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Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 205 ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE PERFIL ANTROPOMÉTRICO ALIMENTAÇÃO E SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS EM CENTRO DE RECUPERAÇÃO NUTRICIONAL EM GUARAPUAVA PARANÁ Paula Chuproski Saldana Marcela Komechen Brecailoa Elisvânia Freitas dos Santosb Fabiane La Flor Ziegler Sanchesb Silvana Francoa Resumo O atendimento em Centros de Recuperação Nutricional está voltado a crianças que apresentam algum problema de saúde estão mais suscetíveis a desenvolverem quadros de carência nutricional e consequentemente comprometimento do perfil antropométrico O objetivo do estudo foi descrever o perfil antropométrico alimentação e situação socioeconômica de crianças atendidas em Centro de Recuperação Nutricional Foi realizado estudo transversal e os dados foram coletados de anamnese nutricional O perfil antropométrico foi avaliado pelos índices PI EI e IMCI com base nas curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde e a alimentação foi avaliada pelo Recordatório de 24 horas O perfil antropométrico das 136 crianças mostrou que 511 tinham PI insuficiente 449 apresentavam comprometimento estatural e 618 tinham IMC fora da faixa de normalidade A alimentação estava inadequada porém dos oito grupos da Pirâmide Alimentar somente em dois deles açúcar e óleo a recomendação foi atingida por mais de 800 das crianças em outros dois grupos verduraslegumes e frutas mais de 750 das crianças não atingiram o número de porções recomendadas A situação socioeconômica das famílias era desfavorável sendo evidenciada pela baixa escolaridade materna pela maioria das famílias 892 viverem com até dois salários mínimos e elevada 470 participação em programas sociais As características das crianças e famílias mostraram que se trata de população vulnerável pelo a Professoras Assistentes do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do CentroOeste Unicentro b Professoras Colaboradoras do Departamento de Nutrição da Unicentro Endereço para correspondência Campus CEDETEG Departamento de Nutrição Rua Camargo Varela de Sá no 3 Vila Carli Guarapuava Paraná CEP 85040080 pchuproskiunicentrobr 206 perfil antropométrico comprometido alimentação inadequada e situação socioeconômica precária que não favorecia a saúde das crianças PalavrasChave Lactente Préescolar Estado nutricional Alimentação Situação socioeconômica ANTHROPOMETRIC FEEDING AND SOCIOECONOMIC STATUS OF CHILDREN AT A NUTRITIONAL TREATMENT CENTER IN GUARAPUAVA PARANÁ BRAZIL Abstract Assistance in Nutritional Treatment Centers is aimed at children showing any health problem who are more susceptible to develop nutritional needs and consequently they acquire a compromised anthropomorphic profile The aim of this study was to describe the anthropometric feeding and socioeconomic status of children enrolled at a nutritional treatment center A crosssectional study was conducted and the data were collected from nutritional anamnesis Anthropometric status was assessed by using WA HA and BMIA compared with World Health Organization standard patterns and food habits were evaluated by 24 hour Food Record The anthropometric status of 136 children showed that 511 had insufficient WA 449 impaired height and 618 outside the normal range BMIA The feeding was inadequate since only two groups sugar and oil from the eight groups from the Food Guide Pyramid had recommendation achieved by more than 800 and in the other two groups vegetables and fruits more than 750 of children did not reach the number of servings recommended The socioeconomic status of the families was unfavorable evidenced by the low maternal educational level demonstrated by most families 892 living with up to two minimum wages and by the high rate 470 of participation in social programs The characteristics of children and families showed that this is a vulnerable population since the anthropometric status was impaired nutrition was inadequate and they presented a low socioeconomic status These factors were not conducive to childrens health Keywords Infant Preschool Nutritional status Feeding Socioeconomic factors Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 207 PERFIL ANTROPOMÉTRICO ALIMENTACIÓN Y SITUACIÓN SOCIOECONÓMICA DE NIÑOS ATENDIDOS EN EL CENTRO DE RECUPERACIÓN NUTRICIONAL EN GUARAPUAVA PARANÁ Resumen La atención en los Centros de Recuperación Nutricional está orientada a los niños que presentan algún problema de salud están más vulnerables para desarrollar carencias nutricionales y en consecuencia alteraciones en su perfil antropométrico El