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123 Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL DESAFIOS PARA ALÉM DA CLÍNICA1 Psychological evaluation in the context of mental health challenges beyond the clinic Tallita Frandoloso2 Verena Augustin Hoch3 RESUMO O presente estudo buscou problematizar os processos de avaliações psicológicas possibilitando uma reflexão crítica acerca do tema Teve como objetivo descrever os processos de avaliação psicológica realizados em um Centro de Atenção Psicossocial e compreender sua inserção no contexto da saúde mental Tratase de um relato de experiência de abordagem qualitativa do tipo descritivo sobre os processos de avaliações psicológicas realizados enquanto psicóloga residente no período de um ano em um CAPS tipo I situado na região Sul do Brasil Identificouse que nesse contexto o psicólogo está vinculado a uma representação social associada à clínica individual influenciando na elevada quantidade de encaminhamentos para avaliação e dificultando o desenvolvimento de uma clínica ampliada Observou se que apesar dos desafios o psicólogo possui instrumentos para realização de uma avaliação que potencialize o cuidado integral e o olhar biopsicossocial assim como verificouse a pertinência da entrevista clínica como método para avaliação psicológica no serviço substitutivo Considerase que para cumprir com sua responsabilidade social a avaliação psicológica deverá ser utilizada como uma ferramenta facilitadora na compreensão sobre o sofrimento psíquico e identificação das potencialidades de cada sujeito sempre levando em consideração seu contexto Palavraschave Saúde mental Avaliação psicológica Entrevista Abstract The present study aims to problematize the processes of psychological evaluations allowing a critical reflection on the theme It sought to describe the processes of psychological evaluation performed in a Psychosocial Care Center and to understand its insertion in the context of mental health This is an experience report with a qualitative descriptive approach on the psychological evaluation processes performed as a resident psychologist in a oneyear period in a CAPS type I located in the southern region of Brazil It was identified that in this context the psychologist is linked to a social representation associated with the individual clinic influencing the high number of referrals for evaluation and making it difficult to develop an expanded clinic It was observed that in spite of the challenges the psychologist pos sesses instruments to carry out an evaluation that enhances the integral care and the biopsychosocial view as well as the relevance of the clinical interview as a method for psychological evaluation in the substitutive service was verified It is considered that in order to fulfill its social responsibility psychological evaluation should be used as a facilitating tool in understanding psychic suffering and identifying the potentialities of each subject always taking into account their context Keywords Mental health Psychological evaluation Interview Recebido em 30 de março de 2019 Aceito em 1 de outubro de 2019 1 Artigo apresentado em 2017 para obtenção do título de Especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade do Oeste de Santa Catarina 2 Especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade do Oeste de Santa Catarina e em Saúde Mental Coletiva pela Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul Psicóloga Residente em Saúde da Família na Escola de Saúde Pública de Florianópolis frandolosotallitagmailcom 3 Mestra em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Professora no Curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina verenahochhotmailedubr 124 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 1 INTRODUÇÃO Após reivindicações políticas e sociais ocorreram no Brasil a aprovação da Constituinte no ano de 1988 e a criação do Sistema Único de Saúde subsidiada pela Lei n 808090 A partir desse momento o modelo biopsicossocial passou a orientar as práticas em saúde com um saberfazer integrado sem fragmentações objetivando a autonomia do sujeito Com isso a psicologia começa adentrar o campo das políticas públicas inserida em equipes multidisciplinares contribuindo para a integralidade do cuidado por meio de diversas práticas entre elas a avaliação psicológica GONÇALVES 2010 SPINK 2011 YAMAMOTO 2004 Nesse sentido o objetivo geral do presente artigo é relatar os processos de avaliações psicológicas realizados por meio das vivências enquanto Psicóloga Residente em Saúde Mental Coletiva no período de um ano em um CAPS tipo I situado na região Sul do Brasil assim como busca compreender a inserção da avaliação psicológica no contexto da saúde mental Entendese que a avaliação psicológica ainda está bastante vinculada à patologização dos sujeitos devido a sua relação com o modelo biomédico da qual originouse Conforme Casullo 1996 ainda é comum encontrarmos diversos questionamentos a respeito do fato de a avaliação psicológica estar presa a um olhar contundente nas enfermidades e nas fragilidades do sujeito Sendo assim esse estudo fazse necessário pois visa problematizar o compromisso social das avaliações psicológicas e sua interface com a produção de cuidado em saúde mental nos serviços substitutivos 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21 O CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL Inspirados na experiência italiana o Brasil iniciou o processo de luta pela transformação da realidade no campo da saúde mental no final da década de 1970 O Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental realizou as primeiras denúncias sobre o funcionamento dos manicômios com violações dos direitos humanos e mercantilizarão da loucura Nesse período também começaram difundir em todo país as questões envolvendo saúde mental pela primeira vez com a participação da sociedade em geral mobilizando discussões e iniciando algumas mudanças no tratamento AMARANTE 2011 A partir do ano de 1992 os movimentos sociais conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental O estado do Rio Grande do Sul foi pioneiro na aprovação da lei e construção de uma rede substitutiva BRASIL 2005b Somente em 2001 a Lei Paulo Delgado é sancionada no país após doze anos de tramitação no Congresso Nacional e com modificações importantes do projeto inicial A Lei Federal 1021601 redireciona o modelo assistencial em saúde mental e dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais enfatizando o cuidado em liberdade em serviços comunitários inseridos na sociedade BRASIL 2001 22 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Os Centros de Atenção Psicossocial são serviços de saúde abertos comunitários que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas através do acesso ao trabalho lazer exercício dos direitos civis cidadania e fortalecimento dos laços familiares e comunitários BRASIL 2005b Esses serviços começaram a surgir nas cidades brasileiras na década de 1980 e desde 2002 são regulamentados pela Portaria n 336GM BRASIL 2002 Nesses espaços o saberfazer não deve estar relacionado ao conceito de cura pois o sofrimento não tem de ser removido a qualquer custo ele é reintegrado como parte da existência Nesse sentido as práticas realizadas nos CAPS devem ter um olhar ampliado sobre o sujeito seus vínculos e relações sociais AMARANTE 2011 DEVERA