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Revista Psicologia e Saúde 139 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Práticas Desenvolvidas por Psicólogos em Serviços de Atenção Psicossocial Revisão de Literatura Practices Developed by Psychologists in Psychosocial Attention Services Literature Review Prácticas Desarrolladas por Psicólogos en Servicios de Atención Psicosocial Revisión de Literatura Stephannie Assenheimer Renata Fabiana Pegoraro1 Universidade Federal de Uberlândia Resumo Este artigo tem por objetivo geral mapear as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS por meio de uma revisão integrativa de literatura publicada entre 2005 a 2014 em periódicos indexados nas bases de dados online Scielo Biblioteca Virtual em Saúde e Redalyc a partir das palavraschave Psicologia Psicólogo Centros de Atenção Psicossocial A amostra foi composta por 12 artigos publicados de 2005 a 2012 cujas respostas à pergunta norteadora foram agrupadas em função das temáticas abordadas 1 Atividades desenvolvidas pelo psicólogo nos CAPS 2 A formação do psicólogo para o trabalho no CAPS e a necessidade de capacitação profissional 3 Concluímos que é urgente o investimento em Educação Permanente e dos Cursos de Psicologia revejam o ensino das disciplinas sobre saúde pública Palavraschave psicólogo Centros de Atenção Psicossocial educação permanente trabalho em equipe Abstract This article has the objective to map the practices of psychologists in Psychosocial Care Centers CAPS The method chosen was the integrative literature review with articles published from 2005 to 2014 in journals indexed in online databases Scielo Virtual Health Library and Redalyc from keywords psychology psychologist mental health services The sample consisted of 12 articles published from 2005 to 2012 whose answers the central question were grouped according to the subjects addressed 1 Activities developed by psychologist at CAPS 2 The training of psychologists to work in CAPS and need for professional training 3 Team work We conclude that the investment in Continuing Education is urgent and the Psychology Courses need to review the teaching of the public health disciplines Keywords psychologist Psychosocial Care Centers continuing education team work Resumen Este artículo tiene el objetivo de mapear las prácticas de los psicólogos en Centros de Atención Psicosocial CAPS El método elegido fue la revisión integradora de la literatura con artículos publicados desde 2005 hasta 2014 en revistas indexadas en bases de datos en línea Scielo Biblioteca Virtual en Salud y Redalyc a partir de palabras clave psicología psicólogo servicios de salud mental La muestra consistió en 12 artículos publicados 20052012 cuyas respuestas la pregunta central se agruparon de acuerdo con los temas tratados 1 Las actividades desarrolladas por el psicólogo en el CAPS 2 la formación de los psicólogos para trabajar en CAPS y la necesidad de la formación profesional 3 el trabajo en equipo Llegamos a la conclusión de que es urgente la inversión en Educación Continua y de los Cursos de Psicología revisen la enseñanza de las disciplinas sobre salud pública Palabras clave psicólogo Centros de Atención Psicosocial la educación continua trabajo en equipo 1 Endereço de contato Universidade Federal de Uberlândia Rua Maranhão sn Campus Umuarama Uberlândia MG CEP 38405240 doi httpdxdoiorg 1020435pssav0i0652 Revista Psicologia e Saúde 140 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Introdução A temática deste estudo foram as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS um serviço de saúde mental do Sistema Único de Saúde SUS destinado ao cuidado de pessoas em sofrimento psíquico grave a partir do mapeamento das publica ções sob a forma de revisão integrativa de literatura O primeiro CAPS foi inaugurado no final da década de 1980 na cidade de São Paulo e pode ser considerado como um dos frutos da mudança da ótica com relação ao cuidado das pessoas em sofrimento psíquico grave a partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira Conselho Federal de Psicologia CFP 2013 A ino vação presente na proposta de funcionamento de um CAPS encontrase na ruptura do modo tradicional de tratamento da psiquiatria clássica com o cuidado alçado na corresponsabili dade da equipe multiprofissional usuários e famílias que em conjunto devem elaborar um plano de tratamento personalizado para cada usuário Jucá Medrado Safira Mascarenhas Nascimento 2010 Mota Costa 2017 Os CAPS são equipamentos de cuidado em contexto comunitário e devem ser pautados pelo respeito às diferenças humanas em seu processo de reelaboração do sofrimento e de reinvenção da vida Vasconcelos 2004 p 82 Recentemente os CAPS passaram a integrar a Rede de Atenção Psicossocial RAPS do SUS que visa ampliar a rede de atenção a pessoas com sofrimento psíquico e que também necessitem de cuidados com relação ao uso de álcool e outras drogas Brasil 2011a Belotti et al 2017 Dados oficiais do Ministério da Saúde Brasil 2015 apontam 2209 unidades as quais oferecem atendimentos individuais ex farmacoló gico psicoterápico e em grupos ex psicoterapia atividades de suporte social oficinas tera pêuticas visitas domiciliares atendimento à família e atividades que integrem o usuário às vivências comunitárias e familiares Para realizar tais ações a equipe profissional desse equi pamento deve ser composta por médicos com formação em saúde mental por enfermeiros psicólogos assistentes sociais terapeutas ocupacionais pedagogos técnicos eou auxiliares de enfermagem técnicos administrativos técnicos educacionais e artesãos Brasil 2002 Ainda que não seja obrigatória a presença de psicólogos nas equipes do CAPS é bastante frequente Segundo Vasconcelos 2004 isto pode ser explicado pelo fato de que são os psicólogos que possuem melhores condições para serem aprovados nos processos de seleção dado que recebem no curso de graduação algum tipo de formação sistemática no campo da saúde mental p 85 De acordo com as Referências Técnicas para atuação de Psicólogas os nos CAPS ela boradas pelo CFP 2013 as atividades desenvolvidas por psicólogos devem envolver aco lhimento discussão de casos em equipe psicoterapias atendimento às crises elaboração de planos individuais de cuidado grupos e oficinas atividades dirigidas diretamente à rein serção social dentre outras CFP 2013 p 85 Além destas o documento ainda elenca práticas inovadoras tais como aproximação da população rural com a comunidade e o uso de diferentes recursos artísticos para a execução de grupos e oficinas Ainda segundo o CFP 2013 quase trinta mil psicólogos atuavam no SUS em 2013 Esse número expressivo aponta para a necessidade de um redirecionamento da Psicologia ao lado de outras profissões da saúde em relação à sua tradição histórica relativa às orien tações éticas teóricas e metodológicas p 78 Na perspectiva dos serviços alinhados à Reforma Psiquiátrica tal como o CAPS Revista Psicologia e Saúde 141 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 o fato psíquico se inscreve necessariamente como fato social desta premissa decorre uma nova direção de intervenção no campo da saúde mental caracterizada pela perspectiva da atenção psicossocial que se colocou como orientadora do desen volvimento do projeto institucional dos CAPS CFP 2013 p 80 Assim podemos dizer que os psicólogos têm como desafio a possibilidade de construir a crítica ao discurso biomédico e à perspectiva reducionista acerca da experiência da loucura que considera o sujeito apenas como um corpo enfermo a ser contido em hospitais psi quiátricos e medicado O desafio está posto como necessidade para o reconhecimento da dimensão cultural que atravessa a existência desses sujeitos e conforma suas subjetividades Tal reconhecimento é essencial para resgatar a dimensão humana do fenômeno da loucura e a dimensão do sofrimento que atravessa essa experiência humana CFP 2013 Belotti et al 2017 Uma rápida busca efetuada na base Scielo não registrou artigo de revisão de literatura que discutissem a atuação do psicólogo no CAPS mas sim artigos que problematizavam a atuação das equipes no CAPS ou a participação do psicólogo na realização de apoio matricial junto a equipes de atenção primária Face ao que foi exposto anteriormente o objetivo geral desta pesquisa foi mapear as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS voltados para o atendimento de pessoas adultas em sofrimento psíquico grave a partir de uma revisão integrativa de literatura Metodologia A pesquisa foi realizada a partir do método da revisão integrativa de literatura que pos sibilita uma síntese das pesquisas relevantes sobre o assunto estudado de forma que possa advir desta revisão uma maior sustentação para melhorias na prática de determinada área Segundo Soares et al 2014 p 338 a revisão integrativa de literatura consiste em método de reunião e síntese de resultados de investigações originalmente construído a partir das áreas de educação e psicologia que parte de várias perguntas ou hipóteses cuja revisão pretende responder Além disso este tipo de estudo aceita integrar delineamentos de pes quisa inclusive provenientes de diferentes paradigmas da produção do conhecimento em nome de concretizar a complexidade do cuidado de enfermagem que envolve integração entre questões individuais e contextuais Soares et al 2014 p 338 com grande potencial para contribuir para os cuidados em saúde De acordo com Mendes Silveira e Galvão 2008 seis passos são necessários para uma revisão integrativa 1 Identificação do tema ou questão de pesquisa 2 Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos 3 Organização das informações a serem extraídas dos estudos selecionados 4 Análise detalhada e avaliação dos estudos incluídos na revisão 5 Interpretação dos resultados 6 Apresentação da revisão Para o presente estudo os passos foram definidos da seguinte maneira 1 Questão de pesquisa Atualmente quais as práticas realizadas pelos psicólogos nos CAPS 2 Os crité rios de inclusão utilizados foram artigos publicados de 2005 a 2014 redigidos em português ou inglês em periódicos indexados nas bases de dados online Scielo Periódicos Eletrônicos em Psicologia da Biblioteca Virtual em Saúde PEPSICBVS e Redalyc a partir das seguin tes palavraschave Psicologia Psicólogo Centros de Atenção Psicossocial isoladamente Revista Psicologia e Saúde 142 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 e combinadas neste caso com o emprego de AND Os critérios de exclusão adotados fo ram artigos redigidos em espanhol editoriais resumos de pesquisa teses e dissertações 3 Leitura dos resumos dos artigos inicialmente selecionados para avaliar se respondiam à questão norteadora 4 Leitura dos artigos na íntegra para análise detalhada e avaliação dos estudos incluídos na revisão e extração de informações para composição de tabelas 5 Análise e discussão dos resultados 6 Apresentação da revisão mediante redação do artigo As buscas nas bases eletrônicas ocorreram no período de fevereiro a maio de 2015 A escolha da Scielo devese ao seu perfil de englobar periódicos de diferentes áreas do co nhecimento A Pepsic integra periódicos de Psicologia que não constam na Scielo O Redalyc tem publicações da América Latina e Caribe A escolha por realizar as buscas em periódicos indexados se justifica pela garantia de critérios de qualidade adotados pelas plataformas tais como a geração contínua de conteúdos cumprimento da periodicidade e maior agilidade na avaliação dos originais recebidos e composição do corpo editorial Os artigos encontrados selecionados e por fim recuperados para a análise constam na Tabela 1 Partiuse de um total de 243 artigos encontrados nas três bases eletrônicas por meio das palavraschave Foram inicialmente selecionados 81 pela leitura dos resumos e após exclusão de artigos repetidos e leitura na íntegra dos artigos foram recuperadas 12 publicações que respondiam à questão norteadora da pesquisa Tabela 1 Artigos selecionados nas bases online excluídos e recuperados para análise Artigos Bases online Encontrados Eliminados após leitura dos resumos Selecionados para leitura na íntegra Eliminados por repetição e por não responderem pergunta norteadora Recuperados SCIELO 189 143 46 41 5 PEPSIC 53 19 34 28 6 REDALYC 1 0 1 0 1 TOTAL 243 162 81 69 12 Procedeuse à leitura na íntegra dos artigos recuperados Dois pesquisadores indepen dentes extraíram informações de cada uma das publicações conforme sugerido por Broome 2000 apud Mendes et al 2008 a ano de publicação b fonte de publicação c tipo de estudo d amostra e objetivos e f principais resultados de cada artigo As informações foram digitadas em uma planilha eletrônica e discutidas até obtenção de consenso quanto à sua exatidão Em seguida foram efetuadas várias leituras de cada artigo recuperado Os principais temas de cada um foram destacados nas leituras e procedeuse à classificação em temáticas a partir dos passos elencados por Bardin 1977 para análise de conteúdo temática Dessa etapa emergiram três eixos de análise descritas na seção de resultados 1 Atividades desenvolvidas