção historiográfica da educação e da educação física no Brasil Aqueles procedimentos foram orientados no sentido de dotar essa prática escolar de uma maior legitimidade acadêmica por meio de um amplo programa de massificação de seus conceitos e práticas de maciços investimentos estatais em pesquisa nessa área da ne cessidade de formação de especialistas mediante a expansão dos cursos de formação superior e de um aparato legislativo que de finia com rigor padrões de referência para a sua prática escolar Para tanto suas fontes principais são a série total da Revista Bra sileira de Educação Física e Desportos 19681984 editada pela Divisão de Educação Física do MEC os Programas de Educação Física da Prefeitura Municipal de Curitiba entre 1970 e 1984 e os depoimentos de professores da rede municipal de ensino de Curitiba Partindo do pressuposto de que o processo histórico se define como uma síntese de continuidade e ruptura recorre à obra de Edward Palmer Thompson para demonstrar como aquele se desen volve a partir da experiência dos agentes da história e do diálogo entre o ser social e a consciência social sem negligenciar a análise da influência dos fatores estruturais sobre esse mesmo processo aspecto privilegiado pela historiografia criticada Palavraschave História da educação física escolar Ditadura militar Disciplinas escolares Correspondência Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Setor de Educação Dept o de Teoria e Prática de Ensino Rua General Carneiro 460 5º andar sl 501 82940150 Curitiba PR Email marcusatufprbr Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 5 2 Physical education at school and the military dictatorship in Brazil 19681984 h i s t o r y a n d h i s t o r i o g r a p h y Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Abstract This paper describes a set of official institutional and professional procedures that since the late sixties produced a new way of conceiving the physical education within the school in Brazil to this end a critical dialogue is effected with the recent historiography literature on education and physical education in Brazil The aforementioned procedures were geared towards endowing the physical education with greater academic legitimacy through a series of measures a wide program of massification of its concepts and practices massive state investments in research in this field the need to train specialists through the expansion of higher education courses and the creation of a legal apparatus that defined rigorously the standards of its practice at school To such effect the papers main sources are the complete series of the Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brazilian Journal of Physical Education and Sports 19681984 edited by the Physical Education Division of the Ministry of Education MEC the Programas de Educação Física Programs of Physical Education from the Municipal Government of Curitiba between 1970 and 1984 and statements given by teachers of the municipal school system of Curitba Considering that the historical process is defined as a synthesis of continuity and rupture the work of Edward Palmer Thompson is drawn upon to show how this process develops from the experience of historys agents and from the dialogue between the social being and the social conscience without overlooking the analysis of the influence of structural factors an aspect privileged by the historiography criticized Keywords History of Education Physical Education Military dictatorship School disciplines Correspondence Marcus AurélioTaborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Setor de Educação Dept o de Teoria e Prática de Ensino Rua General Carneiro 460 5º andar sl 501 82940150 Curitiba PR Email marcusatufprbr 5 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Educação física escolar e ditadura militar no Brasil o que nos fala a historiografia Segundo uma determinada produção acadêmica da área da educação física a partir da década de 1980 de forte acento crítico com a qual discutirei ao longo desse trabalho a educação física escolar foi conformada de forma autoritária pelo Estado no Brasil a partir das reformas educacionais de 1968 Lei 5540 e 1971 Lei 5692 e decreto 69450 Segundo as análises oriundas desses estudos no interes se do desenvolvimento de um maior grau de eficiência produtiva no mundo do trabalho e pressupondo a importância da educação escolarizada para se atingir este fim a tecnicização do ensino patrocinada pelo gover no teria como premissa básica a discipli narização a normatização o alto rendimento e a eficácia pedagógica Esse pressuposto se ria orientado pelo alinhamento do país a uma ordem mundial calcada no desenvolvimento associado ao capital internacional mais expli citamente ao norteamericano Segundo tal concepção é irrefutável a tese da dependência estrutural o que implica necessariamente a dependência cultural aí incluída a educação em geral e no âmbito deste trabalho a edu cação física escolar em particular Dentro dessa perspectiva os intelectu ais a serviço do governo teriam gestado as políticas públicas para a educação no período aqui abordado Para a educação física escolar a Lei 569271 reserva em seu artigo 7º um espaço de obrigatoriedade nos currículos esco lares Essa obrigatoriedade foi regulamentada com o Decreto 6945071 que impôs padrões de referência para a prática de educação físi ca no interior da escola caracterizada como atividade ainda que a educação física passas se a ter todos os pressupostos característicos da configuração de uma disciplina escolar Chervel 1990 Segundo uma interpretação corrente na historiografia o esporte aliado à interfe rência governamental no desenvolvimento da educação física escolar tornavase referência praticamente exclusiva para a prática de ativi dades corporais no plano mundial seja dentro ou fora da escola Isso teria ocorrido em par te porque numa certa perspectiva o esporte codificado normatizado e institucionalizado pode responder de forma bastante significati va aos anseios de controle por parte do poder uma vez que tende a padronizar a ação dos agentes educacionais tanto do professor quanto do aluno noutra porque o esporte se afirmava como fenômeno cultural de massa contemporâneo e universal afirmandose por tanto como possibilidade educacional privile giada Assim o conjunto de práticas corporais passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no interior da escola resumiuse à prática de algumas modalidades esportivas As práticas escolares de educação física passaram a ter como fundamento primeiro a técnica esporti va o gesto técnico a repetição enfim a redu ção das possibilidades corporais a algumas poucas técnicas estereotipadas Essas são algumas das teses da historiografia Mas teriam os professores de educação física adotado passivamente os pres supostos teóricos e metodológicos para a edu cação física escolar difundidos pelo Estado e divulgados pela Revista Brasileira de educação física e Desportos periódico do MEC com ampla circulação nacional ou a prática coti diana da educação física escolar desenvolveu se com uma autonomia relativa ante as orien tações de um governo autoritário As evidên cias empíricas a serem exploradas ao longo deste artigo não permitem respostas esquemá ticas para essa questão Tais suposições ainda que não sejam de todo descartadas carecem freqüentemente de uma análise empírica mais acurada Se por um lado a partir de meados da década de 1970 a produção acadêmica em educação fí sica começava a se desenvolver com critérios científicos principalmente pelo início de um processo de titulação mestrado e doutorado 5 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e 1 A pesquisa que deu origem a este trabalho resultou na minha tese de doutorado em História e Filosofia da Educação defendida em mar ço de 2001 junto ao Programa de Estudos PósGraduados em Educa ção História Política Sociedade da PUCSP sob a orientação do prof dr Kazumi Munakata Para um maior aprofundamento dos pressu postos e procedimentos por mim adotados ver Oliveira 2001 de seus profissionais e pela emergência dos primeiros cursos de pósgraduação no Brasil por outro lado já estava sendo produzida e discutida no âmbito educacional uma literatura baseada nas teorias críticas com as quais os profissionais da educação física travaram con tato tardio uma vez que essas teorias só fo ram apropriadas pela teoria da educação físi ca no início dos anos 1980 Esses dois movi mentos infirmam a tese de um transplante puro e simples de teorias estrangeiras As evi dências mostram que havia embates bastante significativos em torno da questionável impor tância do esporte como prática pedagógica o que ocorria até mesmo no interior de um perió dico do MEC A historiografia desenvolveu uma es treita interpretação que imputa à educação física escolar uma função de reprodução do ideário oficial calcado na ideologia da segu rança nacional e do Brasil grande Além disso a tecnicização das práticas corporais represen taria melhoria das condições da força de tra balho no sentido de tornála mais eficiente e eficaz no processo de produção a raciona lidade e o planejamento da economia da edu cação conformavam então as políticas públi cas e conseqüentemente as práticas escolares deixando pouco ou nenhum espaço para a in tervenção dos sujeitos na história Essa visão está fortemente influenciada pela perspectiva de um a priori estrutural economicista nas relações do governo com a so ciedade civil atuando aquele como mediador dos interesses entre o capital e o trabalho para ga rantir a acumulação ampliada do primeiro O Es tado é concebido como uma instância que paira acima dos conflitos e dos consensos e determi na a prática e os interesses cotidianos dos sujei tos na história Essa perspectiva marca ainda uma profunda crença na última instância da estrutu ra econômica como orientadora da organização da cultura e das práticas culturais em particular como é o caso da educação escolarizada Ora como conceber os sujeitos histór i cos como indivíduos incapazes de gerir o seu cotidiano ou de forma ainda mais radical como massa de manobra apenas e sempre Isso eqüivaleria a extrair do sujeito toda a sua au tonomia ainda que relativa em face das vicis situdes da vida social e toda sua capacidade de indignação e resistência diante dos modelos preconcebidos de organização da cultura As sim ao operar com as evidências não foi difí cil refutar uma leitura determinista e economi cista do materialismo histórico característica de uma determinada leitura da história que extrai dos sujeitos toda sua potência criadora e os reduz a pouco mais que simples insumos culturais Nessa perspectiva os agentes histó ricos não teriam qualquer possibilidade de mo verse com autonomia diante das rígidas estru turas ideológicas determinadas pelo Estado Moldarse a determinados modelos culturais impostos de forma imperativa seria então tudo o que restaria aos mais diversos sujeitos1 Essa perspectiva da história da educação física foi marcada por uma visão linear um tanto mecânica desenvolvida no âmbito da pesquisa em história da educação no Brasil a partir da década de 1970 a qual por sua vez se alimen tou das discussões desenvolvidas no interior das Ciências Sociais Assim um dos objetivos deste artigo é evidenciar os limites desse tipo de abor dagem tendo como referência para análise uma determinada produção teórica da história da educação no Brasil a partir da década de 1970 e a influência desta produção mais ampla sobre a pesquisa em educação física no Brasil a partir da década de 1980 Já existe um acumulo sig nificativo de estudos que fazem a crítica da pro dução historiográfica da educação brasileira mo tivo pelo qual resolvi determe exclusivamente na produção historiográfica da educação física es colar Mas trabalhei sempre tendo no horizonte as obras de Vieira 1983 Libâneo 1989 5 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Freitag 1986 Saviani 1987 1988 1989 Buffa e Nosela 1991 Germano 1993 Cunha e Góes 1994 e Guiraldelli Jr 1994 Na pers pectiva de crítica a essa produção bem como a outros estudos aqui não referidos o leitor tem à disposição os trabalhos de Rashi 1990 Aranha 1992 Azanha 1992 Vieira 1994 e Barreira 1995 A escolha de obras e autores da edu cação física deuse pela conjugação de dois fa tores distintos a a crítica aos modelos polí ticas gestados pelo Estado naquele período e b a utilização de um referencial de análise que tenha como objeto privilegiado a educação escolar Esse recorte se faz necessário para pre cisar o alcance e os limites do trabalho ao qual me proponho primeiro traçar um quadro do quanto foi restrita a análise da dimensão so cial política econômica e cultural brasileira sob a ótica de uma tradição de pesquisa com prometida com a transformação da educação escolar brasileira em geral e a educação física escolar em particular a partir da década de 1980 E segundo buscar recolocar a questão das análises das práticas escolares particular mente da educação física na nossa história recente a partir de um olhar para dentro da escola devolvendo aos sujeitos o seu lugar na história da educação física escolar no Brasil Leituras sobre a história da educação física brasileira Ao caracterizar esse tópico como leitu ras pretendo deixar claro que não foi meu in t e n t o e s g o t a r a a n á l i s e d a p r o d u ç ã o historiográfica referente ao período em ques tão Tratase antes de uma leitura possível de obras datadas e situadas Com isso pretendo alertar o leitor que não é a minha intenção abarcar o conjunto da obra dos autores aos quais me reporto mas apenas debater com al gumas obras escolhidas seja pelo seu forte impacto na área da educação física escolar seja pela sua característica fundamentalmente his tórica Assim é que os textos escolhidos an tes de se configurarem como um todo homo gêneo caracterizamse mais como entradas possíveis de leitura na história recente da edu cação física no Brasil a partir de uma orien tação crítica Em comum esses trabalhos tra zem um determinado olhar sobre a história e a produção humana com algumas nuanças mas caracterizados basicamente por uma for ma vertical de conceber a relação entre os su jeitos históricos e as estruturas sociais políti cas e econômicas Muitos desses trabalhos não se caracterizam sequer como estudos históri cos Mas fazem inserções nesse campo o que permite leituras e interpretações de caráter his tórico Esse foi o meu intento com base nas indicações históricas dadas por esses autores que freqüentam com assiduidade os cursos de formação de professores e a produção acadê mica da área motivos mais do que suficien tes para o estabelecimento de um diálogo crí tico procurei captar e indicar um determina do esquema interpretativo das relações entre o ideário oficial e as práticas cotidianas dos agentes educacionais presente na produção acadêmica da educação física no Brasil a par tir do início da década de 1980 Desde a chegada das teorias críticas educacionais à área de educação física no Bra sil na década de 1980 seus pesquisadores têm afirmado que ela se encontra em crise Medina 1983 Carmo 1985 Guiraldelli Jr 1988 Mariz de Oliveira 1988 Bracht 1992 Tani 1998 Mais notadamente no âmbito escolar a edu cação física tem sido considerada como uma disciplina sem um lugar muito claro na esco la Muitos pesquisadores caracterizamna como uma atividade sem legitimidade Bracht 1992 sem função social Betti 1991 Coletivo de Au tores 1992 sem função política Guiraldelli Jr 1988 e até mesmo sem função educativa Mariz de Oliveira 1988 no interior da esco la Todos esses estudos caracterizamse por 5 6 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e uma visão estrutural extremamente ampla e um tanto arbitrária a educação física estaria em crise porque dentre outras razões o go verno autoritário instalado no Brasil após 1964 na tentativa de consolidar sua ideologia fez uso das atividades desportivas e da edu cação física em geral com a finalidade de anestesiar a consciência e amainar a participa ção popular nos processos reivindicatórios e decisórios Então teria o governo produzido e divulgado uma certa abordagem de educação física que se consolidou de forma incontestá vel sem que os profissionais da área pudessem contraporse às suas medidas arbitrárias e autoritárias A primeira dificuldade que apareceu ao tentar recortar a história da educação física no período aqui proposto diz respeito à limitada produção historiográfica da área principalmen te sobre o período por mim estudado é pratica mente inexistente na historiografia qualquer tra balho que faça referência ao período aqui pro posto À exceção do estudo de Lima 1992 des conheço trabalhos de maior densidade sobre essa temática Já existe na historiografia da educação física brasileira um grande número de estudos em torno da influência militar sobre a educação fí sica Goellner 1996 Bercito 1996 Castro 1997 Ferreira Neto 1999 Mas ainda não foram pro duzidos trabalhos que se refiram especificamente ao período da ditadura militar Assim a aproxi mação histórica deuse por recortes feitos a partir de outras obras consagradas na área mas que não se caracterizam por serem estudos histó ricos necessariamente No seu conjunto tais estudos dizem respeito muito mais às práticas escolares do que à história propriamente dita Mas todos eles de uma maneira ou de outra recorrem à história para justificar posições construir interpretações e alguns até mesmo estabelecer prescrições Nesse sentido é importante destacar que esse conjunto de obras analisado perfaz o caminho já apontado por Warde 1990 uma vez que ainda que não sejam trabalhos pró prios de história da educação física neles a história é chamada para justificar algo p 9 Segundo a autora um traço característico de trabalhos dessa natureza é o recuo a períodos históricos passados que serve para mostrar que o presente é do jeito que é porque o pas sado foi o que foi 1990 p 9 A minha op ção por tal operação poderia representar riscos não fosse a grande influência que essas obras lograram conquistar junto à comunidade aca dêmica e em muitos casos junto aos currícu los oficiais e aos professores Ora essa influ ência acaba por reforçar leituras históricas de segunda mão mesmo que os estudos de cará ter histórico não fossem o interesse primeiro dos autores das obras arroladas Assim para criticar as práticas escolares de educação físi ca vários autores recorreram a um mergulho na sua história indicando linhas de continui dade entre o que foi e o que tem sido a edu cação física escolar neste país Certamente a obra de Castellani Filho 1988 marca uma ruptura com as leituras an teriores da história da educação física no Bra sil mas pouco inova no sentido do método Com uma base teórica marcadamente avança da para a época em que foi produzido Castellani Filho reescreve a história porém nos velhos moldes lineares causais Ainda assim sua análise traz para a cena o conflito inerente a uma sociedade de classes o que representa um avanço relativo perante uma forma asséptica de conceber a relação da educação física com a cultura Traçando um paralelo constante entre educação e educação física escolar Castellani Filho procura demonstrar o caráter marcadamente reprodutivista da educa ção física escolar brasileira p 124 Fiel às teorizações críticas baseadas na relação de cau sa e efeito entre a estrutura e a superestru tura o autor denuncia também o caráter de continuidade das propostas educacionais do Estado nas décadas de 1960 e 1970 e a tecnicização da educação em geral e da edu cação física escolar em particular como ade quação ao modelo de desenvolvimento eco nômico adotado pelo Brasil Faz críticas à 5 7 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 caracterização da disciplina escolar educação física como atividade e não como campo de conhecimento p 108 Critica também os pressupostos da educação do físico e da esportivização como afeitos a um modelo hegemônico no plano das relações interna cionais de dependência aos quais o Brasil se submete p 114 Em linhas gerais então o texto de Castellani Filho tem sua tônica baseada na denúncia na crítica em um mergulho nos documentos legais e em pou ca ou nenhuma preocupação em torno da real consolidação das políticas públicas no interior da escola Sua obra se caracteriza por uma visão da gestação conspiratória de políticas públicas nos interesses escusos do capitalismo dependente Fruto de uma mesma tradição críti ca embora não se caracterize como um tra balho histórico o trabalho de Bracht 1992 faz incursões por esse campo Segundo mi nha interpretação a obra de Bracht signifi ca mais uma reedição de categorizações macroestruturais descarnadas da concre tude histórica segundo sua própria formu lação Bracht parte de uma análise da vinculação da educação física escolar com as instituições médica militar e esportiva para tecer considerações acerca de uma possível autonomia pedagógica da área Seus apon tamentos indicam a indefinição do papel do professor de educação física escolar bastan te útil para a consolidação do modelo peda gógico prevalecente nos anos da ditadura militar Essa orientação parece mais uma vez ade quarse bem à orientação tecnicista que principalmente