COSTAROSA 2007 125 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 23 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM SAÚDE MENTAL A avaliação psicológica é um processo que mediante um determinado enfoque teórico procura analisar um fenômeno real ou simbólico em seus aspectos manifestos eou latentes Toda avaliação tem como finalidade categorizar comparar analisar ou contrastar dados quantitativos ou qualitativos obtidos por meio de diversas técnicas CASULLO 1996 Esse processo de avaliação psicológica resulta em um psicodiagnóstico Conforme Ocampo e Arzeno 1985 o psicodiagnóstico deve buscar o esclarecimento da dinâmica do caso sendo integrado a um quadro global não podendo ser reduzido a uma soma de partes fragmentadas Conforme Ocampo e Arzeno 1985 a avaliação psicológica deve ocuparse em explicar o que acontece com um determinado sujeito mas essa explicação não pode restringirse a colocar nomes ou nomenclaturas na sintomatologia A investigação diagnóstica e prognóstica como um processo dinâmico deve fornecer informações sobre as possibilidades terapêuticas e evoluções possíveis de uma determinada intervenção Nesse sentido o diagnóstico psicológico pode constituirse como uma ferramenta que favorece uma comunicação entre o psicólogo e o paciente facilitando a compreensão do próprio sujeito sobre seu sofrimento e consequentemente possibilitando uma atitude de cooperação para com seu próprio processo terapêutico GRASSANO 1996 Para Cunha et al 2000 a avaliação psicológica é um processo geralmente complexo que tem por objetivo produzir hipóteses ou diagnóstico sobre uma pessoa ou um grupo O autor ressalta que muitas vezes a expressão testagem psicológica é usada como sinônimo de avaliação psicológica de maneira errônea pois a testagem psicológica pode ser uma parte que constitui a avaliação quando necessária porém outras técnicas possuem a mesma fidedignidade como por exemplo entrevistas observações dinâmicas jogos entre outros 3 METOGOLOGIA Tratase de um relato de experiência de abordagem qualitativa do tipo descritivo A pesquisa qualitativa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar Esse tipo de estudo busca a descrição das características de determinada população ou fenômeno também procura desenvolver esclarecer e modificar conceitos e ideias GIL 2008 A pesquisa qualitativa pretende entender aquilo que ocorre na produção humana observada no universo das relações das representações e da intencionalidade Os resultados desses estudos pretendem entender a dinâmica das relações sociais os aspectos da realidade os significados crenças e valores dificilmente pode ser reduzido a números ou indicadores quantitativos Nesse sentido permite que o pesquisador trabalhe com amostras pequenas e escolhidas de forma intencional MINAYO 2016 O relato será sobre os processos de avaliações psicológicas realizados enquanto Psicóloga Residente no período de um ano em um CAPS tipo I situado na região Sul do Brasil Os CAPS I são os Centros de Atenção Psicossocial de menor porte capazes de oferecer uma resposta efetiva às demandas de saúde mental do município Esses serviços têm equipe mínima de nove profissionais de nível médio e superior e têm como clientela adultos com transtornos mentais severos BRASIL 2004 O relato de experiência pode ser definido como uma metodologia de observação sistemática da realidade sem objetivo de testar hipóteses mas estabelecendo correlações entre achados dessa realidade e bases teóricas pertinentes Surge de ideias sobre situações típicas da prática que em sua reorganização teórica explica instrui e dá sentido coerente e significado a uma experiência vivida Esse relato pode utilizar situações cujas informações são suficientes para caracterizar eventos singulares seja porque há registros eou pessoas para informar fatos ou situações que provoquem inquietações ou curiosidade para reformulação ou orientações de ações ou práticas futuras podendo ser integrador de situações do cotidiano com reflexões sobre ele e associações com a bibliografia Dessa maneira constitui ferramenta valiosa para narrar as relações entre fatores externos com interpretações do profissional ou de seu grupo implementado por reflexões teóricas e metodológicas GANCHO 1998 LEITE 1994 SILVA TRENTINI 2002 126 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 4 DISCUSSÕES 41 A EXPERIÊNCIA E SEU ESPAÇOTEMPO Esse serviço está inserido em uma Rede de Atenção Psicossocial composta por unidades básicas um CAPS I CAPS ad III CAPS i serviço de geração de renda equipe de redução de danos e leitos psiquiátricos no Hospital Geral Atualmente existem duas modalidades de residências inseridas nesse campo residência médica psiquiátrica e a multiprofissional composta por profissionais dos núcleos da psicologia serviço social enfermagem terapia ocupacional educação física e educação artística A Residência Multiprofissional em Área Profissional da Saúde foi definitivamente criada pela Lei Federal n 11129 de 30 de junho de 2005 Conforme o art 13 da referida lei constitui modalidade de ensino de PósGraduação Lato Sensu voltado para a Educação em Serviço destinado às categorias profissionais que integram a área de saúde Os residentes chegam ao serviço e assumem o papel de profissionalresidente compondo a equipe e se inserindo nas práticas do campo BRASIL 2005a Entendese que existe o campo comum a todos e o núcleo específico de cada especialidade ou profissão Para Campos 2000 o núcleo demarcaria uma área de saber e de prática profissional e o campo um espaço de limites imprecisos onde cada disciplina ou profissão buscaria em outras o apoio para cumprir suas tarefas teóricas e práticas O processo da residência proporciona trocas significativas com diversos núcleos presentes no serviço possibilitando trazer para as práticas entre elas a avaliação psicológica um olhar transdisciplinar Para Merhy 1997 o nosso olhar não está e não é o olho O olhar é um órgão sensível em nós pois o olhar pode ver ou não ver o que é visível ou invisível 42 O PSICÓLOGO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Existe um imaginário social sobre o psicólogo que ainda está fortemente vinculada à ideia de que esse profissional é responsável por avaliar os processos psíquicos e o comportamento buscando o ajustamento dos sujeitos Identificase que essa ideia também está presente nos serviços de saúde Esse entendimento pode estar relacionado ao surgimento da clínica e a origem das práticas psi Conforme Foucault 2002 para obter o status de ciência esse campo de saber iniciou seu percurso construindo conhecimentos para medir e quantificar o comportamento humano produzindo medidas testagens e previsões Racionalizaramse os processos psíquicos com o intuito de classificar os indivíduos em modelos predefinidos para se buscar o estado de normalidade e cura para o diferente o louco HÜNING GUARESCHI 2009 Verificase que no contexto onde essa experiência ocorreu os usuários profissionais e sociedade esperam respostas de um profissional da psicologia que ainda estão muito associadas ao modelo de clínica tradicional aquela que privilegia um espaço de escuta individualizado que se constrói na relação especialistapaciente Compreendese que a tão almejada clínica ampliada ainda está caminhando para ocupar seu devido lugar e não está livre de resistências implícitas e explicitas Identificase que assim como no processo permanente de reforma