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Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 1 POR UMA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA TRANSFORMADORA APONTAMENTOS E REFLEXÕES A PARTIR DOS CONCEITOS DE MEMÓRIA LUGAR E CIDADE Luiz Eduardo Neves dos Santos Doutorando pelo Programa de PósGraduação em Geografia da UFC dugeografohotmailcom ORCID iD httpsorcidorg0000000212046626 Artigo recebido em 23032019 e aceito em 01072019 RESUMO Os conceitos de Memória Lugar e Cidade são cada vez mais importantes no período atual e para o ensino de Geografia A formação do professor passa pela apreensão e pelo conhecimento do lugar enquanto instância propícia às descobertas e ações no contexto urbano em que a memória também exerce um papel relevante Desta maneira o objetivo principal do texto é uma discussão baseada metodologicamente em uma pesquisa bibliográfica e de análise em torno dos três conceitos já mencionados Memória Lugar Cidade no contexto da formação profissional e do campo de trabalho do professor de Geografia apontando caminhos possíveis para a realização do que se designa aqui de Pedagogia da existência Destacase a necessidade de análise na escola de uma educação geográfica centrada nos saberes dos alunos do seu cotidiano no lugar considerando a esfera da proximidade da vizinhança do reconhecimento e da horizontalidade das relações afetivas entre os grupos dos quais participam entendidas como caminho para o alcance da uma consciência crítica sobre a realidade a fim de transformála Palavraschave Educação Geográfica Memória Lugar Cidade Pedagogia da existência FOR A GEOGRAPHICAL TRANSFORMER EDUCATION NOTES AND REFLECTIONS FROM THE CONCEPTS OF MEMORY PLACE AND CITY ABSTRACT The concepts of Memory Place and City are increasingly important and current for the teaching of Geography The formation of the teacher passes through the apprehension and the knowledge of the place as a propitious instance for discoveries and actions in the urban context in which memory also plays a relevant In this way the main objective of the text is a discussion methodologically based on a bibliographical research and analysis around the three concepts already mentioned Memory Place City in the context of vocational training and the field of work of the Geography teacher pointing out possible ways for the realization of what is here referred to as the pedagogy of existence It is necessary to analyze in the school a geographic education focused on the students knowledge of their daily life in the place considering the sphere of proximity neighborhood recognition and horizontality of the affective relations between the groups in which they participate understood as a way to reach a critical consciousness about reality in order to transform it Keywords Geographical Education Memory Place City Pedagogy of existence Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 2 1 PRÓLOGO A realidade é também tudo aquilo em que ainda não nos tornamos ou seja tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como seres humanos por intermédio dos mitos das escolhas das decisões e das lutas Alfred Schmidt 1986 Atividade característica dos humanos o ato de rememorar era atribuído pelos antigos gregos a Titânide Mnemósine a Memória Seduzida por Zeus deu à luz a nove filhas chamadas de Musas Era filha do Céu Urano e da Terra Gaia e irmã do Tempo Cronos sendo a responsável por unir os lados do abismo que existia entre passado e presente levando o homem ao conhecimento pleno de suas raízes ancestrais Manter vivo os laços com o passado é uma tarefa cada vez mais importante nos dias atuais visto que a sociedade em que vivemos é cotidianamente atingida por informações e imagens de todo o gênero Não há como processar e assimilar toda esta quantidade de informações e imagens sendo apenas algumas filtradas pelos indivíduos Trazendo o mito para a realidade atual observase que a Mnemósine teria dificuldade em realizar sua tarefa já que passado e presente se distanciam ininterruptamente pois hoje é o presente que assume todo o espaço e se dá como representação global do tempo que se substitui à profundidade da duração SUE 1994 apud SANTOS 2002 Ou seja o sujeito urbano preso em meio às imagens e objetos de diversas ordens perde alguns de seus principais referenciais pretéritos Sendo assim a memória tornase importante ferramenta metodológica para estudos de ordem histórica geográfica e antropológica no que tange a indivíduos e lugares daí reside sua relevância enquanto tema para utilização nas aulas de Geografia O lugar enquanto conceitochave da Geografia deve ser concebido não somente por uma dimensão culturalsimbólica mas também a partir de sua articulação com o mundo pelas práticas espaciais O professor de Geografia precisa estar preparado para apresentar ao aluno esta acepção Da mesma forma que a noção de cidade para fins deste trabalho não deva estar separada da de memória e lugar já que a memória nada cidade é hoje um elemento fundamental da constituição da identidade de um lugar ABREU 2014 p 33 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 3 O objetivo principal do texto é a discussão baseada metodologicamente em uma pesquisa de revisão analítica dos três conceitos a nosso ver indissociáveis e já mencionados memória lugar cidade no contexto da formação profissional e do campo de trabalho do professor de Geografia apontando caminhos possíveis para a realização do que se designa aqui de pedagogia da existência Desta forma o texto se estrutura da seguinte maneira o primeiro ponto versa sobre a formação do professor de Geografia frente a um mundo cada vez mais interconectado de informações velozes e acontecimentos que interferem nos valores morais e éticos que ameaçam as novas gerações Em um segundo momento as categorias memória e cidade são discutidas e interrelacionadas enquanto conteúdos para as aulas de Geografia Logo depois é abordada a importância do conceito de lugar em sua relação com a cidade para o alcance de uma prática educativa geográfica Por fim explanase a ideia de uma pedagogia da existência crítica e transformadora da realidade do aluno a partir da Geografia e sua docência para além dos limites da escola como ensinamento para a vida 2 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NAS ERAS DA INFORMAÇÃO E DA INDETERMINAÇÃO É necessário iniciar esta discussão alertando sobre as características tortuosas do atual período histórico de desenvolvimento capitalista Há no presente uma aceleração da História NORA 1993 nas palavras de Santos 2002 esta rapidez histórica é realizada através do meio geográfico que tende a ser universal com a consolidação do chamado meio técnicocientífico infomacional sendo assim uma contemporaneidade simultânea e compulsória Giddens 1989 se referiu a um esvaziamento do tempo Virilio 1993 chegou mesmo a anunciar a morte do espaço Harvey 2014 discorreu sobre o que denominou de compressão espaçotempo chamando atenção para as mudanças organizacionais da economia de mercado como a emergência de novas modalidades de acumulação do capital A famosa passagem do Manifesto Comunista de Marx e Engels 2003 de que tudo que era sólido se evapora no ar ainda continua a ter efeito na atualidade já que sintetiza a aceleração temporal presente no esfacelamento das relações sociais na fragilização do trabalho diante do poder do capital e na ideologia oriunda e disseminada por atores hegemônicos centrada na mercadoria e no consumo Suas repercussões são nefastas representadas na Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 4 atualidade pela generalização planetária das desigualdades sociais pela crise existencial pela desordem geopolítica e pelo caos ambiental sem precedentes Sendo assim o professor de Geografia precisa estar preparado para enfrentar a complexidade do mundo que é confuso e confusamente percebido SANTOS 2000 Os desafios da formação do professor neste contexto são enormes até por que a Geografia é uma disciplina escolar que possui seus objetos de aprendizagem e núcleos conceituais a partir de uma abordagem filosófica comprometida com a realidade social CASTELLAR VILHENA 2010 p 05 A Geografia Escolar com base na ciência geográfica deve ser entendida pelo viés históricoanalítico da produção espacial em suas dimensões materiais e ideológicas Enquanto disciplina escolar ela deve ser mais que um amontoado de informações sobre o mundo repassadas aos estudantes possui a tarefa precípua de fazer com que o aluno se reconheça enquanto sujeito que participa e tem a capacidade de poder interferir no espaço e mudar a História Lyotard 2009 p 05 ao falar sobre o Saber nas sociedades informatizadas afirma que ele o saber é e será produzido para ser vendido ele é e será consumido para ser valorizado numa nova produção nos dois casos para ser trocado Ele deixa de ser para si mesmo seu próprio fim perde o seu valor de uso O saber nesta perspectiva é um forte fator de diferenciação entre classes1 e nações já que se constitui numa grande força produtiva capitalista Os currículos de Geografia enquanto caminhos para o saber não podem menosprezar estas transformações da Era da Informação2 precisam ser críticos a ponto de contestar quem se beneficia deste paradigma por isso devem ser discutidos e revisados periodicamente auxiliando na aproximação da Geografia que se ensina na escola com os aportes conceituais e metodológicos discutidos disseminados e atualizados nas universidades O ensino da Geografia deve estar atento à crescente financeirização do capital e de como ele afeta as relações sociais de produção no espaço A pulverização da centralidade do trabalho causa assim um impacto gigantesco na política antes determinada pelas tolerâncias e pelo reconhecimento dos Direitos Humanos Oliveira 2007 chamou isso de a Era da 1 Marilena Chauí 2016 p 5657 chamou essa diferenciação de ideologia da competência que serve como toda ideologia para ocultar a divisão social das classes mas com a peculiaridade de afirmar que a divisão social se realiza entre os competentes os especialistas que possuem conhecimentos científicos e tecnológicos e os incompetentes os que executam as tarefas comandadas pelos especialistas 2 O termo Era da informação descrito e analisado por Castells 2009 é explicado pelo conjunto de eventos que segundo ele assinalam o fim da era industrial e o surgimento de outra derivada de uma revolução tecnológica localizada nas últimas duas décadas século passado Esta revolução tem como essência um paradigma centrado no desenvolvimento das tecnologias