nas décadas de 60 e 70 pre dominam no sistema educacional brasileiro sob a égide da ditadura militar do projeto BrasilGrande Bracht 1992 p 2324 A crítica de Bracht avança ao apon tar a redução das possibilidades educativas da educação física na escola Contudo al guns aspectos chamam a atenção Em pri meiro lugar é útil destacar a recorrência às teorizações de Saviani no seu trabalho o que marca claramente uma tendência de pesquisa na educação física brasileira em segundo lugar a vinculação até certo pon to mecânica da educação física escolar com um projeto nacional de desenvolvimento finalmente a afirmação de que o lúdico per deu espaço para as tarefas mecânicas Essa interpretação apresenta problemas uma vez que me parece inexato falar em substituição do lúdico pelo mecânico nesse período a menos que a pesquisa histórica pudesse in dicar sobre que bases lúdicas ou mecâni cas se assentava a educação física no pe ríodo anterior à ditadura militar Hoje come çam a despontar trabalhos que podem lan çar algumas luzes sobre esse debate Sousa e Vago 1997 Vago 1999 Mas Soares 1998 já demonstrou que a educação físi ca nasceu sob o signo da técnica e do ren dimento mesmo em solo europeu E o pró prio autor aponta que a história da educa ção física brasileira está marcada por uma visão funcional e utilitarista saúde adestra mento físico etc Então soa como exage ro imputar à ditadura militar a substituição na escola de uma prática lúdica por outra baseada na técnica Para Bracht para que a educação física escolar possa autonomizar se em relação ao esporte fazse necessária uma reflexão crítica do próprio papel da Escola em nossa sociedade de classes p 24 o que parece exato Em sua perspecti va a educação física escolar acaba por ser fator de reprodução das relações sociais dominantes e assim somente serão os objetivos e conteúdos da educação física radicalmente questionados quando as próprias relações sociais vigentes o forem p 24 Os esforços do autor para desenvolver uma teoria crítica da educação física no meu entender esbarram em algumas contradições Ao apontar que a verdadeira educação física é aquela que acontece concretamente e não 5 8 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e uma entidade metafísica que estaria hibernan do em algum recanto à espera de sua desco berta p 35 e ao afirmar em seguida que a educação física está relacionada direta ou in diretamente com as necessidades do projeto educacional hegemônico em determinada épo ca e com a importância daquela manifestação no plano da cultura e política em geral p 36 pareceme que Bracht não contrapõe a re alidade efetiva do cotidiano escolar e as con figurações das políticas educacionais Ora a verdadeira educação física aquela que efeti vamente acontecia ou não acontecia em nos sas escolas não era a mesma propugnada pe las políticas públicas dos governos de plantão Ou seja não existia a verdadeira educação física assim como continua a não existir mas diferentes práticas escolares de educação físi ca O autor abstrai ainda a experiência concreta dos agentes sociais ao discutir a dimensão do esporte na escola e do trabalho como catego ria não fundante da prática pedagógica Relativizando o conceito de trabalho Bracht vai indicar que a utilidade da educa ção física advém do seu caráter inútil p 51 Tenho dúvidas quanto à efetividade desse pos tulado Os limites dessa assertiva não serão analisados aqui uma vez que requer um outro ângulo de compreensão Apenas chama a aten ção a incoerência da relativização do conceito de trabalho efetuada por Bracht uma vez que faz uma opção clara pelo suporte teórico conceitual do materialismohistóricodialético em suas análises Ocorre que Bracht acaba por tentar conformar o cotidiano da escola a uma série de categorizações estabelecidas a priori Ainda que o autor visualize e critique a edu cação física em sua inegável negatividade ele acaba por incorrer numa análise por demais a b s t r a t a q u a n d o f a l a d e u m a e s c o l a transformadora de mudança social de escola de classes Assim se aproxima de concepções muito difundidas nas teorias críticas da edu cação no Brasil que estabelecem críticas de ca ráter marcadamente estrutural a escola repro duz a sociedade burguesa p 74 a escola é autoritária p 79 a tecnicização da educação física escolar tem o sentido estreito de prepa rar para o trabalho p 61 Nessa perspectiva parece não haver nenhuma possibilidade de uma cultura produzida a partir da escola uma vez que a escola seria conformada a partir dos interesses da classe burguesa De forma bastante fecunda os estudi osos da história das disciplinas escolares têm mostrado o quão infrutífera é uma análise ba seada somente nas determinações que a escola sofre de fora para dentro A escola tem sido cada vez mais reconhecida como um espaço de contradição capaz de produzir práticas singu lares a partir da experiência dos seus agentes o que não confirma a tese de possíveis trans posições mecânicas para o seu interior Ou seja esses estudos têm enfatizado que a instituição escolar não existe em abstrato cada escola uma realidade cada realidade diversas formas de conceber os embates e conflitos reais A escola produz uma cultura muito própria fil trando as determinações extraescolares ou assimilandoas conforme suas necessidades e conveniências Chervel 1990 Goodson 1990 1991 1995a 1995b 1995c Belhoste 1995 Chevallard 1998 Na mesma linha de raciocínio de Bracht Coletivo de Autores 1992 também apontam para uma perspectiva de denúncia de modelos reprodutivistas de educação física através da história A perspectiva da educação física escolar que tem como objeto de estudo o desenvolvi mento da aptidão física do homem tem contribuído historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder mantendo a estrutura da sociedade capitalista Apoiase nos fundamentos sociológicos fi losóficos antropológicos psicológicos e enfaticamente nos biológicos para educar o homem forte ágil apto empreendedor que disputa uma situação social privilegiada na sociedade competitiva de livre concorrência a capitalista Procura através da educação 5 9 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 adaptar o homem à sociedade alienandoo da sua condição de sujeito histórico capaz de interferir na transformação da mesma Recorre à filosofia liberal para a formação do caráter do indivíduo valorizando a obe diência o respeito às normas e à hierarquia Apoiase na pedagogia tradicional influenci ada pela tendência biologicista para adestrá lo Essas concepções e fundamentos infor mam um dado tratamento do conhecimento Nessa linha de raciocínio podese constatar que o objetivo é desenvolver a aptidão físi ca O conhecimento que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe permitam atingir o máxi mo rendimento de sua capacidade física Os conteúdos são selecionados de acordo com a perspectiva do conhecimento que a escola elege para apresentar ao aluno Coletivo de Autores 1992 p 36 Esta citação traz elementos fun damentais daquilo que estou identificando como generalizações e abstrações Em primei ro lugar parte da constatação de que existe uma sociedade capitalista e não manifesta ções particulares do modo de produção capi talista Afinal uma tese genérica de conforma ção ao capitalismo corre o risco de incorrer em equívocos básicos primeiro abstrair o que viria a ser o capitalismo concebido de forma indis tinta para toda e qualquer formação social o que implica abrir mão de matizes culturais próprios segundo transplantando bem ao gosto das camisas de força teóricas uma explicação universal que contraditoriamente no interior da obra analisada nega uma expli cação própria para o processo de formação e organização da cultura brasileira Assim a ex plicação macroestrutural para o que viria a ser a vinculação da educação física escolar aos ditames do capitalismo pareceme uma forma profunda de redução da compreensão da orga nização da cultura Mas além desse aspecto por si só limitador o texto também permite criticar sua desvinculação com o processo de interação e produção que se dá no interior da escola Teria mesmo o esporte todo o poten cial descrito acima para conformar de manei ra tão acintosa os sujeitos a um determinado modo de produção nesse caso o capitalista Ou isto é uma outra forma de abstração aca dêmica Em que medida a escola e o profes sor tem poderes para definir como se forma rá enfim o caráter do educando por intermé dio do esporte O esporte que acontece den tro da escola se acontece é o mesmo regido pela indústria de entretenimento pelos mass media Teria o professor que atua no cotidia no da escola consciência ou mesmo intenção de adestrar os alunos Dividiria ele essa afir mação de que sua perspectiva de educação fí sica escolar se baseia em uma filosofia liberal Ora quando no texto os autores afirmam que o sistema capitalista recorre à filosofia liberal para formar o caráter do indivíduo valorizan do a obediência o respeito às normas e à hi erarquia esquecem de matizar as teses básicas do próprio liberalismo ao longo do seu desen volvimento histórico São muitas as questões e a minha intenção aqui não é respondêlas mas questionar a validade de averbações tão peremptórias No trato com as fontes históri cas mais notadamente a Revista e depoimen tos de professores ficam patentes as diversas impressões acerca do fenômeno esportivo e de sua utilização com fins pedagógicos como poderemos ver mais adiante Mas voltando às considerações do Co letivo de Autores 1992 não é precipitado advogar que o objetivo dessa concepção do Estado seria o máximo rendimento ainda mais quando temos claro que render bem não significa necessariamente fazer o jogo do ca pital Ora a exigência de render de maneira produtiva e eficaz implica a necessidade de competência na produção das condições de existência humana mais dignas para o conjun to dos homens e mulheres num mundo menos opressivo Atuarmos nessa perspectiva e exigir mos do educando que faça o mesmo não re presenta fazer o jogo do capitalismo ou do li 6 0 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e 2 O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte é a maior e mais significativa entidade de cunho acadêmicocientífico da área de Edu cação Física no Brasil O leitor encontrará uma análise rigorosa da criação e consolidação do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte inclusive no sentido de infirmar algumas das considerações de Palafox no trabalho de Paiva 1994 beralismo Se a aptidão física é um reducio nismo canhestro a justificativa do texto cita do para sua superação soa um tanto quanto exagerada O Coletivo de Autores 1992 instaura ra uma ruptura com uma determinada manei ra de pensar a educação física escolar no Bra sil a partir principalmente da radicalidade com que aponta para o conflito como catego ria fundante da prática pedagógica Mas esbar ra nos limites da denúncia da abstração e da generalização Suas proposições metodológicas pouco avançam no sentido daquilo que é tra dicionalmente concebido como organização escolar faltalhe a concretude da sala de aula na sua análise e sobretudo acredito que o espaço que reserva aos sujeitos históricos não se encontra na realidade mas antes na teoria Por outro lado analisando ainda esse mesmo texto e recorrendo ao pensamento gramsciano algumas afirmações e constatações apontam para a negação de próprio suporte teórico da obra referida Se considerarmos o processo his tórico como dialético e a sociedade civil e a escola aparece como aparelho privado de hegemonia como campo de correlação de for ças a escola não apenas atuaria mantendo a estrutura da sociedade capitalista como tam bém representaria uma possibilidade de con fronto e crítica e construção da contra hegemonia Além disso o Coletivo de Autores abre mão da historicidade para operar uma crí tica histórica Outro trabalho que aponta na mesma direção é o de Gabriel Humberto Muñoz Palafox Traçando críticas ferinas à configura ção da política nacional de ciência e tecnologia para a área de educação física no período da ditadura militar o autor refaz o percurso já delineado pelos autores precedentes no que diz respeito a uma total subserviência da so ciedade civil à sociedade política Sua leitura da constituição do CBCE2 pareceme um exercí cio de análise transhistórica Palafox caracte riza a entidade como Uma entidade ligada à ideologia gerada e difundida pelo aparato estatal pós64 onde o novo racionalismo teria um colori do mais técnico atuando de um lado como elemento de desmobilização política da so ciedade civil e de outro como fundamento das medidas estatais de estabilidade política e crescimento econômico Isto devido entre outras razões ao fato de que desde 1967 através da Doutrina MacNamara foi estipulado que a estabilidade segurança dos países latinoamericanos seria garantida pelo seu desenvolvimento econômico apoia do invariavelmente no seu potencial de crescimento científico e tecnológico Reforçando estes fatos podemos constatar a tendência inicial da linha de pensamento científico de origem positivista proveniente dos Estados Unidos com o que o CBCE se fundara no início de suas atividades uma vez que seus fundadores estabeleceram como metodologia de trabalho veja por exemplo suas normas de publicação cientí fica as especificações de uma entidade de cunho eminentemente racionalista o deno minado American College os Sports Medicine Palafox 1990 p 4445 Nas suas considerações Palafox abre mão de historicizar suas análises o que impli ca formular uma interpretação da história sem a devida contextualização histórica No campo específico da educação física a análise e as crí ticas em torno da fundação do CBCE também reclamam uma maior historicidade Ora o CBCE como entidade científica só poderia se consti tuir dentro dos cânones da ciência Acusar uma entidade científica de ser racionalista só pode soar como equívoco como poderia uma entida 6 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 de científica abrir mão da racionalidade na construção do conhecimento científico O fato de a entidade que se consti tuía aliarse a uma entidade americana de cunho eminentemente racionalista não im plica necessariamente fazer o jogo da do minação Acredito que naquele momento histórico a criação de uma entidade cientí fica para a educação física no Brasil impli cava o avanço técnico e científico da área aspecto bem afeito à política desenvolvi mentista do período Mas a interpretação de Palafox faz identificar um certo reducio nismo no plano da organização da cultura afinal entendida como uma das possibilida des a criação daquele colégio não desquali fica a entidade e seus fundadores como pes quisadores preocupados com o avanço da área no Brasil A sua perspectiva foi a ven cedora em um campo de tendências O au tor parece trabalhar com a idéia de que só existe uma única razão verdadeira nesse caso que razão seria essa Porém mais contundente nas for mulações teóricas do autor é sua defesa da vitimização dos professores em face dos desdobramentos das políticas educacionais do período o docente de educação física como outros profissionais nesta sociedade de classe tem sido também vítima das mais diferentes formas de violência ideológica do sistema capitalista vigente p 101 Já d e s t a q u e i q u e n ã o é m i n h a i n t e n ç ã o absolutizar as possibilidades dos sujeitos na construção da história tampouco absol ver o Estado autoritário ou o capitalismo das suas indiscutíveis contribuições para a reificação dos sujeitos e da cultura em ge ral Mas é possível subestimar a capacida de ainda que limitada de reação dos su jeitos Afinal quem reagiu à repressão por que motivo o fez Castellani Filho 1988 bem demonstra que havia resistência havia reação Vitimar o professor é tirálo da sua condição de sujeito histórico capaz de tor narse criativo no sentido mesmo de aqui sição de autonomia para superar a condi ção de classe da sociedade burguesa nem sempre tão demarcada Thompson 1979 Diante dessas considerações outro es tudo que merece destaque é o de Oliveira 1994 Polarizando a intervenção educativa da educação física brasileira em torno de uma pedagogia do consenso e uma pedagogia do conflito o autor oferecenos um balanço da produção intelectual sobre a educação física a partir dos anos 1980 momento em que con sidera terem emergido elementos críticos na educação física brasileira Sua posição diante da polarização proposta é bastante emblemá tica daquilo que aqui denomino de abstracio nismo O autor reclama que A ótica do consenso sustentase em princí pios funcionalistas que só prevêem possibi lidades para interação continuidade conser vação harmonia equilíbrio e ajustamento sociais A ideologia capitalista tende a tor narse senso comum restringindo o leque de opções das classes dominadas Se per guntarmos a um pobre qual o sonho de sua vida a resposta quase inevitável será ser rico ou seja trocar de lado O papel do pro fessor como intelectual orgânico que opta pelos desfavorecidos é abrir o amplo leque de percepção daqueles que o cercam para as contradições do capitalismo dandolhes op ções A pedagogia do conflito é um trabalho de persuasão no sentido gramsciano para a superação do conhecimento do senso co mum ou seja a filosofia das classes subal ternas Não se pode esperar que espontane amente as massas despertem para as neces sidades da verdadeira transformação social Esse foi um dos maiores ensinamentos de Lenin O trabalho pedagógico revolucionário implica obstaculizar a veiculação de valores burgueses assim como preparar os trabalha dores para serem dirigentes em uma outra sociedade A passagem para esse outro nível de consciência é a catarsis gramsciana Oli veira 1994 p 185 6 2 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e Pareceme que também Oliveira viti miza os professores E bem ao gosto dos inte lectuais as classes dominadas aparecem no seu texto como incapazes de gerir suas vidas ne cessitando portanto serem iluminadas pelos doutos membros da academia Observese que o professor nesse texto também precisa ser esclarecido Caso contrário ele não teria con dições de conduzir a massa ao esclarecimento Ocorre que imputar ao professor o papel de intelectual orgânico é simplificar em demasia a concepção gramsciana que não reduz o in telectual orgânico a uma pessoa mas conce beo como uma vontade coletiva E essa von tade é histórica ou seja consciente do seu momento histórico real Gramsci 1991 p 6 É claro que o esclarecimento ainda que seja obscuro o que o autor entende por esse ter mo não pode ocorrer sem o consórcio dos pro fessores se pensarmos nas práticas escolares Porém as abstrações em torno do papel do professor na transição para uma sociedade socialista conforme propõe Oliveira 1994 p 187 desencarnam os indivíduos de sua materialidade concreta e histórica Na mesma linha de desenvolvimento de Oliveira no trabalho de Carmo 1985 tam bém é possível perceber esse universo abstra to não seria autoritário das teorizações acadêmicas sobre a prática dos professores O competente e o incompetente fundamse na concepção de mundo e não na forma como se apresenta este ou aquele indivíduo diante de um fenômeno Assim toda ação teóricoprática em educação física desprovi da de uma consciência históricocultural de classe resultará apenas em mais uma das tantas inócuas ações pedagógicas tão co muns hoje em dia Esta inocuidade não é gratuita nem fruto do acaso ela é proposital e de alto poder conservador principalmente porque quanto pior for a veiculação do sa ber pior será a apreensão pelo aluno e conseqüentemente mais fácil será a utiliza ção do conhecimento como instrumento de dominação pois uma ação pedagógica de senvolvida sem objetividade sem raízes his tóricas e perspectivas do como deveria ser leva a lugar nenhum Especificamente em educação física necessi tase de professores com competência técni ca cientes do que fazer como fazer e por que fazer e conscientes politicamente sa bendo a quem estão servindo quem é bene ficiado com sua prática enfim professores que consigam ter uma visão de totalidade na qual o importante é entender a interre lação dinâmica das partes que compõem este todo e não a simples justaposição des sas partes Quando insistimos em colocar a questão da identidade social e política do professor de educação física não o fazemos gratuitamen te Agimos assim porque acreditamos ser este o primeiro passo rumo à consciência fi losófica e de classe Carmo 1985 p 31 Novamente estamos diante de uma sé rie de considerações de como deveria se com portar o professor de educação física de como deveria ser a prática pedagógica enfim de como deveria ser a realidade É importante observar que ainda que inúmeros autores eou estudos reivindicassem a histórica como tribu nal de suas inquietações perante as determina ções do mundo capitalista a alternativa seria uma nova ordem social por definição boa ou seja ahistórica Essa ordem social assim como a prática real da educação física pairaria em algum lugar asséptico longe da contamina ção humana Os homens e mulheres capazes de soerguer esse mundo deveriam ser educa dos preparados formados esclarecidos E não raro alguns desses trabalhos apresentamse como portavozes do novo como portado res da potência