psiquiátrica BASAGLIA 1985 na clínica ampliada também ocorrem avanços e desafios porém ainda assim têm a potencialidade de fortalecer intervenções com olhar biopsicossocial voltado para potencialidade dos sujeitos Conforme Amaral Gonçalves e Serpa 2012 a psicologia ao se inserir nas políticas públicas pode construir novas possibilidades de atuação Contrapondo que não cabe mais a esse profissional desenvolver uma prática com enfoque individual em detrimento do contexto social e histórico Para Coimbra e Leitão 2003 pensar a clínica psi remete a considerar a instituição Psicologia e os impasses experimentados ao longo da história Pensar no trabalho que psicólogos estão desenvolvendo é pensar neste lugar instituído e naturalizado percebido como neutro e objetivo que muitas vezes ocupamos e fortalecemos o do saber poder Entendese que esse saberpoder está na tomada de decisões nas avaliações encaminhamentos e relações entre profissionais e usuários 127 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 43 A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E SUA INTERFACE COM A PRODUÇÃO DE CUIDADO NO CAPS Os recursos terapêuticos oferecidos pelo CAPS são atendimento individual prescrição de medicamentos psicoterapia orientação atendimento em grupo oficinas terapêuticas oficinas culturais grupos terapêuticos atividades esportivas atendimentos para a família grupo de familiares atendimento individualizado a familiares visitas domiciliares realização de assembleias que reúnem mensalmente técnicos usuários e familiares para discutir avaliar e propor encaminhamentos para o serviço e as atividades comunitárias com o objetivo de trocas sociais e a integração com a sociedade em geral buscando a reinserção social protagonismo dos sujeitos Entre esses recursos oferecidos pelo serviço a avaliação psicológica é uma das ferramentas utilizadas para atender aos encaminhamentos para atendimentos psicológicos individuais e grupais Esses encaminhamentos ocorrem mediante discussões em reunião de equipe que acontece semanalmente durante um turno aonde os casos que chegam para acolhimento durante a semana são repassados e discutidos com a equipe multidisciplinar para iniciar o planejamento do projeto terapêutico singular do usuário levando em consideração aquilo que o sujeito deseja do serviço e quais são as possibilidades terapêuticas oferecidas para então proceder com os encaminhamentos Conforme observação sistemática sobre o fluxo realizado pelo serviço identificouse duas principais questões vinculadas ao processo de avaliação psicológica a primeira é o desejo daquele que procura um serviço de saúde mental que na maioria dos casos solicita uma verdade do saber psi aparentemente buscando um diagnóstico sobre seu sofrimento resistindo aos outros recursos terapêuticos oferecidos para o planejamento de seu projeto terapêutico singular A segunda questão está voltada para as discussões de caso em equipe que muitas vezes acabam não sendo horizontais pois colocam as práticas psi como a ferramenta mais efetiva contribuindo para a ideia que os usuários têm sobre o cuidado individual voltado para o transtorno que necessita de uma intervenção clínica desse modo dificultando um trabalho interdisciplinar Entendese que essas duas questões refletem na demasiada quantidade de encaminhamentos para avaliação psicológica e psiquiátrica e consecutivamente contribuem para fragmentação no cuidado pois também reflete o pensamento que os profissionais do serviço possuem sobre o processo saúdedoença Identificase um recorte no processo biopsicossocial que privilegia o saber do psiquiatra e do psicólogo em detrimento aos outros saberes sendo que todos os profissionais do serviço possuem tecnologias para acolher avaliar e trabalhar com as demandas que emergem no serviço De acordo com Merhy 1997 as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde podem ser classificadas como dura levedura e leve A leve referese às tecnologias de relações do tipo produção de vínculo autonomização e acolhimento como uma forma de governar processos de trabalho A levedura diz respeito aos saberes bem estruturados que operam no processo de trabalho em saúde e a dura é referente ao uso de equipamentos tecnológicos do tipo máquinas normas e estruturas organizacionais Desse modo o cuidado é um somatório de decisões quanto ao uso de tecnologias de articulação de profissionais e ambientes em um determinado tempo e espaço Verificase uma valorização das tecnologias levedura e dura assim como a frequente necessidade do saber tido como especializado Nesse sentido identificase que ao mesmo tempo em que os profissionais questionam e criticam o paradigma biomédico acabam fortalecendo esse modelo no cotidiano dos processos de trabalho Assim compreendese que essa percepção sobre o processo saúdedoença pode estar relacionada à formação dos profissionais em saúde De acordo com Ceccim e Feuerwerker 2004 a formação de profissionais na área da saúde ainda se volta para a abordagem clássica em que o ensino é tecnicista preocupado com a sofisticação dos procedimentos e do conhecimento dos equipamentos auxiliares do diagnóstico tratamento e cuidado e organizado por áreas de especialidade 44 A ENTREVISTA COMO MÉTODO PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados conforme Ocampo e Arzeno 1985 e Trinca 1984 é feita sempre de acordo com o referencial teórico o objetivo e a finalidade Nesse sentido para Capitão Scortegagna e Baptista 2005 o processo de avaliação além de voltarse para a natureza da solicitação e das condições do sujeito 128 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 deve adequarse também às características do ambiente Desse modo o método principal escolhido para realização das avaliações psicológicas nesse contexto foi a entrevista psicológica com objetivo clínico e com a finalidade de identificar a necessidade da realização de tratamento em um serviço especializado de saúde mental Em alguns casos utilizouse de maneira complementar a entrevista com familiares observações do usuário nas oficinas e visitas domiciliares Acreditase que esse método privilegia uma compreensão mais ampla e subjetiva de cada sujeito proporcionando trocas que potencializam e tornamse terapêuticas pelo fato de conseguir olhar o outro com toda sua complexidade e diante disso pensar sobre os fenômenos que ali se atravessam Nesse sentido a entrevista também contempla os pressupostos e diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental que dá ênfase à criação de uma clínica ampliada e singular As entrevistas clínicas podem ser consideradas uma conversação dirigida a um propósito definido nesse caso tornandose uma interação entre duas ou mais pessoas que além de buscar um diagnóstico é uma intervenção terapêutica Fraser e Gondim 2004 Para Anache 2011 a avaliação psicológica busca garantir a autonomia dos homens por meio do conhecimento sobre si mesmo e pode possibilitar que o indivíduo seja empoderado de sua própria história de vida e não simplesmente impossibilitado de seguir vivendo reduzido a uma incapacidade Nesse sentido identificouse a importância de delimitar os objetivos e a finalidade da avaliação psicológica no serviço e principalmente conseguir transmitir essas informações e procedimentos de uma maneira que o usuário e a equipe possam compreender como ocorre esse processo Caso contrário as informações obtidas passam a não ter