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Relato de uma experiência de estágio em Psicodiagnóstico com crianças provenientes de famílias de baixa renda Thalita Lacerda Nobre Marina Porto Vieira Resumo O presente trabalho teve como objetivo apresentar a experiência de alunos e duas supervisoras no atendimento a crianças provenientes de famílias de baixa renda no estágio em Psicodiagnóstico Interventivo Apresentamos a re levância desta prática tanto para os futuros profissionais quanto para os clientes que participam do processo Para ser realizado o psicodiagnóstico em questão seguiuse a linha teórica fenomenológicoexistencial e se desenvolveu a partir das entrevistas iniciais realizadas com os pais ou responsáveis horas lúdicas realizadas com as crianças até as entrevistas devolutivas realizadas também com os pais e com as crianças Podese notar ao longo de nossa prática como supervisoras deste estágio os benefícios que sua prática pode trazer pois do lado do cliente recebeu se feedback das escolas e da família sobre mudanças significativas no comportamento das crianças Pelo lado das crianças observouse o desenvolvimento do exercício da autorreflexão sobre os sentimentos e resolução de conflitos de modo mais assertivo que no início do processo Do ponto de vista dos estagiários pudemos observar também o crescimento profissional destes a partir desta experiência Palavraschave psicodiagnóstico intervenção crianças Report of an internship experience in Psychodiagnosis with children from low income families Abstract The present study aimed to present the experience of students and two supervisors in the care of children from low income families in the Interventive Psychodiagnosis internship We present the relevance of this practice to both future professionals and for clients participating in the process To be performed the psychodiagnosis in question followed the existential phenomenological theoretical line and developed from the initial interviews conducted with parents or guardians playful hours conducted with the children and the devolutive interviews conducted also with parents and children It can be noted our practice as supervisors of this stage the benefits that their practice can bring because from the client side we received feedback from schools and family about significant changes in childrens behavior On the childrens side the selfreflection exercise on feelings and conflict resolution was more assertively developed than at the beginning of the process From the trainees point of view we could also observe their professional growth from this experience Keywords psychodiagnostic intervention children Docentes do curso de pós graduação stricto sensu em Psicologia e Políticas Públicas da Universidade Católica de Santos Copyright 2019 pelo Instituto Metodista de Ensino Superior CGC 44351146000157 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 JulDez 2019 THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 40 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 Introdução Este trabalho pretende apresentar a experiência de alunos e duas supervisoras no atendimento a populações de baixa renda em Psicodiagnóstico Interventivo com crianças A Universidade em que o mesmo foi realizado mantinha na ocasião em sua grade curricular algumas disciplinas práticas objetivando aos alunos a prática em estágios profissionalizantes principalmente voltadas aos discentes dos últimos anos universitários Com especificidade à Psicologia possuía e possui centros de Psicologia Aplicada onde se propõe a oferecer estágio supervisionado aos estudantes de Psicologia bem como acolher a demanda de atendimento psicológico em diversas modalidades da comunidade em que se encontram inseridos Uma das modalidades oferecidas é a realização de processo psicodiagnóstico voltado a crianças e adolescen tes que de acordo com o Projeto Pedagógico do curso tem por objetivo a promoção o diagnóstico e tratamento de atenção à saúde relativos à dimensão comportamental e subjetiva do indivíduo O referido estágio foi realizado por alunos do pe núltimo ano do curso em presença do supervisor De acordo com o currículo tal prática foi dividida em dois semestres sendo que no primeiro semestre de cada ano era intitulado de Psicodiagnóstico compreensivo e no segundo semestre passava a receber o nome de Psico diagnóstico interventivo Isto porque no primeiro semestre de cada ano os alunos iniciavam sua experiência com este tipo de atuação buscando fundamentalmente compreender a criança ou o adolescente em sua integralidade de modo global isto é levando em consideração o contexto familiar e sócio cultural em que se inseria e a partir dessa percepção poderiam compreender como se constituem os sintomas que podem ou não ser expressos na queixa inicial trazida pelos pais ou responsáveis No semestre seguinte a disciplina de estágio passava a intitularse Psicodiagnóstico Interventivo pois além de buscar essa compreensão global do sujeito criança ou adolescente a atuação dos futuros profissionais em psicologia juntamente a seus supervisores visava a inter venção no sentido de promover bemestar a esse sujeito que se pretende cuidar Segundo Donatelli 2014 As intervenções no Psicodiagnóstico Interventivo se caracterizam por propostas devolutivas ao longo do processo acerca do mundo interno do cliente São assi nalamentos pontuações clarificações que permitem ao cliente buscar novos significados para suas experiências apropriarse de algo sobre si mesmo e ressignificar suas experiências anteriores p26 Destacamos também que tais práticas de estágio ti veram como eixo teórico norteador a linha fenomenológi coexistencial que tem como pressuposto a compreensão do sernomundo ou seja buscou compreender o que o sujeito poderia ser capaz de apreender as situações que se apresentam a ele para assim traçaremse estratégias para atuações possíveis A respeito da especificidade de cada um bem como os aspectos que os compõem e que nos permitem desta car como relevantes para a promoção de saúde mental da população de baixo nível social e cultural comentaremos nos itens a seguir destinados ao desenvolvimento do tema Entendese que através do estudo de caso um tipo de abordagem qualitativa o relato das experiências na clí nica de Psicologia da Universidade possa trazer reflexões e entendimento sobre este modelo de atuação 1 Desenvolvimento 11 As bases do Psicodiagnóstico As bases da avaliação psicológica se encontram atre ladas à aplicação de testes já que no inicio desta