transformadora ou seja como os candeeiros capazes de iluminar todos aque les que permanecem no obscurantismo de prá ticas reprováveis uma vez que são práticas de reprodução social Em nome da crítica a um mundo efetivamente desumano e reificador 6 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 estabeleceuse um protocolo de intenções que desconsiderou por completo a prática huma na concreta através da história aquela que efetivamente se desenvolveu no cotidiano por homens e mulheres reais Por fim julgo interessante apontar ainda algumas das formulações propostas por Guiraldelli Jr 1988 e Betti 1991 dois au tores que estabeleceram de pontos de vista diferentes análises sobre o desenvolvimento histórico da educação física no Brasil e mais precisamente sobre as influências governa mentais sobre a sua prática escolar nos anos da ditadura militar Fiel à tradição críti ca que abdicou da empiria Guiraldelli Jr tece considerações sobre os usos da educação física pelos governos militares Para o autor É preciso também notar que se por um lado a educação física Competitivista era incentivada pela ditadura pós64 pois tal concepção ia no sentido da proposta de um BrasilGrande capaz de mostrar sua pu jança através da conquista internacional por outro lado obviamente esse não era o único interesse governamental ao endossar tal concepção Na verdade o desporto de alto nível di vulgado pela mídia tinha o objetivo claro de atuar como analgésico no movimento social A preocupação com a possibilidade do aumento das horas de folga do traba lhador que mesmo um sindicalismo amor daçado poderia conseguir incentivava o governo a procurar no desporto a fórmula mágica de entretenimento da população Guiraldelli Jr 1988 p 312 Uma das fontes de Guiraldelli Jr para extrair suas conclusões é justamente a Revista Brasileira de educação física e Desportos mi nha fonte escrita privilegiada E é interessante notar como o autor opera uma apropriação d o s r e g i s t r o s d a R e v i s t a da forma que Thompson denominou de autoconfirmadora 1981 p 21 Guiraldelli Jr não faz alusão ao rico debate que estava posto nas páginas da Revista debate que era internacional e que remetia a uma consolidação do esporte que não tinha necessariamente a ver com a polí tica do BrasilGrande Outra preocupação que esse autor não teve foi a de verificar o que se praticava antes desse período nas escolas bra sileiras Alguns dos professores por mim en trevistados criticam não só o governo mas também a literatura pela ênfase dada por exemplo ao Esporte para Todos EPT no pe ríodo em questão Segundo o professor Julio Lubachevski verbi gratia as atividades que vi riam a ser denominadas de EPT já eram de senvolvidas em Curitiba desde meados dos anos 1950 portanto num período de exercí cio e vigência da frágil democracia brasileira no qual o país não estava sob a égide dos mi litares Assim talvez seja exagero considerar a tese que afirma que o interesse primeiro da divulgação das atividades esportivas pelo go verno fosse de analgésico social como con clui Guiraldelli Jr O autor a partir de algu mas premissas que são mais ideológicas que epistemológicas confirma suas inferências a partir de uma leitura apenas parcial dos do cumentos Havia um debate na Revista por ele utilizada e havia denúncias da própria orien tação esportiva para a educação física brasi leira Já o caso de Betti 1991 não é o mesmo Esse autor opera uma crítica à esportivização da educação física brasileira no período com base num profundo mergu lho na legislação e na documentação oficial Suas referências principais para tecer críticas às políticas educacionais do período são os trabalhos de Freitag 1986 e Romanelli 1986 duas obras de referência no campo educacional A análise proposta por Betti por si só limita muito a compreensão do proces so histórico uma vez que a efetivação das políticas oficiais em práticas escolares não foi analisada Ainda assim o autor afirma que 6 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e O conteúdo esportivo deu então uma nova coloração aos programas de educação física no Brasil centrados na velha ginástica sueca e francesa O esporte pareceu também ir ao encontro da ideologia propagada pelos con dutores da Revolução de 1964 aptidão físi ca como sustentáculo do desenvolvimento espírito de competição coesão nacional e social promoção externa do país senso moral e cívico senso de ordem e disciplina Betti 1991 p 161 Julgo ser importante indicar que o au tor também utiliza alguns números da Revista por mim aqui estudada Nesse caso a crítica anteriormente dirigida a Guiraldelli Jr permanece procedente na análise do estudo de Betti Ou seja o autor enxergou nas páginas da Revista apenas aqueles elementos que referendavam as suas críticas às políticas oficiais do período refe rido O seu estudo não é tão incisivo quanto os anteriores naquilo que respeita à organização social Certamente isso se justifica também pelo seu suporte teórico diferenciado senão antagô nico Mas ainda assim suas análises não contem plam o desenrolar das políticas oficiais no pla no das práticas concretas Segundo os professo res por mim entrevistados o esporte apareceu como uma alternativa ao descaso e à improvisa ção que então grassavam nas aulas de educação física Para a grande maioria desses professores o esporte era uma atividade educativa por exce lência Assim sendo ele era muito mais uma al ternativa positiva do que um rebaixamento do valor formativo da educação física escolar Ou seja representava mesmo uma nova coloração para a educação física escolar Quanto aos usos ideológicos que se podem fazer do esporte não podemos falar o mesmo de qualquer outra prá tica cultural E os professores partilhavam des sa compreensão ou haveria compreensões dife rentes em torno daquele uso Toda a construção teórica dessa produ ção aqui destacada diferente nos seus objeti vos e formas de análise nega a história como movimento Segundo Thompson A explicação histórica não pode tratar de absolutos e não pode apresentar causas su ficientes o que irrita muito algumas almas simples e impacientes Elas supõem que como a explicação histórica não pode ser Tudo é portanto Nada apenas uma narra ção fenomenológica consecutiva É um en gano tolo A explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado mas porque se processou dessa maneira e não de outra que o processo não é arbitrá rio mas tem sua própria regularidade e racionalidade que certos tipos de aconteci mentos políticos econômicos culturais re lacionaramse não de qualquer maneira que nos fosse agradável mas de maneira parti culares e dentro de determinados campos de possibilidades que certas formações sociais não obedecem a uma lei nem são os efeitos de um teorema estrutural estático mas se caracterizam por determinadas rela ções e por uma lógica particular de proces so 1981 p 61 Certamente não podemos considerar os professores como sujeitos capazes de por si só transformar a realidade mediante sua prática pedagógica como gostariam alguns dos auto res anteriormente citados Porém os professo res também não são ou foram vítimas tampouco foram coitados Eles foram sujeitos que agiram e reagiram dentro de condições his tóricas concretas bastante objetivas Eles certa mente não tinham a disponibilidade acadêmica para teorizar sobre o fim ou o início dos tem pos Vale lembrar que a crítica à condição in gênua ou alienada do professor está presente em inúmeros outros trabalhos além desses aqui analisados como é possível destacar em Medina 1983 Pereira 1988 Mariz de Oliveira 1988 Carvalho de Freitas 1991 Kunz 1991 Ferreira Neto 1993 e Gonçalves 1994 As reformas educacionais de 1968 e 1971 são resultado de um processo contínuo de consolidação hegemônica que não se deu sem profundos antagonismos divergências 6 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 embates e conciliações Amplas parcelas da sociedade civil debatiamse em torno do que representava a própria reorganização da cultura no pósguerra tanto no plano interno quan to no externo Assim o Estado brasileiro con figuravase como um amálgama de interesses diversos não monolíticos mas que em última instância não se propunha somente a fazer mecanicamente o jogo do capital internacional Havia tensões que parecem ter sido descon sideradas ao longo da produção historiográfica Mesmo porque se delineava toda uma outra configuração para a cultura brasileira no sen tido de sua modernização O sentimento de nação moderna forte grande difundido pelo Estado não trazia nada de novo antes era apenas uma redefinição de um processo inici ado já no século XIX de construção da nação brasileira como nos indica Carvalho 1987 A própria dimensão política da produção do Ins tituto Superior de Estudos Brasileiros ISEB aponta nesse sentido Resta saber em que me dida o povo brasileiro estava preocupado com a invenção ou não da nação proposta pelos governantes para muito além de seu cotidia no mais imediato Uma parcela significativa da história da educação brasileira da qual tomei apenas al guns exemplos tem sido escrita à luz de de terminantes estruturais mas sem captar a lógica de processo impressa no desenvolvimen to histórico Ora pareceme bastante difícil sustentar que havia consenso popular em tor no do poder do Estado militarizado Mas tam bém não podemos afirmar que os governos mi litares não contavam com algum apoio entre a população Creio que é necessário até mesmo indagar se o conjunto da sociedade civil sabia ou imaginava o que estava se passando em termos políticos no país e até que ponto os governos militares não tinham o apoio ainda que velado de significativas parcelas da popu lação Não se trata de negar a repressão a exceção do regime e mesmo seu caráter perver so Mas se formos proceder a uma análise dos fatos concretos poderíamos afirmar que socie dade política teria perdido apoio da sociedade civil por conta da hipertrofia daquela confor me indica Saviani 1988 p 95 A historio grafia mais recente sobre o golpe militar de 1964 tem enfatizado inclusive a própria ten são interna das Forças Armadas que em hipó tese alguma estavam coesas quanto aos rumos do país após os acontecimentos de 31 de março de 1964 DAraújo et al 1994 Sodré 1997 Gorender 1997 Figueiredo 1997 A análise da história pela sua configuração estru tural pouco espaço deixa para a configuração de formas particulares de correlação de forças permeada pelas características próprias da cul tura brasileira Pareceme que é também negada a historicidade da elaboração da reforma educa cional da ditadura quando se aponta a conti nuidade entre o texto das várias reformas aprovadas Lei 554068 e Lei 569271 e a ordem socioeconômica gestada a partir de 1964 Creio que é o mínimo que se espera de um regime que pretende ampliar e consolidar o seu domínio e a política educacional é pe dra de toque nessa empreita Dessa maneira absurdo seria se não houvesse uma certa organicidade entre as reformas educacionais e o modelo socioeconômico Mais é importan te destacar que as vitórias encetadas pelo re gime militar foram expressão de um período de extrema ebulição política e de uma profunda reorganização cultural no Brasil No vazio cri ado pelo fim do populismo no início da dé cada de 1960 afloraram as condições histó ricas necessárias para a reorganização das for ças mais conservadoras mas não sem uma per manente luta pelo poder em torno das ques tões educacionais e políticas mais amplas Ianni 1974 1997 Fernandes 1982 1997 Assim o nexo entre a organização política di nâmica cultural e a reorganização do sistema educacional só pode ser compreendido à luz da análise dos fatos concretos e não por categorizações externas à própria história Es tas quando não apenas abstratas correm o risco ainda de se tornarem arbitrárias 6 6 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e As análises aqui desenvolvidas têm a motivação clara e já manifesta de propiciar a retomada do debate acerca da configuração histórica da educação física escolar mais pre cisamente no período pós1964 Os estudos escolhidos foramno pelo grau de imagens e compreensões que ajudaram a consolidar na área o que contribuiu intencionalmente ou não para que se cristalizasse uma concepção do desenvolvimento histórico da educação fí sica rígido e algo mecânico Uma concepção que cancela os sujeitos na sua potência cria dora e obsta a compreensão da história como um processo dinâmico e multifacetado O que se depreende dessa análise é a profunda carac terística generalizante e abstracionista de uma determinada produção em educação física no Brasil no que tange aos estudos voltados para o ensino de educação física A vinculação en tre essa produção em educação física e a historiografia da educação brasileira é clara Não podemos esquecer em absoluto o caráter situado e datado dessa produção É preciso destacar também o papel que ela cumpriu na abertura de novas possibilidades de compreen são do fenômeno social e cultural que é a educação física Por outro lado no que tange à com preensão da história da educação física essa produção incorporou alguns vícios e alguns limites da pesquisa em educação à qual na sua maior parte esteve vinculada o principal de les é olhar para a realidade de fora dela Na perspectiva da teoria educacional houve avan ços significativos a partir da produção anali sada Mas também deuse muita margem para equívocos quando se perdeu de vista o cotidi ano da escola e duas das principais categorias utilizadas por praticamente todos os interlo cutores aqui contemplados a história como movimento contraditório e a sociedade como lugar de conflito Tomado o Estado brasileiro do período analisado como títere do capitalis mo internacional e dos arroubos conspiratórios da burguesia restou fazer a apologia da revo lução via educação via a escola como apare ce em alguns trabalhos Os documentos por mim analisados entre os quais incluo os depo imentos dos professores de educação física indicam o quanto as críticas desferidas contra os governos militares diante da opção pelo de senvolvimento precisam ser relativizadas se tomadas como elemento apenas de juízo ide ológico A profusão de teorias de desenvolvi mento gestadas a partir do ISEB Toledo 1982 demonstra o quanto havia de divergên cias em torno do melhor projeto de desenvol vimento para o Brasil a partir da década de 1950 Num período de crise de hegemonia a vacância do poder abriu possibilidade para um regime autoritário mas de forma alguma monolítico e em alguns dos seus estratos pro fundamente nacionalista Sendo assim a liga ção automática entre as políticas educacionais do governo brasileiro pós1964 e o capitalis mo internacional aponta para a desconsi deração da particularidade do desenvolvimen to cultural brasileiro O que pretendo então é chamar a atenção para aquilo que considero como dois problemas presentes numa determinada manei ra de escrever a história da educação e da edu cação física escolar no Brasil a abstração e a generalização No caso dos estudos analisados esses problemas ficam patentes quando trans formam o Estado em um ente superior que paira acima das mazelas humanas e dos inte resses dos homens e dos grupos que represen tam Ou o Estado é apresentado como per tencente a um só grupo social classe ou fra ção de classe ou é elevado à condição de su premo juiz das intenções humanas Ora o Es tado não pode ser abstraído de sua orientação conflituosa marcada por tensões dissensões e conciliações O Estado é uma construção his tórica determinada por uma correlação de for ças que se consubstancia nos diversos interes ses de classes e frações de classes contrários e antagônicos E no campo da história não são tangíveis as leis gerais as generalizações uni versais uma vez que ela a história se confi 6 7 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 gura como um processo Thompson 1981 No plano educacional é preciso investigar até que ponto o Estado freqüentou as salas de aula A reorganização da educação física escolar um amálgama de interesses Muitas evidências permitem inferir que a educação física brasileira naquele momento passava por um processo de renovação Um universo bastante diverso de fontes indica que muitas vozes se levantavam para reivindicar um maior reconhecimento acadêmico e escolar para esse componente curricular Desde a nor ma legal a partir da Lei 402461 Diretrizes e Bases da Educação Nacional reforçada na Lei 569271 e no decreto 6945071 passando pela expansão dos cursos de formação de pro fessores em nível superior pela oferta de cur sos emergenciais de formação de recrea cionistas pelo incentivo ao intercâmbio inter nacional na área pela emergência de um pro grama de publicações pelo debate aberto no interior do Conselho Federal de Educação so bre a organização escolar desse componente curricular pela qualificação em nível de mestrado e doutorado dos primeiros profissi onais da área e desaguando na reivindicação dos professores escolares por uma definição mais precisa do espaço da educação física nos currículos eram muitos os fóruns onde a edu cação física era ponto de pauta obrigatório Não é a intenção desse artigo esgotar o tema mesmo porque somente agora começam a sur gir pesquisas de caráter histórico sobre a rela ção entre a constituição e a reorganização dos saberes escolares e as práticas docentes no âmbito da ditadura militar no Brasil Mas no caso da educação física escolar é possível in ferir algumas questões a partir do corpus do cumental por mim reunido e ao mesmo tem po infirmar uma certa tradição de leitura a qual percorremos no tópico anterior Essa lei tura está fadada à obsolescência á medida que a pesquisa histórica tem demonstrado que inú meros outros fatores determinam em larga medida a instituição configuração e transfor mação dos saberes escolares ao longo do tem po Portanto privilegiarei aqui outras vozes que não as oficiais consideradas como aque las oriundas do aparelho estatal pretenden do com isso indicar o contraponto possível entre os múltiplos interesses em jogo na reno vação da educação física escolar naquele pe ríodo Como é impossível falar de um deba te sobre a educação física no Brasil sem remetêlo ao debate internacional julgo ser importante destacar o cerne daquele debate a relação entre uma educação física voltada para a educação integral do indivíduo e o esporte na sua forma acabada ou seja de rendimen to ou de alto nível O fato importante o fato mundial é que todos os países têm tomado perfeita consci ência da importância humana e social da educação física A confusão mais freqüente entre exercício físico e desporto de grande competição amador ou profissional é ainda obstáculo sério aos programas de educação física no mundo O poder central por dema gogia o público por interesse imediato mesmo os pais dos praticantes por incompreensão têm enorme tendência a ce der ao desporto espetáculo No entanto devemos esperar que um dia os educadores físicos do mundo inteiro intimamente liga dos pelos princípios essenciais saberão im por em todos os países uma educação físi ca racional estruturada para ser posta ver dadeiramente ao serviço do homem e da sociedade Seurin apud Ramos 1970 p 26 O texto acima é indicativo de dois dos elementos por mim anteriormente apontados O primeiro referese à preocupação mundial com o significado e a importância da educa ção física no processo educativo Pierre Seurin autor do texto acima era membro da Fédération International de Éducacion 6 8 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e Physique FIEP talvez a maior entidade inter nacional de educação física Nos anos 1970 Seurin viria a ser presidente da entidade O segundo elemento diz respeito à inserção do Brasil no debate internacional Não por acaso optei por uma citação de segunda mão Jair Jordão Ramos foi um dos mais destacados in telectuais da educação física brasileira Naquele período ele lançava mão de um trabalho de circulação mundial de um autor consagrado para referendar a sua própria posição sobre a renovação da educação física brasileira Mas se os intelectuais brasileiros necessariamente re corriam à literatura internacional como se posicionavam aqueles responsáveis pelas elabo rações curriculares Essa posição se expressa va na preocupação com a definição e expan são do campo acadêmico da educação física brasileira como é possível observar no texto abaixo Estabelecimento de uma política nacional de educação física Propõe várias medidas para execução desses fins instalações desportivas material formação intensiva de profissionais da especialidade cursos intensivos regula mentados zelo pela norma legal saúde ur bana e rural plano nacional de comunica ção incremento da educação física função de representação de professores de educação física nos órgãos conselhos etc orçamento TEMA B unificação dos currículos dos di ferentes cursos das escolas de educação físi ca Matérias obrigatórias e matérias optativas diversificação dos programas dos diferentes cursos currículo mínimo TEMA D desenvolvimento da educação fí sica por meio de pesquisas e de cursos de aperfeiçoamento em alto nível e de pósgra duação solução de muitos dos nossos pro blemas Esses cursos não devem ser limita dos aos assuntos da ginástica e dos despor tos destacandose como tema prioritário o relativo