informacionais e de comunicação Neste paradigma a aplicação do conhecimento e o processamento da informação são os elementos primígenos dos processos produtivos Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 5 Indeterminação período caracterizado pelas novas intolerâncias tensões longamente acumuladas e racismos adormecidos sobretudo no pós11 de setembro de 2001 A era da indeterminação é de interesse da Geografia e de seu ensino já que tais tensões se reproduzem no espaço protestos manifestações migrações segregações assassinatos injustiças são problemáticas que precisam ser discutidas dentro e fora de sala de aula e contextualizadas no movimento dinâmico da sociedade no espaço Um dos principais gargalos na formação do professor de Geografia é fazer uma conexão entre os conteúdos estabelecidos que não devem ser estanques e o contexto em que os estudantes estão inseridos que vão desde suas relações familiares vida urbana visões de mundo e dimensão cultural local até suas condições econômicas de produção de suas existências Para Pérez e Fernandes 2008 apud CALLAI 2010 o controle da informação e dos meios de comunicação na sociedade urbana e global favorece o florescimento de uma cultura da superficialidade o que provoca uma visão simplista do mundo Como nos alertou Santos 2000 p 112 nas condições atuais o movimento determinante com tendência a uma difusão avassaladora é o da criação da ordem da racionalidade pragmática enquanto a produção do espaço banal é residual A escola precisa suscitar discussões em torno dessa racionalidade pragmática já que ela penetrou no ambiente escolar interferindo na própria função social da escola e mais especificamente nas relações ensinoaprendizagem da Geografia 3 MEMÓRIA E CIDADE CONTEÚDOS PARA AS AULAS DE GEOGRAFIA Os relatos orais fundamentais para o registro da memória passaram a adquirir maior destaque na medida em que se percebeu que os mesmos possibilitam analisar representações simbólicas socialmente construídas no tempo e no espaço A oralidade constitui espaço essencial da comunidade pois numa sociedade não existe comunicação sem oralidade mesmo quando a sociedade dá grande valor à escrita para a memorização da tradição e circulação do saber CERTEAU GIARD 1996 p 336 Cabe ao professor explorar em suas avaliações por exemplo a força dos relatos orais e da memória nas aulas de Geografia em sua relação com os conceitoschave como no caso da paisagem e do lugar Os alunos e sobretudo suas famílias possuem uma história realizada no espaço O espaço representado pela paisagem e pelo lugar tem sido modificado numa velocidade alucinante Para Lowenthal 1985 apud HOLZER 1996 p 115 a memória é matériaprima Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 6 é inescusável ela se refere ao processo e os resíduos dos processos estão aí na forma de artefatos ou de ambiente natural para serem revisitados reaproveitados reinterpretados É a partir da memória que se pode recuperar lembranças individuais e coletivas o que permite a descrição e a análise dos agentes transformadores da paisagem e as modificações nas relações sociais presentes no lugar sejam estes equivalentes à escala de um país cidade ou bairro Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia em seu terceiro e quarto ciclos diz que as percepções as vivências e a memória dos indivíduos e dos grupos sociais são portanto elementos importantes na constituição do saber geográfico BRASIL 1998 p 27 O estudo sobre a memória no meio urbano é outro aspecto que se deve levar em consideração tornandose necessário aos estudos geográficos Segundo Holzer 1996 p114 a paisagem e o lugar são expressões da ação do homem sobre a natureza e por extensão um receptáculo de memória Abreu 2014 p 43 afirma que a memória urbana e a memória da cidade dizem respeito não a capacidade de lembrar dos indivíduos ou grupos mas ao estoque de lembranças que estão eternizadas na paisagem ou nos registros de um determinado lugar lembranças essas que são agora objeto de reapropriação por parte da sociedade As experiências pretéritas sobre determinado lugar possuem caráter geográfico irrestrito pois remontam um quebracabeça que é a chave para se entender as relações sócioespaciais na atualidade Assim não é possível apenas pensar a cidade como quadro físico visto que ela é dotada de intencionalidades3 dos grupos humanos que a molda a partir de suas vontades e interesses A cidade é composta por imagens diversas elementos que unem certo número de pessoas propiciando a criação de múltiplas representações que podem ser coletivas ou individuais As mudanças socioeconômicas e culturais criam marcas no meio urbano traduzidas por imagens que têm como significado o conjunto de valores hábitos desejos que unem através dos tempos o cotidiano de homens e mulheres Toda cidade é como um palimpsesto cada desaparição cada paisagem que sumiu ressurge pela lembrança ou aparece através de um signo que permanece capaz de fazer surgir de recompor na memória o que se foi Por isso toda construção no espaço urbano é capaz de expressar um pensamento um sentimento de carga simbólica que por sua vez comporta representações múltiplas 3 O conceito de intencionalidade nasce da relação entre objetos e ações ou seja toda e qualquer ação humana no espaço possui alguma intenção por isso a ação é tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados Então à intencionalidade da ação se conjuga à intencionalidade dos objetos e ambas são hoje dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no território SANTOS 2002 p 94 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 7 É preciso diferenciar urbano de cidade o urbano tem a ver com o subjetivo o simbólico o que está por trás da paisagem urbana que compõe a cidade Rodrigues 2010 p 79 apoiada em Lefebvre diz que o urbano deve ser caracterizado como modo de vida que atinge áreas rurais e urbanas já a cidade é uma forma espacial lugar de concentração que difunde o urbano sendo portanto um centro de decisão política A cidade e o urbano são temas de extrema relevância na escola pois permitem aos alunos ter múltiplas possibilidades de confrontos entre as diferentes imagens e concepções citadinas as do cotidiano e as científicas A partir dessas visões o aluno poderá criar as estratégias de participar da vida urbana os professores devem ter a capacidade de mostrar aos alunos a cidade numa perspectiva crítica da realidade na busca de atingir a essência pela compreensão do fenômeno pois sem fenômeno sem a sua manifestação e revelação a essência seria inatingível KOSÍK 2002 p 16 O que há por trás dos edifícios das grandes cidades Por que existem shopping centers Por que cidade possui uma paisagem urbana tão desigual Qual a importância dos rios e dos aqüíferos para a cidade A violência urbana tem suas causas aonde São algumas das indagações que o professor de Geografia precisa suscitar nos alunos É preciso também que se diga aos alunos que a memória coletiva é um cimento essencial para a sobrevivência das sociedades ou como afirma Halbwachs 2003 a memória coletiva é uma corrente de pensamento contínua que se transforma portanto é viva Carlos 2007a p 43 alerta que o espaço e o tempo obedecem a uma ordem despótica severa imposta tempo associado ao ritmo do processo de trabalho preso a um calendário rígido e o espaço dominado por fluxos de mercadorias capitais e informações Ao se reproduzirem destroem referências urbanas e como conseqüência a memória social De fato a veloz transformação dos lugares urbanos pelo movimento do capital tem uma força destrutiva da memória até por que não há memória coletiva que não aconteça em um contexto espacial HALBWACHS 2003 p 170 4 A CATEGORIA LUGAR E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE ELEMENTOS PARA UMA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA CRÍTICA Ainda é muito corriqueiro na educação geográfica nas escolas brasileiras conceber o conceito de lugar enquanto um ponto no espaço relacionado à localização herança da escola clássica francesa em que a Geografia era concebida por La Blache como ciência dos lugares e não necessariamente dos grupos humanos O lugar não pode ser confundido com o local para Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 8 Chaveiro 2014 p 267 o lugar é o movimento social histórico cultural simbólico vestido e investido no cotidiano o local é uma referência pontual cartográfica assinalada por coordenadas referência geodésica Decerto é preciso levar em consideração os sentimentos as manifestações culturais a subjetividade e a apropriação do espaço quando se fala do lugar O espaço geográfico é repleto de lugares de todo tipo com paisagens diversas edifícios avenidas viadutos pontes favelas plantações planícies alagadas usinas indústrias são alguns elementos que se encontram espalhados pelo mundo O fato é que todos esses lugares são vividos experenciados e transformados pelos grupos sociais que habitam neles Por isso que Carlos 2007a p 14 afirma que o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da vida possível de ser apreendido pela memória através dos sentidos e do corpo É preciso dizer que um dos maiores desafios do ensino da Geografia é conceber o lugar enquanto totalidade em sua articulação com o mundo deixando a abstração de lado Existem duas acepções bem delimitadas sobre a categoria lugar consagradas na Geografia uma ligada ao paradigma Humanista com sua dimensão simbólicacultural outra atrelada ao paradigma Crítico de matriz marxista entendida como construção social a partir do par dialético singularidadeuniversalidade O entendimento de lugar para a Geografia Humanista aparece principalmente como resultado da experiência humana Segundo Holzer 1996 p113 o lugar pode ser definido como um conjunto complexo enraizado no passado e incrementandose com a passagem do tempo com o acúmulo de experiências e sentimentos Assim o lugar seria entendido pela maneira como as pessoas o percebem e lhe dão significado que por sua vez é constituído e apreendido nas relações cotidianas Para a geógrafa Anne Buttimer o lugar é o somatório das dimensões simbólicas emocionais culturais políticas e biológicas BUTTIMER 1985 Neste sentido o lugar é caracterizado como um mundo de significado organizado TUAN 2013 p 219 É nele que deve existir uma sensação de familiaridade entre os indivíduos e de enraizamento para com o ambiente circundante disso decorre sua forte carga subjetiva Para Relph 2014 p 31 Lugar não é meramente aquilo que possui raízes conhecer e ser concebido no bairro não é apenas distinção e