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Ciência da Computação ·

Cálculo 2

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CÁLCULO II Limite e continuidade Definição de limite Vamos supor que A ⊂ R é uma união de intervalos quaisquer e que a ∈ A ou a é um dos extremos de algum desses intervalos. Por exemplo, A = (−2, 0) ∪ (0, 3) e a = 0; A = (−1, 1) e a = 1; A = (−1, 3] e a = 2. Definição 33.1: Seja f : A −→ R uma função. Dizemos que lim x→a f(x) = L se, e somente se, para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que, se x ∈ A e 0 < |x − a| < δ, então |f(x) − L| < ε. Usando a simbologia matemática, temos lim x→a f(x) = L ⇐⇒ ∀ ε > 0, ∃ δ > 0, tal que x ∈ A e 0 < |x − a| < δ =⇒ |f(x) − L| < ε. Essa é, provavelmente, a definição mais difícil de apresentar aos alunos dos cursos de Cálculo. Repare bem: quando escrevemos lim x→−1 x³ + 1 x + 1 = 3, na verdade, estamos dizendo ∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que 0 < |x + 1| < δ =⇒ |x³ + 1 x + 1 − 3| < ε. Vamos agora mostrar que essa simbologia toda nos diz que, para valores de x próximos de −1, os valores f(x) = x³ +1 x +1 estão próximos de 3. Para desvendarmos esse segredo devemos avançar passo a passo. O primeiro deles consiste em entender como a noção ‘próximo de’, ‘tende a’ está estabelecida na definição. A chave para isso é a noção de distância, dada pela função módulo ou valor absoluto. A distância entre x e a é igual a |x − a|. Assim, quando dizemos |x − a| < δ, queremos dizer que a distância entre x e a é menor do que δ, um certo valor positivo. Por exemplo, a inequação |x − 3| < 2 determina os pontos da reta que estão a uma distância menor do que duas unidades do ponto 3. Esses pontos formam o intervalo aberto (1, 5). CEDERJ 186 Limite e continuidade Em geral, a inequação |x − a| < δ caracteriza o intervalo aberto (a − δ, a + δ). Usaremos a expressão x está δ-próximo de a para dizer que x pertence a esse intervalo. Analogamente, |f(x) − L| < ε significa que f(x) ∈ (L − ε, L + ε) e diremos que f(x) está ε-próximo de L. Note que na definição usamos a frase 0 < |x − a| < δ. A condição 0 < |x − a| nos garante que x ≠ a pois, x = a se, e somente se, |x − a| = 0. Isso é muito conveniente, uma vez que assim excluímos o ponto a da análise. Logo, a pode pertencer ou não ao domínio A da função. Portanto, a frase 0 < |x − a| < δ =⇒ |f(x) − L| < ε pode ser lida da seguinte maneira: se x está δ-próximo de a e é diferente de a, então f(x) está ε-próximo de L. Veja como isso fica numa figura: Agora você deve ter notado como a definição tem o sentido que espe- ramos. Ela trata de distâncias. Mas ainda falta, algo muito importante. A frase completa começa com ‘∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que ...’ Isto é, ‘para cada ε > 0, existe um δ > 0 (que depende de ε) tal que ...’ Aqui usamos dois quantificadores: o quantificador universal, usado no épsilon e o quantificador existencial, usado nos delta. Esses quantificadores animam a definição. Isto é, para cada ε > 0 devemos arranjar um δ > 0 tal que, para todos os valores de x que estão δ-próximos de a, porém diferentes de a, os valores correspondentes f(x) estão ε-próximos de L. 187 CEDERJ Limite e continuidade MÓDULO 3 - AULA 33 Aula 33 − Limite e continuidade Objetivo • Aprender a definição de limite de uma função real, de uma variável real, na versão com épsilon e delta, e estendê-la para uma função vetorial de uma variável real. • Conhecer a noção de continuidade de funções vetoriais. Introdução No curso de Cálculo I você aprendeu uma definição de limite de uma função real de uma variável real em termos de sequências de números. Agora você aprenderá uma outra definição desse conceito, que é equivalente à que você conhece, e que chamaremos de definição com épsilon e delta. Essa definição evita a introdução da noção de sequência e, além do mais, ela será generalizada para o caso das funções vetoriais, objeto de nosso estudo atual, e das funções de várias variáveis, que passaremos a estudar em breve. A definição de limite com épsilon e delta foi estabelecida por Karl Weierstrass e é uma pérola da Matemática. Veja, o nosso objetivo é estabelecer, rigorosamente, o que queremos dizer quando escrevemos lim x→a f(x) = L. Você poderia responder: isso significa que, quando a variável x assume valores bem próximos de a, a variável dependente y = f(x) assume valores bem próximos de L. Muito bem! É isso mesmo. A questão está no rigor. Ou seja, qual é o significado de ‘x assume valores bem próximos de a’? Essa frase tem valor pois nos ajuda a entender, a dar um sentido para a nossa fórmula. No entanto, do ponto de vista matemático, falta-lhe, exatamente, o rigor. E como você já sabe, o rigor é fundamental na Matemática. Para provar teoremas, chegar a conclusões definitivas, precisamos mais do que a frase oferece. Vamos adotar um procedimento direto: primeiro apresentamos a de- finição e depois faremos uma discussão de seus termos, até aproximá-la da noção intuitiva de limite que você já tem. 185 CEDERJ CÁLCULO II Limite e continuidade Veja, não é suficiente arranjar um valor para δ, digamos δ = 0,0001, que torne a frase ‘0 < |x - a| < δ =⇒ |f(x) - L| < ε’ verdadeira para um certo valor de ε, digamos ε = 0,0003. Precisamos seguir determinando valores de δ correspondentes a valores de ε ainda menores. Pelo menos aqui temos uma boa notícia. Apesar do quantificador universal que usamos com ε, na verdade, basta que nos preocupemos com os valores pequenos de ε. Isso por que, se encontramos um valor de δ que funcione para um certo valor de ε, digamos ε = 1, esse mesmo valor de δ também serve para todos os valores de ε maiores do que 1. Em termos mais simples, para que \( \lim_{x \to a} f(x) \) seja \( L \), não basta que a frase \( 0 < |x - a| < δ =⇒ |f(x) - L| < ε \) seja verdadeira para alguns valores de ε. Ela deve ser verdadeira para todos os valores de ε, especialmente os bem pequenos. Em termos gráficos, o desenho apresentado na figura anterior deve ser como um quadro de uma animação. Essa animação deveria prosseguir com o mesmo aspecto se a faixa \( L - ε < y < L + ε \) se tornasse tão estreita quanto quisermos. Veja como isso funciona num exemplo. Exemplo 33.1 Vamos usar a definição de limites que acabamos de apresentar para mostrar que a afirmação \(\lim_{x \to 1} \frac{2x^2 - 2}{x - 1} = 4\) é verdadeira. A grande