prática entre o final do século XIX e início do século XX os psicólogos realizavam somente a função de testólogos Cunha 2000 Nesta mesma linha de raciocínio Ocampo e Arzeno 1981 p 13 entendem que o psicólogo no inicio de sua pratica em avaliação psicológica tendia a sentir que sua tarefa residia em cumprir uma solicitação com as características de uma demanda a ser satisfeita seguindo os passos e utilizando instrumentos indicados por outros psiquiatra psicanalista pediatra neurologista etc Deste modo o contato com o paciente tinha como prin cipal objetivo a investigação do comportamento diante de determinados estímulos apresentados A partir dos anos 70 e 80 do século XX a avaliação psicológica sofreu uma transformação em seus objetivos Passouse a ampliar a atuação do psicólogo na área de avaliação não somente como aquele que usava testes para investigar uma queixa levantada por um médico ou outro profissional mas como aquele que diante de uma queixa pode lançar mão de diversas estratégias de avalia ção psicológica a fim de buscar respostas para questões Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 41 RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM PSICODIAGNÓSTICO COM CRIANÇAS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA que se apresentam e daí em diante poder sugerir alguns possíveis caminhos para a solução de pontos em conflito É neste sentido também que AnconaLopez foi precursora na introdução do modelo de Psicodiagnóstico interventivo no Brasil propondo que o processo se tor nasse ativo e cooperativo entre psicólogo e cliente A ideia de que se trata de um processo investigativo se manteve porém com a possibilidade de intervenção do psicólogo Cunha 2000 define o psicodiagnóstico como um processo científico limitado no tempo que utiliza técnicas e testes psicológicos em nível individual ou não seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos identificar e avaliar aspectos específicos seja para classificar o caso e prever seu curso possível comu nicando os resultados na base dos quais são propostas soluções se for o caso p 26 Deste modo podemos diferenciar o psicodiagnóstico do diagnóstico psicológico sendo que o primeiro con forme Cunha 2000 e Arzeno 1995 entendem implica na utilização de testes e outros instrumentos relevantes para um estudo em profundidade sobre a personalidade do sujeito ao passo que no diagnóstico psicológico os testes podem nem sempre ser utilizados É importante ressaltar que acreditamos que na atualidade e no contexto em que temos experienciado o psicodiagnóstico a utilização de testes não tem se apre sentado como a principal ferramenta do processo Junto a essa temos observado que há outras estratégias eficien tes e eficazes para o trabalho investigativo de crianças e adolescentes que têm sido inclusas e delas se obtém bons resultados No item a seguir relataremos algumas delas Com relação à realização do processo podemos compreender que este possui alguns critérios a serem seguidos que o caracterizam Porém não se deve acreditar que um processo será igual para todos os clientes já que cada um deve ser entendido em sua singularidade Em outras palavras as intervenções seguem alguns pressu postos comuns contudo as estratégias são definidas de acordo com o caso especifico a ser tratado De acordo com Cunha 2000 além da singularidade do cliente também devem ser levados em consideração os objetivos que se pretende atingir com o processo De acordo com a autora podem ser os seguintes Classificação simples quando o resultado obtido pelo examinando é comparado com o resultado da po pulação correspondente e daí em diante os dados são classificados Classificação nosológica realizada para a testagem de hipóteses iniciais utilizandose como referência os critérios diagnósticos Diagnóstico diferencial utilizado com o fim de realizar diagnósticos alternativos uma vez que se observe algumas inconsistências ou irregularidades no quadro de sintomas Descrição meio pelo qual se busca obter as for ças e as fraquezas além de descrever o desempenho do cliente Avaliação compreensiva buscase avaliar o funcio namento da personalidade com o intuito de compreen der seu nível e a partir daí propor recursos terapêuticos adequados Entendimento dinâmico tem o intuito de obter explicações acerca do comportamento que muitas vezes encontramse inacessíveis na entrevista Auxilia no esta belecimento do foco terapêutico Prognostico objetiva a determinação do provável curso que tomará o caso Prevenção tem o intuito de antever questões uteis a serem tratadas Perícia forense objetiva a avaliação psíquica a fim de obter dados quanto à sanidade ou competências do sujeito Cunha 2000 Ressaltamos que na proposta da disciplina de estágio em psicodiagnóstico que realizamos os objetivos residem na avaliação compreensiva seja na primeira etapa durante o primeiro semestre de cada ano seja na segunda etapa durante o segundo semestre de cada ano A seguir exporemos a respeito da especificidade do processo que realizamos no centro de Psicologia Aplicada da Universidade em questão 12 A especificidade do psicodiagnóstico realizado Antes de descrever a especificidade da prática é importante ressaltar que na atualidade o psicodiagnóstico pode contar com diversos referenciais teóricos filosóficos e práticos Vieira 2009 A abordagem fenomenológico existencial tem sido uma das mais utilizadas já que conforme afirma Azevedo 2002 este modo de compre ensão do ser humano aceita a prática do psicodiagnóstico como descrição e compreensão global dos fenômenos da existência humana e suas rupturas não utilizandoas para rotular como doença mental ou no campo da adequação ou não adequação mas sim para aquilo que causa sensa ção de estranheza e sofrimento É desta forma que Ancona Lopez 2002 compre THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 42 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 ende que o psicodiagnóstico passa a ser na atualidade uma construção pautada na experiência do sujeito de si mesmo com o outro p 93 Neste sentido o psicólogo não ocuparia o lugar do detentor do saber mas sim a voltar seu trabalho para a compreensão da experiência da relação entre ele e o sujeito bem como daqueles que o cercam como o meio familiar social e escolar Podese dizer com isso que o fazer do psicólogo ampliase exigindo deste uma maior maturidade para compreender seu papel ativo e participante para o en tendimento do paciente e sobre as possibilidades de encaminhamento feitas posteriormente Além disso uma das