sentido para aquele que as recebe dificultando as demais intervenções terapêuticas e discussão de casos por exemplo Fezse necessário reforçar constantemente para a equipe que uma avaliação psicológica deve ser parte de uma avaliação psicossocial ampla e multiprofissional Pois por mais ampliado que seja o olhar do profissional que está realizando essa avaliação existem os limites de intervenção de cada núcleo No contexto da saúde em geral fatores psicossociais ou comportamentais exercem influência sobre processo saúde que pode ser influenciada por variadas condições tais como as diferenças individuais traços de personalidade sistema de crenças e atitudes comportamentos redes de suporte social e meio ambiente CAPITÃO SCORTEGAGNA BAPTISTA 2005 Conforme Avoglia 2006 o contexto social e o espaço circulante desse indivíduo parecem ser deixados de lado como elementos significativos para compreensão do caso O contexto precisa ser considerado pois se constitui em um espaço mediador Desconsiderar o contexto é desconectar o indivíduo de tudo aquilo que o cerca e envolve Sendo assim entendese que a avaliação psicológica não pode deixar de lado elementos significativos para a compreensão do fenômeno psíquico e o psicólogo como parte de uma equipe multidisciplinar também é responsável por expor esses elementos nas discussões de caso encaminhamentos e devolutivas Por fim acreditase que a realização da avaliação psicológica no contexto da saúde mental coletiva precisa estar disposta a contemplar a diversidade a fim de tornase um trabalho vivo em ato Para Merhy 1997 todo lugar que ocorre esse encontro profissionalusuário a tecnologia das relações opera pois o encontro singular de sujeitos também é momento da criação Entendese que dessa maneira a avaliação psicológica consiga cumprir seu compromisso social possibilitando aos sujeitos novas maneiras de estar no mundo e não mais se prendendo à tradição de rotular e definir padrões de normalidade Conforme Paulon 2004 uma clínica desviante é aquela capaz de transcender os espaços institucionais e as amarras disciplinares para acompanhar subjetividades inventar mundos e criar saídas inusitadas 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse artigo discutiu questões relevantes para área da avaliação psicológica e buscou problematizar sua interface com o contexto da saúde mental nas políticas públicas Observouse que a inserção da psicologia na saúde pode ser considerada recente mas já conseguiu proporcionar modificações significavas na compreensão do processo saúde doença e na produção de cuidado Contribuindo para um cuidado integral e equânime assumindo uma responsabilidade ética e política com o Sistema Único de Saúde Compreendese que para cumprir com sua responsabilidade social a avaliação psicológica deverá ser utilizada como uma ferramenta facilitadora na compreensão sobre o sofrimento psíquico e identificação das potencialidades de cada sujeito sempre levando em consideração seu contexto Verificase que diante da complexidade vivenciada nos serviços de mental a entrevista psicológica contempla todas as especificidades 129 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 necessárias para realização da avaliação psicológica tornandose uma ferramenta de grande relevância para atuação do psicólogo nas políticas públicas REFERÊNCIAS AMARAL M S GONÇALVES C H Serpa M G Psicologia comunitária e a saúde pública relato de experiência da prática psi em uma Unidade de Saúde da Família Psicologia Ciência e Profissão v 2 n 2 p 484495 2012 AMARANTE P Saúde Mental e Atenção Psicossocial Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2011 ANACHE A A Notas introdutórias sobre os critérios de validação da avaliação psicológica na perspectiva dos direi tos humanos In NORONHA A P P et al org Ano da avaliação psicológica textos geradores Brasília DF Conselho Federal de Psicologia 2011 AVOGLIA H R C Avaliação psicológica da criança a perspectiva social nas estratégias complementares à prática clínica 2006 226 p Tese Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo São Paulo 2006 BASAGLIA F org A instituição negada Rio de Janeiro Graal 1985 BRASIL Lei n 8080 de 19 de setembro de 1990 Dispõe sobre as condições para a promoção proteção e recupera ção da saúde a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências Brasília DF Diário Oficial da União 20 set 1990 BRASIL Lei n 10216 de 6 de abril de 2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de trans tornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental Diário Oficial da União Brasília DF 9 abr 2001 BRASIL Lei n 11129 de 30 de junho de 2005 Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens ProJovem cria o Conselho Nacional da Juventude CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude altera as Leis ns 10683 de 28 de maio de 2003 e 10429 de 24 de abril de 2002 e dá outras providências Diário Oficial da União Brasília DF 1 jul 2005a BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Coordenação Geral de Saúde Mental Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental 15 anos depois de Caracas Brasília DF OPAS 2005b BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Saúde mental no SUS os centros de atenção psicossocial Brasília DF Ministério da Saúde 2004 BRASIL Portaria n 336 de 19 de fevereiro de 2002 Disponível em httpsbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2002prt033619022002html Acesso em 20 ago 2018 CAMPOS G W S Saúde pública e saúde coletiva campo e núcleo de saberes e práticas Ciênc saúde coletiva v 5 n 2 p 219230 2000 CAPITÃO C G SCORTEGAGNA S A BAPTISTA M N A importância da avaliação psicológica na saúde Avaliação Psicológica Campinas v 4 n 1 p 7582 2005 CASULLO M M Avaliação psicológica e psicodiagnóstico Buenos Aires Catálogos 1996 CECCIM R B FEUERWERKER L C M O quadrilátero da formação para a área da saúde ensino gestão aten ção e controle social Physis v 14 n 1 p 4165 2004 COIMBRA C LEITAO M B S Das essências às multiplicidades especialismo psi e produções de subjetividades Psicol Soc v 15 n 2 p 617 2003 CUNHA J A et al Psicodiagnóstico Porto Alegre Artmed 2000 v 5 130 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 DEVERA D COSTAROSA A DA Marcos históricos da reforma psiquiátrica brasileira Transformações na legis lação na ideologia e na práxis Revista de Psicologia da UNESP São Paulo v 6 n 1 p 6079 2007 FRASER M T D GONDIM S M G Da fala do outro ao texto negociado Discussões sobre a entrevista na pes quisa qualitativa Paidéia Ribeirão Preto v 14 n 28 p 139152 2004 GANCHO C V Como analisar narrativas 5 ed São Paulo Ática 1998 GIL A C Métodos e técnicas de pesquisa social São Paulo Atlas 2008 GONÇALVES M Psicologia subjetividade e políticas públicas São Paulo Cortez 2010 GRASSANO E Indicadores psicopatológicos nas técnicas projetivas São Paulo Casa do Psicólogo 1996 LEITE L C M O foco narrativo ou a polêmica em torno da ilusão São Paulo Ática 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido A micropolítica do trabalho vivo em saúde In Merhy E E Onocko R org Agir em saúde um desafio para o público São Paulo Hucitec 1997 MINAYO M C de S org Pesquisa Social teoria método e criatividade Petrópolis Vozes 2016 OCAMPO M L S ARZENO M G E O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas 4 ed São Pau lo Martins Fontes 1985 PAULON S Clínica ampliada Quem demanda ampliações In FONSECA T G ENGELMAN S org Cor po arte e clínica Porto alegre Ed UFRGS 2004 SILVA D G V TRENTINI M Narrativas como técnica de pesquisa em enfermagem Latinoam Enf Ribeirão Preto v 10 n 3 p 423 2002 SPINK P Psicologia social e políticas públicas linguagens de ação na era dos direitos S l s n 2011 TRINCA W Diagnóstico psicológico a prática clínica São Paulo EPU 1984 YAMAMOTO H Psicologia e políticas sociais públicas no Brasil Psicologia Braga Minho v 9 n 1 p 99 117 2004