dificuldade que, geralmente, os alunos têm ao lidar inicialmente com a definição que apresentamos é a seguinte: como descobrir os valores de δ, em função dos valores de ε que tornem a frase verdadeira? Bem, o segredo é o seguinte: em geral, fazemos certas contas de antemão, num rascunho, para depois apresentar o resultado, que então surge como que tirado de uma cartola. Mas hoje é o seu dia de sorte! Você não precisará preocupar-se com esse tipo de coisa, ainda. Isso é assunto do curso de Análise. Tudo a seu tempo. Vamos começar com o nosso exemplo observando que o domínio da função \( f(x) = \frac{2x^2 - 2}{x - 1} \) é o conjunto \( A = \mathbb{R} - \{1\} = (-\infty,1) \cup (1, \infty). \) Vamos lá! Lembre-se: para cada \( ε > 0 \) devemos arranjar um δ tal que \( 0 < |x - 1| < δ =⇒ |f(x) - 4| < ε \) Surpresa! Para cada \( ε > 0 \), tome \( δ = \frac{ε}{2}. \) Veja, se \( x \neq 1, \) então \(|f(x) - 4| \begin{vmatrix} \frac{2x^2 - 2}{x - 1} - 4 \end{vmatrix} = \begin{vmatrix} \frac{2(x - 1)(x + 1)}{x - 1} - 4 \end{vmatrix} = = \begin{vmatrix} 2x + 2 - 4 \end{vmatrix} = \begin{vmatrix} 2x - 2 \end{vmatrix} = 2|x - 1|.\) Isto é, se \( 0 < |x - 1|, \) então \( |f(x) - 4| = 2|x - 1|. \) Portanto, se \( 0 < |x - 1| < δ = \frac{ε}{2}, \) então \( |f(x) - 4| = 2|x - 1| < 2 \frac{ε}{2} = ε. \) Logo, para cada \( ε > 0, \) se \( 0 < |x - 1| < \frac{ε}{2} \) então \( |f(x) = 4| < ε. \) Isso é, \(\lim_{x \to 1} f(x) = 4. \) Exemplo 33.2 Vamos usar ε e δ para mostrar que \(\lim_{x \to 2} x^2 = 4. \) Queremos mostrar que se \( x \) toma valores próximos de \(2\) então \(x^2\) toma valores próximos de \(4. \) Isso é claro, do ponto de vista do senso comum mas, em Matemática, precisamos de provas. Muito bem, queremos mostrar que se \( 0 < |x - 2| \) é um valor próximo de zero, então \( |x^2 - 4| \) também está próximo de zero. Observe que \( |x^2 - 4| = |x - 2||x + 2|. \) Nosso problema está em ‘controlar’ o fator \(|x + 2|.\) Observe: se os valores que escolhermos para \( δ \) não forem maiores do que \( 1, \) teremos a garantia que \( 0 < |x - 2| < 1. \) Isto é, \( x \neq 2 e -1 < x - 2 < 1. \) Essa desigualdade é equivalente à \( 1 < x < 3, \) que por sua vez é equivalente a \( 3 < x + 2 < 5. \) CÁLCULO II Limite e continuidade Resumindo, se escolhermos valores para \( δ \) menores ou iguais a \( 1, \) teremos \( |x + 2| < 5. \) Ótimo! Estamos prontos para mostrar, com epsilon e delta, que \(\lim_{x \to 2} x^2 = 4. \) Para cada \( ε > 0 \) tome \( δ = \min\{1,ε/5\}. \) Isto é, \( δ \) é o menor entre os números \( 1 \) e \( ε/5. \) Dessa forma garantimos que \( δ \) é menor ou igual a \( 1 \) e, com isso, garantimos que \( |x + 2| \leq 5. \) Então, se \( 0 < |x - 2| < δ, \) temos \( |f(x) - 4| = |x^2 - 4| = |x - 2| |x + 2| < δ \cdot 5 \leq \frac{ε}{5} \cdot 5 = ε. \) Vamos agora analisar um exemplo onde não há limite. Na verdade, usaremos a definição para constatar que um ‘bom candidato a limite’ não satisfaz a definição. Exemplo 33.3 Vamos mostrar que se \( f : \mathbb{R} \to \mathbb{R} \) é a função dada por \( f(x) = \begin{cases} x + 1 & \text{se} \; x \geq 1, \\ x & \text{se} \; x < 1, \end{cases} \) então, apesar de \( f(1) = 2, \) o