contribuições do psicodiagnós tico fenomenológicoexistencial segundo Yehia 2002 é a reavaliação dos papéis desempenhados pelo cliente e pelo psicólogo O cliente se torna um parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e em sua eventual sequência Assim no psicodiagnóstico infantil a partici pação dos pais se faz de extrema importância uma vez que a criança tende a sentirse mais livre para envolverse no processo quando observa o empenho dos pais no trabalho em conjunto com o psicólogo para compreensão e intervenção em seus aspectos emocionais Diante disso o processo psicodiagnóstico aqui discutido foi realizado em modo grupal pois se baseia no entendimento de AnconaLopez 2002 que se trata de uma prática colaborativa contextual e interven cionista p 87 na qual podemos por meio do grupo compreender o sujeito em situação social No que tange ao atendimento dos pais o grupo pode ser eficaz para que assim estes possam sentir que não estão sozinhos uma vez que encontram outros pais buscando outros estagiários em psicologia para os auxiliarem Com relação às crianças Munhoz 2002 destaca que a intervenção grupal permite a observação da interação entre elas e o ambiente com outras pessoas e consigo mesma além de permitir comparar seu desenvolvimento biopsicossocial ao de outras crianças de mesma faixa etária que utilizam o serviço O processo é dividido em algumas etapas como discutiremos a seguir A primeira etapa referiase ao momento em que os pais ou responsáveis procuravam o atendimento e o contato inicial com o terapeuta estagiário se estabelece Nesse momento inicial os estagiários eram orientados a praticar a escuta da queixa buscando acolher os pais em sofrimento e compreender o campo fenomenal do sujeito Para que isso ocorresse foi necessário que o te rapeuta estagiário buscasse desconstruir a situação apresentada pelos pais ou responsáveis da criança ou adolescente a fim de investigar seu significado principal que até então se encontrava velado Em outras palavras em um primeiro momento buscouse escutar a queixa advinda do discurso dos pais e não tomala como verda de absoluta sobre o que se deve compreender da criança e sim como algo que se fala sobre ela e que pode ser um material útil para se compreender sobre o que possa estar ocorrendo com ela De acordo com AnconaLopez 2002 deste modo a queixa deixou de ser vista de modo isolado para tornarse via de acesso ao mundo do sujeito a seus objetos intencionais e aos conflitos nele instalados p 94 e é por meio da queixa que se pode buscar o esclarecimentos dos significados ali presentes para que houvesse ressignificação e se modificassem os modos da criança estar consigo e com o outro O terapeuta deveria se prestar à tarefa de identificar a experiência do outro bem como seu significado e para isso deveria segundo podemos compreender buscar enxergar o mundo com as lentes do outro com a lente desses pais que veem essa criança É importante ressaltar que em momentos posteriores de encontro com a crian ça também era recomendado que o estagiário terapeuta buscasse compreender o mundo da criança a partir das lentes da mesma É desde este contato inicial que o psicólogo deveria gerar condições para que os pais se engajassem no pro cesso de criação de sentido pois este sentido dado por eles poderia fazer toda a diferença durante a intervenção que se realizou com a criança ou adolescente Esta entrevista inicial era feita simultaneamente com os pais das crianças que buscavam atendimento e se utilizava da técnica do cochicho tal qual proposta por Yehia Assim em um mesmo espaço físico sala de aten dimento ocorriam ao mesmo tempo todas as entrevistas Os estagiários trabalhavam em geral em duplas e eram atendidos os pais de cerca de seis crianças O supervisor de estágios permanecia presente durante os cinquenta minutos de atendimento atendendo eventualmente os estagiários em suas dificuldades De acordo com Ancona Lopez 2002 a aplicação dessa técnica e realizada desse modo propõe que alunos e supervisores trabalhem conjuntamente com os clientes p 81 Do ponto de vista dos pais temse uma tendência a sentiremse con fortáveis uma vez que não se colocam como o centro das atenções e do ponto de vista do aluno estagiário podem experimentar o contato com o cliente e assistir ao manejo do grupo pelo supervisor AnconaLopez Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 43 RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM PSICODIAGNÓSTICO COM CRIANÇAS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA 2002 p 81 Na semana seguinte em geral procediase a Entre vista de Anamnese Para esta sessão procuravase montar um roteiro já que seria usada entrevista semidirigida Este roteiro incluía tópicos referentes à história de vida da criança que poderiam ajudar no entendimento da queixa e tópicos referentes à história clínica ou seja o surgimento e evolução da queixa assim a forma como os pais e outras pessoas lidavam com ela Em geral na terceira sessão os estagiários tinham o primeiro contato com a criança Este encontro se dava na sala de atendimento com a presença dos estagiários e das crianças sob o olhar do supervisor de estágios que permanecia na sala de atendimento observando Antes de proporem o uso da caixa lúdica os alunos pergunta vam à criança se elas sabiam o motivo de estarem ali e era esclarecido a criança que o que ela fizer não seria relatado a ninguém a menos que ela própria quisesse contar A seguir as crianças se dirigiam ao material disponibilizado brinquedos e material gráfico conforme desejassem e eram observadas pelos estagiários Quando se aproxi mava do término da sessão as crianças eram convidadas a guardar o material lúdico e cada dupla de estagiários dialogava com a criança sobre as impressões que teve a partir do que observou entendendo as situações clínicas como metáforas de situações vividas Esse diálogo partia do princípio de que a criança era participante essencial do processo psicodiagnóstico Após algumas sessões pelo menos 4 que nessa experiencia configurava por volta de um mês com as crianças os pais eram chamados para uma Entrevista de Acompanhamento Devolutiva Parcial O objetivo deste encontro seria o de dividir com os pais as impressões que os estagiários tiveram a respeito da criança assim como obter informações adicionais que pudessem ajudar na compreensão da criança Muitas vezes sentiase a necessidade de se utilizar da Visita Escolar quando observavase que se tratava ou de uma queixa de aprendizagem ou quando sentiase a ne cessidade de obter