a métodos de pesquisa A pesquisa deve ser despertada e incentivada entre alu nos e professores de educação física dentro das condições materiais disponíveis e essen cialmente no campo das atividades da gi nástica e dos desportos VI Reunião de Di retores de Escolas de educação física 1967 Não emergia ali conforme indica o texto acima uma forte pressão para a eleva ção do status institucional da educação física a partir de uma série de considerações em tor no de sua relevância social da necessidade de desenvolvimento de pesquisa na área o que requeria formação de professores e pesquisa dores e alocação de recursos E em linhas gerais a corporação dos professores por meio de uma das suas associações não destoava daquelas considerações necessidade cada vez maior de dar ao educador uma formação de amplo e profun do caráter humano revisão dos processos pedagógicos esti mular o educando a resolver situações novas com os recursos que o educador lhe forne cer agir e reagir face aos problemas que lhe surgem necessidade de pesquisar no campo da di dática que as autoridades governamentais solici tem a colaboração das entidades de classe dos diversos Estados da União quando dos estudos dos problemas da formação dos professores de educação física exige várias providências do Estado no to cante a valorização do profissional extensão da educação física a toda a comu nidade incentivo política sic aos recém forma dos os programas das escolas de educação fí sica devem ser orientados no sentido de cri ar no futuro professor o espírito e iniciativa do livre empreendimento melhorar o nível do ensino especializado de educação física facilitando os contatos 6 9 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 da especialização com os centros mais adi antados do mundo que sejam cumpridos fielmente o ditames do Decreto no 6945071 por ser certo e de profunda liberalidade sendo mesmo o míni mo a exigir tendo em vista que a educação física através dos exercícios físicos dos des portos e das atividades ditas de recreação representa a alegria o prazer a saúde física e mental da infância da adolescência e dos adultos Recomendações do III Encontro de P r o f e s s o r e s d e e d u c a ç ã o f í s i c a d a Guanabara 1972 E no plano da política miúda também emergiam preocupações com a educação físi ca Um exemplo pode ser tirado do primeiro programa de educação física da Prefeitura Municipal de Curitiba A elaboração do Programa por Temporada objetiva propiciar aos senhores Professores de educação física a preparação dos seus alunos de modo planejado obedecendo a uma programação antecipada e definida afastando deste modo processos improvisa dos e sem uma seqüência pedagógica Nunca será possível realizar uma tarefa educa cional se a mesma não for antecipada em seus objetivos e nos meios a serem utilizados Desta forma pretendemos acabar por vez com o regime de improvisação dentro das escolas municipais fornecendo orientação educacional sistemática formal e organizada dentro da conceituação moderna da educa ção 1972 p 18 Esse texto é outra evidência de como as coisas mudavam naquele momento pelo menos no que diz respeito à educação física em Curitiba O Programa por Temporada des pontava como uma alternativa à improvisação que grassava nas escolas municipais e ao des caso com a educação física escolar Diante desse quadro organizouse um programa que viria a ser conhecido como Bíblia justamente pelo seu caráter de manual de receituário Mas esse caráter era constantemente subvertido à medida que os professores lançavam mão dos mais variados artifícios na sua prática cotidi ana As crianças vinham para a escola elas ti nham aquela noção de vir para a escola para aprender a ler e escrever jamais vinham para a escola para fazer educação física jamais isso não se cogitava E essa fase de 5ª a 8ª série era de implantação recente isso nos anos 70 Então para as crianças que cami nhavam em torno de 4 a 6 quilômetros para vir para a escola chegar na escola para cor rer para saltar enfim para fazer aquilo que eu havia aprendido que era importante eles não achavam que realmente era importante não é Então eu tive que usar de n meca nismos de sedução para que eles passassem a gostar do conteúdo A gente adaptou a educação física a cir cunstâncias muito naturais Por exemplo o salto em extensão a gente fazia com as sombras do barranco por sobre a estrada o salto em profundidade era saltar do barran co sobre a estrada o salto em altura era sal tar os galhos caídos sobre o barranco Massaneiro 1998 Esse pequeno conjunto de evidências diversas permite situar a configuração da edu cação física brasileira no âmbito das reflexões desenvolvidas por Goodson 1990 Análises mais atentas das matérias escolares revela uma série de paradoxos inexplicados Em primeiro lugar o contexto escolar é sob muitos aspectos muito diferente do contex to universitário problemas mais amplos de motivação do aluno de capacidade e de controle necessitam ser considerados A tra dução da disciplina para a matéria esco l ar portanto exige uma considerável adapta ção Em segundo lugar as matérias esco lares são com freqüência ou divorciadas de 7 0 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e sua disciplinabase ou não tem uma disci plinabase Goodson 1990 p 234235 Se olharmos para o desenvolvimento histórico e para a realidade atual da educa ção física brasileira creio ser possível refe rendar as considerações acima E é ainda esse mesmo autor que nos dá elementos para compreender esse processo O grau de isolamento ou autonomia das matérias escolares pode ser visto numa análise mais atenta como estando relaci onado aos estágios de evolução das maté rias Longe de serem derivadas de discipli nas acadêmicas muitas matérias escolares precedem cronologicamente suas discipli nasmãe nessas circunstâncias a matéria escolar em desenvolvimento realmente causa a criação de uma base universitária para a disciplina de forma que professo res secundários das matérias escolares possam ser treinados Goodson 1990 p 235 Os debates promovidos no âmbito da educação física brasileira nos últimos qua renta anos têm evidenciado uma busca in cessante pelo reconhecimento acadêmico institucional e social Diante de um campo de possibilidades diferentes perspectivas do ensino da educação física na escola esse processo não se desenvolveu sem o consórcio inclusive da corporação dos pro fessores de educação física como já explo rou Beltrami 1992 Daí a necessidade de localizarmos a experiência desses professo res no âmbito daquilo que Thompson carac teriza como o diálogo entre o ser e a cons ciência social 1981 p 17 As perspectivas diversas de agentes diversos estão pautadas por uma necessária e intrincada trama social e cultural em que algumas tendências são suplantadas por outras permanecendo as primeiras como potência histórica Nesse processo os diferentes sujeitos portadores de diferentes perspectivas lançamse à luta em torno daquilo que representaria a síntese mais aproximada dos seus interesses manifes tos O Estado que legislava os pesquisadores que reclamavam recursos e os professores que exigiam um controle forte sobre aquilo que consideravam desmando das escolas Beltrami 1992 bem como lançavam mão dos mais variados artifícios para o seu trabalho coti diano como ficou patente nos textos acima Todos esses sujeitos portadores de amplo leque de interesses e reivindicações de uma forma ou de outra estavam amalgamados naquele momento Em suma todos deseja vam maiores e melhores recursos para o desen volvimento de suas atividades no âmbito da edu cação física A atuação através da distribuição padroniza da de recursos representa um processo de tendência acadêmica que angustia os subgrupos que promovem as matérias esco lares Por isso áreas tão diversas como as de trabalho em madeira e metal educação físi ca artes estudos técnicos contabilidade costura e economia doméstica têm procura do melhoria de status defendendo uma in tensificação de exames e habilitações no es tilo acadêmico Goodson 1995 p 37 Nas falas contempladas nos limites desse trabalho entidades internacionaisin telectuais da educação física dirigentes de escolas superiores legisladores e professores vemos convergir uma série de orientações que determinariam os rumos da educação física escolar no Brasil pelo menos por vin te anos o que infirma a tese de um Estado demiurgo determinando o lugar e a prática daqueles diferentes sujeitos na organização de uma prática cultural a educação física E essas orientações nada tinham de altruístas ou arbitrárias Antes faziam parte da corre lação de forças determinada pelas condições objetivas dos sujeitos em uma determinada ambiência cultural e histórica Partindo do 7 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 pressuposto de Goodson 1990 de que o controle universitário não reflete um padrão continuo de dominação generalizada é pos sível afirmar que O conhecimento acadêmico de alto status ganha seus aderentes e aspirantes menos através do controle dos currículos que so cializam que através da conexão bem estabelecida com padrões de alocação de recursos e com o trabalho associado e as perspectivas de carreira que esses assegu ram O estudo das matérias escolares em evolução dirige nossa atenção para a evo lução de padrões de alocação de recursos O trabalho recente de M Smith tem de monstrado claramente quão frutífero po deria ser esse enfoque ao substituir cruas noções de dominação por padrões de con trole nos quais os grupos subordinados podem ser vistos ativamente em ação Goodson 1990 p 252 Assim é possível concluir que a me nos que houvesse o consentimento dos di versos agentes sociais as políticas educaci onais não teriam condições de consolidarse no interior das escolas Até porque a escola pode desenvolver uma dinâmica própria de organização que sem dúvida relacionase com o plano cultural mais amplo mas que interage com ele para manifestarse e para autogerirse Assim não podemos falar genericamente de uma conformação do siste ma educacional pelo Estado autoritário Pri meiramente então prefiro caracterizar as ini ciativas oficiais como sendo do governo e não do Estado Mas apesar da influência governamental ainda assim no caso da reno vação da educação física brasileira a sua corporação de especialistas ajudou a conformar o sistema educacional mormente no que se refere às práticas escolares Da tensão entre o imposto pela via legal e aquilo que foi assi milado e produzido por parcelas da sociedade emergia a prática cotidiana dos educadores escolares Para essa produção acadêmica por mim indicada com a qual não pretendi exaurir o tema representativa de uma forma de ler a história da educação no Brasil caberia à escola com sua função estritamente reprodutora úni ca e exclusivamente a reificação dos indivídu os e da cultura no interesse da manutenção reprodução da ideologia burguesa Para aque les que pretendem uma sociedade mais igua litária a escola seria então perfeitamente dis pensável Por que continuamos então a estudála e a trabalhar nela Analisemos a es cola por dentro de suas particularidades e de suas determinações próprias Deixemos as ge neralizações e as abstrações para aquilo que não tem existência concreta na história da educação e da educação física Referências bibliográficas 6a REUNIÃO DE DIRETORES DE ESCOLAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1968 Vitória Boletim Técnico Informativo Brasília n 1 p 50 59 ARANHA Lúcia Pedagogia históricocrítica o otimismo dialético em educação São Paulo EDUC 1992 158p AZANHA José Mário Pires O abstracionismo pedagógico uma idéia de pesquisa educacional São Paulo Edusp 1992 p 41 56 BARREIRA Luiz Carlos História e historiografia as escritas recentes da história da educação brasileira 19711988 Campinas 1995 258p Tese Doutorado Faculdade de Educação Universidade de Campinas BELHOSTE Bruno Resume de lexposé de Bruno Belhoste au Service dHistoire de lÉducation Paris INRP 1995 7 2 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e BERCITO Sônia de Deus Rodrigues Educação Física e construção nacional In FERREIRA NETO Amarílio Org Pesquisa histórica na educação física brasileira Vitória CEFDUFES 1996 p 145160 BETTI Mauro Educação Física e sociedade São Paulo Movimento 1991 184p BRACHT Valter Educação Física e aprendizagem social Porto Alegre Magister 1992 122p BUFFA Ester NOSELLA Paolo A educação negada introdução ao estudo da educação brasileira contemporânea São Paulo Cortez 1991 CARMO Apolônio Abádio do Educação física competência técnica e consciência política em busca de um movimento simétrico Uberlândia UFU 1985 54p CARVALHO José Murilo de Os bestializados São Paulo Companhia das Letras 1987 196p CARVALHO DE FREITAS Mauri A miséria da educação física Campinas Papirus 1991 166p CASTELLANI FILHO Lino Educação física no Brasil a história que não se conta Campinas Papirus 1988 225p CASTRO Celso In corpore sano os militares e a introdução da educação física no Brasil Antropolítica Rio de Janeiro n2 p 61 78 1997 CHERVEL André História da disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisa Teoria e Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1990 CHEVALARD Yves La transposición didáctica Buenos Aires Aique 1991 186p CUNHA Luis Antonio GOES Moacyr de O golpe na educação Rio de Janeiro Jorge Zahar 1994 95p CURITIBA Prefeitura Municipal Programa de educação física por temporadas 19721984 Curitiba 1n 1984 DARAÚJO Maria Celina et al Orgs Visões do golpe a memória militar sobre 1964 Rio de Janeiro RelumeDumará 1994 256 p FERNANDES Florestan A ditadura em questão São Paulo T A Queiroz 1982 164p O significado da ditadura militar In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 141148 FERREIRA NETO Amarílio A formação política do professor de Educação Física In VOTRE Sebastião Org Ensino e avaliação em educação física São Paulo Ibrasa 1993 p 1950 A pedagogia no exército e na escola Aracruz ES Facha 1999 162p FERREIRA Marieta de Moraes AMADO Janaína Usos e abusos da história o r a l Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas 1996 277p FIGUEIREDO Argelina Democracia e reformas a conciliação frustrada In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 4754 FREITAG Bárbara Escola estado e sociedade São Paulo Moraes 1986 142 p GERMANO José Wellington Estado militar e educação no Brasil 19641985 São Paulo Cortez Campinas Editora Unicamp 1993 297p GOELLNER Silvana Vilodre O Método francês e a militarização da educação física na escola brasileira In FERREIRA NETO Amarílio Org Pesquisa histórica na educação física brasileira Vitória CEFDUFES 1996 p 123144 7 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 GONÇALVES Maria Augusta Salin Sentir pensar agir corporeidade e educação Campinas Papirus 1994 196 p GOODSON Ivor Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 230254 1990 La construcción social del curriculum possibilidades y ambitos de investigación de la historia del curriculum Revista de Educación Madri n 295 p 737 mayoago1991 Historia del currículum la construcción social de las disciplinas escolares Barcelona Ediciones PomaresCorredor 1995a 239p Currículo teoria e história Petrópolis Vozes 1995b 140p Dar voz ao professor as histórias de vida dos professores e o seu desenvolvimento profissional In NÓVOA António Vidas de professores Porto Porto Editora 1995c p 6378 GRAMSCI Antonio Maquiavel a política e o estado moderno Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991 444p GORENDER Jacob Era o golpe de 64 inevitável In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 109116 GUIRALDELLI Jr Paulo Educação física progressista São Paulo Loyola 1988 63p História da educação São Paulo Cortez 1994 234p IANNI Octavio Imperialismo e cultura Petrópolis Vozes 1974 As estratégias de desenvolvimento In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 137140 KUNZ Elenor Educação Física ensino e mudanças Ijuí Unijuí Editora 1991 206p LIBÂNEO José Carlos Democratização da escola pública a pedagogia críticosocial dos conteúdos São Paulo Loyola 1989 LIMA Lenir Miguel de Os militares o populismo e suas influências na Educação física em Goiás Goiânia 1991 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Goiás MARIZ DE OLIVEIRA José Guilmar e t a l Educação física e o ensino de 1º grau São Paulo Edusp 1988 67p MASSANEIRO Idelzi Terezinha Entrevista concedida no dia 30031998 sh sn 1998 MEDINA João Paulo de Subirá A Educação física cuida do corpo e mente Campinas Papirus 1983 96p METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA São Paulo Cortez 1992 117p OLIVEIRA Marcus Aurelio Taborda de Elementos para uma análise da renovação da Educação física escolar no Brasil durante a ditadura militar 19641985 uma contribuição para a história das disciplinas In 3o CONGRESSO LUSOBRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 2000 Coimbra Anai s Coimbra sn 2000 p 170 A Revista Brasileira de Educação Física e Desportos e a experiência cotidiana de professores da Rede Municipal de Ensino de Curitiba entre a adesão e a resistência São Paulo 2001 399p Tese Doutorado Programa de Estudos Pós Graduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo OLIVEIRA Vitor Marinho Consenso e conflito na educação física brasileira Campinas Papirus 1994 203p PAIVA Fernanda Ciência e poder simbólico no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte Vitória CEFDUFES 1994 254p 7 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e PALAFOX Gabriel Humberto Muñoz Educação física no Brasil aspectos filosóficospedagógicos subjacentes à política nacional em ciência e tecnologia para esta área no período 19701985 São Paulo 1990 121p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em Educação da PUC de São Paulo PEREIRA Flávio Medeiros Dialética da cultura física São Paulo Ícone 1988 291p RACHI Kiyoshi Educação escolar brasileira um reexame dos estudos tendo por centro de análise a categoria de contradição São Paulo 1990 292p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo RAMOS Jayr Jordão Panorama mundial da educação física e atividades correlatas Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 9 p 1826 1970 ENCONTRO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA GUANABARA 2 1972 Niterói Recomendações Niterói Associação dos Professores de Educação Física da Guanabara 1972 ROMANELI Otaíza de Oliveira História da educação no Brasil 19301973 Petrópolis Vozes 1986 267p SAVIANI Dermeval Escola e democracia São Paulo CortezAutores Associados 1983 96p Política e educação no Brasil São Paulo CortezAutores Associados 1987 163p Educação do senso comum à consciência filosófica São Paulo CortezAutores Associados 1989 224p SOARES Carmen Lúcia Educação física raízes européias e Brasil Campinas Autores Associados 1993 167p Imagens da educação no corpo Campinas Autores Associados 1998 145p SODRÉ Nelson Werneck Era o golpe de 64 inevitável In TOLEDO Caio Navarro de org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 103108 SOUSA Eustáquia Salvadora de Meninos à marcha Meninas à sombra a história do ensino da Educação física em Belo Horizonte 18971994 Campinas 1994 Tese Doutorado Programa de PósGraduação em Educação da Unicamp SOUSA Eustáquia Salvadora VAGO Tarcísio Mauro Orgs Trilhas e partilhas educação física na cultura escolar e nas práticas sociais Belo Horizonte Cultura 1997 387p TANI Go Educação física escolar no Brasil seu desenvolvimento problemas e propostas In Seminário Brasileiro em Pedagogia do Esporte 1998 Santa Maria Anais do Seminário Brasileiro em Pedagogia do Esporte Santa Maria sn 1998 p 120 127 THOMPSON Edward Palmer Tradición revuelta y consciencia de clase Barcelona Crítica 1979 318p A miséria da teoria Rio de Janeiro Zahar 1981 231p Senhores e caçadores Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 432p TOLEDO Caio Navarro ISEB fábrica de ideologias São Paulo Ática 1982 195p Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 168p VAGO Tarcísio Mauro Cultura escolar cultivo de corpos educação physica e gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte 19061920 São Paulo 1999 315p Tese Doutorado Faculdade de Educação da USP 7 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 VIEIRA Carlos Eduardo O historicismo gramsciano e a pesquisa em educação São Paulo 1994 248p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo VIEIRA Evaldo Amaro Estado e miséria social no Brasil de Getúlio a Geisel 19511978 São Paulo Cortez 1983 240p WARDE Mirian Jorge Contribuições da história para a educação INEP Brasília v 9 n 47 p 311 1990 Recebido em 23052001 Aprovado em 27032002 Marcu Marcu Marcu Marcu Marcus Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira é doutor em História e Filosofia da Educação pela PUCSP professor do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e do programa de PósGraduação em Educação linha de História e Historiografia da Educação da Universidade Federal do Paraná