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avaliação e dificultando o desenvolvimento de uma clínica ampliada Observou se que apesar dos desafios o psicólogo possui instrumentos para realização de uma avaliação que potencialize o cuidado integral e o olhar biopsicossocial assim como verificouse a pertinência da entrevista clínica como método para avaliação psicológica no serviço substitutivo Considerase que para cumprir com sua responsabilidade social a avaliação psicológica deverá ser utilizada como uma ferramenta facilitadora na compreensão sobre o sofrimento psíquico e identificação das potencialidades de cada sujeito sempre levando em consideração seu contexto Palavraschave Saúde mental Avaliação psicológica Entrevista Abstract The present study aims to problematize the processes of psychological evaluations allowing a critical reflection on the theme It sought to describe the processes of psychological evaluation performed in a Psychosocial Care Center and to understand its insertion in the context of mental health This is an experience report with a qualitative descriptive approach on the psychological evaluation processes performed as a resident psychologist in a oneyear period in a CAPS type I located in the southern region of Brazil It was identified that in this context the psychologist is linked to a social representation associated with the individual clinic influencing the high number of referrals for evaluation and making it difficult to develop an expanded clinic It was observed that in spite of the challenges the psychologist pos sesses instruments to carry out an evaluation that enhances the integral care and the biopsychosocial view as well as the relevance of the clinical interview as a method for psychological evaluation in the substitutive service was verified It is considered that in order to fulfill its social responsibility psychological evaluation should be used as a facilitating tool in understanding psychic suffering and identifying the potentialities of each subject always taking into account their context Keywords Mental health Psychological evaluation Interview Recebido em 30 de março de 2019 Aceito em 1 de outubro de 2019 1 Artigo apresentado em 2017 para obtenção do título de Especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade do Oeste de Santa Catarina 2 Especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade do Oeste de Santa Catarina e em Saúde Mental Coletiva pela Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul Psicóloga Residente em Saúde da Família na Escola de Saúde Pública de Florianópolis frandolosotallitagmailcom 3 Mestra em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Professora no Curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina verenahochhotmailedubr 124 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 1 INTRODUÇÃO Após reivindicações políticas e sociais ocorreram no Brasil a aprovação da Constituinte no ano de 1988 e a criação do Sistema Único de Saúde subsidiada pela Lei n 808090 A partir desse momento o modelo biopsicossocial passou a orientar as práticas em saúde com um saberfazer integrado sem fragmentações objetivando a autonomia do sujeito Com isso a psicologia começa adentrar o campo das políticas públicas inserida em equipes multidisciplinares contribuindo para a integralidade do cuidado por meio de diversas práticas entre elas a avaliação psicológica GONÇALVES 2010 SPINK 2011 YAMAMOTO 2004 Nesse sentido o objetivo geral do presente artigo é relatar os processos de avaliações psicológicas realizados por meio das vivências enquanto Psicóloga Residente em Saúde Mental Coletiva no período de um ano em um CAPS tipo I situado na região Sul do Brasil assim como busca compreender a inserção da avaliação psicológica no contexto da saúde mental Entendese que a avaliação psicológica ainda está bastante vinculada à patologização dos sujeitos devido a sua relação com o modelo biomédico da qual originouse Conforme Casullo 1996 ainda é comum encontrarmos diversos questionamentos a respeito do fato de a avaliação psicológica estar presa a um olhar contundente nas enfermidades e nas fragilidades do sujeito Sendo assim esse estudo fazse necessário pois visa problematizar o compromisso social das avaliações psicológicas e sua interface com a produção de cuidado em saúde mental nos serviços substitutivos 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21 O CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL Inspirados na experiência italiana o Brasil iniciou o processo de luta pela transformação da realidade no campo da saúde mental no final da década de 1970 O Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental realizou as primeiras denúncias sobre o funcionamento dos manicômios com violações dos direitos humanos e mercantilizarão da loucura Nesse período também começaram difundir em todo país as questões envolvendo saúde mental pela primeira vez com a participação da sociedade em geral mobilizando discussões e iniciando algumas mudanças no tratamento AMARANTE 2011 A partir do ano de 1992 os movimentos sociais conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental O estado do Rio Grande do Sul foi pioneiro na aprovação da lei e construção de uma rede substitutiva BRASIL 2005b Somente em 2001 a Lei Paulo Delgado é sancionada no país após doze anos de tramitação no Congresso Nacional e com modificações importantes do projeto inicial A Lei Federal 1021601 redireciona o modelo assistencial em saúde mental e dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais enfatizando o cuidado em liberdade em serviços comunitários inseridos na sociedade BRASIL 2001 22 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Os Centros de Atenção Psicossocial são serviços de saúde abertos comunitários que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas através do acesso ao trabalho lazer exercício dos direitos civis cidadania e fortalecimento dos laços familiares e comunitários BRASIL 2005b Esses serviços começaram a surgir nas cidades brasileiras na década de 1980 e desde 2002 são regulamentados pela Portaria n 336GM BRASIL 2002 Nesses espaços o saberfazer não deve estar relacionado ao conceito de cura pois o sofrimento não tem de ser removido a qualquer custo ele é reintegrado como parte da existência Nesse sentido as práticas realizadas nos CAPS devem ter um olhar ampliado sobre o sujeito seus vínculos e relações sociais AMARANTE 2011 DEVERA COSTAROSA 2007 125 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 23 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM SAÚDE MENTAL A avaliação psicológica é um processo que mediante um determinado enfoque teórico procura analisar um fenômeno real ou simbólico em seus aspectos manifestos eou latentes Toda avaliação tem como finalidade categorizar comparar analisar ou contrastar dados quantitativos ou qualitativos obtidos por meio de diversas técnicas CASULLO 1996 Esse processo de