mais dados em um ambiente de estudo e socialização importantes para a formação da criança Segundo Maichin 2011 diversos são os pontos impor tantes a serem observados em uma escola p 211 A autora destaca entre outros as relações humanas ponto fundamental na construção de uma rede de significados na vida da criança p 211 aspecto bastante influenciado pela abordagem de ensino adotada pela escola Ainda de acordo com Maichin 2011 é importante ser observado a forma como se dá o processo de aprendizagem tam bém influenciado pela abordagem de ensino Não se deve também conforme a autora deixar de lado a observação do ambiente físico da escola A Visita Domiciliar também era em alguns casos empregada Embora não fosse uma prática comumente realizada ela permitia ter maior entendimento das rela ções que se estabeleciam na família e o conhecimento do espaço da criança na residência Com relação ao uso de testes poderia ser realiza do a medida em que se observasse a partir dos dados obtidos até então a necessidade de se investigar mais profundamente por meio de instrumentos específicos o que poderia estar ocorrendo em determinadas áreas como cognitiva afetiva etc Nesse sentido a preocupação que o estagiário deveria ter giraria em torno da correta escolha das técnicas sua organização para a aplicação em sala exclusiva e a consideração de que conforme propõe Cunha 2000 o foco da testagem deve ser o sujeito e não os testes p 113 Isso porque acredita mos que a escolha e aplicação de qualquer técnica deva se fundamentar na compreensão da criança que está em processo psicodiagnóstico Após 12 sessões aproximandose o final do semestre letivo refletiase em supervisão sobre todo o processo de construção e os resultados de todo material obtido na investigação acerca da criança sua família e outros condicionantes Esta compreensão permitia ao estagiá rio elaborar o material de devolutiva por meio de uma história a ser apresentada à criança O uso de histórias na psicoterapia com crianças inicialmente foi proposto por Gardner 1993 Outros autores também relatam o emprego desta técnica como anteriormente Oaklander 1980 a partir da perspectiva gestáltica e no Brasil Safra 1984 além de AnconaLopes 2002 foram os principais expoentes Assim fazíamos duas entrevistas devolutivas A primeira com a criança e a segunda com os pais O livro com o resultado de todo trabalho realizado era lido à criança na Entrevista Devolutiva Ela recebia o livro e o levava para casa onde poderia reler sempre que quisesse Na semana seguinte eram recebidos os pais Neste dia era lido para eles o relatório escrito para eles onde aparecia a compreensão que se teve acerca da queixa e seus determinantes 2 Conclusões Podese concluir que esta modalidade de estágio permitiu ao aluno de graduação em Psicologia às crian ças e também a seus pais uma experiência de grande THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 44 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 importância Isto porque no que se refere aos alunos foi dada a oportunidade de eles realizarem leituras e se aproximarem tanto da técnica quanto da teoria fenome nológicoexistencial A presença do supervisor durante os atendimentos permitiu que no momento posterior à sessão fossem apontados e discutidos alguns pontos que necessitavam ser mais bem observados No que tange ao raciocínio clínico foi possível observar que os alunos tendiam a desenvolver diante desta experiência proposta a capa cidade de articular conceitos teóricos com a prática e a capacidade de compreender a demanda psicológica do cliente indivíduo eou instituição além de elaborar o material de devolutiva para a criança e o relatório aos pais eou escola a partir dos dados obtidos Finalmente conforme a proposta desse estudo no que se refere à população usuária do serviço tivemos retornos bastante significativos das escolas e especiali dades médicas que encaminharam as crianças ao serviço Acreditamos que precisamos de pesquisas posteriores para mensurar as mudanças ocorridas pós intervenção psicodiagnóstica Porém foi possível obter como feedback a observação de mudanças positivas no comportamento da maior parte das crianças durante o processo A quase totalidade das crianças vincularamse aos terapeutas e deixavam o processo a contragosto porém ao receberem na entrevista devolutiva o livrinho com a história de seu processo tendiam a sentiremse como fun damentais ao processo que sabiam que um dia acabaria Na relação entre pais e filhos pudemos observar o estabelecimento de uma escuta mais atenciosa deles em relação ao que as crianças expressavam muitas vezes não em palavras mas em comportamentos diferentes do esperado por eles Assim acreditamos que mediante esta proposta de estágio em psicodiagnóstico oferecido pela Universidade pudemos contribuir com a sociedade de nossa região auxiliando no desenvolvimento emocional saudável de crianças favorecendo o diálogo com os pais e as escolas além de propiciar boa formação aos futuros profissionais psicólogos Referências AnconaLopez M Org 2002 Psicodiagnóstico Processo de intervenção São Paulo Cortez AnconaLopez M 2002 Introduzindo o psicodiagnóstico grupal interventivo uma história de negociações In M AnconaLopez Org Psicodiagnóstico Processo de intervenção São Paulo Cortez Azevedo DC 2002 Análise situacional ou psicodiagnóstico infantil uma abordagem humanistaexistencial In AngeramiCamon VA Psicoterapia fenomenológico existencial São Paulo Pioneira Thompson Becker E Donatelli M Fleury S Mary Dolores E 2004 Psicodiagnós tico e livro de história possibilidade de uma experiência integradora na entrevista devolutiva para crianças In Programas e Resumos Conf Internacional de Avaliação Psicológica Forma e Contexto Braga Univ do Minho Cunha J A e Colaboradores 2000 PsicodiagnósticoV 5ª ed Porto Alegre Artmed Donatelli M F 2005 A compreensão da religiosidade no Psicodiagnóstico interventivo FenomenológicoExistencial Tese Doutorado PUCSP São Paulo SP Donatelli M F 2014 Psicodiagnóstico interventivo fenomenológico existen cial In AnconaLopez S org Psicodiagnóstico interventivo evolução de uma prática 1ed São Paulo Cortez Gardner RA 1993 Storytelling in psychotherapy with children New Jersey Jason Aronson Maichin V 2011 Os diversos caminhos em psicoterapia infantil In Ange rami V A org O atendimento infantil na ótica fenomenológicoexistencial São Paulo Cengage Learning Munhóz M L P 2002 A Criança Participante do Psicodiagnóstico Infantil Grupal In AnconaLopez M Org Psicodiagnóstico Processo de intervenção São Paulo Cortez Oak1ander v 1980 Descobrindo crianças a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes São Paulo Summus Ocampo M L S colaboradores 1981 O Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas São Paulo Martins Fontes Safra G1984 Um método de consulta terapêutica através do uso de histórias infantis Dissertação Mestrado Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Trinca W 1984 Diagnóstico Psicológico a prática clínica São Paulo EPU Vieira MASD 2009 Da família ao grupo social a complexidade do psicodiagnóstico infantil grupal Artigo inédito Monografia do curso de especialista em terapia de casais e famílias pelo CAEP centro de atendimento e estudos em psicodrama em parceria com a PUCGoiás GO Yehia G Y 2002 Reformulação do papel do psicólogo no psicodiagnóstico fenomenológicoexistencial e suas repercussões sobre os pais In Ancona Lopez M org Psicodiagnóstico processo de intervenção São Paulo Cortez Submetido em 2942019 Aceito em 24112019