limite de \( f(x) \) quando \( x \) tende a \( 1 \) não é \( 2. \) Antes de mais nada, veja o que devemos fazer. Para provar que o limite de \( f(x) \) quando \( x \) tende a \( 1 \) não é \( 2, \) devemos negar a definição de limite: \( \forall ε > 0, \exists δ > 0, \) tal que \( 0 < |x - 1| < δ =⇒ |f(x) - 2| < ε. \) Lembre-se das aulas de lógica: a negação inverte os quantificadores. Portanto, devemos mostrar que \( \exists ε > 0, \) tal que \( \forall δ > 0 \) existe algum valor de \( x \) com \( 0 < |x - 1| < δ \; e \; |f(x) - 2| \geq ε. \) Limite e continuidade MÓDULO 3 - AULA 33 O gráfico de f numa vizinhança de 1 nos ajudará nessa tarefa. Aqui está: Veja que podemos tomar valores para x tão próximos de 1 o quanto quisermos, mas cujas imagens estarão a uma distância maior do que 1 do candidato a limite 2. Para isso basta tomar valores de x à esquerda de 1. Logo, o nosso candidato ao valor de ε que não satisfará à definição é 1. Realmente, para ε = 1/2 e um δ > 0 qualquer, escolha um x_0 tal que 1 - δ < x_0 < 1 e 1/2 < x_0 < 1. A primeira condição garante que 0 < |x_0 - 1| < δ e, como x_0 ∈ (1/2, 1), f(x_0) = x_0. Ora, se x_0 se encontra à esquerda de 1, sua distância até 2 é maior do que 1: |f(x_0) - 2| = |x_0 - 2| ≥ 1/2. Realmente, provar que um certo limite é um dado número ou que um certo valor não é o limite, usando diretamente a definição é trabalhoso. Na verdade, nós só fazemos isso em ocasiões especiais. A prática é a seguinte: usamos a definição para provar as muitas propriedades dos limites e usamos as propriedades de limites para calculá-los Para dar uma ideia de como a definição funciona na prova das propriedades de limites, vamos provar o seguinte teorema. CEDERJ CÁLCULO II Limite e continuidade Teorema 33.1: Sejam f e g funções definidas numa vizinhança V de a, mas não necessariamente em a, tais que (a) lim[x→a] f(x) = 0 (b) ∃ M > 0 tal que |g(x)| < M, para todo x ∈ V, x ≠ a. Então, lim[x→a] f(x) · g(x) = 0. Isto é, se o limite da função f é zero e a função g é limitada, o limite do produto das duas funções também é zero. Prova: Como lim f(x) = 0, sabemos que para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que, se x ∈ V e 0 < |x - a| < δ, então |f(x)| < ε. (I) Queremos mostrar que lim[x→a] f(x) · g(x) = 0. Isto é, para cada ε' > 0, existe δ' > 0 tal que, se x ∈ V e 0 < |x - a| < δ' < δ, então |f(x) · g(x)| < ε'. Dado ε' > 0, fazemos ε = ε'/M e escolhemos para δ' o mesmo δ que corresponde ao ε e torna a afirmação (I) verdadeira: δ' = δ. Assim, se x ∈ V e 0 < |x - a| < δ' = δ, então |f(x) · g(x)| ≤ |f(x) · M| < ε M = ε' / M · M = ε'. Ou seja, para cada ε' arranjamos um δ' tal que 0 < |x - a| < δ' ⟹ |f(x) · g(x)| < ε'. Portanto, provamos que lim[x→a] f(x) · g(x) = 0. Esse teorema é uma poderosa ferramenta de cálculo de limites. Veja, no próximo exemplo, como ela funciona. CEDERJ Limite e continuidade MÓDULO 3 - AULA 33 Exemplo 33.4 Vamos calcular o lim[x→0] x^2 cos(1/x). Note que a função f(x) = x^2 cos(1/x) não está definida no ponto x = 0. Além disso, o limite de h(x) = cos(1/x), quando x tende a zero, não está definido. Veja o seu gráfico na figura a seguir. Este limite não existe pois a função se ‘acumula’ em todo o intervalo [-1, 1] do eixo Oy. No entanto, lim[x→0] x^2 = 0, e portanto, lim[x→0] x^2 cos(1/x) = 0. Veja o gráfico da função f(x) = x^2 cos(1/x), numa pequena vizinhança da origem: Continuidade O conceito mais diretamente ligado ao limite é a continuidade. Veja como a definição de limites que acabamos de apresentar se reflete na definição de continuidade. Seja A ⊂ R uma união de intervalos e f : A ⟶ R uma função. Você aprendeu, no curso de Cálculo I, que a função f é contínua em a ∈ A se, e somente se, lim[x→a] f(x) = f(a). CEDERJ Limite e continuidade CÁLCULO II Muito bem, com a definição de limites que você acabou de ver, isso significa o seguinte. A função \(f\) é contínua em \(a \in A\) se, e somente se, para cada \(\varepsilon > 0\), existe \(\delta > 0\) tal que, se \(x \in A\) e \(0 < |x-a| < \delta\) então \(|f(x) - f(a)| < \varepsilon.\) Isto é, \(f\) é contínua em \(x = a\) se para valores de \(x\) próximos de \(a\), os valores correspondentes \(f(x)\) estão próximos de \(f(a).\) Essa é a nossa noção geral de continuidade: pequenos acréscimos na variável independente correspondem a pequenos acréscimos na variável dependente. A definição com épsilon e delta dá rigor a essa idéia geral. Agora estamos prontos para enunciar os correspondentes conceitos de limite e continuidade de funções vetoriais de uma variável real. Limites de funções vetoriais de uma variável real A diferença entre uma função vetorial e uma função real está no contradomínio. Em vez de números obtemos vetores, elementos de \(\mathbb{R}^n.\) Para estabelecermos a definição de limites no caso dessas funções, basta que tenhamos uma noção de distância em \(\mathbb{R}^n.\) Ou seja, precisamos dizer qual é a distância entre dois vetores, digamos \(v_1\) e \(v_2.\) Essa noção é dada pela norma da diferença, denotada por \(\|v_2 - v_1\|.\) Se \(v \in \mathbb{R}^n\) é dado por \(v = (x_1, x_2, \ldots, x_n),\) então \[ \|v\| = \sqrt{\langle v,v \rangle} = \sqrt{x_1^2 + x_2^2 + \cdots + x_n^2 }.\] A norma faz em \(\mathbb{R}^n\) o papel que o valor absoluto faz em \(\mathbb{R},\) para estabelecer a distância. Veja, se \(v_1 = (x_1, y_1)\) e \(v_2 = (x_2, y_2),\) em \(\mathbb{R}^2,\) por exemplo, a distância entre \(v_1\) e \(v_2\) é dada por \[\|v_1 - v_2\| = \sqrt{(x_1 - x_2)^2 + (y_1 - y_2)^2}.\] Isto é, a distância em \(\mathbb{R}^n\), estabelecida pela norma, corresponde à nossa tradicional noção de distância. Estamos prontos, finalmente, para enunciar a definição de limites de funções vetoriais. %%%%PAGE 195 CEDERJ Limite e continuidade MÓDULO 3 - AULA 33 Vamos supor que \(A \subset \mathbb{R}\) é uma união de intervalos quaisquer e que \(a \in A\) ou \(a\) é um dos extremos de algum desses intervalos. Definição 33.2: Seja \(\alpha : A \longrightarrow \mathbb{R}^n\) uma função vetorial e \(L \in \mathbb{R}^n\) um vetor. Dizemos que \(\lim_{t \to a} \alpha(t) = L\) se, e somente se, para cada \(\varepsilon > 0\), existe \(\delta > 0\) tal que, se \(t \in A\) e \(0 < |t-a| < \delta\), então \(\| \alpha(t) - L \| < \varepsilon.