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5 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Educação Física escolar e ditadura militar no Brasil 19681984 história e historiografia Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Resumo Neste artigo pretendese indicar um conjunto de procedimentos oficiais institucionais e profissionais que produziu uma nova for ma de conceber a educação física no interior da instituição escolar no Brasil desde o final dos anos 1960 com base em um diálogo crítico com a recente produção historiográfica da educação e da educação física no Brasil Aqueles procedimentos foram orientados no sentido de dotar essa prática escolar de uma maior legitimidade acadêmica por meio de um amplo programa de massificação de seus conceitos e práticas de maciços investimentos estatais em pesquisa nessa área da ne cessidade de formação de especialistas mediante a expansão dos cursos de formação superior e de um aparato legislativo que de finia com rigor padrões de referência para a sua prática escolar Para tanto suas fontes principais são a série total da Revista Bra sileira de Educação Física e Desportos 19681984 editada pela Divisão de Educação Física do MEC os Programas de Educação Física da Prefeitura Municipal de Curitiba entre 1970 e 1984 e os depoimentos de professores da rede municipal de ensino de Curitiba Partindo do pressuposto de que o processo histórico se define como uma síntese de continuidade e ruptura recorre à obra de Edward Palmer Thompson para demonstrar como aquele se desen volve a partir da experiência dos agentes da história e do diálogo entre o ser social e a consciência social sem negligenciar a análise da influência dos fatores estruturais sobre esse mesmo processo aspecto privilegiado pela historiografia criticada Palavraschave História da educação física escolar Ditadura militar Disciplinas escolares Correspondência Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Setor de Educação Dept o de Teoria e Prática de Ensino Rua General Carneiro 460 5º andar sl 501 82940150 Curitiba PR Email marcusatufprbr Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 5 2 Physical education at school and the military dictatorship in Brazil 19681984 h i s t o r y a n d h i s t o r i o g r a p h y Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Abstract This paper describes a set of official institutional and professional procedures that since the late sixties produced a new way of conceiving the physical education within the school in Brazil to this end a critical dialogue is effected with the recent historiography literature on education and physical education in Brazil The aforementioned procedures were geared towards endowing the physical education with greater academic legitimacy through a series of measures a wide program of massification of its concepts and practices massive state investments in research in this field the need to train specialists through the expansion of higher education courses and the creation of a legal apparatus that defined rigorously the standards of its practice at school To such effect the papers main sources are the complete series of the Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brazilian Journal of Physical Education and Sports 19681984 edited by the Physical Education Division of the Ministry of Education MEC the Programas de Educação Física Programs of Physical Education from the Municipal Government of Curitiba between 1970 and 1984 and statements given by teachers of the municipal school system of Curitba Considering that the historical process is defined as a synthesis of continuity and rupture the work of Edward Palmer Thompson is drawn upon to show how this process develops from the experience of historys agents and from the dialogue between the social being and the social conscience without overlooking the analysis of the influence of structural factors an aspect privileged by the historiography criticized Keywords History of Education Physical Education Military dictatorship School disciplines Correspondence Marcus AurélioTaborda de Oliveira Universidade Federal do Paraná Setor de Educação Dept o de Teoria e Prática de Ensino Rua General Carneiro 460 5º andar sl 501 82940150 Curitiba PR Email marcusatufprbr 5 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Educação física escolar e ditadura militar no Brasil o que nos fala a historiografia Segundo uma determinada produção acadêmica da área da educação física a partir da década de 1980 de forte acento crítico com a qual discutirei ao longo desse trabalho a educação física escolar foi conformada de forma autoritária pelo Estado no Brasil a partir das reformas educacionais de 1968 Lei 5540 e 1971 Lei 5692 e decreto 69450 Segundo as análises oriundas desses estudos no interes se do desenvolvimento de um maior grau de eficiência produtiva no mundo do trabalho e pressupondo a importância da educação escolarizada para se atingir este fim a tecnicização do ensino patrocinada pelo gover no teria como premissa básica a discipli narização a normatização o alto rendimento e a eficácia pedagógica Esse pressuposto se ria orientado pelo alinhamento do país a uma ordem mundial calcada no desenvolvimento associado ao capital internacional mais expli citamente ao norteamericano Segundo tal concepção é irrefutável a tese da dependência estrutural o que implica necessariamente a dependência cultural aí incluída a educação em geral e no âmbito deste trabalho a edu cação física escolar em particular Dentro dessa perspectiva os intelectu ais a serviço do governo teriam gestado as políticas públicas para a educação no período aqui abordado Para a educação física escolar a Lei 569271 reserva em seu artigo 7º um espaço de obrigatoriedade nos currículos esco lares Essa obrigatoriedade foi regulamentada com o Decreto 6945071 que impôs padrões de referência para a prática de educação físi ca no interior da escola caracterizada como atividade ainda que a educação física passas se a ter todos os pressupostos característicos da configuração de uma disciplina escolar Chervel 1990 Segundo uma interpretação corrente na historiografia o esporte aliado à interfe rência governamental no desenvolvimento da educação física escolar tornavase referência praticamente exclusiva para a prática de ativi dades corporais no plano mundial seja dentro ou fora da escola Isso teria ocorrido em par te porque numa certa perspectiva o esporte codificado normatizado e institucionalizado pode responder de forma bastante significati va aos anseios de controle por parte do poder uma vez que tende a padronizar a ação dos agentes educacionais tanto do professor quanto do aluno noutra porque o esporte se afirmava como fenômeno cultural de massa contemporâneo e universal afirmandose por tanto como possibilidade educacional privile giada Assim o conjunto de práticas corporais passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no interior da escola resumiuse à prática de algumas modalidades esportivas As práticas escolares de educação física passaram a ter como fundamento primeiro a técnica esporti va o gesto técnico a repetição enfim a redu ção das possibilidades corporais a algumas poucas técnicas estereotipadas Essas são algumas das teses da historiografia Mas teriam os professores de educação física adotado passivamente os pres supostos teóricos e metodológicos para a edu cação física escolar difundidos pelo Estado e divulgados pela Revista Brasileira de educação física e Desportos periódico do MEC com ampla circulação nacional ou a prática coti diana da educação física escolar desenvolveu se com uma autonomia relativa ante as orien tações de um governo autoritário As evidên cias empíricas a serem exploradas ao longo deste artigo não permitem respostas esquemá ticas para essa questão Tais suposições ainda que não sejam de todo descartadas carecem freqüentemente de uma análise empírica mais acurada Se por um lado a partir de meados da década de 1970 a produção acadêmica em educação fí sica começava a se desenvolver com critérios científicos principalmente pelo início de um processo de titulação mestrado e doutorado 5 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e 1 A pesquisa que deu origem a este trabalho resultou na minha tese de doutorado em História e Filosofia da Educação defendida em mar ço de 2001 junto ao Programa de Estudos PósGraduados em Educa ção História Política Sociedade da PUCSP sob a orientação do prof dr Kazumi Munakata Para um maior aprofundamento dos pressu postos e procedimentos por mim adotados ver Oliveira 2001 de seus profissionais e pela emergência dos primeiros cursos de pósgraduação no Brasil por outro lado já estava sendo produzida e discutida no âmbito educacional uma literatura baseada nas teorias críticas com as quais os profissionais da educação física travaram con tato tardio uma vez que essas teorias só fo ram apropriadas pela teoria da educação físi ca no início dos anos 1980 Esses dois movi mentos infirmam a tese de um transplante puro e simples de teorias estrangeiras As evi dências mostram que havia embates bastante significativos em torno da questionável impor tância do esporte como prática pedagógica o que ocorria até mesmo no interior de um perió dico do MEC A historiografia desenvolveu uma es treita interpretação que imputa à educação física escolar uma função de reprodução do ideário oficial calcado na ideologia da segu rança nacional e do Brasil grande Além disso a tecnicização das práticas corporais represen taria melhoria das condições da força de tra balho no sentido de tornála mais eficiente e eficaz no processo de produção a raciona lidade e o planejamento da economia da edu cação conformavam então as políticas públi cas e conseqüentemente as práticas escolares deixando pouco ou nenhum espaço para a in tervenção dos sujeitos na história Essa visão está fortemente influenciada pela perspectiva de um a priori estrutural economicista nas relações do governo com a so ciedade civil atuando aquele como mediador dos interesses entre o capital e o trabalho para ga rantir a acumulação ampliada do primeiro O Es tado é concebido como uma instância que paira acima dos conflitos e dos consensos e determi na a prática e os interesses cotidianos dos sujei tos na história Essa perspectiva marca ainda uma profunda crença na última instância da estrutu ra econômica como orientadora da organização da cultura e das práticas culturais em particular como é o caso da educação escolarizada Ora como conceber os sujeitos histór i cos como indivíduos incapazes de gerir o seu cotidiano ou de forma ainda mais radical como massa de manobra apenas e sempre Isso eqüivaleria a extrair do sujeito toda a sua au tonomia ainda que relativa em face das vicis situdes da vida social e toda sua capacidade de indignação e resistência diante dos modelos preconcebidos de organização da cultura As sim ao operar com as evidências não foi difí cil refutar uma leitura determinista e economi cista do materialismo histórico característica de uma determinada leitura da história que extrai dos sujeitos toda sua potência criadora e os reduz a pouco mais que simples insumos culturais Nessa perspectiva os agentes histó ricos não teriam qualquer possibilidade de mo verse com autonomia diante das rígidas estru turas ideológicas determinadas pelo Estado Moldarse a determinados modelos culturais impostos de forma imperativa seria então tudo o que restaria aos mais diversos sujeitos1 Essa perspectiva da história da educação física foi marcada por uma visão linear um tanto mecânica desenvolvida no âmbito da pesquisa em história da educação no Brasil a partir da década de 1970 a qual por sua vez se alimen tou das discussões desenvolvidas no interior das Ciências Sociais Assim um dos objetivos deste artigo é evidenciar os limites desse tipo de abor dagem tendo como referência para análise uma determinada produção teórica da história da educação no Brasil a partir da década de 1970 e a influência desta produção mais ampla sobre a pesquisa em educação física no Brasil a partir da década de 1980 Já existe um acumulo sig nificativo de estudos que fazem a crítica da pro dução historiográfica da educação brasileira mo tivo pelo qual resolvi determe exclusivamente na produção historiográfica da educação física es colar Mas trabalhei sempre tendo no horizonte as obras de Vieira 1983 Libâneo 1989 5 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 Freitag 1986 Saviani 1987 1988 1989 Buffa e Nosela 1991 Germano 1993 Cunha e Góes 1994 e Guiraldelli Jr 1994 Na pers pectiva de crítica a essa produção bem como a outros estudos aqui não referidos o leitor tem à disposição os trabalhos de Rashi 1990 Aranha 1992 Azanha 1992 Vieira 1994 e Barreira 1995 A escolha de obras e autores da edu cação física deuse pela conjugação de dois fa tores distintos a a crítica aos modelos polí ticas gestados pelo Estado naquele período e b a utilização de um referencial de análise que tenha como objeto privilegiado a educação escolar Esse recorte se faz necessário para pre cisar o alcance e os limites do trabalho ao qual me proponho primeiro traçar um quadro do quanto foi restrita a análise da dimensão so cial política econômica e cultural brasileira sob a ótica de uma tradição de pesquisa com prometida com a transformação da educação escolar brasileira em geral e a educação física escolar em particular a partir da década de 1980 E segundo buscar recolocar a questão das análises das práticas escolares particular mente da educação física na nossa história recente a partir de um olhar para dentro da escola devolvendo aos sujeitos o seu lugar na história da educação física escolar no Brasil Leituras sobre a história da educação física brasileira Ao caracterizar esse tópico como leitu ras pretendo deixar claro que não foi meu in t e n t o e s g o t a r a a n á l i s e d a p r o d u ç ã o historiográfica referente ao período em ques tão Tratase antes de uma leitura possível de obras datadas e situadas Com isso pretendo alertar o leitor que não é a minha intenção abarcar o conjunto da obra dos autores aos quais me reporto mas apenas debater com al gumas obras escolhidas seja pelo seu forte impacto na área da educação física escolar seja pela sua característica fundamentalmente his tórica Assim é que os textos escolhidos an tes de se configurarem como um todo homo gêneo caracterizamse mais como entradas possíveis de leitura na história recente da edu cação física no Brasil a partir de uma orien tação crítica Em comum esses trabalhos tra zem um determinado olhar sobre a história e a produção humana com algumas nuanças mas caracterizados basicamente por uma for ma vertical de conceber a relação entre os su jeitos históricos e as estruturas sociais políti cas e econômicas Muitos desses trabalhos não se caracterizam sequer como estudos históri cos Mas fazem inserções nesse campo o que permite leituras e interpretações de caráter his tórico Esse foi o meu intento com base nas indicações históricas dadas por esses autores que freqüentam com assiduidade os cursos de formação de professores e a produção acadê mica da área motivos mais do que suficien tes para o estabelecimento de um diálogo crí tico procurei captar e indicar um determina do esquema interpretativo das relações entre o ideário oficial e as práticas cotidianas dos agentes educacionais presente na produção acadêmica da educação física no Brasil a par tir do início da década de 1980 Desde a chegada das teorias críticas educacionais à área de educação física no Bra sil na década de 1980 seus pesquisadores têm afirmado que ela se encontra em crise Medina 1983 Carmo 1985 Guiraldelli Jr 1988 Mariz de Oliveira 1988 Bracht 1992 Tani 1998 Mais notadamente no âmbito escolar a edu cação física tem sido considerada como uma disciplina sem um lugar muito claro na esco la Muitos pesquisadores caracterizamna como uma atividade sem legitimidade Bracht 1992 sem função social Betti 1991 Coletivo de Au tores 1992 sem função política Guiraldelli Jr 1988 e até mesmo sem função educativa Mariz de Oliveira 1988 no interior da esco la Todos esses estudos caracterizamse por 5 6 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e uma visão estrutural extremamente ampla e um tanto arbitrária a educação física estaria em crise porque dentre outras razões o go verno autoritário instalado no Brasil após 1964 na tentativa de consolidar sua ideologia fez uso das atividades desportivas e da edu cação física em geral com a finalidade de anestesiar a consciência e amainar a participa ção popular nos processos reivindicatórios e decisórios Então teria o governo produzido e divulgado uma certa abordagem de educação física que se consolidou de forma incontestá vel sem que os profissionais da área pudessem contraporse às suas medidas arbitrárias e autoritárias A primeira dificuldade que apareceu ao tentar recortar a história da educação física no período aqui proposto diz respeito à limitada produção historiográfica da área principalmen te sobre o período por mim estudado é pratica mente inexistente na historiografia qualquer tra balho que faça referência ao período aqui pro posto À exceção do estudo de Lima 1992 des conheço trabalhos de maior densidade sobre essa temática Já existe na historiografia da educação física brasileira um grande número de estudos em torno da influência militar sobre a educação fí sica Goellner 1996 Bercito 1996 Castro 1997 Ferreira Neto 1999 Mas ainda não foram pro duzidos trabalhos que se refiram especificamente ao período da ditadura militar Assim a aproxi mação histórica deuse por recortes feitos a partir de outras obras consagradas na área mas que não se caracterizam por serem estudos histó ricos necessariamente No seu conjunto tais estudos dizem respeito muito mais às práticas escolares do que à história propriamente dita Mas todos eles de uma maneira ou de outra recorrem à história para justificar posições construir interpretações e alguns até mesmo estabelecer prescrições Nesse sentido é importante destacar que esse conjunto de obras analisado perfaz o caminho já apontado por Warde 1990 uma vez que ainda que não sejam trabalhos pró prios de história da educação física neles a história é chamada para justificar algo p 9 Segundo a autora um traço característico de trabalhos dessa natureza é o recuo a períodos históricos passados que serve para mostrar que o presente é do jeito que é porque o pas sado foi o que foi 1990 p 9 A minha op ção por tal operação poderia representar riscos não fosse a grande influência que essas obras lograram conquistar junto à comunidade aca dêmica e em muitos casos junto aos currícu los oficiais e aos professores Ora essa influ ência acaba por reforçar leituras históricas de segunda mão mesmo que os estudos de cará ter histórico não fossem o interesse primeiro dos autores das obras arroladas Assim para criticar as práticas escolares de educação físi ca vários autores recorreram a um mergulho na sua história indicando linhas de continui dade entre o que foi e o que tem sido a edu cação física escolar neste país Certamente a obra de Castellani Filho 1988 marca uma ruptura com as leituras an teriores da história da educação física no Bra sil mas pouco inova no sentido do método Com uma base teórica marcadamente avança da para a época em que foi produzido Castellani Filho reescreve a história porém nos velhos moldes lineares causais Ainda assim sua análise traz para a cena o conflito inerente a uma sociedade de classes o que representa um avanço relativo perante uma forma asséptica de conceber a relação da educação física com a cultura Traçando um paralelo constante entre educação e educação física escolar Castellani Filho procura demonstrar o caráter marcadamente reprodutivista da educa ção física escolar brasileira p 124 Fiel às teorizações críticas baseadas na relação de cau sa e efeito entre a estrutura e a superestru tura o autor denuncia também o caráter de continuidade das propostas educacionais do Estado nas décadas de 1960 e 1970 e a tecnicização da educação em geral e da edu cação física escolar em particular como ade quação ao modelo de desenvolvimento eco nômico adotado pelo Brasil Faz críticas à 5 7 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 caracterização da disciplina escolar educação física como atividade e não como campo de conhecimento p 108 Critica também os pressupostos da educação do físico e da esportivização como afeitos a um modelo hegemônico no plano das relações interna cionais de dependência aos quais o Brasil se submete p 114 Em linhas gerais então o texto de Castellani Filho tem sua tônica baseada na denúncia na crítica em um mergulho nos documentos legais e em pou ca ou nenhuma preocupação em torno da real consolidação das políticas públicas no interior da escola Sua obra se caracteriza por uma visão da gestação conspiratória de políticas públicas nos interesses escusos do capitalismo dependente Fruto de uma mesma tradição críti ca embora não se caracterize como um tra balho histórico o trabalho de Bracht 1992 faz incursões por esse campo Segundo mi nha interpretação a obra de Bracht signifi ca mais uma reedição de categorizações macroestruturais descarnadas da concre tude histórica segundo sua própria formu lação Bracht parte de uma análise da vinculação da educação física escolar com as instituições médica militar e esportiva para tecer considerações acerca de uma possível autonomia pedagógica da área Seus apon tamentos indicam a indefinição do papel do professor de educação física