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RECREAÇÃO E LAZER CURSOS DE GRADUAÇÃO EAD Recreação e Lazer Prof Ms Robson Amaral da Silva Olá Meu nome é Robson Amaral da Silva Sou licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos CEF UFSCar 2006 especialista em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG 2008 e mestre em Educação pela UFSCar PPGEUFSCar 2010 Atualmente sou professor do Claretiano Centro Universitário de Batatais nos cursos de Bacharelado presencial e a distância e Licenciatura presencial e a distância Sou pesquisador da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana membro do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física NefefUFSCar pesquisador da linha Práticas Sociais e Processos Educativos e Estudos Socioculturais do Lazer Ultimamente também tenho me debruçado sobre questões afetas ao lazer e à recreação publicando artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais além de capítulos de livros relacionados a essa temática Email robsonsilvaclaretianoedubr Fazemos parte do Claretiano Rede de Educação RECREAÇÃO E LAZER Robson Amaral da Silva Batatais Claretiano 2014 Fazemos parte do Claretiano Rede de Educação Ação Educacional Claretiana 2012 Batatais SP Versão dez2014 7901 S583r Silva Robson Amaral da Recreação e lazer Robson Amaral da Silva Batatais SP Claretiano 2014 174 p ISBN 9788583772385 1 Lazer 2 Ludicidade 3 Educação 4 Recreação 5 Políticas do lazer I Recreação e lazer CDD 7901 CDD 658151 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional J Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães CRB7 6411 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Eduardo Henrique Marinheiro Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Juliana Biggi Paulo Roberto F M Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados É proibida a reprodução a transmissão total ou parcial por qualquer forma eou qualquer meio eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia gravação e distribuição na web ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana Claretiano Centro Universitário Rua Dom Bosco 466 Bairro Castelo Batatais SP CEP 14300000 ceadclaretianoedubr Fone 16 36601777 Fax 16 36601780 0800 941 0006 wwwclaretianobtcombr SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO 7 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO 9 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 19 UnidAdE 1 RECREAÇÃO E LAZER APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA 1 OBJETIVOS 21 2 CONTEÚDOS 21 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 22 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 23 5 RECREAÇÃO E LAZER VÍNCULOS HISTÓRICOS 24 6 LAZER ASPECTOS CONCEITUAIS 66 7 RECREAÇÃO BREVES APOnTAMEnTOS COnCEiTUAiS 75 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 77 9 CONSIDERAÇÕES 78 10 EREFERÊnCiAS 79 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 79 UnidAdE 2 DIMENSÕES POLÍTICAS DO LAZER 1 OBJETIVOS 83 2 CONTEÚDOS 83 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 84 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 84 5 O LAZER COMO DIREITO SOCIAL 85 6 O PROCESSO HISTÓRICO DE POLÍTICAS DE LAZER NO BRASIL 95 7 POLÍTICAS UNIVERSAIS OU FOCALIZADAS 109 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 114 9 CONSIDERAÇÕES 114 10 EREFERÊnCiAS 115 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 117 UnidAdE 3 INTERFACES ENTRE O LAZER E A EDUCAÇÃO 1 OBJETIVOS 119 2 CONTEÚDOS 119 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 120 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 120 5 A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE 121 6 RECONHECENDO O CAMPO DE ESTUDOS DO LAZER 127 7 ARTICULAÇÕES ENTRE O LAZER E A EDUCAÇÃO 130 8 ARTICULAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E O LAZER 138 9 OS CONTEÚDOS CULTURAIS DO LAZER 140 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 144 11 CONSIDERAÇÕES 145 12 EREFERÊnCiAS 145 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 145 UnidAdE 4 LAZER FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL 1 OBJETIVOS 149 2 CONTEÚDOS 149 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 150 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 151 5 CONHECENDO OS PROFISSIONAIS DO LAZER 151 6 A ANIMAÇÃO CULTURAL 155 7 PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO DA CULTURA 158 8 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO 164 9 COMENTANDO UM EXEMPLO DE ATUAÇÃO NO CAMPO DO LAZER 169 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 172 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS 172 12 EREFERÊnCiAS 173 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 173 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Conteúdo Introdução aos estudos do lazer e da recreação Lazer ludicidade e educação Formação e atuação profissional no campo do lazer e da recreação Políticas públicas de lazer Pesquisa aplicada ao lazer 1 INTRODUÇÃO Caro aluno seja muito bemvindo Agora iniciaremos os estudos de Recreação e Lazer que compõe os cursos de Graduação na modalidade EaD No Caderno de Referência de Conteúdo você encontrará as quatro unidades básicas que compõem o material preparadas es pecialmente para que você possa realizar seus estudos relativos a esta obra Com isto esperamos que você tenha contato com con hecimentos que irão contribuir para seu processo de formação e atuação profissional no campo da Educação Física em especial no que se refere à área de recreação e lazer Recreação e Lazer 8 Na Unidade 1 trazemos à baila uma discussão sobre a ocor rência histórica do lazer e da recreação O lazer e a recreação percorreram trajetórias diferentes mas são fenômenos que apresentam interfaces diretas Ainda na pri meira unidade apresentamos e discutimos os conceitos veicula dos por estudiosos nesses campos com o propósito de superar o senso comum muitas vezes presente na abordagem dos temas O lazer e a política são as temáticas que perpassam a Uni dade 2 Para discussão desses aspectos o lazer foi compreendido como um direito social e para isso percorreu um processo históri cosocial que envolveu necessariamente a reflexão em torno de temas como cidadania participação popular e reivindicações so ciais que o levaram a ser visto como uma das dimensões da vida humana que pode contribuir para a superação das desigualdades sociais A Unidade 3 trata da relação entre lazer e educação Seu principal objetivo é apresentar a vocês as interfaces que o campo do lazer vem construindo em sua articulação com a educação e viceversa Como ponto de partida tornouse necessário discutir o con ceito de campo Há um reconhecimento do lazer como um pro cesso educativo cuja reflexão e vivência precisam ser sistematiza das em vários âmbitos atingindo especialmente o contexto da educação não formal pois caracteriza um locus importante para a intervenção dos profissionais da Educação Física que trabalham com o lazer Os desafios postos para a sociedade e os educadores neste século 21 também são abordados bem como a questão dos con teúdos culturais do lazer o que representa uma rica possibilidade para o desenvolvimento da educação em uma perspectiva lúdica Lazer formação e atuação profissional é o título da quarta unidade Nela são abordadas questões afetas ao processo forma 9 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo tivo dos profissionais que irão trabalhar neste campo e os possíveis espaços que por ele podem ser ocupados A perspectiva da animação cultural é tomada como elemen to central na busca da construção de uma intervenção significativa no âmbito da cultura seja ela erudita popular ou de massa De posse desses breves comentários você pode construir um pequeno esboço dos assuntos que serão tratados podendo dessa forma se preparar de maneira adequada para este jogo do saber Uma vez realizado este contato inicial por meio da exposição das principais temáticas a serem desenvolvidas apresentaremos a seguir no tópico Orientações para estudo algumas orientações de cunho motivacional dicas e estratégias que o auxiliarão em seus estudos 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem geral Prof Ms Robson Amaral da Silva Aqui você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade Desse modo essa Abordagem Geral visa fornecerlhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um refe rencial teórico com base sólida científica e cultural para que no futuro exercício de sua profissão você a exerça com competência cognitiva ética e responsabilidade social A proposta deste estudo está pautado em duas premissas básicas a primeira consiste no reconhecimento de que conforme nos ensinou o grande educador Paulo Freire educar é um ato po líticopedagógico político por ser carregado de intencionalidades sejam elas para reproduzir o sistema vigente ou para transformá Recreação e Lazer 10 lo e pedagógico no sentido de abarcar métodos e processos de ensino e de aprendizagem envolvendo tanto aqueles que ensinam quanto aqueles que aprendem A segunda premissa que sustenta as reflexões contidas neste material articulase com a primeira pois considera o lazer e a rec reação como ações socioeducativas cujas intencionalidades bus cam contribuir no processo de humanização dos indivíduos com vistas à construção de uma sociedade mais justa digna e solidária por meio de seus processos metodológicos O profissional da Educação Física que atua no campo do lazer e da recreação é também um educador Daí vem a necessidade de aprofundar conhecimentos sobre questões que alimentam a área da educação na atualidade buscando articulações com o campo de estudos do lazer e da recreação Afinal um simples par ou ím par recurso geralmente usado para selecionar os jogadores de uma equipe por exemplo carrega em sua essência uma inten ção políticopedagógica pouco problematizada pelos profissionais que atuam na área Sendo assim este material didático tem como desafio maior compreender a interrelação dessas duas dimensões da vida hu mana a educação e o lazer com outras que também estão pre sentes como a política e a economia por exemplo fornecendo subsídios para que você possa atuar significativamente no campo da recreação e do lazer Essas dimensões se relacionam de forma direta e mútua quando se pensa de um lado nas possibilidades que a educação encontra para atingir seus propósitos tendo o lazer e a recrea ção como aliados e de outro nas possibilidades que a recreação e o lazer encontram na educação para que os sujeitos possam aprender a vivenciálos de maneira crítica e criativa Dito de outro modo é o que chamamos de duplo aspecto educativo do lazer e que será detidamente abordado ao longo dos nossos estudos tal como destacado por autores como Requixa 1979 1980 e Mar 11 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo cellino 2010 que o entendem como instrumento e fim veículo e objeto de educação Para aprofundar o entendimento dessa perspectiva de edu cação consideramos fundamental compreender o conceito de lúdico elemento muito presente nas pesquisas e nas interven ções que articulam o recreaçãolazer e a educação A partir daí sugerimos a análise de possibilidades de trabalho para que o edu cador possa desenvolver habilidades na perspectiva de uma edu cação comprometida com o lazer Na esteira desse pensamento a perspectiva da animação cultural tem muito a acrescentar no campo do lazerrecreação A partir dela poderemos identificar o papel do profissional de lazer no sentido de potencializar o alcance dos cidadãos aos mais dife rentes bens culturais que se apresentam em ruas bairros e mu nicípios entendendo a importância política de sua atuação Para tanto é necessário identificar a animação cultural como uma tec nologia educacional de intervenção e uma poderosa ferramenta pedagógica que permite nortear nossas ações Ao tomarmos a relação lazerrecreação educação e animação cultural como temas fundamentais ampliamos o entendimento cor rente de que o lazer seria uma mera mercadoria a ser consumida e passamos a dimensionálo na esfera dos direitos sociais Aqui cabe uma parada para refletirmos sobre o pensamento de Linhales 1998 p 78 ao pensar o lazer nesta condição de direito social O que hoje consideramos como direitos sociais pressupõe a ga rantia e a provisão por parte do Estado de políticas capazes de dar suporte ao bemestar de todos os cidadãos Os conteúdos ou áreas sociais implicados na promoção do bemestar constituem di reitos mínimos e universais conquistados historicamente Devem ser compreendidos como uma construção decorrente dos múlti plos conflitos e interesses que legitimam as chamadas democracias capitalistas contemporâneas Dando continuidade à discussão sobre o lazer como direito social é importante incluir um novo componente no debate que relaciona Estado e sociedade mercado e estratégias de indução Recreação e Lazer 12 ao consumismo É preciso considerar que o lazer não pode ser um momento exclusivo do consumo nem estar a serviço do consumo Isso pode impedir o indivíduo ou os grupos sociais de diversificar formas alternativas e próprias de lazer Os meios de comunicação de massa a serviço da indústria cultural mobilizam como uma avalanche sensorial o psiquismo dos ouvintes com mensagens de nível medíocre qualitativamente fa lando empobrecendo a comunicação concreta do homem com seu meio com os outros e reduzindo as dimensões emancipató rias do lazer Como afirma Gomes 2008 p 7677 Uma sociedade dominada pela lógica da produção e do consumo alienado de bens e de serviços é precisamente uma sociedade que se apresenta como a única habilitada a produzir o lazer en quanto uma de suas valiosas mercadorias ao passo que deveria representar uma condição fundamental para a promoção da quali dade de vida dos sujeitos enquanto cidadãos que buscam momen tos lúdicos e enriquecedores no seu dia a dia Não há preocupação com uma análise mais consistente sobre o significado sociocultural e político na vida das pessoas bem como sobre as contradições que o permeiam em nosso contexto Concebido apenas pela lógica do mercado ao lazer restaria promover o entretenimento e a dis tração alienantes algo para se matar o tempo e para escapar do tédio O lazerrecreação necessita de ser visto e efetivado como um momento de crescimento da pessoa em vista de uma melhor qualidade de vida Como prática sociocultural em permanente construção se configura em formas de conhecimento saberes en raizados na cultura manifestação da linguagem forma de signifi cação coletiva do mundo e possibilidades éticas e estéticas que contribuam para o processo de humanização dos indivíduos por meio de experiências educativas ISAYAMA LINHALES 2006 Nesse sentido o lazer merece ser efetivado como descanso e não apenas para recuperar a força de trabalho em vista do próprio trabalho Ele deve incluir a dimensão da distração como relaxa mento diversão e sobretudo deve ser o motor do desenvolvim 13 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo ento humano pela dimensão lúdica da vida pelo conhecimento de novas culturas pela apreciação da beleza pela produção estética e pelo desenvolvimento das próprias potencialidades Munidos dessas argumentações iniciamos nossos estudos Esperamos que esta caminhada seja um prazer elemento funda mental para o entendimento tanto da recreação como do lazer ainda que por vezes seja árdua pois tratase do ato de estudar Você está preparado para este desafio Então vamos lá Desejo bons estudos a todos Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá pida e precisa das definições conceituais possibilitandolhe um bom domínio dos termos técnicocientíficos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados em Recreação e Lazer Veja a seguir a definição dos principais conceitos 1 Cultura de acordo com Chauí 1994 é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam existência social econômica política reli giosa e artística p 295 Daolio 2008 afirma que as definições contemporâneas para esse termo têm consi derado além da produção material e externa aos seres humanos as maneiras de compreender a cultura que também incorporam os processos contínuos e dinâmi cos de orientação e significação empreendidos pelos ho mens ou seja um processo de manipulação simbólica O autor nos alerta para o fato de que os profissionais da Educação Física não atuam diretamente sobre o corpo ou sobre os movimentos em si mas sim tratam dos se res humanos em suas manifestações culturais relacio nadas ao corpo e ao movimento humano 2 Indústria cultural expressão que aparece pela primeira vez no livro Dialética do Esclarecimento de Max Horkhei mer e Theodor W Adorno e que foi cunhada para substi tuir com maior precisão o termo cultura de massa Com Recreação e Lazer 14 essa mudança os autores visavam não confundir uma cultura produzida popularmente com o processo de pro dução conforme os princípios da indústria Os autores percebiam que produções ligadas ao rádio ao cinema às revistas ilustradas entre outras eram adaptadas ao consumo das massas baseandose no princípio de sua comercialização e não em seu próprio conteúdo e confi guração BASSANI VAZ 2008 3 Lúdico para Gomes 2004 o lúdico pode ser entendido como uma expressão humana de significados dana cul tura referenciada no brincar consigo com o outro e com o contexto Por essa razão o lúdico reflete as tradições os valores os costumes e as contradições presentes em nossa sociedade Assim é construído culturalmente e cerceado por vários fatores normas políticas e sociais princípios morais regras educacionais condições con cretas de existência p 145 grifos da autora Esquema dos Conceitoschave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo apresentamos a seguir Figura 1 um Esquema dos Conceitoschave O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitoschave ou até mesmo o seu mapa mental Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitoschave é representar de maneira gráfica as relações entre os conceitos por meio de palavraschave partindo dos mais com plexos para os mais simples Esse recurso pode auxiliar você na or denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino Com base na teoria de aprendizagem significativa entendese que por meio da organização das ideias e dos princípios em esque mas e mapas mentais o indivíduo pode construir o seu conhecimen to de maneira mais produtiva e obter assim ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem 15 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es colar tais como planejamentos de currículo sistemas e pesquisas em Educação o Esquema dos Conceitoschave baseiase ainda na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel que es tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno Assim novas ideias e informações são aprendidas uma vez que existem pontos de ancoragem Temse de destacar que aprendizagem não significa ape nas realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno é preci so sobretudo estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa Para isso é importante con siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem Além disso as novas ideias e os novos concei tos devem ser potencialmente significativos para o aluno uma vez que ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog nitivas outros serão também relembrados Nessa perspectiva partindose do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas o Esquema dos Conceitoschave tem por objetivo tor nar significativa a sua aprendizagem transformando o seu conhe cimento sistematizado em conteúdo curricular ou seja estabele cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo adaptado do site disponível em httppenta2ufrgsbredutoolsmapascon ceituaisutilizamapasconceituaishtml Acesso em 11 mar 2010 Recreação e Lazer 16 Figura 1 Esquema dos Conceitoschave de Recreação e Lazer Como pode observar esse Esquema dá a você como dis semos anteriormente uma visão geral dos conceitos mais im portantes deste estudo Ao seguilo você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensinoaprendizagem Por exemplo de acordo com o esquema lazerrecreação são fenômenos que não podem ser entendidos isoladamente devem ser relacionados aos aspectos históricos econômicos políticos culturais e sociais Ao desconsiderarmos essas relações estaremos esvaziando a compreensão desses fenômenos favorecendo dessa forma a utilização destes como mercadoria e não como uma prática social que pode contribuir para o processo de edificação de uma socie dade mais justa digna e solidária O Esquema dos Conceitoschave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien te virtual por meio de suas ferramentas interativas bem como àqueles relacionados às atividades didáticopedagógicas realiza das presencialmente no polo Lembrese de que você aluno EaD 17 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo deve valerse da sua autonomia na construção de seu próprio con hecimento Questões autoavaliativas No final de cada unidade você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados as quais podem ser de múltipla escolha abertas objetivas ou abertas dissertativas Responder discutir e comentar essas questões bem como relacionálas com a prática do ensino de Recreação e Lazer pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento Assim medi ante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado você estará se preparando para a avaliação final que será dissertativa Além disso essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional As questões de múltipla escolha são as que têm como respos ta apenas uma alternativa correta Por sua vez entendemse por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada inalterada Já as questões abertas dissertativas obtêm por res posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado por isso normalmente não há nada relacionado a elas no item Gabarito Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos mas não se prenda só a ela Consulte também as biblio grafias complementares Recreação e Lazer 18 Figuras ilustrações quadros Neste material instrucional as ilustrações fazem parte inte grante dos conteúdos ou seja elas não são meramente ilustra tivas pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con teúdos pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con ceitual faz parte de uma boa formação intelectual Dicas motivacionais Este estudo convida você a olhar de forma mais apurada a Educação como processo de emancipação do ser humano É importante que você se atente às explicações teóricas práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação bem como partilhe suas descobertas com seus colegas pois ao com partilhar com outras pessoas aquilo que você observa permitese descobrir algo que ainda não se conhece aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes Observar é portanto uma capacidade que nos impele à maturidade Você aluno na modalidade EaD necessita de uma forma ção conceitual sólida e consistente Para isso você contará com a ajuda do tutor a distância do tutor presencial e sobretudo da interação com seus colegas Sugerimos pois que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas É importante ainda que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações pois no futuro elas pode rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ ções científicas Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos Cotejeos com o material didático discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas No final de cada unidade você encontrará algumas questões autoavaliativas que são importantes para a sua análise sobre os 19 Claretiano Centro Universitário Caderno de Referência de Conteúdo conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação Indague reflita conteste e construa resenhas pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure cimento intelectual Lembrese de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar ou seja interagir procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a esta obra entre em contato com seu tutor Ele estará pronto para ajudar você 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSANI Jaison José VAZ Alexandre Fernadez Indústria Cultural In GONZÁLEZ Fernando Jaime FENSTERSEIFER Paulo Evaldo Org Dicionário crítico de Educação Física 2 ed Ijuí Editora Unijuí 2008 CHAUÍ Marilena Convite à filosofia São Paulo Ática 1994 DAOLIO Jocimar Cultura In GONZÁLEZ Fernando Jaime FENSTERSEIFER Paulo Evaldo Org Dicionário crítico de Educação Física 2 ed Ijuí Editora Unijuí 2008 GOMES Christianne Luce Lúdico In Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004 p 141146 Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Editora UFMG 2008 ISAYAMA Helder Ferreira LINHALES Meily Assbú Introdução In Org Sobre lazer e política maneiras de ver maneiras de fazer Belo Horizonte Editora UFMG 2006 p 715 LINHALES Meily Assbú São as políticas públicas para a Educação FísicaEsportes e Lazer efetivamente políticas sociais Motrivivência Florianópolis v 10 n 11 p 7181 1998 MARCELLINO Nelson Carvalho Lazer e educação 15 ed Campinas Papirus 2010 REQUIXA Renato As dimensões do lazer Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 45 p 5476 1980 Conceito de lazer Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 4 p 1121 1979 1 EAD Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física 1 OBJETIVOS Conhecer questões pertinentes ao campo de estudos so bre o lazer e a recreação Aprofundar conhecimentos sobre concepções e funda mentos do lazer e da recreação reconhecendoos como objeto de estudos sistematizados Compreender o processo de constituição histórica do lazer e da recreação em nossa sociedade identificando características que permaneceram ou sofreram modifica ções ao longo dos tempos Discutir conceitualmente aspectos relacionados ao lazer e à recreação 2 CONTEÚDOS Recreação e lazer vínculos históricos Recreação e Lazer 22 Aspectos históricos da recreação Ocorrência histórica do lazer Sociedade grecoromana Sociedade medieval Sociedade urbanoindustrial Sociedade contemporânea Lazer aspectos conceituais Recreação breves apontamentos conceituais 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Tenha em mãos o Glossário para que você consulte os conceitos relativos a esta unidade assim como o Esque ma dos Conceitoschave Essas ferramentas irão facilitar seu estudo 2 Por se tratar de uma unidade que trata de fatos históri cos relacionados à recreação e ao lazer faça uma leitura atenta deste conteúdo e acesse outras informações rela cionadas à temática a fim de comprovar ou reelaborar o conteúdo tratado 3 Durante a leitura tente apreender o movimento histórico e todo o contexto que o envolve Lembrese a recreação e o lazer não estão isentos do contexto político social econômico e cultural das diferentes etapas históricas 4 Faça uma consulta à bibliografia indicada no tópico Re ferências Bibliográficas ao final desta unidade visando aprofundar os principais conceitos abordados 5 Para um enriquecimento de seu estudo navegue nos si tes indicados no tópico EReferências ao final da unida de favorecendo dessa forma o seu processo educativo 6 Tenha empenho e dedicação em seus estudos Sempre que tiver alguma dúvida entre em contato com profes 23 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física sores e tutores do Centro Universitário Claretiano para sanálas 7 Recomendamos o filme Gladiador EUA 2000 dirigido por Ridley Scott que retrata de maneira adequada as manifestações em Roma no período histórico estudado 8 Assista ao filme O nome da rosa Alemanha 1986 diri gido por JeanJacques Annaud baseado no livro com o mesmo título de autoria de Umberto Eco Ele fornece um exemplo de como era um mosteiro medieval e das contradições nele presentes 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE No cotidiano de muitas pessoas é comum a menção aos vocábulos lazer e recreação Se sairmos às ruas perguntando o significado de ambos os termos veremos que dificilmente uma pessoa não saberá anunciar um entendimento para essas ex pressões Às vezes a referência a esses termos se dá de forma sepa rada ou seja há a utilização de apenas uma das palavras recrea ção ou lazer e em outras ocasiões a associação entre ambas é recorrente indicando dessa forma a possibilidade de um vínculo relacional A associação entre a recreação e o lazer pode ser verificada em algumas áreas do conhecimento o que gera dúvidas no que se refere aos significados à especificidade e à abrangência desses termos De acordo com Gomes 2003 é possível identificar diversas interpretações sobre os significados e as relações historicamente construídas entre recreação e lazer Para a autora poderá ha ver uma identificação entre os termos ambos compartilhando o mesmo significado um entendimento que considera a recreação como uma função do lazer ou uma compreensão que aponta para a existência de significados distintos para a recreação e o lazer Recreação e Lazer 24 Nesta unidade iremos realizar um passeio pela história da recreação e do lazer buscando compreender os caminhos percor ridos por esses fenômenos a fim de entender a relação destes entre si e posteriormente com o campo de estudos e a atuação profissional da Educação Física Além dessa incursão histórica teremos a oportunidade de compreender os sentidos dos termos recreação e lazer medi ante o contato com autores que se dedicaram a essa discussão É sobre essas questões que nos debruçaremos neste pri meiro momento Bons estudos a todos 5 RECREAÇÃO E LAZER VÍNCULOS HISTÓRICOS Diante da breve exposição introdutória desta unidade uma pergunta pode ser feita como ponto de partida para nossas re flexões por que é comum a associação entre recreação e lazer nos estudos e vivências no cotidiano de nosso país Essa relação muitas vezes é recorrente em nossa área e a prova disso são os estudos de Bramante 2011 Bruhns 1997 Gomes 2003 Isayama 2002 Pimentel 2003 e Pinto 2001 só para citar alguns autores Entretanto em muitos casos essa inter face não é encontrada em outros campos do conhecimento como podemos observar nas publicações de Magnani 2000 Freitas 1999 Teixeira 1999 e Oliveira 2001 autores ligados a áreas como Antropologia Economia Psicologia Social e Comunicação Social Dessa forma para responder à indagação formulada e estim ular você a pensar sobre essa relação tão usual em nossa área e no cotidiano de muitas pessoas buscaremos referências na história no sentido de elucidar os vínculos que ao longo dos tempos fo ram construídos entre a recreação e o lazer 25 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física De antemão já teríamos condições de apontar um elemento interessante mas não suficiente que serve de indicativo para o entendimento dessa relação De acordo com Werneck 2003 p 1718 essa aproximação entre a recreação e o lazer é uma res posta histórica à forma como a Educação Física vem lidando com esses saberes na formação profissional e no mercado de trabalho em nosso país Diante dessa afirmação devemos procurar entender como a Educação Física lidou com os saberes que emanavam dos cam pos da recreação e do lazer ao mesmo tempo que incorporava es ses conhecimentos à formação de seus agentes Certamente esse processo possuía implicações diretas na sociedade da época for jando indivíduos alinhados com o projeto societário que se alme java e contando para isto com o auxílio dos profissionais que se formavam Autores como Gomes 2008 e Melo 2003 apontam que o desenvolvimento de práticas recreativas foi responsável pela cria ção dos cursos de formação profissional em Educação Física em nosso país Aspectos históricos da recreação A história da recreação no Brasil está atrelada à instituição escolar e poderíamos dizer à própria história da Educação com destaque para o ensino público primário educação infantil A sua ocorrência ao longo do século 19 aparece como instru mento educativo a serviço do projeto médicohigienista que visava disseminar ideias e programas relacionados à saúde à aquisição de hábitos higiênicos à atenção sobre a infância e ao bemestar físico e moral por meio do controle corporal da população brasileira Tais ações deveriam culminar na modificação de comportamentos e modos de vida herdados do período colonial MARCASSA 2004 Recreação e Lazer 26 Esse modelo que se pretendia ver edificado procurava atuar na saúde biológica e social da população possuindo ingerência no cotidiano dos indivíduos Buscavase uma reformulação das con sciências e dos saberes sobre o corpo e seus cuidados sobre as práticas corporais e sua importância para a época Nesse sentido as atribuições da escola se modificam e essa instituição adquire uma nova responsabilidade em face do ideário de progresso social que norteia as ações pedagógicas que ali se desenvolvem MAR CASSA 2004 Não obstante o controle corporal que se impõe à população brasileira vê na recreação um instrumento pedagógico de grande valor e cuja orientação era disciplinar as práticas corporais desfru tadas no tempo livre para que elas não se flexibilizassem com a preguiça A recreação tornase então uma estratégia de controle dos tempos espaços e práticas realizadas na escola sobretudo nos interstícios entre as atividades obrigatórias MARCASSA 2004 A tão temida lassidão não combinava com os pensamentos e atitudes que os idealizadores desse projeto societário tentavam propagar A ociosidade poderia levar os indivíduos à vagabunda gem à capoeiragem também vista como algo negativo e aos ví cios que seriam prejudiciais ao desenvolvimento físico e moral das pessoas Diante desse quadro a recreação atua decisivamente no sentido de propor atividades sadias capazes de distinguir afir mativamente o corpo higienizado e o relapso corpo herdado da tradição colonial MARCASSA 2004 As reconhecidas atividades sadias seriam possibilitadas mediante um programa escolar que incluísse a vivência de jogos brincadeiras e exercícios ginásticos rigorosamente planejados e capazes de desenvolver os comportamentos e atitudes esperados para a época sem desperdício de tempo Para Marcassa 2004 p 197 essas atividades deveriam seguir um ritmo lógico de funcionamento desde a duração e a freqüência do regime alimentar as horas de sono as atividades 27 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física intelectuais e até mesmo o recreio Como podemos observar o tempo destinado para as atividades escolares deveria ser rigoro samente disciplinado É por meio das atividades recreativas que os limites entre tempo de trabalho e tempo livre são constituídos e assimilados desde as etapas iniciais do processo de escolarização das crianças educação infantil respondendo a interesses políticoideológicos Dessa forma forjase no interior da sociedade um sistema de re compensa ao esforço empreendido no trabalho e aqui incluímos o trabalho escolar essencial às exigências do mundo do trabalho e da sociedade liberal e capitalista que se desenvolvia MARCASSA 2002 De forma sintética Marcassa 2004 p 198 se expressa para apontar o papel da recreação nesse período histórico sob os preceitos da ordem da disciplina e do comportamento saudável incorporados à escola a recreação manifestase como co adjuvante do processo educativo para o alcance da melhor forma de recuperação das forças para o retorno ao trabalho incluso aí o trabalho escolar a diminuição da delinqüência e a ocupação ad equada do tempo livre fazendose protagonista da construção da harmonia e do progresso E tamanho era o dever civilizador das atividades escolares que ele acaba justificando não só a efervescên cia de movimentos políticos e sociais pela instrução da população brasileira como também reforçando cada vez mais a prática da recreação como estratégia de controle do tempo livre tanto dentro como fora da escola Grifos nossos Diante dessas primeiras palavras acerca da trajetória históri ca da recreação em nosso país podemos perceber que ela par ticipa da história da educação na condição de um vigoroso recurso disciplinar inicialmente destinado à educação infantil mas à qual a ela não se restringe alcançando também o processo formativo moral e cívico de jovens e adultos Com o passar do tempo mais precisamente das três pri meiras décadas do século 20 assistimos no cenário educacional brasileiro à emergência de novas concepções políticopedagógi cas sintetizadas no que podemos chamar de escolanovismo ou simplesmente Escola Nova Recreação e Lazer 28 Para uma análise crítica dessa nova concepção políticoped agógica leia a obra Escola e democracia de Saviani 2002 As mudanças advindas da difusão desse ideário pedagógico acenam para a edificação de uma escola renovada capaz de superar a pedagogia tradicional Nos dizeres de Saviani 2002 p 7 A pedagogia nova começa pois por efetuar a crítica da pedagogia tradicional esboçando uma nova maneira de interpretar a edu cação e ensaiando implantála primeiro através de experiências restritas depois advogando sua generalização no âmbito dos sis temas escolares No interior dessas transformações passam a ter centrali dade alguns aspectos que não figuravam como tão essenciais para a educação até então tais como qualidade de ensino ênfase nos métodos e processos pedagógicos e processo de ensino e de aprendizagem centrado no aluno para citar apenas alguns Muito embora possamos perceber que mudanças ocorreram no interior da escola principalmente no que se refere aos méto dos de ensino e de aprendizagem a importância dos jogos das brincadeiras e da ginástica para a formação da personalidade da civilidade da disciplina e da liberdade MARCASSA 2004 p 199 foi reafirmada no combate à fadiga e à degradação física e