apreciação de fragmentos de geografia O núcleo do significado de lugar se estende penso eu em suas ligações inextrincáveis com o ser com a nossa própria existência Lugar é um microcosmo É onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco A compreensão lugarsujeito de acordo com Relph vai além de uma análise apenas objetiva sendo importante a dimensão da experiência vivida existencial em sua relação com o Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 9 mundo sempre pela subjetividade e pelo sentimento de pertencimento A identidade e a estabilidade são a base para a construção do lugar segundo autores como Relph e Tuan O sentimento de pertencimento a partir de experiências intersubjetivas são características determinantes para se consolidar a identidade como já destacou Relph 1976 Já a estabilidade segundo Tuan 1979 está centrada na segurança proporcionada pelo lugar conhecido Pelo exposto até aqui fica claro que o lugar numa perspectiva Humanista é concebido enquanto espaço vivido apropriado pelos grupos sociais a partir da experiência intersubjetiva da identidade e da estabilidade Outra acepção concebe o lugar enquanto construção social produto do processo histórico em sua articulação com o mundo Uma dialética entre o singular e o universal Como afirma Santos 2000 p 112 os lugares são pois o mundo que eles reproduzem de modos específicos individuais diversos Eles são singulares mas também são globais manifestações da totalidademundo da qual são formas particulares Esse entendimento remete o lugar enquanto totalidade já que ele não é um fragmento ou parte do mundo ele é o mundo em movimento em sua dinâmica O lugar é tanto produto de uma dinâmica única resultante de características particulares culturais e históricas quanto da influência implacável dos vetores do grande capital global Desta forma compreender o lugar passa por ir além das aparências sendo preciso desvelar as contradições impostas pelo movimento da globalização Para Carlos 2007a p 17 o lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitanteidentidadelugar Dito isto o lugar é uma construção oriunda das relações sociais que se realizam sob certas circunstâncias O lugar possibilita as condições para a realização da vida cotidiana que faz parte do centro do acontecer histórico sendo a verdadeira essência da substância social Os acontecimentos históricos não cotidianos partem da vida cotidiana e a ela retornam HELLER 2004 p 20 O cotidiano e a vida cotidiana realizadas no lugar são sem dúvida instâncias propícias à descoberta e à criatividade do pensamento e das ações humanas Ainda nesta concepção o lugar se define como funcionalização do mundo e é por ele que o mundo é percebido empiricamente SANTOS 2005 As ações hegemônicas da globalização permitem que elementos universais atinjam todos os lugares mesmo que de formas diferenciadas seja através de objetos técnicos consumo ou através da informação instantânea Pelo exposto para a corrente Crítica da Geografia o lugar constitui uma dimensão real concreta e histórica Mas até que ponto essas duas acepções de lugar a Humanista e a Crítica Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 10 se cruzam Elas devem ser dicotomizadas Para responder a essas questões é preciso compreender a visão de Lívia de Oliveira e Milton Santos A primeira filiada à corrente Humanista da Geografia e o segundo ligado mais a corrente Crítica da Geografia de caráter renovado Oliveira 2014 p 1819 ao falar sobre o sentido de lugar afirma que é ele experenciado como aconchego que levamos dentro de nós Ou o lugar consciente do tempo social histórico recorrente e mutável no transcorrer das horas do tempo em um espaço sentido dentro de um lugar interior ou exterior Percebese que ela valoriza a dimensão histórica social e concreta do lugar embora a dimensão subjetiva e existencial seja preponderante em sua obra Santos 2000 p 114 admite que o lugar não é apenas um quadro de vida mas um espaço vivido isto é de experiência renovada o que permite ao mesmo tempo a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro Partindo desta afirmação podese inferir que não há o desprezo pela noção de lugar enquanto experiência enquanto espaço vivido no entanto essa noção se articula à ideia de transformação social do presente e do futuro É possível portanto perceber aproximações em torno do conceito de lugar por essas duas correntes da Geografia Como isso se processa na escola Como o professor de Geografia pode trabalhar essas questões Primeiro é necessário compreender o entendimento de cidade recorte espacial escolhido aqui para tratar do lugar Foi falado já que a cidade é uma forma espacial que difunde o urbano Certeau 1994 p 174 afirma que a cidade é um lugar de transformações e apropriações objeto de intervenções mas sujeito sem cessar enriquecido com novos atributos ela é ao mesmo tempo a maquinaria e o herói da modernidade Para Carlos 2007b p 20 a cidade pode ser compreendida como construção humana produto históricosocial contexto no qual a cidade aparece como trabalho materializado acumulado ao longo de uma série de gerações a partir da relação da sociedade com a natureza Essa construção humana de que fala Carlos é um processo antigo derivado de interesses e estratégias de certos grupos sociais em se apropriar de territórios na cidade No campo da educação geográfica é possível fazer uma aproximação ainda maior das acepções de lugar descritas até aqui tomando como referência a cidade Isto por que a experiência vivida no lugar não se separa da sua dialética com o mundo e também por que a experiência exige uma atitude perante a racionalidade dominante que se impõe nas cidades A análise do lugar como experiênciavivência cotidiana do estudante permite a ele uma maior compreensão da realidade social a sua volta e uma maior percepção sobre o que acontece Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 11 no mundo São nos lugares da cidade que as manifestações de identidade e resistência se realizam são espaços não apenas de circulação e passagem mas de reivindicação prontos a serem explorados Cabe ao professor mostrar esses caminhos aos seus alunos A compreensão do lugar vivido pelo aluno com todas as suas contradições expressas nas formas e nas práticas urbanas permite a possibilidade da formação de um sujeitocidadão não somente crítico como capaz de intervir na realidade tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente se adaptar a ela FREIRE 1996 p 77 Desta forma O espaço considerado como território e lugar é historicamente produzido pelo homem à medida que organiza econômica e socialmente sua sociedade A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais Nessa perspectiva a historicidade enfoca o homem como sujeito produtor desse espaço um homem social e cultural situado além e mediante a perspectiva econômica e política que imprime seus valores no processo de produção de seu espaço BRASIL 1998 p 27 Fazse mister dizer que o papel da Geografia Escolar é tratar dos processos e fenômenos espaciais em suas relações temporais transescalares reconhecendo a existência tantas vezes interrelacionada de uma Geografia material concreta representada pela disposição dos objetos e seres na superfície do planeta e de um discurso geográfico resultado das representações elaboradas pelos grupos humanos acerca dessa realidade MORAES 2005 Nesta perspectiva o lugar na cidade aparece tanto como experiência vivida como também enquanto construção social possibilitando aos alunos se perceberem como agentes atuantes na relação com os objetos e críticos em relação aos discursos produzidos acerca dessa materialidade 5 A GEOGRAFIA E OS SEUS PROFESSORES CRÍTICA E TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DE UMA PEDAGOGIA DA EXISTÊNCIA Primeiramente é preciso deixar claro a ideia aqui de Pedagogia da existência um tanto divergente daquela defendida por Saviani 2009 sinônimo da chamada Escola Nova paradigma educacional que se caracteriza por um processo pedagógico ligado aos aspectos mais emocionais espontâneos e de criatividade dos alunos na escola A conotação aqui proposta oriunda do materialismo histórico parte da ideia da própria compreensão do que é o sujeito de como se dá a construção de seu saber representado pelas interações dos grupos sociais e de Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 12 suas relações com o ambiente ou seja pela capacidade de produzir suas condições de existência material e ideal mediada pelo trabalho Assim o homem atuando sobre o mundo exterior e modificandoo ao mesmo tempo modifica sua própria natureza MARX 1988 p 142 A sociedade portanto exerce controle sobre a natureza modificando a si própria Esse movimento é histórico Desta forma os grupos humanos constroem sua própria história dentro de certas limitações estabelecidas pelas condições de seu desenvolvimento condições estas profundamente atingidas pelas relações econômicas ligadas a uma etapa específica do modo de produção capitalista O professor de Geografia imerso em uma era confusa cuja informação é despótica e veloz tem a tarefa precípua de despertar no aluno uma visão crítica sobre o mundo a partir do lugar das suas condições de existência já que hoje certamente mais importante que a consciência do lugar é a consciência do mundo obtida através do lugar SANTOS 2005 p 161 Esta possibilidade de tomada de consciência se dá no cotidiano e a escola tem um papel a cumprir nesta esfera Se o lugar é a ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência como nos aponta Certeau 1994 o ensino de Geografia deve pressupor a construção de valores voltados à tolerância e ao diálogo com os diferentes ao não conformismo com as injustiças sempre com posicionamentos críticos em relação ao que é imposto já que a mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação no fundo o sonho FREIRE 1996 p 79 A consolidação de práticas que estimulem os alunos à aprendizagem geográfica não é uma tarefa das mais simples ela é um processo construído no cotidiano sendo o professor um mediador de modo a auxiliar o aluno no desenvolvimento de suas capacidades e habilidades cognitivas Assim o espaço da escola é um espaço de formação não só dos alunos mas também dos professores Além de ser um espaço formativo para professores por veicular conhecimentos e informações por induzir por orientar comportamentos das pessoas que ali estão no cotidiano ela é um espaço no qual a formação profissional mais sistematizada pode ocorrer CAVALCANTI 2006 p 46 Destarte os alunos precisam aprender a ter posicionamentos