objetivo de este estudio fue describir el perfil antropométrico alimentario y la situación socioeconómica de los niños atendidos en el Centro de Recuperación Nutricional Estudio con enfoque trasversal cuyos datos fueron recolectados a través de anamnesis nutricional El perfil antropométrico fue avaluado por los índices PI EI y IMCI con base en las curvas de crecimiento de la Organización Mundial de la Salud la alimentación fue avaluada por el Recordatorio de 24 horas El perfil antropométrico de los 136 niños mostró que 511 tenían PI insuficiente 449 presentaban alteraciones en su estatura y 618 tenían IMC fuera de la faja de normalidad La alimentación estaba inadecuada pero de los ocho grupos de la Pirámide Alimentaría solamente en dos de ellos azúcar y aceite la recomendación fue alcanzada por más de 800 de los niños en otros dos grupos verduraslegumbres y frutas más de 750 de los niños no alcanzaron el número de porciones recomendadas La situación socioeconómica de las familias era desfavorable evidenciada por la baja escolaridad materna además de que la mayoría de las familias 892 vivían con hasta dos sueldos mínimos y una elevada participación en programas sociales 470 Las características de los niños y sus familias mostraron que se trata de una población vulnerable motivado por la alteración de su perfil antropométrico la alimentación inadecuada y una situación socioeconómica precaria que no favorecía a la salud de los niños PalabrasClave Lactante Preescolar Estado nutricional Alimentación Situación socioeconómica INTRODUÇÃO Os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento integral do ser humano É nessa fase que a criança desenvolve parte do potencial mental que terá quando adulto A atenção integral nessa etapa auxilia no sucesso escolar no desenvolvimento de fatores de resiliência e autoestima necessários para a aprendizagem na formação das 208 relações e da autopercepção para independência econômica e preparo para a vida familiar e comunitária A desnutrição e a nutrição inadequada nos primeiros anos de vida levam a danos irreversíveis na vida adulta13 Conhecer as características de indivíduos ou grupos e dos domicílios é importante para a organização da assistência e visualização de fatores de risco com associações a uma probabilidade aumentada de surgir desenvolver ou estar exposto a determinado dano à saúde4 Na saúde infantil existe uma correlação entre saúde da criança e certos indicadores socioeconômicos mas há considerações sobre outras variáveis relevantes para a criança em razão de estar muito ligada à mãe e dela depender para sobreviver Neste sentido os aspectos das condições gerais de vida como alimentação moradia saneamento acesso à assistência à saúde e renda familiar também têm que contemplar o estilo de vida da mãe caracterizado como uma série de aspectos comportamentais de natureza sociocultural5 O Ministério da Saúde propõe um calendário mínimo de consultas para o acompanhamento da saúde infantil com a finalidade de avaliar e acompanhar de forma sistemática o crescimento e desenvolvimento da criança Os índices antropométricos orientam esse acompanhamento detectando quadros de desnutrição sobrepeso e obesidade6 Estudos transversais que descreveram o perfil antropométrico de crianças em serviços de saúde apontaram o déficit estatural como o agravo mais frequente podendo variar de 63 a 20579 O déficit no ganho estatural é muito difícil de ser revertido após os dois anos de idade podendo ter repercussões por toda a vida do indivíduo10 E crianças que apresentam algum problema de saúde estão mais suscetíveis a desenvolverem quadros de carência nutricional e consequentemente comprometimento do perfil antropométrico necessitando de atenção especial dos profissionais de saúde O objetivo do estudo foi descrever o perfil antropométrico a alimentação e a situação socioeconômica de crianças atendidas em Centro de Recuperação Nutricional uma vez que eram encaminhadas para esse centro por apresentarem problemas de ordem nutricional ou doenças raras que comprometiam seu perfil antropométrico MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal em Centro de Recuperação Nutricional da cidade de Guarapuava Paraná nos anos de 2009 e 2010 O Centro de Recuperação Nutricional presta atendimento médico nutricional e fisioterápico a crianças de zero a seis anos de idade de Guarapuava e região que apresentam comprometimento nutricional Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 209 Algumas crianças maiores de seis anos também são acompanhadas pela equipe de nutrição quando há necessidade Os resultados deste estudo fazem parte do Projeto de Extensão em Nutrição