avaliação psicológica resulta em um psicodiagnóstico Conforme Ocampo e Arzeno 1985 o psicodiagnóstico deve buscar o esclarecimento da dinâmica do caso sendo integrado a um quadro global não podendo ser reduzido a uma soma de partes fragmentadas Conforme Ocampo e Arzeno 1985 a avaliação psicológica deve ocuparse em explicar o que acontece com um determinado sujeito mas essa explicação não pode restringirse a colocar nomes ou nomenclaturas na sintomatologia A investigação diagnóstica e prognóstica como um processo dinâmico deve fornecer informações sobre as possibilidades terapêuticas e evoluções possíveis de uma determinada intervenção Nesse sentido o diagnóstico psicológico pode constituirse como uma ferramenta que favorece uma comunicação entre o psicólogo e o paciente facilitando a compreensão do próprio sujeito sobre seu sofrimento e consequentemente possibilitando uma atitude de cooperação para com seu próprio processo terapêutico GRASSANO 1996 Para Cunha et al 2000 a avaliação psicológica é um processo geralmente complexo que tem por objetivo produzir hipóteses ou diagnóstico sobre uma pessoa ou um grupo O autor ressalta que muitas vezes a expressão testagem psicológica é usada como sinônimo de avaliação psicológica de maneira errônea pois a testagem psicológica pode ser uma parte que constitui a avaliação quando necessária porém outras técnicas possuem a mesma fidedignidade como por exemplo entrevistas observações dinâmicas jogos entre outros 3 METOGOLOGIA Tratase de um relato de experiência de abordagem qualitativa do tipo descritivo A pesquisa qualitativa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar Esse tipo de estudo busca a descrição das características de determinada população ou fenômeno também procura desenvolver esclarecer e modificar conceitos e ideias GIL 2008 A pesquisa qualitativa pretende entender aquilo que ocorre na produção humana observada no universo das relações das representações e da intencionalidade Os resultados desses estudos pretendem entender a dinâmica das relações sociais os aspectos da realidade os significados crenças e valores dificilmente pode ser reduzido a números ou indicadores quantitativos Nesse sentido permite que o pesquisador trabalhe com amostras pequenas e escolhidas de forma intencional MINAYO 2016 O relato será sobre os processos de avaliações psicológicas realizados enquanto Psicóloga Residente no período de um ano em um CAPS tipo I situado na região Sul do Brasil Os CAPS I são os Centros de Atenção Psicossocial de menor porte capazes de oferecer uma resposta efetiva às demandas de saúde mental do município Esses serviços têm equipe mínima de nove profissionais de nível médio e superior e têm como clientela adultos com transtornos mentais severos BRASIL 2004 O relato de experiência pode ser definido como uma metodologia de observação sistemática da realidade sem objetivo de testar hipóteses mas estabelecendo correlações entre achados dessa realidade e bases teóricas pertinentes Surge de ideias sobre situações típicas da prática que em sua reorganização teórica explica instrui e dá sentido coerente e significado a uma experiência vivida Esse relato pode utilizar situações cujas informações são suficientes para caracterizar eventos singulares seja porque há registros eou pessoas para informar fatos ou situações que provoquem inquietações ou curiosidade para reformulação ou orientações de ações ou práticas futuras podendo ser integrador de situações do cotidiano com reflexões sobre ele e associações com a bibliografia Dessa maneira constitui ferramenta valiosa para narrar as relações entre fatores externos com interpretações do profissional ou de seu grupo implementado por reflexões teóricas e metodológicas GANCHO 1998 LEITE 1994 SILVA TRENTINI 2002 126 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 4 DISCUSSÕES 41 A EXPERIÊNCIA E SEU ESPAÇOTEMPO Esse serviço está inserido em uma Rede de Atenção Psicossocial composta por unidades básicas um CAPS I CAPS ad III CAPS i serviço de geração de renda equipe de redução de danos e leitos psiquiátricos no Hospital Geral Atualmente existem duas modalidades de residências inseridas nesse campo residência médica psiquiátrica e a multiprofissional composta por profissionais dos núcleos da psicologia serviço social enfermagem terapia ocupacional educação física e educação artística A Residência Multiprofissional em Área Profissional da Saúde foi definitivamente criada pela Lei Federal n 11129 de 30 de junho de 2005 Conforme o art 13 da referida lei constitui modalidade de ensino de PósGraduação Lato Sensu voltado para a Educação em Serviço destinado às categorias profissionais que integram a área de saúde Os residentes chegam ao serviço e assumem o papel de profissionalresidente compondo a equipe e se inserindo nas práticas do campo BRASIL 2005a Entendese que existe o campo comum a todos e o núcleo específico de cada especialidade ou profissão Para Campos 2000 o núcleo demarcaria uma área de saber e de prática profissional e o campo um espaço de limites imprecisos onde cada disciplina ou profissão buscaria em outras o apoio para cumprir suas tarefas teóricas e práticas O processo da residência proporciona trocas significativas com diversos núcleos presentes no serviço possibilitando trazer para as práticas entre elas a avaliação psicológica um olhar transdisciplinar Para Merhy 1997 o nosso olhar não está e não é o olho O olhar é um órgão sensível em nós pois o olhar pode ver ou não ver o que é visível ou invisível 42 O PSICÓLOGO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Existe um imaginário social sobre o psicólogo que ainda está fortemente vinculada à ideia de que esse profissional é responsável por avaliar os processos psíquicos e o comportamento buscando o ajustamento dos sujeitos Identificase que essa ideia também está presente nos serviços de saúde Esse entendimento pode estar relacionado ao surgimento da clínica e a origem das práticas psi Conforme Foucault 2002 para obter o status de ciência esse campo de saber iniciou seu percurso construindo conhecimentos para medir e quantificar o comportamento humano produzindo medidas testagens e previsões Racionalizaramse os processos psíquicos com o intuito de classificar os indivíduos em modelos predefinidos para se buscar o estado de normalidade e cura para o diferente o louco HÜNING GUARESCHI 2009 Verificase que no contexto onde essa experiência ocorreu os usuários profissionais e sociedade esperam respostas de um profissional da psicologia que ainda estão muito associadas ao modelo de clínica tradicional aquela que privilegia um espaço de escuta individualizado que se constrói na relação especialistapaciente Compreendese que a tão almejada clínica ampliada ainda está caminhando para ocupar seu devido lugar e não está livre de resistências implícitas e explicitas Identificase que assim como no processo permanente de reforma psiquiátrica BASAGLIA 1985 na clínica ampliada também ocorrem avanços e desafios porém ainda assim têm a potencialidade de fortalecer intervenções com olhar biopsicossocial voltado para potencialidade dos sujeitos Conforme Amaral Gonçalves e Serpa 2012 a psicologia ao se inserir nas políticas públicas pode construir novas possibilidades de atuação Contrapondo que não cabe mais a esse profissional desenvolver uma prática com enfoque individual em detrimento do contexto social e histórico Para