pelo psicólogo no CAPS 2 A formação do psicólogo para o traba lho no CAPS e a necessidade de Educação Permanente 3 O trabalho em equipe Revista Psicologia e Saúde 143 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Resultados Caracterização dos Estudos A amostra foi composta por 12 artigos publicados de 2005 a 2012 com concentração em 2012 cinco artigos conforme Tabela 2 As publicações ocorreram na maioria nova arti gos em periódicos de Psicologia com interface com área da saúde e social A maior parte dos artigos tinha pesquisadores de universidades públicas e cinco publicações foram par cerias entre universidades e Secretarias de Saúde serviços de saúde mental Com relação à territorialidade encontramos seis artigos sobre CAPS situados na região Nordeste quatro artigos contando experiências da região Sul e apenas dois artigos do Sudeste Dentre os 12 artigos que compõem o corpus de análise oito tinham como objetivos a compreensão da experiência ou prática profissional de psicólogos em CAPS dois buscavam identificar o po sicionamento da profissão de psicólogo frente aos serviços de atenção psicossocial e dois procuraram conhecer o funcionamentoexperiência de uma prática grupal em específico Quanto ao tipo de pesquisa quatro eram estudos qualitativos um estudo exploratório um relato de experiência profissional um estudo qualiquantitativo e os demais foram desen volvidos sob a forma de análise institucional cartografia pesquisaação pesquisainterven ção e estudo de caso Tabela 2 Autores ano de publicação instituição de origem objetivos tipo de estudo e nível de evidên cia dos artigos recuperados F12 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 1 Cedraz A Dimenstein M 2005 UFRN Conhecer o funcionamento das oficinas terapêuticas questionando se elas constituem ou não um dispositivo de promoção de mudança da lógica manicomial Análise Institucional VI 2 Lemos P M Cavalcante Júnior F S 2009 CAPS Viçosa do Ceará UNIFOR Analisar as produções discursivas de trabalhadores de Centros de Atenção Psicossocial sobre o processo de atuação em equipe Quanti qualitativo fenomeno lógico VI 3 Sales A L L F Dimenstein M 2009a UFRN Investigar o modo como essa categoria profissional tem se posicionado no complexo jogo de forças peculiar a esse campo da luta antimanicomial Qualitativo VI Revista Psicologia e Saúde 144 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 4 Sales A L L F Dimenstein M 2009b UFRN Conhecer como tais profissionais estão vivenciando o cotidiano desses serviços e propõe pensar o lugar da psicologia enquanto um dos saberes convocados a trabalhar em favor da efetivação de mudanças no modelo manicomial de assistência Cartografia por meio de entrevistas e observação participante VI 5 Campos Brustelo T N Bravo F F Santos M A 2010 CAPS II Indaiatuba SP USP Relatar experiência de criação de um grupo de contação de histórias em um Centro de Atenção Psicossocial Pesquisaação VI 6 Jucá V J S Medrado A C Safira L G Mascarenhas L P Nascimento V G 2010 UFC UNIFACS Compreender como os psicólogos inseridos em CAPS percebem as atividades grupais que realizam Estudo exploratório VI 7 Paulon S M Gageiro A M Costa D F C Londero M F P Pereira R G et al 2011 UFRGS Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul UNISINOS Estudar as práticas clínicas exercidas pelos profissionais psi psicólogos e psiquiatras junto aos Centros de Atenção Psicossocial Pesquisa Intervenção VI 8 Cruz K S Fernandes A H 2012 UFBA Exame dos dispositivos clínicos que estão sendo utilizados pelos psicólogos nos CAPS Estudo de Caso VI 9 Cantele J Arpini D M Roso A 2012 UFSM Conhecer a experiência dos profissionais de Psicologia dentro do atual modelo de atenção em saúde mental Estudo Qualitativo entrevistas semi estuturadas VI 10 Lara G A Monteiro J K 2012 CAPSBrusque SC UNISINOS Explorar as práticas dos psicólogos na atenção às psicoses nos CAPS do estado de Santa Catarina Qualitativa estudo descritivo e transversal VI 11 Larentis C P Maggi A 2012 UCS Investigar a organização dos CAPSad no estado do RS no que se refere às práticas eou intervenções psicológicas Estudo qualitativo revisão descritivo e exploratório V Revista Psicologia e Saúde 145 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 12 Souza L G S Pinheiro L B 2012 UFES Centro de Prevenção e Tratamento de Toxicômanos Vitória ES Unidade de Saúde da Família de Maruípe Vitória ES Relato de experiência profissional construída junto a usuários de um CAPSad na forma de Oficinas Terapêuticas Relato de experiência profissional VI Para fins de classificação de níveis de evidência utilizaramse os critérios propostos por Ursi 2005 apud Pompeo et al 2009 para uma revisão integrativa A maioria dos artigos recuperados foi classificada como nível de evidência VI isto é derivados de único estudo descritivo ou qualitativo além de um único artigo de revisão bibliográfica nível de evidên cia V Eixos de Análise Atividades Desenvolvidas pelo Psicólogo nos CAPS De acordo com os artigos recuperados as três atividades mais comumente realizadas pelos psicólogos dentro dos CAPS foram Oficinas terapêuticas oito artigos Acolhimento e Grupos psicoterapêuticos ambos citados em seis artigos Outras atividades grupais men cionadas são relacionadas a adolescentes família motivação mulheres reencontro relaxa mento recreativo e de orientação em saúde antitabagismo alcoolistas e drogadictos pre venção de recaída orientação profissional dos usuários formação política e de cidadania orientação familiar Além das atividades de caráter grupal também fizeramse presentes na prática do psicó logo mas em um número menor de artigos Visitas domiciliares um artigo Matriciamento e Acompanhamento Terapêutico ambos citados em dois artigos Por fim atividades que não envolviam a assistência direta ao usuário também foram mencionadas como atividades relacionadas à gestão elaboração de políticas públicas participação em conselhos de saúde formação de trabalhadores da saúde também foram atribuídas à profissionais da psicologia pelos artigos recuperados Podese portanto perceber que as práticas grupais nos CAPS contam com a presença do psicólogo Apesar disso apenas uma publicação de CamposBrustelo et al 2010 descrevia uma intervenção grupal Os autores relataram uma experiência com grupo de contação de histórias o qual abria espaço para os usuários compartilharem suas histórias e incorporarem novos significados ampliando as possibilidades de vivências Jucá et al 2010 trazem que há uma grande quantidade de usuários e certa cobrança da equipe para que os psicólogos realizem grupos e oficinas nos CAPS Esclarecem porém que Revista Psicologia e Saúde 146 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 as filas de espera não deveriam ser o principal motivador dessas atividades As autoras falam também sobre um grande incômodo de os profissionais formados em Psicanálise executa rem atividades de grupo e que isso pode decorrer de um desconhecimento da produção literária sobre o tema Ainda que as atividades grupais tenham sido mencionadas na maior parte da literatura recuperada Larentis e Maggi 2012 expõem que a psicoterapia individual é a prática mais comum dos psicólogos em CAPSad mas a lógica serve para todos os outros CAPS e que as atividades que envolvem a temática comunitária existem em escala reduzida Além das atividades realizadas pelos psicólogos nos CAPS os artigos recuperados tam bém apresentam algumas dificuldades enfrentadas pelos profissionais Uma dessas dificul dades foi a falta de recursos materiais para atender a demanda das atividades destacada como um empecilho para a diversidade de oficinas oferecidas Cedraz Dimenstein 2005 Sales Dimenstein 2009a Jucá et al 2010 Lara Monteiro 2012 Sobre a falta de ma teriais para as oficinas as autoras Lara e Monteiro 2012 sugerem que esse problema pode ser uma oportunidade para estimular os usuários a participarem do controle social do SUS na fiscalização da aplicação dos recursos públicos Sales e Dimenstein 2009a destacaram ainda como uma dificuldade a falta de profissio nais qualificados para lidarem com a complexa demanda dos usuários Já Jucá et al 2010 trouxeram como dificuldades para o trabalho do psicólogo nas atividades grupais a alta rotatividade de profissionais e a dificuldade de manter sigilo em grupos terapêuticos com postos por usuários do mesmo território A Formação do Psicólogo para o Trabalho no CAPS e a Necessidade de Educação Permanente O segundo eixo temático discute a formação insuficiente oferecida nos cursos de gradu ação para atuação na atenção psicossocial seja por conteúdos defasados quanto ao campo da saúde pública seja por reproduzir um modelo de consultório privado Dois artigos apon taram conteúdos da graduação defasados Sales Dimenstein 2009b Paulon et al 2011 Segundo esses artigos os cursos de graduação em Psicologia não têm formado profissionais que atendam plenamente às necessidades dos usuários do serviço em saúde pública no contexto da Reforma Psiquiátrica Uma hipótese para essa dificuldade seriam as grades cur riculares voltadas para a formação clínica tradicional que trata o sujeito individualmente O artigo de Jucá et al 2010 investigou se a formação recebida era suficiente para atuar no CAPS Os psicólogos que participaram do estudo dividiramse em três grupos a aque les que se sentiam minimamente preparados pela abordagem adotada a saber Psicologia Analítica e Biossíntese Gestaltterapia Psicanálise e Psicodrama mas que relataram algu mas dificuldades b aqueles que não se sentiam preparados e mesmo assim tentavam atender à demanda institucional e viviam muitas angústias no processo c aqueles que se recusavam a coordenar trabalhos em grupo Destacase ainda que a formação recebida pelos psicólogos que participaram dos estu dos recuperados reproduz o modelo clínico tradicional Nesse sentido Paulon et al 2011 trazem que a formação focada no modelo de clínica tradicional privado contribuiu para uma dificuldade em atuar na realidade da saúde pública do país e a condução dos grupos Revista Psicologia e Saúde 147 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 por psicólogos nesses locais pode trazer um viés individualizante Lara e Monteiro 2012 também citam que a formação nesses moldes tradicionais afeta as atuações desses profis sionais no serviço da rede SUS Uma possível solução para essa defasagem é encontrada em dois artigos que ao discutirem a formação insuficiente dos psicólogos brasileiros calcada em modelo clínico tradicional destacam a necessidade de buscar formação complementar com cursos de pósgraduação Cantele et al 2012 Lara Monteiro 2012 De forma mais específica Cruz e Fernandes 2012 destacam uma possível falha na gra duação em Psicologia com relação ao novo modelo Antimanicomial Segundo os autores os profissionais podem enfrentar um engano ao apenas orientar o usuário nos caminhos que ele pode percorrer dentro da rede de atenção à saúde e que essa atitude por mais que seja na tentativa de ajudálo a compartilhar da lógica de território pode ter uma ação contrária e inibir a sua conquista de autonomia Essas ações tomadas pelos profissionais evidenciam que se esses profissionais tivessem a noção de autonomia e desinstitucionalização apropria das suas atuações seriam diferentes Para além da formação recebida durante a graduação Cedraz e Dimenstein 2005 trazem que os profissionais se queixam da falta da capacitação continuada para atuar em algumas atividades Jucá et al 2010 abordam que a busca pela complementação da formação pro fissional pode ser vista de uma maneira positiva pois instiga o psicólogo a refletir sobre uma teoria mais próxima da prática Contudo as autoras ressaltam que essa busca não deveria ser somente do profissional mas de interesse das Secretarias de Saúde Na visão dos psi cólogos entrevistados por Lara e Monteiro 2012 a supervisão clínicoinstitucional é fun damental para sua atuação no serviço os autores chamam a atenção ainda para que as supervisões institucionais possam considerar todo o conjunto institucional da rede e que aquelas sejam espaços de compartilhamento dos sentimentos da equipe multiprofissional Sales e Dimenstein 2009a evidenciam que para além da supervisão clínicoinstitucional é necessário um espaço para compartilhar as inseguranças e angústias criando um momento de cuidado para quem cuida Possíveis soluções para esse problema de formação são dadas pelos artigos de Sales e Dimenstein 2009a 2009b Para aprimorar o trabalho dos psicólogos os autores sugerem 1 Acionar mecanismos que possam romper com a cronificação do serviço em atenção psi cossocial mudando processos de financiamento e gestão incluindo gestores técnicos e usuários no processo de ensino e de novas competências profissionais 2 Participação em especialização para atuar em Saúde Mental em fóruns grupos de estudo e na construção dos próprios serviços 3 Capacitação prévia ao início do exercício das atividades no serviço também é um ponto de destaque 4 Interesse pessoal e a experiência profissional que em conjunto poderão fomentar novos modos de trabalho mais adequados à demanda do serviço O Trabalho