Materno Infantil desenvolvido pelo Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do CentroOeste Unicentro no Centro de Recuperação Nutricional Os resultados apresentados são referentes aos dois primeiros anos de execução do referido projeto O termo criança será utilizado ao longo do trabalho pois foram atendidos somente sete adolescentes Aqueles que apresentaram idade maior ou igual a 10 anos e menor de 20 anos foram considerados adolescentes para a avaliação antropométrica e alimentar e incluídos no presente estudo Os dados foram coletados em anamnese nutricional aplicada às mães de crianças atendidas no centro por três acadêmicos de nutrição previamente treinados e supervisionados diretamente por nutricionistas Participaram do estudo todas as crianças que receberam o primeiro atendimento nutricional no centro nenhuma delas foi excluída do estudo já que seu objetivo foi conhecer o perfil antropométrico alimentar e de vida dessas crianças A busca pelo serviço ocorria por demanda espontânea ou encaminhamento de Unidade de Saúde quando havia suspeita de crescimento prejudicado eou ganho de peso insuficiente A anamnese nutricional aplicada na primeira consulta nutricional da criança era composta de dados da criança da mãe patologias préexistentes medicamentos utilizados exames laboratoriais dados antropométricos dados socioeconômicos Recordatório de 24 horas história da amamentação e introdução de alimentos complementares A caracterização das crianças foi realizada com base na descrição do número de atendimentos sexo faixa etária peso ao nascer idade gestacional diagnóstico clínico tempo de aleitamento materno exclusivo aleitamento materno e idade de introdução de alimentos complementares Para avaliação do perfil antropométrico foram coletadas medidas de peso e estatura das crianças conforme preconiza o Ministério da Saúde6 Essas medidas foram digitadas e analisadas com o auxílio dos programas WHO Anthro e WHO AnthroPlus1112 de acordo com a idade da criança no dia do preenchimento da anamnese O perfil antropométrico foi avaliado com base nos índices Peso para Idade PI Estatura para Idade EI e Índice de Massa Corporal para Idade IMCI expressos em escorez com base nas curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde OMS6 A alimentação das crianças foi avaliada por meio do Recordatório de 24 horas aplicado uma única vez As mães foram questionadas sobre todos os alimentos consumidos no dia anterior ao atendimento ou seja desde o momento em que a criança acordou até o momento em que foi dormir O Recordatório de 24 horas foi referente a um dia da 210 semana terçafeira pois o atendimento às crianças ocorria sempre às quartasfeiras Com isso pôdese garantir a avaliação da alimentação em um dia típico Todos os alimentos foram registrados em medidas caseiras Para avaliar a presença dos grupos alimentares e o número de porções consumidas pelas crianças foi utilizada a Pirâmide Alimentar específica para lactentes crianças e adolescentes1314 Para avaliação da situação socioeconômica das famílias das crianças foram utilizados dados de idade e escolaridade materna estado civil trabalho materno número de pessoas na residência número de filhos renda e participação em programas sociais Os dados foram digitados e analisados no programa Epi Info versão 353 por meio de estatística descritiva Foram calculadas frequências absoluta e percentual dos dados apresentados e aindamédia mediana e desviopadrão das variáveis quantitativas As mães foram esclarecidas sobre o estudo no momento da consulta nutricional e aquelas que aceitaram que sua criança participasse do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicentro Ofício nº 0792009 sendo realizado de acordo com as Normas e Diretrizes Éticas de Resolução do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde RESULTADOS Foram atendidas 136 crianças com média de idade de 370 meses desviopadrão DP373 meses Na Tabela 1 estão apresentadas as principais características das crianças e mães A maioria das crianças era do sexo masculino menor de dois anos de idade com peso adequado ao nascer e à termo As mães tinham entre 20 e 35 anos de idade 810 baixa escolaridade e 812 coabitavam com companheiro Tabela 1 Caracterização das crianças e mães atendidas em Centro de Recuperação Nutricional Guarapuava PR 20092010 Variáveis Frequência absoluta n Frequência percentual Sexo Masculino Feminino 72 64 529 471 Faixa etária anos 2 anos 24 46 6 78 16 17 25 573 118 125 184 Peso ao nascer g 2500 2500 1500 92 23 9 742 185 73 continua Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 211 Tabela 1 Caracterização das crianças e mães atendidas em Centro de Recuperação