moral dos indivíduos Temos dessa forma a continuidade de uma perspectiva funcionalista e utilitária para a recreação no contexto escolar e extraescolar Apesar do destaque conferido aos três conteúdos jogos brincadeiras e ginástica no interior do movimento escolanovista um embate se estabelece visando salientar à qual deles caberia uma maior eficácia na consolidação da ordem burguesa e capitalis ta em curso Enquanto Fernando de Azevedo defendia a utilização da Ginástica Sueca como forma ideal para o emprego do tempo livre e ocupação útil do corpo e da mente Anísio Teixeira busca va destacar o papel dos jogos e brincadeiras no amoldamento do caráter e da personalidade infantil afirmando que esses conteú dos responderiam melhor aos anseios das crianças MARCASSA 2004 29 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física De acordo com Werneck 2003 p 25 o fato é que estamos diante de um contexto em que por meio das atividades recreati vas o controle é dissimulado em um suposto clima de esponta neidade e liberdade proporcionado pela vivência do jogo que como uma receita colabora com o processo de reprodução cul tural Dessa forma os jogos com regras de recreio ou envolvendo outras atividades corporais realizados nos diferentes espaços con tribuem para o amoldamento das personalidades e condutas de toda a comunidade seja escolar ou não escolar no sentido de adaptar os sujeitos às novas relações de trabalho que eram gesta das no processo de consolidação da ordem burguesa e capitalista Vimos afirmando que a história da recreação não se circun screve somente ao âmbito escolar sendo utilizada em outros tem pos e espaços sociais A partir da década de 1920 em nosso país encontramos os primeiros equipamentos públicos de lazer os chamados Cen tros de Recreio que utilizam a prática da recreação com o obje tivo de proporcionar uma ocupação adequada do tempo de lazer e diversão Esses espaços foram criados paralelamente aos proje tos de urbanização e modernização dos grandes centros urbanos brasileiros MARCASSA 2004 A experiência pioneira com a estruturação de programas de recreação surgiria em Porto Alegre por iniciativa de Frederico Gaelzer em fins da década de 1920 logo se propagando para out ras cidades do Rio Grande do Sul MELO 2003 De acordo com Gaelzer o Serviço de Recreação Pública tinha como objetivo evitar que os jovens se sujeitassem à delinquência e à ociosidade contando para isso com a ocupação adequada das horas de lazer MARCASSA 2004 Essa experiência na capital gaúcha se torna diferenciada para a época pois os locais públicos deveriam possibilitar a prática de Recreação e Lazer 30 atividades físicas e recreativas direcionadas o que constitui uma experiência educativa inovadora no referido período em nosso país Para isso era imprescindível que houvesse equipamentos e serviços especializados a fim de orientar e educar os frequenta dores desses espaços a exemplo do trabalho que vinha sendo de senvolvido com êxito em vários países especialmente os Estados Unidos GOMES 2008 Outra iniciativa de destaque no cenário nacional ocorreu em 1935 em São Paulo com a criação do Serviço Municipal de Jogos e Recreio coordenado por Nicanor Miranda Para ele de acordo com Marcassa 2004 p 200 os centros de recreio além de equacionar o problema higiênico recreativo e educacional eram necessários à ordem so cial e municipal uma vez que a recreação era capaz de promover a saúde física e mental do cidadão exausto nas metrópoles devido aos múltiplos contratempos provocados pela vida moderna Durante a gestão de Miranda são criados os Parques de Jo gos que abrigavam os programas de Parques Infantis e os Clubes de Menores Operários No que se refere a essa última iniciativa a preocupação central das ações desenvolvidas em seu contexto visavam contribuir para a preparação e a integração da força jo vem de trabalho ao mercado cada vez mais competitivo e industri alizado MARCASSA 2004 É a partir dessa ação a instituição dos Clubes de Menores Operários que no ano de 1943 foi criado o Serviço de Recreação Operária SRO do Ministério do Trabalho Indústria e Comércio com o mesmo propósito O marco legal Portaria de nº 52 publicada no Diário Oficial da União em 21 de setembro que institui o SRO foi assinado pelo Ministro Alexandre Marcondes Filho e teve como primeiro ges tor e presidente Arnaldo Lopes Sussekind O SRO era um órgão incumbido de difundir e coordenar atividades nos setores cultural desportivo e de escotismo RODRIGUES 2006 WERNECK 2003 31 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Werneck 2003 nos aponta que nesse contexto estávamos vivendo os anos finais da fase ditatorial do governo de Getúlio Var gas o usufruto adequado das horas de lazer dos trabalhadores bem como de sua família tornavase uma condição sem a qual os repousos assegurados pela legislação ao se firmarem os contratos de trabalho não poderiam atingir seus objetivos A eliminação da fadiga gerada pelo trabalho era o principal fundamento da pro posta desenvolvida Nas experiências destacadas anteriormente a utilização de atividades físicas jogos esportes ginásticas caminhadas tor neios dança etc eram estimuladas e destacadas em relação a outras manifestações como as de cunho artístico por exemplo MELO 2003 Muito embora a não ocupação ou a utilização inadequada das horas de lazer continuasse se configurando como um prob lema social que poderia colocar em risco a lógica capitalista pas samos a observar uma mudança no significado e na utilização da recreação no contexto histórico em questão Diferentemente dos ideários médicohigienistas como mero recurso disciplinador e gerador de corpos e mentes saudáveis e escolanovistas como uma atividade útil para organização e em prego apropriado do tempo livre do trabalho o sentido atribuído à recreação incide sobre os anseios da sociedade do capital ou seja do controle de todas as dimensões da vida humana seja den tro ou fora do trabalho Sendo assim conforme Marcassa 2004 p 200 a recreação responde como um conjunto de atividades operacionais como conteúdo a ser desenvolvido no tempoespaço de lazer à necessidade de re posição manutenção e preparação da força de trabalho ou mel hor como fenômeno submetido à lógica da política e da economia do trabalho Como se vê a recreação passa a ser um instrumento orga nizador dos lazeres dos indivíduos Muito além de um conjunto de atividades que visam proporcionar prazer àqueles que desfru Recreação e Lazer 32 tam de seus conteúdos em um suposto clima de espontaneidade e liberdade ou de uma bemintencionada formação moral e física a recreação atende a interesses hegemônicos forja subje tividades reproduz valores e princípios necessários à manutenção e à reprodução da organização societária capitalista Após percorrer as trilhas da história da recreação em nosso país passaremos agora a realizar uma incursão sobre a história do lazer Ocorrência histórica do lazer Após realizarmos um estudo introdutório sobre a ocorrência histórica da recreação é importante discutir também as distintas abordagens que tratam da emergência histórica do lazer em nossa sociedade É uma tarefa difícil de ser realizada pois como salien ta Marcellino 1996 situar o lazer historicamente é um trabalho controverso no meio acadêmico Entretanto tratase de um em preendimento a que devemos nos dedicar com grande satisfação especialmente em se tratando de uma disciplina que se propõe a discutir aspectos relacionados à recreação e ao lazer Vamos lá Basicamente podemos distinguir dois posicionamentos distintos quanto à emergência histórica do lazer De um lado en contramos autores que defendem a tese de que o lazer sempre existiu afirmando que se o homem sempre trabalhou também deveria dispor de momentos de não trabalho períodos que se riam preenchidos com atividades de repouso e divertimento Como esses momentos não eram vistos como frações isola das na dinâmica social acreditase que trabalho e lazer se entrela çavam O tempo natural estações do ano períodos chuvosos ou não luminosidade natural balizava as ações cotidianas dos indi víduos e as manifestações culturais vivenciadas nesse período es tavam intimamente ligadas ao trabalho produtivo Por essa razão os adeptos dessa corrente acreditam que o surgimento do lazer antecede a era moderna apresentandose de maneiras distintas ao longo dos tempos 33 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Essa visão é alvo de controvérsias Muitos autores questio nam os apontamentos sobre o lazer antes do estabelecimento das modernas sociedades urbanoindustriais pois nesse contexto afirmam eles o lazer ainda não se constituía em um fenômeno com características próprias conforme podemos observar nos dias atuais Representantes dessa tendência consideram que o lazer surge em conformidade com o sistema capitalista nos centros ur banosindustrializados período no qual passamos a observar uma clara cisão entre tempo de trabalho e de não trabalho fruto das transformações decorrentes da Revolução Industrial Nesse momento histórico a organização temporal das ativ idades cotidianas não está mais submetida ao tempo natural expressandose na forma de tempo mecânico Essa polêmica sobre a ocorrência histórica do lazer em nossa sociedade representa uma ótima oportunidade para problema tizarmos a questão para que você possa refletir sobre o tema a partir dos argumentos e objeções elaborados pelos adeptos das duas correntes de pensamento que debatem o assunto Seguidores da tese de que o lazer sempre existiu que sem pre fez parte do cotidiano das pessoas tais como De Grazia 1966 Medeiros 1975 e Munné 1980 situam a origem desse fenô meno nas fases mais remotas da história humana Para alguns o ponto de partida da gênese do lazer pode ser localizado nas socie dades arcaicas para outros remonta à Antiguidade grega De acordo com Ethel Bauzer Medeiros 1975 p 1 o lazer corresponde a uma das necessidades básicas do ser humano não sendo portanto preocupação característica das sociedades industriais A autora parte da literatura para indicar o que alguns poetas já diziam ao longo dos tempos sobre o lazer bem como sobre uma das formas mais tradicionais de ocupálo a recreação Recreação e Lazer 34 Esse tipo de manifestação o lazer poderia ser expresso por meio de uma série de atividades recreativas como jogos danças campestres banquetes músicas pescarias contos de poesia fol guedos populares bailes e festas feiras e romarias Para De Grazia 1966 outro adepto dessa primeira corrente os povos primitivos e as civilizações do Oriente do Egito ou da Pér sia que antecederam a Antiguidade grega não tinham lazer Em sua visão falar das origens do lazer significa reportarmo nos às ideias constituídas na antiga Grécia notadamente marcada pela vida social dos filósofos cujo esplendor ocorreu por volta do século 5º antes de Cristo Gomes 2008 afirma que o pensamento grego é utilizado como ponto de partida devido a sua potenciali dade em fornecer elementos que auxiliem na elucidação dos va lores associados ao lazer Outro autor que pode ser citado é Frederic Munné 1980 também partidário da tendência de que o lazer antecede à Mod ernidade e se situa na Antiguidade De acordo com esse estudioso o cio é um modo típico de nos comportarmos no tempo o qual se estrutura em quatro áreas de atividade 1 tempo psicobiológico destinado a necessidades fisioló gicas e psíquicas 2 tempo socioeconômico fundamentalmente relativo ao trabalho 3 tempo sociocultural em que nos dedicamos à vida em sociedade 4 tempo de ócio ou seja de lazer destinado a ativida des de desfrute pessoal e coletivo MUNNÉ CODINA 2002 A partir desse pensamento poderíamos concluir que o lazer sempre fez parte da vida dos indivíduos A tese de que a ocorrência histórica do lazer antecede às sociedades préindustriais é contestada por alguns autores como Dumazedier 1979 Marcellino 1983 Melo e Alves Junior 2003 35 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física e Mascarenhas 2005 As críticas endereçadas ao pensamento que advoga pela existência do lazer desde os tempos arcaicos são marcadas fortemente pelo pensamento de Dumazedier O autor salienta que nas sociedades do período arcaico tra balho e jogo embora diferentes possuíam significações de mesma natureza na vida da comunidade Como trabalho e jogo se mes clavam apresentando oposição mínima ou inexistente o autor considera o lazer um conceito inadequado para o período arcaico Dumazedier 1979 não acredita que a ociosidade dos filóso fos da antiga Grécia ou da aristocracia medieval possa ser chama da de lazer Para ele esses privilegiados cultos ou não sustenta vam sua ociosidade com o suor do trabalho alheio Tal ociosidade não se define em relação ao trabalho não o complementa nem o compensa apenas o substitui Para o autor o lazer pressupõe o trabalho O autor reconhece que o tempo fora do trabalho é tão antigo quanto o próprio trabalho mas defende de forma enfática a ideia de que o lazer possui traços específicos característicos da civiliza ção nascida da Revolução Industrial Recentemente Melo e Alves Junior 2003 p 2 apresenta ram suas contribuições para a defesa desse modo de compreender a ocorrência histórica do lazer afirmando que A contínua busca de formas de diversão não significa ter sempre existido o que hoje chamamos por lazer na medida em que tais formas de diversão guardam especificidades condizentes com cada época que devem ser analisadas com cuidado Por certo existem similaridades com o que foi vivido em momentos anteriores e mesmo por isso devemos conhecêlos mas o que hoje enten demos como lazer guarda peculiaridades que somente podem ser compreendidas em sua existência concreta atual O fato de haver equivalências não significa que os fenômenos sejam os mesmos E continuando com as reflexões acerca da emergência his tórica sobre o lazer Melo e Alves Junior 2003 p 2 apontam que somente a partir de determinado momento da história que se começa a utilizar a palavra lazer para definir um fenômeno social Recreação e Lazer 36 antes outras palavras denominavam outros fenômenos similares mas não iguais Esse momento pode ser apontado como a Revolução Indus trial conforme vimos anteriormente Continuando nessa linha também podemos situar as contri buições de Mascarenhas 2005 p 230 quando este afirma A ruptura com o ritmo natural de trabalho uma imposição pecu liar ao capitalismo industrial como não poderia ser diferente im plicou numa verdadeira revolução do tempo social opondo tempo livre e tempo de trabalho A possibilidade de alternância contínua dos momentos de trabalho e nãotrabalho começa aí a ser suplan tada Nesta direção a produtividade expressa pela nova disciplina do relógio tornase a grande inimiga do ócio invadindo a esfera do tempo livre e buscando conciliálo ao trabalho É então neste movimento de administração do tempo livre de peleja contra os valores hábitos e comportamentos inerentes ao ócio que pode mos localizar o aparecimento do lazer fenômeno condizente com a ideologia da sociedade industrial Sintetizando o que discutimos até então as questões po dem ser colocadas nos seguintes termos de um lado temos os estudiosos que conferem a existência do lazer já desde os primór dios da humanidade não havendo a necessidade de reconhecer a Revolução Industrial e as suas transformações como ponto de partida para o surgimento do lazer do outro um grupo de autores que se baseia nesse período histórico para defender que a partir das tensões e transformações sociais promovidas por esse evento histórico teríamos a gênese do lazer Os argumentos elaborados por Dumazedier um dos defen sores da segunda perspectiva conforme pudemos observar tam bém são alvo de questionamentos Uma leitura cuidadosa da obra Lazer necessidade ou novi dade de Ethel Medeiros 1975 indica que a autora se empenha em mostrar que o lazer sempre existiu refutando dessa maneira a tese oposta 37 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Medeiros 1975 p 1 traz em seu texto as seguintes indaga ções Será o lazer como querem alguns preocupação característica da sociedade industrial que a ele recorre para contrabalançar a me canização a rotina e a impessoalidade da linha de fabricação em série Ou corresponde a uma das necessidades básicas do ser hu mano apenas mais aguçada nos nossos dias pelo ritmo veloz ten sões e insegurança do mundo moderno Considerando as provocações apontadas anteriormente por Medeiros 1975 ao longo do texto a autora transcreve trechos de poemas para mostrar o porquê de ser adepta da posição que advoga ser o lazer um fenômeno presente nas sociedades arcaicas Munné 1980 ponderando sobre os argumentos de Du mazedier considera equivocada a conclusão do sociólogo francês de que o lazer seja um produto da civilização moderna De acordo com seu ponto de vista Dumazedier reduz por definição qual quer possível manifestação histórica do lazer à mera desocupação ou ociosidade o que não seria procedente Os argumentos elaborados por Dumazedier especialmente no que diz respeito à consideração do lazer como típico da civiliza ção industrial revelam seu esforço por conferir à chamada socio logia do lazer o estatuto de ciência GOMES 2004b Um dos expoentes da sociologia do lazer foi o inglês Stanley Parker Para um maior detalhamento de seu pensamento recomendamos a leitura da obra Sociologia do Lazer PARKER 1978 Esse aspecto geralmente negligenciado pelos autores da área mostra que o autor precisava defender esse pressuposto para que o lazer fosse reconhecido como uma parte especializada da teoria sociológica Atitude curiosa não é Vejamos o porquê disso Para Dumazedier 1979 toda teoria sociológica precisa apresentar três propriedades ser deduzida de uma teoria mais ge Recreação e Lazer 38 ral possuir uma coerência lógicodedutiva e demonstrar que ne nhum fato importante está em contradição com ela Para a sociologia do lazer ser reconhecida como um ramo especializado da sociologia os pesquisadores do lazer deveriam entre outros procedimentos 1 fazer um recorte do objeto estudado 2 elaborar hipóteses e verificálas 3 utilizar estratégias metodológicas tidas como confiáveis 4 formular quadros de referência 5 apontar categorias de análise Os encaminhamentos anteriores seriam imprescindíveis para se distinguir a sociologia do lazer dos outros ramos já esta belecidos na área sociologia do trabalho sociologia da família sociologia da religião dentre outros Caso não houvesse essa dife renciação os estudos sobre o lazer acabariam penetrando em out ros campos pois as manifestações culturais vivenciadas antes da Revolução Industrial se mesclavam com as outras dimensões da cultura Seguindo esse raciocínio se as pessoas associassem o lazer com as ações religiosas por exemplo as pesquisas sobre o tema poderiam se encaixar perfeitamente na sociologia da religião não sendo necessária uma sociologia do lazer Tomando a mesma linha de pensamento para exemplificar verificase que a integração entre lazer e religião é muito comum em nosso meio uma vez que é muito difícil separar o lazer de de terminados ritos e festejos religiosos Reconhecer a coerência e o mérito do arcabouço teórico for mulado por Dumazedier não significa que tenhamos de acatar todas as suas ideias As evidências revelam que o lazer não é um fenôme no observável apenas nas civilizações industriais avançadas O fato de essa ideia ser comumente aceita mostra que faltam aprofundamentos e análises consistentes sobre a produção teóri 39 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física ca de Dumazedier um dos primeiros a defender essa proposição Evidentemente a era Moderna foi fundamental para que o lazer se estabelecesse como um fenômeno autônomo normativo e orga nizado configurandose na forma como o conhecemos hoje Esse período também foi palco para o estabelecimento de importantes reivindicações operárias o que ressalta o valor desse movimento histórico e social para o lazer GOMES 2004b Ao mesmo tempo que há diferenças marcantes entre o pas sado e o presente também há correlações importantes a serem avaliadas Conhecer e considerar as peculiaridades de outras reali dades que compõem a nossa história pode fornecer contribuições significativas para apreendermos o processo de constituição do lazer A vivência das manifestações e das tradições culturais da hu manidade também pode nos auxiliar a compreender os significa dos comumente atribuídos ao lazer Mesmo que algumas ideias devam ser repensadas e revistas esse é um lado da questão que ressalta a importância das pesquisas dos autores que afirmam não ser o lazer um fenômeno recente GOMES 2004b Tal suposição convidanos a recuar na nossa história com o intuito de investigar e compreender alguns dos princípios que influenciaram a consti tuição do lazer Neste instante é importante possuirmos em nossos horizon tes o alerta realizado por Gomes 2004b p 138 ao nos colocar que é demasiado arriscado definir com exatidão o momento histórico em que o lazer se configura na sociedade ocidental e sugerir que conhecer e considerar as peculiaridades de outras realidades que compõe a nossa história pode fornecer expressivas contribuições para apreendermos o processo de constituição do lazer Nesse movimento tornase relevante considerar as contri buições daqueles que se debruçaram sobre os tempos antigos sobre a época medieval e também sobre a Modernidade identi Recreação e Lazer 40 ficando elementos que nos auxiliem a compreender o processo de constituição histórica do lazer em nossa sociedade procurando entendêlo em relação ao trabalho Dessa forma no próximo tópico realizaremos um recuo ao passado em uma tentativa de conhecer algumas características que possam nos auxiliar na compreensão do processo de consti tuição histórica do lazer em nosso meio Diversos caminhos poderiam ter sido seguidos porém pela riqueza de elementos três contextos devem ser privilegiados a sociedade grecoromana da Antiguidade a feudal da Idade Mé dia e a urbanoindustrial da Modernidade Sociedade grecoromana Foi aproximadamente no século 5º a C que ocorreu o flo rescimento cultural do mundo grego como o denominam os his toriadores Essa época é conhecida como a fase clássica da Grécia representada pelo apogeu de Atenas capital das artes da ciência da filosofia e da política fervilhante de novas ideias Os atenienses demonstravam paixão pela perfeição Suas construções eram imponentes a arquitetura e o artesanato prima vam pela riqueza de detalhes os jogos olímpicos eram motivados pela busca da excelência Os jogos aconteciam no monte Olimpo e eram antes de tudo um evento de cunho religioso no qual deveriam ser ofereci dos sacrifícios e orações a Zeus Além de Zeus muitos outros deuses eram cultuados pelos gregos Acreditase que o teatro a tragédia a comédia e a decla mação da poesia tiveram origem nos rituais realizados pelas se guidoras de Dionísio o deus do vinho A Grécia clássica abrigava uma centena de anfiteatros e neles se encenavam muitas peças sobre vários temas 41 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Em geral quando as heranças gregas são consideradas nas discussões sobre o lazer os autores que debatem o assunto não se debruçam sobre os significados das práticas culturais como as citadas anteriormente Na maioria das vezes são estabelecidas re flexões sobre o ócio o que nos remete ao termo grego skholé que também é de grande valor para a compreensão do processo de constituição histórica do lazer GOMES 2008 Apesar de seu caráter contemplativo e reflexivo skholé não significava passividade mas um exercício em forma elevada atribuí do à alma racional Implicava necessariamente as condições de paz reflexão prosperidade e liberdade em face das necessidades da vida de trabalho Como dependia de certas condições educa cionais políticas e socioeconômicas representava um privilégio reservado a uma pequena parcela da sociedade GOMES 2008 A palavra skholé era um termo que no uso comum signifi cava um tempo desocupado um tempo para si mesmo que gerava prazer intrínseco Entre os filósofos gregos quem mais empregou essa palavra foi Aristóteles para ele o lazer era um estado filosó fico no qual se cultivava a mente por meio da música e da contem plação DE GRAZIA 1966 Esse estado seria alcançado apenas por aqueles que con seguiam libertarse da necessidade de trabalhar pois o trabalho produtivo era visto como indigno O ideal clássico de lazer indi cava portanto distinção social liberdade qualidade ética relação com as artes liberais e busca do conhecimento Skholé era associado à vida contemplativa exercício nobre ao qual somente poucos poderiam se entregar Para Aristóteles sd nem todos poderiam se entregar ao ócio pois a maioria se ocupava com a produção do que era necessário e útil e com o ex ercício da guerra como os artesãos os lavradores e os guerreiros Mas para esse filósofo valia muito mais gozar da paz e do repouso proporcionados pelo ócio que era o inverso da vida ativa Recreação e Lazer 42 Para você o que a expressão vida ativa representava naquela época A expressão vita activa designava três atividades humanas fundamentais A primeira delas é o labor atividade que correspon dia ao processo biológico do corpo humano relacionada às neces sidades vitais assegurando a sobrevivência do indivíduo e a per petuação da espécie Poiesis designava a obra do homo faber ser humano que maneja instrumentos capaz de produzir e fabricar um mundo artificial de objetos nitidamente distinto de qualquer ambiente natural A praxis por sua vez era a única atividade que era exercida diretamente entre os homens sem a mediação dos objetos ou da matéria O recurso que predominava era o discurso a palavra Tratavase da ação no campo ético e político como sub linha Arendt 1993 GOMES 2008 Aristóteles foi aluno de Platão De acordo com a filosofia platônica tal como expresso em suas Leis um verdadeiro cidadão não deveria trabalhar e sim dedicarse integralmente à vida con templativa De fato acreditavase que um cidadão virtuoso não trabalhava Quando este destinava um tempo às suas tarefas políticas caso desempenhasse algum cargo público ou a seus af azeres econômicos como administrar seus domínios cultivados pelos escravos não estava trabalhando apenas zelando pela vida habitual do espaço público e do privado como pontua Veyne 2002 Tamanho era o desprezo pelo trabalho que de acordo com Platão uma cidade bem feita seria aquela na qual os cidadãos fos sem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e os ofícios fossem relegados às pessoas comuns Uma vida virtuosa deveria ser ociosa Para Aristóteles os escravos os camponeses e os com erciantes não poderiam ter uma vida virtuosa próspera e cheia de nobreza podemno somente aqueles que dispõem dos meios para organizar a própria existência fixando para si mesmos um objetivo ideal VEYNE 2002 43 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Dessa maneira apenas os ociosos correspondiam moral mente ao ideal humano merecendo ser reconhecidos como ci dadãos Acreditavase que os trabalhadores não saberiam gov ernar a cidade não podiam não deviam não mereciam e nem pensavam em fazêlo era impossível praticar a virtude levandose uma vida servil ou de trabalho braçal A pobreza era naturalizada por Platão não sendo compreendida como uma decorrência de relações sociais marcadas pela desigualdade Essas foram algumas das ideias que marcaram a sociedade clássica grega No entanto com as conquistas de Alexandre da Macedônia imortalizado como o Grande passouse da idade grega para a helenística Alexandre estendeu o império da Grécia às fronteiras da Índia mas acabou sucumbindo diante da dificul dade de controlar o vasto território conquistado a partir de um ponto situado na periferia Roma foi bastante influenciada pela cultura helênica A civi lização a literatura a arte e a própria religião provieram quase inteiramente dos gregos Para Veyne 2002 o Império Romano foi a civilização helenística nas mãos brutais de um aparelho de Es tado constituído por imperador e Senado de origem latina Por essa razão dizse que Roma foi um império fundado na violência e protegido por ela Roma estabeleceuse como núcleo militar e legislativo local izado no centro do cruzamento de fios que constituíam a enorme teia do Império A supremacia de Roma assentavase em sua força militar e os povos conquistados eram defendidos pelos soldados romanos Administrar a grande área conquistada pelos romanos não foi uma tarefa simples Roma determinou uma moeda única e pavi mentou estradas possibilitando ao seu exército agir rapidamente diante de ataques inimigos Apenas um cônsul poderia comandar um exército sendo grande a corrupção e a incompetência Embora o latim fosse a língua oficial cerca de uma dúzia de línguas circu Recreação e Lazer 44 lava nas ruas e nas praças romanas As construções públicas eram sempre grandiosas para que o cidadão comum pudesse participar da vida romana Como esclarece Veyne 2002 p 41 em Roma todo homem público fazia carreira pelo pão e pelo circo O pão era a base da alimentação de Roma geralmente produzido em casa pelas mul heres O império cresceu à custa do pão os romanos construíram com maestria aquedutos e cisternas com os quais aproveitavam a água das chuvas transformando tudo em produtividade e riqueza Entretanto a queda de Roma deveuse igualmente ao pão ou mel hor à falta de pão para o povo Da mesma maneira que em terra grega os concursos atléti cos e os jogos foram grandes acontecimentos em Roma e em to das as cidades do império foram os grandes espetáculos públicos tratavase do circo representado por algumas das práticas cult urais que marcaram esta civilização GOMES 2008 Banhos públicos banquetes e festas representações teatrais corridas de carros no circo e combates de gladiadores na arena do Coliseu eram muito apreciados Os notáveis eram os responsáveis pelo financiamento dos espetáculos públicos que anualmente ale gravam a cidade Quem fosse nomeado pretor ou cônsul deveria de espontânea vontade desembolsar grandes quantias para pro porcionar esses divertimentos ao povo romano GOMES 2008 Os espetáculos típicos de Roma espalhavamse pelos anfite atros do império e o povo era fascinado pela morte e pela violên cia Na luta de gladiadores o interesse central da arena repousava na morte de um dos combatentes Para o vencedor a glória para o derrotado a morte ou a piedade caso sua vida fosse poupada Veyne 2002 ressalta que a decisão de vida ou morte era tomada pelo mecenas que proporcionava o espetáculo e pelo público 45 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física As lutas de gladiadores eram paixões que despertavam o interesse de todos inclusive de senadores e pensadores como Sêneca que dizia ir ao anfiteatro para se alegrar Roma vivia do ím peto conquistador e os gladiadores tinham o mérito de fortalecer a coragem dos espectadores GOMES 2008 Os banquetes as festas e as orgias romanas eram famosos mas essas vivências também encontraram censores que as con sideravam futilidades desprezíveis Cícero por exemplo aproveit ava os dias de espetáculos para escrever seus livros VEYNE 2002 Como destaca Munné para Cícero o otium era estratificado socialmente estava associado no caso das elites intelectuais à meditação Era o otium com dignidade Essa qualidade não era uma virtude de respeitabilidade mas um ideal aristocrático de glória pois era possível adquirir dignidade aumentála e perdêla Entretanto no que concerne às pessoas comuns otium significava descanso e divertimento proporcionados pelos grandes espetácu los Essa estratégia tinha como finalidade despolitizar o povo reduzido à condição de mero espectador GOMES 2008 Com isso no contexto romano o sentido que prevalece é o de diversão e não o de desocupação como entre os gregos Para as incursões sobre lazer e trabalho a síntese que os romanos fiz eram entre o otium e o negotium é de grande valor De acordo com Veyne 2002 no que se refere a esse segun do ponto o pensamento romano era contraditório Um notável que negociava não era classificado como negociante era um no tável Ele não era definido pelo que fazia não importando o que fosse Para ser apenas ele mesmo um romano deveria possuir pat rimônio Profissionais liberais escritores filósofos retóricos gramá ticos e músicos não trabalhavam No máximo diziase que exer ciam uma profissão verdadeiramente digna de um homem livre ou que eram amigos do senhor que os solicitava justificando dessa maneira um pagamento pela dedicação Um pobre em con Recreação e Lazer 46 trapartida era sempre classificado conforme seu ofício como sa pateiro ou operário diarista Ao lado do ideal de ócio e política que caracterizava a so ciedade antiga uma ideia mais positiva do trabalho transparece em documentos de origem popular Muitos se orgulhavam de seus ofícios e alguns deles chegavam a pertencer ao Senado municipal de sua cidade várias pessoas fizeram fortuna com seu trabalho Ricos comerciantes artesãos ou grandes agricultores menciona vam sua profissão no seu epitáfio informando que trabalharam laboriosamente VEYNE 2002 O destino de quase toda a população romana era uma luta ardorosa pela sobrevivência Ou seja eles trabalhavam muito Com a disseminação do cristianismo muitos aderiram ao princípio de que quem não trabalhava não teria o que comer Era simulta neamente uma lição dada a si mesmo e uma advertência ao pre guiçoso que pretendia partilhar do pão obtido pelo suor alheio À primeira vista a convivência entre cristianismo e pagan ismo não foi pacífica no império O paganismo era uma religião de festas o culto não passava de uma festa com a qual os deuses se divertiam pois nela encontravam o mesmo prazer que os homens VEYNE 2002 p 189 O calendário religioso diferia de uma cidade para outra mas periodicamente restaurava festas religiosas vistas como feriados A religião determinava a distribuição irregular dos dias de descanso ao longo do ano O império entrou em decadência ao final do século 3º como consequência de vários fatores constantes corrupções das classes altas revoltas populares invasão das fronteiras imperiais e fre quentes derrotas nas batalhas Os bárbaros foram recebidos com entusiasmo pelo próprio povo romano há muito assolado pela fome e pela miséria Nem mesmo a adoção do cristianismo como religião oficial de Roma foi capaz de refrear o inevitável declínio do império cuja degradação foi evidenciada nos primórdios do período medieval GOMES 2008 47 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Sociedade medieval A fase conhecida como Idade Média abrange um período muito extenso com características profundamente distintas ao longo dos séculos Essa etapa revelouse heterogênea em termos de tempos lugares formas de agir e categorias sociais Como será evidenciado neste tópico muitas dessas variáveis influenciaram a constituição do lazer e do trabalho em nosso meio especialmente considerando a vida social das pessoas comuns No século 5º começa a se formar um sistema social político e econômico conhecido como feudalismo cuja origem está rela cionada ao declínio do Império Romano do Ocidente conforme tratamos no tópico anterior Com a queda de Roma muitos senhores abandonaram as cidades e foram morar no campo em suas propriedades Em bus ca de trabalho e proteção os cidadãos de poucas posses acom panharam os grandes senhores ocasionando o esvaziamento das cidades e a completa fixação da população no campo Surgem então os feudos medievais Com as invasões na Península Ibérica e na Europa Oriental a navegação e o comércio no mar Mediterrâneo foram bloqueados Isolada dos outros continentes restou à Europa efetuar a simples troca de mercadorias sendo a agricultura praticamente a única atividade econômica desenvolvida Essas condições foram decisi vas para o estabelecimento dos feudos O feudo era o domínio de um senhor feudal a unidade de produção do feudalismo Compreendia uma ou mais aldeias as terras cultivadas pelos camponeses a terra da Igreja a casa do senhor situada na parte mais fértil da propriedade as pastagens os prados e os bosques comuns No feudalismo as relações sociais podiam ser resumidas nas relações entre servos e senhores Enquanto os senhores tinham a posse legal das terras e exerciam o poder político militar jurídico e Recreação e Lazer 48 religioso quando também assumiam as funções eclesiásticas os servos estavam presos a obrigações devidas ao senhor e à Igreja Essas obrigações podiam ser pagas com bens serviços presentes ou dinheiro Os servos camponeses suportavam muitas injustiças e so frimento e essa exploração era justificada pela própria Igreja a grande senhora feudal Alguns mosteiros medievais eram enormes feudos com numerosos servos que executavam os tra balhos mais pesados enquanto os religiosos se entregavam às orações aos cantos sacros às meditações e aos exercícios intelec tuais Diferentemente dos tempos mais remotos de Roma quando a religião cristã era uma opção entre várias outras a Igreja unificou a Europa e congregou um número cada vez maior de adeptos Sua organização ficava sob responsabilidade primordial do papa e dos bispos estruturandose como um verdadeiro Estado por vezes mais poderoso que os próprios reinos medievais A Igreja pregava o desapego aos bens materiais e a moral ização do trabalho cujo sentido pode ser encontrado no Antigo Testamento no qual o trabalho é associado ao sacrifício por rep resentar um castigo de Deus em decorrência do pecado original Sendo um pecador o ser humano deveria aceitar esse des tino e dedicarse inteiramente ao árduo trabalho E quando não estivesse trabalhando deveria buscar a paz e a purificação do es pírito evitando todo tipo de tentação causada pelos prazeres da carne