em Equipe A atuação do psicólogo em um CAPS não se dá de forma isolada Pelo contrário é um profissional integrado na equipe e com relação a isso os artigos recuperados destacaram fatores relacionados a essas equipes em sua relação com as práticas desenvolvidas pelos profissionais de Psicologia como as reuniões de equipe a gestão dos serviços remuneração Revista Psicologia e Saúde 148 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 e rotatividade dos profissionais o desafio de desenvolver ações no território de forma inter sertorial e na perspectiva da desinstitucionalização Sales e Dimenstein 2009a trazem que os psicólogos entrevistados em seu estudo muitas vezes acabam fazendo trabalhos repetitivos mostrando que muitas iniciativas de mudança são soterradas e acabam dando lugar à cronicidade Estar em um CAPS geralmente deman da muito de suas emoções e expectativas e nem sempre a remuneração está ao alcance do esforço desprendido fazendo com que muitos se dividam entre vínculos empregatícios Sentimentos de pavor diante de crises de usuários e dificuldades em acolher as demandas destes são indicativos de grande incômodo para esses profissionais Além do trabalho repe titivo Lara e Monteiro 2012 também versam sobre a rotatividade de técnicos no serviço e as relações de trabalho que podem ser perturbadas por esse fator Paulon et al 2011 versam sobre as reuniões de equipe que possuem um funcionamen to burocrático com sequência de pautas a serem discutidas mas que não eram produtivas dentro do tempo disponível apesar dos esforços para que as discussões fossem coletivas As autoras chamam a atenção para o apego improdutivo a esse burocratismo e que ele pode ser a constatação da transição do modelo manicomial para o da reforma psiquiátrica Observam também que a equipe se queixa da falta de um momento adequado para tratar da discussão de casos nessas reuniões e que gostariam de um espaço para construir co letivamente sobre essas demandas Elas observaram também que os profissionais não se autorizam a reconhecer a suas ações como inovadoras colocandose no lugar de não saber e que esperam uma nova teoria que responda a seus impasses cotidianos Um ponto interessante foi o fato de que no artigo Cantele et al 2012 todos os CAPS pesquisados eram coordenados por psicólogos mostrando que esses profissionais frequen temente possuem uma posição relevante nas equipes Outra temática referente ao trabalho em equipe envolve o território e sobre como as equipes têm mantido ou não as relações com a comunidade Cedraz e Dimenstein 2005 observaram que as oficinas do serviço pesquisado não estavam alcançando transformações em seu públicoalvo além de exigir grande parte do tempo tanto dos usuários quanto dos técnicos para sua realização o que limitava a possibilidade de outras intervenções mais efe tivas A instituição também não possuía relações com a comunidade ficando presa ao ostra cismo Nessa posição o CAPS se torna para a cidade somente mais uma casa de loucos Cedraz Dimenstein 2005 p 321 Esse entendimento é encontrado também em Sales e Dimenstein 2009a no qual os autores apontam a necessidade de os CAPS trabalharem com parcerias das mais diversas instâncias com o objetivo de reinserir o usuário na comunidade e atentam para o risco de produção de novas cronicidades se os serviços de assistência em saúde mental funcionarem como meros ambulatórios CamposBrustelo et al 2010 trazem que além da equipe multidisciplinar tradicional o CAPS pesquisado firmou parcerias com a comunidade e com voluntários que ofereciam aos usuários atividades de educação física yoga tai chi chuan biodança dança do ventre grupo de leitura e grupo de apoio psicológico CamposBrustelo et al 2010 p 3 Lara e Monteiro 2012 relatam vários fatores negativos que têm impedido o CAPS de cumprir seu papel plenamente A falta de clareza sobre a clientelaalvo foi um grave fator observado além da estigmatização dos usuários e do serviço praticadas muitas vezes pelos próprios profissionais do CAPS e da rede O trabalho intersetorial foi citado por apenas um Revista Psicologia e Saúde 149 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 dos profissionais entrevistados Outras dificuldades com a rede foram apontadas a frag mentação do atendimento aos usuários e sua consequente falha quando uma internação psiquiátrica necessária não é efetuada e até intervenções de instituições religiosas que po dem atrapalhar as ações do CAPS onde muitos pacientes são evangélicos isso interfere bastante quando têm que tomar medicação a Igreja promete que vai curar eles e deixam de tomar medicação Lara Monteiro 2012 pp 8788 Acerca do conceito de Desinstitucionalização que deve ser partilhado pela equipe que atua em CAPS Cedraz e Dimenstein 2005 chamam a atenção para a forte presença de uma orientação moral dos usuários por parte dos profissionais além da cristalização da di nâmica das oficinas onde os usuários do serviço ocupam o lugar de observadores sujeitos ao saberpoder dos técnicos Os próprios usuários ficam angustiados com a eventual falta de atividades pois elas são significadas por eles como tratamento e sem a sua mecânica execução para a ocupação do tempo alguns reclamam de um sentimento de malestar As autoras observaram a persistência do modelo manicomial em que estar curado significa uma diminuição dos sintomas e da angústia e a aceitação da medicação frequente o que mostra entraves no entendimento do que é a desinstitucionalização Elas concluem que as oficinas deveriam fomentar a convivência dos usuários com o diferente estimulando formas mais criativas e autônomas de se estar no mundo sem disciplinarizálos como o corpo social espera O artigo de Sales e Dimenstein 2009a reforça que alguns profissionais que tinham maior clareza sobre o conceito de desinstitucionalização executavam um trabalho mais próximo do que é preconizado pela Reforma Mesmo assim alguns psicólogos disseram reconhecer como trabalho específico no serviço os atendimentos individuais o que não deixa de ser um risco para a cronificação desses profissionais Paulon et al 2011 trouxeram que os profissionais entrevistados estavam questionando as práticas tradicionais prescritivas que focam no sintoma e desconsideram o papel do usu ário em seu processo de produção de saúde O acolhimento do sujeito na sua diversidade foi um aspecto presente na concepção da equipe do serviço observado Para Cantele et al 2012 além das especificações do trabalho do psicólogo este não deve se descuidar de uma visão ampla para permitir que esse usuário possa criar laços com o território Lara e Monteiro 2012 também reforçam esse conceito ao mencionar que os profissionais devem ter uma atuação política nessa sociedade para que ela mude de postura frente à experiência da loucura Discussão A maioria da amostra desta revisão vem de artigos que retratam as experiências em CAPS situados na região Nordeste com destaque para o profissional de psicologia Em segundo lugar aparecem as experiências da região Sul e apenas dois do Sudeste A territorialidade da amostra vem corroborar os dados obtidos pelo Ministério da Saúde Brasil 2015 por ser na região Nordeste onde temos as maiores coberturas regionais e também estaduais na assis tência à saúde mental Paraíba e Sergipe A região Sudeste começou com um patamar alto de cobertura semelhante ao das regiões Nordeste e Sul mas agora segue com índices próxi mos aos das regiões CentroOeste e Norte as quais enfrentam desafios para sua expansão Revista Psicologia e Saúde 150 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 As atividades mais comumente atribuídas aos psicólogos encontradas nesta revisão fo ram as Oficinas terapêuticas o Acolhimento e os Grupos terapêuticos estando assim em concordância com o exposto nas Referências Técnicas da Profissão CFP 2013 É importante ressaltar que apesar de os artigos da amostra mencionarem as práticas dos psicólogos nos CAPS eles discorrem mais sobre os problemas na execução destas ou decorrentes dessas atividades Na fala dos psicólogos entrevistados nos artigos recuperados percebese que o embasa mento teórico das várias modalidades grupais não fornece a devida segurança para que a condução dos grupos e oficinas seja satisfatória Isto se torna um problema ainda mais gra ve pois de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais DCN para cursos de Psicologia elaborada pelo Ministério da Educação MEC Brasil 2011b esperase que o profissional dessa área tenha sua formação direcionada para a prática a pesquisa e o ensino sempre de forma contextualizada isto é levando em conta as necessidades da populaçãoalvo do ponto de vista social e dos direitos humanos Além disso em seu artigo 4º as DCN apontam que a formação do psicólogo deve auxiliar o desenvolvimento de competências e habilida des que no caso de Atenção à saúde formem profissionais aptos a desenvolver ações de prevenção promoção proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial tanto em nível individual quanto coletivo bem como a realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da éticabioética Brasil 2011b pp 12 Assim nas atuais DCN a formação para atuação em práticas grupais em psicologia está prevista No documento do Conselho Federal de Psicologia sobre a atuação nos CAPS CFP 2009 está atestado que as atividades grupais desenvolvidas nesse serviço tornaramse uma das principais ações dos psicólogos sendo que a condução dos grupos também pode ser feita em dupla com a participação de outro profissional Os psicólogos também podem ser responsáveis por intervenções grupais na equipe a fim de capacitar supervisionar e ofere cer espaços de troca profissional CFP 2009 Diante de todas essas leis e diretrizes restanos perguntar O que tem acontecido durante a graduação que ainda não conseguimos nos adequar às normas para a formação do psicó logo e às necessidades dos serviços quanto às práticas grupais As disciplinas sobre esta te mática ainda são escassas O conteúdo é muito generalista e não prepara para uma atuação mais incisiva A quantidade de aulas práticas ainda é insuficiente O artigo de Sales e Dimenstein 2009a retrata essa falta na formação quando destaca que alguns profissionais de Psicologia atuantes em CAPS demonstraram pavor diante das crises dos usuários e uma grande dificuldade em acolhêlos em suas demandas Como já apontamos o CAPS é um local de grande demanda emocional para os psicólogos Isso nos leva pensar o quanto os psicólogos refletem sobre seus limites como profissionais antes de aceitarem esse trabalho que exige e que na maioria das vezes não paga o suficiente para que eles se dediquem exclusivamente ao serviço Toda essa dinâmica a nosso ver influencia na qualidade das suas atividades nos CAPS Concordamos assim com Ramminger e Brito 2011 que discorrem sobre o uso exacerbado de si nos serviços CAPS para as autoras as demandas do usuário são sempre fortemente mobilizadoras assim como as exigências for mais colocadas para os serviços p 154 o que implica uso da criatividade e da capacidade inventiva como uma constante Revista Psicologia e Saúde 151 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 A necessidade de capacitação foi um tema que se repetiu em cinco artigos É interessante pensar sobre o significado que essa palavra carrega De acordo com o Dicionário Priberam capacitar é tornarse capaz ou seja essa concepção de que os profissionais não chegam aptos para trabalhar em Saúde Mental mesmo após sua graduação é amplamente compar tilhada pelas equipes que demandam fortemente uma preparação inicial para adentrarem nos serviços Dado esse significado um pouco desqualificador preferimos aqui trocar a pa lavra capacitação por Educação Permanente uma das responsabilidades do SUS quanto à formação de recursos humanos legalmente baseada na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para o SUS instituída pela Portaria GMMS nº 1996 de 20 de agos to de 2007 Brasil 2009 e definida como o conceito pedagógico no setor da saúde para efetuar relações orgânicas entre ensino e as ações e serviços e entre docência e atenção à saúde sendo ampliado na Reforma Sanitária Brasileira para as relações entre formação e gestão setorial desen volvimento institucional e controle social em saúde Brasil 2009 p 7 A análise dos artigos recuperados apontou a Educação Permanente como fator importan te e que tem estado em falta nos CAPS Além de manter o profissional atualizado e mais se guro sobre a sua atuação também é um modo de cuidar desse trabalhador em um ambiente que muitas vezes pode se tornar nocivo à sua própria saúde Dada a legitimidade dessa prática que visa ao fomento de inquietações e mudanças na atuação e nas suas concepções teóricas ficam os angustiantes questionamentos O que tem acontecido com o Serviço em Saúde Mental especificamente no caso desta revisão biblio gráfica mas é um ponto a ser expandido para todo o SUS que essas práticas não estão sen do implantadas Os recursos são insuficientes Não há interesse do Estado em cumprir as suas próprias proposições Existem projetos históricopolíticos que não querem colocar es sas diretrizes em