Nutricional Guarapuava PR 20092010 Variáveis Frequência absoluta n Frequência percentual Idade gestacional semanas 3741 37 28 101 22 1 815 177 08 Idade materna anos 20 2035 35 18 75 40 135 564 301 Escolaridade materna anos de estudo 0 13 4 58 911 12 ou mais 8 21 31 38 21 2 66 174 256 314 174 16 Estado civil Solteira Casada União consensual Separada Viúva 10 77 31 14 1 75 579 233 105 08 Fonte Elaboração própria 12 crianças sem informação de peso ao nascer e idade gestacional 3 mães sem informação da idade e estado civil 15 mães sem informação da escolaridade Das 126 crianças que apresentavam diagnóstico clínico no prontuário médico observouse que 61 469 tinham comprometimento nutricional relacionado a baixo peso eou baixa estatura 31 238 anemia ferropriva 9 69 neuropatias 5 38 síndromes genéticas Down e Klinefelter 3 23 infecções 3 23 alergias e 18 141 outras doenças Algumas crianças apresentavam mais de um diagnóstico clínico O tempo médio de Aleitamento Materno Exclusivo AME foi de 31 meses DP21 meses e a mediana de 30 meses No momento da aplicação da anamnese 40 crianças recebiam leite materno LM portanto essas crianças não foram consideradas para o cálculo do tempo de Aleitamento Materno AM O tempo médio de AM entre as crianças foi de 63 meses DP83 meses apresentando uma mediana de 40 meses O início da Alimentação Complementar AC ocorreu em média aos 45 meses de idade da criança DP18 mês No momento da entrevista 40 301 crianças recebiam LM Dessas 35 875 tinham menos de dois anos de idade e 5 125 tinham mais de dois anos a criança mais velha tinha dois anos e quatro meses Não recebiam LM 93 699 crianças e dessas 41 441 tinham menos de dois anos de idade conclusão 212 O perfil antropométrico das crianças é apresentado na Tabela 2 Observase que 511 das crianças tinham peso insuficiente para idade 449 apresentavam comprometimento estatural e 618 tinham IMC fora da faixa de normalidade para a idade Tabela 2 Classificação do perfil antropométrico das crianças atendidas em Centro de Recuperação Nutricional Guarapuava PR 20092010 Índices antropométricos Frequência absoluta n Frequência percentual Escorez PI 12 Muito baixo peso para idade Baixo peso para idade Peso adequado para idade Peso elevado para idade 27 39 60 3 209 302 465 23 Escorez EI 2 Muito baixa estatura para idade Baixa estatura para idade Estatura adequada para idade 28 33 75 206 243 551 Escorez IMCI 2 Magreza acentuada Magreza Eutrofia Risco de sobrepeso Sobrepeso Obesidade Obesidade grave 17 16 52 47 1 2 1 125 118 382 346 07 15 07 Fonte Elaboração própria 1 Dados de 129 crianças pois 7 crianças eram adolescentes 10 anos e 20 anos 2 PIpeso para idade EI estatura para idade e IMCI Índice de Massa Corporal para idade As crianças recebiam em média 54 refeiçõesdia DP12 refeiçãodia Na Tabela 3 constam os dados referentes à alimentação das crianças evidenciando que dos oito grupos da Pirâmide Alimentar somente em dois grupos açúcar e óleo a recomendação foi atingida por mais de 800 das crianças em outros dois grupos verduraslegumes e frutas mais de 750 delas não atingiram o número de porções recomendadas Tabela 3 Alimentação das crianças atendidas em Centro de Recuperação Nutricional segundo número de porções recomendadas por faixa etária Guarapuava PR 20092010 Grupos Alimentares Atingiram porções Não atingiram porções Ultrapassaram porções Pães e cereais 37 296 41 328 47 376 Verduras e legumes 26 208 99 792 0 Frutas 9 72 116 928 0 Leguminosas 52 416 43 344 30 240 Carnes e ovos 64 512 58 464 3 24 Leite e derivados 68 515 40 303 24 182 Açúcar e doces 103 824 0 22 176 Óleo e gorduras 119 952 3 24 3 24 Fonte Elaboração própria 11 crianças sem informação de consumo alimentar 4 crianças sem informação de consumo alimentar Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 213 Foi verificado pelo estudo que a situação socioeconômica das famílias das crianças era desfavorável uma vez que somente 32 235 mães trabalhavam fora do domicílio a maioria exercendo função como empregada doméstica vendedora auxiliar de serviços gerais e lavradora Os domicílios apresentaram média de 47 pessoas DP18 pessoa as mães tinham em média 26 filhos DP17 filho e a renda mediana das famílias foi de R 57200 Na Tabela 4 observase que mais de 850 das famílias viviam com até dois salários mínimos 470 estavam inscritas no Programa Estadual Leite das Crianças e 394 no Programa Federal Bolsa Família sendo 23 174 famílias inscritas em ambos os programas sociais Das crianças que não participavam do Programa Leite das Crianças somente 22 314 tinham a faixa etária que correspondia à faixa etária de abrangência do programa 636 meses Tabela 4 Situação social de famílias