críticos na escola e acerca da realidade social em que vivem é preciso dar voz a eles já que o conhecimento no processo de ensinoaprendizagem é uma troca de saberes O professor deve apontar os caminhos para que o aluno problematize a realidade social circundante em sua conexão com o mundo Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 13 permitindo o exercício da apreensão das categorias geográficas através do lugar chegando à novas descobertas até atingir uma consciência Portanto a ideia de pedagogia da existência proposta aqui ultrapassa os limites físicos da escola e se atrela também à prática cotidiana do aluno em outras esferas de sua vida sobretudo aqueles em condições materiais degradantes que excluído de uma racionalidade dominante dos vetores do grande capital pode realizar o mundo à sua maneira produzindo contraracionalidades SANTOS 2002 uma nova forma de agir no mundo sempre através do lugar Segundo Freire 2016 p 65 quem melhor que os oprimidos se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora Quem sentirá melhor que eles os efeitos da opressão Quem mais que eles para ir compreendendo a necessidade da libertação Libertação a que não chegarão pelo acaso mas pela práxis de sua busca pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela Os espaços urbanos lugares por excelência dos oprimidos com sua multiculturalidade são permeados de imagens e valores articulados a processos globais a descoberta nodo lugar é exaltada pela experiência Nas periferias dos grandes centros milhões sobrevivem na dificuldade e não são considerados cidadãos pois não usufruem das benesses do urbano e não possuem o direito à cidade Os pobres urbanos fazem parte do tempo lento SANTOS 2002 em cidades grandes é possível identificar essa lentidão quando olhamos os espaços marginais A vida nesses lugares ocorre nos seus ritmos genuínos as cadeiras nas calçadas as brincadeiras de rua as trocas e experiências culturais as relações de vizinhança bem próximas mas concomitantemente existe a violência o tráfico de drogas o que gera a reclusão de indivíduos em suas próprias casas É preciso que o professor de Geografia vivencie e contextualize essa realidade com os alunos pelo diálogo O espaço urbano é o lugar é o palco das realizações humanas por isso é nele que os indivíduos podem criar mecanismos contra o que é imposto pelo capitalismo dominante já que o movimento da globalização é um entrave para a geração da consciência Olhar para o passado geográfico representado pelas formas não significa virar as costas para o futuro já que a memória dá sustentáculo ao porvir Para Santos 2000 p 116 é fundamental viver a própria existência como algo unitário e verdadeiro já que a resistência é um exercício permanente de pensar o futuro Desta forma a existência é produtora de sua própria pedagogia E é na cidade que professores e alunos podem se reconhecer no mundo pois é no cotidiano vivido Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 14 no lugar que o mundo pode ganhar sentido já que simultaneamente o local se opõe ao global e se confunde com ele 6 EPÍLOGO O texto ora aqui apresentado trouxe à tona temas que o professor de Geografia precisa estar atento Sua formação deve passar pelo conhecimento geográfico em sua integralidade seus paradigmas suas funções ideológicas e sobretudo pela compreensão das relações sociais processadas no espaço na articulação dialética lugarmundo Dito isto o professor de Geografia diante de um mundo caótico desigual e onde a violência da informação impera precisa desenvolver nos alunos a capacidade de pesquisar observar refletir criticar ter iniciativa e se socializar O geógrafo da escola precisa ser um pesquisador do lugar e a partir de conceitos ferramentas e exemplos sobre o espaço geográfico interpretar e desvelar as diversas geografias do lugar a partir da memória na cidade e da produção da existência dos alunos reinventado uma pedagogia geográfica no cotidiano Conhecer o lugar de vivência dos alunos como se processam suas relações a partir do lugar é uma das condições para tornar os conteúdos geográficos significativos para a vida deles Existem saberes que o professor de Geografia deve sempre levar em consideração na construção do conhecimento na escola os ligados a experiência dos alunos aqueles relacionados à ciência geográfica entendidos como construção histórica devidamente contextualizados e os saberes pedagógicos enquanto métodos de ensino sua operacionalização didáticas e metodologias Destacase ainda a necessidade de análise na escola dos saberes dos alunos seu cotidiano no lugar considerando a esfera da proximidade da vizinhança do reconhecimento e da horizontalidade das relações afetivas entre os grupos dos quais participam entendidas como caminho para alcance da consciência É preciso aprofundar os estudos sobre a memória e o cotidiano geográficos pois estes se transformam numa instância cada vez mais rica e salutar para serem analisados visto que o mundo tornase cada vez mais globalizado e a memória e o cotidiano realizados no lugar urbano em alguns casos podem se traduzir como elementos contrários desse movimento homogeneizante O ensinamento de Milton Santos serve à educação geográfica que se pretende libertadora a consciência pelo lugar se superpõe à consciência no lugar A noção de espaço Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 15 desconhecido perde a conotação negativa e ganha um acento positivo que vem do seu papel na produção da nova história SANTOS 2002 p 330 Essa nova história constitui um caminho para um novo modo de ver o mundo o que pode suscitar novas e solidárias práticas espaciais REFERÊNCIAS ABREU M A Sobre a memória das cidades In FRIDMAN F HAESBAERT R Orgs Escritos sobre espaço e história Rio de Janeiro Garamond 2014 p 2754 BRASIL Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs GeografiaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 BUTTIMER A Campo de Movimiento y sentido del lugar In RAMÓN M D G Org Teoria y Método en la Geografia Anglosajona Barcelona Ariel Geografía 1985 272p CALLAI H C A Geografia ensinada os desafios de uma educação geográfica In MORAIS E M B MORAES L B Formação de Professores Conteúdos e Metodologias no ensino de Geografia Goiânia Editora Vieira 2010 p 1538 CARLOS A F A O Lugar nodo Mundo São Paulo Labur EdiçõesGESP 2007a Disponível em httpgespfflchuspbrsitesgespfflchuspbrfilesOlugarnodomundopdf Acesso em 16 ago 2017 85p O Espaço Urbano Novos Escritos sobre a Cidade São Paulo Labur EdiçõesGESP 2007b v 1 Disponível em http wwwfflchuspbrdggesp Acesso em 3 jun 2017 123p CASTELLAR S VILHENA J Ensino de Geografia São Paulo Cengage Learning 2010 Coleção Idéias em Ação coordenadora Anna Maria Pessoa de Carvalho 161p CASTELLS M A Sociedade em Rede A Era da Informação Economia Sociedade e Cultura 5 ed São Paulo Paz e Terra 2009 698p CAVALCANTI L S Bases teóricometodológicas da Geografia uma referência para a formação e a prática de ensino In ROSA D E G et al Org Formação de Professores concepções e práticas em Geografia Goiânia EV 2006 p 2750 CERTEAU M A invenção do cotidiano 1 Artes de fazer 12 ed Petrópolis Vozes 1994 351p CERTEAU M GIARD L Uma ciência prática do singular In CERTEAU GIARD L MAYOL P A invenção do cotidiano 2 Morar cozinhar 6 ed Petrópolis Vozes 1996 p 335 342 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 16 CHAUÍ M A ideologia da competência São Paulo Fundação Perseu AbramoAutêntica 2016 Escritos de Marilena Chauí 3 CHAVEIRO E F Corporeidade e Lugar Elos da Produção da Existência In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 249279 FREIRE P Pedagogia da Autonomia saberes necessários à prática educativa 41 ed São Paulo Paz e Terra 1996 Coleção leitura 150p Pedagogia do Oprimido 60 ed São Paulo Paz e Terra 2016 GIDDENS A A constituição da sociedade São Paulo Martins Fontes 1989 252p HALBWACHS M A Memória Coletiva 2 ed São Paulo Centauro 2003 224p HARVEY D Condição pósmoderna uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural 25 ed São Paulo Loyola 2014 352p HELLER A O cotidiano e a História 5 ed São Paulo Paz e Terra 2004 158p HOLZER W Memórias de Viajantes paisagens e lugares de um novo mundo In II Encontro Interdisciplinar sobre o Estudo da Paisagem Bauru p 111122 1996 Disponível emhttpwwwuffbrgeographiarev3werther20holzerpdf Acesso em 02 Mar 2017 KOSÍK K Dialética do Concreto 7 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2002 250p LYOTARD J F A Condição pósmoderna 12 ed Rio de Janeiro José Olympio 2009 131p MARX K O Capital crítica da economia política São Paulo Nova Cultural 1988 V I Livro Primeiro O processo de produção do capital Coleção Os Economistas MARX K ENGELS F Manifesto do Partido Comunista São Paulo Instituto José Luís e Rosa Sundermann 2003 68p MORAES A C R Território e História no Brasil 2 ed São Paulo Annablume 2005 154p Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 17 NORA P Entre memória e História a problemática dos lugares Projeto História São Paulo n 10 p 728 dez 1993 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphprevpharticleview121018763 Acesso em 20 ago 2017 OLIVEIRA F Das invenções à indeterminação Política numa era da indeterminação opacidade e reencantamento In OLIVEIRA F RIZEK C S Orgs A Era da Indeterminação São Paulo Boitempo 2007 p 1548 OLIVEIRA L O Sentido de Lugar In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 316 RELPH E Place and Placelessness London Pilon 1976 156p Reflexões Sobre a Emergência Aspectos e Essência de Lugar In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 1732 RODRIGUES Arlete Moysés Conceito e definição de cidades In RIBEIRO Luiz Cesar de Queiroz CARDOSO Adauto Lúcio Orgs As metrópoles e a questão social brasileira Rio de Janeiro RevanFASE 2010 340p SANTOS M Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal 3 ed Rio de Janeiro Record 2000 174p A Natureza do Espaço técnica e tempo razão e emoção 2 ed São Paulo EDUSP 2002 Coleção Milton Santos 1 384p Da Totalidade ao Lugar São Paulo EDUSP 2005 Coleção Milton Santos 7 170p SAVIANI D Escola e democracia 41 ed Campinas Autores Associados 2009 90p SCHMIDT A El concepto de natureza en Marx Madrid Siglo Veintiuno 1986 244p TUAN Y F Space and place humanistic perspective In GALE S OLSSON G orgs Philosophy in Geography Dordrecht Reidel 1979 pp 387427 Publicado originalmente em Progress in Geography 6 pp 211252 1974 Espaço e Lugar a perspectiva da experiência Londrina EDUEL 2013 248p VIRILIO P O Espaço Crítico São Paulo Editora 34 1993 124p