prática Por mais que o MEC Brasil 2011b proponha que os profissionais de psicologia tenham interesse em sua própria formação continuada como pode ser visto no trecho a seguir é visível que somente a iniciativa pessoal não é o suficiente para capacitar os profissionais para a prática e o cotidiano dos CAPS Art 4º VI Educação permanente os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente tanto na sua formação quanto na sua prática e de ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento das futuras gerações de profissio nais estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmica e profissional a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais Brasil 2011b p 2 A necessidade de educação permanente também aparece no relatório da pesquisa do CFP 2009 Práticas Profissionais dos as Psicólogos as nos Centros de Atenção Psicossocial onde há relatos de psicólogos que demonstram desconhecimento das políticas públicas in segurança frente à atuação no serviço e ausência de supervisões Outro ponto de contato entre este estudo e o documento do CFP foi a falta de recursos materiais humanos e espaço físico para desenvolver as atividades grupais diárias nos CAPS de forma a poder garantir um maior número de atividades que resguardassem o sigilo das pessoas que convivem no mesmo território CFP 2009 Revista Psicologia e Saúde 152 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Algumas dificuldades foram trazidas pelos artigos da amostra no que tange ao trabalho em equipe Uma questão a ser levantada é a da cronificação do trabalho exposto no artigo de Sales e Dimenstein 2009a Não seria essa cronificação resultado da falta de formação Se os profissionais não se sentem preparados para lidar com pacientes em crise e com as diferentes demandas psicossociais que surgem talvez fazer o que já está bem estruturado e aceito pelo saber clínico tradicional seja uma saída mais segura É importante ressaltar que a Reforma Psiquiátrica vem para nos tirar do lugar comum do fazer clínicomanicomial e exige da equipe novas formas de atuar diante da ciência dos usuários das famílias e do território O trabalho da equipe em um CAPS está intrinsecamente ligado à concepção de desins titucionalização que ela partilha Ao clarear o entendimento do que são as instituições e como elas permeiam nossas relações mais próximos estaremos de tomar direções mais corretas no que tange às novas concepções no cuidado ao outro no campo da saúde men tal Instituição não é uma instalação material na qual se encarnam entidades podero sas Uma instituição é uma prática social que se repete e se legitima enquanto se repete Benelli CostaRosa 2003 pp 4647 Não basta termos saído dos manicômios se con tinuamos a carregálos para dentro dos serviços substitutivos Novas instituições exigem para sua criação um exercício cotidiano de elaboração contínua de um projeto a partir da reflexão permanente sobre as práticas num esforço de transformar a lógica e ação asilares Benelli CostaRosa 2003 p 48 grifos do autor Interessante que no artigo de Paulon et al 2011 isso aparece no relato das reuniões de equipe que não eram produtivas no tempo disponível com o apego burocráticos a pautas e questões administrativas onde não havia tempo suficiente para discussão de casos Mesmo fora dos manicômios o ideário enrijecido de fazer saúde mental ainda subsiste nas reuniões de CAPS entrecortado por momentos de desinstitucionalização em que a equipe demanda uma discussão coletiva dos casos Considerações Finais O objetivo geral de mapear as práticas dos psicólogos nos CAPS foi alcançado ainda que maior ênfase tenha sido colocada pelos artigos recuperados nas vicissitudes dessas práticas e do serviço CAPS Um limite deste estudo foi a regionalidade dos artigos em sua maioria abordando psicó logos inseridos em CAPS da região Nordeste seguido por Sul e Estado de São Paulo Mas e as práticas dos profissionais psi do Centro Oeste E da Região Norte E ainda mais grave dado o passado com forte presença de manicômios na Região Sudeste não deveria esta região se empenhar em contar como estão sendo as suas novas práticas com relação à saúde mental Outra limitação do presente estudo é a impossibilidade de atribuir as deficiências na for mação dos psicólogos ao currículo da graduação pois para tal seriam necessárias pesquisas para comparar os currículos das Universidades e verificar quantas possuem disciplinas volta das para ao entendimento de políticas públicas e a atuação profissional nos equipamentos do SUS Para além do currículo seria interessante que houvesse mais pesquisas feitas com alunos da graduação e egressos acerca de seus entendimentos afetos e dificuldades encon tradas em seus estudos e estágios na saúde mental e outros âmbitos do SUS Revista Psicologia e Saúde 153 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Cabenos aqui elencar algumas recomendações que a produção deste artigo suscitou Como recomendações aos serviços podemos pensar em uma maior participação dos profis sionais das equipes em reuniões dos Conselhos Municipais de Saúde Também é necessário o investimento e planejamento de ações voltadas para a Educação Permanente em Saúde Aos Cursos de Graduação em Psicologia é importante pensar sobre as diretrizes dos currículos novos e como eles têm afetado ou não a formação de seus alunos para as atividades que irão desenvolver no SUS Por fim à academia destacamos a necessidade de mais pesquisas que investiguem a relação entre formação universitária e atuação profissional campo que envolve tanto a Educação quanto a Saúde no caso dos trabalhadores dos CAPS Sugerimos estudos com psicólogos recémformados pelas novas diretrizes curriculares a fim de saber se as disciplinas que dialogam com a temática de Atenção à Saúde foram fundamentais para as suas atividades no serviço ou se ainda estão muito descontextualizadas Referências Bardin L 1977 Análise de conteúdo Lisboa Portugal Edições 70 Benelli S J CostaRosa A 2003 Geografia do poder em Goffman vigilância e resistência dominação e produção de subjetividade no hospital psiquiátrico Estudos de Psicologia Campinas 202 3549 doi httpsdxdoiorg101590S0103166X2003000200004 Belotti M Quintanilha B C Tristão K G Ribeiro Neto P M Avellar L Z 2017 Percepções sobre o processo de trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial InfantoJuvenil Trends in Psychology 254 15471557 doi httpsdxdoiorg109788 tp2017404pt Brasil 2002 Portaria n 336GM de 19 de fevereiro de 2002 Estabelece CAPS I CAPS II CAPS III CAPS i II e CAPS ad II Disponível em httpbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2002prt033619022002html Brasil 2009 Ministério da Saúde Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde Departamento de Gestão da Educação em Saúde Política Nacional de Educação Permanente em Saúde Disponível em httpportalanvisagovbrdocuments33856396770 olC3ADticaNacionaldeEducaC3A7C3A3oPermanenteemSaC3BAde c92db117e17045e799848a7cdb111faa Brasil Ministério da Saúde 2011a Portaria n 3088 de 23 de dezembro de 2011 Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack álcool e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde SUS Disponível em httpbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2011prt308823122011rephtml Brasil 2011b Ministério da Educação Resolução Nº 5 de 15 de março de 2011 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia Disponível em httpportalmecgovbrindexphpoptioncom docmanviewdownloadalias7692rces00511pdfItemid30192 Brasil 2015 Ministério da Saúde Saúde Mental em Dados 12 Informativo Eletrônico 1012 Disponível em httpwwwoticsorgestacoesdeobservacaosaudemental acervoarquivossaudementalemdados12view Revista Psicologia e Saúde 154 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 CamposBrustelo T N Bravo F F Santos M A 2010 Contando e encantando histórias de vida em um centro de atenção psicossocial SMAD Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas 61 0111 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS180669762010000100007lngpttlngpt Cantele J Arpini D M Roso A 2012 A Psicologia no modelo atual de atenção em saúde mental Psicologia Ciência e Profissão 324 910925 doi httpsdxdoiorg101590 S141498932012000400011 Capacitação nd In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Online Disponível em httpwwwpriberamptdlpocapacitaC3A7C3A3o Cedraz A Dimenstein M 2005 Oficinas terapêuticas no cenário da Reforma Psiquiátrica modalidades desinstitucionalizantes ou não Revista Mal Estar e Subjetividade 52 300327 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS151861482005000200006lngpttlngpt Conselho Federal de Psicologia 2009 Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas Práticas profissionais dos as psicólogos as nos centros de atenção psicossocial Disponível em httpwwwtwikiufbabrtwikipubCetadObservaOutros LivroCAPSPsicologopdf Conselho Federal de Psicologia 2013 Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas Referências técnicas para atuação de psicólogas os no CAPS Centro de Atenção Psicossocial Disponível em httpsitecfporgbrpublicacaoreferencias tecnicasparaatuacaodepsicologasosnocapscentrodeatencaopsicossocial Cruz K S Fernandes A H 2012 Dispositivos clínicos dos psicólogos em CAPS de Salvador Entre tutela e clínica das psicoses Revista Psicologia e Saúde 42 94105 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS2177093X2 012000200002lngpttlngpt Jucá V J S Medrado A C Safira L G Mascarenhas L P Nascimento V G 2010 Atuação psicológica e dispositivos grupais nos centros de atenção psicossocial Mental 8 14 93113 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS167944272010000100006 Lara G A Monteiro J K 2012 Os psicólogos na atenção às psicoses nos CAPS Arquivos Brasileiros de Psicologia 643 7693 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS180952672012000300006lngpttlngpt Larentis C P Maggi A 2012 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas e a Psicologia Aletheia 37 121132 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS141303942012000100009lngpttlngpt Lemos P M Cavalcante Júnior F S 2009 Psicologia de orientação positiva Uma proposta de intervenção no trabalho com grupos em saúde mental Ciência Saúde Coletiva 141 233242 doi httpsdxdoiorg101590S141381232009000100029 Mendes K D S Silveira R C C P Galvão CM 2008 Revisão integrativa método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem Texto Contexto Enfermagem 174 758764 doi httpsdxdoiorg101590S010407072008000400018 Mota V A Costa I M G 2017 Relato de experiência de uma Psicóloga em um CAPS Mato Grosso Brasil Psicologia Ciência e Profissão 373 831841 doi httpsdxdoi org10159019823703004292016 Revista Psicologia e Saúde 155 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Paulon S M Gageiro A M Costa D F C Londero M F P Pereira R G Mello V R C Rosa R H 2011 Práticas clínicas dos profissionais PSI dos Centros de Atenção Psicossocial do Vale do Rio dos Sinos Psicologia Sociedade 23spe 109119 doi httpsdxdoiorg101590S010271822011000400014 Pompeo D A Rossi L A Galvão C M 2009 Revisão integrativa etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem Acta Paulista de Enfermagem 224 434 438 doi httpsdxdoiorg101590S010321002009000400014 Ramminger T Brito J C 2011 Cada Caps é um Caps Uma coanálise dos recursos meios e normas presentes nas atividades dos trabalhadores de saúde mental Psicologia Sociedade 23spe 150160 doi httpsdxdoiorg101590S010271822011000400018 Sales A L L F Dimenstein M 2009a Psicologia e modos de trabalho no contexto da reforma psiquiátrica Psicologia Ciência e Profissão 294 812 doi httpsdxdoi org101590S141498932009000400012 Sales A L L F Dimenstein M 2009b Psicólogos no processo de reforma psiquiátrica práticas em desconstrução Psicologia em Estudo 142 277285 doi httpsdxdoi org101590S141373722009000200008 Soares C B Hoga L A K Peduzzi M Sangaleti C Yonekura T Silva D R A D 2014 Revisão integrativa conceitos e métodos utilizados na enfermagem Revista da Escola de Enfermagem da USP 482 335345 Souza L G S Pinheiro L B 2012 Oficinas terapêuticas em um Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas Aletheia 3839 218227 Disponível em httppepsic bvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS141303942012000200018lngpttln gpt Vasconcelos E M 2004 Mundos paralelos até quando Os psicólogos e o campo da saúde mental pública no Brasil nas duas últimas décadas Mnemosine 10 7390 Disponível em httpwwwmnemosinecombrojsindexphpmnemosinearticleview22 Recebido 12062017 Última revisão 23052018 Aceite final 31052018 Sobre as autoras Stephannie Assenheimer Psicóloga pela Universidade Federal de Uberlândia Email sassenheim erpsicogmailcom Orcid httporcidorg0000000274011314 Renata Fabiana Pegoraro Doutora e Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo USP Ribeirão Preto SP Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federa de São Carlos UFSCar Psicóloga pela USPRibeirão Professora Adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia UFU Email rfpegoraroyahoocombr Orcid httporcidorg0000000160525763