Todos sabiam que Deus julgava e que as sentenças seriam pronunciadas no último dia Somente se afastando das armadilhas do pecado seria possível alcançar um lugar entre os eleitos de Deus Alguns membros do clero estudavam a filosofia clássica grega e romana com o intuito de adaptar esse importante legado aos princípios cristãos Essa orientação pode ser identificada no pensamento de Santo Agostinho que no século 6º retomou os es 49 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física tudos de Platão e de São Tomás de Aquino que deu novo vigor à obra de Aristóteles no século 19 enfatizando a noção de ócio como contemplação Desde o despertar da Idade Média os líderes religiosos fa ziam valer a premissa de que conhecimento é poder e a exer ciam perante os outros membros da sociedade pois quase toda a população pobre era analfabeta Essa era uma das razões pelas quais os camponeses deveriam exercer o trabalho árduo uma vez impossibilitados de desempenhar outras atribuições mais ilustres GOMES 2008 Fome miséria e trabalhos forçados eram elementos con stantes no cotidiano servil Tudo isso era aceito com resignação pois a glorificação da pobreza significava uma condição necessária à salvação da alma reforçando a noção do trabalho como sacrifí cio moralmente necessário para o alcance desse propósito A época medieval foi marcada por muitos feriados religio sos dias de descanso nos quais se deveria reforçar a devoção a Deus No entanto nesses feriados eram realizados jogos cantos festas e comemorações colocando em evidência o contraste entre o sagrado sério e oficial e o profano cômico e risonho GOMES 2008 Desde o cristianismo primitivo o riso foi condenado e af astado da cultura oficial pois o bom cristão deveria ser constante mente sério e temente a Deus conservando o arrependimento e a dor em expiação de seus pecados Enquanto contenção e sofri mento eram associados com a redenção o riso denunciava sucum bência às tentações de inspiração demoníaca Mas nem por isso as formas cômicas deixaram de subsistir ao lado das canônicas Por ser jocoso e alegre o riso continha um aspecto regenerador fun damentado no folguedo na alegria e no cômico GOMES 2008 Na Idade Média o riso era dirigido especialmente contra os estratos superiores Construía seu próprio mundo contra a Igreja e o Estado oficial elegia reis e bispos celebrava sua própria liturgia Recreação e Lazer 50 professava sua fé cumpria rituais fúnebres redigia epitáfios O riso não era uma sensação subjetiva biológica e individual mas social e universal BAKHTIN 1999 Misturado à multidão do carnaval na praça pública por exemplo o homem sentiase membro de uma comunidade em perpétuo estado de crescimento e renovação na qual seu corpo estava em contato com os das pessoas de todas as idades e condições O riso gozava de poderoso encanto que por vezes alcançava todos os graus da jovem hierarquia feudal inclusive a eclesiástica Bakhtin 1999 considera que esse alcance pode ser explicado por vários fatores tais como a as tradições romanas como as saturnais e outras formas de riso popular legalizadas em Roma ainda estavam muito vivas no início da época medieval b a cultura popular era muito forte nesse período de ma neira que o sistema feudal em constituição a considera va aproveitando seus elementos com interesses sociais e políticos específicos c a Igreja procurava coincidir as festas pagãs e cristãs locais a fim de cristianizar os cultos cômicos GOMES 2008 As formas e as manifestações do riso medieval eram com postas por ritos e cultos cômicos presença de bobos e bufões atuação de gigantes anões monstros e palhaços literatura paró dica obras cômicas e teatro popular especialmente de marione tes representado por artistas de feira nas praças públicas bem como nas festas carnavalescas Todas essas manifestações do riso chamadas grotescas contrapunhamse à cultura oficial ao tom sério religioso e feudal da época Nas cerimônias de entrega do di reito de vassalagem ou iniciação de novos cavaleiros por exemplo era comum a presença de bufões e bobos que parodiavam os atos formais das autoridades e do público presente GOMES 2008 O carnaval era uma prática comum vivida por todos e nas grandes cidades chegava a durar três meses por ano no total Como sublinha Bakhtin 1999 o carnaval era a expressão mais 51 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física autêntica da cultura cômica popular da época Os espectadores não assistiam ao carnaval eles o viviam intensamente Essa festa representava uma fuga provisória dos moldes da vida ordinária e enquanto durasse não se conhecia outra vida Para Bakhtin 1999 p7O carnaval é a segunda vida do povo baseada no princípio do riso É a sua vida festiva A festa é a propriedade fundamental de todas as formas de ritos e espetácu los cômicos da Idade Média Inspirado nas saturnais romanas da Antiguidade o carnaval acontecia nos espaços coletivos e populares e propiciava uma lib eração temporária da verdade dominante e do regime vigente ab olindo provisoriamente todas as relações hierárquicas privilégios regras e tabus Enquanto as festas oficiais consagravam a desigualdade no carnaval todos eram iguais reinando um contato livre e familiar entre indivíduos normalmente separados na vida cotidiana pelas barreiras intransponíveis de sua condição social posses idade e situação familiar Era comum o uso de máscaras que traduziam a alegria das alternâncias das metamorfoses e das reencarnações que reco briam a natureza inesgotável da vida com suas múltiplas faces A máscara carregava o sentido da cultura popular e carnavalesca medieval não sendo utilizada para enganar encobrir ou dissimu lar mas para revelar a alegre negação da identidade e do sentido único O complexo simbolismo das máscaras é inesgotável Basta lembrar que manifestações como a paródia a caricatura a careta as contorções e as macaquices são derivadas da máscara É na máscara que se revela com clareza a essência profunda do gro tesco GOMES 2008 O grotesco uma das peculiaridades da sociedade medieval favoreceu a relação essencial do riso festivo com o tempo sendo este caracterizado pela alternância das estações pelas fases so lares e lunares pela sucessão dos ciclos agrícolas Sendo assim o Recreação e Lazer 52 lado cômico e popular da festa concretizava a esperança em um futuro melhor em um regime social e econômico mais justo em uma nova verdade que enfatizava a mudança e a renovação Até certo ponto os rituais cômicos das festas os folguedos das feiras os carnavais as procissões e os ritos estavam legaliza dos Evidentemente essa permissão legal era forçada e alternava se com as interdições A vitória efêmera do riso só durava o perío do da festa sendo logo seguida por dias ordinários de medo e opressão Ao contrário do riso a seriedade medieval impregnava se de elementos de temor repressão fraqueza docilidade resig nação hipocrisia proibições violência e ameaças GOMES 2008 Sob os imperativos do regime feudal a relação da festa com os fins superiores da existência humana a ressurreição e a renova ção somente poderia alcançar plenitude no carnaval e em outros festejos populares e públicos Bakhtin salienta que nessa circun stância a festa convertiase em uma segunda vida para o povo temporariamente marcada pelos ideais de liberdade igualdade universalidade e abundância GOMES 2008 Paradoxalmente as festas oficiais da Igreja e do Estado me dieval contribuíam para sancionar o regime em vigor com o intuito de fortalecêlo As festas oficiais consagravam a desigualdade a imutabilidade e a durabilidade das hierarquias das normas e dos tabus religiosos políticos e morais O tom da festa oficial era o da seriedade e o princípio cômico lhe era estranho De acordo com Bakhtin o homem da Idade Média era perfeitamente capaz de conciliar a assistência piedosa à missa oficial e a paródia do culto oficial na praça pública A confiança de que gozava a verdade bur lesca a do mundo às avessas era compatível com uma sincera lealdade GOMES 2008 As festas celebradas nos feriados como a festa dos lou cos eram no início da Idade Média comemoradas nas igrejas e consideradas perfeitamente legais mas em seguida tornaramse controversas até que no final desse período foram consideradas 53 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física ilegais Mesmo proibidas continuavam a ser celebradas nas ruas e nas tavernas incorporandose aos folguedos populares GOMES 2008 O controle por parte da Igreja tornouse mais evidente duran te o período da Inquisição no século 13 A Igreja procurou reforçar seu poder e sua unidade religiosa a partir da repressão condenan do à fogueira os praticantes de heresias como festas profanas carnavais jogos saraus e serões entre outros divertimentos que poderiam ocasionar o vício e as armadilhas do pecado O historia dor Roger Chartier salienta que os serões camponeses atestados nas condenações eclesiásticas eram sempre mencionados como lugar do trabalho em comum do jogo e da dança do riso e da di versão dos contos e das canções da confidência e dos mexericos Como essas reuniões eram consideradas sórdidas e pecaminosas deveriam ser evitadas GOMES 2008 Como visto a Idade Média caracterizouse por uma econo mia predominantemente agrícola e por uma sociedade fechada entre os proprietários de terra e os camponeses que viviam em estado servil uma vez subordinados aos interesses hegemônicos Compreender a sociedade medieval significa ir além desse aspec to procurando entender o papel que as festas fossem elas ofici ais ou não ocupavam na vida habitual significa discutir os valores que essas e outras práticas culturais reforçavam bem como as per spectivas que abriam GOMES 2008 Ao colocar em relevo o papel da Igreja e do Estado medi eval muitos consideram esse período como a idade das trevas ignorando muitas vezes a esplendorosa cultura popular que prev aleceu no medievo como resistência aos princípios dominantes O período conhecido como Renascimento alcançou seu apogeu por volta do século 16 e representa uma fase de tran sição entre as idades Medieval e Moderna Tratase de uma época conturbada permeada por conflitos entre a Igreja e o Estado e caracterizada por uma efervescência epistemológica intelectual Recreação e Lazer 54 e artística acentuada pelo desejo de empreender novas desco bertas quanto à natureza e ao homem demolindo tudo quanto viera do passado e redescobrindo o saber grecoromano livre da tradição cristã GOMES 2008 Conforme Guimarães o Renascimento valorizou ainda mais a cultura erudita da Antiguidade clássica aliada às notáveis desco bertas científicas da época à consolidação de códigos de conduta e ao refinamento do gosto observados pelo clero pela nobreza e também pela burguesia emergente e provocou um lamentável desprezo pela cultura popular medieval tomada como ignorante provinciana rústica e folclórica GOMES 2008 Algumas dessas premissas permaneceram outras sucumbi ram diante dos valores prevalecentes nas modernas sociedades urbanoindustriais que fornecem mais alguns elementos para a discussão sobre lazer e trabalho Vamos passar então para um delineamento histórico des sas sociedades urbanoindustriais Sociedades urbanoindustriais O projeto da Modernidade primou entre outros aspectos pela fragmentação dos tempos e dos espaços sociais aspecto de terminante para o redimensionamento da sociedade urbana e in dustrial Essa nova orientação provocou um maior distanciamento entre público e privado entre ciência e religião entre trabalho e lazer O objetivo deste tópico é compreender alguns dos elemen tos que impulsionaram o processo de institucionalização do lazer no contexto da moderna sociedade urbana e industrial conside rando em especial as influências advindas do mundo do trabalho Por mais conceituadas que fossem as cidades antes da era Moderna as áreas rurais eram as grandes produtoras de riqueza À medida que o padrão social de riqueza se alterou da posse de terra 55 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física para o montante de dinheiro acumulado a classe burguesa viu se em situação privilegiada Afinal os substanciais valores gerados pelo comércio garantiram à burguesia um progressivo acúmulo de capital A atuação da burguesia foi decisiva para o término do feu dalismo e para a consolidação dos Estados Nacionais Ao defender o direito à propriedade privada a burguesia investiu maciçamente no desenvolvimento industrial alterando os antigos laços de sub ordinação à terra e ao senhor Nesse contexto os pequenos pro prietários artesãos e jornaleiros contratados para desenvolver determinada jornada de trabalho foram transformados em trab alhadores livres livres para vender a força produtiva às classes burguesas detentoras do capital e dos meios de produção seja no campo ou nos grandes centros urbanoindustriais GOMES 2004b É importante esclarecer que o processo de industrialização sempre existiu desde as épocas mais antigas pois representa a transformação de matériaprima preparandoa para o uso A produção em pequena escala é conhecida como artesanal dife rentemente da manufatureira que apresenta maior complexi dade amplitude e diversificação A produção industrial requer uti lização de utensílios e máquinas capazes de substituir o trabalho pesado do homem e não começou somente com o uso sistemático do vapor em meados do século 18 mas sem dúvida o salto deci sivo da indústria ocorreu nesse período ganhando dinamismo nos séculos seguintes como consequência do avanço científicotec nológico gerado com o advento mundialmente conhecido como Revolução Industrial GOMES 2008 Queiroz pontua que o progresso industrial possibilitou que as sociedades urbanas se afirmassem como centros produtores no setor econômico inaugurando na Europa uma nova forma de vida social A mecanização do trabalho a especialização das tarefas e a organização racional das atividades representam os primeiros in Recreação e Lazer 56 dícios de transformação do trabalho urbano que posteriormente se estenderam também ao agrário GOMES 2008 Como observa a autora recémmencionada a mecanização da lavoura dispensou um amplo contingente de mão de obra que se dirigiu às cidades em busca de novas oportunidades de trabal ho A progressiva inovação tecnológica associada à organização da produção em massa permitiu à cidade se estabelecer como polo produtor de riqueza Por essa razão do ponto de vista numérico a população urbana rapidamente superou a rural GOMES 2008 As cidades desenvolveramse ao redor das fábricas e o acel erado e desordenado crescimento dos centros urbanos gerou problemas diversos Aqueles que não conseguiam trabalho eram classificados como desocupados cuja ociosidade era vista como uma ameaça constante para a ordem social De acordo com Cho ay foi a expressão de desordem típica dos centros urbanos que evocou a necessidade de promover sua antítese ou seja a ordem GOMES 2008 Para promover a ordem seria necessário desenvolver uma série de procedimentos racionalizar as vias de tráfego e criar es tações para acelerar os transportes preparar a especialização dos setores urbanos por meio do estabelecimento de áreas de negó cios agrupados nas capitais em torno da nova igreja bolsa de valores criar bairros residenciais destinados aos privilegiados inaugurar grandes lojas hotéis cafés e prédios para alugar inicia tivas que alteraram profundamente o aspecto da cidade Com a implantação da fábrica nas adjacências o operariado deslocouse para os subúrbios e a cidade deixou de ser uma entidade espacial tão delimitada como era na época medieval Essa rigorosa seg mentação do espaço urbano instalou em locais distintos o hábitat o trabalho e o lazer GOMES 2008 A segmentação do espaço estabeleceu correlações com a fragmentação do tempo nas sociedades urbanoindustriais que passaram a ser regidas pelo relógio Tratase da vigência do 57 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física tempo mecânico artificial não mais regulado pela natureza Para Santanna 1994 a divisão dos períodos em tempo de trabalho tempo de estudo e tempo livre foi criada pelo desenvolvimento técnico e industrial da Modernidade pelo ritmo das metrópoles e pelos preceitos do sistema capitalista Nesse âmbito o tempo no espaço urbano e industrial da Modernidade passou a ser compreendido e vivenciado conforme uma nova divisão historicamente concebida na qual há uma grande demarcação entre o tempo de trabalho e o tempo livre Para compreender a organização do tempo livre é impre scindível entender a divisão social do trabalho as relações de produção e o desenvolvimento da racionalidade técnica ou seja a lógica do capitalismo É importante lembrar que o capitalismo não foi constituído como um sistema rígido apresentando grande capacidade de adaptação e flexibilidade o que vem propiciando sua permanência ao longo dos tempos GOMES 2008 Contudo a situação de desigualdade social decorrente da Revolução Indus trial é um dos seus graves problemas repercutindo intensamente nas relações estabelecidas entre o tempo de trabalho e o tempo livre Aparentemente trabalho e tempo livre são esferas opostas pois o primeiro é apresentado como o reino da necessidade en quanto o segundo é visto como a esfera da liberdade da gratui dade e da desobrigação como sugere a própria expressão livre Entretanto no interior do sistema capitalista o tempo livre é uma extensão do tempo de trabalho estando de acordo com a lógica da produtividade Seguindo essa linha de raciocínio quando o laz er é visto como válvula de escape para as tensões funciona como um mecanismo que reforça a alienação engendrada pela lógica do capital até mesmo no tempo reservado aos momentos de não trabalho GOMES 2004b No decorrer do século 19 difundese rapidamente a ideia de que o trabalho categoria que passa a ser a referência determinan Recreação e Lazer 58 te da vida em sociedade é o que permite aumentar a riqueza das nações GOMES 2004b Esse novo pensamento desenvolveuse a partir do avanço capitalista e da exploração de mão de obra assalariada comprom etendo a noção elaborada por Marx na qual o trabalho concebi do como possibilidade de transformação dos objetos e do mundo é o que diferencia fundamentalmente o homem do animal De acordo com Thompson 1991 a disciplina imposta pelo capitalismo industrial exigiu uma nova postura da mão de obra as salariada pautada no aproveitamento produtivo do tempo agora concebido como dinheiro Nessa perspectiva aos operários foi ga rantido apenas o repouso necessário para sua reprodução como força de trabalho Aqueles que conseguiam emprego trabalhavam para garan tir a sobrevivência enfrentando jornadas exaustivas nos sete dias da semana não sobrando tempo para o descanso e tampouco para a diversão Todo o tempo dos proletários era voltado para as atividades laborais e para as atividades indispensáveis à manuten ção de sua capacidade produtiva Além disso era grande o medo de perder o posto de trabal ho ocupado O patrão poderia por exemplo intensificar o período diário de trabalho nas fábricas e abolir o descanso semanal porque sabia que os operários acabariam aceitando essas condições Os festejos que no decorrer da Idade Média duravam dias semanas ou meses foram completamente banidos da vida do operariado As exaustivas jornadas de trabalho ao lado das necessidades de higiene alimentação e transporte ocupavam todo o tempo em função do ritmo e das relações estabelecidas no interior do pro cesso produtivo GOMES 2004b Nesse contexto são válidas as palavras de Paul Lafargue 1999 que combateu a economia capitalista com o panfleto O di reito à preguiça publicado originalmente em 1880 Nessa obra o autor critica a moral cristã e a ética do trabalho esboçando um 59 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física painel da sociedade burguesa e focalizando a questão da consciên cia de classe que faltava ao proletariado De acordo com Lafargue 1999 à medida que a máquina era aperfeiçoada suprimindo o trabalho humano o operário parecia multiplicar seu empenho como se quisesse concorrer com o eq uipamento o que para esse autor representava um contrassenso O proletariado precisava entender que a máquina deveria redimir a humanidade resgatando o homem do trabalho assalariado para concederlhe os lazeres e a liberdade Sendo assim Lafargue instigou a classe proletária a mobili zarse para instaurar uma lei que proibisse o trabalho além de três horas diárias Conforme sua visão a preguiça era mil vezes mais nobre e mais sagrada que os direitos do homem proclamados pela burguesia Tal argumentação ecoou como um verdadeiro ul traje à lógica da produtividade Entretanto fiéis a essa lógica os proletários acreditavam que aqueles que não trabalhavam eram inúteis e não tinham o direito de comer muito menos de descan sar e de se divertir GOMES 2008 O discurso de Lafargue coincidiu com as históricas reivindi cações operárias pelo estabelecimento de leis referentes à limita ção da jornada de trabalho ao descanso semanal e às férias re muneradas A observância dessas leis garantiria ao operariado um aumento do tempo livre Surge em alternância com o tempo do trabalho o tempo de lazer visto como necessidade e reivindicado como direito GOMES 2008 Era muito comum os desempregados e o proletariado se entregarem ao alcoolismo e à prostituição entre outros vícios e desvios morais encarregados de aliviar as duras condições a que eram submetidos Ademais o ócio antes concebido como exer cício nobre e elevado foi tomado como pai de todos os vícios hábito degenerativo que afrontava os preceitos morais da civiliza ção moderna Recreação e Lazer 60 A racionalidade técnica em ascensão nas sociedades urbano industriais passou a repudiar o ócio porque este não correspon deu à produtividade preconizada pelo capital Quem não exercia nenhuma atividade útil ou produtiva era classificado como vadio e criminoso devendo ser encarcerado GOMES 2004b O lazer institucionalizase em consonância com esses valo res sendo entendido como tempoespaço destinado à vivência de atividades lúdicas consideradas pela burguesia lícitas saudáveis e produtivas como praticar ginástica e esportes ao ar livre O lazer é então uma dimensão da cultura construída con forme as peculiaridades do contexto histórico e social no qual é desenvolvido Nas sociedades modernas passa a ser reconhecido como uma esfera própria como um campo autônomo distinto do trabalho mas a ele relacionado Além da complexidade que engendra essa trama social cabe destacar que o lazer foi constituído como um tempoespaço sub traído do trabalho como um campo propício para fugir da rotina compensar frustrações proporcionar descanso ou divertimento no tempo supostamente livre das mazelas do trabalho produti vo Por essa razão como uma prática social dialeticamente vincu lada ao trabalho mesmo passível de direcionamento o lazer pode ser visto como um direito jurídico e legalmente reivindicado pelos trabalhadores no final do século 19 Em suma à medida que a burguesia procurou exercer con trole sobre o tempo livre revertendoo em benefício do pró prio tempo de trabalho o ócio foi encarado como um desvio e o lazer normativo controlado regulado passou a ser a regra SANTANNA 1998 O processo de institucionalização do lazer no contexto da so ciedade moderna foi impulsionado por vários fatores tais como a urbanização o avanço tecnológico e industrial a difusão da noção de tempo mecânico o desenvolvimento do modo de produção ca 61 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física pitalista e a concretização de projetos sociais políticos e pedagó gicos condizentes com os valores hegemônicos em cada momento histórico O capitalismo não vem se constituindo como um sistema rígido perpetuandose graças à sua grande capacidade de adap tação e flexibilidade Contudo a história construída em nossa so ciedade revela sua fratura exposta a exploração proveniente da Revolução Industrial GOMES 2008 GOMES 2004b Esses elementos foram essenciais não apenas para orientar os novos rumos seguidos pelo trabalho mas também para o lazer com profundos impactos na sociedade contemporânea Após realizar essa incursão histórica pela Idade Moderna passaremos a nos deter na discussão da relação lazertrabalho na sociedade contemporânea Sociedade contemporânea Geralmente o trabalho é concebido como uma obrigação e não como uma autêntica possibilidade de realização humana Para Padilha 2004 como o trabalho é colocado em situação de oposição à liberdade esta só poderia ser vivenciada pelo trabal hador no tempo fora do ato produtivo Sendo assim o tempo livre surge como um suposto tempo de liberdade de liberação das am arras das obrigações e das contradições presentes no mundo do trabalho É necessário lembrar que as sociedades humanas sempre se organizaram em tempos sociais ou seja em momentos determi nados pelas atividades sociais neles desenvolvidas o tempo para o trabalho para a educação para a religiosidade para a família para o descanso etc A vida coletiva é regida pela articulação desses momentos A compreensão do tempo livre que representa um tempo social sempre esteve vinculada aos significados do trabal ho e do tempo de trabalho Em decorrência seu principal sentido prevalece como o de um tempo de não trabalho PADILHA 2004 Recreação e Lazer 62 Como explica a autora a lógica do capital rege não apenas o tempo de trabalho mas também o tempo fora dele No entanto para Padilha 2004 p 221 o tempo livre pode ser um tempo de alienação e consumismo mas também pode ser um tempo de reflexão e práxis Numa abordagem crítica da sociedade ela é apreendida como contra ditória o que faz com que o tempo livre como um fenômeno so cial também seja cheio de contradições Essa opinião é compartilhada por muitos estudiosos como Souza Júnior 2000 para quem o tempo livre deveria constituir o momento em que cada ser social poderia dispor de si mesmo livremente sem se submeter ao imperativo de ter de trabalhar para viver Porém no contexto da sociedade regida pelo capital o tempo livre se encontra distanciado do ideal de estar consigo mesmo de maneira liberta se configurando em um momento para reprodução da força de trabalho Além disso o autor acredita que o desenvolvimento das for ças produtivas deveria levar a humanidade a despender cada vez menos tempo no trabalho dispondo cada vez mais de tempo livre no qual possa desenvolver sua potencialidade SOUZA JÚNIOR 2000 Será que a humanidade está caminhando para um aumen to do tempo livre As reflexões sobre a progressiva ampliação do tempo livre bem como suas articulações com o trabalho e o lazer foram esta belecidas ao longo do século 20 Essa questão não representa um assunto novo para quem acompanha os estudos sobre o lazer mas foi retomada recentemente por alguns autores tais como De Masi 2000 De acordo com o pensamento desse sociólogo italiano nos sos antepassados viviam aproximadamente 300 mil horas das quais 120 mil eram dedicadas ao trabalho Hoje com o aumento da expectativa de vida podemos viver muito mais cerca de 700 mil horas e mesmo cumprindo jornadas diárias de oito horas dos vinte aos sessenta anos de idade trabalharemos no máximo 80 mil horas DE MASI 2000 63 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física O autor argumenta que enquanto nossos ancestrais trabal havam quase a metade de suas vidas na sociedade pósindustrial de hoje trabalhamos apenas um décimo de nossa existência Dessa forma uma pessoa de quarenta anos de idade deverá viver ainda 350 mil horas Desse total prevê que 40 mil horas serão dedicadas ao trabalho e aproximadamente 180 mil ao tempo livre Para De Masi 2000 o tempo livre corresponde a 910 da vida humana sendo facilitado pelas novas tecnologias Ao tecer elogios ao avanço tecnológico o autor parece considerálo como redentor da humanidade Com isso o telefone e o avião permitem nos economizar o tempo que também pode ser enriquecido com o rádio programado com as agendas eletrônicas e esto cado com as secretárias eletrônicas Para o autor essa tecnolo gia altamente sofisticada acaba colaborando com a ampliação do tempo livre Santos 2000 observa que as contínuas evoluções tecnológi cas prometeram não somente uma liberação do esforço no trab alho acenando também com mais tempo livre para todos mais informação mais comunicação mais política e mais desenvolvi mento humano Em outras palavras um mundo melhor Contudo lamentavelmente a realidade vem mostrando que o tempo livre não vem sendo ampliado mas sim reduzido em larga escala especialmente por causa das condições sociais de existência da maioria das pessoas A explicação elaborada por De Masi 2000 embora dota da de uma lógica própria desconsidera questões sociais que são fundamentais a um entendimento mais amplo e consistente do trabalho e do lazer Em várias regiões do mundo continuam pre dominando as jornadas de trabalho extremamente longas dos primórdios do capitalismo e mesmo nas metrópoles ocidentais a jornada real de trabalho foi reduzida apenas em certa medida Consequentemente cada vez mais as pessoas procuram deses peradamente o tal tempo livre como pondera Kurz 2000 Recreação e Lazer 64 O trabalhador contemporâneo que desenvolve uma ativi dade altamente complexa e cumpre uma jornada diária de sete oito horas trabalha na verdade muito mais tempo real do que alguém de outra época mesmo que este estivesse sujeito a um turno de 14 h diárias de trabalho com baixo grau de complexidade ANTUNES 2004 Sendo assim percebese na contemporaneidade que as ex igências de desempenho profissional crescem consideravelmente Há um novo paradigma produtivo exigindo esforço redobrado que quando não prolonga as jornadas acaba provocando uma grande intensificação durante o tempo de trabalho Muitas corporações aderiram à redução de pessoal optan do por estratégias que parecem gerar melhores resultados para as empresas Logo aqueles que permaneceram empregados passaram a trabalhar muito mais tanto para dar conta de cum prir todas as tarefas como para não correr o risco de demissão Os trabalhadores informais também acabam trabalhando muito pois enfrentam jornadas extensas para tentar manter sua antiga condição de renda WERNECK STOPPA ISAYAMA 2001 Além de trabalhar muito o trabalhador fica vulnerável aos imperativos do mercado que provocam uma gradativa deteriora ção das relações de trabalho Com isso cresce em proporções impressionantes o núme ro de trabalhadores informais contratados em regime de tempo parcial ou por períodos temporários especialmente no setor de prestação de serviços Além de ser o setor que mais cresce em todo o mundo não se esqueça de que é ele quem engloba o mer cado de trabalho no campo do lazer O crescimento do setor de serviços vinculase com os novos hábitos de vida apreciados atualmente com uma evidente valo rização do lazer Além disso relacionase com a substituição em larga escala de antigos empregos formais pela contratação de ser viços terceirizados Alegando que essa medida é uma resposta à 65 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física pressão do mercado empresas argumentam que a inevitável saída é comprar por um preço menor no mercado concorrencial mui tos dos produtos e dos serviços disponíveis WERNECK STOPPA ISAYAMA 2001 No setor de prestação de serviços desde a década de 1980 o número de empregados informais ultrapassa os formais em vários países do mundo sendo o quadro traduzido simplesmente como redução geral do emprego Tal situação não está circunscrita ao chamado Primeiro Mundo atingindo também os países em desenvolvimento Além disso abrange tanto a exclusão de uma crescente massa de tra balhadores do gozo de seus direitos legais como a consolidação de um ponderável exército de reserva e o agravamento de suas condições Diante dessa realidade certamente o acesso da população brasileira ao lazer fica comprometido Enquanto muitos se veem obrigados a prolongar sua jornada de trabalho outros se encon tram à margem dos meios e dos recursos para vivenciar os direitos sociais dentre os quais o lazer com dignidade Existem infinitas possibilidades de desfrute pessoal e coleti vo e a mídia explora todo esse potencial de lazer como se os bens e os serviços ofertados fossem acessíveis a todos Fazer uma viagem de férias em família para um resort em um local aprazível por exemplo pode ser uma experiência gratifi cante mas além de demandar disponibilidade de tempo é alta mente dispendiosa Além disso como em cada núcleo familiar ex istem várias necessidades a ser preenchidas muitas vezes o parco tempo destinado ao lazer acaba circunscrito ao espaço doméstico O lazer na contemporaneidade não pode ser encarado como uma categoria em oposição ao trabalho Antunes 2000 p 143 nos chama a atenção para este fato quando afirma que Se o trabalho se torna autônomo e livre e por isso dotado de sentido será também e decisivamente por meio da arte da poe Recreação e Lazer 66 sia da pintura da literatura da música do uso autônomo do tem po livre e da liberdade que o ser social poderá se humanizar e se emancipar em seu sentido mais profundo Como trabalho e lazer estabelecem relações dialéticas po dem colaborar com a emancipação social Para isso o lazer não pode ser visto como um remédio para a problemática social cujo objetivo seja simplesmente aliviar as tensões ou compensar os di lemas que marcam profundamente o mundo do trabalho Como bem disse Riesman 1971 o lazer não é capaz de sal var o trabalho fracassando juntamente com ele e só será signi ficativo para as pessoas se o trabalho o for também Dessa for ma as qualidades por nós desejadas no lazer como satisfação realização reconhecimento autonomia liberdade criatividade e criticidade terão maiores chances de se concretizar no trabalho a partir do momento em que travarmos a batalha em uma única frente a do trabalhoelazer Com esse pensamento deixamos para você o desafio de con tinuar repensando as interfaces entre lazer e trabalho em nosso contexto pois o assunto é inesgotável Sendo assim você poderá prosseguir em seu processo de aprofundamento de conhecimen tos e quem sabe encontrar novas arestas para que as questões que perpassam lazer e trabalho possam colaborar na construção de um projeto de sociedade comprometido com a emancipação do ser social e com a concretização de suas utopias Avançando em nossos estudos passaremos agora a nos ater à discussão conceitual em relação ao lazer Vamos lá 6 LAZER ASPECTOS CONCEITUAIS Após um breve passeio pela história da recreação e do lazer neste tópico daremos continuidade à busca de respostas sistem atizadas cientificamente falando para a questão apresentada afinal o que significa lazer o que é recreação 67 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Inicialmente nossa intenção foi mostrar que o lazer e a rec reação fazem parte das nossas experiências da vida cotidiana rep resentando um ponto de partida para que o assunto seja tratado com mais profundidade como um objeto de estudos Nosso próximo desafio neste instante é discutir conceitual mente o significado das expressões lazer e recreação Para isso serão consideradas as opiniões emitidas por alguns dos autores que produziram conhecimentos sobre o assunto No plano conceitual não há um consenso entre os estudio sos do lazer e da recreação quanto aos seus significados Esse fato já é de se esperar uma vez que os autores para realizarem suas formulações partem de referenciais teóricos distintos Isso pode ser ilustrado a partir dos estudos de Dias 2010 Rodrigues Lemos e Gonçalves Junior 2010 Peixoto Pereira e Freitas 2010 Pimen tel 2010 e Uvinha 2010 que apresentam bases epistemológi cas diferenciadas e consequentemente o significado atribuído ao lazer e à recreação também se diferencia Ainda hoje o conceito formulado na década de 1960 por Dumazedier 1973 representa uma grande referência para o campo do lazer em diversos países e não apenas no Brasil Conforme Camargo 1998 foi a partir das contribuições de Dumazedier que o lazer deixou de ser apenas uma idealização teó rica e passou a ser tratado como um fato empiricamente delimitá vel e observável instigando novas pesquisas sobre o tema Na opinião de Dumazedier 1973 p 34 o lazer pode ser compreendido como um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entre garse de livre vontade seja para repousar seja para divertirse recrearse e entreterse ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada sua participação social voluntária ou sua livre ca pacidade criadora após livrarse ou desembaraçarse das obriga ções profissionais familiares e sociais O entendimento do lazer como um conjunto de ocupações tem sido alvo de críticas por parte de diversos autores Além de Recreação e Lazer 68 restringir o lazer à prática de determinadas atividades supõe que o indivíduo deve estar sempre ocupado com algo não havendo possibilidades para o nada fazer Na época em que Dumazedier elaborou essa definição o lazer era colocado em oposição ao conjunto das necessidades e das obrigações da vida cotidiana especialmente do trabalho pro fissional Dessa forma o lazer era definido em contraponto à lib eração das obrigações institucionais e não apenas do trabalho As necessidades humanas descanso divertimento recrea ção e desenvolvimento da personalidade apresentadas em sua definição são influenciadas pela dinâmica social e o sociólogo não considera essa questão em sua elaboração Faleiros citada por Padilha 2002 ao criticar o conceito de lazer emitido por Dumazedier 1973 parte do princípio marxista de que as necessidades humanas são geradas em uma dada reali dade social e estão vinculadas ao processo histórico e às transfor mações da civilização A partir dos resultados das pesquisas empíricas desenvolvi