de crianças atendidas em Centro de Recuperação Nutricional segundo renda e participação em programas sociais Guarapuava PR 20092010 Variáveis Frequência absoluta n Frequência percentual Renda 12 salário mínimo 12 a 1 salário mínimo 1 a 2 salários mínimos 2 salários 14 41 61 14 108 315 469 108 Programa Leite das Crianças Participa Não Participa 62 70 470 530 Programa Bolsa Família Participa Não Participa 52 80 394 606 Fonte Elaboração própria Salário mínimo nos anos de 2009 R46500 e 2010 R51000 6 crianças sem informação de renda 4 crianças sem informação de participação em programas sociais DISCUSSÃO A maioria das crianças do estudo tinha menos de dois anos de idade Sabese que os dois primeiros anos de vida caracterizamse por intenso crescimento e desenvolvimento e a nutrição nessa fase irá repercutir na vida adulta Entre o primeiro e o segundo ano de vida ocorrerá a consolidação da alimentação da criança que passará a receber os alimentos consumidos pela família Nessa fase serão formados os hábitos alimentares influenciados pelo entorno cultural que provavelmente acompanharão a criança durante toda a vida1101415 214 As crianças apresentavam quadros de desnutrição e anemia ferropriva como principais diagnósticos clínicos Os estudos evidenciam decréscimo da desnutrição no país e aumento das taxas de sobrepeso e obesidade entre crianças1618 porém as crianças atendidas no Centro de Recuperação Nutricional apresentavam patologias que afetavam o perfil antropométrico e podiam levar a quadros de desnutrição aguda e crônica Notase que estas crianças eram especificamente encaminhadas ao Centro devido ao diagnóstico nutricional carência de micronutrientes ou outras condições adversas portanto a alta prevalência destas condições justificase pela característica do local de atendimento não correspondendo à população do município A anemia ferropriva é uma doença comum entre crianças menores de cinco anos de idade A faixa etária de 6 a 23 meses de idade é a de maior risco para o desenvolvimento da doença em função da alta demanda corporal pelo mineral da transição da dieta e da quantidade de alimentos ricos em ferro consumidos pelos lactentes141920 Crianças não amamentadas exclusivamente com LM até os seis meses são mais susceptíveis à anemia pois o ferro presente no LM tem sua absorção comprometida quando da introdução de outros leites ou alimentos15 Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher PNDS de 2006 mostraram prevalência de anemia de 209 entre crianças menores de 5 anos e de 241 em menores de 24 meses de idade16 Estudos locais mostraram prevalência de anemia mais elevada entre crianças mais pobres21 As medianas de AME e AM foram baixas 30 e 40 meses respectivamente e a idade média de introdução de alimentos complementares foi inoportuna 45 meses porém esses resultados devem ser analisados com cautela A II Pesquisa de Prevalência de AM nas capitais e Distrito Federal mostrou mediana de AME e AM de 18 meses e 112 meses respectivamente22 Os dados não são comparáveis em função da metodologia empregada na pesquisa nacional que levou em consideração os alimentos consumidos nas 24 horas anteriores à pesquisa No presente estudo investigouse até que idade em meses a criança recebeu somente LM sem adição de água chá sucos leites artificiais frutas ou comidas salgadas Esse tipo de questionamento tende a produzir um acúmulo de dados em certas idades pois as mães dependem da memória para responder e acabam dizendo quase sempre um número inteiro23 Um quarto das crianças nasceu com peso inadequado 2500g e 185 nasceram prétermo o que poderia dificultar o início e a continuidade da amamentação A região de Guarapuava não dispõe de Banco de Leite Humano o qual poderia ser primordial no fornecimento de leite para essas crianças Além disso algumas nasceram com patologias Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 215 que também comprometiam a amamentação Das 93 699 crianças que não recebiam LM 41 441 tinham menos de dois anos de idade e poderiam estar se beneficiando desse alimento dada a recomendação de AM por dois anos ou mais11015 O perfil antropométrico das crianças estava comprometido mostrando déficits de peso e estatura Dados da PNDS de 2006 mostraram que apenas 17 das crianças brasileiras tinham déficits de peso para idade Enquanto o déficit de estatura para idade foi de 70 no segundo ano de vida chegou a 123 Filhos de mães com menor escolaridade 1 a 3 anos de estudo e sem nenhuma escolaridade tinham déficits de estatura de 136 e 166 respectivamente16 A baixa estatura de crianças está associada à baixa condição socioeconômica da família e ao maior número de irmãos24 As crianças