\) Se você comparar esta definição com a definição de limites, com \(\varepsilon\) e \( \delta \) das funções reais, verá que as diferenças são muito pequenas. O termo \(|f(x) - L| < \varepsilon\) foi substituído por \(|\alpha(t) - L| < \varepsilon\), enquanto o primeiro \(L\) é um número, o segundo é um vetor. Do ponto de vista prático, o limite de funções vetoriais é simples. Veja o próximo teorema. Teorema 33.2: Seja \(\alpha : A \subset \mathbb{R} \longrightarrow \mathbb{R}^n\) uma função vetorial, onde \(A\) é uma união de intervalos. Seja \(a \in A\) ou \(a\) é um dos extremos dos extremos dos intervalos que formam \(A.\) Então \(\lim_{t \to a} \alpha(t) = L \iff \lim_{t \to a} \alpha_i(t) = L_i\) para cada uma das funções coordenadas \(\alpha_i\), onde \(L_i\) é a \(i\)-ésima coordenada do vetor \(L = (L_1, L_2, \ldots, L_n).\) Este teorema nos diz que, para estudar o limite das funções vetoriais, basta estudar, um a um, os limites das funções coordenadas. Exemplo 33.5 Vamos calcular \(\lim_{t \to 1} \alpha(t),\) onde \( \alpha(t) = \left(\frac{t^3 - 1}{t^2 - 1}, \frac{\sen(t-1)}{t-1}, \ln t \right).\) Note que o domínio de \(\alpha\) é a interseção dos domínios das funções coordenadas: \( A = ((-\infty, 1) \cup (1, \infty)) \cap (0, \infty) = (0, 1) \cup (1, \infty).\) Neste exemplo, \(A\) é uma união de dois intervalos e \(a = 1 ot\in A\) é extremo de ambos. %%%%PAGE 194 CEDERJ Limite e continuidade CÁLCULO II Basta calcularmos os limites das funções coordenadas: (a) \(\lim_{t\to 1} \frac{t^3 - 1}{t^2 - 1} = \lim_{t\to 1} \frac{3t^2}{2t} = \frac{3}{2};\) (b) \(\lim_{t\to 1} \frac{\sen(t-1)}{t-1} = 1;\) (c) \(\lim_{t\to 1} \ln t = 0.\) Assim, \(\lim_{t\to 1} \alpha(t) = (3/2, 1, 0).\) Esse teorema também nos garante que, a função \(\alpha : A \subseteq \mathbb{R} \longrightarrow \mathbb{R}^n\) é contínua em \(a \in A\) se, e somente se, cada função coordenada \(\alpha_i : A \subseteq \mathbb{R} \longrightarrow \mathbb{R}\) for contínua em \(a.\) Apresentamos aqui a prova do teorema 2, por razões de completicidade. No entanto, você já experienciou uma boa dose de \(\varepsilon\) e \(\delta\) e é recomendável que você a estude agora apenas no caso de ter uma boa folga na sua agenda. Caso contrário, você pode usar o teorema para resolver os problemas e poderá retomar a demonstração no devido tempo. No entanto, não deixe de estudá-la, pelo menos em algum momento. Prova do Teorema 33.2: Por simplicidade, vamos demonstrar o teorema para o caso \(n = 2.\) Isto é, vamos supor que a função \(\alpha\) tenha apenas duas funções coordenadas \((\alpha_1, \alpha_2).\) Então, \(L = (L_1, L_2).\) Queremos mostrar que \[\lim_{t\to a} \alpha(t) \iff \begin{cases} \lim_{t\to a} \alpha_1(t) = L_1 \\ e \\ \lim_{t\to a} \alpha_2(t) = L_2 \end{cases}\] Primeiro, vamos mostrar que se a função vetorial tem limite \(L\), então cada uma das funções coordenadas tem limite \(L_i\), a correspondente coordenada do vetor limite \(L.\) Sabemos que, para cada \(\varepsilon > 0\), existe um \(\delta > 0\) tal que, se \(t \in A\) e \(0 < |t-a| < \delta \implies \|\alpha(t) - L\| < \varepsilon.