das na França nas décadas de 1950 e 1960 Dumazedier 1979 indicou um sistema de características constituintes do lazer 1 caráter liberatório o lazer é liberação de obrigações ins titucionais profissionais familiares socioespirituais e sociopolíticas e resulta de uma livre escolha 2 caráter desinteressado o lazer não está fundamental mente submetido a nenhum fim seja lucrativo profis sional utilitário ideológico material social político so cioespiritual 3 caráter hedonístico o lazer é marcado pela busca de um estado de satisfação isso me interessa Essa busca pelo prazer pela felicidade pela alegria ou pela fruição é de natureza hedonística e representa a condição pri meira do lazer 4 caráter pessoal as funções do lazer descanso diver timento e desenvolvimento da personalidade respon 69 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física dem às necessidades do indivíduo em face das obriga ções primárias impostas pela sociedade Além destas características Dumazedier 1973 contribui com este campo de estudos apontando que o lazer atenderia ba sicamente a três funções descanso divertimento e desenvolvim ento A função descanso tem como função liberarse da fadiga Nesse sentido o lazer é um reparador das deteriorações físicas e nervosas provocadas pela tensões resultantes das obrigações co tidianas e particularmente do trabalho DUMAZEDIER 1973 p 32 Já o divertimento está ligado à busca de atividades compen satórias que provoquem satisfação e prazer Por fim a função de senvolvimento cria novas formas de aprendizagem voluntária no indivíduo libertado de suas obrigações profissionais visando o completo desenvolvimento da personalidade dentro de um es tilo de vida pessoal e social DUMAZEDIER 1973 p 34 De acor do com o autor essas funções são solidárias entre si O pensamento de Dumazedier influenciou as concepções de lazer dos autores brasileiros dentre os quais Marcellino 2010 Melo e Alves Júnior 2003 e Gomes 2008 entre outros estudio sos reconhecem que Marcellino é um dos autores mais citados nos estudos sobre o lazer em nosso país Por essa razão serão fei tas a seguir algumas correlações entre o pensamento de Marcel lino e o de Dumazedier Em seu livro Lazer e humanização Marcellino 1983 confere notável destaque às ideias de Dumazedier Nessa obra também é possível identificar o pensamento de Antônio Gramsci pois Mar cellino assume a perspectiva marxista como pano de fundo para subsidiar suas análises Contudo a influência de Gramsci é mais expressiva na obra Lazer e educação 1987 na qual não são fei tas muitas menções a Dumazedier embora suas ideias continuem presentes no texto GOMES 2004a Recreação e Lazer 70 No livro Sociologia empírica do lazer Dumazedier 1979 jus tifica sua opção por adotar a expressão tempo livre como desig nação para o tempo liberado do trabalho e não necessariamente o tempo de lazer Dumazedier explica que o lazer não pode instaurar o reinado da liberdade absoluta tampouco ser anulado sob o peso dos de terminismos e condicionamentos sociais Dessa forma a liberdade de escolha dentro do tempo de lazer poderia ser considerada uma realidade mesmo que fosse limitada e em parte ilusória Para Camargo 1986 p 97 que também fora influenciado pelo pensamento do sociólogo francês o lazer se configura em um conjunto de atividades gratuitas prazerosas voluntárias e liberatórias centradas em interesses culturais físicos manuais in telectuais artísticos e associativos realizadas num tempo roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profis sional e doméstico e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos Para Marcassa 2003 n p8 o lazer se apresenta como prática social historicamente situada que se funda a partir das relações que estabelece com o trabalho o tempo a práxis o es paço a cultura e a educação Estou convencida de que o la zer se configura como uma instituição que envolve um conjunto de práticas cujas normas e características internas lhe conferem um estatuto próprio de funcionamento atribuindolhe qualidades que assumem um caráter indissociável da sua própria experiência e compreensão Nessa perspectiva o lazer agrega num mesmo tem po e espaço a realização de inúmeras práticas corporais e lúdicas diferentes formas de divertimento e descontração consideradas lícitas mas que têm um caráter espontâneo porque partem dos desejos ainda que induzidos dos indivíduos e grupos e um arranjo planejado frente à vida cotidiana moderna e racionalizada abar cando inúmeras experiências de contato e recriação do universo cultural que acontecem em locais determinados e que promovem valores saberes e significados articulados às possibilidades e con dições postas às diferentes classes sociais Portanto o lazer só pode ser entendido como um fenômeno social moderno que cria códi gos e funções muito importantes para a sua realidade contextual constituindoa e revelandoa tanto no sentido da manutenção como da transformação 71 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Marcellino 2010 enfatiza que o lazer pode ser compreen dido a partir da combinação dos aspectos tempo e atitude A atitude diz respeito à relação estabelecida entre o sujeito e a experiência vivida fruto de uma escolha pessoal e prazerosa O tempo referese ao tempo disponível obtido pelo indivíduo após se desvencilhar não apenas das obrigações profissionais mas também das obrigações familiares sociais e religiosas ou seja o tempo da não obrigatoriedade Nesse ponto o autor também se aproxima de Dumazedier Ao considerar que o lazer pressupõe uma combinação entre os aspectos tempo e atitude Marcellino segue a tradição de al guns autores brasileiros como Lenea Gaelzer 1979 que também se fundamenta em Dumazedier Essa estudiosa realizou um levantamento da bibliografia so bre o lazer e chegou à conclusão de que a maioria dos autores ad mitia os conceitos de lazer como tempo atitude tendência mais recente na época e também atividade ocupação Para a autora esses três elementos são interdependentes pois separadamente não preenchem as condições necessárias ao lazer Um ponto marcante do pensamento de Marcellino 2010 relacionase com as chamadas abordagens funcionalistas do lazer conforme denomina o autor Essas visões no seu entender visam à manutenção do status quo procurando ajustar o indivíduo de forma acrítica ao contexto em que vive incentivando o con sumismo em relação ao lazer A sociedade nesse tipo de abordagem é vista de maneira equilibrada harmônica na qual o lazer é divertimento para todos sendo a função primordial deste manter uma suposta paz social Dessa forma se as obrigações diárias impostas aos indivíduos cansam fatigam alienam o lazer recupera descansa compensa O lazer é algo sempre bom maravilhoso e divertido Essa é a abor dagem funcionalista do lazer Recreação e Lazer 72 Relacionadas a essa visão funcionalista do lazer estão quatro abordagens elencadas por Marcellino 1996 1 compensatória sob esta óptica o lazer compensa a in satisfação e alienação produzidas no trabalho e em ou tras esferas de atuação humana 2 moralista vê nas atividades de lazer um espaço propício para a efetivação de comportamentos negativos perigo sos destrutivos e de valores suspeitos gerados na socie dade moderna mas que podem ser substituídas por vi vências de atividades socialmente aceitas e moralmente corretas 3 romântica a ênfase é dada nos valores da sociedade tra dicional e na nostalgia do passado 4 utilitarista o lazer é entendido como recuperador da força de trabalho ou como instrumento privilegiado para o desenvolvimento Na obra de Marcellino 1983 podese verificar que anti lazer foi uma expressão cunhada por Godbey e posteriormente utilizada por Dumazedier 1973 e vários outros autores Marcelli no utiliza o termo para as atividades vistas como simples consumo que alimenta a alienação nessa esfera da vida Ele é autor de um dos conceitos de lazer que mais circulam entre os brasileiros que estudam o tema nos dias de hoje Para Marcellino 2010 p 29 o lazer é entendido como a cultura compreendida em seu sentido mais amplo vivenciada praticada ou fruída no tempo disponível O im portante como traço definidor é o caráter desinteressado dessa vivência Não se busca pelo menos fundamentalmente outra rec ompensa além da satisfação provocada pela situação A disponibi lidade de tempo significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa Essa concepção de lazer amplia o entendimento enunciado anteriormente pelo próprio autor MARCELLINO 1983 no qual la zer e ócio eram colocados em campos opostos Além disso a com preensão de lazer como cultura supera o seu entendimento como conjunto de ocupações embora algumas características do sis tema elaborado por Dumazedier possam ser aqui identificadas 73 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física Marcellino afirma que a palavra cultura ainda é consid erada por muitos em seu sentido restrito como se o significado desse termo se resumisse a artes e espetáculos o que se configura em entendimento errôneo e nessas manifestações estaria en volvida uma série de manifestações do lazer Esse fato ocorre es pecialmente no trato com as políticas públicas de lazer Com algu mas exceções uma ação bastante comum é a oferta de atividades esporádicas para os sujeitos o que reforça a concepção de lazer como um mero produto a ser oferecido Alves 2003 ressalta a necessidade de se superar o entendi mento de lazer como cultura Associar o lazer com a cultura res salta a importância de aprofundarmos conhecimentos sobre esta última Constituído conforme as peculiaridades do contexto históri co e sociocultural no qual se desenvolve o lazer implica produção de cultura no sentido da reprodução da construção e da trans formação de diversos conteúdos culturais usufruídos por pessoas grupos e instituições GOMES 2008 Essas ações são construídas em um tempoespaço de produção humana dialogam e sofrem in terferências das demais esferas da vida em sociedade e permitem nos ressignificar continuamente a cultura O diferencial do lazer perante outras práticas sociais e cult urais de nossa sociedade é o fato de os elementos que o caracter izam tempo espaçolugar açõesatitude e manifestações cult urais serem enraizados no lúdico e mesmo passíveis de pressão e interferência do contexto não adquirirem caráter de obrigação não sendo vistos como um conjunto de tarefas a serem cumpridas Esses elementos expressam um exercício coletivamente construí do no qual os sujeitos se envolvem porque dessa forma o desejam GOMES 2004a Ainda conforme Gomes 2004a p 125 é possível com preender o lazer Recreação e Lazer 74 como uma dimensão da cultura constituída por meio da vi vência lúdica de manifestações culturais em um tempoespaço conquistado pelo sujeito ou grupo social estabelecendo relações dialéticas com as necessidades os deveres e as obrigações espe cialmente com o trabalho produtivo Para a autora o lazer é uma dimensão da cultura construí da socialmente em nosso contexto a partir de quatro elementos interrelacionados 1 tempo corresponde ao usufruto presente e não se limi ta aos períodos institucionalizados para o lazer final de semana férias entre outros 2 espaçolugar estendese muito além de um espaço físi co do qual os sujeitos se apropriam para exercer o conví vio social ou local do encontro do lazer 3 manifestações culturais conteúdos vivenciados como o fluir da cultura seja como possibilidade de diversão descanso ou desenvolvimento 4 ações ou atitude estabelecem suas bases no lúdico O lúdico pode ser destacado como a essência que integra a concepção de lazer de Leila Pinto 2003 Entendendo o lazer como disponibilidade de tempos e lugares para vivências da cultura lúdi ca a autora ressalta a construção de interações prazerosas cen tradas no sujeito em determinado contexto constituídas a partir de sua curiosidade de seus desejos de suas descobertas críticas e criativas Para a autora essas experiências são construídas sobretudo pela liberdade do sujeito na ressignificação desses tempos e lugar es na recriação de objetos materiais e atividades Na sua visão lazer implica sonhos gerenciamento de conflitos e anúncios im plica relações humanizadas e transformação de tempos e espaços educativos formais e não formais em experiências lúdicas Nesse sentido a alegria é possível como fruto da conquista da liberdade ao lidar com atitudes espaços tempos e atividades que busquem superar os muitos dilemas sociais colocados como limites às conquistas desejadas A autora considera enganoso pen 75 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física sar que o lazer não está relacionado com a problemática atual e apresenta perspectivas que levam o sujeito a ter consciência das contradições de nossa sociedade e da humanização de nossas re lações PINTO 2000 Para Antonio Carlos Bramante 1998 a ludicidade como principal eixo da experiência de lazer é uma das poucas unanimi dades entre os estudiosos que teorizam o tema Conforme o autor o lazer é constituído por três elementos tempo espaço e atitude De acordo com Bramante 1998 p 9 O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão hu mana dentro de um tempo conquistado materializada através de uma experiência pessoal criativa de prazer e que não se repete no tempoespaço cujo eixo principal é a ludicidade Ela é enriquecida pelo seu potencial socializador e determinada predominantemen te por uma grande motivação intrínseca e realizada dentro de um contexto marcado pela percepção de liberdade É feita por amor pode transcender a existência e muitas vezes chega a aproximar se de um ato de fé Para esse autor a vivência do lazer relacionase com as oportunidades de acesso aos bens culturais determinadas ger almente por fatores sociopolíticos e econômicos e influenciadas por fatores ambientais A partir das reflexões aqui desenvolvidas observase que existem várias concepções de lazer e cada uma delas indica a pers pectiva de análise construída pelos autores 7 RECREAÇÃO BREVES APONTAMENTOS CONCEI TUAIS Apesar de haver um movimento em busca de uma reflexão conceitual em torno da expressão recreação não há um debate aprofundado neste campo sobre seu sentidosignificado diferen temente do que pudemos visualizar com o termo lazer Sendo assim apresentaremos breves considerações acerca da dimensão conceitual desse fenômeno Recreação e Lazer 76 De acordo com as ponderações de Bramante 1998 ao lon go do tempo o lazer vem sendo conceitualmente confundido com outros derivados como recreação e jogo Para ele o lazer sig nifica um amplo e interdisciplinar campo de estudos pesquisas e aplicação A recreação por sua vez é atrelada ao conceito de ativ idade por exemplo a um programa de atividades recreativas para préescolares BRAMANTE 1998 p 11 Em outro trabalho o autor reforça esse entendimento Em última análise recreação pode ser considerada como produto isto é atividadeexperiência que ocorre dentro do lazer BRAMANTE 1997 p 123 A concepção de recreação como conjunto das atividades de senvolvidas no lazer também é defendida por Bruhns 1997 O lazer por sua vez pode ser entendido como expressão da cultura constituindo um elemento de conformismo ou de resistência à or dem social estabelecida A recreação ou atividade de lazer aprox imase do lúdico e às vezes ocorre certa confusão de termos e objetivos sendo o jogo visualizado como recreação BRUHNS 1997 p 39 Dependendo do contexto o jogo não pode ser con siderado uma atividade de lazer Para outro grupo de estudiosos a exemplo de Pinto 1992 p 291 a recreação eou lazer sendo considerados espaços privile giados para a vivência do lúdico Nesses termos ao compartilhar a essência lúdica recreação e lazer poderiam ser concebidos com o mesmo sentido conceitual Camargo 1998 n p33 corrobora a concepção anterior trazendo outros dados para a discussão Conforme suas consid erações os conceitos de lazer e recreação em nada se diferen ciam do ponto de vista da dinâmica sociocultural que produziu o divertirse moderno A utilização dessas duas expressões surgiu em decorrência de um problema linguístico pois nem todas as línguas moder nas dispõem de termos correspondentes às palavras recreação e lazer Muitos países como Espanha Itália e Alemanha adotaram 77 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física vocábulos cuja raiz tem sentido igual ao de recreação com a mes ma finalidade e praticamente com o mesmo sentido de lazer 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder discutir e comentar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade qual seja a abordagem histórica do lazer e da recreação assim como da apropriação conceitual destes fenômenos A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões procure revisar os conteúdos estuda dos para sanar as suas dúvidas Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade Lembrese de que na Educação a Distância a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa com partilhe portanto as suas descobertas com os seus colegas Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 No decorrer desta unidade estudamos a trajetória histórica da recreação em nosso país Sendo assim aponte os principais elementos que influencia ram o entendimento dessa prática social nos diferentes contextos históricos 2 A ocorrência histórica do lazer é alvo de polêmicas como pudemos obser var nos estudos realizados nesta primeira unidade Diante dessa afirmação indique a quais são os posicionamentos existentes entre os estudiosos do lazer em relação a esse embate b quais são os autores representativos de cada uma dessas correntes c quais são os argumentos que sustentam essas diferentes visões 3 Partindo do aspecto histórico do lazer indique as principais manifestações culturais vivenciadas nos seguintes períodos a sociedade grecoromana b sociedade medieval c sociedades urbanoindustriais d sociedade contemporânea Recreação e Lazer 78 4 A abordagem conceitual do lazer e da recreação constitui uma das tarefas realizadas pelos estudiosos dessas temáticas Sendo assim diante dos con ceitos de lazer apresentados nesta unidade identifique os principais aspec tos que norteiam a definição dos autores estudados 5 Explique as características constituintes do conceito de lazer a partir do pen samento de Dumazedier 1979 Ao realizar essa tarefa busque apresentar exemplos práticos para cada um dos aspectos debatidos 9 CONSIDERAÇÕES Conforme pudemos observar a recreação e o lazer percor reram trajetórias históricas diferentes embora a ligação entre am bos os fenômenos seja estreita Esta unidade apresentou algumas considerações sobre o lazer a recreação e o trabalho em seus aspectos históricocon ceituais e teve como principal objetivo situar você no campo de estudos sobre lazerrecreação privilegiando o enfoque desse as sunto a partir de discussões relacionadas ao trabalho Não pretendemos esgotar o tema mas tãosomente for necer elementos para que possamos iniciar um diálogo sobre essa questão cuja importância é há muito tempo reconhecida entre os estudiosos e os profissionais engajados na área de lazerrec reação Este debate é fundamental para um curso de graduação em Educação Física pois permite que você tenha contato com questões básicas para essa área Além disso poderá fornecer sub sídios que poderão auxiliálo independentemente do fato de você estar ainda iniciando suas pesquisas sobre lazerrecreação em seu processo de formação profissional Esperamos que tenha um bom proveito nas próximas re flexões 79 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física 10 EREFERÊNCIAS Sites pesquisados COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE CBCE GTT Recreção e lazer Disponível em httpwwwcbceorgbrbrgttrecreacaoelazer Acesso em 5 set 2012 MELO Victor Andrade de Lazer e Educação Física problemas historicamente construídos saídas possíveis um enfoque na questão da formação In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 Disponível em httpwwwlazereefdufrjbrproducoes educfisicalazerrelacaoartlivropdf Acesso em 5 set 2012 REIS Leoncio José de Almeida CAVICHIOLLI Fernando Renato STAREPRAVO Fernando Augusto A ocorrência histórica do lazer reflexões a partir da perspectiva configuracional Revista Brasileira de Ciências do Esporte Campinas v 30 n 3 p 6378 2009 Disponível em httpwwwrbceonlineorgbrrevistaindexphpRBCEarticleview248365 Acesso em 5 set 2012 TAFFAREL Celi Nelza Zulke Lazer e projeto histórico Impulso Piracicaba v 16 n 39 p 91106 2006 Disponível em httpwwwunimepbrphpgeditorarevistaspdf imp39art07pdf Acesso em 5 set 2012 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES Vânia de Fátima Noronha Uma leitura antropológica sobre a educação física e o lazer In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 p 83114 ANTUNES Ricardo Os sentidos do trabalho ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho 3ª ed São Paulo Boitempo 2000 Verbete Trabalho In GOMES Christianne Luce Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004 p 227232 ARISTÓTELES A política Rio de Janeiro Ediouro sd BAKHTIN Mikhail A cultura popular na Idade Média e no Renascimento o contexto de François Rabelais São Paulo Hucitec Brasília Editora da Universidade de Brasília 1999 BRAMANTE Antonio Carlos Lazer concepções e significados Licere Belo Horizonte v 1 n 1 p 917 1998 Qualidade no gerenciamento do lazer In BRUHNS Heloisa Turini Org Introdução aos estudos do lazer Campinas Editora da Unicamp 1997 p 123154 Recreação e lazer o futuro em nossas mãos In MOREIRA Wagner Wey Org Educação Física e esportes perspectivas para o século XXI 17 ed Campinas Papirus 2011 p 161179 BRUHNS Heloisa Turini Relações entre Educação Física e o lazer In Org Introdução aos estudos do lazer Campinas Editora da Unicamp 1997 p 3359 Recreação e Lazer 80 CAMARGO Luiz Octávio de Lima Educação para o lazer São Paulo Moderna 1998 O que é lazer São Paulo Brasiliense 1986 DE GRAZIA Sebastian Tiempo trabajo y ocio Madri Editorial Tecnos 1966 DE MASI Domenico O ócio criativo Rio de Janeiro Sextante 2000 DIAS Cleber Teorias do lazer e positivismo In PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Org Teorias do lazer Maringá Eduem 2010 p 4372 DUMAZEDIER Joffre Lazer e cultura popular São Paulo Perspectiva 1973 Sociologia empírica do lazer São Paulo Perspectiva 1979 FREITAS Ricardo Ferreira Nas alamedas do consumo os shopping centers como solução contemporânea de lazer nas cidades globalizadas Contato Revista Brasileira de Comunicação Arte e Educação Brasília v 1 n 2 p 127138 1999 GAELZER Lenea Lazer bênção ou maldição Porto Alegre Sulina 1979 GOMES Christianne Luce Lazer Concepções In Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004a p 119125 Lazer Ocorrência histórica In Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004b p 133141 Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Editora UFMG 2008 Significados de recreação e lazer no Brasil reflexões a partir da análise de experiências institucionais 19261964 2003 322f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2003 ISAYAMA Helder Ferreira Recreação e lazer como integrantes dos currículos dos cursos de graduação em Educação Física 2002 216f Tese Doutorado em Educação Física Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas Campinas 2002 KURZ Robert A ditadura do tempo abstrato In SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIOWORLD LEISURE AND RECREATION ASSOCIATION Lazer numa sociedade globalizadaLeisure in a globalized society São Paulo SESCWLRA 2000 p 3946 LAFARGUE Paul O direito à preguiça São Paulo Editora UnespHucitec 1999 MARCASSA Luciana A invenção do lazer educação cultura e tempo livre na cidade de São Paulo 18881935 2002 204f Dissertação Mestrado em Educação Brasileira Faculdade de Educação Universidade Estadual de Goiás Goiânia 2002 As faces do lazer categorias necessárias à sua compreensão In ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER 15 2003 Santo André Anais Santo André SESC 2003 p 111 CD ROM Recreação In GOMES Christianne Luce Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004 p 196203 MARCELLINO Nelson Carvalho Estudos do lazer uma introdução Campinas Autores Associados 1996 Lazer e educação 15 ed Campinas Papirus 2010 Lazer e humanização Campinas Papirus 1983 MAGNANI José Guilherme Cantor Lazer um campo interdisciplinar de pesquisa In 81 Claretiano Centro Universitário U1 Recreação e Lazer Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física BRUHNS Heloisa Turini GUTIERREZ Gustavo Luis Org O corpo e o lúdico ciclo de debates Lazer e motricidade Campinas Autores AssociadosFaculdade de Educação FísicaUnicamp 2000 p 1933 MASCARENHAS Fernando Entre o ócio e o negócio teses acerca da anatomia do lazer 2005 307f Tese Doutorado em Educação Física Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas Campinas 2005 MEDEIROS Ethel Bauzer de Lazer necessidade ou novidade Rio de Janeiro SESC 1975 MELO Victor Andrade de Lazer e Educação Física problemas historicamente construídos saídas possíveis um enfoque na questão da formação In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 p 5780 MELO Victor Andrade de ALVES JUNIOR Edmundo Drummond Introdução ao lazer São Paulo Manole 2003 MUNNÉ Frederic Psicossociología del tiempo libre un enfoque crítico México Trillas 1980 MUNNÉ Frederic CODINA Núria Ocio y tiempo libre consideraciones desde uma perspectiva psicosocial Licere Belo Horizonte v 5 n 1 p 5972 set 2002 OLIVEIRA Paulo de Sales Org O lúdico na cultura solidária São Paulo Hucitec 2001 PADILHA Valquíria Tempo livre e capitalismo um par imperfeito Campinas Alínea 2002 Verbete Tempo livre In GOMES Christianne Luce Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004 p 218222 PARKER Stanley A sociologia do lazer Rio de Janeiro Zahar 1978 PEIXOTO Elza Margarida de Mendonça PEREIRA Maria de Fátima Rodrigues FREITAS Francisco Máuri de Carvalho Marxismo e estudos do lazer no Brasil In PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Org Teorias do lazer Maringá EDUEM 2010 p 103150 PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Lazer fundamentos estratégias e atuação profissional Jundiaí Editora Fontoura 2003 Leituras pósmodernistas nos estudos do lazer In Org Teorias do lazer Maringá EDUEM 2010 p 151182 PINTO Leila Mirtes Santos de Magalhães A recreaçãolazer no jogo da educação física e dos esportes Revista Brasileira de Ciências do Esporte Campinas v 12 n 13 p 289 293 1992 Inovação e avaliação desafios para as políticas públicas de esporte e lazer In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 p 243264 Lazer e mercado Licere Belo Horizonte v 3 n 1 p 182188 2000 Lazer Presença Pedagógica Belo Horizonte v 7 n 40 p 9093 2001 RIESMAN David A multidão solitária São Paulo Perspectiva 1971 RODRIGUES Cae LEMOS Fabio Ricardo Mizuno GONÇALVES JUNIOR Luiz Teorias do lazer contribuições da fenomenologia In PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Org Teorias do lazer Maringá EDUEM 2010 p 73102 Recreação e Lazer 82 RODRIGUES Juliana Pedreschi O serviço de recreação operária e a sociabilização do trabalhador sindicalizado no Brasil 19431964 2006 124f Dissertação Mestrado em Educação Física Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 SANTANNA Denise Bernuzzi Depois do trabalho o lazer Proj História São Paulo n 16 p 245248 1998 O prazer justificado História e lazer 19691979 São Paulo Marco ZeroMCT CNPq 1994 SANTOS Milton Lazer popular e geração de empregos In SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIOWORLD LEISURE AND RECREATION ASSOCIATION Lazer numa sociedade globalizadaLeisure in a globalized society São Paulo SescWLRA 2000 p 3137 SAVIANI Dermeval Escola e democracia 35 ed Campinas Autores Associados 2002 SOUZA JÚNIOR Justino Tempo livre In FIDALGO Fernando Selmar MACHADO Lucília Regina de Sousa Org Dicionário da educação profissional Belo Horizonte Setascad Ministério do Trabalho e Emprego 2000 p 325 TEIXEIRA Ib Lazer a indústria do novo milênio Conjuntura econômica Rio de Janeiro v 53 n 11 p 2527 1999 THOMPSON Edward Palmer O tempo a disciplina do trabalho e o capitalismo industrial In SILVA Tomaz Tadeu da Org Trabalho educação e prática social por uma teoria da formação humana Porto Alegre Artes Médicas 1991 p 4493 UVINHA Ricardo Ricci O método ProblemBased Learning e sua aplicabilidade nos estudos do lazer In PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Org Teorias do lazer Maringá Eduem 2010 p 183201 VEYNE Paul Org História da vida privada I do império romano ao ano mil São Paulo Companhia das Letras 2002 WERNECK Christianne Luce Gomes Recreação e lazer apontamentos históricos no contexto da Educação Física In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 p 1556 WERNECK Christianne Luce Gomes STOPPA Edmur ISAYAMA Hélder Ferreira Lazer e mercado Campinas Papirus 2001 EAD Dimensões Políticas do Lazer 2 1 OBJETIVOS Compreender o lazer como direito social e como política social Promover articulações entre lazer e cidadania Explicitar as relações entre lazer Estado mercado e so ciedade Identificar práticas políticas de lazer historicamente cons truídas no Brasil 2 CONTEÚDOS Lazer como direito social Processo histórico de políticas de lazer Focalização ou universalização das políticas Recreação e Lazer 84 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Utilize o Esquema de conceitoschave para o estudo de todas as unidades deste Caderno de Referência de Con teúdo Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu de sempenho 2 Faça uma consulta à bibliografia indicada no tópico Refe rências Bibliográficas Assim você aprofundará os prin cipais conceitos tratados nesta unidade 3 Anote todas as suas dúvidas não deixe nenhuma para trás Tente solucionálas por meio do nosso sistema de interatividade ou diretamente com seu tutor 4 Pesquise os ordenamentos legais citados ao longo do texto para que você tenha uma visão mais clara dos ar gumentos utilizados 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade vamos tratar dos fundamentos do lazer como direito social e como objeto de políticas sociais Queremos discutir a relação entre cidadania e inclusão social para então pensarmos em alguns elementos históricos do lazer O lazer restrito à com pensação da insatisfação e da alienação causadas pelo trabalho à recuperação psicossomática do trabalhador a um produto de mercado e à possibilidade de realização humana restrita aos inte resses do capital está desvinculado das questões mais amplas que constituem a dinâmica social Teremos a oportunidade de entender o que significa a afir mação de que o lazer é um direito social em nosso país buscando compreender suas relações com o Estado com o mercado e por fim com o processo de desenvolvimento humano 85 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Esperamos que o conteúdo reunido nesta unidade possa contribuir para o debate especialmente no que diz respeito à compreensão da complexidade do lazer como direito social e res ponsabilidade dos profissionais que atuam na área Boas reflexões 5 O LAZER COMO DIREITO SOCIAL Nossa época põe ao alcance de toda a humanidade um volu me de recursos econômicos e materiais capazes de conter a fome a miséria e a maior parte das desigualdades sociais presentes na sociedade contemporânea Isso possibilitaria alternativas para o mundo ter mais paz e ser mais justo Certamente razões políticas impedem que se chegue a esse objetivos o que gera muitas con tradições no seio da sociedade Contudo se a possível generalização de bemestar não ad veio isso não significa que o avanço tecnológico não tenha pos sibilitado uma série de benefícios e conquistas reais para quem pode deles se beneficiar A aplicação da ciência tendo alterado processos produtivos nas relações de trabalho também propiciou mudanças significa tivas Seja pelo processo de automação pela redução do número de postos de trabalho pelas mais diferentes formas de trabalho informal pela intervenção do Estado nas relações de trabalho é inegável o aparecimento de um tempo livre em contraste com o tempo de trabalho A consciência humana expandiuse a riqueza dos seres hu manos cresceu a distribuição de renda tornouse cada vez mais desigual mas a luta por uma Era de Direitos tem sido uma cons tante Partidos sindicatos organizações movimentos sociais de di ferentes gêneros passaram a lutar por mais direitos e a exigir dos Recreação e Lazer 86 Estados uma interferência mais decisiva na liberdade dos merca dos Lentamente foi aparecendo a figura do estado de bemestar social Essa luta ficou mais clara quando as duas guerras mundiais 1914191819391945 aviltaram ao máximo a própria humanida de nas teses e práticas racistas Após a 2ª Guerra Mundial em 1948 temos a redação da De claração Universal dos Direitos Humanos que assinala em seu ar tigo XXIV Todo homem tem direito a repouso e lazer à limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas Além do referido documento temos também O Pacto Inter nacional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais de 1966 aprovado pelo Decreto Legislativo nº 226 de 12121995 e pro mulgado pelo Decreto nº 591 de 1992 BRASIL 2012h que diz em seu sétimo artigo ser direito de toda pessoa gozar de condições de trabalho justas e favoráveis que assegurem especialmente d o descanso o lazer a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas assim como a remuneração dos feriados Pelo que foi trabalhado até o momento podemos partilhar das proposições de Gomes 2008 quando essa autora afirma que a discussão sobre os direitos sociais precisa ir além da justa indig nação contra a miséria do mundo deslocando o eixo de análise É preciso portanto repensar os direitos sociais não apenas a partir dos dilemas que colocam mas também a partir das questões que podem abrir Como salienta a autora os direitos são também uma manei ra de pronunciar e nomear a ordem do mundo produzindo novos sentidos de experiências até então negligenciadas no contexto das relações humanas É preciso desvelar perspectivas para o lazer descortinadas no horizonte das experiências democráticas que apesar das difi 87 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer culdades encontradas nesses tempos de incerteza continuam re sistindo e acontecendo em nosso país Portanto é fundamental refletir sobre o lazer como um di reito social Isso desloca o foco da discussão para as conquistas históricas e sociais às quais ele está vinculado Essas conquistas dizem respeito às reivindicações pelo estabelecimento de tempo institucionalizado para o lazer Neste momento podemos nos perguntar e no Brasil como fica a questão Salário férias previdência justiça trabalhista tudo isso não se fez do dia para a noite em nosso país Aqui a chegada a deter minado patamar legal que não deixasse o cidadão ao sabor das oscilações do livre mercado e da exploração ocorrida no final do século 19 também custou suor e sangue A Constituição de 1891 BRASIL 2012a silencia sobre esse assunto exceto indiretamente quando na Revisão Constitucional de 19251926 emenda o artigo 14 e atribui ao Congresso Nacio nal entre outras a competência de legislar sobre o trabalho A Constituição de 1934 BRASIL 2012b em seu artigo 121 impõe no primeiro parágrafo c trabalho diário não excedente a oito horas reduzíveis e repouso hebdomadário de preferência aos domingos f férias anuais remuneradas A Constituição de 1937 BRASIL 2012c previa em seu artigo 137 nas letras d e e i d o operário terá direito ao repouso semanal aos domingos e depois de um ano de serviço ininterrupto em uma empresa de trabalho contínuo o operário terá direito a uma licença anual re munerada i dia de trabalho de oito horas que poderá ser reduzido Será no interior da ditadura estadonovista que se formali zará na Consolidação das Leis do Trabalho CLT DecretoLei nº Recreação e Lazer 88 545243 BRASIL 2012l uma série de regras que disciplinariam as relações de trabalho e nas quais se vê a regulação dos períodos de descanso do direito a férias sua época e duração e do direito à previdência social Curiosamente muitas colônias de férias datam desse período A Constituição de 1946 estabelece em seu artigo 157 os princípios que regem a legislação do trabalho impondo no inciso V duração diária do trabalho não excedente a oito horas e no VI o repouso semanal remunerado preferentemente aos domin gos no VII férias anuais remuneradas A Constituição de 1967 BRASIL 2012e preserva os direitos de 1946 e acrescenta no artigo 158 no inciso XIX colônias de férias e clínicas de repouso recuperação convalescença mantidas pela União Aparece também a figura de oito horas de trabalho com intervalo para descanso Isso se repetirá no artigo 165 da Emenda da Junta Militar de 1969 A crítica à desigualdade social aprofundada durante a dita dura militar e empiricamente exposta por meio da vergonhosa dis tribuição de renda das lutas dos movimentos sociais e de todas as iniciativas da sociedade civil desaguaram na busca de uma nova Constituição que resguardasse os direitos civis sociais e políticos Gomes 2008 fundamentada em Reis esclarece que a con ferência pronunciada por Marshall em 1949 sobre cidadania e classe social constitui um nítido marco de uma nova era para o conceito de cidadania As ideias contidas na formulação de Marshall sobre a cidada nia continuam servindo de referência para uma compreensão mais ampliada desse conceito e apesar das críticas dirigidas ao autor suas considerações permanecem relevantes na atualidade Para Marshall 1967 o desenvolvimento da cidadania segue um percurso evolutivo como consequência da fragmentação ins titucional ocorrida na era moderna A noção de cidadania parte 89 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer então dos direitos civis passando pelos direitos políticos e che gando aos sociais Os direitos civis são aqueles que se referem à liberdade indi vidual liberdade da pessoa de expressão de pensamento e reli gião direito à justiça à propriedade e de firmar contratos válidos Os direitos políticos correspondem ao direito de participar do exercício do poder político como integrante de um corpo inves tido de autoridade política ou como eleitor de integrantes O sistema educacional e os serviços sociais são identificados como provedores de direitos sociais indo do direito a um mínimo de segurança e bemestar econômico até o direito de gozar inte gralmente do legado social proporcionando ao indivíduo a vida como um ser civilizado conforme os parâmetros da sociedade vi gente O artigo sexto de nossa Constituição Federal de 1988 lista os direitos sociais que devem receber a devida proteção do Estado e da sociedade Diz ele São direitos sociais a educação a saúde o trabalho a moradia o lazer a segurança a previdência social a proteção à maternidade e à infância a assistência aos desamparados na forma desta Consti tuição BRASIL 1988 grifo nosso O lazer tornouse então um direito social garantido pela Constituição O direito social é um investimento assegurado ao menos em tese pelo Estado que visa a reduzir progressivamente as desi gualdades a controlar os excessos dos interesses privados e a dar oportunidades de acesso a determinados bens sociais indispensá veis a uma vida digna e a uma participação cívica consciente O lazer como direito social é uma dessas prestações sociais a que o Estado está obrigado e que representa portanto um bem social indispensável Têlo como direito é um grande avanço social incorporando como direito algo que abre as potencialidades do Recreação e Lazer 90 ser humano É o indivíduo singular e ser social em busca de melhor qualidade de vida própria e com os outros Mas esse caminho até a chegada do lazer como direito social foi árduo e não se chegou a ele sem luta e sacrifício especialmente no que se refere à demanda pelos famosos três oitos oito horas de trabalho oito horas de repouso e oito horas de lazer PRZEWOR SKI 1989 Em 1750 os operários trabalhavam 96 horas por semana ou seja 16 horas por dia em seis dias de trabalho por semana Em 1800 já eram 90 horas por semana e em 1850 eram 72 horas Em 1900 as horas semanais atingiam 60 horas 10 horas por dia nos seis dias de trabalho O direito à preguiça de Paul Lafargue 1999 faz uma críti ca à sociedade capitalista da época e é considerado um clássico do movimento operário Somente na Rússia de 1905 a 1907 o panfleto alcançou 17 edições sendo o texto mais editado mais traduzido e mais lido pelo movimento operário europeu por volta de 1906 perdendo somente para o Manifesto Comunista de Marx e Engels 2010 Em 1950 finalmente eram cravadas as desejadas oito horas por dia ou seja as 40 horas semanais em cinco dias passando de uma grandeza extensiva de trabalho para uma grandeza intensiva O avanço da automação da robótica ou seja da intensiva aplicação da ciência à tecnologia dos processos de produção tem possibilitado em vários países a redução da jornada para 36 ho ras Tal situação tem levado autores como Domenico De Masi a imaginar um avanço cada vez maior do tempo liberado sobre a jornada de trabalho A entrada em uma postulada sociedade pós industrial projeta nas análises do autor um modelo societário liberto do anátema do trabalharás com o suor do teu rosto e voltado ao exercício de um ócio criativo DE MASI 2000 91 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Isso não se deu de modo automático e determinístico As lutas políticas e partidárias do século 19 adentrando o século 20 contestavam os salários de fome e as condições perversas de tra balho postas em uma ordem social excludente e antidemocrática Tais lutas tinham como finalidade requerer condições de acesso aos bens sociais poder participar ativamente dos destinos do país inclusive com a sustentação de uma ordem jurídica que desse garantia aos reclamos que estavam sendo feitos No sentido dessa ordem jurídica passouse a reconhecer a importância da legislação em uma equação em que a cidadania envolvesse uma abertura política e os trabalhadores pudessem exercer o direito de voto TRINDADE 2002 As exigências caminhavam em favor do voto universal su perando o censitário e com isso haveria a oportunidade de as classes subalternas elegerem para o parlamento representantes que lutassem pelos direitos sociais Lutar pela redução das horas de trabalho era tanto um modo de diminuir a exploração como de possibilitar novos espaços de presença social Dessa forma tais lutas redefiniam a presença unilateral do Estado em favor da consideração do mesmo Estado como um es paço de disputa e de luta dentro do qual cabe o conflito e no qual os cidadãos de todas as categorias ao menos hipoteticamente podem ocupar espaços políticos importantes E um desses espaços será justamente o da possibilidade de formalizar em lei os espaços reivindicados ou já conquistados na prática social Não bastava ganhar na prática uma batalha em prol de direitos sociais era preciso generalizálos como princípio legal de modo que esse se transformasse em um direito reconhecido E o caminho para tal seria participar dos embates em prol de uma cidadania alargada sob a égide de uma nova ordem legal Quer como formalização em lei de uma situação de fato quer como busca de um princípio jurídico democrático mais abrangen Recreação e Lazer 92 te podese perceber como a lei nascida da vontade popular aos poucos se torna um modo normal de funcionamento da socieda de como lugar de igualdade de todos e como produto da própria cidadania Será pois no reconhecimento da cidadania como capacida de de alargar o horizonte de participação de todos nos destinos nacionais que a legislação voltará à cena Por outro lado a realização dessas expectativas e do próprio sentido expresso da lei entra em choque com as adversas condi ções sociais de funcionamento da sociedade de classes em face dos estatutos de igualdade política por ela reconhecidos É inegável a dificuldade de em face da desigualdade social ser instaurado um regime em que a igualdade se efetive em favor da realização dos direitos sociais O contorno legal indica os direitos os deveres as proibições as possibilidades e os limites de atuação enfim as regras Tudo isso possui um enorme impacto no cotidiano das pessoas mesmo que nem sempre elas estejam conscientes de todas as suas impli cações e consequências Para Bobbio 1992 p 7980 a existência de um direito seja em sentido forte ou fraco implica sempre a existência de um sistema normativo onde por existência deve entenderse tanto o mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação A figura do direito tem como correlato a figura da obrigação Certamente em muitos casos a realização dessas expecta tivas e do próprio sentido expresso da lei entra em choque com as adversas condições sociais ou burocráticas de funcionamento da sociedade em face dos estatutos de igualdade política por ela reconhecidos É por essas razões que a importância da lei não é identificada e reconhecida como um instrumento linear ou mecânico de reali 93 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer zação dos direitos sociais Sua importância nasce do caráter con traditório que a acompanha nela sempre reside uma dimensão de luta Luta por inscrições mais democráticas luta por efetivações mais realistas luta contra descaracterizações mutiladoras luta por sonhos de justiça Enfim cresceu a importância da lei que passou a ser reco nhecida pelos cidadãos na medida em que eles se deram conta apesar de tudo de que ela é um instrumento viável de luta e de que com ela podem ser criadas condições mais propícias para a socialização cidadã das novas gerações Declarar um direito em uma lei é algo muito significativo Declarálo é colocálo dentro de uma hierarquia que o reconhece solenemente como um ponto prioritário das políticas sociais Mais significativo ainda se torna esse direito quando ele é declarado e garantido como tal pelo poder interventor do Estado no sentido de assegurálo e implementálo Como assevera Chauí 1989 p 20 A prática de declarar direitos significa em primeiro lugar que não é um fato óbvio para todos os homens que eles são portadores de direitos e por outro lado significa que não é um fato óbvio que tais direitos devam ser reconhecidos por todos A declaração de direi tos inscreve os direitos no social e no político afirma sua origem social e política e se apresenta com objeto que pede o reconheci mento de todos exigindo consentimento social e político A declaração e a garantia de um direito em lei tornamse im prescindíveis no caso de países como o Brasil com forte tradição elitista e que reserva apenas às camadas privilegiadas o acesso a esse bem social Por isso declarar e assegurar são mais do que proclamações solenes Declarar é retirar do esquecimento e proclamar aos que não sabem ou se esqueceram que eles continuam a ser portado res de um direito importante Disso resulta a necessária cobrança desse direito quando ele não é respeitado Recreação e Lazer 94 É por meio dessas lutas históricas em especial pela redu ção das horas de trabalho por determinados estatutos de seguri dade e previdência sociais e por outras conquistas parciais como férias mas sem deixar de considerar a racionalização da produção que o lazer foi deixando de ser propriedade das classes privile giadas e se tornando o princípio de equalização social inscrito na lei e na consciência das pessoas Isso não significa que o lazer não seja assumido diferentemente de acordo com as classes sociais embora haja certa tendência dos meios de comunicação de massa em padronizálo Mesmo assim é preciso considerar que se o momento da emissão é padronizá lo o mesmo não ocorre com o momento da recepção Avançar no conceito de cidadania supõe a generalização e a universalização dos direitos humanos cujo lastro transcenda a ligação tradicional e histórica entre cidadania e nação tal como é desenvolvido por exemplo em Carvalho 2002 Esse conceito universal deve constituirse no horizonte mais amplo de convivência entre as pessoas humanas dos diferentes povos porque não é por uma pertença específica como cidadão por exemplo pertença nacional ou outra que o ente humano é sujeito de direitos fundamentais Ele continua sendo o patamar mais fundo pelo qual se combatem todas as formas e modalidades de discriminação inclusive de pertença étnica Nesses termos recolocase a importância estratégica dos direitos civis e dos direitos sociais para todas as pessoas como indivíduos singulares e como membros de um corpo social nacional e também internacional É nesse quadro que o lazer revela seu caráter universal O lazer como desenvolvimento do potencial de um indivíduo e de sua comunidade se apropriado apenas por poucos deixa de ser emancipatório e se torna instrumento de desigualdade e discriminação 95 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Avançaremos agora no sentido de compreender o processo histórico das políticas de lazer no Brasil Vamos lá 6 O PROCESSO HISTÓRICO DE POLÍTICAS DE LAZER NO BRASIL Nossa reduzida experiência histórica com a participação au menta o desafio das políticas participativas no lazer que desde a década de 1940 são incluídas no conjunto dos desdobramentos políticos do país como você poderá ver nos próximos subtópicos desta segunda unidade Nessa trajetória na qual tensões e limites foram e ainda pre cisam ser superados e oportunidades são mediadas por interes ses coletivos e individuais destacamse a nosso ver quatro mo mentos de mudanças significativas nas políticas de lazer no Brasil Que momentos históricos são esses Que possibilidades his tóricas influíram nas práticas políticas de lazer vividas em cada um desses momentos A resposta a essas questões são os nossos desafios Boa leitura Primeiro Momento PósSegunda Guerra Mundial Na ditadura estadonovista do Brasil dos anos 1930 e 1940 vivemos um período caracterizado por um movimento legalinsti tucional que provocou mudanças significativas especialmente na educação na assistência social e na saúde Foram introduzidos avanços no processo de centralização institucional de recursos e instrumentos administrativos no Exe cutivo Federal e incorporados novos grupos sociais aos esque mas de proteção mesmo que sob um padrão seletivo de bene ficiários heterogêneo de benefícios e fragmentado no plano institucional e financeiro de intervenção do Estado Recreação e Lazer 96 Nesse período de significativa produção legislativa foram criados os Institutos de Pensão e Aposentadoria e foi consolidada a legislação trabalhista A promulgação do Decretolei nº 5452 de 1943 BRASIL 2012l que dispôs sobre a Consolidação das Leis do Trabalho CLT foi recebida como um avanço nas relações sociais brasileiras sendo um passo decisivo para nosso desenvolvimento econômico social e humano A CLT dispôs sobre período mínimo de descanso para os trabalhadores art 66 intervalo para repousoalimentação no trabalho art 71 remuneração para repouso semanal do art 67 ao 69 feriados art 70 férias do art 129 ao 153 Nesse momento histórico o lazer foi incluído na pauta da Declaração Universal dos Direitos do Homem DUDH BRASIL 2012g aprovada em 1948 pela Resolução da III Sessão Ordinária da AssembleiaGeral das Nações Unidas ONU da qual o Brasil é signatário Essa declaração atualmente se refere aos direitos humanos e cita que todo indivíduo tem direito ao lazer tratado diferentemen te do tempo de repouso art 24 Colocar as políticas sob a guarda dos direitos humanos é colocalas à luz do gênero humano Curiosamente até o fim do século 20 a CLT não sofreu alte rações significativas nos itens destinados ao direito pelo tempo de não trabalho o que pode ser explicado porque o direito a esse tempo no Brasil foi criado e sustentado em um contexto histó rico no qual o capitalismo para se sedimentar no país precisava dos aparatos legais e da formação de valores básicos para o novo modo de produção O que se verifica é que a CLT em sua gênese embora cons tituída e normatizada pelo Estado e o mercado sem a participação dos trabalhadores foi usada para disciplinar corpos trabalhos e tempos cotidianos da classe trabalhadora 97 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Mesmo revestida de caráter de doação representando uma forma de adaptação ao sistema socioeconômico e político re querido pelo capitalismo a CLT inaugurou um fato novo o re conhecimento legal de um tempo social que abriu espaço para experiências que foram ressignificadas como lazer à medida que historicamente foi sendo reconhecido que o essencial da vida dos atores sociais se desenrola para além do tempo dedicado ao tra balho remunerado A implementação da CLT gerou a elaboração e a execução de políticas de atividades recreativas de caráter assistencia lista e corporativista privilegiando apenas um grupo social mais organizado com vista a ocupar o tempo de não trabalho regu lamentado Isso contribuiu para acentuar as desigualdades sociais relativas ao direito ao tempo de lazer uma vez que a legalização institucionalização desse tempo como direito ficou por um bom período restrita aos trabalhadores assalariados urbanos Nesse entendimento o tempo de não trabalho nos mol des da CLT é compreendido como sobra do tempo social con siderado útil o do trabalho O tempo é aí valorizado como re compensa do trabalho ou redenção dos problemas sociais e não como direito necessidade e vontade coletiva Como forma de ocupar esse tempo de não trabalho nesse período histórico difundiuse a política de recreação orien tada fundada nos princípios do assistencialismo promotor do acesso a um bem mediante benesse isto é supondo sempre um doador e um receptor que marcou e ainda marca muitas práticas recreativas de nossas instituições Essas práticas têm provocado a dependência do público assistido de pacotes de atividades car regados com o sentido de doação Várias experiências brasileiras desse período histórico PIN TO 2004 difundiram as políticas de atividades recreativas como modelo a ser desenvolvido em todos os setores do país Recreação e Lazer 98 No âmbito estatal um marco inicial foi a criação do Depar tamento de Recreação Operária no Rio de Janeiro 1946 Foram inaugurados vários clubes esportivorecreativos de forma corpo rativa e financiados pelo Estado como o Minas Tênis Clube de Belo Horizonte Esse clube foi inaugurado em 1937 sendo o pri meiro clube da cidade a ser usado para o lazer e o esporte amador Foram criados em 1946 o Serviço Social da Indústria SESI e o Serviço Social do Comércio SESC como duas das soluções bra sileiras para a prestação de serviços de educação saúde lazer e ação social aos trabalhadores da indústria do comércio e de suas famílias As políticas de atividades de caráter nacional promovidas por esses órgãos aparentemente tratavam dos problemas rela cionados à organização de vivências em um tempo social de não trabalho Era um modelo baseado em princípios funcionalistas e que tinha como objetivo explícito a promoção da recreação como distração descanso e recomposição da força de trabalho manten do diferenças na posse da vida cultural a ser vivida nesse tempo pelos indivíduos das diferentes camadas sociais PINTO 2004 Segundo Momento Décadas de 1960 e 1970 As décadas de 1960 e 1970 representam um período de transformação radical do perfil da política social brasileira no âm bito institucionalfinanceiro Para Draibe 1990 nesse período o núcleo duro da intervenção social do Estado definese comple tando o Welfare State brasileiro O sistema de política social adotado foi baseado nos princí pios do mérito posição ocupacional e de renda adquirida no nível da estrutura produtiva e da seletividade Essa opção de acordo com a autora instigou a discussão sobre a expansão global da ri queza e da renda como melhoramento das capacidades humanas para ter acesso aos benefícios do Estado de BemEstar 99 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer A esse debate incorporaramse discussões sobre o papel do Estado em relação ao desenvolvimento econômico e às políticas sociais bem como sobre a redução da ação do setor público e a reestruturação das políticas sociais A transformação do perfil da política social brasileira no âmbito institucionalfinanceiro mudou a forma fragmentada e se letiva do momento histórico anterior e abriu espaços para a or ganização dos sistemas públicos ou estatalmente regulados na área de bens e serviços sociais básicos Com isso foram abertos espaços para tendências universalizantes difundindo por exem plo políticas de massa de relevante cobertura Quanto aos efeitos desse modelo de políticas sociais no cam po do lazer dois fatos históricos merecem destaque O primeiro foi a instituição em 1958 da Campanha de Ruas de Recreio que promoveu atividades esportivorecreativas em ruas e praças Essa campanha foi difundida de tal forma nas décadas seguintes que passou a representar o modelo de política pública de lazer no país modelo ainda hoje sustentado em muitos municípios e estados brasileiros Essa experiência pode ser considerada a principal pro pagadora da política de lazer como cultura de eventos esporá dicos elitistas discriminatórios ou pacotes de atividades baixa dos dos gabinetes técnicos que caracterizou e ainda caracteriza muitas políticas de lazer desenvolvidas hoje no país PINTO 1998 Paralelamente a esse fato a aliança entre as políticas de esporte educação física e lazer para nós constituiu um segun do fato histórico decisivo para desenhar a política de lazer das décadas de 1960 e 1970 Essa aliança foi alicerçada pelo Decreto 69450 de 1971 BRASIL 2012k em vigor até 1996 que dispôs sobre a obrigatoriedade da Educação Física escolar como prática de atividades esportivorecreativas em todos os níveis de ensino do país Ao mesmo tempo difundiramse por todos os estados brasileiros as secretarias municipais e estaduais de esporte e lazer Recreação e Lazer 100 consagrando o campo da educação física como o principal difusor das políticas de lazer no Brasil Essa estratégia política foi fundamental para promover uma educação corporal comprometida com educação para o la zer orientada pelas necessidades do desenvolvimento capitalista Nesse sentido a principal estratégia foi a difusão de políticas es portivorecreativas traduzidas como políticas de atividades o que influiu nas políticas de doação de material e cessão de equipamen tos específicos sem se preocupar com a participação humana nas atividades vividas ZINGONI 2003 Para Draibe 1990 as práticas de políticas públicas nesse período histórico são elitistas pelo fato de priorizarem segmentos já privilegiados da população e são assistencialistas e tutelares quando direcionadas aos segmentos empobrecidos da população Sobre as políticas públicas assistencialistas o autor enfatiza que a forma mais tradicional encontrada no país é marcadamente indivi dualista reflexo da própria visão econômica da sociedade regula da mais pela competição do que pela convergência Nesse período histórico as políticas no campo do lazer são traduzidas por ações setorizadas institucionalizadas marcadas pela promoção de eventos esporádicos por exemplo com mui tas ruas de lazer que não envolvem os participantes em sua or ganização Analisando consequências das políticas de lazer da época Zingoni 2003 afirma que elas se refletem em atitudes de confor mismo dos usuários com os modelos de atividade difundidos ali mentando um ambiente nada propício às políticas participativas Terceiro Momento Década de 1980 Na América Latina os primeiros passos sistemáticos no sen tido da participação cidadã foram dados nos anos 1960 contexto marcado por políticas de industrialização A década de 1970 foi as 101 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer sinalada por fluxos e refluxos dessas iniciativas sendo na década de 1980 inaugurada a participação cidadã como instrumento para o aprofundamento da democracia Nessa década no país caem os regimes autoritários consolidamse o capitalismo e os ajustes que tendem a ser socialmente excludentes GRAU 1998 Os primeiros anos dessa década marcaram o reconhecimen to do lazer como força econômica As exigências do modo de vida capitalista influenciaram na propagação do lazer como tempoes paço necessário para o consumo das várias formas de entreteni mento produzidas e difundidas pela indústria cultural Com dife rentes formas de consumo urbano ampliaramse a produção de bens a oferta de serviços a geração de empregos com demandas específicas ligadas ao lazer PINTO 2002 No contexto capitalista o lazer despontou como um mercado emergente em pleno crescimento que gerou expressiva atividade econômica passando a exigir mão de obra diversificada e qualifi cada para atender aos novos e diversificados empreendimentos O capitalismo provocou a disseminação do lazer veiculado pela indústria cultural tratando os indivíduos como potenciais consumidores de mercadorias lúdicoculturais e o acesso diferen ciado a esses bens aumentou as desigualdades quanto à democra tização da produção cultural disponível para a vivência no lazer Nos anos 1980 o setor público continuou a viver os proble mas sociais que desde anos anteriores vinham desafiando gover nos e sociedade como crescimento econômico irregular no país pobreza desigualdades sociais insegurança pessoal No início dessa década o lazer não era incluído nos dilemas sociais e a apropriação cultural consumista promovia vivências acríticas de lazer O início dos anos 1980 também foi marcado pelo aumento da participação dos atores sociais nos processos de democratiza Recreação e Lazer 102 ção gestando um ambiente propício a mudanças políticas que posteriormente influíram nas políticas de lazer As grandes mobilizações democráticas marcam um novo momento histórico como a campanha pelas Diretas Já e o nas cer de formas participativas dos cidadãos na formulação e na ges tão das políticas implementadas a partir da Constituição Federal de 1988 BRASIL 2012f Sendo assim depois de longo período de privação de liberda des democráticas a década de 1980 culminou com a promulgação de uma Constituição avançada quanto à ampliaçãoextensão dos di reitos sociais e à afirmação da cidadania neles incluído o lazer No entanto a inclusão do lazer na nossa Carta Magna se representou avanço quanto ao reconhecimento do lazer no con junto dos direitos sociais manteve nessa legislação uma conota ção estigmatizante e questionada por muitos Sobre isso Nelson Carvalho Marcellino 2001 analisa a inclusão do lazer no Título VIII Capítulo III seção III Do Desporto art 217 3º e último pa rágrafo do item IV que diz O Poder Público incentivará o lazer como forma de promoção social Para o autor a expressão promoção social é carregada de vícios assistencialistas compreendendo o lazer como utilidade e não como um dos fatores para o desenvolvimento social e hu mano Mesmo com limites apontados a inclusão do lazer nos direi tos constitucionais inaugurou algo novo nas nossas experiências políticas Ele deixa de ser considerado um benefício social conce dido apenas aos trabalhadores como coloca a Consolidação das Leis Trabalhistas CLT1946 passando a ser tratado no conjunto de medidas políticas necessárias à melhoria da qualidade de vida de todos Esse fato passou a desafiar governantes e a sociedade no sentido da elaboração e da implementação de políticas que pu 103 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer dessem reconhecer e proteger tal direito Esse desafio trouxe no seu bojo outro maior ainda ou seja a necessidade de repensar as políticas de lazer desenvolvidas como políticas de atividades sem reflexos sociais mais amplos e descontínuos nas ofertas para a população Esse desafio ampliouse à medida que na década de 1980 começaram a ser difundidos estudos sobre o lazer realizados em cursos de pósgraduação e grupos de pesquisas de diversos cam pos Essa difusão provocou contrapontos entre políticas fundadas no lazer concebido pelo mercado no lazer entendido como campo de criação humana e nas práticas de resistência à lógica do discur so consumista da época Como analisa Zingoni 2003 a partir dos anos 1980 os debates sobre cidadania passaram a envolver não só problemas relacionados a prerrogativas afirmação e garantia de direitos como ao provimento quantidade e diversidade de oportunida des e meios para o pleno exercício dos direitos Tarefa nada fácil em um país com tantas demandas e desigualdades sociais e com um Estado ainda marcado pelo discurso da competência puramen te técnica pela burocracia e pelo clientelismo na relação com os cidadãos Quarto Momento Década de 1990 aos Dias Atuais Lembremonos de que na década de 1980 mundialmente ocorre grande crise econômica nos países em desenvolvimen to exceto no leste e no sudeste da Ásia e desaceleração das taxas de crescimento nos países desenvolvidos que tem como sua principal causa a crise endógena do Estado social do Estado de BemEstar nos países desenvolvidos do Estado desenvolvimentista nos países em desenvolvimento e do Estado comunista crise que a globalização acentuou ao aumentar a competitividade interna cional e reduzir a capacidade dos Estados nacionais de proteger as empresas e seus trabalhadores Esta crise levou o mundo a gene ralizado processo de concentração de renda e aumento da violên cia sem precedentes mas também incentivou a inovação social na resolução dos problemas coletivos e na própria reforma do Estado BRESSERPEREIRA GRAU 1999 p 15 Recreação e Lazer 104 Já a década de 1990 no Brasil pode ser caracterizada por duas tendências A primeira é representada por uma série de re formas constitucionais que enfatizam os instrumentos da demo cracia direta dando oportunidade à participação cidadã na admi nistração pública a segunda por um claro esforço na transferência dos serviços sociais por parte do governo central atribuindo às comunidades papel especial nessa condução Combina então ge renciamento descentralizado dos recursos e criação de colegiados para sua administração GRAU 1998 Nessa mesma sociedade coexistem formas distintas de ver e agir politicamente Duas delas destacamse a que se pauta pelo interesse da acumulação de capital em detrimento de seus impac tos na vida humana especialmente dos mais excluídos e a que inclui a promoção dos sujeitos e a defesa da vida Desde a década de 1980 a política de visão neoliberal ado tada pelo governo federal brasileiro que teve como modelo as po líticas privatizantes e de desmonte do Estado de BemEstar Social estimulou o livre mercado e legitimou o debate entre as duas con cepções De um lado ficavam aqueles que defendiam um Estado mínimo com certa idealização do mercado motivados pelo discur so da ineficiência do Estado e da eficiência do mercado De outro aqueles que defendiam que o problema não estava no tamanho do Estado e sim na forma de gestão deste A partir da segunda metade dessa década expandiuse pelo país a discussão sobre fatores determinantes do desenvolvimento colocando em pauta as necessidades de provimento dos direitos do cidadão Isso implicou políticas que concebessem o desenvolvi mento não somente como possibilidade de crescimento econômi co mas também como distribuição equitativa dos resultados dos ativos gerados pois crescimento sem equidade é crescimento sem desenvolvimento ZINGONI 2002 A discussão sobre esses fatores implicou políticas que esta belecessem mediações entre o econômico o social o ambiental e 105 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer o humano com vistas à melhoria da qualidade de vida da popula ção e a um mercado orientado pela universalização do acesso aos bens e aos serviços oferecidos políticas pautadas por valores de sociabilidade cooperação e associativismo dentre outros Nesse contexto o debate sobre a participação renovouse revelando mudanças nos planejamentos políticos e reformas nas administrações municipais Os atores sociais e representantes de todos os setores têm aprendido a negociar propostas e a construir ações políticas capazes de enfrentar as desigualdades crescentes introduzindo a criação da cultura de participação Os avanços no âmbito jurídicolegal especialmente em de corrência da promulgação da Constituição de 1988 revelam re lações de responsabilidades compartilhadas do lazer com outras políticas sociais embora haja ainda uma distância significativa en tre a institucionalização dos direitos sociais expressos nas políticas públicas implementadas e as condições reais de conquistas dos di reitos pelas crianças pelos jovens adultos e idosos Ao mesmo tempo várias leis que implicam o lazer no conjun to de seus dispositivos passaram a nos desafiar a construir estraté gias e instrumentos de gestão que permitam efetivamente promo ver um amplo atendimento proporcionado por tais políticas Para isso tornaramse indispensáveis a participação e a di fusão de informações sobre esse aparato legal acompanhadas de discussões sobre possibilidades e limites a serem enfrentados rumo ao provimento necessário à conquista desses direitos É importante lembrarmos que a Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990 BRASIL 2012m que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente explicita o lazer como direito que deve ser asse gurado pela família pela sociedade em geral e pelo poder público devendo os municípios estimular e facilitar a promoção de progra mas culturais com foco no lazer e voltados à infância e à juventude Recreação e Lazer 106 O mesmo acontece com o Estatuto do Idoso Lei nº 10741 de 1º de outubro de 2003 BRASIL 2012q que explicita que os programas de lazer devem ser incentivados a proporcionar uma melhoria da qualidade de vida do idoso além de sua participação comunitária A questão do direito ao lazer está contemplada também na Política Nacional para a Integração das Pessoas Portadoras de Defi ciência Decreto nº 3298 BRASIL 2012j sendo o lazer tratado juntamente com a cultura o esporte e o turismo Na Lei nº 8080 Título I art 3º BRASIL 2012n o lazer é posto como um dos fatores determinantes da saúde de toda a população Na Lei nº 10216 art 4º BRASIL 2012p que dispõe sobre os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais destacase o lazer como um serviço obrigatório no tratamento dessas pessoas em regime de internação O Programa Nacional de Apoio à Cultura Pronac criado com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor inclui no seu Capítulo I o lazer como um dos seus objetivos tendo em vista salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar dos modos de lazer e de viver da sociedade brasileira Na trilha da implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 BRA SIL 2012o os Parâmetros Curriculares Nacionais ressaltam a Edu cação Física como área de conhecimento que cuida da educação corporal nela considerando a educação para a participação lúdica no lazer Se de um lado é animador esse quadro de orientações legais de outro a conquista plena do direito ao lazer continua ain da negligenciada por falta de consciência desse direito ou de in suficiente responsabilidade individual eou coletiva no jogo social para garantia desse direito 107 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Afinal o reconhecimento e a conquista de direitos não nas cem das pessoas a partir de um modo individual de lidar com suas obrigações e escolhas Ao contrário são conquistas socioculturais históricas reunindo sujeitos e grupos organizados conscientes dos sentimentos coletivos e do poder da participação conjunta Nesse sentido do final do século 20 ao início do 21 se vários aspectos mudaram no contexto brasileiro outros ainda se perpe tuam Novas demandas e crises econômicas têm alterado a estru tura do sistema de produção e do mercado de trabalho PINTO 2002 Continua crescente a competitividade nas políticas econô micas Mundialmente não falamos mais em Declaração Universal dos Direitos do Homem que mesmo representando um avanço no sentido da proclamação do direito ao lazer para além do direi to ao tempo de repouso não conseguiu a síntese entre liberdade igualdade e equidade Falamos hoje na Declaração Universal dos Direitos Humanos uma evidência a mais das lutas empreendidas pelos movimentos sociais nos últimos anos em prol da universali dade dos direitos e da inclusão Nas políticas públicas e privadas de modo geral e também nas de recreação lazer e educação física como tratado por Pinto 2002 a participação entra como uma inovação Aqui o novo não é percebido como um rompimento com o velho mas como um incremento das forças associativas em prol da garantia de di reitos O debate sobre a construção de direitos coloca as pessoas na posição central da construção de políticas e dá ao conceito de inovação novos sentidos O direito é visto no contexto da dinâ mica social que busca a cidadania e nessa dinâmica há o surgi mento ou o reascender de novos direitos Arretche 1998 lembra que o tema inovação veio à tona nos anos 1970 em consequência das transformações nos pro cessos produtivos em escala mundial Naquelas circunstâncias a inovação foi considerada um processo que envolve o uso a trans Recreação e Lazer 108 formação e a aplicação de conhecimentos técnicocientíficos em problemas relacionados à produção e ao lucro caráter comer cial ligado às transformações tecnológicas de mercado fomento de novos hábitos de consumo e difusão do padrão burocrático de gestão Com a globalização e as exigências do mercado esse debate transferiuse para a esfera de serviços e desta para o serviço pú blico e o âmbito do Estado A Reforma do Estado e a emergência de um Estado em ação demandaram mudanças na prestação dos serviços públicos implicando inovações dos significados de efi ciência eficácia e efetividade social das políticas implementadas Para Arretche 1998 a eficiência focaliza a relação entre es forço empregado na implementação da política e resultados alcan çados Pode ser medida pela capacidade de mobilizar e motivar o maior número possível de sujeitos para participar pela capacidade de promover parcerias de se articular com outras políticas e de administrar os recursos disponíveis A eficácia compreende a rela ção entre objetivos instrumentos explícitos de um programa e re sultados efetivos E a efetividade social de uma política referese à relação entre sua implementação e os impactos eou resultados sociais que alcança Nesse movimento histórico Estado e mercado passaram a constituir esferas com estruturas e dinâmicas diferentes As lutas pela democracia potencializaram a ampliação dos limites das po líticas provocando alterações em seus procedimentos e incorpo rando demandas coletivas pela revitalização do campo ético gra ças à participação associativa no nível de poder local No entanto essas inovações enfrentam barreiras Por exemplo em muitos municípios historicamente governados por oligarquias locais regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas pertencentes ao mesmo partido classe ou família as políticas ainda agem em benefício de interes ses particulares 109 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Além disso a urbanização acelerada agregou novos proble mas aos existentes deslocando esferas de decisão para os meios urbanos aumentando demandas em relação aos vários setores ur banos e no interior de cada um deles acentuando as diferenças de oportunidades para as camadas da população Após este breve passeio pelas políticas de lazer no Brasil por fim discutiremos a dialética entre a universalidade e a particulari dade das políticas 7 POLÍTICAS UNIVERSAIS OU