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Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 1 POR UMA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA TRANSFORMADORA APONTAMENTOS E REFLEXÕES A PARTIR DOS CONCEITOS DE MEMÓRIA LUGAR E CIDADE Luiz Eduardo Neves dos Santos Doutorando pelo Programa de PósGraduação em Geografia da UFC dugeografohotmailcom ORCID iD httpsorcidorg0000000212046626 Artigo recebido em 23032019 e aceito em 01072019 RESUMO Os conceitos de Memória Lugar e Cidade são cada vez mais importantes no período atual e para o ensino de Geografia A formação do professor passa pela apreensão e pelo conhecimento do lugar enquanto instância propícia às descobertas e ações no contexto urbano em que a memória também exerce um papel relevante Desta maneira o objetivo principal do texto é uma discussão baseada metodologicamente em uma pesquisa bibliográfica e de análise em torno dos três conceitos já mencionados Memória Lugar Cidade no contexto da formação profissional e do campo de trabalho do professor de Geografia apontando caminhos possíveis para a realização do que se designa aqui de Pedagogia da existência Destacase a necessidade de análise na escola de uma educação geográfica centrada nos saberes dos alunos do seu cotidiano no lugar considerando a esfera da proximidade da vizinhança do reconhecimento e da horizontalidade das relações afetivas entre os grupos dos quais participam entendidas como caminho para o alcance da uma consciência crítica sobre a realidade a fim de transformála Palavraschave Educação Geográfica Memória Lugar Cidade Pedagogia da existência FOR A GEOGRAPHICAL TRANSFORMER EDUCATION NOTES AND REFLECTIONS FROM THE CONCEPTS OF MEMORY PLACE AND CITY ABSTRACT The concepts of Memory Place and City are increasingly important and current for the teaching of Geography The formation of the teacher passes through the apprehension and the knowledge of the place as a propitious instance for discoveries and actions in the urban context in which memory also plays a relevant In this way the main objective of the text is a discussion methodologically based on a bibliographical research and analysis around the three concepts already mentioned Memory Place City in the context of vocational training and the field of work of the Geography teacher pointing out possible ways for the realization of what is here referred to as the pedagogy of existence It is necessary to analyze in the school a geographic education focused on the students knowledge of their daily life in the place considering the sphere of proximity neighborhood recognition and horizontality of the affective relations between the groups in which they participate understood as a way to reach a critical consciousness about reality in order to transform it Keywords Geographical Education Memory Place City Pedagogy of existence Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 2 1 PRÓLOGO A realidade é também tudo aquilo em que ainda não nos tornamos ou seja tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como seres humanos por intermédio dos mitos das escolhas das decisões e das lutas Alfred Schmidt 1986 Atividade característica dos humanos o ato de rememorar era atribuído pelos antigos gregos a Titânide Mnemósine a Memória Seduzida por Zeus deu à luz a nove filhas chamadas de Musas Era filha do Céu Urano e da Terra Gaia e irmã do Tempo Cronos sendo a responsável por unir os lados do abismo que existia entre passado e presente levando o homem ao conhecimento pleno de suas raízes ancestrais Manter vivo os laços com o passado é uma tarefa cada vez mais importante nos dias atuais visto que a sociedade em que vivemos é cotidianamente atingida por informações e imagens de todo o gênero Não há como processar e assimilar toda esta quantidade de informações e imagens sendo apenas algumas filtradas pelos indivíduos Trazendo o mito para a realidade atual observase que a Mnemósine teria dificuldade em realizar sua tarefa já que passado e presente se distanciam ininterruptamente pois hoje é o presente que assume todo o espaço e se dá como representação global do tempo que se substitui à profundidade da duração SUE 1994 apud SANTOS 2002 Ou seja o sujeito urbano preso em meio às imagens e objetos de diversas ordens perde alguns de seus principais referenciais pretéritos Sendo assim a memória tornase importante ferramenta metodológica para estudos de ordem histórica geográfica e antropológica no que tange a indivíduos e lugares daí reside sua relevância enquanto tema para utilização nas aulas de Geografia O lugar enquanto conceitochave da Geografia deve ser concebido não somente por uma dimensão culturalsimbólica mas também a partir de sua articulação com o mundo pelas práticas espaciais O professor de Geografia precisa estar preparado para apresentar ao aluno esta acepção Da mesma forma que a noção de cidade para fins deste trabalho não deva estar separada da de memória e lugar já que a memória nada cidade é hoje um elemento fundamental da constituição da identidade de um lugar ABREU 2014 p 33 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 3 O objetivo principal do texto é a discussão baseada metodologicamente em uma pesquisa de revisão analítica dos três conceitos a nosso ver indissociáveis e já mencionados memória lugar cidade no contexto da formação profissional e do campo de trabalho do professor de Geografia apontando caminhos possíveis para a realização do que se designa aqui de pedagogia da existência Desta forma o texto se estrutura da seguinte maneira o primeiro ponto versa sobre a formação do professor de Geografia frente a um mundo cada vez mais interconectado de informações velozes e acontecimentos que interferem nos valores morais e éticos que ameaçam as novas gerações Em um segundo momento as categorias memória e cidade são discutidas e interrelacionadas enquanto conteúdos para as aulas de Geografia Logo depois é abordada a importância do conceito de lugar em sua relação com a cidade para o alcance de uma prática educativa geográfica Por fim explanase a ideia de uma pedagogia da existência crítica e transformadora da realidade do aluno a partir da Geografia e sua docência para além dos limites da escola como ensinamento para a vida 2 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NAS ERAS DA INFORMAÇÃO E DA INDETERMINAÇÃO É necessário iniciar esta discussão alertando sobre as características tortuosas do atual período histórico de desenvolvimento capitalista Há no presente uma aceleração da História NORA 1993 nas palavras de Santos 2002 esta rapidez histórica é realizada através do meio geográfico que tende a ser universal com a consolidação do chamado meio técnicocientífico infomacional sendo assim uma contemporaneidade simultânea e compulsória Giddens 1989 se referiu a um esvaziamento do tempo Virilio 1993 chegou mesmo a anunciar a morte do espaço Harvey 2014 discorreu sobre o que denominou de compressão espaçotempo chamando atenção para as mudanças organizacionais da economia de mercado como a emergência de novas modalidades de acumulação do capital A famosa passagem do Manifesto Comunista de Marx e Engels 2003 de que tudo que era sólido se evapora no ar ainda continua a ter efeito na atualidade já que sintetiza a aceleração temporal presente no esfacelamento das relações sociais na fragilização do trabalho diante do poder do capital e na ideologia oriunda e disseminada por atores hegemônicos centrada na mercadoria e no consumo Suas repercussões são nefastas representadas na Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 4 atualidade pela generalização planetária das desigualdades sociais pela crise existencial pela desordem geopolítica e pelo caos ambiental sem precedentes Sendo assim o professor de Geografia precisa estar preparado para enfrentar a complexidade do mundo que é confuso e confusamente percebido SANTOS 2000 Os desafios da formação do professor neste contexto são enormes até por que a Geografia é uma disciplina escolar que possui seus objetos de aprendizagem e núcleos conceituais a partir de uma abordagem filosófica comprometida com a realidade social CASTELLAR VILHENA 2010 p 05 A Geografia Escolar com base na ciência geográfica deve ser entendida pelo viés históricoanalítico da produção espacial em suas dimensões materiais e ideológicas Enquanto disciplina escolar ela deve ser mais que um amontoado de informações sobre o mundo repassadas aos estudantes possui a tarefa precípua de fazer com que o aluno se reconheça enquanto sujeito que participa e tem a capacidade de poder interferir no espaço e mudar a História Lyotard 2009 p 05 ao falar sobre o Saber nas sociedades informatizadas afirma que ele o saber é e será produzido para ser vendido ele é e será consumido para ser valorizado numa nova produção nos dois casos para ser trocado Ele deixa de ser para si mesmo seu próprio fim perde o seu valor de uso O saber nesta perspectiva é um forte fator de diferenciação entre classes1 e nações já que se constitui numa grande força produtiva capitalista Os currículos de Geografia enquanto caminhos para o saber não podem menosprezar estas transformações da Era da Informação2 precisam ser críticos a ponto de contestar quem se beneficia deste paradigma por isso devem ser discutidos e revisados periodicamente auxiliando na aproximação da Geografia que se ensina na escola com os aportes conceituais e metodológicos discutidos disseminados e atualizados nas universidades O ensino da Geografia deve estar atento à crescente financeirização do capital e de como ele afeta as relações sociais de produção no espaço A pulverização da centralidade do trabalho causa assim um impacto gigantesco na política antes determinada pelas tolerâncias e pelo reconhecimento dos Direitos Humanos Oliveira 2007 chamou isso de a Era da 1 Marilena Chauí 2016 p 5657 chamou essa diferenciação de ideologia da competência que serve como toda ideologia para ocultar a divisão social das classes mas com a peculiaridade de afirmar que a divisão social se realiza entre os competentes os especialistas que possuem conhecimentos científicos e tecnológicos e os incompetentes os que executam as tarefas comandadas pelos especialistas 2 O termo Era da informação descrito e analisado por Castells 2009 é explicado pelo conjunto de eventos que segundo ele assinalam o fim da era industrial e o surgimento de outra derivada de uma revolução tecnológica localizada nas últimas duas décadas século passado Esta revolução tem como essência um paradigma centrado no desenvolvimento das tecnologias informacionais e de comunicação Neste paradigma a