escolar bastan te útil para a consolidação do modelo peda gógico prevalecente nos anos da ditadura militar Essa orientação parece mais uma vez ade quarse bem à orientação tecnicista que principalmente nas décadas de 60 e 70 pre dominam no sistema educacional brasileiro sob a égide da ditadura militar do projeto BrasilGrande Bracht 1992 p 2324 A crítica de Bracht avança ao apon tar a redução das possibilidades educativas da educação física na escola Contudo al guns aspectos chamam a atenção Em pri meiro lugar é útil destacar a recorrência às teorizações de Saviani no seu trabalho o que marca claramente uma tendência de pesquisa na educação física brasileira em segundo lugar a vinculação até certo pon to mecânica da educação física escolar com um projeto nacional de desenvolvimento finalmente a afirmação de que o lúdico per deu espaço para as tarefas mecânicas Essa interpretação apresenta problemas uma vez que me parece inexato falar em substituição do lúdico pelo mecânico nesse período a menos que a pesquisa histórica pudesse in dicar sobre que bases lúdicas ou mecâni cas se assentava a educação física no pe ríodo anterior à ditadura militar Hoje come çam a despontar trabalhos que podem lan çar algumas luzes sobre esse debate Sousa e Vago 1997 Vago 1999 Mas Soares 1998 já demonstrou que a educação físi ca nasceu sob o signo da técnica e do ren dimento mesmo em solo europeu E o pró prio autor aponta que a história da educa ção física brasileira está marcada por uma visão funcional e utilitarista saúde adestra mento físico etc Então soa como exage ro imputar à ditadura militar a substituição na escola de uma prática lúdica por outra baseada na técnica Para Bracht para que a educação física escolar possa autonomizar se em relação ao esporte fazse necessária uma reflexão crítica do próprio papel da Escola em nossa sociedade de classes p 24 o que parece exato Em sua perspecti va a educação física escolar acaba por ser fator de reprodução das relações sociais dominantes e assim somente serão os objetivos e conteúdos da educação física radicalmente questionados quando as próprias relações sociais vigentes o forem p 24 Os esforços do autor para desenvolver uma teoria crítica da educação física no meu entender esbarram em algumas contradições Ao apontar que a verdadeira educação física é aquela que acontece concretamente e não 5 8 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e uma entidade metafísica que estaria hibernan do em algum recanto à espera de sua desco berta p 35 e ao afirmar em seguida que a educação física está relacionada direta ou in diretamente com as necessidades do projeto educacional hegemônico em determinada épo ca e com a importância daquela manifestação no plano da cultura e política em geral p 36 pareceme que Bracht não contrapõe a re alidade efetiva do cotidiano escolar e as con figurações das políticas educacionais Ora a verdadeira educação física aquela que efeti vamente acontecia ou não acontecia em nos sas escolas não era a mesma propugnada pe las políticas públicas dos governos de plantão Ou seja não existia a verdadeira educação física assim como continua a não existir mas diferentes práticas escolares de educação físi ca O autor abstrai ainda a experiência concreta dos agentes sociais ao discutir a dimensão do esporte na escola e do trabalho como catego ria não fundante da prática pedagógica Relativizando o conceito de trabalho Bracht vai indicar que a utilidade da educa ção física advém do seu caráter inútil p 51 Tenho dúvidas quanto à efetividade desse pos tulado Os limites dessa assertiva não serão analisados aqui uma vez que requer um outro ângulo de compreensão Apenas chama a aten ção a incoerência da relativização do conceito de trabalho efetuada por Bracht uma vez que faz uma opção clara pelo suporte teórico conceitual do materialismohistóricodialético em suas análises Ocorre que Bracht acaba por tentar conformar o cotidiano da escola a uma série de categorizações estabelecidas a priori Ainda que o autor visualize e critique a edu cação física em sua inegável negatividade ele acaba por incorrer numa análise por demais a b s t r a t a q u a n d o f a l a d e u m a e s c o l a transformadora de mudança social de escola de classes Assim se aproxima de concepções muito difundidas nas teorias críticas da edu cação no Brasil que estabelecem críticas de ca ráter marcadamente estrutural a escola repro duz a sociedade burguesa p 74 a escola é autoritária p 79 a tecnicização da educação física escolar tem o sentido estreito de prepa rar para o trabalho p 61 Nessa perspectiva parece não haver nenhuma possibilidade de uma cultura produzida a partir da escola uma vez que a escola seria conformada a partir dos interesses da classe burguesa De forma bastante fecunda os estudi osos da história das disciplinas escolares têm mostrado o quão infrutífera é uma análise ba seada somente nas determinações que a escola sofre de fora para dentro A escola tem sido cada vez mais reconhecida como um espaço de contradição capaz de produzir práticas singu lares a partir da experiência dos seus agentes o que não confirma a tese de possíveis trans posições mecânicas para o seu interior Ou seja esses estudos têm enfatizado que a instituição escolar não existe em abstrato cada escola uma realidade cada realidade diversas formas de conceber os embates e conflitos reais A escola produz uma cultura muito própria fil trando as determinações extraescolares ou assimilandoas conforme suas necessidades e conveniências Chervel 1990 Goodson 1990 1991 1995a 1995b 1995c Belhoste 1995 Chevallard 1998 Na mesma linha de raciocínio de Bracht Coletivo de Autores 1992 também apontam para uma perspectiva de denúncia de modelos reprodutivistas de educação física através da história A perspectiva da educação física escolar que tem como objeto de estudo o desenvolvi mento da aptidão física do homem tem contribuído historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder mantendo a estrutura da sociedade capitalista Apoiase nos fundamentos sociológicos fi losóficos antropológicos psicológicos e enfaticamente nos biológicos para educar o homem forte ágil apto empreendedor que disputa uma situação social privilegiada na sociedade competitiva de livre concorrência a capitalista Procura através da educação 5 9 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 adaptar o homem à sociedade alienandoo da sua condição de sujeito histórico capaz de interferir na transformação da mesma Recorre à filosofia liberal para a formação do caráter do indivíduo valorizando a obe diência o respeito às normas e à hierarquia Apoiase na pedagogia tradicional influenci ada pela tendência biologicista para adestrá lo Essas concepções e fundamentos infor mam um dado tratamento do conhecimento Nessa linha de raciocínio podese constatar que o objetivo é desenvolver a aptidão físi ca O conhecimento que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe permitam atingir o máxi mo rendimento de sua capacidade física Os conteúdos são selecionados de acordo com a perspectiva do conhecimento que a escola elege para apresentar ao aluno Coletivo de Autores 1992 p 36 Esta citação traz elementos fun damentais daquilo que estou identificando como generalizações e abstrações Em primei ro lugar parte da constatação de que existe uma sociedade capitalista e não manifesta ções particulares do modo de produção capi talista Afinal uma tese genérica de conforma ção ao capitalismo corre o risco de incorrer em equívocos básicos primeiro abstrair o que viria a ser o capitalismo concebido de forma indis tinta para toda e qualquer formação social o que implica abrir mão de matizes culturais próprios segundo transplantando bem ao gosto das camisas de força teóricas uma explicação universal que contraditoriamente no interior da obra analisada nega uma expli cação própria para o processo de formação e organização da cultura brasileira Assim a ex plicação macroestrutural para o que viria a ser a vinculação da educação física escolar aos ditames do capitalismo pareceme uma forma profunda de redução da compreensão da orga nização da cultura Mas além desse aspecto por si só limitador o texto também permite criticar sua desvinculação com o processo de interação e produção que se dá no interior da escola Teria mesmo o esporte todo o poten cial descrito acima para conformar de manei ra tão acintosa os sujeitos a um determinado modo de produção nesse caso o capitalista Ou isto é uma outra forma de abstração aca dêmica Em que medida a escola e o profes sor tem poderes para definir como se forma rá enfim o caráter do educando por intermé dio do esporte O esporte que acontece den tro da escola se acontece é o mesmo regido pela indústria de entretenimento pelos mass media Teria o professor que atua no cotidia no da escola consciência ou mesmo intenção de adestrar os alunos Dividiria ele essa afir mação de que sua perspectiva de educação fí sica escolar se baseia em uma filosofia liberal Ora quando no texto os autores afirmam que o sistema capitalista recorre à filosofia liberal para formar o caráter do indivíduo valorizan do a obediência o respeito às normas e à hi erarquia esquecem de matizar as teses básicas do próprio liberalismo ao longo do seu desen volvimento histórico São muitas as questões e a minha intenção aqui não é respondêlas mas questionar a validade de averbações tão peremptórias No trato com as fontes históri cas mais notadamente a Revista e depoimen tos de professores ficam patentes as diversas impressões acerca do fenômeno esportivo e de sua utilização com fins pedagógicos como poderemos ver mais adiante Mas voltando às considerações do Co letivo de Autores 1992 não é precipitado advogar que o objetivo dessa concepção do Estado seria o máximo rendimento ainda mais quando temos claro que render bem não significa necessariamente fazer o jogo do ca pital Ora a exigência de render de maneira produtiva e eficaz implica a necessidade de competência na produção das condições de existência humana mais dignas para o conjun to dos homens e mulheres num mundo menos opressivo Atuarmos nessa perspectiva e exigir mos do educando que faça o mesmo não re presenta fazer o jogo do capitalismo ou do li 6 0 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e 2 O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte é a maior e mais significativa entidade de cunho acadêmicocientífico da área de Edu cação Física no Brasil O leitor encontrará uma análise rigorosa da criação e consolidação do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte inclusive no sentido de infirmar algumas das considerações de Palafox no trabalho de Paiva 1994 beralismo Se a aptidão física é um reducio nismo canhestro a justificativa do texto cita do para sua superação soa um tanto quanto exagerada O Coletivo de Autores 1992 instaura ra uma ruptura com uma determinada manei ra de pensar a educação física escolar no Bra sil a partir principalmente da radicalidade com que aponta para o conflito como catego ria fundante da prática pedagógica Mas esbar ra nos limites da denúncia da abstração e da generalização Suas proposições metodológicas pouco avançam no sentido daquilo que é tra dicionalmente concebido como organização escolar faltalhe a concretude da sala de aula na sua análise e sobretudo acredito que o espaço que reserva aos sujeitos históricos não se encontra na realidade mas antes na teoria Por outro lado analisando ainda esse mesmo texto e recorrendo ao pensamento gramsciano algumas afirmações e constatações apontam para a negação de próprio suporte teórico da obra referida Se considerarmos o processo his tórico como dialético e a sociedade civil e a escola aparece como aparelho privado de hegemonia como campo de correlação de for ças a escola não apenas atuaria mantendo a estrutura da sociedade capitalista como tam bém representaria uma possibilidade de con fronto e crítica e construção da contra hegemonia Além disso o Coletivo de Autores abre mão da historicidade para operar uma crí tica histórica Outro trabalho que aponta na mesma direção é o de Gabriel Humberto Muñoz Palafox Traçando críticas ferinas à configura ção da política nacional de ciência e tecnologia para a área de educação física no período da ditadura militar o autor refaz o percurso já delineado pelos autores precedentes no que diz respeito a uma total subserviência da so ciedade civil à sociedade política Sua leitura da constituição do CBCE2 pareceme um exercí cio de análise transhistórica Palafox caracte riza a entidade como Uma entidade ligada à ideologia gerada e difundida pelo aparato estatal pós64 onde o novo racionalismo teria um colori do mais técnico atuando de um lado como elemento de desmobilização política da so ciedade civil e de outro como fundamento das medidas estatais de estabilidade política e crescimento econômico Isto devido entre outras razões ao fato de que desde 1967 através da Doutrina MacNamara foi estipulado que a estabilidade segurança dos países latinoamericanos seria garantida pelo seu desenvolvimento econômico apoia do invariavelmente no seu potencial de crescimento científico e tecnológico Reforçando estes fatos podemos constatar a tendência inicial da linha de pensamento científico de origem positivista proveniente dos Estados Unidos com o que o CBCE se fundara no início de suas atividades uma vez que seus fundadores estabeleceram como metodologia de trabalho veja por exemplo suas normas de publicação cientí fica as especificações de uma entidade de cunho eminentemente racionalista o deno minado American College os Sports Medicine Palafox 1990 p 4445 Nas suas considerações Palafox abre mão de historicizar suas análises o que impli ca formular uma interpretação da história sem a devida contextualização histórica No campo específico da educação física a análise e as crí ticas em torno da fundação do CBCE também reclamam uma maior historicidade Ora o CBCE como entidade científica só poderia se consti tuir dentro dos cânones da ciência Acusar uma entidade científica de ser racionalista só pode soar como equívoco como poderia uma entida 6 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 de científica abrir mão da racionalidade na construção do conhecimento científico O fato de a entidade que se consti tuía aliarse a uma entidade americana de cunho eminentemente racionalista não im plica necessariamente fazer o jogo da do minação Acredito que naquele momento histórico a criação de uma entidade cientí fica para a educação física no Brasil impli cava o avanço técnico e científico da área aspecto bem afeito à política desenvolvi mentista do período Mas a interpretação de Palafox faz identificar um certo reducio nismo no plano da organização da cultura afinal entendida como uma das possibilida des a criação daquele colégio não desquali fica a entidade e seus fundadores como pes quisadores preocupados com o avanço da área no Brasil A sua perspectiva foi a ven cedora em um campo de tendências O au tor parece trabalhar com a idéia de que só existe uma única razão verdadeira nesse caso que razão seria essa Porém mais contundente nas for mulações teóricas do autor é sua defesa da vitimização dos professores em face dos desdobramentos das políticas educacionais do período o docente de educação física como outros profissionais nesta sociedade de classe tem sido também vítima das mais diferentes formas de violência ideológica do sistema capitalista vigente p 101 Já d e s t a q u e i q u e n ã o é m i n h a i n t e n ç ã o absolutizar as possibilidades dos sujeitos na construção da história tampouco absol ver o Estado autoritário ou o capitalismo das suas indiscutíveis contribuições para a reificação dos sujeitos e da cultura em ge ral Mas é possível subestimar a capacida de ainda que limitada de reação dos su jeitos Afinal quem reagiu à repressão por que motivo o fez Castellani Filho 1988 bem demonstra que havia resistência havia reação Vitimar o professor é tirálo da sua condição de sujeito histórico capaz de tor narse criativo no sentido mesmo de aqui sição de autonomia para superar a condi ção de classe da sociedade burguesa nem sempre tão demarcada Thompson 1979 Diante dessas considerações outro es tudo que merece destaque é o de Oliveira 1994 Polarizando a intervenção educativa da educação física brasileira em torno de uma pedagogia do consenso e uma pedagogia do conflito o autor oferecenos um balanço da produção intelectual sobre a educação física a partir dos anos 1980 momento em que con sidera terem emergido elementos críticos na educação física brasileira Sua posição diante da polarização proposta é bastante emblemá tica daquilo que aqui denomino de abstracio nismo O autor reclama que A ótica do consenso sustentase em princí pios funcionalistas que só prevêem possibi lidades para interação continuidade conser vação harmonia equilíbrio e ajustamento sociais A ideologia capitalista tende a tor narse senso comum restringindo o leque de opções das classes dominadas Se per guntarmos a um pobre qual o sonho de sua vida a resposta quase inevitável será ser rico ou seja trocar de lado O papel do pro fessor como intelectual orgânico que opta pelos desfavorecidos é abrir o amplo leque de percepção daqueles que o cercam para as contradições do capitalismo dandolhes op ções A pedagogia do conflito é um trabalho de persuasão no sentido gramsciano para a superação do conhecimento do senso co mum ou seja a filosofia das classes subal ternas Não se pode esperar que espontane amente as massas despertem para as neces sidades da verdadeira transformação social Esse foi um dos maiores ensinamentos de Lenin O trabalho pedagógico revolucionário implica obstaculizar a veiculação de valores burgueses assim como preparar os trabalha dores para serem dirigentes em uma outra sociedade A passagem para esse outro nível de consciência é a catarsis gramsciana Oli veira 1994 p 185 6 2 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e Pareceme que também Oliveira viti miza os professores E bem ao gosto dos inte lectuais as classes dominadas aparecem no seu texto como incapazes de gerir suas vidas ne cessitando portanto serem iluminadas pelos doutos membros da academia Observese que o professor nesse texto também precisa ser esclarecido Caso contrário ele não teria con dições de conduzir a massa ao esclarecimento Ocorre que imputar ao professor o papel de intelectual orgânico é simplificar em demasia a concepção gramsciana que não reduz o in telectual orgânico a uma pessoa mas conce beo como uma vontade coletiva E essa von tade é histórica ou seja consciente do seu momento histórico real Gramsci 1991 p 6 É claro que o esclarecimento ainda que seja obscuro o que o autor entende por esse ter mo não pode ocorrer sem o consórcio dos pro fessores se pensarmos nas práticas escolares Porém as abstrações em torno do papel do professor na transição para uma sociedade socialista conforme propõe Oliveira 1994 p 187 desencarnam os indivíduos de sua materialidade concreta e histórica Na mesma linha de desenvolvimento de Oliveira no trabalho de Carmo 1985 tam bém é possível perceber esse universo abstra to não seria autoritário das teorizações acadêmicas sobre a prática dos professores O competente e o incompetente fundamse na concepção de mundo e não na forma como se apresenta este ou aquele indivíduo diante de um fenômeno Assim toda ação teóricoprática em educação física desprovi da de uma consciência históricocultural de classe resultará apenas em mais uma das tantas inócuas ações pedagógicas tão co muns hoje em dia Esta inocuidade não é gratuita nem fruto do acaso ela é proposital e de alto poder conservador principalmente porque quanto pior for a veiculação do sa ber pior será a apreensão pelo aluno e conseqüentemente mais fácil será a utiliza ção do conhecimento como instrumento de dominação pois uma ação pedagógica de senvolvida sem objetividade sem raízes his tóricas e perspectivas do como deveria ser leva a lugar nenhum Especificamente em educação física necessi tase de professores com competência técni ca cientes do que fazer como fazer e por que fazer e conscientes politicamente sa bendo a quem estão servindo quem é bene ficiado com sua prática enfim professores que consigam ter uma visão de totalidade na qual o importante é entender a interre lação dinâmica das partes que compõem este todo e não a simples justaposição des sas partes Quando insistimos em colocar a questão da identidade social e política do professor de educação física não o fazemos gratuitamen te Agimos assim porque acreditamos ser este o primeiro passo rumo à consciência fi losófica e de classe Carmo 1985 p 31 Novamente estamos diante de uma sé rie de considerações de como deveria se com portar o professor de educação física de como deveria ser a prática pedagógica enfim de como deveria ser a realidade É importante observar que ainda que inúmeros autores eou estudos reivindicassem a histórica como tribu nal de suas inquietações perante as determina ções do mundo capitalista a alternativa seria uma nova ordem social por definição boa ou seja ahistórica Essa ordem social assim como a prática real da educação física pairaria em algum lugar asséptico longe da contamina ção humana Os homens e mulheres