FOCALIZADAS Incluir provém do verbo latino includere e significa colocar algo ou alguém dentro de outro espaço ou lugar Esse verbo latino por sua vez é a síntese entre o prefixo in e o verbo cludere que por sua vez significa fechar encerrar Nesse sentido há uma dialética entre a inclusão o de den tro e a exclusão o de fora como termos relacionais em que um não existe sem o outro Excluir é tanto a ação de afastar como a de não deixar en trar Ademais não se pode deixar de dizer que o preso excluído do convívio no seio social é ao mesmo tempo um incluído no sistema penitenciário Seguindo essa linha de raciocínio em uma sociedade que não emprega que desemprega que divide mal as riquezas e a ren da mas ao mesmo tempo estimula o desejo de consumir o mais novo o último modelo disso ou daquilo fica difícil falar em exclu são absoluta O desemprego sociologicamente é uma mão de obra dis ponível que disputa de fora o valor dos salários dos que já estão dentro E o desejoso de consumir mais e melhor o último modelo de tênis TV ou celular é psicologicamente um incluído Recreação e Lazer 110 Falar em políticas inclusivas supõe pois retomar o tema da igualdade e sob ele o da desigualdade As políticas inclusivas dessa maneira supõem de alguma forma a realidade de uma situação desigual e o horizonte de um estado menos desigual em direção a um mais igual Tais políticas podem ser entendidas como estratégias volta das para a generalização e a universalização dos direitos civis polí ticos e sociais Elas buscam pela presença interventora do Estado aproximar os valores formais proclamados no ordenamento jurí dico dos valores reais existentes em situações de desigualdade Elas se voltam para o indivíduo e para todos os indivíduos deven do ser proporcionadas pelo Estado pelo princípio da igualdade de oportunidades e pela igualdade de todos ante a lei Sendo assim essas políticas públicas não são destinadas apenas a grupos que são específicos como tais por conta de suas raízes culturais étnicas ou religiosas Isso não impede a iniciati va de medidas gerais que na prática acabam por atingir nume ricamente um maior número de indivíduos provindos das classes sociais populares e que possam ser também categorizados por exemplo por sua procedência étnica Essas políticas públicas também têm como meta combater todas e quaisquer formas de discriminação que impeçam o acesso a uma maior igualdade de oportunidades e de condições a quem por razões de associação entre desigualdade e discriminação é so ciologicamente mais desigual As políticas públicas inclusivas visam então a corrigir as fra gilidades de uma universalidade focada em todo e em cada indi víduo e que em uma sociedade de classes apresenta graus con sideráveis de desigualdade e de discriminação Nesse sentido as políticas inclusivas trabalham com os conceitos de igualdade e de universalização em vista da redução da desigualdade social 111 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Mas podese também entender o conceito de políticas inclu sivas dentro daquela qualidade histórica que Bobbio 1992 chama de especificação de direitos Tratase do direito à diferença no qual se mesclam as questões de gênero com as de etnia idade origem religião deficiência entre outras A presença de imigrantes provindos de excolônias ou de ou tros países repõe não só o tema da desterritorialização e dos fluxos migratórios como também o retorno de temas como tolerância e multiculturalismo no âmbito dos espaços nacionais perante as minorias ali presentes Tais políticas afirmamse como estratégias voltadas para a focalização de direitos para determinados grupos marcados por uma diferença específica A situação desses grupos é entendida como socialmente vulnerável seja por causa de uma história ex plicitamente marcada pela exclusão seja por causa da existência de circunstâncias naturais manifestas que produzem sequelas em termos de alguma deficiência A focalização desconfia do sucesso de políticas universalistas por uma apontada insuficiência de recursos A focalização em gru pos específicos permitiria então dar mais a quem mais precisa compensando ou reparando perversas sequelas do passado Ela se baseia no princípio da equidade Por esse princípio já se afirmava na Antiguidade Clássica que uma das formas de se fazer justiça é tratar desigualmente os desiguais A equidade não é uma suavização da igualdade Tratase de um conceito distinto porque faz uma dialética com a igualdade e a justiça ou seja entre o certo o justo e o equitativo Esse é o mo mento do equilíbrio balanceado que considera tanto as diferenças individuais de mérito quanto as diferenças sociais Ela visa sobre tudo à eliminação de discriminações Um das formas mais visíveis dessas políticas pode ser verifi cada na polêmica questão das cotas como expressão de ações afirmativas Recreação e Lazer 112 Assim a busca da igualdade maior entre os grupos vulnerá veis focalização abdica das iniciativas tendentes a garantir igual dade legal entre todos os indivíduos universalização Se considerarmos as graves dificuldades das contas públicas às voltas com o pagamento de dívidas e com as limitações de re cursos para os investimentos em direitos sociais universais a fo calização não deixou de ser uma estratégia dos Estados para uma alocação específica de recursos revestindose na maioria das ve zes de uma política de compensação A relação entre o direito à igualdade de todos e o direito à equidade em respeito à diferença no eixo do dever do Estado e do direito do cidadão não é uma relação simples De um lado é preciso fazer a defesa da igualdade como prin cípio dos direitos humanos da cidadania e da contemporaneida de Políticas públicas de caráter igualitário de saúde educação esporte e lazer segurança e habitação respondem por um hori zonte em que todos os indivíduos possuam os mesmos direitos sem descriminações de quaisquer espécie tais como gênero raça etnia religião Ou seja tratase de efetivar a igualdade de oportu nidades e de condições ante um direito reconhecidamente inalie nável da pessoa humana É preciso considerar que as políticas universais por vezes ficam formais e sem uma efetivação real Sendo assim as desigual dades continuam a mostrar um espectro inaceitável sob qualquer ponto de vista Um tratamento apenas formalmente igualitário não pode ser um biombo para a eternização de desigualdades e discriminações Neste instante uma pergunta se faz necessária Mas como foca lizar certos grupos em face do princípio igualitário da cidadania Não há sociedade que não seja plural em termos de culturas etnias religiões meios sociais dentre outras possibilidades 113 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Aqui se torna indispensável uma maior clareza e uma distin ção entre políticas de reconhecimento e políticas de distribuição As políticas de reconhecimento possuem horizonte e conteúdo positi vos em relação ao olhar sobre o outro enquanto as políticas de dis tribuição se voltam para os direitos sociais para a riqueza e a renda As segundas partem da existência de uma exploração socioe conômica de uma marginalização social enfim de algo a que hoje se dá o nome genérico por vezes impreciso de exclusão Nesse caso a equidade se impõe como forma de redistribuição de renda e de riqueza é uma garantia aos direitos sociais por meio de opor tunidades iguais de acesso aos bens sociais mais fundamentais para uma vida digna Contudo distribuir bens sociais por meio de políticas públi cas não significa necessariamente abrigar políticas de reconheci mento E inversamente reconhecer valores culturais específicos não quer dizer distribuição de bens sociais É dever da sociedade e do Estado respeitar as liberdades dos indivíduos para exercer papéis sociais diferenciados e se filiar a grupos sociais específicos com escolhas religiosas culturais entre outras compatíveis com a cidadania e com os direitos humanos Tal pluralidade é visível sobretudo quando grupalizada em mani festações evidentes Se as diferenças são visíveis e imediatamente perceptíveis especialmente no caso das pessoas com necessidades especiais o mesmo não ocorre com o princípio da igualdade O princípio da igualdade não é visível a olho nu seu contrá rio a desigualdade é fortemente perceptível em nossa sociedade tanto quanto são perceptíveis as diversas formas de discriminação É dever do Estado gerir tais diferenças com isenção com petência e transparência assegurando a coesão social pela cons trução de uma cidadania aberta a todos respeitados os princípios comuns da existência coletiva Recreação e Lazer 114 Em síntese podemos afirmar que das tensões discutidas ao longo deste tópico surgem as políticas universalistas ou foca lizadas que por sua vez dependem das opções de políticas mais amplas e cuja implementação deve contar com a crítica dos inte ressados 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Pautandose nos estudos realizados nesta unidade assim como em outras referências consultadas explique o que significa a afirmação de que o lazer é um direito social 2 A partir do estudo da trajetória histórica da presença ausência do lazer nas Constituições Federais responda quais são as principais transformações ocorridas nestes documentos legais 3 O estudo do percurso histórico das políticas de lazer em nosso país é de grande valia para compreendermos a visão dessa prática social em um dado contexto históricosocial Diante dessa afirmação cite as principais caracte rísticas das políticas de lazer nos seguintes períodos da história a pósSegunda Guerra Mundial b décadas de 1960 e 1970 c década de 1980 d década de 1990 aos dias atuais 9 CONSIDERAÇÕES Em síntese essa releitura histórica das políticas de lazer no Brasil nos mostra que o lazer não é uma esfera social isolada Inse rese nas relações sociais e é perpassada por relações de poder da mesma forma que toda a sociedade Nesse contexto mesmo imbuídos da necessidade e dos de sejos de mudanças históricas estamos sempre em confronto com vários interesses políticos econômicos e outros 115 Claretiano Centro Universitário U2 Dimensões Políticas do Lazer Os quatro momentos históricos identificados mostram nossa leitura de como o lazer foi se constituindo como campo com in fluência política na construção e na reconstrução de cada período histórico analisado Nesses contextos ao mesmo tempo que o lazer participou da reprodução social abriu espaços importantes para a reversão de valores e dos papéis sociais e históricos pois o lazer é um dos campos de reprodução da ideologia dominante e de desigualda des sociais além de ser campo de produção crítica sobre suas pró prias relações e com a sociedade A consciência da importância do lazer nas políticas sociais motivanos a aprofundar os estudos sobre as possibilidades de ele integrar as ações políticas de transformação social Esse é o desa fio da nossa próxima unidade de estudo 10 EREFERÊNCIAS Sites pesquisados BRASIL Constituição 1891 Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil de 1891 Diário Oficial da República Federativa do Brasil Rio de Janeiro RJ 24 fev 1891 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03constituicao constituiC3A7ao91htm Acesso em 18 set 2012 Constituição 1934 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 Diário Oficial da República Federativa do Brasil Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03constituicao constituiC3A7ao34htm 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httpwwwplanaltogovbrccivil03constituicaoconstituiC3A7aohtm Acesso em 11 set 2012 f Declaração Universal dos Direitos Humanos Adotada e proclamada pela Resolução 217 A III da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 Disponível em httpportalmjgovbrsedhctlegisinternddhbibinter universalhtm Acesso em 18 set 2012 g Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais de 1966 Aprovado pelo Decreto Legislativo nº 226 de 12121995 e promulgado pelo Decreto nº 591 de 1992 Diário Oficial da República Federativa do Brasil Brasília DF 07 jul 1992 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03decreto19901994D0591htm Acesso em 18 set 2012 h Decreto nº 591 de 6 de julho de 1992 Atos Internacionais Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais Promulgação Diário Oficial da República Federativa do Brasil Brasília DF 7 jul 1992 Disponível em httpwwwplanaltogov brccivil03leis2003l10741htm Acesso em 19 set 2012 i Decreto nº 3298 de 20 de dezembro de 1999 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direitos Rio de Janeiro Campus 1992 BRESSERPEREIRA Luiz Carlos GRAU Nuria Cunill Entre o estado e o mercado o público nãoestatal In Org O público nãoestatal na reforma do estado Rio de Janeiro FGV 1999 p 1548 CARVALHO José Murilo Cidadania no Brasil o longo caminho Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 CHAUÍ Marilena Direitos humanos e medo In FESTER Antonio Carlos Ribeiro Org Direitos humanos em debate São Paulo Brasiliense 1989 p 1535 DE MASI Domenico O ócio criativo Rio de Janeiro Sextante 2000 DRAIBE Sônia As políticas sociais brasileiras diagnósticos In IPEAIplan Para a década de 90 prioridades e perspectivas de políticas públicas Brasília IPEAIplan 1990 p 166 GOMES Christianne Luce Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Editora da UFMG 2008 GRAU Núria Cunill Repensando o público através da sociedade novas formas de gestão pública e representação social Rio de Janeiro Revan Brasília ENAP 1998 LAFARGUE Paul O direito à preguiça São Paulo Editora UnespHucitec 1999 Recreação e Lazer 118 MARCELLINO Nelson Carvalho Org Lazer esporte e políticas públicas Campinas Autores Associados 2001 MARCELLINO Nelson Carvalho et al Lazer e trabalho no cotidiano da sociedade pós industrial a partir da obra de Domenico de Masi publicada no Brasil Licere Belo Horizonte v 7 n 2 p 7385 2004 MARSHALL Thomas H Cidadania classe social e status Rio de Janeiro Zahar 1967 MARX Karl ENGELS Friedrich Manifesto comunista 1ª ed rev São Paulo Boitempo 2010 PINTO Leila Mirtes Santos de Magalhães Lazer e estilos de vida reflexão e debate na perspectiva da virada da contemporaneidade In PINTO Leila Mirtes Santos de Magalhães BURGOS Miria Org Lazer e estilos de vida Santa Cruz do Sul Edunisc 2002 Políticas públicas de esporte e lazer caminhos participativos Motrivivência Florianópolis v 10 n 11 p 4768 1998 Sentidos de significados de lazer na atualidade estudo com jovens belo horizontinos 2004 199f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais 2004 PRZEWORSKI Adam Capitalismo e socialdemocracia São Paulo Cia das Letras 1989 TRINDADE José Damião de Lima História social dos direitos humanos São Paulo Peirópolis 2002 ZINGONI Patrícia Descentralização e participação em gestões municipais de esporte e lazer In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Autêntica 2003 p 217264 Lazer como fator de desenvolvimento regional a função social e econômica do lazer na atual realidade brasileira In MÜLLER Ademir COSTA Lamartine Pereira da Org Lazer e desenvolvimento regional Santa Cruz do Sul Editora da Unisc 2002 p 5382 EAD Interfaces entre o Lazer e a Educação 3 1 OBJETIVOS Enfatizar a relação entre o lazer e a educação como cam pos de estudos Apresentar e discutir o conceito de campo Apresentar estudos que articulam lazer e educação Apresentar estudos que articulam educação e lazer Apresentar e ilustrar com exemplos os conteúdos cultu rais do lazer 2 CONTEÚDOS A educação na contemporaneidade O campo de estudos do lazer Articulações entre lazer e educação Interesses culturais do lazer Recreação e Lazer 120 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Para ampliar seus conhecimentos sobre a Lazer e Edu cação procure distribuir os períodos de estudo orga nize seu horário de maneira que não fique saturado e procure variar seu programa alternando as ações de escrever ler refletir participar na Sala de Aula Virtual realizar atividades etc 2 Para profundar os principais conceitos tratados nesta unidade faça uma consulta à bibliografia indicada no tó pico Referências Bibliográficas 3 Para enriquecer seu estudo navegue nos sites indicados ao final desta unidade 4 Pesquise experiências de lazereducação desenvolvidas em diversos contextos sociais 5 Você sabia que a dificuldade de se concentrar é um dos problemas básicos de muitos estudantes Como conse quência as horas dedicadas ao estudo podem prolongar se e os resultados podem não ser os esperados Assim procure realizar intervalos regulares de tempo a cada 30 40 ou 50 minutos durante o estudo desta unidade Ah lembrese de que na Educação a Distância você faz parte de um grupo de construção do conhecimento 6 Faça um levantamento de trabalhos científicos que arti culem as dimensões do lazer e da educação facilitando assim o entendimento desta unidade 7 Ao mesmo tempo em que não podemos desconsiderar a faceta consumista e prática do lazer procure ao longo desta unidade analisar a relação entre o lazer e a educa ção sob um ponto de vista crítico e reflexivo 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Podemos afirmar que em nosso país foi a partir de 1970 que o lazer deixou de ser visto como um tema estudado por ini 121 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação ciativas particulares e passou a ser tratado como uma área capaz de impulsionar pesquisas projetos e ações coletivas e institucio nais Nesse contexto ganham destaque os estudos que articulam o campo do lazer e o campo da educação especialmente pela abrangência deste último Esta unidade tem como objetivo situar você nesses estudos enfatizando como a articulação entre lazer e educação foi e vem sendo construída em nosso contexto Para atingir esse objetivo dialogaremos um pouco sobre a educação na contemporaneidade e definiremos posteriormente o que vem a ser um campo de estudos uma vez que o lazer dessa maneira vem se constituindo de forma legítima Em seguida faremos uma apresentação dos principais te mas desenvolvidos nos estudos que se debruçaram sobre o lazer e a educação Esse encaminhamento possibilitou a identificação das ênfases dadas aos objetos de pesquisa tanto em um campo como em outro 5 A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Propomos um diálogo sobre o significado da educação em nosso contexto social tendo a sociedade globalizada e informati zada deste século 21 como referência O que estamos entendendo por educação O que essa nova configuração trouxe para o contexto educacional O que preten demos para os sujeitos que estamos educando Essas questões de que trataremos devem ser respondidas a fim de que tenhamos em nossos horizontes um papel definido ao atuarmos no campo do lazer A cada dia percebemos que a sociedade em que vivemos tem se modificado Tudo tem acontecido muito rapidamente Res postas que antes nos convenciam e confortavam hoje não aten dem mais às nossas expectativas Recreação e Lazer 122 A ciência tem se desenvolvido de forma acelerada Nossas verdades foram abaladas e têm se tornado cada vez mais provi sórias A comunicação entre os homens tornouse facilitada as fronteiras geográficas foram diluídas o capitalismo reina em qua se todo o mundo Guerras e conflitos de todo tipo estão cada vez mais presentes Diante dessas e de tantas outras constatações precisamos nos posicionar de forma crítica e é essa a função da educação que também se vê diante da necessidade de ser repen sada e ressignificada Estamos convencidos de que neste contexto social a esco la continua tendo papel de destaque na formação humana mas sozinha ela não tem dado conta dessa responsabilidade pois são muitas as informações a serem filtradas vindas de várias dire ções Sendo assim outros projetos educativos presentes na vida ganham destaque Entre eles podemos citar as contribuições do lazer como uma ação socioeducativa Para principiarmos nosso diálogo consideramos fundamen tal rever determinados fundamentos apoiados na antropologia cruciais para nossa compreensão de educação Como afirmam os estudos antropológicos o homem ser hu mano não nasce homem ele tornase homem Todos os homens são iguais como espécie Nascemos no mundo da natureza e nos sas necessidades de cuidado alimento afeto entre outras são as mesmas em todo o mundo Mas em uma análise a partir de outra perspectiva podese afirmar que o homem também é diferente de todos pois assim que nascemos para o mundo da natureza nasce mos também para o mundo da cultura e isso ocorre de maneiras diferenciadas em cada parte deste planeta A diversidade cultural colocanos diante da constatação de que os processos educativos variam conforme o grupo social no qual são desenvolvidos É importante ressaltar que lamentavel mente a diversidade não tem sido entendida como diferenças que enriquecem e cada vez mais tem sido usada para justificar as 123 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação desigualdades sociais Daí o fato de convivermos ainda nos dias atuais com o racismo a intolerância e a violência para com deter minados grupos Os indivíduos participam de maneiras diferentes dentro de sua cultura Essa participação tem uma relação direta com a edu cação e é sempre limitada uma vez que ninguém é capaz de par ticipar de todos os elementos de sua cultura Isso pode ser obser vado quando analisamos por exemplo as relações de gênero nas quais a participação masculina é destacada em quase todas as so ciedades Desde cedo por meio das brincadeiras as crianças são educadas para cumprir os papéis sociais a elas designados Sendo assim aprendem o que significa ser homem e ser mulher e o que se espera de cada um deles naquela sociedade ALVES 2003 Também a idade interfere nessa participação Cada cultura define o que é ser criança jovem adulto ou idoso e o que é per tinente a cada um O acesso à educação escolarizada e aos bens culturais assim como as opções religiosas políticas e sexuais faz parte dessas limitações Entretanto tais limitações são importan tes e devem existir pois movem a necessidade dos sujeitos de se relacionar com os demais membros de sua sociedade Dessa de pendência em relação ao outro é que surgem as regras de convi vência a necessidade do controle das ações e a educação Sem esses mecanismos de controle cultura a vida em sociedade seria um caos LARAIA 2001 Ao ser inserido no mundo da cultura o homem vive um pro cesso de humanização que se materializa no corpo e se concretiza por meio de ações educativas Por meio desse processo somos conduzidos a disciplinar o corpo a transformar o mundo em lin guagem a interagir com outros seres humanos e com o universo construindo a realidade a partir dessa relação Cada conjunto de homens interioriza os símbolos exteriores e reproduz os conceitos pertinentes àquele grupo social No clás sico texto de Marcel Mauss 1974 intitulado As técnicas corpo Recreação e Lazer 124 rais o autor afirma que a imitação é o primeiro processo de edu cação do homem Sendo assim a educação é uma produção social a partir da qual cada indivíduo extrai as bases para a construção de seu mundo próprio pessoal e intransferível Educar é humanizar o homem e sem esse processo ele não se constrói social política e historicamente Cabe destacar no processo de educaçãohumanização do homem o papel fundamental desempenhado pela família pela escola pela Igreja pelo trabalho pelo lazer e pelos sistemas de comunicação entre tantas outras dimensões e instituições sociais cada uma com seus modos e finalidades particulares Como herança histórica o homem recebe o mundo cons truído antes do seu nascimento Mas cada sujeito interfere na re alidade e pode construir outras possibilidades pois ele também é um ser capaz de produzir cultura Além disso o homem é livre para ser criar escolher Parece simples mas essa possibilidade é complexa pois ser livre e responsável pelas próprias escolhas exige que a educação desenvolva a sensibilidade do sujeito para que este tenha consciência da dimensão de sua própria liberdade que é socialmente construída bem como de sua participação criativa no mundo Se recorrermos a uma definição bastante abrangente de que educação é transmissão de cultura RIOS 1997 e que cultura é tudo o que resulta da interferência dos homens no mundo que os cerca e do qual fazem parte podemos afirmar que a educação ex trapola o sistema formal de ensino Seguindo essa linha de raciocí nio tudo o que transmitimos e tudo o que recebemos é educativo Querendo ou não assumir a postura e a responsabilidade de um educador estamos cotidianamente educando e sendo edu cados A responsabilidade de estarmos atentos ao nosso fazer co tidiano agindo em prol da qualidade das relações interpessoais deve ser uma atitude assumida por qualquer cidadão Esse com promisso tornase mais significativo quando se refere a uma área 125 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação específica de atuação como a dos profissionais de lazer em que sua ação profissional é centrada no ser humano ao vivenciar cor poralmente uma das dimensões imprescindíveis para o seu pro cesso de tornarse verdadeiramente humano Temos sido educados apesar de algumas iniciativas contrá rias em um ambiente alienante em que o observador ingênuo vê o mundo constituído de elementos independentes uns dos outros o que também é perceptível no campo do lazer Nosso sistema educacional fruto do pensamento moderno continua a nos en sinar a analisar a isolar os objetos a separar os problemas mas salvo raríssimas exceções não nos tem ensinado a articulálos uns com os outros Esse ambiente desarticulador é reforçado pela ide ologia capitalista que está diretamente relacionada à ocultação ou distorção dos fatos e com uma comunicação que torna a realidade meio invisível e dissimulada Imersos nessa atmosfera muitos profissionais entre os quais os da área do lazer têm se restringido ao desempenho de tarefas essencialmente práticas cujas finalidades podem estar simplifica das obscurecidas ou mascaradas Atuando dessa forma podere mos alcançar objetivos para os quais talvez não trabalhássemos se tivéssemos pleno conhecimento de seus desdobramentos e impli cações sociais políticas e pedagógicas Mesmo que não tenhamos consciência nossas ações e omis sões sempre comunicam algo fundamentandose em princípios e normas construídos culturalmente Rejeitando a posição ingênua ou indefinida dos estudiosos Paulo Freire 2000 nos alerta para o fato de que ninguém pode estar no mundo com o mundo e com os outros de forma neutra Por mais adaptados inconscientes pa catos e acomodados que possamos estar sempre nos colocamos a serviço de algo Sendo assim se não nos posicionarmos de forma clara atuaremos como importantes multiplicadores e defensores das coisas como estão Recreação e Lazer 126 Não podemos mais ignorar a urgência de universalização da cidadania que por sua vez requer uma nova ética Podemos nos lançar a esse desafio obtendo informações pertinentes e nos tor nando mais vigilantes em relação ao que pensamos e especial mente em relação ao que fazemos Acreditamos que transformar a experiência educativa em puro adestramento é amesquinhar o que há de fundamentalmen te humano no exercício educativo seu caráter formador Ensinar e um profissional da área do lazer ensina muito exige compre ender que a educação é uma forma de intervenção no mundo Não podemos ser educadores a favor simplesmente do ho mem ou da humanidade É uma intenção louvável mas muito vaga em face da concretude da prática educativa Ainda inspirados em Paulo Freire acreditamos também que devemos ser educadores a favor da liberdade contra o autoritarismo a favor da autorida de contra a desordem Devemos lutar pela democracia e contra qualquer forma de discriminação Somos educadores a favor da esperança que anima e contra o desengano que imobiliza espe cialmente nos dias de hoje Em suma a educação pode ser entendida como um processo de transmissão e construção de cultura sendo esta resultante da interferência humana no mundo Seu papel na atualidade é formar os sujeitos para que desenvolvam o pensar crítico compreendam o contexto no qual são constituídos e ampliem sua capacidade de criação elementos básicos para a superação dos desafios coloca dos para a humanidade neste início de século Como cidadãos somos convocados a pensar nos efeitos da globalização na ocidentalização do mundo na velocidade das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação na explosão das novas tecnologias da informação na exacerbação do individu alismo e da competitividade na crise do trabalho enfim na dinâ mica da sociedade que prevalece no momento presente 127 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Como destaca Alves 2003 o tempo atual é o dos fluxos de informações conhecimentos e imagens que são constituídos de formas interdependentes Tais características introduzem novas estruturações sociais no que diz respeito às relações entre os in divíduos e às novas formas de agrupamentos provocando manei ras diferentes de se situar nos tempos e nos espaços imprimindo um novo desenho para a sociedade Um bom exemplo são as mu danças provocadas pelas TVs a cabo e pela internet que rompem fronteiras mesmo que virtuais possibilitando novas interações e construções dos sujeitos com o tempo e o espaço Esse novo desenho social evidencia ainda a necessidade de se refletir sobre os problemas advindos desse contexto entre outros a produção de lixo em excesso as consequências do uso indiscriminado das reservas naturais a possível falta de água potá vel o aquecimento global e a revolta da mãenatureza É portan to dentro dessas novas configurações societárias que a educação precisa assumir o desafio de humanizar o homem desenvolvendo competências e habilidades para que este possa compreender sua realidade intervindo nela de forma consciente É a partir desse entendimento do papel da educação na so ciedade contemporânea que definiremos o campo de estudos do lazer para posteriormente pensarmos na articulação de ambos no sentido de superação dos desafios colocados pelas contradi ções presentes em nosso cotidiano 6 RECONHECENDO O CAMPO DE ESTUDOS DO LA ZER Antes de iniciarmos nossas reflexões sobre alguns dos estu dos que se dedicam ao tema lazer e educação julgamos pertinen te definir o que estamos entendendo por campo Gomes 2008 pautada no pensamento de Bourdieu nos aponta que a noção de campo serve para designar universos dife Recreação e Lazer 128 rentes que são regidos por um mesmo modo de pensamento Essa característica permite o estabelecimento de leis gerais e invarian tes e são elas que possibilitam a compreensão da estrutura e do funcionamento dos campos Dessa forma cada campo se particulariza em função de va riáveis secundárias e do grau de autonomia que possui Existem dessa forma campos tão diversificados como as múltiplas formas de interesse podendose falar em campo político campo esporti vo campo religioso campo científico e vários outros A condição de ingresso em determinado campo é justamente a crença na sua importância Ainda pautada no pensamento de Bourdieu a autora des taca o valor de se conhecer profundamente a lógica de um cam po Para isso é necessário apreender os elementos implícitos na crença que sustenta determinado campo compreender o jogo de linguagem que nele se joga e os aspectos materiais e simbólicos nele gerados Em sua estrutura o campo também é um espaço definido pelo estado de relação de forças entre formas de poder Sendo assim para que um campo funcione é preciso que haja objetos de disputas e pessoas prontas para disputar o jogo dotados de habitus que impliquem o conhecimento e o reconhecimento das leis ima nentes do jogo dos objetos de disputas etc BOURDIEU CITADO POR WERNECK 2000 p 78 Entre outros elementos um campo dentre os quais o cam po de estudos do lazer se estabelece por meio da definição dos seus interesses específicos assim como dos objetos que merecem ser disputados Para ficar mais claro o que estamos querendo dizer os obje tos de disputa em um dado campo podem ser conceitos teorias correntes de pensamento linhas de ação Esses objetos que estão sendo disputados entretanto só são percebidos por aqueles que foram criados para entrar neste campo por aqueles que fazem par te do jogo e conhecem suas regras 129 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Partindo do pressuposto de que o lazer representa um cam po em processo de constituição em nosso país é possível perceber que ele não se encontra totalmente estruturado e por esse moti vo possui um relativo grau de autonomia Em termos de produção científica muitos de seus estudos ainda não alcançaram o nível de amadurecimento consistência e profundidade com que outras áreas abordam determinadas questões como é o caso da educa ção GOMES 2008 Conforme salientam Melo e Alves Júnior 2003 a maioria dos estudos sobre o lazer tem se constituído sob a forma de rela tos de experiências que não partem de uma compreensão teórica aprofundada e os trabalhos de pesquisa mesmo apresentando uma discussão consistente sobre o lazer nem sempre apontam ca minhos necessários para promover um avanço qualitativo nesse campo Esse quadro faz parte do processo de amadurecimento do lazer por isso a produção teórica requer contribuições de campos já estruturados A busca de fundamentos em outras áreas não des qualifica os estudos específicos sobre o lazer uma vez que essas contribuições enriquecem as análises multidisciplinares sobre o nosso campo de estudos GOMES 2008 Uma vez discutido o entendimento de campo nosso olhar será direcionado para algumas iniciativas que relacionam lazer e educação especialmente as contribuições que esta última vem trazendo para a área em questão Nossa intenção é inserir você nesses debates Entretanto se ria praticamente impossível abarcar nesta unidade toda essa pro dução uma vez que encontramos estudos sobre a temática tam bém em interfaces com a pedagogia a psicologia a sociologia a antropologia entre outros Nossa opção foi direcionar os olhares para o campo de estu dos que envolve o lazer Tal encaminhamento revela que reconhe cemos hoje a constituição de um campo que se constrói mediante Recreação e Lazer 130 o desenvolvimento de diversos empreendimentos que assumem o lazer como seu objeto de estudos Entre essas ações podemos citar a composição de grupos de estudo a realização de eventos científicos a publicação de livros revistas e artigos o desenvolvimento de cursos em diversos níveis e a realização de pesquisas projetos e intervenções sobre o lazer que serão discutidos a seguir 7 ARTICULAÇÕES ENTRE O LAZER E A EDUCAÇÃO A preocupação em associar lazer e educação pode ser loca lizada inicialmente nas primeiras décadas do século 20 período em que encontramos registros sobre o tema como pode ser veri ficado nos estudos de Marcassa 2002 e Gomes 2003 Foi na segunda metade desse século especialmente na dé cada de 1970 que observamos a preocupação de articular lazer e educação ser acentuada Esse interesse não foi por acaso nesse período o processo de desenvolvimento industrial capitalista ob teve um impulso no país alcançando vários municípios brasileiros e demandando a formação de uma força de trabalho cada vez mais laboriosa e produtiva No seio desse processo lazer e educação adquiriram impor tância vital pois juntos poderiam afastar os perigos do ócio da indolência e da preguiça De acordo com esse pensamento todos precisavam ser educados nos momentos de lazer para que este co laborasse de alguma forma com a reposição das energias gastas no trabalho e com o alívio das tensões vividas ao longo da semana Esse contexto impulsionou estudos que mobilizaram profis sionais de diversas áreas Uma das iniciativas que deu visibilidade a esse momento foi o I Encontro Nacional Sobre o Lazer realizado em 1975 no Rio de Janeiro no qual a educação se fez presente nas discussões Nessa ocasião houve a discussão de questões per tinentes àquele contexto histórico que de outro modo ainda se 131 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação fazem presentes nos dias de hoje como o uso do tempo no lazer e o papel da educação Algumas considerações de Requixa 1979 p 21 publicadas nessa época também merecem ser registradas De acordo com o autor a educação deveria ser entendida como o grande veículo para o desenvolvimento e o lazer um excelen te e suave instrumento para impulsionar o indivíduo a desenvolver se a aperfeiçoarse a ampliar os seus interesses e a sua esfera de responsabilidades Essa condição é vista como indispensável para a garantia do bemestar e para o atendimento de necessidades e aspirações de ordem individual familiar comunitária dentre outras Entretanto o próprio autor destaca que o lazer não pode ser encarado apenas como um meio ou instrumento de educa ção Preocupado com essa questão Requixa 1980 faz menção ao duplo aspecto educativo do lazer que é pautado nas seguintes premissas o lazer como veículo de educação a educação pelo lazer o lazer como objeto de educação a educação para o lazer As reflexões inicialmente apresentadas por Requixa 1980 e posteriormente difundidas e ampliadas por autores como Mar cellino 2010 e Camargo 1998 também tratam da questão do duplo aspecto educativo do lazer Falar em duplo aspecto educativo do lazer é reconhecêlo como veículo e objeto privilegiado de educação MARCELLINO 2010 Em se tratando do lazer como veículo de educação educa ção pelo lazer devemos considerar o seu potencial no processo de desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos As atividades de lazer vivenciadas no tempo disponível são capazes de cumprir seus objetivos conhecidos como consumatórios relaxar e propor cionar prazer às pessoas que a elas se entregam como também