aplicação do conhecimento e o processamento da informação são os elementos primígenos dos processos produtivos Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 5 Indeterminação período caracterizado pelas novas intolerâncias tensões longamente acumuladas e racismos adormecidos sobretudo no pós11 de setembro de 2001 A era da indeterminação é de interesse da Geografia e de seu ensino já que tais tensões se reproduzem no espaço protestos manifestações migrações segregações assassinatos injustiças são problemáticas que precisam ser discutidas dentro e fora de sala de aula e contextualizadas no movimento dinâmico da sociedade no espaço Um dos principais gargalos na formação do professor de Geografia é fazer uma conexão entre os conteúdos estabelecidos que não devem ser estanques e o contexto em que os estudantes estão inseridos que vão desde suas relações familiares vida urbana visões de mundo e dimensão cultural local até suas condições econômicas de produção de suas existências Para Pérez e Fernandes 2008 apud CALLAI 2010 o controle da informação e dos meios de comunicação na sociedade urbana e global favorece o florescimento de uma cultura da superficialidade o que provoca uma visão simplista do mundo Como nos alertou Santos 2000 p 112 nas condições atuais o movimento determinante com tendência a uma difusão avassaladora é o da criação da ordem da racionalidade pragmática enquanto a produção do espaço banal é residual A escola precisa suscitar discussões em torno dessa racionalidade pragmática já que ela penetrou no ambiente escolar interferindo na própria função social da escola e mais especificamente nas relações ensinoaprendizagem da Geografia 3 MEMÓRIA E CIDADE CONTEÚDOS PARA AS AULAS DE GEOGRAFIA Os relatos orais fundamentais para o registro da memória passaram a adquirir maior destaque na medida em que se percebeu que os mesmos possibilitam analisar representações simbólicas socialmente construídas no tempo e no espaço A oralidade constitui espaço essencial da comunidade pois numa sociedade não existe comunicação sem oralidade mesmo quando a sociedade dá grande valor à escrita para a memorização da tradição e circulação do saber CERTEAU GIARD 1996 p 336 Cabe ao professor explorar em suas avaliações por exemplo a força dos relatos orais e da memória nas aulas de Geografia em sua relação com os conceitoschave como no caso da paisagem e do lugar Os alunos e sobretudo suas famílias possuem uma história realizada no espaço O espaço representado pela paisagem e pelo lugar tem sido modificado numa velocidade alucinante Para Lowenthal 1985 apud HOLZER 1996 p 115 a memória é matériaprima Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 6 é inescusável ela se refere ao processo e os resíduos dos processos estão aí na forma de artefatos ou de ambiente natural para serem revisitados reaproveitados reinterpretados É a partir da memória que se pode recuperar lembranças individuais e coletivas o que permite a descrição e a análise dos agentes transformadores da paisagem e as modificações nas relações sociais presentes no lugar sejam estes equivalentes à escala de um país cidade ou bairro Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia em seu terceiro e quarto ciclos diz que as percepções as vivências e a memória dos indivíduos e dos grupos sociais são portanto elementos importantes na constituição do saber geográfico BRASIL 1998 p 27 O estudo sobre a memória no meio urbano é outro aspecto que se deve levar em consideração tornandose necessário aos estudos geográficos Segundo Holzer 1996 p114 a paisagem e o lugar são expressões da ação do homem sobre a natureza e por extensão um receptáculo de memória Abreu 2014 p 43 afirma que a memória urbana e a memória da cidade dizem respeito não a capacidade de lembrar dos indivíduos ou grupos mas ao estoque de lembranças que estão eternizadas na paisagem ou nos registros de um determinado lugar lembranças essas que são agora objeto de reapropriação por parte da sociedade As experiências pretéritas sobre determinado lugar possuem caráter geográfico irrestrito pois remontam um quebracabeça que é a chave para se entender as relações sócioespaciais na atualidade Assim não é possível apenas pensar a cidade como quadro físico visto que ela é dotada de intencionalidades3 dos grupos humanos que a molda a partir de suas vontades e interesses A cidade é composta por imagens diversas elementos que unem certo número de pessoas propiciando a criação de múltiplas representações que podem ser coletivas ou individuais As mudanças socioeconômicas e culturais criam marcas no meio urbano traduzidas por imagens que têm como significado o conjunto de valores hábitos desejos que unem através dos tempos o cotidiano de homens e mulheres Toda cidade é como um palimpsesto cada desaparição cada paisagem que sumiu ressurge pela lembrança ou aparece através de um signo que permanece capaz de fazer surgir de recompor na memória o que se foi Por isso toda construção no espaço urbano é capaz de expressar um pensamento um sentimento de carga simbólica que por sua vez comporta representações múltiplas 3 O conceito de intencionalidade nasce da relação entre objetos e ações ou seja toda e qualquer ação humana no espaço possui alguma intenção por isso a ação é tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados Então à intencionalidade da ação se conjuga à intencionalidade dos objetos e ambas são hoje dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no território SANTOS 2002 p 94 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 7 É preciso diferenciar urbano de cidade o urbano tem a ver com o subjetivo o simbólico o que está por trás da paisagem urbana que compõe a cidade Rodrigues 2010 p 79 apoiada em Lefebvre diz que o urbano deve ser caracterizado como modo de vida que atinge áreas rurais e urbanas já a cidade é uma forma espacial lugar de concentração que difunde o urbano sendo portanto um centro de decisão política A cidade e o urbano são temas de extrema relevância na escola pois permitem aos alunos ter múltiplas possibilidades de confrontos entre as diferentes imagens e concepções citadinas as do cotidiano e as científicas A partir dessas visões o aluno poderá criar as estratégias de participar da vida urbana os professores devem ter a capacidade de mostrar aos alunos a cidade numa perspectiva crítica da realidade na busca de atingir a essência pela compreensão do fenômeno pois sem fenômeno sem a sua manifestação e revelação a essência seria inatingível KOSÍK 2002 p 16 O que há por trás dos edifícios das grandes cidades Por que existem shopping centers Por que cidade possui uma paisagem urbana tão desigual Qual a importância dos rios e dos aqüíferos para a cidade A violência urbana tem suas causas aonde São algumas das indagações que o professor de Geografia precisa suscitar nos alunos É preciso também que se diga aos alunos que a memória coletiva é um cimento essencial para a sobrevivência das sociedades ou como afirma Halbwachs 2003 a memória coletiva é uma corrente de pensamento contínua que se transforma portanto é viva Carlos 2007a p 43 alerta que o espaço e o tempo obedecem a uma ordem despótica severa imposta tempo associado ao ritmo do processo de trabalho preso a um calendário rígido e o espaço dominado por fluxos de mercadorias capitais e informações Ao se reproduzirem destroem referências urbanas e como conseqüência a memória social De fato a veloz transformação dos lugares urbanos pelo movimento do capital tem uma força destrutiva da memória até por que não há memória coletiva que não aconteça em um contexto espacial HALBWACHS 2003 p 170 4 A CATEGORIA LUGAR E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE ELEMENTOS PARA UMA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA CRÍTICA Ainda é muito corriqueiro na educação geográfica nas escolas brasileiras conceber o conceito de lugar enquanto um ponto no espaço relacionado à localização herança da escola clássica francesa em que a Geografia era concebida por La Blache como ciência dos lugares e não necessariamente dos grupos humanos O lugar não pode ser confundido com o local para Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 8 Chaveiro 2014 p 267 o lugar é o movimento social histórico cultural simbólico vestido e investido no cotidiano o local é uma referência pontual cartográfica assinalada por coordenadas referência geodésica Decerto é preciso levar em consideração os sentimentos as manifestações culturais a subjetividade e a apropriação do espaço quando se fala do lugar O espaço geográfico é repleto de lugares de todo tipo com paisagens diversas edifícios avenidas viadutos pontes favelas plantações planícies alagadas usinas indústrias são alguns elementos que se encontram espalhados pelo mundo O fato é que todos esses lugares são vividos experenciados e transformados pelos grupos sociais que habitam neles Por isso que Carlos 2007a p 14 afirma que o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da vida possível de ser apreendido pela memória através dos sentidos e do corpo É preciso dizer que um dos maiores desafios do ensino da Geografia é conceber o lugar enquanto totalidade em sua articulação com o mundo deixando a abstração de lado Existem duas acepções bem delimitadas sobre a categoria lugar consagradas na Geografia uma ligada ao paradigma Humanista com sua dimensão simbólicacultural outra atrelada ao paradigma Crítico de matriz marxista entendida como construção social a partir do par dialético singularidadeuniversalidade O entendimento de lugar para a Geografia Humanista aparece principalmente como resultado da experiência humana Segundo Holzer 1996 p113 o lugar pode ser definido como um conjunto complexo enraizado no passado e incrementandose com a passagem do tempo com o acúmulo de experiências e sentimentos Assim o lugar seria entendido pela maneira como as pessoas o percebem e lhe dão significado que por sua vez é constituído e apreendido nas relações cotidianas Para a geógrafa Anne Buttimer o lugar é o somatório das dimensões simbólicas emocionais culturais políticas e biológicas BUTTIMER 1985 Neste sentido o lugar é caracterizado como um mundo de significado organizado TUAN 2013 p 219 É nele que deve existir uma sensação de familiaridade entre os indivíduos e de enraizamento para com o ambiente circundante disso decorre sua forte carga subjetiva Para Relph 2014 p 31 Lugar não é meramente aquilo que possui raízes conhecer e ser concebido no bairro não é apenas distinção e apreciação de fragmentos de geografia O núcleo do