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significativas no comportamento das crianças Pelo lado das crianças observouse o desenvolvimento do exercício da autorreflexão sobre os sentimentos e resolução de conflitos de modo mais assertivo que no início do processo Do ponto de vista dos estagiários pudemos observar também o crescimento profissional destes a partir desta experiência Palavraschave psicodiagnóstico intervenção crianças Report of an internship experience in Psychodiagnosis with children from low income families Abstract The present study aimed to present the experience of students and two supervisors in the care of children from low income families in the Interventive Psychodiagnosis internship We present the relevance of this practice to both future professionals and for clients participating in the process To be performed the psychodiagnosis in question followed the existential phenomenological theoretical line and developed from the initial interviews conducted with parents or guardians playful hours conducted with the children and the devolutive interviews conducted also with parents and children It can be noted our practice as supervisors of this stage the benefits that their practice can bring because from the client side we received feedback from schools and family about significant changes in childrens behavior On the childrens side the selfreflection exercise on feelings and conflict resolution was more assertively developed than at the beginning of the process From the trainees point of view we could also observe their professional growth from this experience Keywords psychodiagnostic intervention children Docentes do curso de pós graduação stricto sensu em Psicologia e Políticas Públicas da Universidade Católica de Santos Copyright 2019 pelo Instituto Metodista de Ensino Superior CGC 44351146000157 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 JulDez 2019 THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 40 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 Introdução Este trabalho pretende apresentar a experiência de alunos e duas supervisoras no atendimento a populações de baixa renda em Psicodiagnóstico Interventivo com crianças A Universidade em que o mesmo foi realizado mantinha na ocasião em sua grade curricular algumas disciplinas práticas objetivando aos alunos a prática em estágios profissionalizantes principalmente voltadas aos discentes dos últimos anos universitários Com especificidade à Psicologia possuía e possui centros de Psicologia Aplicada onde se propõe a oferecer estágio supervisionado aos estudantes de Psicologia bem como acolher a demanda de atendimento psicológico em diversas modalidades da comunidade em que se encontram inseridos Uma das modalidades oferecidas é a realização de processo psicodiagnóstico voltado a crianças e adolescen tes que de acordo com o Projeto Pedagógico do curso tem por objetivo a promoção o diagnóstico e tratamento de atenção à saúde relativos à dimensão comportamental e subjetiva do indivíduo O referido estágio foi realizado por alunos do pe núltimo ano do curso em presença do supervisor De acordo com o currículo tal prática foi dividida em dois semestres sendo que no primeiro semestre de cada ano era intitulado de Psicodiagnóstico compreensivo e no segundo semestre passava a receber o nome de Psico diagnóstico interventivo Isto porque no primeiro semestre de cada ano os alunos iniciavam sua experiência com este tipo de atuação buscando fundamentalmente compreender a criança ou o adolescente em sua integralidade de modo global isto é levando em consideração o contexto familiar e sócio cultural em que se inseria e a partir dessa percepção poderiam compreender como se constituem os sintomas que podem ou não ser expressos na queixa inicial trazida pelos pais ou responsáveis No semestre seguinte a disciplina de estágio passava a intitularse Psicodiagnóstico Interventivo pois além de buscar essa compreensão global do sujeito criança ou adolescente a atuação dos futuros profissionais em psicologia juntamente a seus supervisores visava a inter venção no sentido de promover bemestar a esse sujeito que se pretende cuidar Segundo Donatelli 2014 As intervenções no Psicodiagnóstico Interventivo se caracterizam por propostas devolutivas ao longo do processo acerca do mundo interno do cliente São assi nalamentos pontuações clarificações que permitem ao cliente buscar novos significados para suas experiências apropriarse de algo sobre si mesmo e ressignificar suas experiências anteriores p26 Destacamos também que tais práticas de estágio ti veram como eixo teórico norteador a linha fenomenológi coexistencial que tem como pressuposto a compreensão do sernomundo ou seja buscou compreender o que o sujeito poderia ser capaz de apreender as situações que se apresentam a ele para assim traçaremse estratégias para atuações possíveis A respeito da especificidade de cada um bem como os aspectos que os compõem e que nos permitem desta car como relevantes para a promoção de saúde mental da população de baixo nível social e cultural comentaremos nos itens a seguir destinados ao desenvolvimento do tema Entendese que através do estudo de caso um tipo de abordagem qualitativa o relato das experiências na clí nica de Psicologia da Universidade possa trazer reflexões e entendimento sobre este modelo de atuação 1 Desenvolvimento 11 As bases do Psicodiagnóstico As bases da avaliação psicológica se encontram atre ladas à aplicação de testes já que no inicio desta prática entre o final