contribuir para a leitura e o entendimento da realidade na qual estamos inseridos Recreação e Lazer 132 Nesse caso o próximo passo seria o reconhecimento das responsabilidades sociais de cada indivíduo por meio da sensibi lização pessoal o que estimularia sentimentos de solidariedade e anseios de transformação coletiva da realidade A concretização dessas possibilidades vem pela atuação no plano cultural via lazer tendo em vista o estabelecimento de uma nova realidade moral e intelectual que favoreça mudanças na esfera social Além da importância de se educar em momentos em que se vivência o lazer Marcellino 1990 p 82 considera a importância de se educar para o lazer um aprendizado que tornaria o homem mais consciente ao usar seu tempo livre Sobre isso o autor co menta considero que para o desenvolvimento de atividades no tempo disponível de atividades de lazer que no plano da produ ção quer no do consumo não conformista e crítico é necessário aprendizado Abordando esse outro aspecto do lazer ou seja visto como objeto de educação educação para o lazer não só devemos esti mular a prática de atividades diversificadas de lazer como também demonstrar a importância desse fenômeno para os indivíduos A educação para o lazer foco principal deste estudo torna se dessa maneira um instrumento de defesa contra a homoge neização e internacionalização dos conteúdos veiculados pelos mais diversos meios de transmissão cultural despertando nos in divíduos um espírito crítico frente às atividades vivenciadas O duplo processo educativo do lazer quando apropriado de uma forma coerente e crítica possibilita a vivência de um lazer crítico e gratificante mesmo com um mínimo de recursos ou con tribui para a organização de grupos de interessados em sua práti ca para a reivindicação de recursos necessários junto aos órgãos competentes Essas e outras constatações evidenciam a necessidade de reconhecermos as discussões sobre esse assunto motivo pelo qual fomos incentivados a fazer uma análise da produção teórica 133 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação no lazer com o objetivo de compreendermos melhor a interação entre esses dois campos Para isso apresentaremos no campo do lazer alguns livros que se articulam com a educação No campo da educação por sua vez propomos que se pense a respeito da abertura encontrada por alguns pesquisadores para estudar o lazer em cursos de pósgraduação stricto sensu Propo mos também a análise dos anais do evento anualmente realizado pela Associação Nacional de Pesquisas da PósGraduação em Edu cação Anped por ser este um dos principais encontros da área em nosso país Esperamos que essa iniciativa signifique um ponto de parti da para que você se sinta estimulado a pesquisar outros textos co nhecer as produções de outros grupos de estudos analisar outras obras como por exemplo aquelas publicadas em outras áreas e examinar outros eventos que também exploram essa questão Livros sobre lazer e educação Ao fazer um levantamento dos livros que articulam lazer e educação encontramos as seguintes obras publicadas a partir da década de 1980 Educação e lazer a aprendizagem permanente ROLIM 1989 Lazer e educação MARCELLINO 2010 Pedago gia da animação 1990 Educação para o lazer CAMARGO 1998 Lazer trabalho e educação relações históricas questões contem porâneas GOMES 2008 e Lazer como prática da liberdade uma proposta educativa para a juventude MASCARENHAS 2003 Considerando a importância desses textos para as nossas re flexões destacaremos as abordagens desenvolvidas pelos autores Chamamos a atenção para o contexto de produção desses escritos visto que desde a década de 1980 até os dias atuais a sociedade brasileira tem passado por mudanças significativas especialmente nas relações com o trabalho o lazer e a educação o que demanda respostas diferenciadas em cada momento específico Recreação e Lazer 134 Rolim 1989 colocanos diante de referências teóricas sobre o lazer introduzidas em nosso país Apesar de os temas não serem tratados com profundidade a autora mostra que a aprendizagem por meio do lazer pode ultrapassar o período da formação escolar e se estender à vida cotidiana contribuindo para o pleno desen volvimento do indivíduo Camargo 1998 p 13 tece considerações sobre a educação para o lazer A preocupação básica do autor é tornar as pessoas mais aptas para desfrutar adequadamente de um tempo livre novo criado pela primeira vez na história da civilização que não acarreta perdas na produção econômica e traz ganhos à qualidade de vida Essa obra foi preparada como livro paradidático destinado especialmente a alunos do Ensino Médio jovens inquietos com o futuro profissional Ela apresenta um painel panorâmico sobre diversos assuntos relacionados ao lazer tais como trabalho tempo livre lazer ludismo diversão formação e atuação de profissionais nessa área Com essa obra o autor pretendeu introduzir a discussão so bre o lazer na primeira juventude justificando que nessa fase os sonhos estão quentes ainda não se perdeu a espontaneidade tão necessária para se viver o lúdico e se pode apostar em uma vida na qual o trabalho a família e o lazer caminhem de forma in tegrada Apesar de muitas ideias contidas no livro suscitarem críti cas e polêmicas entre os estudiosos da área a obra contribui para uma discussão introdutória sobre o lazer para outras camadas da população Podemos constatar que a obra Lazer e educação de Mar cellino 2010 foi a que mais se destacou nas pesquisas acadê micas que relacionam esses dois campos Esse livro foi fruto do trabalho de mestrado do autor na área de Filosofia da Educação e discute as relações existentes entre o lazer a escola e o processo educativo 135 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Partindo de seu entendimento sobre lazer e educação o au tor aprofunda reflexões sobre a importância do papel da escola quando considera o lazer em seu duplo aspecto educativo ou seja como veículo e objeto de educação A relação entre lazer e escola é pontuada quando Marcellino 2010 discute a instituição escolar procurando compreender como ela prepara os sujeitos para a ocu pação do tempo Inevitavelmente emerge na discussão o papel de algumas disciplinas consideradas mais próximas do lazer tais como educação física educação artística e literatura Entretanto o autor observa que essa visão precisa ser superada porque o lazer não se restringe a determinadas disciplinas Por fim Marcellino apresenta a proposta de uma pedago gia da animação buscando caminhos alternativos para ações que privilegiem o campo cultural nas escolas Essa obra é um marco nas produções teóricas do lazer e educação e deve ser lida por aqueles que pretendem aprofundar seus estudos considerando obviamente o contexto de sua produção e o fato de que para tra tar da educação o autor privilegia o universo escolar A proposta da pedagogia da animação foi aprofundada por Marcellino em 1990 em obra de mesmo título O autor ques tiona a ausência do lúdico na educação brasileira e propõe a sua inserção nas escolas como um componente da cultura sobretudo nas séries iniciais Alerta que não se trata de um manual de ativi dades dirigido aos educadores e sim de uma reflexão filosófica em busca de argumentos para sua existência nos meios escolares Como diz o próprio autor a pedagogia da animação estaria ligada à criação de ânimo à provocação de estímulos e à cobrança da esperança Em Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas Gomes 2008 propõe uma reflexão sobre o pro cesso de constituição histórica do lazer no mundo ocidental ten do em vista a compreensão dos valores a ele associados A autora verificou que ao longo dos tempos lazer trabalho e educação fo Recreação e Lazer 136 ram concebidos como eficientes mecanismos de controle moral e social Compactuando com esse projeto a educação foi ministrada com reservas aos segmentos populares pois significava uma gran de força nas mãos dos segmentos privilegiados Gomes 2008 também discorre sobre as relações entre a re creação e o lazer uma questão controvertida e polêmica entre os estudiosos Conforme suas constatações a recreação representou um movimento que propagou as eficientes possibilidades sau dáveis e educativas das atividades recreativas para as massas a serem utilizadas com imenso proveito político e integradas via es cola a um sistema de valores coerentes com os propósitos hege mônicos em cada contexto histórico Observamos que nesse livro o lazer é compreendido como uma esfera estreitamente vinculada ao trabalho e à educação Como o lazer constitui o assunto central da obra as teorias da educação não foram consideradas sendo que o tema é abordado quando perpassa as questões que são pertinentes ao campo do lazer No livro Lazer como prática da liberdade uma proposta edu cativa para a juventude Mascarenhas 2003 apresenta a síntese de suas problematizações sobre as relações de poder e interesses de instrumentalização conservadora do chamado tempo livre An corado nas reflexões de Paulo Freire dentre outros autores sugere um método de intervenção no qual a experiência com o lazer pos sa formar sujeitos com vistas a promover espaços de organização solução de problemas e vivência plena de direitos e da cidadania Padilha 2003 em uma resenha sobre este livro afirma que o autor apresenta uma forma viável e necessária de tratar o lazer não mais como instrumento de equilíbrio social mas como uma prática pedagógica envolvida com o compromisso da liberdade e da emancipação humanas Embora a parte conceitual retome questões já debatidas por outros estudiosos a abordagem meto dológica é consistente e instiga novos estudos sobre a temática 137 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Certamente nesse livro encontramos uma proposta concre ta de intervenção que articula de forma inovadora os campos do lazer e da educação Essa proposta será retomada na Unidade 3 A articulação entre lazer e educação também vem sendo discutida em muitos capítulos de livros que no entanto tratam de questões mais específicas sobre o assunto É o caso de Lazer recreação e educação física organizado por Werneck e Isayama 2003 em que nos artigos de Bracht 2003 e Isayama 2003 foram abordadas as dimensões educacionais além das dimensões históricosociais culturais e políticas O primeiro autor analisa como a educação física e o lazer in teragem buscando pontos em comum diferenças e relações entre essas áreas o segundo faz uma análise dos conteúdos que vêm sendo desenvolvidos sobre a recreação e o lazer nos currículos dos cursos de formação do profissional em educação física Marcassa 2004 no verbete lazereducação opta por analisar as princi pais correntes ou tendências de intervenção no campo do lazer e educação que se configuraram ao longo da história e que podem ser verificadas ainda nos dias atuais A primeira tendência predominante até meados de 1960 é aquela que reclama a aplicação de recursos e estratégias peda gógicas para a ocupação saudável e produtiva do tempo livre por meio da recreação A segunda referese ao entendimento de lazer como espaço de educação constante e em consonância com a or dem estabelecida Por essas razões a autora considera que esse entendimento encerra em sua essência uma concepção burguesa de sociedade e uma concepção funcionalista de lazer e educação Por fim a ter ceira tendência percebe o lazer como um canal de atuação no pla no cultural tendo em vista contribuir com uma nova ordem moral e intelectual favorecedora de mudanças no plano social Esses textos nos fornecem alguns indicativos para o trata mento que vem sendo dado ao tema lazer e educação Observase Recreação e Lazer 138 que a educação é considerada de extrema importância na apro priação pelos sujeitos das práticas culturais possíveis de serem de senvolvidas na vivência do lazer seja para ajustarse de maneira funcional ao sistema instituído seja para modificálo 8 ARTICULAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E O LAZER O debate sobre o lazer como campo reconhecido e legítimo como discutido neste texto não encontra a mesma ressonância no campo da educação Nos diferentes cursos de licenciatura pedagogia e normal superior essa articulação é comumente encontrada apenas nos estudos sobre o lúdico quase sempre seguindo uma vertente psicológica que analisa entre outros temas a importância dos jogos e das brincadeiras na vida dos sujeitos e os benefícios de processos metodológicos que priorizam o aprendizado de forma lúdica Analisando os títulos e os resumos dos estudos apresentados nos últimos encontros anuais da Associação Nacional de Pesquisas da PósGraduação em Educação ANPed não foram encontrados trabalhos sobre o lazer Estudos sobre o lúdico aparecem pulverizados em outros Grupos de Trabalho Temático GTTs como por exemplo o da educação infantil Curiosamente percebemos que as questões relacionadas ao trabalho dimensão historicamente relevante na sobrevivência da vida humana congregam seus estudos em um GTT específico Educação e Trabalho Esse fato é suficiente para provocar nos estudiosos do lazer a pergunta seria apenas o traba lho uma dimensão fundamental na vida dos sujeitos Apesar dessas constatações temos percebido que alguns pesquisadores encontram abertura para tratar do lazer ou elemen tos que o constituem como objetos de análises em programas de pósgraduação em educação trazendo contribuições não só para um campo quanto para o outro Tomando como exemplo a UFMG encontramos alguns trabalhos como veremos a seguir 139 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Alves 1999 adotando um conceito de educação em uma vertente antropológica busca compreender os sentidos e os signi ficados dos jogos e das brincadeiras para a comunidade indígena Maxakali residente no interior de Minas Gerais Gomes 2003 analisa as trajetórias percorridas pela recrea ção e pelo lazer no Brasil focalizando os significados incorporados por ambos na primeira metade do século 20 Pinto 2004 por sua vez desenvolve um estudo sobre os sentidos e os significados de tempo de lazer na atualidade proble matizando um dos dilemas das sociedades industriais modernas a luta dos sujeitos pela posse do seu tempo existencial e das institui ções pela posse das experiências culturais no tempo social No mestrado em educação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUCMG Serejo 2003 realizou uma pesquisa que analisou os motivos que levaram à inclusão dos estudos de recrea çãolazer no currículo da graduação em Turismo em um curso pio neiro em Belo Horizonte e as transformações que nele ocorreram no período de 1974 a 1985 O Centro Federal de Educação Tecnoló gica de Minas Gerais CefetMG abriu suas portas para Guimarães 2001 compreender a abordagem do lazer e suas interrelações com o trabalho e a tecnologia na produção acadêmica brasileira Por sua vez Marcassa 2002 desenvolveu na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás uma pesquisa que tra ta da constituição histórica do lazer como uma prática institucio nalizada entre os anos 18881935 que se configurou como estra tégia de cooptação da classe trabalhadora paulista Certamente há estudos em outras universidades mas infe lizmente há limites para as buscas Por isso priorizamos os estu dos que formam publicados e os mais próximos territorialmente Como nosso interesse foi centrado nos programas de pósgradua ção em educação não consideramos as pesquisas que tratam de lazer e educação realizadas nos programas de pósgraduação em Educação Física Recreação e Lazer 140 Os estudos aqui apresentados delineiam os diferentes con textos sociais e as mudanças provocadas pelas novas configura ções políticas econômicas religiosas tecnológicas de comunica ção e suas implicações para o trabalho a educação e o lazer em nossa realidade Isso demonstra cada vez mais a necessidade de continuarmos aprofundando conhecimentos sobre a relação entre a educação e o lazer com vistas a compreender o contexto e nele propor intervenções consistentes e conscientes 9 OS CONTEÚDOS CULTURAIS DO LAZER Não seria possível discutir uma unidade que se centrasse nas articulações entre lazer e educação sem tecer comentários acerca dos conteúdos culturais do lazer Esses interesses são fundamen tais para aqueles profissionais que se dedicam ou se dedicarão ao estudointervenção no campo do lazer Sobre as práticas do lazer Dumazedier 1999 contribui para um entendimento que consiste em um conjunto mais ou menos estruturado de atividades com respeito às necessidades do corpo e do espírito dos interessados os lazeres físicos práticos artísti cos intelectuais sociais dentro dos limites do condicionamento econômico social político e cultural de cada sociedade A esses lazeres Camargo 2003 adiciona os turísticos enquanto Schwartz 2003 acrescenta os virtuais Por interesse afirma o sociólogo francês devese entender o conhecimento que está enraizado na sensibilidade na cultura vivida DUMAZEDIER 1980 p 110 Entretanto a distinção entre um interesse e outro não se dá de forma isolada pois podemos compreendêlos no sentido de predominância Um bom exemplo para ilustrar o que estamos dizendo se dá a partir da seguinte situação em um jogo de voleibol para idosos qual é o motivo principal para o encontro do grupo Alguns poderiam afirmar que seria a prática de uma atividade física interesse físico 141 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação visto que pessoas nessa faixa etária necessitam de praticar exercí cios devido às perdas fisiológicas ocasionadas pelo envelhecimento Entretanto poderíamos contrapor esse argumento afirmando que nessa idade a busca pelo convívio entre os pares seria a maior moti vação para os encontros nesse caso para o jogo de voleibol Percebemos portanto que cada um desses conteúdos cul turais do lazer não cumpre apenas uma área Dessa forma é difí cil distinguir com precisão os critérios levados em conta para essa classificação A seguir comentaremos de maneira breve cada um dos conteúdos culturais do lazer indicando possibilidades metodoló gicas para o seu desenvolvimento Interesse físico É representado pela prática de atividades físicas de modo geral As práticas esportivas os passeios as pescas a ginástica realizadas em espaços específicos academias ginásios e não específicos ruas residências são exemplos representativos De acordo com Coutinho e Maia 2009 p 36 poderíamos pensar nas seguintes ações para o desenvolvimento desse conteúdo Todo o universo de jogos esportivos tradicionais e adaptados paraolímpicos Prática de modalidades esportivas não comuns ao dia a dia dos participantes Ex golfe utilizando bolinha de tênis ou bor racha e um taco de madeira rugby tomando cuidado com questões de segurança esgrima utilizando um giz colorido tentando pintar a roupa do companheiro Brincadeiras tradicionais que possam estar meio esquecidas Ex bolinha de gude com suas diversas variações Dia do Recreio sobre rodas estimular as crianças a trazerem suas bicicletas skates patins patinetes carrinho de rolimã e organizar espaços para eles se divertirem Tomar o cuidado para que não se cause constrangimento caso muitos participantes não tenham e não tragam nenhum desses brinquedos Podese pensar numa forma de estimular o brincar junto partilhando o brinquedo que se trouxe Recreação e Lazer 142 É representado pela capacidade de manipulação exploração e transformação de objetosmateriais bem como pelo trato de elementos naturais eou animais São exemplos disso o artesanato a jardinagem a bricolagem e o cuidado com os animais Como sugestões de atividades apontadas por Coutinho e Maia 2009 p 38 temos Oficina de trabalhos manuais da região artesanato típico Oficina de culinária por exemplo como fazer um sanduíche natural Aproveitar para fornecer dicas de higiene Oficina de jardinagem ensinar como plantar uma árvore Confecção de pipas Interesse intelectual Nesse contexto interesse intelectual é a ênfase é dada ao co nhecimento vivido experimentado fundamental para a formação do indivíduo O que se busca é o contato com as informações objeti vas e explicações racionais por meio de cursos ou leitura por exem plo As sugestões apontadas por Coutinho e Maia 2009 p 41 são Minipalestras sobre o tema gerador convidar profissionais ou até mesmo pais de participantes para falar sobre meio ambiente Mesas de discussão temáticas expor um problema ambiental que acomete a localidade onde está inserido o PST buscando sugestões coletivas para solução do problema Rodas de discussão a partir de situações vivenciadas para pro posições coletivas de possíveis modificações nas regras e estru turas das atividades propostas tornandoas mais participativas eou cooperativas Jogos de mesa xadrez dama gamão Jogos intelectivos que podem ser trazidos pelos participantes perfil imagem e ação batalha naval STOP utilizando categorias adaptadas a cada região Neste jogo sorteiase uma letra do alfabeto para que todos escrevam uma coisa ou objeto que comece com esta letra Ex nome de carro de filme de fruta Gincanas com provas de conhecimentos gerais ou relacionados a um tema específico 143 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação Interesse artístico O interesse artístico abrange as mais diversas manifestações artísticas como teatro cinema artes plásticas buscando a satis fação do imaginário imagens emoções e sentimentos Seu con teúdo é estético As festas podem ser incluídas nesse segmento do lazer Coutinho e Maia 2009 p 39 nos sugerem as seguintes atividades Oficinas de dança utilizando danças típicas da região bem como outras formas de dança que possam demonstrar a diversidade cultural de nosso país e até mesmo de outros países Ex dança de salão hiphop brinquedos cantados ginástica maluca criada de forma coletiva entre outras manifestações Filmes relacionados ao tema gerador uma sessão de cinema improvisada ou até mesmo uma visita ao cinema da cidade Teatro apresentação de um grupo de teatro da região ou uma oficina para as crianças e adolescentes possam produzir suas pró prias peças ou esquetes teatrais Música oficina de instrumentos musicais ou organização de um festival onde os participantes poderão apresentar os seus talen tos Oficina de vivências e confecção de artes plásticas escultura e pintura fazendo uso de materiais recicláveis Interesse social O interesse social manifestase quando se procura um conta to direto com outras pessoas por meio de um relacionamento ou convívio social Exemplos específicos são os bailes os cafés os ba res e a frequência a associações servindo como ponto de encontro Para esse conteúdo Coutinho e Maia 2009 p 41 nos apontam O momento do lanche pode ser feito em forma de piquenique onde um grupo de participantes recebe uma quantidade X de alimentos para serem preparados e divididos entre si Os grupos podem receber alimentos diferentes gerando a possibilidade de intercâmbio entre os mesmos Festa temática num dia especial os alunos poderão vir fanta siados para uma festa com música dança e um lanche diferente Recreação e Lazer 144 Ter um espaço de convivência para os momentos de espera tanto na hora da chegada como no horário de saída dos participantes incentivar a troca de experiências entre os participantes Ex cada um pode trazer sua coleção de figurinhas ou outra coleção ou hobbies para partilhar experiências com os amigos Interesse turístico A busca de novas paisagens ritmos e costumes distintos da queles vivenciados cotidianamente é a aspiração mais presente nos interesses turísticos Os passeios as viagens e a visita a shop pings centers constituem exemplos desse tipo de interesse Couti nho e Maia 2009 p 45 apresentam as seguintes sugestões O momento do passeio que faz parte do planejamento do Recreio nas Férias O conhecimento ou reconhecimento do espaço circunvizinho da localidade onde funciona o núcleo Ex praças espaços culturais museus prédios históricos na perspectiva de demonstrar possi bilidades de lazer não percebidas ou exploradas pela população Interesse virtual Compreende as formas de atividades de lazer que utilizam tecnologia como as do computador do videogame e da televisão 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Na visão de Pierre Bourdieu qual é o conceito de campo Para os estudos do lazer quais são suas implicações Dê exemplos 2 Qual é o significado do duplo aspecto educativo do lazer Como desenvolvê lo tendo como perspectiva o lazer na condição de objeto e veículo de edu cação Dê exemplos 3 Dumazedier apresenta uma contribuição interessante para os estudos do lazer ao introduzir na área a ideia de conteúdos culturais do lazer posterior mente acrescentados por Camargo e Schwartz Sendo assim defina 145 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação a conteúdo físico b conteúdo prático c conteúdo social d conteúdo intelectual e conteúdo artístico f conteúdo turístico g conteúdo virtual 4 Apresente exemplos de como poderíamos desenvolver cada uma dessas di mensões com um público frequentador de um clube social 11 CONSIDERAÇÕES Chegamos ao fim de mais uma unidade Agora que você teve a oportunidade de pensar sobre as questões importantes para a sua formação no que tange às articu lações entre o lazer e a educação reflita sobre sua futura prática pedagógica nesse campo Os elementos teóricos trazidos para o debate nesta unida de favorecerão a construção de um entendimento mais amplo do processo de formação e atuação profissional Aliás esse será o tema de nossa próxima unidade Vamos a ela 12 EREFERÊNCIAS Sites pesquisados ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO ANPed Disponível em httpwwwanpedorgbr Acesso em 13 set 2012 LICERE Revista do Programa Interdisciplinar de Mestrado em LazerUFMG Disponível em httpwwweefftoufmgbrlicerehomehtml Acesso em 13 set 2012 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES Vânia de Fátima Noronha O corpo lúdico Maxakali desvelando os segredos de um programa de índio 1999 178f Dissertação Mestrado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 1999 Recreação e Lazer 146 Uma leitura antropológica sobre educação física e o lazer In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Editora Autêntica 2003 p 83114 BRACHT Valter Educação física escolar e lazer In WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Editora Autêntica 2003 p 147172 CAMARGO Luiz Octávio de Lima Educação para o lazer São Paulo Moderna 1998 O que é lazer São Paulo Brasiliense 2003 COUTINHO Silvano da Silva MAIA Lerson Fernando dos Santos Os conteúdos culturais do lazer In OLIVEIRA Amauri Aparecido Bassoli de PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Org Recreio nas férias reconhecimento do direito ao lazer Maringá Eduem 2009 p 2749 DUMAZEDIER Joffre Sociologia empírica do lazer São Paulo PerspectivaSESC 1999 Valores e conteúdos culturais do lazer São Paulo SESC 1980 FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa 15 ed São Paulo Paz e Terra 2000 GOMES Christianne Luce Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Ed UFMG 2008 Significados de recreação e lazer no Brasil reflexões a partir da análise de experiências institucionais 19261964 2003 322f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2003 GUIMARÃES Ailton Vitor Abordagens do lazer e suas interrelações com o trabalho e a tecnologia na produção acadêmica brasileira na área do lazer 2001 170f Dissertação Mestrado Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Belo Horizonte 2001 LARAIA Roque Cultura um conceito antropológico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Editora UFMG 2008 MARCASSA Luciana A invenção do lazer educação cultura e tempo livre na cidade de São Paulo 18881935 2002 204f Dissertação Mestrado em Educação Brasileira Faculdade de Educação Universidade Estadual de Goiás Goiânia 2002 Lazereducação In GOMES Cristhianne Luce Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Editora Autêntica 2004 p 126133 MARCELLINO Nelson Carvalho Lazer e educação 15 ed Campinas Papirus 2010 Pedagogia da animação Campinas Papirus 1990 MASCARENHAS Fernando Lazer como prática da liberdade uma proposta educativa para a juventude Goiânia Editora UFG 2003 MAUSS Marcel As técnicas corporais In Sociologia e antropologia v 2 São Paulo EPUEdusp 1974 p 209233 MELO Victor Andrade de ALVES JÚNIOR Edmundo de Drummond Introdução ao lazer São Paulo Manole 2003 147 Claretiano Centro Universitário U3 Interfaces entre o Lazer e a Educação PADILHA Valquíria Resenha de livro MASCARENHAS Fernando Lazer como prática da liberdade Goiânia Ed UFG 2003 106p Revista Licere Belo Horizonte v 6 n 2 p 103 104 2003 PINTO Leila Mirtes Santos de Magalhães Sentidos e significados de tempo de lazer na atualidade estudo com jovens belohorizontinos 2004 199f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 REQUIXA Renato As dimensões do lazer Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 45 p 5476 1980 Conceito de lazer Revista Brasileira de Educação Física e Desportos Brasília n 42 p 1121 1979 RIOS Terezinha Azerêdo Ética e competência 5 ed São Paulo Cortez 1997 ROLIM Liz Cintra Educação e lazer a aprendizagem permanente São Paulo Editora Ática 1989 SCHWARTZ Gisele Maria O conteúdo virtual contemporizando Dumazedier Licere Belo Horizonte v 2 n 6 p 2331 2003 SEREJO Hilton Fabiano Boaventura A gênese dos estudos do lazer num curso superior de turismo em Minas Gerais um estudo na instituição pioneira 19741985 2003 209f Dissertação Mestrado Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte 2003 WERnECK Christianne Luce Gomes A constituição do lazer como um campo de estudos científicos no Brasil implicações do discurso sobre a cientificidade e autonomia deste campo In ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER 12 2000 Balneário Camboriú Coletânea Balneário Camboriú RocaUniversidade do Vale do Itajaí 2000 p 7788 WERNECK Christianne Luce Gomes ISAYAMA Hélder Ferreira Org Lazer recreação e educação física Belo Horizonte Editora Autêntica 2003 EAD Lazer Formação e Atuação Profissional 4 1 OBJETIVOS Compreender como se organizam os bens culturais Reconhecer a possibilidade de contribuição por meio das atividades de lazer para a construção de uma cidade mais justa e uma vida melhor aos seus habitantes Entender o conceito de animação cultural Abordar aspectos inerentes ao processo de formação e atuação profissional no campo do lazer Compreender a animação cultural como uma das possi bilidades para a elaboração de programas e projetos de lazer 2 CONTEÚDOS Profissionais do lazer formação e atuação A animação cultural Recreação e Lazer 150 Padrões de organização da cultura cultura erudita de massas e popular Paradigmas da animação cultural 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Estude um pouco todos os dias Organize cuidadosa mente seu mapa de estudos Leia pelo menos durante duas horas por dia Não se esqueça de observar as datas para a entrega das atividades e interatividades Encontre um horário não só para os estudos mas também para elaborar com antecedência todas as atividades Lembre se de que os preparativos para uma prova não devem nunca serem feitos de última hora mas sim com um estudo diário e contínuo Portanto estude com técnica persistência e calma 2 As pesquisas são muito importantes para seu aprendiza do e a internet é uma das fontes mais ricas para se fazer consultas Todo site é resultado do trabalho de alguém assim toda vez que fizer uso de textos imagens e arqui vos de algum site não deixe de citar sua fonte 3 Para um enriquecimento do seu estudo pesquise pro postas de ações no campo do lazer que se pautem em pressupostos críticos 4 Pesquise propostas de lazer que se baseiem nos pressu postos da animação cultural 5 Levante na sua cidade e na regiãobairro os espaços e as oportunidades para que a população tenha acesso às manifestações da cultura erudita 6 Para estimular sua reflexão aguçar seu senso crítico e fortalecer sua autonomia detenhase com atenção no tópico com as questões autoavaliativas presente nesta unidade Ali você poderá verificar suas dúvidas e procu rar sanálas 151 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional 7 Procures informações sobre cursos que promovam a a formação inicial e continuada de profissionais que atuam no campo do lazer 8 Ao estudar esta unidade é importante sempre ter em seu horizonte a necessidade de reconhecer a atuação do profissional do lazer para além da mera reprodução de atividades recreativas 9 Converse com amigos que atuam no campo do lazer e perguntem a eles quais saberes e competências são ne cessárias para atuação nesta área Procure confrontar as respostas com o sua trajetória ao longo do curso Esta será uma bela oportunidade de buscar uma qualificação significativa 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade trataremos das questões relativas ao proces so de formação e atuação profissional no campo do lazer apresen tando suas especificidades quanto à formação e aos seus campos de atuação na sociedade atual Esta unidade se justifica na medida em que o profissional da Educação Física também é um profissional do lazer atuando desde o planejamento até a execução de ações de lazer Sendo assim vamos aos estudos 5 CONHECENDO OS PROFISSIONAIS DO LAZER Diversas são as denominações para designar os profissionais do lazer recreador animador sociocultural animador cultural agente cultural promotor de eventos gentil organizador dentre outras PIMENTEL 2003 Assim como são apresentadas várias expressões para deno minar os profissionais que promovem ações diretamente relacio nadas com essa prática social temos também uma gama enorme Recreação e Lazer 152 de possibilidades de atuação no que se refere a espaços locais equipamentos de lazer e ações promovidas Pimentel 2003 p 79 nos apresenta um conjunto de espaços nos quais esses profissionais se encontram inseridos tais como academias shoppings hotéis associações clubes hospitais asilos SESC SESI escolas presídios navios cruzeiros fábricas parques temáticos condomínios lojas de brinquedos parques de diversão e de peão p 79 Além desses contextos de atuação nos quais os profissionais do lazer se encontram presentes temos também diversas moda lidades de atuação que Pimentel 2003 p 79 considera serem corriqueiras e em interação com os mais diferenciados grupos e instituições variando desde órgãos públicos até grupos de inte resses como oficinas culturais exposições saraus colônias de férias shows torneios festivais encontros dias de lazer cursos acampamentos festas excursões promoções torneios e jogos Entretanto a reflexão sobre esse profissional não se encon tra restrita aos seus locais de atuação e às estratégias ou grupos instituições atendidas Devemos estabelecer reflexões que tam bém contemplem sua formação e as perspectivas de mudança permanência alienaçãoemancipação em sua atuação nos diver sos contextos sociais A formação profissional para a área do lazer de acordo com Isayama 2004 tem sido marcada por duas tendências Uma ten dência vislumbra a formação baseada na técnica e com orientação para o domínio de conteúdos específicos e metodologias tendo a prática como eixo principal na ação profissional e minimizando o papel da teoria Há dessa forma uma dicotomia entre teoria e prática A outra tendência procura formar profissionais na área do la zer tendo como bases o conhecimento a cultura e a crítica A sua concretização se dá por meio da construção de saberes e compe tências fundamentadas no compromisso da disseminação de valo 153 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional res de uma sociedade democrática assim como na compreensão do papel social do profissional na educação para e pelo lazer A partir da primeira tendência apresentada por Isayama 2004 acreditamos que algumas problemáticas se instalam na atuação dos profissionais formados de acordo com tal concepção Diante desta tendências de formação profissional que aden tram o campo do lazer percebemos um confronto que em última instância traduzse no embate entre bom humor e competência Marcellino 2000 argumenta que os profissionais do lazer cada vez mais estão vendendo a sua personalidade caindo em um processo de alienação O autor acredita que a venda da persona lidade é tamanha que eles passam a pregar que o bom humor é mais relevante que a competência O argumento utilizado por esse tipo de profissional é o se guinte bom humor não se aprende e competência se adquire p 128 Um profissional sempre solícito de corpo belo e riso fácil é uma maneira de se conceber o profissional do lazer baseada no senso comum como um indivíduo criativo versátil e alegre mas que no fundo mascara algumas questões mal resolvidas em nossa área Uma dessas questões seria a dificuldade de se visualizar do profissional e por vezes nossa também o significado do lazer em nossa realidade em suas dimensões sociocultural e política as sim como as contradições presentes nesse contexto PIMENTEL 2003 A outra seria a falta de condições e de equipamentos de trabalho na sua atuação não só do seu setor mas da iniciativa pública e privada MARCELLINO 2000 Uma das alternativas que se apresenta seria o investimento na formação desses profissionais a fim de se conceber indivídu os mais conscientes críticos e contextualizados social cultural e historicamente em sua atuação Os caminhos são diversos para a concretização desse projeto que se impõe como uma necessidade em nossa área objetivandose dessa maneira a contribuição para a formação de uma sociedade mais digna e justa Privilegiaríamos então a segunda tendência apresentada por Isayama 2004 Diversos autores tais como Gomes 2008 e 2010 Pinto 2001 Pimentel 2003 Melo e Alves Junior 2003 Isayama 2004 e 2010 Melo 2010 