Coimbra e Leitão 2003 pensar a clínica psi remete a considerar a instituição Psicologia e os impasses experimentados ao longo da história Pensar no trabalho que psicólogos estão desenvolvendo é pensar neste lugar instituído e naturalizado percebido como neutro e objetivo que muitas vezes ocupamos e fortalecemos o do saber poder Entendese que esse saberpoder está na tomada de decisões nas avaliações encaminhamentos e relações entre profissionais e usuários 127 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 43 A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E SUA INTERFACE COM A PRODUÇÃO DE CUIDADO NO CAPS Os recursos terapêuticos oferecidos pelo CAPS são atendimento individual prescrição de medicamentos psicoterapia orientação atendimento em grupo oficinas terapêuticas oficinas culturais grupos terapêuticos atividades esportivas atendimentos para a família grupo de familiares atendimento individualizado a familiares visitas domiciliares realização de assembleias que reúnem mensalmente técnicos usuários e familiares para discutir avaliar e propor encaminhamentos para o serviço e as atividades comunitárias com o objetivo de trocas sociais e a integração com a sociedade em geral buscando a reinserção social protagonismo dos sujeitos Entre esses recursos oferecidos pelo serviço a avaliação psicológica é uma das ferramentas utilizadas para atender aos encaminhamentos para atendimentos psicológicos individuais e grupais Esses encaminhamentos ocorrem mediante discussões em reunião de equipe que acontece semanalmente durante um turno aonde os casos que chegam para acolhimento durante a semana são repassados e discutidos com a equipe multidisciplinar para iniciar o planejamento do projeto terapêutico singular do usuário levando em consideração aquilo que o sujeito deseja do serviço e quais são as possibilidades terapêuticas oferecidas para então proceder com os encaminhamentos Conforme observação sistemática sobre o fluxo realizado pelo serviço identificouse duas principais questões vinculadas ao processo de avaliação psicológica a primeira é o desejo daquele que procura um serviço de saúde mental que na maioria dos casos solicita uma verdade do saber psi aparentemente buscando um diagnóstico sobre seu sofrimento resistindo aos outros recursos terapêuticos oferecidos para o planejamento de seu projeto terapêutico singular A segunda questão está voltada para as discussões de caso em equipe que muitas vezes acabam não sendo horizontais pois colocam as práticas psi como a ferramenta mais efetiva contribuindo para a ideia que os usuários têm sobre o cuidado individual voltado para o transtorno que necessita de uma intervenção clínica desse modo dificultando um trabalho interdisciplinar Entendese que essas duas questões refletem na demasiada quantidade de encaminhamentos para avaliação psicológica e psiquiátrica e consecutivamente contribuem para fragmentação no cuidado pois também reflete o pensamento que os profissionais do serviço possuem sobre o processo saúdedoença Identificase um recorte no processo biopsicossocial que privilegia o saber do psiquiatra e do psicólogo em detrimento aos outros saberes sendo que todos os profissionais do serviço possuem tecnologias para acolher avaliar e trabalhar com as demandas que emergem no serviço De acordo com Merhy 1997 as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde podem ser classificadas como dura levedura e leve A leve referese às tecnologias de relações do tipo produção de vínculo autonomização e acolhimento como uma forma de governar processos de trabalho A levedura diz respeito aos saberes bem estruturados que operam no processo de trabalho em saúde e a dura é referente ao uso de equipamentos tecnológicos do tipo máquinas normas e estruturas organizacionais Desse modo o cuidado é um somatório de decisões quanto ao uso de tecnologias de articulação de profissionais e ambientes em um determinado tempo e espaço Verificase uma valorização das tecnologias levedura e dura assim como a frequente necessidade do saber tido como especializado Nesse sentido identificase que ao mesmo tempo em que os profissionais questionam e criticam o paradigma biomédico acabam fortalecendo esse modelo no cotidiano dos processos de trabalho Assim compreendese que essa percepção sobre o processo saúdedoença pode estar relacionada à formação dos profissionais em saúde De acordo com Ceccim e Feuerwerker 2004 a formação de profissionais na área da saúde ainda se volta para a abordagem clássica em que o ensino é tecnicista preocupado com a sofisticação dos procedimentos e do conhecimento dos equipamentos auxiliares do diagnóstico tratamento e cuidado e organizado por áreas de especialidade 44 A ENTREVISTA COMO MÉTODO PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados conforme Ocampo e Arzeno 1985 e Trinca 1984 é feita sempre de acordo com o referencial teórico o objetivo e a finalidade Nesse sentido para Capitão Scortegagna e Baptista 2005 o processo de avaliação além de voltarse para a natureza da solicitação e das condições do sujeito 128 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 deve adequarse também às características do ambiente Desse modo o método principal escolhido para realização das avaliações psicológicas nesse contexto foi a entrevista psicológica com objetivo clínico e com a finalidade de identificar a necessidade da realização de tratamento em um serviço especializado de saúde mental Em alguns casos utilizouse de maneira complementar a entrevista com familiares observações do usuário nas oficinas e visitas domiciliares Acreditase que esse método privilegia uma compreensão mais ampla e subjetiva de cada sujeito proporcionando trocas que potencializam e tornamse terapêuticas pelo fato de conseguir olhar o outro com toda sua complexidade e diante disso pensar sobre os fenômenos que ali se atravessam Nesse sentido a entrevista também contempla os pressupostos e diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental que dá ênfase à criação de uma clínica ampliada e singular As entrevistas clínicas podem ser consideradas uma conversação dirigida a um propósito definido nesse caso tornandose uma interação entre duas ou mais pessoas que além de buscar um diagnóstico é uma intervenção terapêutica Fraser e Gondim 2004 Para Anache 2011 a avaliação psicológica busca garantir a autonomia dos homens por meio do conhecimento sobre si mesmo e pode possibilitar que o indivíduo seja empoderado de sua própria história de vida e não simplesmente impossibilitado de seguir vivendo reduzido a uma incapacidade Nesse sentido identificouse a importância de delimitar os objetivos e a finalidade da avaliação psicológica no serviço e principalmente conseguir transmitir essas informações e procedimentos de uma maneira que o usuário e a equipe possam compreender como ocorre esse processo Caso contrário as informações obtidas passam a não ter sentido para aquele que as recebe dificultando as demais intervenções terapêuticas e discussão de casos por exemplo Fezse necessário reforçar constantemente para a equipe que uma avaliação psicológica deve ser parte de uma avaliação psicossocial ampla e multiprofissional Pois por mais ampliado que seja o olhar do profissional que está realizando essa avaliação existem os limites de intervenção de cada núcleo No contexto da saúde em geral fatores psicossociais ou comportamentais exercem influência