\) \((I)\) CEDERJ 196 Limite e continuidade Como |α₁(t) − L₁| ≤ √((α₁(t) − L₁)² + (α₂(t) − L₂)²) = ||α(t) − L||, podemos usar o mesmo δ para ambas funções coordenadas. Ou seja, dado ε > 0, tomemos δ > 0 tal que (I) seja verdadeiro e, portanto, se 0 < |t−a| < δ e t ∈ A, então |αᵢ(t) − Lᵢ| ≤ ||α(t) − L|| < ε, para ambos i = 1 e i = 2. Agora devemos mostrar que, se cada uma das funções coordenadas tem limite, então a função vetorial também tem limite. Ou seja, sabemos que, se t é um valor próximo de a, cada uma das coordenadas αᵢ(t) estará ε-próximo de Lᵢ. Isto é, temos controle sobre os catetos e queremos controlar a hipotenusa. Muito bem, aqui está o que está faltando. Seja M a maior entre as distâncias |α₁(t) − L₁| ou |α₂(t) − L₂|. Então, ||α(t) − L|| = √((α₁(t) − L₁)² + (α₂(t) − L₂)²) ≤ √2 M² = √2 M. Sabemos então que, dado ε > 0, existem δ₁ > 0 e δ₂ > 0 tais que, se 0 < |t − a| < δᵢ e t ∈ A, então |αᵢ(t) − Lᵢ| < ε/√2, para i = 1 e i = 2. Muito bem, agora estamos prontos para terminar a demonstração: Dado ε > 0, escolha δ como o menor entre δ₁ e δ₂ > 0. Então, se 0 < |t − a| < δ e t ∈ A, então |αᵢ(t) − Lᵢ| < ε/√2, i = 1 ou i = 2. Assim, M < ε/√2. Portanto, ||α(t) − L|| ≤ √2 M < √2 ε/√2 = ε. Comentário finais Essa foi uma aula bastante atípica. Você foi apresentado a um conteúdo de Cálculo I e a quantidade de informação teórica é muito grande. No entanto, este conteúdo é muito importante para os matemáticos e essa não deverá ser a única oportunidade em que você lidará com essas ideias. Portanto, você não deve esperar um completo domínio do conteúdo numa primeira leitura. A apresentação buscou ser a mais amigável possível, sem deixar de encarar as dificuldades. Não se espera que você seja capaz de desenvolver argumentos como os que foram apresentados nos exemplos 33.1, 33.2 e 33.3. Nem por isso deixe de lê-los atentamente. Eles o ajudarão a entender as ideias expostas anteriormente. CÁLCULO II Limite e continuidade Do ponto de vista prático, você relembrou o teorema 1, que é uma boa ferramenta de cálculo de limites, como você pode ver no exemplo 33.4, e aprendeu a lidar com os limites e a continuidade de funções vetoriais de uma variável real. Basta considerar a situação coordenada a coordenada, segundo o enunciado do teorema 33.2 e exemplificado em 33.5. Aqui estão alguns exemplos para você experimentar os seus progressos: Exercícios Exercício 1 Use a noção de distância para resolver as seguintes equações e inequações. (a) |x − 3| = 5; (b) |x − 1| ≤ 1/2; (c) 0 < |x − 2| < 4; (d) |x + 3| > 2; (e) 1 < |x + 1| < 2; (f) ||(x, y)|| = √2; (g) 0 < ||(x, y) − (1, 0)|| ≤ 2; (h) ||(x, y) − (2, 2)|| > 4; (i) 1 < ||(x, y) − (2, 0)|| < 2; (k) ||(x, y, z) − (1, 0, 0)|| < 1. Exercício 2 Calcule os seguintes limites. (a) lim t→0 (t² − 2 / t + 1), sen t / t; (b) lim t→+∞ (t / t² + 1 *, 2t − 3 / √t² + 4); (c) lim t→√2 (t² − 2 / t − √2²), e√2 − eᵗ / t³ − 2√2); (d) lim t→1 (t³ − 1 / t² − 1 *, t − 1 / ⁴√t − 1 *, tg π(t − 1) / t − 1). Exercício 3 Calcule os valores de a e b tais que a função α(t) = {(a t + b, 4t − 3), se t ≥ 1; (2t + 3, 2at² − b), se t < 1} seja contínua. Exercício 4 Sejam I, J ⊂ ℝ dois intervalos, f : I → J uma função contínua em a ∈ I, com f(a) = b ∈ J. Seja α : J → ℝ³ uma função vetorial contínua em b ∈ J. Mostre que a função vetorial α ∘ f : I → ℝ³ é contínua em a ∈ I. Note que α ∘ f(t) = (α₁ ∘ f(t), α₂ ∘ f(t), α₃ ∘ f(t)).