Silva e Campos 2010 Marcellino 2010 dentre outros apresentam contribuições relacionadas aos mais diferentes aspectos postura profissional conteúdos valores inspiradores formação continuada para uma formaçãoatuação mais consistente e contextualizada dos profissionais do lazer Acreditamos que a inserção dos profissionais da Educação Física na condição de animadores culturais conscientes críticos e criativos deve contribuir para uma ação mais significativa em diferentes contextos Deve haver o respeito às referências culturais dos indivíduos com os quais eles atuam bem como o estabelecimento de um diálogo potencializando o processo de construção coletiva das experiências de lazer Diante dessa maneira de compreender o processo de formação profissional Marcellino 2003 p 15 contribuiu para o debate ao afirmar que os animadores culturais possuem diferentes formações o que julga ser necessário pela própria abrangência da área cultural e que 1 dominam um conteúdo cultural 2 têm vontade de dividir esse domínio com outras pessoas devendo para isso 3 possuir uma sólida cultura geral que lhes dê possibilidade de perceber a intersecçãoligação do seu conteúdo de domínio com os demais 4 exercer cotidianamente a reflexão e a valorização próprias da ação do educador o que os diferenciará dos mercadores da grande maioria da indústria cultural e 5 ter compromisso político com a mudança da situação em que nos encontramos atuando com base nessa perspectiva 155 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional O autor ainda enfatiza que a ação desse profissional deve se dar na perspectiva do educador em vez daquela que se pauta pela ideia de mercador Diante disso esta tarefa inclui 1 processos de recrutamento e seleção em consonância com os valores que regem as políticas públicas 2 fases de sensibilização aos valores norteadores da política 3 cursos de formação e desenvolvimento que incluam teoria do lazer e do esporte significado e valores de políticas públicas em ge ral e na área técnicas e processos de formação de multiplicadores planejamento e repertório de projetos e atividades 4 reuniões técnicopedagógicas periódicas e 5 intercâmbios estágios participações em congressos grupos de discussão organizações profissionais e científicas etc MARCELLI NO 2003 p 16 Mais à frente apresentaremos uma experiência positiva a nosso ver de atuação no âmbito do lazer Com isso estaremos re ferendando a necessidade de uma formação profissional nos ter mos aqui colocados No momento passaremos a discutir a animação cultural 6 A ANIMAÇÃO CULTURAL Caminhando diretamente ao assunto traremos uma defini ção que será fundamental para esta unidade Tratase do conceito de animação cultural Segundo Melo 2006 p 2829 animação cultural é uma tecnologia educacional uma proposta de intervenção pe dagógica pautada na idéia radical de mediação que nunca deve significar imposição que busca permitir compreensões mais apro fundadas acerca dos sentidos e dos significados culturais conside rando as tensões que nesse âmbito se estabelecem que conce dem concretude à nossa existência cotidiana construída a partir do princípio de estímulo às organizações comunitárias que pressu põe a idéia de indivíduos fortes para que tenhamos realmente uma construção democrática sempre tendo em vista provocar ques tionamentos acerca da ordem social estabelecida e contribuir para a superação do status quo e para a construção de uma sociedade mais justa Recreação e Lazer 156 Para o autor tratase de uma proposta de Pedagogia Social que não se limita a um único campo de intervenção e nem pode ser compreendida a partir de uma única área de conhecimento MELO 2006 Partamos dessa citação que também é uma definição para compreender melhor o que ela pretende dizer Por certo você já deve ter percebido que não compreendemos os momentos de la zer como instantes de fuga que pouca relação teria com o restante da vida Entendêlo dessa forma seria reverenciar as abordagens funcionalistas do lazer Para nós mesmo que tenhamos a busca do prazer como um dos pressupostos fundamentais e até mesmo por isso mo mentos de lazer são aqueles em que os indivíduos constroem suas subjetividades encharcados de tensões típicas do cenário socio cultural que podem contribuir para a construção de uma nova so ciedade ou ao contrário para a perpetuação dos atuais modelos Mas como entender melhor nosso papel na atuação profissional Que elementos considerar A primeira coisa que devemos ter em conta é se o contexto cultural apresenta um conjunto de valores e representações que norteiam nossa vida em sociedade nem sempre ou quase nun ca seguimos exatamente esses ditames De outro lado também não conseguimos fugir de tudo nem podemos é esse conjunto que permite que vivamos juntos em sociedade que estabelece implícita ou explicitamente os pactos que concedem concretude à nossa coexistência Obviamente em função de sua importância no mundo con temporâneo existem tensões no âmbito cultural relações de po der tentativas de encaminhamentos que possam interessar a esse ou a outro grupo específico isto é queremos dizer que há uma articulação clara entre as dimensões econômicas e as culturais e daí vem o caráter estratégico das últimas 157 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional Nós profissionais da Educação Física que atuamos ou atu aremos e que aqui estamos sendo denominados como anima dores culturais não podemos nos esquecer disso já que temos responsabilidade de intervir exatamente nesse espaço Veja que corremos sempre o risco de frequentar os extre mos ou cremos que nossa contribuição destinase somente a pas sar o tempo das pessoas e que nada podemos fazer pela cons trução de um novo mundo ou no afã de contribuir desprezamos o caráter de prazer e de diversão encaminhando linearmente a programação de lazer e não deixando espaço para que os indivídu os se posicionem e aprendam a escolher O profissional caminha sempre em uma linha arriscada e ter consciência disso é um passo fundamental para que encaremos nossos desafios Podemos sim contribuir para despertar o senso crítico de nosso públicoalvo mas não podemos negligenciar que os mo mentos de lazer também têm um caráter de escolha de repouso de recuperação das forças Apenas não podemos concordar que essas dimensões sejam utilizadas na perspectiva de alienar as pes soas de desviar a atenção para situações contraditórias que ocor rem no seio da sociedade Com isso não estamos negando que os momentos de lazer tenham também um caráter de repouso de descanso de recupe ração das forças Achamos que esses objetivos por si só não são negativos O que é negativo é o uso que deles faz o sistema Ou seja esses momentos devem ser redimensionados para uma ópti ca que não privilegie somente aqueles que detêm o poder Sendo assim alguns parâmetros iniciais podem ser conside rados balizadores de nossa atuação 1 podemos por meio das diversas linguagens culturais que se constituem nossas estratégias de intervenção estimular nosso públicoalvo a buscar novas formas de ver o mundo Recreação e Lazer 158 2 podemos estimular os indivíduos a perceber que podem encontrar novas formas de participação em seus mo mentos de lazer não somente consumindo determina dos produtos mas também acessandoos de forma mais crítica e até mesmo se envolvendo com eles mais ativa mente 3 podemos contribuir para que os indivíduos se sintam es timulados a buscar e a acessar determinados bens cul turais que normalmente se encontram muito disponí veis inclusive alguns relacionados com nossa tradição e nossa cultura popular contribuindo também para nossa memória social 4 podemos contribuir para que os indivíduos entendam que se o trabalho é uma dimensão importante os mo mentos de não trabalho são tão relevantes quanto ele ajudando a nos constituir em seres humanos e colabo rando para a construção de nossa subjetividade A partir das reflexões anteriormente iniciadas vamos esmiu çar um pouco mais nossas reflexões sobre esses parâmetros 7 PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO DA CULTURA Como vimos o âmbito da cultura é eivado de tensões e des níveis As relações de poder e condições econômicas podem tra zer influências diretas no acesso às diferentes linguagens culturais Vale a pena um esforço para identificar como esses desníveis se manifestam Mesmo sendo uma preocupação didática isso nos ajuda a melhor situar as dimensões que devemos considerar em nossa prática cotidiana Um alerta é necessário para que possamos prosseguir Não entendam a classificação que vamos apresentar como algo estáti co Na verdade existe uma série de trânsitos culturais que comple xificam a questão dos diferentes padrões de organização cultural Existem encontros e interinfluências e as fronteiras não são rígidas como parecem Sendo assim tenha a classificação a seguir 159 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional como um norte uma possibilidade de melhor visualizar seu traba lho mas considere que é um esforço didático Cultura erudita Tratase de manifestações que normalmente se organizam em escolas que contemplam certas características em comum São manifestações de longo alcance que são destacadas por figu ras insignes reconhecidas pela excelência de sua produção que as representam Veja alguns exemplos Artes plásticas Renascimento Leonardo da Vinci Barro co Caravaggio Surrealismo Salvador Dalí Cinema Expressionismo Fritz Lang Neorrealismo ita liano Roberto Rosselini Nouvelle Vague François Tru ffaut Cinema Novo Glauber Rocha Literatura Grecoromana Homero Idade Média e Re nascença Dante Alighieri e Shekespeare pósRenascença Goethe e Dostoiévski Música Classicismo Mozart Período Romântico Franz Listz Período Moderno e Contemporâneo Erik Satie Claude Debussy e Maurice Ravel Brasil Machado de As sis Manuel Bandeira e José de Alencar Essas manifestações normalmente gozam de prestígio so cial Tendem a ser valorizadas e a estabelecer padrões estéticos Como são frequentadas notadamente por indivíduos ligados às camadas privilegiadas economicamente constroem ao seu redor uma ideia de prestígio e certo poder de decisão Por que seriam acessadas prioritariamente por membros das elites econômicas Será que é por que as pessoas mais humil des não gostam desse tipo de diversão Certamente não A primeira ressalva que deve ser feita o fato de alguém ser rico não o credencia automaticamente a apre ciar esse tipo de manifestação Recreação e Lazer 160 O que muitas vezes acontece é que em função das oportuni dades que teve no decorrer da vida na escola em casa em cursos livres nos seus momentos de lazer foi aprendendo as especifici dades das linguagens e desenvolvendo seu gosto Mais uma vez lembramos isso não é uma condição automática mas de possibi lidades de oportunidades É óbvio que todos os indivíduos dispõem de condições para apreciar esses tipos de manifestações e frequentar seus espaços específicos Mas para tal as condições têm de ser criadas tanto no sentido de um projeto pedagógico que apresente e vá esclare cendo as peculiaridades das linguagens quanto na construção da acessibilidade é necessário que se possa encontrar de preferên cia perto das residências os espaços onde são oferecidas teatros museus cinemas e se possa pagar os ingressos Veja estamos falando de uma articulação entre predisposi ção construída pela educação e condições econômicas que deve riam ser motivo de preocupação de políticas públicas e de todos os profissionais de lazer animadores culturais Cabe a nós pensar em estratégias para inserir essas linguagens e manifestações em nossos programas de lazer Por certo sozinhos não podemos dar conta de todo o processo de desigualdades de acesso mas podemos dar nossa contribuição para que um número maior de pessoas descubra o prazer que a música clássica o chama do cinema de arte e a poesia por exemplo podem proporcionar Assim estamos gerando um foco de reivindicação para que se possa lutar por uma cidade que distribua melhor os diferentes bens e equipamentos culturais Obviamente para inserir tais atividades em nossos progra mas precisamos pensar em um projeto estratégico Como grande parte das pessoas não tem o costume de acessálas precisamos pensar em um percurso que parta de experiências menos hermé ticas para paulatinamente irmos apresentando as mais diferentes possibilidades 161 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional Aqui há um ponto específico que também precisa ser enca rado pelo animador cultural Normalmente nós também não te mos acesso e formação adequada para trabalhar com tais possibi lidades Precisamos assumir o desafio de desenvolver novas compe tências de ampliar nossa formação de entender que nós profis sionais devemos também pensar em nossos momentos de lazer e de autoformação cultural Cultura de massa Chamamos de cultura de massa a que é produzida em geral pela indústria do entretenimento diretamente relacionada aos meios de comunicação e normalmente modulada para atender a um grande contingente de pessoas Para atender ao gosto médio a cultura de massa costuma re forçar alguns clichês organizarse de forma estandardizada e não investir em investigações ou experiências no âmbito das peculiari dades da linguagem Na verdade a cultura de massa é bastante heterogênea ofe recendo produtos bastante diferenciados envolvendo os mais di ferentes desejos e gostos Mais do que discutir a questão da quali dade o fundamental é perceber que a ela se atrelam diretamente estratégias comerciais e interesses de grupos específicos É lógico que existem coisas de melhor qualidade que conse guem romper o semnúmero de atividades de qualidade duvidosa que são oferecidas mas essas constituem exceções em um quadro que parece piorar a cada dia Com isso não estamos adotando uma posição preconceituo sa Muito pelo contrário estamos preocupados com a possibilida de de que isso venha a ocorrer O prazer que as pessoas obtêm com as atividades da cultura de massa é obviamente legítimo e não pode ser desconsiderado Recreação e Lazer 162 Além do que temos de entender que os indivíduos não engolem as manifestações e as mensagens difundidas de forma absoluta mente linear Há processos de ressignificação de reelaboração que devem ser considerados pelas próprias instituições da cultura de massa em seu processo de atuação Aí está aliás uma de suas características mais notáveis a capacidade de se recriar a partir do diálogo com o público Mesmo com essas ressalvas não sejamos ingênuos os res ponsáveis pela cultura de massa sabem de seu poder e usamno de acordo com seus interesses Com um quadro de acesso desi gual são essas as atividades que acabam sendo as mais e em mui tos casos as únicas acessíveis ao grande conjunto da população que tem dificuldade de encontrar e frequentar cinemas teatros museus enquanto o acesso à televisão e ao rádio é muito simples O que você acha da programação da nossa televisão Você a julga de qualidade Há muitos exemplos de programas que con tribuem para o engrandecimento do ser humano e da sociedade Para encarar o desafio de definir o que é uma programação de qualidade façamos uso das palavras de Milton Santos 2000 p 18 O conceito de cultura está intimamente ligado às expressões de autenticidade integridade e liberdade Ela é uma manifestação co letiva que reúne heranças do passado modos de ser do presente e aspirações isto é o delineamento do futuro Por isso mesmo tem de ser genuína isto é resultar das relações profundas dos homens com seu meio sendo por isso o grande cimento que defende as sociedades locais regionais e nacionais contra as ameaças de de formação ou dissolução de que podem ser vítimas Assim precisamos ter claro qual é a melhor forma de lidar com as manifestações organizadas no âmbito da cultura de massa Como lembra o já citado Milton Santos 2000 p 18 O Brasil pelas suas condições particulares desde meados do século 20 é um dos países onde essa famosa indústria cultural deitou raízes mais profundas e por isso mesmo é um daqueles onde ela já solida mente instalada e agindo em lugar da cultura nacional vem produ zindo estragos de monta Tudo ou quase tornouse objeto de ma nipulação bem azeitada embora nem sempre bemsucedida p 18 163 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional Nossa perspectiva de atuação então deve se afastar de ido latrias ou detratações Devemos entender que podemos partir de algumas das atividades organizadas no âmbito da cultura de massa para paulatinamente estimular nosso públicoalvo a conhecer e buscar novas possibilidades Sem deixar de reconhecer sua exis tência e seu poder podemos mediar um processo de crítica e de ampliação de horizontes Nossa atuação não se dá necessariamen te contra a cultura de massa mas a favor da diversidade Cultura popular Quando falamos em cultura popular normalmente estamos nos referindo a uma produção local bastante relacionada a uma tradição Por certo nos dias de hoje em função da ação dos meios de comunicação muitas vezes as atividades relacionadas à cultura popular já conseguem chegar a um grande número de pessoas algumas vezes com suas características notadamente modificadas em função não só dos encontros culturais mas também da ação do mercado que as transforma tornandoas mais palatáveis mais vendáveis um produto de consumo Isso quer dizer que como normalmente têm menor poder de influência e decisão muitas vezes as atividades relacionadas à cultura popular tornamse mais frágeis perante a ação do mercado cultural Essa dimensão deve ser observada Não adianta acreditar que devemos preservar as manifestações exatamente na sua for ma original se é que isso é possível Devemos perceber que muitas vezes seus parâmetros são tão alterados que no fundo estamos observando outro produto uma distorção profunda dos sentidos originais Mas mesmo com tantas ações do mercado cultural há re sistências Muitos grupos conseguem preservar o essencial de sua manifestação ou conseguem dialogar com a cultura de massa sem perder a consciência de suas origens A questão mais uma vez re Recreação e Lazer 164 tornamos a ela não é ser contra ou querer excluir os produtos da indústria cultural mas reservar o direito de algumas manifesta ções manterem sentidos próximos ao de suas origens mesmo que seja normal e esperado o diálogo com o que lhe é contemporâneo Assim como animadores culturais no que se refere à cultura popular nossa função é atentar para a necessidade de incluir essas manifestações em nosso programa tomar cuidado quando utili zarmos manifestações originais que foram bastante modificadas pela cultura de massa e dar nossa contribuição para os grupos que necessitam de apoio para manter suas atividades Vejamos um exemplo de como são arriscados determinados usos da cultura popular Muitas escolas continuam a organizar anualmente suas fes tas juninas Contudo elas parecem mais estratégias de captação de recursos do que uma preocupação pedagógica O conteúdo não é trabalhado nas disciplinas os alunos par ticipam sem ter clara a história dessas festas As peculiaridades de sua forma de organização nem sequer permanecem Vemos determinadas festas juninas por exemplo tocando funk como música de fundo e sem venderem as comidas e as be bidas típicas Isso seria um simples diálogo normal na dinâmica cultural ou uma distorção profunda de seus sentidos Cabenos sempre ter essa questão e os limites em mente 8 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO Animação cultural é a postura do profissional de lazer peran te a cultura erudita a cultura de massas e a cultura popular Ani mação é originária da palavra grega anima que quer dizer alma Dessa forma encontramos o termo que julgamos mais ade quado para definir o profissional de lazer ou seja animador cul 165 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional tural Esse termo define com mais rigor a natureza do seu conhe cimento e da sua intervenção Por certo outros termos serão encontrados para definir o profissional de lazer recreador gentil organizador agente cultural e até professor mas nenhum deles pode definir com tanta pre cisão o que esperamos ser seu compromisso políticopedagógico específico ao se trabalhar na dupla perspectiva educacional edu cação para e pelo lazer Observamos também que alguns estudiosos preferem a utilização do termo animação sociocultural mas o sentido é se melhante ao de animação cultural É interessante observar que ambas as dimensões educativas não estão livres de risco nem definem a priori uma atuação cujo compromisso seja o de superação do status quo As abordagens funcionalistas também concordam com as duas dimensões utilizandoas a partir de sua visão de mundo Sendo assim devemos tomar cuidado para que educar não seja adaptar os indivíduos à sociedade em vigor mas sim o processo contrário de questionamento dessa ordem É interessante então discutir um pouco mais sobre as possí veis intencionalidades existentes ao redor de diferentes perspecti vas de animação cultural Para entendermos de forma ampla as diversas possibilidades de intervenção da animação cultural recorremos à classificação proposta por P Besnard e aceita por José Antonio Caride Gomez 1997 Conforme esses autores podemos encontrar três grandes perspectivas de atuação sendo uma delas diretamente relaciona da à manutenção da ordem social A outra entende serem neces sárias reformas nessa ordem enquanto a terceira tenta promover uma transformação completa dessa estrutura Recreação e Lazer 166 Passemos a apresentar então as características dessas três perspectivas ou como chamam os autores os paradigmas tecno lógico interpretativo e dialético No paradigma tecnológico a animação é encarada como en genharia cultural Isto é o animador cultural interpreta a realida de vê o que está faltando o que está errado e coloca as peças no seu devido lugar para restabelecer a ordem Agindo dessa forma podemos perceber que o animador en tende a realidade como externa à sua existência como algo gené rico único e objetivo Ele pretende intervir de forma vertical nessa realidade na medida em que é o detentor do saber de um conhe cimento tido como instrumental advindo de uma supervaloriza ção do conhecimento científico Seu intuito é provocar de forma linear uma reflexão dirigida e eficaz determinando os comportamentos que devem ser toma dos de forma hierarquizada e técnica o que acaba por descon siderar as individualidades dos que estão sendo educados todos devem seguir e estar atentos para seu estímulo O animador é responsável então por descrever e prescrever todas as ações e as soluções que julgar necessárias Obviamente dentro dessa perspectiva que não deixa espaço para a tomada de consciência a partir do desenvolvimento das potencialidades in dividuais e sociais não existe uma pretensão de intervenção na ordem social no sentido de sua superação mas sim no intuito mesmo não consciente de adequação Tal perspectiva de intervenção pode ser comumente encon trada nos mais diferentes âmbitos de atuação do profissional de lazer É o recreador que chega às colônias de férias com os qua dros de trabalhos prontos e não dá para as crianças espaço de discussão O mesmo acontece em hotéisfazendas e acampamentos quando os hóspedes acabam seguindo um rígido programa que 167 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional lembra mais o mundo do trabalho por seu rigor inclusive com o horário sem a oportunidade de escolha Podemos dizer que la mentavelmente essa ainda é a postura mais identificável entre os profissionais de lazer Já no paradigma interpretativo a animação é vista como formação cultural como forma de dar aos indivíduos acesso aos bens culturais construídos historicamente À primeira vista essa ideia parece ótima mas os problemas começam a se apresentar quando entendemos melhor as intencionalidades dessa difusão cultural Estando em um extremo oposto ao do paradigma anterior no interpretativo o animador considera a realidade como imedia ta particular subjetiva e plural o que determina então que sua ação deve ser horizontal Se cada um compreende uma coisa e as individualidades são tão múltiplas que devem ser respeitadas a todo custo cabe ao ani mador simplesmente apresentar um rol de atividades possíveis mesmo que encaminhe os sentidos e os significados destas não só ao organizar como também ao selecionar os modos de organiza ção O animador avança em relação ao paradigma anterior quan do convida a uma reflexão construída a partir da experiência de cada um buscando uma ação que seja relacional e criadora mas é bastante ingênuo ao acreditar que basta somente convidar ainda mais quando a ordem social conclama exatamente ao contrário à inatividade e ao consumo fácil Nesse paradigma o animador interpreta e favorece experi ências acreditando no desenvolvimento individual que poderia construir uma ordem social reformada Pela fragilidade de sua proposta de intervenção em um ambiente de lutas simbólicas e concretas acaba pouco contribuindo para a superação da ordem social Recreação e Lazer 168 Podemos encontrar essa perspectiva de intervenção em muitos museus centros culturais e instituições patronais como é o caso do Serviço Social do Comércio Os animadores culturais montam de fato exposições e espetáculos atraentes refinados e importantes para o desenvolvimento cultural Contudo o público não é conclamado a tomar decisão e pouco participa da elabora ção e da organização das propostas Essas instituições ainda procuram minimizar tal distancia mento a partir do oferecimento de guiasinstrutores que se tra zem alguma vantagem por apresentarem importantes elementos do que está exposto são também perigosos pois corremos o risco de ver o apresentado pelo olhar muito direcionado do guiainstru tor Além disso não são suficientes por não estarem inseridos em um esforço de formação contínua e permanente Na verdade as preocupações com a formação de plateia público embora existam ainda parecem bastante incipientes e menores perante a preocupação com o desenvolvimento das lin guagens que jamais devem ser banalizadas pois não se trata de facilitar ou fazer concessões ao público mas sim de pensar um processo de educação que permita às pessoas compreender e sentir extraindo maior prazer as mais diferentes manifestações culturais O último paradigma o dialético entende a animação como construção de uma democracia cultural O animador considera a realidade a partir do contexto em que ela se apresenta tentan do interpretála de forma global complexa dialética e diacrônica Identificando a realidade como historicamente construída está preocupado com que o conhecimento também seja socialmente situado sempre na busca por despertar novas consciências Esse paradigma defende que não se trata de impor uma programação de forma vertical tampouco de somente oferecer opções de forma horizontal Podemos falar de uma postura dia gonal com o animador tentando gerar uma reflexão construída e 169 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional problematizada Sua preocupação é organizar uma ação comuni tária que se não significa agredir frontalmente as individualida des significa no entanto educar os indivíduos para que entendam que a construção de uma coletividade vai significar negociações concessões mediações A partir disso esperase gerar uma ação transformadora e emancipadora Sem o sentimento de vanguarda o animador não se vê como aquele que vai conduzir os rebanhos à liberdade mas sim como o que investe na mediação para tentar desvelar e recriar realidades gerando em conjunto com o público alternativas de libertação na medida em que crê na transformação social a partir do desenvol vimento de consciências e responsabilidades que são simultanea mente individuais e coletivas Chamase a atenção para a necessidade de que essa ação não se confunda com os parâmetros de outras formas de organiza ção política como a partidária e a sindical e que tampouco vá de encontro a princípios básicos do lazer como a questão do prazer e de uma liberdade maior 9 COMENTANDO UM EXEMPLO DE ATUAÇÃO NO CAMPO DO LAZER Você deve se lembrar que um dos autores comentados em nossa terceira unidade de estudos foi Mascarenhas 2003 Esse autor é um dos estudiosos que articulava de maneira coerente as dimensões do lazer e da educação Em sua obra Mascarenhas descreve uma possibilidade de intervenção no lazer Considerando a importância dessa obra para nossas reflexões retomemos as abordagens desenvolvidas pelo autor Acreditando ser o lazer um fenômeno tipicamente moderno resultante das tensões entre o capital e o trabalho que se materia liza como um tempo e espaço de vivências lúdicas e se traduz como Recreação e Lazer 170 lugar de organização da cultura indubitavelmente perpassado por relações de hegemonia Mascarenhas 2003 encontra suporte te órico em autores marxistas dentre eles Paulo Freire autor consi derado uma importante referência também em nossos estudos A partir daí ele elabora uma possibilidade de intervenção tendo a ação comunitária pautada na experiência lúdica e edu cativa como uma possibilidade de os trabalhadores e os grupos sociais das camadas menos favorecidas da população refletirem sobre a própria realidade e transformála Seguindo as orientações freireanas o primeiro passo do método especificado por Mascarenhas 2003 é o reconhecimen to inicial da realidade do grupo Em outras palavras é uma ação diagnóstica na qual serão identificados determinantes a partir de atenta investigação das condições objetivas de vida do grupo que possibilitem a descoberta dos problemas e suas respectivas con tradições fornecendo elementos para desvelar a realidade A par tir dessa ação diagnóstica são identificados os temas geradores As contradições e os problemas inerentes à prática do lazer aparecem como aspectos geradores de interesses para o grupo em uma correspondência direta e dialética com as contradições e os problemas presentes nas demais práticas sociais daquela reali dade Portanto o tema gerador é o elo entre o lazer e o contexto do grupo praticante Operacionalmente criase uma rede temática em que um conjunto de perguntas e respostas insere o tema em um debate envolvendo o particular da atividade de lazer com o conjuntural e estrutural do tema O lazer manifestase como fonte de tensão e equilíbrio O tema extraído do grupo transformase em um pro blema Ao desenvolver as atividades os componentes do grupo inter rogam o tema e a si mesmos descobrindose e fazendose sujeitos A rede temática é o instrumento de organização e coordenação em todo o processo de investigação e realização das atividades 171 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional Nesse sentido qualquer atividade de lazer tornase uma situaçãoproblema e o grupo só a reconhecerá como tal quando sentir a necessidade de sua transformação É a emersão do grupo provocada pela percepção e pela superação da situaçãolimite e sua inserção na atividade que garante a consciência da situação problema demandando do grupo uma prática reflexiva na busca de sua solução O ciclo temático será o ordenador dos conteúdos e das ati vidades e deve contemplar a fase preparatória avaliativa e de recuperação O ciclo é um ponto de chegada que imediatamente remete ao início de outro ciclo definindo seu caráter dinâmico sistemático e dialético Mascarenhas apresentanos um exemplo desse método de intervenção em grupos sociais e convidanos ain da a repensar o papel do agente de lazereducador em um proces so de ação educativa como este O autor contribui com a articulação entre teoria e prática problematizada em outros momentos discutindo o lazer a partir de um ponto de vista ideológico e com uma proposta concreta En tretanto é imprescindível que essa articulação seja lida não como uma proposta pronta mas como um indicativo de trabalho dada a necessidade de considerar as múltiplas realidades existentes em nossa sociedade Como vimos o contexto social mudou e são inú meras as consequências dessas mudanças inclusive para o lazer Em Lazer como prática da liberdade Mascarenhas insiste em uma concepção de sociedade marcada pelas diferenças de classes opressores e oprimidos hoje menos definidas mas nem por isso menos conflituosas Ao expressar seu entendimento de lazer tendo como refe rência a educação popular embasada no pensamento de Paulo Freire o autor afirma ser o lazereducação uma posição política e políticopedagógica de compromisso com os grupos sociais me diante sua resistência e luta cotidiana pela sobrevivência com vistas a conquistar um mundo melhor e mais digno para todos Recreação e Lazer 172 Consideramos que não basta fazer uma transposição dos princípios de educação popular para o lazer em função das pecu liaridades de cada um Sendo assim não podemos incorrer na in genuidade de considerar que o lazer possa reunir respostas para problemas sociais complexos como se fosse um álibi para a solu ção destes A luta e a resistência pela sobrevivência foram ressig nificadas 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Cite os principais espaços que podem ser ocupados pelos profissionais do lazer 2 Marcellino 2003 apresenta cinco aspectos que devem ser contemplados pelos animadores socioculturais em sua atuação profissional Diante do pen samento desse autor aponte a quais são estes aspectos b como cada um deles poderia ser exemplificado 3 O que significa o conceito de animação cultural Quais são as implicações desse conceito para o campo de estudos do lazer 4 Quais são os paradigmas da animação cultural Idenfiqueos 5 Aponte e comente os padrões de organização da cultura apresentando para cada um deles exemplos ilustrativos 6 Elabore e sistematize uma experiência de lazer pautandose na ideia de ani mação cultural Para essa empreitada você pode contar com a descrição da experiência elaborada por Mascarenhas 2003 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim desta unidade que teve por objetivos dis cutir questões pertinentes ao processo de formação e atuação profissional no campo do lazer Para fins de construção deste Ma terial Didático Mediacional chamamos de animador cultural o profissional de Educação Física que atuará no campo do lazer 173 Claretiano Centro Universitário U4 Lazer Formação e Atuação Profissional Com isso ao longo dos estudos desta unidade buscamos definir o conceito de animação cultural como uma forma de en tendimento mais amplo para aqueles que se aventuram ou irão se aventurar nessa área Advogamos por uma formação mais crítica e consistente a fim de que possamos proporcionar intervenções brilhantes no seio da prática social do lazer Finalizamos com o relato de uma intervenção brilhante en caminhada por Mascarenhas 2003 que fortalece o vínculo entre teoria e prática brindandonos com a possibilidade de uma ação crítica no âmbito do lazer 12 EREFERÊNCIAS Sites pesquisados GRUPO DE PESQUISA ANIMA Lazer Animação Cultural e Estudos CulturaisUFRJ Disponível em httpwwwanimaeefdufrjbr Acesso em 05 out 2012 UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA Unimep Grupo de pesquisas em lazer Disponível em httpwwwunimepbrgplindexphpfid81ct1682 Acesso em 18 set 2012 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ISAYAMA Helder Ferreira Formação profissional In GOMES Christianne Luce Org Dicionário crítico do lazer Belo Horizonte Autêntica 2004 p 9396 ISAYAMA Helder Ferreira Formação profissional no âmbito do lazer desafios e perspectivas In Org Lazer em estudo currículo e formação profissional Campinas Papirus 2010 p 925 GOMES Christianne Luce A contribuição da pesquisa para a formação profissional em lazer In ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer em estudo currículo e formação profissional Campinas Papirus 2010 p 87101 Lazer trabalho e educação relações históricas questões contemporâneas 2 ed rev ampl Belo Horizonte Editora UFMG 2008 GÓMEZ José Antonio Caride Paradigmas teóricos en animación sociocultural In TRILLA Jaume Coord Animación Sociocultural teorías programas y ámbitos Barcelona Ariel 1997 p 4160 Recreação e Lazer 174 MARCELLINO Nelson Carvalho A formação e o desenvolvimento de pessoal em políticas públicas de lazer e esporte In Org Formação e desenvolvimento de pessoal em lazer e esporte Campinas Papirus 2003 p 917 A relação teoria e prática na formação profissional em lazer In ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer em estudo currículo e formação profissional Campinas Papirus 2010 p 5985 O lazer na atualidade brasileira perspectivas na formaçãoatuação profissional Licere Belo Horizonte v 3 n 1 p 125133 2000 MASCARENHAS Fernando Lazer como prática da liberdade uma proposta educativa para a juventude Goiânia Editora UFG 2003 MELO Victor Andrade de A formação cultural do animador cultural antigas reflexões persistências continuidades In ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer em estudo currículo e formação profissional Campinas Papirus 2010 p 127141 Animação cultural conceitos e propostas Campinas Papirus 2006 MELO Victor Andrade de ALVES JÚNIOR Edmundo de Drummond Introdução ao lazer Barueri Manole 2003 PIMENTEL Giuliano Gomes de Assis Lazer fundamentos estratégias e atuação profissional Jundiaí Fontoura 2003 PINTO Leila Mirtes Santos de Magalhães Formação de educadores e educadoras para o lazer saberes e competências Rev Bras Ciênc Esporte Campinas v 22 n 3 p 5371 2001 SANTOS Milton Da cultura à indústria cultural Folha de S Paulo São Paulo 19 mar 2000 Caderno Mais p 18 SILVA Silvio Ricardo CAMPOS Priscila Augusta Ferreira Formação profissional em Educação Física e suas interfaces com o lazer In ISAYAMA Helder Ferreira Org Lazer em estudo currículo e formação profissional Campinas Papirus 2010 p 143161