capazes de soerguer esse mundo deveriam ser educa dos preparados formados esclarecidos E não raro alguns desses trabalhos apresentamse como portavozes do novo como portado res da potência transformadora ou seja como os candeeiros capazes de iluminar todos aque les que permanecem no obscurantismo de prá ticas reprováveis uma vez que são práticas de reprodução social Em nome da crítica a um mundo efetivamente desumano e reificador 6 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 estabeleceuse um protocolo de intenções que desconsiderou por completo a prática huma na concreta através da história aquela que efetivamente se desenvolveu no cotidiano por homens e mulheres reais Por fim julgo interessante apontar ainda algumas das formulações propostas por Guiraldelli Jr 1988 e Betti 1991 dois au tores que estabeleceram de pontos de vista diferentes análises sobre o desenvolvimento histórico da educação física no Brasil e mais precisamente sobre as influências governa mentais sobre a sua prática escolar nos anos da ditadura militar Fiel à tradição críti ca que abdicou da empiria Guiraldelli Jr tece considerações sobre os usos da educação física pelos governos militares Para o autor É preciso também notar que se por um lado a educação física Competitivista era incentivada pela ditadura pós64 pois tal concepção ia no sentido da proposta de um BrasilGrande capaz de mostrar sua pu jança através da conquista internacional por outro lado obviamente esse não era o único interesse governamental ao endossar tal concepção Na verdade o desporto de alto nível di vulgado pela mídia tinha o objetivo claro de atuar como analgésico no movimento social A preocupação com a possibilidade do aumento das horas de folga do traba lhador que mesmo um sindicalismo amor daçado poderia conseguir incentivava o governo a procurar no desporto a fórmula mágica de entretenimento da população Guiraldelli Jr 1988 p 312 Uma das fontes de Guiraldelli Jr para extrair suas conclusões é justamente a Revista Brasileira de educação física e Desportos mi nha fonte escrita privilegiada E é interessante notar como o autor opera uma apropriação d o s r e g i s t r o s d a R e v i s t a da forma que Thompson denominou de autoconfirmadora 1981 p 21 Guiraldelli Jr não faz alusão ao rico debate que estava posto nas páginas da Revista debate que era internacional e que remetia a uma consolidação do esporte que não tinha necessariamente a ver com a polí tica do BrasilGrande Outra preocupação que esse autor não teve foi a de verificar o que se praticava antes desse período nas escolas bra sileiras Alguns dos professores por mim en trevistados criticam não só o governo mas também a literatura pela ênfase dada por exemplo ao Esporte para Todos EPT no pe ríodo em questão Segundo o professor Julio Lubachevski verbi gratia as atividades que vi riam a ser denominadas de EPT já eram de senvolvidas em Curitiba desde meados dos anos 1950 portanto num período de exercí cio e vigência da frágil democracia brasileira no qual o país não estava sob a égide dos mi litares Assim talvez seja exagero considerar a tese que afirma que o interesse primeiro da divulgação das atividades esportivas pelo go verno fosse de analgésico social como con clui Guiraldelli Jr O autor a partir de algu mas premissas que são mais ideológicas que epistemológicas confirma suas inferências a partir de uma leitura apenas parcial dos do cumentos Havia um debate na Revista por ele utilizada e havia denúncias da própria orien tação esportiva para a educação física brasi leira Já o caso de Betti 1991 não é o mesmo Esse autor opera uma crítica à esportivização da educação física brasileira no período com base num profundo mergu lho na legislação e na documentação oficial Suas referências principais para tecer críticas às políticas educacionais do período são os trabalhos de Freitag 1986 e Romanelli 1986 duas obras de referência no campo educacional A análise proposta por Betti por si só limita muito a compreensão do proces so histórico uma vez que a efetivação das políticas oficiais em práticas escolares não foi analisada Ainda assim o autor afirma que 6 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e O conteúdo esportivo deu então uma nova coloração aos programas de educação física no Brasil centrados na velha ginástica sueca e francesa O esporte pareceu também ir ao encontro da ideologia propagada pelos con dutores da Revolução de 1964 aptidão físi ca como sustentáculo do desenvolvimento espírito de competição coesão nacional e social promoção externa do país senso moral e cívico senso de ordem e disciplina Betti 1991 p 161 Julgo ser importante indicar que o au tor também utiliza alguns números da Revista por mim aqui estudada Nesse caso a crítica anteriormente dirigida a Guiraldelli Jr permanece procedente na análise do estudo de Betti Ou seja o autor enxergou nas páginas da Revista apenas aqueles elementos que referendavam as suas críticas às políticas oficiais do período refe rido O seu estudo não é tão incisivo quanto os anteriores naquilo que respeita à organização social Certamente isso se justifica também pelo seu suporte teórico diferenciado senão antagô nico Mas ainda assim suas análises não contem plam o desenrolar das políticas oficiais no pla no das práticas concretas Segundo os professo res por mim entrevistados o esporte apareceu como uma alternativa ao descaso e à improvisa ção que então grassavam nas aulas de educação física Para a grande maioria desses professores o esporte era uma atividade educativa por exce lência Assim sendo ele era muito mais uma al ternativa positiva do que um rebaixamento do valor formativo da educação física escolar Ou seja representava mesmo uma nova coloração para a educação física escolar Quanto aos usos ideológicos que se podem fazer do esporte não podemos falar o mesmo de qualquer outra prá tica cultural E os professores partilhavam des sa compreensão ou haveria compreensões dife rentes em torno daquele uso Toda a construção teórica dessa produ ção aqui destacada diferente nos seus objeti vos e formas de análise nega a história como movimento Segundo Thompson A explicação histórica não pode tratar de absolutos e não pode apresentar causas su ficientes o que irrita muito algumas almas simples e impacientes Elas supõem que como a explicação histórica não pode ser Tudo é portanto Nada apenas uma narra ção fenomenológica consecutiva É um en gano tolo A explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado mas porque se processou dessa maneira e não de outra que o processo não é arbitrá rio mas tem sua própria regularidade e racionalidade que certos tipos de aconteci mentos políticos econômicos culturais re lacionaramse não de qualquer maneira que nos fosse agradável mas de maneira parti culares e dentro de determinados campos de possibilidades que certas formações sociais não obedecem a uma lei nem são os efeitos de um teorema estrutural estático mas se caracterizam por determinadas rela ções e por uma lógica particular de proces so 1981 p 61 Certamente não podemos considerar os professores como sujeitos capazes de por si só transformar a realidade mediante sua prática pedagógica como gostariam alguns dos auto res anteriormente citados Porém os professo res também não são ou foram vítimas tampouco foram coitados Eles foram sujeitos que agiram e reagiram dentro de condições his tóricas concretas bastante objetivas Eles certa mente não tinham a disponibilidade acadêmica para teorizar sobre o fim ou o início dos tem pos Vale lembrar que a crítica à condição in gênua ou alienada do professor está presente em inúmeros outros trabalhos além desses aqui analisados como é possível destacar em Medina 1983 Pereira 1988 Mariz de Oliveira 1988 Carvalho de Freitas 1991 Kunz 1991 Ferreira Neto 1993 e Gonçalves 1994 As reformas educacionais de 1968 e 1971 são resultado de um processo contínuo de consolidação hegemônica que não se deu sem profundos antagonismos divergências 6 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 embates e conciliações Amplas parcelas da sociedade civil debatiamse em torno do que representava a própria reorganização da cultura no pósguerra tanto no plano interno quan to no externo Assim o Estado brasileiro con figuravase como um amálgama de interesses diversos não monolíticos mas que em última instância não se propunha somente a fazer mecanicamente o jogo do capital internacional Havia tensões que parecem ter sido descon sideradas ao longo da produção historiográfica Mesmo porque se delineava toda uma outra configuração para a cultura brasileira no sen tido de sua modernização O sentimento de nação moderna forte grande difundido pelo Estado não trazia nada de novo antes era apenas uma redefinição de um processo inici ado já no século XIX de construção da nação brasileira como nos indica Carvalho 1987 A própria dimensão política da produção do Ins tituto Superior de Estudos Brasileiros ISEB aponta nesse sentido Resta saber em que me dida o povo brasileiro estava preocupado com a invenção ou não da nação proposta pelos governantes para muito além de seu cotidia no mais imediato Uma parcela significativa da história da educação brasileira da qual tomei apenas al guns exemplos tem sido escrita à luz de de terminantes estruturais mas sem captar a lógica de processo impressa no desenvolvimen to histórico Ora pareceme bastante difícil sustentar que havia consenso popular em tor no do poder do Estado militarizado Mas tam bém não podemos afirmar que os governos mi litares não contavam com algum apoio entre a população Creio que é necessário até mesmo indagar se o conjunto da sociedade civil sabia ou imaginava o que estava se passando em termos políticos no país e até que ponto os governos militares não tinham o apoio ainda que velado de significativas parcelas da popu lação Não se trata de negar a repressão a exceção do regime e mesmo seu caráter perver so Mas se formos proceder a uma análise dos fatos concretos poderíamos afirmar que socie dade política teria perdido apoio da sociedade civil por conta da hipertrofia daquela confor me indica Saviani 1988 p 95 A historio grafia mais recente sobre o golpe militar de 1964 tem enfatizado inclusive a própria ten são interna das Forças Armadas que em hipó tese alguma estavam coesas quanto aos rumos do país após os acontecimentos de 31 de março de 1964 DAraújo et al 1994 Sodré 1997 Gorender 1997 Figueiredo 1997 A análise da história pela sua configuração estru tural pouco espaço deixa para a configuração de formas particulares de correlação de forças permeada pelas características próprias da cul tura brasileira Pareceme que é também negada a historicidade da elaboração da reforma educa cional da ditadura quando se aponta a conti nuidade entre o texto das várias reformas aprovadas Lei 554068 e Lei 569271 e a ordem socioeconômica gestada a partir de 1964 Creio que é o mínimo que se espera de um regime que pretende ampliar e consolidar o seu domínio e a política educacional é pe dra de toque nessa empreita Dessa maneira absurdo seria se não houvesse uma certa organicidade entre as reformas educacionais e o modelo socioeconômico Mais é importan te destacar que as vitórias encetadas pelo re gime militar foram expressão de um período de extrema ebulição política e de uma profunda reorganização cultural no Brasil No vazio cri ado pelo fim do populismo no início da dé cada de 1960 afloraram as condições histó ricas necessárias para a reorganização das for ças mais conservadoras mas não sem uma per manente luta pelo poder em torno das ques tões educacionais e políticas mais amplas Ianni 1974 1997 Fernandes 1982 1997 Assim o nexo entre a organização política di nâmica cultural e a reorganização do sistema educacional só pode ser compreendido à luz da análise dos fatos concretos e não por categorizações externas à própria história Es tas quando não apenas abstratas correm o risco ainda de se tornarem arbitrárias 6 6 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e As análises aqui desenvolvidas têm a motivação clara e já manifesta de propiciar a retomada do debate acerca da configuração histórica da educação física escolar mais pre cisamente no período pós1964 Os estudos escolhidos foramno pelo grau de imagens e compreensões que ajudaram a consolidar na área o que contribuiu intencionalmente ou não para que se cristalizasse uma concepção do desenvolvimento histórico da educação fí sica rígido e algo mecânico Uma concepção que cancela os sujeitos na sua potência cria dora e obsta a compreensão da história como um processo dinâmico e multifacetado O que se depreende dessa análise é a profunda carac terística generalizante e abstracionista de uma determinada produção em educação física no Brasil no que tange aos estudos voltados para o ensino de educação física A vinculação en tre essa produção em educação física e a historiografia da educação brasileira é clara Não podemos esquecer em absoluto o caráter situado e datado dessa produção É preciso destacar também o papel que ela cumpriu na abertura de novas possibilidades de compreen são do fenômeno social e cultural que é a educação física Por outro lado no que tange à com preensão da história da educação física essa produção incorporou alguns vícios e alguns limites da pesquisa em educação à qual na sua maior parte esteve vinculada o principal de les é olhar para a realidade de fora dela Na perspectiva da teoria educacional houve avan ços significativos a partir da produção anali sada Mas também deuse muita margem para equívocos quando se perdeu de vista o cotidi ano da escola e duas das principais categorias utilizadas por praticamente todos os interlo cutores aqui contemplados a história como movimento contraditório e a sociedade como lugar de conflito Tomado o Estado brasileiro do período analisado como títere do capitalis mo internacional e dos arroubos conspiratórios da burguesia restou fazer a apologia da revo lução via educação via a escola como apare ce em alguns trabalhos Os documentos por mim analisados entre os quais incluo os depo imentos dos professores de educação física indicam o quanto as críticas desferidas contra os governos militares diante da opção pelo de senvolvimento precisam ser relativizadas se tomadas como elemento apenas de juízo ide ológico A profusão de teorias de desenvolvi mento gestadas a partir do ISEB Toledo 1982 demonstra o quanto havia de divergên cias em torno do melhor projeto de desenvol vimento para o Brasil a partir da década de 1950 Num período de crise de hegemonia a vacância do poder abriu possibilidade para um regime autoritário mas de forma alguma monolítico e em alguns dos seus estratos pro fundamente nacionalista Sendo assim a liga ção automática entre as políticas educacionais do governo brasileiro pós1964 e o capitalis mo internacional aponta para a desconsi deração da particularidade do desenvolvimen to cultural brasileiro O que pretendo então é chamar a atenção para aquilo que considero como dois problemas presentes numa determinada manei ra de escrever a história da educação e da edu cação física escolar no Brasil a abstração e a generalização No caso dos estudos analisados esses problemas ficam patentes quando trans formam o Estado em um ente superior que paira acima das mazelas humanas e dos inte resses dos homens e dos grupos que represen tam Ou o Estado é apresentado como per tencente a um só grupo social classe ou fra ção de classe ou é elevado à condição de su premo juiz das intenções humanas Ora o Es tado não pode ser abstraído de sua orientação conflituosa marcada por tensões dissensões e conciliações O Estado é uma construção his tórica determinada por uma correlação de for ças que se consubstancia nos diversos interes ses de classes e frações de classes contrários e antagônicos E no campo da história não são tangíveis as leis gerais as generalizações uni versais uma vez que ela a história se confi 6 7 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 gura como um processo Thompson 1981 No plano educacional é preciso investigar até que ponto o Estado freqüentou as salas de aula A reorganização da educação física escolar um amálgama de interesses Muitas evidências permitem inferir que a educação física brasileira naquele momento passava por um processo de renovação Um universo bastante diverso de fontes indica que muitas vozes se levantavam para reivindicar um maior reconhecimento acadêmico e escolar para esse componente curricular Desde a nor ma legal a partir da Lei 402461 Diretrizes e Bases da Educação Nacional reforçada na Lei 569271 e no decreto 6945071 passando pela expansão dos cursos de formação de pro fessores em nível superior pela oferta de cur sos emergenciais de formação de recrea cionistas pelo incentivo ao intercâmbio inter nacional na área pela emergência de um pro grama de publicações pelo debate aberto no interior do Conselho Federal de Educação so bre a organização escolar desse componente curricular pela qualificação em nível de mestrado e doutorado dos primeiros profissi onais da área e desaguando na reivindicação dos professores escolares por uma definição mais precisa do espaço da educação física nos currículos eram muitos os fóruns onde a edu cação física era ponto de pauta obrigatório Não é a intenção desse artigo esgotar o tema mesmo porque somente agora começam a sur gir pesquisas de caráter histórico sobre a rela ção entre a constituição e a reorganização dos saberes escolares e as práticas docentes no âmbito da ditadura militar no Brasil Mas no caso da educação física escolar é possível in ferir algumas questões a partir do corpus do cumental por mim reunido e ao mesmo tem po infirmar uma certa tradição de leitura a qual percorremos no tópico anterior Essa lei tura está fadada à obsolescência á medida que a pesquisa histórica tem demonstrado que inú meros outros fatores determinam em larga medida a instituição configuração e transfor mação dos saberes escolares ao longo do tem po Portanto privilegiarei aqui outras vozes que não as oficiais consideradas como aque las oriundas do aparelho estatal pretenden do com isso indicar o contraponto possível entre os múltiplos interesses em jogo na reno vação da educação física escolar naquele pe ríodo Como é impossível falar de um deba te sobre a educação física no Brasil sem remetêlo ao debate internacional julgo ser importante destacar o cerne daquele debate a relação entre uma educação física voltada para a educação integral do indivíduo e o esporte na sua forma acabada ou seja de rendimen to ou de alto nível O fato importante o fato mundial é que todos os países têm tomado perfeita consci ência da importância humana e social da educação física A confusão mais freqüente entre exercício físico e desporto de grande competição amador ou profissional é ainda obstáculo sério aos programas de educação física no mundo O poder central por dema gogia o público por interesse imediato mesmo os pais dos praticantes por incompreensão têm enorme tendência a ce der ao desporto espetáculo No entanto devemos esperar que um dia os educadores físicos do mundo inteiro intimamente liga dos pelos princípios essenciais saberão im por em todos os países uma educação físi ca racional estruturada para ser posta ver dadeiramente ao serviço do homem e da sociedade Seurin apud Ramos 1970 p 26 O texto acima é indicativo de dois dos elementos por mim anteriormente apontados O primeiro referese à preocupação mundial com o significado e a importância da educa ção física no processo educativo Pierre Seurin autor do texto acima era membro da Fédération International de Éducacion 6 8 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e Physique FIEP talvez a maior entidade inter nacional de educação física Nos anos 1970 Seurin viria a ser presidente da entidade O segundo elemento diz respeito à inserção do Brasil no debate internacional Não por acaso optei por uma citação de segunda mão Jair Jordão Ramos foi um dos mais destacados in telectuais da educação física brasileira Naquele período ele lançava mão de um trabalho de circulação mundial de um autor consagrado para referendar a sua própria posição sobre a renovação da educação física brasileira Mas se os intelectuais brasileiros necessariamente re corriam à literatura internacional como se posicionavam aqueles responsáveis pelas elabo rações curriculares Essa posição se expressa va na preocupação com a definição e expan são do campo acadêmico da educação física brasileira como é possível observar no texto abaixo Estabelecimento de uma política nacional de educação física Propõe várias medidas para execução desses fins instalações desportivas material formação intensiva de profissionais da especialidade cursos intensivos regula mentados zelo pela norma legal saúde ur bana e rural plano nacional de comunica ção incremento da educação física função de representação de professores de educação física nos órgãos conselhos etc orçamento TEMA B unificação dos currículos dos di ferentes cursos das escolas de educação físi ca Matérias obrigatórias e matérias optativas diversificação dos programas dos diferentes cursos currículo mínimo TEMA D desenvolvimento da educação fí sica por meio de pesquisas e de cursos de aperfeiçoamento