do estudo apresentavam patologias que poderiam comprometer a ingestão alimentar e consequentemente o perfil antropométrico O comprometimento severo do crescimento nos primeiros dois anos de vida conduz a danos irreversíveis incluindo baixa estatura na vida adulta menor aproveitamento escolar redução na capacidade produtiva na idade adulta e uma diminuição no peso de nascimento das próximas gerações Além disso crianças que são desnutridas nos primeiros dois anos de vida e ganham peso rapidamente mais tarde na infância e na adolescência apresentam um risco aumentado de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à nutrição13 Desta forma perpetuamse nas famílias os padrões de saúde e condições de vida responsáveis pela fixação dos indivíduos na escala social o que por sua vez determina as condições de saúde da próxima geração21 As crianças recebiam em média 54 refeiçõesdia o que poderia corresponder a três refeições principais e dois lanches No entanto a alimentação das crianças estava inadequada Dos oito grupos da Pirâmide de Alimentos observouse que 982 das crianças não atingiram a recomendação do número de porções para o grupo das frutas 792 para o grupo das verduras e legumes 464 para o grupo das carnes 344 para o grupo das leguminosas 328 para o grupo dos pães e cereais 303 para o grupo do leite e 24 para o grupo do óleo Por outro lado 376 das crianças ultrapassaram o número de porções do grupo dos pães e cereais 240 do grupo das leguminosas 182 do grupo do leite e 176 do grupo do açúcar A alimentação das crianças apresentava maior inadequação no grupo das frutas e verduraslegumes Esses alimentos são fontes de vitaminas minerais e fibras nutrientes indispensáveis ao crescimento e desenvolvimento de crianças Um exemplo da importância desses alimentos pode ser dado pelas frutas cítricas fontes de vitamina C que aumentam a 216 biodisponibilidade do ferro contido em fontes de alimentos vegetais e ajudam na prevenção e no tratamento da anemia que acomete muitas crianças1101420 Das crianças do estudo 238 tinham diagnóstico de anemia ferropriva No Estudo Qualitativo Nacional de Práticas Alimentares de crianças menores de dois anos de idade realizado nas macrorregiões brasileiras as mães entrevistadas identificaram verduras legumes e frutas como alimentos bons para a saúde porém os dados de todas as regiões brasileiras sugerem que esses alimentos não eram prioridades de compra nem de consumo Era dada prioridade para a aquisição de alimentos considerados básicos como arroz feijão açúcar macarrão leite e óleo10 O consumo de alimentos dos grupos fontes de proteínas também estava inadequado para mais de 300 das crianças Em especial o grupo das carnes e leguminosas O grupo do leite e derivados era o menos inadequado tendo 182 das crianças apresentado consumo excessivo desse alimento O fato de o leite e derivados seremdo grupo proteico com menores inadequações pode ser devido ao número de crianças do estudo beneficiadas pelo Programa Estadual Leite das Crianças Os alimentos de origem animal em especial as carnes fornecem proteínas de alta qualidade importantes para o crescimento acelerado das crianças pequenas Além disso as carnes são fontes de ferro heme o qual é melhor aproveitado pelo organismo que o ferro contido em produtos vegetais ferro não heme como feijões e vegetais verdeescuros A quantidade adequada de ferro só pode ser atingida com a ingestão de produtos animais em quantidades substanciais ou de alimentos enriquecidos com esse mineral A dificuldade é que alimentos ricos em ferro carnes fígado e peixe não são consumidos em quantidades suficientes por crianças abaixo de dois anos1025 Estudo qualitativo sobre as práticas alimentares de 13 crianças de até três anos de idade em risco nutricional realizado no Rio de Janeiro apontou que ao lado da carne as frutas verduras e legumes eram os alimentos que mais podiam faltar nos domicílios quando havia uma hierarquização dos alimentos predominavam os básicos como primeira escolha nas compras26 O grupo dos pães e cereais também apresentou inadequações tanto pelo consumo insuficiente como excessivo E ainda 240 das crianças apresentaram consumo maior que o recomendado de alimentos do grupo das leguminosas A OMS recomenda que grãos e leguminosas como por exemplo o arroz e o feijão deveriam ser consumidos diariamente se possível na mesma refeição para garantir a quantidade adequada de proteína de qualidade principalmente se o leite e outros produtos de origem animal não são ingeridos Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 217 em quantidades suficientes20 O consumo excessivo de alimentos desses grupos poderia ser explicado