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Revista Psicologia e Saúde 139 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Práticas Desenvolvidas por Psicólogos em Serviços de Atenção Psicossocial Revisão de Literatura Practices Developed by Psychologists in Psychosocial Attention Services Literature Review Prácticas Desarrolladas por Psicólogos en Servicios de Atención Psicosocial Revisión de Literatura Stephannie Assenheimer Renata Fabiana Pegoraro1 Universidade Federal de Uberlândia Resumo Este artigo tem por objetivo geral mapear as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS por meio de uma revisão integrativa de literatura publicada entre 2005 a 2014 em periódicos indexados nas bases de dados online Scielo Biblioteca Virtual em Saúde e Redalyc a partir das palavraschave Psicologia Psicólogo Centros de Atenção Psicossocial A amostra foi composta por 12 artigos publicados de 2005 a 2012 cujas respostas à pergunta norteadora foram agrupadas em função das temáticas abordadas 1 Atividades desenvolvidas pelo psicólogo nos CAPS 2 A formação do psicólogo para o trabalho no CAPS e a necessidade de capacitação profissional 3 Concluímos que é urgente o investimento em Educação Permanente e dos Cursos de Psicologia revejam o ensino das disciplinas sobre saúde pública Palavraschave psicólogo Centros de Atenção Psicossocial educação permanente trabalho em equipe Abstract This article has the objective to map the practices of psychologists in Psychosocial Care Centers CAPS The method chosen was the integrative literature review with articles published from 2005 to 2014 in journals indexed in online databases Scielo Virtual Health Library and Redalyc from keywords psychology psychologist mental health services The sample consisted of 12 articles published from 2005 to 2012 whose answers the central question were grouped according to the subjects addressed 1 Activities developed by psychologist at CAPS 2 The training of psychologists to work in CAPS and need for professional training 3 Team work We conclude that the investment in Continuing Education is urgent and the Psychology Courses need to review the teaching of the public health disciplines Keywords psychologist Psychosocial Care Centers continuing education team work Resumen Este artículo tiene el objetivo de mapear las prácticas de los psicólogos en Centros de Atención Psicosocial CAPS El método elegido fue la revisión integradora de la literatura con artículos publicados desde 2005 hasta 2014 en revistas indexadas en bases de datos en línea Scielo Biblioteca Virtual en Salud y Redalyc a partir de palabras clave psicología psicólogo servicios de salud mental La muestra consistió en 12 artículos publicados 20052012 cuyas respuestas la pregunta central se agruparon de acuerdo con los temas tratados 1 Las actividades desarrolladas por el psicólogo en el CAPS 2 la formación de los psicólogos para trabajar en CAPS y la necesidad de la formación profesional 3 el trabajo en equipo Llegamos a la conclusión de que es urgente la inversión en Educación Continua y de los Cursos de Psicología revisen la enseñanza de las disciplinas sobre salud pública Palabras clave psicólogo Centros de Atención Psicosocial la educación continua trabajo en equipo 1 Endereço de contato Universidade Federal de Uberlândia Rua Maranhão sn Campus Umuarama Uberlândia MG CEP 38405240 doi httpdxdoiorg 1020435pssav0i0652 Revista Psicologia e Saúde 140 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Introdução A temática deste estudo foram as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS um serviço de saúde mental do Sistema Único de Saúde SUS destinado ao cuidado de pessoas em sofrimento psíquico grave a partir do mapeamento das publica ções sob a forma de revisão integrativa de literatura O primeiro CAPS foi inaugurado no final da década de 1980 na cidade de São Paulo e pode ser considerado como um dos frutos da mudança da ótica com relação ao cuidado das pessoas em sofrimento psíquico grave a partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira Conselho Federal de Psicologia CFP 2013 A ino vação presente na proposta de funcionamento de um CAPS encontrase na ruptura do modo tradicional de tratamento da psiquiatria clássica com o cuidado alçado na corresponsabili dade da equipe multiprofissional usuários e famílias que em conjunto devem elaborar um plano de tratamento personalizado para cada usuário Jucá Medrado Safira Mascarenhas Nascimento 2010 Mota Costa 2017 Os CAPS são equipamentos de cuidado em contexto comunitário e devem ser pautados pelo respeito às diferenças humanas em seu processo de reelaboração do sofrimento e de reinvenção da vida Vasconcelos 2004 p 82 Recentemente os CAPS passaram a integrar a Rede de Atenção Psicossocial RAPS do SUS que visa ampliar a rede de atenção a pessoas com sofrimento psíquico e que também necessitem de cuidados com relação ao uso de álcool e outras drogas Brasil 2011a Belotti et al 2017 Dados oficiais do Ministério da Saúde Brasil 2015 apontam 2209 unidades as quais oferecem atendimentos individuais ex farmacoló gico psicoterápico e em grupos ex psicoterapia atividades de suporte social oficinas tera pêuticas visitas domiciliares atendimento à família e atividades que integrem o usuário às vivências comunitárias e familiares Para realizar tais ações a equipe profissional desse equi pamento deve ser composta por médicos com formação em saúde mental por enfermeiros psicólogos assistentes sociais terapeutas ocupacionais pedagogos técnicos eou auxiliares de enfermagem técnicos administrativos técnicos educacionais e artesãos Brasil 2002 Ainda que não seja obrigatória a presença de psicólogos nas equipes do CAPS é bastante frequente Segundo Vasconcelos 2004 isto pode ser explicado pelo fato de que são os psicólogos que possuem melhores condições para serem aprovados nos processos de seleção dado que recebem no curso de graduação algum tipo de formação sistemática no campo da saúde mental p 85 De acordo com as Referências Técnicas para atuação de Psicólogas os nos CAPS ela boradas pelo CFP 2013 as atividades desenvolvidas por psicólogos devem envolver aco lhimento discussão de casos em equipe psicoterapias atendimento às crises elaboração de planos individuais de cuidado grupos e oficinas atividades dirigidas diretamente à rein serção social dentre outras CFP 2013 p 85 Além destas o documento ainda elenca práticas inovadoras tais como aproximação da população rural com a comunidade e o uso de diferentes recursos artísticos para a execução de grupos e oficinas Ainda segundo o CFP 2013 quase trinta mil psicólogos atuavam no SUS em 2013 Esse número expressivo aponta para a necessidade de um redirecionamento da Psicologia ao lado de outras profissões da saúde em relação à sua tradição histórica relativa às orien tações éticas teóricas e metodológicas p 78 Na perspectiva dos serviços alinhados à Reforma Psiquiátrica tal como o CAPS Revista Psicologia e Saúde 141 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 o fato psíquico se inscreve necessariamente como fato social desta premissa decorre uma nova direção de intervenção no campo da saúde mental caracterizada pela perspectiva da atenção psicossocial que se colocou como orientadora do desen volvimento do projeto institucional dos CAPS CFP 2013 p 80 Assim podemos dizer que os psicólogos têm como desafio a possibilidade de construir a crítica ao discurso biomédico e à perspectiva reducionista acerca da experiência da loucura que considera o sujeito apenas como um corpo enfermo a ser contido em hospitais psi quiátricos e medicado O desafio está posto como necessidade para o reconhecimento da dimensão cultural que atravessa a existência desses sujeitos e conforma suas subjetividades Tal reconhecimento é essencial para resgatar a dimensão humana do fenômeno da loucura e a dimensão do sofrimento que atravessa essa experiência humana CFP 2013 Belotti et al 2017 Uma rápida busca efetuada na base Scielo não registrou artigo de revisão de literatura que discutissem a atuação do psicólogo no CAPS mas sim artigos que problematizavam a atuação das equipes no CAPS ou a participação do psicólogo na realização de apoio matricial junto a equipes de atenção primária Face ao que foi exposto anteriormente o objetivo geral desta pesquisa foi mapear as práticas dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial CAPS voltados para o atendimento de pessoas adultas em sofrimento psíquico grave a partir de uma revisão integrativa de literatura Metodologia A pesquisa foi realizada a partir do método da revisão integrativa de literatura que pos sibilita uma síntese das pesquisas relevantes sobre o assunto estudado de forma que possa advir desta revisão uma maior sustentação para melhorias na prática de determinada área Segundo Soares et al 2014 p 338 a revisão integrativa de literatura consiste em método de reunião e síntese de resultados de investigações originalmente construído a partir das áreas de educação e psicologia que parte de várias perguntas ou hipóteses cuja revisão pretende responder Além disso este tipo de estudo aceita integrar delineamentos de pes quisa inclusive provenientes de diferentes paradigmas da produção do conhecimento em nome de concretizar a complexidade do cuidado de enfermagem que envolve integração entre questões individuais e contextuais Soares et al 2014 p 338 com grande potencial para contribuir para os cuidados em saúde De acordo com Mendes Silveira e Galvão 2008 seis passos são necessários para uma revisão integrativa 1 Identificação do tema ou questão de pesquisa 2 Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos 3 Organização das informações a serem extraídas dos estudos selecionados 4 Análise detalhada e avaliação dos estudos incluídos na revisão 5 Interpretação dos resultados 6 Apresentação da revisão Para o presente estudo os passos foram definidos da seguinte maneira 1 Questão de pesquisa Atualmente quais as práticas realizadas pelos psicólogos nos CAPS 2 Os crité rios de inclusão utilizados foram artigos publicados de 2005 a 2014 redigidos em português ou inglês em periódicos indexados nas bases de dados online Scielo Periódicos Eletrônicos em Psicologia da Biblioteca Virtual em Saúde PEPSICBVS e Redalyc a partir das seguin tes palavraschave Psicologia Psicólogo Centros de Atenção Psicossocial isoladamente Revista Psicologia e Saúde 142 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 e combinadas neste caso com o emprego de AND Os critérios de exclusão adotados fo ram artigos redigidos em espanhol editoriais resumos de pesquisa teses e dissertações 3 Leitura dos resumos dos artigos inicialmente selecionados para avaliar se respondiam à questão norteadora 4 Leitura dos artigos na íntegra para análise detalhada e avaliação dos estudos incluídos na revisão e extração de informações para composição de tabelas 5 Análise e discussão dos resultados 6 Apresentação da revisão mediante redação do artigo As buscas nas bases eletrônicas ocorreram no período de fevereiro a maio de 2015 A escolha da Scielo devese ao seu perfil de englobar periódicos de diferentes áreas do co nhecimento A Pepsic integra periódicos de Psicologia que não constam na Scielo O Redalyc tem publicações da América Latina e Caribe A escolha por realizar as buscas em periódicos indexados se justifica pela garantia de critérios de qualidade adotados pelas plataformas tais como a geração contínua de conteúdos cumprimento da periodicidade e maior agilidade na avaliação dos originais recebidos e composição do corpo editorial Os artigos encontrados selecionados e por fim recuperados para a análise constam na Tabela 1 Partiuse de um total de 243 artigos encontrados nas três bases eletrônicas por meio das palavraschave Foram inicialmente selecionados 81 pela leitura dos resumos e após exclusão de artigos repetidos e leitura na íntegra dos artigos foram recuperadas 12 publicações que respondiam à questão norteadora da pesquisa Tabela 1 Artigos selecionados nas bases online excluídos e recuperados para análise Artigos Bases online Encontrados Eliminados após leitura dos resumos Selecionados para leitura na íntegra Eliminados por repetição e por não responderem pergunta norteadora Recuperados SCIELO 189 143 46 41 5 PEPSIC 53 19 34 28 6 REDALYC 1 0 1 0 1 TOTAL 243 162 81 69 12 Procedeuse à leitura na íntegra dos artigos recuperados Dois pesquisadores indepen dentes extraíram informações de cada uma das publicações conforme sugerido por Broome 2000 apud Mendes et al 2008 a ano de publicação b fonte de publicação c tipo de estudo d amostra e objetivos e f principais resultados de cada artigo As informações foram digitadas em uma planilha eletrônica e discutidas até obtenção de consenso quanto à sua exatidão Em seguida foram efetuadas várias leituras de cada artigo recuperado Os principais temas de cada um foram destacados nas leituras e procedeuse à classificação em temáticas a partir dos passos elencados por Bardin 1977 para análise de conteúdo temática Dessa etapa emergiram três eixos de análise descritas na seção de resultados 1 Atividades desenvolvidas pelo psicólogo no CAPS 2 A formação do psicólogo para o traba