em alto nível e de pósgra duação solução de muitos dos nossos pro blemas Esses cursos não devem ser limita dos aos assuntos da ginástica e dos despor tos destacandose como tema prioritário o relativo a métodos de pesquisa A pesquisa deve ser despertada e incentivada entre alu nos e professores de educação física dentro das condições materiais disponíveis e essen cialmente no campo das atividades da gi nástica e dos desportos VI Reunião de Di retores de Escolas de educação física 1967 Não emergia ali conforme indica o texto acima uma forte pressão para a eleva ção do status institucional da educação física a partir de uma série de considerações em tor no de sua relevância social da necessidade de desenvolvimento de pesquisa na área o que requeria formação de professores e pesquisa dores e alocação de recursos E em linhas gerais a corporação dos professores por meio de uma das suas associações não destoava daquelas considerações necessidade cada vez maior de dar ao educador uma formação de amplo e profun do caráter humano revisão dos processos pedagógicos esti mular o educando a resolver situações novas com os recursos que o educador lhe forne cer agir e reagir face aos problemas que lhe surgem necessidade de pesquisar no campo da di dática que as autoridades governamentais solici tem a colaboração das entidades de classe dos diversos Estados da União quando dos estudos dos problemas da formação dos professores de educação física exige várias providências do Estado no to cante a valorização do profissional extensão da educação física a toda a comu nidade incentivo política sic aos recém forma dos os programas das escolas de educação fí sica devem ser orientados no sentido de cri ar no futuro professor o espírito e iniciativa do livre empreendimento melhorar o nível do ensino especializado de educação física facilitando os contatos 6 9 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 da especialização com os centros mais adi antados do mundo que sejam cumpridos fielmente o ditames do Decreto no 6945071 por ser certo e de profunda liberalidade sendo mesmo o míni mo a exigir tendo em vista que a educação física através dos exercícios físicos dos des portos e das atividades ditas de recreação representa a alegria o prazer a saúde física e mental da infância da adolescência e dos adultos Recomendações do III Encontro de P r o f e s s o r e s d e e d u c a ç ã o f í s i c a d a Guanabara 1972 E no plano da política miúda também emergiam preocupações com a educação físi ca Um exemplo pode ser tirado do primeiro programa de educação física da Prefeitura Municipal de Curitiba A elaboração do Programa por Temporada objetiva propiciar aos senhores Professores de educação física a preparação dos seus alunos de modo planejado obedecendo a uma programação antecipada e definida afastando deste modo processos improvisa dos e sem uma seqüência pedagógica Nunca será possível realizar uma tarefa educa cional se a mesma não for antecipada em seus objetivos e nos meios a serem utilizados Desta forma pretendemos acabar por vez com o regime de improvisação dentro das escolas municipais fornecendo orientação educacional sistemática formal e organizada dentro da conceituação moderna da educa ção 1972 p 18 Esse texto é outra evidência de como as coisas mudavam naquele momento pelo menos no que diz respeito à educação física em Curitiba O Programa por Temporada des pontava como uma alternativa à improvisação que grassava nas escolas municipais e ao des caso com a educação física escolar Diante desse quadro organizouse um programa que viria a ser conhecido como Bíblia justamente pelo seu caráter de manual de receituário Mas esse caráter era constantemente subvertido à medida que os professores lançavam mão dos mais variados artifícios na sua prática cotidi ana As crianças vinham para a escola elas ti nham aquela noção de vir para a escola para aprender a ler e escrever jamais vinham para a escola para fazer educação física jamais isso não se cogitava E essa fase de 5ª a 8ª série era de implantação recente isso nos anos 70 Então para as crianças que cami nhavam em torno de 4 a 6 quilômetros para vir para a escola chegar na escola para cor rer para saltar enfim para fazer aquilo que eu havia aprendido que era importante eles não achavam que realmente era importante não é Então eu tive que usar de n meca nismos de sedução para que eles passassem a gostar do conteúdo A gente adaptou a educação física a cir cunstâncias muito naturais Por exemplo o salto em extensão a gente fazia com as sombras do barranco por sobre a estrada o salto em profundidade era saltar do barran co sobre a estrada o salto em altura era sal tar os galhos caídos sobre o barranco Massaneiro 1998 Esse pequeno conjunto de evidências diversas permite situar a configuração da edu cação física brasileira no âmbito das reflexões desenvolvidas por Goodson 1990 Análises mais atentas das matérias escolares revela uma série de paradoxos inexplicados Em primeiro lugar o contexto escolar é sob muitos aspectos muito diferente do contex to universitário problemas mais amplos de motivação do aluno de capacidade e de controle necessitam ser considerados A tra dução da disciplina para a matéria esco l ar portanto exige uma considerável adapta ção Em segundo lugar as matérias esco lares são com freqüência ou divorciadas de 7 0 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e sua disciplinabase ou não tem uma disci plinabase Goodson 1990 p 234235 Se olharmos para o desenvolvimento histórico e para a realidade atual da educa ção física brasileira creio ser possível refe rendar as considerações acima E é ainda esse mesmo autor que nos dá elementos para compreender esse processo O grau de isolamento ou autonomia das matérias escolares pode ser visto numa análise mais atenta como estando relaci onado aos estágios de evolução das maté rias Longe de serem derivadas de discipli nas acadêmicas muitas matérias escolares precedem cronologicamente suas discipli nasmãe nessas circunstâncias a matéria escolar em desenvolvimento realmente causa a criação de uma base universitária para a disciplina de forma que professo res secundários das matérias escolares possam ser treinados Goodson 1990 p 235 Os debates promovidos no âmbito da educação física brasileira nos últimos qua renta anos têm evidenciado uma busca in cessante pelo reconhecimento acadêmico institucional e social Diante de um campo de possibilidades diferentes perspectivas do ensino da educação física na escola esse processo não se desenvolveu sem o consórcio inclusive da corporação dos pro fessores de educação física como já explo rou Beltrami 1992 Daí a necessidade de localizarmos a experiência desses professo res no âmbito daquilo que Thompson carac teriza como o diálogo entre o ser e a cons ciência social 1981 p 17 As perspectivas diversas de agentes diversos estão pautadas por uma necessária e intrincada trama social e cultural em que algumas tendências são suplantadas por outras permanecendo as primeiras como potência histórica Nesse processo os diferentes sujeitos portadores de diferentes perspectivas lançamse à luta em torno daquilo que representaria a síntese mais aproximada dos seus interesses manifes tos O Estado que legislava os pesquisadores que reclamavam recursos e os professores que exigiam um controle forte sobre aquilo que consideravam desmando das escolas Beltrami 1992 bem como lançavam mão dos mais variados artifícios para o seu trabalho coti diano como ficou patente nos textos acima Todos esses sujeitos portadores de amplo leque de interesses e reivindicações de uma forma ou de outra estavam amalgamados naquele momento Em suma todos deseja vam maiores e melhores recursos para o desen volvimento de suas atividades no âmbito da edu cação física A atuação através da distribuição padroniza da de recursos representa um processo de tendência acadêmica que angustia os subgrupos que promovem as matérias esco lares Por isso áreas tão diversas como as de trabalho em madeira e metal educação físi ca artes estudos técnicos contabilidade costura e economia doméstica têm procura do melhoria de status defendendo uma in tensificação de exames e habilitações no es tilo acadêmico Goodson 1995 p 37 Nas falas contempladas nos limites desse trabalho entidades internacionaisin telectuais da educação física dirigentes de escolas superiores legisladores e professores vemos convergir uma série de orientações que determinariam os rumos da educação física escolar no Brasil pelo menos por vin te anos o que infirma a tese de um Estado demiurgo determinando o lugar e a prática daqueles diferentes sujeitos na organização de uma prática cultural a educação física E essas orientações nada tinham de altruístas ou arbitrárias Antes faziam parte da corre lação de forças determinada pelas condições objetivas dos sujeitos em uma determinada ambiência cultural e histórica Partindo do 7 1 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 pressuposto de Goodson 1990 de que o controle universitário não reflete um padrão continuo de dominação generalizada é pos sível afirmar que O conhecimento acadêmico de alto status ganha seus aderentes e aspirantes menos através do controle dos currículos que so cializam que através da conexão bem estabelecida com padrões de alocação de recursos e com o trabalho associado e as perspectivas de carreira que esses assegu ram O estudo das matérias escolares em evolução dirige nossa atenção para a evo lução de padrões de alocação de recursos O trabalho recente de M Smith tem de monstrado claramente quão frutífero po deria ser esse enfoque ao substituir cruas noções de dominação por padrões de con trole nos quais os grupos subordinados podem ser vistos ativamente em ação Goodson 1990 p 252 Assim é possível concluir que a me nos que houvesse o consentimento dos di versos agentes sociais as políticas educaci onais não teriam condições de consolidarse no interior das escolas Até porque a escola pode desenvolver uma dinâmica própria de organização que sem dúvida relacionase com o plano cultural mais amplo mas que interage com ele para manifestarse e para autogerirse Assim não podemos falar genericamente de uma conformação do siste ma educacional pelo Estado autoritário Pri meiramente então prefiro caracterizar as ini ciativas oficiais como sendo do governo e não do Estado Mas apesar da influência governamental ainda assim no caso da reno vação da educação física brasileira a sua corporação de especialistas ajudou a conformar o sistema educacional mormente no que se refere às práticas escolares Da tensão entre o imposto pela via legal e aquilo que foi assi milado e produzido por parcelas da sociedade emergia a prática cotidiana dos educadores escolares Para essa produção acadêmica por mim indicada com a qual não pretendi exaurir o tema representativa de uma forma de ler a história da educação no Brasil caberia à escola com sua função estritamente reprodutora úni ca e exclusivamente a reificação dos indivídu os e da cultura no interesse da manutenção reprodução da ideologia burguesa Para aque les que pretendem uma sociedade mais igua litária a escola seria então perfeitamente dis pensável Por que continuamos então a estudála e a trabalhar nela Analisemos a es cola por dentro de suas particularidades e de suas determinações próprias Deixemos as ge neralizações e as abstrações para aquilo que não tem existência concreta na história da educação e da educação física Referências bibliográficas 6a REUNIÃO DE DIRETORES DE ESCOLAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1968 Vitória Boletim Técnico Informativo Brasília n 1 p 50 59 ARANHA Lúcia Pedagogia históricocrítica o otimismo dialético em educação São Paulo EDUC 1992 158p AZANHA José Mário Pires O abstracionismo pedagógico uma idéia de pesquisa educacional São Paulo Edusp 1992 p 41 56 BARREIRA Luiz Carlos História e historiografia as escritas recentes da história da educação brasileira 19711988 Campinas 1995 258p Tese Doutorado Faculdade de Educação Universidade de Campinas BELHOSTE Bruno Resume de lexposé de Bruno Belhoste au Service dHistoire de lÉducation Paris INRP 1995 7 2 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e BERCITO Sônia de Deus Rodrigues Educação Física e construção nacional In FERREIRA NETO Amarílio Org Pesquisa histórica na educação física brasileira Vitória CEFDUFES 1996 p 145160 BETTI Mauro Educação Física e sociedade São Paulo Movimento 1991 184p BRACHT Valter Educação Física e aprendizagem social Porto Alegre Magister 1992 122p BUFFA Ester NOSELLA Paolo A educação negada introdução ao estudo da educação brasileira contemporânea São Paulo Cortez 1991 CARMO Apolônio Abádio do Educação física competência técnica e consciência política em busca de um movimento simétrico Uberlândia UFU 1985 54p CARVALHO José Murilo de Os bestializados São Paulo Companhia das Letras 1987 196p CARVALHO DE FREITAS Mauri A miséria da educação física Campinas Papirus 1991 166p CASTELLANI FILHO Lino Educação física no Brasil a história que não se conta Campinas Papirus 1988 225p CASTRO Celso In corpore sano os militares e a introdução da educação física no Brasil Antropolítica Rio de Janeiro n2 p 61 78 1997 CHERVEL André História da disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisa Teoria e Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1990 CHEVALARD Yves La transposición didáctica Buenos Aires Aique 1991 186p CUNHA Luis Antonio GOES Moacyr de O golpe na educação Rio de Janeiro Jorge Zahar 1994 95p CURITIBA Prefeitura Municipal Programa de educação física por temporadas 19721984 Curitiba 1n 1984 DARAÚJO Maria Celina et al Orgs Visões do golpe a memória militar sobre 1964 Rio de Janeiro RelumeDumará 1994 256 p FERNANDES Florestan A ditadura em questão São Paulo T A Queiroz 1982 164p O significado da ditadura militar In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 141148 FERREIRA NETO Amarílio A formação política do professor de Educação Física In VOTRE Sebastião Org Ensino e avaliação em educação física São Paulo Ibrasa 1993 p 1950 A pedagogia no exército e na escola Aracruz ES Facha 1999 162p FERREIRA Marieta de Moraes AMADO Janaína Usos e abusos da história o r a l Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas 1996 277p FIGUEIREDO Argelina Democracia e reformas a conciliação frustrada In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 4754 FREITAG Bárbara Escola estado e sociedade São Paulo Moraes 1986 142 p GERMANO José Wellington Estado militar e educação no Brasil 19641985 São Paulo Cortez Campinas Editora Unicamp 1993 297p GOELLNER Silvana Vilodre O Método francês e a militarização da educação física na escola brasileira In FERREIRA NETO Amarílio Org Pesquisa histórica na educação física brasileira Vitória CEFDUFES 1996 p 123144 7 3 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 GONÇALVES Maria Augusta Salin Sentir pensar agir corporeidade e educação Campinas Papirus 1994 196 p GOODSON Ivor Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 230254 1990 La construcción social del curriculum possibilidades y ambitos de investigación de la historia del curriculum Revista de Educación Madri n 295 p 737 mayoago1991 Historia del currículum la construcción social de las disciplinas escolares Barcelona Ediciones PomaresCorredor 1995a 239p Currículo teoria e história Petrópolis Vozes 1995b 140p Dar voz ao professor as histórias de vida dos professores e o seu desenvolvimento profissional In NÓVOA António Vidas de professores Porto Porto Editora 1995c p 6378 GRAMSCI Antonio Maquiavel a política e o estado moderno Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991 444p GORENDER Jacob Era o golpe de 64 inevitável In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 109116 GUIRALDELLI Jr Paulo Educação física progressista São Paulo Loyola 1988 63p História da educação São Paulo Cortez 1994 234p IANNI Octavio Imperialismo e cultura Petrópolis Vozes 1974 As estratégias de desenvolvimento In TOLEDO Caio Navarro de Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 137140 KUNZ Elenor Educação Física ensino e mudanças Ijuí Unijuí Editora 1991 206p LIBÂNEO José Carlos Democratização da escola pública a pedagogia críticosocial dos conteúdos São Paulo Loyola 1989 LIMA Lenir Miguel de Os militares o populismo e suas influências na Educação física em Goiás Goiânia 1991 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Goiás MARIZ DE OLIVEIRA José Guilmar e t a l Educação física e o ensino de 1º grau São Paulo Edusp 1988 67p MASSANEIRO Idelzi Terezinha Entrevista concedida no dia 30031998 sh sn 1998 MEDINA João Paulo de Subirá A Educação física cuida do corpo e mente Campinas Papirus 1983 96p METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA São Paulo Cortez 1992 117p OLIVEIRA Marcus Aurelio Taborda de Elementos para uma análise da renovação da Educação física escolar no Brasil durante a ditadura militar 19641985 uma contribuição para a história das disciplinas In 3o CONGRESSO LUSOBRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 2000 Coimbra Anai s Coimbra sn 2000 p 170 A Revista Brasileira de Educação Física e Desportos e a experiência cotidiana de professores da Rede Municipal de Ensino de Curitiba entre a adesão e a resistência São Paulo 2001 399p Tese Doutorado Programa de Estudos Pós Graduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo OLIVEIRA Vitor Marinho Consenso e conflito na educação física brasileira Campinas Papirus 1994 203p PAIVA Fernanda Ciência e poder simbólico no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte Vitória CEFDUFES 1994 254p 7 4 Marcus Aurélio Taborda de OLIVEIRA Educação física escolar e PALAFOX Gabriel Humberto Muñoz Educação física no Brasil aspectos filosóficospedagógicos subjacentes à política nacional em ciência e tecnologia para esta área no período 19701985 São Paulo 1990 121p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em Educação da PUC de São Paulo PEREIRA Flávio Medeiros Dialética da cultura física São Paulo Ícone 1988 291p RACHI Kiyoshi Educação escolar brasileira um reexame dos estudos tendo por centro de análise a categoria de contradição São Paulo 1990 292p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo RAMOS Jayr Jordão Panorama mundial da educação física e atividades correlatas Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 9 p 1826 1970 ENCONTRO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA GUANABARA 2 1972 Niterói Recomendações Niterói Associação dos Professores de Educação Física da Guanabara 1972 ROMANELI Otaíza de Oliveira História da educação no Brasil 19301973 Petrópolis Vozes 1986 267p SAVIANI Dermeval Escola e democracia São Paulo CortezAutores Associados 1983 96p Política e educação no Brasil São Paulo CortezAutores Associados 1987 163p Educação do senso comum à consciência filosófica São Paulo CortezAutores Associados 1989 224p SOARES Carmen Lúcia Educação física raízes européias e Brasil Campinas Autores Associados 1993 167p Imagens da educação no corpo Campinas Autores Associados 1998 145p SODRÉ Nelson Werneck Era o golpe de 64 inevitável In TOLEDO Caio Navarro de org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 p 103108 SOUSA Eustáquia Salvadora de Meninos à marcha Meninas à sombra a história do ensino da Educação física em Belo Horizonte 18971994 Campinas 1994 Tese Doutorado Programa de PósGraduação em Educação da Unicamp SOUSA Eustáquia Salvadora VAGO Tarcísio Mauro Orgs Trilhas e partilhas educação física na cultura escolar e nas práticas sociais Belo Horizonte Cultura 1997 387p TANI Go Educação física escolar no Brasil seu desenvolvimento problemas e propostas In Seminário Brasileiro em Pedagogia do Esporte 1998 Santa Maria Anais do Seminário Brasileiro em Pedagogia do Esporte Santa Maria sn 1998 p 120 127 THOMPSON Edward Palmer Tradición revuelta y consciencia de clase Barcelona Crítica 1979 318p A miséria da teoria Rio de Janeiro Zahar 1981 231p Senhores e caçadores Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 432p TOLEDO Caio Navarro ISEB fábrica de ideologias São Paulo Ática 1982 195p Org 1964 visões críticas do golpe Campinas Editora Unicamp 1997 168p VAGO Tarcísio Mauro Cultura escolar cultivo de corpos educação physica e gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte 19061920 São Paulo 1999 315p Tese Doutorado Faculdade de Educação da USP 7 5 Educação e Pesquisa São Paulo v28 n1 p 5175 janjun 2002 VIEIRA Carlos Eduardo O historicismo gramsciano e a pesquisa em educação São Paulo 1994 248p Dissertação Mestrado Programa de Estudos PósGraduados em História e Filosofia da Educação da PUC de São Paulo VIEIRA Evaldo Amaro Estado e miséria social no Brasil de Getúlio a Geisel 19511978 São Paulo Cortez 1983 240p WARDE Mirian Jorge Contribuições da história para a educação INEP Brasília v 9 n 47 p 311 1990 Recebido em 23052001 Aprovado em 27032002 Marcu Marcu Marcu Marcu Marcus Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira s Aurélio Taborda de Oliveira é doutor em História e Filosofia da Educação pela PUCSP professor do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e do programa de PósGraduação em Educação linha de História e Historiografia da Educação da Universidade Federal do Paraná