em parte pela ausência de alimentos de outros grupos alimentares e por serem alimentos mais acessíveis a populações mais carentes O consumo maior que o recomendado de alimentos do grupo do açúcar foi observado em 176 das crianças Assim como os alimentos dos grupos dos pães cereais e leguminosas os alimentos do grupo do açúcar são mais baratos e portanto mais acessíveis a famílias carentes A alimentação das crianças evidencia indiretamente a situação socioeconômica das famílias O padrão de consumo alimentar é influenciado pela renda e escolaridade21 Estudo longitudinal que avaliou a qualidade da alimentação de crianças nos primeiros meses de vida do município de Vitória Espírito Santo mostrou que o consumo de frutas estava associado com maior nível de escolaridade materna e com a renda igual ou superior a dois salários mínimos27 Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares POF 20082009 mostraram que o valor da despesa total com alimentação realizada pelas famílias com rendimentos mais altos foi quase seis vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos Apesar das melhoras apontadas pela pesquisa em relação à versão anterior 20022003 ainda existe um contingente de famílias que referiram dificuldades para chegar ao fim do mês com o rendimento e quantidade insuficiente de alimentos nos domicílios28 A renda das famílias das crianças do estudoera baixa o que poderia comprometer a aquisição de alimentos essenciais às crianças A situação socioeconômica das famílias das crianças era desfavorável evidenciada pela baixa escolaridade materna pelo número reduzido de mães que trabalhavam fora do domicílio e pelas funções exercidas No entanto o número de filhos e de pessoas na residência não era elevado A maioria das mães residia com companheiro o que poderia representar melhor renda familiar apesar de a maioria das famílias sobreviverem com até dois salários mínimos A participação em programas sociais também evidenciava a situação socioeconômica das famílias já que esses programas são desenvolvidos para atender populações menos favorecidas socialmente Observouse que 174 das crianças estavam inscritas tanto no Programa Bolsa Família como Leite das Crianças A distribuição da saúde e da doença na sociedade não é aleatória mas está associada à posição social que define as condições de vida e trabalho dos indivíduos e grupos Renda e escolaridade estão fortemente associados a resultados de saúde21 As características das crianças do estudo de suas mães e famílias mostraram que se trata de uma população vulnerável pela patologia existente perfil antropométrico comprometido alimentação inadequada e situação socioeconômica precária que não favorecia a saúde das crianças O 218 atendimento em Centro de Recuperação Nutricional provavelmente não conseguirá resolver efetivamente os problemas do quadro nutricional e alimentar das crianças que esbarram na situação socioeconômica das famílias Este estudo apresenta reconhecidamente limitações principalmente na avaliação da alimentação das crianças pois foi utilizado o Recordatório de 24 horas que depende da memória do respondente e não pode ser usado para descrever a dieta habitual de indivíduos quando aplicado em um único momento O Recordatório de 24 horas porém pode auxiliar na avaliação global do indivíduo quando outros dados nutricionais e sociais são coletados conjuntamente e assim favorecer a conduta profissional na intervenção nutricional Além disso estudos que descreveram a alimentação de crianças menores de dois anos de idade mostraram que a dieta dessas crianças era monótona e não havia grande variação dos alimentos consumidos diariamente10 Os resultados deste estudo demonstram a importância da presença do profissional nutricionista em Centros de Recuperação Nutricional dadas as características das crianças e famílias e do comprometimento nutricional das primeiras A intervenção nutricional pode afetar a qualidade de vida das pessoas e também pode ter natureza preventiva para novos problemas alimentares tendo impacto direto sobre o bemestar físico e emocional Diante disto é de suma importância a efetivação de projetos neste âmbito direcionando pesquisadores e interessados no assunto uma vez que os problemas da alimentação devem ser explorados de forma sistemática CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES Paula Chuproski Saldan Marcela Komechen Brecailo Elisvânia Freitas dos Santos Fabiane La Flor Ziegler Sanches Silvana Franco participaram igualmente da revisão de literatura discussão dos resultados e revisão crítica do artigo REFERÊNCIAS 1 Pan American Health Organization Division of Health Promotion and Protection Food