lho no CAPS e a necessidade de Educação Permanente 3 O trabalho em equipe Revista Psicologia e Saúde 143 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Resultados Caracterização dos Estudos A amostra foi composta por 12 artigos publicados de 2005 a 2012 com concentração em 2012 cinco artigos conforme Tabela 2 As publicações ocorreram na maioria nova arti gos em periódicos de Psicologia com interface com área da saúde e social A maior parte dos artigos tinha pesquisadores de universidades públicas e cinco publicações foram par cerias entre universidades e Secretarias de Saúde serviços de saúde mental Com relação à territorialidade encontramos seis artigos sobre CAPS situados na região Nordeste quatro artigos contando experiências da região Sul e apenas dois artigos do Sudeste Dentre os 12 artigos que compõem o corpus de análise oito tinham como objetivos a compreensão da experiência ou prática profissional de psicólogos em CAPS dois buscavam identificar o po sicionamento da profissão de psicólogo frente aos serviços de atenção psicossocial e dois procuraram conhecer o funcionamentoexperiência de uma prática grupal em específico Quanto ao tipo de pesquisa quatro eram estudos qualitativos um estudo exploratório um relato de experiência profissional um estudo qualiquantitativo e os demais foram desen volvidos sob a forma de análise institucional cartografia pesquisaação pesquisainterven ção e estudo de caso Tabela 2 Autores ano de publicação instituição de origem objetivos tipo de estudo e nível de evidên cia dos artigos recuperados F12 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 1 Cedraz A Dimenstein M 2005 UFRN Conhecer o funcionamento das oficinas terapêuticas questionando se elas constituem ou não um dispositivo de promoção de mudança da lógica manicomial Análise Institucional VI 2 Lemos P M Cavalcante Júnior F S 2009 CAPS Viçosa do Ceará UNIFOR Analisar as produções discursivas de trabalhadores de Centros de Atenção Psicossocial sobre o processo de atuação em equipe Quanti qualitativo fenomeno lógico VI 3 Sales A L L F Dimenstein M 2009a UFRN Investigar o modo como essa categoria profissional tem se posicionado no complexo jogo de forças peculiar a esse campo da luta antimanicomial Qualitativo VI Revista Psicologia e Saúde 144 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 4 Sales A L L F Dimenstein M 2009b UFRN Conhecer como tais profissionais estão vivenciando o cotidiano desses serviços e propõe pensar o lugar da psicologia enquanto um dos saberes convocados a trabalhar em favor da efetivação de mudanças no modelo manicomial de assistência Cartografia por meio de entrevistas e observação participante VI 5 Campos Brustelo T N Bravo F F Santos M A 2010 CAPS II Indaiatuba SP USP Relatar experiência de criação de um grupo de contação de histórias em um Centro de Atenção Psicossocial Pesquisaação VI 6 Jucá V J S Medrado A C Safira L G Mascarenhas L P Nascimento V G 2010 UFC UNIFACS Compreender como os psicólogos inseridos em CAPS percebem as atividades grupais que realizam Estudo exploratório VI 7 Paulon S M Gageiro A M Costa D F C Londero M F P Pereira R G et al 2011 UFRGS Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul UNISINOS Estudar as práticas clínicas exercidas pelos profissionais psi psicólogos e psiquiatras junto aos Centros de Atenção Psicossocial Pesquisa Intervenção VI 8 Cruz K S Fernandes A H 2012 UFBA Exame dos dispositivos clínicos que estão sendo utilizados pelos psicólogos nos CAPS Estudo de Caso VI 9 Cantele J Arpini D M Roso A 2012 UFSM Conhecer a experiência dos profissionais de Psicologia dentro do atual modelo de atenção em saúde mental Estudo Qualitativo entrevistas semi estuturadas VI 10 Lara G A Monteiro J K 2012 CAPSBrusque SC UNISINOS Explorar as práticas dos psicólogos na atenção às psicoses nos CAPS do estado de Santa Catarina Qualitativa estudo descritivo e transversal VI 11 Larentis C P Maggi A 2012 UCS Investigar a organização dos CAPSad no estado do RS no que se refere às práticas eou intervenções psicológicas Estudo qualitativo revisão descritivo e exploratório V Revista Psicologia e Saúde 145 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Nº Autores Ano Instituição Objetivos Tipo de estudo Nível de Evidência 12 Souza L G S Pinheiro L B 2012 UFES Centro de Prevenção e Tratamento de Toxicômanos Vitória ES Unidade de Saúde da Família de Maruípe Vitória ES Relato de experiência profissional construída junto a usuários de um CAPSad na forma de Oficinas Terapêuticas Relato de experiência profissional VI Para fins de classificação de níveis de evidência utilizaramse os critérios propostos por Ursi 2005 apud Pompeo et al 2009 para uma revisão integrativa A maioria dos artigos recuperados foi classificada como nível de evidência VI isto é derivados de único estudo descritivo ou qualitativo além de um único artigo de revisão bibliográfica nível de evidên cia V Eixos de Análise Atividades Desenvolvidas pelo Psicólogo nos CAPS De acordo com os artigos recuperados as três atividades mais comumente realizadas pelos psicólogos dentro dos CAPS foram Oficinas terapêuticas oito artigos Acolhimento e Grupos psicoterapêuticos ambos citados em seis artigos Outras atividades grupais men cionadas são relacionadas a adolescentes família motivação mulheres reencontro relaxa mento recreativo e de orientação em saúde antitabagismo alcoolistas e drogadictos pre venção de recaída orientação profissional dos usuários formação política e de cidadania orientação familiar Além das atividades de caráter grupal também fizeramse presentes na prática do psicó logo mas em um número menor de artigos Visitas domiciliares um artigo Matriciamento e Acompanhamento Terapêutico ambos citados em dois artigos Por fim atividades que não envolviam a assistência direta ao usuário também foram mencionadas como atividades relacionadas à gestão elaboração de políticas públicas participação em conselhos de saúde formação de trabalhadores da saúde também foram atribuídas à profissionais da psicologia pelos artigos recuperados Podese portanto perceber que as práticas grupais nos CAPS contam com a presença do psicólogo Apesar disso apenas uma publicação de CamposBrustelo et al 2010 descrevia uma intervenção grupal Os autores relataram uma experiência com grupo de contação de histórias o qual abria espaço para os usuários compartilharem suas histórias e incorporarem novos significados ampliando as possibilidades de vivências Jucá et al 2010 trazem que há uma grande quantidade de usuários e certa cobrança da equipe para que os psicólogos realizem grupos e oficinas nos CAPS Esclarecem porém que Revista Psicologia e Saúde 146 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 as filas de espera não deveriam ser o principal motivador dessas atividades As autoras falam também sobre um grande incômodo de os profissionais formados em Psicanálise executa rem atividades de grupo e que isso pode decorrer de um desconhecimento da produção literária sobre o tema Ainda que as atividades grupais tenham sido mencionadas na maior parte da literatura recuperada Larentis e Maggi 2012 expõem que a psicoterapia individual é a prática mais comum dos psicólogos em CAPSad mas a lógica serve para todos os outros CAPS e que as atividades que envolvem a temática comunitária existem em escala reduzida Além das atividades realizadas pelos psicólogos nos CAPS os artigos recuperados tam bém apresentam algumas dificuldades enfrentadas pelos profissionais Uma dessas dificul dades foi a falta de recursos materiais para atender a demanda das atividades destacada como um empecilho para a diversidade de oficinas oferecidas Cedraz Dimenstein 2005 Sales Dimenstein 2009a Jucá et al 2010 Lara Monteiro 2012 Sobre a falta de ma teriais para as oficinas as autoras Lara e Monteiro 2012 sugerem que esse problema pode ser uma oportunidade para estimular os usuários a participarem do controle social do SUS na fiscalização da aplicação dos recursos públicos Sales e Dimenstein 2009a destacaram ainda como uma dificuldade a falta de profissio nais qualificados para lidarem com a complexa demanda dos usuários Já Jucá et al 2010 trouxeram como dificuldades para o trabalho do psicólogo nas atividades grupais a alta rotatividade de profissionais e a dificuldade de manter sigilo em grupos terapêuticos com postos por usuários do mesmo território A Formação do Psicólogo para o Trabalho no CAPS e a Necessidade de Educação Permanente O segundo eixo temático discute a formação insuficiente oferecida nos cursos de gradu ação para atuação na atenção psicossocial seja por conteúdos defasados quanto ao campo da saúde pública seja por reproduzir um modelo de consultório privado Dois artigos apon taram conteúdos da graduação defasados Sales Dimenstein 2009b Paulon et al 2011 Segundo esses artigos os cursos de graduação em Psicologia não têm formado profissionais que atendam plenamente às necessidades dos usuários do serviço em saúde pública no contexto da Reforma Psiquiátrica Uma hipótese para essa dificuldade seriam as grades cur riculares voltadas para a formação clínica tradicional que trata o sujeito individualmente O artigo de Jucá et al 2010 investigou se a formação recebida era suficiente para atuar no CAPS Os psicólogos que participaram do estudo dividiramse em três grupos a aque les que se sentiam minimamente preparados pela abordagem adotada a saber Psicologia Analítica e Biossíntese Gestaltterapia Psicanálise e Psicodrama mas que relataram algu mas dificuldades b aqueles que não se sentiam preparados e mesmo assim tentavam atender à demanda institucional e viviam muitas angústias no processo c aqueles que se recusavam a coordenar trabalhos em grupo Destacase ainda que a formação recebida pelos psicólogos que participaram dos estu dos recuperados reproduz o modelo clínico tradicional Nesse sentido Paulon et al 2011 trazem que a formação focada no modelo de clínica tradicional privado contribuiu para uma dificuldade em atuar na realidade da saúde pública do país e a condução dos grupos Revista Psicologia e Saúde 147 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 por psicólogos nesses locais pode trazer um viés individualizante Lara e Monteiro 2012 também citam que a formação nesses moldes tradicionais afeta as atuações desses profis sionais no serviço da rede SUS Uma possível solução para essa defasagem é encontrada em dois artigos que ao discutirem a formação insuficiente dos psicólogos brasileiros calcada em modelo clínico tradicional destacam a necessidade de buscar formação complementar com cursos de pósgraduação Cantele et al 2012 Lara Monteiro 2012 De forma mais específica Cruz e Fernandes 2012 destacam uma possível falha na gra duação em Psicologia com relação ao novo modelo Antimanicomial Segundo os autores os profissionais podem enfrentar um engano ao apenas orientar o usuário nos caminhos que ele pode percorrer dentro da rede de atenção à saúde e que essa atitude por mais que seja na tentativa de ajudálo a compartilhar da lógica de território pode ter uma ação contrária e inibir a sua conquista de autonomia Essas ações tomadas pelos profissionais evidenciam que se esses profissionais tivessem a noção de autonomia e desinstitucionalização apropria das suas atuações seriam diferentes Para além da formação recebida durante a graduação Cedraz e Dimenstein 2005 trazem que os profissionais se queixam da falta da capacitação continuada para atuar em algumas atividades Jucá et al 2010 abordam que a busca pela complementação da formação pro fissional pode ser vista de uma maneira positiva pois instiga o psicólogo a refletir sobre uma teoria mais próxima da prática Contudo as autoras ressaltam que essa busca não deveria ser somente do profissional mas de interesse das Secretarias de Saúde Na visão dos psi cólogos entrevistados por Lara e Monteiro 2012 a supervisão clínicoinstitucional é fun damental para sua atuação no serviço os autores chamam a atenção ainda para que as supervisões institucionais possam considerar todo o conjunto institucional da rede e que aquelas sejam espaços de compartilhamento dos sentimentos da equipe multiprofissional Sales e Dimenstein 2009a evidenciam que para além da supervisão clínicoinstitucional é necessário um espaço para compartilhar as inseguranças e angústias criando um momento de cuidado para quem cuida Possíveis soluções para esse problema de formação são dadas pelos artigos de Sales e Dimenstein 2009a 2009b Para aprimorar o trabalho dos psicólogos os autores sugerem 1 Acionar mecanismos que possam romper com a cronificação do serviço em atenção psi cossocial mudando processos de financiamento e gestão incluindo gestores técnicos e usuários no processo de ensino e de novas competências profissionais 2 Participação em especialização para atuar em Saúde Mental em fóruns grupos de estudo e na construção dos próprios serviços 3 Capacitação prévia ao início do exercício das atividades no serviço também é um ponto de destaque 4 Interesse pessoal e a experiência profissional que em conjunto poderão fomentar novos modos de trabalho mais adequados à demanda do serviço