significado de lugar se estende penso eu em suas ligações inextrincáveis com o ser com a nossa própria existência Lugar é um microcosmo É onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco A compreensão lugarsujeito de acordo com Relph vai além de uma análise apenas objetiva sendo importante a dimensão da experiência vivida existencial em sua relação com o Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 9 mundo sempre pela subjetividade e pelo sentimento de pertencimento A identidade e a estabilidade são a base para a construção do lugar segundo autores como Relph e Tuan O sentimento de pertencimento a partir de experiências intersubjetivas são características determinantes para se consolidar a identidade como já destacou Relph 1976 Já a estabilidade segundo Tuan 1979 está centrada na segurança proporcionada pelo lugar conhecido Pelo exposto até aqui fica claro que o lugar numa perspectiva Humanista é concebido enquanto espaço vivido apropriado pelos grupos sociais a partir da experiência intersubjetiva da identidade e da estabilidade Outra acepção concebe o lugar enquanto construção social produto do processo histórico em sua articulação com o mundo Uma dialética entre o singular e o universal Como afirma Santos 2000 p 112 os lugares são pois o mundo que eles reproduzem de modos específicos individuais diversos Eles são singulares mas também são globais manifestações da totalidademundo da qual são formas particulares Esse entendimento remete o lugar enquanto totalidade já que ele não é um fragmento ou parte do mundo ele é o mundo em movimento em sua dinâmica O lugar é tanto produto de uma dinâmica única resultante de características particulares culturais e históricas quanto da influência implacável dos vetores do grande capital global Desta forma compreender o lugar passa por ir além das aparências sendo preciso desvelar as contradições impostas pelo movimento da globalização Para Carlos 2007a p 17 o lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitanteidentidadelugar Dito isto o lugar é uma construção oriunda das relações sociais que se realizam sob certas circunstâncias O lugar possibilita as condições para a realização da vida cotidiana que faz parte do centro do acontecer histórico sendo a verdadeira essência da substância social Os acontecimentos históricos não cotidianos partem da vida cotidiana e a ela retornam HELLER 2004 p 20 O cotidiano e a vida cotidiana realizadas no lugar são sem dúvida instâncias propícias à descoberta e à criatividade do pensamento e das ações humanas Ainda nesta concepção o lugar se define como funcionalização do mundo e é por ele que o mundo é percebido empiricamente SANTOS 2005 As ações hegemônicas da globalização permitem que elementos universais atinjam todos os lugares mesmo que de formas diferenciadas seja através de objetos técnicos consumo ou através da informação instantânea Pelo exposto para a corrente Crítica da Geografia o lugar constitui uma dimensão real concreta e histórica Mas até que ponto essas duas acepções de lugar a Humanista e a Crítica Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 10 se cruzam Elas devem ser dicotomizadas Para responder a essas questões é preciso compreender a visão de Lívia de Oliveira e Milton Santos A primeira filiada à corrente Humanista da Geografia e o segundo ligado mais a corrente Crítica da Geografia de caráter renovado Oliveira 2014 p 1819 ao falar sobre o sentido de lugar afirma que é ele experenciado como aconchego que levamos dentro de nós Ou o lugar consciente do tempo social histórico recorrente e mutável no transcorrer das horas do tempo em um espaço sentido dentro de um lugar interior ou exterior Percebese que ela valoriza a dimensão histórica social e concreta do lugar embora a dimensão subjetiva e existencial seja preponderante em sua obra Santos 2000 p 114 admite que o lugar não é apenas um quadro de vida mas um espaço vivido isto é de experiência renovada o que permite ao mesmo tempo a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro Partindo desta afirmação podese inferir que não há o desprezo pela noção de lugar enquanto experiência enquanto espaço vivido no entanto essa noção se articula à ideia de transformação social do presente e do futuro É possível portanto perceber aproximações em torno do conceito de lugar por essas duas correntes da Geografia Como isso se processa na escola Como o professor de Geografia pode trabalhar essas questões Primeiro é necessário compreender o entendimento de cidade recorte espacial escolhido aqui para tratar do lugar Foi falado já que a cidade é uma forma espacial que difunde o urbano Certeau 1994 p 174 afirma que a cidade é um lugar de transformações e apropriações objeto de intervenções mas sujeito sem cessar enriquecido com novos atributos ela é ao mesmo tempo a maquinaria e o herói da modernidade Para Carlos 2007b p 20 a cidade pode ser compreendida como construção humana produto históricosocial contexto no qual a cidade aparece como trabalho materializado acumulado ao longo de uma série de gerações a partir da relação da sociedade com a natureza Essa construção humana de que fala Carlos é um processo antigo derivado de interesses e estratégias de certos grupos sociais em se apropriar de territórios na cidade No campo da educação geográfica é possível fazer uma aproximação ainda maior das acepções de lugar descritas até aqui tomando como referência a cidade Isto por que a experiência vivida no lugar não se separa da sua dialética com o mundo e também por que a experiência exige uma atitude perante a racionalidade dominante que se impõe nas cidades A análise do lugar como experiênciavivência cotidiana do estudante permite a ele uma maior compreensão da realidade social a sua volta e uma maior percepção sobre o que acontece Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 11 no mundo São nos lugares da cidade que as manifestações de identidade e resistência se realizam são espaços não apenas de circulação e passagem mas de reivindicação prontos a serem explorados Cabe ao professor mostrar esses caminhos aos seus alunos A compreensão do lugar vivido pelo aluno com todas as suas contradições expressas nas formas e nas práticas urbanas permite a possibilidade da formação de um sujeitocidadão não somente crítico como capaz de intervir na realidade tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente se adaptar a ela FREIRE 1996 p 77 Desta forma O espaço considerado como território e lugar é historicamente produzido pelo homem à medida que organiza econômica e socialmente sua sociedade A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais Nessa perspectiva a historicidade enfoca o homem como sujeito produtor desse espaço um homem social e cultural situado além e mediante a perspectiva econômica e política que imprime seus valores no processo de produção de seu espaço BRASIL 1998 p 27 Fazse mister dizer que o papel da Geografia Escolar é tratar dos processos e fenômenos espaciais em suas relações temporais transescalares reconhecendo a existência tantas vezes interrelacionada de uma Geografia material concreta representada pela disposição dos objetos e seres na superfície do planeta e de um discurso geográfico resultado das representações elaboradas pelos grupos humanos acerca dessa realidade MORAES 2005 Nesta perspectiva o lugar na cidade aparece tanto como experiência vivida como também enquanto construção social possibilitando aos alunos se perceberem como agentes atuantes na relação com os objetos e críticos em relação aos discursos produzidos acerca dessa materialidade 5 A GEOGRAFIA E OS SEUS PROFESSORES CRÍTICA E TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DE UMA PEDAGOGIA DA EXISTÊNCIA Primeiramente é preciso deixar claro a ideia aqui de Pedagogia da existência um tanto divergente daquela defendida por Saviani 2009 sinônimo da chamada Escola Nova paradigma educacional que se caracteriza por um processo pedagógico ligado aos aspectos mais emocionais espontâneos e de criatividade dos alunos na escola A conotação aqui proposta oriunda do materialismo histórico parte da ideia da própria compreensão do que é o sujeito de como se dá a construção de seu saber representado pelas interações dos grupos sociais e de Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 12 suas relações com o ambiente ou seja pela capacidade de produzir suas condições de existência material e ideal mediada pelo trabalho Assim o homem atuando sobre o mundo exterior e modificandoo ao mesmo tempo modifica sua própria natureza MARX 1988 p 142 A sociedade portanto exerce controle sobre a natureza modificando a si própria Esse movimento é histórico Desta forma os grupos humanos constroem sua própria história dentro de certas limitações estabelecidas pelas condições de seu desenvolvimento condições estas profundamente atingidas pelas relações econômicas ligadas a uma etapa específica do modo de produção capitalista O professor de Geografia imerso em uma era confusa cuja informação é despótica e veloz tem a tarefa precípua de despertar no aluno uma visão crítica sobre o mundo a partir do lugar das suas condições de existência já que hoje certamente mais importante que a consciência do lugar é a consciência do mundo obtida através do lugar SANTOS 2005 p 161 Esta possibilidade de tomada de consciência se dá no cotidiano e a escola tem um papel a cumprir nesta esfera Se o lugar é a ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência como nos aponta Certeau 1994 o ensino de Geografia deve pressupor a construção de valores voltados à tolerância e ao diálogo com os diferentes ao não conformismo com as injustiças sempre com posicionamentos críticos em relação ao que é imposto já que a mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação no fundo o sonho FREIRE 1996 p 79 A consolidação de práticas que estimulem os alunos à aprendizagem geográfica não é uma tarefa das mais simples ela é um processo construído no cotidiano sendo o professor um mediador de modo a auxiliar o aluno no desenvolvimento de suas capacidades e habilidades cognitivas Assim o espaço da escola é um espaço de formação não só dos alunos mas também dos professores Além de ser um espaço formativo para professores por veicular conhecimentos e informações por induzir por orientar comportamentos das pessoas que ali estão no cotidiano ela é um espaço no qual a formação profissional mais sistematizada pode ocorrer CAVALCANTI 2006 p 46 Destarte os alunos precisam aprender a ter posicionamentos críticos na escola e acerca da realidade social em