do século XIX e início do século XX os psicólogos realizavam somente a função de testólogos Cunha 2000 Nesta mesma linha de raciocínio Ocampo e Arzeno 1981 p 13 entendem que o psicólogo no inicio de sua pratica em avaliação psicológica tendia a sentir que sua tarefa residia em cumprir uma solicitação com as características de uma demanda a ser satisfeita seguindo os passos e utilizando instrumentos indicados por outros psiquiatra psicanalista pediatra neurologista etc Deste modo o contato com o paciente tinha como prin cipal objetivo a investigação do comportamento diante de determinados estímulos apresentados A partir dos anos 70 e 80 do século XX a avaliação psicológica sofreu uma transformação em seus objetivos Passouse a ampliar a atuação do psicólogo na área de avaliação não somente como aquele que usava testes para investigar uma queixa levantada por um médico ou outro profissional mas como aquele que diante de uma queixa pode lançar mão de diversas estratégias de avalia ção psicológica a fim de buscar respostas para questões Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 41 RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM PSICODIAGNÓSTICO COM CRIANÇAS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA que se apresentam e daí em diante poder sugerir alguns possíveis caminhos para a solução de pontos em conflito É neste sentido também que AnconaLopez foi precursora na introdução do modelo de Psicodiagnóstico interventivo no Brasil propondo que o processo se tor nasse ativo e cooperativo entre psicólogo e cliente A ideia de que se trata de um processo investigativo se manteve porém com a possibilidade de intervenção do psicólogo Cunha 2000 define o psicodiagnóstico como um processo científico limitado no tempo que utiliza técnicas e testes psicológicos em nível individual ou não seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos identificar e avaliar aspectos específicos seja para classificar o caso e prever seu curso possível comu nicando os resultados na base dos quais são propostas soluções se for o caso p 26 Deste modo podemos diferenciar o psicodiagnóstico do diagnóstico psicológico sendo que o primeiro con forme Cunha 2000 e Arzeno 1995 entendem implica na utilização de testes e outros instrumentos relevantes para um estudo em profundidade sobre a personalidade do sujeito ao passo que no diagnóstico psicológico os testes podem nem sempre ser utilizados É importante ressaltar que acreditamos que na atualidade e no contexto em que temos experienciado o psicodiagnóstico a utilização de testes não tem se apre sentado como a principal ferramenta do processo Junto a essa temos observado que há outras estratégias eficien tes e eficazes para o trabalho investigativo de crianças e adolescentes que têm sido inclusas e delas se obtém bons resultados No item a seguir relataremos algumas delas Com relação à realização do processo podemos compreender que este possui alguns critérios a serem seguidos que o caracterizam Porém não se deve acreditar que um processo será igual para todos os clientes já que cada um deve ser entendido em sua singularidade Em outras palavras as intervenções seguem alguns pressu postos comuns contudo as estratégias são definidas de acordo com o caso especifico a ser tratado De acordo com Cunha 2000 além da singularidade do cliente também devem ser levados em consideração os objetivos que se pretende atingir com o processo De acordo com a autora podem ser os seguintes Classificação simples quando o resultado obtido pelo examinando é comparado com o resultado da po pulação correspondente e daí em diante os dados são classificados Classificação nosológica realizada para a testagem de hipóteses iniciais utilizandose como referência os critérios diagnósticos Diagnóstico diferencial utilizado com o fim de realizar diagnósticos alternativos uma vez que se observe algumas inconsistências ou irregularidades no quadro de sintomas Descrição meio pelo qual se busca obter as for ças e as fraquezas além de descrever o desempenho do cliente Avaliação compreensiva buscase avaliar o funcio namento da personalidade com o intuito de compreen der seu nível e a partir daí propor recursos terapêuticos adequados Entendimento dinâmico tem o intuito de obter explicações acerca do comportamento que muitas vezes encontramse inacessíveis na entrevista Auxilia no esta belecimento do foco terapêutico Prognostico objetiva a determinação do provável curso que tomará o caso Prevenção tem o intuito de antever questões uteis a serem tratadas Perícia forense objetiva a avaliação psíquica a fim de obter dados quanto à sanidade ou competências do sujeito Cunha 2000 Ressaltamos que na proposta da disciplina de estágio em psicodiagnóstico que realizamos os objetivos residem na avaliação compreensiva seja na primeira etapa durante o primeiro semestre de cada ano seja na segunda etapa durante o segundo semestre de cada ano A seguir exporemos a respeito da especificidade do processo que realizamos no centro de Psicologia Aplicada da Universidade em questão 12 A especificidade do psicodiagnóstico realizado Antes de descrever a especificidade da prática é importante ressaltar que na atualidade o psicodiagnóstico pode contar com diversos referenciais teóricos filosóficos e práticos Vieira 2009 A abordagem fenomenológico existencial tem sido uma das mais utilizadas já que conforme afirma Azevedo 2002 este modo de compre ensão do ser humano aceita a prática do psicodiagnóstico como descrição e compreensão global dos fenômenos da existência humana e suas rupturas não utilizandoas para rotular como doença mental ou no campo da adequação ou não adequação mas sim para aquilo que causa sensa ção de estranheza e sofrimento É desta forma que Ancona Lopez 2002 compre THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 42 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 ende que o psicodiagnóstico passa a ser na atualidade uma construção pautada na experiência do sujeito de si mesmo com o outro p 93 Neste sentido o psicólogo não ocuparia o lugar do detentor do saber mas sim a voltar seu trabalho para a compreensão da experiência da relação entre ele e o sujeito bem como daqueles que o cercam como o meio familiar social e escolar Podese dizer com isso que o fazer do psicólogo ampliase exigindo deste uma maior maturidade para compreender seu papel ativo e participante para o en tendimento do paciente e sobre as possibilidades de encaminhamento feitas posteriormente Além disso uma das contribuições do psicodiagnós