O Trabalho em Equipe A atuação do psicólogo em um CAPS não se dá de forma isolada Pelo contrário é um profissional integrado na equipe e com relação a isso os artigos recuperados destacaram fatores relacionados a essas equipes em sua relação com as práticas desenvolvidas pelos profissionais de Psicologia como as reuniões de equipe a gestão dos serviços remuneração Revista Psicologia e Saúde 148 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 e rotatividade dos profissionais o desafio de desenvolver ações no território de forma inter sertorial e na perspectiva da desinstitucionalização Sales e Dimenstein 2009a trazem que os psicólogos entrevistados em seu estudo muitas vezes acabam fazendo trabalhos repetitivos mostrando que muitas iniciativas de mudança são soterradas e acabam dando lugar à cronicidade Estar em um CAPS geralmente deman da muito de suas emoções e expectativas e nem sempre a remuneração está ao alcance do esforço desprendido fazendo com que muitos se dividam entre vínculos empregatícios Sentimentos de pavor diante de crises de usuários e dificuldades em acolher as demandas destes são indicativos de grande incômodo para esses profissionais Além do trabalho repe titivo Lara e Monteiro 2012 também versam sobre a rotatividade de técnicos no serviço e as relações de trabalho que podem ser perturbadas por esse fator Paulon et al 2011 versam sobre as reuniões de equipe que possuem um funcionamen to burocrático com sequência de pautas a serem discutidas mas que não eram produtivas dentro do tempo disponível apesar dos esforços para que as discussões fossem coletivas As autoras chamam a atenção para o apego improdutivo a esse burocratismo e que ele pode ser a constatação da transição do modelo manicomial para o da reforma psiquiátrica Observam também que a equipe se queixa da falta de um momento adequado para tratar da discussão de casos nessas reuniões e que gostariam de um espaço para construir co letivamente sobre essas demandas Elas observaram também que os profissionais não se autorizam a reconhecer a suas ações como inovadoras colocandose no lugar de não saber e que esperam uma nova teoria que responda a seus impasses cotidianos Um ponto interessante foi o fato de que no artigo Cantele et al 2012 todos os CAPS pesquisados eram coordenados por psicólogos mostrando que esses profissionais frequen temente possuem uma posição relevante nas equipes Outra temática referente ao trabalho em equipe envolve o território e sobre como as equipes têm mantido ou não as relações com a comunidade Cedraz e Dimenstein 2005 observaram que as oficinas do serviço pesquisado não estavam alcançando transformações em seu públicoalvo além de exigir grande parte do tempo tanto dos usuários quanto dos técnicos para sua realização o que limitava a possibilidade de outras intervenções mais efe tivas A instituição também não possuía relações com a comunidade ficando presa ao ostra cismo Nessa posição o CAPS se torna para a cidade somente mais uma casa de loucos Cedraz Dimenstein 2005 p 321 Esse entendimento é encontrado também em Sales e Dimenstein 2009a no qual os autores apontam a necessidade de os CAPS trabalharem com parcerias das mais diversas instâncias com o objetivo de reinserir o usuário na comunidade e atentam para o risco de produção de novas cronicidades se os serviços de assistência em saúde mental funcionarem como meros ambulatórios CamposBrustelo et al 2010 trazem que além da equipe multidisciplinar tradicional o CAPS pesquisado firmou parcerias com a comunidade e com voluntários que ofereciam aos usuários atividades de educação física yoga tai chi chuan biodança dança do ventre grupo de leitura e grupo de apoio psicológico CamposBrustelo et al 2010 p 3 Lara e Monteiro 2012 relatam vários fatores negativos que têm impedido o CAPS de cumprir seu papel plenamente A falta de clareza sobre a clientelaalvo foi um grave fator observado além da estigmatização dos usuários e do serviço praticadas muitas vezes pelos próprios profissionais do CAPS e da rede O trabalho intersetorial foi citado por apenas um Revista Psicologia e Saúde 149 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 dos profissionais entrevistados Outras dificuldades com a rede foram apontadas a frag mentação do atendimento aos usuários e sua consequente falha quando uma internação psiquiátrica necessária não é efetuada e até intervenções de instituições religiosas que po dem atrapalhar as ações do CAPS onde muitos pacientes são evangélicos isso interfere bastante quando têm que tomar medicação a Igreja promete que vai curar eles e deixam de tomar medicação Lara Monteiro 2012 pp 8788 Acerca do conceito de Desinstitucionalização que deve ser partilhado pela equipe que atua em CAPS Cedraz e Dimenstein 2005 chamam a atenção para a forte presença de uma orientação moral dos usuários por parte dos profissionais além da cristalização da di nâmica das oficinas onde os usuários do serviço ocupam o lugar de observadores sujeitos ao saberpoder dos técnicos Os próprios usuários ficam angustiados com a eventual falta de atividades pois elas são significadas por eles como tratamento e sem a sua mecânica execução para a ocupação do tempo alguns reclamam de um sentimento de malestar As autoras observaram a persistência do modelo manicomial em que estar curado significa uma diminuição dos sintomas e da angústia e a aceitação da medicação frequente o que mostra entraves no entendimento do que é a desinstitucionalização Elas concluem que as oficinas deveriam fomentar a convivência dos usuários com o diferente estimulando formas mais criativas e autônomas de se estar no mundo sem disciplinarizálos como o corpo social espera O artigo de Sales e Dimenstein 2009a reforça que alguns profissionais que tinham maior clareza sobre o conceito de desinstitucionalização executavam um trabalho mais próximo do que é preconizado pela Reforma Mesmo assim alguns psicólogos disseram reconhecer como trabalho específico no serviço os atendimentos individuais o que não deixa de ser um risco para a cronificação desses profissionais Paulon et al 2011 trouxeram que os profissionais entrevistados estavam questionando as práticas tradicionais prescritivas que focam no sintoma e desconsideram o papel do usu ário em seu processo de produção de saúde O acolhimento do sujeito na sua diversidade foi um aspecto presente na concepção da equipe do serviço observado Para Cantele et al 2012 além das especificações do trabalho do psicólogo este não deve se descuidar de uma visão ampla para permitir que esse usuário possa criar laços com o território Lara e Monteiro 2012 também reforçam esse conceito ao mencionar que os profissionais devem ter uma atuação política nessa sociedade para que ela mude de postura frente à experiência da loucura Discussão A maioria da amostra desta revisão vem de artigos que retratam as experiências em CAPS situados na região Nordeste com destaque para o profissional de psicologia Em segundo lugar aparecem as experiências da região Sul e apenas dois do Sudeste A territorialidade da amostra vem corroborar os dados obtidos pelo Ministério da Saúde Brasil 2015 por ser na região Nordeste onde temos as maiores coberturas regionais e também estaduais na assis tência à saúde mental Paraíba e Sergipe A região Sudeste começou com um patamar alto de cobertura semelhante ao das regiões Nordeste e Sul mas agora segue com índices próxi mos aos das regiões CentroOeste e Norte as quais enfrentam desafios para sua expansão Revista Psicologia e Saúde 150 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 As atividades mais comumente atribuídas aos psicólogos encontradas nesta revisão fo ram as Oficinas terapêuticas o Acolhimento e os Grupos terapêuticos estando assim em concordância com o exposto nas Referências Técnicas da Profissão CFP 2013 É importante ressaltar que apesar de os artigos da amostra mencionarem as práticas dos psicólogos nos CAPS eles discorrem mais sobre os problemas na execução destas ou decorrentes dessas atividades Na fala dos psicólogos entrevistados nos artigos recuperados percebese que o embasa mento teórico das várias modalidades grupais não fornece a devida segurança para que a condução dos grupos e oficinas seja satisfatória Isto se torna um problema ainda mais gra ve pois de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais DCN para cursos de Psicologia elaborada pelo Ministério da Educação MEC Brasil 2011b esperase que o profissional dessa área tenha sua formação direcionada para a prática a pesquisa e o ensino sempre de forma contextualizada isto é levando em conta as necessidades da populaçãoalvo do ponto de vista social e dos direitos humanos Além disso em seu artigo 4º as DCN apontam que a formação do psicólogo deve auxiliar o desenvolvimento de competências e habilida des que no caso de Atenção à saúde formem profissionais aptos a desenvolver ações de prevenção promoção proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial tanto em nível individual quanto coletivo bem como a realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da éticabioética Brasil 2011b pp 12 Assim nas atuais DCN a formação para atuação em práticas grupais em psicologia está prevista No documento do Conselho Federal de Psicologia sobre a atuação nos CAPS CFP 2009 está atestado que as atividades grupais desenvolvidas nesse serviço tornaramse uma das principais ações dos psicólogos sendo que a condução dos grupos também pode ser feita em dupla com a participação de outro profissional Os psicólogos também podem ser responsáveis por intervenções grupais na equipe a fim de capacitar supervisionar e ofere cer espaços de troca profissional CFP 2009 Diante de todas essas leis e diretrizes restanos perguntar O que tem acontecido durante a graduação que ainda não conseguimos nos adequar às normas para a formação do psicó logo e às necessidades dos serviços quanto às práticas grupais As disciplinas sobre esta te mática ainda são escassas O conteúdo é muito generalista e não prepara para uma atuação mais incisiva A quantidade de aulas práticas ainda é insuficiente O artigo de Sales e Dimenstein 2009a retrata essa falta na formação quando destaca que alguns profissionais de Psicologia atuantes em CAPS demonstraram pavor diante das crises dos usuários e uma grande dificuldade em acolhêlos em suas demandas Como já apontamos o CAPS é um local de grande demanda emocional para os psicólogos Isso nos leva pensar o quanto os psicólogos refletem sobre seus limites como profissionais antes de aceitarem esse trabalho que exige e que na maioria das vezes não paga o suficiente para que eles se dediquem exclusivamente ao serviço Toda essa dinâmica a nosso ver influencia na qualidade das suas atividades nos CAPS Concordamos assim com Ramminger e Brito 2011 que discorrem sobre o uso exacerbado de si nos serviços CAPS para as autoras as demandas do usuário são sempre fortemente mobilizadoras assim como as exigências for mais colocadas para os serviços p 154 o que implica uso da criatividade e da capacidade inventiva como uma constante Revista Psicologia e Saúde 151 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 A necessidade de capacitação foi um tema que se repetiu em cinco artigos É interessante pensar sobre o significado que essa palavra carrega De acordo com o Dicionário Priberam capacitar é tornarse capaz ou seja essa concepção de que os profissionais não chegam aptos para trabalhar em Saúde Mental mesmo após sua graduação é amplamente compar tilhada pelas equipes que demandam fortemente uma preparação inicial para adentrarem nos serviços Dado esse significado um pouco desqualificador preferimos aqui trocar a pa lavra capacitação por Educação Permanente uma das responsabilidades do SUS quanto à formação de recursos humanos legalmente baseada na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para o SUS instituída pela Portaria GMMS nº 1996 de 20 de agos to de 2007 Brasil 2009 e definida como o conceito pedagógico no setor da saúde para efetuar relações orgânicas entre ensino e as ações e serviços e entre docência e atenção à saúde sendo ampliado na Reforma Sanitária Brasileira para as relações entre formação e gestão setorial desen volvimento institucional e controle social em saúde Brasil 2009 p 7 A análise dos artigos recuperados apontou a Educação Permanente como fator importan te e que tem estado em falta nos CAPS Além de manter o profissional atualizado e mais se guro sobre a sua atuação também é um modo de cuidar desse trabalhador em um ambiente que muitas vezes pode se tornar nocivo à sua própria saúde Dada a legitimidade dessa prática que visa ao fomento de inquietações e mudanças na atuação e nas suas concepções teóricas ficam os angustiantes questionamentos O que tem acontecido com o Serviço em Saúde Mental especificamente no caso desta revisão biblio gráfica mas é um ponto a ser expandido para todo o SUS que essas práticas não estão sen do implantadas Os recursos são insuficientes Não há interesse do Estado em cumprir as suas próprias proposições Existem projetos históricopolíticos que não querem colocar es sas diretrizes