que vivem é preciso dar voz a eles já que o conhecimento no processo de ensinoaprendizagem é uma troca de saberes O professor deve apontar os caminhos para que o aluno problematize a realidade social circundante em sua conexão com o mundo Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 13 permitindo o exercício da apreensão das categorias geográficas através do lugar chegando à novas descobertas até atingir uma consciência Portanto a ideia de pedagogia da existência proposta aqui ultrapassa os limites físicos da escola e se atrela também à prática cotidiana do aluno em outras esferas de sua vida sobretudo aqueles em condições materiais degradantes que excluído de uma racionalidade dominante dos vetores do grande capital pode realizar o mundo à sua maneira produzindo contraracionalidades SANTOS 2002 uma nova forma de agir no mundo sempre através do lugar Segundo Freire 2016 p 65 quem melhor que os oprimidos se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora Quem sentirá melhor que eles os efeitos da opressão Quem mais que eles para ir compreendendo a necessidade da libertação Libertação a que não chegarão pelo acaso mas pela práxis de sua busca pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela Os espaços urbanos lugares por excelência dos oprimidos com sua multiculturalidade são permeados de imagens e valores articulados a processos globais a descoberta nodo lugar é exaltada pela experiência Nas periferias dos grandes centros milhões sobrevivem na dificuldade e não são considerados cidadãos pois não usufruem das benesses do urbano e não possuem o direito à cidade Os pobres urbanos fazem parte do tempo lento SANTOS 2002 em cidades grandes é possível identificar essa lentidão quando olhamos os espaços marginais A vida nesses lugares ocorre nos seus ritmos genuínos as cadeiras nas calçadas as brincadeiras de rua as trocas e experiências culturais as relações de vizinhança bem próximas mas concomitantemente existe a violência o tráfico de drogas o que gera a reclusão de indivíduos em suas próprias casas É preciso que o professor de Geografia vivencie e contextualize essa realidade com os alunos pelo diálogo O espaço urbano é o lugar é o palco das realizações humanas por isso é nele que os indivíduos podem criar mecanismos contra o que é imposto pelo capitalismo dominante já que o movimento da globalização é um entrave para a geração da consciência Olhar para o passado geográfico representado pelas formas não significa virar as costas para o futuro já que a memória dá sustentáculo ao porvir Para Santos 2000 p 116 é fundamental viver a própria existência como algo unitário e verdadeiro já que a resistência é um exercício permanente de pensar o futuro Desta forma a existência é produtora de sua própria pedagogia E é na cidade que professores e alunos podem se reconhecer no mundo pois é no cotidiano vivido Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 14 no lugar que o mundo pode ganhar sentido já que simultaneamente o local se opõe ao global e se confunde com ele 6 EPÍLOGO O texto ora aqui apresentado trouxe à tona temas que o professor de Geografia precisa estar atento Sua formação deve passar pelo conhecimento geográfico em sua integralidade seus paradigmas suas funções ideológicas e sobretudo pela compreensão das relações sociais processadas no espaço na articulação dialética lugarmundo Dito isto o professor de Geografia diante de um mundo caótico desigual e onde a violência da informação impera precisa desenvolver nos alunos a capacidade de pesquisar observar refletir criticar ter iniciativa e se socializar O geógrafo da escola precisa ser um pesquisador do lugar e a partir de conceitos ferramentas e exemplos sobre o espaço geográfico interpretar e desvelar as diversas geografias do lugar a partir da memória na cidade e da produção da existência dos alunos reinventado uma pedagogia geográfica no cotidiano Conhecer o lugar de vivência dos alunos como se processam suas relações a partir do lugar é uma das condições para tornar os conteúdos geográficos significativos para a vida deles Existem saberes que o professor de Geografia deve sempre levar em consideração na construção do conhecimento na escola os ligados a experiência dos alunos aqueles relacionados à ciência geográfica entendidos como construção histórica devidamente contextualizados e os saberes pedagógicos enquanto métodos de ensino sua operacionalização didáticas e metodologias Destacase ainda a necessidade de análise na escola dos saberes dos alunos seu cotidiano no lugar considerando a esfera da proximidade da vizinhança do reconhecimento e da horizontalidade das relações afetivas entre os grupos dos quais participam entendidas como caminho para alcance da consciência É preciso aprofundar os estudos sobre a memória e o cotidiano geográficos pois estes se transformam numa instância cada vez mais rica e salutar para serem analisados visto que o mundo tornase cada vez mais globalizado e a memória e o cotidiano realizados no lugar urbano em alguns casos podem se traduzir como elementos contrários desse movimento homogeneizante O ensinamento de Milton Santos serve à educação geográfica que se pretende libertadora a consciência pelo lugar se superpõe à consciência no lugar A noção de espaço Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 15 desconhecido perde a conotação negativa e ganha um acento positivo que vem do seu papel na produção da nova história SANTOS 2002 p 330 Essa nova história constitui um caminho para um novo modo de ver o mundo o que pode suscitar novas e solidárias práticas espaciais REFERÊNCIAS ABREU M A Sobre a memória das cidades In FRIDMAN F HAESBAERT R Orgs Escritos sobre espaço e história Rio de Janeiro Garamond 2014 p 2754 BRASIL Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs GeografiaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 BUTTIMER A Campo de Movimiento y sentido del lugar In RAMÓN M D G Org Teoria y Método en la Geografia Anglosajona Barcelona Ariel Geografía 1985 272p CALLAI H C A Geografia ensinada os desafios de uma educação geográfica In MORAIS E M B MORAES L B Formação de Professores Conteúdos e Metodologias no ensino de Geografia Goiânia Editora Vieira 2010 p 1538 CARLOS A F A O Lugar nodo Mundo São Paulo Labur EdiçõesGESP 2007a Disponível em httpgespfflchuspbrsitesgespfflchuspbrfilesOlugarnodomundopdf Acesso em 16 ago 2017 85p O Espaço Urbano Novos Escritos sobre a Cidade São Paulo Labur EdiçõesGESP 2007b v 1 Disponível em http wwwfflchuspbrdggesp Acesso em 3 jun 2017 123p CASTELLAR S VILHENA J Ensino de Geografia São Paulo Cengage Learning 2010 Coleção Idéias em Ação coordenadora Anna Maria Pessoa de Carvalho 161p CASTELLS M A Sociedade em Rede A Era da Informação Economia Sociedade e Cultura 5 ed São Paulo Paz e Terra 2009 698p CAVALCANTI L S Bases teóricometodológicas da Geografia uma referência para a formação e a prática de ensino In ROSA D E G et al Org Formação de Professores concepções e práticas em Geografia Goiânia EV 2006 p 2750 CERTEAU M A invenção do cotidiano 1 Artes de fazer 12 ed Petrópolis Vozes 1994 351p CERTEAU M GIARD L Uma ciência prática do singular In CERTEAU GIARD L MAYOL P A invenção do cotidiano 2 Morar cozinhar 6 ed Petrópolis Vozes 1996 p 335 342 Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 16 CHAUÍ M A ideologia da competência São Paulo Fundação Perseu AbramoAutêntica 2016 Escritos de Marilena Chauí 3 CHAVEIRO E F Corporeidade e Lugar Elos da Produção da Existência In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 249279 FREIRE P Pedagogia da Autonomia saberes necessários à prática educativa 41 ed São Paulo Paz e Terra 1996 Coleção leitura 150p Pedagogia do Oprimido 60 ed São Paulo Paz e Terra 2016 GIDDENS A A constituição da sociedade São Paulo Martins Fontes 1989 252p HALBWACHS M A Memória Coletiva 2 ed São Paulo Centauro 2003 224p HARVEY D Condição pósmoderna uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural 25 ed São Paulo Loyola 2014 352p HELLER A O cotidiano e a História 5 ed São Paulo Paz e Terra 2004 158p HOLZER W Memórias de Viajantes paisagens e lugares de um novo mundo In II Encontro Interdisciplinar sobre o Estudo da Paisagem Bauru p 111122 1996 Disponível emhttpwwwuffbrgeographiarev3werther20holzerpdf Acesso em 02 Mar 2017 KOSÍK K Dialética do Concreto 7 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2002 250p LYOTARD J F A Condição pósmoderna 12 ed Rio de Janeiro José Olympio 2009 131p MARX K O Capital crítica da economia política São Paulo Nova Cultural 1988 V I Livro Primeiro O processo de produção do capital Coleção Os Economistas MARX K ENGELS F Manifesto do Partido Comunista São Paulo Instituto José Luís e Rosa Sundermann 2003 68p MORAES A C R Território e História no Brasil 2 ed São Paulo Annablume 2005 154p Revista Ensino de Geografia Recife V 2 No 1 2019 DOI httpsdoiorg1038187regeo2019v2n1id240474 Santos 2019 ISSN 25949616 17 NORA P Entre memória e História a problemática dos lugares Projeto História São Paulo n 10 p 728 dez 1993 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphprevpharticleview121018763 Acesso em 20 ago 2017 OLIVEIRA F Das invenções à indeterminação Política numa era da indeterminação opacidade e reencantamento In OLIVEIRA F RIZEK C S Orgs A Era da Indeterminação São Paulo Boitempo 2007 p 1548 OLIVEIRA L O Sentido de Lugar In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 316 RELPH E Place and Placelessness London Pilon 1976 156p Reflexões Sobre a Emergência Aspectos e Essência de Lugar In MARANDOLA JR E HOLZER W OLIVEIRA L Orgs Qual o Espaço do Lugar São Paulo Perspectiva 2014 p 1732 RODRIGUES Arlete Moysés Conceito e definição de cidades In RIBEIRO Luiz Cesar de Queiroz CARDOSO Adauto Lúcio Orgs As metrópoles e a questão social brasileira Rio de Janeiro RevanFASE 2010 340p SANTOS M Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal 3 ed Rio de Janeiro Record 2000 174p A Natureza do Espaço técnica e tempo razão e emoção 2 ed São Paulo EDUSP 2002 Coleção Milton Santos 1 384p Da Totalidade ao Lugar São Paulo EDUSP 2005 Coleção Milton Santos 7 170p SAVIANI D Escola e democracia 41 ed Campinas Autores Associados 2009 90p SCHMIDT A El concepto de natureza en Marx Madrid Siglo Veintiuno 1986 244p TUAN Y F Space and place humanistic perspective In GALE S OLSSON G orgs Philosophy in Geography Dordrecht Reidel 1979 pp 387427 Publicado originalmente em Progress in Geography 6 pp 211252 1974 Espaço e Lugar a perspectiva da experiência Londrina EDUEL 2013 248p VIRILIO P O Espaço Crítico São Paulo Editora 34 1993 124p