tico fenomenológicoexistencial segundo Yehia 2002 é a reavaliação dos papéis desempenhados pelo cliente e pelo psicólogo O cliente se torna um parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e em sua eventual sequência Assim no psicodiagnóstico infantil a partici pação dos pais se faz de extrema importância uma vez que a criança tende a sentirse mais livre para envolverse no processo quando observa o empenho dos pais no trabalho em conjunto com o psicólogo para compreensão e intervenção em seus aspectos emocionais Diante disso o processo psicodiagnóstico aqui discutido foi realizado em modo grupal pois se baseia no entendimento de AnconaLopez 2002 que se trata de uma prática colaborativa contextual e interven cionista p 87 na qual podemos por meio do grupo compreender o sujeito em situação social No que tange ao atendimento dos pais o grupo pode ser eficaz para que assim estes possam sentir que não estão sozinhos uma vez que encontram outros pais buscando outros estagiários em psicologia para os auxiliarem Com relação às crianças Munhoz 2002 destaca que a intervenção grupal permite a observação da interação entre elas e o ambiente com outras pessoas e consigo mesma além de permitir comparar seu desenvolvimento biopsicossocial ao de outras crianças de mesma faixa etária que utilizam o serviço O processo é dividido em algumas etapas como discutiremos a seguir A primeira etapa referiase ao momento em que os pais ou responsáveis procuravam o atendimento e o contato inicial com o terapeuta estagiário se estabelece Nesse momento inicial os estagiários eram orientados a praticar a escuta da queixa buscando acolher os pais em sofrimento e compreender o campo fenomenal do sujeito Para que isso ocorresse foi necessário que o te rapeuta estagiário buscasse desconstruir a situação apresentada pelos pais ou responsáveis da criança ou adolescente a fim de investigar seu significado principal que até então se encontrava velado Em outras palavras em um primeiro momento buscouse escutar a queixa advinda do discurso dos pais e não tomala como verda de absoluta sobre o que se deve compreender da criança e sim como algo que se fala sobre ela e que pode ser um material útil para se compreender sobre o que possa estar ocorrendo com ela De acordo com AnconaLopez 2002 deste modo a queixa deixou de ser vista de modo isolado para tornarse via de acesso ao mundo do sujeito a seus objetos intencionais e aos conflitos nele instalados p 94 e é por meio da queixa que se pode buscar o esclarecimentos dos significados ali presentes para que houvesse ressignificação e se modificassem os modos da criança estar consigo e com o outro O terapeuta deveria se prestar à tarefa de identificar a experiência do outro bem como seu significado e para isso deveria segundo podemos compreender buscar enxergar o mundo com as lentes do outro com a lente desses pais que veem essa criança É importante ressaltar que em momentos posteriores de encontro com a crian ça também era recomendado que o estagiário terapeuta buscasse compreender o mundo da criança a partir das lentes da mesma É desde este contato inicial que o psicólogo deveria gerar condições para que os pais se engajassem no pro cesso de criação de sentido pois este sentido dado por eles poderia fazer toda a diferença durante a intervenção que se realizou com a criança ou adolescente Esta entrevista inicial era feita simultaneamente com os pais das crianças que buscavam atendimento e se utilizava da técnica do cochicho tal qual proposta por Yehia Assim em um mesmo espaço físico sala de aten dimento ocorriam ao mesmo tempo todas as entrevistas Os estagiários trabalhavam em geral em duplas e eram atendidos os pais de cerca de seis crianças O supervisor de estágios permanecia presente durante os cinquenta minutos de atendimento atendendo eventualmente os estagiários em suas dificuldades De acordo com Ancona Lopez 2002 a aplicação dessa técnica e realizada desse modo propõe que alunos e supervisores trabalhem conjuntamente com os clientes p 81 Do ponto de vista dos pais temse uma tendência a sentiremse con fortáveis uma vez que não se colocam como o centro das atenções e do ponto de vista do aluno estagiário podem experimentar o contato com o cliente e assistir ao manejo do grupo pelo supervisor AnconaLopez Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 43 RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM PSICODIAGNÓSTICO COM CRIANÇAS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA 2002 p 81 Na semana seguinte em geral procediase a Entre vista de Anamnese Para esta sessão procuravase montar um roteiro já que seria usada entrevista semidirigida Este roteiro incluía tópicos referentes à história de vida da criança que poderiam ajudar no entendimento da queixa e tópicos referentes à história clínica ou seja o surgimento e evolução da queixa assim a forma como os pais e outras pessoas lidavam com ela Em geral na terceira sessão os estagiários tinham o primeiro contato com a criança Este encontro se dava na sala de atendimento com a presença dos estagiários e das crianças sob o olhar do supervisor de estágios que permanecia na sala de atendimento observando Antes de proporem o uso da caixa lúdica os alunos pergunta vam à criança se elas sabiam o motivo de estarem ali e era esclarecido a criança que o que ela fizer não seria relatado a ninguém a menos que ela própria quisesse contar A seguir as crianças se dirigiam ao material disponibilizado brinquedos e material gráfico conforme desejassem e eram observadas pelos estagiários Quando se aproxi mava do término da sessão as crianças eram convidadas a guardar o material lúdico e cada dupla de estagiários dialogava com a criança sobre as impressões que teve a partir do que observou entendendo as situações clínicas como metáforas de situações vividas Esse diálogo partia do princípio de que a criança era participante essencial do processo psicodiagnóstico Após algumas sessões pelo menos 4 que nessa experiencia configurava por volta de um mês com as crianças os pais eram chamados para uma Entrevista de Acompanhamento Devolutiva Parcial O objetivo deste encontro seria o de dividir com os pais as impressões que os estagiários tiveram a respeito da criança assim como obter informações adicionais que pudessem ajudar na compreensão da criança Muitas vezes sentiase a necessidade de se utilizar da Visita Escolar quando observavase que se tratava ou de uma queixa de aprendizagem ou quando sentiase a ne cessidade de obter mais dados em um