em prática Por mais que o MEC Brasil 2011b proponha que os profissionais de psicologia tenham interesse em sua própria formação continuada como pode ser visto no trecho a seguir é visível que somente a iniciativa pessoal não é o suficiente para capacitar os profissionais para a prática e o cotidiano dos CAPS Art 4º VI Educação permanente os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente tanto na sua formação quanto na sua prática e de ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento das futuras gerações de profissio nais estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmica e profissional a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais Brasil 2011b p 2 A necessidade de educação permanente também aparece no relatório da pesquisa do CFP 2009 Práticas Profissionais dos as Psicólogos as nos Centros de Atenção Psicossocial onde há relatos de psicólogos que demonstram desconhecimento das políticas públicas in segurança frente à atuação no serviço e ausência de supervisões Outro ponto de contato entre este estudo e o documento do CFP foi a falta de recursos materiais humanos e espaço físico para desenvolver as atividades grupais diárias nos CAPS de forma a poder garantir um maior número de atividades que resguardassem o sigilo das pessoas que convivem no mesmo território CFP 2009 Revista Psicologia e Saúde 152 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Algumas dificuldades foram trazidas pelos artigos da amostra no que tange ao trabalho em equipe Uma questão a ser levantada é a da cronificação do trabalho exposto no artigo de Sales e Dimenstein 2009a Não seria essa cronificação resultado da falta de formação Se os profissionais não se sentem preparados para lidar com pacientes em crise e com as diferentes demandas psicossociais que surgem talvez fazer o que já está bem estruturado e aceito pelo saber clínico tradicional seja uma saída mais segura É importante ressaltar que a Reforma Psiquiátrica vem para nos tirar do lugar comum do fazer clínicomanicomial e exige da equipe novas formas de atuar diante da ciência dos usuários das famílias e do território O trabalho da equipe em um CAPS está intrinsecamente ligado à concepção de desins titucionalização que ela partilha Ao clarear o entendimento do que são as instituições e como elas permeiam nossas relações mais próximos estaremos de tomar direções mais corretas no que tange às novas concepções no cuidado ao outro no campo da saúde men tal Instituição não é uma instalação material na qual se encarnam entidades podero sas Uma instituição é uma prática social que se repete e se legitima enquanto se repete Benelli CostaRosa 2003 pp 4647 Não basta termos saído dos manicômios se con tinuamos a carregálos para dentro dos serviços substitutivos Novas instituições exigem para sua criação um exercício cotidiano de elaboração contínua de um projeto a partir da reflexão permanente sobre as práticas num esforço de transformar a lógica e ação asilares Benelli CostaRosa 2003 p 48 grifos do autor Interessante que no artigo de Paulon et al 2011 isso aparece no relato das reuniões de equipe que não eram produtivas no tempo disponível com o apego burocráticos a pautas e questões administrativas onde não havia tempo suficiente para discussão de casos Mesmo fora dos manicômios o ideário enrijecido de fazer saúde mental ainda subsiste nas reuniões de CAPS entrecortado por momentos de desinstitucionalização em que a equipe demanda uma discussão coletiva dos casos Considerações Finais O objetivo geral de mapear as práticas dos psicólogos nos CAPS foi alcançado ainda que maior ênfase tenha sido colocada pelos artigos recuperados nas vicissitudes dessas práticas e do serviço CAPS Um limite deste estudo foi a regionalidade dos artigos em sua maioria abordando psicó logos inseridos em CAPS da região Nordeste seguido por Sul e Estado de São Paulo Mas e as práticas dos profissionais psi do Centro Oeste E da Região Norte E ainda mais grave dado o passado com forte presença de manicômios na Região Sudeste não deveria esta região se empenhar em contar como estão sendo as suas novas práticas com relação à saúde mental Outra limitação do presente estudo é a impossibilidade de atribuir as deficiências na for mação dos psicólogos ao currículo da graduação pois para tal seriam necessárias pesquisas para comparar os currículos das Universidades e verificar quantas possuem disciplinas volta das para ao entendimento de políticas públicas e a atuação profissional nos equipamentos do SUS Para além do currículo seria interessante que houvesse mais pesquisas feitas com alunos da graduação e egressos acerca de seus entendimentos afetos e dificuldades encon tradas em seus estudos e estágios na saúde mental e outros âmbitos do SUS Revista Psicologia e Saúde 153 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Cabenos aqui elencar algumas recomendações que a produção deste artigo suscitou Como recomendações aos serviços podemos pensar em uma maior participação dos profis sionais das equipes em reuniões dos Conselhos Municipais de Saúde Também é necessário o investimento e planejamento de ações voltadas para a Educação Permanente em Saúde Aos Cursos de Graduação em Psicologia é importante pensar sobre as diretrizes dos currículos novos e como eles têm afetado ou não a formação de seus alunos para as atividades que irão desenvolver no SUS Por fim à academia destacamos a necessidade de mais pesquisas que investiguem a relação entre formação universitária e atuação profissional campo que envolve tanto a Educação quanto a Saúde no caso dos trabalhadores dos CAPS Sugerimos estudos com psicólogos recémformados pelas novas diretrizes curriculares a fim de saber se as disciplinas que dialogam com a temática de Atenção à Saúde foram fundamentais para as suas atividades no serviço ou se ainda estão muito descontextualizadas Referências Bardin L 1977 Análise de conteúdo Lisboa Portugal Edições 70 Benelli S J CostaRosa A 2003 Geografia do poder em Goffman vigilância e resistência dominação e produção de subjetividade no hospital psiquiátrico Estudos de Psicologia Campinas 202 3549 doi httpsdxdoiorg101590S0103166X2003000200004 Belotti M Quintanilha B C Tristão K G Ribeiro Neto P M Avellar L Z 2017 Percepções sobre o processo de trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial InfantoJuvenil Trends in Psychology 254 15471557 doi httpsdxdoiorg109788 tp2017404pt Brasil 2002 Portaria n 336GM de 19 de fevereiro de 2002 Estabelece CAPS I CAPS II CAPS III CAPS i II e CAPS ad II Disponível em httpbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2002prt033619022002html Brasil 2009 Ministério da Saúde Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde Departamento de Gestão da Educação em Saúde Política Nacional de Educação Permanente em Saúde Disponível em httpportalanvisagovbrdocuments33856396770 olC3ADticaNacionaldeEducaC3A7C3A3oPermanenteemSaC3BAde c92db117e17045e799848a7cdb111faa Brasil Ministério da Saúde 2011a Portaria n 3088 de 23 de dezembro de 2011 Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack álcool e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde SUS Disponível em httpbvsmssaudegovbrbvssaudelegis gm2011prt308823122011rephtml Brasil 2011b Ministério da Educação Resolução Nº 5 de 15 de março de 2011 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia Disponível em httpportalmecgovbrindexphpoptioncom docmanviewdownloadalias7692rces00511pdfItemid30192 Brasil 2015 Ministério da Saúde Saúde Mental em Dados 12 Informativo Eletrônico 1012 Disponível em httpwwwoticsorgestacoesdeobservacaosaudemental acervoarquivossaudementalemdados12view Revista Psicologia e Saúde 154 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 CamposBrustelo T N Bravo F F Santos M A 2010 Contando e encantando histórias de vida em um centro de atenção psicossocial SMAD Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas 61 0111 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS180669762010000100007lngpttlngpt Cantele J Arpini D M Roso A 2012 A Psicologia no modelo atual de atenção em saúde mental Psicologia Ciência e Profissão 324 910925 doi httpsdxdoiorg101590 S141498932012000400011 Capacitação nd In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Online Disponível em httpwwwpriberamptdlpocapacitaC3A7C3A3o Cedraz A Dimenstein M 2005 Oficinas terapêuticas no cenário da Reforma Psiquiátrica modalidades desinstitucionalizantes ou não Revista Mal Estar e Subjetividade 52 300327 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS151861482005000200006lngpttlngpt Conselho Federal de Psicologia 2009 Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas Práticas profissionais dos as psicólogos as nos centros de atenção psicossocial Disponível em httpwwwtwikiufbabrtwikipubCetadObservaOutros LivroCAPSPsicologopdf Conselho Federal de Psicologia 2013 Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas Referências técnicas para atuação de psicólogas os no CAPS Centro de Atenção Psicossocial Disponível em httpsitecfporgbrpublicacaoreferencias tecnicasparaatuacaodepsicologasosnocapscentrodeatencaopsicossocial Cruz K S Fernandes A H 2012 Dispositivos clínicos dos psicólogos em CAPS de Salvador Entre tutela e clínica das psicoses Revista Psicologia e Saúde 42 94105 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS2177093X2 012000200002lngpttlngpt Jucá V J S Medrado A C Safira L G Mascarenhas L P Nascimento V G 2010 Atuação psicológica e dispositivos grupais nos centros de atenção psicossocial Mental 8 14 93113 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS167944272010000100006 Lara G A Monteiro J K 2012 Os psicólogos na atenção às psicoses nos CAPS Arquivos Brasileiros de Psicologia 643 7693 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS180952672012000300006lngpttlngpt Larentis C P Maggi A 2012 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas e a Psicologia Aletheia 37 121132 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS141303942012000100009lngpttlngpt Lemos P M Cavalcante Júnior F S 2009 Psicologia de orientação positiva Uma proposta de intervenção no trabalho com grupos em saúde mental Ciência Saúde Coletiva 141 233242 doi httpsdxdoiorg101590S141381232009000100029 Mendes K D S Silveira R C C P Galvão CM 2008 Revisão integrativa método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem Texto Contexto Enfermagem 174 758764 doi httpsdxdoiorg101590S010407072008000400018 Mota V A Costa I M G 2017 Relato de experiência de uma Psicóloga em um CAPS Mato Grosso Brasil Psicologia Ciência e Profissão 373 831841 doi httpsdxdoi org10159019823703004292016 Revista Psicologia e Saúde 155 Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia UCDB Campo Grande MS ISSN 2177093X Revista Psicologia e Saúde v 11 n 3 setdez 2019 p 139155 Paulon S M Gageiro A M Costa D F C Londero M F P Pereira R G Mello V R C Rosa R H 2011 Práticas clínicas dos profissionais PSI dos Centros de Atenção Psicossocial do Vale do Rio dos Sinos Psicologia Sociedade 23spe 109119 doi httpsdxdoiorg101590S010271822011000400014 Pompeo D A Rossi L A Galvão C M 2009 Revisão integrativa etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem Acta Paulista de Enfermagem 224 434 438 doi httpsdxdoiorg101590S010321002009000400014 Ramminger T Brito J C 2011 Cada Caps é um Caps Uma coanálise dos recursos meios e normas presentes nas atividades dos trabalhadores de saúde mental Psicologia Sociedade 23spe 150160 doi httpsdxdoiorg101590S010271822011000400018 Sales A L L F Dimenstein M 2009a Psicologia e modos de trabalho no contexto da reforma psiquiátrica Psicologia Ciência e Profissão 294 812 doi httpsdxdoi org101590S141498932009000400012 Sales A L L F Dimenstein M 2009b Psicólogos no processo de reforma psiquiátrica práticas em desconstrução Psicologia em Estudo 142 277285 doi httpsdxdoi org101590S141373722009000200008 Soares C B Hoga L A K Peduzzi M Sangaleti C Yonekura T Silva D R A D 2014 Revisão integrativa conceitos e métodos utilizados na enfermagem Revista da Escola de Enfermagem da USP 482 335345 Souza L G S Pinheiro L B 2012 Oficinas terapêuticas em um Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas Aletheia 3839 218227 Disponível em httppepsic bvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS141303942012000200018lngpttln gpt Vasconcelos E M 2004 Mundos paralelos até quando Os psicólogos e o campo da saúde mental pública no Brasil nas duas últimas décadas Mnemosine 10 7390 Disponível em httpwwwmnemosinecombrojsindexphpmnemosinearticleview22 Recebido 12062017 Última revisão 23052018 Aceite final 31052018 Sobre as autoras Stephannie Assenheimer Psicóloga pela Universidade Federal de Uberlândia Email sassenheim erpsicogmailcom Orcid httporcidorg0000000274011314 Renata Fabiana Pegoraro Doutora e Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo USP Ribeirão Preto SP Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federa de São Carlos UFSCar Psicóloga pela USPRibeirão Professora Adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia UFU Email rfpegoraroyahoocombr Orcid httporcidorg0000000160525763