sobre processo saúde que pode ser influenciada por variadas condições tais como as diferenças individuais traços de personalidade sistema de crenças e atitudes comportamentos redes de suporte social e meio ambiente CAPITÃO SCORTEGAGNA BAPTISTA 2005 Conforme Avoglia 2006 o contexto social e o espaço circulante desse indivíduo parecem ser deixados de lado como elementos significativos para compreensão do caso O contexto precisa ser considerado pois se constitui em um espaço mediador Desconsiderar o contexto é desconectar o indivíduo de tudo aquilo que o cerca e envolve Sendo assim entendese que a avaliação psicológica não pode deixar de lado elementos significativos para a compreensão do fenômeno psíquico e o psicólogo como parte de uma equipe multidisciplinar também é responsável por expor esses elementos nas discussões de caso encaminhamentos e devolutivas Por fim acreditase que a realização da avaliação psicológica no contexto da saúde mental coletiva precisa estar disposta a contemplar a diversidade a fim de tornase um trabalho vivo em ato Para Merhy 1997 todo lugar que ocorre esse encontro profissionalusuário a tecnologia das relações opera pois o encontro singular de sujeitos também é momento da criação Entendese que dessa maneira a avaliação psicológica consiga cumprir seu compromisso social possibilitando aos sujeitos novas maneiras de estar no mundo e não mais se prendendo à tradição de rotular e definir padrões de normalidade Conforme Paulon 2004 uma clínica desviante é aquela capaz de transcender os espaços institucionais e as amarras disciplinares para acompanhar subjetividades inventar mundos e criar saídas inusitadas 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse artigo discutiu questões relevantes para área da avaliação psicológica e buscou problematizar sua interface com o contexto da saúde mental nas políticas públicas Observouse que a inserção da psicologia na saúde pode ser considerada recente mas já conseguiu proporcionar modificações significavas na compreensão do processo saúde doença e na produção de cuidado Contribuindo para um cuidado integral e equânime assumindo uma responsabilidade ética e política com o Sistema Único de Saúde Compreendese que para cumprir com sua responsabilidade social a avaliação psicológica deverá ser utilizada como uma ferramenta facilitadora na compreensão sobre o sofrimento psíquico e identificação das potencialidades de cada sujeito sempre levando em consideração seu contexto Verificase que diante da complexidade vivenciada nos serviços de mental a entrevista psicológica contempla todas as especificidades 129 Avaliação psicológica no contexto Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 necessárias para realização da avaliação psicológica tornandose uma ferramenta de grande relevância para atuação do psicólogo nas políticas públicas REFERÊNCIAS AMARAL M S GONÇALVES C H Serpa M G Psicologia comunitária e a saúde pública relato de experiência da prática psi em uma Unidade de Saúde da Família Psicologia Ciência e Profissão v 2 n 2 p 484495 2012 AMARANTE P Saúde Mental e Atenção Psicossocial Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2011 ANACHE A A Notas introdutórias sobre os critérios de validação da avaliação psicológica na perspectiva dos direi tos humanos In NORONHA A P P et al org Ano da avaliação psicológica textos geradores Brasília DF Conselho Federal de Psicologia 2011 AVOGLIA H R C Avaliação psicológica da criança a perspectiva social nas estratégias complementares à prática clínica 2006 226 p Tese Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo São Paulo 2006 BASAGLIA F org A instituição negada Rio de Janeiro Graal 1985 BRASIL Lei n 8080 de 19 de setembro de 1990 Dispõe sobre as condições para a promoção proteção e recupera ção da saúde a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências Brasília DF Diário Oficial da União 20 set 1990 BRASIL Lei n 10216 de 6 de abril de 2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de trans tornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental Diário Oficial da União Brasília DF 9 abr 2001 BRASIL Lei n 11129 de 30 de junho de 2005 Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens ProJovem cria o Conselho Nacional da Juventude CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude altera as Leis ns 10683 de 28 de maio de 2003 e 10429 de 24 de abril de 2002 e dá outras providências Diário Oficial da União Brasília DF 1 jul 2005a BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Coordenação Geral de Saúde Mental Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental 15 anos depois de Caracas Brasília DF OPAS 2005b BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Saúde mental no SUS os centros de atenção psicossocial Brasília DF Ministério da Saúde 2004 BRASIL Portaria n 336 de 19 de fevereiro de 2002 Disponível em httpsbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2002prt033619022002html Acesso em 20 ago 2018 CAMPOS G W S Saúde pública e saúde coletiva campo e núcleo de saberes e práticas Ciênc saúde coletiva v 5 n 2 p 219230 2000 CAPITÃO C G SCORTEGAGNA S A BAPTISTA M N A importância da avaliação psicológica na saúde Avaliação Psicológica Campinas v 4 n 1 p 7582 2005 CASULLO M M Avaliação psicológica e psicodiagnóstico Buenos Aires Catálogos 1996 CECCIM R B FEUERWERKER L C M O quadrilátero da formação para a área da saúde ensino gestão aten ção e controle social Physis v 14 n 1 p 4165 2004 COIMBRA C LEITAO M B S Das essências às multiplicidades especialismo psi e produções de subjetividades Psicol Soc v 15 n 2 p 617 2003 CUNHA J A et al Psicodiagnóstico Porto Alegre Artmed 2000 v 5 130 Tallita Frandoloso Verena Augustin Hoch Unoesc Ciência ACBS Joaçaba v 10 n 2 p 123130 juldec 2019 DEVERA D COSTAROSA A DA Marcos históricos da reforma psiquiátrica brasileira Transformações na legis lação na ideologia e na práxis Revista de Psicologia da UNESP São Paulo v 6 n 1 p 6079 2007 FRASER M T D GONDIM S M G Da fala do outro ao texto negociado Discussões sobre a entrevista na pes quisa qualitativa Paidéia Ribeirão Preto v 14 n 28 p 139152 2004 GANCHO C V Como analisar narrativas 5 ed São Paulo Ática 1998 GIL A C Métodos e técnicas de pesquisa social São Paulo Atlas 2008 GONÇALVES M Psicologia subjetividade e políticas públicas São Paulo Cortez 2010 GRASSANO E Indicadores psicopatológicos nas técnicas projetivas São Paulo Casa do Psicólogo 1996 LEITE L C M O foco narrativo ou a polêmica em torno da ilusão São Paulo Ática 1994 MERHY E E Em busca do tempo perdido A micropolítica do trabalho vivo em saúde In Merhy E E Onocko R org Agir em saúde um desafio para o público São Paulo Hucitec 1997 MINAYO M C de S org Pesquisa Social teoria método e criatividade Petrópolis Vozes 2016 OCAMPO M L S ARZENO M G E O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas 4 ed São Pau lo Martins Fontes 1985 PAULON S Clínica ampliada Quem demanda ampliações In FONSECA T G ENGELMAN S org Cor po arte e clínica Porto alegre Ed UFRGS 2004 SILVA D G V TRENTINI M Narrativas como técnica de pesquisa em enfermagem Latinoam Enf Ribeirão Preto v 10 n 3 p 423 2002 SPINK P Psicologia social e políticas públicas linguagens de ação na era dos direitos S l s n 2011 TRINCA W Diagnóstico psicológico a prática clínica São Paulo EPU 1984 YAMAMOTO H Psicologia e políticas sociais públicas no Brasil Psicologia Braga Minho v 9 n 1 p 99 117 2004