ambiente de estudo e socialização importantes para a formação da criança Segundo Maichin 2011 diversos são os pontos impor tantes a serem observados em uma escola p 211 A autora destaca entre outros as relações humanas ponto fundamental na construção de uma rede de significados na vida da criança p 211 aspecto bastante influenciado pela abordagem de ensino adotada pela escola Ainda de acordo com Maichin 2011 é importante ser observado a forma como se dá o processo de aprendizagem tam bém influenciado pela abordagem de ensino Não se deve também conforme a autora deixar de lado a observação do ambiente físico da escola A Visita Domiciliar também era em alguns casos empregada Embora não fosse uma prática comumente realizada ela permitia ter maior entendimento das rela ções que se estabeleciam na família e o conhecimento do espaço da criança na residência Com relação ao uso de testes poderia ser realiza do a medida em que se observasse a partir dos dados obtidos até então a necessidade de se investigar mais profundamente por meio de instrumentos específicos o que poderia estar ocorrendo em determinadas áreas como cognitiva afetiva etc Nesse sentido a preocupação que o estagiário deveria ter giraria em torno da correta escolha das técnicas sua organização para a aplicação em sala exclusiva e a consideração de que conforme propõe Cunha 2000 o foco da testagem deve ser o sujeito e não os testes p 113 Isso porque acredita mos que a escolha e aplicação de qualquer técnica deva se fundamentar na compreensão da criança que está em processo psicodiagnóstico Após 12 sessões aproximandose o final do semestre letivo refletiase em supervisão sobre todo o processo de construção e os resultados de todo material obtido na investigação acerca da criança sua família e outros condicionantes Esta compreensão permitia ao estagiá rio elaborar o material de devolutiva por meio de uma história a ser apresentada à criança O uso de histórias na psicoterapia com crianças inicialmente foi proposto por Gardner 1993 Outros autores também relatam o emprego desta técnica como anteriormente Oaklander 1980 a partir da perspectiva gestáltica e no Brasil Safra 1984 além de AnconaLopes 2002 foram os principais expoentes Assim fazíamos duas entrevistas devolutivas A primeira com a criança e a segunda com os pais O livro com o resultado de todo trabalho realizado era lido à criança na Entrevista Devolutiva Ela recebia o livro e o levava para casa onde poderia reler sempre que quisesse Na semana seguinte eram recebidos os pais Neste dia era lido para eles o relatório escrito para eles onde aparecia a compreensão que se teve acerca da queixa e seus determinantes 2 Conclusões Podese concluir que esta modalidade de estágio permitiu ao aluno de graduação em Psicologia às crian ças e também a seus pais uma experiência de grande THALITA LACERDA NOBRE MARINA PORTO VIEIRA 44 Mudanças Psicologia da Saúde 27 2 3944 JulDez 2019 importância Isto porque no que se refere aos alunos foi dada a oportunidade de eles realizarem leituras e se aproximarem tanto da técnica quanto da teoria fenome nológicoexistencial A presença do supervisor durante os atendimentos permitiu que no momento posterior à sessão fossem apontados e discutidos alguns pontos que necessitavam ser mais bem observados No que tange ao raciocínio clínico foi possível observar que os alunos tendiam a desenvolver diante desta experiência proposta a capa cidade de articular conceitos teóricos com a prática e a capacidade de compreender a demanda psicológica do cliente indivíduo eou instituição além de elaborar o material de devolutiva para a criança e o relatório aos pais eou escola a partir dos dados obtidos Finalmente conforme a proposta desse estudo no que se refere à população usuária do serviço tivemos retornos bastante significativos das escolas e especiali dades médicas que encaminharam as crianças ao serviço Acreditamos que precisamos de pesquisas posteriores para mensurar as mudanças ocorridas pós intervenção psicodiagnóstica Porém foi possível obter como feedback a observação de mudanças positivas no comportamento da maior parte das crianças durante o processo A quase totalidade das crianças vincularamse aos terapeutas e deixavam o processo a contragosto porém ao receberem na entrevista devolutiva o livrinho com a história de seu processo tendiam a sentiremse como fun damentais ao processo que sabiam que um dia acabaria Na relação entre pais e filhos pudemos observar o estabelecimento de uma escuta mais atenciosa deles em relação ao que as crianças expressavam muitas vezes não em palavras mas em comportamentos diferentes do esperado por eles Assim acreditamos que mediante esta proposta de estágio em psicodiagnóstico oferecido pela Universidade pudemos contribuir com a sociedade de nossa região auxiliando no desenvolvimento emocional saudável de crianças favorecendo o diálogo com os pais e as escolas além de propiciar boa formação aos futuros profissionais psicólogos Referências AnconaLopez M Org 2002 Psicodiagnóstico Processo de intervenção São Paulo Cortez AnconaLopez M 2002 Introduzindo o psicodiagnóstico grupal interventivo uma história de negociações In M AnconaLopez Org Psicodiagnóstico Processo de intervenção São Paulo Cortez Azevedo DC 2002 Análise situacional ou psicodiagnóstico infantil uma abordagem humanistaexistencial In AngeramiCamon VA Psicoterapia fenomenológico existencial São Paulo Pioneira Thompson Becker E Donatelli M Fleury S Mary Dolores E 2004 Psicodiagnós tico e livro de história possibilidade de uma experiência integradora na entrevista devolutiva para crianças In Programas e Resumos Conf Internacional de Avaliação Psicológica Forma e Contexto Braga Univ do Minho Cunha J A e Colaboradores 2000 PsicodiagnósticoV 5ª ed Porto Alegre Artmed Donatelli M F 2005 A compreensão da religiosidade no Psicodiagnóstico interventivo FenomenológicoExistencial Tese Doutorado PUCSP São Paulo SP Donatelli M F 2014 Psicodiagnóstico interventivo fenomenológico existen cial In AnconaLopez S org Psicodiagnóstico interventivo evolução de uma prática 1ed São Paulo Cortez Gardner RA 1993 Storytelling in psychotherapy with children New Jersey Jason Aronson Maichin V 2011 Os diversos caminhos em psicoterapia infantil In Ange rami V A org O atendimento infantil na ótica fenomenológicoexistencial São Paulo Cengage Learning Munhóz M L P 2002 A Criança Participante do Psicodiagnóstico Infantil Grupal In AnconaLopez M Org Psicodiagnóstico Processo de 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