and Nutrition Program Guiding principles for complementary feeding of the breastfed child Geneva 2004 2 Fundo das Nações Unidas para a Infância Situação mundial da infância 2008 Caderno Brasil Brasília 2008 Extraído de httpwwwuniceforg brazilptcadernobrasil2008pdf acesso em 8 de julho de 2008 Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 219 3 Victora CG Adair L Fall C Hallal PC Martorell R Richter L et al Maternal and child undernutrition consequences for adult health and human capital Lancet 2008371960934057 4 Ayres JRCM Epidemiologia promoção da saúde e o paradoxo do risco Rev bras epidemiol 20025supl 12842 5 Dytz JLG Rocha SMM O modo de vida da mãe e a saúde infantil Rev Bras Enferm 20025521516 6 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde Brasília 2011 7 Damaceno RJP Martins PA Devincenzi MU Estado nutricional de crianças atendidas na rede pública de saúde do município de Santos Rev paul pediatr 200927213947 8 Martino HSD Ferreira AC Pereira CNA Silva RR Avaliação antropométrica e análise dietética de préescolares em centros educacionais municipais no sul de Minas Gerais Ciênc saúde colet 201015255158 9 Oliveira FCC Cotta RMM Ribeiro AQ SantAna LFR Priore SE Franceschini SCC Estado nutricional e fatores determinantes do déficit estatural em crianças cadastradas no Programa Bolsa Família Epidemiol Serv Saude 2011201718 10 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Organização Pan Americana da Saúde Guia alimentar para crianças menores de dois anos Brasília 2002 11 World Health Organization Anthro for personal computers version 322 2011 Software for assessing growth and development of the worlds children Extraído de httpwwwwhointchildgrowthsoftwareen acesso em 15 março de 2012 12 World Health Organization Anthro Plus for personal computers Software for assessing growth of the worldschildren and adolescentsExtraído de httpwwwwhointgrowthreftoolsen acesso em 15 março de 2012 13 Sociedade Brasileira de Pediatria Departamento de Nutrologia Manual de orientação para a alimentação do lactente do préescolar do escolar do adolescente e na escola 3ª ed Rio de Janeiro 2012 14 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Dez passos para uma alimentação saudável guia alimentar para crianças menores de dois anos um guia para o profissional de saúde na atenção básica 2ª ed Brasília 2010 15 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Saúde da criança nutrição infantil aleitamento materno e alimentação complementar Brasília 2009 220 16 Lima ALL Monteiro CA Konno SC Conde WL Avaliação antropométrica do estado nutricional de crianças e mulheres em idade fértil In Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher PNDS 2006 relatório final Brasília 2008 p 25262 17 Monteiro CA Benicio MHA Konno SC Silva ACF Lima ALL Conde WL Causas do declínio da desnutrição infantil no Brasil 19962007 Rev Saúde Pública 20094313543 18 Victora CG Aquino EML Leal MC Monteiro CA Barros FC Szwarcwald CL Maternal and child health in Brazil progress and challenges Lancet 20113779780186376 19 Cunha EMGP Jakob ROSE Saúde das crianças In Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher PNDS 2006 relatório final Brasília 2008 p 20741 20 World Health Organization Guiding principles for feeding nonbreastfed children 624 months of age Geneva 2005 21 Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil relatório final da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde Rio de Janeiro 2008 22 Brasil Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal Brasília 2009 23 World Health Organization Indicators for assessing infant and young child feeding practices conclusions of a consensus meeting held 68 November 2007 Washington 2008 24 Vitolo MR Gama CM Bortolini GA Campagnolo PDB Drachler ML Alguns fatores associados a excesso de peso baixa estatura e déficit de peso em menores de 5 anos J Pediatr 20088432517 25 World Health Organization Department of Nutrition for Health and DevelopmentComplementary feeding family foods for breastfed children Geneva 2000 26 Rotenberg S De Vargas S Práticas alimentares e o cuidado da saúde da alimentação da criança à alimentação da família Rev bras Saúde Mater Infant 2004418594 27 Santos Neto ET Faria CP Barbosa ML Emmerich AO Zandonade E Association between food consumption in the first months of life and socioeconomic status a longitudinal study Rev Nutr 200922567585 Revista Baiana de Saúde Pública v37 n1 p205221 janmar 2013 221 28 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Pesquisa de orçamentos familiares 20082009 despesas rendimentos e condições de vida Rio de Janeiro 2010 Recebido em 7112012 e aprovado em 1092013